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Universidade Federal de Pernambuco – UFPE Centro de Artes e Comunicação – CAC Departamento de Letras Programa de Pós-graduação em Letras Mestrado em Lingüística O Gênero Textual Artigo Científico: Estratégias de organização Adriano Ribeiro da Costa Recife/PE 2003

O Gênero Textual Artigo Científico: Estratégias de organização · 2019. 10. 25. · 7 RESUMO Esta dissertação tem como objetivo descrever e analisar o gênero textual Artigo

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  • Universidade Federal de Pernambuco – UFPE Centro de Artes e Comunicação – CAC

    Departamento de Letras Programa de Pós-graduação em Letras

    Mestrado em Lingüística

    OO GGêênneerroo TTeexxttuuaall AArrttiiggoo CCiieennttííffiiccoo:: EEssttrraattééggiiaass ddee oorrggaanniizzaaççããoo

    Adriano Ribeiro da Costa

    Recife/PE 2003

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    Adriano Ribeiro da Costa

    OO GGêênneerroo TTeexxttuuaall AArrttiiggoo CCiieennttííffiiccoo:: EEssttrraattééggiiaass ddee oorrggaanniizzaaççããoo

    Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Letras, da Universidade Federal de Pernambuco, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Lingüística, sob orientação do Prof. Dr. Luiz Antônio Marcuschi.

    Recife/PE 2003

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    Adriano Ribeiro da Costa

    OO GGêênneerroo TTeexxttuuaall AArrttiiggoo CCiieennttííffiiccoo:: EEssttrraattééggiiaass ddee oorrggaanniizzaaççããoo

    Dissertação submetida ao Programa de Pós-graduação em Letras, da Universidade Federal de Pernambuco – UFPE, e aprovada na data a seguir notificada. Recife, 17 de outubro de 2003. BANCA EXAMINADORA:

    Prof. Dr. Luiz Antônio Marcuschi – UFPE

    Prof. Dra. Dóris de Arruda C. da Cunha – UFPE

    Prof. Dra. Marianne C. B. Cavalcante – UFPB

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    EEPPÍÍGGRRAAFFEE

    “É impossível se comunicar verbalmente a não ser por algum gênero, assim como é

    impossível se comunicar verbalmente a não ser por algum texto. Em outros termos, [...] a

    comunicação verbal só é possível por algum gênero textual”.

    “Gêneros são formas verbais de ação social relativamente estáveis realizadas em

    textos situados em comunidades de práticas sociais e em domínios discursivos específicos”.

    “Quando dominamos um gênero textual, não dominamos uma forma lingüística e

    sim uma forma de realizar lingüisticamente objetivos específicos em situações sociais

    particulares”.

    (Marcuschi, 2002b: 22, 25, 29)

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    DDEEDDIICCAATTÓÓRRIIAA

    A Deus, meu criador, pela sua preciosa graça em minha vida, dando-me

    inteligência e força de vontade para ver realizado mais um de meus sonhos.

    A minha mãe, por sempre ter lutado para garantir minha formação acadêmica,

    mesmo quando não podia.

    A minha esposa, pela sua chegada em minha vida.

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    AAGGRRAADDEECCIIMMEENNTTOOSS

    A Deus, primeiramente, por ter-me dado serenidade nos momentos difíceis e força

    de vontade para chegar até o final de mais um degrau de minha vida acadêmica;

    Aos professores do curso de Mestrado em Lingüística da UFPE, pelos

    ensinamentos e pelo convívio acadêmico;

    Ao Prof. Dr. Luiz Antônio Marcuschi, pela preciosa orientação, por suas sugestões,

    críticas, paciência e encorajamento;

    À Profª. Dra. Marianne Cavalcante, orientadora de curso, por suas valiosas

    sugestões e encaminhamentos, e por sua humanidade profissional;

    À Profª. Dra. Maria da Piedade M. de Sá, pelas oportunas e enriquecedoras

    sugestões na ocasião da pré-banca;

    Ao CNPq, pela concessão de bolsa de estudo;

    A Eraldo e Diva, por sempre terem me atendido muito bem na secretaria do

    Programa de Pós-graduação em Letras;

    Aos colegas do curso de Mestrado, pela enriquecedora convivência e pelo apoio;

    À Profª. Márcia Mendonça, da graduação em Letras da UFPE, minha orientadora

    no curso de Especialização em Língua Portuguesa na Faculdade de Formação de Professores

    de Nazaré da Mata – FFPNM/UPE, pelo seu incentivo e orientação ao ingresso no Mestrado;

    A meus pais, Luiz Ribeiro da Costa e Maria José Francisca da Silva, por tudo em

    minha vida;

  • 6

    A minha esposa Vanessa Estevam de Oliveira Costa, pela sua compreensão dos

    vários momentos de silêncio e isolamento que a realização deste trabalho exigia, e pela

    paciência nos momentos de estresse;

    Finalmente, a meus colegas e amigos, pelos meus momentos de ausência durante

    todo o curso.

  • 7

    RREESSUUMMOO

    Esta dissertação tem como objetivo descrever e analisar o gênero textual Artigo Científico, apontando as diferenças e semelhanças de estruturas textuais e estratégias discursivas entre os artigos analisados. Para tanto, fez-se a análise de um corpus constituído de cinco artigos da revista Investigações: Lingüística e Teoria Literária, do Programa de Pós-graduação em Letras da Universidade Federal de Pernambuco – UFPE, publicados entre os anos de 1989 e 2001. Partindo-se da posição de que os gêneros são eventos comunicativos caracterizados por um conjunto de propósitos comunicativos (função) e por serem tipos relativamente estáveis de enunciados (estrutura), a hipótese considerada é que a estrutura do artigo científico é condicionada à função social do mesmo. A pesquisa orientou-se em estudos realizados sobre artigo científico, na área de Metodologia Científica, e sobre gêneros e tipos textuais, na Lingüística Textual; especificamente os trabalhos de Bakhtin ([1979] 2000, [1929] 2002), Swales (1990), Bhatia (1993), Bronckart (1999), Marcuschi (2000, 2001, 2002a, 2002b) e Koch (2000, 2001 2002); abordando os itens domínio discursivo, modalidade, conteúdo temático, construção composicional e estilo verbal. Observou-se, na análise, que: 1) os artigos pertencem ao domínio discursivo científico e aos gêneros secundários (modalidade escrita); 2) os artigos apresentam conteúdos temáticos diferentes, predominando os do tipo artigo de análise; 3) os artigos apresentam formas diferentes de textualização do conteúdo temático, porém contêm uma estrutura básica, consistindo de: título, nome do autor, introdução, corpo do artigo, conclusão e referências bibliográficas; e seqüência textual expositiva como predominante; 4) embora os conteúdos temáticos sejam apresentados de forma específica em cada artigo, os autores lançam mão dos mecanismos de textualização e mecanismos enunciativos (estilo verbal), porém usando-os de forma peculiar.

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    AABBSSTTRRAACCTT

    This thesis has as purpose to describe and to analyze the textual genre Paper, pointing out the differences and similarities of textual structures and discursive strategies between the papers analyzed. To achieve this objective, we analyzed five issues of papers, from the magazine "Investigações: Lingüística e Teoria Literária", of the Pos-graduation Program in Letters from Federal University of Pernambuco – UFPE, published between the years from 1989 to 2001. Starting from the assertion that genres are communicative events characterized by a set of communicative purposes (function) and by being relatively stable types of enunciates (structure), the considered hypothesis is that the structure of the paper is conditioned to its social function. The research had orientation in studies realized about paper in the area of Scientific Methodology, and about textual genres and types, in Textual Linguistics, specifically the works of Bakhtin ([1979] 2000, [1929] 2002), Swales (1990), Bhatia (1993), Bronckart (1999), Marcuschi (2000, 2001, 2002a, 2002b) and Koch (2000, 2001, 2002); dealing with the items discursive domain, modality, thematic contents, structure and verbal style. We verified, in the analysis, that: 1) the papers belong to the scientific discursive domain and to the secondary genres (written modality); 2) the papers have different thematic contents, predominating the analyzing papers; 3) the papers have different forms of textualization of the thematic contents, but they have a basic structure, consisting of: title, author's name, introduction, body of the paper, conclusion and bibliographic references; and expositive textual sequence as predominant; 4) although the thematic contents are presented with specific form in each paper, the authors use mechanisms of textualization and enunciative mechanisms (verbal style), but using them with peculiar form.

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    SUMÁRIO

    INTRODUÇÃO.....................................................................................................................11

    CAPÍTULO I: AS CATEGORIAS GÊNERO E TIPO TEXTUAIS....................................17 1.1 Gênero textual..............................................................................................................18 1.1.1 Os gêneros textuais segundo Bakhtin...........................................................................................19 1.1.2 Os gêneros textuais segundo Bronckart........................................................................................22 1.1.3 Os gêneros textuais segundo Marcuschi.......................................................................................24 1.1.4 Os gêneros textuais segundo Swales..........................................................................................26 1.1.5 Os gêneros textuais segundo Bhatia...........................................................................................27

    1.2 Tipo textual................................................................................................................32

    CAPÍTULO II: ARTIGOS CIENTÍFICOS..........................................................................34 2.1 Conceituação..............................................................................................................35 2.2 Caracterização............................................................................................................35 2.3 Histórico do Artigo Científico....................................................................................36 2.4 Classificação dos Artigos Científicos.........................................................................38 2.4.1 Argumento teórico......................................................................................................................39 2.4.2 Artigo de análise.........................................................................................................................39 2.4.3 Artigo classificatório..................................................................................................................39

    2.5 Superestrutura dos Artigos Científicos......................................................................39 2.6 Seqüências textuais dos Artigos Científicos..............................................................46 2.6.1 Seqüência argumentativa.............................................................................................................46 2.6.2 Seqüência expositiva.....................................................................................................................47 2.6.3 Seqüência narrativa....................................................................................................................48 2.6.4 Seqüência descritiva...................................................................................................................49 2.6.5 Seqüência dialogal......................................................................................................................50

    2.7 Os mecanismos de textualização................................................................................50 2.7.1 Mecanismos de conexão..............................................................................................................51

    2.7.1.1 Articuladores de conteúdo proposicional.......................................................................52 2.7.1.2 Articuladores enunciativos ou discursivo-argumentativos.............................................52

    2.7.2 Mecanismos de coesão nominal..................................................................................................53 2.7.3 Mecanismos de coesão verbal.....................................................................................................55

    2.7.3.1 As abordagens da temporalidade..................................................................................55 2.7.3.2 As abordagens da aspectualidade...................................................................................56

    2.8 Mecanismos enunciativos...........................................................................................57 2.8.1 Vozes...........................................................................................................................................57

    2.8.1.1 Tipos de vozes..................................................................................................................60 2.8.2 Modalizações..............................................................................................................................61

    CAPÍTULO III: ANÁLISE DOS ARTIGOS CIENTÍFICOS..............................................63 3.1 Domínio discursivo e modalidade..............................................................................64 3.2 Conteúdo temático: macroestrutura...........................................................................64 3.3 Construção composicional..........................................................................................66 3.3.1 Superestrutura.............................................................................................................................66 3.3.2 Infra-estrutura: seqüência textual.................................................................................................72

  • 10

    3.4 Estilo verbal..................................................................................................................77 3.4.1 Conexão...................................................................................................................77 3.4.2 Coesão nominal.......................................................................................................84 3.4.3 Coesão verbal..........................................................................................................91 3.5 Mecanismos enunciativos...........................................................................101 3.5.1 Vozes.....................................................................................................................101 3.5.2 Modalizações.........................................................................................................104 CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................110 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................114 ANEXOS Anexo A – A gramática e as decisões lingüísticas dos usuários. Anexo B – O funcionamento polifônico da argumentação. Anexo C – O Bal Masqué das intenções. Anexo D – A linguagem do poder e o poder da linguagem: Lima Barreto e a Língua Portuguesa. Anexo E – Formas de referenciação a autores em textos acadêmicos produzidos por alunos e professores de português.

  • 11

    IINNTTRROODDUUÇÇÃÃOO

  • 12

    A Lingüística Textual, ramo recente da Lingüística, surgiu na década de 60, na Europa,

    ganhando projeção a partir dos anos 70. Seu surgimento teve como objetivo ir além do estudo da frase, ou

    seja, seu objetivo era o estudo do texto – unidade lingüística hierarquicamente superior à frase.

    Conforme Conte (1977 apud Koch, 1997, p. 68-70), a Lingüística Textual apresenta três

    momentos fundamentais na passagem da teoria da frase à teoria do texto: o da análise transfrástica, o das

    gramáticas textuais e o da teoria do texto. Essa distinção, segundo Conte, não é de ordem cronológica, mas,

    de ordem tipológica. Porém, Koch defende que existe uma cronologia envolvida nessa sucessão.

    No primeiro momento, surgiu a necessidade de ultrapassar os limites da frase. Houve, então,

    a necessidade de se encontrar regras para o encadeamento das frases, seguindo os métodos da análise frasal,

    apenas ampliando-os para dar conta de pares ou seqüências maiores do que as frases. O estudo parte ainda de

    enunciados ou seqüências de enunciados em direção ao texto. Esse primeiro momento deu um passo à frente ao

    superar os limites da frase, porém não significa que se tenha chegado a uma abordagem autônoma do texto

    ou que se tenha elaborado um modelo teórico que garantisse um tratamento por igual dos fenômenos

    analisados. Viu-se que essa forma de lingüística da frase ampliada era insatisfatória, sendo por essa razão

    abandonada.

    O segundo momento foi os das Gramáticas Textuais, cujo objetivo era a reflexão a respeito dos

    fenômenos que não eram explicados pela Gramática Frasal, fenômenos tais como a co-referência,

    pronominalização, a seleção dos artigos, a ordem das palavras no enunciado, a relação tópico-comentário, a

    entonação, as relações entre sentenças não ligadas por conjunção, a concordância dos tempos verbais etc.

    O método ascendente de estudo – da frase ao texto – foi abandonado. Partindo-se do texto – unidade mais

    altamente hierarquizada – para se chegar às unidades menores através da segmentação, para, assim, fazer a

    classificação dessas unidades. Portanto, o texto era visto como uma entidade do sistema lingüístico, cujas

    estruturas deveriam ser determinadas pelas regras de uma Gramática do Texto. As tarefas da Gramática do

    Texto eram verificar o que faz com que um texto seja um texto, levantar critérios para a delimitação de

    textos, diferenciar as várias espécies de textos. Porém, viu-se que, com o passar dos anos, era inviável a

    elaboração de “gramáticas” do texto, nos moldes das gramáticas da frase.

    A fase da Teoria do texto tinha por proposta a investigação da constituição, do funcionamento,

    da produção e da compreensão dos textos. A grande mudança é que os textos passam a ser estudados dentro

    de seu contexto pragmático. O âmbito de investigação se estende do texto ao contexto (conjunto de

    condições – externas ao texto – da produção, da recepção e da interpretação do texto).

    Nestes últimos anos, após os estudos sobre coesão e coerência textuais na década de 80, e os

    estudos, na área da cognição, sobre questões relativas ao processamento textual (produção e compreensão),

    à memória, aos sistemas de conhecimentos ativados no processamento textual, às estratégias

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    sóciocognitivas e interacionais nele envolvidas, entre outras, na década de 90, a ênfase está nos estudos

    das tipologias de textos e dos gêneros textuais, revelando-se um campo bastante frutífero.

    Em relação aos estudos das tipologias e dos gêneros textuais, Marcuschi (2002a, p. l, 2) faz duas

    distribuições importantes: l- distribuição dos autores por interesses globais, 2- distribuição por filiações

    teóricas.

    l - Distribuição dos autores por interesses globais:

    Os autores nessa distribuição são organizados em três categorias globais, sem preocupação

    com parentescos teóricos, tratando-se de uma distribuição intuitiva e não teórica. São elas:

    a- Autores que desenvolvem tipologias e analisam tipos textuais: os autores trabalham só os tipos

    textuais, dedicando-se especialmente à análise da modalidade escrita e, particularmente, a questões de

    lingüística do texto, enfatizando mais o aspecto intralingüístico. Assim, são visões marcadamente mais

    formais e estruturais;

    b- Autores que desenvolvem análises de gêneros textuais: a principal preocupação não está com

    classificações nem tipologias, mas com a análise de gêneros. Eis algumas tendências: a perspectiva

    sistêmico-funcional; a Escola de Sidney, com interesses voltados para o ensino de segunda língua; a

    Escola Norte-americana, com uma análise de gêneros voltada mais para a questão social, as relações de

    poder e os problemas vinculados à história dos gêneros e seus papéis na sociedade;

    c- Autores que refletiram sobre os tipos e os gêneros numa correlação entre ambos: esse grupo

    distingue-se nitidamente dos anteriores por dois aspectos: l- não fazem tipologias stricto sensu; 2-

    não fazem análise de gêneros no sentido da Escola de Sidney ou da Escola Americana. Estão mais

    diretamente ligados a alguma das escolas de AD ou Cognição ou LT.

    2 - Distribuição por filiações teóricas:

    Neste grupo, há cinco tipos de classificações conforme as perspectivas teóricas. São elas:

    a- Tipologias funcionais: baseiam-se nas funções do discurso. Como exemplos, tem-se: Karl Bühler e Roman

    Jakobson;

    b- Tipologias enunciativas: baseiam-se nas condições de enunciação e organização do discurso, por

    exemplo: Émile Benveniste e em parte Jean-Paul Bronckart;

  • 14

    c- Tipologias cognitivas: baseiam-se em aspectos da organização cognitiva. Como, por exemplo, Teun

    Van Dijk e Jean-Michel Adam;

    d- Tipologias sócio-interacionistas: baseadas na visão sócio-interativa de linguagem, como Mikhail

    Bakhtin;

    e- Tipologias baseadas no contínuo lingüístico: situam os gêneros no contínuo da relação fala-escrita,

    como Douglas Biber e Luiz Antônio Marcuschi.

    Assim, atualmente, o objeto de estudo da Lingüística Textual passou da palavra ou frase isolada

    para o texto, mais especificamente, para o estudo dos gêneros textuais. Dessa forma, este trabalho está voltado

    para o estudo de gênero textual, especificamente, para o gênero Artigo Científico. A escolha desse gênero se

    deu por sua produção ser uma atividade bastante freqüente na graduação – Ensino Superior.

    O objetivo desta investigação é descrever e analisar o gênero textual Artigo Científico,

    apontando as diferenças e semelhanças de estruturas textuais e estratégias discursivas entre esses

    textos; contribuindo, assim, teoricamente para o estudo dos gêneros textuais dentro da Lingüística Textual.

    O trabalho orienta-se em estudos sobre os artigos científicos na área da Metodologia

    Científica; e estudos dos gêneros e tipos textuais na área da Lingüística Textual.

    O corpus analisado, neste estudo, constitui-se de cinco artigos científicos publicados na

    revista Investigações: Lingüística e Teoria Literária, do Programa de Pós-graduação em Letras da UFPE;

    que foi lançada em 1989, com o objetivo de divulgar trabalhos de pesquisas em andamento no referido

    programa, bem como apresentar os resultados de pesquisas concluídas nas áreas de Lingüística e Teoria

    Literária, por docentes e discentes do programa e por especialistas de outras universidades. Atualmente, a

    revista está em seu 15° número. Eis os artigos:

    Artigo 1: A gramática e as decisões lingüísticas dos usuários, Francisco Gomes de Matos, 1989, p. 19-23,

    v. 1.

    Artigo 2: O funcionamento polifônico da argumentação, Ingedore G. Villaça Koch, 1994, p. 31-36, v. 4.

    Artigo 3: O Bal Masqué das intenções, Yaracylda Farias, 1997, p. 55-70, v. 7

    Artigo 4: A linguagem do poder e o poder da linguagem: Lima Barreto e a Língua Portuguesa, Maurício

    Silva, 1999, p. 149-164, v. 9.

    Artigo 5: Formas de referenciação a autores em textos acadêmicos produzidos por alunos e professores de

    português, Angela Paiva Dionísio, 2001, p. 233-245, v. 13 e 14.

    A escolha do corpus foi feita sob a observação dos seguintes critérios: deveriam ser na área de

    lingüística, por pertencerem ao domínio do analista e para servirem de referência para os alunos de graduação

  • 15

    do curso de Letras nas suas investidas na produção desse gênero; e deveriam pertencer a momentos diferentes,

    para que se tivesse uma visão melhor do objeto de estudo; não se trata de uma visão efetivamente diacrônica,

    pois o espaço de tempo entre eles não é muito grande.

    A análise feita desses artigos seguiu a orientação proposta por Bhatia sobre o estudo de gêneros

    (1993, p. 22-37):

    1- Situou-se o gênero num contexto;

    2- Investigou-se a literatura existente;

    3- Refinou-se a análise situacional/contextual;

    4- Selecionou-se o corpus;

    5- Estudou-se o contexto situacional;

    6- Selecionou-se os níveis de análise lingüística do gênero;

    7- Obteve-se informações de especialistas para a análise do gênero.

    Após essa etapa, e baseado principalmente nas teorias de Bakhtin, Bronckart e Marcuschi,

    analisou-se os artigos sob os seguintes aspectos:

    1- Domínio discursivo e modalidades: oral e escrito.

    2- Conteúdo temático: macroestrutura;

    3- Construção composicional: a) superestrutura; b) infra-estrutura: seqüências textuais;

    4- Estilo verbal: a) mecanismos de textualização: conexão, coesão nominal e coesão verbal; b)

    mecanismos enunciativos: vozes e modalizações.

    A pesquisa foi prioritariamente qualitativa, com levantamentos dos itens acima elencados.

    Em seguida à análise dos artigos sob esses aspectos, comparou-se os mesmos e apresentou-se

    os resultados da análise.

    O trabalho está estruturado em três capítulos, assim distribuídos:

    - Capítulo 1: As categorias gênero e tipo textuais – aborda a teoria sobre gêneros, na

    visão de Bakhtin, Bronckart, Marcuschi, Swales e Bhatia, e tipos textuais, na visão de

    Marcuschi e Bronckart, com o objetivo de dirimir a confusão entre essas duas categorias,

    servindo de base teórica para a descrição e análise dos Artigos Científicos.

    - Capítulo 2: Artigos Científicos – trata da conceituação, caracterização, do histórico e

    classificação do gênero Artigo Científico. Também há a descrição detalhada desse gênero,

    baseada nos seguintes níveis de análise: superestrutura, seqüências textuais, mecanismos

  • 16

    de textualização (conexão, coesão nominal e coesão verbal) e mecanismos

    enunciativos (vozes e modalizações).

    - Capítulo 3: Análise dos Artigos Científicos – apresenta a análise dos artigos selecionados

    para o corpus, baseada nos seguintes tópicos: Domínio discursivo e modalidade;

    conteúdo temático: macroestrutura; construção composicional: superestrutura e infra-

    estrutura: seqüência textual; estilo verbal: conexão, coesão nominal e coesão verbal; e

    mecanismos enunciativos: vozes e modalizações.

  • 17

    CCAAPPÍÍTTUULLOO II

    AASS CCAATTEEGGOORRIIAASS GGÊÊNNEERROO EE TTIIPPOO TTEEXXTTUUAAIISS

  • 18

    Os textos apresentam diferenças no tocante ao assunto (macroestrutura), às

    expressões lingüísticas (estilo verbal) e, principalmente, à organização global (superestrutura). Por causa

    disso, classificar os textos não é uma tarefa tão simples como parece. A dificuldade de classificação,

    segundo Bronckart (1999), deve-se, principalmente, à existência de muitos critérios para definir um

    gênero.

    Além disso, os textos dificilmente apresentam características de uma só classe. É raro

    encontrar textos puros, ocorre a heterogeneidade, ou seja, a interpenetração de vários tipos de texto.

    Nesse caso, deverá ser adotado o critério da dominância; isso significa que, se o texto apresenta mais

    características de um texto narrativo do que um descritivo, o mesmo será classificado como narrativo

    (TRAVAGLIA apud Mendonça, 1997, p. 30).

    Também há confusão entre os conceitos das categorias gênero e tipo textuais.

    Marcuschi (2000, p. 7) faz a distinção entre classificação e tipologia. A primeira se refere a classes de

    textos, que “distribui gêneros textuais enquanto artefatos lingüisticamente realizados, mas de

    natureza sócio-comunicativa e sempre concretos”. A segunda se refere aos tipos de textos, i. e., “um

    conjunto limitado, teoricamente definido e sistematicamente controlado de formas abstratas e não

    artefatos materiais”.

    Neste capítulo, pretende-se fazer uma exposição teórica sobre gênero e tipo textuais,

    buscando-se, em primeiro lugar, dirimir a confusão entre essas duas categorias; e, em segundo lugar, servir

    como base teórica para a descrição e análise dos artigos científicos. Essa teorização está centrada nos

    estudos de Bakhtin ([1979] 2000, [1929] 2002), Swales (1990), Bhatia (1993), Bronckart (1999) e

    Marcuschi (2000, 2001,2002a, 2002b).

    11..11 GGêênneerroo tteexxttuuaall

    Hoje em dia há diversos trabalhos sobre gêneros textuais, e a maioria deles remete a

    Bakhtin. Foi a partir dos estudos desse autor (nos anos 50) que a lingüística veio a se interessar

    pelo assunto; antes eram estudos literários e retóricos que se interessavam pelos gêneros.

    Bakhtin propõe uma teoria baseada nos usos da linguagem. Ele se opõe à visão tradicional

    da teoria da comunicação, que excluía o interlocutor, rejeita o enfoque monológico e mostra que o papel

    do interlocutor é tão ativo quanto o do locutor no processo de comunicação. Assim, para ele, há

    uma relação direta entre o papel do locutor e o do interlocutor, pois ambos emitem e compreendem

    enunciados.

  • 19

    A teoria de Bakhtin sobre os gêneros está baseada nessa sua concepção dialógica da linguagem.

    Seu posicionamento sobre as teorias lingüísticas predominantes na época se encontra na obra Marxismo e

    filosofia da linguagem, que alicerça a teoria dos gêneros, contida no livro Estética da criação verbal.

    A concepção de língua de Bakhtin vai de encontro às tendências à que ele chamada de

    subjetivismo idealista (posição adotada por filósofos como Humboldt (1995), psicólogos como Wundt

    (1927), lingüistas como Vossler (1920) e teóricos da literatura como Croce (1920)) e objetivismo abstrato

    (representado principalmente por Saussure). Este centra-se na forma, eliminando o caráter social da

    língua, i. e., a língua é independente da consciência individual, é um fato externo ao indivíduo. Aquele

    defende o posicionamento de que a língua se realiza na fala individual e seu caráter é monológico, i. e., a

    língua estaria sempre em criação e retrataria o mundo em que o indivíduo se afigura (visão individualizada do

    mundo).

    Bakhtin se opõe ao subjetivismo idealista por este negar o caráter social e

    antropológico da língua. Para ele, o centro da enunciação está situado no meio social, sua criação é

    histórica. Já a oposição ao objetivismo abstrato se dá por este excluir o falante do sistema. Assim, a

    concepção da primazia do sujeito como indivíduo e da língua como simples código é inaceitável para Bakhtin.

    Ao contrário das duas correntes acima, a concepção de língua de Bakhtin é baseada no

    dialogismo, na interação humana; i. e., a língua é construída no dia-a-dia, num contexto social, no diálogo

    entre os indivíduos pertencentes a uma mesma esfera social; como ele mesmo afirma:

    A verdadeira substância da língua não é constituída por um sistema abstrato de formas lingüísticas nem pela enunciação monológica isolada, nem pelo ato psicofisiológico de sua produção, mas pelo fenômeno social da interação verbal, realizada através da enunciação ou das enunciações (grifos do autor). A interação verbal constitui, assim, a realidade fundamental da língua. (BAKHTIN, 2002, p. 123).

    A partir dessa breve apreciação da concepção de língua de Bakhtin, fica mais claro

    a compreensão da noção de gênero e tipo textuais, que virá em seguida.

    11..11..11 OOss ggêênneerrooss tteexxttuuaaiiss sseegguunnddoo BBaakkhhttiinn11

    Conforme Bakhtin ([1979] 2000, p. 279), cada esfera da atividade humana elabora um variado

    número de gêneros, que refletem as condições específicas e as finalidades de cada uma dessas esferas.

    Esses gêneros distinguem-se uns dos outros por seu conteúdo temático (assunto gerado numa esfera

    discursiva com suas realidades sócio-culturais), estilo verbal (recursos lexicais, fraseológicos e

    1 Na realidade , Bakhtin não adota essa terminologia. Ele formula sua teoria sob a denominação de Gênero do discurso. Porém, por uma questão de uniformidade terminológica, adota-se aqui a classificação Gênero textual.

  • 20

    gramaticais) e por sua construção composicional (a forma, que torna possível o reconhecimento do

    gênero, embora não defina a sua completude). Essas três dimensões, apesar de possuírem

    características específicas, fundem-se compondo o gênero. Portanto, são indissociáveis e não há

    predomínio de uma sobre a outra.

    Essa diversidade de gêneros é determinada pelas várias formas típicas de dirigir-se a

    alguém e as diversas concepções do destinatário. E a escolha de um gênero é determinada pela esfera

    discursiva, as necessidades da temática, o conjunto dos participantes e a vontade enunciativa ou

    intenção do locutor. Assim, os gêneros textuais são tipos relativamente estáveis de enunciados que

    cada esfera de utilização da língua elabora; e essa estabilidade relativa torna os gêneros passíveis de

    mudança ao longo do processo histórico-social. E eles são imprescindíveis à comunicação humana, como

    afirma Bakhtin (p. 302) “se não existissem os gêneros do discurso e se não os dominássemos, se

    tivéssemos de criá-los pela primeira vez no processo da fala, se tivéssemos de construir cada um de nossos

    enunciados, a comunicação seria quase impossível”.

    Para Bakhtin, os gêneros têm as mesmas propriedades do enunciado; por isso ele ora se

    refere a enunciado, ora a gênero. E para ele, os enunciados (gêneros) apresentam cinco características

    constitutivas:

    1- São delimitados pela alternância dos sujeitos falantes: como ocorre naturalmente nos diálogos, e

    também nos gêneros escritos, porém, não de forma natural. Neste caso, o produtor imagina prováveis

    perguntas do interlocutor com suas respectivas respostas, visando suprir a ausência do interlocutor

    imediato. Assim, essa delimitação é dada pela resposta do interlocutor presente (real) ou ausente

    (fictício);

    2- Têm acabamento específico: esse acabamento é determinado por três fatores: a) tratamento

    exaustivo do objeto do sentido – varia conforme as esferas da comunicação verbal, ocorrendo com

    mais freqüência nos gêneros padronizados ao máximo, em que a criatividade é quase inexistente; do

    que nos gêneros utilizados nas esferas criativas; b) o intuito, o querer-dizer do locutor – favorece o

    reconhecimento do acabamento do enunciado pelo interlocutor; c) as formas típicas de estruturação do

    gênero do acabamento – dependem da esfera da comunicação verbal, do tema, das circunstâncias,

    da posição social e do relacionamento pessoal dos participantes da comunicação;

    3- São marcados pela intenção do locutor: essa intenção revela o propósito discursivo do locutor, projeta

    as marcas da individualidade de alguém que defende um ponto de vista ao se envolver com um tema;

    4- Intertextualidade: os enunciados mantêm relações dialógicas com o que vem antes e com o que vem

    depois. Numa interação verbal, retoma-se enunciados de outros, mesmo que não seja explicitamente;

  • 21

    5- Têm um destinatário: isso influencia na escolha, por parte do locutor, do gênero, dos procedimentos

    composicionais e dos recursos lingüísticos.

    Bakhtin distingue dois tipos de gêneros textuais: o primário (simples) e o secundário

    (complexo). O primeiro diz respeito aos gêneros que se apresentam em uma comunicação verbal

    espontânea; enquanto que o segundo tipo se relaciona aos gêneros que aparecem em uma comunicação

    cultural mais complexa e relativamente mais evoluída, principalmente escrita.

    Considerando o exposto acima, pode-se apontar os seguintes componentes como importantes na

    construção das bases sócio-interativas da teoria bakhtiniana dos gêneros:

    - Cada esfera de atividade humana elabora tipos relativamente estáveis de enunciados,

    denominados gêneros do discurso ou gêneros textuais;

    - Os gêneros caracterizam-se pelo conteúdo temático, pelo estilo e pela construção

    composicional;

    - A variedade de gêneros é praticamente infinita e eles são heterogêneos;

    - Os gêneros textuais dividem-se em gêneros primários, produzidos em situação espontânea

    com inserção imediata na realidade social, e gêneros secundários, que surgem em situações

    culturais mais complexas;

    - Os gêneros caracterizam-se como tipos de enunciados particulares, concretos, relacionados a

    diferentes esferas da atividade e da comunicação;

    - O enunciado é a unidade real da comunicação verbal. A fala só existe na realização

    concreta dos enunciados de um indivíduo em situação de comunicação;

    - Entre estilo e gênero observa-se um vínculo indissolúvel, orgânico, de modo que estilo

    é estilo de um gênero numa esfera da atividade humana.

    Assim, a contribuição de Bakhtin em relação aos gêneros textuais está exatamente em

    considerá-los como uma criação de indivíduos que pertencem a uma determinada esfera de comunicação,

    que compartilham objetivos comuns. Esses objetivos comuns se revelam nos gêneros, que podem pertencer

    à modalidade oral ou à escrita. Dessa forma, a classificação de textos orais e escritos como

    pertencentes a um determinado gênero é determinada pelo objetivo comunicativo de cada esfera

    de atividade. E como essas esferas têm objetivos distintos no decorrer dos tempos, os gêneros têm

    caráter não estático; por isso, a visão de Bakhtin sobre a análise de gêneros não é dogmática,

    normativa, mas descritiva. Em outras palavras, para Bakhtin, a estrutura social da qual fazem parte os

    interlocutores é uma fonte criadora de gêneros. E as especificidades de cada esfera de comunicação

  • 22

    são reveladas na superfície lingüística destes. Essa posição não dogmática é adotada aqui para a

    descrição do gênero Artigo Científico.

    A contribuição de Bakhtin é essencialmente de natureza teórica, por isso tem-se a

    necessidade de buscar em outros autores subsídios para a análise do gênero que será feita aqui.

    11..11..22 OOss ggêênneerrooss tteexxttuuaaiiss sseegguunnddoo BBrroonncckkaarrtt

    A noção de gênero de Bronckart é fundamentada em princípios formulados por vários

    autores, dentre os quais está Bakhtin (2000). Bronckart (1999, p. 91) afirma que a situação de ação

    de linguagem se refere às propriedades dos mundos formais, entendidos esses mundos como os

    mundos físicos, social e subjetivo, que podem exercer influência sobre a produção textual. Essa situação de

    ação de linguagem pode ser tanto externa como interna. A primeira seria as características dos

    mundos formais, tais como uma comunidade de observadores poderia descrever. A segunda seria

    as representações sobre esses mesmos mundos, tais como um agente as interiorizou. E é realmente esta

    segunda situação que influi sobre a produção de um texto empírico, i. e., de um gênero.

    As relações entre uma situação e um texto empírico nunca podem apresentar um caráter de

    dependência direta ou mecânica. Primeiro, porque não se tem acesso às representações

    específicas que o produtor do texto dispõe sobre si mesmo; segundo, porque, ainda que se dispusesse de

    um conhecimento exaustivo da situação de ação interiorizada pelo produtor, isso não permitiria, de

    forma alguma, que se pudesse prever o conjunto das características do texto empírico produzido.

    Como afirma Bronckart (1999, p. 92), para produzir um texto, o produtor deve mobilizar

    algumas de suas representações sobre os mundos. Essa mobilização é feita em duas direções distintas:

    em relação ao contexto de produção textual e em relação ao conteúdo temático ou referente.

    O contexto de produção se refere ao conjunto dos parâmetros que podem exercer uma

    influência sobre a forma como um texto é organizado. Esses fatores se referem ao mundo físico e ao mundo

    social e ao subjetivo.

    No primeiro caso, todo texto é o resultado de um ato realizado em um contexto “físico”

    (no espaço e no tempo). Esse mundo físico é definido por quatro parâmetros: l- lugar de produção (lugar

    físico onde o texto é produzido); 2- o momento de produção (a extensão do tempo durante a qual o texto

    é produzido); 3- o emissor (a pessoa que elabora o texto, ou na modalidade oral ou na modalidade

    escrita); 4- o receptor (a(s) pessoa(s) que recebe(m) concretamente o texto).

    No segundo caso, todo texto é inscrito no quadro das atividades de uma formação social, que

    implica o mundo social e o subjetivo. Esse mundo sócio-subjetivo é decomposto em quatro parâmetros:

  • 23

    l- lugar social: em que modo de interação o texto é produzido; 2- a posição do emissor: que papel

    social o emissor desempenha na interação em curso; 3- a posição social do receptor: papel social

    atribuído ao receptor do texto; 4- objetivo da interação: que efeito o enunciador quer produzir no

    destinatário através do texto.

    Já o conteúdo temático de um texto se refere ao conjunto de informações que nele são

    explicitamente apresentadas. Esses conhecimentos variam em função da experiência e do nível de

    desenvolvimento do produtor.

    Tanto o contexto de produção quanto o conteúdo temático integram a noção de ação de

    linguagem, que consiste em identificar os valores precisos que o produtor atribui a cada um dos

    parâmetros do contexto aos elementos do conteúdo temático mobilizado. Assim, a ação de linguagem seria

    uma base de orientação a partir da qual o produtor deve tomar um conjunto de decisões. E uma dessas

    decisões que o produtor toma é a escolha do gênero de texto que lhe parece o mais adequado e eficaz em

    relação à sua situação de ação específica.

    Segundo Bronckart, o gênero está intrinsecamente ligado à dimensão sócio-histórica da

    língua. Em decorrência de necessidades específicas, os indivíduos, que se reúnem em grupos sociais em

    função de objetivos comuns, elaboram textos, que são construídos tendo como suporte os gêneros

    disponíveis. E, por causa de características diferentes dos indivíduos (grau de instrução, classe social, faixa

    etária, profissão etc.), os textos se manifestam de forma variada; daí porque estes apresentam características

    relativamente estáveis.

    O quadro teórico dos gêneros proposto por Bronckart compreende três níveis de análise: l-

    infra-estrutura: (plano geral: conteúdo temático; tipos de discurso2: discurso teórico, narração etc.;

    seqüências: narrativa, explicativa etc.); 2- mecanismos de textualização (conexão: conjunções, advérbios

    ou locuções adverbiais, grupos preposicionais e segmentos de frases; coesão nominal: hiperônimo,

    expressões definidas, mesmo item lexical etc.; coesão verbal: tempos verbais); 3- mecanismos

    enunciativos (distribuições de vozes: vozes do autor, sociais etc.; modalizações: lógicas, deônticas etc.).

    Esses níveis serão explicados detalhadamente no próximo capítulo.

    2 Bronckart distingue entre tipo de discurso e seqüência. Para ele, “a noção de tipo de discurso designa segmentos que o texto comporta. [...] podemos distinguir um segmento de discurso teórico de um segmento de narração, no interior do qual são encaixados segmentos de discurso interativo [...] a noção de seqüência [...] designa modos de planificação mais convencionais ou, mais especificamente, modos de planificação de linguagem que se desenvolvem no interior do plano geral de texto (seqüências narrativas, explicativas, argumentativas, etc.)” (1999, p. 120-121). Aqui não irá se fazer a distinção entre tipo de discurso e seqüências. Ir-se-á considerar apenas a noção de seqüência, por serem marcadamente mostradas no texto, e também por o gênero Artigo Científico ser composto basicamente do segmento de discurso teórico.

  • 24

    Pode-se observar que a visão de Bronckart dos gêneros se aproxima das idéias de Bakhtin,

    pois o princípio fundamental do sócio-interacionismo é o lugar e o meio em que os indivíduos interagem

    socialmente; característica presente na teoria daquele.

    O mérito do trabalho realizado por Bronckart sobre os gêneros foi de natureza empírica,

    e não só teórica; ao contrário de Bakhtin, cujo trabalho é essencialmente teórico. Bronckart desenvolve

    uma análise que focaliza os tipos de seqüências textuais e, por meio delas, as regularidades dos

    parâmetros lingüísticos de textualização e os mecanismos enunciativos, que caracterizam os

    gêneros textuais. Porém, ele vai além dos constituintes internos dos textos, pois considera também o

    contexto, as situações de produção e o efeito que eles exercem sobre seus receptores.

    11..11..33 OOss ggêênneerrooss tteexxttuuaaiiss sseegguunnddoo MMaarrccuusscchhii

    Para Marcuschi (2002b, p. 22), é impossível se comunicar verbalmente a não ser por algum

    gênero, assim como é impossível se comunicar verbalmente a não ser por algum texto. Assim, a

    comunicação verbal só é possível por algum gênero textual. E para ele, “gêneros são formas

    verbais de ação social relativamente estáveis realizadas em textos situados em comunidades de

    práticas sociais e em domínios discursivos específicos” (p. 25). Os gêneros são diversos, tais como:

    telefonema, sermão, carta comercial, carta pessoal, romance, bilhete, reportagem jornalística, aula,

    notícia jornalística, horóscopo, receita culinária, bula de remédio, instrução de uso etc. Assim,

    existem tantos gêneros textuais quantas as situações sociais convencionais onde são usados em

    suas funções também convencionais.

    Os gêneros contribuem para ordenar e estabilizar as atividades comunicativas do dia-a-dia,

    porém não são instrumentos estanques e enrijecedores da ação criativa. Para Marcuschi (2002b, p.

    29), “quando dominamos um gênero textual, não dominamos uma forma lingüística e sim uma

    forma de realizar lingüisticamente objetivos específicos em situações sociais particulares”. Essa

    visão privilegia não o aspecto formal e estrutural da língua, mas sim sua natureza funcional e interativa.

    Marcuschi (2000, p. 118-122) propõe uma abordagem dos gêneros textuais por domínio

    discursivo e modalidades. O domínio discursivo seria “uma esfera social ou institucional

    (religiosa, jurídica, jornalística, política, industrial, familiar, lazer etc.) na qual se dão práticas que

    organizam formas de comunicação e respectivas estratégias de compreensão”. Esses domínios

    discursivos seriam responsáveis pela produção de modelos de ação comunicativa que se estabilizam e

    se transmitem de geração para geração com propósitos e efeitos definidos e claros. Eis os domínios

    discursivos citados por Marcuschi: científico, jornalístico, religioso, saúde, comercial, industrial,

  • 25

    instrucional, jurídico, publicitário, lazer, interpessoal, militar e ficcional. Quase todos os domínios

    discursivos apresentam mais gêneros da modalidade escrita que na oral, com exceção do domínio

    discursivo religioso.

    Para Marcuschi, seria impossível se comunicar sem ser por algum gênero textual situado em

    algum domínio discursivo, cujo objetivo é funcionar como enquadre global da superordenação

    comunicativa, subordinando práticas sócio-discursivas orais e escritas que resultam nos gêneros que

    circulam nesses domínios.

    Quanto às modalidades, os gêneros podem ser expressos na modalidade oral e escrita.

    Para Marcuschi (2001, p. 37), porém, “as diferenças entre fala e escrita se dão dentro do continuum

    tipológico das práticas sociais da produção textual e não na relação dicotômica de dois pólos opostos”.

    Assim, a visão dele da relação fala e escrita não é dicotômica. Ele afirma que:

    O contínuo dos gêneros textuais distingue e correlaciona os textos de cada modalidade (fala e escrita) quanto às estratégias de formulação que determinam o contínuo das características que produzem as variações das estruturas textuais discursivas, relações lexicais, estilo, grau de formalidade etc., que se dão num contínuo de variações, surgindo daí semelhanças e diferenças ao longo de contínuos sobrepostos. (p. 42)

    Exemplificando, poderia haver gêneros escritos com características da fala, como uma carta

    pessoal; ou gêneros orais com características próprias da escrita, como uma conferência universitária

    preparada com cuidado.

    Graficamente, tem-se:

    Fonte: Gráfico 3, Marcuschi (2001, p. 41)

  • 26

    Assim, na visão de Marcuschi, tanto a fala como a escrita apresentam um

    continuum de variações, e a comparação deve tomar como critério básico de análise não uma visão

    dicotômica estrita, mas uma relação fundada no continuum dos gêneros textuais.

    A perspectiva de Marcuschi sobre os gêneros baseia-se na situação de interação, nos

    participantes e no propósito comunicativo dos textos; para ele, as situações de interação favorecem a

    constituição dos gêneros. Assim, pode-se afirma que a teoria dele é também sócio-interativa,

    coadunando-se com a perspectiva de Bakhtin.

    11..11..44 OOss ggêênneerrooss tteexxttuuaaiiss sseegguunnddoo SSwwaalleess

    Conforme Swales (1990, p. 33), a noção de gênero, atualmente, não se vincula

    especificamente à literatura, mas é usada para referir uma categoria distintiva de discurso de qualquer

    tipo, falado ou escrito, com ou sem aspirações literárias.

    A concepção de gênero de Swales é baseada em cinco características centrais (p. 45-57):

    1- Um gênero é uma classe de eventos comunicativos. Num evento comunicativo, a língua representa

    um papel significativo e indispensável. Ele é visto como compreendendo não só o discurso em si e

    seus participantes, mas também o papel desse discurso e o contexto de produção e recepção,

    incluindo associações históricas e culturais;

    2- O critério principal que torna uma coleção de eventos comunicativos um gênero é um certo

    conjunto partilhado de propósitos comunicativos. Essa característica é baseada na adoção de

    que os gêneros são, exceto alguns casos interessantes e excepcionais, veículos comunicativos para

    a execução de objetivos;

    3- Exemplares ou instâncias de gêneros variam em sua prototipicidade. Os gêneros

    apresentam formas diferentes e específicas que distinguem um gênero do outro;

    4- A base lógica subjacente a um gênero estabelece restrições admissíveis em termos de seu

    conteúdo, posição e forma;

    5- Uma nomenclatura dos gêneros por uma comunidade de discurso é uma importante fonte de

    instrução.

    Baseado nessas cinco características, Swales (p. 5 8), apresenta sua concepção de gênero da

    seguinte maneira:

  • 27

    Um gênero compreende uma classe de eventos comunicativos cujos membros partilham um dado conjunto de propósitos comunicativos. Esses propósitos são reconhecidos pelos membros especialistas da comunidade de discurso e com isso constituem a base lógica para o gênero. Essa base modela a estrutura esquemática do discurso, influencia e condiciona a escolha do conteúdo e do estilo. O propósito comunicativo é tanto um critério privilegiado como um critério que opera para atingir o escopo de um gênero tal como aqui grosseiramente concebido e enfocado em ações retóricas comparáveis. Em aditamento ao propósito, os exemplares de um gênero exibem vários padrões de similaridade em termos de estrutura, estilo, conteúdo e audiência pretendida. Se todas as expectativas de probabilidade mais altas forem realizadas, o exemplar será visto como protótipo pelos membros da comunidade de discurso. Os nomes dos gêneros herdados e produzidos pelas comunidades de discurso e importados por outras constituem valiosas comunicações etnográficas, mas que tipicamente necessitam de avaliação posterior.

    Assim como Bakhtin, Swales reconhece que existe uma variedade de gêneros, e que estes

    variam bastante devido a diferentes parâmetros. Os gêneros variam de acordo com a complexidade de

    propósito retórico; o grau de preparo exigido para sua produção; a natureza dos meios de transmissão,

    que pode ser falado ou escrito; a tecnologia utilizada; a audiência pretendida. Essa variação não é só

    dentro de uma cultura, mas entre culturas; por isso, para Swales, não há uma classificação

    universalmente válida dos gêneros. Isso vem ratificar a posição de Bakhtin, vista acima, que afirma que

    os gêneros são relativamente estáveis e sócio-historicamente definidos.

    11..11..55 OOss ggêênneerrooss tteexxttuuaaiiss sseegguunnddoo BBhhaattiiaa

    Bhatia parte da definição de gênero proposta por Swales, comentando alguns aspectos

    dessa conceituação, para, em seguida, dar sua própria definição.

    Um gênero é um evento comunicativo caracterizado por um conjunto de propósitos comunicativos mutuamente reconhecidos pelos membros da comunidade profissional ou acadêmica na qual ele regularmente ocorre. Na maioria dos casos, ele é altamente estruturado e convencionalizado com restrições quanto às contribuições admissíveis em termos de suas intenções, forma, posição e valor funcional. As restrições, no entanto, são muitas vezes exploradas pelos especialistas da comunidade discursiva para conseguir intenções particulares no quadro dos objetivos socialmente reconhecíveis. (1993, p. 13)

    Segundo Bhatia (1993, p. 13-15), há vários aspectos dessa definição que precisam de mais

    explanação:

    1- Um gênero é um evento comunicativo reconhecível, caracterizado por um conjunto de propósitos

    comunicativos identificados e mutuamente reconhecidos pelos membros da comunidade

    profissional ou acadêmica em que ele regularmente ocorre: Embora haja um número de outros

    fatores, como conteúdo, forma, audiência pretendida, meio ou canal, que influenciam a natureza e a

  • 28

    construção de um gênero, ele é primariamente caracterizado pelos propósitos comunicativos que

    pretende preencher. Esse conjunto de propósitos comunicativos é que molda o gênero e lhe dá uma

    estrutura interna. Assim, qualquer grande mudança nos propósitos comunicativos nos dá um gênero

    diferente;

    2- Um gênero é, na maioria dos casos, um evento comunicativo altamente estruturado e

    convencionalizado: Membros especialistas de qualquer comunidade profissional ou acadêmica estão

    geralmente familiarizados não só com os objetivos comunicativos de sua comunidade, mas

    também com a estrutura dos gêneros em que eles regularmente participam como parte de seus

    trabalhos diários. Assim, é o resultado cumulativo de sua longa experiência e/ou treinamento

    dentro da comunidade especializada que molda o gênero e lhe dá uma estrutura interna

    convencionalizada;

    3- Vários gêneros apresentam restrições quanto às contribuições admissíveis em termos de suas

    intenções, forma, posição e valor funcional: Isso significa que embora o autor tenha muita liberdade

    para usar recursos lingüísticos, ele deve obedecer a certas práticas padrões dentro dos limites de um

    gênero particular;

    4- Essas restrições são freqüentemente exploradas pelos especialistas da comunidade

    discursiva para conseguir intenções particulares dentro do quadro dos propósitos

    socialmente reconhecidos: Os membros da comunidade profissional ou acadêmica têm maior

    conhecimento dos propósitos convencionais, construção e uso de gêneros específicos do que os

    não-especialistas. Isso porque autores especialistas de gênero freqüentemente parecem ser mais

    criativos no uso dos gêneros que são familiares do que aqueles que não pertencem à comunidade

    especializada.

    Bhatia reconhece que a definição de Swales sobre gênero é interessante por oferecer

    uma boa fusão de fatores lingüísticos e sociológicos, porém afirma que Swales falha por não levar em

    consideração os fatores de natureza psicológica, que desempenham um papel significativo na

    concepção de gênero como um processo social dinâmico, ao invés de uma concepção estática.

    Após essa análise, Bhatia (1993, p. 16) dá a sua própria definição de gênero: “Gênero é

    uma instância de uma realização bem sucedida de um propósito comunicativo específico usando um

    conhecimento convencionalizado dos recursos lingüísticos e discursivos.”

    Levando em consideração que cada gênero estrutura as experiências ou realidades do mundo

    numa forma particular, Bhatia reconhece que a mesma experiência ou realidade do mundo pode ser

    exposta em gêneros diversos, mas isso será feito em cada gênero de modo muito diversificado.

  • 29

    Para Bhatia (1993, p. 16-22), há três orientações para a análise de gêneros do ponto de

    vista da análise da variação funcional da linguagem: a lingüística, a sociológica e a psicológica.

    O ponto de vista lingüístico enfatiza a análise das variedades em registros, porém esse tipo

    de análise revela muito pouco da verdadeira natureza dos gêneros e dos propósitos sociais.

    A análise sociológica dos gêneros permite compreender como um gênero particular

    define, organiza e finalmente comunica a realidade social. Esse aspecto enfatiza que o texto em si não é

    objeto autônomo, funcionando e contendo em si todos os sentidos, é para ser olhado como um processo

    de negociação no contexto de emissão como papéis sociais, propósitos do grupo, preferências

    profissionais e organizacionais e pré-requisitos, e até coação cultural.

    A análise psicológica dos gêneros é basicamente de natureza psicolingüística. O aspecto

    psicolingüístico de análise de gênero revela a organização cognitiva, típica de áreas particulares de

    investigação, enquanto os aspectos táticos de descrição de gênero enfatizam as escolhas estratégicas

    individuais feitas pelo autor para executar sua intenção.

    Para a análise dos gêneros, Bhatia (1993, p. 22-37) propõe o seguinte método, baseado

    em sete passos:

    1- Situar o gênero de texto num contexto situacional: É necessário situar o gênero

    intuitivamente num contexto situacional levando em consideração as experiências anteriores, as pistas

    internas no texto e o conhecimento de mundo. Isso inclui a experiência prévia do produtor e o

    conhecimento de disciplina especializada bem como das convenções comunicativas tipicamente

    associadas com o gênero;

    2- Investigar a literatura existente: Quando o analista pertence ao grupo profissional que utiliza o

    gênero, isso favorece o estudo; quando não, o melhor é recorrer à literatura sobre o gênero. Isso

    inclui, entre outras coisas, a literatura sobre: l- Análise lingüística do gênero em questão ou outra

    relacionada; 2- Ferramentas, métodos ou teorias de análises lingüística/discursiva/gênero que

    poderão ser relevantes para esta situação; 3- Opinião de especialistas, livros, manuais etc.

    relevantes para a comunidade de fala em questão; 4-Discussão da estrutura social, interação

    histórica, crenças, objetivos etc., da comunidade profissional ou acadêmica que usa o gênero em

    questão;

    3- Refinar a análise situacional/contextual: Tendo intuitivamente situado o texto grosseiramente

    num quadro situacional/contextual, é necessário refinar tal análise da seguinte forma: l- Definindo o

    autor do texto, a audiência, seu relacionamento e seu objetivo; 2-Definindo o histórico sócio-

    cultural, filosófico e/ou ocupacional da comunidade na qual o discurso acontece; 3- Identificando

    o cruzamento de textos vizinhos e tradições lingüísticas que formam o pano de fundo para este

  • 30

    gênero particular; 4- Identificar a realidade tópica/subjetiva/extra-textual que o texto está

    tentando representar, trocar ou usar e o relacionamento do texto com essa realidade;

    4- Selecionar um corpus: Para selecionar o tipo e tamanho certos do corpus é necessário: 1-Definir

    bem o gênero que se está trabalhando para que ele possa ser distinguido de outros gêneros

    similares ou relacionados com ele. A definição pode ser baseada nos propósitos comunicativos,

    no contexto situacional no qual ele é geralmente usado, e em algumas características textuais

    distintivas do gênero ou alguma combinação disso; 2- Ter certeza de que os critérios para decidir se

    um texto pertence a um gênero específico estão claramente estabelecidos; 3- Decidir sobre os

    critérios para uma seleção adequada dos corpus para os propósitos específicos;

    5- Estudar o contexto situacional: Um bom analista de gênero esforça-se por estudar o contexto

    institucional, incluindo o propósito do gênero, as regras e convenções (lingüística, social, acadêmica,

    profissional) que governam o uso da língua em tal situação institucional;

    6- Níveis de análise lingüística: O analista de gênero decide em que nível(s) as mais distintivas

    e significativas características da língua ocorrem, e conclui a análise apropriada, que pode

    concentrar em um ou mais dos seguintes três níveis de realização lingüística:

    a) Nível l - Análise de traços léxico-gramaticais: Um texto pode ser quantitativamente

    analisado estudando as características específicas da língua que são predominantemente usadas

    na variedade a que o texto pertence. Isso é geralmente feito empreendendo uma análise estatística do

    corpus usado de uma amostra da variedade em questão;

    b) Nível 2 - Análise de padrões textuais ou textualização: Este item da análise lingüística dá

    atenção ao aspecto tático do uso convencional da língua, especificando o caminho que os

    membros de uma comunidade particular de fala fixa valores restritos para vários aspectos do uso da

    língua quando operando num gênero particular;

    c) Nível 3 - Interpretação estrutural do gênero textual: Esse item dá atenção a aspectos

    cognitivos de organização da língua. Especialistas parecem ser bastante consistentes na forma como

    organizam suas mensagens num gênero particular, e a análise da organização estrutural do gênero

    revela a intenção comunicativa em áreas específicas de investigação;

    7- Informação de especialistas para a análise de gênero: O analista checa suas descobertas com as reações

    de um informante especialista que, geralmente, é um membro praticante da comunidade na qual o

    gênero é rotineiramente usado. A reação do especialista confirma suas descobertas, traz validade para

    suas percepções e acrescenta a realidade psicológica à sua análise.

  • 31

    Para a escolha de um informante especialista apropriado para a análise de um gênero

    particular, Selinker (1979 apud Bhatia, 1993, p. 35-36) menciona algumas características que deveriam ser

    procuradas. O informante especialista, se possível, deveria: 1- Ser um competente e treinado membro

    especialista da comunidade na qual o gênero em estudo é rotineiramente usado; 2- Ter tato para a

    linguagem especializada e também ser preparado para falar sobre ela abertamente, quando questionado

    sobre vários aspectos do gênero em estudo; 3- Ser capaz de explicar claramente o que ele acredita que os

    membros especialistas da comunidade fazem quando exploram a língua para cumprir seus objetivos

    genéricos.

    Essas são apenas algumas dicas que podem ajudar o analista a planejar e organizar as sessões de

    discussão com o informante especialista.

    Esses sete passos poderão ser adotados na totalidade ou parcialmente, ao se proceder uma

    análise de qualquer gênero.

    Os gêneros textuais, portanto, são entendidos aqui como não sendo formas estruturais

    estáticas e definidas de uma vez por todas, coadunando-se com a visão dos autores vistos acima. Eles são

    dinâmicos, de complexidade variável e não se sabe ao certo se é possível contá-los todos, pois como são

    sócio-históricos e variáveis, não há como fazer uma lista fechada.

    A análise do gênero Artigo Científico que será feita posteriormente está baseada nas visões

    sobre gêneros abordadas acima. Assim, unindo os níveis de análise proposta por Bakhtin (conteúdo

    temático, construção composicional e estilo verbal), por Marcuschi (domínio discursivo e modalidades:

    oral e escrita) e por Bronckart (infra-estrutura: plano geral: conteúdo temático, seqüências; mecanismos de

    textualização: conexão, coesão nominal e coesão verbal; mecanismos enunciativos: vozes e modalizações), tem-

    se os seguintes níveis de análise adotados:

    1- Domínio discursivo;

    2- Modalidades: a) Oral e b) Escrita;

    3- Plano geral: Conteúdo temático;

    4- Construção composicional: a) Superestrutura textual e b) Infra-estrutura: Seqüências textuais;

    5- Estilo verbal: a) Mecanismos de textualização: Conexão, Coesão nominal e

    Coesão verbal; b) Mecanismos enunciativos: Vozes e Modalizações.

    Esses níveis de análise serão melhores detalhados no próximo capítulo.

  • 32

    55..11 TTiippoo tteexxttuuaall

    Conforme Marcuschi (2000, p. 18), a categoria tipo textual é construto teórico que abrange,

    em geral, de cinco a dez categorias, designadas narração, argumentação, exposição, descrição, injunção

    e diálogo. Esse agrupamento é de natureza lingüística. Fazendo a distinção entre tipo, gênero e

    evento lingüístico, Marcuschi (p. 21) afirma que “um tipo textual é constructo ideal que se identifica

    no contexto de uma tipologia textual que pretende determinar estruturas lingüísticas e formais que

    constituem esses tipos”.

    Esses tipos textuais são estratégias utilizadas para organizar os gêneros, muitas vezes

    independentemente das funções comunicativas destes. Assim, com freqüência, um único texto

    contém mais do que um desses tipos. Por exemplo, uma carta pessoal pode conter trechos narrativos (um

    histórico do que a pessoa que escreve tem feito recentemente), trechos descritivos (como é o lugar onde

    está morando), trechos procedimentais (instruções para alguém enviar-lhe dinheiro), trechos

    exortativos (incentivando um irmão, digamos, a uma determinada conduta) e mesmo trechos

    argumentativos (defendendo uma determinada perspectiva ou visão de alguma coisa).

    A tipologia textual é considerada por Marcuschi como um aspecto fundamental dos

    estudos lingüísticos, pois possibilita a análise dos gêneros sob o aspecto lingüístico.

    Não há uma tipologia textual única, porém, restringir-se-á à tipologia em que podem ser

    analisados os aspectos lingüísticos, como é o caso da tipologia de Adam (1992), citado por Bronckart

    (1999, p. 218). Esta será detalhada no próximo capítulo, no item “Seqüências textuais dos Artigos

    Científicos”.

    Pode-se concluir que os tipos textuais referem-se a aspectos intrínsecos aos textos e realizam-

    se sempre de modo heterogêneo, por meio dos gêneros, e são dependentes do contexto de

    comunicação em que ocorrem – não têm existência real.

    Esquematicamente, tem-se a seguinte distinção entre gênero e tipo:

    TIPOS TEXTUAIS 1. constructos teóricos definidos por propriedades lingüísticas intrínsecas; 2. constituem seqüências lingüísticas ou seqüências de enunciados e não são textos empíricos; 3. sua nomeação abrange um conjunto limitado de categorias teóricas determinadas por

    GÊNEROS TEXTUAIS 1. realizações lingüísticas concretas definidas por propriedades sócio-comunicativas; 2. constituem textos empiricamente realizados cumprindo funções em situações comunicativas; 3. sua nomeação abrange um conjunto aberto e praticamente ilimitado de designações concretas

  • 33

    aspectos lexicais, sintáticos, relações lógicas, tempo verbal;____________________________ 4. designações teóricas dos tipos: narração, argumentação, descrição, injunção e exposição.

    determinadas pelo canal, estilo, conteúdo, composição e função; 4. exemplos de gêneros: telefonema, sermão, carta comercial, carta pessoal, romance, bilhete [...] etc.

    Fonte: Marcuschi, 2002, p. 23.

    Assim, as distinções do tipo textual seriam lingüísticas e estruturais, enquanto que as do

    gênero textual seriam funcionais e pragmáticas.

    O estudo das características dos vários tipos de textos, para Van Dijk (1989), é uma

    necessidade, a fim de que os aprendizes desenvolvam as habilidades de ler e escrever dentro de

    contextos diversos e, portanto, atendendo a objetivos e intenções diferentes. Para tanto, deve-se

    proceder à análise dos tipos textuais de cada gênero de texto.

  • 34

    CCAAPPÍÍTTUULLOO IIII

    AARRTTIIGGOOSS CCIIEENNTTÍÍFFIICCOOSS

  • 35

    Os textos produzidos em contexto acadêmico, chamados de textos científicos, subdividem-

    se em muitos gêneros (monografias, dissertações, teses, etc.), e um desses gêneros é o artigo científico.

    Neste capítulo, pretende-se fazer uma descrição detalhada desse gênero, baseada nos níveis de

    análise esboçados no capítulo anterior. Para tanto, primeiramente, ir-se-á fazer a conceituação, caracterização,

    histórico e classificação do gênero artigo científico; em segundo lugar, far-se-á a descrição da superestrutura e

    seqüências textuais dos artigos científicos, i. e., da construção composicional, como também dos

    mecanismos de textualização (conexão, coesão nominal e coesão verbal) e dos mecanismos enunciativos

    (vozes e modalizações), ou seja, do estilo verbal desse gênero.

    22..11 CCoonncceeiittuuaaççããoo

    “Os artigos científicos são resultados de estudos completos de um dado objeto de pesquisa. Não

    chegam a constituir-se em matéria para dissertações, teses ou livros. Apresentam as pesquisas

    realizadas e são publicados em revistas ou periódicos especializados” (MARCANTONIO, 1993, p. 71).

    Segundo Lakatos e Marconi (1991, p. 238), os artigos científicos são pequenos estudos,

    porém completos, que tratam de uma questão verdadeiramente científica, mas que não se constituem em

    matéria de um livro.

    Os artigos científicos distinguem-se dos diferentes tipos de trabalhos científicos (monografias,

    teses, dissertações etc.) pela sua reduzida dimensão e conteúdo. Seu propósito é comunicar os resultados de

    pesquisas, idéias e debates de uma maneira clara, concisa e fidedigna; servir de meio de comunicação e de

    intercâmbio de idéias entre cientistas da sua área de atuação e levar os resultados do teste de uma

    hipótese, provar uma teoria (tese, trabalho científico).

    22..22 CCaarraacctteerriizzaaççããoo

    Segundo Lakatos e Marconi (1996, p. 198), o texto científico, neste caso o artigo científico, deve

    obedecer a algumas regras:

    Os trabalhos científicos devem ser elaborados de acordo com normas preestabelecidas e com fins a que se destinam. Serem inéditos ou originais e contribuírem não só para a ampliação de conhecimentos ou a compreensão de certos problemas, mas também servirem de modelo ou oferecem subsídios para outros trabalhos.

  • 36

    Dentro dessa perspectiva, Leibruder (2000, p. 230), afirma que os textos de

    divulgação científica estão fundamentados nas convenções lingüísticas próprias ao texto científico,

    como por exemplo: o emprego de uma linguagem objetiva, concisa e formal; o padrão lexical

    (nominalizações, vocabulário técnico e emprego de verbos na 3ª pessoa do singular, acrescido da

    partícula “se” (índice de indeterminação do sujeito), ou na lª pessoa do plural (sujeito universal,

    ocasionando o apagamento do sujeito). Semelhantemente também, os artigos científicos apresentariam

    essas características.

    Para Leibruder, esses índices de impessoalidade são considerados como mecanismos

    argumentativos, objetivando provar a veracidade e legitimidade do discurso proferido, como também

    uma forma de afastamento do “eu” e de neutralidade, resultando em uma espécie de inquestionabilidade

    do discurso proferido. Porém, é falsa essa impressão de neutralidade passada no discurso científico,

    pois a escolha do tema e a forma como o texto será construído prova a existência de um sujeito do

    discurso.

    Assim, para a construção da discursividade, a subjetividade é um fator extremamente

    relevante. Benveniste (1991, p. 286), autor adotado para a concepção de subjetividade, define esta

    como a “capacidade do locutor em se propor como sujeito”. Esse se propor como sujeito não significa

    que o autor do texto o produzirá sem seguir padrões ou regras típicas desse ato, mas que pertence a

    ele a escolha do tema sobre o qual escreverá, os autores que fundamentarão seu texto etc.

    Essa subjetividade será apresentada nos artigos científicos através das modalizações e das

    citações, esta é uma forma “camuflada” de apresentar a subjetividade do autor e garantir a

    cientificidade de seu texto; pois, num texto científico não se deve, pelo menos superficialmente, ser

    subjetivo. Assim, as citações seriam um tipo de corroboração ao que é afirmado por aqueles que não

    têm, ou têm pouca autoridade no assunto sobre o qual escrevem.

    A questão sobre citações e modalizações será melhor explicada no item sobre

    mecanismos enunciativos, no subitem “Vozes” e “Modalizações”, respectivamente.

    22..33 HHiissttóórriiccoo ddoo AArrttiiggoo CCiieennttííffiiccoo

    Swales (1990, p. 110-117) apresenta um breve histórico do artigo científico (AC) nos

    últimos 300 anos, dando uma visão diacrônica, a fim de provar que, como todos os gêneros vivos, o

    AC está continuamente se modificando.

    Segundo Swales, o AC surgiu, na forma embrionária, com o estabelecimento do primeiro

    periódico científico, “The Philosophical Transactions of the Royal Society”, em 1665. O

    desenvolvimento do AC se deu a partir das cartas informativas que os cientistas trocavam entre si.

  • 37

    Os primeiros AC tinham a forma da primeira pessoa como nas cartas, e alguns até possuíam

    saudações. Como o periódico Transactions e as revistas subseqüentes começaram a assumir um papel

    de prover um ambiente regular para discussão, isso fez surgir um novo gênero, distinto da origem dessas

    cartas, chamado AC.

    No início, os AC eram narrativas extensas de experimentos científicos. E a

    utilização da pessoa (lª singular/1ª plural) é um resquício daquela origem histórica de relatos pessoais.

    Conforme Bazerman (1983, p. 16-17 apud Swales, 1990, p. 113), no final do século

    XVIII, uma reconfiguração do AC começa a se estabelecer.

    Na medida em que os fenômenos começam a ser tratados como mais problemáticos, os artigos passam a tomar uma organização diferente, abrindo com uma introdução aos fenômenos problemáticos, freqüentemente substanciada com a história de um experimento que não saiu de acordo com as expectativas. Com o problema estabelecido, o artigo deveria descrever cronologicamente uma série de experimentos almejados para chegar ao fundo do mistério. Transições entre cada dois experimentos poderiam desenhar conclusões do experimento prévio e apontar para a razão ou a necessidade do subseqüente. Na continuidade altamente desenvolvida observamos o experimentador chegar gradualmente a uma compreensão adequada do fenômeno, que deveria ser relacionado numa síntese conclusiva ou explanação dos fenômenos como nas investigações de Hewinson sobre a natureza do sangue (60: 368-830).

    Já os AC do século XX apresentam algumas diferenças dos AC do século XVIII; entre

    elas, uma aproximação decididamente mais eventual à literatura antecedente.

    Eis algumas características que diferenciam os AC anteriores dos de hoje:

    1- Extensão dos AC: De 1893 para 1900, a extensão média dos artigos caiu de 7.000 para 5.000

    palavras. Com poucas flutuações, eles continuaram com aproximadamente 5.000 palavras até

    1940. Em 1980, a extensão dos AC cresceu para aproximadamente 10.000 palavras. Atualmente, os

    AC se tornaram mais compactos;

    2- Referências: Entre 1890-1980, as referências eram de aproximadamente 10 por AC, mas raramente se

    relacionavam com descobertas específicas ou com os tópicos específicos investigados pelos

    autores. Em 1910, o número de referências tinha se tornado rigorosamente reduzido, mas as poucas que

    permaneceram eram todas recentes, tinham datas e relevância direta com a pesquisa em foco. Daí em

    diante, o número de referências tem se multiplicado;

    3- Características sintáticas e lexicais: Não houve muita variação no tamanho das frases, que tinham

    em média 25 palavras. As sentenças relativas diminuíram em freqüência, enquanto que as

    sentenças nominais e as subordinadas temporal e causal se tomaram mais freqüentes. No nível lexical,

    os conteúdos das sentenças principais se tornaram mais abstratos. Mudanças significantes na função do

    verbo principal também ocorreram – a voz passiva deu lugar à voz ativa;

  • 38

    4- Material não-verbal: Durante o período, houve uma diminuição no número de figuras e no número e

    tamanho das tabelas. Por outro lado, houve um crescimento no número e na complexidade de gráficos

    e equações;

    5- Organização: Antes de 1950, apenas 50% dos artigos eram formalmente divididos em seções

    tituladas; depois de 1950, os títulos das seções se tornaram uma característica regular. Desde então, as

    seções de discussão e conclusão se tornaram mais comuns e cresceram em tamanho e complexidade. Já

    as seções de método e aparato geralmente diminuíram.

    Vale salientar que essas eram as características para os artigos da área de física, química,

    matemática e biologia.

    22..44 CCllaassssiiffiiccaaççããoo ddooss AArrttiiggooss CCiieennttííffiiccooss

    O conteúdo dos artigos científicos pode abranger os mais variados aspectos: pode versar sobre

    um estudo pessoal, uma descoberta, ou dar um enfoque contrário ao já conhecido; oferecer

    soluções para questões controvertidas; abordar aspectos secundários, levantados em alguma pesquisa,

    mas que não seriam utilizadas na mesma etc. Em geral, apresenta temas ou abordagens novas, atuais,

    diferentes. Assim, de uma forma geral, existem duas categorias de artigos científicos: l- Artigos Científicos

    Originais: Informam sobre os resultados de pesquisa obtidos, descrevem métodos, técnicas e processos,

    apresentam novas idéias, etc. Um texto pertence a esta categoria quando: Contribui para ampliar

    consideravelmente o conhecimento ou a compreensão de um problema (informações

    primárias); está redigido de tal maneira que um pesquisador competente possa repetir os

    experimentos, observações, cálculos ou raciocínios teóricos do autor e julgar as suas conclusões

    e a precisão de seu trabalho. Alvos: Revistas, Conferências, Simpósios. 2- Artigos de Revisão: É um

    estudo sobre um determinado assunto, em que são reunidas, analisadas e discutidas as informações já

    publicadas. Os autores mais criativos deste tipo de estudo em geral o complementam com um número

    considerável de informações primárias (originais). O autor deve ter em conta todos os trabalhos

    publicados que fizeram avançar o tema e os que o teriam feito avançar se tivessem sido considerados.

    Alvos: Publicações internas, Inícios de Projetos de Pesquisa, ACM Computing Suveys.

    Segundo Lakatos e Marconi (1991, p. 240), quanto à análise do conteúdo, os artigos

    podem ser classificados em: argumento teórico, artigo de análise e artigo classificatório.

  • 39

    22..44..11 AArrgguummeennttoo tteeóórriiccoo

    Nesse artigo são apresentados argumentos favoráveis ou contrários a uma opinião. Primeiro,

    enfoca-se um dado argumento e depois os fatos que possam prová-lo ou refutá-lo. O desenrolar da

    argumentação leva a uma tomada de posição.

    Por ser uma forma de documentação difícil, o artigo argumento teórico é

    empregado, geralmente, por especialistas experientes. Requer pesquisa profunda e intensa para coletar

    dados válidos e suficientes.

    22..44..22 AArrttiiggoo ddee aannáálliissee33

    O autor, nesse caso, faz análise de cada elemento constitutivo do assunto e sua relação

    com o todo.

    A análise engloba: descrição, classificação e definição do assunto, tendo em vista a

    estrutura, a forma, o objetivo e a finalidade do tema. Entra em detalhes e apresenta exemplos.

    22..44..33 AArrttiiggoo ccllaassssiiffïïccaattóórriioo

    Nesse artigo, o autor procura classificar os aspectos de um determinado assunto e explicar

    suas partes. Inicialmente, faz-se a divisão do tema em classes, com suas características

    principais. Depois, apresenta-se definição, descrição objetiva e análise.

    O artigo classificatório é o mais útil, dentre as formas de documentação técnica.

    22..55 SSuuppeerreessttrruuttuurraa ddooss AArrttiiggooss CCiieennttííffiiccooss

    Os textos apresentam características próprias, ditadas pela natureza do evento. Entre

    essas características estão a estrutura do evento e o estilo. Segundo Coracini (1991), o texto científico é

    dirigido ao grupo de especialistas na área, pressupondo um público que conhece a matéria, os

    métodos utilizados usualmente na área e que se interessa pela pesquisa a ser relatada. Assim, esse fator é

    3 Não é muito comum, na literatura moderna, encontrar um artigo totalmente analítico.

  • 40

    decisivo na superestrutura do texto científico (estrutura do evento), além de repercutir na seleção lexical

    e nas estruturas sintáticas (estilo).

    Van Dijk (1992) afirma que os textos se diferenciam entre si não apenas por suas diferentes

    funções comunicativas e sociais, mas também porque possuem diversos tipos de construção, i. e., as

    superestruturas. Essas superestruturas apresentam duas características básicas: funcionam como

    arcabouços ou esquemas vazios de conteúdo, preenchidos apenas quando de sua realização concreta; não

    são esquemas rígidos.

    Conforme Van Dijk (1989), a estrutura básica do texto científico possui uma

    justificativa, a colocação do problema, uma solução e uma conclusão. Para a explicação do problema,

    levantam-se hipóteses e sugerem-se expectativas (predições). A comprovação das expectativas só é

    possível após o resultado dos testes experimentais. Só depois da comprovação é que se pode

    chegar às conclusões. E é baseada nessas conclusões que se pode confirmar ou não as hipóteses, e

    demonstrar se foi encontrada uma explicação adequada (solução) às observações originais.

    Conforme Gomes (2000, p. 72), os artigos científicos teriam sua estrutura-padrão alicerçada

    por cinco pilares básicos: contextualização; apresentação do estudo; metodologia; resultados obtidos ou

    prováveis; e o ponto de vista.

    1- Contextualização: contém informações que são usadas para situar o leitor no contexto em que está

    inserido o tema central do texto. Nos artigos científicos, a seção contextualização estaria sob

    designações como justificativa, colocação do problema e hipóteses. A intenção do autor nessa seção é

    destacar a relevância e fundamentar o estudo apresentado;

    2- Apresentação do estudo: contém dados sobre o(s) estudo(s) enfocado(s), consiste num breve relato

    sobre uma pesquisa, uma experiência ou uma nova técnica já desenvolvida ou em desenvolvimento. É

    nessa seção que, em geral, são encontradas respostas para as perguntas-chave: quem?, para quê?, o quê?,

    quando?, que se referem, respectivamente, aos participantes, aos objetivos, ao assunto e ao período de

    realização ou previsão do trabalho;

    3- Metodologia: contém informações sobre o método de trabalho para o desenvolvimento do estudo

    apresentado. Às vezes, nessa seção, há uma grande preocupação com a exposição de todas, ou quase

    todas, as etapas da investigação;

    4- Resultados: contém os resultados de estudos concluídos ou resultados parciais ou predições, no

    caso de as pesqu