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Texto de apoio ao curso de Especialização Atividade Física Adaptada e Saúde Prof. Dr. Luzimar Teixeira ENVELHECIMENTO SAUDÁVEL - O CANTAR E A GERONTOLOGIA SOCIAL Claudia Regina de Oliveira Zanini 1 RESUMO: Introduz-se um novo conceito, Coro Terapêutico, conduzido por um musicoterapeuta. Apresentam-se alguns dados de uma pesquisa qualitativa, envolvendo Musicoterapia e Gerontologia. A coleta de dados baseou-se em fichas musicoterápicas, relatórios, gravações, filmagens, depoimentos por escrito e entrevistas filmadas; todos devidamente autorizados. A análise dos dados baseou-se no paradigma fenomenológico. Concluiu-se, após análise do fenômeno pesquisado, que três essências se revelaram, depreendidas do fenômeno pesquisado: o “cantar” é meio para auto-expressão e auto- realização; as canções revelam a “subjetividade / existencialidade interna do ser”; e, a auto-confiança do “ser”, participante do Coro Terapêutico, faz com que ele tenha expectativas para o futuro. Finalmente, considerou-se que o musicoterapeuta, para atuar em Gerontologia, deve repensar “sua” relação com as múltiplas faces do tempo. PALAVRAS-CHAVE: Coro Terapêutico, Musicoterapia, Gerontologia e Fenomenologia. INTRODUÇÃO Quem não se lembra de receber agrados de seus avós? Quem pode afirmar que nunca imaginou acompanhar o processo de envelhecimento de seus pais? Quem já observou suas mudanças corporais através dos anos e se imaginou com os cabelos prateados? Aqueles que respondem negativamente a estas questões provavelmente devem se preparar para o processo inevitável que é o amadurecimento do ser humano - o envelhecimento, as perdas físicas, os ganhos de experiências, a sabedoria e muitas outras características positivas e/ou negativas. Estes conhecimentos, esta experiência de vida precisa ser valorizada. A velhice deve ser entendida como uma etapa da vida, da mesma forma que temos a infância, a adolescência e a maturidade. São fases, etapas da vida, nas quais acontecem modificações que afetam a relação do indivíduo com o meio, com o outro e com ele mesmo, dentro de um determinado ou, geralmente, indeterminado tempo. Por que indeterminado? Na verdade,

O CANTAR E A GERONTOLOGIA SOCIAL - luzimarteixeira.com.br · A palavra Gerontologia vem do grego, geron, que significa “velho, velhice”. Fraiman (1995, ... (1999, p. 225) refere-se

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Texto de apoio ao curso de Especializaccedilatildeo Atividade Fiacutesica Adaptada e Sauacutede

Prof Dr Luzimar Teixeira

ENVELHECIMENTO SAUDAacuteVEL - O CANTAR E A GERONTOLOGIA SOCIAL

Claudia Regina de Oliveira Zanini1

RESUMO Introduz-se um novo conceito Coro Terapecircutico conduzido por um

musicoterapeuta Apresentam-se alguns dados de uma pesquisa qualitativa envolvendo

Musicoterapia e Gerontologia A coleta de dados baseou-se em fichas musicoteraacutepicas

relatoacuterios gravaccedilotildees filmagens depoimentos por escrito e entrevistas filmadas todos

devidamente autorizados A anaacutelise dos dados baseou-se no paradigma fenomenoloacutegico

Concluiu-se apoacutes anaacutelise do fenocircmeno pesquisado que trecircs essecircncias se revelaram

depreendidas do fenocircmeno pesquisado o ldquocantarrdquo eacute meio para auto-expressatildeo e auto-

realizaccedilatildeo as canccedilotildees revelam a ldquosubjetividade existencialidade interna do serrdquo e a

auto-confianccedila do ldquoserrdquo participante do Coro Terapecircutico faz com que ele tenha

expectativas para o futuro Finalmente considerou-se que o musicoterapeuta para atuar

em Gerontologia deve repensar ldquosuardquo relaccedilatildeo com as muacuteltiplas faces do tempo

PALAVRAS-CHAVE Coro Terapecircutico Musicoterapia Gerontologia e Fenomenologia

INTRODUCcedilAtildeO

Quem natildeo se lembra de receber agrados de seus avoacutes Quem pode afirmar que nunca

imaginou acompanhar o processo de envelhecimento de seus pais Quem jaacute observou

suas mudanccedilas corporais atraveacutes dos anos e se imaginou com os cabelos prateados

Aqueles que respondem negativamente a estas questotildees provavelmente devem se

preparar para o processo inevitaacutevel que eacute o amadurecimento do ser humano - o

envelhecimento as perdas fiacutesicas os ganhos de experiecircncias a sabedoria e muitas outras

caracteriacutesticas positivas eou negativas

Estes conhecimentos esta experiecircncia de vida precisa ser valorizada A velhice deve ser

entendida como uma etapa da vida da mesma forma que temos a infacircncia a adolescecircncia

e a maturidade Satildeo fases etapas da vida nas quais acontecem modificaccedilotildees que afetam

a relaccedilatildeo do indiviacuteduo com o meio com o outro e com ele mesmo dentro de um

determinado ou geralmente indeterminado tempo Por que indeterminado Na verdade

quais satildeo esses tempos Existem muacuteltiplas dimensotildees do tempo para todo ser humano e

a relaccedilatildeo de cada indiviacuteduo com estas dimensotildees leva a histoacuterias diferenciadas de vida

Pode-se indagar Como um indiviacuteduo chega agrave velhice a uma idade mais avanccedilada Quais

as suas caracteriacutesticas pessoais Haacute alguma patologia instalada Tem uma vida social

ativa Alguma habilidade foi perdida ou estaacute em processo de degeneraccedilatildeo E a memoacuteria

como estaacute Eacute uma velhice bem sucedida

Segundo Neri (1995 p 34) velhice bem-sucedida eacute ldquouma condiccedilatildeo individual e grupal de

bem-estar fiacutesico e social referenciada aos ideais da sociedade agraves condiccedilotildees e aos

valores existentes no ambiente em que o indiviacuteduo envelhece e agraves circunstacircncias de sua

histoacuteria pessoal e de seu grupo etaacuteriordquo

Na busca por algumas destas respostas acima e priorizando a melhoria da qualidade de

vida do idoso frente ao meio em que vive e aos desafios que encontra na sociedade

brasileira criou-se o Coro Terapecircutico uma atividade que vem sendo desenvolvida haacute

cerca de oito anos sendo conduzida por uma musicoterapeuta autora deste trabalho

A aacuterea do Envelhecimento e Sauacutede Mental eacute um dos campos de estudos e debates mais

relevantes no campo da Epidemiologia nela a Siacutendrome Cerebral Orgacircnica (SCO) e a

depressatildeo satildeo dois dos mais importantes distuacuterbios observados na comunidade entre os

indiviacuteduos da Terceira Idade

Veras (1997) alerta para o fato de que estas doenccedilas repercutem natildeo soacute no campo da

sauacutede mas tecircm importantes consequumlecircncias de ordem social num sentido amplo Tambeacutem

repercutem na vida de cada indiviacuteduo e de sua famiacutelia O autor explica ldquoCompreende-se

por SCO o comprometimento das funccedilotildees corticais incluindo memoacuteria da capacidade de

solucionar problemas cotidianos da habilidade motora da linguagem e comunicaccedilatildeo e do

controle das reaccedilotildees emocionais Natildeo haacute turvaccedilatildeo da consciecircncia [] A depressatildeo inclui

as categorias nosoloacutegicas depressatildeo maior e distimiardquo (p 17-18)

Observa-se uma crescente necessidade de atenccedilatildeo a esta faixa etaacuteria Neste acircmbito tecircm

surgido accedilotildees numa perspectiva de criar condiccedilotildees para o resgate da cidadania Esta

coexistecircncia voluntaacuteria jaacute eacute fundamentada por Augras que em 1994 afirmava que ldquoo

mundo humano eacute essencialmente de coexistecircncia O homem define-se como ser social e o

crescimento individual depende em todos os aspectos do encontro com os demaisrdquo(p

55) Tambeacutem Zanini (2000 p 3) ressalta que ldquoo cantar na Terceira Idade pode

proporcionar a descoberta de novas possibilidades para o indiviacuteduo pois existem

atividades que deixamos de vivenciar no decorrer de nossas vidas por falta de tempo pelo

acuacutemulo de stress aliado agrave necessidade de sobrevivecircncia e ateacute mesmo por natildeo termos

acesso ou oportunidaderdquo

O Coro Terapecircutico eacute portanto uma nova atividade que se propotildee baseada num conceito

novo de coro Daacute ao coro - atividade que com o passar dos seacuteculos tem tido funccedilotildees

diferenciadas (artiacutestica educacional empresarial) - uma funccedilatildeo terapecircutica com objetivos

terapecircuticos Envolve uma promissora aacuterea de atuaccedilatildeo profissional para o

musicoterapeuta

Pensando na utilizaccedilatildeo da muacutesica com objetivos terapecircuticos o tema em estudo envolve

um assunto nas uacuteltimas deacutecadas bastante abordado o envelhecimento da populaccedilatildeo

mundial principalmente em nosso paiacutes que segundo declaraccedilotildees da Organizaccedilatildeo

Mundial de Sauacutede teraacute na segunda deacutecada deste milecircnio a sexta populaccedilatildeo mais idosa

do mundo e a maior da Ameacuterica Latina Este dado decorre do aumento na expectativa de

vida pois com os grandes avanccedilos nas aacutereas da sauacutede o ser humano passa a ter cada

vez mais possibilidade de estender sua longevidade

Moreno (1993) citado por Rodrigues (1999 p113) afirma em consonacircncia aos trabalhos

realizados com grupos de idosos que ldquoa criatividade e produtividade crescem com mais

intensidade em grupos baseados em auxiacutelio muacutetuo do que em grupos reunidos por acaso

ou em grupos cujos membros satildeo mutuamente hostis No universo social haacute uma

produtividade autecircnticardquo

Atualmente sabe-se que quanto mais uma pessoa exercita sua mente maiores

possibilidades teraacute de mantecirc-la aacutegil e receptiva portanto ainda suscetiacutevel ao

desenvolvimento

Idosos tocando na SBPC - Goiacircnia 2002

GERONTOLOGIA SOCIAL - UMA AacuteREA EM EXPANSAtildeO

A palavra Gerontologia vem do grego geron que significa ldquovelho velhicerdquo Fraiman (1995

p 26) afirma que ldquoGerontologia eacute uma macrociecircncia que estuda o envelhecimento nos

seus muacuteltiplos aspectos biopsicossociais enfocando tanto os grupos de idades quanto as

fases ou ciclos do desenvolvimento humanordquoEla acredita que esta eacute uma proposiccedilatildeo

bem mais abrangente e integradora pois convergem para a Gerontologia estudiosos de

vaacuterias aacutereas que se inter-relacionam necessariamente

Martins De Saacute (1999 p 225) refere-se agrave criaccedilatildeo da Gerontologia ressaltando

Quando mergulhamos na dimensatildeo histoacuterico-social dessa ciecircncia originaacuteria do iniacutecio do

seacuteculo XX com desenvolvimento crescente no poacutes-guerra verificamos de maneira mais

clara sua finalidade voltada para o alcance da longevidade e da qualidade de vida no

periacuteodo denominado de lsquovelhicersquo Essa qualidade eacute traduzida por sauacutede independecircncia

condiccedilotildees de vida do idoso do ponto de vista fiacutesico psicoloacutegico social cultural

Segundo Neri (1995 p16) tambeacutem comentando a origem da gerontologia

na primeira deacutecada do seacuteculo XX dois cientistas propuseram a criaccedilatildeo de disciplinas

voltadas para o estudo do envelhecimento Em 1903 Metchnicoff defendeu a ideacuteia da

necessidade de uma nova disciplina cientiacutefica a gerontologia nome cunhado com base

em gero (velho) e logia (estudo ou conhecimento) Em 1909 o meacutedico Nascher

introduziu na literatura o termo geriatria neologismo cunhado para denotar o estudo cliacutenico

da velhice assim como pediatria significa o estudo cliacutenico da infacircncia

As questotildees bio-psico-sociais tecircm sido pontos de constantes estudos na aacuterea da

gerontologia pois tecircm reflexo direto na vivecircncia de cada ser humano Para Carstensen

(Apud NERI 1995) trecircs teorias explicam a reduccedilatildeo das interaccedilotildees sociais na velhice a

teoria do afastamento a teoria da atividade e a de trocas sociais A primeira sustenta que

a reduccedilatildeo do contato social representa um mecanismo adaptativo por meio do qual a

pessoa dissocia-se da sociedade e a sociedade dissocia-se da pessoa o afastamento

social eacute muacutetuo e adaptativo do qual faz parte o distanciamento emocional A segunda

teoria da atividade contrasta com a primeira pois presume que os idosos desejam manter

contatos sociais mas que satildeo prejudicados pelas barreiras fiacutesicas e sociais impostas pela

idade A teoria das trocas sociais sustenta que os limitados recursos da velhice causam

uma diminuiccedilatildeo na amplitude das relaccedilotildees sociais

Com relaccedilatildeo agraves teorias psicoloacutegicas claacutessicas de estaacutegios Neri (1995) assinala que natildeo

haacute lugar para uma concepccedilatildeo evolutiva sobre a velhice pois estatildeo imbricadas com as

concepccedilotildees tradicionais da gerontologia segundo as quais a velhice eacute sinocircnimo de

doenccedila incapacidade e perdas

Correcirca (1996) evidencia um processo de envelhecimento integrado em que os fatores

bioloacutegicos se somam aos ambientais e aos psicoloacutegicos numa visatildeo biopsicossocial do

envelhecimento

Acredita-se que natildeo haacute apenas uma mas vaacuterias dimensotildees da idade a serem

consideradas por todo indiviacuteduo pois de acordo com a maneira com que cada indiviacuteduo se

situa frente agraves dimensotildees do tempo ele conduziraacute o seu viver Fraiman (1995) comenta a

idade cronoloacutegica a bioloacutegica a social e a existencial

Em concordacircncia com a autora considera-se que a idade cronoloacutegica somente nada nos

revela sobre a existecircncia a personalidade a intelectualidade a produtividade e a energia

vital ldquoA pessoa eacute muito mais do que a simples expressatildeo de suas atuais condiccedilotildees fiacutesicas

e de sauacutede uma vez que a dimensatildeo mental e experiencial tambeacutem agem e se modificam

a cada instanterdquo (FRAIMAN 1995 p 21)

Para Rodrigues (1999 p 22) ldquoUrgem maiores estudos que analisem a vivecircncia da

subjetividade na velhice estimulando um questionamento profundo que se expresse nas

relaccedilotildees entre as pessoas e nos programas governamentaisrdquo

O CANTAR O CORO TERAPEcircUTICO E O ENVELHECIMENTO SAUDAacuteVEL

O ato de cantar contribui para a estruturaccedilatildeo do ser humano colabora na

construccedilatildeo cultural e desenvolve habilidades aprendidas Para cantar a sauacutede e o

equiliacutebrio psicoloacutegico satildeo fundamentais O exerciacutecio do canto eacute a praacutetica da expressatildeo da

memoacuteria e estes entre outros levam agrave espontaneidade Fechando este ciacuterculo de

argumentaccedilotildees vecirc-se que o canto eacute terapecircutico pois ningueacutem canta ao acaso Como o

ser humano usa a voz Por que o faz O que acontece com o ser humano ao utilizar seu

proacuteprio instrumento aparelho fonador

Cantar eacute entre as atividades a serem desenvolvidas no setting musicoteraacutepico

considerada por muitos profissionais como rica fonte para possibilitar o desenvolvimento

das mais diversas habilidades humanas No livro Eacute Preciso Cantar Millecco Filho Brandatildeo

E Millecco (2001) vecircm compartilhar suas importantes experiecircncias na utilizaccedilatildeo de

canccedilotildees em Musicoterapia Afirmam

O canto eacute um elemento estruturante para o ser humano [] O homem vem entatildeo

expressando-se musicalmente atraveacutes da voz nos cantos de trabalho nos cacircnticos

guerreiros nos cantos religiosos ou sacros nos acalantos de matildees ou pais embalando

filhos nas festas nos jogos na crocircnica social de eacutepoca nas oacuteperas associando dramas e

mitos ao canto nas canccedilotildees populares Enfim em suas atividades talvez as mais

significativas o ser humano lanccedila matildeo do cantar (p 109)

Para que o musicoterapeuta trabalhe com a voz com o cantar aleacutem de procurar pesquisar

as significaccedilotildees desta expressatildeo vocal no processo musicoteraacutepico considera-se

imprescindiacutevel que obtenha maiores conhecimentos a respeito deste instrumento natural

do aparelho fonador e do respiratoacuterio para que seja possiacutevel evitar maiores esforccedilos e se

necessaacuterio deveraacute sugerir ao pacientecliente a busca de um outro profissional

especializado seja na fisiologia ou no funcionamento um otorrinolaringologista eou

fonoaudioacutelogo

Brack (2000 p 198) afirma que cantar eacute diferente de falar e comenta ldquoa comeccedilar pelo

ceacuterebro cujas camadas corticais satildeo diferenciadas nas duas funccedilotildees A fala e tudo mais

que eacute automatizado estaacute armazenado em camadas mais profundas do coacutertex cerebral O

que eacute mais elaborado como tocar piano e cantar por exemplo estaacute armazenado nas

camadas mais superficiaisrdquo Coelho (1999 p 11) destaca que ldquoa voz eacute o resultado sonoro

de um instrumento que exige cuidados Antes de tudo uma voz soacute eacute boa se proveacutem de um

organismo sadio[] Tambeacutem a sauacutede e o equiliacutebrio psicoloacutegico satildeo fundamentaisrdquo

Segundo Cerqueira (1996 4) ldquoo corpo e a voz satildeo instrumentos dos seres humanos e

assim como os instrumentos musicais eles precisam ser afinados para transmitir ao mundo

tudo o que tem a expressarrdquo A autora propotildee o termo ldquoafinaccedilatildeo global do serrdquo um trabalho

apoiado em teacutecnicas vocais e corporais como meio de quebrar resistecircncias orgacircnicas e

emocionais para facilitar a entrada e culminar no musicoterapecircutico indo ao encontro das

necessidades objetivas e subjetivas de crescimento do ser humano

Dinville (1993 4) acredita que a voz e a personalidade estatildeo estreitamente relacionadas e

satildeo inseparaacuteveis pois traduzem o ser humano na sua totalidade ldquoEntre o corpo e a voz

existe uma iacutentima relaccedilatildeo Eacute com eles que o cantor exterioriza sua afetividade e

desempenha o papel intermediaacuterio entre o puacuteblico e a obra musicalrdquo

A voz como importante elemento da comunicaccedilatildeo humana e reflexo do estado psiacutequico e

emocional tem sido utilizada no setting musicoteraacutepico em vaacuterias teacutecnicas desenvolvidas

por diversos musicoterapeutas no atendimento a aacutereas de atuaccedilatildeo profissional

diferenciadas Bruscia (2000 68) comentando as possibilidades de auto-expressatildeo no

processo musicoteraacutepico afirma que ao cantarmos ou tocarmos instrumentos ldquoliberamos

nossa energia interna para o mundo externo fazemos nosso corpo soar damos formas a

nossos impulsos vocalizamos o natildeo-diziacutevel ou as ideacuteias natildeo pronunciaacuteveis e destilamos

nossas emoccedilotildees em formas sonoras descritivasrdquo

Apoacutes evidenciarmos a importacircncia do cantar das canccedilotildees e da utilizaccedilatildeo da voz

consideramos ser oportuno discutir as relaccedilotildees entre este importante instrumento de

comunicaccedilatildeo e o papel do tempo ou seja as transformaccedilotildees decorrentes do passar dos

anos

Brack (2000 p 202) afirma que ldquoA voz tambeacutem envelhece poreacutem se a pessoa tratou-a

com atenccedilatildeo a qualidade vocal permaneceraacute por mais tempordquo Dinville (1993 p 121) faz

referecircncias ao aparelho respiratoacuterio e agraves mudanccedilas no aparelho fonador ldquo os esforccedilos

impostos aos oacutergatildeos da respiraccedilatildeo ou da fonaccedilatildeo podem com o passar do tempo ou

bruscamente ocasionar problemas orgacircnicosrdquo

Costa e Silva (1998 p 113) comentam que vaacuterios fatores influenciam no envelhecimento

da voz ldquoHaacute os psicoloacutegicos e neuroloacutegicos como queda de motivaccedilatildeo surgimento de

novos medos e dificuldade de controle neural e endocrinoloacutegicos associados agrave diminuiccedilatildeo

de produccedilatildeo de hormocircnios modificaccedilotildees na qualidade do epiteacutelio de revestimento da

laringe e queda da capacidade pulmonarrdquo Para Behlau e Pontes (1995) o iniacutecio e o grau

da deterioraccedilatildeo dependem particularmente de cada indiviacuteduo de sua histoacuteria de vida

aleacutem de fatores constitucionais raciais hereditaacuterios sociais e ambientais Quando a voz eacute

utilizada na relaccedilatildeo terapecircutica o contato com o paciente se intensifica por gerar maior

proximidade entre ambos

Cabe ressaltar que quando haacute a possibilidade de unir os trecircs tempos - passado presente

e futuro alcanccedila-se a integralizaccedilatildeo do ser Esta uniatildeo pode ser proporcionada propiciada

e facilitada pela muacutesica levando o musicoterapeuta a ver natildeo o ldquoserrdquo que eacute velho mas o

ldquoser que eacuterdquo a sua essecircncia Tem-se aleacutem disso a consciecircncia de que quanto mais uma

pessoa exercita sua mente maiores possibilidades teraacute de mantecirc-la aacutegil e receptiva

portanto ainda suscetiacutevel ao desenvolvimento o que pode ser objetivado pelo profissional

em questatildeo ao trabalhar com o idoso

Em se tratando do cantar em grupo observa-se que haacute um significado muito especial para

a maioria dos idosos pois a possibilidade de reconhecer suas potencialidades faz com que

este ldquocantordquo traga a auto-expressatildeo o auto-conhecimento e a auto-realizaccedilatildeo pontos que

passam a ser fortalecidos pelas relaccedilotildees inter-pessoais estabelecidas no Coro

Terapecircutico

Pode-se enumerar accedilotildees como exerciacutecios vocaacutelicos cantar muacutesicas escolhidas pelo

grupo exerciacutecios para relaxamento e de respiraccedilatildeo jogos de memoacuteria e outras que satildeo

desenvolvidas neste trabalho - Coro Terapecircutico objetivando os seguintes pontos

valorizaccedilatildeo da identidade valorizaccedilatildeo da auto-expressatildeo estiacutemulo ao conhecimento do

corpo (por meio dos exerciacutecios de relaxamento e de respiraccedilatildeo) relaccedilatildeo corpo - voz ndash

emoccedilatildeo melhora das relaccedilotildees intra e inter-pessoais amplificaccedilatildeo da voz revigorizaccedilatildeo

do aparelho fonador e prevenccedilatildeo de problemas de sauacutede mental demecircncias e perdas de

memoacuteria

Quanto agrave postura utilizada de terapeuta humanista observa-se o respeito que se deve ter

ao tempo de cada participante considerando as dimensotildees da idade cronoloacutegica da

bioloacutegica da existencial e as demais As experiecircncias vividas e o modo de ver o mundo

trazem subjetividade e complexidade ao ser humano O seu cantar eacute um reflexo deste todo

existencial Na conduccedilatildeo do grupo a musicoterapeuta propotildee ideacuteias (jogos atividades)

ouve opiniotildees (como se vestir para a apresentaccedilatildeo como subir ao palco o que acharam

do encontroaula do dia) acata ideacuteias (sugestatildeo de repertoacuterio muacutesicas a recordar) e daacute

opiniotildees (comenta por exemplo a importacircncia de cantar em grupo) Musicoterapeuta

(condutora da atividade) e grupo (participantes do Coro) traccedilam objetivos comuns e

planejam momentos futuros a partir da realidade presente Observa-se durante todo o

processo confianccedila e respeito pelo grupo com relaccedilatildeo agrave tomada de decisotildees sobre o

mesmo (por exemplo ao decidir aceitar ou natildeo um convite para apresentaccedilatildeo)

Para Ribeiro (1988 p 17) o ldquoencontro cliente-terapeutardquo seraacute sempre um encontro de

pessoas O terapeuta deve sentir afetiva e emocionalmente o cliente percebendo-o como

um todo integrado ldquoA relaccedilatildeo eacute sempre um encontro de totalidaderdquo

Este encontro esta compreensatildeo no Coro Terapecircutico satildeo viabilizados principalmente

na ldquoescutardquo da musicoterapeutacondutora ao valorizar as diferentes formas de expressatildeo

(o cantar as mensagens os textos de autoria proacutepria fatos do cotidiano queixas piadas

memoacuterias e opiniotildees) trazidas pelos participantes do grupo Apresenta-se a seguir

recortes de entrevistas e depoimentos de idosos transcritos no decorrer de uma pesquisa

fenomenoloacutegica sobre o Coro Terapecircutico

- ldquoMinha voz parece que melhorou melhorou a minha mente tudo eu acho que melhorou

com a Oficina a memoacuteria a dicccedilatildeo melhorou muitordquo (A) ldquoSe natildeo tivesse que vir ficava

em casa quieta Assim vocecirc eacute obrigada a agir se aprontar tomar o carro e seguir natildeo eacuterdquo

(AV) ldquoem casa eu me reservo muito mas aqui me realizordquo ldquoEacute terapia porque aquele eacute

o momento esperado por mim aquele eacute o momento que eu me realizordquo (I) ldquoO coral eacute

uma coisa maravilhosa para a terceira idade pelo menos na minha concepccedilatildeordquo ldquoEacute

maravilhoso e belo cantar parece que nos transportamos para o infinitordquo (A) ldquoTodo o

sentimento que o ser humano carrega em si principalmente noacutes da 3ordf idade que jaacute

passamos por todos os sentimentos e agora descobrimos com a experiecircncia que o mais

valioso na vida eacute realmente o sentimentordquo [] ldquonos conduziu a momentos muito alegres

e por incriacutevel que pareccedila nos fez cantarE acreditamos na nossa possibilidade E

acreditamos em noacutes E transbordamos de alegria ao trazer do passado muacutesicas ateacute

esquecidas mas cheias de poesia e beleza E rejuvenescemosrdquo (H)

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Alguns elementos observados no decorrer do processo terapecircutico com o grupo (Coro

Terapecircutico) foram a socializaccedilatildeo a solidariedade entre os participantes a

respeitabilidade que fortaleceu a uniatildeo do grupo e a sensaccedilatildeo de auto-realizacatildeo

advinda da construccedilatildeo conjunta em torno de um ideal comum a todos que eacute a expressatildeo

atraveacutes do cantar

Acredita-se que as relaccedilotildees sociais que se estabeleceram no grupo satildeo aspectos

relevantes para a subjetividade do ser humano o mundo interno que possui e suas

expressotildees O homem eacute um ser social e como um ser de relaccedilotildees sociais estaacute em

permanente movimento

Segundo Bock Furtado e Teixeira (1999) a Psicologia Social como aacuterea de conhecimento

passa a estudar o psiquismo humano ldquobuscando compreender como se daacute a construccedilatildeo

desse mundo interno a partir das relaccedilotildees sociais vividas pelo homem O mundo objetivo

passa a ser visto natildeo como fator de influecircncia para o desenvolvimento da subjetividade

mas como fator constitutivordquo (p 141)

Este fator constitutivo estaacute relacionado ao ldquocantarrdquo como meio para a auto-expressatildeo e a

auto-realizaccedilatildeo - o que implica no ldquofazerrdquo na ldquoatividaderdquo e na realizaccedilatildeo do homem A

atividade humana eacute a base do conhecimento e do pensamento do homem que constroacutei o

seu mundo interno na medida em que atua e transforma o mundo externo

Outro ponto depreendido das falas dos participantes eacute que as canccedilotildees revelam a

ldquosubjetividadeexistencialidade interna do serrdquo Este se relaciona agrave consciecircncia ao pensar

humano A consciecircncia natildeo se limita ao saber loacutegico incluindo tambeacutem o saber das

emoccedilotildees e sentimentos do homem o saber dos desejos e o saber do inconsciente O

ldquopensarrdquo transpareceu nas canccedilotildees e nos conteuacutedos destas que trouxeram os

sentimentos a subjetividade e o universo afetivo dos participantes

Rodrigues (1999) acredita que eacute fundamental para o idoso utilizar suas memoacuterias suas

ricas lembranccedilas e aprendizados mas que eacute imprescindiacutevel que adicionem novos

conhecimentos que soacute eacute possiacutevel para quem se abre ao eterno aprender

Finalmente observou-se nos depoimentos e entrevistas que a auto-confianccedila do ldquoserrdquo

participante do Coro Terapecircutico faz com que ele tenha expectativas para o futuro

Ressalta-se assim a identidade Bock Furtado e Teixeira (1999) comentam que a

identidade eacute a siacutentese pessoal sobre si mesmo eacute a denominaccedilatildeo dada agraves representaccedilotildees

e sentimentos que o indiviacuteduo desenvolve a respeito de si proacuteprio a partir do conjunto de

suas vivecircncias

Objetivou-se com o Coro Terapecircutico para a Terceira Idade proporcionar aos participantes

do grupo a auto-realizaccedilatildeo a motivaccedilatildeo para o viver a satisfaccedilatildeoprazer a prevenccedilatildeo da

Sauacutede Mental a melhoria da qualidade de vida melhorar as relaccedilotildees intra e inter-pessoais

e a interaccedilatildeo social estimular o resgate de memoacuteria e valorizar a dignidade de toda e

qualquer lembranccedila a percepccedilatildeo do outro e do universo sonoro do outro e a

compreensatildeo da subjetividade da existencialidade interna de cada um

Cabe ressaltar que o novo conceito de Coro Terapecircutico consiste num grupo conduzido

por um musicoterapeuta com objetivos terapecircuticos em que a voz eacute utilizada como

recurso para a comunicaccedilatildeo expressatildeo satisfaccedilatildeo e interaccedilatildeo social Os participantes

atraveacutes do cantar veiculam sua subjetividade externando sua existencialidade interna

Acredita-se que eacute possiacutevel proporcionar ao idoso uma sensaccedilatildeo diferente daquela em que

eacute somente um sobrevivente para ser tambeacutem um agente capaz de inuacutemeras

accedilotildeesrelaccedilotildees sociais e emocionais A construccedilatildeo do ser eacute um processo contiacutenuo que se

daacute em todas as etapas da vida Estar consciente deste processo desta continuidade pode

ser um grande diferencial para a qualidade de vida de todo e qualquer indiviacuteduo

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ZANINI C R de O O cantar e a terceira idade Nova Geraccedilatildeo Goiacircnia Ano III n12 p3

julho 2000

___________________ Coro Terapecircutico ndash um olhar do musicoterapeuta para o idoso no

novo milecircnio Dissertaccedilatildeo apresentada ao Mestrado em Muacutesica Universidade Federal de

Goiaacutes Goiacircnia 2002 142p

  • INTRODUCcedilAtildeO

quais satildeo esses tempos Existem muacuteltiplas dimensotildees do tempo para todo ser humano e

a relaccedilatildeo de cada indiviacuteduo com estas dimensotildees leva a histoacuterias diferenciadas de vida

Pode-se indagar Como um indiviacuteduo chega agrave velhice a uma idade mais avanccedilada Quais

as suas caracteriacutesticas pessoais Haacute alguma patologia instalada Tem uma vida social

ativa Alguma habilidade foi perdida ou estaacute em processo de degeneraccedilatildeo E a memoacuteria

como estaacute Eacute uma velhice bem sucedida

Segundo Neri (1995 p 34) velhice bem-sucedida eacute ldquouma condiccedilatildeo individual e grupal de

bem-estar fiacutesico e social referenciada aos ideais da sociedade agraves condiccedilotildees e aos

valores existentes no ambiente em que o indiviacuteduo envelhece e agraves circunstacircncias de sua

histoacuteria pessoal e de seu grupo etaacuteriordquo

Na busca por algumas destas respostas acima e priorizando a melhoria da qualidade de

vida do idoso frente ao meio em que vive e aos desafios que encontra na sociedade

brasileira criou-se o Coro Terapecircutico uma atividade que vem sendo desenvolvida haacute

cerca de oito anos sendo conduzida por uma musicoterapeuta autora deste trabalho

A aacuterea do Envelhecimento e Sauacutede Mental eacute um dos campos de estudos e debates mais

relevantes no campo da Epidemiologia nela a Siacutendrome Cerebral Orgacircnica (SCO) e a

depressatildeo satildeo dois dos mais importantes distuacuterbios observados na comunidade entre os

indiviacuteduos da Terceira Idade

Veras (1997) alerta para o fato de que estas doenccedilas repercutem natildeo soacute no campo da

sauacutede mas tecircm importantes consequumlecircncias de ordem social num sentido amplo Tambeacutem

repercutem na vida de cada indiviacuteduo e de sua famiacutelia O autor explica ldquoCompreende-se

por SCO o comprometimento das funccedilotildees corticais incluindo memoacuteria da capacidade de

solucionar problemas cotidianos da habilidade motora da linguagem e comunicaccedilatildeo e do

controle das reaccedilotildees emocionais Natildeo haacute turvaccedilatildeo da consciecircncia [] A depressatildeo inclui

as categorias nosoloacutegicas depressatildeo maior e distimiardquo (p 17-18)

Observa-se uma crescente necessidade de atenccedilatildeo a esta faixa etaacuteria Neste acircmbito tecircm

surgido accedilotildees numa perspectiva de criar condiccedilotildees para o resgate da cidadania Esta

coexistecircncia voluntaacuteria jaacute eacute fundamentada por Augras que em 1994 afirmava que ldquoo

mundo humano eacute essencialmente de coexistecircncia O homem define-se como ser social e o

crescimento individual depende em todos os aspectos do encontro com os demaisrdquo(p

55) Tambeacutem Zanini (2000 p 3) ressalta que ldquoo cantar na Terceira Idade pode

proporcionar a descoberta de novas possibilidades para o indiviacuteduo pois existem

atividades que deixamos de vivenciar no decorrer de nossas vidas por falta de tempo pelo

acuacutemulo de stress aliado agrave necessidade de sobrevivecircncia e ateacute mesmo por natildeo termos

acesso ou oportunidaderdquo

O Coro Terapecircutico eacute portanto uma nova atividade que se propotildee baseada num conceito

novo de coro Daacute ao coro - atividade que com o passar dos seacuteculos tem tido funccedilotildees

diferenciadas (artiacutestica educacional empresarial) - uma funccedilatildeo terapecircutica com objetivos

terapecircuticos Envolve uma promissora aacuterea de atuaccedilatildeo profissional para o

musicoterapeuta

Pensando na utilizaccedilatildeo da muacutesica com objetivos terapecircuticos o tema em estudo envolve

um assunto nas uacuteltimas deacutecadas bastante abordado o envelhecimento da populaccedilatildeo

mundial principalmente em nosso paiacutes que segundo declaraccedilotildees da Organizaccedilatildeo

Mundial de Sauacutede teraacute na segunda deacutecada deste milecircnio a sexta populaccedilatildeo mais idosa

do mundo e a maior da Ameacuterica Latina Este dado decorre do aumento na expectativa de

vida pois com os grandes avanccedilos nas aacutereas da sauacutede o ser humano passa a ter cada

vez mais possibilidade de estender sua longevidade

Moreno (1993) citado por Rodrigues (1999 p113) afirma em consonacircncia aos trabalhos

realizados com grupos de idosos que ldquoa criatividade e produtividade crescem com mais

intensidade em grupos baseados em auxiacutelio muacutetuo do que em grupos reunidos por acaso

ou em grupos cujos membros satildeo mutuamente hostis No universo social haacute uma

produtividade autecircnticardquo

Atualmente sabe-se que quanto mais uma pessoa exercita sua mente maiores

possibilidades teraacute de mantecirc-la aacutegil e receptiva portanto ainda suscetiacutevel ao

desenvolvimento

Idosos tocando na SBPC - Goiacircnia 2002

GERONTOLOGIA SOCIAL - UMA AacuteREA EM EXPANSAtildeO

A palavra Gerontologia vem do grego geron que significa ldquovelho velhicerdquo Fraiman (1995

p 26) afirma que ldquoGerontologia eacute uma macrociecircncia que estuda o envelhecimento nos

seus muacuteltiplos aspectos biopsicossociais enfocando tanto os grupos de idades quanto as

fases ou ciclos do desenvolvimento humanordquoEla acredita que esta eacute uma proposiccedilatildeo

bem mais abrangente e integradora pois convergem para a Gerontologia estudiosos de

vaacuterias aacutereas que se inter-relacionam necessariamente

Martins De Saacute (1999 p 225) refere-se agrave criaccedilatildeo da Gerontologia ressaltando

Quando mergulhamos na dimensatildeo histoacuterico-social dessa ciecircncia originaacuteria do iniacutecio do

seacuteculo XX com desenvolvimento crescente no poacutes-guerra verificamos de maneira mais

clara sua finalidade voltada para o alcance da longevidade e da qualidade de vida no

periacuteodo denominado de lsquovelhicersquo Essa qualidade eacute traduzida por sauacutede independecircncia

condiccedilotildees de vida do idoso do ponto de vista fiacutesico psicoloacutegico social cultural

Segundo Neri (1995 p16) tambeacutem comentando a origem da gerontologia

na primeira deacutecada do seacuteculo XX dois cientistas propuseram a criaccedilatildeo de disciplinas

voltadas para o estudo do envelhecimento Em 1903 Metchnicoff defendeu a ideacuteia da

necessidade de uma nova disciplina cientiacutefica a gerontologia nome cunhado com base

em gero (velho) e logia (estudo ou conhecimento) Em 1909 o meacutedico Nascher

introduziu na literatura o termo geriatria neologismo cunhado para denotar o estudo cliacutenico

da velhice assim como pediatria significa o estudo cliacutenico da infacircncia

As questotildees bio-psico-sociais tecircm sido pontos de constantes estudos na aacuterea da

gerontologia pois tecircm reflexo direto na vivecircncia de cada ser humano Para Carstensen

(Apud NERI 1995) trecircs teorias explicam a reduccedilatildeo das interaccedilotildees sociais na velhice a

teoria do afastamento a teoria da atividade e a de trocas sociais A primeira sustenta que

a reduccedilatildeo do contato social representa um mecanismo adaptativo por meio do qual a

pessoa dissocia-se da sociedade e a sociedade dissocia-se da pessoa o afastamento

social eacute muacutetuo e adaptativo do qual faz parte o distanciamento emocional A segunda

teoria da atividade contrasta com a primeira pois presume que os idosos desejam manter

contatos sociais mas que satildeo prejudicados pelas barreiras fiacutesicas e sociais impostas pela

idade A teoria das trocas sociais sustenta que os limitados recursos da velhice causam

uma diminuiccedilatildeo na amplitude das relaccedilotildees sociais

Com relaccedilatildeo agraves teorias psicoloacutegicas claacutessicas de estaacutegios Neri (1995) assinala que natildeo

haacute lugar para uma concepccedilatildeo evolutiva sobre a velhice pois estatildeo imbricadas com as

concepccedilotildees tradicionais da gerontologia segundo as quais a velhice eacute sinocircnimo de

doenccedila incapacidade e perdas

Correcirca (1996) evidencia um processo de envelhecimento integrado em que os fatores

bioloacutegicos se somam aos ambientais e aos psicoloacutegicos numa visatildeo biopsicossocial do

envelhecimento

Acredita-se que natildeo haacute apenas uma mas vaacuterias dimensotildees da idade a serem

consideradas por todo indiviacuteduo pois de acordo com a maneira com que cada indiviacuteduo se

situa frente agraves dimensotildees do tempo ele conduziraacute o seu viver Fraiman (1995) comenta a

idade cronoloacutegica a bioloacutegica a social e a existencial

Em concordacircncia com a autora considera-se que a idade cronoloacutegica somente nada nos

revela sobre a existecircncia a personalidade a intelectualidade a produtividade e a energia

vital ldquoA pessoa eacute muito mais do que a simples expressatildeo de suas atuais condiccedilotildees fiacutesicas

e de sauacutede uma vez que a dimensatildeo mental e experiencial tambeacutem agem e se modificam

a cada instanterdquo (FRAIMAN 1995 p 21)

Para Rodrigues (1999 p 22) ldquoUrgem maiores estudos que analisem a vivecircncia da

subjetividade na velhice estimulando um questionamento profundo que se expresse nas

relaccedilotildees entre as pessoas e nos programas governamentaisrdquo

O CANTAR O CORO TERAPEcircUTICO E O ENVELHECIMENTO SAUDAacuteVEL

O ato de cantar contribui para a estruturaccedilatildeo do ser humano colabora na

construccedilatildeo cultural e desenvolve habilidades aprendidas Para cantar a sauacutede e o

equiliacutebrio psicoloacutegico satildeo fundamentais O exerciacutecio do canto eacute a praacutetica da expressatildeo da

memoacuteria e estes entre outros levam agrave espontaneidade Fechando este ciacuterculo de

argumentaccedilotildees vecirc-se que o canto eacute terapecircutico pois ningueacutem canta ao acaso Como o

ser humano usa a voz Por que o faz O que acontece com o ser humano ao utilizar seu

proacuteprio instrumento aparelho fonador

Cantar eacute entre as atividades a serem desenvolvidas no setting musicoteraacutepico

considerada por muitos profissionais como rica fonte para possibilitar o desenvolvimento

das mais diversas habilidades humanas No livro Eacute Preciso Cantar Millecco Filho Brandatildeo

E Millecco (2001) vecircm compartilhar suas importantes experiecircncias na utilizaccedilatildeo de

canccedilotildees em Musicoterapia Afirmam

O canto eacute um elemento estruturante para o ser humano [] O homem vem entatildeo

expressando-se musicalmente atraveacutes da voz nos cantos de trabalho nos cacircnticos

guerreiros nos cantos religiosos ou sacros nos acalantos de matildees ou pais embalando

filhos nas festas nos jogos na crocircnica social de eacutepoca nas oacuteperas associando dramas e

mitos ao canto nas canccedilotildees populares Enfim em suas atividades talvez as mais

significativas o ser humano lanccedila matildeo do cantar (p 109)

Para que o musicoterapeuta trabalhe com a voz com o cantar aleacutem de procurar pesquisar

as significaccedilotildees desta expressatildeo vocal no processo musicoteraacutepico considera-se

imprescindiacutevel que obtenha maiores conhecimentos a respeito deste instrumento natural

do aparelho fonador e do respiratoacuterio para que seja possiacutevel evitar maiores esforccedilos e se

necessaacuterio deveraacute sugerir ao pacientecliente a busca de um outro profissional

especializado seja na fisiologia ou no funcionamento um otorrinolaringologista eou

fonoaudioacutelogo

Brack (2000 p 198) afirma que cantar eacute diferente de falar e comenta ldquoa comeccedilar pelo

ceacuterebro cujas camadas corticais satildeo diferenciadas nas duas funccedilotildees A fala e tudo mais

que eacute automatizado estaacute armazenado em camadas mais profundas do coacutertex cerebral O

que eacute mais elaborado como tocar piano e cantar por exemplo estaacute armazenado nas

camadas mais superficiaisrdquo Coelho (1999 p 11) destaca que ldquoa voz eacute o resultado sonoro

de um instrumento que exige cuidados Antes de tudo uma voz soacute eacute boa se proveacutem de um

organismo sadio[] Tambeacutem a sauacutede e o equiliacutebrio psicoloacutegico satildeo fundamentaisrdquo

Segundo Cerqueira (1996 4) ldquoo corpo e a voz satildeo instrumentos dos seres humanos e

assim como os instrumentos musicais eles precisam ser afinados para transmitir ao mundo

tudo o que tem a expressarrdquo A autora propotildee o termo ldquoafinaccedilatildeo global do serrdquo um trabalho

apoiado em teacutecnicas vocais e corporais como meio de quebrar resistecircncias orgacircnicas e

emocionais para facilitar a entrada e culminar no musicoterapecircutico indo ao encontro das

necessidades objetivas e subjetivas de crescimento do ser humano

Dinville (1993 4) acredita que a voz e a personalidade estatildeo estreitamente relacionadas e

satildeo inseparaacuteveis pois traduzem o ser humano na sua totalidade ldquoEntre o corpo e a voz

existe uma iacutentima relaccedilatildeo Eacute com eles que o cantor exterioriza sua afetividade e

desempenha o papel intermediaacuterio entre o puacuteblico e a obra musicalrdquo

A voz como importante elemento da comunicaccedilatildeo humana e reflexo do estado psiacutequico e

emocional tem sido utilizada no setting musicoteraacutepico em vaacuterias teacutecnicas desenvolvidas

por diversos musicoterapeutas no atendimento a aacutereas de atuaccedilatildeo profissional

diferenciadas Bruscia (2000 68) comentando as possibilidades de auto-expressatildeo no

processo musicoteraacutepico afirma que ao cantarmos ou tocarmos instrumentos ldquoliberamos

nossa energia interna para o mundo externo fazemos nosso corpo soar damos formas a

nossos impulsos vocalizamos o natildeo-diziacutevel ou as ideacuteias natildeo pronunciaacuteveis e destilamos

nossas emoccedilotildees em formas sonoras descritivasrdquo

Apoacutes evidenciarmos a importacircncia do cantar das canccedilotildees e da utilizaccedilatildeo da voz

consideramos ser oportuno discutir as relaccedilotildees entre este importante instrumento de

comunicaccedilatildeo e o papel do tempo ou seja as transformaccedilotildees decorrentes do passar dos

anos

Brack (2000 p 202) afirma que ldquoA voz tambeacutem envelhece poreacutem se a pessoa tratou-a

com atenccedilatildeo a qualidade vocal permaneceraacute por mais tempordquo Dinville (1993 p 121) faz

referecircncias ao aparelho respiratoacuterio e agraves mudanccedilas no aparelho fonador ldquo os esforccedilos

impostos aos oacutergatildeos da respiraccedilatildeo ou da fonaccedilatildeo podem com o passar do tempo ou

bruscamente ocasionar problemas orgacircnicosrdquo

Costa e Silva (1998 p 113) comentam que vaacuterios fatores influenciam no envelhecimento

da voz ldquoHaacute os psicoloacutegicos e neuroloacutegicos como queda de motivaccedilatildeo surgimento de

novos medos e dificuldade de controle neural e endocrinoloacutegicos associados agrave diminuiccedilatildeo

de produccedilatildeo de hormocircnios modificaccedilotildees na qualidade do epiteacutelio de revestimento da

laringe e queda da capacidade pulmonarrdquo Para Behlau e Pontes (1995) o iniacutecio e o grau

da deterioraccedilatildeo dependem particularmente de cada indiviacuteduo de sua histoacuteria de vida

aleacutem de fatores constitucionais raciais hereditaacuterios sociais e ambientais Quando a voz eacute

utilizada na relaccedilatildeo terapecircutica o contato com o paciente se intensifica por gerar maior

proximidade entre ambos

Cabe ressaltar que quando haacute a possibilidade de unir os trecircs tempos - passado presente

e futuro alcanccedila-se a integralizaccedilatildeo do ser Esta uniatildeo pode ser proporcionada propiciada

e facilitada pela muacutesica levando o musicoterapeuta a ver natildeo o ldquoserrdquo que eacute velho mas o

ldquoser que eacuterdquo a sua essecircncia Tem-se aleacutem disso a consciecircncia de que quanto mais uma

pessoa exercita sua mente maiores possibilidades teraacute de mantecirc-la aacutegil e receptiva

portanto ainda suscetiacutevel ao desenvolvimento o que pode ser objetivado pelo profissional

em questatildeo ao trabalhar com o idoso

Em se tratando do cantar em grupo observa-se que haacute um significado muito especial para

a maioria dos idosos pois a possibilidade de reconhecer suas potencialidades faz com que

este ldquocantordquo traga a auto-expressatildeo o auto-conhecimento e a auto-realizaccedilatildeo pontos que

passam a ser fortalecidos pelas relaccedilotildees inter-pessoais estabelecidas no Coro

Terapecircutico

Pode-se enumerar accedilotildees como exerciacutecios vocaacutelicos cantar muacutesicas escolhidas pelo

grupo exerciacutecios para relaxamento e de respiraccedilatildeo jogos de memoacuteria e outras que satildeo

desenvolvidas neste trabalho - Coro Terapecircutico objetivando os seguintes pontos

valorizaccedilatildeo da identidade valorizaccedilatildeo da auto-expressatildeo estiacutemulo ao conhecimento do

corpo (por meio dos exerciacutecios de relaxamento e de respiraccedilatildeo) relaccedilatildeo corpo - voz ndash

emoccedilatildeo melhora das relaccedilotildees intra e inter-pessoais amplificaccedilatildeo da voz revigorizaccedilatildeo

do aparelho fonador e prevenccedilatildeo de problemas de sauacutede mental demecircncias e perdas de

memoacuteria

Quanto agrave postura utilizada de terapeuta humanista observa-se o respeito que se deve ter

ao tempo de cada participante considerando as dimensotildees da idade cronoloacutegica da

bioloacutegica da existencial e as demais As experiecircncias vividas e o modo de ver o mundo

trazem subjetividade e complexidade ao ser humano O seu cantar eacute um reflexo deste todo

existencial Na conduccedilatildeo do grupo a musicoterapeuta propotildee ideacuteias (jogos atividades)

ouve opiniotildees (como se vestir para a apresentaccedilatildeo como subir ao palco o que acharam

do encontroaula do dia) acata ideacuteias (sugestatildeo de repertoacuterio muacutesicas a recordar) e daacute

opiniotildees (comenta por exemplo a importacircncia de cantar em grupo) Musicoterapeuta

(condutora da atividade) e grupo (participantes do Coro) traccedilam objetivos comuns e

planejam momentos futuros a partir da realidade presente Observa-se durante todo o

processo confianccedila e respeito pelo grupo com relaccedilatildeo agrave tomada de decisotildees sobre o

mesmo (por exemplo ao decidir aceitar ou natildeo um convite para apresentaccedilatildeo)

Para Ribeiro (1988 p 17) o ldquoencontro cliente-terapeutardquo seraacute sempre um encontro de

pessoas O terapeuta deve sentir afetiva e emocionalmente o cliente percebendo-o como

um todo integrado ldquoA relaccedilatildeo eacute sempre um encontro de totalidaderdquo

Este encontro esta compreensatildeo no Coro Terapecircutico satildeo viabilizados principalmente

na ldquoescutardquo da musicoterapeutacondutora ao valorizar as diferentes formas de expressatildeo

(o cantar as mensagens os textos de autoria proacutepria fatos do cotidiano queixas piadas

memoacuterias e opiniotildees) trazidas pelos participantes do grupo Apresenta-se a seguir

recortes de entrevistas e depoimentos de idosos transcritos no decorrer de uma pesquisa

fenomenoloacutegica sobre o Coro Terapecircutico

- ldquoMinha voz parece que melhorou melhorou a minha mente tudo eu acho que melhorou

com a Oficina a memoacuteria a dicccedilatildeo melhorou muitordquo (A) ldquoSe natildeo tivesse que vir ficava

em casa quieta Assim vocecirc eacute obrigada a agir se aprontar tomar o carro e seguir natildeo eacuterdquo

(AV) ldquoem casa eu me reservo muito mas aqui me realizordquo ldquoEacute terapia porque aquele eacute

o momento esperado por mim aquele eacute o momento que eu me realizordquo (I) ldquoO coral eacute

uma coisa maravilhosa para a terceira idade pelo menos na minha concepccedilatildeordquo ldquoEacute

maravilhoso e belo cantar parece que nos transportamos para o infinitordquo (A) ldquoTodo o

sentimento que o ser humano carrega em si principalmente noacutes da 3ordf idade que jaacute

passamos por todos os sentimentos e agora descobrimos com a experiecircncia que o mais

valioso na vida eacute realmente o sentimentordquo [] ldquonos conduziu a momentos muito alegres

e por incriacutevel que pareccedila nos fez cantarE acreditamos na nossa possibilidade E

acreditamos em noacutes E transbordamos de alegria ao trazer do passado muacutesicas ateacute

esquecidas mas cheias de poesia e beleza E rejuvenescemosrdquo (H)

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Alguns elementos observados no decorrer do processo terapecircutico com o grupo (Coro

Terapecircutico) foram a socializaccedilatildeo a solidariedade entre os participantes a

respeitabilidade que fortaleceu a uniatildeo do grupo e a sensaccedilatildeo de auto-realizacatildeo

advinda da construccedilatildeo conjunta em torno de um ideal comum a todos que eacute a expressatildeo

atraveacutes do cantar

Acredita-se que as relaccedilotildees sociais que se estabeleceram no grupo satildeo aspectos

relevantes para a subjetividade do ser humano o mundo interno que possui e suas

expressotildees O homem eacute um ser social e como um ser de relaccedilotildees sociais estaacute em

permanente movimento

Segundo Bock Furtado e Teixeira (1999) a Psicologia Social como aacuterea de conhecimento

passa a estudar o psiquismo humano ldquobuscando compreender como se daacute a construccedilatildeo

desse mundo interno a partir das relaccedilotildees sociais vividas pelo homem O mundo objetivo

passa a ser visto natildeo como fator de influecircncia para o desenvolvimento da subjetividade

mas como fator constitutivordquo (p 141)

Este fator constitutivo estaacute relacionado ao ldquocantarrdquo como meio para a auto-expressatildeo e a

auto-realizaccedilatildeo - o que implica no ldquofazerrdquo na ldquoatividaderdquo e na realizaccedilatildeo do homem A

atividade humana eacute a base do conhecimento e do pensamento do homem que constroacutei o

seu mundo interno na medida em que atua e transforma o mundo externo

Outro ponto depreendido das falas dos participantes eacute que as canccedilotildees revelam a

ldquosubjetividadeexistencialidade interna do serrdquo Este se relaciona agrave consciecircncia ao pensar

humano A consciecircncia natildeo se limita ao saber loacutegico incluindo tambeacutem o saber das

emoccedilotildees e sentimentos do homem o saber dos desejos e o saber do inconsciente O

ldquopensarrdquo transpareceu nas canccedilotildees e nos conteuacutedos destas que trouxeram os

sentimentos a subjetividade e o universo afetivo dos participantes

Rodrigues (1999) acredita que eacute fundamental para o idoso utilizar suas memoacuterias suas

ricas lembranccedilas e aprendizados mas que eacute imprescindiacutevel que adicionem novos

conhecimentos que soacute eacute possiacutevel para quem se abre ao eterno aprender

Finalmente observou-se nos depoimentos e entrevistas que a auto-confianccedila do ldquoserrdquo

participante do Coro Terapecircutico faz com que ele tenha expectativas para o futuro

Ressalta-se assim a identidade Bock Furtado e Teixeira (1999) comentam que a

identidade eacute a siacutentese pessoal sobre si mesmo eacute a denominaccedilatildeo dada agraves representaccedilotildees

e sentimentos que o indiviacuteduo desenvolve a respeito de si proacuteprio a partir do conjunto de

suas vivecircncias

Objetivou-se com o Coro Terapecircutico para a Terceira Idade proporcionar aos participantes

do grupo a auto-realizaccedilatildeo a motivaccedilatildeo para o viver a satisfaccedilatildeoprazer a prevenccedilatildeo da

Sauacutede Mental a melhoria da qualidade de vida melhorar as relaccedilotildees intra e inter-pessoais

e a interaccedilatildeo social estimular o resgate de memoacuteria e valorizar a dignidade de toda e

qualquer lembranccedila a percepccedilatildeo do outro e do universo sonoro do outro e a

compreensatildeo da subjetividade da existencialidade interna de cada um

Cabe ressaltar que o novo conceito de Coro Terapecircutico consiste num grupo conduzido

por um musicoterapeuta com objetivos terapecircuticos em que a voz eacute utilizada como

recurso para a comunicaccedilatildeo expressatildeo satisfaccedilatildeo e interaccedilatildeo social Os participantes

atraveacutes do cantar veiculam sua subjetividade externando sua existencialidade interna

Acredita-se que eacute possiacutevel proporcionar ao idoso uma sensaccedilatildeo diferente daquela em que

eacute somente um sobrevivente para ser tambeacutem um agente capaz de inuacutemeras

accedilotildeesrelaccedilotildees sociais e emocionais A construccedilatildeo do ser eacute um processo contiacutenuo que se

daacute em todas as etapas da vida Estar consciente deste processo desta continuidade pode

ser um grande diferencial para a qualidade de vida de todo e qualquer indiviacuteduo

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novo milecircnio Dissertaccedilatildeo apresentada ao Mestrado em Muacutesica Universidade Federal de

Goiaacutes Goiacircnia 2002 142p

  • INTRODUCcedilAtildeO

acuacutemulo de stress aliado agrave necessidade de sobrevivecircncia e ateacute mesmo por natildeo termos

acesso ou oportunidaderdquo

O Coro Terapecircutico eacute portanto uma nova atividade que se propotildee baseada num conceito

novo de coro Daacute ao coro - atividade que com o passar dos seacuteculos tem tido funccedilotildees

diferenciadas (artiacutestica educacional empresarial) - uma funccedilatildeo terapecircutica com objetivos

terapecircuticos Envolve uma promissora aacuterea de atuaccedilatildeo profissional para o

musicoterapeuta

Pensando na utilizaccedilatildeo da muacutesica com objetivos terapecircuticos o tema em estudo envolve

um assunto nas uacuteltimas deacutecadas bastante abordado o envelhecimento da populaccedilatildeo

mundial principalmente em nosso paiacutes que segundo declaraccedilotildees da Organizaccedilatildeo

Mundial de Sauacutede teraacute na segunda deacutecada deste milecircnio a sexta populaccedilatildeo mais idosa

do mundo e a maior da Ameacuterica Latina Este dado decorre do aumento na expectativa de

vida pois com os grandes avanccedilos nas aacutereas da sauacutede o ser humano passa a ter cada

vez mais possibilidade de estender sua longevidade

Moreno (1993) citado por Rodrigues (1999 p113) afirma em consonacircncia aos trabalhos

realizados com grupos de idosos que ldquoa criatividade e produtividade crescem com mais

intensidade em grupos baseados em auxiacutelio muacutetuo do que em grupos reunidos por acaso

ou em grupos cujos membros satildeo mutuamente hostis No universo social haacute uma

produtividade autecircnticardquo

Atualmente sabe-se que quanto mais uma pessoa exercita sua mente maiores

possibilidades teraacute de mantecirc-la aacutegil e receptiva portanto ainda suscetiacutevel ao

desenvolvimento

Idosos tocando na SBPC - Goiacircnia 2002

GERONTOLOGIA SOCIAL - UMA AacuteREA EM EXPANSAtildeO

A palavra Gerontologia vem do grego geron que significa ldquovelho velhicerdquo Fraiman (1995

p 26) afirma que ldquoGerontologia eacute uma macrociecircncia que estuda o envelhecimento nos

seus muacuteltiplos aspectos biopsicossociais enfocando tanto os grupos de idades quanto as

fases ou ciclos do desenvolvimento humanordquoEla acredita que esta eacute uma proposiccedilatildeo

bem mais abrangente e integradora pois convergem para a Gerontologia estudiosos de

vaacuterias aacutereas que se inter-relacionam necessariamente

Martins De Saacute (1999 p 225) refere-se agrave criaccedilatildeo da Gerontologia ressaltando

Quando mergulhamos na dimensatildeo histoacuterico-social dessa ciecircncia originaacuteria do iniacutecio do

seacuteculo XX com desenvolvimento crescente no poacutes-guerra verificamos de maneira mais

clara sua finalidade voltada para o alcance da longevidade e da qualidade de vida no

periacuteodo denominado de lsquovelhicersquo Essa qualidade eacute traduzida por sauacutede independecircncia

condiccedilotildees de vida do idoso do ponto de vista fiacutesico psicoloacutegico social cultural

Segundo Neri (1995 p16) tambeacutem comentando a origem da gerontologia

na primeira deacutecada do seacuteculo XX dois cientistas propuseram a criaccedilatildeo de disciplinas

voltadas para o estudo do envelhecimento Em 1903 Metchnicoff defendeu a ideacuteia da

necessidade de uma nova disciplina cientiacutefica a gerontologia nome cunhado com base

em gero (velho) e logia (estudo ou conhecimento) Em 1909 o meacutedico Nascher

introduziu na literatura o termo geriatria neologismo cunhado para denotar o estudo cliacutenico

da velhice assim como pediatria significa o estudo cliacutenico da infacircncia

As questotildees bio-psico-sociais tecircm sido pontos de constantes estudos na aacuterea da

gerontologia pois tecircm reflexo direto na vivecircncia de cada ser humano Para Carstensen

(Apud NERI 1995) trecircs teorias explicam a reduccedilatildeo das interaccedilotildees sociais na velhice a

teoria do afastamento a teoria da atividade e a de trocas sociais A primeira sustenta que

a reduccedilatildeo do contato social representa um mecanismo adaptativo por meio do qual a

pessoa dissocia-se da sociedade e a sociedade dissocia-se da pessoa o afastamento

social eacute muacutetuo e adaptativo do qual faz parte o distanciamento emocional A segunda

teoria da atividade contrasta com a primeira pois presume que os idosos desejam manter

contatos sociais mas que satildeo prejudicados pelas barreiras fiacutesicas e sociais impostas pela

idade A teoria das trocas sociais sustenta que os limitados recursos da velhice causam

uma diminuiccedilatildeo na amplitude das relaccedilotildees sociais

Com relaccedilatildeo agraves teorias psicoloacutegicas claacutessicas de estaacutegios Neri (1995) assinala que natildeo

haacute lugar para uma concepccedilatildeo evolutiva sobre a velhice pois estatildeo imbricadas com as

concepccedilotildees tradicionais da gerontologia segundo as quais a velhice eacute sinocircnimo de

doenccedila incapacidade e perdas

Correcirca (1996) evidencia um processo de envelhecimento integrado em que os fatores

bioloacutegicos se somam aos ambientais e aos psicoloacutegicos numa visatildeo biopsicossocial do

envelhecimento

Acredita-se que natildeo haacute apenas uma mas vaacuterias dimensotildees da idade a serem

consideradas por todo indiviacuteduo pois de acordo com a maneira com que cada indiviacuteduo se

situa frente agraves dimensotildees do tempo ele conduziraacute o seu viver Fraiman (1995) comenta a

idade cronoloacutegica a bioloacutegica a social e a existencial

Em concordacircncia com a autora considera-se que a idade cronoloacutegica somente nada nos

revela sobre a existecircncia a personalidade a intelectualidade a produtividade e a energia

vital ldquoA pessoa eacute muito mais do que a simples expressatildeo de suas atuais condiccedilotildees fiacutesicas

e de sauacutede uma vez que a dimensatildeo mental e experiencial tambeacutem agem e se modificam

a cada instanterdquo (FRAIMAN 1995 p 21)

Para Rodrigues (1999 p 22) ldquoUrgem maiores estudos que analisem a vivecircncia da

subjetividade na velhice estimulando um questionamento profundo que se expresse nas

relaccedilotildees entre as pessoas e nos programas governamentaisrdquo

O CANTAR O CORO TERAPEcircUTICO E O ENVELHECIMENTO SAUDAacuteVEL

O ato de cantar contribui para a estruturaccedilatildeo do ser humano colabora na

construccedilatildeo cultural e desenvolve habilidades aprendidas Para cantar a sauacutede e o

equiliacutebrio psicoloacutegico satildeo fundamentais O exerciacutecio do canto eacute a praacutetica da expressatildeo da

memoacuteria e estes entre outros levam agrave espontaneidade Fechando este ciacuterculo de

argumentaccedilotildees vecirc-se que o canto eacute terapecircutico pois ningueacutem canta ao acaso Como o

ser humano usa a voz Por que o faz O que acontece com o ser humano ao utilizar seu

proacuteprio instrumento aparelho fonador

Cantar eacute entre as atividades a serem desenvolvidas no setting musicoteraacutepico

considerada por muitos profissionais como rica fonte para possibilitar o desenvolvimento

das mais diversas habilidades humanas No livro Eacute Preciso Cantar Millecco Filho Brandatildeo

E Millecco (2001) vecircm compartilhar suas importantes experiecircncias na utilizaccedilatildeo de

canccedilotildees em Musicoterapia Afirmam

O canto eacute um elemento estruturante para o ser humano [] O homem vem entatildeo

expressando-se musicalmente atraveacutes da voz nos cantos de trabalho nos cacircnticos

guerreiros nos cantos religiosos ou sacros nos acalantos de matildees ou pais embalando

filhos nas festas nos jogos na crocircnica social de eacutepoca nas oacuteperas associando dramas e

mitos ao canto nas canccedilotildees populares Enfim em suas atividades talvez as mais

significativas o ser humano lanccedila matildeo do cantar (p 109)

Para que o musicoterapeuta trabalhe com a voz com o cantar aleacutem de procurar pesquisar

as significaccedilotildees desta expressatildeo vocal no processo musicoteraacutepico considera-se

imprescindiacutevel que obtenha maiores conhecimentos a respeito deste instrumento natural

do aparelho fonador e do respiratoacuterio para que seja possiacutevel evitar maiores esforccedilos e se

necessaacuterio deveraacute sugerir ao pacientecliente a busca de um outro profissional

especializado seja na fisiologia ou no funcionamento um otorrinolaringologista eou

fonoaudioacutelogo

Brack (2000 p 198) afirma que cantar eacute diferente de falar e comenta ldquoa comeccedilar pelo

ceacuterebro cujas camadas corticais satildeo diferenciadas nas duas funccedilotildees A fala e tudo mais

que eacute automatizado estaacute armazenado em camadas mais profundas do coacutertex cerebral O

que eacute mais elaborado como tocar piano e cantar por exemplo estaacute armazenado nas

camadas mais superficiaisrdquo Coelho (1999 p 11) destaca que ldquoa voz eacute o resultado sonoro

de um instrumento que exige cuidados Antes de tudo uma voz soacute eacute boa se proveacutem de um

organismo sadio[] Tambeacutem a sauacutede e o equiliacutebrio psicoloacutegico satildeo fundamentaisrdquo

Segundo Cerqueira (1996 4) ldquoo corpo e a voz satildeo instrumentos dos seres humanos e

assim como os instrumentos musicais eles precisam ser afinados para transmitir ao mundo

tudo o que tem a expressarrdquo A autora propotildee o termo ldquoafinaccedilatildeo global do serrdquo um trabalho

apoiado em teacutecnicas vocais e corporais como meio de quebrar resistecircncias orgacircnicas e

emocionais para facilitar a entrada e culminar no musicoterapecircutico indo ao encontro das

necessidades objetivas e subjetivas de crescimento do ser humano

Dinville (1993 4) acredita que a voz e a personalidade estatildeo estreitamente relacionadas e

satildeo inseparaacuteveis pois traduzem o ser humano na sua totalidade ldquoEntre o corpo e a voz

existe uma iacutentima relaccedilatildeo Eacute com eles que o cantor exterioriza sua afetividade e

desempenha o papel intermediaacuterio entre o puacuteblico e a obra musicalrdquo

A voz como importante elemento da comunicaccedilatildeo humana e reflexo do estado psiacutequico e

emocional tem sido utilizada no setting musicoteraacutepico em vaacuterias teacutecnicas desenvolvidas

por diversos musicoterapeutas no atendimento a aacutereas de atuaccedilatildeo profissional

diferenciadas Bruscia (2000 68) comentando as possibilidades de auto-expressatildeo no

processo musicoteraacutepico afirma que ao cantarmos ou tocarmos instrumentos ldquoliberamos

nossa energia interna para o mundo externo fazemos nosso corpo soar damos formas a

nossos impulsos vocalizamos o natildeo-diziacutevel ou as ideacuteias natildeo pronunciaacuteveis e destilamos

nossas emoccedilotildees em formas sonoras descritivasrdquo

Apoacutes evidenciarmos a importacircncia do cantar das canccedilotildees e da utilizaccedilatildeo da voz

consideramos ser oportuno discutir as relaccedilotildees entre este importante instrumento de

comunicaccedilatildeo e o papel do tempo ou seja as transformaccedilotildees decorrentes do passar dos

anos

Brack (2000 p 202) afirma que ldquoA voz tambeacutem envelhece poreacutem se a pessoa tratou-a

com atenccedilatildeo a qualidade vocal permaneceraacute por mais tempordquo Dinville (1993 p 121) faz

referecircncias ao aparelho respiratoacuterio e agraves mudanccedilas no aparelho fonador ldquo os esforccedilos

impostos aos oacutergatildeos da respiraccedilatildeo ou da fonaccedilatildeo podem com o passar do tempo ou

bruscamente ocasionar problemas orgacircnicosrdquo

Costa e Silva (1998 p 113) comentam que vaacuterios fatores influenciam no envelhecimento

da voz ldquoHaacute os psicoloacutegicos e neuroloacutegicos como queda de motivaccedilatildeo surgimento de

novos medos e dificuldade de controle neural e endocrinoloacutegicos associados agrave diminuiccedilatildeo

de produccedilatildeo de hormocircnios modificaccedilotildees na qualidade do epiteacutelio de revestimento da

laringe e queda da capacidade pulmonarrdquo Para Behlau e Pontes (1995) o iniacutecio e o grau

da deterioraccedilatildeo dependem particularmente de cada indiviacuteduo de sua histoacuteria de vida

aleacutem de fatores constitucionais raciais hereditaacuterios sociais e ambientais Quando a voz eacute

utilizada na relaccedilatildeo terapecircutica o contato com o paciente se intensifica por gerar maior

proximidade entre ambos

Cabe ressaltar que quando haacute a possibilidade de unir os trecircs tempos - passado presente

e futuro alcanccedila-se a integralizaccedilatildeo do ser Esta uniatildeo pode ser proporcionada propiciada

e facilitada pela muacutesica levando o musicoterapeuta a ver natildeo o ldquoserrdquo que eacute velho mas o

ldquoser que eacuterdquo a sua essecircncia Tem-se aleacutem disso a consciecircncia de que quanto mais uma

pessoa exercita sua mente maiores possibilidades teraacute de mantecirc-la aacutegil e receptiva

portanto ainda suscetiacutevel ao desenvolvimento o que pode ser objetivado pelo profissional

em questatildeo ao trabalhar com o idoso

Em se tratando do cantar em grupo observa-se que haacute um significado muito especial para

a maioria dos idosos pois a possibilidade de reconhecer suas potencialidades faz com que

este ldquocantordquo traga a auto-expressatildeo o auto-conhecimento e a auto-realizaccedilatildeo pontos que

passam a ser fortalecidos pelas relaccedilotildees inter-pessoais estabelecidas no Coro

Terapecircutico

Pode-se enumerar accedilotildees como exerciacutecios vocaacutelicos cantar muacutesicas escolhidas pelo

grupo exerciacutecios para relaxamento e de respiraccedilatildeo jogos de memoacuteria e outras que satildeo

desenvolvidas neste trabalho - Coro Terapecircutico objetivando os seguintes pontos

valorizaccedilatildeo da identidade valorizaccedilatildeo da auto-expressatildeo estiacutemulo ao conhecimento do

corpo (por meio dos exerciacutecios de relaxamento e de respiraccedilatildeo) relaccedilatildeo corpo - voz ndash

emoccedilatildeo melhora das relaccedilotildees intra e inter-pessoais amplificaccedilatildeo da voz revigorizaccedilatildeo

do aparelho fonador e prevenccedilatildeo de problemas de sauacutede mental demecircncias e perdas de

memoacuteria

Quanto agrave postura utilizada de terapeuta humanista observa-se o respeito que se deve ter

ao tempo de cada participante considerando as dimensotildees da idade cronoloacutegica da

bioloacutegica da existencial e as demais As experiecircncias vividas e o modo de ver o mundo

trazem subjetividade e complexidade ao ser humano O seu cantar eacute um reflexo deste todo

existencial Na conduccedilatildeo do grupo a musicoterapeuta propotildee ideacuteias (jogos atividades)

ouve opiniotildees (como se vestir para a apresentaccedilatildeo como subir ao palco o que acharam

do encontroaula do dia) acata ideacuteias (sugestatildeo de repertoacuterio muacutesicas a recordar) e daacute

opiniotildees (comenta por exemplo a importacircncia de cantar em grupo) Musicoterapeuta

(condutora da atividade) e grupo (participantes do Coro) traccedilam objetivos comuns e

planejam momentos futuros a partir da realidade presente Observa-se durante todo o

processo confianccedila e respeito pelo grupo com relaccedilatildeo agrave tomada de decisotildees sobre o

mesmo (por exemplo ao decidir aceitar ou natildeo um convite para apresentaccedilatildeo)

Para Ribeiro (1988 p 17) o ldquoencontro cliente-terapeutardquo seraacute sempre um encontro de

pessoas O terapeuta deve sentir afetiva e emocionalmente o cliente percebendo-o como

um todo integrado ldquoA relaccedilatildeo eacute sempre um encontro de totalidaderdquo

Este encontro esta compreensatildeo no Coro Terapecircutico satildeo viabilizados principalmente

na ldquoescutardquo da musicoterapeutacondutora ao valorizar as diferentes formas de expressatildeo

(o cantar as mensagens os textos de autoria proacutepria fatos do cotidiano queixas piadas

memoacuterias e opiniotildees) trazidas pelos participantes do grupo Apresenta-se a seguir

recortes de entrevistas e depoimentos de idosos transcritos no decorrer de uma pesquisa

fenomenoloacutegica sobre o Coro Terapecircutico

- ldquoMinha voz parece que melhorou melhorou a minha mente tudo eu acho que melhorou

com a Oficina a memoacuteria a dicccedilatildeo melhorou muitordquo (A) ldquoSe natildeo tivesse que vir ficava

em casa quieta Assim vocecirc eacute obrigada a agir se aprontar tomar o carro e seguir natildeo eacuterdquo

(AV) ldquoem casa eu me reservo muito mas aqui me realizordquo ldquoEacute terapia porque aquele eacute

o momento esperado por mim aquele eacute o momento que eu me realizordquo (I) ldquoO coral eacute

uma coisa maravilhosa para a terceira idade pelo menos na minha concepccedilatildeordquo ldquoEacute

maravilhoso e belo cantar parece que nos transportamos para o infinitordquo (A) ldquoTodo o

sentimento que o ser humano carrega em si principalmente noacutes da 3ordf idade que jaacute

passamos por todos os sentimentos e agora descobrimos com a experiecircncia que o mais

valioso na vida eacute realmente o sentimentordquo [] ldquonos conduziu a momentos muito alegres

e por incriacutevel que pareccedila nos fez cantarE acreditamos na nossa possibilidade E

acreditamos em noacutes E transbordamos de alegria ao trazer do passado muacutesicas ateacute

esquecidas mas cheias de poesia e beleza E rejuvenescemosrdquo (H)

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Alguns elementos observados no decorrer do processo terapecircutico com o grupo (Coro

Terapecircutico) foram a socializaccedilatildeo a solidariedade entre os participantes a

respeitabilidade que fortaleceu a uniatildeo do grupo e a sensaccedilatildeo de auto-realizacatildeo

advinda da construccedilatildeo conjunta em torno de um ideal comum a todos que eacute a expressatildeo

atraveacutes do cantar

Acredita-se que as relaccedilotildees sociais que se estabeleceram no grupo satildeo aspectos

relevantes para a subjetividade do ser humano o mundo interno que possui e suas

expressotildees O homem eacute um ser social e como um ser de relaccedilotildees sociais estaacute em

permanente movimento

Segundo Bock Furtado e Teixeira (1999) a Psicologia Social como aacuterea de conhecimento

passa a estudar o psiquismo humano ldquobuscando compreender como se daacute a construccedilatildeo

desse mundo interno a partir das relaccedilotildees sociais vividas pelo homem O mundo objetivo

passa a ser visto natildeo como fator de influecircncia para o desenvolvimento da subjetividade

mas como fator constitutivordquo (p 141)

Este fator constitutivo estaacute relacionado ao ldquocantarrdquo como meio para a auto-expressatildeo e a

auto-realizaccedilatildeo - o que implica no ldquofazerrdquo na ldquoatividaderdquo e na realizaccedilatildeo do homem A

atividade humana eacute a base do conhecimento e do pensamento do homem que constroacutei o

seu mundo interno na medida em que atua e transforma o mundo externo

Outro ponto depreendido das falas dos participantes eacute que as canccedilotildees revelam a

ldquosubjetividadeexistencialidade interna do serrdquo Este se relaciona agrave consciecircncia ao pensar

humano A consciecircncia natildeo se limita ao saber loacutegico incluindo tambeacutem o saber das

emoccedilotildees e sentimentos do homem o saber dos desejos e o saber do inconsciente O

ldquopensarrdquo transpareceu nas canccedilotildees e nos conteuacutedos destas que trouxeram os

sentimentos a subjetividade e o universo afetivo dos participantes

Rodrigues (1999) acredita que eacute fundamental para o idoso utilizar suas memoacuterias suas

ricas lembranccedilas e aprendizados mas que eacute imprescindiacutevel que adicionem novos

conhecimentos que soacute eacute possiacutevel para quem se abre ao eterno aprender

Finalmente observou-se nos depoimentos e entrevistas que a auto-confianccedila do ldquoserrdquo

participante do Coro Terapecircutico faz com que ele tenha expectativas para o futuro

Ressalta-se assim a identidade Bock Furtado e Teixeira (1999) comentam que a

identidade eacute a siacutentese pessoal sobre si mesmo eacute a denominaccedilatildeo dada agraves representaccedilotildees

e sentimentos que o indiviacuteduo desenvolve a respeito de si proacuteprio a partir do conjunto de

suas vivecircncias

Objetivou-se com o Coro Terapecircutico para a Terceira Idade proporcionar aos participantes

do grupo a auto-realizaccedilatildeo a motivaccedilatildeo para o viver a satisfaccedilatildeoprazer a prevenccedilatildeo da

Sauacutede Mental a melhoria da qualidade de vida melhorar as relaccedilotildees intra e inter-pessoais

e a interaccedilatildeo social estimular o resgate de memoacuteria e valorizar a dignidade de toda e

qualquer lembranccedila a percepccedilatildeo do outro e do universo sonoro do outro e a

compreensatildeo da subjetividade da existencialidade interna de cada um

Cabe ressaltar que o novo conceito de Coro Terapecircutico consiste num grupo conduzido

por um musicoterapeuta com objetivos terapecircuticos em que a voz eacute utilizada como

recurso para a comunicaccedilatildeo expressatildeo satisfaccedilatildeo e interaccedilatildeo social Os participantes

atraveacutes do cantar veiculam sua subjetividade externando sua existencialidade interna

Acredita-se que eacute possiacutevel proporcionar ao idoso uma sensaccedilatildeo diferente daquela em que

eacute somente um sobrevivente para ser tambeacutem um agente capaz de inuacutemeras

accedilotildeesrelaccedilotildees sociais e emocionais A construccedilatildeo do ser eacute um processo contiacutenuo que se

daacute em todas as etapas da vida Estar consciente deste processo desta continuidade pode

ser um grande diferencial para a qualidade de vida de todo e qualquer indiviacuteduo

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

AUGRAS M O ser da compreensatildeo - fenomenologia da situaccedilatildeo de psicodiagnoacutestico

4ed Rio de Janeiro Petroacutepolis1994

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Conservatoacuterio Brasileiro de Musicoterapia Rio de Janeiro 1996 70 p

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DINVILLE C A teacutecnica da voz cantada 2ed Traduccedilatildeo por Marjorie B C Hasson Rio de

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Dumaraacute UnATI UERJ 1997 192 p

ZANINI C R de O O cantar e a terceira idade Nova Geraccedilatildeo Goiacircnia Ano III n12 p3

julho 2000

___________________ Coro Terapecircutico ndash um olhar do musicoterapeuta para o idoso no

novo milecircnio Dissertaccedilatildeo apresentada ao Mestrado em Muacutesica Universidade Federal de

Goiaacutes Goiacircnia 2002 142p

  • INTRODUCcedilAtildeO

Idosos tocando na SBPC - Goiacircnia 2002

GERONTOLOGIA SOCIAL - UMA AacuteREA EM EXPANSAtildeO

A palavra Gerontologia vem do grego geron que significa ldquovelho velhicerdquo Fraiman (1995

p 26) afirma que ldquoGerontologia eacute uma macrociecircncia que estuda o envelhecimento nos

seus muacuteltiplos aspectos biopsicossociais enfocando tanto os grupos de idades quanto as

fases ou ciclos do desenvolvimento humanordquoEla acredita que esta eacute uma proposiccedilatildeo

bem mais abrangente e integradora pois convergem para a Gerontologia estudiosos de

vaacuterias aacutereas que se inter-relacionam necessariamente

Martins De Saacute (1999 p 225) refere-se agrave criaccedilatildeo da Gerontologia ressaltando

Quando mergulhamos na dimensatildeo histoacuterico-social dessa ciecircncia originaacuteria do iniacutecio do

seacuteculo XX com desenvolvimento crescente no poacutes-guerra verificamos de maneira mais

clara sua finalidade voltada para o alcance da longevidade e da qualidade de vida no

periacuteodo denominado de lsquovelhicersquo Essa qualidade eacute traduzida por sauacutede independecircncia

condiccedilotildees de vida do idoso do ponto de vista fiacutesico psicoloacutegico social cultural

Segundo Neri (1995 p16) tambeacutem comentando a origem da gerontologia

na primeira deacutecada do seacuteculo XX dois cientistas propuseram a criaccedilatildeo de disciplinas

voltadas para o estudo do envelhecimento Em 1903 Metchnicoff defendeu a ideacuteia da

necessidade de uma nova disciplina cientiacutefica a gerontologia nome cunhado com base

em gero (velho) e logia (estudo ou conhecimento) Em 1909 o meacutedico Nascher

introduziu na literatura o termo geriatria neologismo cunhado para denotar o estudo cliacutenico

da velhice assim como pediatria significa o estudo cliacutenico da infacircncia

As questotildees bio-psico-sociais tecircm sido pontos de constantes estudos na aacuterea da

gerontologia pois tecircm reflexo direto na vivecircncia de cada ser humano Para Carstensen

(Apud NERI 1995) trecircs teorias explicam a reduccedilatildeo das interaccedilotildees sociais na velhice a

teoria do afastamento a teoria da atividade e a de trocas sociais A primeira sustenta que

a reduccedilatildeo do contato social representa um mecanismo adaptativo por meio do qual a

pessoa dissocia-se da sociedade e a sociedade dissocia-se da pessoa o afastamento

social eacute muacutetuo e adaptativo do qual faz parte o distanciamento emocional A segunda

teoria da atividade contrasta com a primeira pois presume que os idosos desejam manter

contatos sociais mas que satildeo prejudicados pelas barreiras fiacutesicas e sociais impostas pela

idade A teoria das trocas sociais sustenta que os limitados recursos da velhice causam

uma diminuiccedilatildeo na amplitude das relaccedilotildees sociais

Com relaccedilatildeo agraves teorias psicoloacutegicas claacutessicas de estaacutegios Neri (1995) assinala que natildeo

haacute lugar para uma concepccedilatildeo evolutiva sobre a velhice pois estatildeo imbricadas com as

concepccedilotildees tradicionais da gerontologia segundo as quais a velhice eacute sinocircnimo de

doenccedila incapacidade e perdas

Correcirca (1996) evidencia um processo de envelhecimento integrado em que os fatores

bioloacutegicos se somam aos ambientais e aos psicoloacutegicos numa visatildeo biopsicossocial do

envelhecimento

Acredita-se que natildeo haacute apenas uma mas vaacuterias dimensotildees da idade a serem

consideradas por todo indiviacuteduo pois de acordo com a maneira com que cada indiviacuteduo se

situa frente agraves dimensotildees do tempo ele conduziraacute o seu viver Fraiman (1995) comenta a

idade cronoloacutegica a bioloacutegica a social e a existencial

Em concordacircncia com a autora considera-se que a idade cronoloacutegica somente nada nos

revela sobre a existecircncia a personalidade a intelectualidade a produtividade e a energia

vital ldquoA pessoa eacute muito mais do que a simples expressatildeo de suas atuais condiccedilotildees fiacutesicas

e de sauacutede uma vez que a dimensatildeo mental e experiencial tambeacutem agem e se modificam

a cada instanterdquo (FRAIMAN 1995 p 21)

Para Rodrigues (1999 p 22) ldquoUrgem maiores estudos que analisem a vivecircncia da

subjetividade na velhice estimulando um questionamento profundo que se expresse nas

relaccedilotildees entre as pessoas e nos programas governamentaisrdquo

O CANTAR O CORO TERAPEcircUTICO E O ENVELHECIMENTO SAUDAacuteVEL

O ato de cantar contribui para a estruturaccedilatildeo do ser humano colabora na

construccedilatildeo cultural e desenvolve habilidades aprendidas Para cantar a sauacutede e o

equiliacutebrio psicoloacutegico satildeo fundamentais O exerciacutecio do canto eacute a praacutetica da expressatildeo da

memoacuteria e estes entre outros levam agrave espontaneidade Fechando este ciacuterculo de

argumentaccedilotildees vecirc-se que o canto eacute terapecircutico pois ningueacutem canta ao acaso Como o

ser humano usa a voz Por que o faz O que acontece com o ser humano ao utilizar seu

proacuteprio instrumento aparelho fonador

Cantar eacute entre as atividades a serem desenvolvidas no setting musicoteraacutepico

considerada por muitos profissionais como rica fonte para possibilitar o desenvolvimento

das mais diversas habilidades humanas No livro Eacute Preciso Cantar Millecco Filho Brandatildeo

E Millecco (2001) vecircm compartilhar suas importantes experiecircncias na utilizaccedilatildeo de

canccedilotildees em Musicoterapia Afirmam

O canto eacute um elemento estruturante para o ser humano [] O homem vem entatildeo

expressando-se musicalmente atraveacutes da voz nos cantos de trabalho nos cacircnticos

guerreiros nos cantos religiosos ou sacros nos acalantos de matildees ou pais embalando

filhos nas festas nos jogos na crocircnica social de eacutepoca nas oacuteperas associando dramas e

mitos ao canto nas canccedilotildees populares Enfim em suas atividades talvez as mais

significativas o ser humano lanccedila matildeo do cantar (p 109)

Para que o musicoterapeuta trabalhe com a voz com o cantar aleacutem de procurar pesquisar

as significaccedilotildees desta expressatildeo vocal no processo musicoteraacutepico considera-se

imprescindiacutevel que obtenha maiores conhecimentos a respeito deste instrumento natural

do aparelho fonador e do respiratoacuterio para que seja possiacutevel evitar maiores esforccedilos e se

necessaacuterio deveraacute sugerir ao pacientecliente a busca de um outro profissional

especializado seja na fisiologia ou no funcionamento um otorrinolaringologista eou

fonoaudioacutelogo

Brack (2000 p 198) afirma que cantar eacute diferente de falar e comenta ldquoa comeccedilar pelo

ceacuterebro cujas camadas corticais satildeo diferenciadas nas duas funccedilotildees A fala e tudo mais

que eacute automatizado estaacute armazenado em camadas mais profundas do coacutertex cerebral O

que eacute mais elaborado como tocar piano e cantar por exemplo estaacute armazenado nas

camadas mais superficiaisrdquo Coelho (1999 p 11) destaca que ldquoa voz eacute o resultado sonoro

de um instrumento que exige cuidados Antes de tudo uma voz soacute eacute boa se proveacutem de um

organismo sadio[] Tambeacutem a sauacutede e o equiliacutebrio psicoloacutegico satildeo fundamentaisrdquo

Segundo Cerqueira (1996 4) ldquoo corpo e a voz satildeo instrumentos dos seres humanos e

assim como os instrumentos musicais eles precisam ser afinados para transmitir ao mundo

tudo o que tem a expressarrdquo A autora propotildee o termo ldquoafinaccedilatildeo global do serrdquo um trabalho

apoiado em teacutecnicas vocais e corporais como meio de quebrar resistecircncias orgacircnicas e

emocionais para facilitar a entrada e culminar no musicoterapecircutico indo ao encontro das

necessidades objetivas e subjetivas de crescimento do ser humano

Dinville (1993 4) acredita que a voz e a personalidade estatildeo estreitamente relacionadas e

satildeo inseparaacuteveis pois traduzem o ser humano na sua totalidade ldquoEntre o corpo e a voz

existe uma iacutentima relaccedilatildeo Eacute com eles que o cantor exterioriza sua afetividade e

desempenha o papel intermediaacuterio entre o puacuteblico e a obra musicalrdquo

A voz como importante elemento da comunicaccedilatildeo humana e reflexo do estado psiacutequico e

emocional tem sido utilizada no setting musicoteraacutepico em vaacuterias teacutecnicas desenvolvidas

por diversos musicoterapeutas no atendimento a aacutereas de atuaccedilatildeo profissional

diferenciadas Bruscia (2000 68) comentando as possibilidades de auto-expressatildeo no

processo musicoteraacutepico afirma que ao cantarmos ou tocarmos instrumentos ldquoliberamos

nossa energia interna para o mundo externo fazemos nosso corpo soar damos formas a

nossos impulsos vocalizamos o natildeo-diziacutevel ou as ideacuteias natildeo pronunciaacuteveis e destilamos

nossas emoccedilotildees em formas sonoras descritivasrdquo

Apoacutes evidenciarmos a importacircncia do cantar das canccedilotildees e da utilizaccedilatildeo da voz

consideramos ser oportuno discutir as relaccedilotildees entre este importante instrumento de

comunicaccedilatildeo e o papel do tempo ou seja as transformaccedilotildees decorrentes do passar dos

anos

Brack (2000 p 202) afirma que ldquoA voz tambeacutem envelhece poreacutem se a pessoa tratou-a

com atenccedilatildeo a qualidade vocal permaneceraacute por mais tempordquo Dinville (1993 p 121) faz

referecircncias ao aparelho respiratoacuterio e agraves mudanccedilas no aparelho fonador ldquo os esforccedilos

impostos aos oacutergatildeos da respiraccedilatildeo ou da fonaccedilatildeo podem com o passar do tempo ou

bruscamente ocasionar problemas orgacircnicosrdquo

Costa e Silva (1998 p 113) comentam que vaacuterios fatores influenciam no envelhecimento

da voz ldquoHaacute os psicoloacutegicos e neuroloacutegicos como queda de motivaccedilatildeo surgimento de

novos medos e dificuldade de controle neural e endocrinoloacutegicos associados agrave diminuiccedilatildeo

de produccedilatildeo de hormocircnios modificaccedilotildees na qualidade do epiteacutelio de revestimento da

laringe e queda da capacidade pulmonarrdquo Para Behlau e Pontes (1995) o iniacutecio e o grau

da deterioraccedilatildeo dependem particularmente de cada indiviacuteduo de sua histoacuteria de vida

aleacutem de fatores constitucionais raciais hereditaacuterios sociais e ambientais Quando a voz eacute

utilizada na relaccedilatildeo terapecircutica o contato com o paciente se intensifica por gerar maior

proximidade entre ambos

Cabe ressaltar que quando haacute a possibilidade de unir os trecircs tempos - passado presente

e futuro alcanccedila-se a integralizaccedilatildeo do ser Esta uniatildeo pode ser proporcionada propiciada

e facilitada pela muacutesica levando o musicoterapeuta a ver natildeo o ldquoserrdquo que eacute velho mas o

ldquoser que eacuterdquo a sua essecircncia Tem-se aleacutem disso a consciecircncia de que quanto mais uma

pessoa exercita sua mente maiores possibilidades teraacute de mantecirc-la aacutegil e receptiva

portanto ainda suscetiacutevel ao desenvolvimento o que pode ser objetivado pelo profissional

em questatildeo ao trabalhar com o idoso

Em se tratando do cantar em grupo observa-se que haacute um significado muito especial para

a maioria dos idosos pois a possibilidade de reconhecer suas potencialidades faz com que

este ldquocantordquo traga a auto-expressatildeo o auto-conhecimento e a auto-realizaccedilatildeo pontos que

passam a ser fortalecidos pelas relaccedilotildees inter-pessoais estabelecidas no Coro

Terapecircutico

Pode-se enumerar accedilotildees como exerciacutecios vocaacutelicos cantar muacutesicas escolhidas pelo

grupo exerciacutecios para relaxamento e de respiraccedilatildeo jogos de memoacuteria e outras que satildeo

desenvolvidas neste trabalho - Coro Terapecircutico objetivando os seguintes pontos

valorizaccedilatildeo da identidade valorizaccedilatildeo da auto-expressatildeo estiacutemulo ao conhecimento do

corpo (por meio dos exerciacutecios de relaxamento e de respiraccedilatildeo) relaccedilatildeo corpo - voz ndash

emoccedilatildeo melhora das relaccedilotildees intra e inter-pessoais amplificaccedilatildeo da voz revigorizaccedilatildeo

do aparelho fonador e prevenccedilatildeo de problemas de sauacutede mental demecircncias e perdas de

memoacuteria

Quanto agrave postura utilizada de terapeuta humanista observa-se o respeito que se deve ter

ao tempo de cada participante considerando as dimensotildees da idade cronoloacutegica da

bioloacutegica da existencial e as demais As experiecircncias vividas e o modo de ver o mundo

trazem subjetividade e complexidade ao ser humano O seu cantar eacute um reflexo deste todo

existencial Na conduccedilatildeo do grupo a musicoterapeuta propotildee ideacuteias (jogos atividades)

ouve opiniotildees (como se vestir para a apresentaccedilatildeo como subir ao palco o que acharam

do encontroaula do dia) acata ideacuteias (sugestatildeo de repertoacuterio muacutesicas a recordar) e daacute

opiniotildees (comenta por exemplo a importacircncia de cantar em grupo) Musicoterapeuta

(condutora da atividade) e grupo (participantes do Coro) traccedilam objetivos comuns e

planejam momentos futuros a partir da realidade presente Observa-se durante todo o

processo confianccedila e respeito pelo grupo com relaccedilatildeo agrave tomada de decisotildees sobre o

mesmo (por exemplo ao decidir aceitar ou natildeo um convite para apresentaccedilatildeo)

Para Ribeiro (1988 p 17) o ldquoencontro cliente-terapeutardquo seraacute sempre um encontro de

pessoas O terapeuta deve sentir afetiva e emocionalmente o cliente percebendo-o como

um todo integrado ldquoA relaccedilatildeo eacute sempre um encontro de totalidaderdquo

Este encontro esta compreensatildeo no Coro Terapecircutico satildeo viabilizados principalmente

na ldquoescutardquo da musicoterapeutacondutora ao valorizar as diferentes formas de expressatildeo

(o cantar as mensagens os textos de autoria proacutepria fatos do cotidiano queixas piadas

memoacuterias e opiniotildees) trazidas pelos participantes do grupo Apresenta-se a seguir

recortes de entrevistas e depoimentos de idosos transcritos no decorrer de uma pesquisa

fenomenoloacutegica sobre o Coro Terapecircutico

- ldquoMinha voz parece que melhorou melhorou a minha mente tudo eu acho que melhorou

com a Oficina a memoacuteria a dicccedilatildeo melhorou muitordquo (A) ldquoSe natildeo tivesse que vir ficava

em casa quieta Assim vocecirc eacute obrigada a agir se aprontar tomar o carro e seguir natildeo eacuterdquo

(AV) ldquoem casa eu me reservo muito mas aqui me realizordquo ldquoEacute terapia porque aquele eacute

o momento esperado por mim aquele eacute o momento que eu me realizordquo (I) ldquoO coral eacute

uma coisa maravilhosa para a terceira idade pelo menos na minha concepccedilatildeordquo ldquoEacute

maravilhoso e belo cantar parece que nos transportamos para o infinitordquo (A) ldquoTodo o

sentimento que o ser humano carrega em si principalmente noacutes da 3ordf idade que jaacute

passamos por todos os sentimentos e agora descobrimos com a experiecircncia que o mais

valioso na vida eacute realmente o sentimentordquo [] ldquonos conduziu a momentos muito alegres

e por incriacutevel que pareccedila nos fez cantarE acreditamos na nossa possibilidade E

acreditamos em noacutes E transbordamos de alegria ao trazer do passado muacutesicas ateacute

esquecidas mas cheias de poesia e beleza E rejuvenescemosrdquo (H)

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Alguns elementos observados no decorrer do processo terapecircutico com o grupo (Coro

Terapecircutico) foram a socializaccedilatildeo a solidariedade entre os participantes a

respeitabilidade que fortaleceu a uniatildeo do grupo e a sensaccedilatildeo de auto-realizacatildeo

advinda da construccedilatildeo conjunta em torno de um ideal comum a todos que eacute a expressatildeo

atraveacutes do cantar

Acredita-se que as relaccedilotildees sociais que se estabeleceram no grupo satildeo aspectos

relevantes para a subjetividade do ser humano o mundo interno que possui e suas

expressotildees O homem eacute um ser social e como um ser de relaccedilotildees sociais estaacute em

permanente movimento

Segundo Bock Furtado e Teixeira (1999) a Psicologia Social como aacuterea de conhecimento

passa a estudar o psiquismo humano ldquobuscando compreender como se daacute a construccedilatildeo

desse mundo interno a partir das relaccedilotildees sociais vividas pelo homem O mundo objetivo

passa a ser visto natildeo como fator de influecircncia para o desenvolvimento da subjetividade

mas como fator constitutivordquo (p 141)

Este fator constitutivo estaacute relacionado ao ldquocantarrdquo como meio para a auto-expressatildeo e a

auto-realizaccedilatildeo - o que implica no ldquofazerrdquo na ldquoatividaderdquo e na realizaccedilatildeo do homem A

atividade humana eacute a base do conhecimento e do pensamento do homem que constroacutei o

seu mundo interno na medida em que atua e transforma o mundo externo

Outro ponto depreendido das falas dos participantes eacute que as canccedilotildees revelam a

ldquosubjetividadeexistencialidade interna do serrdquo Este se relaciona agrave consciecircncia ao pensar

humano A consciecircncia natildeo se limita ao saber loacutegico incluindo tambeacutem o saber das

emoccedilotildees e sentimentos do homem o saber dos desejos e o saber do inconsciente O

ldquopensarrdquo transpareceu nas canccedilotildees e nos conteuacutedos destas que trouxeram os

sentimentos a subjetividade e o universo afetivo dos participantes

Rodrigues (1999) acredita que eacute fundamental para o idoso utilizar suas memoacuterias suas

ricas lembranccedilas e aprendizados mas que eacute imprescindiacutevel que adicionem novos

conhecimentos que soacute eacute possiacutevel para quem se abre ao eterno aprender

Finalmente observou-se nos depoimentos e entrevistas que a auto-confianccedila do ldquoserrdquo

participante do Coro Terapecircutico faz com que ele tenha expectativas para o futuro

Ressalta-se assim a identidade Bock Furtado e Teixeira (1999) comentam que a

identidade eacute a siacutentese pessoal sobre si mesmo eacute a denominaccedilatildeo dada agraves representaccedilotildees

e sentimentos que o indiviacuteduo desenvolve a respeito de si proacuteprio a partir do conjunto de

suas vivecircncias

Objetivou-se com o Coro Terapecircutico para a Terceira Idade proporcionar aos participantes

do grupo a auto-realizaccedilatildeo a motivaccedilatildeo para o viver a satisfaccedilatildeoprazer a prevenccedilatildeo da

Sauacutede Mental a melhoria da qualidade de vida melhorar as relaccedilotildees intra e inter-pessoais

e a interaccedilatildeo social estimular o resgate de memoacuteria e valorizar a dignidade de toda e

qualquer lembranccedila a percepccedilatildeo do outro e do universo sonoro do outro e a

compreensatildeo da subjetividade da existencialidade interna de cada um

Cabe ressaltar que o novo conceito de Coro Terapecircutico consiste num grupo conduzido

por um musicoterapeuta com objetivos terapecircuticos em que a voz eacute utilizada como

recurso para a comunicaccedilatildeo expressatildeo satisfaccedilatildeo e interaccedilatildeo social Os participantes

atraveacutes do cantar veiculam sua subjetividade externando sua existencialidade interna

Acredita-se que eacute possiacutevel proporcionar ao idoso uma sensaccedilatildeo diferente daquela em que

eacute somente um sobrevivente para ser tambeacutem um agente capaz de inuacutemeras

accedilotildeesrelaccedilotildees sociais e emocionais A construccedilatildeo do ser eacute um processo contiacutenuo que se

daacute em todas as etapas da vida Estar consciente deste processo desta continuidade pode

ser um grande diferencial para a qualidade de vida de todo e qualquer indiviacuteduo

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

AUGRAS M O ser da compreensatildeo - fenomenologia da situaccedilatildeo de psicodiagnoacutestico

4ed Rio de Janeiro Petroacutepolis1994

BEHLAU M PONTES P Avaliaccedilatildeo e tratamento das disfonias Satildeo Paulo Ed Lovise

1995 312 p

BOCK A B FURTADO O TEIXEIRA M T Psicologias - uma introduccedilatildeo ao estudo de

psicologia 13ed Satildeo Paulo Saraiva 1999 368 p

BRACK R M O cantor e sua preciosa voz In MARTINEZ E et al Regecircncia coral -

princiacutepios baacutesicos Curitiba Dom Bosco 2000 p197-206

BRUSCIA K E Definindo Musicoterapia Traduccedilatildeo por Mariza V F Conde 2edRio de

Janeiro Enelivros 2000

CERQUEIRA C M Afinaccedilatildeo global - corpo voz e emoccedilatildeo ndash uma proposta

musicoteraacutepica Monografia apresentada ao Curso de Especializaccedilatildeo em Musicoterapia

Conservatoacuterio Brasileiro de Musicoterapia Rio de Janeiro 1996 70 p

COELHO H de S NW Teacutecnica vocal para coros 4ed Satildeo Leopoldo RS Sinodal 1999

76 p

CORREcircA A C de O Envelhecimento depressatildeo e doenccedila de Alzheimer Belo Horizonte

Health 1996 227 p

COSTA H O SILVA M de A Voz cantada - evoluccedilatildeo avaliaccedilatildeo e terapia

fonoaudioloacutegica Satildeo Paulo Ed Lovise 1998 181 p

DINVILLE C A teacutecnica da voz cantada 2ed Traduccedilatildeo por Marjorie B C Hasson Rio de

Janeiro Enelivros 1993 160 p

FRAIMAN A P Coisas da idade Satildeo Paulo Gente 1995 143 p

MARTINS DE SAacute J L Gerontologia e interdisciplinaridade fundamentos epistemoloacutegicos

In NERI A L DEBERT G (orgs) Velhice e sociedade Campinas SP Papirus 1999 p

223-232

MILLECCO FILHO L A BRANDAtildeO Mordf R MILLECCO R P Eacute preciso cantar Rio de

Janeiro Enelivros 2001 136 p

NERI A(org) Psicologia do envelhecimento Campinas SP Papirus 1995 276p

RIBEIRO J P Teorias e teacutecnicas psicoteraacutepicas 2ed Petroacutepolis Vozes 1988

RODRIGUES A de M Construindo o envelhecimento 2ed Pelotas Educat 1999 127p

VERAS R (org) Terceira idade desafios para o terceiro milecircnio Rio de Janeiro Relume-

Dumaraacute UnATI UERJ 1997 192 p

ZANINI C R de O O cantar e a terceira idade Nova Geraccedilatildeo Goiacircnia Ano III n12 p3

julho 2000

___________________ Coro Terapecircutico ndash um olhar do musicoterapeuta para o idoso no

novo milecircnio Dissertaccedilatildeo apresentada ao Mestrado em Muacutesica Universidade Federal de

Goiaacutes Goiacircnia 2002 142p

  • INTRODUCcedilAtildeO

em gero (velho) e logia (estudo ou conhecimento) Em 1909 o meacutedico Nascher

introduziu na literatura o termo geriatria neologismo cunhado para denotar o estudo cliacutenico

da velhice assim como pediatria significa o estudo cliacutenico da infacircncia

As questotildees bio-psico-sociais tecircm sido pontos de constantes estudos na aacuterea da

gerontologia pois tecircm reflexo direto na vivecircncia de cada ser humano Para Carstensen

(Apud NERI 1995) trecircs teorias explicam a reduccedilatildeo das interaccedilotildees sociais na velhice a

teoria do afastamento a teoria da atividade e a de trocas sociais A primeira sustenta que

a reduccedilatildeo do contato social representa um mecanismo adaptativo por meio do qual a

pessoa dissocia-se da sociedade e a sociedade dissocia-se da pessoa o afastamento

social eacute muacutetuo e adaptativo do qual faz parte o distanciamento emocional A segunda

teoria da atividade contrasta com a primeira pois presume que os idosos desejam manter

contatos sociais mas que satildeo prejudicados pelas barreiras fiacutesicas e sociais impostas pela

idade A teoria das trocas sociais sustenta que os limitados recursos da velhice causam

uma diminuiccedilatildeo na amplitude das relaccedilotildees sociais

Com relaccedilatildeo agraves teorias psicoloacutegicas claacutessicas de estaacutegios Neri (1995) assinala que natildeo

haacute lugar para uma concepccedilatildeo evolutiva sobre a velhice pois estatildeo imbricadas com as

concepccedilotildees tradicionais da gerontologia segundo as quais a velhice eacute sinocircnimo de

doenccedila incapacidade e perdas

Correcirca (1996) evidencia um processo de envelhecimento integrado em que os fatores

bioloacutegicos se somam aos ambientais e aos psicoloacutegicos numa visatildeo biopsicossocial do

envelhecimento

Acredita-se que natildeo haacute apenas uma mas vaacuterias dimensotildees da idade a serem

consideradas por todo indiviacuteduo pois de acordo com a maneira com que cada indiviacuteduo se

situa frente agraves dimensotildees do tempo ele conduziraacute o seu viver Fraiman (1995) comenta a

idade cronoloacutegica a bioloacutegica a social e a existencial

Em concordacircncia com a autora considera-se que a idade cronoloacutegica somente nada nos

revela sobre a existecircncia a personalidade a intelectualidade a produtividade e a energia

vital ldquoA pessoa eacute muito mais do que a simples expressatildeo de suas atuais condiccedilotildees fiacutesicas

e de sauacutede uma vez que a dimensatildeo mental e experiencial tambeacutem agem e se modificam

a cada instanterdquo (FRAIMAN 1995 p 21)

Para Rodrigues (1999 p 22) ldquoUrgem maiores estudos que analisem a vivecircncia da

subjetividade na velhice estimulando um questionamento profundo que se expresse nas

relaccedilotildees entre as pessoas e nos programas governamentaisrdquo

O CANTAR O CORO TERAPEcircUTICO E O ENVELHECIMENTO SAUDAacuteVEL

O ato de cantar contribui para a estruturaccedilatildeo do ser humano colabora na

construccedilatildeo cultural e desenvolve habilidades aprendidas Para cantar a sauacutede e o

equiliacutebrio psicoloacutegico satildeo fundamentais O exerciacutecio do canto eacute a praacutetica da expressatildeo da

memoacuteria e estes entre outros levam agrave espontaneidade Fechando este ciacuterculo de

argumentaccedilotildees vecirc-se que o canto eacute terapecircutico pois ningueacutem canta ao acaso Como o

ser humano usa a voz Por que o faz O que acontece com o ser humano ao utilizar seu

proacuteprio instrumento aparelho fonador

Cantar eacute entre as atividades a serem desenvolvidas no setting musicoteraacutepico

considerada por muitos profissionais como rica fonte para possibilitar o desenvolvimento

das mais diversas habilidades humanas No livro Eacute Preciso Cantar Millecco Filho Brandatildeo

E Millecco (2001) vecircm compartilhar suas importantes experiecircncias na utilizaccedilatildeo de

canccedilotildees em Musicoterapia Afirmam

O canto eacute um elemento estruturante para o ser humano [] O homem vem entatildeo

expressando-se musicalmente atraveacutes da voz nos cantos de trabalho nos cacircnticos

guerreiros nos cantos religiosos ou sacros nos acalantos de matildees ou pais embalando

filhos nas festas nos jogos na crocircnica social de eacutepoca nas oacuteperas associando dramas e

mitos ao canto nas canccedilotildees populares Enfim em suas atividades talvez as mais

significativas o ser humano lanccedila matildeo do cantar (p 109)

Para que o musicoterapeuta trabalhe com a voz com o cantar aleacutem de procurar pesquisar

as significaccedilotildees desta expressatildeo vocal no processo musicoteraacutepico considera-se

imprescindiacutevel que obtenha maiores conhecimentos a respeito deste instrumento natural

do aparelho fonador e do respiratoacuterio para que seja possiacutevel evitar maiores esforccedilos e se

necessaacuterio deveraacute sugerir ao pacientecliente a busca de um outro profissional

especializado seja na fisiologia ou no funcionamento um otorrinolaringologista eou

fonoaudioacutelogo

Brack (2000 p 198) afirma que cantar eacute diferente de falar e comenta ldquoa comeccedilar pelo

ceacuterebro cujas camadas corticais satildeo diferenciadas nas duas funccedilotildees A fala e tudo mais

que eacute automatizado estaacute armazenado em camadas mais profundas do coacutertex cerebral O

que eacute mais elaborado como tocar piano e cantar por exemplo estaacute armazenado nas

camadas mais superficiaisrdquo Coelho (1999 p 11) destaca que ldquoa voz eacute o resultado sonoro

de um instrumento que exige cuidados Antes de tudo uma voz soacute eacute boa se proveacutem de um

organismo sadio[] Tambeacutem a sauacutede e o equiliacutebrio psicoloacutegico satildeo fundamentaisrdquo

Segundo Cerqueira (1996 4) ldquoo corpo e a voz satildeo instrumentos dos seres humanos e

assim como os instrumentos musicais eles precisam ser afinados para transmitir ao mundo

tudo o que tem a expressarrdquo A autora propotildee o termo ldquoafinaccedilatildeo global do serrdquo um trabalho

apoiado em teacutecnicas vocais e corporais como meio de quebrar resistecircncias orgacircnicas e

emocionais para facilitar a entrada e culminar no musicoterapecircutico indo ao encontro das

necessidades objetivas e subjetivas de crescimento do ser humano

Dinville (1993 4) acredita que a voz e a personalidade estatildeo estreitamente relacionadas e

satildeo inseparaacuteveis pois traduzem o ser humano na sua totalidade ldquoEntre o corpo e a voz

existe uma iacutentima relaccedilatildeo Eacute com eles que o cantor exterioriza sua afetividade e

desempenha o papel intermediaacuterio entre o puacuteblico e a obra musicalrdquo

A voz como importante elemento da comunicaccedilatildeo humana e reflexo do estado psiacutequico e

emocional tem sido utilizada no setting musicoteraacutepico em vaacuterias teacutecnicas desenvolvidas

por diversos musicoterapeutas no atendimento a aacutereas de atuaccedilatildeo profissional

diferenciadas Bruscia (2000 68) comentando as possibilidades de auto-expressatildeo no

processo musicoteraacutepico afirma que ao cantarmos ou tocarmos instrumentos ldquoliberamos

nossa energia interna para o mundo externo fazemos nosso corpo soar damos formas a

nossos impulsos vocalizamos o natildeo-diziacutevel ou as ideacuteias natildeo pronunciaacuteveis e destilamos

nossas emoccedilotildees em formas sonoras descritivasrdquo

Apoacutes evidenciarmos a importacircncia do cantar das canccedilotildees e da utilizaccedilatildeo da voz

consideramos ser oportuno discutir as relaccedilotildees entre este importante instrumento de

comunicaccedilatildeo e o papel do tempo ou seja as transformaccedilotildees decorrentes do passar dos

anos

Brack (2000 p 202) afirma que ldquoA voz tambeacutem envelhece poreacutem se a pessoa tratou-a

com atenccedilatildeo a qualidade vocal permaneceraacute por mais tempordquo Dinville (1993 p 121) faz

referecircncias ao aparelho respiratoacuterio e agraves mudanccedilas no aparelho fonador ldquo os esforccedilos

impostos aos oacutergatildeos da respiraccedilatildeo ou da fonaccedilatildeo podem com o passar do tempo ou

bruscamente ocasionar problemas orgacircnicosrdquo

Costa e Silva (1998 p 113) comentam que vaacuterios fatores influenciam no envelhecimento

da voz ldquoHaacute os psicoloacutegicos e neuroloacutegicos como queda de motivaccedilatildeo surgimento de

novos medos e dificuldade de controle neural e endocrinoloacutegicos associados agrave diminuiccedilatildeo

de produccedilatildeo de hormocircnios modificaccedilotildees na qualidade do epiteacutelio de revestimento da

laringe e queda da capacidade pulmonarrdquo Para Behlau e Pontes (1995) o iniacutecio e o grau

da deterioraccedilatildeo dependem particularmente de cada indiviacuteduo de sua histoacuteria de vida

aleacutem de fatores constitucionais raciais hereditaacuterios sociais e ambientais Quando a voz eacute

utilizada na relaccedilatildeo terapecircutica o contato com o paciente se intensifica por gerar maior

proximidade entre ambos

Cabe ressaltar que quando haacute a possibilidade de unir os trecircs tempos - passado presente

e futuro alcanccedila-se a integralizaccedilatildeo do ser Esta uniatildeo pode ser proporcionada propiciada

e facilitada pela muacutesica levando o musicoterapeuta a ver natildeo o ldquoserrdquo que eacute velho mas o

ldquoser que eacuterdquo a sua essecircncia Tem-se aleacutem disso a consciecircncia de que quanto mais uma

pessoa exercita sua mente maiores possibilidades teraacute de mantecirc-la aacutegil e receptiva

portanto ainda suscetiacutevel ao desenvolvimento o que pode ser objetivado pelo profissional

em questatildeo ao trabalhar com o idoso

Em se tratando do cantar em grupo observa-se que haacute um significado muito especial para

a maioria dos idosos pois a possibilidade de reconhecer suas potencialidades faz com que

este ldquocantordquo traga a auto-expressatildeo o auto-conhecimento e a auto-realizaccedilatildeo pontos que

passam a ser fortalecidos pelas relaccedilotildees inter-pessoais estabelecidas no Coro

Terapecircutico

Pode-se enumerar accedilotildees como exerciacutecios vocaacutelicos cantar muacutesicas escolhidas pelo

grupo exerciacutecios para relaxamento e de respiraccedilatildeo jogos de memoacuteria e outras que satildeo

desenvolvidas neste trabalho - Coro Terapecircutico objetivando os seguintes pontos

valorizaccedilatildeo da identidade valorizaccedilatildeo da auto-expressatildeo estiacutemulo ao conhecimento do

corpo (por meio dos exerciacutecios de relaxamento e de respiraccedilatildeo) relaccedilatildeo corpo - voz ndash

emoccedilatildeo melhora das relaccedilotildees intra e inter-pessoais amplificaccedilatildeo da voz revigorizaccedilatildeo

do aparelho fonador e prevenccedilatildeo de problemas de sauacutede mental demecircncias e perdas de

memoacuteria

Quanto agrave postura utilizada de terapeuta humanista observa-se o respeito que se deve ter

ao tempo de cada participante considerando as dimensotildees da idade cronoloacutegica da

bioloacutegica da existencial e as demais As experiecircncias vividas e o modo de ver o mundo

trazem subjetividade e complexidade ao ser humano O seu cantar eacute um reflexo deste todo

existencial Na conduccedilatildeo do grupo a musicoterapeuta propotildee ideacuteias (jogos atividades)

ouve opiniotildees (como se vestir para a apresentaccedilatildeo como subir ao palco o que acharam

do encontroaula do dia) acata ideacuteias (sugestatildeo de repertoacuterio muacutesicas a recordar) e daacute

opiniotildees (comenta por exemplo a importacircncia de cantar em grupo) Musicoterapeuta

(condutora da atividade) e grupo (participantes do Coro) traccedilam objetivos comuns e

planejam momentos futuros a partir da realidade presente Observa-se durante todo o

processo confianccedila e respeito pelo grupo com relaccedilatildeo agrave tomada de decisotildees sobre o

mesmo (por exemplo ao decidir aceitar ou natildeo um convite para apresentaccedilatildeo)

Para Ribeiro (1988 p 17) o ldquoencontro cliente-terapeutardquo seraacute sempre um encontro de

pessoas O terapeuta deve sentir afetiva e emocionalmente o cliente percebendo-o como

um todo integrado ldquoA relaccedilatildeo eacute sempre um encontro de totalidaderdquo

Este encontro esta compreensatildeo no Coro Terapecircutico satildeo viabilizados principalmente

na ldquoescutardquo da musicoterapeutacondutora ao valorizar as diferentes formas de expressatildeo

(o cantar as mensagens os textos de autoria proacutepria fatos do cotidiano queixas piadas

memoacuterias e opiniotildees) trazidas pelos participantes do grupo Apresenta-se a seguir

recortes de entrevistas e depoimentos de idosos transcritos no decorrer de uma pesquisa

fenomenoloacutegica sobre o Coro Terapecircutico

- ldquoMinha voz parece que melhorou melhorou a minha mente tudo eu acho que melhorou

com a Oficina a memoacuteria a dicccedilatildeo melhorou muitordquo (A) ldquoSe natildeo tivesse que vir ficava

em casa quieta Assim vocecirc eacute obrigada a agir se aprontar tomar o carro e seguir natildeo eacuterdquo

(AV) ldquoem casa eu me reservo muito mas aqui me realizordquo ldquoEacute terapia porque aquele eacute

o momento esperado por mim aquele eacute o momento que eu me realizordquo (I) ldquoO coral eacute

uma coisa maravilhosa para a terceira idade pelo menos na minha concepccedilatildeordquo ldquoEacute

maravilhoso e belo cantar parece que nos transportamos para o infinitordquo (A) ldquoTodo o

sentimento que o ser humano carrega em si principalmente noacutes da 3ordf idade que jaacute

passamos por todos os sentimentos e agora descobrimos com a experiecircncia que o mais

valioso na vida eacute realmente o sentimentordquo [] ldquonos conduziu a momentos muito alegres

e por incriacutevel que pareccedila nos fez cantarE acreditamos na nossa possibilidade E

acreditamos em noacutes E transbordamos de alegria ao trazer do passado muacutesicas ateacute

esquecidas mas cheias de poesia e beleza E rejuvenescemosrdquo (H)

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Alguns elementos observados no decorrer do processo terapecircutico com o grupo (Coro

Terapecircutico) foram a socializaccedilatildeo a solidariedade entre os participantes a

respeitabilidade que fortaleceu a uniatildeo do grupo e a sensaccedilatildeo de auto-realizacatildeo

advinda da construccedilatildeo conjunta em torno de um ideal comum a todos que eacute a expressatildeo

atraveacutes do cantar

Acredita-se que as relaccedilotildees sociais que se estabeleceram no grupo satildeo aspectos

relevantes para a subjetividade do ser humano o mundo interno que possui e suas

expressotildees O homem eacute um ser social e como um ser de relaccedilotildees sociais estaacute em

permanente movimento

Segundo Bock Furtado e Teixeira (1999) a Psicologia Social como aacuterea de conhecimento

passa a estudar o psiquismo humano ldquobuscando compreender como se daacute a construccedilatildeo

desse mundo interno a partir das relaccedilotildees sociais vividas pelo homem O mundo objetivo

passa a ser visto natildeo como fator de influecircncia para o desenvolvimento da subjetividade

mas como fator constitutivordquo (p 141)

Este fator constitutivo estaacute relacionado ao ldquocantarrdquo como meio para a auto-expressatildeo e a

auto-realizaccedilatildeo - o que implica no ldquofazerrdquo na ldquoatividaderdquo e na realizaccedilatildeo do homem A

atividade humana eacute a base do conhecimento e do pensamento do homem que constroacutei o

seu mundo interno na medida em que atua e transforma o mundo externo

Outro ponto depreendido das falas dos participantes eacute que as canccedilotildees revelam a

ldquosubjetividadeexistencialidade interna do serrdquo Este se relaciona agrave consciecircncia ao pensar

humano A consciecircncia natildeo se limita ao saber loacutegico incluindo tambeacutem o saber das

emoccedilotildees e sentimentos do homem o saber dos desejos e o saber do inconsciente O

ldquopensarrdquo transpareceu nas canccedilotildees e nos conteuacutedos destas que trouxeram os

sentimentos a subjetividade e o universo afetivo dos participantes

Rodrigues (1999) acredita que eacute fundamental para o idoso utilizar suas memoacuterias suas

ricas lembranccedilas e aprendizados mas que eacute imprescindiacutevel que adicionem novos

conhecimentos que soacute eacute possiacutevel para quem se abre ao eterno aprender

Finalmente observou-se nos depoimentos e entrevistas que a auto-confianccedila do ldquoserrdquo

participante do Coro Terapecircutico faz com que ele tenha expectativas para o futuro

Ressalta-se assim a identidade Bock Furtado e Teixeira (1999) comentam que a

identidade eacute a siacutentese pessoal sobre si mesmo eacute a denominaccedilatildeo dada agraves representaccedilotildees

e sentimentos que o indiviacuteduo desenvolve a respeito de si proacuteprio a partir do conjunto de

suas vivecircncias

Objetivou-se com o Coro Terapecircutico para a Terceira Idade proporcionar aos participantes

do grupo a auto-realizaccedilatildeo a motivaccedilatildeo para o viver a satisfaccedilatildeoprazer a prevenccedilatildeo da

Sauacutede Mental a melhoria da qualidade de vida melhorar as relaccedilotildees intra e inter-pessoais

e a interaccedilatildeo social estimular o resgate de memoacuteria e valorizar a dignidade de toda e

qualquer lembranccedila a percepccedilatildeo do outro e do universo sonoro do outro e a

compreensatildeo da subjetividade da existencialidade interna de cada um

Cabe ressaltar que o novo conceito de Coro Terapecircutico consiste num grupo conduzido

por um musicoterapeuta com objetivos terapecircuticos em que a voz eacute utilizada como

recurso para a comunicaccedilatildeo expressatildeo satisfaccedilatildeo e interaccedilatildeo social Os participantes

atraveacutes do cantar veiculam sua subjetividade externando sua existencialidade interna

Acredita-se que eacute possiacutevel proporcionar ao idoso uma sensaccedilatildeo diferente daquela em que

eacute somente um sobrevivente para ser tambeacutem um agente capaz de inuacutemeras

accedilotildeesrelaccedilotildees sociais e emocionais A construccedilatildeo do ser eacute um processo contiacutenuo que se

daacute em todas as etapas da vida Estar consciente deste processo desta continuidade pode

ser um grande diferencial para a qualidade de vida de todo e qualquer indiviacuteduo

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

AUGRAS M O ser da compreensatildeo - fenomenologia da situaccedilatildeo de psicodiagnoacutestico

4ed Rio de Janeiro Petroacutepolis1994

BEHLAU M PONTES P Avaliaccedilatildeo e tratamento das disfonias Satildeo Paulo Ed Lovise

1995 312 p

BOCK A B FURTADO O TEIXEIRA M T Psicologias - uma introduccedilatildeo ao estudo de

psicologia 13ed Satildeo Paulo Saraiva 1999 368 p

BRACK R M O cantor e sua preciosa voz In MARTINEZ E et al Regecircncia coral -

princiacutepios baacutesicos Curitiba Dom Bosco 2000 p197-206

BRUSCIA K E Definindo Musicoterapia Traduccedilatildeo por Mariza V F Conde 2edRio de

Janeiro Enelivros 2000

CERQUEIRA C M Afinaccedilatildeo global - corpo voz e emoccedilatildeo ndash uma proposta

musicoteraacutepica Monografia apresentada ao Curso de Especializaccedilatildeo em Musicoterapia

Conservatoacuterio Brasileiro de Musicoterapia Rio de Janeiro 1996 70 p

COELHO H de S NW Teacutecnica vocal para coros 4ed Satildeo Leopoldo RS Sinodal 1999

76 p

CORREcircA A C de O Envelhecimento depressatildeo e doenccedila de Alzheimer Belo Horizonte

Health 1996 227 p

COSTA H O SILVA M de A Voz cantada - evoluccedilatildeo avaliaccedilatildeo e terapia

fonoaudioloacutegica Satildeo Paulo Ed Lovise 1998 181 p

DINVILLE C A teacutecnica da voz cantada 2ed Traduccedilatildeo por Marjorie B C Hasson Rio de

Janeiro Enelivros 1993 160 p

FRAIMAN A P Coisas da idade Satildeo Paulo Gente 1995 143 p

MARTINS DE SAacute J L Gerontologia e interdisciplinaridade fundamentos epistemoloacutegicos

In NERI A L DEBERT G (orgs) Velhice e sociedade Campinas SP Papirus 1999 p

223-232

MILLECCO FILHO L A BRANDAtildeO Mordf R MILLECCO R P Eacute preciso cantar Rio de

Janeiro Enelivros 2001 136 p

NERI A(org) Psicologia do envelhecimento Campinas SP Papirus 1995 276p

RIBEIRO J P Teorias e teacutecnicas psicoteraacutepicas 2ed Petroacutepolis Vozes 1988

RODRIGUES A de M Construindo o envelhecimento 2ed Pelotas Educat 1999 127p

VERAS R (org) Terceira idade desafios para o terceiro milecircnio Rio de Janeiro Relume-

Dumaraacute UnATI UERJ 1997 192 p

ZANINI C R de O O cantar e a terceira idade Nova Geraccedilatildeo Goiacircnia Ano III n12 p3

julho 2000

___________________ Coro Terapecircutico ndash um olhar do musicoterapeuta para o idoso no

novo milecircnio Dissertaccedilatildeo apresentada ao Mestrado em Muacutesica Universidade Federal de

Goiaacutes Goiacircnia 2002 142p

  • INTRODUCcedilAtildeO

O CANTAR O CORO TERAPEcircUTICO E O ENVELHECIMENTO SAUDAacuteVEL

O ato de cantar contribui para a estruturaccedilatildeo do ser humano colabora na

construccedilatildeo cultural e desenvolve habilidades aprendidas Para cantar a sauacutede e o

equiliacutebrio psicoloacutegico satildeo fundamentais O exerciacutecio do canto eacute a praacutetica da expressatildeo da

memoacuteria e estes entre outros levam agrave espontaneidade Fechando este ciacuterculo de

argumentaccedilotildees vecirc-se que o canto eacute terapecircutico pois ningueacutem canta ao acaso Como o

ser humano usa a voz Por que o faz O que acontece com o ser humano ao utilizar seu

proacuteprio instrumento aparelho fonador

Cantar eacute entre as atividades a serem desenvolvidas no setting musicoteraacutepico

considerada por muitos profissionais como rica fonte para possibilitar o desenvolvimento

das mais diversas habilidades humanas No livro Eacute Preciso Cantar Millecco Filho Brandatildeo

E Millecco (2001) vecircm compartilhar suas importantes experiecircncias na utilizaccedilatildeo de

canccedilotildees em Musicoterapia Afirmam

O canto eacute um elemento estruturante para o ser humano [] O homem vem entatildeo

expressando-se musicalmente atraveacutes da voz nos cantos de trabalho nos cacircnticos

guerreiros nos cantos religiosos ou sacros nos acalantos de matildees ou pais embalando

filhos nas festas nos jogos na crocircnica social de eacutepoca nas oacuteperas associando dramas e

mitos ao canto nas canccedilotildees populares Enfim em suas atividades talvez as mais

significativas o ser humano lanccedila matildeo do cantar (p 109)

Para que o musicoterapeuta trabalhe com a voz com o cantar aleacutem de procurar pesquisar

as significaccedilotildees desta expressatildeo vocal no processo musicoteraacutepico considera-se

imprescindiacutevel que obtenha maiores conhecimentos a respeito deste instrumento natural

do aparelho fonador e do respiratoacuterio para que seja possiacutevel evitar maiores esforccedilos e se

necessaacuterio deveraacute sugerir ao pacientecliente a busca de um outro profissional

especializado seja na fisiologia ou no funcionamento um otorrinolaringologista eou

fonoaudioacutelogo

Brack (2000 p 198) afirma que cantar eacute diferente de falar e comenta ldquoa comeccedilar pelo

ceacuterebro cujas camadas corticais satildeo diferenciadas nas duas funccedilotildees A fala e tudo mais

que eacute automatizado estaacute armazenado em camadas mais profundas do coacutertex cerebral O

que eacute mais elaborado como tocar piano e cantar por exemplo estaacute armazenado nas

camadas mais superficiaisrdquo Coelho (1999 p 11) destaca que ldquoa voz eacute o resultado sonoro

de um instrumento que exige cuidados Antes de tudo uma voz soacute eacute boa se proveacutem de um

organismo sadio[] Tambeacutem a sauacutede e o equiliacutebrio psicoloacutegico satildeo fundamentaisrdquo

Segundo Cerqueira (1996 4) ldquoo corpo e a voz satildeo instrumentos dos seres humanos e

assim como os instrumentos musicais eles precisam ser afinados para transmitir ao mundo

tudo o que tem a expressarrdquo A autora propotildee o termo ldquoafinaccedilatildeo global do serrdquo um trabalho

apoiado em teacutecnicas vocais e corporais como meio de quebrar resistecircncias orgacircnicas e

emocionais para facilitar a entrada e culminar no musicoterapecircutico indo ao encontro das

necessidades objetivas e subjetivas de crescimento do ser humano

Dinville (1993 4) acredita que a voz e a personalidade estatildeo estreitamente relacionadas e

satildeo inseparaacuteveis pois traduzem o ser humano na sua totalidade ldquoEntre o corpo e a voz

existe uma iacutentima relaccedilatildeo Eacute com eles que o cantor exterioriza sua afetividade e

desempenha o papel intermediaacuterio entre o puacuteblico e a obra musicalrdquo

A voz como importante elemento da comunicaccedilatildeo humana e reflexo do estado psiacutequico e

emocional tem sido utilizada no setting musicoteraacutepico em vaacuterias teacutecnicas desenvolvidas

por diversos musicoterapeutas no atendimento a aacutereas de atuaccedilatildeo profissional

diferenciadas Bruscia (2000 68) comentando as possibilidades de auto-expressatildeo no

processo musicoteraacutepico afirma que ao cantarmos ou tocarmos instrumentos ldquoliberamos

nossa energia interna para o mundo externo fazemos nosso corpo soar damos formas a

nossos impulsos vocalizamos o natildeo-diziacutevel ou as ideacuteias natildeo pronunciaacuteveis e destilamos

nossas emoccedilotildees em formas sonoras descritivasrdquo

Apoacutes evidenciarmos a importacircncia do cantar das canccedilotildees e da utilizaccedilatildeo da voz

consideramos ser oportuno discutir as relaccedilotildees entre este importante instrumento de

comunicaccedilatildeo e o papel do tempo ou seja as transformaccedilotildees decorrentes do passar dos

anos

Brack (2000 p 202) afirma que ldquoA voz tambeacutem envelhece poreacutem se a pessoa tratou-a

com atenccedilatildeo a qualidade vocal permaneceraacute por mais tempordquo Dinville (1993 p 121) faz

referecircncias ao aparelho respiratoacuterio e agraves mudanccedilas no aparelho fonador ldquo os esforccedilos

impostos aos oacutergatildeos da respiraccedilatildeo ou da fonaccedilatildeo podem com o passar do tempo ou

bruscamente ocasionar problemas orgacircnicosrdquo

Costa e Silva (1998 p 113) comentam que vaacuterios fatores influenciam no envelhecimento

da voz ldquoHaacute os psicoloacutegicos e neuroloacutegicos como queda de motivaccedilatildeo surgimento de

novos medos e dificuldade de controle neural e endocrinoloacutegicos associados agrave diminuiccedilatildeo

de produccedilatildeo de hormocircnios modificaccedilotildees na qualidade do epiteacutelio de revestimento da

laringe e queda da capacidade pulmonarrdquo Para Behlau e Pontes (1995) o iniacutecio e o grau

da deterioraccedilatildeo dependem particularmente de cada indiviacuteduo de sua histoacuteria de vida

aleacutem de fatores constitucionais raciais hereditaacuterios sociais e ambientais Quando a voz eacute

utilizada na relaccedilatildeo terapecircutica o contato com o paciente se intensifica por gerar maior

proximidade entre ambos

Cabe ressaltar que quando haacute a possibilidade de unir os trecircs tempos - passado presente

e futuro alcanccedila-se a integralizaccedilatildeo do ser Esta uniatildeo pode ser proporcionada propiciada

e facilitada pela muacutesica levando o musicoterapeuta a ver natildeo o ldquoserrdquo que eacute velho mas o

ldquoser que eacuterdquo a sua essecircncia Tem-se aleacutem disso a consciecircncia de que quanto mais uma

pessoa exercita sua mente maiores possibilidades teraacute de mantecirc-la aacutegil e receptiva

portanto ainda suscetiacutevel ao desenvolvimento o que pode ser objetivado pelo profissional

em questatildeo ao trabalhar com o idoso

Em se tratando do cantar em grupo observa-se que haacute um significado muito especial para

a maioria dos idosos pois a possibilidade de reconhecer suas potencialidades faz com que

este ldquocantordquo traga a auto-expressatildeo o auto-conhecimento e a auto-realizaccedilatildeo pontos que

passam a ser fortalecidos pelas relaccedilotildees inter-pessoais estabelecidas no Coro

Terapecircutico

Pode-se enumerar accedilotildees como exerciacutecios vocaacutelicos cantar muacutesicas escolhidas pelo

grupo exerciacutecios para relaxamento e de respiraccedilatildeo jogos de memoacuteria e outras que satildeo

desenvolvidas neste trabalho - Coro Terapecircutico objetivando os seguintes pontos

valorizaccedilatildeo da identidade valorizaccedilatildeo da auto-expressatildeo estiacutemulo ao conhecimento do

corpo (por meio dos exerciacutecios de relaxamento e de respiraccedilatildeo) relaccedilatildeo corpo - voz ndash

emoccedilatildeo melhora das relaccedilotildees intra e inter-pessoais amplificaccedilatildeo da voz revigorizaccedilatildeo

do aparelho fonador e prevenccedilatildeo de problemas de sauacutede mental demecircncias e perdas de

memoacuteria

Quanto agrave postura utilizada de terapeuta humanista observa-se o respeito que se deve ter

ao tempo de cada participante considerando as dimensotildees da idade cronoloacutegica da

bioloacutegica da existencial e as demais As experiecircncias vividas e o modo de ver o mundo

trazem subjetividade e complexidade ao ser humano O seu cantar eacute um reflexo deste todo

existencial Na conduccedilatildeo do grupo a musicoterapeuta propotildee ideacuteias (jogos atividades)

ouve opiniotildees (como se vestir para a apresentaccedilatildeo como subir ao palco o que acharam

do encontroaula do dia) acata ideacuteias (sugestatildeo de repertoacuterio muacutesicas a recordar) e daacute

opiniotildees (comenta por exemplo a importacircncia de cantar em grupo) Musicoterapeuta

(condutora da atividade) e grupo (participantes do Coro) traccedilam objetivos comuns e

planejam momentos futuros a partir da realidade presente Observa-se durante todo o

processo confianccedila e respeito pelo grupo com relaccedilatildeo agrave tomada de decisotildees sobre o

mesmo (por exemplo ao decidir aceitar ou natildeo um convite para apresentaccedilatildeo)

Para Ribeiro (1988 p 17) o ldquoencontro cliente-terapeutardquo seraacute sempre um encontro de

pessoas O terapeuta deve sentir afetiva e emocionalmente o cliente percebendo-o como

um todo integrado ldquoA relaccedilatildeo eacute sempre um encontro de totalidaderdquo

Este encontro esta compreensatildeo no Coro Terapecircutico satildeo viabilizados principalmente

na ldquoescutardquo da musicoterapeutacondutora ao valorizar as diferentes formas de expressatildeo

(o cantar as mensagens os textos de autoria proacutepria fatos do cotidiano queixas piadas

memoacuterias e opiniotildees) trazidas pelos participantes do grupo Apresenta-se a seguir

recortes de entrevistas e depoimentos de idosos transcritos no decorrer de uma pesquisa

fenomenoloacutegica sobre o Coro Terapecircutico

- ldquoMinha voz parece que melhorou melhorou a minha mente tudo eu acho que melhorou

com a Oficina a memoacuteria a dicccedilatildeo melhorou muitordquo (A) ldquoSe natildeo tivesse que vir ficava

em casa quieta Assim vocecirc eacute obrigada a agir se aprontar tomar o carro e seguir natildeo eacuterdquo

(AV) ldquoem casa eu me reservo muito mas aqui me realizordquo ldquoEacute terapia porque aquele eacute

o momento esperado por mim aquele eacute o momento que eu me realizordquo (I) ldquoO coral eacute

uma coisa maravilhosa para a terceira idade pelo menos na minha concepccedilatildeordquo ldquoEacute

maravilhoso e belo cantar parece que nos transportamos para o infinitordquo (A) ldquoTodo o

sentimento que o ser humano carrega em si principalmente noacutes da 3ordf idade que jaacute

passamos por todos os sentimentos e agora descobrimos com a experiecircncia que o mais

valioso na vida eacute realmente o sentimentordquo [] ldquonos conduziu a momentos muito alegres

e por incriacutevel que pareccedila nos fez cantarE acreditamos na nossa possibilidade E

acreditamos em noacutes E transbordamos de alegria ao trazer do passado muacutesicas ateacute

esquecidas mas cheias de poesia e beleza E rejuvenescemosrdquo (H)

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Alguns elementos observados no decorrer do processo terapecircutico com o grupo (Coro

Terapecircutico) foram a socializaccedilatildeo a solidariedade entre os participantes a

respeitabilidade que fortaleceu a uniatildeo do grupo e a sensaccedilatildeo de auto-realizacatildeo

advinda da construccedilatildeo conjunta em torno de um ideal comum a todos que eacute a expressatildeo

atraveacutes do cantar

Acredita-se que as relaccedilotildees sociais que se estabeleceram no grupo satildeo aspectos

relevantes para a subjetividade do ser humano o mundo interno que possui e suas

expressotildees O homem eacute um ser social e como um ser de relaccedilotildees sociais estaacute em

permanente movimento

Segundo Bock Furtado e Teixeira (1999) a Psicologia Social como aacuterea de conhecimento

passa a estudar o psiquismo humano ldquobuscando compreender como se daacute a construccedilatildeo

desse mundo interno a partir das relaccedilotildees sociais vividas pelo homem O mundo objetivo

passa a ser visto natildeo como fator de influecircncia para o desenvolvimento da subjetividade

mas como fator constitutivordquo (p 141)

Este fator constitutivo estaacute relacionado ao ldquocantarrdquo como meio para a auto-expressatildeo e a

auto-realizaccedilatildeo - o que implica no ldquofazerrdquo na ldquoatividaderdquo e na realizaccedilatildeo do homem A

atividade humana eacute a base do conhecimento e do pensamento do homem que constroacutei o

seu mundo interno na medida em que atua e transforma o mundo externo

Outro ponto depreendido das falas dos participantes eacute que as canccedilotildees revelam a

ldquosubjetividadeexistencialidade interna do serrdquo Este se relaciona agrave consciecircncia ao pensar

humano A consciecircncia natildeo se limita ao saber loacutegico incluindo tambeacutem o saber das

emoccedilotildees e sentimentos do homem o saber dos desejos e o saber do inconsciente O

ldquopensarrdquo transpareceu nas canccedilotildees e nos conteuacutedos destas que trouxeram os

sentimentos a subjetividade e o universo afetivo dos participantes

Rodrigues (1999) acredita que eacute fundamental para o idoso utilizar suas memoacuterias suas

ricas lembranccedilas e aprendizados mas que eacute imprescindiacutevel que adicionem novos

conhecimentos que soacute eacute possiacutevel para quem se abre ao eterno aprender

Finalmente observou-se nos depoimentos e entrevistas que a auto-confianccedila do ldquoserrdquo

participante do Coro Terapecircutico faz com que ele tenha expectativas para o futuro

Ressalta-se assim a identidade Bock Furtado e Teixeira (1999) comentam que a

identidade eacute a siacutentese pessoal sobre si mesmo eacute a denominaccedilatildeo dada agraves representaccedilotildees

e sentimentos que o indiviacuteduo desenvolve a respeito de si proacuteprio a partir do conjunto de

suas vivecircncias

Objetivou-se com o Coro Terapecircutico para a Terceira Idade proporcionar aos participantes

do grupo a auto-realizaccedilatildeo a motivaccedilatildeo para o viver a satisfaccedilatildeoprazer a prevenccedilatildeo da

Sauacutede Mental a melhoria da qualidade de vida melhorar as relaccedilotildees intra e inter-pessoais

e a interaccedilatildeo social estimular o resgate de memoacuteria e valorizar a dignidade de toda e

qualquer lembranccedila a percepccedilatildeo do outro e do universo sonoro do outro e a

compreensatildeo da subjetividade da existencialidade interna de cada um

Cabe ressaltar que o novo conceito de Coro Terapecircutico consiste num grupo conduzido

por um musicoterapeuta com objetivos terapecircuticos em que a voz eacute utilizada como

recurso para a comunicaccedilatildeo expressatildeo satisfaccedilatildeo e interaccedilatildeo social Os participantes

atraveacutes do cantar veiculam sua subjetividade externando sua existencialidade interna

Acredita-se que eacute possiacutevel proporcionar ao idoso uma sensaccedilatildeo diferente daquela em que

eacute somente um sobrevivente para ser tambeacutem um agente capaz de inuacutemeras

accedilotildeesrelaccedilotildees sociais e emocionais A construccedilatildeo do ser eacute um processo contiacutenuo que se

daacute em todas as etapas da vida Estar consciente deste processo desta continuidade pode

ser um grande diferencial para a qualidade de vida de todo e qualquer indiviacuteduo

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

AUGRAS M O ser da compreensatildeo - fenomenologia da situaccedilatildeo de psicodiagnoacutestico

4ed Rio de Janeiro Petroacutepolis1994

BEHLAU M PONTES P Avaliaccedilatildeo e tratamento das disfonias Satildeo Paulo Ed Lovise

1995 312 p

BOCK A B FURTADO O TEIXEIRA M T Psicologias - uma introduccedilatildeo ao estudo de

psicologia 13ed Satildeo Paulo Saraiva 1999 368 p

BRACK R M O cantor e sua preciosa voz In MARTINEZ E et al Regecircncia coral -

princiacutepios baacutesicos Curitiba Dom Bosco 2000 p197-206

BRUSCIA K E Definindo Musicoterapia Traduccedilatildeo por Mariza V F Conde 2edRio de

Janeiro Enelivros 2000

CERQUEIRA C M Afinaccedilatildeo global - corpo voz e emoccedilatildeo ndash uma proposta

musicoteraacutepica Monografia apresentada ao Curso de Especializaccedilatildeo em Musicoterapia

Conservatoacuterio Brasileiro de Musicoterapia Rio de Janeiro 1996 70 p

COELHO H de S NW Teacutecnica vocal para coros 4ed Satildeo Leopoldo RS Sinodal 1999

76 p

CORREcircA A C de O Envelhecimento depressatildeo e doenccedila de Alzheimer Belo Horizonte

Health 1996 227 p

COSTA H O SILVA M de A Voz cantada - evoluccedilatildeo avaliaccedilatildeo e terapia

fonoaudioloacutegica Satildeo Paulo Ed Lovise 1998 181 p

DINVILLE C A teacutecnica da voz cantada 2ed Traduccedilatildeo por Marjorie B C Hasson Rio de

Janeiro Enelivros 1993 160 p

FRAIMAN A P Coisas da idade Satildeo Paulo Gente 1995 143 p

MARTINS DE SAacute J L Gerontologia e interdisciplinaridade fundamentos epistemoloacutegicos

In NERI A L DEBERT G (orgs) Velhice e sociedade Campinas SP Papirus 1999 p

223-232

MILLECCO FILHO L A BRANDAtildeO Mordf R MILLECCO R P Eacute preciso cantar Rio de

Janeiro Enelivros 2001 136 p

NERI A(org) Psicologia do envelhecimento Campinas SP Papirus 1995 276p

RIBEIRO J P Teorias e teacutecnicas psicoteraacutepicas 2ed Petroacutepolis Vozes 1988

RODRIGUES A de M Construindo o envelhecimento 2ed Pelotas Educat 1999 127p

VERAS R (org) Terceira idade desafios para o terceiro milecircnio Rio de Janeiro Relume-

Dumaraacute UnATI UERJ 1997 192 p

ZANINI C R de O O cantar e a terceira idade Nova Geraccedilatildeo Goiacircnia Ano III n12 p3

julho 2000

___________________ Coro Terapecircutico ndash um olhar do musicoterapeuta para o idoso no

novo milecircnio Dissertaccedilatildeo apresentada ao Mestrado em Muacutesica Universidade Federal de

Goiaacutes Goiacircnia 2002 142p

  • INTRODUCcedilAtildeO

Segundo Cerqueira (1996 4) ldquoo corpo e a voz satildeo instrumentos dos seres humanos e

assim como os instrumentos musicais eles precisam ser afinados para transmitir ao mundo

tudo o que tem a expressarrdquo A autora propotildee o termo ldquoafinaccedilatildeo global do serrdquo um trabalho

apoiado em teacutecnicas vocais e corporais como meio de quebrar resistecircncias orgacircnicas e

emocionais para facilitar a entrada e culminar no musicoterapecircutico indo ao encontro das

necessidades objetivas e subjetivas de crescimento do ser humano

Dinville (1993 4) acredita que a voz e a personalidade estatildeo estreitamente relacionadas e

satildeo inseparaacuteveis pois traduzem o ser humano na sua totalidade ldquoEntre o corpo e a voz

existe uma iacutentima relaccedilatildeo Eacute com eles que o cantor exterioriza sua afetividade e

desempenha o papel intermediaacuterio entre o puacuteblico e a obra musicalrdquo

A voz como importante elemento da comunicaccedilatildeo humana e reflexo do estado psiacutequico e

emocional tem sido utilizada no setting musicoteraacutepico em vaacuterias teacutecnicas desenvolvidas

por diversos musicoterapeutas no atendimento a aacutereas de atuaccedilatildeo profissional

diferenciadas Bruscia (2000 68) comentando as possibilidades de auto-expressatildeo no

processo musicoteraacutepico afirma que ao cantarmos ou tocarmos instrumentos ldquoliberamos

nossa energia interna para o mundo externo fazemos nosso corpo soar damos formas a

nossos impulsos vocalizamos o natildeo-diziacutevel ou as ideacuteias natildeo pronunciaacuteveis e destilamos

nossas emoccedilotildees em formas sonoras descritivasrdquo

Apoacutes evidenciarmos a importacircncia do cantar das canccedilotildees e da utilizaccedilatildeo da voz

consideramos ser oportuno discutir as relaccedilotildees entre este importante instrumento de

comunicaccedilatildeo e o papel do tempo ou seja as transformaccedilotildees decorrentes do passar dos

anos

Brack (2000 p 202) afirma que ldquoA voz tambeacutem envelhece poreacutem se a pessoa tratou-a

com atenccedilatildeo a qualidade vocal permaneceraacute por mais tempordquo Dinville (1993 p 121) faz

referecircncias ao aparelho respiratoacuterio e agraves mudanccedilas no aparelho fonador ldquo os esforccedilos

impostos aos oacutergatildeos da respiraccedilatildeo ou da fonaccedilatildeo podem com o passar do tempo ou

bruscamente ocasionar problemas orgacircnicosrdquo

Costa e Silva (1998 p 113) comentam que vaacuterios fatores influenciam no envelhecimento

da voz ldquoHaacute os psicoloacutegicos e neuroloacutegicos como queda de motivaccedilatildeo surgimento de

novos medos e dificuldade de controle neural e endocrinoloacutegicos associados agrave diminuiccedilatildeo

de produccedilatildeo de hormocircnios modificaccedilotildees na qualidade do epiteacutelio de revestimento da

laringe e queda da capacidade pulmonarrdquo Para Behlau e Pontes (1995) o iniacutecio e o grau

da deterioraccedilatildeo dependem particularmente de cada indiviacuteduo de sua histoacuteria de vida

aleacutem de fatores constitucionais raciais hereditaacuterios sociais e ambientais Quando a voz eacute

utilizada na relaccedilatildeo terapecircutica o contato com o paciente se intensifica por gerar maior

proximidade entre ambos

Cabe ressaltar que quando haacute a possibilidade de unir os trecircs tempos - passado presente

e futuro alcanccedila-se a integralizaccedilatildeo do ser Esta uniatildeo pode ser proporcionada propiciada

e facilitada pela muacutesica levando o musicoterapeuta a ver natildeo o ldquoserrdquo que eacute velho mas o

ldquoser que eacuterdquo a sua essecircncia Tem-se aleacutem disso a consciecircncia de que quanto mais uma

pessoa exercita sua mente maiores possibilidades teraacute de mantecirc-la aacutegil e receptiva

portanto ainda suscetiacutevel ao desenvolvimento o que pode ser objetivado pelo profissional

em questatildeo ao trabalhar com o idoso

Em se tratando do cantar em grupo observa-se que haacute um significado muito especial para

a maioria dos idosos pois a possibilidade de reconhecer suas potencialidades faz com que

este ldquocantordquo traga a auto-expressatildeo o auto-conhecimento e a auto-realizaccedilatildeo pontos que

passam a ser fortalecidos pelas relaccedilotildees inter-pessoais estabelecidas no Coro

Terapecircutico

Pode-se enumerar accedilotildees como exerciacutecios vocaacutelicos cantar muacutesicas escolhidas pelo

grupo exerciacutecios para relaxamento e de respiraccedilatildeo jogos de memoacuteria e outras que satildeo

desenvolvidas neste trabalho - Coro Terapecircutico objetivando os seguintes pontos

valorizaccedilatildeo da identidade valorizaccedilatildeo da auto-expressatildeo estiacutemulo ao conhecimento do

corpo (por meio dos exerciacutecios de relaxamento e de respiraccedilatildeo) relaccedilatildeo corpo - voz ndash

emoccedilatildeo melhora das relaccedilotildees intra e inter-pessoais amplificaccedilatildeo da voz revigorizaccedilatildeo

do aparelho fonador e prevenccedilatildeo de problemas de sauacutede mental demecircncias e perdas de

memoacuteria

Quanto agrave postura utilizada de terapeuta humanista observa-se o respeito que se deve ter

ao tempo de cada participante considerando as dimensotildees da idade cronoloacutegica da

bioloacutegica da existencial e as demais As experiecircncias vividas e o modo de ver o mundo

trazem subjetividade e complexidade ao ser humano O seu cantar eacute um reflexo deste todo

existencial Na conduccedilatildeo do grupo a musicoterapeuta propotildee ideacuteias (jogos atividades)

ouve opiniotildees (como se vestir para a apresentaccedilatildeo como subir ao palco o que acharam

do encontroaula do dia) acata ideacuteias (sugestatildeo de repertoacuterio muacutesicas a recordar) e daacute

opiniotildees (comenta por exemplo a importacircncia de cantar em grupo) Musicoterapeuta

(condutora da atividade) e grupo (participantes do Coro) traccedilam objetivos comuns e

planejam momentos futuros a partir da realidade presente Observa-se durante todo o

processo confianccedila e respeito pelo grupo com relaccedilatildeo agrave tomada de decisotildees sobre o

mesmo (por exemplo ao decidir aceitar ou natildeo um convite para apresentaccedilatildeo)

Para Ribeiro (1988 p 17) o ldquoencontro cliente-terapeutardquo seraacute sempre um encontro de

pessoas O terapeuta deve sentir afetiva e emocionalmente o cliente percebendo-o como

um todo integrado ldquoA relaccedilatildeo eacute sempre um encontro de totalidaderdquo

Este encontro esta compreensatildeo no Coro Terapecircutico satildeo viabilizados principalmente

na ldquoescutardquo da musicoterapeutacondutora ao valorizar as diferentes formas de expressatildeo

(o cantar as mensagens os textos de autoria proacutepria fatos do cotidiano queixas piadas

memoacuterias e opiniotildees) trazidas pelos participantes do grupo Apresenta-se a seguir

recortes de entrevistas e depoimentos de idosos transcritos no decorrer de uma pesquisa

fenomenoloacutegica sobre o Coro Terapecircutico

- ldquoMinha voz parece que melhorou melhorou a minha mente tudo eu acho que melhorou

com a Oficina a memoacuteria a dicccedilatildeo melhorou muitordquo (A) ldquoSe natildeo tivesse que vir ficava

em casa quieta Assim vocecirc eacute obrigada a agir se aprontar tomar o carro e seguir natildeo eacuterdquo

(AV) ldquoem casa eu me reservo muito mas aqui me realizordquo ldquoEacute terapia porque aquele eacute

o momento esperado por mim aquele eacute o momento que eu me realizordquo (I) ldquoO coral eacute

uma coisa maravilhosa para a terceira idade pelo menos na minha concepccedilatildeordquo ldquoEacute

maravilhoso e belo cantar parece que nos transportamos para o infinitordquo (A) ldquoTodo o

sentimento que o ser humano carrega em si principalmente noacutes da 3ordf idade que jaacute

passamos por todos os sentimentos e agora descobrimos com a experiecircncia que o mais

valioso na vida eacute realmente o sentimentordquo [] ldquonos conduziu a momentos muito alegres

e por incriacutevel que pareccedila nos fez cantarE acreditamos na nossa possibilidade E

acreditamos em noacutes E transbordamos de alegria ao trazer do passado muacutesicas ateacute

esquecidas mas cheias de poesia e beleza E rejuvenescemosrdquo (H)

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Alguns elementos observados no decorrer do processo terapecircutico com o grupo (Coro

Terapecircutico) foram a socializaccedilatildeo a solidariedade entre os participantes a

respeitabilidade que fortaleceu a uniatildeo do grupo e a sensaccedilatildeo de auto-realizacatildeo

advinda da construccedilatildeo conjunta em torno de um ideal comum a todos que eacute a expressatildeo

atraveacutes do cantar

Acredita-se que as relaccedilotildees sociais que se estabeleceram no grupo satildeo aspectos

relevantes para a subjetividade do ser humano o mundo interno que possui e suas

expressotildees O homem eacute um ser social e como um ser de relaccedilotildees sociais estaacute em

permanente movimento

Segundo Bock Furtado e Teixeira (1999) a Psicologia Social como aacuterea de conhecimento

passa a estudar o psiquismo humano ldquobuscando compreender como se daacute a construccedilatildeo

desse mundo interno a partir das relaccedilotildees sociais vividas pelo homem O mundo objetivo

passa a ser visto natildeo como fator de influecircncia para o desenvolvimento da subjetividade

mas como fator constitutivordquo (p 141)

Este fator constitutivo estaacute relacionado ao ldquocantarrdquo como meio para a auto-expressatildeo e a

auto-realizaccedilatildeo - o que implica no ldquofazerrdquo na ldquoatividaderdquo e na realizaccedilatildeo do homem A

atividade humana eacute a base do conhecimento e do pensamento do homem que constroacutei o

seu mundo interno na medida em que atua e transforma o mundo externo

Outro ponto depreendido das falas dos participantes eacute que as canccedilotildees revelam a

ldquosubjetividadeexistencialidade interna do serrdquo Este se relaciona agrave consciecircncia ao pensar

humano A consciecircncia natildeo se limita ao saber loacutegico incluindo tambeacutem o saber das

emoccedilotildees e sentimentos do homem o saber dos desejos e o saber do inconsciente O

ldquopensarrdquo transpareceu nas canccedilotildees e nos conteuacutedos destas que trouxeram os

sentimentos a subjetividade e o universo afetivo dos participantes

Rodrigues (1999) acredita que eacute fundamental para o idoso utilizar suas memoacuterias suas

ricas lembranccedilas e aprendizados mas que eacute imprescindiacutevel que adicionem novos

conhecimentos que soacute eacute possiacutevel para quem se abre ao eterno aprender

Finalmente observou-se nos depoimentos e entrevistas que a auto-confianccedila do ldquoserrdquo

participante do Coro Terapecircutico faz com que ele tenha expectativas para o futuro

Ressalta-se assim a identidade Bock Furtado e Teixeira (1999) comentam que a

identidade eacute a siacutentese pessoal sobre si mesmo eacute a denominaccedilatildeo dada agraves representaccedilotildees

e sentimentos que o indiviacuteduo desenvolve a respeito de si proacuteprio a partir do conjunto de

suas vivecircncias

Objetivou-se com o Coro Terapecircutico para a Terceira Idade proporcionar aos participantes

do grupo a auto-realizaccedilatildeo a motivaccedilatildeo para o viver a satisfaccedilatildeoprazer a prevenccedilatildeo da

Sauacutede Mental a melhoria da qualidade de vida melhorar as relaccedilotildees intra e inter-pessoais

e a interaccedilatildeo social estimular o resgate de memoacuteria e valorizar a dignidade de toda e

qualquer lembranccedila a percepccedilatildeo do outro e do universo sonoro do outro e a

compreensatildeo da subjetividade da existencialidade interna de cada um

Cabe ressaltar que o novo conceito de Coro Terapecircutico consiste num grupo conduzido

por um musicoterapeuta com objetivos terapecircuticos em que a voz eacute utilizada como

recurso para a comunicaccedilatildeo expressatildeo satisfaccedilatildeo e interaccedilatildeo social Os participantes

atraveacutes do cantar veiculam sua subjetividade externando sua existencialidade interna

Acredita-se que eacute possiacutevel proporcionar ao idoso uma sensaccedilatildeo diferente daquela em que

eacute somente um sobrevivente para ser tambeacutem um agente capaz de inuacutemeras

accedilotildeesrelaccedilotildees sociais e emocionais A construccedilatildeo do ser eacute um processo contiacutenuo que se

daacute em todas as etapas da vida Estar consciente deste processo desta continuidade pode

ser um grande diferencial para a qualidade de vida de todo e qualquer indiviacuteduo

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

AUGRAS M O ser da compreensatildeo - fenomenologia da situaccedilatildeo de psicodiagnoacutestico

4ed Rio de Janeiro Petroacutepolis1994

BEHLAU M PONTES P Avaliaccedilatildeo e tratamento das disfonias Satildeo Paulo Ed Lovise

1995 312 p

BOCK A B FURTADO O TEIXEIRA M T Psicologias - uma introduccedilatildeo ao estudo de

psicologia 13ed Satildeo Paulo Saraiva 1999 368 p

BRACK R M O cantor e sua preciosa voz In MARTINEZ E et al Regecircncia coral -

princiacutepios baacutesicos Curitiba Dom Bosco 2000 p197-206

BRUSCIA K E Definindo Musicoterapia Traduccedilatildeo por Mariza V F Conde 2edRio de

Janeiro Enelivros 2000

CERQUEIRA C M Afinaccedilatildeo global - corpo voz e emoccedilatildeo ndash uma proposta

musicoteraacutepica Monografia apresentada ao Curso de Especializaccedilatildeo em Musicoterapia

Conservatoacuterio Brasileiro de Musicoterapia Rio de Janeiro 1996 70 p

COELHO H de S NW Teacutecnica vocal para coros 4ed Satildeo Leopoldo RS Sinodal 1999

76 p

CORREcircA A C de O Envelhecimento depressatildeo e doenccedila de Alzheimer Belo Horizonte

Health 1996 227 p

COSTA H O SILVA M de A Voz cantada - evoluccedilatildeo avaliaccedilatildeo e terapia

fonoaudioloacutegica Satildeo Paulo Ed Lovise 1998 181 p

DINVILLE C A teacutecnica da voz cantada 2ed Traduccedilatildeo por Marjorie B C Hasson Rio de

Janeiro Enelivros 1993 160 p

FRAIMAN A P Coisas da idade Satildeo Paulo Gente 1995 143 p

MARTINS DE SAacute J L Gerontologia e interdisciplinaridade fundamentos epistemoloacutegicos

In NERI A L DEBERT G (orgs) Velhice e sociedade Campinas SP Papirus 1999 p

223-232

MILLECCO FILHO L A BRANDAtildeO Mordf R MILLECCO R P Eacute preciso cantar Rio de

Janeiro Enelivros 2001 136 p

NERI A(org) Psicologia do envelhecimento Campinas SP Papirus 1995 276p

RIBEIRO J P Teorias e teacutecnicas psicoteraacutepicas 2ed Petroacutepolis Vozes 1988

RODRIGUES A de M Construindo o envelhecimento 2ed Pelotas Educat 1999 127p

VERAS R (org) Terceira idade desafios para o terceiro milecircnio Rio de Janeiro Relume-

Dumaraacute UnATI UERJ 1997 192 p

ZANINI C R de O O cantar e a terceira idade Nova Geraccedilatildeo Goiacircnia Ano III n12 p3

julho 2000

___________________ Coro Terapecircutico ndash um olhar do musicoterapeuta para o idoso no

novo milecircnio Dissertaccedilatildeo apresentada ao Mestrado em Muacutesica Universidade Federal de

Goiaacutes Goiacircnia 2002 142p

  • INTRODUCcedilAtildeO

aleacutem de fatores constitucionais raciais hereditaacuterios sociais e ambientais Quando a voz eacute

utilizada na relaccedilatildeo terapecircutica o contato com o paciente se intensifica por gerar maior

proximidade entre ambos

Cabe ressaltar que quando haacute a possibilidade de unir os trecircs tempos - passado presente

e futuro alcanccedila-se a integralizaccedilatildeo do ser Esta uniatildeo pode ser proporcionada propiciada

e facilitada pela muacutesica levando o musicoterapeuta a ver natildeo o ldquoserrdquo que eacute velho mas o

ldquoser que eacuterdquo a sua essecircncia Tem-se aleacutem disso a consciecircncia de que quanto mais uma

pessoa exercita sua mente maiores possibilidades teraacute de mantecirc-la aacutegil e receptiva

portanto ainda suscetiacutevel ao desenvolvimento o que pode ser objetivado pelo profissional

em questatildeo ao trabalhar com o idoso

Em se tratando do cantar em grupo observa-se que haacute um significado muito especial para

a maioria dos idosos pois a possibilidade de reconhecer suas potencialidades faz com que

este ldquocantordquo traga a auto-expressatildeo o auto-conhecimento e a auto-realizaccedilatildeo pontos que

passam a ser fortalecidos pelas relaccedilotildees inter-pessoais estabelecidas no Coro

Terapecircutico

Pode-se enumerar accedilotildees como exerciacutecios vocaacutelicos cantar muacutesicas escolhidas pelo

grupo exerciacutecios para relaxamento e de respiraccedilatildeo jogos de memoacuteria e outras que satildeo

desenvolvidas neste trabalho - Coro Terapecircutico objetivando os seguintes pontos

valorizaccedilatildeo da identidade valorizaccedilatildeo da auto-expressatildeo estiacutemulo ao conhecimento do

corpo (por meio dos exerciacutecios de relaxamento e de respiraccedilatildeo) relaccedilatildeo corpo - voz ndash

emoccedilatildeo melhora das relaccedilotildees intra e inter-pessoais amplificaccedilatildeo da voz revigorizaccedilatildeo

do aparelho fonador e prevenccedilatildeo de problemas de sauacutede mental demecircncias e perdas de

memoacuteria

Quanto agrave postura utilizada de terapeuta humanista observa-se o respeito que se deve ter

ao tempo de cada participante considerando as dimensotildees da idade cronoloacutegica da

bioloacutegica da existencial e as demais As experiecircncias vividas e o modo de ver o mundo

trazem subjetividade e complexidade ao ser humano O seu cantar eacute um reflexo deste todo

existencial Na conduccedilatildeo do grupo a musicoterapeuta propotildee ideacuteias (jogos atividades)

ouve opiniotildees (como se vestir para a apresentaccedilatildeo como subir ao palco o que acharam

do encontroaula do dia) acata ideacuteias (sugestatildeo de repertoacuterio muacutesicas a recordar) e daacute

opiniotildees (comenta por exemplo a importacircncia de cantar em grupo) Musicoterapeuta

(condutora da atividade) e grupo (participantes do Coro) traccedilam objetivos comuns e

planejam momentos futuros a partir da realidade presente Observa-se durante todo o

processo confianccedila e respeito pelo grupo com relaccedilatildeo agrave tomada de decisotildees sobre o

mesmo (por exemplo ao decidir aceitar ou natildeo um convite para apresentaccedilatildeo)

Para Ribeiro (1988 p 17) o ldquoencontro cliente-terapeutardquo seraacute sempre um encontro de

pessoas O terapeuta deve sentir afetiva e emocionalmente o cliente percebendo-o como

um todo integrado ldquoA relaccedilatildeo eacute sempre um encontro de totalidaderdquo

Este encontro esta compreensatildeo no Coro Terapecircutico satildeo viabilizados principalmente

na ldquoescutardquo da musicoterapeutacondutora ao valorizar as diferentes formas de expressatildeo

(o cantar as mensagens os textos de autoria proacutepria fatos do cotidiano queixas piadas

memoacuterias e opiniotildees) trazidas pelos participantes do grupo Apresenta-se a seguir

recortes de entrevistas e depoimentos de idosos transcritos no decorrer de uma pesquisa

fenomenoloacutegica sobre o Coro Terapecircutico

- ldquoMinha voz parece que melhorou melhorou a minha mente tudo eu acho que melhorou

com a Oficina a memoacuteria a dicccedilatildeo melhorou muitordquo (A) ldquoSe natildeo tivesse que vir ficava

em casa quieta Assim vocecirc eacute obrigada a agir se aprontar tomar o carro e seguir natildeo eacuterdquo

(AV) ldquoem casa eu me reservo muito mas aqui me realizordquo ldquoEacute terapia porque aquele eacute

o momento esperado por mim aquele eacute o momento que eu me realizordquo (I) ldquoO coral eacute

uma coisa maravilhosa para a terceira idade pelo menos na minha concepccedilatildeordquo ldquoEacute

maravilhoso e belo cantar parece que nos transportamos para o infinitordquo (A) ldquoTodo o

sentimento que o ser humano carrega em si principalmente noacutes da 3ordf idade que jaacute

passamos por todos os sentimentos e agora descobrimos com a experiecircncia que o mais

valioso na vida eacute realmente o sentimentordquo [] ldquonos conduziu a momentos muito alegres

e por incriacutevel que pareccedila nos fez cantarE acreditamos na nossa possibilidade E

acreditamos em noacutes E transbordamos de alegria ao trazer do passado muacutesicas ateacute

esquecidas mas cheias de poesia e beleza E rejuvenescemosrdquo (H)

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Alguns elementos observados no decorrer do processo terapecircutico com o grupo (Coro

Terapecircutico) foram a socializaccedilatildeo a solidariedade entre os participantes a

respeitabilidade que fortaleceu a uniatildeo do grupo e a sensaccedilatildeo de auto-realizacatildeo

advinda da construccedilatildeo conjunta em torno de um ideal comum a todos que eacute a expressatildeo

atraveacutes do cantar

Acredita-se que as relaccedilotildees sociais que se estabeleceram no grupo satildeo aspectos

relevantes para a subjetividade do ser humano o mundo interno que possui e suas

expressotildees O homem eacute um ser social e como um ser de relaccedilotildees sociais estaacute em

permanente movimento

Segundo Bock Furtado e Teixeira (1999) a Psicologia Social como aacuterea de conhecimento

passa a estudar o psiquismo humano ldquobuscando compreender como se daacute a construccedilatildeo

desse mundo interno a partir das relaccedilotildees sociais vividas pelo homem O mundo objetivo

passa a ser visto natildeo como fator de influecircncia para o desenvolvimento da subjetividade

mas como fator constitutivordquo (p 141)

Este fator constitutivo estaacute relacionado ao ldquocantarrdquo como meio para a auto-expressatildeo e a

auto-realizaccedilatildeo - o que implica no ldquofazerrdquo na ldquoatividaderdquo e na realizaccedilatildeo do homem A

atividade humana eacute a base do conhecimento e do pensamento do homem que constroacutei o

seu mundo interno na medida em que atua e transforma o mundo externo

Outro ponto depreendido das falas dos participantes eacute que as canccedilotildees revelam a

ldquosubjetividadeexistencialidade interna do serrdquo Este se relaciona agrave consciecircncia ao pensar

humano A consciecircncia natildeo se limita ao saber loacutegico incluindo tambeacutem o saber das

emoccedilotildees e sentimentos do homem o saber dos desejos e o saber do inconsciente O

ldquopensarrdquo transpareceu nas canccedilotildees e nos conteuacutedos destas que trouxeram os

sentimentos a subjetividade e o universo afetivo dos participantes

Rodrigues (1999) acredita que eacute fundamental para o idoso utilizar suas memoacuterias suas

ricas lembranccedilas e aprendizados mas que eacute imprescindiacutevel que adicionem novos

conhecimentos que soacute eacute possiacutevel para quem se abre ao eterno aprender

Finalmente observou-se nos depoimentos e entrevistas que a auto-confianccedila do ldquoserrdquo

participante do Coro Terapecircutico faz com que ele tenha expectativas para o futuro

Ressalta-se assim a identidade Bock Furtado e Teixeira (1999) comentam que a

identidade eacute a siacutentese pessoal sobre si mesmo eacute a denominaccedilatildeo dada agraves representaccedilotildees

e sentimentos que o indiviacuteduo desenvolve a respeito de si proacuteprio a partir do conjunto de

suas vivecircncias

Objetivou-se com o Coro Terapecircutico para a Terceira Idade proporcionar aos participantes

do grupo a auto-realizaccedilatildeo a motivaccedilatildeo para o viver a satisfaccedilatildeoprazer a prevenccedilatildeo da

Sauacutede Mental a melhoria da qualidade de vida melhorar as relaccedilotildees intra e inter-pessoais

e a interaccedilatildeo social estimular o resgate de memoacuteria e valorizar a dignidade de toda e

qualquer lembranccedila a percepccedilatildeo do outro e do universo sonoro do outro e a

compreensatildeo da subjetividade da existencialidade interna de cada um

Cabe ressaltar que o novo conceito de Coro Terapecircutico consiste num grupo conduzido

por um musicoterapeuta com objetivos terapecircuticos em que a voz eacute utilizada como

recurso para a comunicaccedilatildeo expressatildeo satisfaccedilatildeo e interaccedilatildeo social Os participantes

atraveacutes do cantar veiculam sua subjetividade externando sua existencialidade interna

Acredita-se que eacute possiacutevel proporcionar ao idoso uma sensaccedilatildeo diferente daquela em que

eacute somente um sobrevivente para ser tambeacutem um agente capaz de inuacutemeras

accedilotildeesrelaccedilotildees sociais e emocionais A construccedilatildeo do ser eacute um processo contiacutenuo que se

daacute em todas as etapas da vida Estar consciente deste processo desta continuidade pode

ser um grande diferencial para a qualidade de vida de todo e qualquer indiviacuteduo

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

AUGRAS M O ser da compreensatildeo - fenomenologia da situaccedilatildeo de psicodiagnoacutestico

4ed Rio de Janeiro Petroacutepolis1994

BEHLAU M PONTES P Avaliaccedilatildeo e tratamento das disfonias Satildeo Paulo Ed Lovise

1995 312 p

BOCK A B FURTADO O TEIXEIRA M T Psicologias - uma introduccedilatildeo ao estudo de

psicologia 13ed Satildeo Paulo Saraiva 1999 368 p

BRACK R M O cantor e sua preciosa voz In MARTINEZ E et al Regecircncia coral -

princiacutepios baacutesicos Curitiba Dom Bosco 2000 p197-206

BRUSCIA K E Definindo Musicoterapia Traduccedilatildeo por Mariza V F Conde 2edRio de

Janeiro Enelivros 2000

CERQUEIRA C M Afinaccedilatildeo global - corpo voz e emoccedilatildeo ndash uma proposta

musicoteraacutepica Monografia apresentada ao Curso de Especializaccedilatildeo em Musicoterapia

Conservatoacuterio Brasileiro de Musicoterapia Rio de Janeiro 1996 70 p

COELHO H de S NW Teacutecnica vocal para coros 4ed Satildeo Leopoldo RS Sinodal 1999

76 p

CORREcircA A C de O Envelhecimento depressatildeo e doenccedila de Alzheimer Belo Horizonte

Health 1996 227 p

COSTA H O SILVA M de A Voz cantada - evoluccedilatildeo avaliaccedilatildeo e terapia

fonoaudioloacutegica Satildeo Paulo Ed Lovise 1998 181 p

DINVILLE C A teacutecnica da voz cantada 2ed Traduccedilatildeo por Marjorie B C Hasson Rio de

Janeiro Enelivros 1993 160 p

FRAIMAN A P Coisas da idade Satildeo Paulo Gente 1995 143 p

MARTINS DE SAacute J L Gerontologia e interdisciplinaridade fundamentos epistemoloacutegicos

In NERI A L DEBERT G (orgs) Velhice e sociedade Campinas SP Papirus 1999 p

223-232

MILLECCO FILHO L A BRANDAtildeO Mordf R MILLECCO R P Eacute preciso cantar Rio de

Janeiro Enelivros 2001 136 p

NERI A(org) Psicologia do envelhecimento Campinas SP Papirus 1995 276p

RIBEIRO J P Teorias e teacutecnicas psicoteraacutepicas 2ed Petroacutepolis Vozes 1988

RODRIGUES A de M Construindo o envelhecimento 2ed Pelotas Educat 1999 127p

VERAS R (org) Terceira idade desafios para o terceiro milecircnio Rio de Janeiro Relume-

Dumaraacute UnATI UERJ 1997 192 p

ZANINI C R de O O cantar e a terceira idade Nova Geraccedilatildeo Goiacircnia Ano III n12 p3

julho 2000

___________________ Coro Terapecircutico ndash um olhar do musicoterapeuta para o idoso no

novo milecircnio Dissertaccedilatildeo apresentada ao Mestrado em Muacutesica Universidade Federal de

Goiaacutes Goiacircnia 2002 142p

  • INTRODUCcedilAtildeO

processo confianccedila e respeito pelo grupo com relaccedilatildeo agrave tomada de decisotildees sobre o

mesmo (por exemplo ao decidir aceitar ou natildeo um convite para apresentaccedilatildeo)

Para Ribeiro (1988 p 17) o ldquoencontro cliente-terapeutardquo seraacute sempre um encontro de

pessoas O terapeuta deve sentir afetiva e emocionalmente o cliente percebendo-o como

um todo integrado ldquoA relaccedilatildeo eacute sempre um encontro de totalidaderdquo

Este encontro esta compreensatildeo no Coro Terapecircutico satildeo viabilizados principalmente

na ldquoescutardquo da musicoterapeutacondutora ao valorizar as diferentes formas de expressatildeo

(o cantar as mensagens os textos de autoria proacutepria fatos do cotidiano queixas piadas

memoacuterias e opiniotildees) trazidas pelos participantes do grupo Apresenta-se a seguir

recortes de entrevistas e depoimentos de idosos transcritos no decorrer de uma pesquisa

fenomenoloacutegica sobre o Coro Terapecircutico

- ldquoMinha voz parece que melhorou melhorou a minha mente tudo eu acho que melhorou

com a Oficina a memoacuteria a dicccedilatildeo melhorou muitordquo (A) ldquoSe natildeo tivesse que vir ficava

em casa quieta Assim vocecirc eacute obrigada a agir se aprontar tomar o carro e seguir natildeo eacuterdquo

(AV) ldquoem casa eu me reservo muito mas aqui me realizordquo ldquoEacute terapia porque aquele eacute

o momento esperado por mim aquele eacute o momento que eu me realizordquo (I) ldquoO coral eacute

uma coisa maravilhosa para a terceira idade pelo menos na minha concepccedilatildeordquo ldquoEacute

maravilhoso e belo cantar parece que nos transportamos para o infinitordquo (A) ldquoTodo o

sentimento que o ser humano carrega em si principalmente noacutes da 3ordf idade que jaacute

passamos por todos os sentimentos e agora descobrimos com a experiecircncia que o mais

valioso na vida eacute realmente o sentimentordquo [] ldquonos conduziu a momentos muito alegres

e por incriacutevel que pareccedila nos fez cantarE acreditamos na nossa possibilidade E

acreditamos em noacutes E transbordamos de alegria ao trazer do passado muacutesicas ateacute

esquecidas mas cheias de poesia e beleza E rejuvenescemosrdquo (H)

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Alguns elementos observados no decorrer do processo terapecircutico com o grupo (Coro

Terapecircutico) foram a socializaccedilatildeo a solidariedade entre os participantes a

respeitabilidade que fortaleceu a uniatildeo do grupo e a sensaccedilatildeo de auto-realizacatildeo

advinda da construccedilatildeo conjunta em torno de um ideal comum a todos que eacute a expressatildeo

atraveacutes do cantar

Acredita-se que as relaccedilotildees sociais que se estabeleceram no grupo satildeo aspectos

relevantes para a subjetividade do ser humano o mundo interno que possui e suas

expressotildees O homem eacute um ser social e como um ser de relaccedilotildees sociais estaacute em

permanente movimento

Segundo Bock Furtado e Teixeira (1999) a Psicologia Social como aacuterea de conhecimento

passa a estudar o psiquismo humano ldquobuscando compreender como se daacute a construccedilatildeo

desse mundo interno a partir das relaccedilotildees sociais vividas pelo homem O mundo objetivo

passa a ser visto natildeo como fator de influecircncia para o desenvolvimento da subjetividade

mas como fator constitutivordquo (p 141)

Este fator constitutivo estaacute relacionado ao ldquocantarrdquo como meio para a auto-expressatildeo e a

auto-realizaccedilatildeo - o que implica no ldquofazerrdquo na ldquoatividaderdquo e na realizaccedilatildeo do homem A

atividade humana eacute a base do conhecimento e do pensamento do homem que constroacutei o

seu mundo interno na medida em que atua e transforma o mundo externo

Outro ponto depreendido das falas dos participantes eacute que as canccedilotildees revelam a

ldquosubjetividadeexistencialidade interna do serrdquo Este se relaciona agrave consciecircncia ao pensar

humano A consciecircncia natildeo se limita ao saber loacutegico incluindo tambeacutem o saber das

emoccedilotildees e sentimentos do homem o saber dos desejos e o saber do inconsciente O

ldquopensarrdquo transpareceu nas canccedilotildees e nos conteuacutedos destas que trouxeram os

sentimentos a subjetividade e o universo afetivo dos participantes

Rodrigues (1999) acredita que eacute fundamental para o idoso utilizar suas memoacuterias suas

ricas lembranccedilas e aprendizados mas que eacute imprescindiacutevel que adicionem novos

conhecimentos que soacute eacute possiacutevel para quem se abre ao eterno aprender

Finalmente observou-se nos depoimentos e entrevistas que a auto-confianccedila do ldquoserrdquo

participante do Coro Terapecircutico faz com que ele tenha expectativas para o futuro

Ressalta-se assim a identidade Bock Furtado e Teixeira (1999) comentam que a

identidade eacute a siacutentese pessoal sobre si mesmo eacute a denominaccedilatildeo dada agraves representaccedilotildees

e sentimentos que o indiviacuteduo desenvolve a respeito de si proacuteprio a partir do conjunto de

suas vivecircncias

Objetivou-se com o Coro Terapecircutico para a Terceira Idade proporcionar aos participantes

do grupo a auto-realizaccedilatildeo a motivaccedilatildeo para o viver a satisfaccedilatildeoprazer a prevenccedilatildeo da

Sauacutede Mental a melhoria da qualidade de vida melhorar as relaccedilotildees intra e inter-pessoais

e a interaccedilatildeo social estimular o resgate de memoacuteria e valorizar a dignidade de toda e

qualquer lembranccedila a percepccedilatildeo do outro e do universo sonoro do outro e a

compreensatildeo da subjetividade da existencialidade interna de cada um

Cabe ressaltar que o novo conceito de Coro Terapecircutico consiste num grupo conduzido

por um musicoterapeuta com objetivos terapecircuticos em que a voz eacute utilizada como

recurso para a comunicaccedilatildeo expressatildeo satisfaccedilatildeo e interaccedilatildeo social Os participantes

atraveacutes do cantar veiculam sua subjetividade externando sua existencialidade interna

Acredita-se que eacute possiacutevel proporcionar ao idoso uma sensaccedilatildeo diferente daquela em que

eacute somente um sobrevivente para ser tambeacutem um agente capaz de inuacutemeras

accedilotildeesrelaccedilotildees sociais e emocionais A construccedilatildeo do ser eacute um processo contiacutenuo que se

daacute em todas as etapas da vida Estar consciente deste processo desta continuidade pode

ser um grande diferencial para a qualidade de vida de todo e qualquer indiviacuteduo

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

AUGRAS M O ser da compreensatildeo - fenomenologia da situaccedilatildeo de psicodiagnoacutestico

4ed Rio de Janeiro Petroacutepolis1994

BEHLAU M PONTES P Avaliaccedilatildeo e tratamento das disfonias Satildeo Paulo Ed Lovise

1995 312 p

BOCK A B FURTADO O TEIXEIRA M T Psicologias - uma introduccedilatildeo ao estudo de

psicologia 13ed Satildeo Paulo Saraiva 1999 368 p

BRACK R M O cantor e sua preciosa voz In MARTINEZ E et al Regecircncia coral -

princiacutepios baacutesicos Curitiba Dom Bosco 2000 p197-206

BRUSCIA K E Definindo Musicoterapia Traduccedilatildeo por Mariza V F Conde 2edRio de

Janeiro Enelivros 2000

CERQUEIRA C M Afinaccedilatildeo global - corpo voz e emoccedilatildeo ndash uma proposta

musicoteraacutepica Monografia apresentada ao Curso de Especializaccedilatildeo em Musicoterapia

Conservatoacuterio Brasileiro de Musicoterapia Rio de Janeiro 1996 70 p

COELHO H de S NW Teacutecnica vocal para coros 4ed Satildeo Leopoldo RS Sinodal 1999

76 p

CORREcircA A C de O Envelhecimento depressatildeo e doenccedila de Alzheimer Belo Horizonte

Health 1996 227 p

COSTA H O SILVA M de A Voz cantada - evoluccedilatildeo avaliaccedilatildeo e terapia

fonoaudioloacutegica Satildeo Paulo Ed Lovise 1998 181 p

DINVILLE C A teacutecnica da voz cantada 2ed Traduccedilatildeo por Marjorie B C Hasson Rio de

Janeiro Enelivros 1993 160 p

FRAIMAN A P Coisas da idade Satildeo Paulo Gente 1995 143 p

MARTINS DE SAacute J L Gerontologia e interdisciplinaridade fundamentos epistemoloacutegicos

In NERI A L DEBERT G (orgs) Velhice e sociedade Campinas SP Papirus 1999 p

223-232

MILLECCO FILHO L A BRANDAtildeO Mordf R MILLECCO R P Eacute preciso cantar Rio de

Janeiro Enelivros 2001 136 p

NERI A(org) Psicologia do envelhecimento Campinas SP Papirus 1995 276p

RIBEIRO J P Teorias e teacutecnicas psicoteraacutepicas 2ed Petroacutepolis Vozes 1988

RODRIGUES A de M Construindo o envelhecimento 2ed Pelotas Educat 1999 127p

VERAS R (org) Terceira idade desafios para o terceiro milecircnio Rio de Janeiro Relume-

Dumaraacute UnATI UERJ 1997 192 p

ZANINI C R de O O cantar e a terceira idade Nova Geraccedilatildeo Goiacircnia Ano III n12 p3

julho 2000

___________________ Coro Terapecircutico ndash um olhar do musicoterapeuta para o idoso no

novo milecircnio Dissertaccedilatildeo apresentada ao Mestrado em Muacutesica Universidade Federal de

Goiaacutes Goiacircnia 2002 142p

  • INTRODUCcedilAtildeO

expressotildees O homem eacute um ser social e como um ser de relaccedilotildees sociais estaacute em

permanente movimento

Segundo Bock Furtado e Teixeira (1999) a Psicologia Social como aacuterea de conhecimento

passa a estudar o psiquismo humano ldquobuscando compreender como se daacute a construccedilatildeo

desse mundo interno a partir das relaccedilotildees sociais vividas pelo homem O mundo objetivo

passa a ser visto natildeo como fator de influecircncia para o desenvolvimento da subjetividade

mas como fator constitutivordquo (p 141)

Este fator constitutivo estaacute relacionado ao ldquocantarrdquo como meio para a auto-expressatildeo e a

auto-realizaccedilatildeo - o que implica no ldquofazerrdquo na ldquoatividaderdquo e na realizaccedilatildeo do homem A

atividade humana eacute a base do conhecimento e do pensamento do homem que constroacutei o

seu mundo interno na medida em que atua e transforma o mundo externo

Outro ponto depreendido das falas dos participantes eacute que as canccedilotildees revelam a

ldquosubjetividadeexistencialidade interna do serrdquo Este se relaciona agrave consciecircncia ao pensar

humano A consciecircncia natildeo se limita ao saber loacutegico incluindo tambeacutem o saber das

emoccedilotildees e sentimentos do homem o saber dos desejos e o saber do inconsciente O

ldquopensarrdquo transpareceu nas canccedilotildees e nos conteuacutedos destas que trouxeram os

sentimentos a subjetividade e o universo afetivo dos participantes

Rodrigues (1999) acredita que eacute fundamental para o idoso utilizar suas memoacuterias suas

ricas lembranccedilas e aprendizados mas que eacute imprescindiacutevel que adicionem novos

conhecimentos que soacute eacute possiacutevel para quem se abre ao eterno aprender

Finalmente observou-se nos depoimentos e entrevistas que a auto-confianccedila do ldquoserrdquo

participante do Coro Terapecircutico faz com que ele tenha expectativas para o futuro

Ressalta-se assim a identidade Bock Furtado e Teixeira (1999) comentam que a

identidade eacute a siacutentese pessoal sobre si mesmo eacute a denominaccedilatildeo dada agraves representaccedilotildees

e sentimentos que o indiviacuteduo desenvolve a respeito de si proacuteprio a partir do conjunto de

suas vivecircncias

Objetivou-se com o Coro Terapecircutico para a Terceira Idade proporcionar aos participantes

do grupo a auto-realizaccedilatildeo a motivaccedilatildeo para o viver a satisfaccedilatildeoprazer a prevenccedilatildeo da

Sauacutede Mental a melhoria da qualidade de vida melhorar as relaccedilotildees intra e inter-pessoais

e a interaccedilatildeo social estimular o resgate de memoacuteria e valorizar a dignidade de toda e

qualquer lembranccedila a percepccedilatildeo do outro e do universo sonoro do outro e a

compreensatildeo da subjetividade da existencialidade interna de cada um

Cabe ressaltar que o novo conceito de Coro Terapecircutico consiste num grupo conduzido

por um musicoterapeuta com objetivos terapecircuticos em que a voz eacute utilizada como

recurso para a comunicaccedilatildeo expressatildeo satisfaccedilatildeo e interaccedilatildeo social Os participantes

atraveacutes do cantar veiculam sua subjetividade externando sua existencialidade interna

Acredita-se que eacute possiacutevel proporcionar ao idoso uma sensaccedilatildeo diferente daquela em que

eacute somente um sobrevivente para ser tambeacutem um agente capaz de inuacutemeras

accedilotildeesrelaccedilotildees sociais e emocionais A construccedilatildeo do ser eacute um processo contiacutenuo que se

daacute em todas as etapas da vida Estar consciente deste processo desta continuidade pode

ser um grande diferencial para a qualidade de vida de todo e qualquer indiviacuteduo

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

AUGRAS M O ser da compreensatildeo - fenomenologia da situaccedilatildeo de psicodiagnoacutestico

4ed Rio de Janeiro Petroacutepolis1994

BEHLAU M PONTES P Avaliaccedilatildeo e tratamento das disfonias Satildeo Paulo Ed Lovise

1995 312 p

BOCK A B FURTADO O TEIXEIRA M T Psicologias - uma introduccedilatildeo ao estudo de

psicologia 13ed Satildeo Paulo Saraiva 1999 368 p

BRACK R M O cantor e sua preciosa voz In MARTINEZ E et al Regecircncia coral -

princiacutepios baacutesicos Curitiba Dom Bosco 2000 p197-206

BRUSCIA K E Definindo Musicoterapia Traduccedilatildeo por Mariza V F Conde 2edRio de

Janeiro Enelivros 2000

CERQUEIRA C M Afinaccedilatildeo global - corpo voz e emoccedilatildeo ndash uma proposta

musicoteraacutepica Monografia apresentada ao Curso de Especializaccedilatildeo em Musicoterapia

Conservatoacuterio Brasileiro de Musicoterapia Rio de Janeiro 1996 70 p

COELHO H de S NW Teacutecnica vocal para coros 4ed Satildeo Leopoldo RS Sinodal 1999

76 p

CORREcircA A C de O Envelhecimento depressatildeo e doenccedila de Alzheimer Belo Horizonte

Health 1996 227 p

COSTA H O SILVA M de A Voz cantada - evoluccedilatildeo avaliaccedilatildeo e terapia

fonoaudioloacutegica Satildeo Paulo Ed Lovise 1998 181 p

DINVILLE C A teacutecnica da voz cantada 2ed Traduccedilatildeo por Marjorie B C Hasson Rio de

Janeiro Enelivros 1993 160 p

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In NERI A L DEBERT G (orgs) Velhice e sociedade Campinas SP Papirus 1999 p

223-232

MILLECCO FILHO L A BRANDAtildeO Mordf R MILLECCO R P Eacute preciso cantar Rio de

Janeiro Enelivros 2001 136 p

NERI A(org) Psicologia do envelhecimento Campinas SP Papirus 1995 276p

RIBEIRO J P Teorias e teacutecnicas psicoteraacutepicas 2ed Petroacutepolis Vozes 1988

RODRIGUES A de M Construindo o envelhecimento 2ed Pelotas Educat 1999 127p

VERAS R (org) Terceira idade desafios para o terceiro milecircnio Rio de Janeiro Relume-

Dumaraacute UnATI UERJ 1997 192 p

ZANINI C R de O O cantar e a terceira idade Nova Geraccedilatildeo Goiacircnia Ano III n12 p3

julho 2000

___________________ Coro Terapecircutico ndash um olhar do musicoterapeuta para o idoso no

novo milecircnio Dissertaccedilatildeo apresentada ao Mestrado em Muacutesica Universidade Federal de

Goiaacutes Goiacircnia 2002 142p

  • INTRODUCcedilAtildeO

Cabe ressaltar que o novo conceito de Coro Terapecircutico consiste num grupo conduzido

por um musicoterapeuta com objetivos terapecircuticos em que a voz eacute utilizada como

recurso para a comunicaccedilatildeo expressatildeo satisfaccedilatildeo e interaccedilatildeo social Os participantes

atraveacutes do cantar veiculam sua subjetividade externando sua existencialidade interna

Acredita-se que eacute possiacutevel proporcionar ao idoso uma sensaccedilatildeo diferente daquela em que

eacute somente um sobrevivente para ser tambeacutem um agente capaz de inuacutemeras

accedilotildeesrelaccedilotildees sociais e emocionais A construccedilatildeo do ser eacute um processo contiacutenuo que se

daacute em todas as etapas da vida Estar consciente deste processo desta continuidade pode

ser um grande diferencial para a qualidade de vida de todo e qualquer indiviacuteduo

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

AUGRAS M O ser da compreensatildeo - fenomenologia da situaccedilatildeo de psicodiagnoacutestico

4ed Rio de Janeiro Petroacutepolis1994

BEHLAU M PONTES P Avaliaccedilatildeo e tratamento das disfonias Satildeo Paulo Ed Lovise

1995 312 p

BOCK A B FURTADO O TEIXEIRA M T Psicologias - uma introduccedilatildeo ao estudo de

psicologia 13ed Satildeo Paulo Saraiva 1999 368 p

BRACK R M O cantor e sua preciosa voz In MARTINEZ E et al Regecircncia coral -

princiacutepios baacutesicos Curitiba Dom Bosco 2000 p197-206

BRUSCIA K E Definindo Musicoterapia Traduccedilatildeo por Mariza V F Conde 2edRio de

Janeiro Enelivros 2000

CERQUEIRA C M Afinaccedilatildeo global - corpo voz e emoccedilatildeo ndash uma proposta

musicoteraacutepica Monografia apresentada ao Curso de Especializaccedilatildeo em Musicoterapia

Conservatoacuterio Brasileiro de Musicoterapia Rio de Janeiro 1996 70 p

COELHO H de S NW Teacutecnica vocal para coros 4ed Satildeo Leopoldo RS Sinodal 1999

76 p

CORREcircA A C de O Envelhecimento depressatildeo e doenccedila de Alzheimer Belo Horizonte

Health 1996 227 p

COSTA H O SILVA M de A Voz cantada - evoluccedilatildeo avaliaccedilatildeo e terapia

fonoaudioloacutegica Satildeo Paulo Ed Lovise 1998 181 p

DINVILLE C A teacutecnica da voz cantada 2ed Traduccedilatildeo por Marjorie B C Hasson Rio de

Janeiro Enelivros 1993 160 p

FRAIMAN A P Coisas da idade Satildeo Paulo Gente 1995 143 p

MARTINS DE SAacute J L Gerontologia e interdisciplinaridade fundamentos epistemoloacutegicos

In NERI A L DEBERT G (orgs) Velhice e sociedade Campinas SP Papirus 1999 p

223-232

MILLECCO FILHO L A BRANDAtildeO Mordf R MILLECCO R P Eacute preciso cantar Rio de

Janeiro Enelivros 2001 136 p

NERI A(org) Psicologia do envelhecimento Campinas SP Papirus 1995 276p

RIBEIRO J P Teorias e teacutecnicas psicoteraacutepicas 2ed Petroacutepolis Vozes 1988

RODRIGUES A de M Construindo o envelhecimento 2ed Pelotas Educat 1999 127p

VERAS R (org) Terceira idade desafios para o terceiro milecircnio Rio de Janeiro Relume-

Dumaraacute UnATI UERJ 1997 192 p

ZANINI C R de O O cantar e a terceira idade Nova Geraccedilatildeo Goiacircnia Ano III n12 p3

julho 2000

___________________ Coro Terapecircutico ndash um olhar do musicoterapeuta para o idoso no

novo milecircnio Dissertaccedilatildeo apresentada ao Mestrado em Muacutesica Universidade Federal de

Goiaacutes Goiacircnia 2002 142p

  • INTRODUCcedilAtildeO

DINVILLE C A teacutecnica da voz cantada 2ed Traduccedilatildeo por Marjorie B C Hasson Rio de

Janeiro Enelivros 1993 160 p

FRAIMAN A P Coisas da idade Satildeo Paulo Gente 1995 143 p

MARTINS DE SAacute J L Gerontologia e interdisciplinaridade fundamentos epistemoloacutegicos

In NERI A L DEBERT G (orgs) Velhice e sociedade Campinas SP Papirus 1999 p

223-232

MILLECCO FILHO L A BRANDAtildeO Mordf R MILLECCO R P Eacute preciso cantar Rio de

Janeiro Enelivros 2001 136 p

NERI A(org) Psicologia do envelhecimento Campinas SP Papirus 1995 276p

RIBEIRO J P Teorias e teacutecnicas psicoteraacutepicas 2ed Petroacutepolis Vozes 1988

RODRIGUES A de M Construindo o envelhecimento 2ed Pelotas Educat 1999 127p

VERAS R (org) Terceira idade desafios para o terceiro milecircnio Rio de Janeiro Relume-

Dumaraacute UnATI UERJ 1997 192 p

ZANINI C R de O O cantar e a terceira idade Nova Geraccedilatildeo Goiacircnia Ano III n12 p3

julho 2000

___________________ Coro Terapecircutico ndash um olhar do musicoterapeuta para o idoso no

novo milecircnio Dissertaccedilatildeo apresentada ao Mestrado em Muacutesica Universidade Federal de

Goiaacutes Goiacircnia 2002 142p

  • INTRODUCcedilAtildeO