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11 | Janeiro | 2014 - Se Na linha da frente da informação, para que se mantenha sempre informado com rigor e isenção - Nº 7 - Ano 1 | segunda-feira 11 de Janeiro de 2015 Mercedes Blasco pág 04 a 07 E tudo o tempo levou “Autarquia deixa fugir 60 523,93€, novo por fora, velho por dentro” pág 12/13 pág 8 Grupo Coral Mina de São Domingos

O Gasometro nº 7

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- SeNa linha da frente da informação, para que se mantenha sempre informado com rigor e isenção - Nº 7 - Ano 1 | segunda-feira 11 de Janeiro de 2015

Mercedes B lasco pág 04 a 07

E tudo o tempo levou“Autarquia deixa fugir 60 523,93€, novo por fora, velho por dentro”

pág 12/13pág 8

Grupo Coral Mina de São Domingos

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editorialTEMPOSde Mudança

Na reunião de Câmara do

passado dia 21 de janeiro, os eleitos da CDU lamentaram o facto de a maio-ria não ter discutido com a população da Mina de S. Domin-gos (tal como o fez relativamente à de Mértola), o proces-so de Reabilitação Urbana daquela lo-calidade.

A situação é tanto mais grave, uma vez que após a aprova-ção em Assembleia Municipal o dossier vai para publicação em DR, não haven-do lugar a inquérito público. Perante a

Sopas depois de almoço

insistência dos Verea-dores da CDU o Pre-sidente da Câmara in-formou que irá realizar

uma reunião naquela localidade…o que não se percebe muito bem, pois a proposta já foi

aprovada em reunião de Câmara…é caso para dizer: sopas depois de almoço?

Os Vereadores CDU questionaram a maioria PS acerca da prometida entrega de um Relatório de Balanço do Festi-val da Ilha dos Sons (Os Vereadores CDU tinham solicitado o Relatório em se-tembro), tendo o Ve-reador João Martins referido que iria dar

“…alguma ur-gência para que o mesmo seja apre-sentado na próxima reunião de Câmara”.

Na reunião se-guinte (21/1/2015) o referido relatório ainda não foi entre-gue! Vamos ver se será entregue antes do próximo Festival! Apetece perguntar: Porque são neces-sários tantos meses para elaborar um banal Relatório?

Há seis meses à espera“Ilha dos Sons” ou “Ilha dos Pesadelos”

Na última edição falámos de transparên-cia, e liberdade de expressão, mal sabíamos o que estava para acontecer em França, a reboque do trágico massacre muitos foram os Charlie’s que apareceram e empunha-ram a bandeira da liberdade de expressão, tristemente muitos continuam eles próprios a ditar a sua vontade de esconder a voz de alguns homens.

Continuo a minha luta como sempre o farei na procura da liberdade plena, acto que me vem a ser negado pela CMM (Câ-mara Municipal de Mértola) de há algum tempo a esta parte, no entanto eles são Charlie´s, tão Charlie’s que até enjoam, tão Charlie’s que escondem das populações as suas intenções, os seus actos imponderados e de enorme desprezo pelas populações.

Perguntas sem respostas é o que mais se vê por aquelas bandas, não obstante o abate ilegal de árvores, a atrocidade que cometeram na Praia Fluvial, agora também viram costas a apoios que poderiam marcar a diferença entre a ruína e a conservação.

Foi o que aconteceu com a verba que teve de ser devolvida por incompetência e falta de visão no futuro por parte desta autarquia. Mais uma vez quem sofre as consequências é a população e o património edificado da Mina de São Domingos, mais uma vez ficará impune a incompetência da gestão ruinosa desta autarquia.

Mais uma vez, e até quando pergunto?Até quando vamos permitir que estas

atrocidades continuem? meia dúzia de al-moços, umas festarolas e uns passeios de barco compram o esquecimento de muita gente, não o meu.

Espero o dia, em que a gestão ruinosa dos iluminados deste país que escondidos atrás de cores partidárias escondem as suas incapacidades e as suas incompetências, sejam condenados nos tribunais pela má gestão que fizeram das contas públicas, do património da natureza e da história de um povo.

A impunidade e a incompetência têm de ser travadas.

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Vinte anos depois a mestria do Cante continua

Grupo Coral da Mina de São Domingos

O grupo coral da Mina de S. Domingos foi fundado em 1994, os primeiros ensaios ocorreram na casa de um dos

seus fundadores, mais precisamente no lado do hospital. Com o passar dos anos já foram mui-tas as pessoas que deram a sua voz a este grupo. Actualmente conta com vinte pessoas sendo que quatro delas fazem parte da sua fundação.

Em média este grupo faz 5 a 6 saídas por ano, e organiza uma Festa própria na Mina de S. Domingos.

A actual sede do grupo é na associação de reformados da Mina de São Domingos.

Os apoio que recebem por parte da autarquia é escasso e não permite cobrir as despesas com fardamento e deslocações. Dentro em breve contam gravar um cd com as modas do nosso alentejo e da Mina.

As portas estão sempre abertas à entrada de no-vos elementos, e todos os apoios são bem vindos.

Miguel Soeiro

O Helder Peleja nosso colaborador desde o início com a página CARTOON está de parabéns depois de na passada semana ter

recebido uma Menção Honrosa num concurso onde participaram vários ilustradores.

No site da Ilustração Contemporânea Portuguesa as palavras de agrado foram muitas.

Mais uma vez a participação de grande variedade de trabalhos criativos e de um significativo número de ilustradores portugueses dificultou a selecção por parte do júri, mas mesmo assim houve unanimidade na escolha do vencedor: Parabéns Ângela Oliveira!

A todos os vencedores, os vossos conceitos e simplicidade não vos deixou passar despercebidos, adorámos o vosso trabalho!

O Gasómetro quer também aqui deixar uma pa-lavra de apreço pelo trabalho desenvolvido e pela colaboração prestada, parabéns e continuação dos excelentes trabalhos a que nos tens habituado.

À direita a obra que mereceu a Menção Honrosa.

Menção Honrosa para ilustrador da Mina de São Domingos

Helder Peleja dá cartas na Ilustração

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Mercedes BlascoD e f i n i t i v a m e n t e n a t u r a l d a M i n a d e S ã o D o m i n g o s

Conceição Vitória Marques Estrela de opereta, escritora poetisa. Usou os

nomes artísticos de Judith Mercedes Blasco e Judith Mercedes, acabando por se fixar em Mer-cedes Blasco. Nas colaborações assinou, além do nome próprio e do artístico, com os pseudónimos Dinorah Noemia e Mam’selle Caprice.

Por palavras da própria, "O meu nome de baptismo é Conceição, sem Maria e sem Anna, dois nomes accessorios com que me teem galar-doado gratuitamente os que se deitam a adivinhar. Contavam até meus paes que o parocho puzera certa relutancia em chamar-me Conceição sem outro nome antes, por não ser costume. Mas lá se convenceu, e eu fiquei só Conceição. O nome completo que usei sempre antes de entrar para o theatro, o meu nome de familia, é Conceição Victo-ria Marques. Com elle assignei varios artigos para o jornal da Manhã, do Porto, assim como escrevi outros com o pseudonimo de Dinorah Noemia."

Definitivamente e para que não fiquem dúvidas quanto à sua data de nascimento, visto haver datas divergentes sobre o dia do seu nascimento, informação de algumas páginas da internet e

organizações governamentais, que referenciam as suas obras e feitos pelo mundo, aqui fica a prova dos nove, o dia do seu baptizado em Corte do Pinto, Registo de Batismo da Igreja de Corte do Pinto, Paroquia da Nossa Senhora da Conceição, sobre o Registo nº 65 de 3 de Novembro de 1867. e o assento de Obito nª 204 da Conservatória de Mértola, que mencionar ser viuva de Remi Ghekiere e com quem teria tido dois filhos, estado civil que alguns órgãos de informação referem como nunca ter acontecido, e que vem averbado no próprio assento.

(Toda havia e em alguns casos que se tem mencionam sobre o seu nascimento no Pomarão, essa hipótese não poderá ficar totalmente fora

linha férrea e contactos navais do transporte do minério, mantendo-se essa incógnita e apontando definitivamente como sendo natural da Mina de São Domingos)

Os seus pais mudaram-se, pouco depois, para

Huelva, na Andaluzia, onde Mercedes viveu até aos sete anos de idade. Regressou a Portugal com a sua família, que se instalou no Porto, onde foi despertado seu fascínio pelo teatro. Foi nessa cidade que, em 1888, ainda menor e à revelia da família, se iniciou no tablado, após ter fugido de casa. Estreou-se no Teatro Chalet, sob o pseudó-nimo Judith Mercedes Blasco, na Grande avenida, de Francisco Jacobetty. Passou depois por uma

de questão, visto haver uma forte ligação, que através da biografia do pai, percebe-se a associação ao Pomarão tendo ele certamen-te trabalhado para a mason and barry com responsabilidades na

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série de teatros da capital – Trindade, Condes, D. Amélia, Príncipe Real, Avenida, entre outros –, bem como por vários teatros em França, Reino Unido, Espanha, Itália e Bélgica. Realizou várias digressões por Portugal e pelo Brasil. Viveu, du-rante a I Guerra Mundial, em Liège, na Bélgica, onde se afastou do palco para ensinar as várias línguas que dominava. Foi, para além de atriz--cançonetista, jornalista, tradutora e autora de uma obra de cerca de 30 títulos.

Proveniente de um meio burguês e intolerante ao estigma social da profissão de atriz, a problemática paixão da jovem Mercedes pelo palco levou-a a fugir de casa para concretizar os seus sonhos, optando pela utilização de pseudónimos, de maneira a ocultar – da família – a sua atividade profissional. Foi desde cedo preparada para uma carreira na medicina, tendo acesso a uma educação acima da média. Este facto explica não apenas a cultura que revela na sua vasta obra literária, mas também o seu domínio de várias línguas, para além do português, – inglês, francês, espanhol, italiano e alemão – que viria a utilizar frequentemente na sua vida profissional, tanto em Portugal, como no estrangeiro.

Mercedes Blasco, foi uma mulher muito avan-çada para o seu tempo, exibindo sempre elevado sentido de liberdade e desprezo do preconceito, não apenas pelo seu percurso de vida, repleto de escândalos e de ligações amorosas, mas também pela leitura das suas crónicas onde dissertou so-bre a condição da mulher e respetivos direitos. O desprezo pelas convenções sociais é também visível no facto de Mercedes ter sido a primeira mulher a utilizar a bicicleta, não só em palco, mas também nas ruas de Lisboa, aqui como meio de transporte, apesar das fortes críticas que tamanha ousadia suscitava. Mulher destemida, inteligente e trabalhadora, Mercedes Blasco trilhou sempre o seu próprio caminho que, apesar de ter sido mar-cado pela aventura e pelo sucesso, foi também um caminho de dissabores, com perdas dolorosas e fraco reconhecimento do seu talento, terminando, em 12 de Abril de 1961, na miséria e na solidão. Seu corpo foi sepultada no talhão dos Artistas Teatrais, no Cemitério dos Prazeres em Lisboa.

Conceição Vitória Marques - Registo nº 65 de Novembro

Aos três dias do mês de Novembro do ano de mil oitocentos sessenta e sete (03/11/1867), nesta Paroquia da Nossa Senhora da Conceição da Corte do Pinto Concelho de Mértola, baptizei solenemente e pus os Santos óleos a um individuo do sexo feminino a quem dei o nome Conceição, e que nasceu a quatro de Setembro (04/07/1867), ás duas horas da tarde, filha de José Marques, na-tural de Tentúgal, bispado de Coimbra, e Carlota da Conceição natural de S. Marcos, neta paterna de José Marques e de Thereza Vitória, e materna de José Coelho e Isabel Maria foram padrinhos João António Castilha e Maria Thereza de Jesus os quais todos sei serem os próprios. E para constar lavrei em duplicado este assento que depois de ser lido e conferido perante os Padrinhos o assinarão. Era ut supra.

João António Castilha Maria Thereza de Jesus O Parocho, João Honório Policarpo Abreu.

continua »»

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Fontes: Vagabunda, edição de 1920 “Memórias de uma Atriz”; edição de 1908 - O Camões - Instituto da Cooperação e da Língua, I. P Registo Paroquial da Igreja da Nossa Senhora da Conceição da Corte do Pinto. - Assento de Óbito da Conservatória de Mértola.

Edição: António Pacheco, com a especial participação e colaboração de João Nunes.

Diário de Noticias de Lisboa:

«Está em Londres a conhecida actriz portu-gueza Mercedes Blasco. Londres consagrou-a agora uma das estrellas do seu género, ao lado das melhores de Pariz e mesmo dos próprios palcos londrinos. Os seus admiradores ingleses são hoje legião»

Jornal de Notícias do Porto:

«Recebemos o ultimo numero do Hyppodro-me, revista ilustrada de Londres, que publica, em tiragem á parte, n’um papel cartão esplêndido e a côres, o retrato de Mercedes Blasco, com uma

Notícias de outros tempos 1908- Nos palcos do MundoEstrela de opereta, escritora poetisa. Usou os nomes artísticos de Judith Mercedes Blasco e JudithMercedes, acabando por se fixar em Mercedes Blasco.

longa nota biographica e artística. Diz que é um triumpho superior a tudo quanto se esperava. A nossa Grandiosa Mercedes tem já contractos mag-níficos para Berlim, Vienna d’Austria, etc. Nunca até hoje actriz alguma portugueza conseguiu o que Mercedes Blasco tem obtido no estrangeiro. E diz-nos ella, n’uma carta escripta no New Royal Club, que nunca esquece que é portugueza, pro-testando sempre, quando a suppoem hespanhola ou franceza.»

E até ao Brazil chegou o echo dos applausos londrinos, cantados no Diario do Commercio. Por ter referências interessantíssimas a factos anteriores, aqui archivo a noticia:

«Quando Mercedes Blasco veio ao Rio de Ja-neiro» já tinha um nome feito e os seus sucessos em Lisboa, Porto, e Madrid eram conhecidos de todos. Havia, portanto, grande espectativa por parte do publico que desejava ouvir uma artista de tão grande reputação. »

Fontes: Vagabunda, edição de 1920

Edição:

António Pacheco.

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O Centro de Estudos da Mina de São Domingos (CE-MSD), foi criado e é alimentado por um grupo de elementos que em comum têm o grande amor por esta localidade. A máxima, “faz mais quem quer, do que quem pode”, aplica-se bem a este projecto que só é possível através da carolice de todos. Este site tem sido motivo de consulta de muitos historiadores e investigadores e já se encontra referenciado em algumas publicações.

Passeie através da história da Mina em: http://cemsd.minadesdomingos.com/

ISO 110 - António Peleja

Autarquia deixa fugir 60.523,93 euros. É isso mesmo: sessenta mil quinhentos e vinte e três euros e noventa e três

cêntimos!!! É a exata verba que a Câmara Muni-cipal de Mértola tinha disponível para recuperar o Cine Teatro da Mina de S. Domingos no âmbito do programa PRODER, e que não aproveitou por incapacidade em concretizar em tempo útil a referida obra.

A situação foi hoje mesmo confirmada na reu-nião de Câmara, onde perante a insistência dos Vereadores eleitos pela CDU, o Presidente foi obrigado a reconhecer que a Câmara Municipal foi incapaz de iniciar e concretizar, dentro do prazo legal, a obra de recuperação daquele Cineteatro, tendo comunicado à entidade financiadora da referida obra, (Rota do Guadiana –GAL da Mar-

MIM - A Mina de S. Domingos conti-nua a ter muitas atenções por parte desta câmara. Quais as próximas melhorias e projectos que destaca para a aldeia Mineira?

R: Continuamos a dar atenção a esta localidade. É a segunda maior do concelho, tem uma história rica e importante, e passou por uma situação complicada, que ainda hoje tem marcas nas pessoas e no concelho. Se calhar por isso a Câmara Municipal preferiu esquecê-la, durante anos, sendo que apenas a partir de 2002 se começou a trabalhar a sério naquela localidade, com objetividade, com coragem. Esse trabalho tem sido mais evidente nos últimos anos, e vai sê-lo cada vez mais, pois é nossa intenção colocar a Mina ao nível da importância que tem para nós. No imediato temos, para além das obras que já referi anteriormente, o pro-jecto de recuperação do coreto e campo de ténis, a remodelação e cobertura do Cine-Teatro, intervenções de beneficiação em mais algumas ruas, a pista de canoa-gem e remo, em colaboração com o Clube Náutico. E estamos bastante expectantes na intervenção, já manifestada, da EDM na recuperação ambiental e patrimonial do parque mineiro, que é algo pelo qual já aguardamos há quase dez anos.

E tudo o tempo levou“Autarquia deixa fugir 60 523,93€, novo por fora, velho por dentro”

Veja em baixo a resposta do Presidente da Câmara Municipal de Mértola, à entrevista publicada no Boletim Municipal há cerca de três meses.

gem Esquerda), a “…desistência da operação e libertar as verbas…”.

Recorde-se que o financiamento em questão tinha sido aprovado em outubro de 2013, tendo, numa primeira fase, de estar obrigatoriamente concluído até 31 de dezembro de 2014, prazo que foi depois alargado até 31 de março de 2015.

Depois de ter perdido mais de um milhão e quinhentos mil euros para o Lar de Idosos da Margem Direita e que durante vários anos esteve cativo no Orçamento de Estado, eis mais esta perda para o Concelho. Pese embora as desculpas mal arrumadas de natureza técnica com que a maioria socialista procura justificar o injustificável, estas situações não podem deixar de merecer uma análise de todos os mertolenses. Cada cidadão do concelho de Mértola que faça a sua!

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estórias com história

JoséAntónio Estevão

Diversão na Aldeia

Apesar das dificuldades das vidas dos minei-ros ou de quem trabalhava nos campos para os lavradores, sempre se arranjava tempo para a diversão na aldeia.

... Eram os bailes de S. João à volta do mastro a cheirar a montrastos, ... o baile da rapaziada das inspeções militares, ... o baile da pinha na Páscoa, no salão da fábrica do povo e mais uns quantos bailaricos ao longo do ano normalmente organizados pelo voluntarismo e determinação do Manulito Cabaça.

.... À luz viva dum petromax emprestado pela Casa do Povo ou algum dos muitos taberneiros, ... rifando umas cabeças de borrego assadas num qualquer forno da aldeia e um bar improvisado a vender pirolitos, laranjadas, vinho e cerveja, ...

normalmente as receitas dos bailes davam para cobrir as despesas.

... E toda a aldeia vinha ao baile, … apenas alguém doente, …mais as namoradas dos soldados que estavam no Ultramar e quem estava de luto é que ficavam em casa.

As mães que acompanhavam as filhas e algu-mas mulheres mais velhas traziam a cadeirinha de loendro de fundo de bunho para se sentarem, porque a noite era longa ...

…e bailava-se a noite toda até de madrugada .

... E também havia o cinema ambulante que chegava em grande “lavarito” anunciado em alta voz por um alto-falante no tejadilho duma carrinha "Pão de Forma", a ser exibido no largo da fábrica, projetado num lençol branco pendurado na parede, ... hoje era um filme do Joselito.

As legendas de pouco serviam, pois a maioria das pessoas da aldeia não sabiam ler, ... mas no fim, muitas mulheres saíam chorando ...

— ... Então comadre, ... também vai chorando ...?

— ... Ai comadre, ... o que é que quer ...? ...Tive dó do mocinho, ... coitadinho, ... tão pequenino e já a padecer tanto ...

— .... Ai pois é comadre, ... eu tamém, ...

... mas o raio do espanholito falava tão depressa, ... e os cabrões dos cães do Martins ladrando, ... olhe, ... houve algumas coisas que não me chegui a enterar ...

... mas foi bonito, ... lá isso foi ...

E havia a quinta feira de Ascensão onde as

famílias levando o farnel iam passar o dia ao campo, ... as fontes do Carril e do tio Manuel de Jesus enchiam e ao som de uma flauta de beiços mesmo que mal tocada, faziam-se bailes à sombra de qualquer azinheira....

E volta e meia numa carrinha puxada por burro chegavam à aldeia famílias de saltimbancos ...

Lembro do Pinguinhas, um moço um pouco mais velho que eu, chegar à aldeia com o pai, a mãe, três irmãs mais pequenas, uma cadelinha branca e um macaco, ...

todos artistas...! …e grandes artistas !!!

Durante quase duas semanas fizeram espetá-culos no largo do poço em frente à taberna da ti Maria Anica, ... era sempre este o local escolhido por esta espécie de artistas, e a ti Maria Anica não se importava nada porque melhorava o negócio ...

... manta encardida já sem cor definida estendida na calçada irregular, e estava montado o palco da exibição, ... junto á parede da taberna por detrás de um pano escuro, o "camarim" dos artistas ...

... e no final da tarde, parte da população da aldeia vinha chegando ao largo do poço para as-sistir a mais um espetacular espetáculo...

…E era sempre assim, …os solteirões ficavam sempre na fila da frente, ... hoje, era para assistir mais de perto á exibição da artista principal, ... a mãe do Pinguinhas.

A mãe do Pinguinhas era mulher de quarenta e alguns anos, estatura média, cabelo ralo e seboso pelos ombros, mas sempre de cara alegre ...

O pai do Pinguinhas abria o espetáculo com um número de ilusionismo, … mas ao segundo dia a Catrina Gregória descobriu o truque, … nos dias seguintes deixou de o fazer e passou apenas a ser o de “mestre-de-cerimónias” …

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Depois das exibições das mocinhas pequenas com números arrojados de contorcionismo, foi a vez do Pinguinhas fazendo mostrar as habilidades da canita, enfeitada com um laçarote vermelho na cabeça e um vestido ás riscas e terminava com malabarismos com 3 bolas lançadas ao ar, uma de cada vez, e para acabar, ... imaginem, ...com 4 bolas sem deixar nenhuma cair ao chão ...

...e estava prestes a sair por detrás do pano escuro, anunciado com entusiasmo pelo "mes-tre de cerimónia", a artista mais desejada pelos homens, ... especialmente pelo Locaidinho, que todos os dias destrocava um cruzado em moedas de tostão, porque eram quatro as voltas que eram dadas fazendo o peditório para um chapéu preto de feltro desbotado ... e ia dando um tostão de cada vez …

O Locaidinho era uma figura típica da aldeia, ... um pobre diabo …

...dizem uns que o rapaz mamou até aos 8 anos...

... dizem outros que mamou até aos 10 anos ...

... e dizia o João do Brito e outros linguarudos maldizentes, ... que mamou até aos doze anos ...

Seja qual for a verdade, ficamo-nos pelos 8 anos ... que será uma bela idade para deixar de mamar …

Mas, ... embora mamasse até muito tarde, não fez dele nenhum mocetão, ...! era até baixinho de estatura, pequenino nas ideias ... e “ruim de fígados”

... e teve sempre uma relação conflituosa com o trabalho, ... nunca se deram bem, ... talvez questão de feitios ...

...viveu á conta dos pais, e depois, … mais tarde não sei bem como, mas, … viveu!

... E chegou o grande momento, ...

A artista saiu detrás do reposteiro, parecendo chegar de Paymogo com uma permanente, … ca-beleira de caracóis pretos um pouco desgrenhados na cabeça, escondendo o cabelo ralo e seboso, ... vestindo umas “cuecas” cremes amareladas até ao umbigo e soutien vermelho bem fechado, ... e deitou-se com cuidado, em cima da manta esticada na calçada de pedras rijas do chão do largo.

...O Locaidinho, meio almariado das ideias, coçou a cabeça, puxou as calças largas para cima, esbugalhou os olhos e, ...

e, …começou a guerrear com o Zé Lino, … que sorrateiramente e também entusiasmado com a arte da artista se foi chegando á frente ...

— Pois, ... não querias mais nada... e logo um tanganho desses como tu!(o Zé Lino era grande), tinha mesmo de ser agora que te vinhas a por á minha frente, .. sai daqui maluco dum cab.....

_ … Tá bem, … não te marafes comigo, e, … maluco és tu … ranhoso …!

… e o pobre do Zé Lino de chapéu de palha na cabeça, muito contrariado, mas sem tirar os olhos da artista, lá foi para a outra ponta.

... e a artista abriu bem as pernas com delica-deza, ... elevou o tronco e ficou apoiada no chão

apenas com a sola dos pés e as palmas das mãos, … e o macaquinho vestido de palhaço saltou-lhe para cima … da barriga da artista e começou a fazer pinotes e equilibrismo ...

— ... Olha lá , ... o cabrão do macaco é artista ...

Dizia o velhaco do tio João do Brito dando um toque com o cotovelo no Locaidinho ...

—... Quem me dera ser o macaco, mas, ... quero lá saber das macaquices do raio do macaco ti João, ... eu quero é ver a ....

... e disfarçadamente começou a jogar a mão a coçar as aflições das comichões manhosas que lhe começavam a chegar ... talvez devido á saragoça grossa das calças …

… e o sacana do João do Brito de cara séria, não perdia nenhuma oportunidade de “meter ferro” só para gozar com o pagode … e hoje era a vez do Loicaidinho …

... e por cada número artístico do macaco, o Pinguinhas ia-o compensando com alcagóitas ...

Junto á roldana do poço, algumas mulheres de pescoço esticado e enfusa na mão, espreitavam e comentavam com ar critico, … muito critico, o espetáculo ...

— ... Tal é este estrelaio, .... tal é esta sem vergonhice, ...

... ali no meio dos homens, .. toda em pelão, ... !

— ... Mas ela não tá em pelão, ... tem soutien e umas cuecas amarelas ...

retorquiu a ti Maria Espanhola. ..

— ... De cuecas amarelas, .... de cuecas amare-las, ... estão é encardidas, ... aquilo, … nem lavadas e batidas na pedra do barranco, com uma semana a corar ,,, voltavam á cor, …porca dum raio ...

... e olhem só pra aquilo, ... os homens são mesmo uns parvalhões, ...pacóvios, … babosos, … tristeza …

... mas o marido é que tem a culpa, ... se fosse cá da aldeia, ... já tinha uma chocalhada em cima... e era muito bem feito, … que vergonha …! …

cabra … grande cabra …Mas o espetáculo continuava e já com um

grãozinho na asa duns copinhos que bebeu no Cardeira, e vendo o entusiasmo do Locaidinho, o tio Raposo segredou-lhe ao ouvido para o acicatar ainda mais ...:

— .. Olha lá bem Locaidinho, ... a magana tem os cabelos dos sovacos grandes, ...

— ... Pois tem, ... pois tem, ... porra dum raio que a magana tem tudo grande ti Raposo ... e eu é que só já tenho aqui na mão só mais um tostão do cruzado que destroquei, ... é sinal que esta hóstia tá acabando...

O guarda Faustino com uma palmadinha nas costas ainda o consolou …:

_ … Não te apoquentes, … deixa lá, … eles prá semana estão na Mina … e vais até lá…

...E pronto, . .!

O último tostão do cruzado do Locaidinho já estava dentro do chapéu de feltro do Pinguinhas e o espetáculo de hoje estava acabado ...

... até porque a carreira das 9 estava a chegar, e era normalmente a última distração do dia e o largo do poço da aldeia tinha de ficar livre para a camioneta...

E para divertimento de alguns homens ainda havia os contos contados aos finais da tarde pelo Penha, na taberna do Chico Ferrador … o grande mestre Penha da fábrica de moagem do Martins …

Eram contos que demoravam mais de uma semana e onde entravam sempre portugueses, espanhóis, mariolas, velhacos e muitos malteses … e enquanto o conto era contado, na taberna fazia-se quase silêncio … e se algum ou alguns quisessem cantar, … que fossem lá para trás para o quintal, porque o Zé Malagão desbocado e sem vergonha, mandava-os calar para ouvir o conto, … até o Faleiro do olho de vidro, que não era homem de tabernas ficava na rua junto á janela com o ouvido lá dentro …

… e muitas mais diversões havia na aldeia, … mas já não cabem nesta história …!!

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AntóniaFernandes

Correia

momentos d e p o e s i a

bom garfoROJÕES

Ingredientes: Ne de porco do cachaço cortada em bocados de ± 100 gTripa enfarinhada q.b.Iscas de fígado de porco q.b.Batatas q.b.Morcela de sangue q.b.Banha de porco q.b.Óleo q.b.Alho q.b.Vinho branco q.b.Folha de loureiro q.b.Azeite q.b.Sal q.b.Cominhos q.b.Para o Sarapatel q.b.Sangue cozido q.b.Cebola q.b.Azeite q.b.Salsa q.b.Cominhos q.b.

Preparação:

Deixa-se a carne em vinha de alho (alho, vinho branco, loureiro, azeite e sal) cerca de 24 horas. Num tacho deita-se bastante banha e deixa-se a carne cozinhar até ganhar a cor característica do rojão. Numa sertã fritam-se as tripas enfarinhadas e as iscas de fígado e, à parte, as batatas cortadas aos quadradinhos. Entretanto prepara-se o sarapatel: numa sertã deita-se a cebola picada e azeite, deixa-se estalar e junta-se o sangue desfeito, bastante salsa picada e tempera-se a gosto, com sal, pimenta e cominhos. Fica no lume só o tempo suficiente para aquecer. Prepara-se a travessa com as batatas, os rojões, a tripa, o fígado, a morcela às rodelas, tempera-se com cominhos e decora-se com gomos de limão. Em travessa à parte serve-se o sarapatel.

Um Fado à Mina de S. Domingos

Esta terra tinha fado, Cantado pela severaDescrevendo a belezaQue ela tinha nesta era...

Da beleza deste solo,Tapeteado de floresJá se previa o tesouro,dos escondidos valores...

Majestosa e opulenta,De Mina foste RainhaFoste a primeira entre tantasQue este Portugal tinha

Mas bem criada e mal fadada Como diz o velho ditadoDeram-te cabo da Mina,Pondo assim fim ao teu Fado...E agora, mesmo velhinha,E desprovida de riqueza,Ainda manténs esses traços de Majestade e Beleza...

A CANTAREIRA ALENTEJANA

Há muitos que não conhecemPorque em sua vida inteiraNunca viveram no campoPor isso mesmo merecemConhecer a cantareiraSeus usos e seu encanto Na cozinha alentejanaNão pode nunca faltarUma bela cantareiraPorque assim ninguém se enganaSe pretender cozinharUm borrego ou cacholeira Tachos, panelas, colheresInfusas e alguidaresSertãs, garfos, raladoresDoce encanto das mulheresTudo limpo, em seus lugaresCada qual com seus valores Os alguidares variadosOnde se faz a molejaDepois do porco sangradoOs tachos, bem alinhadosOrdem de fazer invejaA quem é desarrumado Sertãs de vários modelosAonde as febras se frigemTemperadas à maneiraAreadas com desveloParecem novas, de origemTendo ao lado uma peneira Não faltam dependuradosUma réstia de cebolasOu alhos, feitos em trançaOs cheiros, estão bem tapadosÀs vezes numa caçoilaP’ra temperar a papança Vendo esse lindo preparoTudo aliado à limpezaDuma cozinha, tão brancaNão há ínfimo reparoQue se faça a tal belezaEspelho de gente tão franca

Augusto Molarinho de AndradeLisboa, 31 de Janeiro de 2015

Page 12: O Gasometro nº 7

12 11 | Janeiro | 2014

Malacate (2014) - Ilustração: Helder Peleja

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