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VIII EPEA - Encontro Pesquisa em Educação Ambiental Rio de Janeiro, 19 a 22 de Julho de 2015 Realização: Unirio, UFRRJ e UFRJ 1 O PROCESSO DE FORMAÇÃO AMBIENTAL DO ASSISTENTE SOCIAL: INDÍCIOS CURRICULARES Tatiana Ferreira dos Santos - UFS Maria Inêz Oliveira Araújo - UFS RESUMO O presente artigo objetiva explicitar os indícios alçados perante apreciação da estrutura curricular dos cursos de Serviço Social das universidades sergipanas no que se refere à dimensão ambiental. O artigo conjectura em uma parte da pesquisa em andamento, na qual apresenta como cerne principal explicitar o processo de formação ambiental no contexto da formação do Assistente Social na Universidade Federal de Sergipe UFS e na Universidade Tiradentes UNIT. A pesquisa configura-se em uma abordagem qualitativa do tipo exploratória. São apresentados a estrutura curricular do curso das duas universidades e em seguida evidenciado a dimensão ambiental dos cursos de Serviço Social. Desta forma, o presente escrito dá suporte à próxima etapa da pretensão investigativa da qual contempla a análise do projeto político pedagógico dos cursos e entrevista com 6 professores de cada instituição. PALAVRAS-CHAVE: Serviço Social; Currículo; formação ambiental. ABSTRACT This article aims to explain the evidence elevations before assessing the curriculum of Social Work courses of Sergipe universities with regard to the environmental dimension. Article conjecture in a part of ongoing research, which represents the major core indicate the process of environmental education in the training of the social worker at the Federal University of Sergipe - UFS and Tiradentes University - UNIT. The research sets in a qualitative approach of the exploratory type. Are presented the course curriculum of the two universities and then shown the environmental dimension of social work courses. Thus, this writing supports the next stage of the investigative claim that includes the analysis of the political pedagogical project of the courses and interviews with six teachers from each institution. KEYWORDS: Social Services; Curriculum; environmental training. 1. INTRODUÇÃO Em meio ao enfrentamento das expressões da questão social atuam firmemente diversos profissionais, sobretudo o (a) assistente social. Com o intuito de viabilizar o acesso aos direitos, efetivação de políticas sociais e exercício da cidadania, o (a) assiste social dispõe de aporte teórico e prático dos quais incidem sobre essas expressões,

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VIII EPEA - Encontro Pesquisa em Educação Ambiental Rio de Janeiro, 19 a 22 de Julho de 2015

Realização: Unirio, UFRRJ e UFRJ

1

O PROCESSO DE FORMAÇÃO AMBIENTAL DO ASSISTENTE

SOCIAL: INDÍCIOS CURRICULARES

Tatiana Ferreira dos Santos - UFS

Maria Inêz Oliveira Araújo - UFS

RESUMO

O presente artigo objetiva explicitar os indícios alçados perante apreciação da

estrutura curricular dos cursos de Serviço Social das universidades sergipanas no que se

refere à dimensão ambiental. O artigo conjectura em uma parte da pesquisa em

andamento, na qual apresenta como cerne principal explicitar o processo de formação

ambiental no contexto da formação do Assistente Social na Universidade Federal de

Sergipe – UFS e na Universidade Tiradentes – UNIT. A pesquisa configura-se em uma

abordagem qualitativa do tipo exploratória. São apresentados a estrutura curricular do

curso das duas universidades e em seguida evidenciado a dimensão ambiental dos

cursos de Serviço Social. Desta forma, o presente escrito dá suporte à próxima etapa da

pretensão investigativa da qual contempla a análise do projeto político pedagógico dos

cursos e entrevista com 6 professores de cada instituição.

PALAVRAS-CHAVE: Serviço Social; Currículo; formação ambiental.

ABSTRACT

This article aims to explain the evidence elevations before assessing the

curriculum of Social Work courses of Sergipe universities with regard to the

environmental dimension. Article conjecture in a part of ongoing research, which

represents the major core indicate the process of environmental education in the training

of the social worker at the Federal University of Sergipe - UFS and Tiradentes

University - UNIT. The research sets in a qualitative approach of the exploratory type.

Are presented the course curriculum of the two universities and then shown the

environmental dimension of social work courses. Thus, this writing supports the next

stage of the investigative claim that includes the analysis of the political pedagogical

project of the courses and interviews with six teachers from each institution.

KEYWORDS: Social Services; Curriculum; environmental training.

1. INTRODUÇÃO

Em meio ao enfrentamento das expressões da questão social atuam firmemente

diversos profissionais, sobretudo o (a) assistente social. Com o intuito de viabilizar o

acesso aos direitos, efetivação de políticas sociais e exercício da cidadania, o (a) assiste

social dispõe de aporte teórico e prático dos quais incidem sobre essas expressões,

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dentre elas: pobreza, violência, desemprego, precarização da qualidade de vida,

exploração infantil, dentre outras.

Segundo Iamamoto (2014) a “[..] questão social condensa o conjunto das

desigualdades e lutas sociais, produzidas e reproduzidas no movimento contraditório

das relações sociais [...]” (IAMAMOTO 2014, p.156). Para a autora, a gênese da

“questão social” na sociedade burguesa advém de um modo coletivo de produzir, do

qual contradiz com a apropriação privada da vida humana.

Pela impregnação do capital em todas as esferas e espaços da vida humana, a

“questão social” e a questão ambiental se fazem presentes em meio às conturbadas

relações socioambientais. Assim, ambas apreendem uma particularidade, eclodiram e

foram acrescidas com a ascensão do capitalismo monopolista mundial, concomitante à

exploração e transformação da natureza em mercadoria e do trabalho humano.

A questão ambiental é compreendida aqui como um conjunto de insuficiências

advinda das contradições entre homem e natureza, inerentes às relações sociais de

produção, dos quais são evidenciados e acrescidos nas contradições entre classes, no

individualismo, na concorrência e no consumismo, provocados por essas relações de

produção. Faz-se aqui a utilização do termo “questão ambiental”, pois entendemos que

o meio ambiente integra todos os espaços bióticos e abióticos, interligados nas relações

socioambientais.

É nessa conjuntura que se ampara as bases de sustentação deste trabalho. Se o

(a) assistente social assume, com particularidade, as expressões da “questão social”, esta

- segundo Iamamoto (2014), metamoforzeada e vestida com uma nova roupagem -

evidenciada, hoje, na “imensa fratura entre o desenvolvimento das forças produtivas do

trabalho social e as relações sociais que as impulsionam”, então, segundo (SILVA

2012), a questão ambiental deve ser objeto de intervenção, estudos e pesquisas do (a)

assistente social, considerando o contexto histórico.

[...] o Serviço Social passa a integrar o escopo de profissões

interpeladas a oferecerem respostas ao agravamento da questão

ambiental, a partir de uma forte mediação da educação ambiental,

embora a mobilização e organização das comunidades de usuários dos

serviços institucionais também integrem as demandas postas à

profissão. (SILVA 2010, p. 156).

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Para tanto, dentre as áreas de atuação do assistente social, encontra-se o Serviço

Social ambiental1, cujo principal objetivo, segundo (KISNERMAN 1998 in AGUAYO

e GARCÍA 2011), incube:

[...] integrar e coordenar ações destinadas a conscientizar a população

sobre esse desafio para a humanidade e intervir com seus métodos e

técnicas, na medida do possível, conseguir minimizar alguns desses

efeitos com a comunidade. (KISNERMAN 1998 in AGUAYO e

GARCÍA 2011, p.68)

Contudo, para atuar na questão ambiental, o (a) assistente social deve agir muito

além da utilização de métodos ou técnicas. Ele precisa apropriar-se de conhecimento

teórico e prático, principalmente de caráter pedagógico,2 para que sua práxis atinja uma

dimensão sensibilizadora, educadora e crítico-reflexiva. De tal modo, a temática

ambiental deve ser inserida transversalmente na formação do (a) assistente social e não

ser encarada como uma área a parte, a título de especialização posterior, mas sim como

formação básica profissional.

Nesse sentido, a pretensão investigativa nortear-se-á sobre o currículo, pois é no

currículo que estão a base e a ação educacional do curso de Serviço Social. É através do

currículo que serão possíveis análises e entendimento sobre a formação do assistente

social, portanto, “[...] o currículo acaba manifestando os elementos básicos do processo

educativo [...].” (SÁ 1995, p.31).

Desta forma, o interesse investigativo direciona-se na necessidade de averiguar o

processo de formação do Assistente Social a fim de detectar: em que medida a questão

ambiental está inserida na formação do Assistente Social?

Na tentativa de solucionar este problema, a pesquisa em andamento busca

explicitar o processo de formação ambiental no contexto da formação do Assistente

Social. Para tanto, foi necessário: Identificar na estrutura curricular dos cursos de

Serviço Social em Sergipe disciplinas que apresentem indícios e abordagens sobre a

questão ambiental; Verificar as concepções dos professores sobre as relações

socioambientais e a questão ambiental, partindo do ponto de vista curricular; Descrever

a relevância de um currículo que contemple discussões e reflexões sobre a problemática

ambiental na formação do Assistente Social.

1 Demais áreas de atuação do assistente social: Habitação, Educação, Assessoria, Assistência,

Previdência, Recursos Humanos, Empresarial, Educação e Saúde 2 Iamamoro (2014) afirma que nas atribuições do assistente social, o profissional deve assumi-las com um

caráter pedagógico e/ou ideológico.

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A presente pesquisa configura-se em uma abordagem qualitativa do tipo

exploratória. O universo delimita-se nas duas universidades de Sergipe. A Universidade

Federal de Sergipe – UFS e a Universidade Tiradentes – UNIT. Para se chegar a um

melhor conhecimento da concepção dos professores, definiu-se como técnica para a

coleta de dados a entrevista semiestruturada, cujo escopo contempla perguntas abertas e

fechadas. Serão entrevistados 6 professores, três de cada instituição de ensino.

Apesar da pesquisa se encontrar em andamento, foi possível o levantamento das

publicações de pesquisadores, estudantes e profissionais de Serviço Social sobre a

temática ambiental. O estado da arte pôde evidenciar a urgência na inserção da

dimensão ambiental na formação do assistente social. Ainda assim, as evidências das

produções citadas puderam sustentar a necessidade de averiguar os currículos dos

cursos em Sergipe diante da eminente questão ambiental já inserida no cotidiano do

Assistente Social, cujo despreparo afeta diretamente na sociedade onde atua. Pôde-se

evidenciar também, indícios que demonstram a realidade curricular dos cursos em

questão, conjecturando na urgência de atualização necessária que reflita na atuação dos

futuros assistentes sociais considerando a questão ambiental entremeada à questão

social e vise e versa.

2. AS RELAÇÕES SOCIOAMBIENTAIS E A QUESTÃO AMBIENTAL:

UM ORBE “PARALELO”

O subtítulo orbe “paralelo” faz analogia ao mundo devaneador do consumo

exacerbado que as gerações vêm produzindo e reproduzindo nas relações

socioambientais. Neste universo “paralelo”, o sujeito é impedido de enxergar a

realidade da exploração e do sofrimento que abastecem as famílias diariamente. Neste

orbe paralelo, a sociedade relaciona a felicidade ao consumo e a acumulação, onde os

sentimentos tornam-se bens não-duráveis quase indissociáveis do valor financeiro,

distanciando cada vez mais a possibilidade de equidade social e equilíbrio ambiental.

Esta analogia remete à teoria da alienação no trabalho em Marx, onde o trabalho

está intrinsicamente interligado ao capitalismo. Segundo Luz (2008) em Marx, o

trabalhador alienado não se identifica com o produto de seu trabalho, além da opressão

do sistema econômico sobre o trabalhador que o impede de desenvolver enquanto ser

humano. Entretanto, a questão desenvolvimento na teoria da alienação carrega uma

ambiguidade, enquanto alienado, o trabalhador incube o seu desenvolvimento na

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perspectiva de poder trabalhar mais tempo para poder se desenvolver melhor

economicamente e consumir mais. Em outra perspectiva, para Marx, o trabalhador

estagna e fica refém do sistema econômico que o oprime e instaura barreiras no seu

desenvolvimento. Para o autor, apenas a superação do trabalho alienado seria a condição

que possibilitaria a superação de um sistema que impede o desenvolvimento do ser

humano.

A exploração da natureza e a apropriação da vida humana sob a égide de um

sistema econômico cujo o cerne norteia a supervalorização do lucro com o objetivo

centrado no desenvolvimento econômico mundial demonstra, historicamente, o claro

sentido de anos de exploração para o capital. Ao mergulhar na instauração do

monopólio capitalista, esta noção de exploração fica evidente, pois, para produzir era

necessário matéria-prima vinda da natureza e do trabalho vivo. A mercadoria final

produzida por muitos era concentrado nas mãos de poucos, os quais ditavam o caminho

do desenvolvimento econômico.

A capitalização e mercantilização da natureza em meio a exploração e

apropriação do trabalho vivo, evidenciaram o sentido claro e lógico dos caminhos desse

sistema insustentável. Com o passar dos anos, com a disseminação do capitalismo

mundial, o consumo desenfreado, a desvalorização do trabalho vivo, lucros acentuados

e as altas taxas de juros tornariam parte das relações sociais que reproduziriam a lógica

do capital impregnando-a na cultura, na moral e na educação de distintos povos e

nações.

Neste sentido, Iamamoto (2014) afirma que,

“[..] a natureza dá lugar ao espaço produzido. Verifica-se a regressão,

degradação e transgressão no nível das relações de família, de

amizade, da vida social de grupos parciais, do meio ambiente, assim

como a produção de novas relações no âmbito de segmentos sociais

como a juventude, os idosos, as mulheres e os trabalhadores.” (p.50)

Portanto, para Iamamoto (2014), em meio ao sistema de produção capitalista, a

natureza sede espaço para a produção conjecturando na clara alteração das relações

sociais e socioambientais interferindo nos antigos e novos arranjos familiares,

intervindo nos diversos seguimentos da sociedade e da natureza.

De acordo com Mészáros (2011),

devemos ter em mente que as realizações problemáticas do sistema do

capital de uma estratégia autocontraditória que ingênua ou

assustadoramente ignora as exigências de um adequado “domínio do

homem sobre suas condições de existência orgânica e inorgânica”

como a precondição necessária de um domínio humano socialmente

viável sobre as forças da natureza. (MÉSZÁROS 2011, p.609)

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No contexto do autor supracitado, é necessário compreender que a evolução

capitalista e as implicações desta tem causado consequências eminentes que não devem

ser ignoradas ou isoladas ao âmbito ambiental ou social, mas em sua totalidade sob a

perspectiva do domínio do homem sobre a natureza e os desequilíbrios dessa relação.

Na perspectiva das relações entre homem e natureza, Foster (2014) enfatiza o

conceito de metabolismo desenvolvido por Marx para explicitar essas relações. Para

Foste (2014) este conceito de metabolismo destrinchado por Marx em O capital

direciona para a relação entre homem – trabalho – natureza. Segundo Marx (1975), o

trabalho é a “condição universal da interação metabólica entre o homem e a natureza, a

perpetua condição da existência humana imposta pela natureza.” (MARX 1975 in

FOSTER 2014, p. 221). O sentido de metabolismo apresentado por Marx está aplicado

à “troca material”, onde o homem, através do trabalho, extrai da natureza a riqueza

material e todo o universo de valores para satisfação e precisões humanas.

O conceito de metabolismo em Marx emerge mediante fracassas relações entre

homem e natureza sobre tudo consequente da apropriação da natureza e do trabalho

vivo. Segundo Foster (2014), a instauração do capitalismo no meio agrícola trouxeram

consequências tão degradantes quanto a instauração do capitalismo nas cidades de

forma industrial. A produção capitalista na agricultura, segundo o autor supracitado,

explorava a mão de obra viva e na mesma intensidade o solo. Como consequência, o

solo sofria infertilidades frequentes além de receber os dejetos de esgoto das cidades

superpopulosas, os dejetos, por sua vez carregavam o restante de nutrientes que

restavam no solo. A superpopulação nas cidades, de acordo com Foster (2014) não

advinha somente da procura por emprego, mas sim “[...] pelas relações de produção que

tornavam a existência continuada dessa população excedente relativa necessária ao

sistema.” (p.204).

Com base no conceito de metabolismo em Marx, Silva (2010) compreende que a

espécie humana difere dos demais animais de acordo com a sua relação com a natureza

mediada pela busca de meios indispensáveis para satisfação de suas necessidades,

denominada de relações sociais de produção. Para a autora, o trabalho é essencial nessa

mediação, ao ponto em que o homem se apropria da natureza através do trabalho,

modificando-a constituindo e criando meios para reprodução da vida em sociedade.

Neste sentido, “o trabalho constitui, assim, uma dimensão fundamental da sociedade

humana visto que possibilita uma ‘dupla transformação’: à medida que intervém na

natureza, transformando-a, o homem transforma a si próprio.” (p.54).

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De acordo com Foster (2014), Marx já havia elucidado sobre a degradação do

solo mediante a produção em larga escala da agricultura e da indústria sob efeitos aos

trabalhadores e ao solo. Assim, com o aumento das tecnologias na era da

industrialização e ascensão capitalista, as tecnologias existentes eram incapazes de

suprir a ausência de nutrientes causada pela exploração em larga escala do solo.

Com o desenvolvimento das forças produtivas houve também a dependência do

uso das forças naturais por meio das tecnologias. Quanto mais se utilizavam das

tecnologias, maiormente extraiam da natureza descartando o trabalho vivo “gerando a

eliminação da produção fundada na lei do valor.” (LEFF 2014 p. 48).

É nessa lógica de apropriação e exploração da natureza e do trabalho vivo que se

funda o nexo da opressão capitalista diante das relações socioambientais. Perante a

produção e reprodução das relações sociais este contexto exploratório se firma e

instaura na sociedade fazendo-lhes acreditar que o único meio de desenvolvimento do

ser humano é através da apropriação da natureza e do trabalho humano. Assim, nessa

vertente, existem leituras distintas sobre as origens da questão ambiental. Há autores

que defendem a existência de uma crise ambiental, outros nomeiam de crise

socioambiental ou questão socioambiental. Neste sentido, apreendemos aqui o termo

questão ambiental por se aproximar com as discussões que norteiam a formação do(a)

assistente social.

Silva (2010) compreende a questão ambiental como um conjunto de

“deficiências na reprodução do sistema, o qual se origina na indisponibilidade ou

escassez de elementos do processo produtivo advindos da natureza, tais como matérias-

primas e energia e seus desdobramentos ideopolíticos.” (p.67). Na visão de Leff (2014)

a questão ambiental é “uma problemática eminentemente social, gerada por um

conjunto de processos econômicos, políticos, jurídicos, sociais e culturais.” (p. 241).

Nesse sentido, compreende-se a questão ambiental como um conjunto de

insuficiências advinda das relações contraditórias entre homem e natureza, inerentes às

relações sociais de produção, dos quais são evidenciados e acrescidos nas contradições

entre classes, no individualismo, na concorrência e no consumismo exagerados.

3. CURRÍCULO, SERVIÇO SOCIAL E A DIMENSÃO AMBIENTAL

Grundy (1987) in Sacristan (2013) afirma que o currículo não é um conceito,

mas sim uma construção cultural. “Isto é, não se trata de um conceito abstrato que tenha

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algum tipo de existência fora e previamente à experiência humana. É, antes, um modo

de organizar uma série de práticas educativas”. (GRUNDY 1987 in SACRISTAN 2013,

p.14).

Conforme Silva (2013), é através do currículo que é possível selecionar qual

conhecimento deve ser ensinado, por isso, coloca-se como resultado de uma seleção,

incumbindo identidade e subjetividade, resultando em relações de poder. O autor

apresenta o currículo como um “processo de racionalização de resultados educacionais,

cuidadoso e rigorosamente especificados e medidos.” (p.12). Nesse sentido, o autor

discorre sobre as teorias do currículo, das quais trataremos nesta pesquisa, mais a fundo,

a teoria crítica. Para Silva (2013), dentro das teorias críticas envolvem sempre

questionamentos, “As teorias críticas [...] do currículo estão preocupadas com as

conexões entre saber, identidade e poder. (p.16). “Neste sentido, elas deslocam a ênfase

dos conceitos simplesmente pedagógicos de ensino e aprendizagem para os conceitos de

ideologia e poder. (SILVA 2013, p.17).

De acordo com as Diretrizes Curriculares Gerais para o Curso de Serviço

Social3 de 1996, dentre as disciplinas obrigatórias básicas, devem apresentar os cursos

de Serviço Social: Sociologia, Ciência Política, Economia Política, Filosofia,

Psicologia, Antropologia, Formação sócio-histórica do Brasil, Direito, Política Social,

Acumulação Capitalista e Desigualdades Sociais, Fundamentos Históricos-

metodológicos do Serviço Social, Processo de Trabalho do Serviço Social,

Administração e Planejamento em Serviço Social, Pesquisa em Serviço Social, Ética

profissional, além das atividades indispensáveis do currículo obrigatório como estágio

supervisionado e trabalho de conclusão de curso. Para tanto, as diretrizes curriculares

gerais determinam a garantia da obrigatoriedade de carga horária mínima de 2.700 horas

com duração média de 4 anos de curso.

Observa-se, nas diretrizes curriculares gerais, a não obrigatoriedade de uma

disciplina específica que abarque a questão ambiental. No entanto, o documento expõe a

necessidade de trabalhar temas atuais, interdisciplinarmente, e que comtemple as novas

expressões da “questão social”, objeto de estudo e trabalho do assistente social. Apesar

da questão ambiental não constituir-se na atualidade, esta temática não está presente

3 As Diretrizes Curriculares Gerais para o Curso de Serviço Social, aprovado em novembro de 1996, é um

documento “que estabelecem uma base comum, no plano nacional, para os cursos de graduação em

Serviço Social, a partir da qual cada Instituição de Ensino Superior (IES) elabora seu Currículo Pleno.

Aquela base está pautada por um projeto de formação profissional, coletivamente construído, ao longo

dos anos 80 e 90, sob a coordenação da ABESS.” (DIRETRIZES CURRICULARES GERAIS PARA

O CURSO DE SERVIÇO SOCIAL – ABEPSS, 1996)

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explicitamente nas Diretrizes Curriculares Gerais para o curso de Serviço Social do

Brasil de 1996. Para isso, utilizaremos as bases teóricas do currículo oculto. Este,

segundo Vallace (1973) in Giroux (1986), refere-se às consequências não acadêmicas,

“porém, educacionalmente significativas da escolarização que ocorrem

sistematicamente, mas não são explicitadas em nenhum nível das justificativas públicas

da educação [...].” (VALLANCE 1973 in GIROUX 1986, p. 71).

Para identificar as produções sobre a atuação do assistente social na temática

ambiental, foi realizado um levantamento das plataformas online onde são

disponibilizadas produções científicas, dentre elas: principais revistas online de Serviço

Social, bibliotecas da UFS e UNIT, SciELO, periódicos da CAPES e anais de eventos.

Foram encontrados doze artigos, seis monografias identificadas na UFS e UNIT, duas

dissertações, uma tese e três livros, totalizando vinte e quatro trabalhos referentes à

atuação do (a) assistente social na educação ambiental, “Serviço Social no

enfrentamento da questão ambiental (ou socioambiental)”, “Serviço Social e

sustentabilidade ambiental”, “Gestão Ambiental e Serviço Social”, “Responsabilidade

Socioambiental de Empresas e Serviço Social e Meio Ambiente”. As publicações

identificadas foram realizadas entre os anos de 2007 a 2013. Contudo, nenhum trabalho

foi encontrado a título de identificar como se dá a formação inicial do (a) assistente

social, a fim de evidenciar um currículo que englobe a atuação do profissional frente à

questão ambiental.

No portal de periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Ensino Superior

- CAPES/MEC, foi encontrado uma dissertação apresentada na PUC-SP por Mendes

(2011) com o título: Serviço Social e Sustentabilidade: uma nova demanda para a

profissão.

A dissertação de Bourckhardt (2010) intitulada “Fundamentos da análise

marxista sobre a temática ambiental e o Serviço Social” constitui um importante estudo

onde abarca a identificação das tendências das produções sobre o meio ambiente nos

Programas de Pós-Graduação em Serviço Social. Através do estudo de Bourckhardt

(2010) foi possível visualizar em que cerne encontra-se as produções referentes à

temática ambiental e Serviço Social. Num levantamento entre os anos de 1998 a 2008, a

autora constatou que apenas 24 dissertações e 6 teses, de um total de 1263 dissertações

de mestrado e 512 teses de doutorado defendidas em 16 Programas de Pós Graduação

em Serviço Social, contemplam a temática ambiental, ou seja, apenas 1,17%. A autora

enfatiza o reduzido número de produções na área mesmo onde há a existência de linhas

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de pesquisas que focam a questão ambiental, urbana e territorialidade no programas de

pós-graduação em Serviço Social.

Nos principais periódicos eletrônicos disponíveis online no Brasil, na área de

Serviço Social, foram encontrados onze artigos relacionando à atuação do assistente

social na questão ambiental, em políticas públicas ambientais e em educação ambiental

e sustentabilidade. Já no portal SciELO – Scientific Electronic Library Online –, foi

encontrado apenas um artigo com a temática supracitada. Foram identificados dois

artigos em anais de congressos de Serviço Social.

De acordo com o levantamento, nota-se o baixo índice de produção que abarque

a temática ambiental. Tais dados podem incidir na atual condição dos currículos dos

cursos de Serviço Social. Quando considerado o campo de atuação do(a) Assistente

Social, percebe-se, parcialmente, a carência no trato da questão ambiental imbricada à

questão social, segundo os números evidenciados de produções na área. Quando os

dados são locais, esses números são ainda menores. A pesquisa em andamento pretende

ouvir os professores e analisar a fundo os currículos das universidades sergipanas a fim

de elucidar o problema desta pesquisa.

4. SOBRE AS UNIVERSIDADES EM ESTUDO

4.1 O curso de Serviço Social na Universidade Federal de Sergipe

Em Sergipe, a primeira escola de Serviço Social, segundo Santos, Gonçalves e

Cruz (1999), foi inaugurada em 27/03/1954, 18 anos após o surgimento da primeira

escola em São Paulo e 14 anos antes da instalação da Universidade Federal de Sergipe -

UFS. Segundo as autoras, a escola “participou do debate de criação da UFS, sendo uma

das primeiras instituições de Ensino Superior que a integraram” (SANTOS,

GONÇALVES e CRUZ 1999, p.31).

Segundo Santos, Gonçalves e Cruz (1999), a primeira escola de Serviço Social

de Sergipe, como em outros estados, surgiu sob influências da Igreja através do Bispo

Diocesano Dom Fernando Gomes, do Estado através do governador Arnaldo

Rollemberg Garcez e das elites dominantes. Sendo assim, “fazia-se necessária a criação

de uma instituição responsável pela formação e divulgação de valores ideológicos que

serviam para atenuar os conflitos sociais” (SANTOS, GONÇALVES e CRUZ 1999,

p.32). A escola era administrada pela Sociedade Sergipana de Cultura, uma ONG que

apresentava a finalidade de instruir, manter e dirigir Faculdades e demais institutos de

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caráter cultural e social. Segundo as autoras, a entidade recebia incentivos do governo

em todas as esferas, da Igreja, do pagamento dos concursos para o ingresso na escola e

da mensalidade das alunas, uma vez que o curso era particular. Alguns professores

ministravam as aulas gratuitamente e outros recebiam gratificações simbólicas.

Atualmente, segundo o departamento do curso através do sistema integrado de

gestão de atividades acadêmicas - SIGAA da UFS, existem 497 alunos ativos no curso

de Serviço Social, no qual é disponibilizado nos turnos matutino e noturno, na

modalidade presencial no campus São Cristóvão.

O turno noturno e diurno apresentam carga horária mínima de 3210 horas

obrigatórias e 160 optativas. Em dez períodos os alunos podem cursar 42 disciplinas

obrigatórias e 25 optativas. Dentre as disciplinas obrigatórias do primeiro período,

estão: Introdução a Filosofia, Psicologia Geral, Sociologia I, Seminário Temático I e

Oficina de Metodologia Científica. No segundo período são ofertadas as seguintes

disciplinas: Produção e Recepção de Texto I, Introdução à Psicologia Social,

Antropologia I, Política I e Questão Social. Já no terceiro período, os alunos podem

cursar: Direito e Legislação Social, Fundamentos de Economia, Fundamentos

Históricos e Teórico-Metodológicos do Serviço Social I, Formação Sócio-Histórica do

Brasil I e Política Social I. No quarto período estão disponíveis as disciplinas:

Fundamentos Históricos e Teórico-Metodológicos do Serviço Social II, Formação

Sócio-Histórica do Brasil II, Trabalho e Sociabilidade, Ética e Serviço Social I, Política

Social II. No quinto período: Fundamentos Históricos e Teórico-Metodológicos do

Serviço Social III, Realidade Regional, Ética e Serviço Social II, Serviço Social e

Processos de Trabalho. Sétimo período: Seguridade Social, Gestão Social, Oficina de

Instrumentalidade Profissional II, Pesquisa Social e Serviço Social. Já no oitavo

período: Cultura, Identidade e Subjetividade, Trabalho de Conclusão de Curso I,

Laboratório de Ensino Da Prática I, Estágio Supervisionado em Serviço Social I. No

nono e no décimo período os alunos cursam as seguintes disciplinas: Atividades

Complementares em serviço Social, Trabalho de Conclusão de Curso II, Laboratório de

Ensino da Prática II, Estágio Supervisionado em Serviço Social II, Laboratório de

Ensino da Prática III, Estágio Supervisionado em Serviço Social III.

As disciplinas optativas versam uma formação complementar e nenhuma delas,

explicitamente, abarcam uma dimensão ambiental.

A partir da análise inicial do currículo, as disciplinas ofertadas não contemplam

a dimensão ambiental. Temas como questão urbana e agrária, questão social,

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paradigmas da modernidade podem trazer a dimensão ambiental de forma transversal.

Entretanto, esta análise não pode se fundar sem compara-la com a resposta dos

professores e com o projeto político pedagógico do curso, cabendo até então,

compreendê-las numa perspectiva do currículo oculto.

Ainda não foi possível verificar quantas alterações o currículo do curso sofreu

durante os anos de instituição. No entanto, esta informação deverá constar nesta

pesquisa que se encontra em andamento. É de interesse investigativo averiguar se existe

previsão para alterações curriculares para as próximas turmas, bem como analisar o

Projeto Político Pedagógico do curso.

4.2 O curso de Serviço Social na Universidade Tiradentes

Em 1989, nas Faculdades Integradas Tiradentes, atual Universidade Tiradentes,

deu início as suas atividades no campus Farolândia, o Curso de Serviço Social. Em

1993 a primeira turma de graduandas, na sua totalidade mulheres, formou-se

ingressando na carreira profissional. (MENDONÇA 2012, p.209).

A UNIT foi a primeira universidade particular a ofertar o curso de Serviço

Social em Sergipe. Atualmente o curso é disponibilizado nas modalidades presencial e a

distância. Nosso lócus de análise não contempla a modalidade a distância pois, a priori,

o interesse investigativo visa aprofundar-se no curso presencial. Cabendo à pesquisas

futuras abarcar este orbe de forma específica.

Na modalidade presencial, o curso de Serviço Social da Universidade Tiradentes

é disponibilizado em Aracaju apenas no turno noturno. Dispondo de um total de 3240

horas, o curso apresenta 148 créditos obrigatórios e 4 para disciplinas optativas.

Totalizando 8 períodos, o currículo apresenta 41 disciplinas obrigatórias e 3 optativas.

No primeiro período, os alunos cursam as seguintes disciplinas: Metodologia

Científica, Psicologia Geral, Introdução ao Serviço Social, Desenvolvimento Capitalista

e Questão Social, Ciência Política, Práticas Investigativas I. No segundo período, o

currículo do curso disponibiliza: Ética Profissional e Serviço Social, Fund. Hist.

Teóricos Met. do Serviço S I, Formação Sócio-Histórica do Brasil, Práticas

Extensionistas I, Economia Política, Fundamentos Antropológicos e Sociológicos. No

terceiro período os alunos podem cursar: Práticas Investigativas II, Introdução ao

Direito, Estatística, Administração a Planej. Social a S. Social, Teorias Sociológicas,

Antropologia Cultural, Fund. Hist. Teóricos Met. do Serviço S. II, Filosofia e

Cidadania. No quarto período: Política Social I, Oficina De Instrumentos E Téc. Em

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Serv. S I, Fund. Hist. Teóricos Met. Do Serviço S. III, Direito e Legislação Social,

Seminários Temáticos I, Práticas Extensionistas II. O quinto período são ofertadas as

seguintes disciplinas: Gestão Social, Política Social II, Oficina de Instrumentos e Téc.

Em Serv. S. II, Trabalho e Sociabilidade¸ Psicologia Social. No sexto, no sétimo e no

oitavo período, o curso oferta as disciplinas: Pesquisa em Serviço Social I, Estágio

Supervisionado I, Processo de Trabalho e Serviço Social, Estágio Supervisionado II,

Movimentos Sociais e Serviço Social¸ Pesquisa em Serviço Social II, Sociedade e

Contemporaneidade, Seminários Temáticos II¸ TCC, Optativa 1.

Segundo Silva (2010) a temática ambiental, de acordo com as publicações em

revistas e eventos na área, está inserida em disciplinas que abarcam a temática:

territorialidade, questão agrária, urbana e rural.

Do mesmo modo que na UFS, a UNIT não dispõe em sua estrutura curricular, de

disciplinas específicas que abarquem a temática ambiental. Como dito anteriormente,

cabe a análise dos dados obtidos através das entrevistas com os professores do curso e

do Projeto Político Pedagógico para compreender em que medida a formação inicial

do(a) assistente social abarca a temática ambiental.

5. BREVES CONSIDERAÇÕES:

Diante da atual situação global, cabe às universidades e faculdades de Serviço

Social adequar-se a um currículo ambientalizado que contemple de forma transversal e

interdisciplinar a temática ambiental. Apesar de não se constituir a partir da atualidade,

a questão ambiental é centro de atuação e pesquisas de diversos profissionais com

embasamento teórico e prático para tal, no entanto, para o Serviço Social ainda é um

campo pouco explorado. Contudo, não se sustenta o entendimento de que cabe ao

profissional se especializar e procurar compreender a questão ambiental de forma

individual. É necessário que essa compreensão também aconteça na formação

profissional inicial e de maneira coletiva.

Espera-se com esta pesquisa em andamento, contribuir com as bases da

formação do Assistente Social, principalmente no que diz respeito ao cenário atual. Que

esta pesquisa sirva de cerne na condução de outras pesquisas e estimule discussões

sobre a temática ambiental tão carente no Serviço Social. Além disso, anseia-se com

este estudo, que a questão ambiental seja entendida como objeto de trabalho do

assistente social e possa ser inserida na formação profissional como base essencial para

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compreensão da questão social e vice-versa. A questão ambiental está entremeada com

a questão social. No entanto, sabemos dos desafios e obstáculos na formação

profissional, mesmo assim não faltarão esforços para a melhoria da categoria da qual

reflete diretamente em sua atuação na sociedade. A comunidade carece, a realidade

exige, precisamos de profissionais preparados para atuar na questão ambiental e cabe a

nós, assistentes sociais, demandarmos por uma formação qualificada e atualizada.

REFERÊNCIAS

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Janeiro Novembro de 1996. Disponível em < http://www.cress-ms.org.br/diretrizes-

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