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Curso de Toxicologia ANVISA - RENACIAT - OPAS – NUTES/UFRJ - ABRACIT 1 MÓDULO VII Intoxicação por Produtos de Uso Doméstico Autora Cecília Maria de Souza Lagares Dabien Haddad (CCI - Campinas) Tutor Afrânio Gomes Pinto Júnior (GGTOX - Anvisa) Definições São substâncias ou preparações destinadas à higienização, desinfecção ou desinfestação domiciliar, em ambientes coletivos e/ou públicos, em lugares de uso comum e no tratamento de água, compreendendo: 1. Detergentes e seus congêneres - são as substâncias que apresentam como finalidade a limpeza e conservação de superfícies inanimadas, como por exemplo, detergentes, alvejantes; amaciante de tecidos; antiferruginosos, ceras, desincrustantes ácidos e alcalinos, limpa móveis, plásticos, pneus, vidros; polidores de sapato, superfícies metálicas, removedores, sabões, saponáceos e outros. 2. Alvejantes – correspondem a qualquer substância com ação química, oxidante ou redutora, que exerce ação branqueadora. 3. Desinfetantes - são formulações que têm na sua composição substâncias microbicidas e apresentam efeito letal para microrganismos não esporulados. Eles podem ser de uso geral, para indústrias alimentícias, para piscinas, para lactários, hospitalares para superfícies fixas e hospitalares para artigos semi-críticos. 4. Desodorizantes - são formulações que têm na sua composição substâncias microbioestáticas, capazes de controlar os odores desagradáveis advindos do metabolismo microrgânico. Não apresentam efeito letal sobre microrganismos, mas inibem o seu crescimento e multiplicação. São eles: desodorizantes ambientais, produtos para aparelhos sanitários e outros. 5. Esterilizantes - são formulações que têm na sua composição substâncias microbicidas e apresentam efeito letal para microrganismos esporulados e não esporulados. 6. Algicidas para piscinas - são substâncias ou produtos destinados a matar algas. 7. Fungicidas para piscinas - são substâncias ou produtos destinados a matar todas as formas de fungos. 8. Desinfetantes de água para o consumo humano - são substâncias ou produtos destinados à desinfecção de água para beber. 9. Água sanitária - soluções aquosas à base de hipoclorito de sódio ou cálcio, com teor de cloro ativo entre 2,0 a 2,5% p/p, durante o prazo de validade (máximo de 6 meses). Produto poderá conter apenas hidróxido de sódio ou cálcio, cloreto de sódio ou cálcio e

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1

MÓDULO VII Intoxicação por Produtos de Uso Doméstico Autora Cecília Maria de Souza Lagares Dabien Haddad (CCI - Campinas) Tutor Afrânio Gomes Pinto Júnior (GGTOX - Anvisa)

Definições

São substâncias ou preparações destinadas à higienização, desinfecção ou desinfestação domiciliar, em ambientes coletivos e/ou públicos, em lugares de uso comum e no tratamento de água, compreendendo:

1. Detergentes e seus congêneres - são as substâncias que apresentam como finalidade a limpeza e conservação de superfícies inanimadas, como por exemplo, detergentes, alvejantes; amaciante de tecidos; antiferruginosos, ceras, desincrustantes ácidos e alcalinos, limpa móveis, plásticos, pneus, vidros; polidores de sapato, superfícies metálicas, removedores, sabões, saponáceos e outros. 2. Alvejantes – correspondem a qualquer substância com ação química, oxidante ou redutora, que exerce ação branqueadora.

3. Desinfetantes - são formulações que têm na sua composição substâncias microbicidas e apresentam efeito letal para microrganismos não esporulados. Eles podem ser de uso geral, para indústrias alimentícias, para piscinas, para lactários, hospitalares para superfícies fixas e hospitalares para artigos semi-críticos. 4. Desodorizantes - são formulações que têm na sua composição substâncias microbioestáticas, capazes de controlar os odores desagradáveis advindos do metabolismo microrgânico. Não apresentam efeito letal sobre microrganismos, mas inibem o seu crescimento e multiplicação. São eles: desodorizantes ambientais, produtos para aparelhos sanitários e outros.

5. Esterilizantes - são formulações que têm na sua composição substâncias microbicidase apresentam efeito letal para microrganismos esporulados e não esporulados. 6. Algicidas para piscinas - são substâncias ou produtos destinados a matar algas. 7. Fungicidas para piscinas - são substâncias ou produtos destinados a matar todas as formas de fungos.

8. Desinfetantes de água para o consumo humano - são substâncias ou produtos destinados à desinfecção de água para beber.

9. Água sanitária - soluções aquosas à base de hipoclorito de sódio ou cálcio, com teor de cloro ativo entre 2,0 a 2,5% p/p, durante o prazo de validade (máximo de 6 meses). Produto poderá conter apenas hidróxido de sódio ou cálcio, cloreto de sódio ou cálcio e

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carbonato de sódio ou cálcio como estabilizante. Pode ter ação como alvejante e de desinfetante de uso geral.

10. Produtos biológicos – produtos à base de microrganismos viáveis para o tratamento de sistemas sépticos, tubulações sanitárias de águas servidas, e para outros locais, com a finalidade de degradar matéria orgânica e reduzir os odores. 11. Inseticidas – são produtos desinfestantes destinados à aplicação em domicílios e suas áreas comuns, no interior de instalações, edifícios públicos ou coletivos e ambientes afins para controle de insetos e outros animais incômodos e nocivos à saúde. 12. Raticidas - são produtos desinfestantes destinados à aplicação em domicílios e suas áreas comuns, no interior de instalações, edifícios públicos ou coletivos e ambientes afins para controle de roedores.

13. Produtos para jardinagem amadora – são produtos destinados à aplicação em jardins ou plantas ornamentais, cultivadas sem fins lucrativos, para o controle de pragas e doenças e bem como aqueles destinados a revitalização e ao embelezamento das plantas. 14. Repelentes – são produtos com ação repelente para insetos, para aplicação em superfícies inanimadas e para volatilização em ambientes com liberação lenta e contínua do (s) ingrediente (s) ativo (s) por aquecimento elétrico ou outra forma de energia ou espontaneamente.

Peculiaridades dos domissanitários

• 60 a 90% do tempo das pessoas são passados em ambientes fechados. • Exposição cotidiana. • Diversidade de finalidades. • Mesma marca comercial com diferentes formulações e concentrações. • Composição similar em produtos com aplicações diferentes. • Exposição concomitante. • Regionalidade de hábitos e de marcas. • Associação e uso inadequado de produtos.

Conduta em caso de acidente

Sempre trate primeiro da(s) pessoa(s) acidentada(s).

Siga as orientações de socorro que estão no rótulo do produto.

Medidas gerais de primeiros-socorros, de acordo com a situação:

• Se a pessoa bebeu ou comeu o produto: não provoque vômito, procure imediatamente o serviço de saúde mais próximo. Nunca dê nada para a pessoa beber ou comer, se ela estiver inconsciente.

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• Se o produto entrou em contato com os olhos (caiu ou respingou): lave-os imediatamente com muita água limpa, mantendo os olhos bem abertos. Em caso de dor, irritação, ardência ou lacrimejamento, procure imediatamente ajuda médica.

• Se o produto entrou em contato com a pele (caiu ou respingou): lave imediatamente a parte do corpo atingida, com muita água limpa.Tire as roupas contaminadas pelo produto. Em caso de irritação, dor ou queimadura procure ajuda médica.

• Se a pessoa inalou (cheirou) em excesso o produto: leve-a para um local aberto. Se houver sinais de intoxicação (mal-estar, tontura, dificuldades para respirar, tosse), procure ajuda médica.

Atenção: Sempre que possível, deve-se levar o rótulo do produto ao médico, porque isto orienta e melhora o atendimento ao paciente.

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Considerações gerais

Cáustico é um termo genérico para qualquer substância corrosiva. Classicamente, um cáustico era uma substância alcalina; contudo, este termo refere-se agora tanto a produtos ácidos quanto alcalinos. De modo similar, alguns agentes não considerados tradicionalmente alcalinos ou ácidos são classificados agora como cáusticos. Os exemplos incluem detergentes e hidrocarbonetos, que podem causar queimaduras graves após exposição a membranas mucosas.

Álcalis(cáusticos): hidróxido de cálcio, carboneto de cálcio, óxido de cálcio, soda cáustica, potassa cáustica, dietilenotriamina, isopropilamina, isopropilaminetanol, cal, carbonato de potássio, hidróxido de potássio, óxido de potássio, carbonato de sódio, hidróxido de sódio, metassilicato de sódio, óxido de sódio, silicato de sódio, tripolifosfato de sódio, fosfato trissódico.

Ácidos(corrosivos): ácido acético, cloreto de cobre, sulfato de cobre, cloreto férrico, ácido clorídrico, ácido fluorídrico, ácido nítrico, ácido oxálico, ácido fosfórico, cloreto de zinco, sulfato de zinco.

Hidrocarbonetos que causam queimaduras químicas: dicloreto de etileno, etilenoglicol monobutil éter, etilenoglicol monobutil éter acetato, formaldeído, gasolina, álcool isopropílico, naftaleno, percloroetileno, fenol, óleo de pinho, terpenos, terebentina, xileno.

Água sanitária, cloradores de piscinas e de água de consumo Soluções de Milton e de Dakin

Associações com risco potencializado:

HIPOCLORITO COM AMÔNIA: produzem fumos de cloramina e dicloramina, que em contato com mucosas formam ácido hidrocloroso e oxigênio nascente, que são potentesagentes oxidantes e causam lesão celular.

HIPOCLORITO COM SOLUÇÕES ÁCIDAS: liberam cloro gasoso e ácido hipocloroso que são absorvidos pelas mucosas, determinando dano local e sistêmico

Toxicocinética

Os agentes cáusticos produzem lesão tecidual alterando a estrutura da derme ou membrana mucosa, o que afeta o estado ionizado e rompe as ligações covalentes.

A lesão tecidual por necrose liquefativa (saponificação de gorduras e solubilização das proteínas) é patognomônica da exposição aos álcalis. A morte celular pode sobrevir pela emulsificação e ruptura das membranas celulares. Ocorre trombose dos vasos venosos e arteriais. Uma lesão grave com risco de morte pode ocorrer em menos de um minuto, dependendo da potência da exposição cáustica. Historicamente, o estômago é envolvido em apenas 20% dos casos após ingestões intencionais de substâncias alcalinas. Isso porque num passado não muito remoto esses produtos eram

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de apresentação sólida ou em escamas e por serem muito viscosos, lesavam primordialmente a orofaringe e o esôfago.

As exposições a ácidos causam lesão tecidual por necrose de coagulação (ressecamento ou desnaturação das proteínas do tecido superficial), com formação eventual de escaras e coágulos. Esse efeito parece limitar a extensão das lesões. O epitélio escamoso da orofaringe e esôfago é um pouco mais resistente à lesão por ácidos, muito provavelmente pelo refluxo que fisiologicamente ocorre diariamente. O estômago é muito mais freqüentemente envolvido nas ingestões intencionais de líquidos ácidos.

Os hidrocarbonetos cáusticos são menos propensos a causar lesão significativa à bucofaringe, esôfago ou estômago. Contudo essas substâncias químicas causam irritação e queimaduras químicas da pele após exposição prolongada, pois penetram na derme e causam necrose adiposa. O extrato córneo externo funciona como barreira contra alguns agentes químicos, enquanto outros agentes, como os hidrocarbonetos, penetram facilmente na pele.

A lesão tecidual é determinada pela potência e concentração do agente, modo de contato, quantidade do agente, duração do contato, mecanismo de ação, extensão da penetração, estado de enchimento prévio do estômago e intuito da ingestão.

Evolução das Esofagites Cáusticas

Primeiros 3 a 4 dias - INFLAMAÇÃO AGUDA: edema, eritema, congestão vascular, trombose, infiltração bacteriana, dano celular por desidratação, saponificação das gorduras, rápido processo necrótico. Nesta fase aparecem as complicações agudas. A ausência destas não elimina risco de seqüelas crônicas, que podem surgir em semanas.

4 a 21 dias - FASE DE GRANULAÇÃO LATENTE: começa a fibroplasia; após descamação da mucosa forma-se tecido de granulação com síntese inicial de colágeno.Nesta fase a parede esofagiana encontra-se mais tênue e friável, com maior risco de perfuração entre 5º e 15º dia.

A partir da terceira semana e podendo prolongar-se por anos - FASE DE CICATRIZAÇÃO CRÔNICA: a cicatriz substitui a lesão inicial, em até 2 a 3 semanas. Pode haver estenoses cicatriciais sintomáticas do esôfago, com disfagia progressiva, esôfago de Barrett, tração do estômago para o tórax e, tardiamente, adenocarcinoma.

Manifestações clínicas

Após uma exposição acidental da pele ou membranas mucosas a uma pequena quantidade de cáustico, alguns pacientes queixam-se de ardência grave e irritação.

A exposição da membrana mucosa resulta em lacrimejamento ou sialorréia, consistentes com a resposta inflamatória. Da mesma forma, pode haver queixas de dificuldade de respirar ou deglutir, dependendo da quantidade e da viscosidade da substância deglutida. Contudo, usualmente, os volumes são pequenos e freqüentemente não causam problemas significativos. A exposição acidental dos olhos aos cáusticos pode causar dor intensa e cegueira se não tratada imediatamente. O caso especial da exposição da pele ao ácido fluorídrico causa dor intensa,frequentemente várias horas após a exposição. O desconforto é adiado, pois o

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ácido fluorídrico é capaz de penetrar na pele antes da dissociação do íon fluoreto do hidrogênio. Isso contrasta com a dor mais imediata causada por outros agentes cáusticos com dissociação mais rápida, como o hidróxido de potássio ou o ácido clorídrico.

A exposição intencional a cáusticos quase sempre envolve a ingestão de álcalis ou ácidos fortes. Esses pacientes tipicamente apresentam-se vários minutos ou horas após a ingestão, quando a dor e edema bucofaríngeos e esofágicos tornam-se intensos. Eles têm, freqüentemente, disfonia e sentam-se na posição clássica de sniffing (aspirando o ar com força), devido ao comprometimento das vias aéreas. Os pacientes queixam-se de dor intensa na garganta, dor retroesternal, epigástrica.

Inalação: intensa irritação respiratória, tosse, dispnéia, espasmo de glote, aumento de secreções, edema, broncoespasmo e cianose. Descamação do epitélio nasal, risco de infecções, facilitação das complicações pulmonares. Manifestações sistêmicas: cefaléia, tontura, fraqueza, hipotensão e taquicardia.

Ocular: dor intensa, fotofobia, lesão de córnea, conjuntivite, lacrimejamento e edema palpebral.

Cutânea: queimadura grave e dolorosa, com necrose tecidual.

Digestiva: dor na cavidade oral e retroesternal, sialorréia, vômito, desidratação, hipotensão e lesões esofágicas. Tardiamente, pode ocorrer estenose cicatricial do esôfago. A suspeita de perfuração se faz diante de peritonite, febre, dor torácica intensa(alargamento do mediastino, enfisema subcutâneo, pneumomediastino, ou pneumoperitônio).

Tratamento

As exposições da pele ou dos olhos devem ser tratadas imediatamente com irrigação com água. Se grandes quantidades de álcali sólido, como a cal, permanecerem na pele, devem ser escovadas, antes da irrigação com água, pois uma queimadura térmica significativa pode ser produzida pelo contato do álcali sólido com a água. Como os álcalis penetram na pele e olhos por um período prolongado, a irrigação deve continuar por pelo menos 15 minutos após a remoção inicial. A irrigação dos olhos deve ser mantida por ainda mais tempo se as lágrimas mostrarem um pH alcalino persistente. Após exposição a ácidos, a irrigação prolongada com água também é recomendada.

A ingestão de cáusticos é uma exposição com risco de morte, portanto deve ser abordada sistematicamente e o quanto antes:

a) imediatamente -: deve-se remover qualquer resíduo sólido e enxaguar exaustivamente a cavidade oral; se o paciente estiver com dados vitais estáveis e puder engolir, administrar pequenas quantidades de água ou leite (30ml para crianças, 150ml para adultos). Não provocar vômitos, não fazer lavagem gástrica, não administrar carvão ativado. Fazer uma anamnese cuidadosa, tentando identificar o tipo de substância, o vasilhame, a quantidade ingerida, a presença de vômitos e hematêmese, a presença de dor e sua localização, e a presença de disfonia, dispnéia ou estridor.

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b) na admissão hospitalar - é necessário estabilizar vias aéreas e funções vitais; remover fragmentos que ainda possam estar na boca, e enxaguá-la; irrigar os olhos e a pele copiosamente; estabelecer acesso venoso; examinar a orofaringe e descrever os achados; estabelecer um jejum até que se complete propedêutica. Praticar uma avaliação laboratorial, com gasometria, hemograma, ionograma, glicemia, uréia, creatinina, etc. Em caso de hematêmese ou evidência de perfuração, reservar sangue após prova cruzada, praticar radiografia de tórax e abdome e endoscopia digestiva, assim como exames contrastados, tomografia ou ressonância em casos especiais e pacientes estáveis.

A endoscopia digestiva alta deve ser realizada dentro das primeiras 48 h, o quanto antes, mas depois da estabilização clínica do paciente. Geralmente, ela é realizada entre 6 a 24h.

A endoscopia está indicada em todos pacientes sintomáticos, na presença de queimaduras orais, em todos os pacientes com estridor (após estabilizar vias aéreas), em caso de vômitos e/ou salivação, nos casos de ingesta intencional, nos paciente psiquiátricos, pediátricos ou que apresentarem uma história incerta.

São contra indicações à realização da endoscopia digestiva: instabilidade hemodinâmica (choque), insuficiência respiratória, mediastinite, evidências de perfuração, queimaduras graves com franca necrose e edema obstruindo a luz esofágica, ausência de proteção prévia ou obstrução de vias aéreas superiores, no perído que vai das 48 h e até o 15° dia após a ingestão (fase de descolamento da escara).

Se não houver evidência de edema, eritema ou queimaduras no exame bucofaríngeo extenso, e se não houver sintomas 4h após a exposição, é improvável que tenha havido uma exposição significativa. Os outros sintomas a considerar são as alterações de fonação, incapacidade de tolerar a deglutição e dor retroesternal intensa. Nesses casos,faz-se necessária a endoscopia digestiva e, se ela mostrar apenas evidências de queimadura de primeiro grau (segundo Zargar), no esôfago e/ou estômago, um manejo ambulatorial é indicado.

Os pacientes com ingestões cáusticas que não apresentam mais sintomas, após avaliação no departamento de emergência e progressão da dieta, podem receber alta com segurança. Isto se verifica na maioria dos casos. Outros, no entanto, já chegam com comprometimento de vias aéreas e risco de morte devido ao edema maciço das vias aéreas superiores (mais comum em ingestão de álcalis).

Os pacientes com evidências significativas de queimaduras cáusticas da pele e das membranas mucosas podem apresentar um seqüestro de grandes quantidades de líquido no espaço extracelular e tornarem-se significativamente hipotensos e desidratados. Assim, todos os pacientes devem receber quantidades apropriadas de líquido por via intravenosa. As causas tardias de morte após ingestão de cáusticos incluem a perfuração do esôfago, que resulta em mediastinite ou sangramento gastrintestinal significativo por necrose tecidual. O acompanhamento por uma equipe cirúrgica é necessário nesses casos. Se houver evidência de perfuração ou se a gasometria arterial mostrar um pH menor ou igual a 7,2, haverá necessidade de intervenção cirúrgica de emergência.

O uso de bloqueadores H2, inibidores de bombas de prótons também proporcionam

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alívio dos sintomas do paciente. Já o uso dos corticóides com intuito de minimizar as complicações relacionadas à cicatrização exacerbada, mostrou aumento das complicações relacionadas com a diminuição da imunidade e seu emprego rotineiro não se justifica.O uso indistinto de antibióticos de largo espectro também não é advogado, sendo recomendados apenas nos casos de infecção comprovada.

Ácidos de comportamento atípico

Ácido oxálico: limpador de metais, removedor de ferrugem e tintas.

• além das lesões típicas de contato, ele provoca uma hipocalcemia por reação com o cálcio iônico e formação de cristais insolúveis de oxalato de cálcio em pH normal.

• A ingestão de 5g do produto concentrado pode matar um adulto. Os domissanitários têm concentrações médias de 10%.

Na exposição aguda, notam-se uma incoordenação muscular, tetania, convulsões, coma, arritmias cardíacas, choque e insuficiência renal duradoura.

Na exposição crônica, vêm-se uma arterite periférica, lesões inflamatórias crônicas do trato respiratório e urolitíase

Ácido fluorídrico: polidores de metais e vidros. Altamente citotóxico, o ácido fluorídrico provoca necrose de liquefação. O fluoreto precipita-se rapidamente com o cálcio, acarretando desmineralização óssea local e hipocalcemia sistêmica. A exposição de 2,5% de superfície corporal ou uma ingestão de1,5g do produto concentrado causam morte em adultos. Os produtos domissanitários têm 5 a 8% de ácido fluorídrico.

Nas exposição aguda, encontram-se lesões semelhantes àquelas causadas por bases fortes (necrose de liquefação), associadas a uma hipocalcemia, hipomagnesemia, hipercalemia, acidose metabólica, arritmias e morte.

Na exposição crônica, há aumento da densidade óssea por deposição de fluor (fluorose), anemia e leucopenia .

Tratamento

Além das medidas próprias para cada forma de intoxicação por ácidos, deve-se fazer:

• em caso de ingestão, uma lavagem gástrica cuidadosa, com solução de cloreto, carbonato ou gluconato de cálcio. • em caso de inalação, uma nebulização com gluconato de cálcio a 2,5%. • no contato dérmico, aplicação de gel de gluconato de cálcio a 20%. • administrar cloreto ou gluconato de cálcio endovenoso, lentamente, para corrigir a hipocalcemia. • monitorar as arritmias. • tratar as convulsões com diazepínicos. • manter o fluxo urinário alto.

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Considerações gerais

Sabões são produzidos por ação de álcalis sobre gorduras e óleos naturais. Apresentados sob as formas: líquida, flocos, granulada, pedra ou sabonete (adicionado perfume e corantes).

Detergentes são produtos de limpeza com efeitos mais intensos que os sabões com ação surfactante1 (diminuir a tensão superficial da água). Dissolvem as gorduras, sendo destinado à limpeza de todos os utensílios domésticos. Os surfactantes são, em geral, compostos orgânicos, classificados como não iônicos, aniônicos, catiônicos e anfóteros.

Surfactantes não-iônicos

São utilizados como cosméticos, medicamentos e produtos de limpeza e se caracterizam por sua baixa toxicidade, ainda que sejam levemente irritante para a pele e os olhos. Se ingeridos, eles podem causar distúrbios gastrintestinais pouco intensos.

Surfactantes aniônicos

Eles correspondem aos detergentes, sabonetes, sabões domésticos, xampus, pasta dental, produtos para limpeza de pele. Se caracterizam por uma toxicidade moderada, causando irritação de pele. Os surfactantes aniônicos agem sobre as bactérias Gram+2. São compostos de cadeia linear (biodegradáveis) mais freqüentemente utilizados são os ALQUIL SULFATOS e COMPOSTOS SULFONATOS: Lauril sulfato de sódio, alquilbenzeno sulfonato de sódio, dodecil benzeno sulfonato de sódio, estearato de sódio, oleato de sódio.

Surfactantes catiônicos

Usos: desinfetantes em produtos de limpeza de uso industrial ou domiciliar, amaciantes de roupas, lava-louças, condicionadores de cabelos, shampoos anti-caspa, germicidas e medicamentos.

Características: Alta toxicidade, causam irritação do TGI, afetam Gram(+) e (-),fungos evírus. Detergentes tensoativos catiônicos derivados do petróleo, derivados quaternários do amônio e outras matérias orgânicas. Alguns ingredientes mais usados: Cloreto de benzalcônio, cloreto de benzetônio, cloreto de cetilpiridinio , cetrimida, cloreto de dequalínio.

Quadro clínico

Surfactantes não-iônicos: náuseas , vômitos e diarréia. Surfactantes Aniônicos: náuseas , vômitos, diarréia e distensão abdominal. Surfactantes Catiônicos: dor abdominal, paralisia dos músculos respiratórios, hipotensão, agitação, convulsão, coma e morte.

Tratamento

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Surfactantes não-iônicos: diluição, protetores de mucosa, olhos: lavagem abundante. Surfactantes Aniônicos: diluição, protetores de mucosa, olhos: lavagem abundante. Surfactantes Catiônicos: diluição, lavagem gástrica, demulcentes, assistência respiratória, controle das convulsões.

Derivados fenólicos

Usos: empregados como anti-sépticos, desinfetantes, germicidas, bactericidas, inseticidas. Creolina: fenol, cresol, hidrocarbonetos, sabões .Lisol: mistura de 50% de cresóis e sabão de potassa emulsionado em óleo de linhaça. Mecanismo tóxico: são tóxicos protoplasmáticos, combinando-se com as proteínas teciduais, destruindo a arquitetura tissular.

Quadro clínico local

• Lesões irritativas da pele, zonas anestésias por destruição das terminações nervosas. • Após ingestão, surgem lesões cáusticas da boca, faringe, esôfago, estômago, dolorosas ou não, náuseas, vômitos, hematêmese e diarréia. • Os dinitroderivados absorvidos por via cutânea, digestiva ou por inalação, determinam aumento do calor corporal, por ação direta sobre o metabolismo celular. • Contato prolongado com a pele pode produzir necrose extensa e graves manifestações sistêmicas.

Quadro clínico sistêmico

• Após absorção ocorrem tremores, paralisias, cefaléia, desorientação, convulsões e coma. • Hemorragia digestiva com hipotensão e choque. • Insuficiência renal e hepática, icterícia. • Estimulação do centro respiratório, podendo ser causa de alcalose respiratória, seguida logo por acidose. • Pode ser observada metemoglobinemia.

Tratamento

• Eméticos e medidas provocadoras de vômitos somente se a solução ingerida for diluída . • Carvão ativado. • Lavagem gástrica com solução de bicarbonato de sódio a 5%. • Administração de demulcentes • Administrar óleo de rícino, que tem a propriedade de dissolver os fenóis e retardar sua absorção. • Tratamento da hipertermia, com bolsas de gelo e compressas frias. • Correção dos distúrbios hidro-eletrolíticos. • Assistência às condições respiratórias. • Tratamento das convulsões com diazepam e, em casos resistentes, com barbitúricos. • Nas contaminações de pele, deve ser feita lavagem abundante com água e aplicação de óleo de rícino. • Monitorar e tratar instabilidade circulatória.

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Formol formaldeído

• pH 2,8 – 4. • Utilizado em germicidas (37%) e alisantes de cabelo. • Irritante potente, pode provocar queimaduras de pele, mucosa e couro cabeludo, estruturas oculares e das vias aéreas, sobretudo por exposição prolongada a produtos artesanais, em ambientes fechados com alta concentração de vapores e aplicação sobre áreas previamente lesionadas. • Hipersensibilizante. • Potencial cancerígeno respiratório em exposições “profissionais”.

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Considerações gerais Considerações gerais sobre o óleo de pinho

O óleo de pinho, utilizado como desinfetante e odorizante de ambiente, constitui uma mistura de álcoois terpênicos3, presentes nas formulações comerciais em concentrações entre 3 a 20%.

Ele é freqüentemente associado a outros álcoois, a detergentes e, até a presente data, ao formaldeído, ainda que esta última associação deva ser proibida em breve.

Causam uma irritação severa de mucosas e são facilmente absorvidos pelas vias respiratórias e digestivas.

Manifestações clínicas

Os principais sintomas provocados são:

• digestivos: irritação mucosa, dor retroesternal, epigastralgia, náusea, vômitos, cólica e diarréia. Uma gastrite hemorrágica pode ocorrer; • respiratórios: em caso de aspiração, sobrevêm tosse imediata, sufocação, sibilâncias e dispnéia. Uma pneumonite química também pode aparecer. Em caso de inalação, só uma irritação mucosa, acompanhada de coriza e tosse, é encontrada. • O contato com a pele gera uma irritação cutâneo-mucosa.

As complicações mais freqüentes são de tipo neurológico, com sonolência, fraqueza, hipotermia, agitação, excitabilidade, delírio, cefaléia e ataxia. Pode-se ainda encontrar uma insuficiência renal.

Tratamento

Nas manifestações digestivas de intoxicação por pequenas quantidades, pratica-se uma diluição com água e aportam-se demulcentes. Para quantidades maiores, não induzir vômitos e fazer lavagem gástrica com entubação traqueal prévia. Não oferecer alimentos ou bebidas oleosos.

Os sintomas respiratórios requerem bronco-aspiração, broncodilatadores por nebulização e aminofilina endovenosa. Um tratamento específico para é necessário para a pneumonite química. Se houve inalação, a nebulização e o uso de

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descongestionantes sistêmicos são preconizados.

As reações cutâneo-mucosas devem ser tratadas por irrigação com água corrente.

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Considerações gerais

Os repelentes de insetos podem ser utilizados, tanto no controle do ambiente geral, como por aplicação direta sobre a pele. No primeiro grupo, tem-se a citronela (Cympobogon sp.), a andiroba (Carapa guianensis), o paradiclorobenzeno, a naftalina (naftaleno) e os inseticidas a base de piretróides e organofosforados. No segundo, está o dietiltoluamida ou DEET, vendido sob as marcas comerciais de Autan®, Off ®, Exposis®, Repelex®, em diferentes concentrações (5-30 %).

1. Paradiclorobenzeno

O paradiclorobenzeno ou p-DCB ou PDB, é um produto branco, que foi comercializado no intuito de substituir o naftaleno no controle das traças domésticas. Como o seu predecessor, ele tem a capacidade de sublimar, passando da forma sólida para o estado de vapor. Assim, sua absorção se dá, tanto por via oral, como inalatória, potencializada pela presença de lipídios nas secreções sudoríparas e sebáceas, e na constituição das membranas celulares.

A intoxicação aguda se manifesta por uma irritação da pele e das mucosas. Em caso de ingestão aparecem sintomas gastrintestinais do tipo de náuseas, vômitos e diarréia e, em alguns casos, anemia hemolítica, icterícia e metemoglobinemia. Seus vapores causam irritação ocular, com dor, edema peripalpebral e cefaléias. No contato com a pele, provoca irritação cutânea.

O tratamento varia com a porta de entrada:

• Ingesta A indução de vômito só será feita se imediatamente após a ingestão do produto e a lavagem gástrica é indicada nos casos de quantidades elevadas. A descontaminação com carvão ativado é recomendada na eliminação de pequenas quantidades ou quando o produto já ultrapassou o estágio estomacal. Fica totalmente contra-indicado o aporte de alimentos gordurosos, leite ou óleos, pelo menos 2 h após ingesta, devido à sua capacidade de aumentar a absorção. • Se o produto for inalado, deve-se remover o paciente da área de exposição e fornecer assistência respiratória. • No contato com a pele, as áreas de exposição devem ser bem e amplamente lavadas. • Em todos os casos, é indicada a instauração de medidas sintomáticas e de manutenção das funções vitais.

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2. Naftalina ou naftaleno Tradicionalmente utilizada no combate às traças, a naftalina tem uma lenta passagem da forma sólida para a de vapor e de odor característico dos derivados benzênicos, ela é rapidamente absorvida pela via inalatória, oral e dérmica, potencializada pelos solventes orgânicos e os lipídios.

Clinicamente, ela causa hemólise em portadores de deficiência de G-6-PD4 e em neonatos, devido à carência da produção de glutationa. Provavelmente, é a formação

de seu metabólito epóxido que é responsável pela hemólise.

O quadro começa 1 a 3 dias após a ingesta, e mostra palidez, fraqueza, anemia, metemoglobinemia, febre, leucocitose, hemoglobinúria, hematúria. Os exames de laboratório revelam uma redução da hemoglobina e do hematócrito, aumento do número de reticulócitos, presença de corpúsculos de Heinz (inclusões citoplasmáticas formadas de precipitados de metemoglobina oxidada, nos eritrócitos)

e aumento da bilirrubina sérica.

Outros efeitos provocados pela intoxicação aguda por naftalina:

• Distúrbios gastrintestinais, tais como náusea, vômitos, dores abdominais e diarréia. • Efeitos hepáticos: icterícia, hepatomegalia e elevação das transaminases. • Insuficiência renal secundária à necrose tubular gerada pela hemoglobina precipitada, com elevação da uréia e creatinina séricas hematúria e hematúria. • Sintomas neurológicos, mostrando confusão mental, vertigem, letargia, fasciculação muscular, redução da sensibilidade à dor, edema cerebral, convulsões e coma. • Sintomas oculares, tais como restrição do campo visual, atrofia do nervo ótico e catarata bilateral por oxidação dos grupamentos tiol (–SH) das proteínas constitutivas do cristalino.

Nos casos de suicídio por ingestão de naftalina foram relatados casos de morte. A dose letal estimada para o produto é de 5 a15 g para adultos e 2 a 3 g para crianças.

A Agência Internacional para Pesquisa de Câncer/IARC classifica o naftaleno como possível cancerígeno para humanos - Grupo 2B.

O tratamento das intoxicações por naftalina compreende:

• êmese, mas somente se praticada imediatamente após a deglutição, e se não houver cânfora na composição do produto, o que é difícil de verificar; • esvaziamento gástrico até 2 horas após a ingestão;

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• lavagem gástrica com água morna; • carvão ativado, associado a um catártico salino; • assistência respiratória, hidratação, e alcalinização urinária, para acelerar a eliminação urinária; • eventualmente, hemotransfusão para reduzir a hemoglobina circulante. • Diazepan, em caso de convulsões.

Atenção: o uso de azul de metileno para o tratamento da metemoglobinemia é contra-indicada em pacientes com deficiência em G6PD.

3. Inseticidas de Uso Doméstico

Em 90 % dos ambientes habitados existe algum tipo de inseticida em suspensão e, frequentemente, mais de um. A concentração de resíduos de venenos é maior no ar de ambientes domésticos do que em áreas livres. No entanto, esses venenos podem provocar agravos à saúde, tanto por via inalatória, como cutânea e digestiva. Eles são praticamente os mesmos produtos usados na agricultura e na pecuária e representados por piretrinas, piretróides, organofosforados, carbamatos e outros.

a) Piretrinas e piretróides

As piretrinas são inseticidas derivados do crisântemo dos quais os mais conhecidos e utilizados são, sobretudo, a piretrina-I e a piretrina-II.

Os piretróides são ésteres sintéticos das piretrinas e abarcam a aletrina, bifentrina, bioresmetrina, ciflutrina, cialotrina, cipermetrina, deltametrina, fenvalerato, flucitrinato, flumetrina, fluvalinato, fenpropatrina, permetrina, fenotrina, resmetrina, teflutrina, tetrametrina e tralometrina.

O mecanismo de ação tóxica das piretrinas e dos piretróides é complexo e se complica ainda mais nas formulações que o associam ao butóxido de piperonila ou a um organofosforado ou aos dois compostos, que têm a capacidade de inibir seu metabolismo e manter sua concentração alta e prolongar sua meia-vida. O butóxido de piperonila é uma amida lipofílica insaturada (5-(2-propenyl)-1,3-benzodioxole) com potente ação inibidora sobre o complexo enzimático do citocromo P4505, que intervém na degradação dos piretróides.

O principal efeito das piretrinas e dos piretróides se exerce nos canais de sódio e de cloro do sistema nervoso, e se traduz por uma hiperexcitação dos axônios. Eles modificam as características de abertura dos canais de sódio, mantendo-os abertos por mais tempo, e reduzem o limite do potencial de ação de membrana. Isto leva a estímulos ineficazes repetidos das células nervosas e gera o fenômeno de parestesia. Mesmo em pequenas quantidades, eles agem sobre a função sensorial dos neurônios.

Alguns piretróides diminuem o fluxo de cloro nos canais específicos e, provavelmente nos receptores GABA6, e devem ser responsáveis pelas fasciculações que subrevêm nas intoxicações severas.

A revisão bibliográfica de estudos recentes mostra outros efeitos adicionais, tais como a neurotoxicidade na fase de desenvolvimento do organismo, a morte de células nervosas e as anomalias mediadas pelos metabólitos dos piretróides. Discutem-se ainda outros efeitos carcinogênicos, mutagênicos e teratogênicos.

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Manifestações clínicas

Piretrinas e piretróides são produtos irritantes para a pele e as mucosas e suscetíveis de gerar um fenômeno de sensibilização, ainda mais graves nos sujeitos apresentando um terreno atópico.

Na pele, eles provocam eritema, edema, queimação, parestesias e sensação de fisgadas. São irritantes locais para os olhos, podendo causar conjuntivite e lesões de córnea.

Após inalação, nota-se irritação de vias aéreas, com rinite, laringo-faringite, asma e outras reações de hipersensibilidade. A aspiração pulmonar provocada pelo vômito pós-ingestão causa pneumonite química, principalmente se o produto estiver associado a um solvente derivado de petróleo, o que não é raro.

As manifestações alérgicas são geralmente leves e resultam da inalação. Em indivíduos sensíveis, sobrevêm dermatite, cefaléia, rinite, asma e pneumonite, podendo desenvolver-se uma reação anafilática com broncoespasmo grave, edema de orofaringe, hipotensão e choque.

A ingestão de solução concentrada pode causar efeitos no sistema nervoso central e produzir agitação, incoordenação motora, ataxia, tremores, hiperexcitabilidade, prostração, paralisias, convulsões, coma e parada respiratória.

Os produtos associados ao butóxido de piperonila também pode provocar epigastralgias, náuseas, vômitos e diarréia.

Tratamento

• Descontaminação rigorosa e precoce da pele, anti-histamíncos e corticóide tópico.

• Descontaminação rigorosa e precoce dos olhos, aplicação de colírio descongestionante e, se necessário, corticóide. A avaliação oftálmica é imprescindível.

• Em caso de inalação é necessário remover o paciente para um local bem ventilado, avaliar a necessidade de oxigênio e assistência respiratória, administrar corticóide em caso de edema importante, e fornecer broncodilatadores e anti-histamínicos.

• O contato oral, sem deglutição requer uma lavagem da boca com água corrente, mas, se houver deglutição, é preciso fazer uma adsorção com carvão ativado. Os bloqueadores H2 reduzem a incidência de complicações esofágicas, como estenose e síndrome de Barrett e ajudam a diminuir a dor provocada pelas lesões gástricas.

b) organofosforados de uso doméstico (eles são amplamente discutidos no Módulo sobre Intoxicação por Agrotóxicos)

Mecanismo de Ação

Os inseticidas organofosforados inibem permanentemente a enzima acetilcolinesterase através de sua fosforilação, causando acúmulo de acetilcolina e conseqüente

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superestimulação das terminações nervosas. Isto torna inadequada a transmissão de seus estímulos às células musculares, glandulares, ganglionares e do sistema nervoso central.

Vias de Absorção

Pelo fato de serem lipossolúveis os organofosforados podem ser absorvidos pelas vias digestiva, inalatória, dérmica e/ou mucosa.

Diagnóstico

Ele é essencialmente clínico-epidemiológico e, secundariamente, laboratorial, pela avaliação da redução do nível de esterases sangüíneas, ou da colinesterase eritrocitária.

Manifestações clínicas

Efeitos muscarínicos: vômito, cólicas e diarréia, broncoespasmo, miose puntiforme e paralítica, bradicardia, hipersecreção (sialorréia, lacrimejamento, broncorréia e hipersudorese), cefaléia, incontinência urinária, visão borrada.

Efeitos nicotínicos: midríase, mialgia, hipertensão arterial, fasciculações musculares, tremores e fraqueza muscular; pode haver paralisia respiratória.

Efeitos no sistema nervoso central: ansiedade, agitação, confusão mental, ataxia, depressão de centros cardio-respiratórios, convulsões e coma.

Complicações

- Síndrome intermediária: aparece 24-96 h após a exposição e resolução da crise aguda, com paresia dos músculos respiratórios e debilidade muscular, principalmente na face, pescoço e porções proximais dos membros. Também pode haver comprometimento de pares cranianos e diminuição de reflexos tendinosos, podendo prolongar-se por meses após a exposição.

- Neuropatia retardada induzida por organofosforados: aparece 1 a 3 semanas após a exposição, desencadeada pelos danos nos axônios periféricos e centrais e caracterizada por paresias ou paralisias de extremidades, sobretudo inferiores progressivas e irreversíveis, que podem também desencadear um déficit residual de natureza neuro-psiquiátrica, com comprometimento da memória, concentração e iniciativa.

Tratamento geral

Descontaminação de pele e mucosas, ocular e digestiva (lavagem gástrica e carvão ativado). Medidas de manutenção de vida e emergência:

- Assistência respiratória. - Aspiração de secreções. - Monitoramento de arritmias e instabilidade tensional.

Tratamento específico

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Atropina - agente antimuscarínico – usada na dose de ataque de 2,0 – 5,0 mg/kg em adultos, e 0,05 mg/kg em crianças, por via endovenosa. Repetir, se preciso, a cada 10-30 minutos. Em intoxicações graves, a atropinização pode ser necessária por dias, em infusão contínua (0,02-0.08 mg/kg/h). O parâmetro para a manutenção ou suspensão do tratamento é clínico, e se baseia na reversão da ausculta pulmonar indicativa de broncorréia e na constatação do desaparecimento da fase hipersecretora, ou sintomas de intoxicação atropínica (hiperemia de pele, boca seca, pupilas dilatadas e taquicardia).

Pralidoxima – antídoto específico – age em todos sítios afetados (muscarínicos, nicotínicos e provavelmente no sistema nervoso central). Dose de ataque: 1-2 g em adultos (crianças 20 a 50 mg/kg), por via endovenosa, em doses não maiores que 0,2 g/min, diluídos em soro fisiológico, podendo ser repetida a partir de 2 horas após a primeira administração, não ultrapassando a dose máxima de 12 g em 24 h (adultos). Deve ser iniciada nas primeiras 24 h para ser mais efetiva, mas pode ser realizada mais tarde, em especial para compostos lipossolúveis.

4. Inseticidas cosméticos - meta-N,N-dietiltoluamida ou DEET

Este produto é utilizado como repelente e aplicado diretamente sobre a pele. No entanto, ele é absorvidos pela via cutânea, além das vias respiratória e digestiva.

Os produtos comerciais a base de DEET contêm concentrações variáveis do princípio ativo e podem causar uma irritação leve da face, com uma descamação em torno do nariz. Pode-se também notar um eritema e vesículas sobre os braços de pessoas mais sensíveis. Esses sintomas desaparecem com a supressão do uso do repelente. A vaporização acidental sobre os olhos pode causar anomalias da córnea. Uma sensibilização cutânea também foi assinalada pelos serviços de saúde.

Efeitos agudos sistêmicos podem aparecer após ingestão ou contato cutâneo, se traduzindo por náuseas, vômitos, cefaléias, letargia, fraqueza muscular, irritabilidade, e, nos caso mais graves, provocar ataxia, tremores, convulsões, desorientação, confusão, encefalopatia tóxica e morte. Os raros casos de intoxicação atingem principalmente crianças de até 8 anos de idade. Casos de toxicidade cardiovascular, som hipertensão arterial foram descritos.

O tratamento se faz pela supressão da exposição, com deslocamento para área bem ventilada do paciente que sofreu intoxicação por inalação. A descontaminação cutânea se faz por lavagem extensa e prolongada, com água corrente e sabão neutro. A lavagem ocular deve ser realizada durante pelo menos 15 min, com soro fisiológico ou água corrente, e ser seguida de exame oftalmológico especializado. Em caso de ingestão de grandes quantidades, aportar carvão ativado.

Os sintomas sistêmicos justificam um tratamento sintomático e a observação do paciente até o desaparecimento das anomalias.

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Considerações gerais

Os polidores de metais são utilizados nos processos de abrilhantamento de utensílios em alumínio, aço inoxidável, prata, ouro, cobre, estanho, etc., de modo a remover sujeira, gordura, manchas ou o óxido metálico que é produzido pelo contato com o ar e a umidade do ambiente. Muitos outros objetos também podem ser limpos com esses produtos, como jóias e bijuterias, placas e letras metálicas de residências e outros prédios, grades de elevadores, corrimãos de escadas, instrumentos de música, carros, bicicletas, motocicletas, etc. Sua composição compreende ácido oxálico, óleo de pinho, descrito no capítulo sobre desodorizantes, hidrocarbonetos e amônia.

Manifestações clínicas

Em geral, esses produtos são irritantes para a pele e as mucosas. Em caso de ingestão, eles produzem distúrbios gastrintestinais e depressão do sistema nervoso central. Se seus vapores forem inalados, pode-se notar uma insuficiência respiratória e, até mesmo, uma pneumonite química.

Tratamento

O tratamento é sintomático e de manutenção das funções vitais, usando-se protetores de mucosa, antiácidos e outros produtos, em função do quadro clínico do paciente.

No caso de intoxicação pelo ácido oxálico, atentar para a hipocalcemia que este produto pode causar por quelação do cálcio circulante. Aportar gluconato de cálcio e controlar o ionograma sangüíneo.

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Considerações gerais

Freqüentemente as crianças engolem pilhas em forma de pastilhas que se alojam no tubo gastrintestinal. Tais pilhas têm de 8 a 25mm de diâmetro, e as de tamanhos maiores são mais propensas a aderir à mucosa do esôfago. Elas também podem ser aspiradas, causando a obstrução da via respiratória.

As pilhas são compostas de uma solução eletrolítica a base de hidróxido de sódio ou depotássio, associada a óxidos metálicos de mercúrio, prata, zinco, cádmio, lítio, etc., mas sua composição exata é desconhecida, gerando os riscos suplementares. As pastilhas contendo lítio apresentam uma incidência maior complicações.

Manifestações clínicas

A maioria dos casos cursa sem sintomatologia. Usualmente as pilhas levam de 8 horas até 7 dias para serem eliminadas. Sua aderência à mucosa do esôfago pode causar disfagia, vômitos, dispnéia e febre. O rompimento do invólucro leva à ulceração, perfuração e absorção do metal, com associação de sintomas de intoxicação pelo metal. Sinais de irritação peritoneal sugerem a formação de necrose ou uma perfuração. Elas podem ainda serem encontradas no canal auditivo e na cavidade nasal.

Diagnóstico

Como os pais poderem ignorar que a criança deglutiu a pilha, toda criança com disfagia e vômitos deve ser questionada, e uma avaliação radiológica do corpo será praticada para evidenciar este tipo de acidente. Se a ingestão for assinalada e as vias aéreas não estiverem comprometidas, as radiografias do tórax e do abdome permitirão determinar sua localização. No caso de suspeita de obstrução ou perfuração, uma avaliação laboratorial deve ser feita, como em um preparo para laparotomia, incluindo a dosagem do metal da pilha em questão.

Tratamento

Conduta imediata

Não há indicação para que se provoquem vômitos, nem lavagem gástrica, nem carvão ativado. A exploração radiológica é de praxe: se a pilha passar do esôfago, o prognóstico é favorável; se estiver alojada no esôfago ou nos brônquios, a remoção endoscópica ou broncoscópica é urgente devido ao risco de lesão local e perfuração; e, se estiver livre no estômago, deve-se acompanhar o trânsito através de radiografias praticadas a cada 24 h.

Em caso de sinais de rompimento a remoção será cirúrgica, e se acompanhará o paciente em busca de efeitos tardios ligados à intoxicação pelo metal.

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Considerações gerais

Os hidrocarbonetos são derivados da destilação do petróleo. Desses, os produtos líquidos são usados principalmente como combustíveis e solventes e classificados em: Os compostos alifáticos, cuja fórmula compreende cadeias abertas, agrupam diversos produtos como destilados minerais, gasolina, lubrificantes, óleos minerais, metano e etano, ditos gases naturais, propano ou gás propano, butano ou gás butano e hexano (usado na composição de solventes).

HEXANO Imagem tridimensional e Fórmula plana

Compostos halogenados7, cuja fórmula comporta elementos químicos do grupo 17, da tabela periódica dos elementos e que são o flúor, cloro, bromo, iodo e astato ou astatínio, formando compostos como o cloreto de metileno, clorofórmio (usado em solventes), tetracloreto de carbono (usado em solventes), tetracloroetileno e tricloroetano(usado em removedores de manchas e corretivos líquidos), tricloroetileno (usado em líquidos corretivos), dicloroetano (usado em solventes), diclorometano (usado em solventes), percloroetileno (usado em agentes de limpeza a seco), fluorcarbonetos (usados como propelentes em aerossóis, refrigerantes).

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CLOROFÓRMIO Imagem tridimensional e Fórmula plana

Compostos aromáticos, cuja fórmula compreende cadeias cíclicas, tais como benzeno e tolueno (usado em solventes), xileno, nafta. Nota: o querosene tem menos de 22% de hidrocarbonetos aromáticos. A nafta leve é uma mistura de hidrocarbonetos alifáticos e aromáticos com cinco a seis átomos de carbono por molécula. A nafta pesada é também uma mistura dos dois tipos de hidrocarbonetos, mas as moléculas que a compõem têm de sete a nove átomos de carbono.

TOLUENO Imagem tridimensional e Fórmula plana

Cetonas, constituídas de uma cadeia formada por átomos de carbono e hidrogênio, associados a um radical =O, sua forma mais simples é representada pela acetona (utilizada como removedor de esmalte).

ACETONA Imagem tridimensional e Fórmula plana

Derivados nitrogenados, formados por um anel benzênico, ao qual se associa um radical nitrogenado –NH2 anilinas (utilizados como solventes e tintas), eles são representados pela anilina que entra na constituição de vários tipos de corantes de tintas, vernizes, lacas, resinas, perfumes, químicos fotográficos e plásticos.

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ANILINA Imagem tridimensional e Fórmula plana

Toxicocinética

Todos os derivados de petróleo são lipofílicos. Os de cadeias mais curtas são voláteis e facilmente absorvidos pela pele, mas, sobretudo pela via respiratória, alcançando elevadas concentrações plasmáticas e chegando rapidamente ao cérebro e tecidos adiposos. A mucosa respiratória absorve 140 vezes mais que a digestiva.

O volume de distribuição é elevado. Os hidrocarbonetos aromáticos e alguns halogenados são metabolizados no fígado por oxidação e posteriormente conjugados com a glicina. Alguns hidrocarbonetos alifáticos e halogenados, assim como as cetonas, são eliminados pela via respiratória, enquanto que os derivados conjugados são eliminados pela urina.

Toxicodinâmica

Os derivados de petróleo de baixa viscosidade, tais como gasolina, diesel, querosene, tiner, fenol, tetracloreto de carbono, acetona, terebintina, benzeno, tolueno têm uma ação diretamente associada com a sua viscosidade e tensão superficial. Eles têm grande poder de penetração no organismo, inclusive por via inalatória, e, devido à sua ampla distribuição, causam efeitos sistêmicos

Em troca, os de alta viscosidade (óleos e graxas, por exemplo) agem localmente, devidoa sua dificuldade de penetração por todas as vias.

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Manifestações clínicas

Alguns hidrocarbonetos são capazes de provocar queimaduras químicas, como é o caso do álcool isopropílico, cresol, fenol, formaldeído, gasolina, metilclorofórmio, naftaleno, óleo de pinho, percloroetileno e xileno.

No contato com a pele, causam lesões tipo dermatite eczematóide.

A exposição parenteral provoca alterações do tecido adiposo, conjuntivo e muscular, que se traduzem por celulite, abscesso e fasceíte.

A ingestão e a aspiração suscitam queimaduras diretas das mucosas da orofaringe e das vias respiratórias, gerando tosse, dispnéia, cianose, edema e hemorragia mucosa e alveolar, insuficiência respiratória, edema agudo do pulmão, náusea, vômitos e epigastralgias. Os sintomas reveladores das lesões neurológicas são fraqueza, cefaléia, visão borrada, confusão mental, alucinações, incoordenação, convulsão, coma, taquicardia, instabilidade da pressão arterial, parada cardiorrespiratória, arritmias, espasmo coronariano e morte súbita.

Convulsões, arritmias, cianose, dano hepático, falência renal e rabdomiólise são sinais indicativos de gravidade por depressão profunda do sistema nervoso central. A presença na urina ou sangue de quantidades apreciáveis de alguns destes tóxicos pode confirmar o diagnóstico.

Tratamento

Medidas iniciais:

• Suporte básico das funções vitais. • Descontaminação externa ampla e assistência respiratória. • Radiografia de tórax mostra imagens entre 2 e 18 h da exposição aos produtos.

Em caso de ingesta de pequenas quantidades (5 a 10mL):

• Avaliar função pulmonar (gasometria, espirometria e controle radiológico até o 5º dia).

Em caso de ingesta maciça (maior que 30 mL) ou quando a ingesta associa outras substâncias mais tóxicas (p.ex. agrotóxicos), deve-se praticar:

• lavagem gástrica cuidadosa, com intubação endotraqueal prévia, e no máximo até 2 horas da ingestão de grandes volumes; • manutenção do equilíbrio ácido-básico e hidroeletrolítico; • nos casos graves: avaliar função renal e hepática;. • atenção especial para pneumonite química; • demais medidas sintomáticas e de manutenção.

Tratamento sintomático:

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• Broncoespasmo: usar broncodilatadores. • Adrenalina e isoproterenol: podem provocar arritmia ventricular por sensibilização do miocárdio às catecolaminas (utilizar somente na eventual ressuscitação cardíaca). Nas arritmias, usar adenosina, lidocaína ou betabloqueadores, segundo o tipo de transtorno. • Agitação ou delírio: os sedativos de preferência são benzodiazepínicos, podendo ser administrados tanto por via endovenosa, como por via oral. • Nas metemoglobinemias provocada pelas anilinas superiores a 20% ou em caso de hipóxia: aportar oxigênio e azul de metileno.

A administração de carvão ativado não é útil, por causa da fraca adsorção desses produtos.

Está formalmente CONTRA-INDICADA a indução de vômitos, devido ao risco de inalação, e o aporte de alimentos ou laxantes oleosos, que aumentam a absorção.

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Considerações gerais

Tintas são produtos usados para o revestimento de materiais, visando sua proteção e embelezamento. Correspondem a uma suspensão de pigmentos em veículo fluido.

Pigmentos são pequenas partículas cristalinas que devem ser insolúveis nos demais componentes da tinta e têm por finalidade principal dar cor e opacidade à película de revestimento.

Vernizes são soluções de gomas ou resinas, naturais ou sintéticas, que são convertidas em uma película transparente ou translúcida após a aplicação em camadas finas.

Lacas são produtos compostos essencialmente de um veículo volátil, uma resina sintética e um plastificante que têm a mesma finalidade que os vernizes.

Esmaltes são produtos obtidos pela adição de pigmentos aos vernizes ou lacas, resultando em uma verdadeira tinta caracterizada pela capacidade de formar uma película excepcionalmente lisa.

Tipos de tintas

a) Tintas a óleo – são constituídas por uma mistura de veículos, solventes, secantes e pigmentos.

• Os veículos são óleos que, quando expostos ao ar, são oxidados, passando da fase líquida para a sólida. Ex. óleo de linhaça, óleo de oiticica, óleo de tungue, óleo de perila, óleo de mamona e óleo de soja.

• Os solventes reduzem a viscosidade do veículo, facilitando a aplicação da tinta. Ex. aguarrás, derivados do petróleo, do alcatrão, tiner e terebentina.

• Os secantes são catalisadores que aceleram a absorção química do oxigênio necessária à passagem da forma líquida à sólida, garantindo uma melhor qualidade da película formada (processo de secagem). Em geral, são constituídos de compostos metálicos de zinco, cobalto, manganês, ferro, vanádio e chumbo.

b) Tintas plásticas As mais usadas são do tipo emulsionável (resina não solúvel associada a um solvente). Ex. látex de acetato de polivinila, fenólicas, maléicas, uréicas, de melanina, de pentaeritriol, etc.

c) Tintas para caiação Muito conhecidas e econômicas. Seu componente principal é a cal extinta – Ca(OH)2 .

d) Tintas luminescentes, fluorescentes e fosforescentes Principais pigmentos usados: sulfato de zinco (fluorescentes), misturas de sulfeto de zinco e de cálcio ou sulfetos de cálcio e de estrôncio(fosforescentes).

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Tipos de vernizes e lacas

Elas podem ser feitas a base de óleo e de solventes, e, os solventes mais utilizados são ésteres, cetonas, álcoois, etc.

Tipos de pigmentos

O número e a variedade de pigmentos atualmente são muito grandes. Possuem finalidades diversas, desde ingredientes de tintas até aditivos alimentares.

A partir do século XIX, os corantes naturais foram progressivamente substituídos pelos corantes sintéticos azóicos, derivados da anilina, cujo potencial cancerígeno é bem conhecido.

Atualmente, encontram-se no comércio:

- produtos biológicos como o índigo, extraído de uma planta (Indigofera tinctoria e Indigofera suffruticosa), e o carmim de cochonilha usado em alimentos, extraído de um inseto (Dactylopius coccus); - pigmentos de origem metálica, derivados de arsênio (verde Paris), de alumínio (silicatos azuis), de carbono (preto), de cádmio (vermelho, verde, laranja e amarelo), de ferro (vermelho, preto, óxidos de ferro ocres e ferrocianeto azul escuro), de cromo (verde e amarelo), de cobalto (azul e violeta), de chumbo (branco, amarelo e vermelho), de cobre (verde, azul e púrpura), de mercúrio (vermelho), de titânio (branco, bege, amarelo e preto) e de zinco (branco); - derivados orgânicos sintéticos, tais como as ftalocianinas (verdes) ou as ftalocianinas cloradas (azuis) e a quidacridona (violeta).

Riscos toxicológicos

As tintas e vernizes correlatos dificilmente representam riscos quando usados em ambientes domiciliares, mas podem ser tóxicas quando ingeridas.

Manifestações clínicas

• os óleos secantes das tintas a óleo exposição, geralmente não determinam problemasde importância em caso de exposição cutânea; • a cal viva reage com a água liberando calor (reação exotérmica) e se essa reação ocorre sobre a pele ou mucosas, produz lesões cáusticas e queimaduras. As soluções aquosas de cal extinta são pouco corrosivas; • os solventes podem ser responsáveis por lesões irritativas de pele ou de mucosas, particularmente ocular, mas, em caso de uso em pintura artística, a possibilidade de causar uma hepatite tóxica não deve ser descartada; • as tintas de carimbo têm teor elevado de pigmentos derivados de anilina. Na maioria dos casos, o quadro tóxico, é caracterizado pelo aparecimento de uma metemoglobinemia e os distúrbios são preponderantemente neurológicos.

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Tratamento

O tratamento é sintomático e, nos casos graves, de manutenção das funções vitais. A metemoglobinemia deve ser tratada com azul de metileno.

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Considerações gerais

Adesivo é um termo genérico que denomina uma categoria de produtos cuja finalidade é prender, ligar, ou ajuntar dois objetos e que pode referir-se a cola, pasta, mucilagem ou cimento.

Colas a base de cianoacrilato

As colas a base de cianoacrilato são adesivos instantâneos de baixa toxicidade. Produzem transtornos decorrentes de sua secagem extremamente rápida, principalmente quando entram em contato com a pele úmida dos dedos, pálpebras e lábios, ou com mucosas.

Manifestações clínicas

Sua sintomatologia está relacionada com a irritação mecânica, e não produzem quadrotóxico.

Tratamento

O elemento mais importante do tratamento é o de evitar toda tentativa brusca de separação das superfícies aderidas. Não há necessidade de intervenção cirúrgica para separá-las. A aplicação de água morna com sabão e a tração delicada das superfícies são suficientes, mesmo que este procedimento possa levar algum tempo. O uso de óleo mineral, óleo vegetal ou vaselina ajuda a remover os fragmentos de cola aderidos.

Não usar água muito quente, nem acetona ou álcool, principalmente na região próxima aos olhos. No caso de oclusão das pálpebras pela cola, deve-se aplicar compressas mornas, seguida de oclusão das pálpebras com pomada oftálmica, até abertura das mesmas, o que ocorre espontaneamente em até 4 dias. Nesse período, o acompanhamento pelo oftalmologista é necessário. Nos lábios, aplica-se água morna em abundância, solicitando-se que o próprio paciente faça pressão da saliva para fora da boca.

Cola de sapateiro

A cola de sapateiro é usada como adesivo para couros, mas pode ser também usada como droga de abuso. Sua composição inclui hidrocarbonetos aromáticos, tolueno e/ou xileno, empregados como solventes.

Mecanismo de ação

Estes solventes são lipossolúveis e atravessam a membrana hemato-encefálica levando a alterações do estado de consciência desde a leve tontura até a potente depressão do sistema nervoso central. Algumas dessas substâncias, como o tolueno, produzem um sentimento de gratificação por ação sobre o sistema nervoso, levando à auto-administração e à dependência.

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Cinética

Muito bem absorvidos por via oral e respiratória, os solventes aromáticos atingem rapidamente o cérebro e demais órgãos, após administração. Devido à sua alta solubilidade, armazenam-se no tecido adiposo, bem como no tecido cerebral. O metabolismo hepático os transforma em ácido benzóico (80%da dose de tolueno absorvida). A meia vida é de 12 h, com eliminação na forma inalterada pelos pulmões, e mais lentamente pela urina, sob a forma de ácido hipúrico.

Para o tolueno, há risco imediato de morte em concentração no ar de 2000 ppm.

Manifestações clínicas

A tolerância ao solvente é rápida, sendo necessário aumentar a dose para conseguir um mesmo efeito anterior. A euforia (“high”) usual começa em alguns minutos e dura de 15 a 45 min, período no qual o indivíduo sente vertigem e tontura. A maioria dos usuários descreve um decréscimo das inibições, uma sensação de “estar flutuando”, percepções errôneas ou ilusões, obnubilação, sonolência e, ocasionalmente, amnésia durante o pico da inalação.

Nos casos de intoxicação aguda, o paciente pode apresentar hiperemia ocular, fotofobia, diplopia, zumbidos, irritação da mucosa nasal, tosse, edema pulmonar, risco de pneumonia química, náusea, vômitos, diarréia, arritmias, lentificação das ondas registradas na eletroencefalografia, reações de pânico, depressão respiratória, complicações neurológicas, com distúrbios de memória, cefaléia e coma, hepatite com possível insuficiência hepática, insuficiência renal, fraqueza dos músculos esqueléticos por destruição muscular e morte.

Tratamento

Não há antídoto específico. Os distúrbios são transitórios e desaparecem com as medidas de suporte dos parâmetros vitais, e sobretudo do controle da função respiratória e das arritmias. Raramente as análises laboratoriais são úteis para estabelecer o diagnóstico, sendo, no entanto, de grande valia para o acompanhamento das complicações: eletroencefalografia, eletrocardiografia, gasometria, hemograma, provas de função renal e hepática, radiologia pulmonar.

Resinas Epóxi

Trata-se de um sistema composto por uma resina e um agente de cura (endurecedor ou acelerador).

Toxicidade

Ela é atribuída aos agentes de cura (aminas inorgânicas), que são irritantes e sensibilizantes da pele e mucosas. A absorção é cutânea e pelas e mucosas, com efeitoshépatotóxicos e neurotóxicos.

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Uma vez a resina curada, solidificada, ela deixa de ser tóxica.

Quadro Clínico

Os vapores de aminas podem provocar conjuntivite, rinite, faringite, tosse, asma, dor torácica, náusea, vômito e cefaléia, complicando-se com edema e infecção pulmonar. A dermatite do dorso das mãos, regiões interdigitais e punhos pode variar do eritema até uma importante erupção bolhosa. Quando ocorre sensibilização, a erupção é vesicular e pruriginosa, podendo se alastrar para outras áreas que tenham contato com resina. Eles também podem causar anomalias hepáticas.

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Considerações gerais

Saneantes ou Domissaniários – Substâncias ou preparações destinadas à higienização, desinfecção ou desinfestação domiciliar, em ambientes coletivos e/ou públicos, em lugares de uso comum e no tratamento de água, compreendendo: Detergentes e seus congêneres - são as substâncias que apresentam como finalidade a limpeza e conservação de superfícies inanimadas, como por exemplo: Detergentes; Alvejantes; Amaciante de Tecidos; Antiferruginosos; Ceras; Desincrustantes Ácidos e Alcalinos; Limpa Móveis, Plásticos, Pneus, Vidros; Polidores de Sapato, Superfícies Metálicas; Removedores; Sabões; Saponáceos e outros. Alvejantes - qualquer substância com ação química, oxidante ou redutora, que exerce ação branqueadora.

Desinfetantes - são formulações que têm na sua composição substâncias microbicidas e apresentam efeito letal para microrganismos não esporulados. São eles: De uso geral, Para Indústrias Alimentícias, Para Piscinas, Para Lactários, Hospitalares para superfícies fixas e Hospitalares para artigos semi-críticos. Desodorizantes - são formulações que têm na sua composição substâncias microbioestáticas, capazes de controlar os odores desagradáveis advindos do metabolismo microrgânico. Não apresentam efeito letal sobre microrganismos, mas inibem o seu crescimento e multiplicação. São eles: Desodorizante Ambiental, Para aparelhos sanitários e outros.

Esterilizantes - são formulações que têm na sua composição substâncias microbicidas e apresentam efeito letal para microrganismos esporulados e não esporulados. Algicidas para piscinas - são substâncias ou produtos destinados a matar algas. Fungicidas para piscinas - são substâncias ou produtos destinados a matar todas as formas de fungos.

Desinfetante de água para o consumo humano - são substâncias ou produtos destinados à desinfecção de água para beber.

Água sanitária - soluções aquosas à base de hipoclorito de sódio ou cálcio, com teor decloro ativo entre 2,0 a 2,5% p/p, durante o prazo de validade (máximo de 6 meses). Produto poderá conter apenas hidróxido de sódio ou cálcio, cloreto de sódio ou cálcio ecarbonato de sódio ou cálcio como estabilizante. Pode ter ação como alvejante e de desinfetante de uso geral.

Produtos biológicos – produtos à base de microrganismos viáveis para o tratamento de sistemas sépticos, tubulações sanitárias de águas servidas, e para outros locais, com a finalidade de degradar matéria orgânica e reduzir os odores. Inseticidas – são produtos desinfestantes destinados à aplicação em domicílios e suas áreas comuns, no interior de instalações, edifícios públicos ou coletivos e ambientes

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afins para controle de insetos e outros animais incômodos e nocivos à saúde. Raticidas - são produtos desinfestantes destinados à aplicação em domicílios e suas áreas comuns, no interior de instalações, edifícios públicos ou coletivos e ambientes afins para controle de roedores.

Jardinagem amadora – são produtos destinados à aplicação em jardins ou plantas ornamentais, cultivadas sem fins lucrativos, para o controle de pragas e doenças e bem como aqueles destinados a revitalização e ao embelezamento das plantas. Repelentes – são produtos com ação repelente para insetos, para aplicação em superfícies inanimadas e para volatilização em ambientes com liberação lenta e contínua do (s) ingrediente (s) ativo (s) por aquecimento elétrico ou outra forma de energia ou espontaneamente.

Peculiaridade dos domissanitários

• 60 a 90% do tempo das pessoas é passado em ambientes fechados. • Exposição cotidiana. • Diversidade de finalidades. • Mesma marca comercial com diferentes formulações e concentrações. • Composição similar em produtos com aplicações diferentes. • Exposição concomitante. • Regionalidade de hábitos e de marcas. • Associação e uso inadequado de produtos.

Em caso de acidente

Sempre trate primeiro da(s) pessoa(s) acidentada(s); Siga as orientações de socorro que estão no rótulo do produto; Adote as seguintes medidas gerais de primeiros-socorros de acordo com a situação: Se a pessoa bebeu ou comeu o produto: não provoque vômito, procure imediatamente o serviço de saúde mais próximo. Nunca dê nada para a pessoa beber ou comer, se ela estiver inconsciente. Se o produto entrou em contato com os olhos (caiu ou respingou): lave-os imediatamente com muita água limpa, mantendo os olhos bem abertos. Em caso de dor, irritação, ardência ou lacrimejamento, procure imediatamente ajuda médica. Se o produto entrou em contato com a pele (caiu ou respingou): lave imediatamente a parte do corpo atingida, com muita água limpa.Tire as roupas contaminadas pelo produto. Em caso de irritação, dor ou queimadura procure ajuda médica. Se a pessoa inalou (cheirou) em excesso o produto: leve-a para um local aberto. Se houver sinais de intoxicação (mal-estar, tontura, dificuldades para respirar, tosse), procure ajuda médica.

Atenção: Sempre que possível, é importante levar o rótulo do produto ao médico, porque isto orienta e melhora o atendimento ao paciente.

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Todo produto tem que ter rótulo, logo, só utilize produtos que tenham inscrito no rótulo, de forma clara, sua finalidade de uso. Essa indicação deve estar na parte da frente da embalagem, junto ao nome do produto. Por exemplo: sabão em pó, desinfetante, amaciante, detergente, inseticida.

Além disso, todos os rótulos devem conter:

• o nome do fabricante ou importador, com endereço completo, telefone, assim como o nome do técnico responsável pelo produto; • a frase “Produto notificado (ou registrado) na Anvisa/MS” ou número do registro no Ministério da Saúde; • a frase “Antes de usar leia as instruções do rótulo”, para que você saiba como usá-lo; • informações sobre os perigos e primeiros socorros; • o número de telefone do Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC); • caso esteja escrito no rótulo “PROIBIDA A VENDA DIRETA AO PÚBLICO” ou “USO PROFISSIONAL”, este produto somente poderá ser utilizado por profissional habilitado.

Na bula, devem constar os seguintes dizeres, no quadro de Informações Médicas sobre o produto: “Ligue para o Disque-Intoxicação: 0800-722-6001 para notificar o caso e obter informações especializadas sobre o diagnóstico e tratamento - Rede Nacional de Centros de Informação e Assistência Toxicológica/RENACIAT – ANVISA/MS Notifique ao sistema de informação de agravos de notificação (SINAN / MS)”

O rótulo não pode estar rasgado, descolado da embalagem, manchado ou com letras de tamanho pouco legível.

Não compre nem use:

• produtos saneantes vendidos por ambulantes em carros, peruas ou caminhões, etc. ou produtos saneantes vendidos em garrafas de refrigerantes e outras bebidas, pois há risco de serem produtos de fabricação e/ou comercialização ilegal, geralmente de toxicidade maior; • produtos que não tenham data de fabricação, prazo de validade e número de lote; • produtos cujas embalagens pareçam ter sido abertas ou estejam amassadas, enferrujadas, estufadas, rasgadas ou furadas; • produtos embalados em grandes volumes (barris, bombonas ou tonéis) e que são transvazados para outra embalagem no momento da compra.

Precauções de armazenamento:

• Guarde produtos saneantes bem longe de bebidas, alimentos, medicamentos e cosméticos. • Mantenha produtos saneantes fora do alcance de crianças e animais, pois podem atrair a atenção principalmente de crianças pequenas, entre 1 e 5 anos de idade, e causar acidentes graves. • Mantenha os produtos saneantes protegidos do sol, chuva e umidade. • Mantenha os produtos saneantes longe do calor e do fogo, pois alguns produtos são inflamáveis. • Somente misture um produto saneante com outro produto qualquer se esta indicação constar no rótulo, pois a mistura indevida pode causar reações explosivas ou vapores

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tóxicos. • Inutilize as embalagens vazias dos produtos saneantes, pois elas sempre guardam resíduos (restos) do produto. Fure o fundo e jogue fora as embalagens vazias, de preferência em sistema de coleta seletiva (separadas de outros lixos). • Não perfure nem jogue no fogo embalagens de aerossóis e nunca vire o jato de um aerossol ou spray em direção ao rosto. • Utensílios domésticos (copos, xícaras, colheres) só podem ser utilizados como medida para produtos saneantes se forem reservados apenas para esse fim.

Denuncie produtos clandestinos!

É muito importante a ajuda da comunidade em reconhecer os produtos clandestinos. Avise à Vigilância Sanitária de sua cidade ou Estado e notifique à ANVISA, via sistema de Notificações em Vigilância Sanitária/NOTIVISA [link com http://www.anvisa.gov.br/hotsite/notivisa/cadastro.htm], todo produto identificado nessas condições, assim como os agravos à saúde ocorridos.

1 Adaptação ao português de uma palavra composta pela contração da expressão inglesa “surface active agent”, que significa “agente de tensão superficial”. A tensão superficial corresponde à força que existe na superfície de líquidos em repouso. Ela é criada pela forte atração das moléculas externas por aquelas do interior do líquido e pode ser definida como a força por unidade de comprimento que duas camadas superficiais exercem uma sobre a outra 2 A coloração de Gram é um procedimento de identificação da espessura das paredes bacterianas. Após ação de um corante violeta e fixação deste pelo iodo, as bactérias são descoradas e coradas com um pigmento vermelho. As bactérias que têm uma parede mais espessa guardam a coloração pelo corante violeta e apresentam uma coloração final azul ou violeta - elas são ditas Gram+; enquanto que as que têm uma parede mais fina perdem a coloração violeta e se coram pela safranina, em vermelho, recebendo o nome de Gram-. Exemplos de bactérias Gram-positivas (Gram+): várias espécies de estreptococos, estafilococos e enterococos.. Exemplos de bactérias Gram-negativas (Gram-): vibrião colérico, colibacilo e salmonelas. 3 Os terpenos correspondem a uma grande variedade de hidrocarbonetos insaturados, encontrados em resinas e óleos de plantas (coníferas) e algumas borboletas. Resultam da associação de moléculas de isoprene de 10 (monoterpenos), 15 (sesquiterpenos), 20 (diterpenos), e, eventualmente, 25 (sesterterpenos), 30 (triterpenos) ou mais átomos de carbono. Sua modificação química por oxidação ou rearranjo da cadeia de carbono resulta na formação de terpenóides. A expressão “terpenos” é muitas vezes utilizada para designar os produtos originais e seus derivados. Eles são usados como produtos aromáticos em desinfetantes, desodorizantes e aditivos alimentares 4 A glicose-6-fosfato desidrogenase (G6PD) é uma enzima da via metabólica das pentoses que transforma o NADP em NADPH. O NADPH é coenzima da glutationa-redutase, que transforma a glutationa em glutationa reduzida. Esta é utilizada pela glutationa-peroxidase na eliminação do peróxido de hidrogênio na hemácia, evitando a oxidação da membrana plasmática, globinas e proteínas estruturais e, assim, a destruição da célula. 5 O citocromo P450 é um sistema de enzimas microsomiais da família das hemoproteínas, compostas de uma parte protéica (apoproteína) e um grupo hemoprostético. Localizam-se nas membranas do retículo endoplasmático dos hepatócitos, onde catalisam reações de oxidação de numerosas substâncias, graças à sua capacidade de transferência de elétrons. É também encontrado nas glândulas, nos testículos, no aparelho digestivo, e nas supra-renais, tanto nas mitocôndrias destas células, como no retículo endoplasmático liso encarregado da síntese de esteróides. O citocromo P450 2D6 ou CYP2D6 é uma das enzimas hepáticas mais importantes desse sistema complexo. 6 GABA - o receptor do ácido gama-aminobutírico transmembranoso se localiza na sinapse neuronal e é constituído por cinco unidades protéicas agrupadas de modo a delimitar um poro, permeável aos íons cloro quando ativado. A molécula de GABA endógena se fixa ao seu receptor específico, modifica a forma da proteína e faz com que o poro se abra. Os íons de cloro que se encontram em concentração extracelular superior à intracelular passam para o interior do axônio seguindo o gradiente eletroquímico, e hiperpolarizam a célula. O efeito final é de inibição da passagem do influxo nervoso. Os barbitúricos,

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alguns esteróides, os benzodiazepínicos e outras substâncias têm efeitos semelhantes sobre receptores GABA. Existem três tipos de receptores GABA: - GABAA e GABAC – receptores de canais iônicos de íons cloro, ativados por ligantes ou mediadores. - GABAB – receptores acoplados a uma proteína G intracelular, que agem aumentando a condutância de um canal associado ao íon potássio. 7 A palavra halogênio vem do grego halo que significa sal e gene, que significa gerador.