12
Volume 1, Número 3 ISSN 2527-0532 João Pessoa, 2017 Artigo O DESAFIO DO ENSINO DA LÍNGUA INGLESA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS Páginas 67 a 78 67 O DESAFIO DO ENSINO DA LÍNGUA INGLESA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS Aurélio de Oliveira Cantuária RESUMO - O presente artigo buscou realizar reflexões acerca do desafio do ensino da língua inglesa na Educação de Jovens e Adultos, O ensino de Língua Inglesa na Educação de Jovens e Adultos requer atenção de vários fatores que necessitam ser identificados e abordados com bastante precisão pelo docente, haja vista serem indispensáveis tanto para o ensino quanto para a aprendizagem eficazes. Tais fatores como contexto social e educacional dos alunos, idades dos mesmos, objetivos e metodologias de ensino, ambiente escolar e material didático, se tornam a “esfera” circundante ao progresso do alunado onde precisam ser trabalhados de forma positiva a fim de que possam contribuir para o aprimoramento do conhecimento dos estudantes. O ensino de Língua inglesa tem, portanto um papel necessária na formação interdisciplinar dos alunos, seja crianças, jovens e adultos, na medida em que contribui para a construção da cidadania e favorece a participação social, permitindo que ampliem a compreensão do mundo em que vivem, reflitam sobre ele e possam nele intervir. Palavras Chaves: Educação de Jovens e Adultos, Língua Inglesa, Desafio. ABSTRACT - The present article sought to reflect on the challenge of English language teaching in Youth and Adult Education. The teaching of English Language in Youth and Adult Education requires attention to several factors that need to be identified and approached with great precision by the teacher, essential for both effective teaching and learning. Such factors as the social and educational context of the students, their ages, teaching objectives and methodologies, school environment and didactic material, become the "sphere" surrounding the progress of the pupil where they need to be worked in a positive way so that they can contribute to improve students' knowledge. English language teaching therefore has a necessary role in the interdisciplinary formation of students, be it children, youth and adults, insofar as it contributes to the construction of citizenship and favors social participation, allowing them to broaden their understanding of the world in which they live , reflect on it and can intervene in it. Keywords: Youth and Adult Education, English Language, Challenge

O DESAFIO DO ENSINO DA LÍNGUA INGLESA ... - Revista TC Brasilrevistatcbrasil.com.br/wp-content/uploads/2018/01/1306.pdf · O surgimento da EJA no Brasil teve início nos anos 30

Embed Size (px)

Citation preview

Volume 1, Número 3

ISSN 2527-0532 João Pessoa, 2017

Artigo

O DESAFIO DO ENSINO DA LÍNGUA INGLESA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

Páginas 67 a 78 67

O DESAFIO DO ENSINO DA LÍNGUA INGLESA NA EDUCAÇÃO DE

JOVENS E ADULTOS

Aurélio de Oliveira Cantuária

RESUMO - O presente artigo buscou realizar reflexões acerca do desafio do ensino da

língua inglesa na Educação de Jovens e Adultos, O ensino de Língua Inglesa na Educação

de Jovens e Adultos requer atenção de vários fatores que necessitam ser identificados e

abordados com bastante precisão pelo docente, haja vista serem indispensáveis tanto para

o ensino quanto para a aprendizagem eficazes. Tais fatores como contexto social e

educacional dos alunos, idades dos mesmos, objetivos e metodologias de ensino,

ambiente escolar e material didático, se tornam a “esfera” circundante ao progresso do

alunado onde precisam ser trabalhados de forma positiva a fim de que possam contribuir

para o aprimoramento do conhecimento dos estudantes. O ensino de Língua inglesa tem,

portanto um papel necessária na formação interdisciplinar dos alunos, seja crianças,

jovens e adultos, na medida em que contribui para a construção da cidadania e favorece

a participação social, permitindo que ampliem a compreensão do mundo em que vivem,

reflitam sobre ele e possam nele intervir.

Palavras Chaves: Educação de Jovens e Adultos, Língua Inglesa, Desafio.

ABSTRACT - The present article sought to reflect on the challenge of English language

teaching in Youth and Adult Education. The teaching of English Language in Youth and

Adult Education requires attention to several factors that need to be identified and

approached with great precision by the teacher, essential for both effective teaching and

learning. Such factors as the social and educational context of the students, their ages,

teaching objectives and methodologies, school environment and didactic material,

become the "sphere" surrounding the progress of the pupil where they need to be worked

in a positive way so that they can contribute to improve students' knowledge. English

language teaching therefore has a necessary role in the interdisciplinary formation of

students, be it children, youth and adults, insofar as it contributes to the construction of

citizenship and favors social participation, allowing them to broaden their understanding

of the world in which they live , reflect on it and can intervene in it.

Keywords: Youth and Adult Education, English Language, Challenge

Volume 1, Número 3

ISSN 2527-0532 João Pessoa, 2017

Artigo

O DESAFIO DO ENSINO DA LÍNGUA INGLESA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

Páginas 67 a 78 68

INTRODUÇÃO

A Educação de Jovens e Adultos (EJA) é uma modalidade de ensino, que perpassa

todos os níveis da Educação Básica do país. Essa modalidade é destinada a jovens e

adultos que não deram continuidade em seus estudos e para aqueles que não tiveram o

acesso ao Ensino Fundamental e/ou Médio na idade apropriada.

Muitas vezes as pessoas que se formam nessa modalidade de educação são vítimas

de diversas espécies de preconceitos. É importante lembrar que a maioria das pessoas que

frequentam a Educação de Jovens e Adultos são comprometidas com a aprendizagem,

entendem a importância da educação, portanto estão lá por que desejam e/ou precisam.

Geralmente, as pessoas que se formam nessa modalidade de educação, assim como as

formadas pelo ensino regular, podem apresentar desempenho satisfatório no mercado de

trabalho, assim como na continuidade dos estudos, inclusive no Ensino Superior.

Muitos desses alunos afirmam sentir algumas dificuldades nessa volta.

Dificuldades essas relacionadas à vida social, educacional, emocional (autoestima) e ao

conhecimento da Língua Inglesa. Os mais jovens, por exemplo, dizem ser difícil

adaptarem-se às salas com colegas mais velhos, da mesma forma os mais velhos

expressam os mesmos sentimentos em relação aos mais jovens. Os que trabalham, no

caso da turma em questão é a maioria, têm que sair correndo do trabalho para não se

atrasarem na escola. Algumas alunas que têm filhos pequenos precisam conseguir ajuda

de alguém para ficar com eles enquanto elas vão à escola. Há ainda a dificuldade de

organização do tempo para estudar em casa e também há uma dificuldade de concentração

nas aulas por, em algumas situações, não estarem interessados nos conteúdos que, muitas

vezes, não dizem respeito ao que eles vivem lá fora, ou seja, o encapsulamento da

aprendizagem escolar.

A língua estrangeira aparece no currículo da EJA a partir do 6º ano de

escolaridade, como preconiza a Resolução CNE/CEB nº 1, de 5 de julho de 2000, que

estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos, no

seu artigo 18, parágrafo único quando diz: “a língua estrangeira é de oferta obrigatória

nos anos finais do ensino fundamental” (BRASIL, 2000b). Esse mesmo artigo salienta

que os cursos de EJA que se destinam ao ensino fundamental deverão obedecer ao que

está previsto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), Lei nº 9.394/96.

O ensino de uma língua estrangeira requer a atenção e percepção a vários fatores

como: idade do aluno, contexto educacional, propósitos do ensino, materiais didáticos,

formas de avaliação, abordagens de ensino e etc. Esses são apenas alguns dos muitos

fatores que entram em cena na prática docente. Na educação de jovens e adultos não é

Volume 1, Número 3

ISSN 2527-0532 João Pessoa, 2017

Artigo

O DESAFIO DO ENSINO DA LÍNGUA INGLESA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

Páginas 67 a 78 69

diferente, uma vez que o professor além de lidar com os fatores mencionados, precisa

compreender o histórico social e educacional do aluno. Salas de EJA são compostas por

uma diversidade muito grande em termos de idade, condição social, interesse e

escolarização.

Conduzir esses elementos acaba às vezes sendo uma tarefa difícil se não houver

planejamento e engajamento por parte do docente na elaboração de suas aulas. Outro fator

que por vezes dificulta o trabalho é o fato de não haver Diretrizes Curriculares Estaduais

(doravante DCE) para a EJA, específicas para cada disciplina. A orientação que se tem é

que se deve seguir o mesmo esquema proposto para as series do ensino regular.

O inglês faz parte do nosso cotidiano, já que os países têm uma economia

interligada, e o conhecimento de línguas estrangeiras, ou seja, inglês, espanhol, Francês

etc. Torna-se necessário para desenvolver e ampliar as possibilidades de acesso ao

conhecimento científico, mercado de trabalho e tecnológico.

No exercício da nossa cidadania precisamos nos comunicar, interpretar e

argumentar as informações que estão a nossa volta, aprender a língua inglesa é uma

necessidade pessoal e profissional devido a modernização acelerada da nossa economia.

Assim aprender o inglês, na escola é de grande relevância, para que o aluno possa

interpretar e compreender o quadro político e social ao qual faz parte, como também

entender as tantas culturas estrangeiras entrelaçadas a sua própria cultura, com as

diferentes formas de expressão e de comportamento humano.

O ensino de Língua inglesa tem, portanto um papel necessária na formação

interdisciplinar dos alunos, seja crianças, jovens e adultos, na medida em que contribui

para a construção da cidadania e favorece a participação social, permitindo que ampliem

a compreensão do mundo em que vivem, reflitam sobre ele e possam nele intervir

O ensino de Língua Inglesa na Educação de Jovens e Adultos requer atenção de

vários fatores que necessitam ser identificados e abordados com bastante precisão pelo

docente, haja vista serem indispensáveis tanto para o ensino quanto para a aprendizagem

eficazes. Tais fatores como contexto social e educacional dos alunos, idades dos mesmos,

objetivos e metodologias de ensino, ambiente escolar e material didático, se tornam a

“esfera” circundante ao progresso do alunado onde precisam ser trabalhados de forma

positiva a fim de que possam contribuir para o aprimoramento do conhecimento dos

estudantes.

Volume 1, Número 3

ISSN 2527-0532 João Pessoa, 2017

Artigo

O DESAFIO DO ENSINO DA LÍNGUA INGLESA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

Páginas 67 a 78 70

REFERENCIAL TEÓRICO

O ensino da EJA no Brasil

A Educação de Jovens e Adultos é uma modalidade de ensino voltada para pessoas

que não frequentaram a escola regular na idade apropriada. Cada série do ano letivo é

cursada em um semestre, onde todas as disciplinas curriculares são ministradas nesse

breve espaço de tempo. O surgimento da EJA no Brasil teve início nos anos 30 do século

XX e a cada década houve inovações de programas e campanhas voltados para a

alfabetização dos adultos.

A história da educação de jovens e adultos propriamente dita no Brasil poderia ser

dividida em três períodos: de 1946 a 1958 onde tivemos foram realizada muitas

campanhas nacionais que eram chamadas de cruzadas, ou seja, campanhas para erradicar

o analfabetismo, entre esse período o analfabetismo era visto como uma doença. De 1958

a 1964, tivemos a realização em 1958 do 2º congresso nacional de Educação de Jovens e

Adultos, o qual contou com a participação do Paulo Freire. Desse congresso partiu a ideia

de um programa permanente relacionado ao problema da alfabetização surgindo o plano

nacional de alfabetização de adultos, onde quem estava à frente o Paulo Freire esse plano

foi extinto pelo golpe de estado de 1964. O governo militar insistia em campanhas como

a cruzadas do ABC (Ação Básica Cristã) e posteriormente o MOBRAL (Movimento

Brasileiro de Alfabetização), o mesmo foi constituído como um sistema que visava

basicamente o controle da população sobretudo a população da zona rural.

A difusão da educação de jovens e adultos ocorreu no século XX, pois até meados

do século XIX o acesso aos sistemas de ensino era para uma minoria da população, até

1950 mais da metade da população brasileira era analfabeto, o que mantinham esse povo

excluído da vida política, pois sendo analfabeta essa população não poderia votar. “As

primeiras políticas públicas nacionais destinadas à instrução dos jovens e adultos foram

implementadas a partir de 1947, quando se estruturou o Serviço de Educação de Adultos

do Ministério da Educação e teve início a Campanha de Educação de Adolescentes e

Adultos (UNESCO, 2008,)”.

A EJA tem um público peculiar e híbrido. É uma modalidade da educação básica

formada por adolescentes com mais de 15 anos, jovens, adultos e idosos que, por diversos

motivos, tiveram que interromper seus estudos na idade apropriada.

De acordo com o levantamento do IBGE em pesquisa domiciliar, em 1996 o Brasil

possuía 15 milhões de pessoas analfabetas com 15 anos ou mais; a maior parte delas se

encontrava nas regiões Norte (parte urbana) e Nordeste. Segundo esses dados, a

Volume 1, Número 3

ISSN 2527-0532 João Pessoa, 2017

Artigo

O DESAFIO DO ENSINO DA LÍNGUA INGLESA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

Páginas 67 a 78 71

percentagem de pessoas analfabetas cresce à medida que são consideradas idades mais

avançadas. Se de 15 a 19 anos a percentagem é de 6%, de 50 anos ou mais é de 31,5%.

Ao mesmo tempo, há indicadores de que as políticas focalizadas no atendimento à

educação escolar obrigatória estão promovendo uma queda mais acelerada do

analfabetismo nas faixas etárias mais jovens. Os percentuais relativos às taxas de

analfabetismo na população de 15 anos de idade ou mais vêm caindo sistematicamente,

se tomarmos como referência o período compreendido entre 1920 e 1996.

O Parecer CNE/CEB no 11/2000, que trata das Diretrizes Curriculares Nacionais

para a Educação de Jovens e Adultos, traz que a EJA é “uma promessa de qualificação de

vida para todos, inclusive para os idosos, que muito têm a ensinar para as novas gerações”

(BRASIL, 2000, p. 10). Ainda sobre tal modalidade, Arroyo (2007, p. 23) enfatiza que

“baixos índices de escolarização da população jovem e adulta são um gravíssimo

indicador de estarmos longe da garantia universal do direito à educação para todos”.

Um ponto importante a ser considerado em salas de aula da EJA refere-se

justamente à proposição do documento oficial citado acima, que diz que os idosos têm

muito a ensinar. Tal afirmação leva em consideração os processos formativos de todos os

indivíduos, uma vez que o aprendizado acontece independente da escola. Adultos e

idosos, mesmo longe dos bancos escolares, por diversos motivos, nunca deixaram de

aprender. Eles são fonte de conhecimento e têm muito a ensinar aos mais novos e aos

seus pares. Além disso, esses saberes devem ser levados em consideração quando esses

sujeitos retornam à escola.

Esse público e suas memórias devem ser ouvidos para que, em um processo

dialógico entre professores alunos e alunos-alunos, trocas de experiências e aulas com

mais sentido aconteçam e, por conseguinte, os estudantes tenham motivação para a

permanência na escola.

Deve-se levar em consideração também o perfil desses estudantes, distinto

daqueles que têm oportunidade de estudar na “idade convencional” no que diz respeito à

seleção de conteúdo, materiais didáticos e metodologias de ensino e de avaliação, uma

vez que esses alunos, em sua maioria, trabalham durante o dia em período integral.

A ausência do domínio da leitura e da escrita, no entanto, não representa ausência

de cultura e outros saberes não acadêmicos.

Nesse contexto, os projetos pedagógicos para turmas da EJA devem ser pensados

de maneira que possam contemplar o multiculturalismo e que sejam capazes de valorizar

e reconhecer a complementaridade entre os saberes acadêmicos e os informais (ligados

ao contexto sociocultural do educando), a experiência de vida já adquirida pelos discentes

e as diferenças entre as formas de conhecimento (SANTOS, 2005). O currículo deve

Volume 1, Número 3

ISSN 2527-0532 João Pessoa, 2017

Artigo

O DESAFIO DO ENSINO DA LÍNGUA INGLESA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

Páginas 67 a 78 72

abranger temas que possibilitem compreender o contexto em que os alunos vivem, ou

seja, que apresentem significado.

Essa concepção está de acordo com o documento base do Proeja (BRASIL, 2007),

que estabelece o objetivo da educação para adultos integrada à formação profissional: o

que realmente se pretende é a formação humana, no seu sentido lato, com acesso ao

universo de saberes e conhecimentos científicos e tecnológicos produzidos

historicamente pela humanidade, integrada a uma formação profissional que permita

compreender o mundo e compreender-se no mundo.

Nesse processo, o professor tem papel fundamental; ele deve atuar como mediador

do processo de construção do conhecimento, utilizando um “método que seja ativo,

dialógico, crítico e criticista” (FREIRE, 1979, p. 39), possibilitando uma interação maior

entre docente e discente e favorecendo o processo de ensino-aprendizagem.

As dificuldades do ensino da língua inglesa na EJA

O ensino de Língua Inglesa na Educação de Jovens e Adultos requer atenção de

vários fatores que necessitam ser identificados e abordados com bastante precisão pelo

docente, haja vista serem indispensáveis tanto para o ensino quanto para a aprendizagem

eficazes. Tais fatores como contexto social e educacional dos alunos, idades dos mesmos,

objetivos e metodologias de ensino, ambiente escolar e material didático, se tornam a

“esfera” circundante ao progresso do alunado onde precisam ser trabalhados de forma

positiva a fim de que possam contribuir para o aprimoramento do conhecimento dos

estudantes.

Ao ensinar a língua Inglesa precisamos levar em consideração diversos fatores: a

idade dos alunos, contexto educacional, as formas de se ensinar essa língua, os materiais

didáticos que o professor disponibiliza, qual será a forma de avaliação do aluno. O ensino

da Língua inglesa é permitido a partir da 5ª série hoje 6º ano. De acordo com os PCN’s

do Ensino Médio (2000, p. 25), a Língua Inglesa tem importância como qualquer outra

disciplina, pois vai fazer parte da formação do indivíduo, fazendo parte do conjunto

indissociável de conhecimentos que permitem ao estudante aproximar-se de várias

culturas e propiciam sua integração ao mundo globalizado.

Torna-se evidente que o docente da Eja deva se inserir na realidade do aluno,

vindo a conhecer suas dificuldades e expectativas, visando estabelecer um elo confiante

entre ambos os lados, de forma que haja efetivos avanços no processo de ensino-

aprendizagem. Além disso, conhecer as expectativas dos discentes procurando uma

abordagem significativa a qual possa inseri-los a uma gama de conhecimentos

Volume 1, Número 3

ISSN 2527-0532 João Pessoa, 2017

Artigo

O DESAFIO DO ENSINO DA LÍNGUA INGLESA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

Páginas 67 a 78 73

abrangentes que a Língua Inglesa oferece aos seus aprendizes. Percebemos que estes

obtém uma visão limitada sobre o referido assunto, onde pensam que o estudo de uma

língua estrangeira está condicionada apenas às regras gramaticais.

A busca pela interação professor-aluno nesse âmbito se torna o ponto de partida

para conduzir todo o processo de ensino-aprendizagem voltado para o real aprendizado

do aluno na Língua Inglesa. Esta é negada na maioria das vezes pelos próprios discentes

uma vez que não percebem sentido em aprendê-la por acharem não ser necessária sua

utilização nas ações cotidianas, ou por convicção afirmam que o aprendizado só seria útil

caso viajassem para o exterior.

Assim, essa situação é retratada por Perin (2005, p.150) Apesar de reconhecerem

a importância de se saber inglês, os alunos tratam o ensino de língua inglesa ora com

desprezo, ora com indiferença, o que causa na maioria das vezes a indisciplina nas salas

de aula [...]. O professor trabalha com a sensação de que o aluno não crê no que aprende,

demonstrando [...] menosprezo pelo que o professor se propõe a fazer durante a aula.

Para Leffa (2001) é necessário refletir sobre a situação de milhares de brasileiros,

dentre eles os adolescentes e jovens da rede pública de ensino, que são excluídos da

competição local, nacional e internacional do mercado de trabalho por causa da pouca

eficiência do ensino público.

Há outros fatores, além do reduzido tempo destinado a Língua Inglesa, que

influenciam a falta de interesse dos alunos e professores. Na maioria das escolas públicas,

a sala de aula tem condição precária, com um número alto de alunos por turma, o que

torna o trabalho com cada aluno, ou até mesmo em pequenos grupos, inviável.

Como salientam os PCN (1998, p. 21), deve-se considerar também o fato de que

as condições na sala de aula da maioria das escolas brasileiras (carga horária reduzida,

classes superlotadas, pouco domínio das habilidades orais por parte da maioria dos

professores, material didático reduzido a giz e livro didático etc.) podem inviabilizar o

ensino das quatro habilidades comunicativas.

Assim, o foco na leitura pode ser justificado pela função social das línguas

estrangeiras no país e também 48 pelos objetivos realizáveis tendo em vista as condições

existentes. (BRASIL, 1998, p. 21)

Duarte (2003) aborda algumas deficiências em relação à aprendizagem dos alunos

em LI, e as divide em três grupos: falta de hábito de estudo, de autoconfiança e de

conhecimento da língua em estudo. Ela aloca essas dificuldades em três campos distintos

dos processos de ensino e aprendizagem: o das habilidades de estudo, o emocional e o

das habilidades linguísticas.

Volume 1, Número 3

ISSN 2527-0532 João Pessoa, 2017

Artigo

O DESAFIO DO ENSINO DA LÍNGUA INGLESA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

Páginas 67 a 78 74

A autora enfatiza que essa diferenciação diz respeito a uma analogia entre o

processo de aprendizagem de línguas e um conjunto único de forças dinâmicas que se

entrelaçam, se fundem e ocorrem durante todo o processo. Em relação à competência no

campo emocional, temos a falta de autoconfiança, o medo e a insegurança para o

enfrentamento das barreiras inerentes ao processo de aprendizagem.

Várias questões de ordem emocional podem bloquear a abertura para a

aprendizagem: o número de fracassos vivenciados pelo aluno, a falta de perspectiva para

o futuro, diversas carências afetivas familiares, dura realidade social em que o aluno vive.

Já a falta de competência no campo das habilidades de estudo é representada 51 pela

ausência do hábito de estudo, dificuldade na organização dos materiais, das tarefas e do

tempo para estudar. Por fim, a competência no campo das habilidades linguísticas, que

diz respeito à falta de conhecimento prévio da Língua Inglesa para que se possa dar

continuidade à aprendizagem (DUARTE, 2003).

Muitos alunos dizem que não conseguem aprender nem o português, quanto mais

o inglês. Para Galli (2011) é bem diferente ensinar línguas para alunos motivados, a

ensinar para alunos de escola pública, que não tem nenhuma motivação. Segundo a

autora, ensinar Línguas tem de ter sentido para o aluno, é preciso valorizar seu

conhecimento de mundo.

Silva (2009) ressalta que algumas questões podem interferir negativamente em

termos motivacionais para com alunos adultos. Muitas vezes eles se sentem

desinteressados pelas aulas de língua inglesa, pois não conseguem relacionar a “nova

língua” ao seu dia a dia ou ainda por não ter afinidade com a mesma.

Para De Grèver (1975), a motivação é determinante para um bom resultado no

ensino de línguas. Ele diz que há dois tipos de motivação: a interna, que resulta da

natureza e da disposição do próprio indivíduo, e a externa, que resulta da influência do

meio. Ele ainda acrescenta um terceiro tipo, a motivação didática, que depende da didática

ou da metodologia, mas também pode apoiar-se na matéria ensinada. Se a matéria “tem

um sentido”, se tem relação com a realidade e com “as preocupações imediatas dos

alunos”

Para que a aprendizagem de uma segunda língua, seja estimulante é importante

voltá-la para o que o educando gosta de ler, ver e desenvolver, qualquer leitura é válida,

desde que o leitor saiba identificar a função social que a mesma proporciona.

Quando o leitor compreende que ler não é simplesmente um ato passivo e que a

língua inglesa proporciona um contato direto com outras culturas, assim, ele próprio fará

as inferências pertinentes. Mais para que isso aconteça os conteúdos propostos devem

fazer parte do cotidiano dos alunos, pois quando se lê a própria realidade é mais fácil

Volume 1, Número 3

ISSN 2527-0532 João Pessoa, 2017

Artigo

O DESAFIO DO ENSINO DA LÍNGUA INGLESA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

Páginas 67 a 78 75

assimilar, compreender e interpretar mesmo que em outra língua. Se o mediador age como

coautor e não mero observador, a receptividade do aluno acontece a partir do

envolvimento e o nível de afetividade que se tem sobre o tema/referente.

As escolas priorizam o ensino da língua inglesa para o aprimoramento das

habilidades cotidianas, aprendizado este, que atende a uma sociedade que exige tal

postura acadêmica de nossa parte. No entanto, quando se é mediado nas aulas de língua

inglesa., percebe-se que a mesma só não é suficiente para abranger a extensa área da

linguagem.

Aprender a falar e a escrever bem depende muito de como esse processo acontece,

o leitor-escritor precisa conhecer o texto e o contexto produzido em suas partes,

significado e significâncias de cada de palavra traduzida e assimilada, de forma a

estrutura-lo de maneira coerente e coesa, conhecimentos esses, que precisam estar

relacionados ao texto no momento de produção.

Assim, a oralidade e a escrita no ensino de língua Inglesa em qualquer época deixa

clara a identidade do autor, a escola deve como mediadora, instigar a participação

autônoma dos alunos em escrever e ler, oportunizando situações que favoreçam essa

prática.

Proporcionando aulas atrativas, dinâmicas com metodologias que realmente

mostre aos nossos alunos onde e em que momento da vida ele utilizaram tais

conhecimentos, identificando as competências e habilidades que os mesmo

desenvolveram com cada atividade e quais os objetivos a serem atingidos, reforçando

sempre que não é o produto final o importante, e sim o processo e as ações desenvolvidas

que façam realmente significados para nossos alunos e que possibilite aos mesmos o

exercício pleno da cidadania.

A relação sujeito-sujeito é vista como fundamental para o desenvolvimento, pois

a partir disso a cultura será assegurada/reconstruída, tendo os sujeitos como mediadores

para os outros. Há reflexão, conscientização e ação sobre o contexto, para assim poder

transformá-lo, tornando-se em agentes transformadores e participativos na história. Aqui

o foco da educação é a mediação, com o processo de ensino-aprendizagem realizando-se

em contextos históricos, sociais e culturais. Para termos a produção de conceitos

científicos teremos que ter uma interação com conceitos cotidianos, por meio de propostas

desafiadoras e de descobertas, esses alunos constituem-se como participantes no processo

de interação, parceiros na zona de construção. Ao professor cabe o papel de mediador e

aquele mais experiente no conteúdo a ser estudado.

Volume 1, Número 3

ISSN 2527-0532 João Pessoa, 2017

Artigo

O DESAFIO DO ENSINO DA LÍNGUA INGLESA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

Páginas 67 a 78 76

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com todos estes esclarecimentos podemos afirmar que há necessidade urgente de

mudança na área da Educação para sanar a defasagem do ensino aprendizagem da língua

inglesa favorecer o ensino-aprendizagem dos alunos, para que estes tenham meios de

serem inseridos no mercado de trabalho na concorrência igualitária com os outros alunos

com mais condições financeira, eliminando esta diferença e tornando assim, uma

sociedade mais justa.

E isto só poderá acontecer com a utilização de novas políticas de ensino no

benefício final premiando alunos e professores com escolas mais equipadas

eletronicamente e programas mais atraentes. Para melhorar a aprendizagem da Língua

Inglesa nas Escolas Públicas há que focar no professor, no aluno e na formação dos

professores conforme afirmam Dutra e Oliveira (2006) e reestruturar todo o ensino

burocrático convencional tomando medidas contundentes de investimentos para

capacitação dos professores envolvidos nesse objeto de estudo, além de adequar espaço

físico, livros didáticos e valorizar os Profissionais da Educação.

O processo de aquisição da Língua Inglesa é um sistema complexo que exige dos

professores e alunos um trabalho em conjunto para buscar metodologias e métodos de

aprendizagem individual e em grupo em prol de um bom resultado no estudo do referido

idioma. Considerando que a base do ensino de língua inglesa não tenha sido favorável

para as turmas progredirem no ensino médio, pode-se afirmar que a dificuldade de

aprendizagem estaria no pouco aprendizado dos alunos nas series iniciais, porém se for

analisado o contexto e a vivência do aluno com a língua em estudo seria benéfica a

alfabetização do mesmo em língua estrangeira, pois o desenvolvimento cognitivo da

língua estaria sendo usado desde os primeiros anos.

Temos as turmas de EJA com alunos de diferentes grupos. Esses alunos são cheios

de vivências, de conhecimentos, de saberes acumulados. Mas não esqueçamos que, de

alguma forma eles foram excluídos e estão retornando por vontade própria, mesmo que,

em alguns casos, alguns retornam forçados pelas exigências profissionais. Eles estão

muitas vezes desmotivados, cansados, pois muitos deles vêm do trabalho direto para a

escola. O professor precisa, portanto, saber organizar um ambiente acolhedor, para que

os alunos não se sintam excluídos. Um ambiente que permita o acesso, a permanência e

a aprendizagem desses alunos.

É necessário também que o professor busque a superação da opressão e

desigualdades sociais sofridas pela maioria desses alunos. Assim, deve-se usar de uma

Volume 1, Número 3

ISSN 2527-0532 João Pessoa, 2017

Artigo

O DESAFIO DO ENSINO DA LÍNGUA INGLESA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

Páginas 67 a 78 77

teoria do conhecimento, de uma metodologia que se baseie no respeito ao aluno, na

conquista de sua autonomia.

A metodologia aplicada em sala de aula também resulta na boa aprendizagem dos

mesmos. O uso de estratégias de ensino é uma forma encontrada pelos profissionais para

que os alunos estejam em contato com a Língua Inglesa, aumentando sua oportunidade

de uso tanto escrito quanto oral. Além disso, o uso dessas estratégias pode ser

contextualizado de acordo com a necessidade, condição social e principalmente com o

grau de motivação que cada aluno apresenta ao longo da aprendizagem. O aluno também

precisa cumprir com suas obrigações, horários, presença, material e a pratica das

atividades, pois, para alcançar êxito na aquisição de algo, não é necessário apenas um

professor motivado com metodologias diferenciadas, precisa-se de alunos que

desempenhem seus deveres como alunos. Assim, por todo o exposto neste trabalho, pode-

se afirmar que ensinar a Língua Inglesa nas Escolas Públicas é um grande desafio

REFERÊNCIAS

ARROYO, M. G. Balanço da EJA: o que mudou nos modos de vida dos jovens –

adultos populares? Revej@ - Revista de Educação de Jovens e Adultos, V. I; 2007.

BRASIL. Congresso Nacional. Lei Federal nº 9.394. Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional. Brasília, 20 de dezembro de 1996.

________. Conselho Nacional de Educação. Parecer CNE/CEB nº 11/2001 e Resolução

CNE/CBE nº 1/2000. Diretrizes Curriculares para a Educação de Jovens e Adultos.

Brasília: MEC, maio 2000.

________. Mapa do Analfabetismo no Brasil. Brasília: MEC/INEP, 2003. Disponível

em http://www.inep.gov.br/estatisticas/analfabetismo/.

________. Congresso Nacional. Decreto nº 5.478. Instituição do Proeja. Brasília, 24 de

junho de 2005.

_______. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais:

terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: língua estrangeira. Brasília: Secretaria

de Educação Fundamental, 1998.

Volume 1, Número 3

ISSN 2527-0532 João Pessoa, 2017

Artigo

O DESAFIO DO ENSINO DA LÍNGUA INGLESA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

Páginas 67 a 78 78

DUARTE, V.C. Que querer é esse que eu quero? Despertando o querer usando

atividades teatrais. In: Reflexão e ações no ensino-aprendizagem de línguas/Leila

Barbara e Rosinda de Castro uerra Ramos (orgs.). – Campinas, SP: Mercado de Letras,

2003.

GALLI, Joice Armani. As Línguas Estrangeiras como política de educação pública

plurilíngue. In: Línguas que botam a boca no mundo: reflexões sobre teorias e práticas

de línguas/ Joice Armani Galli (organizadora). Recife: Ed. Universitária da UFPE, p.15-

36, 2011.

LEFFA, V. J. Aspectos políticos da formação de línguas estrangeiras. In: LEFFA, V. J.

(Org.) O Professor de Línguas Estrangeiras- Construindo a Profissão. Pelotas- R.S.:

EDUCAT, 2001.

SANTOS, Boaventura de Sousa (org.). Semear outras soluções. Rio de Janeiro:

Civilização Brasileira, 2005.

UNESCO . Alfabetização de jovens e adultos no Brasil:lições da prática.— Brasília :

UNESCO, 2008. 212 p. BR/2008/PI/H/27.