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7/23/2019 O TRABALHO DO CAMPESINATO E SUA APROXIMAO/DIFERENCIAO COM O AGRICULTOR FAMILIAR MODERNO: O
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O TRABALHO DO CAMPESINATO E SUA
APROXIMAO/DIFERENCIAO COM O AGRICULTOR
FAMILIAR MODERNO: O CASO DE UM ASSENTAMENTO DO
MST
Mariana Fernandes da Cn!a L"reir" A#"ri#
D$%"ra C"&in!" Pas'!"a( D"rad"
Danie((e de Ara)*" Bis+"
In&r"d,-"
Os assentamentos rurais so uma das principais conquistas angariadas pelo
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no estado de Pernambuco. Dentro
desses locais o MST prop!e uma "orma de organi#a$o do trabalho peculiar
especialmente se comparada %quela e&istente na agroind'stria.
Movida pelo propsito de melhor conhecer a realidade dos trabalhadores rurais
esta pesquisa visa e&plorar as rela$!es de trabalho presentes em "ormas organi#ativas
alternativas ao agronegcio nomeadamente no assentamento hico Mendes locali#ado em
So *ouren$o da Mata (P+). Para tanto prop!e,se a investigar atrav-s de moradores do
ssentamento as rela$!es de trabalho que so estabelecidas no local o sentido que os
assentados lhes atribuem e os valores que as orientam.
o mostrar outras possibilidades para o organi#ar busca,se romper com o
pensamento que elege a lgica do gerencialismo do mercado como 'nica "onte de
in"orma$o sobre as pr/ticas organi#acionais. Torna,se ento um desa"io mostrar que aos
diversos conte&tos de rela$!es sociais estabelecem,se variadas "ormas organi#ativas do
trabalho regidas por di"erentes racionalidades.
Diante desta realidade esta pesquisa se 0usti"ica pelo intento de ampliar e quali"icar
as discuss!es acerca das variadas "ormas de trabalho alternativas e resistentes %quelas
presentes dentro de uma lgica empresarial limitada aos des1gnios do mercado. +scolher
por esta abordagem portanto envolve a reviso de nossos conceitos 0/ que estes no
correspondem %s necessidades dos atores,su0eitos envolvidos em lutas sociais nem esto
comprometidos com sua pr/&is (M2SO3456 7*OR+S6 8O9*RT :;;
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. Re0eren'ia( &e1ri'"
.. O '"n'ei&" de 'a#+esina&"
Para iniciar considera,se necess/rio a compreenso do conceito de campesinato.
ntes de tudo vale destacar que o >campon?s> no e&iste em nenhum sentido imediato e
estritamente espec1"ico. queles que so assim chamados variam em di"erentes tempos e
espa$os , constituem um segmento heterog?neo que s pode ser compreendido dentro de
determinado tempo e estrutura social. @Os termos gerais a,histricos e "ora do conte&to
costumam odiosamente se trans"ormar Aos camponesesB em rei"ica$!es da realidade
(SC2 :;;E p. :)
Os estudiosos que trabalham na generali#a$o deste conceito apontam categorias
de caracter1sticas pelas quais os camponeses t?m sido distinguidos de outros e
identi"icados entre si em todo o mundo. +ssa generali#a$o dos camponeses implica
necessariamente em uma homogeneidade que pode terminar numa imposi$o dos modelos
tericos % realidade (+F+S =G
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Os camponeses soprodutores livres de depend?ncia pessoal direta , so>autJnomos>6 sua sobreviv?ncia de homens livres lhes imp!e laos de
solidariedade cu0a quebra ou en"raquecimento amea$am seu modo devida6 esses la$os mais prim/rios so os de parentesco e vi#inhan$a queos levam a procurar se agrupar em >comunidade>6 a busca de suaperman?ncia em reproduo numa mesma 'terra' A...B tradu#idas comoapego % terra - marca do sucesso de seu modo de vida e a "onte de seucuidado com seu ambiente(gri"os do autor).
comunidade camponesa possui al-m disso uma relativa autonomia no que se
re"ere %s "ormas de sociabilidade desenvolvidas em um determinado territrio. L esta
"orma de sociabilidade desenvolvida que as de"inem como sociedades de
interconhecimento , pois que cada um conhece todos os demais gra$as % vida social
intensa. autonomia dessas sociedades entretanto deve ser considerada como relativa
uma ve# que certos elementos originariamente e&ternos a ela nela so introdu#idos porimposi$!es do con0unto da sociedade global (D+R*+5 =GGN).
agricultura camponesa tem especi"icidades relacionadas aos ob0etivos da
atividade econJmica %s e&peri?ncias de sociabilidade e a sua "orma de inser$o na
sociedade global. s "am1lias camponesas seriam autJnomas economicamente por garantir
a subsist?ncia do grupo. +&iste a perspectiva de que o es"or$o da gera$o atual se0a
passado para a gera$o seguinte e todas as estrat-gias da "am1lia so orientadas para este
"im , para um pro0eto de "uturo (D+R*+5 =GGN). esta perspectiva a agriculturacamponesa se distingue da agricultura de subsist?ncia (mesmo que contenha o elemento da
subsist?ncia) pois para os camponeses no importa somente a garantia da sobreviv?ncia
imediata mas tamb-m a constitui$o preserva$o e crescimento de um patrimJnio
"amiliar (D+R*+5 =GGN).
Mesmo preocupando,se com o patrimJnio os camponeses esto centrados na
reproduo familiar. L neste sentido que haanov a"irma que a organi#a$o camponesa
no so"re in"lu?ncia de determina$!es como lucro renda da terra ou sal/rio , no e&iste
neste sentido uma dimenso econJmica que tenha que ser atingida (RF*CO :;;E).
O rendimento desta organi#a$o seria determinado com base nas necessidades da "am1lia
enquanto unidade de consumo e no poderia ser considerado como >lucro>. +ssa "orma de
pensar segundo o autor seria gerada a partir de uma racionalidade camponesa ou se0a de
uma especi"icidade no comportamento da economia camponesa diverso daquele presente
em empresas capitalistas que permitiu inclusive que ele a classi"icasse o campesinato
como um modo de produ$o espec1"ico (S2*F et al. :;;G).
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a tentativa de de"inir os limites entre os camponeses e a classe capitalista no
campo Oliveira (:;;= p. :=) vai di#er que Qcapitalistas so A...B todos aqueles que
possuidores de capital destinam,no % produ$o. ssim os camponeses poderiam
eventualmente se trans"ormarem em capitalistas caso produ#issem mais que o necess/rio %
sobreviv?ncia e come$assem a acumular capital.
O campesinato representa um modo de organi#ar a vida uma cultura uma viso de
mundo do trabalho do produto do trabalho (22 apud RF*CO :;;E). +ntretanto
no podemos trabalhar neste n1vel de generali#a$o apenas uma ve# que esse campesinato
no - em si um todo indivis1vel. o rasil o campesinato assumiu "ormas espec1"icas
gra$as / realidade scio,cultural e histrica do pa1s.
.2 O 'a#+esina&" %rasi(eir"
O campesinato brasileiro assim como todas as suas variantes entre as quais os
prprios assentados desenvolveu,se num conte&to espec1"ico que re"lete as
particularidades dos processos sociais da prpria histria da agricultura brasileiraH a
coloni#a$o o lati"'ndio a escravido e a enorme quantidade de terras pass1veis de serem
ocupadas. qui o campesinato "oi historicamente impossibilitado de desenvolver suas
potencialidades gra$as % precariedade estrutural e % instabilidade da situa$o camponesa
(D+R*+5 =GGN).
estrutura "undi/ria brasileira "oi concentrada e desigualmente distribu1da desde o
per1odo da coloni#a$o. maioria dos lati"'ndios do pa1s "oi originada a partir das
capitanias heredit/rias e das sesmarias. pesar de depois da independ?ncia se ter permitido
a apropria$o de grandes e&tens!es de terra pela posse a *ei das Terras de =
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campon?s continua a e&istir e a se e&pandir 0unto ao trabalho assalariado no porque
aquele - complementar a este mas por causa das contradi$!es mesmas da sociedade
capitalista (O*2F+2R :;;=).
L v/lido ressaltar que o campesinato ao qual este artigo se re"ere e que persiste no
campo brasileiro no - o campon?spuro. Mas sim um campon?s brasileiro em constante
trans"orma$o e adapta$o e que mesmo nas comunidades mais tradicionais no se
encai&a no modelo europeu de campesinato. anderle (=GGN) diria sobre isto que os
elementos de"inidores do campesinato no sentido cl/ssico encontra,se,iam no rasil em
n1veis di"erenciados.
o rasil o aumento absoluto no n'mero de camponeses (re,camponesa$o)
certamente - um resultado do sistema capitalista (SC2 :;;E). o campo brasileiro h/
a conviv?ncia de rela$!es de trabalho assalariadas e rela$!es no,capitalistas como por
e&emplo o trabalho "amiliar a parceria e o arrendamento. +ssas rela$!es no,capitalistas
poupariam investimentos em mo,de,obra aos capitalistas e seriam nada mais do que
processos de produ$o do capital atrav-s de rela$!es diversas no,capitalistas. ssim Qo
prprio capital pode lan$ar mo de rela$!es de trabalho e de produ$o no,capitalistas
(parceria "amiliar) paraproduzir o capital (O*2F+2R :;;= p. =G).
O que est/ ocorrendo portanto no - um processo de desaparecimento do
campesinato mas um processo de perman?ncias e mudan$as simultUneas. Pode,se di#er
que a racionalidade camponesa tem so"rido diversas trans"orma$!es em diversos graus de
intensidade no contato com outras concep$!es de mundo presentes na sociedade
capitalista contribuindo para o surgimento de uma enorme diversidade de "ormas de
apropria$o da nature#a (RF*CO :;;E).
unidade de produ$o camponesa - sempre resultado do trabalho da "am1lia
propriet/ria assim como em outras partes do mundo. +ntretanto no rasil e&iste uma
tradi$o de se trabalhar alugado para terceiros e de empregar terceiros no estabelecimento"amiliar. +sses no seriam necessariamente processos de desagrega$o do campesinato
uma ve# que para caracteri#ar uma unidade camponesa o maior ob0etivo da atividade teria
que ser o da reprodu$o "amiliar. onsidera,se pois que dentro das estrat-gias para
alcan$ar esse ob0etivo podem co,e&istir atividades dentro e "ora do estabelecimento
"amiliar (D+R*+5 =GGN).
L importante compreender que no rasil e&iste uma o"erta sa#onal de empregos na
agricultura nas sa"ras das grandes culturas que podem coincidir com o tempo de no,trabalho dos camponeses (dos meses de setembro a mar$o). l-m disso a precariedade e
E
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instabilidade da situa$o camponesa "a#em com que o trabalho e&terno se torne muitas
ve#es uma necessidade estrutural indispens/vel para a reprodu$o do estabelecimento
"amiliar contribuindo para trans"ormar periodicamente o campon?s em trabalhador
assalariado. 2sso demonstra a situa$o comple&a em que se encontra o campon?s que se
reprodu# a despeito do trabalho e&terno e muitas ve#es em depend?ncia com este mesmo
trabalho (D+R*+5 =GGN).
participa$o do capital neste processo de trans"orma$o muitas ve#es no estaria
ligada % e&propria$o direta da terra campesina mas na e&propria$o das possibilidades
dos "ilhos dos camponeses continuarem camponeses atrav-s da posse da terra levando os
mesmos , ou ao menos a maior parte deles , % proletari#a$o (O*2F+2R :;;=).
aseado em Martins Oliveira (:;;=) vai di#er que o capital ao procurar e&propriar
e submeter o lavrador atua como uma "or$a e&terna capa# de atingir Qpor igual todos os
lavradores que termina por lev/,los % unio enquanto classe e "or$a social. unio dos
lavradores no seria assim prpria de sua condi$o social mas um resultado da atua$o
do capitalismo sobre os lavradores.
guiar (:;;E) compreende o trabalhador rural sem,terra assentado - como uma
nova categoria de campon?s 0/ que possui "orma de organi#a$o e identidade prprias.
+ssa identidade "oi "or0ada no processo de consolida$o do MST que surgiu no campo
brasileiro em um per1odo de crescente di"erencia$o social e viol?ncia rural com o ob0etivo
de "a#er press!es sociais para alterar o padro de distribui$o de terras consolidado no
rasil.
2 Me&"d"("3ia
abordagem qualitativa "oi escolhida porque permite acesso a in"orma$!es
detalhadas de um pequeno n'mero de casos e a conseqIente compreenso em
pro"undidade de determinadas situa$!es. +sta abordagem torna,se uma maneira
privilegiada de adentrar no s na sub0etividade dos indiv1duos mas tamb-m de relacionaros acontecimentos da regio % suas tra0etrias e escolhas.
Particularmente esta pesquisa se classi"ica como um estudo qualitativo b/sico ou
gen-rico. Merriam (=GG
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prim/rios (R2CRDSO =GGG). Tamb-m "oi adotado o m-todo de histria oral quando
"oi necess/rio compreender a vida e a tra0etria do respondente (citar "onte de histria
oral). observa$o "oi um m-todo complementar. 7oram reali#adas at- o presente
momento =; visitas ao ssentamento e =< entrevistas com assentados dirigentes e
acampados ligados ao hico Mendes.
O%*e&i4" da +es5isa M$&"d" de '"(e&a &i(i6ad" F"n&e de in0"r#a,-"2denti"icar as "ormas
organi#ativas caracter1sticas doampesinato.
, Pesquisa bibliogr/"ica. V ibliogra"ia sobre o tema
Descrever o processo de"orma$o do assentamento
hico Mendes.
,+ntrevistas6, Pesquisa documental.
,+ntrevistas reali#adas comassentados do hico Mendes6
,*eitura e "ichamento dedocumentos.
2denti"icar as rela$!es detrabalho no assentamento hicoMendes.
, +ntrevistas no estruturadas6, Observa$o. ,+ntrevistas reali#adas comassentados do hico Mendes6,Observa$o "eita durante as visitas
de campo ao hico Mendes.Fi3ra .: Res#" e7+(i'a&i4" d"s #$&"d"s de +es5isa a+(i'ad"s
interpreta$o dos dados obtidos "oi "eita atrav-s do m-todo de an/lise de
conte'do e a compara$o prpria desta an/lise se deu entre categorias relacionadas ao
re"erencial sobre campesinato e a realidade dos assentados. unidade de registro escolhida
"oi o tema pois que pareceu mais apropriado para delinear valores atitudes e cren$asdaqueles que produ#em as mensagens uma ve# que a realidade do tema - de ordem
psicolgica buscando sempre o sentido atribu1do %s "rases (R2CRDSO =GGG).
8 C!i'" Mendes: a !is&1ria de #a (&a 5e n-" &er#in"
o dia :< de mar$o de :;;K "oi "eita a primeira ocupa$o do +ngenho So Woo
integrante do omple&o da 9sina Ti'ma na -poca inativa havia =X anos (MST :;;Gb).
+m 0ulho de :;;E as E;; "am1lias que viviam no acampamento so"reram um violento
despe0o pelo batalho de choque da Pol1cia Militar. Mas voltaram a acampar na pista em"rente ao +ngenho uma ve# que haviam recebido permisso 0udicial para retirar das terras
o resultado de sua planta$o durante um per1odo de < meses. Yuando "altavam poucos dias
para acabar o re"erido per1odo o MST reocupou o local (MST :;;
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8ra$as % presso "eita na +mpresa Fotorantim i(propriet/ria do +ngenho) assim
como a articula$o de grupos de direitos humanos no dia :K de de#embro de :;;X "oi
publicado no Di/rio O"icial o decreto presidencial que declara o +ngenho So Woo /rea de
interesse social para "ins de re"orma agr/ria (MST :;;
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Por um motivo ou outro reconhece,se em ambos os motivos a luta pela
sobreviv?ncia. o nordeste brasileiro nomeadamente no estado de Pernambuco onde a
#ona rural - dominada por grandes lati"'ndios de cana,de,a$'car as di"eren$as econJmicas
e sociais entre os propriet/rios de terra e os trabalhadores rurais geram con"litos pela
propriedade da terra. +sta se torna portanto um meio de sustento e de mobilidade social
para aqueles que so marginali#ados pelo mercado de trabalho "ormal.
o se "a#er um paralelo com os dados do enso gropecu/rio de :;;N - poss1vel
compreender que embora e&ista uma tend?ncia para redu$o das pessoas ocupadas no
campo a agricultura "amiliar demonstrou um maior poder de reten$o do que a agricultura
no,"amiliar representando ho0e XKKZ do pessoal ocupado no campo. l-m disso ocupa
apenas :KZ da /rea total de estabelecimentos agropecu/rios mas - respons/vel por
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L importante en"ati#ar aqui que apesar de todos se considerarem trabalhadores
entre eles "oram indicadas algumas di"eren$as no tipo de trabalho que e&ercem como -
ilustrado na 7igura : e e&plicado a seguir.
Fi3ra 2: Re+resen&a,-" das iden&idades d"s en&re4is&ad"s
Yuando se trata da representa$o que se atribuem os dirigentes - e&altada a
imagem de resistente de batalhador. Os dirigentes en"ati#am bastante seus pap-is de
lutadores pela causa do embate de "or$as que vivenciam cu0a valori#a$o - compartilhada
pelos integrantes do grupo. So pessoas que abdicam de momentos de conviv?ncia com
suas "am1lias de hor/rios para trabalhar nos lotes de terras que lhes "oram cedidos e de
tempo para cuidados pessoais como a sa'de "a#endo investimentos "inanceiros e
emocionais no MST. +ssa dedica$o muitas ve#es no - reconhecida por parte de
assentados no,militantes.
Da parte dos assentados (se0am eles dirigentes ou no) - produ#ida uma
subclassi"ica$o de agricultores e no%agricultores que vem gerando con"litos internos.
lguns assentados assumem e a"irmam orgulhosamente a identidade de agricultores
relegando ao outro grupo de no%agricultores# rotulagens per0orativas como Qturistas ou
Qpregui$osos. +ntre os motivos que listam para no terem planta$!es encontram,se muitas
ve#es a dedica$o % militUncia pelo Movimento (como dirigentes por e&emplo) ou os
estudos universit/rios incentivados pelo MST. L "ato entretanto que a ine&peri?ncia na
lavoura os coloca numa situa$o "alta de identidade com o grupo de agricultores.
+sta situa$o esteve presente inclusive na "ase de implanta$o do ssentamento
em :;;
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para "icarem dentro do ssentamento. +la era uma coordenadora na -poca. Disse que
aqueles que ela indicou permanecem at- ho0e e trabalham bem , so Qverdadeiros
agricultores. +ntretanto a"irmou que muitas pessoas selecionaram com base em
intimidade pessoal e "avoritismos dei&ando de priori#ar v/rios agricultores# que esto
agora no Maria Para1baH "foi uma seleo mal%feita"(ssentada Dirigente +).
este processo seletivo - poss1vel observar in"lu?ncias diversas. De um lado os
resqu1cios dos tra$os patriarcais t1picos da regio e de outro as in"lu?ncias da agricultura
industrial baseada em pr/ticas mais pro"issionali#adas e com in"lu?ncias de uma lgica
econJmica. 2sso se re"lete na ado$o de crit-rios h1bridosH ora se baseiam nas indica$!es e
"avorecimentos e em outras nas capacidades do candidato para desempenhar o trabalho.
O ssentado 2 contou que por muito pouco no perdeu a posi$o de assentado.
omentou que no iria ser selecionado porque descumpria as ordens da dire$o de no
plantar plantas de rai# antes de se de"inirem as terras do ssentamentoH "&omecei a
plantar ainda no acampamento. lantei porque gosto" (ssentado 2). +m sua de"esa o
ssentado 2 conta tamb-m acerca de seus ressentimentos contra os no%agricultores
di#endo que
gente que nem pegou na en&ada est/ aqui A...B so turistas A...B (turistas)so pessoas que vieram da cidade. W/ tive muita discrimina$o contra
eles A...B Co0e no tenho nada contra essas pessoas A...B s que AelasB nopodem "alar besteira A...B porque no sabem de nada (ssentado 2)
pesar de todas as di"eren$as entre os moradores do ssentamento pode,se di#er
que eles vivem numa sociedade de interconhecimento(D+R*+5 =GGN) e que parte
deles dese0a a vida em agrupamentos coletivos como se pode perceber pelo depoimentoH
"u vim de uma fam(lia de agricultores de perto de Aliana. Ainda tenho terra l)# mas no
fui atr)s. *) + muito isolado ,...- o!e tenho uma nova fam(lia# apesar de tudo"
(ssentada Dirigente +). De "ato o agrupamento mostra,se como uma "orma deseguran$a de prote$o e como uma "orma de "ortalecimento e apoio no modo de vida
escolhido o que - um tra$o t1pico dos camponeses de acordo com C-bette (:;;E).
a pr/tica puderam,se perceber poucas a$!es de solidariedade. Parece e&istir para
muitos assentados um con"lito interno para decidir entre as vantagens do trabalho
individual ou coletivo. O trabalho coletivo - considerado inaplic/vel como se pJde
perceber nas repetidas ve#es que os assentados a"irmaramH "o coletivo aqui no d) certo".
+ntretanto e&iste uma ideali#a$o deste tipo de trabalho e um dese0o pelo estabelecimento
de la$os de solidariedade como - poss1vel notar no depoimentoH
==
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+u queria trabalho coletivo aqui. Yueria que um a0udasse o outro. Tempessoas aqui que tem problemas de sa'de e que no podem limpar epreparar a terra agora "eito a gente A...B podia ter mutir!es gratuitos paraa0udar essas pessoas se todo mundo contribu1sse A...B +les Aas pessoascom problema de sa'deB t?m que contratar tratores se no t?m dinheiro
t?m que contratar outro assentado (ssentadaDirigente +).
O ssentado 2 corroborando com essa id-ia di# que das suas planta$!es parte "ica
para si parte vende mas grande parte tamb-m d/ aos colegas do ssentamentoH o que eu
dou da terra eu no quero nada em troca/ (ssentado +). Seu e&emplo sugere tamb-m
uma outra perspectiva da vida na comunidade com a re"erida racionalidade camponesa
(RF*CO :;;E) substituindo a racionalidade econJmica(8OR3 :;;)do lucro e da
produtividade.
Muitos assentados di#em dese0ar @o coletivo@. ontudo uma das "rases mais
comumente repetidas pelos assentados nesses momentos eraH "aqui no tem coletivo".
Percebe,se que o sentido atribu1do ao @coletivo@ nessa "rase - o de pessoas que esto
unidas que tem rela$!es respeitosas e a"etivas que no entram em con"litos. +ntretanto o
@coletivo@ se evidenciou pela in"luencia que as a$!es da maioria in"luenciavam da vida
pessoal de cada assentado.
7eita essa conte&tuali#a$o sobre de onde vem como se identi"icam e se
relacionam os trabalhadores deste estudo so a partir de agora ressaltados aspectos
espec1"icos %s rela$!es de trabalho dentro do ssentamento.
92 Os &ra%a(!ad"res d" C!i'" Mendes
92. O &ra%a(!" d"s diri3en&es d" MST
em todos os assentados t?m um sentimento de dever para com o MST "ato que -
bem mais percebido entre os dirigentes que geralmente participam de processos de
"orma$o e se identi"icam com a causa do Movimento. Poucos assentados t?m interesse em
militar pelo Movimento e pre"erem se dedicar %s suas terras e isso - comum se considerarque o trabalho dos dirigentes - pesado estressante consome muito tempo e no gera
retorno "inanceiro. a verdade muitos dos prprios dirigentes sequer optaram por assumir
esta "un$o. "u no queria assumir a dirig$ncia# mas o pessoal da direo votou e me
escolheu ,...- porque eu era dedicada e tinha um desempenho bom aqui/ (Dirigente D).
7oi poss1vel perceber que os >escolhidos> involunt/rios sentiram,se pressionados a aceitar
as "un$!es por press!es grupais.
9m "ator comum nas "alas dos dirigentes entrevistados - a en"/tica e&alta$o deseus trabalhos como altru1stas e desinteressadosH sou dirigente por amor. 0o ganho
=:
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dinheiro. S1 uma cesta b)sica# de vez em quando... 0o gosto de ser dirigente. 2ao
porque poucos t$m capacidade de a!udar/ (ssentada Dirigente +). Mesmo no
recebendo contrapartida "inanceira direta os dirigentes possuem alguma esp-cie de retorno
pelas suas atividades (como status e autoridade por e&emplo). +ntretanto no se pode
negar o car/ter altru1sta da "un$o tendo em vista o alto es"or$o e o grau de di"iculdade
porque passam no e&erc1cio da mesma.
Os dirigentes so alvos de constantes cr1ticas e avalia$!es por parte dos assentados.
L atribu1da a eles a responsabilidade por "atos que esto "ora de seus Umbitos de atua$o
como por e&emplo o atraso na constru$o da agrovila que ocorreu por causa do impasse
0ur1dico com o empres/rio Theobaldo Melo.
pesar da posi$o de comando os dirigentes t?m muita di"iculdade de impor as
decis!es tomadas nas reuni!es do ssentamento. 7oi poss1vel in"erir a partir da
observa$o reali#ada em campo que a presso e&ercida pela coletividade tem mais
in"lu?ncia sobre os assentados do que as decis!es tomadas nas reuni!es e apoiadas pela
dire$o. Soma,se a isto o "ato de que a escolha dos dirigentes no - "eita por vota$o dos
assentados de "orma democr/tica e representativa das bases mas sim por indica$o ou
vota$o de outros dirigentes. Dessa maneira no se estabelece uma necess/ria
identi"ica$o do assentado no,militante com o dirigente e apoio %s suas id-ias e planos.
Pelo contr/rio alguns dos assentados mani"estaram desaprova$o em rela$o ao dirigente
escolhido o que di"iculta a autoridade do prprio cargo ocupado. Wusti"icando sua opinio
um assentado disseH le ,o dirigente- no + agricultor. 0unca pegou numa en3ada na
vida ,...- tem estudo# conhecimento t+cnico# mas no sabe disso ,agricultura- no/.
+sta situa$o indica que as bases de rela$o do ssentamento esto baseadas sob
"ormatos que impedem ou di"icultam a democrati#a$o das rela$!es sociais do campo
ob0etivo do prprio MST. +ste "ato possivelmente tem rela$o com a nature#a das rela$!es
de poder historicamente estabelecidas na #ona da mata pernambucana (PRT+S6RROS =GGX) "acilitando inclusive a reprodu$o das mesmas.
922 O &ra%a(!" d"s assen&ad"s d" MST
Para todos os assentados o trabalho tem uma dimenso de suprir as necessidades
"1sicas imediatas , mas no se resume para muitos deles a isto. O e&erc1cio do trabalho
tem uma dimenso de pra#er de identidade e orgulho como ilustra a "ala do ssentado 4H
"trabalhar + um prazer ,...- ficar em casa + uma agonia".
O trabalho envolve certa dose de orgulho pessoal de a"irma$o de um modoespec1"ico de vida e de reconhecimento pela "am1lia e pela comunidade. @posentar,se@ s
=
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tem um sentido positivo especialmente quando se trata de assentados descendentes de
"am1lias de agricultores quando no signi"ica ganhar uma renda "i&a sem parar de trabalhar
na ro$aH "Sair daqui ,quando me aposentar-4 0o5 A( + que vai ficar bom5 6ou ter
dinheiro para investir na minha terra"(ssentada +). Yuando o signi"icado do termo "or o
de parar de trabalhar ele - e&tremamente negativo. O ssentado 4 de N; anos por
e&emplo "oi atropelado quando andava de bicicleta e agora est/ debilitado "isicamente
para o trabalhoH "essa + a tristeza da minha vida"(ssentado 4). Sua "rase demonstra o
quanto o trabalho - central na vida social dessas pessoas.
reali#a$o de um bom trabalho com o passar dos anos vai dando aos
camponeses estudados um maior conhecimento emp1rico. transmisso deste
conhecimento necess/rio para se tornar um agricultor - em muitos casos o patrimJnio que
os parentes desses assentados dei&aram para eles como bem salientou anderle (=GGN).
De qualquer maneira - este aprendi#ado que lhes garante a sobreviv?ncia e reprodu$o. O
ssentado 2 di# que para adquirir esse conhecimento no precisa de estudo @t-cnico@H
vontade + 789 do que precisa para ser um agricultor. Sem ela# no adianta forar5 ,...-
o resto e ensino e pr)tica... + ver um mestre plantando ,...- : importante ter um mestre#
mas quem ensina mesmo + a natureza/.
9m dos trechos interessantes de sua "ala re"ere,se % vontadeque - necess/ria para
al-m do es"or$o na "orma$o de um agricultor. +sta vontade re"ere,se a uma esp-cie de
voca$o de amor incondicional. O prprio ssentado 2 a"irma a rela$o a"etiva que tem
com as plantas assim como a grande liga$o que tem com a nature#a e com sua prpria
terra quando di# que a terra no + minha# mas tem uma gotinha de sangue meu em cada
planta daquela. Observa,se neste elemento aquilo que Ceb-tte (:;;E) compreende como
Qapego % terra como base da rela$o do campon?s com seu trabalho.
O sucesso do agricultor depende de seu es"or$o de seu conhecimento e de sua
voca$o como comenta o ssentado 4 ao di#er que ; trabalhador ,de verdade- tem oque comer. 0o passa necessidade". Pode,se in"erir que o ssentado 4 que se considera
como parte do grupo de agricultores em sua "ala se re"eria aos prprios agricultores. De
"ato "oi notado como 0/ dito anteriormente que os integrantes do grupo de no%
agricultoresencontram,se em desvantagem em rela$o aos agricultores e essa situa$o se
re"lete no prprio sucesso na atividade. 2sso pode ser notado no e&emplo ao contrastar,se o
discurso do ssentado e da ssentada +. O ssentado que era um pro"issional
autJnomo e ingressou no MST porque estava desempregado a"irmouH "pode escrevermandala> do pro0eto dopro"essor Adesenvolvido pela 97RP+B... Mas somente tr?s pessoastrabalham ho0e nela A...B +las dei&am de trabalhar em suas prprias terraspara trabalhar l/ A...B +u mesma no estou trabalhando l/... +stava masdei&ei. Porque ningu-m est/ trabalhando l/. a hora do cr-dito todomundo aparece. o quero que tirem vantagem do meu trabalho no. Setodo mundo trabalhasse eu trabalhava tamb-m (ssentada Dirigente +)
Desta situa$o um tanto comple&a pode,se in"erir que essas pessoas no querem
perder sua individualidade em meio % ditadura da maioria6 mas tamb-m no querem perder
sua humanidade em meio % selvageria do capitalismo. +las parecem buscar um equil1brio
per"eito uma comunidade ideali#ada uma cultura di"erenciada uma terceira via (porqueno[) para as sa1das que lhes "oram propostas.
= C"n'(s>es
Por se tratar de um estudo em processo de constru$o as conclus!es deste estudo
so preliminares apontando direcionamentos a serem apro"undados em "ases posteriores
da pesquisa. Primeiramente "oi percept1vel a in"lu?ncia do conte&to na apro&ima$o das
pessoas com o MST. 2sso porque os dados revelaram que a motiva$o das integrantes do
ssentamento em "a#er parte do Movimento "oi predominantemente determinada por
quest!es de emprego e renda. "alta de espa$o no mercado de trabalho "ormal tem levado
as pessoas a aderirem ao Movimento por observarem na terra a chance de mobilidade
social.
7oi poss1vel in"erir que os assentados dirigentes ou camponeses dividem,se em
agricultores e no%agricultores subgrupos estes que apresentam caracter1sticas diversas no
que di# respeito %s suas rela$!es de trabalho na terra.
pesar de tamb-m trabalharem com a terra os dirigentes di"erenciam,se dos
assentados por priori#arem a militUncia no Movimento cu0o reconhecimento - bai&o 0unto
aos prprios assentados. Yuando analisadas as rela$!es de trabalho que l/ se estabelecem
"oi poss1vel compreender a in"lu?ncia tanto da tradi$o patriarcal da regio (PRT+S6
RROS =GGX) ora da lgica da agricultura industrial inter"erindo em aspectos como o
processo de tomada de decis!es e a de"ini$o dos crit-rios de sele$o dos membros do
assentamento por e&emplo.
Para melhor resumir os pontos relevantes re"erentes ao trabalho dos assentados "oi
constru1da a Yuadro KH
=X
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Tra,"s d" &ra%a(!" d"s assen&ad"s Des'ri,-"
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intermedi/rio do continuum camponeisidade,agroindustrialidade (TO*+DO apud
892R :;;E).
Desta "orma pode,se di#er que rela$!es de trabalho presentes no ssentamento
hico Mendes envolvem simultaneamente tra$os da racionalidade camponesa e da
econJmica e elementos empresariais mesclados com pr/ticas patriarcais. +las re"letem por
"im trabalhador,campon?s em processo de trans"orma$o e adapta$o % realidade
moderna que apresenta tra$os t1picos do prprio campon?s assim como caracter1sticas do
chamado agricultor "amiliar moderno.
Re0er?n'ias
892R Maria Firg1nia de lmeida. O campesinato no +stado de Mato 8rossoH +ntre
pantanais cerrados e "lorestas a diversidade camponesa no +stado de Mato 8rosso. 2nHCor/cio Martins de arvalho. (Org.). O 'a#+esina&" n" s$'(" XXI. Possibilidades econdicionantes do desenvolvimento do campesinato no rasil. = ed. PetrpolisH Fo#es:;;E v. = p. =:E,=EX.RS2*. Minist-rio do desenvolvimento agr/rio. A'a#+a#en&" C!i'" Mendes PE 0es&e*a+"sse da &erra . := out :;;
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+F+S Delma Pessanha. De0ini,-" s1'i"e'"n@#i'a d" 'a#+esina&". Revista i?nciasSociais Co0e =G
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i+mpresa brasileira que concentra sua atua$o em setores de base da economia como cimento minera$o celulose e etc.iionsiderando que o ob0etivo deste estudo - compreender aspectos re"erentes %s rela$!es de trabalho dentro do ssentamento hicoMendes os acampados do Maria Para1ba sero citados apenas brevemente neste primeiro momento sendo necess/rio para eles umestudo % parte.