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HOMENAGEM REPARADORA O fórum eleitoral da 20ª Zona e Comarca de Viana, que será inaugurado em maio deste ano, receberá o nome de As- tolfo Serra. É a primeira homenagem que esse vianense receberá em sua terra natal. Astolfo Henrique de Barros Serra nasceu em 22 de abril de 1900. Foi poeta, jornalista, padre e escritor. Ocupou vários cargos públicos no Estado do Maranhão, culminando com a sua nomeação para a função de interventor, em 1931. Pertencia à Academia Maranhense de Letras e ao Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. É patrono da Cadei- ra nº 3, da nossa Academia Vianen- se de Letras, ocupada por Heitor Pi- edade Júnior. Depois que abandonou o sacer- dócio, Astolfo Serra continuou sua vida aguerrida de político e jornalis- ta, chegando a ser nomeado minis- tro do Tribunal Superior do Trabalho. Astolfo Serra deixou várias obras publicadas, dentre as quais desta- cam-se: A Balaiada, Gleba que can- ta, A vida simples de um professor de aldeia e Terra enfeitada e rica. Recentemente o Instituto GEIA re- publicou A Balaiada, trabalho de pes- quisa que dignificou o nome de As- tolfo Serra como historiador respei- tado em todo o Brasil. Essa obra é de especial importância para Viana, pois nela o autor faz profunda análi- se da vida de Estêvão Carvalho e da influência que esse vianense teve no desencadeamento da Balaiada. Até a presente data não havia, em Viana, nenhuma homenagem a este filho tão ilustre. Igual a essa, outras reparações se impõem, como a Ma- nuel Lopes da Cunha, que também foi governador do estado e a seu fi- lho, Raimundo Lopes da Cunha. Este último só tem um pedaço de rua em seu nome, conhecido apenas por seus moradores na hora de pôr o en- dereço nas correspondências. Astolfo Serra faleceu, no Rio de Janeiro, em 19 de fevereiro de 1978. Em 2005, sua nora Isis Müller Serra lançou o romance Meu padre, meu amor, em que retrata, através do per- sonagem Adolfo (nome fictício) a vida amorosa, política e revolucioná- ria do autor de Gleba que canta. A vida destemida de Astolfo Serra é um exemplo de autenticidade para os vianenses. Político ardoroso, não tergiversou em nenhum momento com suas idéias revolucionárias. Ora- dor vibrante, inflamava as massas com sua eloqüência e suas idéias. A história de Viana é cheia desses belos exemplos de competência e ide- alismo. A geração jovem desta terra tem exemplos e mais exemplos a se- guir, sem sair de sua aldeia. Basta olhar para sua história. VIANA 250 ANOS DE MEMÓRIA VILA CRISTO REI O RENASCER VIANENSE O RENASCER VIANENSE ÓRGÃO DE DIVULGAÇÃO DA ACADEMIA VIANENSE DE LETRAS ANO V Nº 20 VIANA-MA, MAIO DE 2008 LOURIVAL SEREJO LANÇA NOVO LIVRO Para registrar sua experiência por mais de 15 anos em uma vara de família, o desembargador Lou- rival Serejo lançou seu livro A FAMÍLIA PARTIDA AO MEIO, em que relata os fa- tos e os dramas que chegam aos juízos de família em busca de uma solução. O livro, que traz o prefácio da psica- nalista Gisele Gro- eninga, de São Pau- lo, é uma análise sociológica e psicossocial da família que se dividiu pelo fim do casamento e do afeto, refletindo assim nos filhos que ficam privados da presença dos pais. N este ponto pri- vilegiado, na confluência de duas das ruas mais movimentadas do antigo centro comer- cial da cidade, situa- va-se a residência do tabelião e Coronel Ulisses Leopoldino Rodrigues, líder polí- tico filiado ao Partido do “Pau Roxo” e pai de um dos mais afa- mados advogados provisionados de Vi- ana e do Maranhão, Manoel Trajano Ro- drigues. Mais de uma dé- cada após o faleci- mento do antigo pro- prietário, ocorrido em 1927, o imó- vel foi adquirido pelo casal José de Oliveira Gomes e Raquima Ri- bamar da Silva Azevedo Gomes numa transação complicada por envolver interesses múltiplos de grande número de herdeiros (se- gundo Travassos Furtado, o emi- nente Coronel Ulisses deixou um total de 21 filhos e 79 netos). Em 1941, o Sr. José de Olivei- ra Gomes tomou posse definitiva do casarão, mudando-se com a família e fazendo funcionar ali um comércio varejista. Quatro anos depois, com a morte também do novo proprietário, não demorou muito para que o ponto fosse alu- gado para a filial vianense das “Casas Pernambucanas”. Por já apresentar visível dete- rioração, em 1954, os proprietá- rios decidiram demolir completa- mente o velho imóvel e construir uma nova casa (concluída dois anos depois), mantendo-se o mes- mo estilo colonial. Embora ne- nhum deles tenha nascido ali, a casa tornar-se-ia o lar de referên- cia para todos os filhos do casal José e Raquima (por ordem de nascimento: Walber, Walter, Ma- ria Antonia, Nair, Mariana, An- tonio, Belarmino, Francisco Xavi- er e Getúlio Tadeu). O mais inte- ressante, entretanto, da história deste prédio é a origem do nome “Vila Cristo Rei.” Devota fervorosa de Jesus Cristo, a matriarca da família en- contrava-se no quintal da resi- dência, certo dia, dando água para duas vacas ao lado do poço. No afã de matar a sede no pequeno balde, os dois ani- mais acabaram provocando um acidente que, por pouco, não se transformou em tragédia: na dis- puta pela água uma das vacas bateu com as costelas em D. Ra- quima, jogando-a dentro do poço. O cachorro de nome “Da- núbio”, única testemunha do aci- dente, foi quem deu o alarme e atraiu a atenção da família com seus latidos desesperados em vol- ta do local. Ao escapar milagrosamente da queda e ser retirada do poço, D. Raquima saiu louvando e dan- do vivas a Cristo Rei. Assim, a fa- mília decidiu mandar gravar na fachada da casa o nome de “Vila Cristo Rei”. Atualmente, a casa é ocupa- da por Getulio Tadeu Gomes que procura preservar com carinho este raro e belo exemplar da anti- ga fisionomia da cidade. Getúlio e seus irmãos são cientes de que a “Vila Cristo Rei” (como tantos outros imóveis coloniais que aqui existiram, mas que infelizmente su- cumbiram por irresponsabilidade de seus herdeiros), guarda fatos importantes não apenas de sua família, como inclusive da memó- ria coletiva de Viana. LUIZ ALEXANDRE POSSE DE NOVA ACADÊMICA Às 20 horas do próximo dia 24 (sábado), durante reunião solene da AVL a realizar-se na Igreja Matriz, tomará posse na Cadeira nº 27, a professora e Engenheira Agrônoma Maria da Graça Mendonça Cutrim. Em seu discurso de posse, a nova acadêmi- ca fará o elogio à sua patrona professora Jose- fina Cordeiro Cutrim (falecida no ano passa- do), que fez de sua vida uma dedicação cons- tante ao magistério vianense. Ex-diretora da Escola Normal, onde também lecionou por quase duas décadas consecutivas, a professora Graça Cutrim espera contar com a presença de todos os amigos, colegas do ma- gistério e da Casa da Agricultura, ex-alunos e da comunidade em geral. Após a cerimônia de posse, haverá apre- sentação de um recital do cantor Tadeu Carva- lho, um dos tenores mais conceituados do meio artístico maranhense.

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HOMENAGEMREPARADORA

O fórum eleitoral da 20ª Zonae Comarca de Viana, queserá inaugurado em maio

deste ano, receberá o nome de As-tolfo Serra. É a primeira homenagemque esse vianense receberá em suaterra natal.

Astolfo Henrique de Barros Serranasceu em 22 de abril de 1900. Foipoeta, jornalista, padre e escritor.Ocupou vários cargos públicos noEstado do Maranhão, culminandocom a sua nomeação para a funçãode interventor, em 1931. Pertencia àAcademia Maranhense de Letras eao Instituto Histórico e Geográficodo Maranhão. É patrono da Cadei-ra nº 3, da nossa Academia Vianen-se de Letras, ocupada por Heitor Pi-edade Júnior.

Depois que abandonou o sacer-dócio, Astolfo Serra continuou suavida aguerrida de político e jornalis-ta, chegando a ser nomeado minis-tro do Tribunal Superior do Trabalho.

Astolfo Serra deixou várias obraspublicadas, dentre as quais desta-cam-se: A Balaiada, Gleba que can-ta, A vida simples de um professorde aldeia e Terra enfeitada e rica.

Recentemente o Instituto GEIA re-publicou A Balaiada, trabalho de pes-quisa que dignificou o nome de As-tolfo Serra como historiador respei-tado em todo o Brasil. Essa obra éde especial importância para Viana,pois nela o autor faz profunda análi-se da vida de Estêvão Carvalho e dainfluência que esse vianense teve nodesencadeamento da Balaiada.

Até a presente data não havia, emViana, nenhuma homenagem a estefilho tão ilustre. Igual a essa, outrasreparações se impõem, como a Ma-nuel Lopes da Cunha, que tambémfoi governador do estado e a seu fi-lho, Raimundo Lopes da Cunha. Esteúltimo só tem um pedaço de rua emseu nome, conhecido apenas porseus moradores na hora de pôr o en-dereço nas correspondências.

Astolfo Serra faleceu, no Rio deJaneiro, em 19 de fevereiro de 1978.Em 2005, sua nora Isis Müller Serralançou o romance Meu padre, meuamor, em que retrata, através do per-sonagem Adolfo (nome fictício) avida amorosa, política e revolucioná-ria do autor de Gleba que canta.

A vida destemida de Astolfo Serraé um exemplo de autenticidade paraos vianenses. Político ardoroso, nãotergiversou em nenhum momentocom suas idéias revolucionárias. Ora-dor vibrante, inflamava as massascom sua eloqüência e suas idéias.

A história de Viana é cheia dessesbelos exemplos de competência e ide-alismo. A geração jovem desta terratem exemplos e mais exemplos a se-guir, sem sair de sua aldeia. Bastaolhar para sua história.

VIANA

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A N O S

D E

MEMÓRIA

VILA CRISTO REI

O RENASCER VIANENSEO RENASCER VIANENSEÓRGÃO DE DIVULGAÇÃO DA ACADEMIA VIANENSE DE LETRAS ANO V Nº 20 VIANA-MA, MAIO DE 2008

LOURIVAL SEREJOLANÇA NOVO LIVRO

Para registrar suaexperiência por maisde 15 anos em umavara de família, odesembargador Lou-rival Serejo lançouseu livro A FAMÍLIAPARTIDA AO MEIO,em que relata os fa-tos e os dramas quechegam aos juízosde família em buscade uma solução.

O livro, que trazo prefácio da psica-nalista Gisele Gro-eninga, de São Pau-lo, é uma análise sociológica e psicossocial dafamília que se dividiu pelo fim do casamento edo afeto, refletindo assim nos filhos que ficamprivados da presença dos pais.

Neste ponto pri-vilegiado, naconfluência de

duas das ruas maismovimentadas doantigo centro comer-cial da cidade, situa-va-se a residência dotabelião e CoronelUlisses LeopoldinoRodrigues, líder polí-tico filiado ao Partidodo “Pau Roxo” e paide um dos mais afa-mados advogadosprovisionados de Vi-ana e do Maranhão,Manoel Trajano Ro-drigues.

Mais de uma dé-cada após o faleci-mento do antigo pro-prietário, ocorrido em 1927, o imó-vel foi adquirido pelo casal Joséde Oliveira Gomes e Raquima Ri-bamar da Silva Azevedo Gomesnuma transação complicada porenvolver interesses múltiplos degrande número de herdeiros (se-gundo Travassos Furtado, o emi-nente Coronel Ulisses deixou umtotal de 21 filhos e 79 netos).

Em 1941, o Sr. José de Olivei-ra Gomes tomou posse definitivado casarão, mudando-se com afamília e fazendo funcionar ali umcomércio varejista. Quatro anosdepois, com a morte também donovo proprietário, não demoroumuito para que o ponto fosse alu-gado para a filial vianense das“Casas Pernambucanas”.

Por já apresentar visível dete-rioração, em 1954, os proprietá-rios decidiram demolir completa-mente o velho imóvel e construiruma nova casa (concluída doisanos depois), mantendo-se o mes-mo estilo colonial. Embora ne-nhum deles tenha nascido ali, acasa tornar-se-ia o lar de referên-cia para todos os filhos do casalJosé e Raquima (por ordem denascimento: Walber, Walter, Ma-

ria Antonia, Nair, Mariana, An-tonio, Belarmino, Francisco Xavi-er e Getúlio Tadeu). O mais inte-ressante, entretanto, da históriadeste prédio é a origem do nome“Vila Cristo Rei.”

Devota fervorosa de JesusCristo, a matriarca da família en-contrava-se no quintal da resi-dência, certo dia, dando águapara duas vacas ao lado dopoço. No afã de matar a sedeno pequeno balde, os dois ani-mais acabaram provocando umacidente que, por pouco, não setransformou em tragédia: na dis-puta pela água uma das vacasbateu com as costelas em D. Ra-quima, jogando-a dentro dopoço. O cachorro de nome “Da-núbio”, única testemunha do aci-dente, foi quem deu o alarme eatraiu a atenção da família com

seus latidos desesperados em vol-ta do local.

Ao escapar milagrosamenteda queda e ser retirada do poço,D. Raquima saiu louvando e dan-do vivas a Cristo Rei. Assim, a fa-mília decidiu mandar gravar nafachada da casa o nome de “VilaCristo Rei”.

Atualmente, a casa é ocupa-da por Getulio Tadeu Gomes queprocura preservar com carinhoeste raro e belo exemplar da anti-ga fisionomia da cidade. Getúlioe seus irmãos são cientes de quea “Vila Cristo Rei” (como tantosoutros imóveis coloniais que aquiexistiram, mas que infelizmente su-cumbiram por irresponsabilidadede seus herdeiros), guarda fatosimportantes não apenas de suafamília, como inclusive da memó-ria coletiva de Viana.

LUIZ ALEXANDRE

POSSE DE NOVAACADÊMICA

Às 20 horas do próximo dia 24 (sábado),durante reunião solene da AVL a realizar-se naIgreja Matriz, tomará posse na Cadeira nº 27, aprofessora e Engenheira Agrônoma Maria daGraça Mendonça Cutrim.

Em seu discurso de posse, a nova acadêmi-ca fará o elogio à sua patrona professora Jose-fina Cordeiro Cutrim (falecida no ano passa-do), que fez de sua vida uma dedicação cons-tante ao magistério vianense.

Ex-diretora da Escola Normal, onde tambémlecionou por quase duas décadas consecutivas,a professora Graça Cutrim espera contar com apresença de todos os amigos, colegas do ma-gistério e da Casa da Agricultura, ex-alunos eda comunidade em geral.

Após a cerimônia de posse, haverá apre-sentação de um recital do cantor Tadeu Carva-lho, um dos tenores mais conceituados do meioartístico maranhense.

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2 Viana(MA), – maio de 2008O RENASCER VIANENSEO RENASCER VIANENSE

Cartarecebida

São Luís, 26 de abril de 2008. Luiz, caro amigo,

É sempre com esperançade boas notícias que receboo Renascer Vianense. Mas, in-felizmente este (nº 19) deixou-me triste, pois se constata quenossa sociedade, os adminis-tradores e legisladores de nos-sa querida Viana não têmcompromisso ou mesmoconsciência da importânciade preservá-la como cidadetombada pelo valor históricoque ela é para o nosso Esta-do e, sobretudo, como umambiente que precisa ser pre-servado para garantir a vidade seus habitantes. A decep-ção de Ivane Furtado, em suacarta na edição do Renascerde fevereiro passado, descre-ve uma cidade em ruínas.

Também eu, cada vez queretorno, volto com a sensa-ção de uma cidade agonizan-te, uma cidade que já perdeutoda vegetação que a contor-nava, como a mata do Que-bra-Coco, as araribeiras dovelho areal etc...

Agora para acelerar o rit-mo dessa agonia, asfalta-seruas do centro histórico, cons-trói-se prédios que agridem asua arquitetura original semnenhum respeito à lei, alte-rando-se uma área tombadade forma criminosa, como foio caso da construção do TRE.

Não posso ficar calada enem tão pouco ignorar a fal-ta de consciência de nossopovo, como se tudo fosse ape-nas responsabilidade dos po-deres constituídos. Em 1988(era Coordenadora de Desen-volvimento do PatrimônioCultural Histórico e Artísticodo Estado), senti orgulho aodespachar o processo de tom-bamento de nossa Vianacomo cidade histórica, poisnaquele momento acreditavaestar contribuindo com umdocumento para que nossaterra, por força de LEI fosseprotegida e assim evitada asua depredação.

Vinte anos depois, ao in-vés de estarmos comemoran-do, estamos lamentando asruínas, conseqüência de seuabandono pelos poderesconstituídos e pela indiferen-ça de um povo que, atual-mente, parece ignorar tam-bém a sua própria responsa-bilidade diante da sua casamaior: a cidade, permitindoe ajudando a “enterrar” suaprópria história.

A propósito, por ondeanda o Comitê de Defesa doPatrimônio vianense? Nãohavia sido reativado? Por quenão aproveitam a passagemdos 20 anos do tombamentopara ministrarem palestras eoficinas nas escolas, entidadese associações comunitárias?

Espero através desta sen-sibilizar a todos aqueles que,como cidadãos vianenses, têmo direito e dever de reivindi-car junto às autoridades com-petentes providências para apreservação de nossa Viana.

Maria de Jesus AzevedoBezerra Meireles

Pedagoga

Padre Antônio Vieira e o MaranhãoJoão Mendonça Cordeiro

Padre Antônio Vieira, a perso-nalidade luso-brasileira doséculo XVII, cujo quarto centenário de nascimento se co-

memora neste ano, nasceu em Lis-boa (Portugal), em 6 de fevereiro de1608 e, aos sete anos, mudou-separa o Brasil com a família, pois opai fora nomeado Escrivão da Rela-ção da Bahia. Em Salvador, estudouno Colégio dos Jesuítas, tornando-se, também, jesuíta, em dezembro de1635, aos 27 anos de idade.

O padre Antônio Vieira passoupelo Maranhão, qual meteoro, du-rante apenas 8 dos seus 89 anosde existência, mas ficaram indelé-veis as marcas de sua presença,entre nós, como orador, diplomatae administrador.

Em São Luís, nas igrejas de San-to Antônio (Capela de Bom Jesus dosNavegantes), de Nossa Senhora daLuz (atual Sé), de Nossa Senhora doCarmo, no Convento das Mercês eno Colégio dos Jesuítas, proferiu 17sermões, dos quais alguns se cele-brizaram como o de Santo Antônio,conhecido como “Sermão aos Pei-xes” e da Quinta Dominga da Qua-resma de 1654, quando lembrou:

“Que letra tocaria ao Mara-nhão? Não há dúvida que o M: M,Maranhão, M, murmurar, M, mo-tejar, M, maldizer, M, malsinar, M,mexericar e sobretudo M, mentir:mentir com as palavras, mentir com

as obras, mentir com os pensamen-tos, que de todos e por todos osmodos aqui se mentem”.

Como diplomata, viajou a Lisboapara denunciar os maus tratos quesofriam os nossos indígenas, conse-guindo na Corte Portuguesa a liber-dade para os mesmos e que ficas-sem sob a jurisdição exclusiva dosjesuítas, em aldeias, também deno-minadas missões.

Como administrador, preocupou-se com a solução de três problemasfundamentais do Maranhão: 1º coma saúde, distribuindo aos enfermosremédios que trouxera, pois ainda nãohavia médico em São Luís; 2º com aeducação, transformando as missõesjesuíticas em centros de ensino múlti-plo, nas quais ensinava-se leitura,escrita, cálculo, letras e artes, assimcomo variados ofícios (tecelagem, car-pintaria, ferraria e tanoaria), além deconhecimentos agro-pecuários; 3ºcom a economia, fundando missõescomo a de Capitiba, nas cabeceirasdo Rio Pindaré, depois transferida,com sucesso, para o Maracu, ondefoi denominada Aldeia de Nossa Se-nhora da Conceição do Maracu e,mais tarde, elevada à categoria deVila com o nome de Viana.

Vale ressaltar a fundação, em1653, do Hospital da Santa Casa deMisericórdia pelo padre Antônio Vi-eira e de sua atuação como Superi-or do Colégio da Companhia de Je-sus. Em pouco tempo, o colégioapresentar-se-ia como verdadeirauniversidade, ofertando cursos de Hu-

manidades, Filosofia, e Teologia. Em1709, a instituição chegou a conce-der graus de bacharelato, licencia-tura e doutorado.

Em uma de suas admiráveis car-tas, o religioso registrou uma infor-mação surpreendente: “Sei a línguado Maranhão e a portuguesa’’. Queidioma seria esse? Já seria a “mara-nhensidade’’? Como as suas homi-lias, em São Luís, deveriam ser diri-gidas a um público seleto da popu-lação local, o padre Vieira certamen-te usava uma linguagem apropria-da ao entendimento do auditório,quem sabe, mesclada com termosindígenas ainda hoje comuns emnossa comunicação.

A relação do padre Antônio Vi-eira com o que ele mesmo chama-va “meu desejado Maranhão’’ eradialética, no sentido exposto pelo fi-lósofo alemão Hegel: de antítese, derecriminação, de contradição à si-tuação reinante de desmandos, men-tiras, ociosidade e politicagem quecondenava, de todos os modos, nasácidas palavras de seus sermões ecartas.

Coerente com suas palavras,todo o seu empenho e apostoladoestavam sempre voltados para a bus-ca de uma melhoria, da síntese quepudesse reunir um Maranhão hones-to, trabalhador, temente a Deus, jus-to, livre e verdadeiro.

Enfim, como ressalta Jomar Mo-raes: “ Vieira era o Paiaçu (padregrande) dos indígenas que lhe ti-nham verdadeira adoração’’.

CONHECENDO OS SÍMBOLOS E

MONUMENTOS DE NOSSA CIDADE

Bloco de pedra docruzeiro da Matriz

O cruzeiro situado em frente à Igreja Matriz ostentaum importante símbolo do período da colonização jesuíti-ca na antiqüíssima Aldeia de Maracu. Trata-se do blocode granito, no qual se encontra gravado um círculo den-tado em forma de escudo, tendo no centro, encimado poruma cruz, as letras IHS.

Ao longo do tempo, as pessoas passaram a “traduzir”aquelas letras como sendo as iniciais da expressão “JesusHóstia Sagrada”. Na verdade, a inscrição vem do latim esignifica Iesus Hominum Salvator, que quer dizer “JesusSalvador do Mundo”.

Este bloco de pedra, antes encravado na antiga fa-chada da Igreja Matriz, foi arrancado durante uma dasdesfigurações sofridas pelo templo na primeira metade doséculo passado. Segundo Ozimo de Carvalho, o bloco sónão se perdeu “por causa do amor de Antônio Lopespelas coisas de sua terra”, conseguindo o renomado pro-fessor e intelectual vianense que o bloco fosse embutidona base do cruzeiro (conforme matéria intitulada Nos pri-mórdios de Viana, publicada em 8/7/1957, pelo jornal“Cidade de Pinheiro”, edição comemorativa do bicente-nário de Viana).

De grande significado para a memória desta cidade ehoje um dos raros (e por isso preciosos) símbolos de nos-so passado, é importante que a população vianense tomeconhecimento do valor histórico deste pequeno monu-mento, a fim de que sua preservação se torne garantida.

POLLYANNA – 25 anos

Filha de Raimundo Antonio Mendonça (Catu) eIracema Gouveia Mendonça, Pollyanna GouveiaMendonça comemorou a passagem de seus 25 anos,no último 18 de março, com uma novena rezada aolado dos parentes e amigos mais chegados.

O local escolhido não poderia ter sido mais con-dizente com um costume católico tão antigo: o ve-lho casarão que até o final do século XIX era deno-minado “Solar dos Lopes da Cunha” (posteriormen-te, já no século XX, tornou-se mais conhecido comoresidência do Sr. Benedito Gomes e sua esposa, D.Maroca Cunha).

Presentes ao ato, além da mãe, tios e avó da ani-versariante, D. Maria do Socorro Fernandes Gouveia(84 anos), estavam também o Sr. José Soeiro e suafilha, Lucia Soeiro, D. Terezinha e Dirce Costa, TatianaCarvalho e a professora Socorro Serejo Cutrim.

Pollyanna é graduada em História pela UFMA econcluiu ano passado, no Rio de Janeiro, o mestradopela Universidade Federal Fluminense. Atualmente,além de lecionar nos cursos de História ofertados peloPQD (Programa de Qualificação de Docentes daUEMA), em várias cidades do interior maranhense, ajovem historiadora encontra-se em fase de pesquisapara a tese que lhe dará o grau de “Doutora emHistória” pela mesma instituição universitária flumi-nense. Tal pesquisa, inclusive, requer uma viagem aPortugal (programada para outubro próximo), ondedeverá permanecer por alguns meses.

Para uma cidade centenária como Viana e tãocarente de pesquisadores devidamente qualificados,Pollyanna certamente representa uma grata e promis-sora esperança entre a nova geração de vianenses.

LUIZ ALEXANDRE

LUIZ ALEXANDRE

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3Viana(MA), – maio de 2008 O RENASCER VIANENSEO RENASCER VIANENSE

O prefeito Rilva Luís apre-senta, à coletividadevianense, as principaisobras que estão sendo

executadas, os projetos já aprova-dos e, finalmente, aqueles que seencontram em fase de aprovação.

Neste final de gestão, o bairroda Piçarreira tornou-se um dos pó-los de especial atenção do podermunicipal. Por abrigar centenas defamílias de baixa renda, a Prefei-tura de Viana conseguiu incluir oreferido bairro no projeto de urba-nização de assentamento precáriodo Ministério das Cidades, anga-riando um investimento no valor deR$2.000.000,00 (dois milhões dereais), os quais serão utilizados emobras e melhorias urbanísticas (aprefeitura entra com 5% do valorde cada obra).

Dessa forma, pelos próximosmeses, a Piçarreira será transforma-da num grande canteiro de obrascom a construção de 113 casas po-pulares (a empresa vencedora daconcorrência já deu início à cons-trução de 30 casas), substituição darede de energia elétrica danifica-da e pavimentação asfáltica dasvias públicas, incluindo a constru-ção de meio-fios e sarjetas.

Vale ressaltar que 2% do valordo investimento total será aplicadono social, através de cursos de arte-sanato, produção de cerâmica, em-preendorismo social, cooperativis-mo entre os beneficiários etc. A Pre-feitura, que já apresentou outro pro-jeto para construção e melhoria demais 100 unidades habitacionais nomesmo bairro, irá conceder tam-bém os títulos definitivos de posseaos novos proprietários.

No bairro da Citel serão cons-truídas 90 melhorias sanitárias do-miciliares (banheiros com vaso echuveiro) em casas previamente se-lecionadas pela Fundação Nacio-nal de Saúde – Funasa. Até o mo-mento, já foram construídas e en-tregues à comunidade 50 dessasmelhorias sanitárias.

É importante esclarecer aindaque todas as obras em parceria coma Caixa Econômica Federal (cons-trução de casas, pavimentação, me-lhorias na rede elétrica etc) somentetêm seus recursos repassados me-diante medição, realizada por fun-cionários da própria caixa. Os cus-tos da construção são todos ban-cados pela empresa vencedora ecom a contrapartida da prefeituramunicipal, conforme apresentadono projeto de engenharia.

Melhor abastecimentod’água – Até o final de junho vin-douro, conforme informação pres-tada pela assessoria da Prefeiturade Viana, estarão sendo iniciadasas obras de construção de um novosistema de tratamento d’água noSAAE e um novo sistema de capta-ção no Igarapé do Engenho. A se-gunda etapa deste projeto – já emfase de aprovação e empenho jun-to à Funasa, de acordo com Beni-to Coelho – engloba a construçãode uma nova adutora de água tra-tada e uma caixa d’água com ca-pacidade de dois milhões e qua-trocentos mil litros na Piçarreira(ponto mais alto do perímetro ur-bano, o que facilitaria a pressão evazão d’água para toda a cida-de), para atender a demanda atu-al da população.

PREFEITURA APRESENTA PROJETOS E OBRASO novo matadouro – Um

dos problemas cruciais da popu-lação deverá igualmente ser resol-vido com a construção de umnovo matadouro numa área já es-colhida de cinco hectares, situadanas proximidades do Bacurizeiro.

Selecionado pelo Ministério daAgricultura, o projeto, depois deapresentado seu plano de traba-lho junto à Caixa Econômica,aguarda autorização para entre-ga da documentação completa.

Benfeitorias diversas –A Vila Zizi também ganha novovisual com o calçamento de algu-mas artérias e a Rua dos Amores(atrás do SAAE) igualmente rece-be o calçamento de pedras. Ou-tras 29 casas populares estão sen-do construídas em bairros distin-tos, no intuito de melhor atenderà faixa de baixa renda.

Um outro projeto já aprovadoe empenhado refere-se à pavi-mentação asfáltica dos bairrosSanta Eulália, Caic, Enseada doBelo, Careca, algumas ruas do Vi-nagre, Vila Zizi, Cital, Mutirão eparte da estrada das Colhereiras.

Entre os projetos aprovadosencontram-se ainda a construçãode um terminal rodoviário no fi-nal da Av. Jorge Abraão Duaili-be (que visa atender os passagei-ros vindos da zona rural e dimi-nuir o fluxo de veículos na Barrado Sol) e a construção de mais57 melhorias sanitárias no povo-ado do Prequeú.

Em fase de aprovação– aguardando o sinal verde dosrespectivos Ministérios ou Secreta-rias, encontram-se os seguintesprojetos:

- Construção de uma praça deeventos e urbanização da Av. Luizde Almeida Couto.

- Urbanização da área doPoço do Pará (local de grande sig-nificado para a história de Viana).

- Construção de dois postos desaúde em povoados da zona rural.

- Construção de 38 casas po-pulares no bairro da Vila 44 (atrásdo bairro Mutirão).

Outras obras realizadas comrecursos próprios da prefeitura deViana são a Escola Municipal Pas-coal Possidônio Gomes (já inau-gurado no Povoado dos Baías) eo Ginásio Poliesportivo que estásendo reformado e muito em bre-ve será entregue aos amantes doesporte em nosso município.

Casas populares em fase de acabamento no bairro da Piçarreira.

Rua sendo calçada na Vila Zizi.

O ginásio de esportes, na Baixa dos Carvalhos,ganhou nova pintura e melhorias internas.

Escola da zona rural situada no Povoado dos Baías.

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4 Viana(MA), – maio de 2008O RENASCER VIANENSEO RENASCER VIANENSE

SÃO CRISTÓVÃOUm caldeirão da mais genuína cultura vianense

LUIZ ALEXANDRE RAPOSO

Situado à margem leste do lago de Maracaçumé,distante cerca de 50 quilômetros de Viana, opovoado de São Cristóvão já se tornou alvo depesquisas por parte de antropólogos (inclusive

estrangeiros, como foi o caso da suíça, Sandra Car-men Re, que morou no povoado por mais de dois anos),sociólogos e estudiosos de áreas afins.

O povoamento da localidade teve origem no en-genho de açúcar de propriedade do Sr. Mariano Sousae no núcleo de 100 escravos que ali trabalhavam noplantio da cana e na fabricação do açúcar mascavo eaguardente. Com a assinatura da lei áurea, em 1888,o proprietário do engenho faliu e se mudou para Via-na, abandonando a Casa Grande, a qual ficaria desa-bitada por longo tempo.

Depois de conquistarem a liberdade, mas isola-dos naquele distante lugarejo, os negros passaram aviver do cultivo da terra e da abundante caça e pesca,ofertadas pela natureza generosa da região. Oriun-dos em sua grande maioria da Guiné, os integrantesda nova comunidade conseguiram manter seus ritosreligiosos e seus mais originais costumes por muitase muitas décadas.

Segundo pesquisa feita pelo Sr. José Soeiro e pu-blicada recentemente no livro “Viana te amarei portoda a vida”, as terras de São Cristóvão foram com-pradas, em 1906, por alguns ex-escravos e registra-das no Cartório do tabelião Ulisses Leopoldino Ro-drigues, em Viana.

O Dr. Sálvio Mendonça, neto do antigo senhorde engenho, no livro de memórias “História de umMenino Pobre”, relata seu contato direto com a cole-tividade de São Cristóvão, acontecido no ano de 1902,quando tinha apenas 10 anos de idade. O então ga-roto foi levado pela tia e madrinha Antonina que, porquestões econômicas, resolvera deixar Viana paramorar na Casa Grande abandonada em companhiado marido, João Araújo.

Essa interessante experiência renderia marcanteslembranças ao futuro médico e cientista, como é fácilde perceber pelas várias páginas de suas memóriasdedicadas à cultura singular de São Cristóvão (a títulode sugestão, vale a leitura dos capítulos XII, XIII e XIV dacitada obra, pela riqueza de detalhes sobre o povoado,o condomblé, a festa do Divino e o Bumba-meu-boi alirealizados no início do século passado).

O Divino Embarcado - Talvez por não pos-suir a pompa e o glamour do Divino de Alcântara, atambém secular e tradicional festa do Divino Embarca-do de São Cristóvão permaneça ainda desconhecidado grande público maranhense.

Realizada na quinta-feira em que o catolicismocomemora a Ascensão do Senhor (data móvel, masque sempre cai entre os meses de maio e junho), quan-do os lagos estão cheios, a comunidade remanescen-te do antigo engenho, ao longo dos últimos 150 anos,adaptou os festejos do Divino à geografia local, intro-duzindo embarcações enfeitadas de bandeirolas co-loridas para o transporte da pombinha branca e deseu séqüito de caixeiras. Daí, o nome de festa doDivino Embarcado.

O culto à terceira pessoa da Santíssima Trindadecomeça de véspera, na quarta-feira, iniciando-se o diacom alvorada, missa, transporte do mastro para umlugarejo vizinho e toques de caixa por toda noite. Naquinta, quando convidadas, comissões de caixeiras dascidades e localidades próximas são recebidas pelosorganizadores. Ao toque de caixas, cada grupo quechega tem de pedir permissão para participar da festa.Após o almoço, realiza-se a animada procissão lacus-tre, sob os estampidos constantes dos foguetes. Duasembarcações, diferenciadas pela cor de seus estandar-tes, seguem na frente: a que leva na proa a bandeira decor branca transporta a salva com a pombinha e umgrupo de caixeiras; no barco de estandarte vermelhosegue a coroa do Espírito Santo e um segundo grupode caixeiras. Todo o percurso sobre as águas é anima-do pelas cantorias e batidas das caixas.

No vizinho povoado de Prequeú, os integrantes daprocissão saltam e se dirigem a uma das casas, sempreao som das caixas e das toadas tiradas pelas mulheres(os homens atuam como coadjuvantes carregando osestandartes, tocando fogos, transportando o mastroou conduzindo os barcos). Na porta, os donos da casavisitada recebem a pombinha e a coroa das mãos dascrianças e as colocam sobre a mesa da sala.

Durante o resto da tarde, intercaladas por peque-nas pausas, as caixeiras prestam louvor ao Divino. An-tes do anoitecer, trazendo o grande mastro em um dosbarcos, a procissão faz o caminho de volta a São Cris-tóvão. No porto, depois de recepcionados pelo impe-rador, imperatriz e mordomo, seguem em direção àpequena igreja, onde a cantoria e o batuque das caixei-ras se estendem até a madrugada.

Tudo isso serve apenas de preparação para a ver-dadeira festa do Divino, que se realiza em novembro,quando novamente o som das caixas se faz ouvir emSão Cristóvão. A diferença entre os dois eventos ficapor conta da procissão embarcada, a qual só aconteceno inverno. Em novembro, a procissão é realizada a pépelos campos em volta do povoado.

O Bumba-boi – Uma das coisas que chamou aatenção da antropóloga suíça foi o fato de aproxima-damente 80% dos moradores de São Cristóvão possu-írem o sobrenome “Sousa”. Tal fato poderia encontrarexplicação na justificativa apresentada pela maioria dosestudiosos de comunidades negras. De acordo comestes pesquisadores, os escravos não possuíam sobre-nome. Assim, após a abolição da escravatura, ao pro-curarem os cartórios para obtenção de seus registros,normalmente adotavam o sobrenome de seus antigosproprietários (ou quando não, optavam por nomes desantos, árvores ou animais silvestres). É interessantelembrar aqui que o antigo dono do engenho de SãoCristóvão se chamava Mariano Sousa.

Pesquisas à parte, o mais importante é que esta

comunidade soube preservar seus costumes e tradi-ções por mais de um século. O bumba-boi é outroexemplo disso, pois segundo contam os organizado-res do “Boi Nossa União”, a brincadeira vem de tem-pos remotos. Paralisado por alguns anos, o boi res-surgiu com força total sob a liderança do falecidoDiomar Leite e há 18 anos vem urrando e fazendobonito nos terreiros do Maranhão. Em São Luís, apre-senta-se há mais de uma década e por sua beleza ehoje rara autenticidade, alcançou o nível do Grupo“A” da Secretaria Estadual de Cultura, colocando-seao lado de batalhões tradicionais da ilha, como osbois da Maioba e do Maracanã ou dos bois de or-questra de Morros e Axixá.

O atual líder do grupo, Jose Manoel Sousa, o popu-

Por sua história singular, cultura diversificada e aprazível localização, o povoado de São Cristóvão destaca-se –neste começo do século XXI – como uma das mais importantes e significativas comunidades do município de Viana

No povoado de Prequeú, sob o toque das caixeiras, o Divino chega para a visitação.

No lago de Maracaçumé, a procissão do Divino segue puxada por duas embarcações: a debandeira branca na proa conduz a pombinha e a de bandeira vermelha, a coroa do Espírito Santo.

Os donos da casa visitada recebem asimagens da coroa e da pombinha branca.

Sandra Carmen Re ao lado dacaixeira Sabina Sousa Travassos

FOTOS: LUIZ ALEXANDRE

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BUMBA-BOI DE FAMAINTERNACIONALEm interessante matéria escrita por San-

dra Carmen Re para a Revista TSANTSA (Re-vista da Sociedade Suíça de Etnologia), nº10, Zurique, 2005 (págs 133-151), fotos empreto e branco do Bumba-boi de São Cristó-vão (como as abaixo reproduzidas), clicadaspela própria antopóloga, exibem a belezaplástica do folclore vianense.

5Viana(MA), – maio de 2008 O RENASCER VIANENSEO RENASCER VIANENSE

SÃO CRISTÓVÃOUm caldeirão da mais genuína cultura vianense

• O texto (em francês) da matéria acima men-cionada encontra-se disponível no endereço:http://site.voila.fr/scarm/tsantsa10.pdf

• O restante das fotos pode ser visto no site:http://site.voila.fr/scarm/BUMBA.html

Descendente de italianos, a suíça SandraCarmen Re (que morou no povoado de março/

1998 a novembro/2000, colhendo subsídiospara sua tese de doutorado em Antropologia),

com os primos Maurício e Patrícia no colo.

João Sousa - Arraial Praia Grande - S. Luís - 27/06/2000

Cazumbás (João e José Teodoro)Arraial do IPEM - S. Luís - 25/06/2000

Meninos vaqueiros - Arraial do IPEM - S. Luís - 25/06/2000

lar “Baeco” fala com orgulho do brilho maior de suacomunidade e não é para menos. Composto de 150brincantes o “Nossa União” traz em suas fileiras o pa-trão, o amo, pai Francisco, mãe Catirina, cazumbas, ín-dias, caboclos de pena, burrinhas, cacique rolador doboi, carregadeira de santo, bailantes homens, bailantesmulheres e vaqueiros.

Preocupado com o futuro deste caldeirão de cultura,

Por sua história singular, cultura diversificada e aprazível localização, o povoado de São Cristóvão destaca-se –neste começo do século XXI – como uma das mais importantes e significativas comunidades do município de Viana

A beleza do boi “Nossa União” de São Cristóvão.

Pandeirões, tambores-onça e matracas soam forte no São João de São Cristóvão.

o Sr. José Soeiro lembra que as novas gerações dos Sou-sa e dos Leite, “que aumentam cada vez mais com o nas-cimento de netos e bisnetos”, têm a obrigação de darcontinuidade à tradição cultural de São Cristóvão. A jul-gar pelo esboço da tese da antropóloga Sandra CarmenRe, provavelmente essa não será uma tarefa difícil, pois omodelo de educação infantil observado na comunidadede São Cristóvão induz meninos e meninas a respeitaremos pais e seguirem o exemplo dos mais velhos.

Jovens da própria comunidadetornam-se “índias” no mês de junho.

Caboclos de penas representam outraala forte do boi “Nossa União”.

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6 Viana(MA), – maio de 2008O RENASCER VIANENSEO RENASCER VIANENSE

Posse de Benedito Francisco Silva na AVLImpossibilitado de vir a Viana por problemas de saúde,

o jornalista teve sua posse oficializada no Rio de Janeiro

Acadeira de nº 26 da AVLjá possui titular desde odia 25 de abril próximopassado, quando, em

cerimônia realizada excepcional-mente na cidade do Rio de Janei-ro, o jornalista aposentado Bene-dito Francisco Silva foi empossadona presença de significativo núme-ro de vianenses que prestigiaramo evento.

Realizada no auditório do Sin-dicato dos Servidores Públicos Fe-derais, à Av. 13 de maio, nº 13(10º andar), centro do Rio, às 18horas, a cerimônia foi presidida in-terinamente pelo acadêmico Hei-tor Piedade Júnior que contou coma ajuda do também acadêmicoPedro Mendengo Filho, fazendo àsvezes de secretário.

Em virtude da idade e da saú-de fragilizada que o impossibilita-vam de vir a Viana, o veterano jor-nalista vianense teve sua posse ofi-cializada no Rio de Janeiro, gra-ças à compreensão de todos osmembros desta agremiação cultu-ral e principalmente do empenhodos amigos e confrades residentesnaquela cidade.

Emocionado, mas tranqüilo,Benedito Francisco Silva fez o dis-curso de posse exaltando a figurade seu patrono, o padre Constan-tino Trancoso Vieira, sacerdote vi-anense que marcou presença nahistória eclesiástica do Maranhãonão somente pelos dons de exímioorador, como pelo testemunho devida cristã e ativo engajamento napolítica da época.

Após a execução do Hino Via-nense (aplaudido entusiasticamen-te pela assistência), o novo acadê-mico foi saudado pelo advogadoJosé Antonio Castro. De maneirasimples e objetiva, José Antoniosoube realçar a vida de lutas e vi-tórias desse ex-seminarista que, umdia, deixou o Maranhão em bus-ca da realização profissional na“Cidade Maravilhosa” e que, nes-se momento, recebia as homena-gens de sua terra distante.

Ao final da cerimônia, en-quanto um coquetel era servidoaos presentes, Benedito Francis-co recebia as congratulações dosparentes e amigos, tendo comofundo musical o Hino da AVL (deautoria do também acadêmicoRaimundo José Nunes Mendon-ça - Seu Nunes).

* * *Quarto filho do casal Francisco

de Sales Silva e Justina da CunhaSilva, Benedito Francisco Silva nas-ceu em Viana no dia 23 de outu-bro de 1913. Estudou no Seminá-rio Santo Antônio, em São Luís,onde concluiu o curso superior emCiências Filosóficas.

Em 1943, migrou para a en-tão Capital Federal, iniciando aliuma trajetória profissional bem-su-cedida na área da ComunicaçãoSocial. Foi radialista, repórter e até

Compondo a mesa a Sra. Filomena Silva Paulsen (filha do homenageado) e os acadêmicos Estêvão Maya-Maya,Heitor Piedade Júnior (que presidiu a reunião), José Antonio Castro e Pedro Mendengo Filho.

Acompanhado pelos acadêmicos Estevão Maya-Maya e José Antonio Castro,o jornalista Benedito Francisco Silva faz sua entrada solene no recinto.

Parte da colônia vianense, radicada no Rio, que prestigiou o evento (daesquerda para a direita) – de pé: Ademar Vieira Maia, Nonato e Edmilson

Cutrim, Alvarino Costa Guimarães (Vavá), Carlos Sérgio MenezesMendes, Iolete Cutrim, Pedro Mendengo, João Batista Borges Neto(Joãozinho de Rosa Sauaia), Luís Rosa Castro (Camarão), Luís Maia,Virgínia Castro e João Garcia Filho; sentados: Davi Mendonça, José

Antonio Castro e Benedito Francisco Silva.

Benedito Francisco Silva, quando sepreparava para fazer o elogio aoseu patrono, padre Constantino

Trancoso Vieira.

José Antonio Castrosaudando o novo acadêmico.

assistente de direção artística nasvárias rádios em que trabalhou. Em1956/58 fez o curso de RelaçõesPúblicas e Jornalismo, promovidopelo Departamento Administrativodo Serviço Público (Dasp), o quelhe capacitaria e daria oportunida-de de integrar a Assessoria de Im-prensa do Ministério da Saúde porcinco anos consecutivos.

Casado com a senhora Marga-rida Lauleta Silva (falecida no anopassado), pai de uma filha e avôde um neto, Francisco Benedito Sil-va, aos 94 anos de idade, tornou-se o mais novo imortal vianense.

FOTOS: BERNARDO SILVA PAULSEN

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7Viana(MA), – maio de 2008 O RENASCER VIANENSEO RENASCER VIANENSE

UM ACADÊMICO, UM PATRONO

José Henrique Nogueirade Carvalho e Leonel Alves

de Carvalho (*)

Filho de Antônio Francisco No-gueira e de Etelvina Rosa SoeiroNogueira, de tradicionais famí-

lias vianenses, Raimundo João No-gueira nasceu em Viana a 8 de se-tembro de 1866 (um ano antes dafamosa insurreição de escravos),quando a cidade vivia o auge de seuapogeu econômico.

Aos 23 anos, em 30 de novembrode 1889 (quinze dias após a Procla-mação da República brasileira), Rai-mundo Nogueira casou-se com a jo-vem Leopoldina Rosa de Carvalho ecom ela residiu à Rua Coronel Cam-pelo, esquina com a Alteredo Noguei-ra, em casa própria, grande e confor-tável, de vasto quintal com árvores fru-tíferas e estrebaria para cavalo-de-sela,privilégio, na época, de pessoas abas-tadas e de nível social destacado. Docasamento nasceram (todos em Via-na) os filhos: Alteredo, Messias Augus-to, Raimundo Nonato, Maria da Gra-ça, Etelvina, Antônio Francisco, Mar-garida Sabóia e Benedito.

Raimundo Nogueira foi capitão daGuarda Nacional da Comarca de Vi-ana, título concedido pela 3ª Delega-cia da comissão de Organização dasForças de 2ª Linha, do Ministério daGuerra, a cidadãos de ilibada con-duta, comprometido com a defesa daPátria e identificado com os lídimosideais republicanos e democráticos.

Na vida pública foi Fiscal de Con-

sumo, versão an-tiga de Fiscal deTributos federais,do Ministério daFazenda. Rigorosocumpridor da Lei ezeloso da funçãoque exercia, ja-mais, todavia, foii n t r an s i gen te ,quando seu dis-cernimento assimrecomendava. Noexercício do cargo,viajou pelo Mara-nhão, do litoral aosertão, onde an-gariou amigos gra-ças ao exemplo delisura e ao respei-to que, reciproca-mente, o fez respei-tado. A 7 de julho de 1930 foi trans-ferido de Viana para a cidade de Ca-japió, ficando em seu lugar o agentefiscal Juvenal Bastos.

Mundico Nogueira, como era ca-rinhosamente chamado pelos conter-râneos, fez da bondade e da honesti-dade a bandeira de seu comporta-mento, tanto como pacato cidadãoquanto na condição de homem pú-blico. Viveu para a família e para osconcidadãos, amando a arte da mú-sica, cujo aprendizado incentivavaentre os jovens discípulos. Repleto desensibilidade de artista que lhe inun-dava a alma, foi maestro, compositore músico – um virtuoso ao dedilharqualquer instrumento de corda de suaépoca e de seu lugar. Sua memória

se eternizou noenorme volumede composiçõesmusicais – eru-ditas, popularese sacras – por eleproduzidas. É dese lamentar quea maioria, pelomenos aparente-mente, se te-nham perdido.Daquelas de quese tem notícias,apenas cinco seencontram rela-cionadas no In-ventário do Acer-vo João Moha-na (Partituras,pág. 53, item142) do Arquivo

Público do Estado do Maranhão. Aliestão catalogadas, sob os númerosde 1485/95 a 1489/95, as seguintespeças sacras: Kirie e Pater; TantumErgo; Hino à recepção de Dom Hel-vécio e Ó Salutaris Hostia (esta últi-ma datada de Viana, 24/6/1911 ecomposta para vozes – 1º sopranose tenor; instrumentação – 1º e 2º cla-rinetes, 1º e 2º violinos e flauta). Forado estilo sacro, integra o mesmo acer-vo a Sinfonia 1º Movimento. Com-pôs também a letra e música do Hinoa São Sebastião e do Hino a São Tar-císio. Durante anos, encarregou-sedos festejos em louvor a Bom Jesusda Coluna, na Igreja de São Benedi-to.

O filho primogênito, Alteredo No-

RAIMUNDO NOGUEIRA

Talento e sensibilidade a serviço da Música

Luiz Alexandre Raposo

Joaquim de Oliveira Gomes,4º e penúltimo filho de Joa-quim Cutrim Gomes e Enide

de Oliveira Gomes, nasceu em Vi-ana, em 18 de setembro de 1961.

Alfabetizado pela própriamãe, logo foi encaminhado paraas mãos das professoras ZeílaCunha Lauletta e Izidorinha Furta-do, antes de ingressar na escolaoficial, aos oito anos de idade.Em 1969, ingressou no extintoGrupo Escolar São Sebastião,para fazer o antigo primário. Des-se período, guarda lembrançascarinhosas das professoras MariaAntonia Gomes, Luiza Gomes,Maria Sousa, Ovídia, Marisete eLucimar Gonçalves. Em 1973 ini-ciou o ginasial no Ginásio Prof.Antônio Lopes, transferindo-separa o Bandeirantes na 2ª série,onde concluiu o curso em 1976.No secundário, fez o chamado 1ºano básico na Escola Normal N.Senhora da Conceição. Decididoa tornar-se técnico em contabili-dade voltou ao Antônio Lopes, afim de integrar a 1ª turma de con-cludentes do curso daquela insti-tuição, em 1979.

Em 1982, mudou-se definitiva-

JOAQUIM DE OLIVEIRA GOMES

Um entusiasta da boa Literaturamente paraSão Luís, tor-nando-se entãofuncionário daSecretaria daE d u c a ç ã o ,oportunidadeem que pôdeviajar a traba-lho e conhecervárias cidadesdo interior. Em1996 foi apro-vado no vesti-bular para ocurso de Letrasda Universida-de Federal doM a r a n h ã o(UFMA), con-cluído três anos depois. Em 2003,defendeu a tese de conclusão doMestrado em “Teoria Literária”pela Universidade Estadual Pau-lista de São José do Rio Preto (SP).

A opção pelo magistério ini-ciou-se ainda em Viana, logo apósconcluir o segundo grau, quandolecionou por curto período a disci-plina Língua Portuguesa no CentroCenecista Prof. Antônio Lopes. Bemmais tarde, já em São Luís, abra-çaria definitivamente a profissão aotornar-se professor de Língua Por-tuguesa e Literatura no Núcleo de

Cultura Lingüísti-ca da UFMA.Atualmente, leci-ona na rede pú-blica estadual ena FaculdadeAtenas Mara-nhense. Nestaúltima, exerceconjuntamenteas funções deDiretor Acadê-mico, de Profes-sor e Coordena-dor do Curso deLetras e de Pro-fessor e Coorde-nador do Cursode Pós Gradua-ção em Língua

Portuguesa e Literatura. Ali tambémcriou o Grupo de Estudos “Bocade Forno”, voltado para o estudoda poesia e preside, ainda, a Co-missão de Editoração da Faculda-de. Na UFMA, é Presidente do Pro-jeto “Prata da Casa”.

Joaquim prefaciou os seguin-tes livros de poesia: Ergástulogozo da palavra, da poetisa ma-ranhense Rosemary Rego e Ne-cróple, do poeta Theotônio Fon-seca. O poema de sua autoria,Presente de Meiga, prefacia o li-vro de poesias da escritora goia-

na Regina Lúcia de Araújo. Essemesmo poema foi encenado naBrodway, em meados de 2000,quando a escritora goiana se en-contrava em Nova York.

O professor Joaquim tem pu-blicações em revistas especializa-das na sua área de atuação, alémde outros veículos de naturezapoética, destacando-se crônicas epoesias. No caderno especial dojornal O Estado do Maranhão, emedição alusiva ao aniversário dacidade de São Luís em 2007, tevepublicada a poesia Tributo a SãoLuís, em homenagem à cidadeque lhe acolheu. Atualmente, de-dica-se à publicação do seu pri-meiro livro de contos, chamadoAlém do Sacoã que, segundo suaspalavras, “é uma forma de home-nagear a sua cidade natal de ma-neira idílica”. Como extensão dasatividades acadêmicas e comoamante da boa literatura, Joaquimparticipa de eventos ligados à lin-guagem, proferindo palestras,comunicações e debates.

Joaquim Gomes é membrofundador da Academia Vianensede Letras, ocupando a Cadeira nº5, cujo patrono é o MonsenhorManoel Arouche, sobre quem vemreunindo informações para futu-ras publicações.

gueira, tornar-se-ia comerciante bem–sucedido e destacado vereador, me-recendo assim dos dirigentes munici-pais significativa homenagem póstu-ma ao atribuírem seu nome à rua quefazia esquina com a antiga residên-cia da família.

Por tudo isso, Mundico Noguei-ra evoluiu e contribuiu para o en-grandecimento da cidade que lheserviu de berço, destacando-se, en-tre seus contemporâneos, pelo tra-balho em favor da música e do pro-gresso desta terra que tanto amou eirrigou com seu suor.

Raimundo João Nogueira morreu,aos 74 anos, na cidade natal, no mêsconsagrado a Nossa Senhora, dequem era fervoroso devoto, aos 31de maio de 1941 (sábado) e, no diaseguinte, foi sepultado no Cemitério2 de Novembro.

Em justo reconhecimento à sen-sibilidade, inteligência e trabalho des-se homem, a Academia Vianense deLetras o elegeu como patrono daCadeira de nº 25, cujo titular é Pe-drito Frank Marques Nunes (PedroMendengo Filho).

(*) Excetuando-se pequenas in-serções referentes a fatos históri-cos relevantes (no intuito demelhor situar o leitor com rela-ção à época vivida pelo biogra-fado), todo o texto acima foitranscrito do livro “Cinco gera-ções de Raimundo João Noguei-ra” de autoria dos escritores aci-ma relacionados.

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8 Viana(MA), – maio de 2008O RENASCER VIANENSEO RENASCER VIANENSE

A importância econômica dos insetosA professora Graça Cutrim apresentará projeto, junto àCâmara Municipal, de inclusão do estudo dos insetos noEnsino Fundamental das escolas da zona rural de Viana

O RENASCER VIANENSEDiretor/Redator: Luiz Alexandre Rapôso

Endereço: Rua Antônio Lopes, 459, Viana - MA CEP: 65.215-000

MARIA DA GRAÇA

MENDONÇA CUTRIM

A humanidade defron-ta-se, atualmente,com um dos maioresdesafios de toda sua

trajetória pela face da terra: aquestão ambiental. Como con-ciliar o progresso e a qualidadede vida, hoje conquistados, como respeito e a proteção ao meioambiente?

Tal questionamento, como ésabido, não fez parte das preo-cupações de nossos pais e avós,visto que até bem pouco tempoatrás a natureza e seus recursoseram tidos como bens inesgo-táveis. Certamente por essemotivo esta e as gerações vin-douras tenham de encontrar –urgentemente - uma fórmulapara equacionar semelhanteproblema. Como se costumadizer nos meios populares:“quem chega por último é quempaga a conta”.

Não é necessário acompanharo que acontece pelo mundo, viatelevisão ou internet, para cons-tatar o estrago causado pelo ho-mem no planeta. Aqui mesmo emnossa região podemos perceber(e lamentar) essa triste e alarman-te realidade. Os vianenses de mi-nha faixa etária foram testemu-nhas da fartura de peixes no lago(pescados indistintamente emqualquer época do ano) e daquantidade de aves abatidas (mar-recas, jaçanãs, japeaçocas, entreoutras) que eram vendidas pelasruas, em feixes, nas tardes de ve-rão. Hoje, o desmatamento des-regrado, as queimadas intensivas(que empobreceram sistematica-mente o solo), o aumento da po-pulação e o visível processo de as-soreamento do lago são resulta-dos concretos e locais que não nospermitem duvidar dos efeitos ca-tastróficos da devastação ambi-ental tão alardeados pelos cien-tistas do mundo inteiro.

Em função disso, mídia, go-vernos e entidades ambientaisinstigam cada indivíduo (estejaele onde estiver) a fazer sua par-te pela preservação da nature-za. Até mesmo o conceito mo-derno de cidadania passou aincluir o respeito ao meio ambi-ente. Em outras palavras, cons-truir e formar um cidadão re-quer, hoje, o aprendizado detudo o que engloba uma sadiaconsciência ambiental. E é nes-se sentido que, como professo-ra e profissional da área das ci-ências agrárias, pretendo suge-rir a inclusão no currículo doEnsino Fundamental das esco-las municipais, inicialmente dazona rural, do conhecimento

Felizes, as crianças exibem pés de ervilhas saudáveis e livres das pragas.

Meninos da zona rural observam folhagem de mandioca, atacadapor larvas de pequenas lagartas que depauperam as plantações.

preliminar dos insetos existentesna lavoura vianense e suas prin-cipais características.

Por que e como trans-formar em prática o es-tudo dos insetos – Consi-derando-se que a maioria dascrianças e adolescentes da zonarural são filhos de pequenos pro-dutores e que convivem direta-mente com esses diminutos se-res (muitos deles inofensivos e degrande utilidade no contextoagrícola), é importante introdu-zir o conhecimento preliminar domundo dos insetos em sala deaula, a fim de que os educan-dos possam valorizá-los – equando for o caso – controlá-los, percebendo assim de formaclara sua importância econômi-ca para as áreas agrícola, vete-rinária ou médica.

Como a Entomologia (ciên-cia que estuda os insetos) é mui-to vasta, não seria necessáriocriar-se uma nova disciplina noEnsino Fundamental, mas ape-nas aproveitar a disciplina “Ci-ências” já existente na gradecurricular, para incluir algumasnoções básicas sobre os insetos.

Os professores poderiam re-ceber tais noções, através de umcurso de pequena carga horá-ria que poderia ser ministradopor qualquer Engenheiro Agrô-nomo da Casa da AgriculturaFamiliar de Viana. Já que a dis-ciplina “Ciências” abrange ani-mais vertebrados e invertebrados,os educadores incluíriam nestesúltimos os conhecimentos ento-mológicos adquiridos, assimcomo aspectos importantes rela-cionados ao contexto agrário dazona rural do município.

Levando-se em consideraçãoainda as doenças causadas poralguns insetos não somente àsplantas, mas também aos ani-mais domésticos e ao própriohomem, o estudo contribuiria,com certeza, para a sanidade daregião. Aprendendo a distinguiros insetos, o educando apren-deria também a combater aque-les considerados nocivos, provo-cadores de doenças nos animaissuperiores e inferiores, bemcomo exterminar os insetos (pra-gas) que atacam a agricultura ecausam prejuízos econômicosaos produtores.

É diante da necessidade e ur-gência de melhor conhecer a na-tureza, a fim de que se possa pre-servá-la (retirando dela o máximoproveito sem, contudo, acarretaragressões irreversíveis ao meioambiente), que se impõe comoobjetivo educacional contemplara realidade local nos conteúdosdos currículos escolares, garan-tindo-se assim uma práxis peda-gógica mais eficiente.

Península vianense, em foto obtida de satélite, destacando-se o centro urbano de Viana na ponta extrema que avança

sobre o lago. Mesmo à grande distância, percebe-sevisivelmente os sinais da devastação ambiental causada

pela ocupação humana desenfreada

Fonte : Google