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LIMITES E MEIO AMBIENTE O nosso confrade João Mendonça Cor- deiro levanta a discussão sobre a verdadeira localização do Mocoroca, demonstrando que, por lei, o morro pertence ao município de Via- na e não a Cajari. Acrescenta a esse fato o caso do desmembramento e criação do município de Pedro do Rosário. Qualquer vianense se surpreende ao ler o decreto de emancipação de Pedro do Rosário e constatar que, apesar de abranger vários povo- ados considerados vianenses há longos anos, na verdade o território do novo município saiu exclusivamente de Pinheiro. Por quê? Aconteceu que muito antes, houve uma discriminatória proposta pelo município de Pi- nheiro para fixar seus limites e, naquela ação, tais limites vinham até Três Palmeiras, apanhan- do toda aquela região. O município de Viana foi citado e deixou o processo correr à reve- lia. Resultado: perdeu toda aquela área para Pinheiro. De fato, os povoados continuaram como se fossem de Viana, mas de direito eram de Pinheiro. Quando da emancipação de Pedro do Ro- sário, o município de Viana, pelo seu represen- tante, manteve-se inerte, deixando o plebiscito ocorrer sem qualquer objeção. Outro resulta- do: consolidou-se a usurpação de parte do município de Viana, que ficou reduzido ao que é hoje: uma pequena fatia de terra. A conclusão desse histórico é que nossos políticos são indiferentes às grandes questões institucionais, aquelas que não dão votos nem importam em promoção pessoal. Outro assunto muito importante aborda- do nesta presente edição refere-se à recente visita que fiscais do IBAMA fizeram a Viana, quando constataram o desmatamento em áre- as de manguezais. A depredação de nossos mangues fatalmen- te atinge e desequilibra todo o nosso ecossis- tema lacustre, reclamando, portanto, uma séria e urgente política de preservação do meio am- biente em nossa região. O assassinato de um lavrador supostamen- te ligado a essa postura de vigilância do IBAMA ainda complica mais a situação. Não há preservação do meio ambiente sem consciência de sua importância e das conseqü- ências catastróficas das depredações provoca- das pelo homem. Nossos campos e lagos, privilégios que a natureza nos ofertou, reclamam, em troca, essa tomada de consciência e o compromisso de sua conservação. A barragem de Penalva, aplau- dida como ponto turístico, causou sérios da- nos ecológicos ao nosso lago e nada foi feito. Já é hora de deixarmos de tantas omissões. Por conta delas perdemos território e podemos perder a integridade do nosso ecossistema. Como diz o poeta, de flor em flor perderemos o nosso jardim. VIANA 250 ANOS DE MEMÓRIA PRÉDIO DA PREFEITURA MUNICIPAL Belíssimo exemplar da arquitetura colonial, este prédio de linhas aristocráticas guarda muito da História política e social de nosso município. Palco de decisões importantes e de momen- tos apreensivos no passado (como a famigera- da tomada de poder durante a Revolução de 30), pouco se conhece a respeito do histórico deste imóvel, como o ano de sua construção e os nomes de seus antigos proprietários. De fontes oficiais, sabe-se apenas que no ano de 1901 (há mais de um século, portanto), quan- do o renomado fotógrafo Guadêncio Cunha pro- cedeu ao registro fotográfico dos aspectos da vida maranhense do início do século XX (numa viagem pelo interior do Estado que durou cerca de dez meses), a fim de publicar, sete anos de- pois, o álbum intitulado “Maranhão 1908”, este imóvel azulejado já sediava a Prefeitura de Via- na, merecendo assim destaque especial naque- la publicação. Sem deixar de funcionar como sede do po- der executivo, o prédio abrigou uma escola pri- mária por vários anos, além de servir de residên- cia para alguns interventores e até promotores públicos, sem falar dos memoráveis bailes car- navalescos ali realizados. Referindo-se a tais fes- tas, a violinista América Dias, falecida aos 94 anos, relata em suas memórias: “... nos anos em que os bailes aconteciam na Prefeitura parecia que o carnaval ganhava um colorido maior, pois o lo- cal era o preferido pela sociedade vianense. Bem- localizado, com amplos salões e inúmeras jane- las, o prédio possuía ainda um jardim espaçoso e arejado, onde as mesas eram distribuídas. Quan- do o calor sufocava nos salões apinhados de gente, os foliões podiam se dirigir ao jardim para se refrescarem com a brisa noturna...” Infelizmente e apesar de tamanha importân- cia histórica, o prédio não passou ileso à insensi- bilidade e irresponsabilidade de certos adminis- tradores municipais. Houve um período, não muito distante, em que o jardim serviu de abrigo noturno para animais (bois, vacas e jumentos) que perambulavam pela cidade. Entretanto, a maior agressão ao valor arqui- tetônico do prédio foi a criminosa retirada dos azulejos portugueses de sua fachada, no final da década de 1980, fato este que lhe roubou uma das principais características da feição au- tenticamente colonial. E como se não bastaste tamanha descaracterização, onde antes existia o grande corredor assoalhado com despensa e cozinha foi aberta uma rua transversal, a mando de outro prefeito. Atualmente, o outrora imponente imóvel fi- cou reduzido a uma peça quadrada e solta, situado entre a antiga pracinha e a travessa construída com o objetivo de facilitar o estaci- onamento particular do então chefe do execu- tivo municipal. Para tristeza daqueles que verdadeiramente amam Viana, o prédio da Prefeitura tornou-se mais um exemplo do descaso e desrespeito, por parte de quem por ali passou, ao patrimônio público da cidade. LUIZ ALEXANDRE O RENASCER VIANENSE O RENASCER VIANENSE ÓRGÃO DE DIVULGAÇÃO DA A CADEMIA VIANENSE DE L ETRAS ANO V Nº 18 VIANA-MA, NOVEMBRO DE 2007 Na noite do dia 24 próximo, durante reunião solene da AVL, as senhoras Maria de Lourdes de Carvalho Costa e Maria Gomes Costa estarão recebendo a placa de “Honra ao Mérito Via- nense”, ofertada por esta agremiação cultural a todos aqueles que, de alguma forma, trabalham em prol da coletividade local ou enaltecem o nome desta cidade em outras plagas. Há vinte anos, D. Maria de Lourdes de Car- valho Costa iniciou aqui um trabalho pioneiro de acompanhamento pré-natal às mães de bai- xa renda. Atualmente, através da Fundação Be- neficente São Sebastião (a qual dirige), o traba- lho de apoio às mães gestantes estendeu-se às crianças e adolescentes vianenses. São cerca de 300 famílias assistidas pela fundação, incluindo 150 crianças que se encontram matriculadas na pré-escola. Já D. Maria Gomes Costa trouxe para si a responsabilidade pela manutenção do antigo Gi- násio Professor Antônio Lopes, escola por onde passaram várias gerações de jovens vianenses nos últimos 46 anos. Fundado sob a tutela da extinta Campanha Nacional de Educandários Gratuitos (CNEG), o estabelecimento precisou da ajuda e do braço forte de D. Maria, a fim de vencer as crises e inúmeras dificuldades surgidas no caminho, até se transfor- mar no atual Centro de Ensino Antônio Lopes e assim poder continuar prestando bons serviços à comunidade (a escola fornece hoje os cursos Fun- damental e Médio, além da pré-escola). HONRA AO MÉRITO VIANENSE D. Lurdinha Costa D. Maria Gomes Costa Flagrante desrespeito ao patrimônio público: a parte posterior do prédio secular foi destruída para ceder espaço a um estacionamento de veículos. GERALDO COSTA O SOBRADO AMARELO é o titulo do livro de autoria de nosso confrade, Carlos Gaspar, que será lançado na Igreja Ma- triz, no dia 24 próximo (sábado), às 20 horas. A obra, que reúne variado repertório de crô- nicas sobre Viana, sua gente e seus costumes, resulta do trabalho de busca e rememoração de causos contados por comerciantes vianenses que, em décadas passadas, viajavam constante- mente a São Luís, a fim de renovar o estoque de mercadorias no comércio atacadista do Sr. Ar- mando Gaspar, pai do autor. Alguns desses textos são inéditos, outros já foram publicados na coluna dominical de “O Imparcial” que leva a assinatura do acadêmico vianense. É importante ressaltar que, conforme o títu- lo sugere, boa parte da história do sobrado amarelo (o qual abrigou a antiga Fábrica Santa Maria) é abordada no livro. E ninguém melhor que Carlos Gaspar, que ali nasceu e dali absor- veu suas primeiras impressões do mundo, para nos contar fatos e descrever personagens da- quela época que com certeza despertarão o in- teresse e a curiosidade dos leitores.

O RENASCER VIANENSE - avlma.com.bravlma.com.br/site/wp-content/uploads/2018/11/RENASCER-18.pdf · O nosso confrade João Mendonça Cor-deiro levanta a discussão sobre a verdadeira

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LIMITES EMEIO AMBIENTE

O nosso confrade João Mendonça Cor-deiro levanta a discussão sobre a verdadeiralocalização do Mocoroca, demonstrando que,por lei, o morro pertence ao município de Via-na e não a Cajari. Acrescenta a esse fato o casodo desmembramento e criação do municípiode Pedro do Rosário.

Qualquer vianense se surpreende ao ler odecreto de emancipação de Pedro do Rosário econstatar que, apesar de abranger vários povo-ados considerados vianenses há longos anos,na verdade o território do novo município saiuexclusivamente de Pinheiro. Por quê?

Aconteceu que muito antes, houve umadiscriminatória proposta pelo município de Pi-nheiro para fixar seus limites e, naquela ação,tais limites vinham até Três Palmeiras, apanhan-do toda aquela região. O município de Vianafoi citado e deixou o processo correr à reve-lia. Resultado: perdeu toda aquela área paraPinheiro. De fato, os povoados continuaramcomo se fossem de Viana, mas de direito eramde Pinheiro.

Quando da emancipação de Pedro do Ro-sário, o município de Viana, pelo seu represen-tante, manteve-se inerte, deixando o plebiscitoocorrer sem qualquer objeção. Outro resulta-do: consolidou-se a usurpação de parte domunicípio de Viana, que ficou reduzido ao queé hoje: uma pequena fatia de terra.

A conclusão desse histórico é que nossospolíticos são indiferentes às grandes questõesinstitucionais, aquelas que não dão votos nemimportam em promoção pessoal.

Outro assunto muito importante aborda-do nesta presente edição refere-se à recentevisita que fiscais do IBAMA fizeram a Viana,quando constataram o desmatamento em áre-as de manguezais.

A depredação de nossos mangues fatalmen-te atinge e desequilibra todo o nosso ecossis-tema lacustre, reclamando, portanto, uma sériae urgente política de preservação do meio am-biente em nossa região.

O assassinato de um lavrador supostamen-te ligado a essa postura de vigilância do IBAMAainda complica mais a situação.

Não há preservação do meio ambiente semconsciência de sua importância e das conseqü-ências catastróficas das depredações provoca-das pelo homem.

Nossos campos e lagos, privilégios que anatureza nos ofertou, reclamam, em troca, essatomada de consciência e o compromisso desua conservação. A barragem de Penalva, aplau-dida como ponto turístico, causou sérios da-nos ecológicos ao nosso lago e nada foi feito.

Já é hora de deixarmos de tantas omissões.Por conta delas perdemos território e podemosperder a integridade do nosso ecossistema.Como diz o poeta, de flor em flor perderemoso nosso jardim.

VIANA

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A N O S

D E

MEMÓRIA

PRÉDIO DA PREFEITURA MUNICIPAL

Belíssimo exemplar da arquitetura colonial, esteprédio de linhas aristocráticas guarda muito daHistória política e social de nosso município.

Palco de decisões importantes e de momen-tos apreensivos no passado (como a famigera-da tomada de poder durante a Revolução de30), pouco se conhece a respeito do históricodeste imóvel, como o ano de sua construção eos nomes de seus antigos proprietários.

De fontes oficiais, sabe-se apenas que no anode 1901 (há mais de um século, portanto), quan-do o renomado fotógrafo Guadêncio Cunha pro-cedeu ao registro fotográfico dos aspectos davida maranhense do início do século XX (numaviagem pelo interior do Estado que durou cercade dez meses), a fim de publicar, sete anos de-pois, o álbum intitulado “Maranhão 1908”, esteimóvel azulejado já sediava a Prefeitura de Via-na, merecendo assim destaque especial naque-la publicação.

Sem deixar de funcionar como sede do po-der executivo, o prédio abrigou uma escola pri-mária por vários anos, além de servir de residên-cia para alguns interventores e até promotorespúblicos, sem falar dos memoráveis bailes car-navalescos ali realizados. Referindo-se a tais fes-tas, a violinista América Dias, falecida aos 94anos, relata em suas memórias: “... nos anos emque os bailes aconteciam na Prefeitura parecia queo carnaval ganhava um colorido maior, pois o lo-cal era o preferido pela sociedade vianense. Bem-localizado, com amplos salões e inúmeras jane-las, o prédio possuía ainda um jardim espaçoso earejado, onde as mesas eram distribuídas. Quan-do o calor sufocava nos salões apinhados degente, os foliões podiam se dirigir ao jardim parase refrescarem com a brisa noturna...”

Infelizmente e apesar de tamanha importân-

cia histórica, o prédio não passou ileso à insensi-bilidade e irresponsabilidade de certos adminis-tradores municipais. Houve um período, nãomuito distante, em que o jardim serviu de abrigonoturno para animais (bois, vacas e jumentos)que perambulavam pela cidade.

Entretanto, a maior agressão ao valor arqui-tetônico do prédio foi a criminosa retirada dosazulejos portugueses de sua fachada, no finalda década de 1980, fato este que lhe roubouuma das principais características da feição au-tenticamente colonial. E como se não bastastetamanha descaracterização, onde antes existia ogrande corredor assoalhado com despensa ecozinha foi aberta uma rua transversal, a mandode outro prefeito.

Atualmente, o outrora imponente imóvel fi-cou reduzido a uma peça quadrada e solta,situado entre a antiga pracinha e a travessaconstruída com o objetivo de facilitar o estaci-onamento particular do então chefe do execu-tivo municipal.

Para tristeza daqueles que verdadeiramenteamam Viana, o prédio da Prefeitura tornou-semais um exemplo do descaso e desrespeito, porparte de quem por ali passou, ao patrimôniopúblico da cidade.

LUIZ ALEXANDRE

O RENASCER VIANENSEO RENASCER VIANENSEÓRGÃO DE DIVULGAÇÃO DA ACADEMIA VIANENSE DE LETRAS ANO V Nº 18 VIANA-MA, NOVEMBRO DE 2007

Na noite do dia 24 próximo, durante reuniãosolene da AVL, as senhoras Maria de Lourdes deCarvalho Costa e Maria Gomes Costa estarãorecebendo a placa de “Honra ao Mérito Via-nense”, ofertada por esta agremiação cultural atodos aqueles que, de alguma forma, trabalhamem prol da coletividade local ou enaltecem onome desta cidade em outras plagas.

Há vinte anos, D. Maria de Lourdes de Car-valho Costa iniciou aqui um trabalho pioneirode acompanhamento pré-natal às mães de bai-xa renda. Atualmente, através da Fundação Be-neficente São Sebastião (a qual dirige), o traba-lho de apoio às mães gestantes estendeu-se àscrianças e adolescentes vianenses. São cerca de300 famílias assistidas pela fundação, incluindo150 crianças que se encontram matriculadas napré-escola.

Já D. Maria Gomes Costa trouxe para si aresponsabilidade pela manutenção do antigo Gi-násio Professor Antônio Lopes, escola por ondepassaram várias gerações de jovens vianensesnos últimos 46 anos.

Fundado sob a tutela da extinta CampanhaNacional de Educandários Gratuitos (CNEG), oestabelecimento precisou da ajuda e do braço fortede D. Maria, a fim de vencer as crises e inúmerasdificuldades surgidas no caminho, até se transfor-mar no atual Centro de Ensino Antônio Lopes eassim poder continuar prestando bons serviços àcomunidade (a escola fornece hoje os cursos Fun-damental e Médio, além da pré-escola).

HONRA AO MÉRITO VIANENSE

D. Lurdinha Costa D. Maria Gomes Costa

Flagrante desrespeito ao patrimônio público: aparte posterior do prédio secular foi destruída para

ceder espaço a um estacionamento de veículos.

GERALDO COSTA

O SOBRADO AMARELOé o titulo do livro de autoria de nosso confrade,Carlos Gaspar, que será lançado na Igreja Ma-triz, no dia 24 próximo (sábado), às 20 horas.

A obra, que reúne variado repertório de crô-nicas sobre Viana, sua gente e seus costumes,resulta do trabalho de busca e rememoração decausos contados por comerciantes vianensesque, em décadas passadas, viajavam constante-mente a São Luís, a fim de renovar o estoque demercadorias no comércio atacadista do Sr. Ar-mando Gaspar, pai do autor.

Alguns desses textos são inéditos, outros jáforam publicados na coluna dominical de “OImparcial” que leva a assinatura do acadêmicovianense.

É importante ressaltar que, conforme o títu-lo sugere, boa parte da história do sobradoamarelo (o qual abrigou a antiga Fábrica SantaMaria) é abordada no livro. E ninguém melhorque Carlos Gaspar, que ali nasceu e dali absor-veu suas primeiras impressões do mundo, paranos contar fatos e descrever personagens da-quela época que com certeza despertarão o in-teresse e a curiosidade dos leitores.

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2 Viana(MA), 250º Aniversário – novembro de 2007O RENASCER VIANENSEO RENASCER VIANENSE

DESFILE DE ESTUDANTES TEM COMOTEMA OS 250 ANOS DA CIDADE

Raly em Viana

O Jipe Clube de São Luís pro-moveu, no feriadão de 7 a 9 desetembro último, a 1ª Expediçãoda Baixada Maranhense em come-moração aos 250 anos de Viana.

A expedição, composta de 18carros (entre jipes, camionetes equadriciclos – sem contar os vári-os motoqueiros que iam se juntan-do à caravana pelo caminho) per-correu vários municípios, desde oterminal do ferry-boat em Cujupe,passando por Bequimão, Peri-Mi-rim, Palmeirândia, São Bento, Olin-da Nova do Maranhão, Matinha ePenalva até alcançar Viana, pontofinal da viagem.

Depois de percorrer as prin-cipais artérias da cidade, anunci-ando festivamente sua chegada,a caravana fez uma parada sim-bólica no Canto de João Cordei-ro, antes de seguir para o ParqueDilú Mello.

O principal passeio do anima-do grupo aconteceu pelos camposque margeiam os lagos da região.A beleza natural de nossas para-gens, realçada pelas planícies ver-des em contraste com a linha dohorizonte pontilhada de morros,deslumbrou tanto os visitantes queo evento passará a fazer parte daprogramação anual do Jipe Clube.

Cumpre ressaltar o patrocí-nio obtido de empresas de SãoLuís e Viana, especialmente a ces-são da Fazenda GM, de proprie-dade do empresário Altevir Men-donça, onde além de confortáveisapartamentos para o descansodos participantes da expedição(com direito a café da manhã) foi-lhes oferecido um churrasco deboas-vindas.

Na oportunidade, foram en-tregues troféus (com o símbolo doJipe Clube) a alguns homenagea-dos pela direção da entidade. Osecretário da Academia Vianensede Letras, João Mendonça Cor-deiro, como autor da idéia e prin-cipal incentivador da realização da1ª Expedição da Baixada Mara-nhense foi um dos agraciados coma honrosa distinção.

Homenagem aos patronos da AVL: a professora, Edith Nair Silva, que se notabilizou no ensino da Geografia, foirepresentada pela aluna Wellen Azevedo (1); Samila Barbosa (2) veio de enfermeira para lembrar Enedina Raposo;

Faraídes Campelo Silva esteve representada pela estudante Gelsane Andrade (3) que exibia o diploma do Liceu,outorgado à primeira professora normalista nascida em Viana; o médico Sálvio Mendonça foi personificado pelojovem Eldimir Franco Neto (4); o poeta e jornalista Travassos Furtado por Ronald Felipe Sousa (5) e a fase da

infância de Dilú Mello (quando estudava violino em Viana) foi reverenciada por Yasmim Lima da Silva (6).

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4 5 6

Neste ano de 2007, durante atradicional parada de 7 de se-tembro, quando os estudantes

desfilaram garbosamente pelas ruas dacidade, o tema mais abordado pelamaioria das escolas centrou-se na his-tória de Viana, iniciada com a funda-ção da antiga Missão do Maracu pe-los padres jesuítas, em 1683.

A Unidade de Ensino EstevamCarvalho, dirigida pela acadêmicae professora, Vitória Santos, fez umdos desfiles mais bonitos e harmô-nicos em seu conjunto, mostrandoos principais ciclos econômicos pe-los quais Viana passou e exaltandoos nomes de seus filhos ilustres quepontificaram nessa trajetória reple-ta de lutas e glórias.

Alunos de todas as séries e ida-des, distribuídos em diversos pelotões,encarnaram com entusiasmo seus per-sonagens (para orgulho dos pais eprofessores), dispostos a narrar os dois

Um pelotão representando a AVL finalizava o bonito desfile do Estevam Carvalho.

séculos e meio de nossa história.Esta academia mereceu desta-

que especial no desfile do EstevamCarvalho, ganhando um pelotão for-mado por vinte e cinco estudantes

que representavam os acadêmicosvianenses.

As fotos abaixo ilustram muito bemo que foi o desfile de 7 de setembroem Viana.

Os 25 acadêmicos representados por jovens estudantes

Momento em que a expedição sepreparava para deixar a fazenda

GM em direção à cidade de Viana.

A grande fileira de carrosdescendo a Rua Grande emdireção ao Parque Dilú Mello.

A animada turma do Jeep Clubede São Luís na I Expedição da

Baixada Maranhense.

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3Viana(MA), 250º Aniversário – novembro de 2007 O RENASCER VIANENSEO RENASCER VIANENSE

POSSE DE PEDROMENDENGO FILHO NA AVL

Na noite do dia 21 de julhoúltimo, a Igreja Matriz abriusuas portas para sediar mais

uma reunião solene da AcademiaVianense de Letras. Desta vez, comoparte das comemorações do 250ºaniversário da cidade e encerran-do o XI Congresso Cultural (pro-movido pela Fundação Conceiçãodo Maracu), realizou-se a posse doacadêmico Pedrito Frank MarquesNunes mais conhecido pela comu-nidade local como Pedro Menden-go Filho.

Titular da Cadeira de nº 25, cujopatrono é o maestro e músico Rai-mundo Nogueira, Pedro fez seu dis-curso de posse para uma assistênciacomposta de amigos, familiares evelhos conhecidos que lhe prestigia-ram comparecendo à cerimônia.Emocionado, o novo acadêmico dis-correu sobre a vida e os méritos des-se ícone da música vianense.

O Dr. Heitor Piedade Júnior, embelíssima saudação de boas vindas,destacou a preocupação e o empe-nho deste filho da terra que, embo-ra residindo no Rio de Janeiro, nãose exime da responsabilidade de tra-balhar pela conscientização social,ambiental e política de seus conter-râneos, principalmente da juventu-de vianense.

A reunião solene, dirigida pelopresidente da casa, Luiz AlexandreRaposo, contou ainda com a parti-cipação dos seguintes acadêmicos:Padre Eider Silva, João MendonçaCordeiro, Joaquim Gomes, Kalil Mo-hana, Lourival Serejo, ConceiçãoRaposo, Nozor de Sousa Filho, JoséAntonio Castro, Raimundo José Nu-nes Mendonça (Seu Nunes), Rogé-rio du Maranhão e Vitória Santos(além do já citado Heitor PiedadeJúnior). Compondo a mesa, as pro-fessoras Maria José Mendonça eIsaura Lopes, o Sr. José Soeiro e oJuiz de Direito da Comarca de Im-peratriz, Dr. José Ribamar de Olivei-ra Costa Júnior.

O novo acadêmico entre seus pares da AVL.

P edrito Frank Marques nasceu emViana, no dia 23 de novembrode 1944, sendo o quinto filho do

casal Pedro José Nunes e Maria dosRemédios Marques Nunes. Na décadade 1950, o garoto fez o curso primáriona extinta Escola Paroquial D. José Del-gado e, posteriormente, o 2º Grau noColégio Batista, em São Luís.

Licenciado em Psicologia (especi-alização em Psicologia Clínica Psicos-somática), o novo acadêmico resideno Rio de Janeiro há mais de 30 anos,onde é funcionário público federal,lotado no Instituto Brasileiro de Geo-grafia e Estatística (IBGE). Atualmentefaz mestrado em História pela Univer-sidade Salgado de Oliveira (Niterói).

Casado com Aurora Terezinha deMenezes Nunes, pai de dois filhos(Marcelo Luís e Márcio Chrystiano) eavô de três netos (Amanda, Ariel eBeatriz) Pedro Mendengo Filho é umdos mentores da Fundação Concei-ção do Maracu, entidade articuladorae organizadora do tradicional Con-gresso Cultural de Viana (voltado prin-cipalmente para a questão ambientale educacional do município), que des-de o ano de 1997 acontece na cida-de, sempre no mês de julho.

Para abrilhantar a noite, a ceri-mônia contou com a participação doCoral Antonio Rayol (dos amigos daUFMA) que interpretou o Hino Na-cional na abertura da reunião e, noencerramento, brindou os presentescom um pequeno recital que incluiupeças da autoria de Antonio Rayol e

algumas pérolas da MPB (incluindoa antológica Fiz a cama na varandade Dilú Mello).

Após a solenidade, a famíliaMendengo gentilmente ofereceu umcoquetel aos acadêmicos e convida-dos do empossado, no pátio internoda Escola Estevam Carvalho.

Pedro Mendengo Filho fazendoseu discurso de posse.

O Dr. Heitor Piedade Júniorsaudando o novo imortal vianense.

João Mendonça Cordeiro

Viana enfrenta, há muito tempo, oproblema da indefinição de seus limitesterritoriais com os municípios vizinhos,antigos e novos.

Muitas dúvidas pairam e precisamser urgentemente dirimidas.

Os povoados remanescentes dequilombos, como Mocambo, CarroQuebrado e Santo Inácio, por exem-plo, cujas importâncias históricas foramrealçadas com a reedição pela Acade-mia Vianense de Letras do livro da pes-quisadora e historiadora Mundinha Ara-újo, Insurreição de Escravos em Viana -1867, ainda pertencem a Viana ou pas-saram a integrar o novo Município dePedro do Rosário? E o belo morro doMocoroca, a quem pertence?

Infelizmente, há um desconheci-mento geral não só por parte da popu-lação, mas, principalmente, de autori-dades e de políticos com referência aoslimites territoriais entre os diversos mu-nicípios maranhenses.

Algumas diretrizes jurídicas devemser, de princípio, estabelecidas, segun-do informações colhidas junto à Assem-bléia Legislativa do Maranhão:

1º - a legislação ainda em vigor,sobre o assunto, é a Lei nº 269, de31.12.1948, publicada no Diário Ofi-

cial de 26.2.1949 e os limites por eladeterminados somente foram modifica-dos pela criação de novos municípios;

2º - continua inalterada a Lei nº6.190, de 10.11.1994, publicada noDiário Oficial dessa data, que criou oMunicípio de Pedro do Rosário.

Em relação a Viana, portanto, per-sistem os limites então definidos e nãoalterados, referentes a Anajatuba, Ara-ri, Cajari, Penalva e Vitória do Mearim.

Com o Município de Cajari, a cita-da lei assim determina o limite:

“Começa na foz do Igarapé JoãoLopes, à margem direita do rio Pindaré;segue pelo veio deste rio à montante até

a barra do rio Maracu à sua margemdireita; continua pelo curso deste rio àmontante até o lugar Canivete que incluipara Cajari à sua margem direita; daípor um alinhamento reto ao morro de-nominado Mocoroca; segue pela encos-ta sul e sudoeste deste morro e daí porum alinhamento reto à foz do IgarapéCajari, à margem sul do lago de Viana.”

O que nos leva a concluir que omorro do Mocoroca, definitivamente,pertence a Viana. Somente pertenceria aCajari, se o marco divisório fosse, comose acreditava, a linha final do lago deViana que margeia a ilha do Mocoroca.

E os povoados usurpados por Pe-

dro do Rosário?A lei que criou o município determi-

na, taxativamente, em seu artigo 1º:“Fica criado o Município de Pedro

do Rosário, com sede no Povoado Pe-dro do Rosário, a ser desmembrado doMunicípio de Pinheiro, subordinado àComarca de Pinheiro”

Algumas denúncias atribuem aospesquisadores do Instituto Brasileiro deGeografia e Estatística (IBGE) a culpapelos lapsos e equívocos cometidos nasdemarcações dos limites territoriais. Se-gundo consta, tais pesquisadores esta-riam determinando limites por contaprópria, de acordo com o seu entender,ignorando ou talvez interpretando demaneira errônea o que de fato determi-na a legislação vigente.

Com tantas e descabidas incerte-zas, propomos que a Prefeitura Munici-pal de Viana promova um encontro coma participação de representantes de to-dos os órgãos (estaduais e federais) res-ponsáveis pela definição e manutençãodos limites do Município.

Dissipadas definitivamente as dúvi-das, como coroamento das festividadesdos 250 anos de Viana, a própria Pre-feitura poderia providenciar a coloca-ção de marcos divisórios em cada rumo,a fim de que todos os povoados tives-sem certeza quanto ao município a querealmente pertencem.

O MOCOROCA É NOSSO

LUIZ ALEXANDRE

FOTOS: FRED COSTA

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4 Viana(MA), 250º Aniversário – novembro de 2007O RENASCER VIANENSEO RENASCER VIANENSE

Luiz Alexandre Raposo

José Mendes Pinheiro foio último empresário a re-sidir no histórico sobradode azulejos amarelos da

Rua Cônego Hemetério e a diri-gir aquela importante casa decomércio, conhecida como “Fá-brica Santa Maria.” Como seusantecessores, Edgar SerzedeloCarvalho, Antonio Gaspar Mar-ques e Armando Gaspar, o jo-vem filho do influente chefe po-lítico local, o português DelfimNeves Pinheiro, saberia levar àfrente os negócios do comércioatacadista vianense.

O começo - Ainda muito jo-vem, José Mendes Pinheiro co-meçou a trabalhar na firma A.G. Marques & Cia. varrendosalas e empacotando mercado-rias. Quando o cunhado, Ar-mando Gaspar, resolveu juntar-se ao primo e sócio, AntonioMarques Gaspar, em São Luís,teve dúvidas sobre o futuro dosnegócios em Viana. Afinal, a fir-ma comercializava produtos demultinacionais e fábricas impor-tantes, como a Metrópole, a Te-xaco, e a Martins & Irmãos. Semmuita alternativa, resolveu testara capacidade do jovem ajudan-te de balcão. Surpreendeu-secom o talento do rapaz que, apartir da atenta observação detudo que acontecia à sua volta,já se familiarizara com as tran-sações comerciais.

Apesar de subsistir principal-mente da exportação de arroz,algodão, babaçu e peles de ani-mais (bois, capivaras, veados,cobras e afins), a Fábrica San-ta Maria, além das máquinasde pilar arroz e de descaroçaralgodão, abrigava um comér-cio variado que abrangia des-de tecidos a produtos como ga-solina, querosene, sabão e ou-tros mais.

Com o passar do tempo, oex-empacotador criou sua pró-pria firma, a “José Mendes Pi-nheiro”, desligando-se dos Gas-par, mas continuando a ocuparo sobrado amarelo de proprie-dade dos antigos patrões. Mon-tou ali, também, uma máquinade torrefação de café que for-neceu à população local, du-rante anos, o famoso “Café Pi-nheiro”. Tornou-se correspon-dente da Sul América Compa-nhia Nacional de Seguros deVida e conseguiu ainda a repre-sentatividade da Singer, fabrican-te das afamadas máquinas decostura.

JOSÉ MENDES PINHEIRO

O maior empresário vianense do século XX

Homem de visão - O es-pírito empreendedor do jovemhomem de negócios não pa-raria, entretanto, por aí. Perce-bendo a morosidade e a pe-quena capacidade dos barcospara o transporte das sacas dearroz, algodão e principalmen-te de babaçu (que superavaem quantidade todos os de-mais produtos agrícolas expor-tados, na sua época, e que tra-zia a agravante de ter suasamêndoas quebradas pelo efei-

O Sr. José Pinheiro exibe a placa de “Honra ao Mérito Vianense”, rodeado pelos filhos (Miguel, Delfim, Pinheirinho,José Antonio e Maria Laura), pelo irmão Manoel Pinheiro, e pelo cunhado e acadêmico, Kalil Mohana.

to do calor e do tempo de es-tocagem), Zé Pinheiro, comoficaria mais conhecido, partiupara a compra de uma peque-na lancha, a JP. Depois viriamoutras maiores como a JL e aSanto Inácio de Loiola, estaúltima de dois toldos.

Zé Pinheiro foi o primeiro co-merciante vianense a adquirirum caminhão. Como as lan-chas, chegou a possuir três de-les ao mesmo tempo.Visandofacilitar o escoamento da pro-

dução agrícola dos povoadosaté a sede do município, man-dou abrir várias estradas. Semcontar com a ajuda da Prefeitu-ra, contratou 100 homens, osquais trabalhavam em dez tur-nos de revezamento, cada qualcom dez trabalhadores, sob ocomando do conhecido SatuPerna. E logo o dinâmico comer-ciante inaugurava a primeiraestrada que levava ao povoadode Três Palmeiras. Dessa forma,os caminhões de sua proprieda-de podiam trafegar com maiorrapidez e eficiência.

Assim, dono de caminhõesque traziam a produção do in-terior do município e de lanchasque levavam essa produção atéSão Luís (retornando com mer-cadorias para abastecer o co-mércio), além do transporteconstante de passageiros, Zé Pi-nheiro comprovava definitiva-mente sua vocação para o mun-do dos negócios.

Também o transporte aéreotornou-se uma realidade paraos vianenses graças à sua ini-ciativa e prestígio junto ao em-presário Glacimar Ribeiro Mar-ques, dono de uma frota deaviões monomotores na capital.Mesmo quando a cidade ain-da não possuía um campo depouso apropriado, os aviõespodiam usar como pista o an-

O jovem casal Laura Mohana eJosé Pinheiro com o filho primogênito.

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5Viana(MA), 250º Aniversário – novembro de 2007 O RENASCER VIANENSEO RENASCER VIANENSE

Trechos do discurso do Sr. José Pinheiro, lido por seufilho José Antonio Mohana Pinheiro, em sessão solene daAVL, realizada na noite de 21/05/2004.

[...] O que consegui fazer em Viana, todos sabem, gostaria de ter feitomuito mais. Entretanto, se algo me liga a Viana, esse algo é o amor. Sim, estapalavra tão gasta e desgastada é a força que movimenta o sol e todas asestrelas, conforme diz o poeta Dante, encerrando seu poema famoso.

Laura Mohana saiu da pequena Viana e foi para a cidade que mais cresciano mundo: São Paulo! Conheceu lá muitos árabes e italianos, mas voltou parao então jovem José Pinheiro.

Meus filhos conhecem várias nações do mundo, mas são fascinados pela“Princesa do Mocoroca”. Alguns residem no Rio Grande do Norte e até nosEstados Unidos, mas cancelaram compromissos e aqui estão, revendo a terranatal, que não trocam por nenhuma outra. Creio que incentivei esse amor, poisViana está em mim muito mais que minha roupa, que tira férias...

[...] Éramos vários jovens comerciários em Viana, e não podíamos estudarde dia. Então o Padre Manoel Arouche resolveu fundar um colégio noturnopara que eu, Lino Lopes, Zezico Costa e outros rapazes pudéssemos estudardepois do trabalho. Quando prefeito, ajudei o Dr. José Pereira Gomes nafundação do Ginásio Antônio Lopes, assinando a doação do prédio que atéhoje abriga essa escola.

Se abri estradas, movimentei caminhões e lanchas foi apenas um símbolode uma proeza maior: conheci “ao vivo” (como se diz na televisão) váriospatronos da Academia Vianense de Letras.

Ouvi o rouxinol que se chamava Astolfo Serra; quase me consultei comSálvio Mendonça; ouvi o violino de Dilú Mello (e as lendas sobre o rigor comque seu Argolo a educava).

Nilton Aquino, por brincadeira, me retratava; participei de muitos espetá-culos realizados por Anica Ramos; Manoel Arouche e João Mohana me foramíntimos.

De Ozimo de Carvalho, além das receitas milagrosas, recebi muitas es-tampas do sabonete Eucalol; Faraíldes Campelo sempre me saudava comsimpatia; e a professora Edith Nair Silva me descrevia com minúcias os lagosda Suíça e da Itália, comparando com o de Viana.

Anônio Lopes, grande mestre em São Luís, sentia prazer ao percorrer anossa Rua Grande, que lhe tomou o nome.

“Meninos, eu vi!”, como diz Gonçalves Dias, encerrando seu poema indí-gena imortal.

Eu vi a festa de Nazaré, nos campos verdes da colina; a festa da Ascensãodo Senhor, com mil barcos velozes. Também vi bandos de garças brancas,japiaçocas, jaçanãs e marrecas em revoadas sobre o lago tranqüilo de Viana.

Vi o melhor Grupo Escolar do Brasil, cuja banca examinadora para aprimeira série era composta do juiz, do promotor e do padre. Conheci a famade Egídio Rocha, ótimo professor, lá na Barreirinha, como a Maria Vitória naPraça Duque de Caxias... Mas eram o terror de quem não estudava as lições.

Vi o carnaval alegre e decente; o Bumba-meu-boi de matraca; a batalha debuscapés e carretilhas em frente à casa de Benedito Gomes e Maroca Cunha;ouvi os sinos de ouro da Matriz...

Minha vida não foi um mar de rosas, mas também não foi uma coroa deespinhos.

Hoje existem muitos livros de auto-ajuda. No meu caso, para superar asdificuldades, aproveitei muito do estilo de minha irmã, Zizi Gaspar, pois ésabido que as irmãs são mestras dos irmãos. Ela que habitou muitos anos nosobrado amarelo com o marido Armando e os filhos, não se deixava abaterpelos problemas, e a cada dia alimentava sua alma e sua esperança.

Por tudo isso, por todos os meus filhos e filhas, por meus amigos, por estahomenagem tão bonita, demos graças a Deus e à Virgem Maria, Nossa Senho-ra da Conceição!

Viana, minha terraTerra onde eu nasciViana, minha terraTerra que eu não esqueci

Concorrendo com Antonio daRocha Barros, candidato apoi-ado por Luís Couto, o empresá-rio venceu o pleito eletivo daque-le ano de 1955. À frente da pre-feitura, todavia, não demoroumuito. Depois de desentender-secom o clã de seu partido, renun-ciou ao mandado, gerando umacrise que entrou para a históriapolítica de Viana.

O pai de família - O ca-samento com Laura Mohana,resultado de uma tórrida paixãoda juventude, realizou-se no dia6 de janeiro de 1948. Para ven-cer a resistência do pai de suapretendente, o comerciante sírioMiguel Abraão, que não via combons olhos aquele namoro, foinecessária muita determinaçãodos dois jovens, a fim de que oamor que nutriam um pelo ou-tro pudesse sair vitorioso.

Exemplo de mãe e esposa de-dicada, Laura soube ser a com-panheira ideal para um homemde negócios. Religiosa, perseve-rante e otimista, era a principalincentivadora do marido. Alémde responsabilizar-se pela con-tabilidade da firma, não deixa-va de dar sua contribuição à co-letividade (dentro do contexto daépoca). Foi a 1ª presidente doClube de Escoteiros e teve parti-cipação ativa no Clube dasMães, fundado pelas missioná-rias da AFIS (Auxiliares Femini-nas Internacionais), no início dosanos sessenta, e que marcoutoda uma geração.

José e Laura tiveram seis fi-lhos: José Mendes Pinheiro Fi-lho, Miguel, Maria Laura, Ma-ria Cândida, Delfim e José An-tônio. Na segunda metade dadécada de 1960, preocupadocom a continuação dos estu-dos dos filhos, o casal resolveumudar-se para São Luís, encer-rando, dessa forma, um perí-odo fluente do comércio via-nense e fechando definitiva-mente as portas do secular so-brado amarelo.

Na capital, aconteceria o fa-lecimento prematuro de D. Lau-ra Mohana, em junho de 1969.Depois de quatro anos de viu-vez, já na maturidade, o vetera-no comerciante contraiu novasnúpcias com Maria de LourdesCosta Alencar, tornando-se paide mais quatro filhos: LourdesMaria, Conceição de Maria,José Francisco e José Davi.

Nascido em 28 de fevereirode 1924, José Mendes Pinhei-ro, sem sombra de dúvida, foio maior empresário vianense do

Depois da saudação, a acadêmicaFátima Travassos cumprimenta oSr. José Pinheiro, na homenagemque lhe foi prestada pela AVL, em

21/05/2004.

tigo areal para aterrissagens edecolagens, durante o períododo verão. As passagens eramreservadas e adquiridas com opróprio comerciante, no balcãoda loja de tecidos.

A curta passagem pelaPrefeitura - Com tanta compe-tência e tantas vitórias, Zé Pinhei-ro não passaria ileso à disputapela poder administrativo domunicípio.

Depois da eficiente gestão deLuís Couto, o chefe político via-nense, Benedito Gomes, viu nafigura do bem-sucedido empre-sário (padrinho de mais de cemafilhados), um nome à altura devencer as próximas eleições.

Se saudade fosse asaEu estaria a voarDe Viana eu gosto tantoQue aqui estaria a pousar.

JOSÉ MENDES PINHEIRO

O maior empresário vianense do século XX

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6 Viana(MA), 250º Aniversário – novembro de 2007O RENASCER VIANENSEO RENASCER VIANENSE

LUIZ ALEXANDRE RAPOSO

Aos 94 anos bem vividos, o jor-nalista e funcionário públicoaposentado, Benedito Fran-

cisco Silva, é um desses vianensesque não esquecem jamais de suasorigens.

Afastado do torrão natal pelascontingências próprias da vida e re-sidindo na cidade do Rio de Janeirodesde o ano de 1943, o ex-jornalis-ta, mesmo distante, sempre acom-panhou os principais acontecimen-tos sociais e políticos da “Cidade dosLagos”. Foi assim quando da cam-panha pela recuperação dos sinosda Igreja Matriz, na década de1980. Nesse período, dirigindo aAssociação de Proteção aos Nordes-tinos do Rio de Janeiro, trabalhouarduamente (ao lado da velha ami-ga e conterrânea Dillú Mello), a fimde que o governo do Maranhão de-volvesse os históricos sinos à Dioce-se de Viana.

Nascido no dia 23 de outubrode 1913, o quarto e penúltimo filhodo casal Francisco de Sales Silva eJustina da Cunha Silva fez o antigocurso primário, em Viana, sob oscuidados das professoras Nila Batis-ta e Zeíla Cunha. Em 1928 tornou-se aluno interno do tradicional Se-minário Santo Antônio, em São Luís,onde prestou o curso médio e con-cluiu o superior em Ciências Filosó-fica, sete anos depois.

O ex-seminarista ainda exerceriaalgumas atividades comerciais emduas empresas da capital maranhen-se e contrairia núpcias com a jovemMargarida Lauleta, antes de migrar

BENEDITO FRANCISCO SILVA

para a então Capital Federal, em1943. Nesse período, desenrolava-se a II Guerra Mundial e as viagensde navio eram escassas e muito pe-rigosas. O casal teve de enfrentaruma árdua viagem (parte de ônibusou caminhão e parte embarcada,descendo pelo rio São Francisco) atéalcançar o Rio de Janeiro.

A vida profissional - Na “Ci-dade Maravilhosa”, no final daque-le mesmo ano de 1943, foi convida-do a assumir a gerência da antigaSociedade Rádio Transmissora, aqual seria, pouco tempo depois, ad-quirida pelo famoso jornalista Rober-to Marinho e transformada na atualRádio Globo.

Benedito Francisco continuouocupando a gerência da rádio até oano de 1950, quando recebeu nova

Benedito Francisco Silva ao lado da filha, Filomena,do neto, Bernardo, e do genro, Ricardo.

proposta do amigo Leonardo Gagli-ano Neto para trabalhar como re-pórter da Rádio Emissora Continen-tal, uma emissora 100% esportiva.Envolvido definitivamente na área dacomunicação, decidiu fazer o cursode Relações Públicas e Jornalismo,promovido pelo Departamento Ad-ministrativo do Serviço Público(DASP), entre os anos de 1956/1958.

No ano seguinte ingressou naRádio Tupi, exercendo ali a funçãode Assistente de Direção Artística, atéser convidado para integrar o gabi-nete de imprensa do Ministério daSaúde, em 1962, quando era mi-nistro o Dr. Estádio Souto Maior.Nesse novo mister soube sair-semuito bem, não demorando a con-quistar sua contratação definitiva eassessorar ainda vários outros mi-

nistros dessa pasta por cinco anosconsecutivos.

Em 1968, assumiu a chefia dodepartamento de relações públicasda extinta companhia Nacional deAlimentação Escolar do MEC, fun-ção esta que lhe daria oportunida-de de participar de um treinamentonos Estados Unidos, durante 45dias, ofertado pelo governo norte-americano.

Até alcançar a aposentadoria, ocurrículo deste experiente comunica-dor incluiria passagens pelo departa-mento de imprensa do Centro Cata-rinense do Rio de Janeiro e a criaçãode periódicos informativos dos órgãospor onde passou, além de diplomasconcedidos pela Agência Internacio-nal de Desenvolvimento e pelo Co-mando da Primeira Brigada de Infan-taria Motorizada do Exército.

A vida familiar - Ainda em pro-cesso de recuperação pela perda re-cente da esposa (depois de 65 anosde vida conjugal), Benedito Francis-co Silva recebe as atenções da úni-ca filha, Filomena, do marido desta,Ricardo Paulsen, e do neto, Bernar-do Silva Paulsen, com os quais resi-de no bairro carioca do Andaraí.

Com a saúde fragilizada, que lheimpede de realizar o grande desejode retornar à cidade que o viu nas-cer, para uma breve visita (a últimaaconteceu em 1986), o veterano jor-nalista vianense dedica-se, atual-mente, à revisão do livro que pre-tende lançar sobre a história da Fei-ra Nordestina do Rio de Janeiro, aqual conheceu de perto e ajudou aorganizar, quando dirigia a Associ-ação de Proteção ao Nordestino nosidos de 1980/1984.

INTERCÂMBIOINTERCONTINENTALENTRE AS VIANAS

Para assinar o termo de Geminação de Cidades, entre Viana doMaranhão e Viana do Castelo, o prefeito Rilva Luís, acompanhadodo assessor, Benito Filho, e do presidente da Associação de Proteçãoao Meio Ambiente do Maranhão (Apromar), Dr. Sebastião Murad,estiveram em visita a Portugal no final do último mês de outubro.

Em terras lusitanas, além da assinatura do termo de Gemina-ção, o prefeito e seus acompanhantes foram recebidos pelo Reitor eequipe técnica da Universidade Lusofama da cidade do Porto. Oencontro serviu para discussão sobre apoio de mão-de-obra quali-ficada, visando à elaboração e execução de futuros projetos decooperação técnica.

Na pauta foi incluída, segundo Benito Filho, a proteção aoslagos da Baixada Maranhense, dando-se ênfase especial ao lagode Viana.

Espera-se, assim, que a recente passagem por nossa cidade doPresidente da Câmara Municipal de Viana do Castelo, Sr. DefensorOliveira Moura, acontecida no dia 7 do corrente, tenha servido real-mente para estreitar os laços com esta nossa co-irmã portuguesa eque resultados positivos para nossa Viana possam advir dessa união.

O prefeito Rilva Luís, Dr. Ricardo Murad e Benito Filho entre seusanfitriões portugueses, durante a recente visita a Viana do Castelo.

Prefeitura de São Luísreverencia Dilú Mello

julho último. A nova escola abri-ga crianças do Ensino Funda-mental e funciona nos turnosmatutino e vespertino.

Segundo o Secretário Moa-cir Feitosa, a iniciativa de home-nagear a autora da famosa“Saudades do Maranhão” bus-ca eternizar, na memória dosmais jovens, o nome de umamusicista que, no passado, sou-be fazer uso de seu talento paracantar as belezas de nossa ter-ra e engrandecer o nome denosso Estado.

A Secretaria Municipal deEducação de São Luís,através do secretário

Moacir Feitosa, prestou signi-ficativa homenagem à canto-ra e compositora vianense,Dilú Mello, ao dar o seu nomea uma de suas Unidades deEnsino inauguradas neste anode 2007.

Situada no bairro CidadeOlímpica, a Unidade de EnsinoDilú Mello foi inaugurada festi-vamente pelo prefeito de SãoLuís, Tadeu Palácio, no mês de

JOSÉ ANTONIO CASTRO

LUIZ ALEXANDRE

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7Viana(MA), 250º Aniversário – novembro de 2007 O RENASCER VIANENSEO RENASCER VIANENSE

UM ACADÊMICO, UM PATRONO

Luiz Alexandre Raposo

Maria de Lourdes Argolonasceu em Viana, no dia25 de setembro de 1911.

Aos cinco anos de idade iniciouseus estudos de violino com omaestro Temístocles Lima, passan-do depois a receber aulas domaestro Miguel Dias.

Em 1922 mudou-se com a fa-mília para o Rio Grande do Sul,após uma breve passagem pelascidades de São Luís e Salvador.No ano seguinte, aos doze anos,deu um concerto no famoso Tea-tro Colon de Buenos Aires, acom-panhada pelo pianista tambémprecoce, Angelito Martinez. Comoprêmio do governo argentino, osdois receberam patrocínio parauma série de apresentações pordiversas cidades daquele país. Trêsanos depois, em 1925, concluiuo curso de violino no Conservató-rio de Porto Alegre, conquistandouma medalha de ouro pela im-pressionante técnica adquirida.

Depois de um casamento frus-trado com o jovem gaúcho Car-los Mello, transferiu-se para o Riode Janeiro em 1936, aos 25 anos,onde se formou em canto lírico.No Teatro Municipal, participoudas montagens das óperas La Bo-hème, Um Ballo in Maschera eVida de Jesus, mas, cativada pe-

las canções dostropeiros gaú-chos, decidiuabandonar suaformação clássi-ca para dedi-car-se inteira-mente às músi-cas regionais.

Abraçandoa música popu-lar, com o nomeartístico de DilúMello, não de-morou a cha-mar a atençãodo Maestro Martinez Grau que alevou para a Rádio Cruzeiro doSul, surgindo daí o convite paracantar em São Paulo e gravar oprimeiro disco, um compacto 78rpm com duas músicas de sua au-toria: Engenho D’água e Coco Ba-baçu. Influenciada por Antenóge-nes Silva, comprou um acordeome passou a apresentar-se na en-tão famosa Rádio Nacional do Riode Janeiro, conquistando famaem todo o país. Por ser a primeiramulher a apresentar-se, em públi-co, tocando tal instrumento, rece-beu da imprensa da época o títu-lo de “Rainha do Acordeom”.

Sempre acompanhada doacordeom, Dilú percorreu o Brasilde ponta a ponta. Países como oUruguai, Argentina, Chile, Para-guai e Peru também se renderam

aos seus talen-tos. Na décadade 1950, apre-sentou-se pelocontinente eu-ropeu, quandorecebeu vee-mentes elogiosda imprensaitaliana e portu-guesa.

Multiinstru-mentista, alémdo acordeom edo violino, Dilútocava piano,

gaita, harpa paraguaia, violão eviola caipira. Autora de 104 can-ções (várias exaltando o Mara-nhão), teve suas músicas grava-das por grandes intérpretes, comoAdemilde Fonseca, Carmem Cos-ta, Carlos Galhardo, Cantores deÉbano, Doris Monteiro, Marlene,Nara Leão, Clara Nunes, Marinêse sua gente, Zé Ramalho e tantosoutros. Recentemente, suas can-ções foram redescobertas por can-tores da atualidade como Ana Sal-vagni, Xangai e Celmar.

Entre suas composições maisconhecidas destacam-se: Fiz acama na varanda, Saudades doMaranhão, Meu Cariri, Qual o va-lor da sanfona, Redinha de algo-dão, Conceição da praia, Meubarraco, Telegrama, Maravia, Can-delabro, Nas águas do Mearim e

DILÚ MELLOUma artista de múltiplos talentos

Heitor Piedade Júnior

Sabe-se que Sócrates, um dosmaiores pensadores da histó-ria da humanidade, era filho

de Fenareta, uma das parteiras deAtenas. Com sua mãe, o filósofoateniense aprendeu a arte da mai-êutica das idéias. Certamente DonaEnedina soube ensinar ao meninoLuiz Alexandre a mesma arte da mai-êutica, para que ele sempre repas-sasse para seus pares, discípulos eamigos a nobre arte de pensar.

Vianense de cultura multifaceta-da, sétimo e último filho do saudo-so casal José Cursino da Silva Ra-poso e Enedina Brenha Raposo, LuizAlexandre Brenha Raposo nasceuem Viana, na manhã do dia 21 deagosto de 1953.

Seus primeiros passos no antigocurso primário foram ensaiados naEscola Paroquial Dom José Delga-do, pelas mãos das professoras DidiMagalhães e Edith Silva. Depois depassar pelo Ginásio Professor An-tônio Lopes, de tanta tradição emnossa querida Viana, rumou paraSão Luís em 1970, onde concluiu o2º grau no excelente Liceu Mara-nhense, em 1972.

Um passo a mais, impulsiona-do pela ânsia do saber, migroupara a cidade de Recife, a fim decursar Engenharia de Pesca, conclu-ído em 1979 pela Universidade Fe-deral Rural de Pernambuco.

Durante o período estudantil

LUIZ ALEXANDRE BRENHA RAPOSOUm vianense de cultura multifacetada

em Recife, nosterríveis anos dechumbo da di-tadura militar,e n g a j o u - s e ,com fé e cora-gem, na Pasto-ral da Juventu-de Universitária,espelhando-sena figura extra-ordinária deDom HelderCâmara, figuraímpar de após-tolo sócio-religi-oso, um brasi-leiro defensor da liberdade comopoucos.

Voltando para as glebas ludo-vicenses, Luiz Alexandre participouda Juventude Universitária Autênti-ca Cristã (JUAC) – sob orientaçãoespiritual de outro líder carismáticoque foi o Padre João Mohana – en-quanto se graduava, também, emComunicação Social (especializa-ção em Jornalismo), em 1981.

Inconformado, buscou mais ho-rizontes. Assim, em 1982, depois deregressar dos Estados Unidos, deci-diu tentar uma experiência vocaci-onal, a caminho do sacerdócio, in-gressando no seminário maior dosPadres Sacramentinos, em São Pau-lo. Ali ainda faria dois semestres deFilosofia e Teologia no Mosteiro deSão Bento, antes de reconhecer queseria mais útil aqui fora, em meio àsociedade civil.

Em visita aViana, após lon-gos anos de au-sência, constatouo abandono emque se encontra-va a cidade,obra do desca-so de adminis-tradores frios edestituídos deamor à terramãe. Indignadocom essa triste re-alidade, iniciouum trabalho dedescoberta e re-

valorização do patrimônio histórico,arquitetônico e cultural vianenses. Ajornada começou, em 1997, peloresgate da vida e obra de nossaimortal Dilú Mello, chegando mes-mo a trazê-la para rever a terra na-tal no ano seguinte (fato que seconstituiu num marco festivo para acidade). Nessa empreitada, contoucom a parceria do cantor e com-positor, Rogeryo du Maranhão

Como amante da fotografia des-de menino, Luiz Alexandre passouentão a fazer uso desta nata sensibi-lidade, a fim de denunciar o totaldescaso das autoridades constituídaspara com o patrimônio histórico daCidade dos Lagos. Depois de cole-cionar extenso acervo fotográfico,promoveu (em parceria com outroartista vianense, Ribamar Alves) umaexposição que levou o nome de “Di-lapidação do Patrimônio Histórico e

Arquitetônico de Viana”, realizada emnovembro de 1999, no Museu His-tórico do Maranhão, em São Luís,oportunidade em que lançou umacoleção de dez postais com vistas denossa cidade.

Em 2001, teve oito de suas fo-tografias, para orgulho dos vianen-ses, estampadas em cartões tele-fônicos (Série Cidades do Mara-nhão), dentro do projeto cultural daTELEMAR, que visava a divulgaçãodas riquezas naturais e arquitetôni-cas do Estado.

Nesse mesmo ano publicou,como resultado de cinco anos deintensa pesquisa, o livro biográficoda musa vianense, cantora e com-positora “Dillú Mello – um expoen-te da música brasileira”.

Ao longo dos últimos dez anos,Luiz Alexandre escreveu inúmerasmatérias sobre Viana e seu patrimô-nio histórico-cultural nos jornais OEstado do Maranhão, O Imparciale na Revista JP Turismo. Seu segun-do livro, Memórias de América Dias,que é uma homenagem a uma ou-tra artista vianense, encontra-se emfase final de revisão.

No ano de 2002, tornou-se umdos membros fundadores da Aca-demia Vianense de Letras, ocupan-do a Cadeira nº 9, patroneada porDillú Mello. Atualmente exerce a pre-sidência dessa agremiação cultural,em sua segunda gestão, além deser o redator responsável pelo jor-nal O Renascer Vianense, órgão dedivulgação da AVL.

Acalentando São Luís.O xote, Fiz a cama na varan-

da, desde que foi lançado na vozda própria autora, em 1944,ganhou inúmeras regravaçõespelos mais diferentes intérpretes,ao longo dos últimos 60 anos. Amúsica, inclusive, rompendo asfronteiras brasileiras, foi grava-da na Rússia, França, México eEstados Unidos.

Apaixonada pelas crianças,Dilú dedicou parte de seus talen-tos artísticos à infância brasileira,fosse gravando discos com fábu-las e historinhas infantis ou escre-vendo peças de teatro voltadasexclusivamente para essa faixaetária. Entre tais peças, encenadasem diversas temporadas nos tea-tros cariocas, figuram: O baile dastartaruguinhas, O bigurrilho e aprincesinha de ouro, Cada criançaé uma canção, Uma festa no céu,Festival de palhaços, O sapo dou-rado (opereta infantil) etc.

Viúva do primeiro marido,Dilú casou-se novamente, em1950, com o médico GeorgeOlíver, com quem viveu durante37 anos, até tornar-se viúva pelasegunda vez.

Maria de Lourdes Argollo Olí-ver faleceu no Rio de Janeiro, aos88 anos de idade, no dia 26 deabril de 2000. Seus restos mortaisencontram-se sepultados no Ce-mitério do Catumbi.

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8 Viana(MA), 250º Aniversário – novembro de 2007O RENASCER VIANENSEO RENASCER VIANENSE

O RENASCERVIANENSE

Diretor/Redator: Luiz Alexandre Rapôso

Endereço: Rua Antônio Lopes, 459,

Viana - MA

CEP: 65.215-000

JOSÉ POLICARPO COSTA NETO (*)

Uma das características maisrelevantes da Baixada Mara-nhense são os seus camposnaturais inundáveis, que pro-

piciam, a cada seis meses, uma mu-dança na sua paisagem, conferindo-lhe beleza ímpar.

Essa deslumbrante alteração cêni-ca chega a ser tão forte, que pareceinfluenciar até o ânimo e o comporta-mento de quem lá vive, especialmentedos nativos da região. Pelo menos,no que sempre me foi possível obser-var, na minha vivência de baixadei-ro, nascido e criado em Pinheiro,acompanhando o encher e secar dosnossos campos, compartilhando daalegria de ver canoa começando adeslizar nas águas novas do campo,anunciando o inverno (época da pi-racema e de novos cardumes) e, seismeses depois, a chegada do verão,com o gado bovino pé-duro retornan-do ao pasto verdejante de capim demarreca e capim Açu.

Acredito ser essa uma das variáveisque exercem forte influência para fazertão alegre a alma do povo da Baixada.

A valoração e identificaçãodo papel ecológico das áreas na-turais inundáveis - Todavia, apesarde todo esse fascínio natural, até muitorecentemente, muito pouco se conhe-cia sobre a importância ecológica e acomplexidade dessas áreas naturaisinundáveis, não só as da nossa Baixa-da, mas de todas as áreas similares es-palhadas em várias regiões do plane-ta. De modo geral, pouco valor lhesera atribuído, até o mundo científicoaguçar o seu interesse pela conserva-ção da biodiversidade.

Para que se tenha idéia desse des-conhecimento, um dos primeiros en-contros científicos para avaliar as fun-ções desses ecossistemas ocorreu em1979, nos Estados Unidos, por iniciati-va do National Wetland Tecnical Coun-cil, quando cientistas de várias nacio-nalidades concluíram que os camposinundáveis têm, pelo menos, cinco gru-pos de funções, as quais, pouco maistarde, em 1983, foram detalhadas porPaul R. Adamus, em dez tipos: (1) Re-carga e descarga de aqüíferos; (2) Ar-mazenamento e dessincronização daságuas no ciclo de inundação; (3) Pro-teção do contorno e dissipação de for-ças erosivas; (4) O papel de retençãodesempenhado pelo sedimento; (5)Retenção de nutrientes; (6) Suportepara cadeias alimentares; (7) Habitatpara peixes; (8) Habitat para animaisselvagens e para macrófitas aquáticas;(9) Habitat para recreação ativa; (10)Habitat para recreação passiva (valorpaisagístico) e herança.

A fragilidade do ambiente -O ecossistema lacustre Viana-Penal-va-Cajari constitui o que há de maisexpressivo das áreas inundáveis dabacia hidrográfica do rio Pindaré, in-tegrando pelo menos quinze fantásti-cos lagos, dentre os quais, o Cajari,o Formoso, o Lontra, o Aquiri, o Ca-pivari, e o de Viana, portal de entra-da deste ecossistema.

Essa falta de conhecimento tem ser-vido de justificativa para intervençõesextremamente danosas ao nosso meioambiente, a começar pelo equívoco deconsiderar esses lagos corpos d’águaindependentes entre si, e que, por essarazão, intervenções feitas em um delesnão afetariam os demais. Essa com-preensão radicalmente equivocada ali-cerçou, por exemplo, a construção deuma barragem em Penalva, sem o in-dispensável Estudo de Impactos Ambi-

O lago de Viana e o ecossistemalacustre Viana-Penalva-Cajari

entais, portanto, sem a preocupaçãocom os danos que essa obra iria pro-vocar no ecossistema como um todo.Os efeitos foram quase que imediatos,afetando toda sua hidrologia.

O ecossistema representado pelabacia lacustre Viana-Penalva-Cajarié um só, indivisível, inseparável. Ape-nas com denominações tópicas dife-rentes, para referenciar os ambientes.Além desse aspecto fundamental, ob-serve-se que, pelo moderno conceitoecológico, corpos d’água não sepa-ram ambientes, territórios, ou povos.Ao contrário, são fatores de integra-ção, portanto, o ecossistema tem fun-ção integradora.

Criação de bubalinos - Outroerro gritante e de conseqüências desas-trosas refere-se à introdução do búfalona Baixada, que atualmente se concen-tra notadamente no ecossistema aquitratado. A decisão de introduzir essa es-pécie fundamentou-se, também, no en-tendimento corriqueiro nos anos cin-qüenta, de que as áreas inundáveis daregião eram imprestáveis e subutiliza-das, pois o gado bovino pé-duro, quelá se criava, em harmonia com a natu-reza, apresentava baixa produtividade.A solução, portanto, seria “introduzir ogado bubalino, rústico, resistente e pro-dutivo, para desenvolver a Baixada”.Por absurdo que pareça, não lembra-ram de que a mais importante vocaçãonatural dos lagos e dos campos inun-dáveis, sem qualquer dúvida, semprefoi (e continua sendo) a produção na-tural do pescado que dá alimento, ocu-pação, renda e vida para tanta gente,a custo zero.

Vale, para esta reflexão, lembrar-sede que o gado bovino sempre conviveuharmonicamente com os campos da Bai-xada, retirando-se deles, no período daságuas, e retornando no verão.

Não se passaram cinco anos, eos malefícios ambientais causadospelo búfalo, representados pelo as-soreamento dos lagos e pela redu-ção da produção de peixe, eclodiram,produzindo conseqüências sociais egerando graves conflitos (muitas ve-zes resultando em mortes), e quase

sempre contando com a conivênciado poder público, especialmente dojudiciário. E o anunciado “desenvol-vimento” da Baixada mostrou-se maisum “conto do vigário”, utilizado parao aumento da fortuna de pouquíssi-mos proprietários de búfalos que, semnenhuma despesa, criam os animaissoltos nos campos, nas beiras doslagos e nas lagoas que se formam noinício e no fim da inundação.

Outras agressões graves - Alémdos búfalos, outros fatores seguramen-te representam grave ameaça à sobre-vivência desse ecossistema e à perdada qualidade de vida do seu entornohumano, dentre os quais estão aquelesassociados à falta de percepção dapopulação sobre a importância dos re-cursos ambientais para sua vida: de-vastação das matas ciliares, derrama-mento de óleo das embarcações, pes-ca predatória (inclusive no período dapiracema), lançamento de esgotos e delixo nos lagos ou nos campos etc.

Outro tipo de ação criminosa quevem sendo desenvolvida aqui (comoem toda a Baixada), à luz do dia, eque denota, de forma inequívoca, aomissão dos poderes públicos: aapropriação ilícita dos campos natu-rais, por pessoas inescrupulosas que,simplesmente, entenderam ter maisdireito sobre o patrimônio público doque toda a população. Por isso, cer-caram enormes extensões de terras,embora sabedores de que estas nãolhes pertenciam. Em palavras maisclaras: furtaram o patrimônio públi-co. Uma indignidade!

Mudança de mentalidade - Aconservação desse ecossistema e a pre-servação daquilo que deve ser preser-vado requerem, por imprescindível, quea população desperte para a impor-tância que tem essa reserva d’água,estocada na bacia, passando a en-xergá-la como fonte produtora natu-ral de alimentos, que lhe mata a fome,propicia lazer e alimenta o espírito detoda essa gente, assegurando-lhe osustento, através do trabalho e renda.Além de unir todos os locais situadosno seu entorno, permitindo, às comu-nidades que os povoam, transporta-rem-se por embarcações e fazer esco-ar a sua produção.

Impõe-se, pois, como fundamen-tal, que todas as comunidades de usu-ários diretos e indiretos desses recur-sos passem a compreender que essefantástico patrimônio natural comum,isto é, o ecossistema, pertence a to-dos e que nenhuma pessoa, nenhu-

ma autoridade (seja do poder que for),tem o direito de fazer qualquer inter-venção sem, antes, submetê-la a umaampla e democrática discussão, comparticipação popular.

À medida que esse nível de escla-recimento se instalar no seio da popu-lação, o remédio chegará naturalmen-te, pois passará a haver o controle so-cial, que, na prática, quer dizer: a po-pulação passará a comandar as deci-sões sobre os bens e serviços públicos.

Essa mudança de mentalidade, en-tretanto, não ocorre num piscar deolhos. Ao contrário, é um processo de-morado que requer uma conjunção deesforços para, de forma determinada,se iniciar, já nos bancos escolares, umtrabalho que resulte no despertar paraa verdadeira noção da cidadania.

Enquanto esse momento não che-ga, muito há por fazer e com a máxi-ma urgência.

Ações devem ser efetivadas parapressionar o poder público a impedir,definitivamente, a criação de búfalos noscampos naturais. Faz-se igualmente ur-gente a retomada dos campos cerca-dos, o que requer uma profunda açãodiscriminatória das terras públicas daregião, reincorporando ao patrimôniocomum, os quinhões usurpados.

Um grande programa de recupe-ração das matas ciliares com as espé-cies nativas poderia conter o avançodo assoreamento, uma vez que já seconhece o papel protetor que elas de-sempenham junto aos corpos d’água.Do mesmo modo, tem-se de estabele-cer como meta o estudo científico sobreas espécies nativas de peixes, com vis-tas ao repovoamento do ecossistema.

Não se justifica que as populaçõesdos municípios de Viana, de Penalva ede Cajari tolerem que gestores munici-pais continuem a jogar lixo nos cam-pos e esgotos in natura nos lagos.

São estas as reflexões de quem ver-dadeiramente estuda e ama a Baixada.

(*) Professor da UFMA, Mestre em Econo-mia Rural pela UFCE e Doutor em Hidráuli-ca e Saneamento pela EESC-USP

LUIZ ALEXANDRE

RIBAMAR ALVES