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O RENASCER VIANENSE O RENASCER VIANENSE Ó RGÃO DE D IVULGAÇÃO DA A CADEMIA V IANENSE DE L ETRAS A NO III Nº 9 V IANA -MA, MAIO DE 2005 A HISTÓRIA E O FUTURO Duas datas históricas merecem ser destacadas nesta edição do nosso jornal: a criação da Comarca de Viana e a ele- vação da Vila à categoria de cidade. A Comarca de Viana foi criada em 29 de abril de 1835, constituindo-se, portanto, como uma das mais antigas do Estado, com 170 anos de existên- cia. Essa antiguidade da nossa comar- ca revela a importância cultural, políti- ca e econômica que a Vila de Viana sem- pre representou no cenário do Mara- nhão. A segunda comemoração reporta-se à elevação da Vila à categoria de cida- de, fato ocorrido em 1855. Em uma cidade do porte de Viana, com um lastro cultural vasto, sempre há alguma data comemorativa que nossa memória não pode deixar no esqueci- mento. Um povo sem memória perde a sua identidade. Mas essa respeitabilidade histórica não deve servir de empecilho para vol- vermos o olhar para o futuro. Não se pode caminhar com o olhar só no espe- lho retrovisor. O futuro que almejamos implica no atendimento de nossas reivindicações, acumuladas ao longo de muito tempo. Precisamos de uma administração vol- tada para o planejamento, sem o clien- telismo que emperra como tem emper- rado até hoje o nosso desenvolvimento. No aspecto das letras, reivindicamos para nossa Academia uma sede que ateste ao público nossa existência. E essa iniciativa não é para satisfazer in- teresse individual de quem quer que seja, mas o interesse público, pois já tivemos, por lei municipal, o reconhecimento como órgão de utilidade pública. Com tantos patronos ilustres, com projeção estadual e nacional, nossa Academia precisa ser destacada para que sirva de apoio à juventude estudantil vianense. A Biblioteca Pública é nossa outra grande preocupação. O Farol da Edu- cação praticamente se acabou. Muitos livros foram desviados. Importa que a Biblioteca Pública seja mantida em fun- cionamento permanente, com compu- tadores para consultas e, sobretudo, bem dirigida por pessoa dedicada e competente. Temos insistido em nossos editoriais sobre a necessidade de termos uma administração técnica, voltada para um planejamento cultural e urbano que sa- tisfaça as exigências mínimas para a ci- dade apresentar-se com a respeitabili- dade que merece. Que seja, portanto, nosso passado motivo de inspiração para pugnarmos por um futuro consentâneo com nossa tradição cultural. CASA DO SR. JOÃO TRINDADE E sta aristocrática residência, revesti- da de azulejos e famosa pelas ban- deiras de suas portas internas, que exibiam vitrais coloridos, pertencia aos Borges, uma das mais ricas e tradicio- nais famílias vianenses do século passado. Mais tarde, chegou em Viana o Sr. Zebi- no Pacheco do Amaral, que adquiriu a casa para residir com a família. O novo proprie- tário fez algumas ampliações nos fundos do imóvel e construiu um grande salão para o seu comércio. O Sr. Zebino e D. Santinha, sua esposa, tiveram muitos filhos, sendo o mais conhecido deles o professor José Ma- ria do Amaral, dono por muito tempo de um famoso curso pré-vestibular em São Luís. À esquerda, vista interior da residência colonial, destacando-se ao fundo os armários embutidos na parede. À direita, o Sr. João Trindade e sua esposa, D. Jacineiva, falecida no ano passado. A residência dos Amaral tornar-se-ia lo- cal preferido para festas e bailes carnava- lescos da sociedade vianense, nas décadas de 30 e 40. Também entraria para a histó- ria por ter sido palco do primeiro acidente aéreo ocorrido na cidade: durante uma noite escura, apareceu um avião monomo- tor perdido que, depois de assustar e seme- ar o pânico na população local com sobre- vôos rasantes, acabou caindo sobre a cer- ca dos fundos do quintal da casa. Graças à sensibilidade e cuidados do Sr. João Trindade, seu atual proprietário, este imóvel - que hoje é um dos raros exempla- res do nosso rico passado colonial - apre- senta-se em perfeito estado de conservação. AVL terá audiência com o prefeito Rilva Luís Aproveitando a oportunidade da re- alização de sua primeira reunião de 2005, em Viana, a Academia Vianense de Letras agendou uma audiência com o prefeito Rilva Luís. No encontro, marcado para a ma- nhã do sábado (28/05), será apresen- tado ao novo chefe do Executivo Muni- cipal um pequeno resumo dos trabalhos desenvolvidos em prol da educação e da cultura de nossa cidade, pela AVL, nos três anos de sua existência. Os inte- lectuais vianenses esperam contar, do- ravante, com maior apoio da Prefeitura aos objetivos e projetos desta Acade- mia, incluindo a doação de um local para instalação de sua sede. POSSE DE NOVO ACADÊMICO Às 20 horas do próximo sábado (dia 28), na Igreja Matriz, acontecerá a cerimônia de posse do mais novo membro da Academia Vianense de Letras, José Estêvão Maia (Es- têvão Maya-Maya), cantor, compositor, ator, poeta e maestro. Estêvão Maya-Maya tomará assento na Cadeira de nº 23, patroneada pelo compe- tente professor e, também, cantor e com- positor, João de Parma. Dono de uma voz privilegiada, o novo imortal brindará os conterrâneos presentes à sua posse com a interpretação de cinco peças sacras, sendo as três últimas de au- toria do famoso compositor vianense, Rai- mundo Nogueira. A AVL espera contar com expressiva pre- sença da comunidade local a este ato solene de exaltação da música erudita vianense. FOTOS: LUIZ ALEXANDRE RAPÔSO

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O RENASCER VIANENSEO RENASCER VIANENSEÓ R GÃ O DE D I V U L GA Ç Ã O D A A C A DE M I A V I AN E N SE D E L E TR A S A NO I I I Nº 9 V I AN A-MA, MA I O D E 2005

A HISTÓRIA E O FUTURODuas datas históricas merecem ser

destacadas nesta edição do nosso jornal:a criação da Comarca de Viana e a ele-vação da Vila à categoria de cidade.

A Comarca de Viana foi criada em29 de abril de 1835, constituindo-se,portanto, como uma das mais antigasdo Estado, com 170 anos de existên-cia. Essa antiguidade da nossa comar-ca revela a importância cultural, políti-ca e econômica que a Vila de Viana sem-pre representou no cenário do Mara-nhão.

A segunda comemoração reporta-seà elevação da Vila à categoria de cida-de, fato ocorrido em 1855.

Em uma cidade do porte de Viana,com um lastro cultural vasto, sempre háalguma data comemorativa que nossamemória não pode deixar no esqueci-mento. Um povo sem memória perde asua identidade.

Mas essa respeitabilidade históricanão deve servir de empecilho para vol-vermos o olhar para o futuro. Não sepode caminhar com o olhar só no espe-lho retrovisor.

O futuro que almejamos implica noatendimento de nossas reivindicações,acumuladas ao longo de muito tempo.Precisamos de uma administração vol-tada para o planejamento, sem o clien-telismo que emperra como tem emper-rado até hoje o nosso desenvolvimento.

No aspecto das letras, reivindicamospara nossa Academia uma sede queateste ao público nossa existência. Eessa iniciativa não é para satisfazer in-teresse individual de quem quer que seja,mas o interesse público, pois já tivemos,por lei municipal, o reconhecimentocomo órgão de utilidade pública. Comtantos patronos ilustres, com projeçãoestadual e nacional, nossa Academiaprecisa ser destacada para que sirva deapoio à juventude estudantil vianense.

A Biblioteca Pública é nossa outragrande preocupação. O Farol da Edu-cação praticamente se acabou. Muitoslivros foram desviados. Importa que aBiblioteca Pública seja mantida em fun-cionamento permanente, com compu-tadores para consultas e, sobretudo,bem dirigida por pessoa dedicada ecompetente.

Temos insistido em nossos editoriaissobre a necessidade de termos umaadministração técnica, voltada para umplanejamento cultural e urbano que sa-tisfaça as exigências mínimas para a ci-dade apresentar-se com a respeitabili-dade que merece.

Que seja, portanto, nosso passadomotivo de inspiração para pugnarmospor um futuro consentâneo com nossatradição cultural.

CASA DO SR. JOÃO TRINDADE

E sta aristocrática residência, revesti-da de azulejos e famosa pelas ban-deiras de suas portas internas, queexibiam vitrais coloridos, pertencia

aos Borges, uma das mais ricas e tradicio-nais famílias vianenses do século passado.

Mais tarde, chegou em Viana o Sr. Zebi-no Pacheco do Amaral, que adquiriu a casapara residir com a família. O novo proprie-tário fez algumas ampliações nos fundos doimóvel e construiu um grande salão para oseu comércio. O Sr. Zebino e D. Santinha,sua esposa, tiveram muitos filhos, sendo omais conhecido deles o professor José Ma-ria do Amaral, dono por muito tempo deum famoso curso pré-vestibular em São Luís.

À esquerda, vista interior da residência colonial, destacando-se ao fundo os armários embutidosna parede. À direita, o Sr. João Trindade e sua esposa, D. Jacineiva, falecida no ano passado.

A residência dos Amaral tornar-se-ia lo-cal preferido para festas e bailes carnava-lescos da sociedade vianense, nas décadasde 30 e 40. Também entraria para a histó-ria por ter sido palco do primeiro acidenteaéreo ocorrido na cidade: durante umanoite escura, apareceu um avião monomo-tor perdido que, depois de assustar e seme-ar o pânico na população local com sobre-vôos rasantes, acabou caindo sobre a cer-ca dos fundos do quintal da casa.

Graças à sensibilidade e cuidados do Sr.João Trindade, seu atual proprietário, esteimóvel - que hoje é um dos raros exempla-res do nosso rico passado colonial - apre-senta-se em perfeito estado de conservação.

AVL teráaudiência com o

prefeito Rilva LuísAproveitando a oportunidade da re-

alização de sua primeira reunião de2005, em Viana, a Academia Vianensede Letras agendou uma audiência como prefeito Rilva Luís.

No encontro, marcado para a ma-nhã do sábado (28/05), será apresen-tado ao novo chefe do Executivo Muni-cipal um pequeno resumo dos trabalhosdesenvolvidos em prol da educação eda cultura de nossa cidade, pela AVL,nos três anos de sua existência. Os inte-lectuais vianenses esperam contar, do-ravante, com maior apoio da Prefeituraaos objetivos e projetos desta Acade-mia, incluindo a doação de um localpara instalação de sua sede.

POSSE DE NOVOACADÊMICO

Às 20 horas do próximo sábado (dia 28),na Igreja Matriz, acontecerá a cerimônia deposse do mais novo membro da AcademiaVianense de Letras, José Estêvão Maia (Es-têvão Maya-Maya), cantor, compositor, ator,poeta e maestro.

Estêvão Maya-Maya tomará assento naCadeira de nº 23, patroneada pelo compe-tente professor e, também, cantor e com-positor, João de Parma.

Dono de uma voz privilegiada, o novoimortal brindará os conterrâneos presentesà sua posse com a interpretação de cincopeças sacras, sendo as três últimas de au-toria do famoso compositor vianense, Rai-mundo Nogueira.

A AVL espera contar com expressiva pre-sença da comunidade local a este ato solenede exaltação da música erudita vianense.

F OTOS: LUI Z ALE XANDRE RAP ÔSO

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Joaquim Gomes

A novela Senhora doDestino, exibida re-centemente pela

Rede Globo, em horárionobre, chegou ao fim commuita repercussão e apre-sentando índices de audi-ência recordes. O segre-do para esse sucesso atri-bui-se a um conjunto defatores que vai desde a es-calação do elenco, che-gando à trama propria-mente dita. A novela apre-sentou, ao grande públi-co, diversos temas e sou-be explorá-los com maes-tria. Dentre os temas, des-tacamos o Mal de Alzhei-mer, que acomete homense mulheres na faixa etária dossessenta anos. Na novela, aatriz Glória Menezes viveu opapel de uma Baronesa. Umamulher fina, educada e quesofria desse mal, deixando-aconfusa e alheia às coisas emsua volta. A Baronesa era umamulher que carregava virtudese sempre estava pronta paraajudar as pessoas. O seu tomdoce, os cabelos embranque-cidos, pelo passar do tempo,o amor vivido com o Barão ea grandeza da atriz a torna-ram uma personagem queri-da e admirada por todos.

Deixemos a Baronesa daficção e tomemos uma senho-ra da vida real, cujo destinolhe pregou esta peça: desen-volver o Mal de Alzheimer, talcomo aconteceu com a Baro-

A Baronesa daEducação Vianense

MARIA ANTONIA GOMES COSTA

2 Viana – MA, maio de 2005

nesa. Trata-se da senhoraMaria Antonia Gomes Costa,pessoa querida e amada portodos. Uma mulher lutadora,que se apresentava a todoscom vigor e alegria. A Tia Ma-ria Antonia – assim eu a cha-mava, foi uma pessoa que ex-pandia jovialidade e pensa-mento positivo. A sua grandepreocupação foi com os jo-vens e parecia ser eternamen-te jovem. Aqueles que a co-nheceram ou puderam privarda sua companhia jamais es-quecerão o seu jeito espontâ-neo, alegre e prestativo.

Na cidade de Viana, ondenasceu, cresceu e passoumaior parte de sua vida, dei-xou sua marca como educa-dora, política e amiga.

No Colégio São Sebasti-

ão, que dirigiu por muitosanos, dispensava umolhar a cada aluno. Coma voz firme e potente, àfrente dos alunos, entoa-va, gesticulando os bra-ços e as mãos, hinos ecânticos de boa acolhida.

Como mulher, não sedeixava abater diantedas convicções masculi-nas, demonstrando a ca-pacidade, a inteligênciae as virtudes de caráterda mulher.

Como dona de casa,foi zelosa com seus filhose marido, oferecendo umaeducação familiar pauta-da na convivência salutare no respeito aos valoresmorais e éticos.A Baronesa de a Senhora

do Destino encerrou o seupapel fazendo uma viagempara a Europa. A nossa Ba-ronesa, a Baronesa da Edu-cação e da Juventude, cum-priu o seu script, aqui na ter-ra, até o seu último instante.Deus, com a sua sabedoria,soube poupá-la de muitastristezas. O Alzheimer, nessecaso, foi remédio para quemsempre encontrou na vidamotivos para vivê-la. E ago-ra nada mais justo se a Aca-demia Vianense de Letras atornasse mais viva, homena-geando a Profª Maria Anto-nia Gomes Costa, com umacadeira de seu patronato, portudo que ela foi. É mais doque merecido. Aqui fica o meupedido.

ríodo da escravatura. Asinsurreições dos negros,ocorridas em outros Esta-dos, na maioria das ve-zes nem chegavam real-mente a se concretizar.Eram logo sufocadas pelopoder. Aqui em Viana foidiferente. Os escravos,em número inicial decento e cinqüenta, saíramdo quilombo São Benedi-to do Céu e foram recru-tando outros escravos nasfazendas que encontra-vam pelo caminho. Fize-ram prisioneiro o admi-nistrador da FazendaSanta Bárbara e lhe obri-garam a redigir um co-municado, dirigido àsautoridades do Municí-pio, avisando que “esta-vam em campo para bus-

car a liberdade dos cativos”- esclarece a pesquisadora.

Fartamente documenta-da, a obra foi lançada peloSIOGE, em 1994, mas so-mente agora Mundinha Ara-újo terá oportunidade deapresentar, aos vianenses, umcapítulo dos mais importan-tes da história desta cidade.

Insurreição de Escravos em Viana(1867)

daí, iniciou um trabalho depesquisa direcionado aotema, o que lhe obrigaria avisitar Viana, em 1990, a fimde concluir sua pesquisa noscartórios da cidade.

Segundo a autora, a re-volta armada dos escravos,em Viana, foi uma das maio-res ocorridas no Brasil, no pe-

No século XIX, Vianase tornou palco de umadas maiores insurreiçõesde escravos acontecidasno Brasil. É o que nos re-vela o livro “Insurreiçãode Escravos em Viana”,de autoria de MundinhaAraújo.

Formada em Comuni-cação Social e pesquisa-dora da cultura negra noMaranhão, MundinhaAraújo se encontra nestacidade, a convite da AVL,para proferir uma pales-tra sobre o assunto à co-munidade vianense. Oevento acontecerá na Igre-ja Matriz, às 20 horas des-te sábado (28/05), antesda cerimônia de posse deEstêvão Maya-Maya.

Mundinha conta quea idéia de escrever o livrosurgiu, em 1980, quandopesquisava no Arquivo Pú-blico de São Luís e deparou-se, casualmente, com umexemplar do jornal “Cidadede Pinheiro”, datado de1955, no qual havia uma re-ferência sobre a “revolta dospretos de Viana”. A partir

Indignação é obra dosfortes. Omissão é a

virtude dos pusilânimes.cultural do Estado.

O fato de não se saber, comabsoluta certeza, por que mãossacrílegas foi dilapidado essepatrimônio sagrado ou da au-sência de provas cabais e irrefu-táveis sobre quem poderia tersido seu autor, não obstaculizao registro do fato criminoso.

Roberto Benigni, cineastaitaliano, adverte-nos de que “Senão temos memória, se não nosrecordamos dos fatos, ficaremossempre como animais – e nãoteremos futuro nunca”.

Nesse sentido, caso nenhu-ma iniciativa de registro perantequalquer órgão competente te-nha sido providenciado até a pre-sente data, proponho à Acade-mia Vianense de Letras que, emsua próxima reunião, tendo emvista seu programa de ativaçãoda memória da cidade, firmasseum documento encaminhando-oao referido Conselho, ao Regis-tro de Títulos e Documentos ou aqualquer órgão competente, denatureza institucional, compro-metido com a história e a culturade nossa terra, sobre o denunci-ado desaparecimento dessas pe-ças históricas, que ficaram e con-tinuam ocultas em sombrios eclandestinos cárceres.

Essas imagens, castiçais,crucifixos, pias e rosários eramtestemunhas de valor muito su-perior à madeira, ao metal, aomármore, ao ouro e à prata deque se constituíam. Testemunha-vam um passado que muito or-gulhou e continua orgulhando osfilhos de Viana.

Se continuarmos em nossatriste omissão, virtude dos pusi-lânimes, poderemos um dia nostornarmos vítimas da maldiçãode Maiakoviski;

Hei tor P iedade Jún ior

O Renascer Vianense, emsua 4ª edição (novembro de2003), publicou, na 4ª página,uma lamentável (mas necessáriae indispensável) denúncia, intitu-lada “Acervo Sacro Dilapidado”do Padre Eider Furtado da Silva.

Nessa oportunidade, esseprofeta dos tempos modernos -pois a expressão “profeta” nãoé apenas aquele que prediz, maso que denuncia a verdade, ouque fala em nome de outrem,como o fizeram João Batista,provocando a ira de Herodes, etodos aqueles do Antigo Testa-mento - denunciou, em carta en-dereçada ao “Comitê de Defesado Patrimônio Histórico, Artísti-co Cultural, Paisagístico e doMeio Ambiente de Viana”, o que“havia constatado na Igreja Ma-triz de Nossa Senhora da Con-ceição de Viana”, ou seja, o de-saparecimento de cerca de ca-torze peças sacras, de valor ines-timável.

Não tenho conhecimento sefoi tomada alguma providênciapor essa instituição de defesa denosso patrimônio histórico, des-tinatária da missiva...

Passado algum tempo, emreunião da Academia Vianensede Letras, em São Luís, na resi-dência do então presidente, Dr.Lourival Serejo Souza, discutiu-se o assunto do desaparecimen-to desses objetos sagrados dasigrejas de Viana. Com o objeti-vo de resguardar a responsabi-lidade das gerações contempo-râneas ao fato, acordou-se quea A.V.L faria um documento, de-nunciando esse sacrilégio aosórgãos responsáveis pela defe-sa e resguardo do patrimônio

“Na primeira noite, eles se aproximame colhem uma flor de nosso jardim

e não dizemos nada.Na segunda noite, já não se escondem:

Pisam as flores, matam o nosso cão,E não dizemos nada.

Até que um dia, o mais frágil delesEntra sozinho em nossa casa,

Rouba-nos a lua e,Conhecendo nosso medo,

Arranca-nos a voz da garganta.E porque não dissemos nada,

Já não podemos dizer mais nada”.

Reivindicações CulturaisNo intuito de restaurar a identidade cultural de Viana,

vítima de tantas depredações, passaremos a expor, neste jor-nal, nossas reivindicações, dirigidas principalmente aos se-nhores vereadores e ao senhor Prefeito Municipal.

Dessa forma, propomos:1. A substituição das placas nominativas das ruas por no-

vas placas de melhor qualidade estética e visual;2. O retorno da largura original das calçadas das Ruas

Antônio Lopes, Coronel Campelo, Cônego Hemetério etransversais, nos mesmos padrões antigos, estabelecen-do-se definitivamente o sistema de mão única para otrânsito de veículos;

3. Aprovação de lei municipal que proíba a cobertura asfál-tica das pedras e paralelepípedos das principais ruas quecompõem o centro histórico da cidade, mais precisamen-te a Antônio Lopes, Coronel Campelo, Cônego Hemeté-rio e adjacências;

4. A designação de logradouros públicos com os nomesdos vianenses Astolfo Serra (padre, escritor, historia-dor e interventor do Maranhão), Manuel Lopes daCunha (pai dos irmãos Antônio e Raimundo Lopes etambém Governador do Estado) e Raimundo Lopes(escritor, etnógrafo, arqueólogo e historiador);

5. A edificação de um monumento na Praça Ozimo deCarvalho, para, como se fosse um Pantheon, homenage-ar os vultos ilustres de Viana;

6. A volta da exposição permanente, em local apropriado,dos sinos da Igreja Matriz, verdadeiras relíquias históri-cas, atualmente esquecidos no Palácio Episcopal.

O RENASCER VIANENSEO RENASCER VIANENSE

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UM ACADÊMICO, UM PATRONO

Luiz A lexandre Rapôso

Nascido em Viana, no dia 10 deagosto de 1922, o filho primogênitodo casal, Levi Coelho de Sousa eCatarina Simas Coelho de Sousa,recebeu na pia batismal o nome deAristides, em homenagem ao avôpaterno, o famoso advogado Aristi-des Augusto Coelho de Sousa.

Como todo menino de sua épo-ca foi matriculado no Grupo Esco-lar Estêvão Carvalho, onde conclui-ria o curso primário, depois de pas-sar pelo crivo de célebres professo-ras vianenses como Faraíldes Cam-pelo, Edith Nair, Benedita Balby e Ze-íla Cunha Lauleta.

Aos doze anos, o garoto foi en-caminhado para São Luís, a fim deprestar exame de admissão ao giná-sio, no Colégio Ateneu Teixeira Men-des. Aprovado, tornou-se aluno in-terno dessa instituição de ensino ma-ranhense que, em 1935, funcionavanum sobrado da Rua Herculano Par-ga, em frente ao atual Convento dasMercês. Na série seguinte, transfe-riu-se para o Colégio de São Luís,concluindo ali o curso ginasial.

Do tempo feliz e despreocupado

de estudante, ficari-am perpetuadas namemória do jovemAristides as férias es-colares passadasem Viana, quandotinha oportunidadede retornar ao acon-chego familiar e dedesfrutar os prazerespróprios da juventu-de: a tradicionalqueima de fogos doboi, no final de ju-nho, que aconteciana esquina de sua casa; a prestigia-da festa de N. S. da Conceição, nolargo da Matriz, ou os animados einesquecíveis bailes de carnaval.

Em 1940, aos 18 anos, Aristidesembarcou para a Bahia com o pro-pósito de preparar-se para o ingressona Universidade. O pai queria queele cursasse Medicina, mas a carrei-ra jurídica já lhe despertava maior in-teresse. Em Salvador, porém, os pla-nos de estudos seriam adiados porum bom período, em conseqüênciado início da II Guerra Mundial e porter sido sorteado, naquele ano, comoum dos rapazes vianenses a servir o

Exército. Do 24º BCpartiu a ordem paraque se apresentasseno 19º BC, já que ojovem maranhensese encontrava estu-dando na capitalbaiana.

O então adoles-cente vianense esca-pou por pouco denão ser enviado paraa Europa, como umdos milhares de re-crutas que o Brasil

enviaria para o centro do conflito mun-dial. A aprovação para o CPOR (Cen-tro de Preparação de Oficiais de Re-serva), e o conseqüente estágio na vi-zinha Aracaju, o livraram da lista do3º escalão de soldados da históricaForça Expedicionária Brasileira, a em-barcar para a Itália.

Em 1947, portando a patente de2º Tenente, Aristides retornava a SãoLuís para logo depois prestar con-curso ao Banco do Estado do Mara-nhão. Em 08/12/1960, depois degraduar-se em Direito, assumiu ocargo de advogado do BEM. Nessemeio tempo ingressou na carreira do

ARISTIDES SIMAS COELHO DE SOUSA

Maria de Fátima RodriguesTravassos Cordeiro

No dia 11 de novembro de 1849nascia Celso Tertuliano da CunhaMagalhães, na Fazenda Descanso,então município de Viana. Filho doTenente Coronel José Mariano daCunha (deputado no biênio 1848/1849) e de D. Maria Quitéria de Ma-galhães Cunha, o menino estudouas primeiras letras com seus avósmaternos Manoel Lopes de Maga-lhães e Maria Cecília Duarte Maga-lhães, em Viana.

Crescendo num clima de eferves-cência cultural, - provocado pelonovo ciclo econômico promissor porque passava o Estado, quando sur-giria uma plêiade de intelectuais ma-ranhenses, como João Lisboa, Gon-çalves Dias, Gomes de Souza, Odo-rico Gomes, Sotero dos Reis e ou-tros, os quais dariam ao Maranhãoo título de Atenas Brasileira, - é na-tural que o adolescente vianense sedeixasse atrair pelo fascínio das le-tras. Assim, em 1867, aos 18 anos,quando ainda residia em Viana, Cel-so iniciou sua vida literária no Se-manário Maranhense,da capital,onde publicaria alguns poemas desua autoria: Vem, Não Tardes e ParaEla (17/11), Desânimo (24/11/) OCurrupira e Adeus (22/12/), O Es-cravo e O Avaro (29/12).

Em Viana, enquanto ultimava ospreparativos para a viagem em bus-ca da formatura, traduziu para o por-tuguês os poemas O Menino Cego,de Gout Desmartres e A Minha Ca-saca, de autoria do francês MichelSedaine. Suas versões para as duaspoesias famosas igualmente forampublicadas, em São Luís, pelo Sema-nário Maranhense (28/04 e 10/05de 1868, respectivamente).

Em maio de 1868, Celso mudou-se para a capital pernambucana, afim de ingressar na Faculdade de Di-reito do Recife. Ali passaria a cola-borar na revista estudantil OiteiroDemocrático, escrevendo, nesse

mesmo ano de1868, a comédiaCerração no Bolso.Não se descuidan-do nunca da poe-sia, compôs o po-ema dedicado auma jovem e deno-minado apenas por“A”, bem como oimortal Os Ca-lhambolas que re-fletia a insurreiçãodos escravos de Vi-ana, acontecidaem maio de 1867.Também traduziuvários poemas fa-mosos comoOphélia, de H. Muger (1869), entreoutros. Apaixonado pelo folclore bra-sileiro, o jovem acadêmico publicouA Poesia Popular Brasileira no jornalO Trabalho. Ainda em Recife, es-creveu para o Correio Pernambuca-no e outros periódicos locais.

Segundo Antônio Lopes, que eraseu sobrinho, Celso Magalhães es-crevia romances, poesias e artigosjornalísticos de todo gênero. Enquan-to estudava em Recife, enviava fartomaterial literário para os jornais deSão Luís. Dessa forma, assinandosob o pseudônimo de Giacomo deMartorello, publicaria em 1870 e1873, respectivamente, as novelasEla por Ela e Pelo Correio, em fo-lhetins dos jornais O País e o Diáriodo Maranhão. Em 1870, o talento-so estudante teve sua obra poética,Versos, transformada em livro. Oúnico publicado em vida.

Em 22/11/1873 bacharelou-seem Direito, retornando no mesmoano ao Maranhão. Após visitar suacidade natal, Viana, Celso recebeudas mãos do próprio presidente daprovíncia, José Francisco de Vivei-ros, a nomeação para Promotor Pú-blico da Capital. Sua capacidadejurídica e seu reconhecido valor in-telectual logo fizeram saltar, aosolhos de seus contemporâneos, o pro-

fissional de mentebrilhante e elevadosenso de justiça.Em São Luís, alémdo afinco e amorao trabalho, leva-va uma vida soci-al movimentada,participando ati-vamente dos sa-raus, concertos,eventos políticos eliterários da época.

Em 9 de de-zembro de 1876,começou a atuarna apuração docrime que t inhacomo acusada D.

Anna Rosa Vianna Ribeiro, esposado influente político e médico Dr.Carlos Ribeiro (futuro Barão de Gra-jaú). Acusada pelo crime de homi-cídio, executado a seu mando, e quevitimara um pequeno escravo denome Inocêncio, D. Anna Rosa foidenunciada pelo destemido promo-tor e levada a julgamento pelo Tri-bunal do Júri. Celso Magalhães re-quereu ainda sua prisão provisória,fazendo com que a ilustre senhorapermanecesse encarcerada até o jul-gamento, ocorrido em fevereiro de1877. Como era de se esperar, de-vido o grande prestígio da ré, D.Anna Rosa foi absolvida. Mais umavez, o senso de justiça do íntegropromotor lhe fez apelar ao Tribunalda Relação, pedindo a nulidade dojulgamento. Naturalmente seu recur-so foi negado.

No dia 29 de março de 1878,arbitrariamente, enquanto presiden-te interino da província, o Dr. CarlosRibeiro (esposo da acusada) exone-rou ex officio o Dr. Celso Magalhãesdo cargo de promotor da capital, abem do serviço público. Do mesmomodo, foi exonerado o delegado queparticipara do inquérito policial dohomicídio de D. Anna Rosa Ribeiro.

Um pouco antes, Celso Maga-lhães havia contraído núpcias com

D. Amélia Leal Magalhães. Abati-do com sua exoneração, esteve emViana, acompanhado da esposa,por vários meses, quando teve osofrimento agravado com a mortede seu pai.

Com 30 anos incompletos,quando havia sido indicado paradisputar as eleições como deputa-do, pelo Partido Conservador, paraa Assembléia Geral do Império, aco-metido de febre perniciosa, em SãoLuís, Celso Magalhães adoeceu às5 da manhã e morreu às 11 do dia9 de junho de 1879.

Sem deixar descendentes, a mor-te prematura do grande intelectual ejurista maranhense causou profun-da comoção no seio da imprensalocal e de outras províncias. Atual-mente, Celso Magalhães é patronodo Ministério Público do Estado doMaranhão e da Cadeira n° 5 daAcademia Maranhense de Letras, daCadeira n° 16 da Academia Mara-nhense de Letras Jurídicas, da Ca-deira n° 25 do Instituto Histórico eGeográfico do Maranhão e da ca-deira n° 12 da Academia Vianensede Letras. No devido tempo, Vianasoube prestar significativa homena-gem a este seu filho de inigualávelcaráter, de notável saber jurídico ede grande talento literário ao dar onome de Celso Magalhães a umade suas principais ruas.

Indubitavelmente, se Celso estives-se entre nós não se calaria às injusti-ças sociais que continuam a permearas relações da sociedade, em nossoMunicípio, em nosso Estado e no Bra-sil. Sua luta, certamente, seria pelaefetivação da cidadania, dos direitoshumanos e da igualdade social.

*Maria de Fátima Rodrigues TravassosCordeiro é Promotora de Justiça/MA e Vice-Presidenta da Academia Vianense de Le-tras, na qual ocupa a cadeira nº 12, patro-neada por Celso Magalhães. Exerce, tam-bém, a Presidência da Associação Brasilei-ra das Mulheres de Carreira Jurídica – Co-missão do Maranhão- ABMCJ/MA.

CELSO MAGALHÃESUm intelectual à frente de seu tempo

3Viana – MA, maio de 2005

magistério, ministrando aulas deMatemática e Direito Comercial noantigo Centro Caixeiral. O currículodesse imortal vianense inclui aindapassagens pelo Banco da Amazônia(quando trabalhou como advogadona capital do Estado de Roraima,Porto Velho, e no interior do Mara-nhão) e a direção da Comarco –Companhia Maranhense de Coloni-zação de Terra (atual Iterma) - du-rante o governo Nunes Freire. Nagestão seguinte, foi nomeado peloGovernador João Castelo como JuizAuditor da Justiça Militar, quandoentão se aposentou, pela compulsó-ria, aos 70 anos de idade.

Casado, desde 1948, com a se-nhora Regina Célia da Costa Sousae prestes a completar 83 anos, Aris-tides Simas Coelho de Sousa exerceainda a advocacia em escritório do-miciliar e participa ativamente daMaçonaria. No ano passado, lan-çou “Exortação”, um livro no qualreuni sonetos e discursos de sua au-toria. Membro das Academias Ma-çônica Maranhense e Vianense deLetras ocupa, nesta última, a Cadei-ra de nº 20, patroneada pelo avô,Aristides Augusto Coelho de Sousa.

O RENASCER VIANENSEO RENASCER VIANENSE

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Luiz A lexandre Rapôso

Talvez a maior originalidade dos festejos juninos,em Viana, resida no tra-dicional costume de pas-

sar fogo no boi. Antigamenteessa farra acontecia no famosoCanto Grande, ponto obrigató-rio de passagem dos grupos deBumba-boi.Todos os anos, a fimde que a promessa fosse bem-cumprida, o boi passava poraquele trecho da Rua Grande,onde o esperava grande con-centração de pessoas, afoitaspor queimarem centenas de car-retilhas e busca-pés. Era umaespécie de desafio. E o boi quese prezasse, enfrentava corajo-samente, com seus vaqueiros,aquela cortina de fogo paramostrar seu valor.

Na verdade, os ataques dosfogos começavam bem antes, lápelas imediações da FarmáciaSerejo. Os bois costumavam seconcentrarno Cantodo Galo,antes dedescerem aRua Gran-de. Pareceque faziamali umap r epa r a -ção psico-lógica paraa árduabatalha que os aguardava. Apartir daquela esquina, os inte-grantes se juntavam mais, for-mando um grupo coeso, comose quisessem dar e receber mai-or proteção. À frente, escondi-do sob a armação do boi e dei-xando de fora apenas os olhose o nariz, seguia o brincante quetinha, naquele momento, a pe-nosa tarefa de levar nas costaso alvo principal dos fogos.

Origem do folguedo –Segundo os mais antigos, esseinteressante costume teve ori-gem numa tentativa dos mora-dores da famosa Rua da Pontade tomar, à força, um boi mui-to bonito do pessoal do Moqui-ço. Enquanto o tal boi dançavana Praça da Matriz, a turma daRua da Ponta se armou comsortida munição de fogos e sepostou no quarteirão do CantoGrande para esperar sua pas-sagem. Julgavam que, atordo-ados pelo ataque repentino debombas, carretilhas e busca-pés, o pessoal do Moquiço ba-tesse em retirada, abandonan-

do o boi no meio da rua. O pla-no, entretanto, não surtiu o efei-to desejado. Tomados de sur-presa, os valentes vaqueiros doMoquiço resistiram bravamen-te ao assalto, não abandonan-

do o boiconforme oesperado.No f inaldas contas,todos gos-taram dabrincadei-ra e assimo fato ser e p e t i r i apelos anosseguin tes

não mais como uma tentativade tomar o boi, mas apenaspara testar a coragem dos va-queiros e divertir a classe maisabastada da cidade.

Ao som das matracas, en-quanto durava o bombardeio,os brincantes entoavam um gri-to de guerra que dizia: tocafogo, toca fogo, toga fogo/ queeu quero vencer!

Terminada a batalha, ao seretirarem eufóricos e extenua-dos, sob os aplausos e olharesadmirados da população, osvaqueiros vitoriosos trocavamde refrão, cantando: Assim queeu sou, assim que eu sou/ an-tes de apanhar, eu dou!

Desconhece-se a época exa-ta em que esse folguedo peculiardo Bumba-boi passou a fazerparte das comemorações do SãoJoão local, mas alguns memori-

alistas vianenses remontam paramais de um século a existênciada brincadeira. No seu livro dememórias “História de um Meni-no Pobre”, o Dr. Sálvio Mendon-ça, nascido em 1892, descrevea forma comoa farra aconte-cia na sua ado-lescência: “...O boi mais fa-moso de Vianaera o do Valen-tim. Eram feitasas apostaspara a passa-gem do boipelo CantoGrande, esqui-na das ruasGrande e Cônego Hemetério. Ovalor das apostas era um barrilde cachaça. O boi vinha com-pletamente molhado para resis-tir ao fogo. Os negros, tambémmolhados, vinham descalços

4 Viana – MA, maio de 2005

O RENASCER VIANENSEDiretor/Redator: Luiz Alexandre Endereço: Rua Antônio Lopes, 459 - Viana - MA

Rapôso CEP: 65.215-000

O PASSAR FOGO NO BOIO PASSAR FOGO NO BOI

I MAGENS RE P RODUÇ ÃO/VÍDE O: J OSÉ VE NTURA MATOS F URTADO

Ao som das matracas, enquanto durava o bombardeio, os brincantes entoavam umgrito de guerra que dizia: toca fogo, toca fogo, toga fogo/ que eu quero vencer!

para facilidade dospulos. Os rapazes seajuntavam nas esqui-nas, municiados, equando o boi do Va-lentim chegava aoCanto Grande, eracercado pela frente,retaguarda e lados,entre o estrondar dasbombas, foguetes,busca-pés e carreti-lhas, o que constituíabombardeio de muitashoras. Se o grupo dobumba-meu-boi resis-tia até se esgotaremos fogos, levava o bar-ril de cachaça. No fimda brincadeira, ficavasempre queimado al-

gum dos batalhadores...”Nos últimos anos, depois de

quase uma década esquecida,a tradicional brincadeira ressur-giu com força total, sob a lide-rança de um pequeno grupo de

vianenses. Ini-ciativa essa –diga-se de pas-sagem - mere-cedora dosmaiores elogi-os, pois sempreserá louvávelqualquer em-preendimentoque tenha porobjetivo a pre-servação denossa história

e de nossos costumes. Sem fa-lar no grande potencial turísticoque o evento possui e que, se de-vidamente divulgado e inteligen-temente explorado, poderá tra-zer divisas para a cidade.

Rogéryo du Ma-ranhão e BetinhoGomes compuse-ram uma músicasobre o tema que,brevemente, serálançada em CD

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