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Monitoramento do desempenho social e trabalhista Unilever Bestfoods Unidade Goiânia INSTITUTO OBSERVATÓRIO SOCIAL Av. Mauro Ramos, 1624, sala 202 - Centro Florianópolis (SC) – CEP 88020-302 Fone: (48) 3028-4400 E-mail: [email protected] Web site: www.observatoriosocial.org.br
Florianópolis Maio de 2004
INSTITUTO OBSERVATÓRIO SOCIAL
MONITORAMENTO DO DESEMPENHO SOCIAL E TRABALHISTA
UNILEVER BESTFOODS - UNIDADE GOIÂNIA
FLORIANÓPOLIS
MAIO/2004
ii
ii
INSTITUTO OBSERVATÓRIO SOCIAL
CONSELHO DIRETOR Presidente: Kjeld A. Jakobsen (CUT) João Vaccari Neto (Secretaria de Relações Internacionais, CUT ) Rosane da Silva (Secretaria de Políticas Sindicais, CUT) Artur Henrique dos Santos (Secretaria de Organização, CUT) José Celestino Lourenço (Secretaria Nacional de Formação, CUT) Maria Ednalva B. de Lima (Secretaria da Mulher Trabalhadora, CUT) Gilda Almeida de Souza (Secretaria de Políticas Sociais, CUT) Antonio Carlos Spis (Secretaria de Comunicação, CUT) Wagner Firmino Santana (DIEESE) Mara Luzia Feltes (DIEESE) Francisco Mazzeu (UNITRABALHO) Silvia Araújo (UNITRABALHO) Tullo Vigevani (CEDEC) Maria Inês Barreto (CEDEC)
DIRETORIA EXECUTIVA Kjeld A. Jakobsen: Presidente Artur Henrique dos Santos (SNO/CUT) Ari Aloraldo do Nascimento (CUT) Carlos Roberto Horta (UNITRABALHO) Clemente Ganz Lúcio (DIEESE) Clóvis Scherer (Coordenador Técnico) Maria Inês Barreto (CEDEC) Maria Ednalva B. de Lima (SNMT/CUT) Odilon Luís Faccio (Coordenador de Desenvolvimento Institucional)
COORDENAÇÃO TÉCNICA Arthur Borges Filho: Coordenador Administrativo Clóvis Scherer: Coordenador Técnico Maria José H. Coelho: Coordenadora de Comunicação Odilon Luís Faccio: Coordenador de Desenvolvimento Institucional Pieter Sijbrandij: Coordenador de Projetos Ronaldo Baltar: Coordenador do Sistema de Informação
EQUIPE TÉCNICA Coordenação Geral: Clóvis Scherer Pesquisadora: Fernanda Raquel
Revisão gramatical e ortográfica: Jane Maria Viana Cardoso Pesquisa realizada de março a maio de 2004.
iii
iii
SUMÁRIO
LISTA DE TABELAS.....................................................................................................................IV
LISTA DE QUADROS....................................................................................................................IV
1 INTRODUÇÃO ..............................................................................................................................1
2 PONTOS CRÍTICOS E MÉTODO ..............................................................................................2
2.1 A EMPRESA – DADOS ATUALIZADOS................................................................................4
3 O COMITÊ SINDICAL NACIONAL UNILEVER ....................................................................9
4 RESULTADOS DA PESQUISA DE MONITORAMENTO ...................................................12
4.1 LIBERDADE SINDICAL ..............................................................................................................12
4.2 NEGOCIAÇÃO COLETIVA ..........................................................................................................14
4.3 DISCRIMINAÇÃO DE GÊNERO E RAÇA ........................................................................................17
4.4 TRABALHO INFANTIL................................................................................................................18
4.5 SAÚDE E SEGURANÇA..............................................................................................................19
4.6 MEIO AMBIENTE ......................................................................................................................21
4.7 ATUAÇÃO NA CADEIA PRODUTIVA...............................................................................22
4.8 RESPONSABILIDADE SOCIAL .....................................................................................................24
5 CONCLUSÃO...............................................................................................................................28
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................................................32
iv
iv
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 - FATURAMENTO UNILEVER BRASIL –2002 (R$)..............................................6
TABELA 2 DISTRIBUIÇÃO TRABALHADORES UNILEVER GOIÂNIA POR GÊNERO E
GRUPO ETÁRIO................................................................................................................................................19
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 - PONTOS CRÍTICOS NA CONDUTA SOCIAL E TRABALHISTA DA
UNILEVER BESTFOODS (ARISCO E CICA) SEGUNDO A PESQUISA DO IOS DE JANEIRO DE
2002. ........................................................................................................................................................................5
QUADRO 2 - PERFIL UNIDADES UNILEVER BESTFOODS..................................................7
QUADRO 3 - EVOLUÇÃO DE CLÁUSULAS DOS ACORDOS COLETIVOS ENTRE
UNILEVER E STIA 2000, 2003 E 2004............................................................................................................17
QUADRO 4 - EVOLUÇÃO DE CLÁUSULAS DOS ACORDOS COLETIVOS ENTRE
UNILEVER E STIA 2003 E 2004.......................................................................................................................18
QUADRO 5 - DISTRIBUIÇÃO POR GÊNERO E RAÇA DOS FUNCIONÁRIOS DO
GRUPO UNILEVER - 2002 ...............................................................................................................................20
QUADRO 6 – PRINCIPAIS RESULTADOS OBTIDOS NO MONITORAMENTO SOBRE A
CONDUTA SOCIAL E TRABALHISTA DA UNILEVER BESTFOODS – MARÇO/ABRIL 2004..........33
1
1 INTRODUÇÃO
Após dois anos da publicação do Relatório de Pesquisa sobre o
comportamento social e trabalhista da empresa Unilever Bestfoods (Arisco e Cica),
divulgado em janeiro de 2002, o Observatório Social decidiu avaliar as mudanças
ocorridas na empresa e em sua conduta desde então. Este relatório de monitoramento
apresenta as conclusões dessa avaliação, que se concentrou nos pontos críticos
identificados na Pesquisa anterior, cujo relatório pode ser encontrado no endereço
http://www.observatoriosocial.org.br/download/ReGeunileverport.pdf.
Este relatório está composto por quatro seções: a primeira expõe os métodos
empregados neste estudo de monitoramento, a segunda apresenta informações
financeiras e operacionais da Empresa; a terceira parte trata da ação sindical no
período; e a quarta trata dos temas sociais, trabalhistas e ambientais: liberdade sindical,
negociação coletiva, saúde e segurança no trabalho, meio ambiente e atuação na cadeia
produtiva. As Conclusões encerram o documento.
2
2 PONTOS CRÍTICOS E MÉTODO
Na pesquisa que serve de referência foram constatados vários problemas na
conduta sociotrabalhista da empresa, sintetizados no Quadro 1. O monitoramento
adotou um método comparativo, utilizando como referência o relatório de pesquisa
Unilever Bestfoods finalizado no início de 2002. Optou-se pela atualização de dados e
acompanhamento dos principais problemas, apontados pela pesquisa na unidade,
localizada na cidade de Goiânia (Goiás), antiga fábrica da Arisco.
Foram coletadas informações em notícias publicadas na imprensa e,
principalmente, por meio de entrevistas com representantes do Sindicato dos
Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação de Goiás e Tocantins e do Sindicato dos
Trabalhadores Rurais da cidade de Piracanjuba (GO). Estas entrevistas focalizaram os
resultados da Pesquisa de 2002. O IOS procurou a direção da Unilever para obter
informações através de entrevistas e coleta de documentos, mas não obteve resposta.
Mesmo assim, contou com informações prestadas pela Unilever, em fevereiro de 2004,
a respeito da Pesquisa Unilever HPC1.
1 IOS. Comportamento social e trabalhista da empresa Unilever: Relatório Geral de Observação. Florianópolis, fev/2004. http://www.observatoriosocial.org.br/empr/unilever/unileverall.htm
3
QUADRO 1 - PONTOS CRÍTICOS NA CONDUTA SOCIAL E TRABALHISTA DA UNILEVER BESTFOODS (ARISCO E CICA) SEGUNDO A PESQUISA DO IOS DE JANEIRO DE 2002.
Liberdade Sindical e Direito à Informação
Restrições ao acesso dos sindicalistas aos locais de trabalho; Política da empresa de não dialogar com Sindicato sobre temas de interesses dos trabalhadores; Indefinição de pessoal na direção da unidade para interlocução com os dirigentes sindicais; Falta de reconhecimento do sindicato como representante dos trabalhadores.
Negociação Coletiva
Prática de negociação centralizada na sede da Unilever em São Paulo; PPR não negociada; Terceirização; Perda de benefícios no Acordo Coletivo em relação à gestão Arisco; Falta de diálogo com sindicato dos Trabalhadores Rurais.
Discriminação de Gênero e Raça
88% de cargos de chefia ocupados por homens, dentre os quais 62% homens brancos; Remuneração média das mulheres 33% menor que dos homens; Estrutura de cargos e salários desfavorável às mulheres; Empresa não apresenta programa para incentivar a igualdade de oportunidades.
Saúde e Segurança Falta divulgação sobre os riscos de acidentes de trabalho; Desrespeito ao período de descanso.
Trabalho Infantil Embora a Unilever tenha firmado compromisso com a DRT/GO, não tomou nenhuma medida operacional para auxiliar na erradicação do Trabalho Infantil.
Meio Ambiente Poluição do rio Meia Ponte, que corta a cidade de Goiânia; Não apresentação de programa de recuperação de passivo ambiental herdado; Não possui programa de gestão ambiental.
Atuação na cadeia produtiva
Não assume responsabilidade pelas condições de trabalho dos trabalhadores rurais de sua cadeia produtiva; Falta de iniciativas para comunidade local.
Fonte: Instituto Observatório Social
4
2.1 A EMPRESA – DADOS ATUALIZADOS
A empresa Unilever emprega no Brasil um total de 14 mil trabalhadores
distribuídos em 14 unidades nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás e
Pernambuco.
Em 2002, o faturamento bruto da Unilever no Brasil foi de pouco mais de R$
7 bilhões (aproximadamente US$ 2,2 bilhões)2, assim distribuídos: TABELA 1 - FATURAMENTO UNILEVER BRASIL –2002 (R$) Unilever Brasil 7,3 bilhões Divisão de Higiene e Beleza 4,4 bilhões Divisão de Alimentos 2,3 bilhões Divisão de Sorvetes 0,6 bilhões
Fonte: relatório de pesquisa Unilever HPC, 2004. Elaboração: Observatório Social, 2004. *A empresa informa ter aferido prejuízo líquido, em 2002, de R$ 1,4 bilhões.
No país, a Unilever atua através de três divisões operacionais:
• Unilever Higiene e Beleza - divisão de produtos de higiene pessoal e
limpeza doméstica, com unidades em: Valinhos (SP), Vinhedo (SP),
Indaiatuba (SP), Itatiba (SP) Igarassu (PE) e Recife (PE);
• Kibon – divisão de sorvetes, com unidades em: São Paulo (SP) e
Recife (PE);
• Unilever Bestfoods - divisão de produtos alimentícios (unidades
apresentadas na tabela 1).
Segundo dados da empresa, a divisão Unilever Bestfoods – Alimentos e
Foodservice – concentra metade do quadro total de empregados da companhia, com 7
mil trabalhadores. A unidade de Goiânia responde por aproximadamente 30% das
atividades da Unilever Bestfoods no Brasil e, sozinha, concentra mais da metade dos
trabalhadores da área produtiva desta divisão. A Unilever Bestfoods preservou
algumas marcas de produtos como a Arisco (temperos).
2 Cotação do dólar de 01/06/2004.
5
Nesta unidade, verifica-se um número elevado de trabalhadores
terceirizados, alocados principalmente nas seguintes áreas: distribuição, segurança
patrimonial, arquivo e saúde.
Desde o início de 2002, algumas mudanças importantes ocorreram na
estrutura produtiva da empresa. QUADRO 2 - PERFIL UNIDADES UNILEVER BESTFOODS
Unidade Número de Trabalhadores Produtos Garanhuns, PE 163 trabalhadores Complementos alimentares Goiânia, GO 2.575 trabalhadores efetivos +
aproximadamente 1.600 terceirizados = 4.175 trab.
Produtos à base de tomate (extrato, molho, polpa), ketchup, maionese, legumes e vegetais, temperos, etc.
Mogi Guaçu, SP 55 trabalhadores Amido de milho Patos de Minas, MG
120 efetivos (período de safra – jun. a nov. – 350 no total)
Polpa e cubos de tomate
Pouso Alegre, MG
730 trabalhadores
Bebidas à base de soja, caldos, sopas, pratos prontos, chás, maioneses, Dextrosol, ingredientes ind., etc.
Valinhos, SP 400 trabalhadores Margarinas, mistura e cobertura p/ bolo, refoga caseira, gordura panificadora, creme vegetal, etc.
Fonte: www.unilever.com.br Elaboração: Observatório Social, 2004. * A diferença entre o número de trabalhadores por unidades, indicado pelos sindicatos, e os sete mil desta divisão, indicado pela empresa, pode ocorrer pelo número de trabalhadores alocados nos escritórios centrais.
No final de março de 2004, a unidade de Vespasiano (MG), da divisão de
Higiene e Beleza encerrou suas atividades. A transferência das operações desta
unidade para outras fábricas da Unilever no país foi anunciada em maio de 2003,
determinando um prazo de 12 meses a partir daquela data para a finalização do
processo. De acordo com a empresa tal decisão baseou-se “em estudos que indicaram a
necessidade de realocar a produção de detergente em pó, tanto por uma questão de
ganho de escala como de investimento tecnológico”. Foram afetados diretamente 340
trabalhadores, sendo que 30% destes teriam a possibilidade de transferência para
outras unidades do grupo. Os trabalhadores demitidos teriam direito a benefícios
adicionais, além do que é determinado por lei, como por exemplo, programas de
suporte para recolocação no mercado.
Em outubro de 2003, a Unilever, em Vinhedo (SP), anunciou a demissão de
150 trabalhadores a partir de março de 2004, em razão da transferência para Ipojuca,
no estado de Pernambuco, da fabricação de creme dental e, também, por
6
automatização na linha de produção na unidade. Das 150 demissões anunciadas, 100
se referiam à transferência das linhas de produção e 50 por causa da nova
reestruturação produtiva que introduzirá paletizadores automáticos nas linhas de
produção. A empresa não consultou os trabalhadores e seu sindicato, nem as
autoridades da cidade antes de decidir que iria cortar postos de trabalho.
Em dezembro de 2003, a Central Única dos Trabalhadores (CUT), o
Sindicato dos Químicos Unificados (Regional Vinhedo) e a Confederação Nacional
dos Químicos (CNQ) denunciaram a Unilever ao Ponto de Contato Nacional (PCN)
por violar as Diretrizes da OCDE para as empresas multinacionais. O PCN foi criado
pelo Ministério da Fazenda, neste mesmo ano, para promover e implementar as
diretrizes da OCDE; responder a pedidos de informação; ajudar a resolver questões
que possam surgir; participar de conversações entre as partes interessadas; cooperar
com os Pontos de Contato Nacionais dos demais países; acompanhar e implementar as
Decisões do Conselho da OCDE sobre as Diretrizes.
Desde outubro de 2003, o Sindicato dos Químicos de Vinhedo vinha
realizando atos de mobilização em defesa dos postos de trabalho. Em fevereiro de
2004, houve paralisação de 100% da produção e do setor administrativo por 24 horas,
com permanência da unidade em estado de greve Em 26 de abril deste mesmo ano,
após a retomada das negociações em março, a Regional de Vinhedo do Sindicato
Químicos Unificados e a direção nacional da Unilever chegaram a um acordo que
indicou a reversão do projeto da multinacional em fechar 150 postos de trabalho da
unidade em Vinhedo, com a conseqüente demissão dos trabalhadores. As
possibilidades são de ampliação da capacidade produtiva e o estudo de uma jornada de
trabalho alternativa na planta em Vinhedo. Enquanto não houver a definição destes
projetos, o sindicato e a Unilever definiram que a fábrica de Vinhedo não efetivará
dispensas para redução de seu quadro funcional. Qualquer dispensa não relacionada à
reestruturação da empresa será efetivada normalmente, sendo observada a legislação
vigente.
7
Outra questão definida no acordo é que, enquanto perdurar a análise dos
projetos ora em andamento pela Unilever, será garantida a manutenção de um canal de
comunicação entre a empresa, os trabalhadores e o sindicato. Para isso, inclusive, com
a periodicidade mínima de 15 dias, com início em 05 de maio de 2004, serão
realizadas reuniões entre a Unilever e o sindicato com o objetivo de avançar nas
negociações e informar o andamento dos projetos ao conjunto dos trabalhadores.
Em 2004, foi anunciado o início das operações de uma nova fábrica no
estado de Pernambuco, que está em construção no município de Ipojuca, próximo ao
porto de Suape e ao pólo turístico de Porto de Galinhas. Essa fábrica irá abrigar toda a
operação da empresa hoje instalada no bairro do Curado, em Recife. A nova unidade
vai ser, também, responsável pela produção de creme dental, atualmente realizada em
Vinhedo, no interior de SP. A nova fábrica está situada em um pólo de exportação e
fica ao lado do centro de distribuição que atende a empresa, o que reduzirá seus custos
logísticos e de transporte. O estado de Pernambuco é o segundo maior mercado
nacional para o grupo e abriga três de suas fábricas: Igarassu (que produz o detergente
em pó Ala), Curado (de onde saem produtos de higiene e beleza) e a unidade de
fabricação dos sorvetes Kibon.
A unidade localizada em Rio Verde, no estado de Goiás, produz atomatados
e já não pertence ao grupo Unilever. O grupo havia decidido concentrar sua produção
de tomates na fábrica de Goiânia e tinha colocado a unidade de Rio Verde à venda
com a intenção de reduzir o número de fábricas. Esta fábrica de atomatados foi,
inicialmente, vendida para a Parmalat, mas o contrato de compra foi revertido devido
ao não pagamento das parcelas acertadas, depois do escândalo contábil envolvendo a
empresa italiana. Enquanto a operação aguarda aprovação da Comissão de Valores
Mobiliários (CVM), em vez da compra imediata, a Parmalat paga um aluguel e tem,
ainda, a opção de adquirir a fábrica no futuro desde que consiga sair da crise
financeira.
Em 2003, a Unilever implantou uma fazenda experimental em Goiânia, um
centro de pesquisa sobre tomate, semelhante ao projeto já desenvolvido em Stockton,
8
Estados Unidos. De acordo com a imprensa, a fazenda receberá investimentos de R$
2,5 milhões até 2006. A idéia é desenvolver tecnologias que possibilitem a produção
de frutos de melhor qualidade, com ganhos também para o processo industrial.
Fornecidos pelo centro californiano da Unilever, que tem a mesma função, novos
híbridos de tomate estão sendo testados e aperfeiçoados geneticamente, com
conseqüente adaptação às condições locais.
9
3 O COMITÊ SINDICAL NACIONAL UNILEVER
No início de 2002, por iniciativa da CUT, foi retomada a organização dos
trabalhadores da Unilever em um comitê sindical. Em um seminário realizado na
cidade de São Bernardo do Campo (SP), em abril de 2002, participaram sindicalistas
de diferentes regiões do Brasil e representantes da empresa, notadamente da área de
Recursos Humanos e Assuntos Corporativos. Um Comitê Sindical Nacional Unilever
Brasil foi formado na ocasião, com oito representantes, todos funcionários da empresa.
Depois de alguns meses, foi aprovado um regimento interno do Comitê e
uma carta de apresentação endereçada à Unilever solicitando uma reunião. No final de
2002, a empresa manifestou-se favorável a um contato oficial com o Comitê, mas
ressalvou que não seriam discutidos, de forma isolada, os assuntos tradicionalmente
objeto de negociação entre empresa e os diferentes sindicatos. Com o Comitê a
Unilever estava disposta a discutir temas amplos, tais como o seu engajamento no
programa Global Compact, o trabalho infantil e a responsabilidade social.
Como um dos sindicatos se desligou do Comitê por divergência com as
decisões tomadas, em março de 2003 o Comitê Sindical da Unilever foi recomposto,
recebendo novos integrantes, e retomou a iniciativa de buscar o diálogo com a
empresa. O Comitê reuniu-se com representantes da Unilever, em junho daquele ano,
para oficializar o seu reconhecimento e apresentar seus objetivos de diálogo
permanente com a empresa em nível nacional e cooperação e solidariedade entre os
sindicatos no Brasil e no exterior. Durante esta reunião, um novo encontro foi
agendado, cujo tema para discussão seriam as diretrizes da OCDE para empresas
multinacionais e, também, o fechamento da unidade de Vespasiano.
No final de junho de 2003, durante viagem de intercâmbio internacional na
Holanda, houve um encontro com pesquisadores e sindicatos representantes dos
trabalhadores da Unilever daquele país e também do Brasil, África do Sul, Índia e
Coréia do Sul. Na ocasião, os sindicalistas reuniram-se com a direção mundial da
empresa para discutir as mudanças sugeridas pelas pesquisas realizadas naqueles
10
países. Os sindicalistas brasileiros solicitaram que a Unilever passasse a considerar o
Comitê Unilever Brasil como um fórum de discussões para tratar de assuntos de
interesse de ambas as partes. Os representantes da empresa concordaram com esta
demanda.
Em setembro de 2003, ocorreu outra viagem de intercâmbio internacional de
trabalhadores da Unilever, desta vez para a Índia, que contou com a participação de
dois integrantes do Comitê brasileiro. No mesmo mês, em resposta à pesquisa do
Observatório Social sobre a Unilever HPC, a empresa pronunciou-se em relação ao
Comitê da seguinte maneira:
Finalmente, julgamos importante registrar nossa posição frente à expectativa de reconhecimento do Comitê Nacional de Funcionários da Unilever Brasil, por parte do Observatório Social. Essa posição da Unilever já foi esclarecida por ocasião da primeira reunião em 2002 e reafirmada dia 12/06/03. A Unilever atenderá aos convites de participação todas as vezes que na agenda houver algum ponto a ser esclarecido a respeito de nossa Empresa. Não será entretanto para a Unilever um fórum de negociações em Relações de Trabalho, tendo em vista que nossas unidades já estão organizadas segundo a legislação brasileira em fóruns por categorias de negócios, bases geográficas e respectivas organizações patronais. Além disso o Brasil caracteriza-se por ser um país de extenso território com diferenças socioculturais, econômicas e mercadológicas. O negócio da Unilever, assim como o mercado concorrente atua em linha com as diferenças regionais.
Depois desta declaração, a empresa não mais retomou o diálogo com o
Comitê. No segundo semestre de 2003, os principais interlocutores da Unilever com o
Comitê deixaram a empresa, dificultando ainda mais o entendimento entre os atores.
Em março de 2004, dirigentes sindicais europeus de seis corporações
multinacionais que atuam no Brasil, entre elas a Unilever, reuniram-se em São Paulo
com sindicalistas brasileiros e representantes das empresas para debater suas
realidades no III Intercâmbio Sindical Alemanha, Brasil e Holanda. Ao contrário das
outras empresas, a Unilever não se fez representar no seminário público de
encerramento do Intercâmbio, não permitiu que os sindicalistas brasileiros que
participavam do evento visitassem a sua fábrica de Valinhos e, apesar de ter se reunido
com os sindicalistas, não assumiu qualquer compromisso. A empresa declarou que
considera difícil haver uma única forma de organização capaz de representar os vários
sindicatos, cujas posições políticas são diferentes. Cabe lembrar que, na Europa,
11
apesar de todas as diferenças entre os países, há um Comitê organizado e que conta
com o apoio da Unilever.
Atualmente, o Comitê está procurando se organizar e buscando o diálogo
com a nova direção corporativa da Unilever, que assumiu em abril de 2004.
12
4 RESULTADOS DA PESQUISA DE MONITORAMENTO
A Unilever, em resposta à pesquisa Unilever HPC realizada em 2003,
assume que, do ponto de vista do quadro de funcionários, houve redução no número de
funcionários da unidade de Goiânia devido:
• à reorganização da empresa com centralização das decisões de comando e
gestão nas áreas de engenharia, marketing e compras, por exemplo, que
passaram para a matriz em São Paulo;
• à venda de operações de palha de aço da marca Assolan;
• à redução de operações de Higiene e Limpeza;
• a terceirizações na Distribuição, Segurança Patrimonial, Arquivo e
Saúde; e
• à transferência da linha de embalagens da fábrica de Rio Verde para
Goiânia (ambas no estado de Goiás).
No âmbito fabril, a redução foi da ordem de aproximadamente 800 pessoas.
Atualmente, cerca de 2.500 trabalhadores estão ligados à manufatura na unidade de
Goiânia.
4.1 LIBERDADE SINDICAL
O Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação dos Estados de
Goiás e Tocantins (STIA) é o representante legal dos empregados da Unilever
Bestfoods de Goiânia. Atualmente, trabalham na empresa quatro diretores efetivos do
Sindicato e três diretores suplentes, nenhum deles liberado para atividades sindicais.
O sindicalista entrevistado considera a Unilever uma empresa muito fechada,
que não disponibiliza informações, por exemplo, sobre o perfil de seus empregados,
nem sobre o número de trabalhadores terceirizados, que se estima serem 1.600. As
decisões na unidade são tomadas conforme o modelo da Unilever, que é de
compartilhar as decisões com o escritório central e o responsável por negociações em
toda a divisão Bestfoods.
13
O acesso dos sindicalistas aos locais de trabalho na fábrica sofre restrições,
ocorrendo somente com autorização prévia e em apenas alguns locais, mesmo para
diretores do sindicato que lá trabalham. Por exemplo, uma sindicalista que trabalha na
loja da fábrica (parte externa) não tem acesso à área interna, da produção, onde está
concentrado o maior número de trabalhadores.
Quando o sindicato precisa do acesso à unidade por alguma questão
específica, a empresa concede permissão, mas não há regras definidas. A necessidade
da presença do sindicato precisa ser justificada para que a empresa permita o acesso
dos sindicalistas. Não há nenhum acordo formal ou regras pré-estabelecidas para
acesso dos sindicalistas às dependências da unidade.
Desde o início de 2004, não são permitidas reuniões entre sindicato e
trabalhadores nas instalações da Unilever. As assembléias com trabalhadores são
realizadas no sindicato, no auditório ou em uma área aberta, na própria sede do
sindicato.
A distribuição de material impresso do sindicato, boletins e informativos só
pode ser realizada na rua em frente à fábrica, mesmo assim esta atividade é restringida
pelo pessoal de segurança da empresa. A empresa não assume responsabilidade pelas
atitudes restritivas, afirmando que ocorrem a sua revelia.
A empresa não adotou o plano de melhoria para a sua relação com o
sindicato, que havia sido recomendado no relatório de pesquisa. A empresa também
não aceitou discutir a criação de comissão de empresa ou comissão de fábrica.
Segundo o entrevistado com relação à sindicalização, a partir do momento
em que a empresa é informada da participação do trabalhador no sindicato, passa a
tratá-lo diferentemente, por exemplo, evitando conceder-lhe promoção funcional.
No entanto, se, na época da pesquisa em 2001, havia apenas um empregado
da Unilever ocupando cargo de diretor do Sindicato, na eleição, ocorrida em junho de
2003, foram eleitos outros três trabalhadores para a diretoria da entidade.
14
No Acordo Coletivo está garantida a representação sindical da seguinte
maneira:
Fica assegurado aos representantes do Sindicato manter contato com os empregados da Empresa, a fim de intensificar a sindicalização, além de ampla liberdade de divulgação do presente Acordo e outros informativos de interesse da categoria,e também a liberação de membros da Diretoria ou Conselho Fiscal, até três (3) dias por ano, para participação de congressos e trabalhados da categoria, sem perda salarial.
Os trabalhadores rurais são representados pelo Sindicato dos Trabalhadores
Rurais (STR) e pela Federação Estadual (FETAG), ambos filiados à Confederação
Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG), da CUT. A Unilever não
assume responsabilidade pelos trabalhadores envolvidos na sua cadeia produtiva e não
mantém contato com aquelas entidades sindicais.
De acordo com a empresa, o número de trabalhadores sindicalizados é de
3%, bastante diferente do que o relatório de pesquisa havia apontado, de 85,2%. Não
foi possível confirmar esta informação porquanto o STIA não nos forneceu este dado
para atualização.
A empresa disponibilizou em seu Relatório Socioambiental 2003 a
porcentagem total de funcionários sindicalizados em 2002: 12,3%.
4.2 NEGOCIAÇÃO COLETIVA
As negociações coletivas são mantidas entre a empresa e o sindicato dos
trabalhadores e são conduzidas pela sede da empresa em São Paulo, através do
negociador nacional da Unilever Bestfoods. A unidade local não tem autonomia para a
tomada de decisões, embora o chefe de Recursos Humanos mantenha entendimentos
fora do período de negociação, sem poder de decidir.
O Sindicato considera que o negociador da Unilever não valoriza as
propostas do sindicato, caracterizando um baixo nível de diálogo entre as partes.
De acordo com a empresa, houve avanços nas negociações desde 2000,
sendo um deles a criação de assistência médica através de plano de saúde privado. As
condições do plano são iguais para todos os empregados, o que atende a críticas do
15
sindicato quanto à diferenciação dos planos de saúde conforme o valor do salário do
trabalhador.
Em 2001, foi implantado na unidade o Programa de Participação nos
Resultados, que chega a 120% do salário nominal desde que as metas estabelecidas
pela empresa sejam alcançadas. A PPR é negociada em nível nacional, não havendo
negociação específica na unidade de Goiânia envolvendo o Sindicato local, inclusive
sobre as metas a serem alcançadas como condição para o pagamento. De acordo com o
sindicalista, os trabalhadores consideram as metas estabelecidas pela empresa
inalcançáveis. Entretanto, no Acordo Coletivo assinado recentemente entre a Unilever
e o Sindicato, os empregados passam a ter participação na definição das metas de
trabalho, sem haver indicação da forma de participação, se através de comissão
específica ou através do sindicato.
Fora do Acordo Coletivo, a empresa concedeu assistência odontológica aos
trabalhadores e seus dependentes e Plano de Previdência Privada.
Desde a gestão da Unilever, foram reformados o restaurante, que eliminou o
restaurante exclusivo para gerentes, os vestiários e as instalações para atendimento
médico ambulatorial.
QUADRO 3 - EVOLUÇÃO DE CLÁUSULAS DOS ACORDOS COLETIVOS ENTRE UNILEVER E STIA 2000,
2003 E 2004 CLÁUSULAS 2000 2003 2004
Reajuste salarial Diferenciados por faixas Diferenciados por faixas Igual para todas as faixas salariais
Piso salarial R$ 210,00 R$ 276,00 R$ 296,00* Fonte: Acordos Coletivos de Trabalho entre Unilever Bestfoods Brasil e STIA dos anos de 2000, 2003 e 2004. Elaboração: Observatório Social, 2004. * De acordo com a cotação de 01/06/2004 R$ 296,00 equivale a US$ 94,24.
16
QUADRO 4 - EVOLUÇÃO DE CLÁUSULAS DOS ACORDOS COLETIVOS ENTRE UNILEVER E STIA 2003 E 2004
CLÁUSULAS 2003 2004 Auxílio creche Aos(às) empregados(as) com filhos
na idade correspondente Aos(às) empregados(as) com filhos na idade correspondente
Atendimento ambulatorial Atendimento médico e odontológico Apenas atendimento médico Auxílio doença previdenciário Não havia Salário complementado pela
empresa Vale ou ticket alimentação Não é estipulado valor Valor mensal de R$ 70,00 Comprovante de pagamento Incluía também obrigatoriedade de
comunicação do motivo em caso de demissão por justa causa
Excluído texto sobre demissão por justa causa
Trabalho noturno Adicional de 25% sobre a hora diurna Adicional de 30% sobre a hora diurna
Metas para PPR Não havia Incluída para assegurar a participação dos trabalhadores nas decisões das metas de cada área
Comissão de conciliação prévia
Não havia Incluída para explicitar que as lides trabalhistas não serão tratadas nesta
Seguro de vida em grupo Não havia Incluído para todos os empregados Fonte: Acordos Coletivos de Trabalho entre Unilever Bestfoods Brasil e STIA dos anos de 2003 e 2004. Elaboração: Observatório Social, 2004.
A empresa exige 2º grau completo para contratação, porém, em convênio
com outras entidades, ofereceu curso (1º e 2º graus) para melhorar a escolaridade dos
trabalhadores já empregados. Cerca de 60% dos trabalhadores da Unilever Goiânia
recebem o piso salarial – atualmente no valor de R$ 296,00, um dos mais baixos
salários pagos pela empresa no Brasil.
A empresa não fornece ao Sindicato informações financeiras e operacionais
necessárias ao processo de negociação coletiva.
A reivindicação de extinção do Banco de Horas – flexibilização da jornada
de trabalho - foi negada pela empresa. Uma conquista do último Acordo Coletivo
(2004/2005) foi o aumento de 10 minutos na folga correspondente à compensação de
horas extraordinárias de trabalho, que passou a ser de 1h30m para cada hora extra
trabalhada (era de 1 hora e 20 minutos de folga para cada 1 hora trabalhada).
O sindicato apresentou proposta para o Acordo de 2004 para que os
trabalhadores terceirizados da Unilever Goiânia fossem abrangidos pelas cláusulas do
Acordo Coletivo do STIA, mas a empresa não aceitou, com a justificativa da
existência dos sindicatos das outras categorias. Foi estabelecido um acordo informal
entre sindicato e empresa – quando houver reclamação de terceirizado ao STIA, este
17
encaminhará o trabalhador para a Unilever, que tentará resolver a questão.
4.3 DISCRIMINAÇÃO DE GÊNERO E RAÇA
De acordo com a Unilever, não existe na empresa nenhuma orientação que
sugira a discriminação em qualquer âmbito. No entanto, não há também qualquer tipo
de “ação afirmativa” por receio de suscitar uma preocupação que pode ser tomada
como uma discriminação às avessas. Ou seja, a empresa estaria privilegiando minorias
de maneira artificial, sem embasamento na competência e nos critérios de promoção.
Como se pode observar na tabela abaixo, no quadro de funcionários de
Goiânia há, aproximadamente, 30% de mulheres entre os trabalhadores. Entretanto,
não se pode aferir muito a partir desses dados, pois não estão disponíveis dados sobre a
posição das mulheres na estrutura da empresa, nem a evolução da presença de
mulheres na unidade ao longo do tempo. TABELA 2 DISTRIBUIÇÃO TRABALHADORES UNILEVER GOIÂNIA POR GÊNERO E GRUPO ETÁRIO
(MAIO 2003)
Sexo Total Total entre 19 e 25 anos Total entre 26 e 45 anos Acima de 45 anos Masculino 1.828 523 1.195 110 Feminino 747 207 505 35
Total Geral 2.575* 730 1.700 135 Fonte: Relatório Geral de Observação Unilever, Instituto Observatório Social, 2004.
De acordo com o sindicato, não existe preocupação por parte da empresa
com as questões relacionadas à desigualdade de gênero e raça, tampouco algum tipo de
ação que vise a igualdade de oportunidades entre homens e mulheres, ou negros e
brancos. A empresa, na ocasião em que manifestou sua resposta ao relatório de
pesquisa, não apresentou dados sobre raça, apresentou, apenas, dados sobre gênero no
perfil de seus funcionários. Não há também nenhuma reivindicação sindical específica
de mulheres.
No Relatório Socioambiental de 2003, a empresa divulgou a distribuição de
mulheres por cargos de chefia e homens e mulheres negras no total de trabalhadores de
todo o grupo. Segue abaixo tabela com os dados:
18
QUADRO 5 - DISTRIBUIÇÃO POR GÊNERO E RAÇA DOS FUNCIONÁRIOS DO GRUPO UNILEVER - 2002 Mulheres em relação ao total de funcionários 21,9% Mulheres em cargos de gerência em relação ao total de cargos de gerência 34,4% Mulheres em cargos de diretoria em relação ao total de cargos de diretoria 7,7% Mulheres negras e pardas em relação ao total de funcionários 2,0% Homens negros e pardos em relação ao total de funcionários 9,1%
4.4 TRABALHO INFANTIL
Com a presença de representantes do poder municipal, a Unilever assinou
com a DRT-GO, em agosto de 2002, o "Pacto de Erradicação do Trabalho da Criança".
Isso representa posicionamento formal contra qualquer tipo de trabalho infantil. Além
disso, a empresa faz com que os fornecedores também respeitem o pacto através de
cláusula obrigatória que consta dos seus contratos.
O STIA não tem uma posição formal em relação ao trabalho infantil. Sabe-se
que a DRT realiza fiscalizações. Quando se verifica o emprego de mão-de-obra
infantil, a Unilever não compra tomate do produtor que a utiliza. No entanto, a
empresa ainda corre o risco de ter utilização de trabalho infantil em sua cadeia
produtiva direta, principalmente, em períodos de alta demanda, quando adquire
produtos de fornecedores sem cadastro.
O representante do sindicato dos Trabalhadores Rurais de Piracanjuba
acredita que, desde a pesquisa realizada pelo Observatório Social em 2000 e 2001, o
comportamento da empresa melhorou. A empresa continua a não negociar com este
sindicato, mas amenizou sua postura combativa. Além disso, também foi apontada
como melhora, a não interferência direta dos engenheiros agrônomos da empresa no
modo de trabalho dos trabalhadores rurais.
O sindicalista informou que, no início do segundo semestre de 2003, um
representante da matriz da empresa, na Holanda, visitou algumas áreas de produção de
tomate no município de Piracanjuba (GO), tendo encontrado uma criança numa das
principais fornecedoras exclusivas da Unilever. A empresa não rompeu o contrato
imediatamente com o produtor, mas não foi possível saber a atitude posterior da
19
empresa neste caso. Formalmente, não há fiscalização da existência de trabalho
infantil por parte da empresa.
De acordo com o representante dos trabalhadores rurais, atualmente, é mais
difícil de se encontrar trabalho infantil pela resistência dos próprios produtores e
trabalhadores rurais em aceitar uma criança na lavoura, pois isto pode gerar
rompimento de contratos, ameaçando o nível de produção e emprego, respectivamente.
Na Convenção Coletiva dos Trabalhadores Rurais em vigor, a cláusula 16
trata da proibição do trabalho infantil com o seguinte texto:
Em caso de utilização de trabalho de menores os empregadores observarão a legislação específica em vigor, notado o Estatuto da Criança e do Adolescente e portaria SIT/TEM/SST6, 05/02/2001, não podendo os menores serem utilizados no manuseio de defensivos agrícolas e no auxílio e operação de máquinas agrícolas. É determinadamente proibida a contratação de menores de 16 anos.
A Convenção Coletiva também determina o piso dos trabalhadores rurais no
valor de R$ 390,00 (R$ 13,00 a diária), além de outras condições de trabalho como,
por exemplo, a não utilização de “gatos” (agenciadores de mão-de-obra para trabalhos
no campo) na contratação dos empregados. No entanto, a principal preocupação dos
sindicalistas rurais é que nem todas as cláusulas da Convenção são respeitadas, dando
continuidade à precariedade das condições de trabalho no campo, especialmente para
os assalariados rurais. A água para consumo dos trabalhadores assalariados rurais é um
dos principais problemas, pois costuma ser armazenada em lugares impróprios,
gerando casos freqüentes de contaminação. A jornada de trabalho é excessiva (12 a 14
horas por dia) e as condições de transporte e alimentação são péssimas.
4.5 SAÚDE E SEGURANÇA
O STIA não mantém nenhum tipo de contato com a CIPA da fábrica, nem
mesmo recebe as atas das reuniões e também não foi cientificado pela Unilever a
respeito de divulgação de riscos na unidade. Representantes acreditam que essa
divulgação poderia acarretar adicional de insalubridade ou periculosidade para
algumas funções, o que não interessa à empresa. Durante a assembléia de
20
trabalhadores, em março de 2004, houve reclamações de mau cheiro – questões como
essas não estão resolvidas. Não há nenhuma cláusula no AC a respeito de questões
relacionadas ao tema.
De acordo com os representantes do sindicato, há muitas reclamações dos
trabalhadores quanto ao atendimento ambulatorial e em relação aos atestados médicos.
Segundo esses representantes, as queixas envolvem o médico da empresa, que
encaminharia trabalhadores doentes para trabalho, ao invés de afastá-los para que se
recuperem devidamente. O médico da empresa, também, anularia atestados, firmados
por médicos externos à empresa, prescrevendo afastamento do trabalho e substituindo
tais licenças por encaminhamentos para atividades, teoricamente, mais adequadas à
condição do paciente. Houve intervenção do sindicato nestes casos, levando o
problema à gerência de RH, mas esta deu total respaldo à postura de seu médico do
trabalho.
A empresa não encaminha cópia da Comunicação de Acidente de Trabalho
(CAT) para o Sindicato, sobretudo nos casos de Lesão por Esforços Repetitivos(LER),
doença cuja incidência tem aumentado. O sindicato atua intervindo para abertura de
CAT diretamente no INSS. Para o sindicato, a Unilever não "abre" a CAT para não
comprometer sua busca por certificação. A empresa justifica-se dizendo que há falta
de nexo causal entre a doença e a atividade exercida pelo trabalhador na fábrica,
atribuindo o problema a outras atividades do trabalhador.
A empresa apresentou ao Observatório Social os dados sobre seu Sistema de
Gestão em Segurança e Saúde Ocupacional: redução de 97% de acidentes graves no
ano de 2002, com relação ao ano de 2001, e o resultado de trabalho de adequação de
instalações e treinamento focado em comportamento.
21
Além disso, segundo a Empresa, outras ações vêm sendo realizadas, tais
como, avaliação de riscos;adequação física de instalações e equipamentos; controle de
documentação e procedimentos; e programa de inspeções planejadas. Estas últimas
têm por objetivo identificar deficiências que possam causar perdas
(materiais/produtos/lesões) e avaliar condições gerais do ambiente de trabalho de
forma sistematizada para gerar soluções. Existem, também, programas de
conscientização fundamentados nas normas de Segurança e Saúde: 1. DD-SHEQ :
Diálogos Diários de Segurança, Saúde e Meio Ambiente, envolvendo todos os
funcionários; 2. Treinamento de Conscientização SHE – Social, Health and
Environment (Saúde, Segurança e Meio Ambiente).
4.6 MEIO AMBIENTE
Com 789 mil m2 de área total, sendo 128 mil m2 de área construída, a
fábrica da Unilever Bestfoods, localizada em Goiânia, é a principal unidade fabril da
empresa na América Latina. De acordo com a Unilever, a unidade vem recebendo
investimentos que devem totalizar cerca de US$ 50 milhões até o ano de 2004, para
melhorias tecnológicas que visam aumentar a sua capacidade de produção,
principalmente, em sistemas de gestão em Segurança e Meio Ambiente.
Alguns números indicam mudança de atitude da Unilever no que se refere a
questões ambientais. Foram reduzidos em 2002 (com relação a 2001): - consumo de
água, em 35 %; - geração de efluentes, em 30 %; - consumo de Energia Elétrica, em
16%; - geração de resíduos sólidos, em 42%; - 100% do efluente líquido é,
devidamente, tratado antes do lançamento no Rio Meia Ponte, dentro dos padrões
legais estabelecidos. Metas de Redução no ano 2003 com relação a 2002: Água: 10%;
Energia: 5%; Resíduos Sólidos: 10%; e Resíduos Líquidos: 10%.
Entre as diversas ações implementadas, a empresa aponta também as
adequações físicas das instalações e otimizações da Estação de Tratamento de
Efluentes, que irá substituir o processo de decantação pelo processo de flotação que se
torna mais eficiente na remoção de carga orgânica. Foram realizadas ações no sentido
22
de reduzir, reutilizar e reciclar os resíduos, por exemplo, implementação de Coleta
Seletiva de resíduos e estabelecimento de parceria com reciclador de resíduos.
Existe, também, um plano para minimização das conseqüências de possíveis
acidentes através de: reporte/tratamento de incidentes e não conformidades; processos
de monitoramento e registro; processo de comunicação e integração com comunidade;
auditoria do sistema e análise crítica; e criação de Comitê de Meio Ambiente.
Esse amplo programa de Gestão Ambiental apresentado pela Unilever nunca
foi negociado, nem mesmo comunicado ao sindicato. Representantes sindicais alegam
desconhecer, completamente, qualquer plano de ação ambiental ou ainda outras
iniciativas dessa natureza. Na pesquisa anterior, foi registrado o caso da poluição do
Rio Meia Ponte por parte da Unilever (Arisco). O levantamento feito em notícias da
imprensa, desde então, não identificou novos registros de poluição por parte da
Unilever.
4.7 ATUAÇÃO NA CADEIA PRODUTIVA
De acordo com a empresa, após a fusão entre a Unilever e Bestfoods
(Arisco), foi realizada uma análise do processo de produção de matéria-prima de
origem agrícola, que gerou um plano de desenvolvimento da cadeia produtiva da
região de Goiânia com os seguintes pontos: assistência técnica ao produtor agrícola;
estímulo para expansão da irrigação; disseminação de tecnologia de ponta;
implantação de fazenda experimental; acesso a acordos de cooperação técnica;
elevação do nível técnico-profissional; treinamento a produtores e técnicos; otimização
do processo de produção agrícola; e fomento à agricultura sustentável.
A empresa afirma realizar visitas semanais aos produtores contratados,
monitoramento das lavouras de tomate, milho doce etc., com o objetivo de orientar o
produtor rural e recomendar a utilização de insumos como fertilizantes, fungicidas,
herbicidas, inseticidas, prescrição do receituário agronômico etc.
Na relação da empresa com os produtores, são abordadas, também, as
medidas preventivas inerentes à operação que os produtores realizam com os
23
defensivos agrícolas, ou seja, uso de equipamentos de segurança (EPIs), armazenagem,
distribuição e aplicação de defensivos agrícolas, tríplice lavagem e descarte de
embalagens. Para isso, conta-se com técnicos agrícolas e engenheiros agrônomos,
devidamente capacitados, para prestar assistência técnica aos produtores.
A Unilever dialoga e negocia com o Sindicato dos Empregadores Rurais,
mas não com os trabalhadores rurais. Aquele sindicato representa os produtores que
cultivam tomate, exclusivamente ou não, para a Unilever. Os produtores que têm
contrato de exclusividade recebem da empresa assistência técnica, adubo e mudas. Em
contrapartida, a Unilever administra e fiscaliza a qualidade da produção, a quantidade
a ser colhida, o momento da colheita e, até mesmo o número de caminhões que fará o
transporte dos tomates após a colheita.
No município de Piracanjuba, há cerca de 20 produtores de tomate que
plantam exclusivamente para a Unilever, e esta determina, unilateralmente, o preço da
caixa do produto e as condições de prestação da produção.
A relação assumida pela Unilever é direta com os produtores, considerados
“parceiros”, que fornecem exclusivamente para a empresa, devendo seguir suas
exigências de qualidade, e recebendo, em troca, assistência para melhoria e aumento
de sua produção. No entanto, a Unilever não assume qualquer responsabilidade sobre
os trabalhadores rurais que atuam nessas plantações e que, ainda hoje, trabalham em
condições bastante precárias.
Também não há nenhum tipo de relação entre o STIA e o Sindicato dos
Trabalhadores Rurais. O STIA desconhece as condições em que se encontram os
trabalhadores que atuam na cadeia produtiva do tomate e outros vegetais, ligados
indiretamente à Unilever, por trabalharem nas plantações que fornecem produtos,
exclusivamente, para a empresa.
24
4.8 RESPONSABILIDADE SOCIAL
O Instituto Observatório Social considera Responsabilidade Social com foco
nos interesses dos trabalhadores e dos sindicatos, traduzindo-se o respeito e a garantia,
no mínimo, dos direitos fundamentais do trabalho estabelecidos pela Organização
Internacional do Trabalho (OIT).
A Unilever apresentou seu primeiro Relatório Socioambiental no Brasil, em
2003, referente ao exercício do ano de 2002. Este relatório seguiu as recomendações
sugeridas pelo GRI (Global Reporting Initiative), pelo Instituto Ethos e pelo modelo
de relatório global, publicado por dois anos pela empresa.
Neste relatório, a Unilever apresenta como seu principal objetivo atender às
necessidades diárias de seus clientes em todo lugar. A empresa acredita que alcançar o
sucesso requer, também, altos padrões de comportamento corporativo dirigidos aos
empregados, consumidores e sociedade.
De acordo com os pronunciamentos, a empresa conduz suas operações com
honestidade, integridade e transparência, com respeito aos direitos humanos e aos
interesses dos empregados.
Quanto à responsabilidade social, além de considerar que é,
tradicionalmente, uma parte integrante de suas operações, afirma desejar que este tema
seja gerenciado profissionalmente como qualquer outra área de negócios. Para a
Unilever, a RSE deve alcançar duas áreas em que a empresa exerce impacto ao
interagir com a sociedade: as relações da companhia com parceiros de negócios
através da cadeia produtiva e as atuações voluntárias e filantrópicas para a
comunidade. A empresa reconhece que precisa ser mais explícita em relação às
demonstrações das práticas dos compromissos assumidos. Afirma ter um forte
compromisso com as comunidades em que atua, justificando que o importante não é
somente o sucesso financeiro, mas sim como esses resultados são alcançados.
25
A Unilever possui um código de princípios de negócios que define os
padrões operacionais para todos os empregados. Esse código trata de assuntos como
padrões de comportamento, saúde e segurança, garantia de qualidade e compromisso
com o meio ambiente. A empresa afirma que o código está alinhado com a Declaração
dos Princípios Fundamentais do Trabalho da OIT.
Em relação aos sindicatos dos trabalhadores, afirma respeitar totalmente o
direito de seus funcionários de se filiarem a sindicatos. Declara, ainda, trabalhar com
os sindicatos formados e formalmente reconhecidos como parceiros de negociação.
Por outro lado, enfatiza que, em relação aos processos de reestruturação que acarretam
em demissão de funcionários, esforça-se por garantir a empregabilidade destes.
Em relação aos funcionários, a Unilever afirma que em seu ambiente de
trabalho há confiança mútua e respeito. Quanto ao ambiente de trabalho, a empresa
compromete-se a: empregar e promover funcionários, levando em consideração apenas
as qualificações e habilidades necessárias para o trabalho a ser exercido; garantir
condições de segurança e saúde para todos os trabalhadores; não usar nenhum tipo de
trabalho forçado, compulsório ou infantil; desenvolver e aumentar as habilidades e
capacidades individuais de seus funcionários; respeitar a dignidade dos indivíduos e o
direito dos empregados de liberdade de associação; e estabelecer boa comunicação
com os empregados, com base em informações da companhia e por meio de processos
de consulta.
Em 2002, foi criado o Instituto Unilever, uma associação sem fins lucrativos,
de caráter assistencial e educativo, que tem por objetivo incentivar e apoiar ações
sociais da companhia, tanto corporativas quanto de marcas. De acordo com os
pronunciamentos, sua criação é mais um passo da empresa para a sustentação e o
fortalecimento da marca no país. Sua intenção é unir os projetos sociais, já realizados
por parte das suas dezenas de marcas, e instituir critérios para elaboração de novos
programas sociais que tenham como foco a educação em suas mais variadas formas:
ambiental, para saúde, para o trabalho, para o esporte, entre outras.
26
Em relação aos fornecedores, a Unilever declara que são mais de 3 mil,
credenciados somente após análise dos procedimentos, desde suas responsabilidades
em relação ao meio ambiente até os cuidados quanto ao cumprimento das obrigações
legais, fiscais, trabalhistas e quanto ao não envolvimento de trabalho infantil. De
acordo com o texto, a maioria destas exigências permanece registrada nos contratos. A
política de seleção e contratação de terceiros segue o mesmo modelo aplicado aos
fornecedores em geral.
A Unilever participa de diversos grupos e iniciativas promotoras da
responsabilidade social corporativa: é signatária do Global Compact; integra o
Programa de meio ambiente das Nações Unidas; participa da Comissão Oxford de
Consumo Sustentável; é membro do Conselho Mundial para o Desenvolvimento
Sustentável, do Instituto Ethos, do Centro Ético da Universidade de Natal (África do
Sul), do Business for Social Responsibility, e da Global Reporting Initiative (GRI).
No relatório também são descritas ações sociais desenvolvidas pela empresa
nas comunidades em que está inserida. Dentre essas, apenas o Projeto Conviver é
realizado também em Goiânia (GO). O projeto, através de parcerias com escolas,
instituições, e prefeituras locais, desenvolve programas sociais e de educação
ambiental, estimula, também, o voluntariado entre os funcionários para gerenciar
doações e ações beneficentes pontuais.
Parte das ações é considerada pela própria empresa como marketing social.
As ações, além de beneficiar comunidades, promovem as marcas Unilever envolvidas
nos projetos. A participação dos funcionários acaba sendo limitada ao voluntariado.
Ainda que a Unilever demonstre preocupação com a cadeia de valores na
qual está inserida, não assume compromissos e ações junto à cadeia produtiva, como já
foi colocado anteriormente. Também foram explicitadas diversas atitudes da empresa
que desrespeitam os princípios da OIT como, por exemplo, restrições à atividade
sindical e falta de transparência no que diz respeito à disponibilização de informações,
ou ainda, falta de iniciativa no combate às desigualdades de gênero e raça.
27
A empresa não traz em seu texto referência às normas para multinacionais da
OCDE. Por ocasião da reunião com o Comitê Sindical Nacional Unilever,
representantes da empresa demonstraram desconhecimento em relação a esse
documento. Tanto que a reunião seguinte, que nunca ocorreu, seria para discutir o
tema, inclusive, porque o fechamento da unidade de Vespasiano (MG) não foi
discutido, previamente, com o sindicato, em desacordo com uma das normas da
OCDE.
28
5 CONCLUSÃO
De acordo com representantes do STIA, a Unilever não atentou,
devidamente, aos problemas apontados pelo relatório de pesquisa anterior, fazendo
com que, desde 2001, as situações de maior dificuldade ainda não tenham sido
superadas.
A falta de disposição ao diálogo com o sindicato e a dificuldade de
negociação, ainda, estão presentes, o que se confirma no não reconhecimento do
Comitê Sindical Nacional Unilever Brasil pela empresa. Com isto, a Unilever se afasta
de um dos princípios mais importantes dos direitos fundamentais no trabalho, que é o
do respeito à livre organização dos trabalhadores.
Continua, ainda, a restrição, por parte da Unilever, ao livre acesso dos
sindicalistas aos locais de trabalhos e certo constrangimento à sindicalização.
Especialmente na unidade de Goiânia, o fato positivo foi o aumento de
representantes sindicais na empresa, mas, mesmo assim, estes não têm muitas
possibilidades de atuação devido ao comportamento repressivo da Unilever. A
ausência de um interlocutor de negociação com autonomia para responder pela
unidade, também, dificulta a atividade sindical, apesar desta estar garantida em AC. A
transferência de responsabilidades para a sede central da empresa em São Paulo faz
com que todos os processos de negociação tenham maior morosidade. A não
disponibilização de informações ao sindicato é corrente por parte da Unilever,
inclusive documentos obrigatórios como as CATs (Comunicado de Acidentes de
Trabalho).
Por outro lado, percebemos algumas conquistas importantes no último
Acordo Coletivo, como por exemplo, a garantia de participação dos trabalhadores nas
decisões das metas para o pagamento do PPR, abrindo um canal para o
estabelecimento de metas mais próximas da realidade da produção, vivenciada pelos
trabalhadores no chão de fábrica.
29
O relatório referência verificou a desigualdade de gênero, sobretudo na baixa
presença de mulheres em cargos de chefia (4,5%), e a concentração de trabalhadoras
nas funções dos menores salários, dados que não foram fornecidos para atualização.
De qualquer maneira, a Unilever nega a existência deste problema na companhia, o
que, de antemão, se apresenta como um obstáculo no tratamento do tema. Algumas
empresas multinacionais de outros setores apresentam programas de diversidade,
seguindo o pressuposto de que a discriminação é um problema social, muitas vezes
reproduzido nas relações de trabalho sem que haja intencionalidade. No entanto, isto
não isenta o setor privado de atuar no sentido de desconstruir os mecanismos de
reprodução das desigualdades, contribuindo para a inclusão social de maneira
afirmativa, de acordo com o que propõem as Convenções 110 e 111 da Organização
Internacional do Trabalho (OIT).
O Sindicato dos Trabalhadores Rurais reconhece avanços no empenho da
Unilever no combate ao Trabalho Infantil, sobretudo com a assinatura do Pacto com a
DRT. No entanto, como já foi indicado no relatório anterior, a empresa continua a não
apontar alternativas para as crianças do campo e suas famílias, e se isenta das
responsabilidades para com os trabalhadores rurais da cadeia produtiva do tomate.
Neste sentido, o conceito de responsabilidade social precisa se traduzir em ações de
melhorias nas condições de trabalho e vida daqueles que estão na área de influência da
empresa.
Na área de Saúde e Segurança, houve avanços, como por exemplo, a
diminuição no número de acidentes. Porém, a resistência à abertura de CATs para os
lesionados com LER levanta um novo problema, da maior gravidade, não identificado
pelo relatório anterior.
Em relação à Responsabilidade Social Corporativa, a Unilever apresenta-se
como uma empresa sensível ao tema, com código de conduta voluntário em que faz
menção ao relacionamento da empresa com representantes dos trabalhadores. Algumas
questões importantes, como, por exemplo, salário decente, não são tratadas pelo
código. A preocupação com a cadeia produtiva não se traduz em compromissos
30
efetivos, nem em responsabilidade pelos trabalhadores ligados indiretamente à
empresa, como os assalariados rurais da cultura do tomate. Como já apontado acima
há, no comportamento da empresa, desrespeito aos princípios fundamentais da OIT e a
normas da OCDE.
Por fim, cabe ressaltar os avanços na área de Meio Ambiente, com a
implantação de um Sistema de Gestão Ambiental, como sugerido pelo relatório
anterior, tendo alcançado bons resultados, principalmente na redução de resíduos.
Mesmo apresentando resultados positivos, a Unilever não se preocupou em apresentar
o programa ao sindicato, o que demonstra a falta de valorização de mecanismos de
participação na gestão ambiental.
De acordo com as informações apresentadas neste documento, os principais
problemas apontados no relatório Unilever Bestfoods mantêm-se, apresentando apenas
algumas modificações pontuais. A empresa continua a apresentar uma postura fechada
ao diálogo e de não repasse de informações que poderiam contribuir para uma relação
mais madura entre ela e o sindicato.
31
QUADRO 6 – PRINCIPAIS RESULTADOS OBTIDOS NO MONITORAMENTO SOBRE A CONDUTA SOCIAL E
TRABALHISTA DA UNILEVER BESTFOODS – MARÇO/ABRIL 2004. Liberdade Sindical e Direito à Informação
Aumento no número de diretores sindicais na unidade; Reunião entre sindicalistas e trabalhadores não são permitidas nas dependências da empresa; Restrições ao acesso dos sindicalistas aos locais de trabalho; Não disponibilização de informações ao sindicato; Falta de abertura ao diälogo com sindicato e dificuldade de negociação.
Negociação Coletiva Aumento de benefícios aos trabalhadores em relação ao ACT 2000-2001?, porém alguns não assegurados em ACT; Prática de negociação centralizada na sede da Unilever em São Paulo; Garantia em ACT de participação dos trabalhadores nas decisões sobre as metas para o pagamento da PPR; Terceirização – trabalhadores não estão protegidos pelo mesmo ACT que os efetivos; Propostas do sindicato são desvalorizadas pela empresa nas negociações; Falta de diálogo com sindicato dos Trabalhadores Rurais.
Discriminação de Gênero e Raça
Negação por parte da empresa em reconhecer a existência do problema de desigualdades / não apresentou dados sobre o perfil racial dos empregados; Empresa não apresenta programa para incentivar a igualdade de oportunidades; 30% do quadro de funcionários é composto por mulheres, a empresa não forneceu a posição funcional destas; Não há reivindicação específica do sindicato sobre o tema.
Saúde e Segurança Diminuição no número de acidentes graves; Implementação de programas diretamente relacionados ao tema; Empresa dificilmente reconhece nexo causal entre LER e o trabalho desenvolvido pelo empregado; Empresa não encaminha cópia de CAT ao sindicato; Não há nenhuma cláusula sobre o tema no ACT; O sindicato não é informado sobre as atividades da CIPA.
Trabalho Infantil Embora a Unilever tenha firmado compromisso com a DRT/GO, não tomou nenhuma medida operacional para auxiliar na erradicação do Trabalho Infantil, exceto cláusula em contrato com fornecedores de rompimento caso se verifique a existência de trabalho infantil na produção; Não há fiscalização formal por parte da empresa.
Meio Ambiente Implantação do Sistema de Gestão Ambiental; Redução de resíduos; Redução do consumo de água e energia elétrica; 100% de efluente líquido tratado antes do lançamento no Rio Meia Ponte; Não negociação ou divulgação ao sindicato sobre os planos de ação ambiental por parte da empresa.
Atuação na cadeia produtiva
Empresa fornece assistência aos produtores agrícolas que fornecem para ela; Não responsabilidade pelas condições de trabalho dos trabalhadores rurais de sua cadeia produtiva.
Responsabilidade Social
Empresa sensível ao tema, signatária do Global Compact e publicação de relatório nos moldes do GRI e Ethos; Desrespeito a convenções da OIT.
Fonte: Instituto Observatório Social, 2004.
32
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ACORDO COLETIVO DE TRABALHO 2003/2004 entre Unilever Bestfoods Ltda. e Sindicato dos Trabalhadoes nas Indústrias de Alimentação do Estado de Goiás e Tocantins.
ACORDO COLETIVO DE TRABALHO 2004/2005 entre Unilever Bestfoods Ltda. e Sindicato dos Trabalhadoes nas Indústrias de Alimentação do Estado de Goiás e Tocantins.
Parmalat arrenda uma fábrica da Unilever. Gazeta Mercantil. São Paulo, 15/01/2004
Parmalat devolve fábrica à Unilever. Valor Econômico. São Paulo, 13/01/2004.
Unilever cria centro de pesquisa de tomate. Gazeta Mercantil. São Paulo, 17/10/2003.
IOS. Comportamento Social e Trabalhista. Relatório Geral de Observação. Unilever Bestfoods Brasil (Arisco e Cica). Florianópolis, jan/2002. http://www.observatoriosocial.org.br/download/ReGeunileverport.pdf
SITES PESQUISADOS
http:<www.observatoriosocial.org.br>
http:<www.unilever.com.br>