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O RENASCER VIANENSE O RENASCER VIANENSE ÓRGÃO DE DIVULGAÇÃO DA ACADEMIA VIANENSE DE LETRAS ANO II Nº 4 VIANA-MA, NOVEMBRO DE 2003 Dois pontos de grande relevân- cia ocuparão as considerações deste espaço. Primeiro, precisamos apoiar e aplaudir a iniciativa do Mi- nistério Público que promoveu re- cente reunião, nesta cidade, com lideranças regionais e a população em geral, sobre os problemas da criação extensiva de búfalos e das cercas nos campos da Baixada. Tais assuntos merecem toda nossa atenção. Constituem viola- ções graves dos direitos ambien- tais de toda uma região, de toda a população da Baixada. Precisamos condenar esses crimes. Conclama- mos os vereadores, as lideranças comunitárias e o povo, sobretudo o povo, para reclamar medidas urgentes que coíbam essas infra- ções da lei positiva e da lei natural contra os campos da Baixada Ma- ranhense. O segundo assunto, refere-se à iniciativa da Academia Vianense de Letras, em seu programa de ativa- ção da memória da cidade. Um dos pontos deste programa con- siste na confecção de placas para serem fixadas em locais de relevân- cia histórica para Viana. Na primeira fase, serão coloca- das placas nos locais onde nasce- ram ou residiram Dilú Mello, Antô- nio Lopes, Raimundo Lopes, Miguel Dias, João Mohana, Edith Nair Sil- va, Estevam Carvalho, Anica Ra- mos, Sálvio Mendonça e Travassos Furtado. Na Praça da Matriz, será fixada também uma placa para lembrar que foi ali o cenário prin- cipal do grande romance de João Mohana, O Outro Caminho, con- tando o drama dos personagens Padre Eyder e da Viúva. Com essas placas pretendemos chamar a atenção dos estudantes e do povo vianense sobre a impor- tância de não esquecer aqueles que contribuíram para elevar o prestígio de nossa terra pelo estu- do e pesquisa da História, da Lite- ratura e das artes em geral. Tal luta da Academia pelo co- nhecimento de nossa história será contínua. Muitos vultos ilustres de Viana se perderam no esquecimen- to e continuarão se perdendo, caso não haja iniciativas como essas. Desde a fundação da Acade- mia, as pesquisas sobre os acadê- micos e os patronos têm sido esti- muladas pelos professores locais. Esses exercícios de pesquisa con- tribuem para o “apoderar-se” das nossas tradições culturais pela classe estudantil, depositária de nossas esperanças. Contamos com a vigilância da população para a preservação des- sas placas. Afinal, são partes da nossa memória. CASA DO SR. ESTRELINHA delo de azulejo, pois ainda não foi encontrado nenhum prédio com azulejaria similar em São Luís. A fachada original, além dos azulejos, apre- sentava janelas com vidraças e grades no mes- mo estilo das janelas da casa vizinha do Sr. Ana- nias. Com o tempo, as grades foram danifica- das e substituídas por paredes de alvenaria (que, entretanto, podem ser facilmente removidas para recolocação das grades, algum dia). Vale a pena zelar por esse raro exemplar da arquitetura colonial vianense. E ssa bonita casa de fachada de azulejos coloniais portugueses (cujos desenhos formam figuras geométricas coloridas e interessantes - no detalhe) pertencia ao Sr. Tolen- tino Veloso, que nela residia com sua família. Depois da morte do Sr. Tolentino, a casa ser- viu de residência para o Dr. Artur Almada Lima, 10º Juiz de Direito a ocupar o cargo nesta Comarca de Viana, que aqui trabalhou e resi- diu por vários anos. É importante ressaltar que talvez seja essa a única casa, no Maranhão, a ostentar esse mo- Verdes campos, Tapetes reluzentes Dulcíssimos mantos Que a natureza amena Encerra amor Verdes campos, De dores e prantos, Sorrisos e flores De sonhos ardentes. VERDES CAMPOS* Moysés Garcia de Almeida Verdes campos, Que as águas cobriram Por que destruíram Sem pena e sem dó? Verdes campos, Não sei se um dia Tu voltas perene Sem mágoa e sem dor... Chamando teus filhos Queridos da terra, Que a natureza encerra Carinho e amor. *Esta poesia do falecido poeta Moysés Almeida foi premiada pelo 1º Festival de Poesia do SINDSEP – Sindicato dos Servidores Públicos Federais do Maranhão, em 1997. DO ALTO DA MATRIZ Em virtude do esgotamento da primeira edição, o livro de memórias do confrade Lourival Serejo, Do Alto da Matriz, está em fase de preparação para o lançamento de uma segunda edição.

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O RENASCER VIANENSEO RENASCER VIANENSEÓRGÃO DE DIVULGAÇÃO DA ACADEMIA VIANENSE DE LETRAS ANO II Nº 4 VIANA-MA, NOVEMBRO DE 2003

Dois pontos de grande relevân-cia ocuparão as consideraçõesdeste espaço. Primeiro, precisamosapoiar e aplaudir a iniciativa do Mi-nistério Público que promoveu re-cente reunião, nesta cidade, comlideranças regionais e a populaçãoem geral, sobre os problemas dacriação extensiva de búfalos e dascercas nos campos da Baixada.

Tais assuntos merecem todanossa atenção. Constituem viola-ções graves dos direitos ambien-tais de toda uma região, de toda apopulação da Baixada. Precisamoscondenar esses crimes. Conclama-mos os vereadores, as liderançascomunitárias e o povo, sobretudoo povo, para reclamar medidasurgentes que coíbam essas infra-ções da lei positiva e da lei naturalcontra os campos da Baixada Ma-ranhense.

O segundo assunto, refere-se àiniciativa da Academia Vianense deLetras, em seu programa de ativa-ção da memória da cidade. Umdos pontos deste programa con-siste na confecção de placas paraserem fixadas em locais de relevân-cia histórica para Viana.

Na primeira fase, serão coloca-das placas nos locais onde nasce-ram ou residiram Dilú Mello, Antô-nio Lopes, Raimundo Lopes, MiguelDias, João Mohana, Edith Nair Sil-va, Estevam Carvalho, Anica Ra-mos, Sálvio Mendonça e TravassosFurtado. Na Praça da Matriz, seráfixada também uma placa paralembrar que foi ali o cenário prin-cipal do grande romance de JoãoMohana, O Outro Caminho, con-tando o drama dos personagensPadre Eyder e da Viúva.

Com essas placas pretendemoschamar a atenção dos estudantese do povo vianense sobre a impor-tância de não esquecer aquelesque contribuíram para elevar oprestígio de nossa terra pelo estu-do e pesquisa da História, da Lite-ratura e das artes em geral.

Tal luta da Academia pelo co-nhecimento de nossa história serácontínua. Muitos vultos ilustres deViana se perderam no esquecimen-to e continuarão se perdendo, casonão haja iniciativas como essas.

Desde a fundação da Acade-mia, as pesquisas sobre os acadê-micos e os patronos têm sido esti-muladas pelos professores locais.Esses exercícios de pesquisa con-tribuem para o “apoderar-se” dasnossas tradições culturais pelaclasse estudantil, depositária denossas esperanças.

Contamos com a vigilância dapopulação para a preservação des-sas placas. Afinal, são partes danossa memória.

CASA DO SR. ESTRELINHA

delo de azulejo, pois ainda não foi encontradonenhum prédio com azulejaria similar em SãoLuís.

A fachada original, além dos azulejos, apre-sentava janelas com vidraças e grades no mes-mo estilo das janelas da casa vizinha do Sr. Ana-nias. Com o tempo, as grades foram danifica-das e substituídas por paredes de alvenaria (que,entretanto, podem ser facilmente removidaspara recolocação das grades, algum dia).

Vale a pena zelar por esse raro exemplar daarquitetura colonial vianense.

Essa bonita casa de fachada de azulejoscoloniais portugueses (cujos desenhosformam figuras geométricas coloridas e

interessantes - no detalhe) pertencia ao Sr. Tolen-tino Veloso, que nela residia com sua família.

Depois da morte do Sr. Tolentino, a casa ser-viu de residência para o Dr. Artur Almada Lima,10º Juiz de Direito a ocupar o cargo nestaComarca de Viana, que aqui trabalhou e resi-diu por vários anos.

É importante ressaltar que talvez seja essa aúnica casa, no Maranhão, a ostentar esse mo-

Verdes campos,Tapetes reluzentesDulcíssimos mantosQue a natureza amenaEncerra amor

Verdes campos,De dores e prantos,Sorrisos e floresDe sonhos ardentes.

VERDES CAMPOS*Moysés Garcia de Almeida

Verdes campos,Que as águas cobriramPor que destruíramSem pena e sem dó?

Verdes campos,Não sei se um diaTu voltas pereneSem mágoa e sem dor...Chamando teus filhosQueridos da terra,Que a natureza encerraCarinho e amor.

*Esta poesia do falecido poeta Moysés Almeida foi premiada pelo 1º Festival de Poesiado SINDSEP – Sindicato dos Servidores Públicos Federais do Maranhão, em 1997.

DO ALTO DA MATRIZEm virtude do esgotamento da primeira edição, o livro de memórias do confrade Lourival Serejo,

Do Alto da Matriz, está em fase de preparação para o lançamento de uma segunda edição.

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O RENASCER VIANENSEO RENASCER VIANENSE2 Viana – MA, Novembro de 2003

O RENASCER VIANENSEDiretor: Lourival SerejoRedator: Luiz Alexandre RapôsoEndereço: Rua Antônio Lopes, 459 - Viana - MA

CEP: 65.215-000

Na noite chuvosa dodia 3 de maio docorrente ano, toma-

ram posse na Academia Vi-anense de Letras os bacha-réis em Direito Carlos NinaEverton Cutrim e OswaldoPereira Gomes.

Apesar do forte temporalque desabou sobre a cida-de naquela noite de sába-do, um público expressivo sefez presente à cerimônia deposse, realizada no salão doGrêmio Recreativo Vianen-se. Entre os presentes, figu-ras destacadas do cenáriopolítico e cultural do Esta-do, como os deputadosFrancisco Gomes e NanSousa, do representante daAcademia Maranhense deLetras, Sebastião Moreira, edo presidente do CREA, JoséPinheiro Marques.

O primeiro a tomar pos-se, Carlos Nina Everton Cu-trim, tornou-se titular da ca-deira nº 6, patroneado pelonotável maestro e composi-tor Temístocles Lima, autorda música do Hino Vianen-se. A saudação ao novoacadêmico foi proferida pelaacadêmica Rosa Maria Pi-nheiro Gomes.

Oswaldo Pereira Gomes,general reformado do Exér-cito, tomou assento na ca-deira de nº 14, que temcomo patrono a figura dojornalista, poeta e escritorTravassos Furtado. O presi-dente da casa, Lourival Se-rejo, fez a saudação emnome do acadêmico LuizAlexandre Brenha Raposo, oqual se encontrava impossi-bilitado de comparecer aoato.

Carlos Nina nasceu emViana, no dia 1º de junhode 1943. Fez o primário noGrupo Escolar Estevam Car-valho e o curso ginasial noCentro Cenecista ProfessorAntônio Lopes. Mudando-separa a capital, concluiu o2º grau no extinto Colégiode São Luís. Em 1978 gra-duou-se em Direito pelaUFMA, ingressando no Mi-nistério Público Estadual no

DOIS BACHARÉIS EM DIREITOTOMAM POSSE NA AVL

ano seguinte. Em 1980 foinomeado Promotor de Justi-ça. É autor de vários poe-mas e músicas em homena-gem à terra natal. Atualmen-te exerce o cargo de Geren-

Momento solene da execução do Hino Vianense

O acadêmico Oswaldo Pereira Gomes fazendo seu discurso de posse

O acadêmico Carlos Nina recebendo o diploma das mãos dorepresentante da Academia Maranhense de Letras, Sebastião Moreira

te de Cidadania e Justiça doGoverno do Estado.

Oswaldo Pereira Gomestambém é vianense, nasci-do no dia 3 de janeiro de1931. Estudou igualmenteno Grupo Escolar EstevamCarvalho, onde concluiu ocurso primário. Depois determinar o 2 º grau no Co-légio dos Irmãos Maristas,em São Luís, Oswaldo in-gressou na famosa EscolaMilitar de Agulhas Negras,em Resende (RJ), após trêsanos na Escola de Prepara-ção de Cadetes de Fortale-za (Ce). Mais tarde graduou-se em Direito pela Faculda-de de Ciências Jurídicas eSociais “Vianna Júnior” deJuiz de Fora (MG). Hoje oGeneral Oswaldo PereiraGomes, autor do livro inti-tulado História do 4º GAC,atua como advogado e pro-fessor titular das cadeiras deDireito Constitucional Brasi-leiro e Teoria Geral do Pro-cesso na mesma faculdadeem que se formou.

Os dois novos acadêmi-cos foram brindados, apóso ritual de posse, com umcoquetel oferecido aos seusconvidados e todo o públi-co presente no Grêmio Re-creativo Vianense.

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O RENASCER VIANENSEO RENASCER VIANENSE 3

UM ACADÊMICO, UM PATRONO

Viana – MA, Novembro de 2003

por Luiz Alexandre B. Rapôso

A história de vida pes-soal do Padre EiderFurtado da Silva se

entrelaça e se confunde coma própria história religiosa dopovo vianense. Menino nas-cido no Barro Vermelho, atu-al Cajari, Eider chegou em Vi-ana no ano de 1928, aos onzeanos de idade. Vinha acom-panhando sua irmã, a pro-fessora normalista Edith Nair,a qual passara uma tempo-rada de três anos lecionandona vizinha cidade de Mon-ção.

Por essa época, o pai jáhavia falecido. Sua mãe e osoutros irmãos mudaram-se,então, para Viana, reunindo-se novamente a família nessamesma casa, onde o PadreEider reside até hoje. Nanova cidade concluiu o cur-so primário na antiga EscolaMista Estadual, após umapassagem pela Escola Prole-tária Vianense, instalada noprédio da Prefeitura e dirigi-da pelo professor paraense,Nicanor Azevedo. Mais tar-de se tornaria aluno do fa-moso Instituto Dom Francis-co de Paula e ainda recebe-ria aulas particulares de fran-cês e português com o pro-motor e o juiz da cidade.

Passado esse período esem nenhuma outra perspec-tiva de ampliar os estudos,pois a família não tinha con-dições de mandá-lo para SãoLuís, retornou ao Barro Ver-melho, a fim de ajudar o ir-mão Benedito, no comércio.Um belo dia foi surpreendidocom uma carta do Padre

Manoel Arouche, ofere-cendo-lhe a possibilida-de de estudar no Semi-nário Santo Antônio,desde que não abando-nasse os estudos antesdo 3º ano. Propostaaceita, o jovem Eideringressou no conceitua-do seminário em feve-reiro de 1937, aos vinteanos de idade. Ali seabririam as cortinas parauma nova vida e novoshorizontes.

Ordenado padre,seu primeiro trabalho foicomo cooperador doPadre Arouche, aquimesmo em Viana. O cargoincluía uma ajuda ao velhovigário de São Vicente de Fér-rer, Monsenhor Bráulio, tio le-gítimo do pároco vianense.Com a morte do Monsenhor,ocorrida em 1951, Padre Ei-der foi designado para aque-la paróquia (que abrangiatambém a cidade de Cajapió).Foram oito anos tranqüilos depregação evangélica no seiodaquelas comunidades isola-das. Obediente à santa ma-dre igreja, sua pastoral guia-va-se pelo modelo antigo: la-dainhas, missas, batizados,casamentos e as tradicionaisdesobrigas pelos povoados.Em fevereiro de 1959, o bis-po Dom Delgado ordenousua volta com a missão depreparar, juntamente com ospadres da região, a criaçãoda diocese de Viana. Estavapor vir o cálice amargo de suamaior provação.

Antes da chegada festivado primeiro bispo, Dom Hamleto de Angelis, em 1963,

aconteceria o contato revo-lucionário com a primeiraequipe da AFIS (AuxiliaresFemininas Internacionais):Guadalupe, Maria Stuart eTereza. Portadoras, em Viana,dos ventos novos do Concí-lio Vaticano II e da iminentetransformação da Igreja Ca-tólica, a convivência com es-sas missionárias foi transfor-madora. O próprio Padre Ei-der reconhece: “Até aquelaépoca, eu era um sacerdotetípico do interior. Não lianada. Apenas jornais, quan-do me chegavam às mãos.Foram essas missionárias daAFIS, as responsáveis pelomeu despertar. Elas me em-prestavam livros e sugeriamdeterminadas leituras. Foi aíque passei a olhar o mundoe minha missão sob novaótica.”

Veio Dom Francisco Hé-lio Campos, o 2º bispo, parareforçar e direcionar melhorainda sua opção pelos po-bres e oprimidos. Padre Eider

percebia, a cada dia,maior sentido e mai-or dimensão na suavocação sacerdotal.Nesse tempo foi desig-nado para a Paróquiade Matinha, onde ini-ciaria uma pastoral decompromisso e solida-riedade com o povomais sofrido.

Entretanto, namedida em que anova pastoral alcan-çava os camponesesda região, a atuaçãoda igreja católica deViana começava aincomodar os fazen-

deiros e latifundiários. O de-saparecimento prematuro deDom Francisco, seria a dei-xa oportuna para aquelesque não viam com bonsolhos a conscientização gra-dativa dos menos favoreci-dos. Em 1975, ainda em ple-na ditadura militar, “um bis-po de encomenda” foi esco-lhido para aquela diocese,que se tornara incômoda aosinteresses dos mais podero-sos.

O terceiro bispo, DomAdalberto, mostrou de pron-to para o que viera: sua pos-se, prestigiada pelo filho daterra, General Florimar Cam-pelo, não deixava nenhumadúvida. Em pouco tempo, oconflito se instalou. Por nãose dobrar aos desmandos di-tatoriais do novo e reacioná-rio pastor, Padre Eider des-lanchou uma crise nos bas-tidores da igreja vianense, aqual culminaria na sua ar-bitrária excomunhão. Perse-guido e espoliado, sofreu na

PADRE EIDER FURTADO DA SILVAUm profeta do nosso tempo

carne os dissabores só reser-vados aos verdadeiros pro-fetas de Deus: “Foi uma épo-ca terrível que tive de en-frentar sozinho. O povo, in-fluenciado pelo bispo, sevoltou contra mim. Diziamque eu era um padre comu-nista. De repente me vi com-pletamente só e marginali-zado, até por aqueles aquem julgava meus amigos.As pessoas passaram a meevitar, algumas deixaram atéde me cumprimentar. A fa-mília do Sr. Zezico Costa foiuma das poucas que soubeme apoiar nesse período di-fícil,” confessa Padre Eider.

Depois de passado todoo vendaval e do afastamentodo bispo tirano, Padre Eiderreconquistou seus direitos ca-nônicos e o respeito da co-munidade, tornando-se, in-voluntariamente, uma espé-cie de memória viva da cida-de. Sua casa é ponto obriga-tório para jovens estudantesou pesquisadores em buscade referências e informaçõesmais seguras sobre a históriado município. Coisas da ca-pacidade remediadora dotempo, só testemunhadas poraqueles que alcançam tama-nha longevidade.

Membro da AcademiaVianense de Letras, onde ocu-pa a cadeira de nº 2, patro-neada pela própria irmã, Edi-th Nair Furtado da Silva,Padre Eider, hoje, do alto deseus 86 anos, pode come-morar sua vitória. A vitória deum sacerdote competente,corajoso e fiel aos princípioscristãos que nortearam suaopção de vida.

Kali l Mohana*

Quando o arcebispo Sapiehavisitou a Paróquia de Wa-

dovice, na Polônia de 1940, opároco encarregou um rapaz desaudar o pastor. Sapieha, espan-tado, perguntou em voz velada:“Quem é esse jovem?” O pa-dre respondeu: “É Karol Woyti-la...”

Um pouco antes, o arcebis-po Carlos Carmelo, de São Luís,fez uma visita oficial a Viana e opároco da Matriz encarregou umjovem estudante para saudar opastor, futuro cardeal de SãoPaulo. Este, admirado, indagou:“Quem é esse rapaz?” O páro-co vianense respondeu: “É JoãoMohana...”

João nasceu em Bacabal,mas sua cidade foi Viana, naque-le tempo um celeiro de homense mulheres notáveis, escolasboas e sacerdotes que figuravamentre os melhores oradores detodo o Brasil, como o Padre Ma-noel Arouche. Município deenorme produção agro-pecuá-ria, com muita fartura e pobrezasem miséria, rica de folclore,danças de todo tipo (negras, in-dígenas e européias) e cercadode música por todos os lados,Viana era uma verdadeira comu-

nidade e todos zelavampelo bem público: o prefei-to, o juiz, o promotor, o de-legado e o padre. Os exa-mes escolares, desde o pri-meiro ano primário, tinhamtodas essa autoridades for-mando a banca examinado-ra de fim-de-ano.

Nesse meio cultural,João Mohana desenvolveuo espírito científico, o sen-so de pesquisa, a tendênciapara as novidades, o bom-humor no mais alto grau eo amor lúcido ao Mara-nhão. Ao deixar sua pequenaViana, fez o curso ginasial comprofessores franceses e espa-nhóis. Formou-se em Medicinana Bahia, quando a faculdade delá era a melhor do país. Ao deci-dir-se pelo sacerdócio, comple-tou o curso de filosofia e fez te-ologia no maior seminário daAmérica Latina, o de Viamão, noRio Grande do Sul. Neste semi-nário, João estudou inglês, la-tim, grego e hebraico, ao mes-mo tempo em que mergulhavanas teses mais audaciosas deSanto Agostinho e São Tomásde Aquino.

Quem ler os 44 livros es-critos por João Mohana, veráas maiores conquistas do mun-

do moderno, veiculadas por umestilo maravilhoso e perfeita-mente harmonizadas com a fécristã. Em alguns deles, o autormostra seu profundo conheci-mento da psicologia e da psica-nálise. Em Viana começou e emViana terminou a maior pesqui-sa cultural feita no Maranhão,durante o século XX. “A desco-berta do barroco mineiro é me-nor”, afirmou um perito, apre-ciando os três metros de parti-turas maranhenses, empilhadas.Foram gastos 27 anos de bus-cas, aventuras, despesas, desa-foros e desconfianças. Tudopara salvar os 150 anos de sin-fonias, concertos, polcas, pas-torais, ladainhas, missas sole-

nes, rapsódias, valsas emarchas.

João utilizou, na pas-toral, todo o conhecimen-to médico e psicológicoque possuía. Sua obra étão atualizada que, em1981, numa biografia deCristo, ele fala de “clonifi-cação” (a nossa clona-gem), quando quase nin-guém falava no assunto.Seu mais famoso roman-ce (Prêmio da AcademiaBrasileira de Letras) se ini-cia e tem seu desfecho fi-

nal em Viana. Alguém já com-parou “O Outro Caminho”com a túnica inconsútil de Cris-to, ou seja, algo não costura-do, pois o romance é uma sópeça, um “verso perfeito”, semcosturas, fluindo como os riosPindaré e Mearim, e serenocomo o lago da bela cidade.

O Padre Mohana era umapessoa muito pragmática.Quando alguém vinha comen-tar um “escândalo sexual” dequalquer religioso ele mudavade assunto, dizendo: “A únicacoisa que escandaliza os fiéis épadre estúpido!” Ou quandocomentavam os “escândalos”da Igreja (Inquisição, Galileu,Cruzadas), respondia: “Vocês

não olham o Espírito Santo,maior escândalo da Igreja, quea fez viver 2000 anos e a faráviver mais 2000!”

Pode-se dizer que o PadreJoão Mohana tinha os dois mo-vimentos da terra: rotação etranslação. Era centrado emDeus, pela sabedoria mística, eengajado na sociedade, comoum servidor pastoral. Amava opassado, era fascinado pelo fu-turo e sua fidelidade maior eracom o presente. Não via dis-córdia entre a fé e a ciência. Nãonotava desacordo entre a pie-dade teocêntrica e o amplo co-nhecimento da física nuclear.Admirava os bons políticos (eraamigo de muitos), os bons in-dustriais, os operários e oscamponeses. O último ato pú-blico do Padre João Mohanaaconteceu na casa de um ven-dedor de plantas, na Maiobinha.Foi a celebração de uma mis-sa, à noite, numa novena dedi-cada a Nossa Senhora.

Graduado em Geografia, His-tória e Pedagogia, Kalil Moha-na é professor universitário apo-sentado e autor do livro “Via-jando e Educando- As grandesViagens”. Ocupa a cadeira denº 8 da AVL, patroneada porseu irmão, João Mohana.

JOÃO MOHANAUm Intelectual a Serviço da Cultura e da Fé

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O RENASCER VIANENSEO RENASCER VIANENSE4 Viana – MA, Novembro de 2003

Depois de alguns anos, geografi-camente afastado de nossa queri-da Viana, pela terceira vez parti-

cipei do “Congresso Histórico e Culturalde Viana e do Meio Ambiente do Rosáriode Lagos do Maracu”, em sua 7ª versão.

Como Viana mudou!Recordo, com muita saudade, de mi-

nha infância e já, na vida adulta e funcio-nal, como vigário cooperador da Paró-quia de Nossa Senhora da Conceição.

Sem melancolia, cidade tranqüila,tempos tranqüilos, gente tranqüila, hábi-tos tranqüilos, vida preguiçosa, ruas so-nolentas, povo pacato, ordeiro e obedi-ente às leis de Deus, dos homens e davida. À tarde, a sonoridade dos instru-mentos musicais dos jovens aprendizes,nos ensaios com os grandes mestres deentão. Pela noite, sobretudo, naquelasenluaradas, as serenatas de amor, emcada canto da cidade.

Crianças uniformizadas rumo às es-colas ou com seus pais em direção à IgrejaMatriz. Caminhava-se, sem riscos, pelascalçadas e pelo meio das ruas. Não havianenhum carro motorizado, nem bicicle-tas, muito menos “moto-táxis”, ocupan-do indevidamente os espaços da tranqüi-lidade dos pedestres e atropelando víti-mas inocentes, razão porque só haviaum hospital e uma funerária naquele tem-po.

A cidade começava no CaminhoGrande de Oiama e Zé Cardoso, Messi-as Costa, Mundico Ligeiro e tantos ou-tros personagens que não se apagam denossa memória, passando pelos poçosdo Pará e Moropoia, pela Barreirinha,Canto de João Cordeiro, Canto do Galo,Rua Grande afora, Bar do Seu Gegê, Pra-ça da Prefeitura, Mercado, Correio, Can-to Grande, até chegar à Matriz da Con-ceição, ou à praia do lago, com o comér-cio e a fartura, de peixes de todas as es-pécies, da venda de arroz doce, arroz detoucinho, sarrabulho, pato ou galinha nomolho pardo, mocotó, mingau de milho,chocolate, cafezinho, com manuês, pa-monhas, e o melhor de tudo, a simpatiade suas vendedoras.

Tudo à beira do lago de Viana, cheiode águas cristalinas, às vezes tranqüilas,às vezes agitadas, repleto de lanchas, api-nhado de canoas de pescadores e de pe-quenas embarcações para o transportede cargas.

“Tudo era lindo e taful”, como diria opoeta da terra.

Passaram-se os anos e eu, longe daterra berço!

Hoje, vemos quase tudo muito dife-rente. Um crescimento desordenado dacidade e dos costumes, marcado pela des-truição criminosa de nosso patrimôniohistórico, de nossos sobradões de tantaslendas, pelo desfiguramento de casas deestilo da época de tantas recordações,pela apropriação indébita de nossas ima-gens sagradas por mãos sacrílegas, pelomistério de nossos sinos seculares, fun-didos em Portugal e mensageiros de tan-ta sonoridade, hoje mudos, num canto,esquecidos. A Viana que há anos deixeificou pequena para a Viana que hoje en-contro. Sua população de cinco mil habi-tantes quadruplicou-se. As pessoas queeram da terra, pelos mais diversos moti-vos, migraram para outras terras, ou paraoutras vidas, como aves de arribação.

Encontrei as ruas cheias de gente, masvazias de rostos conhecidos. Encontreios campos verdes de antigamente destru-ídos por manadas de búfalos predado-res, a pisotear a verde grama e a assore-ar os últimos estertores do resto de umvelho lago, hoje cansado e alquebrado,mas que um dia já foi gigante e sem limi-tes.

Não vi mais a meninada batendo bolano meu vizinho largo de São Sebastião,meu campo de futebol predileto. A praçadesapareceu, a igreja foi desmanchada evirou escola, meninos de hoje continuampelas ruas e esquinas, alguns pedindo es-molas, outros vendendo balas ou chei-rando cola, inda bem que, inúmeros de-

Viana, depois de alguns anos...les, lutando por dias melhores e pelo exer-cício da cidadania de nossa gente.

Hoje temos a televisão dia e noite en-sinando a violência, como acontece no paísinteiro. Os pais não têm mais tempo parao diálogo necessário à formação dos fi-lhos, pois a novela e os noticiários obsta-culizam esse costume “careta”. Os bonslivros e revistas instrutivos desapareceram,cedendo lugar aos programas fúteis oupornôs da mídia norte- americana.

A energia elétrica, noite e dia, parecedar nova vida à cidade, mas não se insta-la em todos os lares, bem como a águacanalizada, que não chega a todas as ca-sas, sobretudo dos menos favorecidos so-cialmente. Caminhões de grande porteaumentando o crescimento do comércio,mas destruindo o patrimônio cultural denossas ruas estreitas, calçadas e casa-

rões. Igrejas vazias, por falta de incentivoe de fé. Novas ruas e avenidas, novosbairros, tudo sem o menor planejamentourbano, construídos no modelo invasãode terras sem dono.

Sente-se, por toda parte, um sinal dedesenvolvimento material, com total es-quecimento da parte social e nenhumapreocupação pelo bem estar do ser hu-mano, como se o progresso de uma ci-dade dependesse apenas do ter material,com desprezo pelo ser social.

Há de merecer, sem dúvida, o reco-nhecimento de todos a bela e promisso-ra iniciativa da criação da Academia Via-nense de Letras, despertando e preser-vando valores culturais, os quais, sem ela,iriam, com certeza, desaparecer na pe-numbra do tempo. E quanta riqueza esta-va ficando no esquecimento.

Cada vez que regresso de minha ter-ra, na última curva da estrada, lá peloslados do Ibacazinho, observando à direi-ta, num derradeiro olhar para o lago epara a cidade, sinto um aperto no peito efalta dos tempos em que, rumo ao Gibiriou Amarração, seguíamos, lentamente,de lancha, nós, jovens estudantes, comsaudades de nossos familiares, mas ale-gres, pela volta às aulas, rumo a São Luís,e éramos muitos felizes, com uma Vianapequena, calma, sonolenta e musical.Hoje, todos nós, geração da experiência,sem saudosismos, só faltamos morrer desaudades da inocência daquela nossa ci-dade, que hoje, parece, não volta mais.

Rio de Janeiro, 31/07/2003.

Heitor Piedade Júnior

fazer um levantamento dos bens por mimconhecidos e que até 1975 foram conser-vados com o mesmo cuidado com que du-rante séculos o foram por leigos comoCatão Soeiro, João de Parma, RaimundoPinto, Raimundinho dos Santos, Zezé Cou-to, pelos padres Barros, Hemetério, Jacin-to, Luís Gonzaga, Manuel Arouche e, de-pois de criada a diocese, pelos bispos DomHamleto e Dom Hélio, que trabalharam nes-ta paróquia e nesta diocese.

Com a devida permissão, fiz o levanta-mento a que me propuz Procurei em segui-da o pároco, Monsenhor Ângelo P. Borges,que desde 1977 vinha à frente da paróquia epassei às suas mãos uma cópia da relaçãode peças não encontradas. Depois de acom-panhar comigo, na lista, uma por uma, asdezesseis peças constantes da relação, dissenão ter conhecimento do destino que toma-ram e, revelando de certo modo nem as terconhecido, declarou que “o bispo Dom Adal-berto trazia tudo em suas mãos”. Lembrou-se da imagem da Nossa Senhora dos Remé-dios e concluiu dizendo que, quanto ao colarou rosário de contas de ouro recebido dasmãos do seu antecessor, Padre Odílio, a pe-dido do bispo, ele lho entregou.

Na carta enviada ao Comitê, narro emparte a história que sei sobre esse rosáriode ouro, jóia valiosíssima, entregue peloMonsenhor Ângelo a Dom Adalberto dePaula e Silva. Dom Adalberto, como é deconhecimento geral, foi o autor da vendados históricos sinos da Matriz de Viana aoGoverno do Estado, o que provocou, naépoca, um rumoroso episódio de reper-cussão na mídia nacional.

Abaixo relaciono os bens, os quaiscompunham um dos mais ricos acervossacros do Maranhão, conhecidos de todos

ACERVO SACRO DILAPIDADOquantos freqüentaram a Igreja Matriz deNossa Senhora da Conceição de Viana ouali trabalharam antes de 1975 e que, a par-tir desse ano, desapareceram misteriosa-mente:

1. Uma imagem grande de madeira deSão José (barroca)

2. Uma imagem grande de madeira deSanta Luzia

3. Uma imagem grande de madeira deNossa Senhora dos Remédios

4. Uma imagem grande de madeira deNossa Senhora das Dores

5. Uma imagem grande de madeira deNossa Senhora do Rosário

6. Uma imagem grande de madeira deSão Joaquim

7. Uma imagem grande de madeira deSant’Ana

8. Um conjunto de pia, de pedra decantaria, da sacristia da igreja

9. Um outro conjunto de pia, igual aoprimeiro (que no passado pertenceu à Igre-ja de São Benedito e que se encontrava nojardim do Palácio Episcopal)

10. Três jogos de castiçais de metaldos altares da padroeira, do Coração deJesus e de Nossa Senhora do Perpétuo So-corro

11. Uma cruz grande de prata, usadanas procissões

12. Um rosário de contas de ouro, comuma cruz e uma rosa de ouro

13. Um terço de prata14. Um crucifixo de marfimQue a divulgação do criminoso desa-

parecimento destas peças de tão grandevalor, sirvam de reflexão às autoridadescompetentes e à sociedade como um todo,em especial ao povo vianense e aos filhosda terra espalhados por todo o país.

Padre Eider Furtado da Silva

Datada de 03/03/1995, enderecei aoComitê de Defesa do Patrimônio His-

tórico, Artístico Cultural, Paisagístico e doMeio Ambiente de Viana uma carta, comu-nicando o que eu havia constatado na Igre-ja Matriz de Nossa Senhora da Conceiçãode Viana, por ocasião da missa do 20º ani-versário de morte de Dom Francisco HélioCampos, 2º bispo desta diocese.

Indo naquela oportunidade à sacristiada referida igreja, onde fazia cerca de 15anos eu não entrava, deparei, não sem sur-presa, com a ausência de uma rica peça queali existia – uma pia de pedra de cantariafixada em uma das paredes do cômodo. Emvárias igrejas antigas do Maranhão, como acatedral de São Luís e a Igreja do Carmo deAlcântara, existem pias semelhantes àquela.

Igual surpresa experimentou também oDr. Heitor Piedade Júnior, quando de suaúltima visita à terra natal. Heitor, como oPadre Cordeiro e eu, trabalhou naquelaigreja e por isso a conhece muito bem. Elechegou a indagar às pessoas presentes pelodestino da pia em apreço, como pela ima-gem de Santa Luzia, que não se encontravano altar de sua antiga capelinha. Diante daconstatação acima e por me interessar so-bremaneira pela preservação dos bens queconstituem o patrimônio histórico de nossacidade, tomei a deliberação de dirigir aque-la carta ao Comitê.

Voltando outras vezes à Igreja Matriz, àqual passei a ter acesso após a deposição econseqüente afastamento do bispo titular,Dom Adalberto Paula da Silva, notei quealém da pia da sacristia, outras peças e atéimagens igualmente antigas e preciosashaviam desaparecido dali. Resolvi então

mandatários governistas, vitorinistas, dosquais muito precisava para o surgimentoe manutenção de grandes obras que de-senvolvia em vários campos, especial-mente no educacional, com a criação efuncionamento de faculdades e posteri-ormente da Universidade Católica do Ma-ranhão.

Viana perdeu assim o seu senador,mas a igreja Católica do Maranhão con-servou o padre zeloso das paróquias deVitória do Alto Parnaíba e Pastos Bons(nesta durante quase 27 anos), exercen-do a partir de 1952, em São Luís, as fun-ções de secretário do arcebispado e pro-fessor da escola, depois Faculdade deEnfermagem, na Rua Rio Branco, bairrodos Remédios, onde foi capelão duranteanos.

O Cônego Constantino Vieira, por

UM VIANENSE QUASE SENADORhaver residido e trabalhado durante dé-cadas no Sul do Maranhão, muitas pes-soas, inclusive de Viana, pensavam quefosse daquela região. Jamais, no entan-to, esqueceu os laços profundos que oligavam à cidade natal, tanto assim quecolaborou, assiduamente, na década de1930, no jornal vianense “A Época”. OCônego Constantino Vieira faleceu emSão Luís, em 10/02/1964.

Pelo que representou na política ma-ranhense, no magistério, no jornalismo,na oratória (ouvi vários sermões seus nacapela da Faculdade de Enfermagem), oCônego Constantino Trancoso Vieira, detradicional família vianense, merece nos-sa homenagem, não só neste registro his-tórico-jornalístico, como sem dúvida sen-do um dos futuros patronos da AcademiaVianense de Letras.

João Mendonça Cordeiro

Viana que já possuiu dentre seus fi-lhos ilustres, um governador do Esta-

do, Dr. Manoel Lopes da Cunha, desem-bargador e presidente do Tribunal de Jus-tiça do Maranhão, pai dos renomadosintelectuais Raimundo Lopes da Cunha eAntônio Lopes da Cunha; que já possuiuum interventor federal no governo do Ma-ranhão, Dr. Astolfo Serra, poderia ter tido,também um senador da República.

O Cônego Constantino TrancosoVieira, nascido em Viana, no dia 22/11/1901, era suplente do senador Clodo-mir Cardoso, que, ao falecer na vigênciado mandato, não foi substituído pelo cô-nego, de tanto prestígio político em todoo Estado, na época, na década de 1950.Deve ter havido pressão por parte do ar-cebispo de São Luís, Dom José Delgado,para renunciar ao mandato, não só por-que aquele eminente e operoso antístitepreferia o clero fora dos embates parti-dários, além do mais porque seria umsenador de oposição e certamente o ar-cebispo não gostaria de desagradar os

ERRATANo nosso último número cometemos dois equívocos, aqui retificados:1 – O Maestro Temístocles Lima é o autor da música (e não da letra) do Hino Vianense

(artigo intitulado “Casa de D. Cotinha Barros”).2 – O escritor e advogado, Heitor Piedade Júnior, ocupa a cadeira de nº 3 da Academia

Vianense de Letras e não a de nº 4 (matéria biográfica: “Um Acadêmico, Um Patrono”).