10
1. TEMA Tráfico de pessoas no Brasil: liberdades individuais tolhidas. 2. INTRODUÇÃO A questão ligada à privação das liberdades individuais, que tanto se preza no artigo 5º da Constituição Federal, ainda continua forte nos dias de hoje, na chamada sociedade de direitos. Essa questão, que é tão antiga, é ao mesmo tempo atual em decorrência de não ser facilmente reconhecida, devido às suas atuais roupagens. Tal investigação torna-se relevante ao se perceber que atualmente, no que tange à questão das liberdades tolhidas, estão configuradas diversas formas de tráfico humano, que levam a uma escravidão praticamente despercebida. Sendo assim, desvendar a realidade por trás da temática ligada ao tráfico exige uma análise mais profunda em seus elementos conceituadores. Quando se fala em violação de liberdade, sempre vem à tona a questão da escravidão e, num primeiro momento, não é de se estranhar que os pensamentos se remetam à condição dos negros trazidos da África como escravos na época da colonização. Porém, as escravidões, há de se lembrar, são bem mais remotas, desde os tempos da Antiguidade, em que povos vencidos eram capturados e faziam forçadamente as vontades dos povos vencedores. Na Modernidade, essa

Mtc

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Metodologia

Citation preview

Page 1: Mtc

1. TEMA

Tráfico de pessoas no Brasil: liberdades individuais tolhidas.

2. INTRODUÇÃO

A questão ligada à privação das liberdades individuais, que tanto se preza no

artigo 5º da Constituição Federal, ainda continua forte nos dias de hoje, na chamada

sociedade de direitos. Essa questão, que é tão antiga, é ao mesmo tempo atual em

decorrência de não ser facilmente reconhecida, devido às suas atuais roupagens.

Tal investigação torna-se relevante ao se perceber que atualmente, no que tange

à questão das liberdades tolhidas, estão configuradas diversas formas de tráfico humano,

que levam a uma escravidão praticamente despercebida. Sendo assim, desvendar a

realidade por trás da temática ligada ao tráfico exige uma análise mais profunda em seus

elementos conceituadores.

Quando se fala em violação de liberdade, sempre vem à tona a questão da

escravidão e, num primeiro momento, não é de se estranhar que os pensamentos se

remetam à condição dos negros trazidos da África como escravos na época da

colonização. Porém, as escravidões, há de se lembrar, são bem mais remotas, desde os

tempos da Antiguidade, em que povos vencidos eram capturados e faziam forçadamente

as vontades dos povos vencedores. Na Modernidade, essa mercantilização intensificou-

se no período das grandes navegações, em que o Brasil participou inicialmente como

importador de seres humanos.

Nos tempos atuais, são considerados elementos que configuram o tráfico

humano, pelo que se descreve no Protocolo de Palermo – documento legal internacional

que trata do tráfico de pessoas, destacando o tráfico de mulheres e crianças, promulgado

no Brasil através do Decreto nº 5.017/2004 – o que se segue:

[...] recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento de pessoas, recorrendo à ameaça ou uso da força ou a outras formas de coação, ao rapto, à fraude, ao engano, ao abuso de autoridade ou à situação de vulnerabilidade ou à entrega ou aceitação de pagamentos ou benefícios para obter o consentimento de uma pessoa que tenha autoridade sobre outra para fins de exploração. A exploração incluirá, no mínimo, a exploração da prostituição de outrem ou outras formas de exploração sexual, o trabalho ou serviços forçados, escravatura ou práticas similares à escravatura, a servidão ou a remoção de órgãos. (BRASIL, Decreto nº 5.017, de 12 de 2004).

Page 2: Mtc

É o crime que mais cresce mundialmente. Segundo estimativas da ONU, mais

de 2,5 milhões de pessoas são traficadas por ano em todo o mundo, num comércio

ilícito que movimenta mais de US$ 32 bilhões anualmente, de acordo com dados do

Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC), que estima ainda que

79% dos casos de tráficos de pessoas ocorrem para fins de exploração sexual. (UNODC,

Global Report on Trafficking in Persons, 2009).

Segundo a ECPAT (End Child Prostitution, Child Porhography and Trafficking of

Children for Sexual Purpose), entidade não governamental que atua em diversos países do

mundo, considera-se que “A exploração sexual comercial de crianças constitui uma

forma de coerção e violência contra crianças, que pode implicar o trabalho forçado e

formas contemporâneas de escravidão”. (ECPAT, Disponível em: http://www.ecpat.net.

Acesso em: 14.mar.2015. grifo nosso).

Ainda de acordo com a ONU (UNDOC, p.1, 2014), através de seu relatório

global mais recente, o número de vítimas entre crianças, sobretudo meninas abaixo de

18 anos, é um dos que mais tem crescido, sendo a maioria delas sujeitas à exploração

sexual, embora também se observe o crescimento do número de traficadas em condições

de trabalho forçado.

A maior parte das vítimas brasileiras é de classes socioeconômicas

desfavorecidas, tem filhos e tem trabalhos relacionados à prestação de serviços

domésticos ou ao comércio. Muitas tiveram passagem pela prostituição. Geralmente, o

aliciamento das vítimas ocorre por meio de promessas de emprego na indústria do sexo,

no trabalho doméstico, ou para profissões de dançarina ou modelo. As redes de tráfico,

muitas vezes, fazem-se passar por agências de emprego.

Observa-se, portanto, a relevância no tratamento da temática, sobretudo quando

a realidade no Brasil aponta para várias dessas modalidades de tráfico humano,

encobertas graças à invisibilidade gerada pelo desconhecimento das suas formas

hodiernas, realidades sobre as quais se tratará no artigo.

Page 3: Mtc

3. JUSTIFICATIVA

O Brasil é país de destino para pessoas traficadas, oriundas tanto da América

Latina como de outros continentes, como a Nigéria, na África, China e Coréia, na Ásia,

e Bolívia, Peru e Paraguai, na América do Sul. De acordo com relatório da Secretaria

Nacional de Justiça, de 2013, mais de 50.000 crianças e adolescentes desaparecem no

Brasil. Segundo essa análise, o país com maior incidência de brasileiras vítimas de

tráfico de pessoas é o Suriname, seguido da Suíça, da Espanha, e da Holanda. (BRASIL,

Relatório Nacional sobre Tráfico de Pessoas, 2013).

Pretende-se, através desta pesquisa, fazer uma breve investigação teórica a

respeito do fenômeno do tráfico de pessoas, por meio de uma perspectiva sociojurídica,

tendo-se como base legal precípua o Direito Constitucional, por intermédio dos direitos

e garantias fundamentais previstos na Carta Magna, e explanando a respeito de outras

legislações e pactos basilares para a garantia das liberdades individuais, bem como

analisando quais as condições de ocorrência do tráfico de pessoas tal como se afigura

hodiernamente.

Para tanto, serão utilizados, no que tange à descrição da realidade brasileira,

documentos diversos como relatórios de entidades governamentais e não

governamentais, dados oficiais e revisão de literatura específica sobre a temática do

tráfico humano, no mundo e no Brasil. De modo mais específico, deverá ser feita uma

análise sobre o caso maranhense, um dos campeões da federação em casos de tráfico de

pessoas, evidenciando um estudo de caso ocorrido na região de Açailândia, conhecida

pelo recrutamento de cidadãos que acabam em situação de trabalho em condições

análogas às de escravo.

Page 4: Mtc

4. OBJETIVOS

4.1 Geral

Analisar as condições em que ocorre o tráfico de pessoas no Brasil para fins laborais.

4.2 Específicos

Verificar quais os recursos utilizados pelos aliciadores de pessoas para o trabalho em condições análogas às de escravo no Brasil, especificamente no Maranhão;

Observar o contexto social em que os aliciados se encontram;

Analisar os mecanismos jurídicos de coerção de cerceamento do direito às liberdades individuais, tolhidas pela condição de trabalho escravo.

Page 5: Mtc

5. METODOLOGIA

A metodologia da pesquisa em foco teve como alicerce, sobretudo, documentos

internacionais e nacionais sobre a temática do trabalho escravo e observações empíricas

a respeito do caso maranhense, de maneira específica, sobre o trabalho em condições

análogas à de escravo com intuito laboral, em que as pessoas são aliciadas com

promessas de trabalho rentável. Devido à quase inexistência de dados específicos sobre

o Maranhão, decidiu-se realizar um estudo de caso emblemático, visto que represente de

maneira exemplar como ocorrem no estado situações de tráfico de pessoas para

exploração laboral, em uma região em que os casos são recorrentes.

Para tanto, utilizaram-se dados do acompanhamento de um caso específico e

emblemático pelo Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Maranhão – Netp-

MA, em conjunto com o Ministério Público do Trabalho e o Centro de Defesa da Vida e

dos Direitos Humanos Carmen Bascarán, localizado na cidade de Açailândia – MA.

Segundo Yin (2013, p. 32-33), sobre o estudo de caso, permite-se dizer que:

(...) uma investigação científica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos, enfrenta uma situação tecnicamente única em que haverá muito mais variáveis de interesse do que pontos de dados e como resultado, baseia-se em várias fontes de evidência (...) e beneficia-se do desenvolvimento prévio de proposições teóricas para conduzir a coleta e análise de dados.

A escolha da região a ser pesquisada deve-se à grande incidência de casos de

aliciamento para fins de trabalho escravo na modalidade laboral (CARNEIRO, 2008).

Sendo assim, a pesquisa caracteriza-se como de natureza qualitativa, através de uma

abordagem bibliográfica e empírica, por meio de estudo de caso descritivo, tratando de

um fenômeno contemporâneo dentro de um contexto de vida real, com dados obtidos

através da observação dos fatos.

Page 6: Mtc

REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Organização de Alexandre de Moraes. São Paulo: Atlas, 2014.

________, Decreto nº 5.017, de 12 de 2004. Promulga o Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional Relativo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, em Especial Mulheres e Crianças. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/decreto/d5017.htm. Acesso em: 10.mar.2015.

________, Relatório Nacional sobre Tráfico de Pessoas. Consolidação dos dados de

2005 a 2011. Brasília, 2013

CARNEIRO, Marcelo Sampaio. Crítica social e responsabilização empresarial: análise

das estratégias para a legitimação da produção siderúrgica na Amazônia Oriental. Cad.

CRH,  Salvador, v.21,  n.53,  p.321-333,  ago. 2008. Disponível em

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-

49792008000200009&lng=pt&nrm=iso. Acesso em:  08  abr.  2015. 

ECPAT, Disponível em: http://www.ecpat.net. Acesso em: 14.mar.2015.

ROCHA, Cristiana Costa da. Os retornados: reflexões sobre condições sociais e

sobrevivência de trabalhadores rurais migrantes escravizados no tempo presente. Rev.

Bras. Hist.,  São Paulo ,  v. 32, n. 64, p. 149-165, dez.  2012 .   Disponível em:

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-

01882012000200009&lng=pt&nrm=iso. Acesso em:  10. abr.  2015. 

UNODC, Global Report on Trafficking in Persons. United Nations Office on Drugs

and Crime, 2009.

Page 7: Mtc

_______, Global Report on Trafficking in Persons. United Nations Office on Drugs

and Crime, 2014.

YIN, Robert K. Estudo de caso – planejamento e métodos. Porto Alegre: Bookman, 2001.