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O RENASCER VIANENSE O RENASCER VIANENSE ÓRGÃO DE D IVULGAÇÃO DA A CADEMIA V IANENSE DE L ETRAS A NO II Nº 5 V IANA -MA, F EVEREIRO DE 2004 Nesta primeira edição do ano de 2004, temos dois fatos de suma impor- tância para destacar. Primeiro, a data de 20 de fevereiro, que marca o septuagésimo aniversário do Grupo Escolar Estevam Carvalho, marco da educação de sucessivas ge- rações de vianenses. Fundado em 20 de fevereiro de 1934, o Grupo Escolar Estevam Car- valho sempre teve, em seu quadro do- cente, ilustres professoras que se nota- bilizaram pelo empenho em ensinar e educar. Nomes como Altair Mendonça, Luiza Gomes, Maria Inês Azevedo, Rosa Maria Pinheiro Gomes, Iraci Cordeiro, Maria do Socorro Cutrim, e tantas e tan- tas outras, prestaram inestimáveis servi- ços à nossa educação, merecendo nos- so eterno reconhecimento. Alunos do Estevam Carvalho estão espalhados por todo o Brasil, apoiados pela segurança do alicerce construído naquelas salas de aula. Atualmente, a Professora Maria Vi- tória dos Santos dirige aquela instituição de ensino com abnegável desvelo, o que merece nosso louvor. Parabéns a todos nós que estudamos e testemunhamos as atividades do Grupo Escolar Estevam Carvalho. Outro assunto importante que me- rece destaque, pela sua importância para a história política de Viana, é a elei- ção do novo prefeito municipal, em ou- tubro vindouro. A Academia Vianense de Letras não é um órgão político, mas não pode ficar distante dessa disputa, pois é seu dever opinar e mostrar aos eleitores vianenses as conseqüências da sua opção eleito- ral. Não se pode entregar o destino polí- tico de uma cidade como Viana a qual- quer aventureiro, a qualquer pessoa desprovida de história e comprovação de sua capacidade administrativa. Qualquer plataforma política hoje precisa incluir o fator cultural como um programa de governo sério. A atenção para nossa Academia não é particular, é pública, até porque a AVL já foi reco- nhecida como de utilidade pública. Temos que nos identificar com outros municípios que estão marcando ponto no incentivo às atividades culturais. Via- na tem uma história que reclama res- peito e exige atenção por parte da clas- se política dirigente, a qual precisa ter sensibilidade à altura dessa tradição, correspondendo, no presente, com obras dedicadas à sua elevação cultu- ral. Aos eleitores vianenses, hoje tão re- duzidos, após o desmembramento ter- ritorial e a última revisão, conclamamos para que escolham conscientemente seus representantes na Câmara Muni- cipal e, com mais atenção, aquele que vai chefiar o executivo municipal, o nos- so futuro prefeito. Sem o voto livre e consciente, não se constrói uma administração responsá- vel e capaz. PRÉDIO DO CENTRO CENECISTA PROFESSOR ANTÔNIO LOPES C asarão de história singular entre tan- tos que existem ou já existiram na cidade de Viana, era o prédio do Ginásio Antônio Lopes a antiga resi- dência do Sr. Mundico Santos, abastado co- merciante de tecidos e miudezas. A casa pos- suía seu próprio motor a diesel, que lhe for- necia iluminação elétrica e água encanada, puxada do poço. A vizinhança da redonde- za, aproveitava a generosidade do comerci- ante, para também se beneficiar desses ser- viços, abastecendo-se daquela água, consi- derada de agradável sabor. Entre 1935 e 1937, na gestão do pre- feito Mundiquinho Borges (Raimundo Nas- cimento Borges), o casarão foi comprado pela Prefeitura Municipal. Durante mais de uma década abrigou o Grupo Escolar Estê- vão Carvalho. Era também o local preferi- do para as festas dançantes e bailes de carnaval. No começo da década de 50, quando o Estêvão Carvalho ganhou sua sede própria, o prédio passou a ser usado exclusivamente para festas da sociedade, em especial no período momesco, quando pas- sava a se chamar “Gruta de Satã”. Durante o curto período em que o em- presário José Mendes Pinheiro foi prefeito da cidade, sob iniciativa direta do Dr. José Pereira Gomes e conseqüente projeto de autoria do vereador João Costa Gomes, o imóvel foi doado para o Ginásio Professor Antônio Lopes, regido pela cláusula de, ex- tinta a instituição de ensino, voltar automa- ticamente para a posse do Município. Talvez por sediar uma escola, o prédio escapou praticamente ileso ao vendaval da destruição, que assolou a cidade nas últi- mas décadas. Além de conservar sua facha- da original (teve apenas as janelas fecha- das por elementos vasados), esse casarão de tantas memórias, conserva ainda o ve- lho e famoso poço no quintal, o que só faz aumentar o seu valor histórico. Observando-o atentamente, pode-se ter uma idéia de como eram as residênci- as luxuosas dos vianenses que nos ante- cederam. E A BIBLIOTECA PÚBLICA MUNICIPAL, QUANDO SERÁ INAUGURADA? Estamos ansiosos pela inauguração da nossa Biblioteca Pública Municipal, que traz o nome do seu fundador, Ozi- mo de Carvalho. Temos certeza de que seu acervo bi- bliográfico em muito ajudará a pesquisa dos estudantes de nossa cidade. No Canto do Galo, em local privile- giado, a Biblioteca Municipal poderá se tornar um local de expansão cultural, nos moldes de que precisamos hoje para in- centivar a leitura entre a classe estudantil vianense. Com o objetivo de despertar a atenção da po- pulação vianense, em especial dos jovens estudan- tes, a Academia Vianense de Letras inaugurou, em 8 de novembro de 2003, nove placas indicativas dos prédios onde nasceram ou residiram os grandes vul- tos da história de Viana. A foto em destaque mostra alguns acadêmicos em frente à casa dos renoma- dos Lopes da Cunha. Astolfo Serra, Faraíldes Campelo, Nilton Aqui- no, Onofre Fernandes e Temístocles Lima serão os próximos patronos da AVL a serem homenageados.

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O RENASCER VIANENSEO RENASCER VIANENSEÓRG ÃO D E D I VULG AÇÃO DA ACAD EMIA V I A NENS E DE LET RAS AN O I I Nº 5 V I AN A-MA, FE VERE I RO DE 2004

Nesta primeira edição do ano de2004, temos dois fatos de suma impor-tância para destacar.

Primeiro, a data de 20 de fevereiro,que marca o septuagésimo aniversáriodo Grupo Escolar Estevam Carvalho,marco da educação de sucessivas ge-rações de vianenses.

Fundado em 20 de fevereiro de1934, o Grupo Escolar Estevam Car-valho sempre teve, em seu quadro do-cente, ilustres professoras que se nota-bilizaram pelo empenho em ensinar eeducar. Nomes como Altair Mendonça,Luiza Gomes, Maria Inês Azevedo, RosaMaria Pinheiro Gomes, Iraci Cordeiro,Maria do Socorro Cutrim, e tantas e tan-tas outras, prestaram inestimáveis servi-ços à nossa educação, merecendo nos-so eterno reconhecimento. Alunos doEstevam Carvalho estão espalhados portodo o Brasil, apoiados pela segurançado alicerce construído naquelas salas deaula.

Atualmente, a Professora Maria Vi-tória dos Santos dirige aquela instituiçãode ensino com abnegável desvelo, o quemerece nosso louvor. Parabéns a todosnós que estudamos e testemunhamosas atividades do Grupo Escolar EstevamCarvalho.

Outro assunto importante que me-rece destaque, pela sua importânciapara a história política de Viana, é a elei-ção do novo prefeito municipal, em ou-tubro vindouro.

A Academia Vianense de Letras nãoé um órgão político, mas não pode ficardistante dessa disputa, pois é seu deveropinar e mostrar aos eleitores vianensesas conseqüências da sua opção eleito-ral.

Não se pode entregar o destino polí-tico de uma cidade como Viana a qual-quer aventureiro, a qualquer pessoadesprovida de história e comprovaçãode sua capacidade administrativa.

Qualquer plataforma política hojeprecisa incluir o fator cultural como umprograma de governo sério. A atençãopara nossa Academia não é particular,é pública, até porque a AVL já foi reco-nhecida como de utilidade pública.

Temos que nos identificar com outrosmunicípios que estão marcando pontono incentivo às atividades culturais. Via-na tem uma história que reclama res-peito e exige atenção por parte da clas-se política dirigente, a qual precisa tersensibilidade à altura dessa tradição,correspondendo, no presente, comobras dedicadas à sua elevação cultu-ral.

Aos eleitores vianenses, hoje tão re-duzidos, após o desmembramento ter-ritorial e a última revisão, conclamamospara que escolham conscientementeseus representantes na Câmara Muni-cipal e, com mais atenção, aquele quevai chefiar o executivo municipal, o nos-so futuro prefeito.

Sem o voto livre e consciente, não seconstrói uma administração responsá-vel e capaz.

PRÉDIO DO CENTRO CENECISTAPROFESSOR ANTÔNIO LOPES

Casarão de história singular entre tan-tos que existem ou já existiram nacidade de Viana, era o prédio doGinásio Antônio Lopes a antiga resi-

dência do Sr. Mundico Santos, abastado co-merciante de tecidos e miudezas. A casa pos-suía seu próprio motor a diesel, que lhe for-necia iluminação elétrica e água encanada,puxada do poço. A vizinhança da redonde-za, aproveitava a generosidade do comerci-ante, para também se beneficiar desses ser-viços, abastecendo-se daquela água, consi-derada de agradável sabor.

Entre 1935 e 1937, na gestão do pre-feito Mundiquinho Borges (Raimundo Nas-cimento Borges), o casarão foi compradopela Prefeitura Municipal. Durante mais deuma década abrigou o Grupo Escolar Estê-vão Carvalho. Era também o local preferi-do para as festas dançantes e bailes decarnaval. No começo da década de 50,quando o Estêvão Carvalho ganhou suasede própria, o prédio passou a ser usadoexclusivamente para festas da sociedade, em

especial no período momesco, quando pas-sava a se chamar “Gruta de Satã”.

Durante o curto período em que o em-presário José Mendes Pinheiro foi prefeitoda cidade, sob iniciativa direta do Dr. JoséPereira Gomes e conseqüente projeto deautoria do vereador João Costa Gomes, oimóvel foi doado para o Ginásio ProfessorAntônio Lopes, regido pela cláusula de, ex-tinta a instituição de ensino, voltar automa-ticamente para a posse do Município.

Talvez por sediar uma escola, o prédioescapou praticamente ileso ao vendaval dadestruição, que assolou a cidade nas últi-mas décadas. Além de conservar sua facha-da original (teve apenas as janelas fecha-das por elementos vasados), esse casarãode tantas memórias, conserva ainda o ve-lho e famoso poço no quintal, o que só fazaumentar o seu valor histórico.

Observando-o atentamente, pode-seter uma idéia de como eram as residênci-as luxuosas dos vianenses que nos ante-cederam.

E A BIBLIOTECAPÚBLICA MUNICIPAL,

QUANDO SERÁINAUGURADA?

Estamos ansiosos pela inauguraçãoda nossa Biblioteca Pública Municipal,que traz o nome do seu fundador, Ozi-mo de Carvalho.

Temos certeza de que seu acervo bi-bliográfico em muito ajudará a pesquisados estudantes de nossa cidade.

No Canto do Galo, em local privile-giado, a Biblioteca Municipal poderá setornar um local de expansão cultural, nosmoldes de que precisamos hoje para in-centivar a leitura entre a classe estudantilvianense.

Com o objetivo de despertar a atenção da po-pulação vianense, em especial dos jovens estudan-tes, a Academia Vianense de Letras inaugurou, em 8de novembro de 2003, nove placas indicativas dosprédios onde nasceram ou residiram os grandes vul-tos da história de Viana. A foto em destaque mostraalguns acadêmicos em frente à casa dos renoma-dos Lopes da Cunha.

Astolfo Serra, Faraíldes Campelo, Nilton Aqui-no, Onofre Fernandes e Temístocles Lima serão ospróximos patronos da AVL a serem homenageados.

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O RENASCER VIANENSEO RENASCER VIANENSE2 Viana – MA, Fevereiro de 2004

O RENASCER VIANENSEDiretor: Lourival SerejoRedator: Luiz Alexandre RapôsoEndereço: Rua Antônio Lopes, 459 - Viana - MA

CEP: 65.215-000

No dia 8 de novembro de2003, a professora Maria Vi-tória dos Santos tornou-se a 4ªmulher a tomar posse na Aca-demia Vianense de Letras, aoocupar a cadeira de nº 21, pa-troneada pela também profes-sora Faraíldes da Silva Campe-lo, notável mestra de geraçõesde vianenses.

Numeroso público (grandeparte composta de colegas pro-fessores, alunos e ex-alunos dahomenageada) compareceu aoGrêmio Recreativo Vianense,para prestigiar a cerimônia bo-nita e inesquecível, acontecidanuma noite de eclipse lunar.

Pontualmente, às 20:30 ho-ras, acompanhada pelos aca-dêmicos Nozor Lauro de SousaFilho e Padre Eider da Silva, aprofessora Maria Vitória aden-trou o salão do Grêmio Recre-ativo para ocupar seu assento,ao lado dos demais acadêmi-cos presentes ao ato. Depois dasolene execução do Hino Via-nense, Maria Vitória dos San-tos fez seu discurso de posse,exaltando os méritos de suapatrona, Faraíldes da SilvaCampelo, a primeira vianensea alcançar o grau de professo-ra normalista. Em seguida,num discurso de boas vindas,a nova acadêmica foi saudadapela confrade Rosa Maria Pi-

A NOVA IMORTAL VIANENSEnásio Professor Antonio Lopes,em 1967. Fez o magistério naEscola Normal Nossa Senhorada Conceição, colando grau noano de 1970. Muito jovem ain-da, antes mesmo de se formar,Vitória Santos, como é mais co-nhecida pela população local,iniciou sua carreira no magisté-rio, na extinta Escola MunicipalSão Judas Tadeu, situada à épo-ca no bairro do Moquiço. Aolongo de seus trinta e cinco anosa serviço da educação vianen-se, Vitória Santos passou pelasprincipais escolas da cidade,como a Unidade Escolar ZildaDias, Ginásio Bandeirante e Es-cola Normal. Sem esquecer dotradicional Centro Cenecista Pro-fessor Antonio Lopes, onde le-ciona desde o ano de 1971.

Maria Vitória dos Santos gra-duou-se em Letras pela Univer-sidade Estadual do Maranhão,em 2001. Em seu currículoconstam ainda cursos de capa-citação, como Licenciatura emLetras, concluído em 1973, eAdministração Escolar, conclu-ído nove anos depois. Atualmen-te, além do cargo de diretoraadministrativa da mais antigainstituição de ensino da cidade,o Grupo Escolar Estêvão Car-valho, exerce o mandato de ve-readora na Câmara Municipalde Viana.

nheiro Gomes. Após a cerimô-nia, foi servido um coquetel aosamigos e familiares da maisnova imortal vianense.

Filha do Sr. Hilton Carlos San-tos e de D. Raimunda Amparo

Rocha Santos, Maria Vitória dosSantos nasceu em Viana no dia16 de fevereiro de 1951. Con-cluiu o curso primário no Gru-po Escolar Estêvão Carvalho, em1962 e o curso ginasial no Gi-

Acompanhada pelo Padre Eider Silva e Nozor Lauro de Sousa Filhoo momento solene da entrada da Professora Maria Vitória dos

Santos no salão do Grêmio Recreativo Vianense

A nova acadêmica fazendo seu discurso de posse O presidente da AVL faz a entrega do diploma à nova imortal vianense

A academia vianensede letras é reconhecida

oficialmente

ALMANAQUE JP TURISMOA mais nova revista maranhense, o Almanaque JP Turismo, lançado

recentemente pelo Jornal Pequeno, sob a direção geral do dinâmico Gu-temberg Bogéa, visa melhor difundir a cultura e as atrações turísticas denosso estado.

Em seu segundo número, o Almanaque JP Turismo traz uma interessan-te matéria de autoria de nosso confrade Luiz Alexandre Raposo sobre Vianae suas potencialidades turísticas.

O Almanaque JP Turismo estará nas bancas de jornal a partir do dia 1ºde março próximo, ao preço módico de R$5,00.

Depois de aprovada pelaCâmara Municipal o pro-jeto de iniciativa do verea-dor José Santos, a Acade-mia Vianense de Letras foireconhecida de utilidadepública, pela Lei nº 148/03, de 19 de novembro de2002.

Este é um motivo para

comemorarmos a sensibili-dade política dos nossos ve-readores e do ExecutivoMunicipal.

Reconhecida como de uti-lidade publica, a nossa Aca-demia deixa, legalmente, aárea do privado para tor-nar-se pública, de utilidadepara todos os vianenses.

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O RENASCER VIANENSEO RENASCER VIANENSE 3

UM ACADÊMICO, UM PATRONO

Viana – MA, Fevereiro de 2004

por Luiz Alexandre B. Rapôso

Órfão de mãe aos trêsanos de idade, o fi-lho de Joana Pereira

Gomes e Tomás de OliveiraGomes, nascido no dia 9 demarço de 1926, foi criadopelos avós e educado pelamadrinha Nhazita (JosefaDias), que lhe ensinou as pri-meiras letras. Em 1938, aosdoze anos, depois de con-cluir o curso primário noGrupo Escolar Estêvão Car-valho, José Pereira Gomes foilevado pelo pai para conti-nuar os estudos em São Luís,onde seria matriculado noColégio Ateneu Teixeira Men-des, transferindo-se posteri-ormente para o Colégio Ma-ristas.

Concluído o ginasial, fezo 1º e o 2º ano do curso ci-entífico no Colégio São Luís,do conceituado professorLuís Rego. Desse período, ofuturo prefeito de Viana guar-daria vivas e agradáveis lem-branças: os estudos, os jo-gos de futebol com os cole-gas, as férias passadas emViana, as festas, as inesque-cíveis serenatas e os planospara o futuro. Em 1945, aos19 anos, viajou para Forta-leza, matriculando-se no Co-légio São João, onde con-cluiria o 2º grau e se prepa-raria para ingressar na car-

reira militar. Entretan-to, por não lograraprovação para o cur-so preparatório de ca-detes, retornou aoMaranhão no final de1946. Ao regressar,José Pereira Gomes foicontratado como pos-talista dos Correios eTelégrafos, esquecen-do os estudos e entre-gando-se à vida des-preocupada e alegrede todo jovem de suaidade.

Uma festa de ca-samento, realizada emViana, iria mudar to-talmente os rumos davida acomodada, eagora sem maiores preten-sões, do funcionário públicofederal. O enlace matrimo-nial era de Carmem (filha doDr. Ozimo de Carvalho) comJosé Pinheiro Gasparinho.Levado pela espontaneidadejuvenil, José Pereira Gomesresolveu, no meio da recep-ção, brindar os noivos comum discurso de improviso. Aoratória fluente do rapaz en-cantou os presentes e cha-mou a atenção, em especi-al, do Monsenhor ManoelArouche. Ao ser informadode que aquele talentoso jo-vem interrompera os estudos,o célebre pároco da Matriznão pensou duas vezes: pro-curou Tomás Gomes e o

aconselhou a incentivar o fi-lho a cursar a faculdade deDireito.

De volta a São Luís, ofuncionário dos Correios sur-preendeu-se com a visita re-pentina de seu genitor, quelhe trazia uma carta de estí-mulo do pároco vianense eo cartão de inscrição para opróximo vestibular. Em 1953,José Pereira Gomes bacha-relava-se em Direito e, já noano seguinte, prestava con-curso para a Magistratura epara o Ministério Público.Aprovado em ambos, optoupelo último, por aspirar àcarreira política, a qual se-ria incompatível com a Ma-gistratura. A primeira nome-

ação, em 1955, foipara a cidade de Mi-rador, permanecendoali apenas três meses,para logo se transferirpara sua cidade na-tal.

Em Viana, comoPromotor Público, ini-ciaria a caminhadaque lhe conduziria aocargo de chefe do exe-cutivo municipal, seisanos depois. A basede sua plataformaeleitoral era a criaçãode um curso ginasial,que iria preencher amaior carência daeducação vianense daépoca. Seria uma ár-

dua batalha que o dinâmicopromotor enfrentaria sem de-sânimos. O mais difícil foiconseguir arrecadar, junto àcomunidade local, a altaquantia de quarenta mil cru-zeiros, valor da taxa exigidapela diretoria da antigaCNEG (Campanha Nacio-nal de Educandários Gratui-tos), sediada no Rio de Ja-neiro. Para tanto, José Perei-ra Gomes criou um livro deouro com quarenta assina-turas, cada uma equivalentea mil cruzeiros. Não demo-rou muito para os maledicen-tes insinuarem que aquelevalor seria usado, na verda-de, para custear sua campa-nha política.

JOSÉ PEREIRA GOMESUm educador imortal

Eleito pelo extinto PSD(Partido Social Democrático),vencendo seus dois adversá-rios, José Pereira Gomes to-mou posse no dia 31 de ja-neiro de 1961, tornando-seo 37º prefeito de Viana. Exa-tos dois meses depois, em 31de março, acontecia a aulainaugural do Ginásio Profes-sor Antônio Lopes, instituiçãode ensino que se tornaria, aolongo das quatro últimas dé-cadas, um marco na educa-ção da juventude não so-mente de Viana, mas, inclu-sive, das cidades circunvizi-nhas.

Em justo reconhecimen-to aos seus serviços em prolda educação da juventudevianense, esse homem, quenão hesitava em entrar emsala de aula, a fim de subs-tituir uma eventual falta deprofessor, foi escolhido comomembro fundador da Acade-mia Vianense de Letras, ondeocupa a Cadeira nº 7, pa-troneada pelo grande Anto-nio Bernardo da Encarnaçãoe Silva. Mas bastaria apenaster sido o fundador e princi-pal sustentáculo, duranteanos, do Ginásio ProfessorAntônio Lopes, para que oPromotor Público e ex-prefei-to, José Pereira Gomes, dei-xasse gravado, em letrasdouradas, seu nome na his-tória contemporânea de Vi-ana.

Lourival Serejo

Neste mês, quando co-memoramos os seten-ta anos de fundação

do Grupo Escolar EstevamCarvalho, o nosso jornal,cumprindo seu propósito dedestacar, a cada edição, umdos patronos da AcademiaVianense de Letras, incumbiu-me de biografar Estevam Car-valho, patrono da Cadeira nº10, da qual sou titular.

Inicialmente, cumpre es-clarecer que o nome oficialdo Grupo Escolar, desde suafundação, consta a grafiaEstevam, embora o nome dohomenageado fosse original-mente Estêvão.

O texto que se segue é oresumo de um capítulo inédi-to do livro sobre a história deViana, que está em fase depesquisa.

Estêvão Rafael de Carva-lho nasceu em Viana, em1808, de família tradicional,sendo seus pais João de Car-valho Santos e MargaridaFrancisca de Araújo Carva-lho. Ainda moço seguiu paraCoimbra (Portugal), onde foicontinuar seus estudos de ní-vel superior, em Matemáticae Filosofia. Era casado comdona Olívia de Jesus Soeirode Carvalho com quem teveum filho, batizado também deEstêvão Carvalho.

Neste ponto, torna-se ne-cessário deixar bem claro aos

vianenses que o Estê-vão Carvalho dequem se ouve contaralguns casos familia-res desabonadores desua conduta comomarido e pai, não erao velho e respeitáveljornalista, mas o seufilho, que trazia o mes-mo nome do pai.

Estêvão Carvalhoera professor, orador,parlamentar e jorna-lista. Foi eleito depu-tado à AssembléiaGeral para a legisla-tura de 1834-1837,durante a qual teveatuação marcante,pela sua inteligência esuas intervenções irô-nicas e cheias de mordacida-de, com propostas polêmicasque despertaram grandes dis-cussões na Corte. Foi, tam-bém, membro destacado daAssembléia Provincial. Deixouvárias contribuições literáriase jornalísticas de considerá-vel valor. Publicou em 1837A Metafísica da Contabilida-de Comercial e traduziu doalemão o poema A primave-ra, de Kleist.

Estêvão Carvalho era umhomem destemido, dotado deuma inteligência penetrante,que se destacou em todas assuas atividades, seja comojornalista, professor ou par-lamentar. Era membro do Ins-tituto Histórico e Geográfico

Brasileiro e Inspetor do Tesou-ro Público Provincial. Atuou,também, como juiz ordinário,em sua cidade natal.

Seu nome ficou definitiva-mente ligado ao jornal quefundou, em 1938, O Bemte-vi (grafia original), que se ca-racterizava por sua linguagemveemente e combativa.

Para o professor e pesqui-sador, Sebastião Jorge, "OBem-te-vi foi um dos jornaismais polêmicos de sua épo-ca. Era um jornal bem escri-to, o que identificava a for-mação cultural do seu edi-tor. Nos seus mais de trêsmeses de atividades, deixouum rastro de inquietação,controvérsias, sendo alvo de

insultos, acusações edefesas" (Jorge, Se-bastião. A linguagemdos pasquins. SãoLuís, 1987, p.98).

Para Astolfo Serra,não há dúvida quan-to à relação do Bem-te-vi com a eclosão daBalaiada:

"Estevam Rafaelde Carvalho foi, sim,o principal responsá-vel intelectual da Ba-laiada. O seu jornalO Bentevi deu nomeaos rebeldes já que odera à facção políticaa que se diziam per-tencer os balaios"(Serra, Astolfo. A ba-laiada. Rio de Janei-

ro: Bedeschi, 1946, p.248).Nascimento Morais Filho,

um estudioso respeitável davida de Estêvão Carvalho,não hesita em classificá-locomo gênio.

Vale a pena transcreveresta impressão de AntônioLopes (História da imprensano Maranhão, p.85) sobreseu ilustre conterrâneo:

"No decurso de umaexistência que não passoudos trinta e oito anos Estê-vão Rafael havia de guardarfidelidade às inclinações ma-nifestadas mal ainda saíra daadolescência, e persistir na-quele amor ao estudo quelhe proporcionou vasto ca-bedal de conhecimentos em

vários ramos da ciência.Dotado de extrema facilida-de para aprender línguas,traduziu o latim, o grego, ofrancês, o inglês, o italiano,o alemão e o castelhano esabia algo de tupi-guarani[...]"

Não se pode deixar dedestacar, por fim, o perfil bi-ográfico traçado pelo seuconterrâneo, Astolfo Serra,em seu estudo sobre A balai-ada, tomando sua personali-dade em várias dimensões enos fornecendo esta eloqüenteimagem:

"Figura muito curiosa dahistória política do Maranhãoé, sem dúvida, a de EstevamRafael de Carvalho.

Conjugavam-se-lhe napersonalidade predicados osmais chocantes. À austerida-de impressionante de suavida pública unia um tempe-ramento irrequieto e comba-tivo, atirando-se à luta decorpo aberto, com um des-prendimento político de ver-dadeiro quixote... Hoje, umséculo depois, estudando-se-lhe a vida, não é possível aohistoriador sincero fugir aodever de proclamar-lhe asvirtudes morais e cívicas, queforam maiores do que os seusmil e muitos pecadilhos delíder do povo."

Estêvão Rafael da Carva-lho faleceu em 26 de marçode 1946, em São Luís, aos 38anos de idade.

ESTÊVÃO RAFAEL DE CARVALHOUm jornalista revolucionário

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O RENASCER VIANENSEO RENASCER VIANENSE4 Viana – MA, Fevereiro de 2004

Oswaldo Pereira Gomes

A chuva na região equatorial,tal qual a neve nas regiões fri-as, cai pesada nos campos e

telhados e afoga a alma infantil, cri-ando fantasias e sonhos que dura-rão toda a vida.

Assim era na minha saudosa Via-na: a vida ao ar livre, que se consti-tuía no maior prazer das crianças. Eainda restava o aconchego das cozi-nhas imensas de outrora, cheirandoa fuligem e café recém-coado. Vivía-mos uma família só, os patriarcasBenedito Gomes e Miguel Mohana eas rainhas desses lares, Maroca eAnice.

Os imigrantes árabes (quandoainda pobres – sírios; já ricos – li-baneses) e os italianos, além dosportugueses, davam um tom dife-rente e requintado à cultura local,fortemente impregnada de costumesafro-indígenas. Aculturado com osMohana, os Lauletta e os Carvalhos,deles recolhi preciosos ensinamen-tos em minha infância. Mas não éo objetivo desta modesta crônica re-latar reminiscências.

Trata-se de falar da obra do aca-dêmico vianense, Kalil Mohana: “Vi-ajando e Educando – As GrandesViagens”.

Diziam os antigos, referindo-se àimportância intelectual de um cida-dão: “É uma pessoa viajada”. KalilMohana teve essa ventura de muito

Viajando e educandoviajar e quis que outros desfrutassemde prêmio igual.

Está no sangue dos levantinos oestigma das caravanas e das loucasaventuras marítimas. Essa sina trou-xe, como dádiva generosa ao Oci-dente, o básico da civilização orien-tal.

A maior aventura dos Mohanafoi incrível: um dia fizeram a mudan-ça, de armas e bagagens, da ativi-dade econômica comercial na bu-cólica Viana, para se tornarem in-dustriais na única megalópole do he-misfério sul, a cidade de São Paulo.Mas suas raízes maranhenses já erammuito fortes. Retornaram a São Luís,permitindo assim que os maranhen-ses pudessem desfrutar de perto dariqueza literária do padre, médico eartista da palavra, o escritor JoãoMohana. Sem esquecer de seus ilus-tres irmãos, todos portadores de donsartísticos.

O Professor Kalil Mohana levouseus alunos a lugares ímpares, reali-zando com eles viagens maravilhosas.Na Amazônia, assistiram o encontrodas águas do Rio Negro com o RioAmazonas e conheceram a bela cida-de de Manaus. Aqui mesmo no Ma-ranhão tiveram contato com sua his-tória, na velha cidade de Alcântara.

Depois ganharam o Brasil dasMinas Gerais: as grutas de LagoaSanta, o colonial e o barroco deOuro Preto, Sabará, São João delRei e Congonhas do Campo. O

Nordeste brasileiro antigo, Olinda eGuararapes. Visitaram igualmente aparadisíaca Fortaleza.

Durante os governos militares,época em que o país teve o maiordesenvolvimento econômico de suahistória, os alunos percorreram oBrasil, que deixava de ser miserável,para tornar-se a 3ª potência econô-mica do mundo. Do Norte ao Sul,passando pelo Amapá, Bahia, RioGrande do Sul, Pará, Espírito Santo,Mato Grosso do Sul, por toda parteviam-se os canteiros de obras: Tu-curuí, Camaçari, Angra dos Reis,Fazenda Itamarati.

Escrita sem qualquer pretensãoliterária, a obra de Kalil Mohanamostra, contudo, a grande sensibili-dade desse mestre, que incluiu ain-da observações de outras viagens re-alizadas por Lisboa, Paris, Moscou,Teerã, Munique, Roterdam, Madri eNairobi. Observações estas transcri-tas no seu belo discurso de posse noInstituto Histórico e Geográfico doMaranhão, em 1995, o qual culmi-nava com a seguinte citação deChesterston: “Historia não quer di-zer que os vivos estão mortos, masque os mortos estão vivos”.

Sem dúvida nenhuma, Kalil Mo-hana é um homem viajado, culto edinâmico. Fica registrado, portanto,o nosso apelo para que publiquenovas histórias de suas viagens, a fimde que possamos nos deleitar com asua prosa rica e inteligência versátil.

Grupo EscolarEstêvão

Carvalho (*)

Uma escola de inestimável re-levo para a cidade de Viana é oGrupo Escolar Estêvão Carvalho,cuja história de existência incluigrandes expoentes da educaçãovianense e incontável número dejovens que, ao longo dos últimossetenta anos, dali partiram muni-dos de uma sólida base educati-va, quesito de fundamental impor-tância na íngreme escalada dosaber.

Fundado no dia 20 de feve-reiro de 1934, às dez horas damanhã, numa cerimônia solene,que contou com as ilustres presen-ças dos Doutores Artur AlmadaLima, juiz de direito da comarca,e Américo Faria de Carvalho, pro-motor público, do coletor estadu-al, Raimundo Marcelino Campe-lo, do delegado escolar, JoaquimMendes da Rocha, e das profes-soras normalistas Faraíldes Cam-pelo Silva, Maria Campelo San-tos, Benedita das Mercês Balby,Zeíla Cunha Lauleta e Edith NairSilva, o colégio funcionou, de iní-cio, no mesmo prédio da antigaEscola Mista Estadual. Algunsanos depois, mudar-se-ia para obonito casarão colonial da RuaGrande, que hoje pertence aoCentro Cenecista Professor Antô-nio Lopes, até mudar-se em defi-nitivo para sua sede própria, nocomeço da década de 50.

A primeira diretora do GrupoEscolar Estêvão Carvalho foi aProfessora Faraíldes Campelo Sil-va. Do quadro de professoras,conforme mencionei, constariammuitos nomes conceituados domagistério vianense, como Raqui-ma da Silva Gomes, Iraci Rodri-gues Cordeiro, Daise Cunha Ro-drigues e várias outras que meescapam à memória. Os alunos,então, torna-se até perigoso rela-cioná-los, sob pena de cometeromissões imperdoáveis. Só possoafirmar que, naqueles bancos,sentaram futuros generais do Exér-cito Brasileiro, futuros prefeitos, fu-turos promotores públicos, futurosjuízes, futuros médicos e até umafutura Secretária de Educação doEstado.

Devido à notável contribuição,prestada por essa instituição deensino à melhoria da educaçãomunicipal, no final da gestão doprefeito Eziquiel de Oliveira Go-mes foi iniciada a construção doatual prédio da escola, situado naantiga Rua São Sebastião (atualDom Hamleto de Angelis), massomente concluída na gestão doprefeito seguinte, Luís Couto.

Por tantos e relevantes serviçosprestados à educação da infân-cia vianense, o Grupo Escolar Es-têvão Carvalho deveria ganhar ostatus de patrimônio educacionale histórico do município, sendoobrigação de todos os filhos daterra, principalmente de seus ad-ministradores, o zelo pela manu-tenção e perene existência dessatão conceituada casa de ensino.

* Texto extraído do livro “Memóriasde América Dias”, de autoria de LuizAlexandre Brenha Raposo, a ser pu-blicado em breve.

Heitor Piedade Júnior

Sinto um despertar em Viana, umnovo renascer através de duas en-tidades, dentre as muitas que gos-

taríamos de ver ressurgir.Poderíamos sonhar com nossas

densas matas oxigenando a antiga Vilade Maracu, cercada por seu lago pro-fundo, com suas águas revoltas, massempre azuis a refletir o céu mais azuldo planeta e a abrigar os mais sabo-rosos pescados de toda a região.

Poderíamos sonhar em ouvir no-vamente o badalar sonoro dos cente-nários sinos de nossa velha Matriz,hoje mudos e relegados ao ostracis-mo, na solidão de um sótão silencio-so.

Poderíamos sonhar com nossas an-tigas professoras que tão bem soube-ram modelar a alma das que têm hojea responsabilidade de repassar aque-les sábios ensinamentos do passado,ainda que com nova roupagem e es-truturas modernas.

Poderíamos sonhar com a religio-sidade pura dos mestres das crençasde nossa fé, hoje, já na posse eternadas verdades e dos mistérios que nosensinaram.

Poderíamos sonhar com a simpli-cidade rude de nossa gente humildede outrora, mas portadores dos maissublimes, profundos e naturais concei-tos de ética, respeito, cidadania e dig-nidade. Poderíamos sonhar, assim,com tudo o que hoje se chama sau-dade.

O tempo passou e com o proces-so da globalização, Viana, como to-das as cidades e vilas do mundo intei-ro, também foi arrastada pela ilusãodo “faz de conta que estamos acom-panhando o progresso e o desenvol-vimento dos povos”.

Em meio a tantas contradições,duas entidades recém-criadas em nos-sa querida Viana vêm apontando paraum novo renascer. Sem deixar, toda-via, de construírem sonhos, já sãouma realidade palpável pela certezade estarmos acordando, de estamosdeixando de sonhar sobre coisas quenão voltam mais.

Não é sem motivo que a palavra“acordar” significa “afinar as cordas

Sonho com o Renascer Vianensede um instrumento”, como também“aquilo que está em sintonia com oque se passa no coração”. E, por acor-dar para um novo renascer, surgiu deum sonho de Lourival Serejo Sousa,um dos orgulhos da magistratura ma-ranhense, e do já consagrado escritorda terra dos lagos, Luiz Alexandre Bre-nha Raposo, uma fantástica realida-de, a de resgatar os valores do passa-do e do presente, projetando para ofuturo o brilhantismo do povo vianen-se. Refiro-me à Academia Vianense deLetras, hoje, muito mais do que reco-nhecida oficialmente como de utilida-de pública, tem seu reconhecimentono coração e na mente da comunida-de, já fazendo parte da cultura de nossagente que dela se sente orgulhosa pordescobrir tantos valores que estavamdesaparecendo nas brumas do tem-po.

É gratificante recordar ou tomar co-nhecimento de vultos sagrados, literá-rios e artísticos, de repercussão muni-cipal, regional, estadual e até nacio-nal, tais como, dentre tantos outros,Antônio Bernardo da Encarnação eSilva (1799-1848), lente de retórica epoética do Liceu Maranhense; EstevãoRafael de Carvalho (1808-1846), queestudou Filosofia e Matemática em Co-imbra (Portugal) e tornou-se professor,jornalista, parlamentar e orador; Cel-so Magalhães (1849-1879), promo-tor público, poeta, novelista, crítico, umdos precursores dos estudos folclóri-cos no Brasil; Raimundo Lopes daCunha (1894-1941), naturalista e et-nógrafo de renome, autor de vasta obracientífica; Antônio Lopes da Cunha(1889-1950), magistrado, poeta, jor-nalista, professor, membro da Acade-mia Maranhense de Letras; Sálvio deSousa Mendonça (1892-1970 ), mé-dico, cientista e professor; Ozimo deCarvalho (1890-1978), farmacêu-tico, escritor, jornalista e político; As-tolfo Serra ( 1900-1978), sacerdote, po-eta, orador, escritor, político, jornalistae Ministro do Superior Tribunal do Tra-balho; Raimundo Nonato TravassosFurtado (1912-1990), poeta, jornalis-ta, político, historiador; Dilú Mello(1911-2000), cantora, compositora,multi-instrumentista, atriz, diretora eprodutora teatral, além de pesquisa-

dora do folclore nacional e tantos ou-tros personagens que constituem a mi-ríade de estrelas nos céus da culturavianense.

Também, por acordar para umnovo renascer, José Antônio Rosa Cas-tro, Pedro Mendengo Filho e GeraldoMagela Viana Abreu, ao lado de ou-tros sonhadores, nascidos e criados àbeira do rosário de lagos do Maracu,considerado o maior conjunto de Ba-cias Lacustre Naturais do Nordeste,atualmente radicados no Rio de Ja-neiro, vencendo uma infinidade deobstáculos, mas preocupados com adestruição criminosa do meio ambi-ente e de nossos valores culturais, so-nharam com a construção de um pro-jeto político de preservação e conser-vação ambiental, voltado para a as-censão econômica da região, atravésdo ecoturismo e do agroturismo. Ape-sar dos preconceitos de segmentos con-servadores, vêm realizando há seteanos ininterruptos um encontro deconscientização e debates sobre as re-alidades e valores de nossa cultura.Neste ano, a equipe, apoiada pelapopulação já em parte conscientiza-da, realizará o VIII Congresso Históri-co Cultural e do Meio Ambiente deViana, sempre na tentativa do resgateda história, da cultura e do respeitoao meio ambiente, em sintonia commilhões de pessoas, no mundo intei-ro, que hoje lutam pela consciênciada manutenção do equilíbrio ecológi-co do planeta, sob pena de nossa mãeTerra tornar-se vítima da mais comple-ta catástrofe.

São três dias de reflexão promovi-dos por esses garimpeiros da culturalocal e regional e seus ilustres convi-dados. Dessa forma, professores, pes-quisadores e estudiosos da matéria, de-bruçam-se diante dos sérios problemasda região, em busca de soluções ur-gentes, face às terríveis agressões aomeio ambiente, patrocinadas por al-guns representantes do poder públicoe de acentuado segmento da socieda-de civil.

Esses são os grandes sonhos quepoderemos sonhar. Sonhos que somen-te a solidariedade de um povo conhe-cedor e amante de sua história serácapaz de transformar em realidade.