Upload
doanduong
View
214
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
Relatório de Inflação Março 2003
113
Anexos
Notas da 79ª Reunião do Comitê de Política Monetária doBanco Central do Brasil (Copom)
Data: 17 e 18/12/2002
Local: Sala de reuniões do 8º andar (17/12) e 20º andar (18/12) do Edifício-Sede do Banco
Central – Brasília – DF
Horário de início: 15h30 (17/12) e 11h30 (18/12)
Horário de término: 19h (17/12) e 13h (18/12)
Presentes:Membros da Diretoria ColegiadaArminio Fraga Neto – Presidente
Beny Parnes
Carlos Eduardo de Freitas
Edison Bernardes dos Santos
Ilan Goldfajn
Luiz Fernando Figueiredo
Sergio Darcy da Silva Alves
Tereza Cristina Grossi Togni
Chefes de Departamento (todos presentes no dia 17)Altamir Lopes – Departamento Econômico
Daso Maranhão Coimbra – Departamento de Operações das Reservas Internacionais
José Antônio Marciano – Departamento de Operações Bancárias e de Sistema de Pagamentos
Marcelo Kfoury Muinhos – Departamento de Estudos e Pesquisas
Sérgio Goldenstein – Departamento de Operações do Mercado Aberto
Demais participantes (todos presentes no dia 17)Antônio Carlos Monteiro – Secretário-Executivo da Diretoria
Alexandre Pundek Rocha – Consultor da Diretoria
José Pedro Ramos Fachada Martins da Silva – Consultor da Diretoria
João dos Reis Borges Muniz – Assessor de Imprensa
Fábia Aparecida de Carvalho – Gerência Executiva de Relações com Investidores
Relatório de Inflação Março 2003
114
A Diretoria Colegiada analisou a evolução recente e as perspectivas da economia brasileira e da
economia internacional no contexto do regime de política monetária, cujo objetivo é atingir as
metas fixadas pelo governo para a inflação.
Atividade Econômica
A evolução do nível de atividade seguiu, no início do quarto trimestre, a tendência de crescimento
gradual que vem sendo delineada nos últimos meses. O aumento das exportações, os resultados
favoráveis do comércio varejista, impulsionados, principalmente, pelos desembolsos do FGTS, e a
demanda de insumos associada à expansão da produção agropecuária são fatores que seguem
conferindo, neste segundo semestre, maior dinamismo à economia.
Segundo dados da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio SP), isentos
de sazonalidade, o faturamento real do comércio varejista manteve, em setembro e outubro,
praticamente o mesmo patamar apurado em agosto, mês em que se verificou expressivo incremento
das vendas na região metropolitana de São Paulo. No acumulado do ano, os dados apontaram
crescimento de 3,8% sobre o mesmo período de 2001, com destaque para a expansão nas vendas
de bens de consumo, particularmente não-duráveis. A pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), com abrangência nacional, acusou queda de 0,14% no volume de vendas no
varejo, no acumulado do ano até outubro, resultado que confirmou a gradual recuperação do
movimento varejista ao longo do ano.
As vendas de veículos pelas concessionárias, após registrar crescimento acentuado em outubro,
voltaram a recuar em novembro, segundo dados da Federação Nacional da Distribuição de
Veículos Automotores (Fenabrave), ajustados sazonalmente. O incremento que havia sido
observado em outubro não se manteve, pois decorreu, basicamente, do aumento do número de
promoções de vendas e da perspectiva de elevação de preços em meses subseqüentes, fato que
tem se confirmado. O setor, sensível à evolução de expectativas e às condições de crédito, ressentiu-
se neste ano, tendo assinalado, até novembro, queda de 7,7%. A recente recuperação observada
nas expectativas dos consumidores é um dos fatores que tende a favorecer as vendas do setor em
médio prazo.
Em dezembro, segundo a pesquisa da Fecomércio SP, o Índice de Intenções do Consumidor (IIC)
subiu 5% e atingiu 106,8 pontos, em uma escala que vai de 0 a 200. Esse aumento do IIC decorreu
da melhora nas intenções atuais e nas intenções futuras de consumo, destacando-se que o índice de
intenções futuras atingiu 120,3, o nível mais elevado desde o início da série, em março de 1999. A
percepção de melhora no cenário político foi o fator que mais influenciou esse resultado, juntamente
com a menor preocupação com o aumento do desemprego.
Relatório de Inflação Março 2003
115
Quanto à inadimplência, as informações da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) revelam
que o número de novos registros de inadimplentes manteve-se estável em novembro, ante outubro.
O número de registros cancelados no cadastro de inadimplentes recuou 7,4% no mesmo período,
mas, deve-se ressalvar que, entre julho e outubro, o patamar atingido pelo número de registros
cancelados havia crescido expressivamente, fato que refletiu a liquidação de dívidas com os
recebimentos extraordinários do FGTS.
A inadimplência da carteira de crédito com recursos livres das instituições financeiras manteve-se
estável em novembro, situando-se em 8%. Nos empréstimos voltados para as pessoas físicas, o
percentual de atraso diminuiu 0,2 p.p., repetindo o desempenho do mês anterior. Nas operações
direcionadas às empresas a elevação de 0,2 p.p da proporção de atraso decorreu de alguns registros
pontuais, embora de volume elevado, e da diminuição da participação relativa de repasses de recursos
externos, nos quais a taxa de inadimplência é mais baixa.
O saldo das operações de crédito contratadas a taxas livres recuou 0,2% em novembro, com
idêntica queda no montante das linhas destinadas a pessoas jurídicas. O saldo dos empréstimos
direcionados a pessoas físicas manteve-se estável, indicando a cautela das famílias ante as condições
adversas para o endividamento, que inclusive têm estimulado a quitação de dívidas com recursos do
FGTS, devolução do IR e 13º salário. A queda no saldo das operações com pessoas jurídicas
decorreu da redução de 4,9% das operações com recursos externos, pois aquelas com recursos
domésticos mostraram expansão de 3,7% no saldo ao final do mês.
Os indicadores de investimento continuaram mostrando tendência de queda, fato que repercute,
ainda, os efeitos da transição política nas decisões empresariais. Não obstante, pelo terceiro mês
consecutivo, registrou-se melhora na produção de insumos da construção civil, refletindo o aumento
recente na demanda por materiais de construção para pequenas reformas e ampliações residenciais.
Note-se que o recente aquecimento do mercado imobiliário, refletido na expansão do número de
novos lançamentos residenciais e comerciais, somente terá efeito sobre a produção de insumos e no
mercado de trabalho nos próximos meses.
Em relação à atividade industrial, registrou-se, em outubro, expansão de 1,7% da produção em
relação ao mês anterior, após ajuste sazonal. Os dados da Pesquisa Industrial Mensal (PIM), do
IBGE, mostraram, com esse resultado, o crescimento da indústria pelo quinto mês consecutivo,
considerada a mesma base de comparação. Observou-se, em outubro, expansão em 16 dos 20
ramos pesquisados, destacando-se o de material de transporte, que registrou aumento de 19,8%
nos dois últimos meses, considerando dados dessazonalizados. Por categorias de uso, destacaram-
se as variações de 4,9% na produção de bens de consumo duráveis e de 4,3% na de bens de
capital. A produção de bens intermediários, de maior peso na composição do produto industrial,
Relatório de Inflação Março 2003
116
manteve, no mês, a tendência de crescimento gradual, ao assinalar variação de 0,8%. Com esses
resultados, a produção industrial acumula no ano, até outubro, expansão de 1,9%.
O maior dinamismo da atividade fabril tem se refletido nos indicadores de utilização da capacidade
instalada. Dados da Sondagem Conjuntural da Fundação Getulio Vargas mostram que o índice
atingiu 80,4% em outubro, ante 79% em julho e 79,8% em igual mês de 2001. O percentual,
entretanto, situa-se ainda relativamente distante do pico da série, de 86%, registrado em abril de
1995.
No mercado de trabalho, a taxa média de desemprego aberto, medida pelo IBGE, manteve-se
praticamente estável em outubro, ao assinalar taxa de 7,4%, ante 7,5% em setembro. O resultado
decorreu da queda de 0,2% na População Economicamente Ativa (PEA) e da estabilidade no
número de trabalhadores ocupados. No âmbito do emprego formal, segundo o Ministério do
Trabalho e Emprego, houve acréscimo de 0,2% em outubro, na série dessazonalizada, e de 3,6%
no acumulado em doze meses.
Quanto às contas externas, a balança comercial mantém o bom desempenho em dezembro, totalizando,
até a segunda semana, superávit de US$662 milhões. As exportações registram média diária de US$251
milhões, ante a de US$238 milhões no acumulado do ano. A média diária das importações atingiu
US$185 milhões, 1,9% inferior à observada no período de janeiro a 15 de dezembro. Com esse
resultado, o superávit acumulado chegou a US$11,9 bilhões em 2002, ante o de US$1,9 bilhão no
mesmo período de 2001. As exportações totalizaram US$57,6 bilhões, com acréscimo de 2,8% ante
os valores registrados no mesmo período de 2001, enquanto as importações, US$45,7 bilhões, recuaram
15,6% na mesma base de comparação.
As transações correntes do balanço de pagamentos, em 2002, passaram por forte ajuste, mais
acentuado no segundo semestre, não só em virtude do desempenho da balança comercial, mas
também por redução nas despesas líquidas com serviços e rendas.
Em resumo, o crescimento observado no nível de atividade tem sido proporcionado, principalmente,
pela manutenção da atividade varejista em patamar relativamente elevado e pela expansão, bem
caracterizada, dos saldos de comércio exterior. Refletindo esses fatores, a atividade fabril tem
registrado expansão gradual ao longo deste segundo semestre. Para os próximos meses, é possível
delinear cenário favorável à continuação dessa expansão. O ajuste de estoques observado no segmento
industrial, o nível de inadimplência relativamente baixo, a perspectiva de menor comprometimento
do 13º salário, proporcionado pelos desembolsos do FGTS, e a recuperação das expectativas, são
elementos que contribuem nesse sentido.
Relatório de Inflação Março 2003
117
Ambiente externo
O panorama internacional continua apontando para frágil recuperação econômica global, devido
à insuficiência de gastos de investimento para estimular a produção. Permanece a perspectiva de
crescimento moderado da economia mundial em 2003, movimento estimulado pelo consumo,
pela baixa inflação e pelas políticas monetária e fiscal expansionistas. Em curto prazo, essa
perspectiva ainda sofre riscos potenciais para sua efetivação, dados pelas possibilidades de conflito
armado entre os Estados Unidos e o Iraque, que causariam instabilidade no mercado de petróleo,
já afetado pela crise política na Venezuela. Também os mercados financeiros permanecem instáveis,
com possibilidade de quedas em função do aumento da percepção de risco ou de frustração de
expectativas de lucros das corporações.
Nos Estados Unidos, o crescimento anualizado do PIB no terceiro trimestre foi confirmado em
4%, sustentado sobretudo pelo consumo privado, que avançou 4,2%. As vendas no varejo
aumentaram 0,4% em novembro, em relação às de outubro, e excluindo-se automóveis, o aumento
passa a 0,6%. Os estoques da indústria e do comércio e as encomendas às fábricas cresceram
em outubro. O mercado de trabalho manteve-se deprimido, com a taxa de desemprego alcançando
6% em novembro. Já a produtividade do setor não-agrícola apontou crescimento de 5,1% no
terceiro trimestre, mantendo inalterado o custo unitário do trabalho. Até o momento, a inflação
permanece sob controle e o Federal Reserve manteve a meta para os Fed Funds em 1,25% a.a.
Os indicadores de confiança apontaram melhoria nas expectativas de empresários e consumidores
em novembro.
No Japão, dados revisados apontaram crescimento anualizado de 3,2% do PIB no terceiro
trimestre, sustentado principalmente pelo consumo interno. Mesmo assim, o Banco do Japão
reduziu recentemente a avaliação da economia pela primeira vez em onze meses, em virtude de
incertezas externas e da desaceleração global. O crescimento das exportações vem arrefecendo,
em decorrência da insuficiente demanda externa, sobretudo por itens relacionados à tecnologia
da informação. Em outubro, a taxa de desemprego novamente atingiu 5,5%, repetindo o patamar
de dezembro de 2001, o mais elevado desde o início da realização da pesquisa em 1953. A
inflação anual medida pelo IPC situou-se em –0,9% em outubro, enquanto o índice de preços no
atacado registrou alta de 0,3%. O índice Tankan de confiança industrial cresceu pelo terceiro
trimestre consecutivo.
Nos países da área do Euro, permanece o quadro de estagnação econômica, não alterado com a
divulgação de crescimento de 0,8% do PIB no terceiro trimestre, ante igual período do ano
anterior. O cenário recessivo é particularmente acentuado na Alemanha, principal economia da
região. A redução da taxa básica de juros em 0,5 p.p. pelo Banco Central Europeu (BCE) mostrou
a preocupação com esse cenário, uma vez que a taxa anual de inflação subiu para 2,3% em
Relatório de Inflação Março 2003
118
outubro, mantendo-se desde agosto acima da meta do BCE, de 2%. Os indicadores de confiança
continuaram sem tendência uniforme em novembro. No setor empresarial, os indicadores de
confiança na área do Euro e das principais economias da região apresentaram alta, à exceção da
Alemanha. Quanto aos índices de expectativas dos consumidores, há números positivos na França
e na Itália e recuos na Alemanha e nos indicadores da região.
Preços
Os índices de preços acusaram expressiva variação em novembro, refletindo, principalmente, os
efeitos dos choques de oferta presentes no segundo semestre de 2002 – depreciação da taxa de
câmbio e restrições na oferta de produtos agrícolas. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor
Amplo (IPCA) cresceu 3,02% em novembro, acumulando variação de 10,22% no ano e 10,93%
em doze meses. No Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP–DI), os efeitos desses
choques repercutiram com maior intensidade nos preços do atacado, tanto nos produtos agrícolas
como nos industriais. A variação mensal do IGP–DI alcançou 5,84% em novembro, ante 4,21%
em outubro, acumulando 23,09% no ano e 23,31% em doze meses.
Da variação mensal de 3,02% do IPCA, os itens com preços monitorados contribuíram com 1,19
p.p. (variação de 4,29%), e os livres com 1,83 p.p. (variação de 2,53%). Dentre os monitorados,
destacaram-se os reajustes de passagens aéreas e os aumentos dos preços dos combustíveis, que
revelaram repasses acima de 70% dos reajustes da refinaria para os preços ao consumidor. Entre
os livres, os produtos comercializáveis contribuíram com 1,42 p.p. e os não-comercializáveis
com 0,42 p.p.
Quanto ao IGP, o Índice de Preços no Atacado – Disponibilidade Interna (IPA–DI) variou 7,45%
em novembro devido, principalmente, à aceleração na variação dos preços industriais, 7,05% no
mês, ante 4,96% em outubro. Os preços agrícolas, embora com variação em patamar ainda
elevado, 8,42% ante 8,65% em outubro, mostraram sinais de arrefecimento e delinearam a
perspectiva de reversão nos próximos resultados. O componente do IGP–DI relativo aos preços
no segmento varejista, o Índice de Preços ao Consumidor–Brasil (IPC–Br), acusou variação de
3,14% no mês, ante 1,14% em outubro, refletindo, sobretudo, as altas dos itens alimentação,
transportes e habitação. O Índice Nacional do Custo da Construção (INCC) elevou-se 2,45%
em novembro, comparativamente a 1,13% em outubro refletindo, principalmente, o aumento nos
preços de materiais.
Em dezembro, a inflação deverá arrefecer, como resultado de pressões menores decorrentes da
evolução do câmbio e do esgotamento do processo de altas observadas nos preços da alimentação.
Contudo, os índices devem ainda assinalar taxas relativamente elevadas. Os preços monitorados,
embora em desaceleração, deverão impactar de modo significativo o IPCA no último mês do
Relatório de Inflação Março 2003
119
ano, refletindo os resíduos dos reajustes concedidos em novembro, o aumento de tarifas de ônibus
urbano – em Curitiba, Brasília, Goiânia e Belém – e a última correção dos preços dos combustíveis.
Mercado Monetário e Operações de Mercado Aberto
Na véspera da reunião do Copom de novembro, o spread entre a meta para a taxa Selic e a taxa
de um mês era de 192 pontos, em conformidade com a expectativa de elevação da meta. Na
mesma data, o spread da taxa de um ano estava em 1045 p.b. Com a divulgação dos elevados
índices de inflação de novembro, as taxas de juros de curto prazo voltaram a subir, em compasso
com a percepção de nova elevação da meta, enquanto as taxas de um ano recuaram com a
percepção de menor risco país. No final do período, em 17 de dezembro, o spread de curto
prazo atingiu 253 p.b. e o de um ano, 717 p.b.
De 20 de novembro a 18 de dezembro, houve três vencimentos de títulos e swaps cambiais, no
total de US$5,9 bilhões. A rolagem desses vencimentos alcançou 76%, tendo sido efetuada com
contratos de swap de prazo entre dois meses e dois anos. A inclinação da curva de cupom cambial
reduziu-se significativamente no período, embora permaneça negativa. Além disso, observou-se
redução em todos os seus vértices. Esse movimento deveu-se à captação de recursos externos
por instituições financeiras e à redução das incertezas, permitindo taxas significativamente inferiores
nas rolagens da dívida cambial.
No mesmo período, o Tesouro Nacional realizou quatro leilões, que resultaram na venda de
R$25,1 bilhões em LFT, com prazo médio de 210 dias. A contínua redução nos deságios desses
títulos e a elevada liquidez no mercado de reservas bancárias explicam a crescente demanda
pelas LFT, observada desde outubro.
Desde a última reunião do Copom, em razão da menor demanda por títulos com rentabilidade
referenciada ao IGP–M, houve apenas uma venda de NTN–C de três anos, com valor financeiro
de R$0,7 bilhão, ante R$3,8 bilhões em dois eventos no período anterior. No tradicional leilão
mensal, foram vendidos títulos com prazos de cinco e de quinze anos, no volume financeiro de
R$0,9 bilhão.
Entre 21 de novembro e 17 de dezembro, o Banco Central atuou diariamente no mercado aberto,
tomando recursos à taxa de 22,00% e doando recursos à taxa de 21,90%. Os volumes médios
diários das atuações tomadoras e doadoras foram, respectivamente, de R$60,6 bilhões e de
R$3,4 bilhões.
As liquidações financeiras entre 21 de novembro e 17 de dezembro acarretaram impacto monetário
expansionista de R$8,0 bilhões, explicado principalmente pelos resgates líquidos de LTN (R$14,5
Relatório de Inflação Março 2003
120
bilhões), de títulos cambiais (R$7,8 bilhões) e de NTN–C (R$3,1 bilhões), parcialmente
compensados pelas colocações líquidas de LFT (R$17,9 bilhões).
Em novembro, a dívida pública mobiliária interna manteve-se praticamente estável, em R$631,5
bilhões, ante R$632,1 bilhões em outubro, devido ao resgate líquido de títulos no montante de
R$10,4 bilhões.
Avaliação Prospectiva das Tendências da Inflação
Os choques identificados e os seus impactos foram reavaliados de acordo com as novas informações
disponíveis. O cenário considerado nas simulações contempla as seguintes hipóteses:
1. As projeções para os derivados de petróleo seguiram a hipótese de repasse do aumentod o
preço internacional do petróleo e da variação cambial, observada desde o último reajuste.
Considerou-se que, no caso do GLP, o impacto final sobre o preço do gás de bujão será um
aumento de 2,0% ao consumidor em 2003. Para a gasolina, projeta-se uma redução de 3,8% no
próximo ano. Vale ressaltar que essas projeções foram realizadas com os valores atuais da Cide
(Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico). Em dezembro, a Câmara dos Deputados
aprovou uma autorização para um reajuste máximo da Cide para a gasolina, de R$0,50 por litro
para R$0,86 por litro, e para o gás liquefeito de petróleo, de R$136,70 por tonelada para
R$250,00 por tonelada. O cenário básico não embute esses reajustes, cujo impacto direto sobre
o IPCA seria da ordem de 1 p.p.
2. As projeções de dezembro para as tarifas de energia elétrica residencial embutem um aumento
de 30,3% para 2003. Essa projeção elevou-se 3,3 p.p. desde a última reunião do Copom como
resultado da revisão das expectativas acerca do IGP–M, importante componente no reajuste das
tarifas de energia. Para 2002, não houve alteração da projeção divulgada nas Notas da reunião
de novembro.
3. Para os itens administrados por contrato e monitorados, com peso de 27,7% no IPCA de
novembro, projetam-se aumentos de 15,4% e 13,0% para 2002 e 2003, respectivamente. Em
relação às projeções de novembro, houve uma elevação de 2,0 p.p para 2002, e de 0,9 p.p. para
2003. Para 2004, projeta-se uma inflação de administrados de 7,60%, supondo que todos esses
itens seguem os reajustes do IGP–M para aquele ano.
4. A projeção para o spread de seis meses sobre a taxa Selic, seguindo a especificação do
modelo baseada no método de estimação por correção de erros, parte de 320 p.b. no primeiro
trimestre de 2003 e atinge –120 p.b. no fim desse mesmo ano.
Relatório de Inflação Março 2003
121
O núcleo de inflação calculado por exclusão dos preços administrados – considerando o conjunto
ampliado desses itens e a nova definição de administrados, com peso de 27,7% no IPCA em
novembro – e dos alimentos no domicílio registrou uma variação de 1,17% em novembro,
observando-se crescimento relevante se comparado com as variações de 0,74% em outubro e de
0,61% em setembro. Em novembro, a variação acumulada nos últimos doze meses foi de 7,35%.
O núcleo de inflação do IPC–BR, calculado pelo método de médias aparadas simétricas, atingiu
1,46% em novembro. No acumulado de doze meses, esse núcleo registrou variação de 8,04%.
A variação acumulada pelo IPCA em doze meses, que apresentou trajetória descendente de maio
a agosto, registrou elevação em setembro (7,93%), outubro (8,44%) e novembro (10,93%).
Nesses doze meses, os preços livres contribuíram para a inflação com 6,70 p.p., enquanto os
preços administrados por contrato e monitorados contribuíram com 4,23 p.p.
Em relação à política fiscal, trabalha-se com a hipótese de cumprimento da meta de superávit
primário de 3,88% para o setor público consolidado neste ano, e de 3,75% nos anos seguintes.
Foram mantidas as demais hipóteses consideradas na reunião anterior.
Dos exercícios de simulação, com diversas especificações do modelo estrutural, concluiu-se que
a manutenção da taxa de juros em 22,0% ao ano e da taxa de câmbio próxima do patamar que
prevalecia na véspera da reunião do Copom (R$3,55) aponta para uma inflação significativamente
acima do limite superior do intervalo de tolerância em 2003.
Diretrizes da Política Monetária
A atividade econômica mostra sinais de recuperação, com a atividade industrial apresentando
crescimento moderado e o comércio varejista estável num patamar acima do que prevalecia no
início do ano. A manutenção do consumo deve-se principalmente a fatores conjunturais, como as
parcelas de liberação do FGTS, o pagamento do 13º salário e a melhora nas expectativas futuras.
Já o produto industrial, em alta pelo quinto mês consecutivo até outubro, vem sendo puxado pelas
exportações e pela indústria extrativa mineral.
A continuidade da liberação dos saldos do FGTS em 2003 favorecerá o crescimento do consumo
no próximo ano. Deve-se destacar que a liberação dos saldos do FGTS impacta a demanda
agregada. Isso porque essa liberação representa um redirecionamento de gastos para parcelas da
população com menor poder aquisitivo e, conseqüentemente, com maior propensão a consumir,
notadamente itens de menor valor.
O câmbio manteve um comportamento mais estável entre as reuniões do Copom em novembro e
em dezembro, mas em um nível depreciado, o que vem favorecendo o ajuste rápido do balança
Relatório de Inflação Março 2003
122
de pagamentos. Além disso, verificou-se uma melhora na conta de capitais, com crescimento do
investimento externo líquido, das captações externas e do financiamento das linhas de comércio.
Houve também melhora da percepção de risco, conforme sugere a queda das taxas de juros
domésticos (p.ex. Cupom Cambial) e do spread medido pelo EMBI+.
No entanto, as taxas de inflação aumentaram significativamente em novembro. A taxa de inflação
mensal medida pelo IPCA atingiu 3,02% em novembro, valor superior ao registrado em outubro
(1,31%) e setembro (0,72%) e ao projetado na reunião do Copom em novembro. O núcleo de
inflação do IPCA calculado pelo método de médias aparadas simétricas subiu de 0,78% em
setembro e outubro para 1,32% em novembro. Nos últimos doze meses, esse núcleo registrou
variação de 8,21% em novembro.
As expectativas de inflação para 2003, coletadas pela Gerin do Banco Central do Brasil,
aumentaram entre as duas últimas reuniões do Copom, passando de 9,8%, em novembro, para
11,0% em dezembro. Desde setembro, a mediana das expectativas para a inflação dobrou. Na
avaliação do Copom, os fatores que podem ter levado o mercado a rever fortemente sua expectativa
de inflação para 2003 incluem: i) a avaliação de que existem alguns setores com repasse cambial
represado, o que pressionaria a inflação dos preços livres em 2003; ii) a incerteza em relação à
condução futura da política monetária; iii) a inércia inflacionária associada à elevada inflação
observada no último trimestre de 2002.
A inflação projetada para 2003 pelo Copom também foi revista para cima, em função dos efeitos,
via inércia, da inflação elevada ocorrida no último trimestre de 2002, da deterioração das
expectativas de inflação e dos impactos da depreciação cambial ocorrida em 2002 sobre os
preços administrados.
O Copom também considerou um cenário alternativo onde as expectativas de inflação para 2003
e a taxa de câmbio recuam mais rapidamente. Esse cenário baseia-se na recuperação de confiança
na economia brasileira, mas também no fato de a inflação no último trimestre de 2002 apresentar
um forte componente temporário. A entressafra agrícola, a alta do preço internacional de algumas
commodites e as remarcações preventivas são fatores que não deverão pressionar a inflação nos
próximos meses. Há indicadores, ainda incipientes, como os índices quadrissemanais da Fipe e
coletas de preços de alimentos, que mostram a redução da velocidade dos reajustes nas primeiras
semanas de dezembro. Além disso, baseado na média histórica do repasse cambial no Brasil e
tendo em vista a magnitude da inflação em outubro e novembro, não haveria repasse cambial
represado.
Relatório de Inflação Março 2003
123
Notas da 80ª Reunião do Comitê de Política Monetária doBanco Central do Brasil (Copom)
Data: 21 e 22/1/2003
Local: Sala de reuniões do 8º andar (21/1) e 20º andar (22/1) do Edifício-Sede do Banco Central
– Brasília – DF
Horário de início: 16h (21/1) e 12h23 (22/1)
Horário de término: 19h57 (21/1) e 14h40 (22/1)
Presentes:Membros do CopomHenrique de Campos Meirelles – Presidente
Beny Parnes
Carlos Eduardo de Freitas
Edison Bernardes dos Santos
Ilan Goldfajn
Luiz Fernando Figueiredo
Sérgio Darcy da Silva Alves
Tereza Cristina Grossi Togni
No entanto, em um ambiente de deterioração de expectativas, inflação ascendente e recuperação
da atividade econômica, aumenta-se a probabilidade de reajustes de preços, o que dificulta a
convergência das expectativas para um nível mais consistente com as metas.
Nesse sentido, o Copom entende que deve elevar as taxas de juros para inibir os reajustes de
preços, ajudar a coordenar as expectativas e impedir que a deterioração das expectativas de
inflação se auto-realize. Essa decisão de elevar a taxa de juros permitirá o recuo das expectativas
de inflação em 2003.
Diante disso, o Copom decidiu, por unanimidade, aumentar a meta para a taxa Selic para 25% a.a.
Ao final da reunião, foi registrado que o Comitê voltaria a reunir-se em 21 de janeiro de 2003
para as apresentações técnicas e, no dia seguinte, para deliberar sobre as diretrizes de política
monetária, conforme estabelecido pelo Comunicado 10.187, de 2.10.2002.
Relatório de Inflação Março 2003
124
Chefes de departamento (todos presentes no dia 21)Altamir Lopes – Departamento Econômico
Carlos Yoshitaka Urata – Departamento de Operações das Reservas Internacionais
Fábia Aparecida de Carvalho – Gerência Executiva de Relacionamento com Investidores
José Antonio Marciano – Departamento de Operações Bancárias e de Sistema de Pagamentos
Marcelo Kfoury Muinhos – Departamento de Estudos e Pesquisas (também presente no dia 22)
Sérgio Goldenstein – Departamento de Operações do Mercado Aberto
Demais participantes (presentes no dia 21)Alexandre Pundek Rocha – Consultor da Diretoria
Antônio Carlos Monteiro – Secretário-Executivo da Diretoria
João dos Reis Borges Muniz – Assessor de Imprensa
José Pedro Ramos Fachada Martins da Silva – Consultor da Diretoria
Os membros do Copom analisaram a evolução recente e as perspectivas da economia brasileira
e da economia internacional no contexto do regime de política monetária, cujo objetivo é atingir
as metas fixadas pelo governo para a inflação.
Atividade Econômica
O nível de atividade manteve, ao final de 2002, a tendência de crescimento moderado que vinha
sendo observada ao longo do segundo semestre. O aumento das exportações e os estímulos à
substituição de importações seguiram destacando-se como os principais fatores de expansão
produtiva. O consumo interno mostrou-se estável nos últimos dois meses do ano, ainda que em
patamar relativamente elevado, refletindo o efeito dos desembolsos extraordinários do FGTS.
Segundo dados dessazonalizados da Fecomércio–SP, o faturamento real do comércio varejista
na Região Metropolitana de São Paulo manteve-se praticamente estável em dezembro, ante o
mês anterior, repetindo o mesmo desempenho verificado desde agosto, mês em que registrou
acentuado crescimento. No ano, registrou-se crescimento de 5,1%, com destaque para a expansão
nas vendas de bens de consumo, particularmente não-duráveis, refletindo os efeitos da liberação
do FGTS sobre a demanda por bens de menor valor unitário.
O indicador de confiança do consumidor mostrou estabilidade em janeiro ante o resultado de
dezembro, conforme pesquisa da Fecomércio–SP. O IIC situou-se em 106,7 pontos, segundo
escala de 0 a 200, com estabilidade nas intenções atuais e nas intenções futuras de consumo. O
patamar de dezembro e janeiro, relativamente alto, é associado à percepção de melhora no cenário
político e à menor preocupação com o desemprego.
Relatório de Inflação Março 2003
125
Quanto à inadimplência no comércio, as informações da ACSP revelaram queda expressiva no
final de 2002, repetindo o padrão sazonal desse indicador. O número de registros cancelados
cresceu 30% em dezembro, confirmando a tradicional opção dos devedores de utilizar parte do
décimo terceiro salário para a quitação de dívidas em atraso. Observando-se os dados
dessazonalizados, o nível de inadimplência atingiu 4,2% em dezembro, mantendo-se abaixo da
média anual verificada nos últimos cinco anos. Em parte, esse percentual decorreu do crescimento
de registros cancelados pela regularização da situação do devedor, em 2002, refletindo o estímulo
à liquidação de dívidas com o recebimento do FGTS.
O saldo das operações de crédito com recursos livres diminuiu 0,4% em dezembro, movimento
determinado pela redução de 1,2% no montante das operações com pessoas físicas, e estabilidade
do saldo referente a pessoas jurídicas. Por sua vez, o volume de novas concessões aumentou
9,8% no mês, fato associado ao elevado volume de renovações de operações de curto prazo,
para atender demandas típicas do período, tendo em vista que as liquidações de operações de
crédito também foram elevadas.
A queda no saldo dos empréstimos direcionados a pessoas físicas é explicada pela quitação
sazonal de dívidas, principalmente as de custo mais elevado, com recursos do décimo terceiro
salário, além do FGTS. Destacaram-se as reduções de 5,5% nos saldos das modalidades de
cheque especial e de 2,5% nas de crédito pessoal, enquanto as operações de aquisição de bens
e de veículos elevaram-se 5,7% e 0,2%, respectivamente.
Embora o saldo das operações com pessoas jurídicas tenha permanecido estável, observou-se
expansão de R$2,2 bilhões nas operações com recursos internos, crescimento de 2,8%,
compensada pela redução no mesmo valor das obrigações com recursos externos. Esse recuo
decorreu do pagamento de obrigações e da apreciação cambial verificada em dezembro.
Os indicadores de investimento apresentaram ligeira melhora nos últimos meses, sem contudo
inverter os resultados negativos acumulados ao longo do ano decorrentes, sobretudo, das incertezas
macroeconômicas. A produção de bens de capital cresceu 2,7% em novembro, reduzindo a queda
acumulada no ano para 1,3%. Por outro lado, após aumentos mensais consecutivos entre agosto
e outubro, a produção de insumos da construção civil recuou 0,1% em novembro, acumulando
queda de 3,4% no ano.
Em novembro, a produção industrial brasileira cresceu 0,5% em relação à do mês anterior, de
acordo com os índices dessazonalizados do IBGE, o sexto acréscimo mensal consecutivo. No
ano, até novembro, a produção industrial cresceu 2,1% em relação à do mesmo período de
2001. No resultado mensal, por categorias de uso, verificaram-se acréscimos de 0,6% na produção
Relatório de Inflação Março 2003
126
de bens de consumo duráveis e de 0,3% na de bens intermediários, além da já citada expansão
de 2,7% na fabricação de bens de capital. Destaque-se que o resultado do mês foi negativamente
influenciado pela queda de 7,6% na extração de petróleo e gás natural, basicamente devido à
retirada de operação, no período, de uma das plataformas de exploração.
No mercado de trabalho, a taxa média de desemprego aberto, medida pelo IBGE, recuou para
7,1% em novembro, ante 7,4% em outubro, resultado que decorreu basicamente da queda de
1% na População Economicamente Ativa – PEA, uma vez que o número de trabalhadores ocupados
também recuou, 0,7% no mês. No âmbito do mercado formal, segundo o Ministério do Trabalho
e Emprego, houve acréscimo de 0,2% em novembro, na série dessazonalizada, e de 3,2% no
acumulado em doze meses.
Em relação às contas externas, com o superávit de US$1,8 bilhão em dezembro, a balança comercial
totalizou superávit de US$13,1 bilhões em 2002, refletindo expansão de 3,7% nas exportações,
que somaram US$60,4 bilhões, e queda de 15% nas importações. Em janeiro, até a terceira
semana (doze dias úteis), observou-se continuidade na tendência de expansão do superávit
comercial, que atingiu US$508 milhões, com crescimento das exportações e queda nas
importações, comparativamente às do mesmo período de 2002.
Em resumo, a atividade econômica continuou sendo influenciada positivamente pelo ajuste do setor
externo da economia, enquanto a demanda doméstica estabilizou-se em patamar mais elevado após o
início da liberação dos recursos do FGTS. A continuidade das liberações do Fundo de Garantia, com
maior intensidade no início de 2003, juntamente com a redução da inadimplência, a quitação de dívidas
observada no segundo semestre de 2002 e a melhora nas expectativas do consumidor criam perspectivas
para a manutenção do consumo nos patamares atuais.
Ambiente Externo
O cenário internacional permaneceu crítico nas últimas semanas, refletindo a intensificação da
tensão entre os Estados Unidos e o Iraque. A alta no preço do petróleo, também influenciada pela
crise política na Venezuela, pode dificultar o controle inflacionário e colocar novos obstáculos à
execução de políticas fiscais e monetárias expansionistas para estimular as economias. As bolsas
de valores vêm refletindo essas inquietações e, com os fracos resultados corporativos, não
retomaram a trajetória de alta. No mercado de moedas, destaque-se a recente depreciação do
dólar norte-americano frente ao euro e ao iene.
Nos Estados Unidos, há dúvidas quanto ao real impacto do pacote de estímulo fiscal sobre a
economia, que apresentou desempenho modesto no último trimestre. O desemprego manteve-se
em patamar elevado de 6%, e a criação de novos postos de trabalho foi incipiente. A produção
Relatório de Inflação Março 2003
127
industrial retrocedeu 0,2% em dezembro, dada a fraca demanda por produtos industriais, e o
nível de utilização da capacidade instalada manteve-se baixo: 75,4%. As vendas no varejo
aumentaram 1,3% em dezembro, ante as de novembro, mas excluindo-se automóveis, verificou-
se declínio de 0,1%. Os estoques da indústria e do comércio expandiram-se 0,2% em novembro,
na série dessazonalizada. Os preços ao consumidor e ao produtor mostraram estabilidade em
dezembro, evidenciando que a inflação está longe de ser um risco para a economia. Os indicadores
de confiança, de forma geral, apontaram melhoria das expectativas de empresários do setor
manufatureiro.
Nos países da Área do Euro, permanece o quadro de estagnação econômica, com perspectiva
de baixo crescimento do PIB em 2003, principalmente pelo cenário recessivo na Alemanha,
principal economia da região. Em contexto de inflação sob controle, a redução da taxa básica de
juros em 0,5 p.p. pelo BCE revelou a preocupação com esse cenário. Entretanto, o diferencial de
juros ainda elevado entre aplicações em euro e em dólar, além da fragilidade da economia norte-
americana, levou à expressiva apreciação do euro nas últimas semanas. Esse movimento das
moedas pode acentuar a tendência de declínio do saldo comercial da Área do Euro verificado
nos últimos meses. Os indicadores de confiança refletem o pessimismo de empresários e
consumidores.
No Japão, os últimos dados divulgados não contribuíram para reduzir o pessimismo em relação à
recuperação da economia. Em novembro, uma inesperada melhora das exportações compensou
o fraco desempenho dos demais setores. As encomendas de equipamentos recuaram 7,4% em
relação às de outubro e a produção industrial diminuiu 2,2% na mesma base de comparação. O
índice de preços ao consumidor cedeu pelo 38º mês consecutivo.
Na Argentina, o fechamento do acordo provisório com o FMI, com duração até o final de agosto de
2003, envolve, basicamente, o refinanciamento por prazos variados das dívidas vencidas e vincendas
com o FMI, BID e Bird, não envolvendo novos desembolsos de recursos para o país.
Preços
Os índices de preços mostraram recuo da inflação, em dezembro, embora ainda registrando taxas
de variações relativamente elevadas, tanto nos preços praticados no atacado como ao consumidor.
O IPCA cresceu 2,1%, ante 3,02% em novembro, acumulando 12,53% no ano. O IGP–DI
registrou taxa de 2,7% em dezembro ante 5,84% no mês anterior, acumulando variação de 26,4%
em 2002.
A menor elevação do IPCA decorreu, basicamente, da redução do impacto dos preços
monitorados, que assinalou variação de 1,53% em dezembro ante 4,29% em novembro, tendo
Relatório de Inflação Março 2003
128
contribuído com 0,43 p.p. para o resultado do mês. Entre os preços livres, o principal impacto
adveio dos bens comercializáveis, cujos preços variaram 3,28% no mês (1,31 p.p. de contribuição)
comparativamente a 3,58% em novembro. Destacaram-se, nesse segmento, os aumentos dos
preços de feijão, cigarros, frango, arroz, remédios, leite e derivados, bovinos e aparelhos
eletroeletrônicos. Os preços dos produtos não comercializáveis cresceram 1,14% no período,
0,36 p.p. de contribuição, ante 1,27% no mês anterior, repercutindo a menor pressão dos preços
dos alimentos in natura.
No IGP–DI, o IPA–DI apresentou desaceleração mais acentuada, ao assinalar taxa de 3,14% no
mês, em comparação aos 7,45% apurados em novembro. A evolução dos preços ao consumidor
(IPC–DI) também mostrou arrefecimento, 1,94% ante à de 3,14% no mês anterior, decorrente das
menores elevações nos itens alimentação, transportes e habitação. O INCC elevou-se 1,7%, ante
2,45% em novembro, refletindo os menores aumentos nos preços de materiais.
No início de 2003, os índices de preços deverão seguir mostrando desaceleração. Contudo, as
taxas deverão manter-se ainda em patamar relativamente elevado. Em janeiro, os índices captarão
os impactos sobre os preços monitorados decorrentes dos resíduos dos reajustes concedidos em
dezembro, sobretudo dos combustíveis. Adicionalmente, pressionarão até março os aumentos
sazonais das despesas com educação.
Mercado Monetário e Operações de Mercado Aberto
Na véspera da reunião do Copom de dezembro, os spreads das taxas de um mês e de um ano em
relação à meta para a taxa Selic eram de 253 e 717 p.b., respectivamente. A elevação da meta em 300
p.b. superou as expectativas do mercado, acarretando a redução desses spreads para 9.p.b. e 296
p.b., refletindo a perspectiva de uma maior convergência da inflação às suas metas. Posteriormente,
em razão dos anúncios de captações externas no início do ano e da melhora da percepção de risco, o
spread da taxa de um ano caiu para 176 p.b., em 21 de janeiro.
Na rolagem dos três vencimentos de títulos e swaps cambiais ocorridos de 19 de dezembro a 22
de janeiro, que totalizaram US$5,7 bilhões, foram contratados US$5,2 bilhões em operações de
swap, com prazos entre um mês e dois anos. A significativa redução da curva de cupom cambial
em todos os seus vértices permitiu que os leilões fossem realizados a taxas bem inferiores às do
período da reunião anterior.
O Tesouro Nacional realizou três leilões de LFT, cujo valor financeiro alcançou R$13,1 bilhões e
cujo prazo médio chegou a 363 dias. A demanda por LFT, que vinha crescendo desde outubro de
2002, registrou queda desde a última reunião do Copom e observam-se sinais de aumento da
demanda por títulos pré-fixados.
Relatório de Inflação Março 2003
129
De 19 de dezembro a 21 de janeiro, o Banco Central atuou no mercado aberto em 21
oportunidades, retirando recursos à taxa de 24,90% e injetando à taxa de 25,00%. Os volumes
médios diários das atuações tomadoras e doadoras foram de, respectivamente, R$59,1 bilhões e
R$3,2 bilhões. O Banco Central ainda realizou oito operações compromissadas com prazo médio
de 15 dias úteis e volume financeiro médio tomado de R$3,1 bilhões.
As liquidações financeiras no período entre 19 de dezembro e 21 de janeiro tiveram impacto
monetário contracionista de R$1,2 bilhão, explicado principalmente pelas colocações líquidas de
LFT (R$9,2 bilhões), parcialmente compensadas pelos resgates líquidos de títulos cambiais (R$5,1
bilhões), de LTN (R$1,7 bilhão) e de NTN–C (R$0,9 bilhão).
Em dezembro, a redução da dívida pública mobiliária interna em R$8,3 bilhões (–1,3%) deveu-se
à apreciação cambial e ao resgate líquido de títulos no montante de R$17,7 bilhões
Avaliação Prospectiva das Tendências da Inflação
Os choques identificados e os seus impactos foram reavaliados de acordo com as novas informações
disponíveis. O cenário considerado nas simulações contempla as seguintes hipóteses:
1. Assim como em Notas anteriores, as projeções para os derivados de petróleo continuam a
seguir a hipótese de repasse do aumento do preço internacional do petróleo e da variação cambial,
observada desde o último reajuste. Incorporando os efeitos dos últimos reajustes no IPCA de
janeiro, projeta-se, para todo o ano de 2003, um aumento do preço ao consumidor da gasolina
de 0,2%. Para o gás de botijão, projeta-se uma redução de 1,6% em 2003.
2. Não houve alteração das projeções de reajuste para as tarifas de energia elétrica residencial,
que continuam a embutir um aumento de 30,3% para 2003.
3. Para os itens administrados por contrato e monitorados, com peso de 28,0% no IPCA de dezembro,
projetam-se aumentos de 14% e 8% para 2003 e 2004, respectivamente. Em relação às projeções da
última reunião, houve uma elevação de 1 p.p para 2003, em conseqüência, basicamente, da revisão
dos reajustes projetados para os itens gasolina, ônibus urbano e álcool. Para 2004, a elevação de 0,4
p.p. deveu-se à revisão das expectativas acerca do IGP–M, uma vez que o Copom supõe que todos
os itens administrados e por contrato seguem os reajustes do IGP–M para aquele ano.
4. A projeção para o spread de seis meses sobre a taxa Selic, seguindo a especificação do
modelo baseada no método de estimação por correção de erros, diminui 150 p.b. a partir do
nível vigente na véspera da reunião do Copom já no primeiro trimestre de 2003 e permanece
nesse patamar até o fim desse mesmo ano.
Relatório de Inflação Março 2003
130
O núcleo de inflação calculado por exclusão dos preços administrados – considerando o conjunto
ampliado desses itens, com peso de 28,0% no IPCA em dezembro – e dos alimentos no domicílio
registrou uma variação de 1,66% em dezembro, observando-se crescimento relevante se
comparado com as variações de 1,17% em novembro, 0,74% em outubro e de 0,61% em
setembro. Em dezembro, a variação acumulada nos últimos doze meses foi de 8,30%. O núcleo
de inflação calculado pelo método de médias aparadas apresentou variação de 1,36% em
dezembro, registrando ligeira alta em relação à variação do mês de novembro (1,32%) e um
crescimento expressivo em relação à variação de outubro (0,78%). De janeiro a dezembro de
2002, o núcleo apresentou variação de 8,84%. O núcleo de inflação do IPC–BR, calculado pelo
método de médias aparadas simétricas, atingiu 1,39% em dezembro. No acumulado de doze
meses, esse núcleo registrou variação de 8,76%.
A variação acumulada pelo IPCA em doze meses elevou-se para 12,53% em dezembro, após
alcançar 10,93% em novembro, 8,44% em outubro e 7,93% em setembro. Nesses doze meses,
os preços livres contribuíram para a inflação com 7,95 p.p., enquanto os preços administrados
por contrato e monitorados contribuíram com 4,58 p.p.
Em relação à política fiscal, trabalha-se com a hipótese de cumprimento da meta de superávit
primário neste e nos próximos anos. Foram mantidas as demais hipóteses consideradas na reunião
anterior.
Dos exercícios de simulação com diversas especificações do modelo estrutural, concluiu-se que a
manutenção da taxa de juros em 25,0% ao ano e da taxa de câmbio próxima do patamar que
prevalecia na véspera da reunião do Copom prevê uma inflação pouco acima da meta ajustada de
8,5% para 2003 como divulgada na Carta Aberta do Presidente do Banco Central ao Ministro da
Fazenda em 21.1.2003.
Diretrizes da Política Monetária
A atividade econômica vem se estabilizando em um patamar mais elevado que no começo do ano
passado. Em novembro, a produção industrial cresceu pelo sexto mês consecutivo, liderada pelos
setores ligados à exportação e aos bens de consumo não duráveis.
Os indicadores sinalizam que o consumo deve também manter um ritmo moderado de crescimento
nos próximos meses. Desde agosto, o faturamento do comércio varejista está estabilizado em um
patamar relativamente elevado, pouco acima do observado em 2000. A inadimplência está em
queda e, em janeiro, o Índice de Intenções Futuras do Consumidor repetiu a marca de 120
registrada em dezembro, maior valor da série desde 2000. A liberação de cerca de R$10 bilhões
dos saldos do FGTS durante 2003 também contribuirá para a sustentação do consumo no ano.
Relatório de Inflação Março 2003
131
Além do consumo, as exportações líquidas são outro fator que vem sustentando a demanda
agregada, embora sua contribuição para o crescimento de 2003 deverá ser inferior àquela ocorrida
em 2002, tendo em vista o elevado crescimento do superávit da balança comercial ocorrido no
ano passado.
No ano passado, a forte contração no fluxo de capitais derivada do aumento da aversão ao risco
internacional e da crise de confiança em relação à evolução da economia brasileira, provocou a
necessidade de um ajuste forte no déficit em conta-corrente e, portanto, de um câmbio real mais
depreciado. De fato, o câmbio real mais depreciado permitiu o ajuste do balanço de pagamentos, com
o déficit em conta-corrente ficando abaixo de US$8 bilhões no ano. Em contrapartida, houve forte
pressão sobre a inflação nos últimos meses de 2002. Apesar dos altos índices de inflação registrados
– somente no último trimestre do ano a inflação atingiu 6,5% – a inflação de 2002 pode ser caracterizada
de forma mais adequada como uma mudança de preços relativos, onde os preços dos itens
comercializáveis cresceram acima dos itens não comercializáveis. Dessa forma, a política monetária
vem sendo conduzida de forma a limitar os efeitos da depreciação cambial à mudança de preços
relativos, evitando a propagação desse choque e permitindo a convergência da inflação para uma
trajetória consistente com as suas metas.
Desde a reunião de dezembro do Copom e, mais notadamente, nas primeiras semanas de janeiro,
observou-se uma melhoria nos mercados financeiros locais refletindo menor percepção de risco. Os
fundos de investimento tiveram captação líquida positiva, o cupom cambial e as taxas de juros
prefixadas recuaram e bancos e empresas brasileiras retomaram a atividade de captação no exterior.
Refletindo essa melhor percepção do risco brasileiro, a taxa de câmbio apreciou-se, com a cotação
atingindo um mínimo de R$3,28 por dólar norte-americano em 14 de janeiro. No entanto, nos dias
que antecederam a reunião do Copom, o real voltou a se depreciar devido, sobretudo, à iminência
de guerra entre Estados Unidos e Iraque.
A mediana das expectativas de inflação para 2003 coletadas pela Gerin do Banco Central do
Brasil encontra-se relativamente estável, ainda que num patamar elevado. As expectativas das
instituições “top 5” recuaram de 13,49% em 30 de dezembro de 2002 para 10,23% na última
semana. Além disso, as expectativas para os próximos dois meses da maioria dos pesquisados
indicam recuo da inflação para 1,12% em fevereiro e 0,65% em março.
De fato, os índices de inflação têm mostrado sinais claros de recuo. O IPCA recuou de 3,02% em
novembro para 2,10% em dezembro. O IGP–DI recuou de 5,84% em novembro para 2,70% em
dezembro. O IGP–10 recuou de 4,87% em dezembro para 2,29% em janeiro. Já o IPA–10 recuou de
5,91% em dezembro para 2,60% em janeiro. Finalmente, o IPC/Fipe recuou de 2,65% em novembro
para 1,83% em dezembro e para 1,79% na segunda quadrissemana de janeiro.
Relatório de Inflação Março 2003
132
Adicionalmente, dados preliminares de coletas de preços nas últimas semanas indicam que a
inflação está caindo em janeiro, mais notadamente no segmento alimentação e bebidas, que recuou
de forma mais relevante na semana anterior à reunião do Copom. À medida que esse recuo da
inflação se materializar, as expectativas de inflação para o ano devem diminuir num contexto em
que a política monetária está firmemente comprometida com a convergência da inflação para as
metas.
Não haverá modificações na meta ajustada ao longo deste ano. Exceto no caso de uma significativa
alteração (para cima ou para baixo dos 14% já previstos) nos preços administrados e monitorados
(excluída a variação cambial), pois esses preços não são afetados diretamente pela política
monetária.
Não obstante o recuo recente da inflação, na medida em que as taxas de inflação atingiram níveis
elevados no final do ano passado, a convergência da inflação para uma trajetória compatível com as
metas ajustadas depende da velocidade de queda da inflação. Nesse contexto é importante avaliar o
impacto sobre a inflação dos aumentos acumulados de 7 p.p. na taxa Selic ocorrida no último trimestre
de 2002. O Copom entende que a manutenção da meta para a taxa Selic em 25% indicou uma
projeção de inflação pouco acima da meta ajustada de 8,5% em 2003.
Dessa forma, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a meta para a taxa Selic em 0,5 p.p.,
para 25,5% a.a.
Ao final da reunião, foi registrado que o Comitê voltaria a reunir-se em 18 de fevereiro de 2003
para as apresentações técnicas e, no dia seguinte, para deliberar sobre as diretrizes de política
monetária, conforme estabelecido pelo Comunicado 10.187, de 2.10.2002.
Relatório de Inflação Março 2003
133
Notas da 81ª Reunião do Comitê de Política Monetáriado Banco Central do Brasil (COPOM)
Data: 18 e 19/2/2003
Local: Sala de reuniões do 8º andar (18/2) e 20º andar (19/2) do Edifício-Sede do Banco Central
– Brasília – DF
Horário de início: 16h (18/2) e 11h15 (19/2)
Horário de término: 19h (18/2) e 16h40 (19/2)
Presentes:Membros do CopomHenrique de Campos Meirelles – Presidente
Beny Parnes
Carlos Eduardo de Freitas
Edison Bernardes dos Santos
Ilan Goldfajn
Luiz Fernando Figueiredo
Sérgio Darcy da Silva Alves
Tereza Cristina Grossi Togni
Chefes de departamento (todos presentes no dia 18)Altamir Lopes – Departamento Econômico
Daso Maranhão Coimbra – Departamento de Operações das Reservas Internacionais
José Pedro Ramos Fachada Martins da Silva – Gerência Executiva de Relacionamento com
Investidores
José Antonio Marciano – Departamento de Operações Bancárias e de Sistema de Pagamentos
Marcelo Kfoury Muinhos – Departamento de Estudos e Pesquisas (também presente no dia 19)
Sérgio Goldenstein – Departamento de Operações do Mercado Aberto
Demais participantes (presentes no dia 18)Antônio Carlos Monteiro – Secretário-Executivo da Diretoria
João dos Reis Borges Muniz – Assessor de Imprensa
Os membros do Copom analisaram a evolução recente e as perspectivas da economia brasileira
e da economia internacional no contexto do regime de política monetária, cujo objetivo é atingir
as metas fixadas pelo governo para a inflação.
Relatório de Inflação Março 2003
134
Atividade Econômica
Os indicadores econômicos recentes mostraram desaceleração do nível de atividade. Em dezembro,
recuaram tanto o desempenho da produção industrial como o do comércio varejista, que haviam
experimentado crescimentos mensais ao longo do semestre. A queda dos rendimentos reais e a
deterioração nas condições do crédito ao consumidor permanecem como fatores que restringem
o consumo, neutralizando o efeito positivo dos desembolsos extraordinários do FGTS. Ao mesmo
tempo, o quadro de incertezas geradas sobretudo no cenário internacional apresenta-se como
entrave à retomada efetiva dos investimentos. Contrapondo-se a esses fatores, a expansão das
exportações e a substituição de importações permanecem como fatores de estímulo à produção.
Segundo a Fecomércio-SP, o faturamento real do comércio varejista na Região Metropolitana de
São Paulo registrou queda de 4,3% em dezembro relativamente ao mês anterior, considerando
dados ajustados sazonalmente. Em janeiro, dados preliminares indicam nova queda mensal, de
1,68%. Com esse resultado, o indicador voltou ao patamar que vigorou ao longo do primeiro
semestre do ano passado.
A pesquisa sobre o nível de confiança do consumidor da Fecomércio-SP mostrou deterioração
em fevereiro, refletindo as preocupações com a inflação. O IIC recuou para 102,5, ante 106,7
pontos em janeiro, em escala que vai de 0 a 200, com quedas de 1,9% nas intenções atuais e de
4,9% nas intenções futuras de consumo. Destaque-se que esses recuos ocorreram após expressiva
elevação no trimestre anterior.
Em relação à inadimplência no comércio, a proporção de cheques devolvidos por insuficiência de
fundos registrou crescimento expressivo em janeiro, atingindo a taxa de 5,3%, o maior patamar
da série. As estatísticas da ACSP revelam que, embora os registros cancelados tenham se mantido
em patamar elevado em janeiro, o fato de o número de novos atrasos aumentar resultou no
crescimento da taxa de inadimplência relativamente ao mês anterior.
A inadimplência da carteira de crédito com recursos livres das instituições financeiras não
acompanhou a alta observada pelos indicadores do comércio, ao permanecer estável em 8%.
Nos empréstimos voltados para as pessoas físicas, o percentual de atraso diminuiu 0,3 p.p.,
situando-se em 14,5%, com destaque para a diminuição de 0,9 p.p. na taxa de inadimplência
relativa ao cheque especial. Nas operações com empresas, o percentual de atraso aumentou 0,1
p.p., atingindo 4,3%, sustentando-se no mesmo intervalo desde julho.
Os indicadores de investimento mostraram novo recuo em dezembro, ratificando a trajetória que
prevaleceu no segundo semestre do ano, em decorrência das incertezas que caracterizaram o
período. Com esse último resultado, a participação da formação bruta de capital fixo no PIB
Relatório de Inflação Março 2003
135
fechou o ano de 2002 em 17,7%, ante 19,2% observados em 2001. Todos os componentes da
FBCF recuaram no ano.
Em relação à produção doméstica de bens de capital, destaque-se a queda de 27% na produção
para o setor de energia elétrica, em função da conclusão do ciclo de investimentos provocado
pelo racionamento de energia. Já a produção de máquinas agrícolas cresceu 18,6%, refletindo o
aumento da renda do setor.
Em dezembro, descontada a influência sazonal, a produção industrial brasileira recuou 1,8% em
relação ao mês anterior, interrompendo a série de resultados mensais positivos observados desde
junho. A queda na indústria de transformação atingiu dezoito dos vinte ramos industriais pesquisados
e acompanhou a retração das vendas industriais mensais apuradas pela CNI em novembro e
dezembro (-7,1% e -1,1% respectivamente, após ajuste sazonal). A redução de 7% na produção
da indústria extrativa mineral decorreu de paradas programadas para manutenção em campos de
petróleo e gás nos dois últimos meses do ano. Com o resultado de dezembro, a atividade fabril
cresceu 2,4% em 2002, liderada pela expansão de 10,7% na produção extrativa mineral,
principalmente petróleo e gás. O crescimento de 1,4% na produção da indústria de transformação
foi impulsionado por setores relacionados à agroindústria e às exportações.
Relativamente à confiança do empresariado industrial, levantamento recente realizado pela CNI
captou recuperação das expectativas no fim de 2002 e início de 2003. Já a Sondagem Conjuntural
da Indústria de Transformação da FGV, realizada junto a 1.100 empresas em todo o país, revelou
que os empresários esperam recuo da demanda nos primeiros três meses do ano, mas apresentam
perspectiva favorável quando considerado o horizonte de seis meses. Um dos fatores que contribuiu
para a melhora das expectativas foi a percepção de que os níveis de estoques encontram-se em
patamares relativamente baixos. Além disso, o nível de utilização da capacidade instalada, em
80,8% em janeiro, não restringe a atividade produtiva, à exceção de setores específicos.
Em relação ao mercado de trabalho, o índice de emprego formal apontou crescimento mensal de
0,2% em dezembro, na série dessazonalizada, e 3,6% em relação a igual período de 2001, de
acordo com informações do Ministério do Trabalho e Emprego. A taxa de desocupação medida
pela nova Pesquisa Mensal do Emprego do IBGE, abrangendo seis regiões metropolitanas do
país, caiu de 10,9% em novembro para 10,5% em dezembro.
No referente às contas externas, a balança comercial atingiu superávit de US$1,2 bilhão em
janeiro, com expansão de 21% nas exportações (US$4,8 bilhões) e queda de 4,1% nas
importações, na comparação com o mesmo mês de 2002. Até a segunda semana de fevereiro
(dez dias úteis), observou-se continuidade na tendência de expansão do superávit comercial,
Relatório de Inflação Março 2003
136
atingindo US$789 milhões, com média diária de exportações de US$253 milhões e de US$175
milhões para as importações.
Em resumo, o nível de atividade perdeu dinamismo ao final de 2002, após mostrar resultados favoráveis
ao longo do segundo semestre. Apesar da continuidade do ajuste do setor externo e das expectativas
positivas detectadas no segmento industrial, observa-se declínio da demanda doméstica, fato que
reflete a queda nos rendimentos reais, as condições desfavoráveis no mercado de crédito e o quadro
de incertezas, sobretudo no cenário externo, com reflexos no investimento.
Ambiente Externo
O cenário econômico internacional permaneceu tenso nas últimas semanas, refletindo a inquietação
com a possibilidade de confronto militar no Iraque. Além das preocupações diretas com o provável
conflito, em termos de duração e seus efeitos econômicos, sociais e políticos, os mercados
financeiros demonstram apreensão com a possibilidade de que as ações militares não sejam
decididas por unanimidade no Conselho de Segurança da ONU, fragilizando as relações
internacionais.
Esse clima contribuiu para novas altas nas cotações do petróleo, alimentando as incertezas quanto
à recuperação da economia mundial, mesmo na hipótese de que o conflito tenha curta duração.
Esse cenário torna ainda mais difícil a situação das economias emergentes, principalmente as mais
dependentes da captação de recursos externos.
Nos Estados Unidos, persistem as dúvidas quanto à capacidade de recuperação da economia,
uma vez que as incertezas quanto aos efeitos da guerra estão inibindo os investimentos empresariais.
O PIB desacelerou no último trimestre de 2002, crescendo 0,7%, sustentado pelo aumento de
4,6% no dispêndio do setor público. O gasto do consumidor, que compreende dois terços da
atividade econômica do país, aumentou 1%, o mais fraco crescimento em quase uma década.
Nos países da Área do Euro permanece o quadro de estagnação econômica, principalmente em
função do comportamento da economia alemã. O Banco Central Europeu manteve a taxa básica
de juros em 2,75% a.a.
No Japão, os últimos dados divulgados mostraram que a economia tem se estabilizado como um
todo, mas ainda persiste substancial incerteza quanto às perspectivas de recuperação. Em
dezembro, as exportações voltaram a registrar contração, mas as encomendas à indústria
cresceram, relativamente às do mês anterior. A primeira estimativa para o crescimento do PIB no
quarto trimestre de 2002 indicou expansão de 2% anualizados.
Relatório de Inflação Março 2003
137
Na Argentina, verifica-se gradual recuperação da economia a partir da reativação da produção
local para substituir importações. A expressiva queda nas importações contribuiu decisivamente
para o superávit comercial recorde de US$16,4 bilhões em 2002.
Preços
Em janeiro, a tendência dos principais índices de preços não foi uniforme. A variação dos preços
ao consumidor registrou a alta, após recuo em dezembro, enquanto no atacado a elevação dos
preços mostrou nova desaceleração, particularmente nos preços agrícolas. A variação do IPCA
em janeiro atingiu 2,25%, frente a 2,1% em dezembro. O IGP-DI cresceu 2,17% no mês, ante
2,7% em dezembro, refletindo variações de 2,21% no IPA, de 2,32% no IPC e de 1,51% no
INCC. Note-se que em janeiro, pela primeira vez desde abril de 2002, a variação mensal do
IPCA superou a do IPA.
A alta dos índices de preços ao consumidor decorreu principalmente da elevação dos preços dos
combustíveis e das tarifas de ônibus urbanos. Os preços dos alimentos acusaram desaceleração,
acompanhando a tendência observada desde o final de novembro para os preços agrícolas no
atacado.
No IPCA, os preços dos produtos não-alimentícios aumentaram 2,28% e foram responsáveis
por 1,74 p.p. na variação mensal. A gasolina, com alta de 8,82%, e os reajustes das tarifas de
ônibus urbanos em cinco das onze capitais pesquisadas pelo IBGE (Porto Alegre, Fortaleza,
Salvador, Belo Horizonte e São Paulo), com aumento médio de 4,99%, foram os itens com maior
contribuição individual no resultado do mês (0,39 p.p. e 0,23 p.p., respectivamente). Os preços
dos alimentos, apesar de aumentos ainda expressivos, sofreram menor variação em janeiro (2,15%)
comparativamente a dezembro (3,91%).
No âmbito do IGP, a variação de 2,21% no IPA resultou de altas de 1,16% nos preços agrícolas e
de 2,64% nos preços industriais, ambos em desaceleração em relação aos dois meses anteriores.
Nos preços agrícolas, o recuo nas taxas de variação foi mais acentuado devido ao início da colheita
da nova safra, além de quedas nos preços de algumas commodities agrícolas, resultantes da
combinação de menor cotação internacional e da apreciação da taxa de câmbio média mensal. Nos
preços industriais, a desaceleração foi menos intensa, embora alguns grupos como química
(combustíveis e lubrificantes) e tecidos ainda registrem pressão.
Em fevereiro, a inflação deverá arrefecer, mantendo todavia taxas ainda elevadas. No IPCA,
espera-se pressão dos preços administrados por contrato e monitorados pelo efeito residual dos
reajustes de combustíveis e dos ônibus urbanos, além do impacto da correção na tarifa de telefone
celular que começou a vigorar em fevereiro. Entre os preços livres, as maiores variações devem
Relatório de Inflação Março 2003
138
vir do grupo educação. Destaque-se que o reajuste das mensalidades escolares, por razões
metodológicas, influencia a variação do IPCA com maior intensidade em fevereiro, diferentemente
de outros índices, cujo efeito maior ocorreu em janeiro.
Mercado Monetário e Operações de Mercado Aberto
As incertezas no cenário externo e a divulgação de índices de inflação acima do consenso do
mercado criaram a expectativa de elevação da meta para a taxa Selic na reunião do Copom de
fevereiro. Em 18 de fevereiro, véspera da decisão do Copom, os spreads das taxas de um e de
seis meses eram de 120p.b. e 284 p.b., respectivamente.
O vencimento de US$4,2 bilhões em títulos e swaps cambiais em fevereiro foi integralmente rolado
por meio da contratação de swaps. Na rolagem de 3 de fevereiro, foi colocado o correspondente a
US$1,7 bilhão em contratos com prazos entre 1 mês e 5 anos. Os leilões foram realizados a taxas
superiores à rolagem do vencimento de 22 de janeiro, devido à elevação da curva de cupom cambial.
Já a rolagem de 13 de fevereiro (contratados US$2,5 bilhões de swaps com prazo entre 1 e 29
meses) foi beneficiada pela redução do cupom de curtíssimo prazo, devido às captações externas e
à rolagem dos leilões de linha do Banco Central.
O Tesouro Nacional realizou quatro leilões de venda de LFT, com aumento do volume ofertado a
cada evento. O volume financeiro atingiu R$20,8 bilhões, com prazo médio de 348 dias. Com o
objetivo de reduzir a concentração de vencimentos, o Tesouro efetuou um leilão de compra de
LFT, retirando do mercado o correspondente a R$1,6 bilhão em títulos com vencimento em abril
deste ano. No período, foram colocados também cerca de R$0,7 bilhão em NTN-C, com prazos
de 5, 14 e 18 anos.
A partir de 24 de janeiro, o Banco Central alterou sua estratégia de atuação no mercado aberto com
o objetivo de tornar suas intervenções menos previsíveis, alongar o prazo das operações
compromissadas e desestimular as operações com prazo de um dia. As intervenções rotineiras
tiveram seu prazo ampliado de 1 para até 5 dias úteis e foram realizadas cinco operações
compromissadas com prazo de cerca de 1 mês e volume financeiro de R$37,2 bilhões.
As liquidações financeiras no período entre 23 de janeiro e 18 de fevereiro produziram impacto
monetário contracionista de R$6,5 bilhões, explicado principalmente pela colocação líquida de
LFT (R$10,6 bilhões), parcialmente compensada pelo resgate líquido de títulos cambiais (R$4,4
bilhões).
Em janeiro, houve aumento de R$13,7 bilhões (+2,2%) na dívida pública mobiliária interna, devido
à colocação líquida de R$2,6 bilhões e à apropriação de juros.
Relatório de Inflação Março 2003
139
Avaliação Prospectiva das Tendências da Inflação
Os choques identificados e os seus impactos foram reavaliados de acordo com as novas informações
disponíveis. O cenário considerado nas simulações contempla as seguintes hipóteses:
1. Para todo 2003, projeta-se aumento de 8,0% nos preços da gasolina, já incluídos os aumentos
ocorridos desde o início do ano. Na projeção de reajustes para o gás de botijão houve elevação
de 8,0 p.p em relação à reunião do Copom de janeiro.
2. Em relação à última reunião, houve diminuição do reajuste previsto para as tarifas de energia
elétrica residencial para 2003, de 30,3% para 27,1%. Essa alteração resulta da incorporação, às
projeções, da revisão de reajustes sugerida pela Aneel para 2003.
3. Considerando todos os itens administrados por contrato e monitorados, com peso de 27,9%
no IPCA de janeiro, projeta-se aumento de 15,9% para 2003, dos quais 3,8% já ocorreram em
janeiro. A diminuição da projeção relativa às tarifas de eletricidade foi mais que compensada pela
elevação da projeção da gasolina, gás de botijão, ônibus urbano e ônibus intermunicipal. Para 2004,
a projeção de reajuste para o conjunto de bens cujos preços são administrados por contrato e
monitorados é de 8,7%. A elevação de 0,7 p.p. deveu-se à revisão das expectativas de mercado
para o IGP-M, uma vez que o Copom supõe que todos os itens administrados e monitorados por
contrato seguem a variação do IGP-M para aquele ano.
4. A projeção para o spread de seis meses sobre a taxa Selic, seguindo a especificação do
modelo, baseada no método de estimação por correção de erros, encontra-se em 200 p.b. a
partir do nível vigente na véspera da reunião do Copom no primeiro trimestre de 2003, apresentando
em seguida trajetória acentuadamente descendente até atingir -150 p.b. no último trimestre de
2004.
O núcleo de inflação calculado por exclusão dos preços administrados e monitorados e dos
alimentos no domicílio elevou-se em 1,38% em janeiro, inferior ao aumento de 1,66% observado
em dezembro, mas ainda superior aos valores observados nos meses anteriores. A variação
acumulada nos últimos doze meses foi de 9,26%. Já o núcleo de inflação calculado pelo método
de médias aparadas aumentou em 1,32% em janeiro, retornando ao valor observado em novembro
de 2002, e ligeiramente inferior ao de dezembro, 1,36%. Nos últimos doze meses, o núcleo
acumulou elevação de 9,70%. O núcleo de inflação do IPC-BR, calculado pelo método de médias
aparadas simétricas, apresentou aumento de 1,32% em janeiro. No acumulado de doze meses,
esse núcleo acumulou elevação de 9,40%.
Relatório de Inflação Março 2003
140
A variação acumulada pelo IPCA em doze meses elevou-se ainda mais, atingindo 14,47% em
janeiro, ante 12,53% em dezembro. Nos últimos doze meses, os preços livres contribuíram com
8,74 p.p. para a inflação medida pelo IPCA, enquanto os preços administrados por contrato e
monitorados, contribuíram com 5,73 p.p.
Em relação à política fiscal, assumiu-se o cumprimento da meta de superávit primário neste ano
(4,25% do PIB). As demais hipóteses consideradas na reunião anterior foram mantidas.
Dos exercícios de simulação com diversas especificações do modelo estrutural, concluiu-se que a
manutenção da taxa de juros em 25,5% ao ano e da taxa de câmbio no patamar que prevalecia na
véspera da reunião do Copom preveria em inflação acima da meta ajustada de 8,5% para 2003.
Diretrizes da Política Monetária
No ano passado, a crise de confiança em relação ao futuro da economia brasileira combinada ao
aumento da aversão internacional ao risco resultaram em uma queda de U$30 bilhões nos fluxos de
capitais para o Brasil e em um ajuste do déficit em conta corrente de quase 3% do PIB. Esse ajuste
externo exigiu significativa depreciação cambial, de cerca de 44%, na medida em que o PIB expandiu-
se em torno de 1,6%. Essa depreciação cambial representou uma mudança importante de preços
relativos, que ocasionou uma inflação no último trimestre de 2002 de 6,6%. Esse aumento da inflação
constitui o maior custo herdado da crise de 2002.
A economia brasileira vem reagindo aos choques do ano passado devido a medidas que têm recuperado
a confiança e permitido a volta ainda incipiente dos fluxos de capital. O fluxo de câmbio foi positivo em
janeiro (US$1,1 bilhão) pela primeira vez desde março de 2002, movimento que continua em fevereiro.
Já os leilões de LFT do Tesouro Nacional vêm registrando crescimento do volume, sem pressão nos
deságios ou redução dos prazos. Por seu lado, a inflação ao consumidor tem caído. O IPCA recuou
do seu pico de 3,02%, em novembro, para 2,25% em janeiro. Igualmente, a inflação nos preços livres
vem apresentando redução desde seu pico de 2,53% verificado em novembro, para 2,32% em
dezembro e 1,64% em janeiro.
Há razões para se acreditar que o recuo da inflação possa prosseguir. Por um lado, a atividade
econômica mostra sinais de desaceleração. No comércio varejista, o recuo mais acentuado das
vendas em dezembro reflete a queda dos rendimentos reais do trabalho e a deterioração nas
condições do crédito ao consumidor. A produção industrial nesse mesmo mês interrompeu a
trajetória de crescimento verificada nos seis meses anteriores, e, com base em indicadores
antecedentes, estima-se que deverá também recuar em janeiro. Nesse sentido, é importante
considerar o impacto futuro sobre a inflação dos aumentos acumulados de 750 p.b. na taxa Selic
iniciados em outubro do ano passado. Por outro lado, a manutenção dos fluxos de capital no
Relatório de Inflação Março 2003
141
ritmo registrado desde o início do ano pode resultar numa oferta maior de divisas no mercado
cambial e, no caso de um cenário externo menos conturbado, permitir comportamento mais
favorável da taxa de câmbio.
Não obstante, há riscos de a inflação manter-se em patamares elevados, na medida em que a
inflação corrente mostra sinais de resistência. Devido aos mecanismos inerciais de formação de
preços na economia brasileira, a inflação mais alta de 2002 tem se refletido em inflação ainda
elevada neste início de ano. O núcleo de inflação do IPCA em janeiro mostra recuo em relação ao
mês anterior, mas ainda apresenta variação acima daquelas observadas nos três primeiros trimestres
de 2002. As prévias dos índices de preços ao consumidor para fevereiro, por sua vez, continuam
mostrando inflação em níveis elevados. Na segunda quadrissemana do mês, o IPC-Fipe apresentou
inflação de 2,13%, com ligeiro recuo ante a primeira semana (2,23%), mas acima da segunda
prévia de janeiro (1,79%).
Dados preliminares de coletas de preços nas últimas semanas indicam que a inflação de preços
livres vem caindo em fevereiro, não obstante a forte pressão de itens como alimentos in natura e
reajustes de mensalidades escolares. No entanto, os resultados das coletas indicam uma variação
do IPCA ainda alta sob o ponto de vista da trajetória da meta ajustada de inflação.
A exemplo da tendência nos últimos anos, os preços administrados e monitorados continuam
mantendo forte pressão sobre a inflação ao consumidor. Em janeiro, a inflação medida pelo IPCA
voltou a se elevar em função da significativa alta dos preços administrados e monitorados (3,83%),
2,3 vezes maior que a dos preços livres. Apesar da participação de 27,9% na composição do
IPCA, esses bens foram responsáveis por 47% da inflação de janeiro e 40% da inflação acumulada
nos últimos doze meses.
Por exemplo, enquanto a inflação nos preços livres foi de 1,64% em janeiro, o preço da gasolina ao
consumidor elevou-se em 8,82%, caracterizando-se como a maior contribuição individual ao IPCA
do mês. A elevação dos preços da gasolina ao consumidor deveu-se ao repasse do reajuste de
12,8%, ocorrido nas refinarias em 29 de dezembro passado, além do aumento decorrente de
alterações no valor da base de cálculo para fins de recolhimento do ICMS. O álcool combustível
teve seus preços elevados em 5,96% em janeiro, ante 2,96% no mês anterior, devido a reajustes
praticados pelos produtores. Os preços do óleo diesel elevaram-se em 11,88% em janeiro,
adicionando-se ao reajuste de 8,01% em dezembro. A alta de janeiro refletiu principalmente o
reajuste de 11,3% ocorrido nas refinarias no fim do mês anterior.
O reajuste de 4,99% nas tarifas de ônibus urbanos também exerceu forte pressão nos preços
monitorados em janeiro, não obstante o forte aumento já observado em dezembro (2,67%). As
elevações mais significativas foram realizadas pelas prefeituras de Belo Horizonte (10,43%), São
Relatório de Inflação Março 2003
142
Paulo (10,00%), Salvador (8,18%), Porto Alegre (4,17%) e Fortaleza (1,67%). As tarifas dos
ônibus intermunicipais, por sua vez, foram reajustadas em 7,18%, pressionadas pelas variações
registradas em Belo Horizonte (17,18%), São Paulo (12,63%), Belém (6,36%), Porto Alegre
(5,93%) e Salvador (5,33%).
Adicionalmente, o aumento de 2,73% no preço da energia elétrica em janeiro deveu-se ao reajuste
realizado no Rio de Janeiro (10,97%) e em Brasília (8,43%). No Rio, houve reajuste contratual
de 28,56% nas tarifas de uma das concessionárias.
Destaque-se que os efeitos dos reajustes de preços monitorados não se restringem à sua
contribuição direta para a inflação, mas também representam risco de propagação para os preços
livres, através dos efeitos secundários desses reajustes.
Além disso, é importante ressaltar que ao longo dos três primeiros trimestres de 2003 a inflação
acumulada em doze meses deverá permanecer alta, carregando os efeitos estatísticos da elevada
inflação ocorrida no último trimestre do ano passado. Nesse contexto é importante a percepção
de que a inflação ao longo do ano se manterá em queda.
O Copom entende que neste momento, quando a inércia existente na economia transfere o efeito
do choque do ano passado para a inflação deste ano, a política monetária deve ser firme, de
forma a eliminar o risco de mudança de patamar inflacionário. Desta forma, o Copom avalia ser
apropriado um reforço adicional na política monetária.
O Copom avalia que, além dos efeitos diretos da política monetária, também são importantes outras
ações da política econômica do governo e a reação da sociedade contra a inflação, para propiciar um
recuo mais significativo da variação dos preços com menores custos. Nesse sentido, as medidas
recentemente adotadas pelo governo com vistas a reafirmar a responsabilidade e a consistência fiscal,
aliadas à execução das reformas estruturais, produzem benefícios não só nas áreas a que estão
diretamente relacionadas, mas também elevam a eficácia da política monetária. A experiência brasileira
evidencia também como tem sido importante o empenho da sociedade para a manutenção da estabilidade
de preços como elemento fundamental de uma estratégia de desenvolvimento que assegure a capacidade
de planejamento e investimento, por meio da previsibilidade e do alongamento de horizontes temporais
para as decisões dos agentes, e que a proteja contra o imposto inflacionário e seus impactos regressivos.
Dessa forma, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a meta para a taxa Selic em 1,0 p.p.,
para 26,5% a.a. A Diretoria Colegiada do Banco Central decidiu também, por unanimidade,
elevar a alíquota de recolhimento compulsório sobre recursos à vista de 45% para 60%, de forma
a contribuir para o recuo mais acentuado da inflação nos próximos meses e diversificar os
instrumentos de política monetária.
Relatório de Inflação Março 2003
143
Ao final da reunião, foi registrado que o Comitê voltaria a reunir-se em 18 de março de 2003
para as apresentações técnicas e, no dia seguinte, para deliberar sobre as diretrizes de política
monetária, conforme estabelecido pelo Comunicado 10.187, de 2.10.2002.
Glossário
a.a. ao ano
a.m. ao mês
ACSP Associação Comercial de São Paulo
Aneel Agência Nacional de Energia Elétrica
BCE Banco Central Europeu
BID Banco Interamericano de Desenvolvimento
Bird Banco Mundial
Cide Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico
CNI Confederação Nacional da Indústria
Embi+ Emerging Market Bond Index Plus
FBCF Formação Bruta de Capital Fixo
Fecomércio–SP Federação do Comércio do Estado de São Paulo
FED Federal Reserve System
Fenabrave Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores
FGTS Fundo de Garantia por Tempo de Serviço
FGV Fundação Getúlio Vargas
FMI Fundo Monetário Internacional
Gerin Gerência Executiva de Relacionamento com Investidores
GLP Gás Liquefeito de Petróleo
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ICMS Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços
IGP Índice Geral de Preços
IGP-DI Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna
IGP-M Índice Geral de Preços – Mercado
IGP-10 Índice Geral de Preços – 10
IIC Índice de Intenções do Consumidor
INCC Índice Nacional do Custo da Construção
IPA Índice de Preços por Atacado
IPA–DI Índice de Preços por Atacado – Disponibilidade Interna
IPA–10 Índice de Preços por Atacado – 10
IPC Índice de Preços ao Consumidor
IPCA Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo
IPC–BR Índice de Preços ao Consumidor – Brasil
Relatório de Inflação Março 2003
144
IPC–DI Índice de Preços ao Consumidor – Disponibilidade Interna
IPC-Fipe Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Instituto de Pesquisas
IR Imposto sobre a Renda
LFT Letras Financeiras do Tesouro
LTN Letras do Tesouro Nacional
NTN–C Notas do Tesouro Nacional – Série C
ONU Organização das Nações Unidas
p.b. pontos base
p.p. ponto percentual
PEA População Economicamente Ativa
PIB Produto Interno Bruto
PIM Produto Industrial Mensal