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Volume 1, Número 3
ISSN 2527-0532 João Pessoa, 2017
Artigo
O DESAFIO DO ENSINO DA LÍNGUA INGLESA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
Páginas 67 a 78 67
O DESAFIO DO ENSINO DA LÍNGUA INGLESA NA EDUCAÇÃO DE
JOVENS E ADULTOS
Aurélio de Oliveira Cantuária
RESUMO - O presente artigo buscou realizar reflexões acerca do desafio do ensino da
língua inglesa na Educação de Jovens e Adultos, O ensino de Língua Inglesa na Educação
de Jovens e Adultos requer atenção de vários fatores que necessitam ser identificados e
abordados com bastante precisão pelo docente, haja vista serem indispensáveis tanto para
o ensino quanto para a aprendizagem eficazes. Tais fatores como contexto social e
educacional dos alunos, idades dos mesmos, objetivos e metodologias de ensino,
ambiente escolar e material didático, se tornam a “esfera” circundante ao progresso do
alunado onde precisam ser trabalhados de forma positiva a fim de que possam contribuir
para o aprimoramento do conhecimento dos estudantes. O ensino de Língua inglesa tem,
portanto um papel necessária na formação interdisciplinar dos alunos, seja crianças,
jovens e adultos, na medida em que contribui para a construção da cidadania e favorece
a participação social, permitindo que ampliem a compreensão do mundo em que vivem,
reflitam sobre ele e possam nele intervir.
Palavras Chaves: Educação de Jovens e Adultos, Língua Inglesa, Desafio.
ABSTRACT - The present article sought to reflect on the challenge of English language
teaching in Youth and Adult Education. The teaching of English Language in Youth and
Adult Education requires attention to several factors that need to be identified and
approached with great precision by the teacher, essential for both effective teaching and
learning. Such factors as the social and educational context of the students, their ages,
teaching objectives and methodologies, school environment and didactic material,
become the "sphere" surrounding the progress of the pupil where they need to be worked
in a positive way so that they can contribute to improve students' knowledge. English
language teaching therefore has a necessary role in the interdisciplinary formation of
students, be it children, youth and adults, insofar as it contributes to the construction of
citizenship and favors social participation, allowing them to broaden their understanding
of the world in which they live , reflect on it and can intervene in it.
Keywords: Youth and Adult Education, English Language, Challenge
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O DESAFIO DO ENSINO DA LÍNGUA INGLESA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
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INTRODUÇÃO
A Educação de Jovens e Adultos (EJA) é uma modalidade de ensino, que perpassa
todos os níveis da Educação Básica do país. Essa modalidade é destinada a jovens e
adultos que não deram continuidade em seus estudos e para aqueles que não tiveram o
acesso ao Ensino Fundamental e/ou Médio na idade apropriada.
Muitas vezes as pessoas que se formam nessa modalidade de educação são vítimas
de diversas espécies de preconceitos. É importante lembrar que a maioria das pessoas que
frequentam a Educação de Jovens e Adultos são comprometidas com a aprendizagem,
entendem a importância da educação, portanto estão lá por que desejam e/ou precisam.
Geralmente, as pessoas que se formam nessa modalidade de educação, assim como as
formadas pelo ensino regular, podem apresentar desempenho satisfatório no mercado de
trabalho, assim como na continuidade dos estudos, inclusive no Ensino Superior.
Muitos desses alunos afirmam sentir algumas dificuldades nessa volta.
Dificuldades essas relacionadas à vida social, educacional, emocional (autoestima) e ao
conhecimento da Língua Inglesa. Os mais jovens, por exemplo, dizem ser difícil
adaptarem-se às salas com colegas mais velhos, da mesma forma os mais velhos
expressam os mesmos sentimentos em relação aos mais jovens. Os que trabalham, no
caso da turma em questão é a maioria, têm que sair correndo do trabalho para não se
atrasarem na escola. Algumas alunas que têm filhos pequenos precisam conseguir ajuda
de alguém para ficar com eles enquanto elas vão à escola. Há ainda a dificuldade de
organização do tempo para estudar em casa e também há uma dificuldade de concentração
nas aulas por, em algumas situações, não estarem interessados nos conteúdos que, muitas
vezes, não dizem respeito ao que eles vivem lá fora, ou seja, o encapsulamento da
aprendizagem escolar.
A língua estrangeira aparece no currículo da EJA a partir do 6º ano de
escolaridade, como preconiza a Resolução CNE/CEB nº 1, de 5 de julho de 2000, que
estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos, no
seu artigo 18, parágrafo único quando diz: “a língua estrangeira é de oferta obrigatória
nos anos finais do ensino fundamental” (BRASIL, 2000b). Esse mesmo artigo salienta
que os cursos de EJA que se destinam ao ensino fundamental deverão obedecer ao que
está previsto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), Lei nº 9.394/96.
O ensino de uma língua estrangeira requer a atenção e percepção a vários fatores
como: idade do aluno, contexto educacional, propósitos do ensino, materiais didáticos,
formas de avaliação, abordagens de ensino e etc. Esses são apenas alguns dos muitos
fatores que entram em cena na prática docente. Na educação de jovens e adultos não é
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diferente, uma vez que o professor além de lidar com os fatores mencionados, precisa
compreender o histórico social e educacional do aluno. Salas de EJA são compostas por
uma diversidade muito grande em termos de idade, condição social, interesse e
escolarização.
Conduzir esses elementos acaba às vezes sendo uma tarefa difícil se não houver
planejamento e engajamento por parte do docente na elaboração de suas aulas. Outro fator
que por vezes dificulta o trabalho é o fato de não haver Diretrizes Curriculares Estaduais
(doravante DCE) para a EJA, específicas para cada disciplina. A orientação que se tem é
que se deve seguir o mesmo esquema proposto para as series do ensino regular.
O inglês faz parte do nosso cotidiano, já que os países têm uma economia
interligada, e o conhecimento de línguas estrangeiras, ou seja, inglês, espanhol, Francês
etc. Torna-se necessário para desenvolver e ampliar as possibilidades de acesso ao
conhecimento científico, mercado de trabalho e tecnológico.
No exercício da nossa cidadania precisamos nos comunicar, interpretar e
argumentar as informações que estão a nossa volta, aprender a língua inglesa é uma
necessidade pessoal e profissional devido a modernização acelerada da nossa economia.
Assim aprender o inglês, na escola é de grande relevância, para que o aluno possa
interpretar e compreender o quadro político e social ao qual faz parte, como também
entender as tantas culturas estrangeiras entrelaçadas a sua própria cultura, com as
diferentes formas de expressão e de comportamento humano.
O ensino de Língua inglesa tem, portanto um papel necessária na formação
interdisciplinar dos alunos, seja crianças, jovens e adultos, na medida em que contribui
para a construção da cidadania e favorece a participação social, permitindo que ampliem
a compreensão do mundo em que vivem, reflitam sobre ele e possam nele intervir
O ensino de Língua Inglesa na Educação de Jovens e Adultos requer atenção de
vários fatores que necessitam ser identificados e abordados com bastante precisão pelo
docente, haja vista serem indispensáveis tanto para o ensino quanto para a aprendizagem
eficazes. Tais fatores como contexto social e educacional dos alunos, idades dos mesmos,
objetivos e metodologias de ensino, ambiente escolar e material didático, se tornam a
“esfera” circundante ao progresso do alunado onde precisam ser trabalhados de forma
positiva a fim de que possam contribuir para o aprimoramento do conhecimento dos
estudantes.
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REFERENCIAL TEÓRICO
O ensino da EJA no Brasil
A Educação de Jovens e Adultos é uma modalidade de ensino voltada para pessoas
que não frequentaram a escola regular na idade apropriada. Cada série do ano letivo é
cursada em um semestre, onde todas as disciplinas curriculares são ministradas nesse
breve espaço de tempo. O surgimento da EJA no Brasil teve início nos anos 30 do século
XX e a cada década houve inovações de programas e campanhas voltados para a
alfabetização dos adultos.
A história da educação de jovens e adultos propriamente dita no Brasil poderia ser
dividida em três períodos: de 1946 a 1958 onde tivemos foram realizada muitas
campanhas nacionais que eram chamadas de cruzadas, ou seja, campanhas para erradicar
o analfabetismo, entre esse período o analfabetismo era visto como uma doença. De 1958
a 1964, tivemos a realização em 1958 do 2º congresso nacional de Educação de Jovens e
Adultos, o qual contou com a participação do Paulo Freire. Desse congresso partiu a ideia
de um programa permanente relacionado ao problema da alfabetização surgindo o plano
nacional de alfabetização de adultos, onde quem estava à frente o Paulo Freire esse plano
foi extinto pelo golpe de estado de 1964. O governo militar insistia em campanhas como
a cruzadas do ABC (Ação Básica Cristã) e posteriormente o MOBRAL (Movimento
Brasileiro de Alfabetização), o mesmo foi constituído como um sistema que visava
basicamente o controle da população sobretudo a população da zona rural.
A difusão da educação de jovens e adultos ocorreu no século XX, pois até meados
do século XIX o acesso aos sistemas de ensino era para uma minoria da população, até
1950 mais da metade da população brasileira era analfabeto, o que mantinham esse povo
excluído da vida política, pois sendo analfabeta essa população não poderia votar. “As
primeiras políticas públicas nacionais destinadas à instrução dos jovens e adultos foram
implementadas a partir de 1947, quando se estruturou o Serviço de Educação de Adultos
do Ministério da Educação e teve início a Campanha de Educação de Adolescentes e
Adultos (UNESCO, 2008,)”.
A EJA tem um público peculiar e híbrido. É uma modalidade da educação básica
formada por adolescentes com mais de 15 anos, jovens, adultos e idosos que, por diversos
motivos, tiveram que interromper seus estudos na idade apropriada.
De acordo com o levantamento do IBGE em pesquisa domiciliar, em 1996 o Brasil
possuía 15 milhões de pessoas analfabetas com 15 anos ou mais; a maior parte delas se
encontrava nas regiões Norte (parte urbana) e Nordeste. Segundo esses dados, a
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percentagem de pessoas analfabetas cresce à medida que são consideradas idades mais
avançadas. Se de 15 a 19 anos a percentagem é de 6%, de 50 anos ou mais é de 31,5%.
Ao mesmo tempo, há indicadores de que as políticas focalizadas no atendimento à
educação escolar obrigatória estão promovendo uma queda mais acelerada do
analfabetismo nas faixas etárias mais jovens. Os percentuais relativos às taxas de
analfabetismo na população de 15 anos de idade ou mais vêm caindo sistematicamente,
se tomarmos como referência o período compreendido entre 1920 e 1996.
O Parecer CNE/CEB no 11/2000, que trata das Diretrizes Curriculares Nacionais
para a Educação de Jovens e Adultos, traz que a EJA é “uma promessa de qualificação de
vida para todos, inclusive para os idosos, que muito têm a ensinar para as novas gerações”
(BRASIL, 2000, p. 10). Ainda sobre tal modalidade, Arroyo (2007, p. 23) enfatiza que
“baixos índices de escolarização da população jovem e adulta são um gravíssimo
indicador de estarmos longe da garantia universal do direito à educação para todos”.
Um ponto importante a ser considerado em salas de aula da EJA refere-se
justamente à proposição do documento oficial citado acima, que diz que os idosos têm
muito a ensinar. Tal afirmação leva em consideração os processos formativos de todos os
indivíduos, uma vez que o aprendizado acontece independente da escola. Adultos e
idosos, mesmo longe dos bancos escolares, por diversos motivos, nunca deixaram de
aprender. Eles são fonte de conhecimento e têm muito a ensinar aos mais novos e aos
seus pares. Além disso, esses saberes devem ser levados em consideração quando esses
sujeitos retornam à escola.
Esse público e suas memórias devem ser ouvidos para que, em um processo
dialógico entre professores alunos e alunos-alunos, trocas de experiências e aulas com
mais sentido aconteçam e, por conseguinte, os estudantes tenham motivação para a
permanência na escola.
Deve-se levar em consideração também o perfil desses estudantes, distinto
daqueles que têm oportunidade de estudar na “idade convencional” no que diz respeito à
seleção de conteúdo, materiais didáticos e metodologias de ensino e de avaliação, uma
vez que esses alunos, em sua maioria, trabalham durante o dia em período integral.
A ausência do domínio da leitura e da escrita, no entanto, não representa ausência
de cultura e outros saberes não acadêmicos.
Nesse contexto, os projetos pedagógicos para turmas da EJA devem ser pensados
de maneira que possam contemplar o multiculturalismo e que sejam capazes de valorizar
e reconhecer a complementaridade entre os saberes acadêmicos e os informais (ligados
ao contexto sociocultural do educando), a experiência de vida já adquirida pelos discentes
e as diferenças entre as formas de conhecimento (SANTOS, 2005). O currículo deve
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abranger temas que possibilitem compreender o contexto em que os alunos vivem, ou
seja, que apresentem significado.
Essa concepção está de acordo com o documento base do Proeja (BRASIL, 2007),
que estabelece o objetivo da educação para adultos integrada à formação profissional: o
que realmente se pretende é a formação humana, no seu sentido lato, com acesso ao
universo de saberes e conhecimentos científicos e tecnológicos produzidos
historicamente pela humanidade, integrada a uma formação profissional que permita
compreender o mundo e compreender-se no mundo.
Nesse processo, o professor tem papel fundamental; ele deve atuar como mediador
do processo de construção do conhecimento, utilizando um “método que seja ativo,
dialógico, crítico e criticista” (FREIRE, 1979, p. 39), possibilitando uma interação maior
entre docente e discente e favorecendo o processo de ensino-aprendizagem.
As dificuldades do ensino da língua inglesa na EJA
O ensino de Língua Inglesa na Educação de Jovens e Adultos requer atenção de
vários fatores que necessitam ser identificados e abordados com bastante precisão pelo
docente, haja vista serem indispensáveis tanto para o ensino quanto para a aprendizagem
eficazes. Tais fatores como contexto social e educacional dos alunos, idades dos mesmos,
objetivos e metodologias de ensino, ambiente escolar e material didático, se tornam a
“esfera” circundante ao progresso do alunado onde precisam ser trabalhados de forma
positiva a fim de que possam contribuir para o aprimoramento do conhecimento dos
estudantes.
Ao ensinar a língua Inglesa precisamos levar em consideração diversos fatores: a
idade dos alunos, contexto educacional, as formas de se ensinar essa língua, os materiais
didáticos que o professor disponibiliza, qual será a forma de avaliação do aluno. O ensino
da Língua inglesa é permitido a partir da 5ª série hoje 6º ano. De acordo com os PCN’s
do Ensino Médio (2000, p. 25), a Língua Inglesa tem importância como qualquer outra
disciplina, pois vai fazer parte da formação do indivíduo, fazendo parte do conjunto
indissociável de conhecimentos que permitem ao estudante aproximar-se de várias
culturas e propiciam sua integração ao mundo globalizado.
Torna-se evidente que o docente da Eja deva se inserir na realidade do aluno,
vindo a conhecer suas dificuldades e expectativas, visando estabelecer um elo confiante
entre ambos os lados, de forma que haja efetivos avanços no processo de ensino-
aprendizagem. Além disso, conhecer as expectativas dos discentes procurando uma
abordagem significativa a qual possa inseri-los a uma gama de conhecimentos
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abrangentes que a Língua Inglesa oferece aos seus aprendizes. Percebemos que estes
obtém uma visão limitada sobre o referido assunto, onde pensam que o estudo de uma
língua estrangeira está condicionada apenas às regras gramaticais.
A busca pela interação professor-aluno nesse âmbito se torna o ponto de partida
para conduzir todo o processo de ensino-aprendizagem voltado para o real aprendizado
do aluno na Língua Inglesa. Esta é negada na maioria das vezes pelos próprios discentes
uma vez que não percebem sentido em aprendê-la por acharem não ser necessária sua
utilização nas ações cotidianas, ou por convicção afirmam que o aprendizado só seria útil
caso viajassem para o exterior.
Assim, essa situação é retratada por Perin (2005, p.150) Apesar de reconhecerem
a importância de se saber inglês, os alunos tratam o ensino de língua inglesa ora com
desprezo, ora com indiferença, o que causa na maioria das vezes a indisciplina nas salas
de aula [...]. O professor trabalha com a sensação de que o aluno não crê no que aprende,
demonstrando [...] menosprezo pelo que o professor se propõe a fazer durante a aula.
Para Leffa (2001) é necessário refletir sobre a situação de milhares de brasileiros,
dentre eles os adolescentes e jovens da rede pública de ensino, que são excluídos da
competição local, nacional e internacional do mercado de trabalho por causa da pouca
eficiência do ensino público.
Há outros fatores, além do reduzido tempo destinado a Língua Inglesa, que
influenciam a falta de interesse dos alunos e professores. Na maioria das escolas públicas,
a sala de aula tem condição precária, com um número alto de alunos por turma, o que
torna o trabalho com cada aluno, ou até mesmo em pequenos grupos, inviável.
Como salientam os PCN (1998, p. 21), deve-se considerar também o fato de que
as condições na sala de aula da maioria das escolas brasileiras (carga horária reduzida,
classes superlotadas, pouco domínio das habilidades orais por parte da maioria dos
professores, material didático reduzido a giz e livro didático etc.) podem inviabilizar o
ensino das quatro habilidades comunicativas.
Assim, o foco na leitura pode ser justificado pela função social das línguas
estrangeiras no país e também 48 pelos objetivos realizáveis tendo em vista as condições
existentes. (BRASIL, 1998, p. 21)
Duarte (2003) aborda algumas deficiências em relação à aprendizagem dos alunos
em LI, e as divide em três grupos: falta de hábito de estudo, de autoconfiança e de
conhecimento da língua em estudo. Ela aloca essas dificuldades em três campos distintos
dos processos de ensino e aprendizagem: o das habilidades de estudo, o emocional e o
das habilidades linguísticas.
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A autora enfatiza que essa diferenciação diz respeito a uma analogia entre o
processo de aprendizagem de línguas e um conjunto único de forças dinâmicas que se
entrelaçam, se fundem e ocorrem durante todo o processo. Em relação à competência no
campo emocional, temos a falta de autoconfiança, o medo e a insegurança para o
enfrentamento das barreiras inerentes ao processo de aprendizagem.
Várias questões de ordem emocional podem bloquear a abertura para a
aprendizagem: o número de fracassos vivenciados pelo aluno, a falta de perspectiva para
o futuro, diversas carências afetivas familiares, dura realidade social em que o aluno vive.
Já a falta de competência no campo das habilidades de estudo é representada 51 pela
ausência do hábito de estudo, dificuldade na organização dos materiais, das tarefas e do
tempo para estudar. Por fim, a competência no campo das habilidades linguísticas, que
diz respeito à falta de conhecimento prévio da Língua Inglesa para que se possa dar
continuidade à aprendizagem (DUARTE, 2003).
Muitos alunos dizem que não conseguem aprender nem o português, quanto mais
o inglês. Para Galli (2011) é bem diferente ensinar línguas para alunos motivados, a
ensinar para alunos de escola pública, que não tem nenhuma motivação. Segundo a
autora, ensinar Línguas tem de ter sentido para o aluno, é preciso valorizar seu
conhecimento de mundo.
Silva (2009) ressalta que algumas questões podem interferir negativamente em
termos motivacionais para com alunos adultos. Muitas vezes eles se sentem
desinteressados pelas aulas de língua inglesa, pois não conseguem relacionar a “nova
língua” ao seu dia a dia ou ainda por não ter afinidade com a mesma.
Para De Grèver (1975), a motivação é determinante para um bom resultado no
ensino de línguas. Ele diz que há dois tipos de motivação: a interna, que resulta da
natureza e da disposição do próprio indivíduo, e a externa, que resulta da influência do
meio. Ele ainda acrescenta um terceiro tipo, a motivação didática, que depende da didática
ou da metodologia, mas também pode apoiar-se na matéria ensinada. Se a matéria “tem
um sentido”, se tem relação com a realidade e com “as preocupações imediatas dos
alunos”
Para que a aprendizagem de uma segunda língua, seja estimulante é importante
voltá-la para o que o educando gosta de ler, ver e desenvolver, qualquer leitura é válida,
desde que o leitor saiba identificar a função social que a mesma proporciona.
Quando o leitor compreende que ler não é simplesmente um ato passivo e que a
língua inglesa proporciona um contato direto com outras culturas, assim, ele próprio fará
as inferências pertinentes. Mais para que isso aconteça os conteúdos propostos devem
fazer parte do cotidiano dos alunos, pois quando se lê a própria realidade é mais fácil
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assimilar, compreender e interpretar mesmo que em outra língua. Se o mediador age como
coautor e não mero observador, a receptividade do aluno acontece a partir do
envolvimento e o nível de afetividade que se tem sobre o tema/referente.
As escolas priorizam o ensino da língua inglesa para o aprimoramento das
habilidades cotidianas, aprendizado este, que atende a uma sociedade que exige tal
postura acadêmica de nossa parte. No entanto, quando se é mediado nas aulas de língua
inglesa., percebe-se que a mesma só não é suficiente para abranger a extensa área da
linguagem.
Aprender a falar e a escrever bem depende muito de como esse processo acontece,
o leitor-escritor precisa conhecer o texto e o contexto produzido em suas partes,
significado e significâncias de cada de palavra traduzida e assimilada, de forma a
estrutura-lo de maneira coerente e coesa, conhecimentos esses, que precisam estar
relacionados ao texto no momento de produção.
Assim, a oralidade e a escrita no ensino de língua Inglesa em qualquer época deixa
clara a identidade do autor, a escola deve como mediadora, instigar a participação
autônoma dos alunos em escrever e ler, oportunizando situações que favoreçam essa
prática.
Proporcionando aulas atrativas, dinâmicas com metodologias que realmente
mostre aos nossos alunos onde e em que momento da vida ele utilizaram tais
conhecimentos, identificando as competências e habilidades que os mesmo
desenvolveram com cada atividade e quais os objetivos a serem atingidos, reforçando
sempre que não é o produto final o importante, e sim o processo e as ações desenvolvidas
que façam realmente significados para nossos alunos e que possibilite aos mesmos o
exercício pleno da cidadania.
A relação sujeito-sujeito é vista como fundamental para o desenvolvimento, pois
a partir disso a cultura será assegurada/reconstruída, tendo os sujeitos como mediadores
para os outros. Há reflexão, conscientização e ação sobre o contexto, para assim poder
transformá-lo, tornando-se em agentes transformadores e participativos na história. Aqui
o foco da educação é a mediação, com o processo de ensino-aprendizagem realizando-se
em contextos históricos, sociais e culturais. Para termos a produção de conceitos
científicos teremos que ter uma interação com conceitos cotidianos, por meio de propostas
desafiadoras e de descobertas, esses alunos constituem-se como participantes no processo
de interação, parceiros na zona de construção. Ao professor cabe o papel de mediador e
aquele mais experiente no conteúdo a ser estudado.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com todos estes esclarecimentos podemos afirmar que há necessidade urgente de
mudança na área da Educação para sanar a defasagem do ensino aprendizagem da língua
inglesa favorecer o ensino-aprendizagem dos alunos, para que estes tenham meios de
serem inseridos no mercado de trabalho na concorrência igualitária com os outros alunos
com mais condições financeira, eliminando esta diferença e tornando assim, uma
sociedade mais justa.
E isto só poderá acontecer com a utilização de novas políticas de ensino no
benefício final premiando alunos e professores com escolas mais equipadas
eletronicamente e programas mais atraentes. Para melhorar a aprendizagem da Língua
Inglesa nas Escolas Públicas há que focar no professor, no aluno e na formação dos
professores conforme afirmam Dutra e Oliveira (2006) e reestruturar todo o ensino
burocrático convencional tomando medidas contundentes de investimentos para
capacitação dos professores envolvidos nesse objeto de estudo, além de adequar espaço
físico, livros didáticos e valorizar os Profissionais da Educação.
O processo de aquisição da Língua Inglesa é um sistema complexo que exige dos
professores e alunos um trabalho em conjunto para buscar metodologias e métodos de
aprendizagem individual e em grupo em prol de um bom resultado no estudo do referido
idioma. Considerando que a base do ensino de língua inglesa não tenha sido favorável
para as turmas progredirem no ensino médio, pode-se afirmar que a dificuldade de
aprendizagem estaria no pouco aprendizado dos alunos nas series iniciais, porém se for
analisado o contexto e a vivência do aluno com a língua em estudo seria benéfica a
alfabetização do mesmo em língua estrangeira, pois o desenvolvimento cognitivo da
língua estaria sendo usado desde os primeiros anos.
Temos as turmas de EJA com alunos de diferentes grupos. Esses alunos são cheios
de vivências, de conhecimentos, de saberes acumulados. Mas não esqueçamos que, de
alguma forma eles foram excluídos e estão retornando por vontade própria, mesmo que,
em alguns casos, alguns retornam forçados pelas exigências profissionais. Eles estão
muitas vezes desmotivados, cansados, pois muitos deles vêm do trabalho direto para a
escola. O professor precisa, portanto, saber organizar um ambiente acolhedor, para que
os alunos não se sintam excluídos. Um ambiente que permita o acesso, a permanência e
a aprendizagem desses alunos.
É necessário também que o professor busque a superação da opressão e
desigualdades sociais sofridas pela maioria desses alunos. Assim, deve-se usar de uma
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teoria do conhecimento, de uma metodologia que se baseie no respeito ao aluno, na
conquista de sua autonomia.
A metodologia aplicada em sala de aula também resulta na boa aprendizagem dos
mesmos. O uso de estratégias de ensino é uma forma encontrada pelos profissionais para
que os alunos estejam em contato com a Língua Inglesa, aumentando sua oportunidade
de uso tanto escrito quanto oral. Além disso, o uso dessas estratégias pode ser
contextualizado de acordo com a necessidade, condição social e principalmente com o
grau de motivação que cada aluno apresenta ao longo da aprendizagem. O aluno também
precisa cumprir com suas obrigações, horários, presença, material e a pratica das
atividades, pois, para alcançar êxito na aquisição de algo, não é necessário apenas um
professor motivado com metodologias diferenciadas, precisa-se de alunos que
desempenhem seus deveres como alunos. Assim, por todo o exposto neste trabalho, pode-
se afirmar que ensinar a Língua Inglesa nas Escolas Públicas é um grande desafio
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