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RETRATO DE UM MUNICÍPIO O pequeno-grande livro de Ozi- mo de Carvalho, Retrato de um mu- nicípio, foi lançado em 1957, em co- memoração ao bicentenário de Via- na. Está fazendo, portanto, 50 anos do seu lançamento. A importância desse livro reclama uma segunda edi- ção, já autorizada pela família. Em todos esses anos, qualquer assunto mais sério que se escreveu sobre Viana, obrigatoriamente pre- cisou-se recorrer ao livro do intelec- tual Ozimo de Carvalho. Apesar de esgotado, aqui e ali, ainda se encon- tra em exemplar, sem contar as ile- gais (mas providenciais) xerocópias que se distribuem. O que impressiona na obra de Ozimo é a profundidade com que ele tratou dos temas científicos e sociais. Ao longo da sua obra, demonstrou conhecimentos de botânica, biologia, estatística, sociologia e história. Ao analisar Retrato de um muni- cípio percebe-se que o autor teve a mesma preocupação de Euclides da Cunha, ao escrever Os sertões: re- tratar a terra e o homem. Foram es- ses os dois enfoques tratados por Ozimo de Carvalho em sua obra. Descreveu cientificamente a terra, sua fauna, sua flora, o solo, a água, tudo com uma visão de cientista, de quem conhece o tema com a famili- aridade de um pesquisador. Sobre o homem vianense, o autor fez uma análise sociológica abrangente, in- clusive suas manifestações culturais e sua história. Outro detalhe que aproxima a obra de Ozimo de Carvalho do livro de Euclides da Cunha é o estilo. Os temas foram tratados com sobrieda- de, com seriedade, sem exageros e sem adjetivação desnecessária. Tra- ta-se, realmente, de uma obra de cunho científico. Ao comemorar-se cinqüenta anos da obra de Ozimo de Carvalho, im- põe-se fazermos uma reivindicação às autoridades e ao comércio vianen- ses: a reedição de Retrato de um município, em número suficiente para ser distribuído às escolas, aos estudantes, à população. É um livro que deve sair da obscuridade, das prateleiras para as mãos de leitores vianenses. Nada melhor para marcar este ano de comemoração dos 250 anos de elevação da Aldeia de Maracu à Vila de Viana do que a publicação de livros e trabalhos sobre a História de Viana. Precisamos mobilizar a ju- ventude estudantil para esse senti- mento de historicidade. Nesse contexto, a reedição do li- vro Retrato de um município, com certeza, contribuirá para alcançar- mos esse nível de conhecimentos que tanto almejamos. O RENASCER VIANENSE O RENASCER VIANENSE ÓRGÃO DE DIVULGAÇÃO DA ACADEMIA VIANENSE DE L ETRAS ANO IV Nº 16 VIANA-MA, MAIO DE 2007 VIANA 250 ANOS DE MEMÓRIA IGREJA DE SÃO BENEDITO C om fachada de estilo barroco, a antiga Igreja de São Benedito foi mais um raro e valioso monumento arquitetônico dilapidado e extir- pado, para sempre, da fisionomia da cidade. Num passado não muito distante, a frente da igreja contava com a ornamentação de algumas palmeiras imperiais. Do lado esquerdo, existia um pé de pau d’arco amarelo, que emprestava um colorido todo especial ao local, quando florescia entre os meses de setembro a novembro. Havia ainda o coreto (coberto por um metal cor de bron- ze), num dos cantos da pequena praça, destina- do às bandas de música, durante a realização das festas do santo. Esta igreja, por se situar num ponto central da cidade, tinha uma função estratégica mais impor- tante que a Matriz. Nas horas de emergência (como um incêndio, por exemplo), seus sinos, sob o co- mando do velho Dunga, eram os primeiros a pe- direm socorro à população. Em 1953, já bastante deteriorada pelas intem- péries, com a aquiescência dos paroquianos, o então pároco de Viana, padre Manoel Arouche, mandou demolir a igreja para, em seu lugar, cons- truir o novo templo de fachada “moderna”, que permanece até os dias atuais. A Igreja de São Benedito tornou-se, assim, mais uma testemunha concreta de um tempo em que não havia a menor preocupação com a preserva- ção da memória de Viana. D a aldeia de Maracu à Vila de Viana é o título da obra que o escritor Lourival Serejo estará lançando na noite do dia 24 de maio próximo, às 19 horas, na Escola Manoel Soeiro, quan- do da aula inaugural do curso de “História do Municí- pio”, promovido pela AVL e destinado aos professores das redes estadual e municipal de Educação. Como diz o próprio título, o conteúdo do livro nar- ra a história da criação da Missão de N. S. da Concei- ção do Maracu, pelos jesuítas, até a elevação da po- voação à categoria de vila com o nome de Viana. Sem desmerecer os demais méritos da obra, sua maior importância é reunir, num mesmo volume, as principais informações fornecidas pelos historiadores a respeito da fundação de nossa cidade. Informações estas que, até o momento, se encontravam dispersas em dezenas de obras (e de diferentes autores), o que muito dificultava o trabalho de pesquisa dos estudan- tes e professores vianenses sobre o tema. O livro será vendido ao preço de R$15,00. Em assembléia geral da AVL, realizada no dia 12 de abril último, Pedrito Frank Marques Nunes – o Pedro Mendengo Filho – foi eleito para ocu- par a Cadeira de nº 25 desta entidade, a qual tem como patrono o músico e maestro Raimundo Nogueira. A posse do novo acadêmico acontecerá no dia 21 de julho próximo, às 20 horas, durante reunião solene a ser realizada na Igreja Matriz de Viana, como parte das comemorações dos 250 anos da cidade. A AVL sente-se honrada em poder contar, em suas fileiras, com a presença e o apoio de mais este digno filho da terra. PEDRO MENDENGO NA AVL MEMÓRIA LUIZ ALEXANDRE

O RENASCER VIANENSE - avlma.com.bravlma.com.br/site/wp-content/uploads/2018/11/RENASCER-16.pdf · O RENASCER VIANENSE ... RETRATO DA AGRICULTURA VIANENSE Maria da Graça Mendonça

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RETRATO DEUM MUNICÍPIO

O pequeno-grande livro de Ozi-mo de Carvalho, Retrato de um mu-nicípio, foi lançado em 1957, em co-memoração ao bicentenário de Via-na. Está fazendo, portanto, 50 anosdo seu lançamento. A importânciadesse livro reclama uma segunda edi-ção, já autorizada pela família.

Em todos esses anos, qualquerassunto mais sério que se escreveusobre Viana, obrigatoriamente pre-cisou-se recorrer ao livro do intelec-tual Ozimo de Carvalho. Apesar deesgotado, aqui e ali, ainda se encon-tra em exemplar, sem contar as ile-gais (mas providenciais) xerocópiasque se distribuem.

O que impressiona na obra deOzimo é a profundidade com que eletratou dos temas científicos e sociais.Ao longo da sua obra, demonstrouconhecimentos de botânica, biologia,estatística, sociologia e história.

Ao analisar Retrato de um muni-cípio percebe-se que o autor teve amesma preocupação de Euclides daCunha, ao escrever Os sertões: re-tratar a terra e o homem. Foram es-ses os dois enfoques tratados porOzimo de Carvalho em sua obra.Descreveu cientificamente a terra,sua fauna, sua flora, o solo, a água,tudo com uma visão de cientista, dequem conhece o tema com a famili-aridade de um pesquisador. Sobre ohomem vianense, o autor fez umaanálise sociológica abrangente, in-clusive suas manifestações culturaise sua história.

Outro detalhe que aproxima aobra de Ozimo de Carvalho do livrode Euclides da Cunha é o estilo. Ostemas foram tratados com sobrieda-de, com seriedade, sem exageros esem adjetivação desnecessária. Tra-ta-se, realmente, de uma obra decunho científico.

Ao comemorar-se cinqüenta anosda obra de Ozimo de Carvalho, im-põe-se fazermos uma reivindicaçãoàs autoridades e ao comércio vianen-ses: a reedição de Retrato de ummunicípio, em número suficientepara ser distribuído às escolas, aosestudantes, à população. É um livroque deve sair da obscuridade, dasprateleiras para as mãos de leitoresvianenses.

Nada melhor para marcar esteano de comemoração dos 250 anosde elevação da Aldeia de Maracu àVila de Viana do que a publicaçãode livros e trabalhos sobre a Históriade Viana. Precisamos mobilizar a ju-ventude estudantil para esse senti-mento de historicidade.

Nesse contexto, a reedição do li-vro Retrato de um município, comcerteza, contribuirá para alcançar-mos esse nível de conhecimentos quetanto almejamos.

O RENASCER VIANENSEO RENASCER VIANENSEÓRGÃO DE DIVULGAÇÃO DA ACADEMIA VIANENSE DE LETRAS ANO IV Nº 16 VIANA-MA, MAIO DE 2007

VIANA

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A N O S

D E

MEMÓRIA

IGREJA DE SÃO BENEDITO

Com fachada de estilo barroco, a antiga Igrejade São Benedito foi mais um raro e valiosomonumento arquitetônico dilapidado e extir-

pado, para sempre, da fisionomia da cidade.Num passado não muito distante, a frente da

igreja contava com a ornamentação de algumaspalmeiras imperiais. Do lado esquerdo, existia umpé de pau d’arco amarelo, que emprestava umcolorido todo especial ao local, quando floresciaentre os meses de setembro a novembro. Haviaainda o coreto (coberto por um metal cor de bron-ze), num dos cantos da pequena praça, destina-do às bandas de música, durante a realizaçãodas festas do santo.

Esta igreja, por se situar num ponto central da

cidade, tinha uma função estratégica mais impor-tante que a Matriz. Nas horas de emergência (comoum incêndio, por exemplo), seus sinos, sob o co-mando do velho Dunga, eram os primeiros a pe-direm socorro à população.

Em 1953, já bastante deteriorada pelas intem-péries, com a aquiescência dos paroquianos, oentão pároco de Viana, padre Manoel Arouche,mandou demolir a igreja para, em seu lugar, cons-truir o novo templo de fachada “moderna”, quepermanece até os dias atuais.

A Igreja de São Benedito tornou-se, assim, maisuma testemunha concreta de um tempo em quenão havia a menor preocupação com a preserva-ção da memória de Viana.

Da aldeia de Maracu à Vila de Viana é otítulo da obra que o escritor Lourival Serejoestará lançando na noite do dia 24 de maio

próximo, às 19 horas, na Escola Manoel Soeiro, quan-do da aula inaugural do curso de “História do Municí-pio”, promovido pela AVL e destinado aos professoresdas redes estadual e municipal de Educação.

Como diz o próprio título, o conteúdo do livro nar-ra a história da criação da Missão de N. S. da Concei-ção do Maracu, pelos jesuítas, até a elevação da po-voação à categoria de vila com o nome de Viana.

Sem desmerecer os demais méritos da obra, suamaior importância é reunir, num mesmo volume, asprincipais informações fornecidas pelos historiadoresa respeito da fundação de nossa cidade. Informaçõesestas que, até o momento, se encontravam dispersasem dezenas de obras (e de diferentes autores), o quemuito dificultava o trabalho de pesquisa dos estudan-tes e professores vianenses sobre o tema.

O livro será vendido ao preço de R$15,00.

Em assembléia geral da AVL, realizada no dia12 de abril último, Pedrito Frank Marques Nunes– o Pedro Mendengo Filho – foi eleito para ocu-par a Cadeira de nº 25 desta entidade, a qualtem como patrono o músico e maestro RaimundoNogueira.

A posse do novo acadêmico acontecerá no

dia 21 de julho próximo, às 20 horas, durantereunião solene a ser realizada na Igreja Matrizde Viana, como parte das comemorações dos250 anos da cidade.

A AVL sente-se honrada em poder contar,em suas fileiras, com a presença e o apoio demais este digno filho da terra.

PEDRO MENDENGO NA AVL

MEMÓRIA

LUIZ ALEXANDRE

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2 Viana(MA), 250º Aniversário – maio de 2007

RETRATO DA AGRICULTURA VIANENSEMaria da Graça Mendonça Cutrim*

Lendo o livro “Retrato de um Mu-nicípio” de Ozimo de Carvalho,mais especificamente o capítulo

X, dedicado à Lavoura e Indústria,pude constatar que a agricultura, emViana, mudou muito pouco da déca-da de 50 até os dias atuais.

Infelizmente, continuamos prati-cando uma agricultura de subsistên-cia, nômade e escrava em sua práti-ca de cultivo. Uma “roça no toco”,conforme denominação popularmenteconhecida para esse tipo de lavoura,na qual as modernas técnicas agro-nômicas, como análise de solo, ca-lagem (correção da acidez do solo),adubação, sementes selecionadascom variedades resistentes, capinasquímicas, entre outras, não são apli-cadas regularmente. A semente utili-zada, na grande maioria dos casos,ainda é de seleção natural. O pro-blema é que esse tipo de semente so-fre, ao longo do tempo, uma dege-neração genética, deixando as cultu-ras modificadas e menos resistentes apragas e doenças. Apenas algunspoucos produtores de milho e melan-cia fazem opção por sementes seleci-onadas e aliadas ao uso de herbici-das, adubos etc., alcançando logi-camente bons resultados.

As principais culturas que abas-tecem o mercado vianense ainda sãoo arroz, o milho e a mandioca, sen-do esta última a mais cultivada. Im-portante por ser a matéria-prima naprodução da farinha d’água, alimentobásico das classes menos favorecidas,principalmente da população da

zona rural, a mandioca, ao longo dosúltimos 50 anos, continuou sendo a“preocupação máxima do lavrador.”E como de costume, somente 20% dapreciosa raiz é aproveitada. O resto édesperdiçado.

Embora elementares (já que o tipode cultivo usado, ou seja, a roça detoco, não permite a introdução de téc-nicas mais avançadas), atualmente,através do Programa Nacional deFortalecimento da Agricultura Fami-liar (Pronaf), estão sendo introduzi-das algumas técnicas de melhoramen-tos nas principais culturas praticadasno município. Mesmo assim, Vianaainda está longe de alcançar um ín-dice satisfatório de desenvolvimentona agricultura.

A pobreza do nosso solo tão de-gradado pelas intempéries, pelas la-vras contínuas e pelo uso das quei-madas é um dos principais respon-sáveis pela baixa produtividade dalavoura vianense, como já diagnosti-cava o Dr. Ozimo em meados do sé-culo passado. Para piorar esse qua-dro, nas últimas décadas, a questãofundiária agravou-se no país, tornan-do-se mais um descomunal empeci-lho ao desenvolvimento agrário. Paraque haja um combate efetivo ao no-madismo do pequeno agricultor énecessário que ele possa ser fixadoem sua área de produção. No nossomunicípio, a coisa não foge à regra.

A deficiente instrução escolar dohomem da roça acarreta outro sérioentrave ao desenvolvimento de nos-sa lavoura. Como dizia o Dr. Ozimo,o lavrador faz o que aprendeu dospais e assim, de geração em gera-ção, a ignorância, a índole avessa

de toda inovação e a falta de meiosde aprendizagem pelo exemplo man-tém-no preso a esses métodos atra-sados de lavoura. Hoje em dia, ape-sar dos esforços do governo em pres-tar orientação técnica gratuita, é len-to o processo de aceitação de novasformas de cultivo.

O autor se refere também a ou-tras tipos de culturas praticadas emsua época, como o algodão, a cana-de-açúcar, o gergelim, o fumo, etc.O primeiro, que nos primórdios deViana foi a mais importante fonte deriquezas, já havia perdido, há muito,o incentivo de sua produção pela pre-ferência do mercado europeu ao al-godão haitiano, produzido pelos Es-tados Unidos. A criação do parquetêxtil industrial de São Luís, no finaldo século XIX, não conseguiu estan-car a decadência do produto. Por fim,a importação e disseminação da pra-ga chamada “bicudo” veio ceifar,definitivamente, a história do cultivodo algodão nestas paragens.

O caso da cana-de-açúcar nãoé muito diferente. Com o advento doaçúcar refinado, a produção do açú-car bruto perdeu a preferência dosconsumidores e, nessa esteira, acar-retou o desaparecimento de algunsoutros derivados como a aguardentee o vinagre. Daí, a falência dos ca-naviais e dos engenhos de açúcar. Oplantio do fumo é outro exemplo: de-vido à grande procura pelo cigarroindustrializado, o fumo de molho per-deu igualmente sua importância, de-sestimulando assim sua cultura.

Quanto ao arroz, o obstáculo aoseu beneficiamento persiste: varieda-des diferentes com tamanhos irregula-

res do grão, o que deixa o produtocomprometido, de pouca qualidade ede difícil tratamento. A baixa produti-vidade do município também não es-timula a criação de maior número deusinas de beneficiamento do arroz.

Os bananais, outrora tão abun-dantes, encontram-se hoje em vias deextinção, devido, principalmente, aoaparecimento do fungo “mal do Pa-namá”, o que obrigou a populaçãolocal a consumir bananas importadasde outros municípios e Estados. Asdemais culturas citadas pelo autor ain-da são cultivadas em pequena escala,como o feijão e a melancia. O sistemadas “rocinhas” (onde se pratica amonocultura, especialmente da man-dioca) também permanece em uso,preterindo-se, entretanto, as áreas ri-beirinhas em favor das terras altas.

Para mudar todo este triste panora-ma, necessita-se de políticas públicasmais consistentes e responsáveis, a fimde que se possa tirar o lavrador via-nense desse sistema atrasado e propor-cionar maiores divisas para o municí-pio. Fornecer melhor assistência técni-ca, resolver a questão fundiária, fomen-tar uma agricultura ecologicamentecorreta (sem uso das queimadas, res-peitando-se o meio ambiente e todo seuecossistema), introdução de variedadesmais resistentes e produtivas – aliadosao processo educativo do homem docampo – são alguns dos parâmetrosessenciais para o desenvolvimento daagricultura em Viana.

*Engenheira Agrônoma (lotadana Casa da Agricultura Familiar deViana - Agerp) e professora do Ensi-no Médio.

Carta do leitorCodó, 25 de março de 2007.

Ilustre Luiz Alexandre Raposo,

Eu e minha esposa somos gaúchos, mas a vida trouxe-nospara o Maranhão há 27 anos. Em Codó, montei e dirigi a Rá-dio Eldorado por mais de 10 anos. Aqui ficamos, povo bom ehospitaleiro. Hoje temos filhos codoenses...

Há pouco recebi a visita de um amigo, José Machado,que escreveu um livro de causos, intitulado Codó – históriasdo fundo do baú, mas não encontra patrocinadores para edi-tar a obra. Tomei conhecimento, através de reportagem pu-blicada no jornal “O Estado”, do patrocínio da Prefeitura deViana para a reedição do livro da pesquisadora MundinhaAraújo, Insurreição de Escravos em Viana. Prefeitos como Ril-vamar Luís merecem nosso respeito pelo apoio à cultura desua terra, de seu povo.

Também li no “Jornal Pequeno” de hoje, que uma comissãoda Secretaria do Estado da Cultura esteve em Viana no últimodia 23 para uma reunião com as entidades locais. Importantepara a cidade, não? Muito embora a Roseana tenha tido amaioria dos votos de Viana, o atual governo vai a luta e tentaajudar a cidade, o que será muito bom para os seus moradores.

Conheci Viana em trabalho de fiscalização do Banco do Brasil.Tínhamos a determinação de perdoar os agricultores, pois aépoca havia sido de secas e a situação era angustiante. Quan-do estava em Viana, recebi a visita de minha esposa (ela é por-toalegrense) que, para chegar à cidade, naquele tempo, preci-sou atravessar um rio de barca. Levou um susto, mas tudo correubem. Trouxemos daí, a saudável e deliciosa lembrança de umalmoço às margens do lago, em uma humilde cabana de umpescador conhecido. Além da lembrança das gostosas traírasfritas, ficou gravada em nossas almas a gentileza daquela famí-lia e da paisagem deslumbrante do lago que víamos à frente.

Deus que proteja a todos os vianenses, pescadores ou não.

Luiz Carlos Antunes de Souza – 63 anosCodó – MA.

João Mendonça Cordeiro

Viana é a cidade, na Baixada Mara-nhense, com o maior potencial turístico.

A paisagem, verdadeira aquarela, ébelíssima e única: em nenhum outro lu-gar se vêem juntos: planícies de camposverdejantes e deslumbrantes, espelhosde águas cristalinas de vários lagos, en-seadas, rios, igarapés, emoldurados pormorros, além de ilhas e ilhotas. E o es-petáculo da natureza se transforma to-talmente: na época das chuvas, os cam-pos viram mar de água doce,”o rosáriodos lagos”, segundo Raimundo Lopes,sendo que um deles apresenta “esteari-as” de uma civilização antiga; em outro,ilhas se movem ao sabor dos ventos.

Viana, que nasceu da Aldeia NossaSenhora da Conceição do Maracu, fun-dada pelos jesuítas, poderia e deveriaexplorar, como fonte inesgotável de tu-rismo, essa origem, como o Territóriodas Missões, no Sul do Brasil, na Argen-tina e no Paraguai, o qual atrai, anual-mente, milhares de visitantes, além deser objeto de seriados na TV e de filmesde grande sucesso.Em São Miguel(RS),há ruínas de uma igreja e uma praça re-tangular como de Viana, pois ambas fo-ram construídas pelos jesuítas.

O Padre Serafim Leite, em “Históriada Companhia de Jesus no Brasil”, rela-ta a criação da Aldeia Nossa Senhora daConceição do Maracu, em 1683 e queem 1730 tinha. 404 índios, incluindouma dezena de catecúmenos e informaque defronte da Aldeia ficava a Fazendade São Bonifácio com quatro engenhos,seis alambiques, oficinas de tecelões,carpintaria, serraria, ferraria, onde sefabricavam foices, machados, enxadas etanoaria que construíra um bergantim,de leme e toldo de madeira, de 44 pal-mos de comprido e mais 10 canoas,entre grandes e pequenas. Cultivava-secana, cacau, laranja, limão, banana, cafée mandioca, cuja casa de farinha, com

duas rodas de ralar, 24 tipitis e 4 guru-pemas, produzia 200 alqueires.A Casade Vivenda dos religiosos era de madei-ra, coberta de telhas com seis aposen-tos forrados. A Fazenda dispunha de seiscurrais, cinco de gado vacum, calculadoem 15.000 cabeças e um de gado cava-lar com 500 animais. Existiam, ainda, asfazendas Jacareí e Araçatuba.

A cidade de Viana, colonial, uma dasmais antigas do Maranhão, que come-mora este ano 250 anos de elevação dacategoria de Aldeia do Maracu à de Vilade Viana, revive em sua parte histórica asimetria de ruas retas e estreitas, comlogradouros especiais, como CantoGrande e Canto do Galo, a beleza dosprédios de azulejos antigos, o mistériodas casas e sobrados que guardam se-gredos desde a época da escravatura.

Um projeto que recolocasse na anti-ga fazenda, por exemplo, um velho en-genho de produção de açúcar bruto ecachaça, com restaurante e casa de es-petáculos onde poderiam ser apresen-tados bailes de São Gonçalo, tambor decrioula e de mina, bumba-meu-boi e dan-ças indígenas certamente despertariammuito interesse.

Os passeios de lancha, devidamen-te instalada, com guias mostrando e ex-plicando os recantos, de perto, na épo-ca das cheias, pelo rosário dos lagos erallys pelos campos e matas ciliares daságuas, no verão, criariam emoções elembranças inesquecíveis.

Viana é uma volta ao passado, porsua igreja, suas ruas e vielas, pelo casa-rio colonial e fazendas cujos quilombo-las se rebelaram contra a escravidão epor sua tradição cultural. Mas também épresente e futuro, pela importância ur-bana e rural, hoje eixo rodoviário e pelomeio ambiente que deslumbra e ao mes-mo tempo grita por socorro.

Até quando Viana, a bela adormeci-da em berço esplêndido, dormirá o pro-fundo sono do esquecimento?

POTENCIAL TURÍSTICO DE VIANA

O RENASCER VIANENSEO RENASCER VIANENSE

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UM ACADÊMICO, UM PATRONO

José Antonio Rosa Castro*

Egídio do Patrocínio Rocha credita-va à disciplina o princípio básicopara a formação do caráter do ho-

mem. Daí, ganhar a fama de mau poraqueles que primavam pela rebeldia.Quem o conheceu de perto sabe queele era uma pessoa educada no tratarcom seus semelhantes. Afável, solidárioe bondoso ensinava com o mesmo em-penho tanto aos que pagavam regular-mente as módicas mensalidades que co-brava, quanto àqueles que não dispu-nham de condições financeiras para tal.

Filho de Francisco da Silva Rocha ede Carolina Rosa Gouveia, Egídio (nas-cido em 01/09/1877) era o mais moçode uma prole de cinco irmãos. Teve umainfância difícil. Seus pais eram muito po-bres e, para estudar, vendia feixes de le-nha que carregava sobre a cabeça paratrocar por lápis e cadernos. Não freqüen-tou a escola formal e sua aprendizagemnão foi além do nível primário.

Aos 12 anos, em 1889, acompa-nhou os irmãos mais velhos FranciscoIzidoro e João Raimundo que, atraídospelo incremento da extração da borra-cha no Amazonas, partiram para aquelaregião em busca de prosperidade. Fixou-se na cidade de Breves (Pará), iniciandoali, mais tarde, sua trajetória no magis-tério. Naquela cidade, o jovem profes-sor casou-se com Maria Rosália Rocha.Infortunadamente, a esposa faleceu pou-co tempo depois. Quando retornava aoMaranhão, em 1901, na companhia dosirmãos, um deles, Francisco Izidoro, ado-

eceu e morreu naembarcação que ostrazia de volta.

Em Viana, rei-niciou seu nobremister, profissãoque abraçou até ofinal de sua vida.Dedicou-se ao en-sino da gramática eda aritmética, ga-nhando respeito dacomunidade localem pouco tempo.Na política, porobra do grandeamigo, CoronelMundico Campelo,chefe político dopartido Roxo ouConservador, acei-tou o cargo de De-legado de Polícia,exercido no ano de1930. Mais tarde,outro amigo e admirador, o advogadoTrajano Rodrigues, o lançou candidatoao legislativo municipal. Foi eleito commaciça votação para a Câmara de Vere-adores sem que fosse preciso fazer cam-panha para isso. Exerceu a legislaturade 1946 a 1951, no último governo doex-discípulo, Eziquiel de Oliveira Go-mes, do partido adversário, o Rosa ouAliança Liberal.

Egídio Rocha casou-se, em segun-das núpcias, com Esteva Martinha daCosta, falecida em 1942. No ano se-guinte, casava-se, em terceiras núpcias,com Izabel Arcanja de Carvalho. Com a

segunda mulherteve onze filhos:Izidoro Deocleci-ano Rocha, LuizaMaria Rocha, Fran-cisco Izidoro Ro-cha, Carolina Sa-bina Rocha, Jerô-nimo Lauro Rocha,José RodriguesRocha, João Euri-co Rocha, Floripesda Conceição Ro-cha, Iracema Ma-ria Rocha e os gê-meos RaimundoRodrigo Rocha eManoel RodrigoRocha.

Com a tercei-ra esposa, Izabel,teve dois filhos:Benedita de Car-valho Rocha e Flo-riano de Carvalho

Rocha. Um outro filho, havido fora dosmatrimônios, conhecido como “João doGalo” ainda vive e reside em Viana.

Egídio Rocha faleceu no dia 5 de ju-lho de 1958, aos 81 anos de idade, emsua residência à Rua Dr.Castro Maia, nº730. Para eternizar sua memória no seio

EGÍDIO ROCHAO velho e querido professor da Barreirinha

3Viana(MA), 250º Aniversário – maio de 2007

Luiz Alexandre Raposo

O filho mais velho do Dr. JoséPereira Gomes e D. LidonoraCastro Gomes batizou-se

com o nome de Rogério Castro Go-mes. Depois de alfabetizado pelas pro-fessoras Nhazita Dias e Zilica Barros,foi matriculado na Escola ParoquialD. José Delgado. Teve uma passagemrápida pelo Estevam Carvalho (ondefez a 2ª série), mas retornou ao tradi-cional “Colégio do Padre” para con-cluir o curso primário.

Morando na Rua Grande, próxi-mo do “Canto do Galo”, o meninose criou numa Viana dos anos 60,quando a natureza em volta da cida-de ainda conservava muito da biodi-versidade característica de um ecos-sistema lacustre. Assim, armar ara-pucas para pegar passarinhos (curi-ós, caboclinhos e canários), pescarde canoa, jogar bola nos tesos comos colegas da vizinhança (EmanuelBarros, o mano Betinho, RobertoMendonça e os irmãos Merval, Ma-chadinho e Hermes) eram suas brin-cadeiras preferidas.

Nessa época, também aconteceuo primeiro contato com as artes. Con-vidado por D. Anica Ramos para in-terpretar personagens infantis de suaspeças e comédias, o garoto teve asprimeiras oportunidades de iniciar-seno canto, sob a orientação da teatró-loga vianense. Mas, o despertar paraa música viria se manifestar, realmen-te, no encontro com o consagradocantor da época, Waldik Soriano.

Quando seu pai (então PromotorPúblico da cidade) contratou o artis-ta para um show, em Viana, jamais

ROGÉRYO DU MARANHÃOPresença vianense marcante na MPB

da coletividade vianense, a Câmara Mu-nicipal optou em mudar a denominaçãoda rua da Barreirinha (onde o velho mes-tre havia nascido) de Rua Dr. Ático Sea-bra para Rua Professor Egídio Rocha.

Difícil julgar fatos e personagens dopassado, quando se perdeu o contextode toda uma época. Transcorrido maisde meio século, não deve ser fácil paraas atuais gerações entenderem uma me-todologia que implicava em castigos fí-sicos. A palmatória tornar-se-ia, assim,levianamente, símbolo da “era do suplí-cio”. Entretanto, gerações e geraçõesaprenderam a ler, escrever e contar, acolecionar vitórias na vida, a adquirir au-todisciplina, responsabilidade e amor àfamília exatamente porque se submete-ram ao rigor da escolinha do “mestre dapalmatória.” Suas antigas “vítimas” trans-formaram-se em cidadãos decentes ecumpridores de seus deveres. Eu mes-mo, que também fui seu aluno, hoje meorgulho de ter como patrono esse ho-mem, cujo lema de vida ele costumavadeclamar na sala repleta de meninos: ohomem precisa saber ler, escrever e con-tar bem. No entanto, se não tiver cará-ter, o resto de nado lhe adiantará.

*Titular da Cadeira de nº 22, que temcomo patrono o Professor Egídio Rocha.

O RENASCER VIANENSEDiretor/Redator: Luiz Alexandre Endereço: Rua Antônio Lopes, 459 Rapôso Viana - MA CEP: 65.215-000

poderia imaginarque estaria selan-do o destino dofilho. Ao assistir aapresentação do“cantor das mul-tidões” o já ado-lescente deixou-se encantar como que viu e ou-viu. A partir da-quele momento,seu passatempopredileto ficoupor conta da in-terpretação dascanções do Wal-dik. Depois co-meçaria a criarnovas letras paraas músicas, inici-ando-se, dessamaneira, na artede compor.

Em 1972, já residindo em SãoLuís, Rogério concluiu o curso gina-sial no Colégio Batista e, em segui-da, o 2º grau no Centro Caixeiral.Paralelo aos estudos, aconteciam asincursões pelo mundo da música.Depois de aprender, sozinho, a to-car guitarra, o jovem aspirante à car-reira artística se tornou crooner deuma banda (naqueles idos, chama-da de “conjunto”), com a qual seapresentava em festas pelos clubesda capital e cidades do interior.

A partida para São Paulo em bus-ca de melhores oportunidades nãotardou e seu primeiro show, fora doMaranhão, aconteceu na Faculdadede Filosofia da cidade de PresidentePrudente (SP). Logo depois, eleitocomo melhor intérprete do Festival de

Paraguaçu Pau-lista, gravou seuprimeiro disco,um compactopela Continental,uma das grava-doras nacionaismais conceitua-das da época.

Fetiche, seuprimeiro LP, tam-bém pela Conti-nental, teve oacompanhamen-to da Banda Tuti-Fruti, lideradapela cantora RitaLee. Experimen-tando-se comoarranjador, nessemesmo trabalhocomeça a inovar,timbrando instru-mentos típicos do

folclore maranhense (tambor onça,matraca, caixa do Divino etc) com ainstrumentária eletrônica.

Apresentando-se por vários tea-tros e circuitos universitários do Sul eSudeste, Rogéryo pôde amadurecerseu talento e partir para parcerias im-portantes como a do compositor Joãodo Vale (show Canto Livre) e do can-tor e compositor Belchior, através doprojeto “Concha Verde”, ambos rea-lizados em 1979, no Rio de Janeiro.

No ano seguinte, gravou seu pri-meiro disco independente, o LP Patí-bulo, que trazia comentários na con-tra-capa de Augusto César Vanuccie João do Vale. O disco foi conside-rado, pelo crítico de musica do Jor-nal do Brasil, José Ramos Tinhorão,como um dos vinte melhores e mais

brasileiros trabalhos musicais daque-le ano de 1980. Por esse tempo, Ro-gério adotou o nome artístico de “Ro-géryo du Maranhão.”

O currículo do cantor e composi-tor vianense inclui inúmeros shows (in-clusive pelas cidades norte-america-nas de Miami, Orlando e Tampa),centenas de composições e variadasparcerias, em shows, com os nomesmais respeitados da MBP, como Sivu-ca, Luís Melodia, Eliana Pttman, JoãoNogueira, Fagner, Chico Buarque,Nonato Buzar, Gonzaguinha, Oswal-do Montenegro, Benito de Paula, ElbaRamalho, Alceu Valença, Oswaldinhodo Acordeom, entre outros.

Indiscutivelmente, seu maior su-cesso veio, em 1987, com a músicaBia, composição de sua autoria. Amúsica fazia parte do compacto Ma-gia dos Papéis, gravado nos estúdi-os da Transamérica (RJ), com pro-dução e arranjo do mestre Sivuca.O disco chegou a vender mais de50.000 cópias.

De volta a São Luís, desde 1995,aqui produziu e lançou vários CDS,destacando-se Fruto Maduro, AnjoLilás, Rogéryo du Maranhão interpre-ta Adelino Moreira e Viana, minhamusa, meu amor. Da parceria com oirmão, Betinho Gomes, surgiu umvasto repertório de composições (vá-rias delas dedicadas à terra natal epublicadas na coletânea de poesiasintitulada Canto do Galo).

Na área literária, lançou os livrosViagens e Fatos que fizeram história.Solteiro convicto e pai de Rogerinho,Rogéryo du Maranhão é membro fun-dador da AVL, onde ocupa a Cadei-ra de nº 16, patroneada pelo Maes-tro Miguel Dias.

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4 Viana(MA), 250º Aniversário – maio de 2007

SÃO BONIFÁCIODO MARACU

De madeira policromada, medindo 66 cm de altura, a imagem deSão Bonifácio (que traz no peito um relicário com um pequenofragmento de osso do santo mártir) será apresentada à mídia e aopúblico maranhense, em São Luís, no próximo dia 5 de junho, às18:30 hs.,na sede do Seminário São Bonifácio da Diocese de Viana.

Luiz Alexandre Raposo

Em meados do século XVII, o Papa Urba-no VIII presenteou os padres da Com-panhia de Jesus com duas imagens que

representavam dois grandes mártires da Igre-ja Católica: Santo Alexandre e São Bonifácio.Era uma espécie de bênção, aos jesuítas, pelaimportantíssima obra de propagação do cris-tianismo entre os povos do Novo Mundo. De-pois de desembarcarem no porto de São Luís,no dia 2 de dezembro de 1652, trazidas deRoma pelas mãos do padre Manoel de Lima,a imagem de Santo Alexandre foi enviadapara a Missão Jesuítica no vizinho Estado doPará; e a de São Bonifácio permaneceu poralgumas décadas na antiga Igreja de NossaSenhora da Luz, no mesmo local onde hoje sesitua a Igreja da Sé.

Segundo a memória oral vianense, a ima-gem de São Bonifácio foi trazida para a Bai-xada pelos próprios padres da Companhiade Jesus, provavelmente no final daquele mes-mo século, quando da fundação da Missãode Nossa Senhora da Conceição do Maracu,marco inicial da futura cidade de Viana. Du-rante cinqüenta anos, enquanto os jesuítas es-tiveram à frente da Missão, a referida ima-gem ficou exposta no altar da capela da fa-zenda de São Bonifácio de propriedade da-queles religiosos, situada à margem do rio,depois denominado Igarapé do Engenho. Em1757, com a elevação da Aldeia de Maracuà Vila de Viana e conseqüente retirada da ju-risdição temporal e secular dos missionáriosjesuítas (fato que motivou o retorno dos pa-dres à capital), a imagem de São Bonifáciofoi levada para a capela de São Brás da fa-zenda de Araçatuba. No final do século XIX, aimagem do santo já se encontrava na vila dePenalva (na época pertencente ao municípiode Viana), permanecendo ali até o dia 23 demarço do corrente ano.

No texto escrito pelo cientista vianense, Ra-imundo Lopes, intitulado Cemitério dos Tama-rindeiros - Uma Relíquia dos Jesuítas, publica-do pela "Revista da Semana" do Rio de Janei-ro, em 24/01/1925, constam algumas infor-mações interessantes sobre o assunto:

No começo do século passado, ainda exis-tia, à margem do "Igarapé do Engenho", a er-mida pequena, mas relativamente rica, de "SãoBonifácio do Maracu".

Pouco a pouco, porém, os próprios mora-dores arrancaram as pedras aos veneráveisedifícios, para suas casas e engenhocas; a pró-pria capela abandonada serviu de repasto àlithophagia interesseira, inevitável num paísonde governos e homens de estudo não em-bargam a ação depredatória dos aproveitado-res de ruínas...

...Mas onde era esse engenho de São Bo-nifácio? Onde edificaram os padres Jesuítas acapela do orago guerreiro, trazido de Roma,com Santo Alexandre do Pará, com relíquia dadapelo Papa, e cuja imagem era provavelmente amesma que ainda se venera, por complicadamudança, na próxima vila de Penalva? Era nes-se capoeirão mesmo, no chamado cemitériodos tamarindeiros...

segurança para tal finalidade.Desta maneira, como parte das come-

morações de seu 250º aniversário, Vianaestará propiciando a todos os maranhenses(e brasileiros em geral que visitarem SãoLuís), a oportunidade de conhecer e admi-rar um autêntico e raro exemplar da artesacra do século XVII.

Quem foi São Bonifácio

Cognominado o “Apóstolo da Alemanha”,São Bonifácio nasceu em Wessex, na Ingla-terra, por volta do ano 673. Seu nome debatismo era Winfrid. Fez-se monge no mos-teiro de Exeter e aos 20 anos já era mestre deensino religioso e profano. Em 719, o PapaGregório II lhe confiou uma missão entre aspopulações germânicas e ele partiu para aAlemanha, a fim de pregar o evangelho. Comdoçura, coragem e firmeza, o jovem apósto-lo alcançou pleno êxito, sendo então nome-ado bispo de Mainz, com o nome cristão de“Bonifácio”. Depois de restaurar e organizara igreja na Alemanha, fundou a célebre aba-dia de Fulda, centro de espiritualidade e cul-tura religiosa alemã.

Sua atividade missionária foi intensa. Evan-gelizou várias comunidades pagãs da Euro-pa Central. Entre os anos de 724 a 731 de-dicou-se à evangelização da Saxônia. Auxili-ado por outros missionários ingleses e irlan-deses, deixava-os em seu lugar para prosse-guir adiante na pregação do cristianismo.Durante sua última missão, na Frísia, quandose preparava para crismar grande número denovos convertidos, no dia 5 de junho de 753,foi assassinado por um grupo de frisões, ar-mados de espadas. Seu corpo encontra-sesepultado no mosteiro de Fulda.

O presidente da AVL, Luiz Alexandre Raposo; Cristiane Brandão da TV Maracu; o prefeitoRilva Luís; a diretora do Museu Histórico e Artístico do Maranhão, Lenir Oliveira; opresidente do Comitê de Defesa do Patrimônio Histórico de Viana, Nonato Morais; oassessor da Prefeitura de Viana, Benito Coelho; o vice-presidente do Comitê, GeraldoCosta e o vereador João Geraldo posam ao lado da relíquia de quase 400 anos.

O guardião da imagem

Nas últimas quatro décadas, a imagem deSão Bonifácio esteve sob a guarda e prote-ção do antigo pároco de Penalva, o igual-mente vianense padre Wilson Nunes Cordei-ro, 84 anos.

Quando soube dos primeiros desapareci-mentos misteriosos de imagens das igrejas per-tencentes à Diocese de Viana, no final dosanos 70, o padre encarregou-se pessoalmen-te de proteger a preciosa obra de arte, le-vando-a, desde então, para sua residência,onde era guardada num caixote próximo desua cama. Graças, portanto, à iniciativa doveterano sacerdote, esta peça de grande va-lor histórico-cultural chegou são e salva aténossos dias.

Contrato de comodato

No último mês de março, reconhecendo anecessidade de pequenos restauros a seremefetuados na imagem por técnicos especiali-zados e, principalmente, da completa faltade segurança do local onde a relíquia se en-contrava, o Comitê de Defesa do PatrimônioHistórico, Artístico, Paisagístico e do Meio Am-biente de Viana decidiu solicitar seu tomba-mento, como objeto de interesse nacional,junto ao IPHAN.

Paralelo a esta solicitação, o mesmo co-mitê, através de um contrato de comodato aser celebrado entre a diocese de Viana e aSecretaria de Estado da Cultura, tambémpleiteia um pedido de guarda da imagemde São Bonifácio, para exposição públicano Museu Histórico e Artístico (Rua do Sol,302 – centro - São Luís) enquanto a IgrejaMatriz local não oferecer condições reais de

FOTO: LUIZ ALEXANDRE

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