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1 O Movimento de Humanos e Não-Humanos: Um Estudo com Profissionais de Pilates à Luz da Teoria Ator-Rede Autoria: Camilla Zanon Bussular, Daniele dos Santos Fontoura, Vinicius Porto de Ávila, Cláudia Simone Antonello Resumo: Entre os pressupostos da teoria ator-rede inclui-se o da simetria generalizada. Latour (2000) propõe ignorar a separação entre os homens e as coisas, entre os humanos e os não-humanos, uma vez que estes últimos só podem ser pensados em sua relação com os primeiros (LATOUR, 2000). O presente artigo visa analisar de que forma as práticas de trabalho performadas em um Studio de Pilates são mediadas pelos não-humanos. Busca-se, assim, compreender a agência dos não-humanos nas prática de trabalho de um grupo de instrutores de Pilates, a partir da teoria ator-rede.

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O Movimento de Humanos e Não-Humanos: Um Estudo com Profissionais de Pilates à Luz da Teoria Ator-Rede

Autoria: Camilla Zanon Bussular, Daniele dos Santos Fontoura, Vinicius Porto de Ávila,

Cláudia Simone Antonello

Resumo: Entre os pressupostos da teoria ator-rede inclui-se o da simetria generalizada. Latour (2000) propõe ignorar a separação entre os homens e as coisas, entre os humanos e os não-humanos, uma vez que estes últimos só podem ser pensados em sua relação com os primeiros (LATOUR, 2000). O presente artigo visa analisar de que forma as práticas de trabalho performadas em um Studio de Pilates são mediadas pelos não-humanos. Busca-se, assim, compreender a agência dos não-humanos nas prática de trabalho de um grupo de instrutores de Pilates, a partir da teoria ator-rede.

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1. Introdução

Os fatos não acontecem isoladamente, mas estão imbricados em redes de relações que se estabelecem. A teoria ator-rede (TAR) questiona o humanismo fundacional das ciências sociológicas, que concentram o social apenas no humano, quando propõe a presença, a aceitação e a agência dos objetos e das coisas – ou não-humanos como apresenta Latour (1997) ao longo de sua obra – na análise sociológica. Ele defende, dessa forma, a “necessidade de entender a trama social não somente como efeito das ações humanas, mas também pela intervenção de outros agentes não-humanos” (SELGAS, 2008, p. 9).

O pensamento pós-humanista tem a proposta de enfrentar a rigidez e a unilateralidade implantadas pela dicotomia humanista moderna entre sujeito-objeto, como coloca Selgas (2008), afirmando que a visão dos observadores deve ser mais incerta, aberta e descentrada, que ultrapasse a ideia da exclusividade dos sujeitos e aceite um mundo (material e humano) mais assimétrico e incompleto. Questionar o isomorfismo do sujeito e entendê-lo para além do ponto de vista moderno, que o tem como soberano e racional. Complementa que o humanismo subjetivista reconhece o sujeito não como um ser humano qualquer, mas como um ser abstrato que existe na razão e na verdade, já outrora definidos na filosofia ocidental. O pós-humanismo evidencia que essa idealização oculta, de alguma forma, o ator social concreto com todas as suas possíveis condições ontológicas e nega a heterogeneidade que o constitui. Além disso, “denuncia o falso isomorfismo do sujeito e sua consideração abstrata, que faz senão fetichizar o indivíduo ocultando as múltiplas relações e mediações que o constituem como sujeito” (SELGAS, 2008, p. 11).

Conforme Moraes (2004, p. 322), “a noção de rede refere-se a fluxos, circulações, alianças, movimentos, em vez de remeter a uma única entidade fixa”. Esta ideia vai se opor aquela comumente aceita de que o ator só pode ser um humano, trazendo os elementos não-humanos para a análise do social. Este entendimento proporciona uma reflexão sobre a ciência, argumentando que um fato científico só existe se for sustentado por uma rede de atores (pesquisadores, seus colegas, laboratórios, Universidades, agências de financiamentos, consumidores, equipamentos utilizados, etc.). Nesta nova forma de ver a ciência, os cientistas não são mais os donos da verdade ou os representantes das coisas, mas um dentre tantos outros. As práticas científicas passam a estar ao lado de tantas outras, como a religião, as crenças, superstições, etc. É o parlamento das coisas, um híbrido de humanos e não-humanos, de fatos e valores.

O humano, portanto, surge mais humano. Quando o “eu” é extraído do centro da investigação sociológica, o analista tem a oportunidade de perceber os demais elementos que ajudam a construir o social, admitindo como ator todo aquele que possui agência e é capaz de interferir e fazer diferença nas situações que ocorrem. O ator social não existe exclusivamente e tampouco age sozinho, pois ele é e atua em rede (SELGAS, 2008).

Essa tentativa de separação e purificação entre o humano e as coisas é característica das ciências da modernidade (LATOUR, 1994), cujo efeito, dentre os mais visíveis é a separação dos objetos e dos saberes (ESCÓSSIA; KASTRUP, 2005). Latour (1994) diz que a palavra modernidade possui uma gama de definições, tantas quanto forem os analistas que abordam a temática. Mesmo assim, para ele, todas as acepções referem-se à passagem do tempo. “Quando as palavras "moderno", "modernização" e "modernidade" aparecem, definimos, por contraste, um passado arcaico e estável” (LATOUR, 1994, p. 15). Complementa que a palavra é duplamente assimétrica, por seu caráter temporal e pela disputa que se estabelece entre o antigo e o atual. Além disso, designa dois conjuntos de práticas distintas, onde a primeira cria misturas de gêneros, ou seja, híbridos de natureza e cultura. A segunda gera, por “purificação”, segundo as palavras de Latour (1994), duas zonas ontológicas inteiramente distintas, a dos humanos, de um lado, e a dos não-humanos, de

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outro. Afirma que jamais fomos modernos, justamente por este caráter purificador assumido pelas ciências, por meio dessa constante separação entre o social e as coisas. Conforme Moraes (2004, p.322) o que é denominado de mundo não-moderno na teoria ator-rede pode ser “definido ontologicamente em sua multiplicidade e disparidade de elementos e conexões”.

Pretendemos, dessa forma, contribuir com essas teorias pós-humanistas subvertendo, como propõe Spink (2003), essas dicotomias que são instituídas pelo hábito e pela falta de questionamentos e posicionamentos contrários, demonstrando que a realidade empírica é mais relacional, processual e imbricada do que apresenta o pensamento racionalista moderno. Frente ao campo de pesquisa escolhido, nos deparamos com a seguinte questão: de que forma as práticas de trabalho desenvolvidas numa academia de Pilates são mediadas pelos não-humanos/materialidade? E para responder tal questão, buscaremos compreender a agência dos não-humanos nas práticas de trabalho do grupo de profissionais que atuam numa academia de Pilates, a partir da teoria ator-rede.

Para tanto, o artigo contará com uma breve revisão teórica sobre a presença dos não-humanos na teoria ator-rede; uma explicação sobre o caminho metodológico escolhido, seguida de uma caracterização do campo de pesquisa, suas práticas e os atores envolvidos (humanos e não-humanos); as histórias que emergiram do campo e que suportam (ou não) a teoria escolhida e, por fim, as considerações finais, as possíveis contribuições e limitações desta pesquisa.

2. Afinal, de onde vem a ideia dos não-humanos?

Os estudos baseados em práticas vêm adquirindo espaços e despertando o interesse de pesquisadores e também de consultores na esfera organizacional, dedicados aos estudos da aprendizagem e do conhecimento nos últimos anos (NICOLINI et al., 2003). O engajamento de acadêmicos e práticos proporcionou o desenvolvimento de uma teoria baseada em práticas sobre o conhecimento e sobre a aprendizagem, cuja abordagem apresenta características não pragmáticas, com o intuito de entender e analisar esses fenômenos sem a finalidade de institucionalizar, como percebemos em muitos trabalhos desenvolvidos sobre a temática, matérias tão dinâmicas e processuais.

Através dessa perspectiva, que é a mais promissora em termos de uma agenda para os estudos da aprendizagem nas organizações (ANTONELLO; GODOY, 2010; 2011), o conhecimento e a aprendizagem não se resumem a processos mentais, mas a algo que se constrói socialmente. Por isso, o “conhecimento em ação é situado num contexto histórico, social e cultural, que surge e é constituído por uma variedade de formas e meios” (NICOLINI et al., 2003, p.3). Nesta teoria, a palavra conhecimento nos remete a algo mais institucionalizado, enquanto que o knowingi é “situado em sistemas de ongoing practices, sendo relacional, mediado por artefatos e sempre inserido num contexto de interação” (NICOLINI et al., 2003, p.3). Por meio dessa definição percebemos que o knowing está sendo continuamente produzido e negociado, reforçando, assim, seu caráter dinâmico, temporário e presente através das práticas.

Assumimos para esta pesquisa, a partir da tradição fenomenológica e etnometodológica, a prática “como um modo, relativamente estável no tempo e socialmente reconhecido, de ordenar elementos heterogêneos num conjunto coerente” (GHERARDI, 2005, p. 34). Segundo a autora, esse conceito permite analisar uma série de características, tais como: a) o aspecto qualitativo e holístico das práticas: indica como um conjunto de atividades adquire significado, são reconhecidos como uma unidade e como as práticas são constituídas e reconstituídas por seus membros; b) sua relação com a temporalidade: apesar das práticas serem repetidas e socialmente reconhecidas como um modo de fazer, elas são também um processo aberto e não finalizado que mais se aproximam de uma reprodução

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humana, aberta às mudanças, do que uma reprodução mecânica; c) seu reconhecimento social: são padrões de atividades institucionalizadas, graças a um conjunto de julgamentos normativos que os atores vão negociando e compartilhando entre si; d) um modo de ordenar o mundo: as práticas são executadas, por elementos humanos e não-humanos, e introduzem uma certa ordenação que apesar de frágil, temporária e ameaçada por uma desordem, se torna incorporada numa rede de práticas.

A partir da noção proposta por Gherardi (2005) e suas características percebemos que as práticas são performadas por elementos humanos e não-humanos, como é também sustentado pelos principais autores da teoria atore-rede (CALLON, 1986; LAW, 1992; LATOUR, 1997; 2005). Corroborando com essa ideia, Spink (2003) considera que vivemos em um mundo híbrido que é uma mescla de percepções culturais, ordens morais locais, estratégias de governamentalidade, objetos e tecnologias: ou seja, em uma rede de materialidades.

Para analisar um mundo híbrido, alguns autores perceberam a necessidade de repensar o conceito de “social”. As relações e interações entre humanos já não eram os únicos componentes a serem observados, os não-humanos ganharam destaque, ampliando o número de elementos em análise (LAW, 2004). Por isso, Latour (2005) não define o social como um domínio específico, ou como um tipo particular de elemento, mas como um movimento de associações e de reunião dos elementos. O social é, assim, “o nome do tipo de associação momentânea, caracterizada pela maneira como se reúnem as novas formas” (LATOUR, 2005, p.65). Indo mais além, o autor explica que pelo caráter heterogêneo das relações, dada a presença e a ação de humanos e não-humanos, ele propõe que a palavra social seja substituída pela palavra “coletivo”. O coletivo explica melhor o projeto de reunir esses novos elementos, antes não considerados como sociais (LATOUR, 2005). Essa coletividade representa com mais fidedignidade o que de fato acontece em nosso meio: a conexão entre pessoas e materialidades nas práticas cotidianas.

A teoria que se baseia na prática e que será utilizada para analisar os resultados deste trabalho é a teoria ator-rede. Uma ilustração de como a teoria ator-rede explica como a prática é mediada pela materialidade pode ser encontrada no trabalho de Spink (2003). Tal explicação se dá a partir de uma citação sobre o trabalho de Law e Moll (1995) na qual a autora explica como, no caso do cientista Louis Pasteur, a materialidade pode ser percebida em sua prática de trabalho. Considera, assim, que cada posição é fixada temporariamente pela materialidade: o Pasteur cientista usa jaleco branco e manipula instrumentos, vidros, pipetas e anotações e tudo o mais que faz parte de um laboratório de pesquisa, incluindo os demais membros da equipe e os animais usados nos experimentos. Cabe salientar, ainda, que cada um desses objetos é também um nó em uma rede de oscilações. Desta forma, Pasteur é uma rede organizada, ou seja, um efeito relacional. Sob outro ponto de vista, Pasteur é um ponto nesta rede.

Outro ponto discutido por Spink (2003) dentro da perspectiva da teoria ator-rede é a noção de performatividade. Isto significa que as entidades, humanas e não humanas adquirem sua forma em decorrência das relações nas quais participam. Desta forma, tais entidades são performadas nas e por meio dessas relações. Latour (2005) chega a afirmar que ao invés de relativista a teoria ator-rede deveria ser considerada relacionista, por se preocupar com as relações que se estabelecem numa rede heterogênea de atores. O fundamental é que o olhar esteja voltado para os engendramentos coletivos e não para os atores separadamente, pois o material e o social são produzidos conjuntamente: “Talvez, quando nós olhamos para o social estamos também olhando para a produção de materialidades. E quando nós olhamos para os materiais, estamos testemunhando a produção do social” (LAW; MOLL, 1995, p. 274). Essa materialidade relacional significa que os “materiais são constituídos interativamente. Fora de

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suas interações eles não têm existência; não tem realidade. Máquinas, pessoas, o mundo natural, o divino – são todos efeitos ou produtos” (LAW; MOLL, 1995, p. 277).

Por esta perspectiva teórica, tanto humanos quanto não-humanos possuem agência nas situações que acontecem. Ambos agem e podem transformar as situações em que se encontram, deixando de ser meros intermediários que transportam apenas o significado ou a força numa situação, sem ocasionar, no entanto, algum tipo de transformação. Tornam-se, dessa forma, mediadores, pois alteram as circunstâncias, fazem a translação, distorcem e modificam o significado daqueles a quem deveria representar. Eles são inúmeros e a TAR não tem preferência por algum tipo de ator como mediador. Suas ações possuem sempre um resultado inesperado e sua natureza é complexa (LATOUR, 2005).

Se estiverem agindo constantemente e provocando a ação de outros, por que, então, os elementos não-humanos seguem não sendo notados nas análises e em nossa vida cotidiana? Latour (2005) explica que essa invisibilidade das coisas acontece em função de sua característica silenciosa, apesar de existirem mecanismos que falam pela materialidade, como por exemplo, os manuais. O autor complementa sua ideia afirmando que em algumas situações a agência dos não-humanos se torna mais visível: como, por exemplo: em laboratórios de inovação, onde os objetos são múltiplos e complexos; quando interrompem o curso de uma ação de forma estranha ou exótica; nos momentos em que estão presentes em cenas de acidentes ou falhas, passando de intermediários silenciosos a desenvolvidos mediadores e quando revelam histórias em arquivos, documentos e coleções de museus.

Como afirma Latour (2005) o laboratório é um local onde a presença da materialidade é mais facilmente notada. Não é por acaso que os autores da TAR são reconhecidos por acompanharem os cientistas em seus laboratórios, durante o desenvolvimento de suas ciências (LATOUR; WOOLGAR, 1997). Sua produção pode ser observada, à primeira vista, como um conjunto de fatos rígidos e naturais ou como matters of fact (LATOUR, 2004b; 2005). Por essa definição, as coisas são consideradas naturais, materiais, estáticas e objetivas. No entanto, o que preconiza a teoria ator-rede é o caráter mediador e agenciador dessa materialidade, que ao invés de estática é dinâmica e apresenta controvérsias (vistas, por exemplo, num laboratório de inovação). A materialidade ganha outra definição, pois deixa de ser apenas um dado, uma coisa ou um fato alocado numa determinada situação e passa a ser matters of concern, por seus atributos mais dinâmicos e ativos.

A seguir, após a explicação sobre o método utilizado na condução dessa pesquisa, apresentaremos o que é o Pilates e como se dá a prática desta atividade, bem como discutiremos o papel central que a materialidade desempenha nesta prática de trabalho. Pois, parafraseando Escóssia e Kastrup (2005), todos os aparelhos e instrumentos utilizados nas práticas dos profissionais que trabalham com a técnica do Pilates são actantes nesta aprendizagem pelo corpo. A respeito do caminho metodológico numa pesquisa que contemple a materialidade, Alcadipani e Tureta (2009) sinalizam que a inclusão dos não-humanos na análise organizacional permite a ampliação dos horizontes de investigação. Entretanto, segundo os autores, o principal desafio seria a construção de “uma metodologia suficientemente capaz de aprender e observar esses elementos em seus contextos de atuação” (ALCADIPANI; TURETA, 2009). Por esse motivo, apresentaremos a seguir alguns ensejos metodológicos que advém da teoria ator-rede e que foram utilizados na realização da pesquisa empírica.

3. O método escolhido: por que não fazer diferente?

A teoria ator-rede além de oferecer elementos de análise para a compreensão dos fenômenos organizacionais, como apontam Alcadipani e Tureta (2009), possibilita reflexões

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metodológicas para os pesquisadores em campo (CAMILLIS, 2011). Latour (2004a, p. 297) afirma que considerar humanos e não-humanos tem implicações metodológicas, pois

trata-se de seguir as coisas através das redes em que elas se transportam, descrevê-las em seus enredos — é preciso estudá-las não a partir dos polos da natureza ou da sociedade, com suas respectivas visadas críticas sobre o polo oposto, e sim simetricamente, entre um e outro.

Dessa forma, nosso exercício enquanto pesquisadores foi observar e questionar às associações feitas entre humanos e não-humanos, seguindo os atores e preservando, simetricamente, as ações realizadas pelo mundo social, natural e material em nossas descrições. Essa postura procurou ser mantida pelos precursores da teoria ator-rede, que possuem uma tradição de pesquisa nas áreas da ciência e tecnologia (LATOUR, 2005; 1997; LAW, 1992; NEVES 2003; 2004; ALCADIPANI; TURETA, 2009), onde se pode, com maior destaque observar esse imbricamento e agenciamento do social e das coisas.

O importante, dessa forma, é acompanhar os atores, estar atento aos movimentos do campo e descrever as ações que acontecem, sejam elas realizadas por elementos humanos ou não-humanos da rede. Essa foi a postura e o caminho metodológico que procuramos adotar na realização dessa pesquisa e que será melhor explicado a seguir.

O campo de pesquisa foi realizado nos meses de fevereiro e março de 2012, com visitas diárias no turno da manhã (a partir das 8h até às 12h) ou no turno da tarde (a partir das 17h até às 21h). Esses horários foram previamente acordados com os donos do Studio de Pilates para não prejudicar o andamento das aulas. A observação não ocorreu na semana do carnaval, pois o local permaneceu fechado. Por se tratar de uma pequena empresa, acordamos que apenas um pesquisador cobriria cada turno para não haver um estranhamento maior por parte dos alunos. O sigilo em relação à identidade dos participantes (alunos e instrutores) foi preservada, conforme acordado no protocolo inicial de pesquisa.

A coleta de dados se deu através de observação não-participante, que consiste em acompanhar o cotidiano do grupo, observando o desenrolar das ações que ali acontecem, mas não realizando as mesmas atividades que o grupo faz. Nesse caso, o pesquisador não se torna um membro do grupo, pois não se insere ou participa totalmente dos trabalhados realizados pelos pesquisados. A observação não-participante foi a técnica de coleta permitida durante a pesquisa, uma vez que as aulas estavam sempre completas (uma dupla para cada profissional ou aulas individuais, quando negociado com o aluno) e pressupunham dedicação exclusiva ao aluno. Em função dessa dinâmica da organização e com o intuito de não prejudicar o andamento das aulas, não foi possível realizar uma observação participante, como desejado.

Estabelecemos a sistemática de registrar em diários de campo, as observações ocorridas no dia. Tais cadernos foram posteriormente transcritos para compor as análises deste artigo. A respeito dessas anotações, Latour (2005) ressalta a importância de se manter um “caderno de campo”ii, pois através dele é que se consegue documentar as transformações que vão acontecendo ao longo da pesquisa. Ele afirma que

Pode ser decepcionante para o leitor quando ele percebe que as grandes questões sobre a formação de grupo, agência, metafísica e ontologia que eu tenho revisado até agora foram enfrentadas com um recurso não tão grandioso; pequenos cadernos mantidos durante todo o procedimento de campo e entrevistas (LATOUR, 2005, p. 135).

Procuramos, portanto, registrar os acontecimentos, a dinâmica da materialidade e dos profissionais, como sinaliza Latour (2005). Isso possibilita, segundo o autor, que se faça um resgate de como o estudo foi concebido, as pessoas que foram contatadas, o que foi observado, com precisão de datas. Junto com as anotações foram realizadas entrevistas não-estruturadas com os sete instrutores do Studio (cinco fisioterapeutas e dois educadores físicos), complementando metodologicamente as observações.

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Em atenção a postura metodológica da TAR de análise dos elementos humanos e não-humanos que compõem o coletivo estudado, buscamos observar e descrever a materialidade presente nas práticas e sua agência durante os períodos em que estivemos presentes. A definição da questão de pesquisa e a curiosidade acerca da materialidade foram estabelecidas após a entrada em campo, depois de alguns dias de observações. Dada a complexidade de descrição dos equipamentos (pela riqueza de detalhes e outros materiais que os compõem), utilizamos a fotografia como recurso para auxiliar a aproximação do leitor com os aparelhos e materiais da academia de pilates. Dessa forma, a visualização iconográfica facilitará o entendimento e a compreensão das histórias ocorridas em campo. 4. A Prática do Pilates e o Studio

A prática do Pilates recebeu este nome em homenagem ao seu criador: o alemão Joseph Pilates, após sua morte em 1967. Pilates cresceu como uma criança frágil e sujeito a doenças (LATEY, 2001; LEON, 2008). Ao final da Primeira Guerra Mundial Pilates começou a trabalhar com a reabilitação de pacientes acamados. Foi durante este período que Joseph introduz o uso de molas, amarrando-os as camas e permitindo que os pacientes executassem os exercícios sem precisarem se levantar. Posteriormente, tal ideia levou ao surgimento de um dos aparelhos usados até hoje na prática do Pilates: o cadillac ou trapézio. Após este período, Pilates trabalhou no aperfeiçoamento destes aparelhos e também no desenvolvimento de exercícios de solo. Após imigrar para os Estados Unidos, em 1926, Pilates montou seu primeiro Studio oficial na cidade de Nova York, tendo perdurado até os anos 1960. Nesta época, foi entre os dançarinos que o método adquiriu notoriedade (LATEY, 2001; SILER, 2008). O princípio básico de seu método é o equilíbrio entre corpo e mente (LATEY, 2001). A Contrologia - nome dado por Pilates ao seu método - é a coordenação de corpo, mente e espírito. Por meio desta atividade, o praticamente adquire controle sobre seu corpo, desenvolvendo-o de maneira uniforme, corrigindo posturas erradas, restabelecendo a vitalidade física, revigorando a mente e elevando o espírito (LEON, 2008). Os princípios em que se baseia estão enraizados nas filosofias orientais, como a ioga e as artes marciais e em métodos ocidentais de educação corporal, como a dança, o fisiculturismo e a ginástica (SILER, 2008).

Segundo Latey (2001), a prática de Pilates mantem-se fiel às técnicas desenvolvidas por Joseph Pilates. O método tradicional é constituído por exercícios sequenciais e executados em repetição, sofrendo poucas variações de aluno para aluno. A prática do Pilates se dá com o auxílio de uma série de objetos e aparelhos (SILER, 2008).

Localizado em um bairro residencial de classe média alta na capital gaúcha, Porto Alegre, o Studio Oficina do Corpo vem realizando aulas de Pilates para pessoas dos mais diversos perfis, idades, profissões e aptidões físicas há cerca de quatro anos. É composto por dois ambientes, um em cada andar. O andar superior é reservado aos exercícios de solo, onde os movimentos são realizados com o auxílio de diversos artefatos/objetos: rolo, bola suíça, flex, meia-lua, entre outros (Figura 1). Trata-se de uma sala com tatameiii e com um espelho que toma conta de toda a extensão de uma das paredes. Há, também, uma área com vidro que permite enxergar quem chega à porta. No segundo andar está localizado um consultório de fisioterapia e uma sala com armários e sofás em que os alunos trocavam de roupa. Em frente à escada, dois assentos acolchoados permitiram que os pesquisadores enxergassem indiretamente as atividades de solo, através de um espelho.

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Figura 1 – Sala de Pilates Solo

O Studio é constituído, ainda, por um espaço maior no andar térreo, onde estão os

aparelhos – dois cadillacs (Figura 2), dois reformers (Figura 3), uma cadeira (Figura 5), um um ladder (Figura 4) – e diversos objetos - faixas elásticas, bolas de diversos tamanhos, flex, bastão, caixas, discos de rotação etc. O reformer é uma estrutura de madeira com aproximadamente três metros de comprimento e um metro de largura, é constituído de um pequeno “carro” que se movimenta de forma horizontal sobre “trilhos” de metal. As molas localizadas na parte inferior ao aparelho, abaixo do “carro” são presas a ganchos, também de metal. Cada uma das molas possui uma cor diferente em uma das extremidades, as diferentes cores servem para identificar a força, a intensidade da mola e, consequentemente, o nível de esforço que será exigindo do aluno quando o mesmo tentar movimentar o “carrinho”. O cadillac é um aparelho utilizado na melhora do condicionamento físico, tratamento postural e processo de reabilitação. Constituído de uma mesa base, tubos de aço inox de alta resistência e outras partes que auxiliam na realização dos exercícios – molas, argolas e barras. A cadeira é um instrumento de madeira como formato de uma cadeira, duas barras de aço na parte superior são posicionadas para auxiliar o aluno a se equilibrar enquanto realiza o exercício. Na parte inferior, uma barra de aço presa por molas de diferentes forças (intensidades). O Ladder, por sua vez, é um aparelho divido em duas partes. A primeira, uma estrutura de madeira no formato de um barril, a parte superior é acolchoada por um tecido de cor similar a madeira. A segunda, uma pequena escada, também de madeira, da mesma largura e altura do “barril”.

No andar térreo uma das paredes está coberta por um grande espelho que permite aos alunos que estão no cadillac e no reformer observarem seus próprios movimentos. É no andar térreo que fica o aparelho de água mineral e algumas revistas sobre o Pilates. Há dois rádios, um no ambiente superior e outro no térreo. Há, ainda, dois assentos acolchoados onde os alunos trocam seus calçados ou simplesmente sentam para aguardar a aula seguinte. Desses dois assentos ocorreram parte das nossas observações. Ocorreram, também, da escada que permitia aos pesquisadores observar sem serem tão observados pelos alunos.

As aulas possuem cinquenta e cinco minutos de duração, são ministradas de forma individual ou em duplas, sempre com uma considerável diversificação de exercícios e/ou movimentos, não existindo, no entanto, um padrão de aula seguida pelos instrutores. O que observamos, no entanto, é que as aulas sempre iniciaram com exercícios respiratórios e encerram com exercícios de alongamento e relaxamento. Apesar de existir uma grande diversidade quanto à ocupação profissional dos alunos que frequentam o Studio, duas profissões podem ser citadas como as mais recorrentes – médicos e dentistas. Reuniões com todos os instrutores são realizadas com periodicidade quinzenal, onde movimentos e exercícios são analisados, além de discutirem sobre as aptidões e limitações dos alunos e novas práticas são sugeridas e “experimentadas”.

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Figura 2 – Cadillac Figura 3 – Reformer

Figura 4 – Ladder Figura 5 – Cadeira

O Studio conta com uma equipe de sete instrutores – cinco fisioterapeutas e dois

educadores físicos - sendo que dois deles são os donos do local. Todos são capacitados com o curso de formação ministrado pela empresa que responsável pela introdução do método no país. Os sete instrutores revezam-se no trabalho e atuam em turnos fixos, assim cada instrutor tem o seu grupo de alunos. Como é permitido recuperar aulas perdidas, ocorre corriqueiramente de um aluno de um determinado instrutor fazer aulas com outro professor. Mesmo havendo horários de trabalho, os instrutores podem trocar com colegas e, desta forma, acabam atendendo a outros alunos. Há um rodízio entre eles em relação aos aparelhos, possibilitando que durante cada semana de trabalho o instrutor fique fixo em um aparelho ou conjunto de aparelhos. Desta forma, os alunos passam pelos diversos aparelhos ao longo do mês de aula.

O local onde se desenrola a prática do Pilates é o palco onde atuam diversos agentes não-humanos. Desde a entrada no Studio, ou seja, a porta que faz o contato entre o mundo exterior e o mundo onde se dá a prática do Pilates há a mediação de um não-humano: a porta que não abre por fora. Tanto nós quanto cada um dos alunos têm a sua primeira ação mediada e afetada por um objeto. Logo a seguir, o ambiente em que se entra é climatizado (os alunos por vezes comentavam o alívio que sentiam ao entrarem no Studio, em função da temperatura) decorado de forma a afetar o corpo de maneira agradável, proporcionando tranquilidade: as cores verde e branca das pareces, o papel de parede em tons verdes e com desenhos delicados de folhas de árvores, as escadas, o biombo, as caixas de folhagens, todas em uma madeira de tom claro. Sem falar nas luzes indiretas que transmitem tranquilidade. Talvez um dos conceitos que mais fale sobre os objetos que observamos por dias e dias e que dá conta da complexidade que os envolve seja tratá-los como objetos fluidos (LAW; SINGLETON, 2010) que podem ser entendidos como mutáveis, os mutable mobiles (p.338). A exemplo do que ocorre com a bomba d`água nas vilas do Zimbábue de que narram Laet e Mol (2000 apud LAW; SINGLETON, 2010) observamos os aparelhos utilizados no Pilates se transformarem aos nossos olhos. No Zimbábue os moradores das vilas precisam

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adaptar, consertar e, assim acabavam por transformar as bombas d’água sem que estas deixassem, no entanto, de serem bombas d'água. No caso da academia de Pilates, diariamente, e a cada aluno que chegava e saía, o cadillac e reformer eram modificados, mas como defendem os autores, não apenas as configurações mudavam, mas a prática era afetada a partir do social e das configurações surgidas nas trocas. Hora era utilizado o flex, ora as bolas de tamanhos variados. Havia, também, as faixas elásticas e isto sem falar as variações próprias de cada aparelho que foram idealizadas por Joseph Pilates. Em alguns momentos novos objetos e adaptações aconteciam para deixar o movimento mais suave, ora mais pesado. A mesma bola foi introduzida em uma prática para deixar o movimento mais leve em um momento e mais pesado a seguir. No entanto, apesar de todas estas transformações, cadillac, reformer e os demais aparelhos mantiveram um core de estabilidade, ou seja, não deixaram de ser aparelhos da prática de Pilates, a exemplo do que ocorria com a bomba d'água. 5. Histórias do campo 5.1 A nossa chegada: “Vocês gostariam de alguma coisa para apoiar a coluna?”

Quarta-feira, dia 15 de fevereiro, 14h. A primeira chegada é sempre mais difícil, pois não conhecemos bem o ambiente. Após uma troca de mensagens e ligações, lá estávamos na entrada da galeria onde se localiza o Studio. Periodicamente os proprietários fazem uma reunião com um consultor formado em educação física e que possui experiência na gestão de academias. Por sorte, esse consultor - que é aquele colega de mestrado que mencionamos na introdução - estava também em nossa rede e faria, um pouco antes de sua reunião, a nossa apresentação, abrindo a oportunidade de realizarmos o campo ali (depois de toda a dificuldade que havíamos tido na continuidade da primeira pesquisa). A expectativa de sermos aceitos era grande.

Ao entrarmos, de fato, sentimos a tranquilidade que emana do ambiente. Tranquiliza e acolhe. Passamos pela porta, cumprimentamos os proprietários e subimos as escadas, pois a reunião se daria no andar de cima - além do térreo, o Studio possui um segundo piso com uma sala onde acontecem as aulas de pilates solo, outra reservada ao escritório (contendo armários, mesa com computador, cadeiras) e um pequeno vestiário que possibilita o aluno pode deixar suas coisas (devidamente chaveadas) e colocar roupas mais confortáveis.

Ficamos no espaço reservado às aulas de pilates solo. O chão é coberto por um tatame verde, que esteticamente combina com toda a decoração do espaço, representado um “pequeno gramado”. Esta sala fica reservada das demais, separada por uma porta de vidro, possui um grande espelho na parede esquerda e uma janela onde se visualiza o piso inferior do Studio. No chão desse espaço ficam alguns equipamentos utilizados no pilates solo, como flex e o rolo, além de um som, instrumento importante durante as aulas, pois a música ambiente proporciona ritmo e uma sensação de bem-estar.

Tiramos os sapatos, pois é uma prática pisar no tatame descalço ou apenas de meia, e a reunião aconteceu com todos sentados ao chão, de pernas cruzadas, coluna ereta e em círculo. Esse contato com o chão é algo bem característico do espaço. Uma das pesquisadoras se impressionou com a postura, porque nem sempre ao sentar preserva a coluna tão ereta, ao contrário, senta-se toda envergada. Por isso, precisou fazer um esforço ao longo de quase uma hora de conversa, para manter a sua postura como a dos demais e através desse fato percebemos a afetação do campo e das suas práticas no próprio corpo do pesquisador, conforme sinaliza Latour (2009), sobre a articulação e afetação do corpo em relação aos espaços e aos objetos.

Durante a reunião tivemos a oportunidade de nos apresentar, falar sobre o tema da pesquisa, de como chegamos até eles, nossas motivações. Os proprietários atentamente

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ouviram o nosso discurso. Enquanto falávamos, um deles nos diz: “vocês gostariam de alguma coisa para apoiar a coluna? porque entendemos que ficar nessa posição por algum tempo para quem não está acostumado pode cansar”. Respondemos “não precisa, está tudo bem assim”, ficamos constrangidos de responder o contrário, mesmo que um dos pesquisadores estivesse, em seu pensamento, divagando: “Nossa, que bom, realmente estava difícil manter sozinha essa postura”. Além do contato visual que tivemos com os não-humanos que literalmente povoam o espaço do Studio, naquele momento, se tivéssemos aceitado o apoio, ele nos ajudaria a manter, com menos esforço, a postura adequada e nos tornaríamos um híbrido, ali, desde o primeiro contato com o campo. A postura do corpo mediada pela materialidade.

5.2 A porta: fronteira entre os ambientes

Desde a entrada no Studio onde se dá a prática do Pilates há a mediação de um não-humano: a porta. Não é possível abrir a porta pelo lado de fora e, assim, entidades humanas e não-humanas adquirem sua forma na relação. A porta implica na e sofre implicações da prática de trabalho dos instrutores de Pilates.

É a porta que faz o contato entre o mundo exterior e o mundo da prática do Pilates. Tanto nós quanto cada um dos alunos e instrutores têm, então, a sua primeira ação mediada e afetada por um objeto. Ao atravessar a porta, o aluno é praticamente convidado a entrar em um ambiente que prima pela calma e tranquilidade que destoa da rua movimentada em que está situado, sendo a fronteira entre o exterior e o interior.

Bom, mas como dito anteriormente, não é possível abrir a porta pelo lado da rua. A porta é toda de vidro, possibilitando que quem chega ao Studio seja visto por quem está dentro, assim como permite enxergar o que lá dentro se passa. Assim, o ato de abrir a porta se dá de duas maneiras: uma delas via outro não-humano, pois há um controle remoto que permite aos instrutores abrirem a porta do local em que estiverem; a outra é via um humano que deve ir até a porta e abri-la pela maçaneta pelo lado de dentro. Como a duração das aulas é de 55 minutos e, além disto, há instrutores que trabalham na hora cheia e outros na meia hora e, ainda, é possível atender até seis alunos ao mesmo tempo pudemos observar que aquele não-humano talvez fosse o mais utilizado do Studio. Ninguém poderia chegar ou sair sem relacionar-se com ela, a porta.

Apesar dos alunos que estavam chegando ou saindo gentilmente abrirem a porta para aqueles que chegavam, cabe aos instrutores administrar sua abertura, pois não há recepcionista. Enquanto explica e controla a prática da atividade pelos seus alunos, os instrutores ficam atentos, também, a outros alunos ou interessados que chegam. Normalmente é aquele instrutor que está no reformer e, portanto, mais próximo da porta que a abre. Muitas e muitas vezes vimos este instrutor sair do lado dos seus alunos e ir até lá abrir ou, quando ao menos deslocar a atenção para a porta e abri-la com o controle remoto, controle este que presenciamos ser pendurado no aparelho cadillac.

A importância desta ação de abrir a porta é tão presente na prática dos profissionais que em uma ocasião presenciamos um fato curioso. Era uma sexta-feira do dia 23 de Março de 2012 por volta das 15h. O Studio estava sem nenhum aluno e os instrutores estavam chegando, aos poucos, para seu encontro quinzenal. Enquanto a reunião não iniciava uma das instrutoras estava no reformer fazendo exercícios. À medida que cada um chegava ela abria a porta com o controle remoto, que naquele momento fazia parte dela: ela colocou-o em cima de sua barriga. Cuidando para não deixá-lo cair, executava os movimentos e abria a porta sempre que necessário. A importância da porta – e seu controle remoto – é tamanha na prática de trabalho do instrutor de pilates daquele Studio que naquele momento tornaram-se um híbrido.

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5.3 O espelho

O espelho é um objeto presente e muito utilizado nesta realidade organizacional estudada. Ele encontra-se na parede direita do térreo do Studio e seu comprimento abarca toda a extensão da parede. Além de refletir a beleza dos corpos em movimento, de refletir a sincronia da execução dos exercícios feitos em duplas, como também o desempenho desajeitado daqueles que tem dificuldade para desenvolver uma determinada sequência de movimentos. Revelar, refletir. Esse elemento também exerce um papel de orientador, pois através dele o aluno consegue enxergar se o movimento está sendo bem executado e se seu corpo está com um alinhamento adequado, de acordo com as instruções geradas pelo professor.

Aula em andamento. Dois alunos deitados no aparelho cadillac, fazem a sua sequência de exercícios empurando a barra que compõem o equipamento com os pés. Um deles termina antes a sequência instruída e, ao comando do professor, se levanta e de frente para o espelho alonga o pescoço com a sua mão, virando levemente a cabeça para a direita. Repete o mesmo alongamento para o outro lado. Durante toda a execução, a conversa que começou lado a lado no cadillac, continuou quando os exercícios ficaram alternados entre a dupla. O espelho além de ser um instrumento para avaliar se o movimento está correto e o corpo devidamente alinhado, serve de meio de comunicação para os dois. A fala através do espelho. Além de refletir a imagem do aluno que está de pé, tornou-se um mediador da relação ali estabelecida.

Uma característica das aulas são as conversas que acontecem entre professor-aluno e entre aluno-aluno. A intensidade dos diálogos, como observamos ao longo da pesquisa, varia muito, mas de alguma forma eles estão presentes. Numa outra aula, na sexta-feira que antecedeu o carnaval, duas alunas estavam terminando sua série de exercícios, alongando-se conjuntamente diante do espelho e comentavam acerca das viagens que fariam durante o feriado, através do não-humano. O professor, por sua vez, demonstrava como o exercício deveria ser executado corretamente às alunas, por meio do espelho. Por entre viagens, livros e orientações da aula, a fala permaneceu mediada pela materialidade.

5.4 A materialidade dos aparelhos

Como descrito anteriormente, dois ambientes compõem o Studio. No andar superior está localizada a sala onde são realizados os exercícios de solo - com o auxílio de alguns artefatos/objetos como a bola suíça, flex, rolo e meia-lua. No térreo estão localizados os quatro aparelhos - Cadillac, Reformer, Ladder e Cadeira. Estes ocupam grande parte do espaço físico do térreo.

Em uma conversa informal ao lado do aparelho de água mineral, um dos instrutores me explica que nenhuma aula de Pilates é igual à outra. Segundo as palavras do fisioterapeuta, em cada nova sessão uma prática diferente é performada. Quando pergunto a ele qual é o perfil dos alunos que frequentam o Studio, o instrutor me explica que pessoas de diferentes idades, profissões, condições físicas e limitações estão entre os clientes.

Avançando um pouco mais no diálogo, o instrutor explica que os alunos da terceira idade possuem uma característica em particular. Não entendo a colocação e pergunto, “o que você quer dizer com isso?”. Ele explica que as pessoas que pertencem a essa faixa etária afirmam que só se consideram realizando uma aula de Pilates quando estão utilizando um dos quatro aparelhos citados. De acordo com as palavras desses alunos, o instrutor continua, quando as aulas acontecem na sala do solo, mesmo com a utilização de artefatos e objetos, eles não se consideram em uma sessão de Pilates. Por que isso ocorre? A materialidade dos aparelhos afeta a percepção dos atores humanos envolvidos?

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Aluno e aparelho, humanos e não-humano, produzem um elemento híbrido capaz de mobilizar outros atores como instrutor, música ambiente, luz e suor. A materialidade se faz presente através de um processo coletivo. Latour firma que “a construção de um fato é um processo tão coletivo que uma pessoa sozinha só constrói sonhos, alegações e sentimentos, mas não fatos” (LATOUR, 2000, p.70). Uma sessão de Pilates com a “presença” dos aparelhos materializa uma realidade capaz de ser percebida de forma mais explícita por todos os atores humanos direta e indiretamente [no caso o pesquisador] envolvidos.

5.4 A reunião dos atores: os saberes em movimento

Desde a nossa primeira visita ao campo nos foi comentado sobre as reuniões mensais em que todos os instrutores se reúnem para conversar sobre os alunos e discutir novos exercícios. Era dia 23/03 em uma tarde ensolarada de sexta-feira. Ao chegarmos uma das instrutoras praticava Pilates no reformer. Dois instrutores conversavam no andar de cima e outros dois chegaram nos minutos seguintes. Um deles havia passado alguns dias em outro Estado fazendo um curso e agora sua responsabilidade era passar este saber aos seus colegas. Dos sete instrutores estavam presentes cinco deles, justamente o responsável por conduzir a reunião. Logo ele informou que esta reunião teria que ser mais curta, duraria apenas 1 hora.

O clima era de descontração, mas de atenção. Todos traziam em suas mãos papel e caneta para as anotações. Duas instrutoras foram convidadas a subir no reformer. Um dos instrutores foi, então, mostrando os novos exercícios, ao que seguidamente era copiado pelas duas alunas que faziam perguntas e comentários sobre o grau de dificuldade do movimento. Alguns “erros” foram ocorrendo ao longo do movimento, porém, lá, os erros servem como forma de melhor entender o movimento e seu alcance: “assim o movimento fica mais fácil”, “este exercício é pesado e não pode ser passado para todos os alunos”. Assim, na nossa frente, vimos o corpo dos instrutores ser afetado pelos aparelhos e objetos usados na prática. Era o momento dos instrutores-alunos testarem a melhor forma de executar aquele exercício e ainda verificar formas pelas quais um mesmo movimento pode ficar mais ou menos pesado para o praticante. E, além dos aparelhos, o espelho tem especial importância, pois os próprios instrutores procuravam olhar para o espelho como forma de verificarem se estavam fazendo corretamente o movimento e também como forma de assimilar da melhor forma para depois empreender com seus alunos.

Os outros dois instrutores permaneciam sentados no cadillac assistindo e anotando o que o instrutor-falante e suas instrutoras-alunas iam comentando sobre os movimentos. Logo em seguida foi a vez destes dois alunos subirem ao cadillac. Novamente vimos a procura pelo ângulo perfeito, a melhor posição em cima do aparelho, a conferência do peso e das molas que estavam sendo utilizados. Naquele contexto não basta a fala, o instrutor-aluno tem que sentir no seu próprio corpo a atuação dos aparelhos, relacionar-se com eles e sentir seu corpo ser afetado em cada movimento. Faz parte da prática do instrutor de Pilates este contato direto com o aparelho, um momento em que seu papel social se transforma de instrutor para aluno, para aprendiz. É o momento em que alguns exercícios são adaptados e testados. Assim, pudemos assistir à produção de um Knowing que é situado, relacional, mediado por artefatos, dinâmico e provisório (SVABO, 2009). Na produção da prática de trabalho do instrutor de Pilates este Knowing construído nas reuniões é, depois, reproduzido nas práticas com os alunos para ser infinitamente construído, novamente, com cada aluno levando em conta seu ritmo, seu tempo, sua força além de peculiaridades do dia, por exemplo, se o aluno está com alguma dor muscular prévia e, claro, a agência dos aparelhos e instrumentos. Ele se dá nas ongoing practices, sendo constantemente produzido e negociado (NICOLINI et al., 2003).

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6. Considerações Finais

Ao idealizarmos um Studio de Pilates como campo de pesquisa e a prática do instrutor como tema principal, imaginávamos previamente que os objetos teriam um papel importante no desenvolvimento desta atividade. No entanto, mais do que presentes, a prática do Pilates é indissociável dos objetos que a compõe. Sem os mesmos ela deixaria de ser o que é e passaria a ser outro tipo de atividade física.

Pressupúnhamos, assim, a existência da materialidade, mas não sabíamos como eles agiam na afetação do corpo e das práticas de trabalho do instrutor de Pilates. Precisávamos deixar o campo falar. Como, neste trabalho, partilhamos da premissa da TAR que considera a simetria entre humanos e não-humanos (CALLON, 1986) não poderíamos nos valer de métodos de pesquisa que supusessem a hierarquia entre eles. Dessa forma, decidimos seguir os atores (CALLON, 1986; LATOUR, 2004a; 2005), cultivando a postura de estarmos abertos para aquilo que o campo queria nos contar no tocante à mediação da materialidade na prática do instrutor de Pilates.

Chegando lá, (praticamente) tudo era novo. Revezávamo-nos em dias e turnos para (tentar) interferir o mínimo possível no ambiente. O olhar, que inicialmente esteve mais centrado nos aparelhos inventados por Joseph Pilates, começou a viajar por outros espaços e objetos quando seguia os atores. Aos poucos e a cada dia fomos constatando o quanto a prática do instrutor de Pilates é condicionada por objetos, sejam eles os aparelhos específicos da técnica e outros objetos, como: a porta e seu controle remoto, os espelhos, o ar condicionado, o rádio e os assentos acolchoados.

Em uma sessão de Pilates atores humanos e não-humanos interferem e sofrem interferências constantes. Entre eles o processo de hibridização se materializa deixando traços, transformações e alianças. À luz da teoria ator-rede, não existe um ator do qual emana a fabricação do mundo, mas sim uma rede heterogênea de atores – humanos e não-humanos – conectados, de modo que ambos devem ser simetricamente considerados (LATOUR, 2000).

Os próprios pesquisadores relacionaram-se com esta materialidade, desde o primeiro dia, como no momento em que foi oferecido algum apoio para as costas. Nos demais dias, os assentos e a escada foram muito importantes na forma de olhar o que se passava, pois o ângulo de visão, ou seja, o que lhes era permitido ver estava ligado ao local em que se situavam. A partir das nossas observações podemos dizer que os aparelhos utilizados no Pilates são objetos complexos (LAW; SINGLETON, 2010) e que só poderiam ser conhecidos por métodos de pesquisa não tradicionais. Era preciso observar a prática do Pilates para perceber a agência dos objetos e não cair na armadilha de hierarquizar humanos e não-humanos.

A partir da observação da mediação da materialidade nas práticas de trabalho do instrutor de Pilates podemos verificar que se trata de objetos complexos, os “messy objects” (LAW; SINGLETON, 2010, p. 333) que podem ter significados diferentes dependendo da perspectiva de análise. Algo semelhante se passa em um Studio de Pilates, pois ao mesmo tempo em que os aparelhos são objetos conhecidos, podem ter diferentes significados dependendo da perspectiva de análise: para os alunos podem significar saúde, condicionamento físico, beleza ou obrigação; para os professores podem significar cada um destes itens e, além disto, representar a realização de uma atividade profissional; para os donos do Studio podem ainda, significar a concretização de ter o seu negócio.

Assim, a partir da questão de pesquisa sobre de que forma ocorre a mediação da materialidade nas práticas do profissional de Pilates, podemos afirmar que o próprio instrutor se transforma na relação com seus objetos de trabalho. A exemplo do que ocorreu com Louis Pasteur, os instrutores tornam-se um efeito relacional da rede, pois afetam e são afetados

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pelos atores, humanos e não-humanos. Rede esta que se constitui, conforme Moraes (2004) em um fluxo, em circulação e em movimento; neste caso, literalmente em movimento. Na prática de trabalho do instrutor de Pilates constatamos diversos processos de hibridização, pois em relação, sujeito e objeto se tornam apenas um - o híbrido (MORAES, 2004). Assim como os aparelhos e demais instrumentos são objetos necessários à prática de Pilates, eles também são atores desta prática, pois a condicionam, permitindo a realização de determinados movimentos do corpo o que remete, conforme Moraes (2004), a uma redefinição do que é objeto e do que é sujeito. Ali não era possível ser moderno, no sentido utilizado por Bruno Latour, pois nenhuma prática de purificação seria possível. 7. Referências ALCADIPANI, R.; TURETA, C. O objeto objeto na análise organizacional: a teoria ator-rede como método de análise da participação dos não-humanos no processo organizativo. Cadernos EBAPE.BR, v. 7, p. 51-70, 2009. ALCADIPANI, R.; TURETA, C. Teoria ator-rede e análise organizacional: contribuições e possibilidades de pesquisa no Brasil. Organizações & Sociedade - O & S, v. 16, p. 647-664, 2009. ANTONELLO, C. S.; GODOY, A. S. Aprendizagem Organizacional e as Raízes da Polissemia. In: ANTONELLO, C. S.; GODOY, A. S. (Eds.) Handbook de Aprendizagem Organizacional. Porto Alegre: Bookman, 2011. ANTONELLO, C. S.; GODOY, A. S. Uma agenda brasileira para os estudos em aprendizagem organizacional. RAE – Revista de Administração de Empresas, v. 49, n. 3, São Paulo/SP, jul/set 2009, p. 266-281. CALLON, M. Some elements of a sociology of translation: domestication of the scallops and the fishermen of St Brieuc Bay. First published in J. Law, Power, action and belief: a new sociology of knowledge? London: Routledge, 1986, p.196-223 (p. 1-29). CAMILLIS, P. K. Por Uma Administração do Cotidiano: Um Estudo Ator-Rede sobre Autogestão. Porto Alegre: UFRGS, 2011, 237 fls. Dissertação (Mestrado em Administração) – Programa de Pós-Graduação em Administração, Escola de Administração, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2011. ENGESTROM, Y; BLACKLER, F. On the Life of the Object. Organization. Vol. 12, n.3, 2009, pp. 307-330. ESCÓSSIA, L.; KASTRUP, V. O conceito de coletivo como superação da dicotomia indivíduo-sociedade. Psicologia em Estudo, v. 10, n. 2, 295-304, 2005. KNASTER, M. Descubra a Sabedoria do seu Corpo. São Paulo: Cultrix, 1996. LATEY, P. The Pilates method: history and philosophy. Journal of Bodywork and Moviment Therapies. v.5, n.4, abril/junho, 2001, p. 275-82. LATOUR, B. Jamais fomos modernos: Ensaio de Antropologia Simétrica. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1994. LATOUR, B. "On actor-network theory: A few clarifications", Página Eletrônica do Centre for Social Theory and Technology (CSTT), Keele University, UK, 1997. LATOUR, B. Ciência em Ação: como seguir cientistas e engenheiros sociedade afora. São Paulo: UNESP, 2000. LATOUR, B. Por uma antropologia do centro (Entrevista). In: Revista Mana: estudos de antropologia social. Volume 10, nº 2. Rio de Janeiro: MUSEU NACIONAL, 2004a. LATOUR, B. Why has critique run out of steam? from matters of fact to matters of concern. Critical Inquiry, v. 30, n. 2, p. 225-248, 2004b. LATOUR, B. Reassembling the Social: An Introduction to Actor-Network Theory. New York: Oxford Press University, 2005.

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