O Modernismo e as Artes

Plásticas

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Retrato de Picasso de Juan Gris

“Antes de representar um cavalo de batalha, uma mulher nua ou uma anedota qualquer, um quadro é essencialmente uma superfície recoberta de cores dispostas em uma ordem determinada.” Maurice Denis.

A conhecida afirmação do pintor exprime muito o que a arte do século 20 é. A arte é

pensada não mais como uma cópia da realidade, mas sim como algo que pretende apresentar uma ideia, uma intenção, um conceito ou mesmo um sentimento. A invenção da fotografia consegue quebrar todos os paradigmas artísticos da Arte Ocidental, que se inicia com os gregos, cinco séculos antes do nascimento de Cristo, pois ela liberta a Arte da função de registrar a realidade.

Os artistas tomam uma posição mais definida e passam a buscar maior liberdade para a arte. Para tal, afastam-se das aparências normais da forma e da cor e passam a rejeitar também a longa tradição segundo a qual os quadros deveriam basear-se em facetas do mundo visível; algumas vezes, os pintores vão até abandonar os materiais usuais da pintura e escultura.

O que significa a palavra “Moderno”? Moderno é aquilo que é novo e é assim que os artistas desse período pensam a arte como novidade, sem relação com o passado.

Antecedentes Históricos Movimento Romântico: O Romantismo já indica algumas das transformações que irão acontecer na arte européia, no início do século 20. O movimento artístico, político e filosófico surgiu nas últimas décadas do século 18 e perdurou por grande parte do século 19. Sua visão de mundo e suas propostas eram contrárias ao Racionalismo e ao Iluminismo. Uma característica forte do Romantismo era a busca de um nacionalismo que viria a consolidar os Estados Nacionais na Europa. O individualismo marca o movimento; e a subjetividade e a emoção estão presentes nas obras - sejam nas artes plásticas, na música ou na literatura.

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Impressionismo: o Movimento Impressionista chocou os críticos e o público, na segunda metade do século 20, com suas obras que retratavam paisagens muito diferentes do Realismo, corrente artística muito em voga na Europa. Com suas pinceladas soltas e telas em escala grande, esses artistas saíram dos seus ateliers e pintaram ao ar livre, trazendo um frescor para suas telas, muito diferente das duras Pinturas Realistas. Baseadas nas pesquisas óticas da época, o movimento modificou a pintura realizada até então.

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“A Liberdade guiando o povo”, de Eugène Delacroix, é uma das principais obras do movimento. Pesquise sobre o contexto da obra para compreender como estão presentes nela de forma definitiva as características do Movimento Romântico.

“Impressão ao Nascer do Sol”, de Claude Monet, é a obra que deu nome ao movimento. A princípio, os artistas foram rejeitados, mas obtiveram muito sucesso em vida. Pesquise as principais características do movimento. Uma das mais importantes era que os artistas não misturavam a tinta na sua paleta, mas utilizavam pinceladas de cores puras que, colocadas uma ao lado da outra, são misturadas pelos olhos do observador durante o processo de formação da imagem.

Simbolismo: Surgido na França, a partir de 1881, os artistas dessa corrente rejeitavam o Racionalismo e o Naturalismo nas suas obras de arte. Propunham uma arte voltada para a subjetividade e a transcendentalidade, com temas místicos e imaginários. Podemos considerar um desenvolvimento da Arte Romântica.

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Pós-Impressionismo: Nesse movimento, encontram-se aqueles que podem ser considerados os pais da Pintura Moderna: Paul Cézanne, Paul Gauguin e Van Gogh. Estes artistas tinham em comum um forte colorismo e um desprezo pelas formas realistas, buscando expressar em suas obras o sentimento e as sensações. Eles buscavam um novo caminho para a pintura e influenciaram todos os artistas posteriores. Artistas de ampla visão artística, mas que tiveram suas obras ignoradas pelo grande público e rejeitadas pelos críticos. A história, no entanto, redimiu esses pintores e, hoje, os conhecemos como grandes gênios da pintura, entre os maiores da humanidade.

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Auto-retrato com orelha cortada – Van Gogh

Odilon Rendon é um das principais figuras do Simbolismo e o “Ciclope” é uma das suas obras mais conhecidas. Podemos considerar suas obras precursoras do Surrealismo. O artista soube criar uma linguagem e um universo muito particular em suas obras, que impressionam pela ousadia nos temas.

O holandês Vincent Van Gogh é o artista mais comentado do Pós-Impressionismo. De comportamento difícil, clinicamente diagnosticado, passou por várias internações psiquiátricas. As cartas escritas para seu irmão foram editadas em um livro, hoje muito famoso - “Cartas a Theo” -, um registro histórico incomum, pois nunca se conheceu intimamente um artista como se conheceu Van Gogh através dessas cartas. A ideia que temos hoje de um artista incompreendido e sem reconhecimento surge posterior a Van Gogh. A partir da morte desse gênio incompreendido, “vendeu-se” a ideia do artista maldito - que ainda hoje as pessoas identificam como sendo verdade para todos os artistas plásticos, vivos ou não. Você já ouviu a expressão “poeta bom, bom morto”?

Principais Movimentos Artísticos Modernos

O século 20 caracteriza-se por apresentar uma série extraordinariamente rápida de movimentos. Inquietos e muito atentos às transformações sociais e econômicas ocorridas no seu tempo, os artistas modernistas buscam uma nova arte.

Fauvismo ou Fovismo Foi o primeiro Movimento Moderno que se desenvolveu, entre 1905 e 1907. O nome vem de “fauves” – feras -, por ter como característica principal a cor pura, um colorismo exacerbado que chocou os críticos do período. O nome surge exatamente a partir de um crítico conservador, no sentido pejorativo. A cor delimita os planos, criando a perspectiva e modelando o volume. É uma arte que se torna também independente do real, sendo seu traço mais importante a expressividade das obras. Principais nomes: Albert Marquet (1875-1947), André Derain (1880-1954), Henri Matisse (1869-1954), Maurice de Vlaminck (1876-1958), Raoul Dufy (1877-1953), Georges Rouault (1871-1958).

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Henri Matisse é o principal nome do movimento. O francês foi desenhista, gravurista pintor, e escultor. Matisse, juntamente com Picasso e Marcel Duchamp são considerados os maiores gênios do Modernismo. Estes artistas foram responsáveis por uma evolução significativa na história da pintura e na escultura

A imagem ao lado apresenta um recorte da revista L'Illustration sobre a primeira aparição dos Fauvistas, no Salão do Outono, em Paris, no dia 4 de novembro de 1905.

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Expressionismo O Expressionismo é uma corrente artística surgida entre 1905 e 1911, em solo alemão. Os artistas realizam suas obras, buscando dentro de si algo primitivo e visceral. Essa arte tem também um tom de crítica aos valores tradicionais europeus e questiona o desenvolvimento econômico, em detrimento das mazelas do mundo. Podemos dizer que, de certa forma, o Expressionismo é uma caricatura séria, na defesa de uma poética sensível à expressão do irracional, dos impulsos e das paixões individuais. Principais nomes: Ernst Ludwig Kirchner (1880-1938), Karl Schmidt-Rottluff (1884-1976), Erich Heckel (1883-1970), Emil Nolde (1867-1956), Ernst Barlach (1870-1938) e Edvard Munch (1863-1944)

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Cubismo A obra que inaugura o Cubismo é a pintura de Pablo Picasso Les Demoiselles d'Avignon, de 1907. O Cubismo é um divisor de águas na História da Arte Ocidental, pois recusa a arte como imitação da natureza, afastando noções, como perspectiva e modelagem, assim como qualquer tipo de efeito ilusório. O nome Cubismo também vem de um crítico, quando cita que determinados artistas criavam a realidade a partir de “cubos”, nome a partir do qual batiza a nova corrente artística. A principal característica do Cubismo é tratar as formas da natureza por meio de figuras geométricas, representando as partes de um objeto no mesmo plano. Principais artistas: Pablo Picasso (1881-1973), Georges Braque (1882-1963), Fernand Léger (1881-1955), Francis Picabia (1879-1953), Juan Gris (1887-1927).

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Les Demoiselles d'Avignon

Marco inicial do Cubismo, Les Demoiselles d'Avignon encontra-se em exposição no Museu de Arte Moderna (Moma) de Nova Iorque. A máscara africana primitiva é a grande inspiração do artista para a realização do quadro.

“O Grito”, de Edvard Munch, de 1893, tornou-se um ícone da Arte Ocidental, como a Mona Lisa, de Leonardo da Vinci. Representa a angústia do ser humano, no final do século 19, às portas do novo século. Uma história curiosa sobre essa obra: o quadro foi roubado em fevereiro de 1994 e os ladrões deixaram um bilhete pedindo resgate. Em maio do mesmo ano, o quadro foi recuperado das mãos dos bandidos.

Futurismo O primeiro manifesto futurista foi publicado em 1909 e nele Filippo Tommaso Marinetti, seu principal teórico, exalta a beleza da velocidade e, de modo irônico, diz que “um automóvel em movimento é mais belo que a Vitória de Samotrácia”, estátua grega do período clássico. A primeira exposição do grupo realizou-se em Paris, em 1912, e foi entendida como um a tentativa de se introduzir o elemento dinâmico na composição cubista. Os futuristas têm um enorme apreço pela Era Moderna e suas máquinas. Para Giacomo Balla, “é mais belo um ferro elétrico que uma escultura”. Para os artistas dessa corrente, o mundo é um imenso canteiro de obras, cheio de barulho e de movimento. A velocidade, a rejeição ao passado e a valorização do desenvolvimento industrial e tecnológico são características fundamentais do Futurismo. Principais nomes: Umberto Boccioni (1882 - 1916), Carlo Carrà (1881 - 1966), Luigi Russolo (1885 - 1947), Giacomo Balla (1871 - 1958) e Gino Severini (1883 - 1966), e Fortunato Depero (1892 - 1960).

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Dadaísmo O movimento dadaísta surgiu em Zurique, em 1916, durante a Primeira Guerra Mundial. Marcado pelo nonsense, uma expressão inglesa que denota coisas sem nexo, o grupo inicial foi formado por escritores, poetas e artistas plásticos, sendo dois deles desertores do serviço militar alemão. Seus líderes são os intelectuais Tristan Tzara, Hugo Ball e Hans Arp. Trata-se de um movimento de ampla crítica à política, à economia, à sociedade e aos costumes vigentes. Reza a lenda que os intelectuais decidiram o nome, abrindo aleatoriamente um dicionário e selecionando a palavra “dada”, que significa „cavalinho de pau‟. Isso demonstra a clara intenção de se destruir todos os sistemas e códigos estabelecidos no mundo da arte, nos séculos anteriores. O movimento é, antes de tudo, questionador, discutindo, em sua arte, até mesmo a

Umberto Boccioni é, talvez, o maior nome do Futurismo, e sua obra ao lado - “Formas Únicas de Continuidade no Espaço” - é o marco do movimento futurista e um símbolo de vanguarda e inovação para Modernismo inicial. A obra possui 111,2 cm de altura por 88,5 cm de comprimento e 40 cm de largura. O original está em São Paulo, no Museu de Arte Contemporânea da USP. Há cinco fundições posteriores em bronze, uma também no MAC-USP; as demais obras encontram-se em importantes museus de Nova York, Londres e Los Angeles.

própria existência da arte. Foi um movimento de negação da ordem estabelecida, antipoético, antiartístico, antiliterário. O Dadaísmo é contra as leis da lógica e a beleza eterna e inquestionável da arte, sendo um movimento de libertação da arte dos padrões impostos pela tradição. A afirmação de Tzara mostra bem o espírito marcado pelo movimento: “sou por princípio contra os manifestos, como sou também contra princípios”. Principais artistas: Marcel Duchamp (1887-1968), François Picabia (1879-1953), Max Ernest (1891-1976) e Man Ray (1890-1976).

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A Fonte – 1917 - Marcel Duchamp.

Marcel Duchamp promove uma revolução na arte comparável à impressa por Giotto, na transição da Idade Média para o Renascimento e a Leonardo da Vinci, durante o próprio Renascimento. O artista cria o ready made, que poderíamos traduzir por “encontrado pronto”, e modifica as bases da arte durante o processo do Modernismo. Marcel Duchamp é o pai de todo artista contemporâneo. Com os ready mades, Duchamp quebra um paradigma importante, o do artesanato da arte. Ao colocar um urinol em uma exposição de arte, o artista mostra, além da crítica implícita no trabalho, que não é preciso construir o objeto artístico para se criar arte, que as coisas prontas, industrializadas já possuem uma estética e que o que é importante na arte não é a sua manufatura e sim o pensamento. Surge, então, nesse momento, a Arte Conceitual. Ao deslocar um objeto cotidiano para a galeria de arte, transformando-o em Arte, esse processo ficou conhecido como dessacralização da obra de Arte.

Abstracionismo ou Arte Abstrata O Abstracionismo é uma das correntes artísticas mais controversas. Com um século de existência, ainda hoje as pessoas têm muita dificuldade em compreendê-la e alguns não a consideram nem mesmo como arte. Contrária à arte figurativa, aquela que possui imagens reconhecíveis, a Arte Abstrata é uma arte “não figurativa”. Os artistas procuravam uma arte pura em que apenas as formas e as cores expressassem suas ideias e sentimentos. Poderíamos comparar uma pintura abstrata a uma música instrumental que não possui letra - apenas notas e melodias soando. O Abstracionismo foi iniciado pelos russos. Em 1913, Kasimir Malevitch expôs uma tela que representava simplesmente um quadrado negro sobre um fundo branco. Sua intenção era libertar a arte do peso morto da objetividade e concentrar as atenções nas propriedades óticas e afetivas das figuras geométricas e das cores. Principais nomes: Wassily Kandinsky (1886-1944), Kasimir Malevitch (1879-1935), Piet Mondrian (1872-1944), Paul Klee (1879-1940), Franz Marc (1880-1916)

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Fuga - 1914 - Wassily Kandinsky

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Suprematismo- 1915 - Kasimir Malevitch

O Abstracionismo possui vários subgêneros, sendo os dois mais conhecidos o “Geométrico” e o “Lírico”. O Abstracionismo Lírico é uma arte intuitiva, baseada no instinto e no inconsciente. Wassily Kandinsky foi o pioneiro nesse estilo e influenciou diversos artistas posteriormente. Já o Abstracionismo Geométrico é o inverso, uma arte abstrata baseada na razão, influenciada pela análise intelectual e científica. Esse tipo de abstração é uma evolução natural do Cubismo. Ao contrário do que se pode pensar, esses artistas eram estudiosos muito comprometidos. Parte desse movimento foi responsável por uma revolução no campo do design. Os pintores e escultores abstratos, em parceria com arquitetos modernistas, foram responsáveis por tornar o design um campo de estudo importante dentro da Arte e elevaram o status dessa categoria, até então considerada uma atividade artesanal, ao nível artístico. Pesquise sobre a Escola Bauhaus para compreender melhor a história do design. Visualmente você consegue perceber a diferença entre os dois tipos de Abstracionismo apresentados nas imagens?

Surrealismo O nome mais reverenciado desse movimento artístico é o espanhol Salvador Dali, com obras que são mundialmente conhecidas. O Surrealismo, como o nome mesmo indicada, propõe uma estética que vai além do real, com imagens que remetem aos sonhos, onde nada precisa fazer sentido. O manifesto inaugural desse movimento foi publicado em Paris, em 1924, e nele André Breton, seu principal mentor, define o Surrealismo como “automatismo psíquico puro”, isto é, “ausência do controle exercido pela razão, com exclusão de toda preocupação moral”. O Surrealismo, diz ainda, “é a fé na realidade superior de certas formas de associação, no valor todo poderoso do sonho e no jogo desinteressado do pensamento”. O movimento é influenciado pelas novas pesquisas no campo da psicologia e se identifica com as teorias de Freud e Karl Marx. Breton identifica dois campos de ação para o movimento: um voltado para a “resolução dos conflitos de ordem psicológica, notadamente a oposição da loucura e da razão”, e outro voltado para o social e o político. “Uma das funções da arte”, diz Breton, “é desarrumar o cotidiano, propor o insólito contra a rotina, retificar a lei e a ordem”. Assim como o Dadaísmo, para além da forma existe um tom claro de crítica à ordem estabelecida nas ideias e nas obras desses artistas. A arte dos surrealistas pretende se aproximar das manifestações artísticas dos doentes mentais, dos “primitivos” e das crianças. No entanto são, na maioria das vezes, artistas figurativos de extrema qualidade técnica, no delicado apuramento das formas. Principais nomes. Marx Ernst (1891-1976), René Magritte (1898-1976), Joan Miró (1893-1883), Salvador Dalí (1904-1989) Marc e Chagall (1887-1985).

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Salvador Dalí – 1968 - Roger Higgins

Os artistas surrealistas criam imagens impossíveis de serem vistas no nosso mundo, imagens de sonhos, imagens oníricas. Os artistas modernos sonhavam com um mundo livre, sem as antigas regras que diziam que só era possível produzir Arte de uma forma. Essa novidade, esse novo vigor na arte produziu muitos gênios, cada um em seu gênero, movimento ou transitando por vários, como Pablo Picasso e Paul Klee. Conheça e explore as imagens produzidas por esses artistas, que ainda muito jovens mudaram para sempre o modo de produzir, ver e pensar Arte.

Todo mundo é moderno?

Assista ao vídeo com a música “Nunca Mais Poder”, da banda gaúcha

Engenheiros do Hawaii: http://www.youtube.com/watch?v=t6HrGQ2z2Ws. A música brinca com os paradoxos do Modernismo e do universo pop.

Filhos que somos do Modernismo, nossa sociedade possui certo fetiche pela novidade, por aquilo que é moderno, por tudo que é novo. Com essa música e seus versos, podemos fazer várias reflexões sobre o Modernismo. O Modernismo, enquanto corrente estética, hoje, é coisa do passado. O Modernismo ocorreu na primeira metade do século 20, quando foi gradativamente substituído pelo Pós-Modernismo, ou Arte Contemporânea, que vivemos ainda hoje. A designação Arte Contemporânea também tem um sentido de novidade mas tem mais a ver com atual, atualidade. Arte Contemporânea quer dizer, então, Arte atual, o que trará muitas reflexões interessantes para os pesquisadores em um futuro muito próximo, até mesmo porque a Arte que estamos vivenciando e produzindo, hoje, mais tarde, pode não ser mais classificada como Arte Contemporânea. Poderão os estudiosos do futuro considerar que a produção da década 10 do século 21 em nada se parece com a Arte produzida a partir da segunda metade do século 20. Mas isso já é outra história. Voltando à letra da música, hoje cai muito bem a expressão “todo mundo é moderno como um relógio antigo”, pois o Modernismo, que ainda confunde a cabeça de muita gente, é uma arte que já foi ultrapassada. Não que ela tenha uma conotação de “velharia”, pois, em sua época, ela foi muito atual e muito comprometida com o passado. Porém aquilo que os artistas buscavam apresentar em suas obras, seja como tema ou como conceito, já não condiz com o homem de hoje, integrado ao mundo globalizado e com uma tecnologia avançada - que já está dentro dos lares -, tornando-se algo cotidiano.

A letra dessa música também diz que “todo mundo é moderno como um calendário no ano

passado”. A música, segundo o autor, Humberto Gessinger, fala sobre a efemeridade de algumas

produções “artísticas” que ganham rapidamente destaque na mídia. Mas, como toda obra de arte,

ela fala muito mais do que o autor poderia supor. A letra da música também pode ser utilizada

como critica ao universo cultural ou ao mainstream, que a própria música cita. Mainstream refere-

se à massificação, algo muito comum nos dias atuais ou mesmo nos idos dos anos 90, década

em que o disco foi lançado. Por ironia, o disco é maior sucesso de vendas do grupo, que possui

um público enorme de aficionados até hoje, uma legião – o que nos lembra outro grupo de igual

ou maior sucesso, contemporâneo dos Engenheiros. A canção faz muitas referências ao mundo pop. Não é à toa que o disco onde a música se encontra se chama “O Papa é Pop”, citando até mesmo as colunas do arquiteto moderno Oscar Niemeyer. Todo o disco permeia um mesmo tema: a popularidade, em si, da banda e de tudo o que era popular, no fim da década de 80. E você, é moderno? Já parou para pensar o quanto de significados essa palavra carrega? Faça uma análise da letra da canção “Nunca Mais Poder” e vá descrevendo e desmembrando esse grande universo moderno, contemporâneo, novo e suas relações com a cultura pop, a cultura popular e seus artesãos, artistas e intelectuais.

A Arte pode nos ensinar muito sobre o mundo que nos cerca e nos fazer compreender nossa história pessoal e universal. A referida música e o disco “O Papa é Pop” continuam muito atuais. Basta observar a quantidade de programas de televisão que oferecem a um ilustre desconhecido a possibilidade de ficar famoso. Talvez, como a música diz ,seja “ um medo de ficar pra trás /de não ser sempre mais /de nunca mais poder”. Na Arte está a resposta para diversas perguntas importantes para nossa atualidade e uma das mais importantes e que os modernistas buscavam responder é esta: o mundo está ficando insensível?