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O RENASCER VIANENSE O RENASCER VIANENSE ÓRGÃO DE DIVULGAÇÃO DA ACADEMIA VIANENSE DE L ETRAS ANO IV Nº 10 V IANA-MA, AGOSTO DE 2005 AS MEMÓRIAS VIANENSES Nos últimos anos vêm se propagan- do os livros publicados por autores via- nenses sobre suas memórias, a come- çar por Do Alto da Matriz, de Lourival Serejo. Seguiram-se os livros 70 Anos, de João Cordeiro Mendonça e os estu- dos genealógicos de José Henrique Car- valho, além de outros que estão sendo elaborados. Antes desses, destacavam-se apenas História de um Menino Pobre, de Sálvio Mendonça e Minha Vida Minha Luta, de Travassos Furtado. Agora, mais um volume vem se acres- centar a essa bibliografia da memoria- lística vianense, o livro de Heitor Pieda- de Júnior, A Casa de Seu Gegê. Heitor Piedade Júnior é um vianense ilustre que reside no Rio de Janeiro, mas nunca perdeu sua identificação com esta terra, com seus problemas e sua poesia. Com certeza, sua obra trará uma contribuição importante para nos- sa história, mesmo não sendo um tra- balho de historiador. Todas essas iniciativas devem ser re- cebidas com louvor pelos vianenses que, em retribuição, devem se preocupar em adquirir tais volumes para tomarem co- nhecimento de elementos da nossa his- tória. As memórias são experiências in- dividuais relembradas que marcaram uma época dos autores. São fatos rele- vantes que não devem ser esquecidos para não perdermos nossa identidade. É lamentável a falta de incentivo e o desinteresse da população em adquirir esses livros, que deveriam estar presen- tes nas escolas do município para se- rem objeto de leituras em classe. Para as novas gerações de vianen- ses, que não viveram esses períodos recordados pelos seus autores, é im- portante tomar conhecimento de fa- tos que se passaram em nossa cida- de, os quais trazem respostas a mui- tos costumes nossos e justificam nos- sos procedimentos. Para Afonso Arinos, o que é peculiar ao gênero literário das memórias é que a reconquista do vivido não é somente um trabalho de restauração, mas sobre- tudo um esforço de renovação. Com as memórias, restaura-se o passado e com ele as experiências para renovar-se o presente, pois só com o conhecimento de nossa história pode- mos evitar erros futuros. A Academia Vianense de Letras re- presenta hoje a maior incentivadora para tais publicações, principalmente quan- do os autores estão no quadro dos seus membros. Viana não pode perder sua memória e as memórias de cada vianen- se confundem-se com as próprias me- mórias da nossa terra. CASARÃO DE AZULEJOS DO SR. BIBI SILVA S ituado na antiga Praça Duque de Ca- xias, este casarão, revestido de azulejos coloniais portugueses, pertencia origina- riamente ao Sr. Augusto Veloso. Nessa época, a casa serviu de palco para o casamento, no civil e religioso, do famoso Maestro Miguel Dias com a Srtª. Mariana Araújo. Depois o prédio foi comprado pelo Sr. Luis Cunha e, posterior- mente, passaria para a propriedade do Sr. Mundiquinho Borges, quando ali aconteceri- am festas e bailes monumentais realizados pela sociedade vianense. Com a chegada do Sr. Januário Sena, trans- ferido de São Luís para assumir o cargo de telegrafista em Viana, o Correio mudou-se para esse prédio, que servia também de resi- dência para o Sr. Januário e família. Bem mais tarde, quando houve novamen- te a junção do Correio com o Telégrafo e cons- truído o prédio próprio na Praça da Prefeitu- ra, o imponente casarão seria comprado pelo Sr. Bibi Silva que igualmente nele residiria com sua família por vários anos. Curiosamente, o imóvel era revestido por dois tipos de azulejos: toda sua frente e par- te da lateral possuíam azulejos parecidos com os que hoje existem na fachada superi- or do prédio do Colégio Manoel Soeiro. O restante da parede lateral apresentava azu- lejos verdes iguais aos do Cartório de Dadi- ca Barros. Abandonado por alguns anos, já em ruí- nas, o velho casarão se transformaria em mais um alvo fácil para a insana destruição e com- pleta falta de respeito à memória da cidade. No final da administração do Sr. Batista Lu- zardo, em dezembro de 1981, mas com a au- torização do prefeito recém-eleito para o man- dato seguinte, o prédio foi demolido para do- ação de seus tijolos à população local. AUDIÊNCIA COM RILVA LUÍS Na tarde de 27 de maio último, a Academia Vianense de Letras teve uma reunião in- formal com o prefeito Rilva Luís. No encontro, o novo pre- feito pode expor aos membros da AVL suas metas e principais projetos para a administração do município, nos três anos vin- douros. Em destaque, além da promessa de concentrar esfor- ços na resolução dos proble- mas de saneamento básico da cidade, Rilva e seu secretário de Comunicação, Augusto Marques, mostraram-se já em- penhados no esboço do que seria a programação festiva e cultural comemorativa dos 250 anos de Viana, em 2007. A AVL, por sua vez, depois de colocar-se à disposição da prefeitura para qualquer aju- da eventual, fez um ligeiro re- sumo do trabalho desenvolvi- do nos três anos de sua exis- tência em prol da cultura via- nense. Através de seu presiden- te, Luiz Alexandre, foram for- mulados alguns pedidos de apoio ao chefe do executivo municipal, principalmente no que tange à republicação de algumas obras de relevante interesse para a preservação da memória local. Também foi solicitado ao prefeito, na mes- ma oportunidade, um local adequado para a instalação da sede da academia. O encontro com Rilva Luís foi considerado, por unanimi- dade entre os acadêmicos pre- sentes, como bastante provei- toso e promissor. A AVL, portanto, enseja ao jovem prefeito votos de uma feliz e profícua administração desta nossa centenária cidade, tão carente da atenção e do trabalho de pessoas bem-in- tencionadas. Maria de Fátima Travassos Cordeiro, João Cordeiro, Kalil Mohana e Rosa Maria Pinheiro Gomes na reunião com o prefeito municipal

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O RENASCER VIANENSEO RENASCER VIANENSEÓRGÃO DE DIVULGAÇÃO DA ACADEMIA VIANENSE DE LETRAS ANO IV Nº 10 V IANA-MA, AGOSTO DE 2005

AS MEMÓRIAS VIANENSES

Nos últimos anos vêm se propagan-do os livros publicados por autores via-nenses sobre suas memórias, a come-çar por Do Alto da Matriz, de LourivalSerejo. Seguiram-se os livros 70 Anos,de João Cordeiro Mendonça e os estu-dos genealógicos de José Henrique Car-valho, além de outros que estão sendoelaborados.

Antes desses, destacavam-se apenasHistória de um Menino Pobre, de SálvioMendonça e Minha Vida Minha Luta, deTravassos Furtado.

Agora, mais um volume vem se acres-centar a essa bibliografia da memoria-lística vianense, o livro de Heitor Pieda-de Júnior, A Casa de Seu Gegê.

Heitor Piedade Júnior é um vianenseilustre que reside no Rio de Janeiro, masnunca perdeu sua identificação comesta terra, com seus problemas e suapoesia. Com certeza, sua obra traráuma contribuição importante para nos-sa história, mesmo não sendo um tra-balho de historiador.

Todas essas iniciativas devem ser re-cebidas com louvor pelos vianenses que,em retribuição, devem se preocupar emadquirir tais volumes para tomarem co-nhecimento de elementos da nossa his-tória. As memórias são experiências in-dividuais relembradas que marcaramuma época dos autores. São fatos rele-vantes que não devem ser esquecidospara não perdermos nossa identidade.

É lamentável a falta de incentivo e odesinteresse da população em adquiriresses livros, que deveriam estar presen-tes nas escolas do município para se-rem objeto de leituras em classe.

Para as novas gerações de vianen-ses, que não viveram esses períodosrecordados pelos seus autores, é im-portante tomar conhecimento de fa-tos que se passaram em nossa cida-de, os quais trazem respostas a mui-tos costumes nossos e justificam nos-sos procedimentos.

Para Afonso Arinos, o que é peculiarao gênero literário das memórias é quea reconquista do vivido não é somenteum trabalho de restauração, mas sobre-tudo um esforço de renovação.

Com as memórias, restaura-se opassado e com ele as experiências pararenovar-se o presente, pois só com oconhecimento de nossa história pode-mos evitar erros futuros.

A Academia Vianense de Letras re-presenta hoje a maior incentivadora paratais publicações, principalmente quan-do os autores estão no quadro dos seusmembros. Viana não pode perder suamemória e as memórias de cada vianen-se confundem-se com as próprias me-mórias da nossa terra.

CASARÃO DE AZULEJOSDO SR. BIBI SILVA

Situado na antiga Praça Duque de Ca-xias, este casarão, revestido de azulejoscoloniais portugueses, pertencia origina-

riamente ao Sr. Augusto Veloso. Nessa época,a casa serviu de palco para o casamento, nocivil e religioso, do famoso Maestro Miguel Diascom a Srtª. Mariana Araújo. Depois o prédiofoi comprado pelo Sr. Luis Cunha e, posterior-mente, passaria para a propriedade do Sr.Mundiquinho Borges, quando ali aconteceri-am festas e bailes monumentais realizados pelasociedade vianense.

Com a chegada do Sr. Januário Sena, trans-ferido de São Luís para assumir o cargo detelegrafista em Viana, o Correio mudou-separa esse prédio, que servia também de resi-dência para o Sr. Januário e família.

Bem mais tarde, quando houve novamen-te a junção do Correio com o Telégrafo e cons-truído o prédio próprio na Praça da Prefeitu-

ra, o imponente casarão seria comprado peloSr. Bibi Silva que igualmente nele residiria comsua família por vários anos.

Curiosamente, o imóvel era revestido pordois tipos de azulejos: toda sua frente e par-te da lateral possuíam azulejos parecidoscom os que hoje existem na fachada superi-or do prédio do Colégio Manoel Soeiro. Orestante da parede lateral apresentava azu-lejos verdes iguais aos do Cartório de Dadi-ca Barros.

Abandonado por alguns anos, já em ruí-nas, o velho casarão se transformaria em maisum alvo fácil para a insana destruição e com-pleta falta de respeito à memória da cidade.No final da administração do Sr. Batista Lu-zardo, em dezembro de 1981, mas com a au-torização do prefeito recém-eleito para o man-dato seguinte, o prédio foi demolido para do-ação de seus tijolos à população local.

AUDIÊNCIA COM RILVA LUÍSNa tarde de 27 de maio

último, a Academia Vianensede Letras teve uma reunião in-formal com o prefeito RilvaLuís. No encontro, o novo pre-feito pode expor aos membrosda AVL suas metas e principaisprojetos para a administraçãodo município, nos três anos vin-douros. Em destaque, além dapromessa de concentrar esfor-ços na resolução dos proble-mas de saneamento básico dacidade, Rilva e seu secretáriode Comunicação, AugustoMarques, mostraram-se já em-penhados no esboço do queseria a programação festiva ecultural comemorativa dos 250anos de Viana, em 2007.

A AVL, por sua vez, depoisde colocar-se à disposição daprefeitura para qualquer aju-da eventual, fez um ligeiro re-sumo do trabalho desenvolvi-do nos três anos de sua exis-tência em prol da cultura via-nense. Através de seu presiden-

te, Luiz Alexandre, foram for-mulados alguns pedidos deapoio ao chefe do executivomunicipal, principalmente noque tange à republicação dealgumas obras de relevanteinteresse para a preservaçãoda memória local. Também foisolicitado ao prefeito, na mes-ma oportunidade, um localadequado para a instalaçãoda sede da academia.

O encontro com Rilva Luísfoi considerado, por unanimi-dade entre os acadêmicos pre-sentes, como bastante provei-toso e promissor.

A AVL, portanto, enseja aojovem prefeito votos de umafeliz e profícua administraçãodesta nossa centenária cidade,tão carente da atenção e dotrabalho de pessoas bem-in-tencionadas.

Maria de Fátima Travassos Cordeiro, João Cordeiro, Kalil Mohana eRosa Maria Pinheiro Gomes na reunião com o prefeito municipal

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N esta inesque-cível noite, aAVL faz ressur-gir, com a de-

vida competência, oprofessor, músico, com-positor e cantor, Joãode Parma Montezuma eSilva...”

Com estas palavras,Estêvão Maya-Mayainiciou o elogio de seupatrono, no discurso deposse na Academia Vi-anense de Letras, emcerimônia realizada naIgreja Matriz, na noitedo dia 28 de maio úl-timo, a qual contoucom presença do pre-feito municipal, Sr. Ril-va Luís, do representan-te da câmara de vere-adores, Sr. José IsmaelAbreu, vários professo-res da rede estadual emunicipal e expressivaparcela da comunida-de local.

Para uma platéiaatenta que lotava aigreja, o maestroMaya-Maya discorreusobre a singular traje-tória de vida desse ho-mem que, ao seu ver,soube dar significativacontribuição à constru-ção de nossa recentehistória, conforme afir-mou: “.., a Cidade dosLagos, numa sucessãode gerações, vem sen-do um terreno fértil deonde brotam não ape-nas tendências, e simvocações extraordinári-as, que culminaram econtinuam a culminarnum legado que enri-quece cada vez maisnosso patrimônio cultu-ral. João de Parma é,certamente, um dosgrandes pilares da cul-tura vianense.”

Depois de narrar fa-tos relevantes da vidado novo patrono daAVL, concluía: “No li-miar do seu duocentési-mo qüinquagésimo ani-versário, a cidade deViana vem resistindo adesmandos e depreda-ções das mais diversas,inclusive a relegar aoesquecimento seus fi-lhos e filhas de tamanhamagnitude como Joãode Parma. A AcademiaVianense de Letras,composta por vigorososfilhos desta terra, emapenas três anos de

POSSE DE ESTÊVÃO MAYA-MAYAJoão de Parma, Raimundo Nogueira, Celso Magalhães e Dilú Mello

são reverenciados em noite de exaltação da cultura vianense.

2 Viana – MA, agosto de 2005

existência, tem se mos-trado um baluarte nes-sa luta. Ter sido eleitopara também juntar for-ças e compor a fileiradestes abnegados con-terrâneos, no seio daAVL, enche-me de felici-dade e orgulho.”

O maestro EstêvãoMaya-Maya, que pas-sou a ocupar a Cadei-ra nº 23 da AVL, foiempossado oficialmen-te pelo presidente dacasa, Luiz AlexandreRaposo, recebendo en-tão o diploma de aca-dêmico, sob os aplau-sos dos presentes. Logoapós, o escritor Louri-val Serejo fez a sauda-ção de boas vindas aonovo imortal vianense.

Antes do solene atode posse, a escritoraMundinha Araújo,atendendo ao conviteespecial da AVL, fezuma ligeira explanaçãosobre o tema do livrode sua autoria, “Insur-reição de Escravos emViana”.

Na oportunidade,Mundinha relatou as-pectos interessantes desua pesquisa, a quallança luz sobre umadas mais importantesrevoltas armadas de es-cravos, ocorridas noBrasil, até bem poucotempo completamentedesconhecida e alijadada história oficial da es-cravatura maranhense.

Em seguida, aindaabordando o mesmotema, um grupo dealunos do Centro Edu-cacional Professor An-tônio Lopes apresen-

tou, em forma de jo-gral, o denso e pun-gente poema de auto-ria de Celso Maga-lhães, intitulado “OsCalhambolas”. Em1867, Celso Maga-lhães, então com 18anos, ainda residia emViana e foi testemunhaocular da revolta dosnegros em epígrafe,acontecida naqueleano.

O prefeito Rilva Luíspediu licença, ao pre-sidente da mesa, paradirigir-se à comunida-de ali reunida. Aprovei-tando o clima festivo equase informal, o che-fe do executivo munici-pal falou com simplici-dade e franqueza sobreseu desejo e disposiçãode trabalhar por umaViana mais humana e,portanto, de melhorqualidade de vidapara seus habitantes.

Para encerrar a noi-te de exaltação da cul-tura vianense, EstêvãoMaya-Maya, acompa-nhado pelo pianistaAlessandro Batista,apresentou um peque-no recital, iniciado comduas peças sacras deautoria do compositorda terra, Raimundo No-gueira. Obras clássicasuniversais como a AveMaria de Shubert e Pa-nis Angelicus de CésarFrank foram muitoaplaudidas. Entretanto,o momento de maiorbeleza ficou por contada interpretação dasmúsicas de Dilú Mello,Fiz a Cama na Varandae, principalmente, daemotiva Saudades doMaranhão, quandotodo o público presen-te cantou em coro como novo acadêmico.

Público presente à solenidade de posse do maestro Maya-Maya

O novo acadêmico fazendo seu discurso de posse

Maya-Maya emocionoua platéia com seu recital

A luta dos escravos ressurgecom Mundinha Araújo

Alunos do Centro Educacional Antônio Lopesapresentando "Os Calhambolas" de Celso Magalhães

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O RENASCER VIANENSEO RENASCER VIANENSE

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UM ACADÊMICO, UM PATRONO

Lourival Serejo

Júlio Araújo Aires nasceu em21 de setembro de 1933, nopovoado de Itans, então perten-cente ao município de Viana. Fi-lho de Filipe Gomes Aires e Fran-cisca Araújo Aires, o meninoJúlio aprendeu as primeiras le-tras com a irmã Zuleide aindaem Itans. No início da décadade 40 foi levado para São Luís,a fim de continuar os estudos,concluindo o curso primário noGrupo Escolar Luiz Serra, em1948.

Seis anos depois, em 1956,concluiu o curso de Técnico emContabilidade, na Escola Téni-ca do Comércio do Centro Cai-xeiral. Na busca constante pelosaber, bacharelou-se em Histó-ria e Geografia, pela Faculdadede Filosofia, Ciências e Letras deSão Luís (1961). Em 1962, con-cluiu a Licenciatura, nas mes-mas especialidades.

Mudando-se para o Rio deJaneiro, ali ingressou na Facul-dade Nacional de Direito, onde

fez os quatro pri-meiros anos docurso. De voltaa São Luís, gra-duou-se em1967. No anode 1970, JúlioAires ingressouna magistraturama ranhens e,servindo na Co-marca de SãoJoão Batista.Depois de longoexercício pelascomarcas deVargem Gran-de, Pinheiro, Im-peratriz e São Luís, tornou-se de-sembargador, em 2000, apo-sentando-se três anos depois.

Ao longo de sua vida, JúlioAires sempre se dedicou ao ma-gistério, tendo lecionado em di-versos colégios, tanto no Rio deJaneiro como em São Luís. Foiprofessor do Curso de Direito daUniversidade Federal do Mara-nhão e professor da Escola Su-perior da Magistratura do Ma-

ranhão, aondechegou a ser Di-retor.

Além de es-crever vários ar-tigos para jor-nais, Júlio Airespublicou suamonografia doCurso de Espe-cialização emDireito Público,pela Universida-de Federal deCeará, intitula-da “Direitos doHomem”.

Cristão pra-ticante, o ex-desembargadoratualmente é Superintendenteda Escola Pública Dominical daIgreja Evangélica da Assembléiade Deus e consultor jurídico damesma Igreja, além de Presiden-te de honra do Tribunal Arbitraldo Maranhão.

Casado com a senhora Ma-ria José Batalha Aires e pai detrês filhas, esse cidadão nasci-do na Baixada sempre se afir-

JÚLIO ARAÚJO AIRES

3Viana – MA, agosto de 2005

mou como uma pessoa séria,voltado para sua família, parao trabalho e a religião. Em to-das essas atividades deixou amarca de sua seriedade e com-petência. No discurso de sau-dação em sua posse no Tribu-nal de Justiça, o desembarga-dor Raimundo Cutrim assim sereferiu ao novo colega: “ho-mem afável, extremamentecordial, de trato humano ini-gualável e sempre prestimosoa ouvir não apenas por exigên-cia da polidez, que é inerentea todo homem civilizado, masantes por uma questão de boapolítica na vida de relação hu-mana.”

Mesmo distante e sem muitaparticipação em sua terra natal,Júlio Araújo Aires é um vianen-se que dignifica sua origem,motivo pelo qual foi reconheci-do pela Academia Vianense deLetras como apto a ocupar aCadeira nº 18, patroneada pelotambém desembargador e maistarde governador do Maranhão,Manuel Lopes da Cunha.

Rogéryo du Maranhão

Miguel Arcanjo Dias nasceuem Viana no dia 29 de setem-bro de 1871. Aos onze anos deidade foi levado pelo pai, paraSão Luís, a fim de ser internadono Colégio Educandos, institui-ção filantrópica de ensino pro-fissionalizante, voltada à educa-ção de meninos pobres, vindosdo interior.

Na escola, o garoto vianen-se estudaria Música e aprende-ria vários ofícios, entre eles o dealfaiate. Após concluir o curso,embora tocasse praticamentetodos os instrumentos musicais,destacou-se como trompetista,sendo convidado pela direçãoda casa a fazer parte do grupopermanente de músicos da or-questra do colégio e permane-cer, dessa forma, na capital.

Pouco tempo depois, a or-questra do Educandos recebeuum convite para tocar numa fes-ta em Viana, o que propiciou aojovem músico, depois de longosanos de ausência, o retorno àcidade natal. O baile realizou-se na residência da famosa pro-fessora Cóia Carvalho. En-quanto tocava, observou, nosalão, uma moça morena decabelos escuros, encostada pró-xima a uma das janelas do so-lar. Na primeira música em quesua participação não era tão ne-cessária, deixou o trompete so-bre a cadeira e foi tirar a moçapara dançar. Apaixonou-se deimediato pela jovem, que se cha-

mava MarianaAraújo.

Regressandoa São Luís, nãopensou duas ve-zes: desvenci-lhou-se dos com-promissos, arru-mou suas malase, de posse dotrompete e damáquina de cos-tura, voltou defi-nitivamente à ci-dade de origem,onde escreveriauma historia sin-gular de competência, amor ededicação à musica.

Miguel Dias casou-se comMariana Araújo e tornou-se paide sete filhos: Odilon, Josefa(Nhazita), Etéldera, Nair, Améri-ca, Filomena e Odinéia. A todos,procurou passar os ensinamen-tos básicos de sua grande pai-xão. O filho mais velho, Odilon,aos sete anos de idade já toca-va trompete e, a exemplo do pai,aprenderia a tocar igualmentetodos os instrumentos. Entre asfilhas, os destaques ficaram comNhazita (que tocava harmônio),Etéldera (harmônio e violino) eAmérica (violino).

O grande mérito, entretanto,do Maestro Miguel Dias, foi suanotável contribuição à difusãoda música vianense. Residindono velho sobrado da esquina daPraça da Matriz, que ainda hojeresiste ao tempo, o abnegadomaestro criou ali uma escola

particular demúsica, por cu-jos bancos pas-sariam mais deuma centena defuturos músicosda terra. Tornou-se até comum,na época, mui-tos de seus ex-alunos se muda-rem para SãoLuís, a fim de in-gressar nos qua-dros das bandasda Polícia e doExército. Outros

discípulos iriam mais longe, le-vando o nome da música via-nense além-fronteiras como, porexemplo, Júlio e Pedrinho Neves,Onofre Fernandes e Dilú Mello.

O mais interessante de tudoisso, é que o abnegado maestronão cobrava nenhum centavopelas aulas ministradas. Ensina-va por prazer e amor à arte. Sus-tentava-se, e à família, com o sa-lário de delegado e com os re-cursos obtidos com o trabalhode sua banda e de sua orques-tra. Seguia uma rotina organi-zada: pela manhã, como auto-ridade policial, realizava as au-diências na sala da frente do so-brado; à tarde, o mesmo localse transformava em oficina demúsica. Pela noite, até as 21horas, atendia os alunos que ne-cessitassem de reforço, escreviamúsicas ou consertava os instru-mentos velhos.

A competência e o esmero do

maestro ganhariam prestígiopor toda a Baixada. Dono de umacervo musical riquíssimo, suaorquestra recebia constantesconvites para tocar em bailes nosmunicípios vizinhos. Em Viana,enquanto esteve na ativa, a ani-mação dos largos nas festas re-ligiosas de São Sebastião, SãoBenedito da Barreirinha, Naza-ré e Nossa Senhora da Concei-ção ficavam ao encargo de suabanda.

Depois de ser acometido porgrave enfermidade cardíaca,provavelmente em decorrênciados exercícios prolongados nosinstrumentos de sopro, o maes-tro Miguel Dias faleceu aos 54anos de idade, no dia 1º de se-tembro de 1925. Segundo de-poimento de uma de suas filhas,América Dias, seu enterro foi omais bonito já realizado em Via-na. Acompanhado pelas Irman-dades do Santíssimo Sacramen-to (da qual fazia parte) e doCoração de Jesus, pelos estu-dantes do Colégio do Estado egrande número de amigos, ad-miradores e ex-alunos, o féretrosubiu a Rua Grande em direçãoao Cemitério 2 de Novembroao som de duas bandas (a suae a do também maestro Temís-tocles Lima), que executavam amarcha fúnebre escolhida porele próprio, antes de falecer.

Rogério Castro Gomes – Rogéryo duMaranhão – cantor e compositor, ocu-pa a Cadeira de nº 16 da AVL, a qual temo Maestro Miguel Dias como patrono

MAESTRO MIGUEL DIASUm Ícone da Música Vianense

O RENASCER VIANENSEO RENASCER VIANENSE

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O acadêmico HeitorPiedade Júnior es-tará lançando, nanoite do dia 13

próximo, durante a aberturado IX Congresso Histórico,Cultural e do Meio Ambien-te de Viana, em frente à Igre-ja de Nossa Senhora daConceição, o livro intitula-do “Casa de Seu Gegê – Umpedaço de Saudade”.

A obra narra as memóri-as de uma casa, cujo líderfoi uma figura singular nasociedade vianense dos me-ados do século XX. Comer-ciante, ex-prefeito da cida-

4 Viana – MA, agosto de 2005

O RENASCER VIANENSEDiretor/Redator: Luiz Alexandre Endereço: Rua Antônio Lopes, 459 - Viana - MA

Rapôso CEP: 65.215-000

Casa de Seu Gegê

Reivindicações CulturaisNo intuito de restaurar a identidade cultural de Viana, ví-

tima de tantas depredações, passaremos a expor, neste jor-nal, nossas reivindicações, dirigidas principalmente aos se-nhores vereadores e ao senhor Prefeito Municipal.

Dessa forma, propomos:1. A substituição das placas nominativas das ruas por novas

placas de melhor qualidade estética e visual;2. O retorno da largura original das calçadas das Ruas An-

tônio Lopes, Coronel Campelo, Cônego Hemetério e trans-versais, nos mesmos padrões antigos, estabelecendo-sedefinitivamente o sistema de mão única para o trânsito deveículos;

3. Aprovação de lei municipal que proíba a cobertura asfál-tica das pedras e paralelepípedos das principais ruas quecompõem o centro histórico da cidade, mais precisamen-te a Antônio Lopes, Coronel Campelo, Cônego Hemeté-rio e adjacências;

4. A designação de logradouros públicos com os nomes dosvianenses Astolfo Serra (padre, escritor, historiador e inter-ventor do Maranhão), Manuel Lopes da Cunha (pai dosirmãos Antônio e Raimundo Lopes e também Governadordo Estado) e Raimundo Lopes (escritor, etnógrafo, arque-ólogo e historiador);

5. A edificação de um monumento na Praça Ozimo de Car-valho, para, como se fosse um Pantheon, homenagear osvultos ilustres de Viana;

6. A volta da exposição permanente, em local apropriado,dos sinos da Igreja Matriz, verdadeiras relíquias históri-cas, atualmente esquecidos no Palácio Episcopal.

de e responsável, por longoperíodo, pela tradicionalfesta de São Sebastião, SeuGegê (Heitor Piedade) sou-be conquistar a simpatia eo respeito de seus conterrâ-neos.

Como muito bem traduzo texto da contra-capa do li-vro, “não é possível falar-sede Seu Gegê sem que se falede seus genitores e irmãos,sobre sua Etelvina, seus filhos,sua família, seu lar, sua casa,sua atividade social, comerci-al e política, enfim sobre avida de nossa cidade”.

Casa de Seu Gegê resga-

ta, assim, não apenas a vidade um cidadão vianense ede sua família, mas um pe-daço importante da memó-ria local.

Obs. : Sob o t í tu lo"Casa de Heitor Pieda-de", o Renascer Vianen-se, em sua edição nº 2,fez severa crítica ao Ban-co do Brasil S/A pela bru-tal descaracterização dafachada original da Casade Seu Gegê, paraadaptação de sua agên-cia local.

MAIS UMVIANENSENA AML

Joaquim Campelo Marques,filho da tradicional família “Cam-pelo”, desta cidade, foi eleitopara a Academia Maranhensede Letras, no dia 3 de junho pas-sado.

Com esta última eleição, so-mam-se três os vianenses comassento na AML, ou sejam: Car-los Gaspar, Lourival Serejo e Jo-aquim Campelo.

Viana torna-se, assim, o mu-nicípio maranhense com maiornúmero de intelectuais na Aca-demia Maranhense de Letras.

Joaquim Campelo, que iráocupar a Cadeira nº 24, cujopatrono é Coelho Neto, é editor,diretor e proprietário da EditoraAlhambra, responsável por im-portantes publicações em todo opaís. Integra, também, a equipedo conceituado dicionarista Au-rélio Buarque de Holanda.

A AVL se congratula com onovo imortal maranhense e lhedeseja sucesso na Casa de An-tônio Lobo.

O NARIZDO MORTO

Lourival Serejo

Depois de 35 anos do lan-çamento dessa obra, venho eudizer alguma coisa sobre ela.Parece assunto velho, mas nãoé. O mais atual exemplo é oDom Quixote, de Cervantes,comemorando este ano, comfestas em todo o mundo, seusquatrocentos anos de sucesso.

O nome desse livro, O narizdo morto, nunca fugiu de minhamemória, desde a primeira vezque o vi, na casa do Prof. WadySauáia, nos meus tempos deestudante universitário.

Este ano, com o falecimentodo autor, Antônio Carlos Villa-ça, ocorrido no dia 29 de maio,resolvi adquiri-lo em um sebo.

Muito curioso, atirei-me à lei-tura de O nariz do morto. Acada linha, a cada página, acada capítulo, fui-me deixandoenvolver pelo livro.

Ainda bem que não li esse li-vro antes de escrever Do alto daMatriz, pois fatalmente seria con-taminado pelo seu estilo e pelassuas análises da vida, por suasangústias e perplexidades. Opróprio autor se pergunta e res-ponde: “O que é o homem? Umser amadurecido pela angústia.”

A maneira como Villaça fezmemórias prende o leitor do co-meço ao fim, ora com identifi-cação, ora com ansiedade, massempre procurando as respos-tas que o autor busca desde ocomeço do livro: “Convoco mi-nha infância e ela não me aten-de. Não vejo nada. Só névoa.”

Perdi muito tempo para sóagora conhecer uma obra quese inscreve, sem favor, entre osmonumentos da nossa memo-rialística. O interessante é quesão memórias que não se res-tringem apenas ao memorialis-ta, mas à melhor bibliografia deformação de um intelectual, poisos livros, as leituras, as análisesque Villaça faz fogem do círculoestreito de uma autobiografia.

A partir dessa leitura, Villaçaterá uma lugar respeitável entremeus memorialistas preferidos,com destaque só para os brasi-leiros: Pedro Nava, HermesLima, Cândido Motta Filho,Humberto de Campos e JoséAmérico de Almeida.

Já estou providenciando aleitura das outras duas obrasque completam a trilogia dasmemórias de Antônio Carlos Vi-llaça; O Anel e O Livro de An-tônio.

Por enquanto, só O Nariz doMorto já basta para confirmaro prestígio do autor e matar mi-nha curiosidade acumulada portantos anos.

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