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SBN INFORMA Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Nefrologia edição de novembro/dezembro de 2000 EDIÇÃO ESPECIAL Em 12 páginas, leia sobre a lista única para transplantes, o panorama do ensino médico e nefrológico no Brasil, os obstáculos encontrados pelos pacientes renais e muito mais! Lutas, denúncias e vitórias favorecem a comunidade EDITORIAL E stamos terminando o mandato com a sensação do dever cumprido, inclusive na sucessão que se avizinha. Não pode ríamos, entretanto, nos esquivar das falhas existentes neste processo de fortalecimento de nossa entidade. A complexidade das demandas; a necessidade de enfrentamento de questões relacionadas ao ensino; a eficiência do atendimento médico para uma enorme e sofrida população; o desafio de construção de um sistema único de saúde democratizado, universal e humanista, bem como a luta sem quartel contra interesses espúrios determinados pela avidez do lucro fácil às custas dos recursos da comunidade, associados à impunidade, serão sempre obstáculos a vencer pelas diretorias que se seguirem. A abertura do novo mercado dos convênios privados de saúde vem de- terminando crescente choque entre médicos e unidades prestadoras de serviços em todo o país. A busca “a qualquer custo” desta nova clientela vem produzindo o aviltamento do trabalho médico e a desmoralização dos nefrologistas como decorrência do pragmatismo do “salve-se quem puder” a que alguns se entregaram. Tudo isso impulsionado pela ação deletéria de fortes grupos multi- nacionais, em especial a RTS (sub- sidiária da Baxter) e a FMC (Freze- nius Medical Care), que continuam agindo à sombra da lei e da ética, praticando o dumping que fragiliza as unidades independentes, apesar das constatações observadas pela CPI dos Medicamentos. A ação desses grupos vem ga- nhando sofisticação e agressividade dentro das secretarias de Saúde, co- mo é o caso do verdadeiro escândalo ora ocorrendo na montagem de uma suposta unidade de diálise peritonial no Hospital Geral de Goiânia. Em- perrado desde a sua fundação, o hospital estatal em questão entrou com uma solicitação de vistoria, com Nenhum argumento técnico poderia justificar este descalabro. Urge que o Ministério Público, auxiliado pela mo- bilização dos nefrologistas goianos, impeça que se perpetre este crime. Outra forma insuportável de a- tuação desses grupos vem se mani- festando através da pressão junto às secretarias municipais e estaduais para vender projetos de unidades de diálise, de maneira a – em conluio com “assessores” e lobistas – se apoderar de verbas destinadas à saúde. Vários nefrologistas vêm sendo gros- seiramente assediados para to- marem conta de unidades pre- viamente credenciadas ou acer- tadas em negociatas. Alguns des- ses grupos estão envolvidos com entidades ditas “de interesse público”, ONGs, traficam in- fluência e acertam negociações em Miami para garantir a comer- cialização de máquinas usadas contrabandeadas para o país. Um outro grupo da mesma origem se apronta para credenciar três unidades no Nordeste, mais es- pecificamente em municípios dos Estados de Pernambuco e Paraíba, através de lobistas, ligados a po- líticos de alto coturno. Acusações de irregularidades tam- bém vêm pesando contra Centrais de Distribuição de Pacientes para Tra- tamento de Substituição Renal, que trabalham em conluio com grandes grupos de influência econômica e/ ou política para direcionamento de pacientes e elevação de cotas orçamentárias em detrimento de ou- tras, como pode ser lido em matéria neste jornal, envolvendo a cidade de Piracicaba, SP. Aliás, esta é uma das denúncias que mais freqüen- temente chegam à SBN, pro- cedentes de todos os lugares do país. As tentativas de boicote à lista úni- ca de candidatos a transplante renal a partir de doadores cadavéricos também continuam a existir, apesar da posição firme desta Sociedade e do Ministério da Saúde Não se trata de plantar nenhuma sinistrose, mas, ao contrário, refletir e alertar sobre alguns obstáculos que se situam no caminho da construção de uma sociedade mais ética e justa. No meio médico estão situadas gran- des matrizes de distorções, não apenas pela prática da cooptação de profissionais médicos e não-mé- dicos, mas pela meta de tornar pri- vado o dinheiro de todos. Temos a comemorar algumas vi- tórias parciais e a consolidação de uma Sociedade que, temos certeza, não mais se deixará instru- mentalizar pela mesquinhez e pelo pragmatismo que levam ao sucesso pessoal fácil e falso em detrimento da maioria. Regozijamo-nos com a serenidade e a coragem com que o Ministro da Saúde vem en- frentando grandes grupos cuja conduta se opõe ao justo caminho. Alvissareiras também são as notícias de reajuste das tabelas de procedimentos do SUS. Finalmente, desejamos paz a todos e muita disposição de luta para a superação de velhas e novas mazelas, na crença de uma nação mais solidária e mais feliz neste novo século. credenciamento em fase de con- clusão de uma unidade para tratar pa- cientes em diálise peritonial. O mais escabroso é que a solicitação do teto orçamentário à Secretaria de Saúde vem assinada por Milton Munhoz, gerente de marketing da divisão renal da Baxter Hospitalar Ltda., em 18 de outubro deste ano, e, em detalhes, requer um teto mensal de R$ 162.171,24 para tratar 84 possíveis pacientes, dos quais R$ 109.232 para 47 pacientes em DPA (diálise peritonial automática); R$ 41.739,07 para 23 pacientes em CAPD e R$ 11.559,94 para “14 novos pacientes”. Apenas R$ 18.800 vão para recursos hu- manos, sendo R$ 1.000 para cada um dos dois médicos solicitados. O mesmo documento so- licita credenciamento para DPI, mas exclui os valores da DPI de suas tabelas e cobra DPI com as tabelas da DPA e ainda assinala uma margem de lucros de R$ 14.000/mês. Pudera! Goiânia, com 1.000.000 de habi- tantes, tem cerca de 1.000 pacientes em diálise. Contudo, a Secretaria de Saúde vem negando vagas para as unidades existentes, enquanto do outro lado articula uma negociata de impressionante amoralidade. Vale ressaltar que, com a verba solicitada ao Estado, poderiam ser tratados não os interesses da Baxter mas 150 pacientes goianos em hemodiálise. Urge que o Ministério Público, auxiliado pela mobilização dos nefrologistas goianos, impeça que se perpetre este crime SBN5.p65 09/02/01, 08:56 1

Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Nefrologia edição ...arquivos.sbn.org.br/pdf/boletins/2000/NovDez00.pdf · pois ele foi o criador do sistema Y, que concorreu para a diminui-ção

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Estamos terminando o mandato com a sensação do devercumprido, inclusive na sucessão que se avizinha. Não poderíamos, entretanto, nos esquivar das falhas existentes neste

processo de fortalecimento de nossa entidade. A complexidade dasdemandas; a necessidade de enfrentamento de questões relacionadasao ensino; a eficiência do atendimento médico para uma enorme esofrida população; o desafio de construção de um sistema único desaúde democratizado, universal e humanista, bem como a luta semquartel contra interesses espúrios determinados pela avidez do lucrofácil às custas dos recursos da comunidade, associados à impunidade,serão sempre obstáculos a vencer pelas diretorias que se seguirem.

A abertura do novo mercado dosconvênios privados de saúde vem de-terminando crescente choque entremédicos e unidades prestadoras deserviços em todo o país. A busca “aqualquer custo” desta nova clientelavem produzindo o aviltamento dotrabalho médico e a desmoralizaçãodos nefrologistas como decorrênciado pragmatismo do “salve-se quempuder” a que alguns se entregaram.Tudo isso impulsionado pela açãodeletéria de fortes grupos multi-nacionais, em especial a RTS (sub-sidiária da Baxter) e a FMC (Freze-nius Medical Care), que continuamagindo à sombra da lei e da ética,

praticando o dumping que fragilizaas unidades independentes, apesardas constatações observadas pela CPIdos Medicamentos.

A ação desses grupos vem ga-nhando sofisticação e agressividadedentro das secretarias de Saúde, co-mo é o caso do verdadeiro escândaloora ocorrendo na montagem de umasuposta unidade de diálise peritonialno Hospital Geral de Goiânia. Em-perrado desde a sua fundação, ohospital estatal em questão entroucom uma solicitação de vistoria, com

Nenhum argumento técnico poderiajustificar este descalabro. Urge que oMinistério Público, auxiliado pela mo-bilização dos nefrologistas goianos,impeça que se perpetre este crime.

Outra forma insuportável de a-tuação desses grupos vem se mani-festando através da pressão juntoàs secretarias municipais eestaduais para vender projetos deunidades de diálise, de maneira a– em conluio com “assessores” elobistas – se apoderar de verbasdestinadas à saúde. Váriosnefrologistas vêm sendo gros-seiramente assediados para to-marem conta de unidades pre-viamente credenciadas ou acer-tadas em negociatas. Alguns des-ses grupos estão envolvidos comentidades ditas “de interessepúblico”, ONGs, traficam in-fluência e acertam negociações emMiami para garantir a comer-cialização de máquinas usadascontrabandeadas para o país. Umoutro grupo da mesma origem seapronta para credenciar trêsunidades no Nordeste, mais es-pecificamente em municípios dosEstados de Pernambuco e Paraíba,através de lobistas, ligados a po-líticos de alto coturno.

Acusações de irregularidades tam-bém vêm pesando contra Centrais deDistribuição de Pacientes para Tra-tamento de Substituição Renal, quetrabalham em conluio com grandesgrupos de influência econômica e/ou política para direcionamento depacientes e elevação de cotasorçamentárias em detrimento de ou-tras, como pode ser lido em matérianeste jornal, envolvendo a cidade dePiracicaba, SP. Aliás, esta é uma dasdenúncias que mais freqüen-temente chegam à SBN, pro-cedentes de todos os lugaresdo país.

As tentativas deboicote à lista úni-ca de candidatos

a transplante renal a partir dedoadores cadavéricos tambémcontinuam a existir, apesar daposição firme desta Sociedade e doMinistério da Saúde

Não se trata de plantar nenhumasinistrose, mas, ao contrário, refletire alertar sobre alguns obstáculos quese situam no caminho da construçãode uma sociedade mais ética e justa.No meio médico estão situadas gran-des matrizes de distorções, nãoapenas pela prática da cooptação deprofissionais médicos e não-mé-dicos, mas pela meta de tornar pri-vado o dinheiro de todos.

Temos a comemorar algumas vi-tórias parciais e a consolidação deuma Sociedade que, temos certeza,não mais se deixará instru-mentalizar pela mesquinhez e pelopragmatismo que levam ao sucessopessoal fácil e falso em detrimentoda maioria. Regozijamo-nos coma serenidade e a coragem com queo Ministro da Saúde vem en-frentando grandes grupos cujaconduta se opõe ao justo caminho.Alvissareiras também são asnotícias de reajuste das tabelas deprocedimentos do SUS.

Finalmente, desejamos paz atodos e muita disposição de lutapara a superação de velhas enovas mazelas, na crença deuma nação mais solidáriae mais feliz nestenovo século.

credenciamento em fase de con-clusão de uma unidade para tratar pa-cientes em diálise peritonial. O maisescabroso é que a solicitação do tetoorçamentário à Secretaria de Saúdevem assinada por Milton Munhoz,gerente de marketing da divisãorenal da Baxter Hospitalar Ltda., em18 de outubro deste ano, e, emdetalhes, requer um teto mensal deR$ 162.171,24 para tratar 84possíveis pacientes, dos quais R$109.232 para 47 pacientes em DPA(diálise peritonial automática); R$41.739,07 para 23 pacientes emCAPD e R$ 11.559,94 para “14novos pacientes”. Apenas R$ 18.800

vão para recursos hu-manos, sendo R$ 1.000para cada um dos doismédicos solicitados. Omesmo documento so-licita credenciamentopara DPI, mas exclui osvalores da DPI de suastabelas e cobra DPI

com as tabelas da DPA e aindaassinala uma margem de lucros deR$ 14.000/mês. Pudera!

Goiânia, com 1.000.000 de habi-tantes, tem cerca de 1.000 pacientesem diálise. Contudo, a Secretaria deSaúde vem negando vagas para asunidades existentes, enquanto do outrolado articula uma negociata deimpressionante amoralidade. Valeressaltar que, com a verba solicitadaao Estado, poderiam ser tratados nãoos interesses da Baxter mas 150pacientes goianos em hemodiálise.

Urge que o Ministério Público,auxiliado pela mobilização dosnefrologistas goianos, impeça

que se perpetre este crime

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EDITOR

Ruy A. Barata

EDIÇÃO EXECUTIVA

Publishing Solutions

SECRETÁRIAS

Adriana PaladiniRosalina Soares

SOCIEDADE BRASILEIRA

DE NEFROLOGIA

DEPARTAMENTO DE

NEFROLOGIA DA ASSOCIAÇÃO

MÉDICA BRASILEIRA

Rua Machado Bittencourt, 205 5o

andar, conj. 53, V. ClementinoCEP 04044-000, São Paulo, SPFONES: (0xx11) 5579-1242 e

(0xx11) 5080-3630FAX: (0xx11) 5573-6000E-MAIL: [email protected]: http://www.sbn.org.br

DIRETORIA

PRESIDENTEJoão Cezar Mendes Moreira

VICE-PRESIDENTEWagner Moura Barbosa

SECRETÁRIA GERALMaria Almerinda Alves

1O SECRETÁRIOAntonio Américo Alves

TESOUREIRODaniel Rinaldi dos Santos

DEPARTAMENTOS

DEFESA PROFISSIONALRuy A. Barata

DIÁLISE E TRANSPLANTEHugo Abensur

ENSINO, RECICLAGEM E TITULAÇÃONestor Schor

FISIOLOGIA E FISIOPATOLOGIARENALLuis Yu

HIPERTENSÃO ARTERIALJosé Nery Praxedes

INFORMÁTICA EM SAÚDEDaniel Sigulem

NEFROLOGIA CLÍNICARui Toledo Barros

NEFROLOGIA PEDIÁTRICAJúlio Toporoviski

PROJETO GRÁFICO, EDITORAÇÃOELETRÔNICA E ARTE-FINALPublishing Solutions

PUBLICIDADEMarcelo GonçalvesTelefone: (0xx11)214-2681Fax: (0xx11) 3159-0620

Os artigos assinados não refletem neces-sariamente a opinião do jornal.

Variedade das atividades m

Vera Ramos, Aluízio daCosta e Silva e o presidenteda SBN durante acerimônia de entrega doPrêmio Oswaldo Ramos,criado em homenagem aonefrologista falecido em1999. Outra homenagemprestada a Ramos foi odiscurso de Costa e Silvana abertura do XXCongresso

Hipertensão, IRC, diálise etransplante são abordados

Valter Duro Garcia autografao livro “Por uma política de

transplantes no Brasil”,lançado no congresso. Outroslançamentos fizeram parte da

programação em Natal

Na avaliação de Hugo Abensur,coordenador do Departamento deDiálise e Transplante da SBN, ostemas de insuficiência renal crô-nica e de diálise foram abordadosde maneira “ampla e brilhante”durante o XX Congresso Brasilei-ro de Nefrologia.

Para ele, o ponto alto do evento foio simpósio “Inflamação e In-dicadores de Qualidade em Uremia”,no qual se discutiu a participação dascitocinas (principalmente IL-6 eTNF) induzidas pela própria uremia,da bioincompatibilidade das mem-branas de diálise e das toxinas pre-sentes no dialisato na indução dehipoalbuminemia, desnutrição e re-sistência à eritropoietina.

“A presença de Umberto Buon-christiane trouxe para o evento umimportante contraponto histórico,pois ele foi o criador do sistemaY, que concorreu para a diminui-ção do número de episódios deperitonite na técnica de DPAC, eao mesmo tempo é responsávelpelo programa mais importante eantigo de hemodiálise diária. Estamodalidade de tratamento de in-suficiência renal crônica está ga-nhando espaço nos últimos anos”,afirma Abensur.

Ravindra L. Mehta abordou otema da avaliação do peso seco emdiálise crônica, ressaltando abioimpedância e a medida da veiacava inferior. O tema do acessovascular também foi abordado,ressaltando-se a necessidade dapresença de um cirurgião compro-metido com essa questão para ob-tenção de acessos eficientes e du-radouros.

Para José Nery Praxedes, coor-denador do Departamento deHipertensão Arterial, o congressocontemplou a área de hipertensãona mesma proporção dos eventosanteriores, em padrões semelhan-tes aos do Annual Meeting daASN (Associação Americana deNefrologia).

Praxedes destaca a sessão de“Hipertensão em Situações Espe-ciais”, desenvolvida no formato dediscussão tutorial de casos clíni-

cos. Sobre os temas-livres,Praxedes afirma que embora onúmero de trabalhos enviados te-nha sido proporcionalmente me-nor em relação a outras áreas, ob-servou-se número muito bom denovos participantes, o que, segun-do ele, demonstra um crescenteinteresse dos novos nefrologistaspela área de hipertensão arterial,principalmente em aspectos clíni-cos e epidemiológicos.

Fotos Divulgação

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s marcade Nefrologia

XX Congresso Brasileiro

O XX Congresso Brasileirode Nefrologia, tambémconhecido como Nefro

2000, aconteceu de 24 a 27 desetembro, em Natal, RN. O eventofoi organizado pela SociedadeBrasileira de Nefrologia (SBN).

Paralelamente, aconteceutambém o X Congresso

Brasileiro deEnfermagem

O curso sobre “Gerenciamento deum centro de diálise”, realizado navéspera do congresso em parceriacom a Associação Brasileira deCentros de Diálise e Transplante(ABCDT), teve participação ex-pressiva. Foram discutidos osindicadores de qualidade em diálise eos desafios financeiros atuais doscentros de diálise.

As repercussões renais das doen-ças infecciosas mais comuns emregiões tropicais foram amplamenteabordadas. Os desafios da formaçãode novos nefrologistas e a impor-tância de entender e discutir omercado de trabalho na atualidadetambém foram temas abordados.

IntegraçãoO Nefro 2000 abriu espaço para a

integração da nefrologia brasileiracom as entidades internacionais daespecialidade. Aqui estiveram JohnDirks, presidente da Comissão parao Avanço Global da Nefrologia(Comgan), órgão da SociedadeInternacional de Nefrologia quepatrocinou parte do simpósio sobredoenças infecciosas e o rim, eEzequiel Bellorin Font, presidente daSociedade Latino-americana deNefrologia e Hipertensão (SLANH).

Durante o congresso, foi lançado oselo dos Correios comemorativo daCampanha Nacional de Doação deÓrgãos, iniciativa da AssociaçãoBrasileira de Transplante de Órgãos(ABTO) em parceria com a SBN. Fo-ram homenageados alguns nefro-logistas da área de transplante renal:Emil Sabbaga, pioneiro dos transplan-tes renais no Brasil; João Cezar Men-des Moreira, presidente da SBN;Henry de Holanda Campos, presiden-te da ABTO; e José Osmar MedinaPestana, que, segundo José Bruno deAlmeida, coordena o centro de trans-plante renal mais ativo do país.

RepercussãoO Medonline, site dirigido por

Sebastião Rodrigues, sócio da SBN,noticiou os destaques de cada dia doNefro 2000. Além disso, o evento foinotícia no site Medscape, com umacobertura da agência de notíciasReuters sobre as discussões de trans-plante renal realizadas no evento.

Os resumos dos temas-livres apresentados no Nefro 2000 estãodisponíveis em um CD-Rom lançado pela Sociedade Brasileira deNefrologia. Os posters e apresentações orais estão divididos sob osseguintes temas:• Nefrologia básica• Fisiologia e fisiopatologia• Nefrologia clínica• Glomerulopatias• Litíase urinária• Hipertensão arterial• Insuficiência renal aguda• Insuficiência renal crônica e osteodistrofia• Diálise crônica• Transplante renal

Além dos resumos, o CD trazinformações turísticas sobre Natal.

CD-Rom traz temas-livresdo congresso

Capa do CD-Rom“Resumos do Nefro 2000”

Maiores informações nostelefones (0xx11) 5579-1242, (0xx11) 5084-3047,(0xx11) 5579-7838 e(0xx11) 5579-6937

SERVIÇO

em Nefrologia, promovido pelaSoben (Sociedade Brasileira deEnfermagem em Nefrologia).

O evento deste ano não teve umtema central. Segundo os organiza-dores, isto aconteceu devido ao fatode que a natureza da atividadeprofissional é muito abrangente entrea maioria dos nefrologistas brasileiros.

Segundo José Bruno de Almeida,presidente do congresso, a avaliaçãogeral do encontro foi positiva.“Apesar de algumas limitações físicasdo Centro de Convenções de Natal,as atividades científicas ocorrerampontualmente, com raras exceções, eos temas foram abrangentes e atuais,com ênfase em prática clínica.Entretanto, temas de nefrologia básicaforam abordados em sessõesconcorridas”, relata José Bruno.

Dentro da programação oficial, 12convidados estrangeiros e mais de80 convidados nacionais de re-conhecida competência mostraram,em conferências, simpósios, mini-aulas e cursos, o que existe de maisatual em suas áreas de atuação.“Nesta era de meios rápidos eacessíveis de comunicação, como aInternet, a repercussão deixada porum convidado estrangeiro em umcongresso tem sido menor do queno passado recente”, comenta opresidente.

A produção científica da nefrologiabrasileira foi mostrada em 500trabalhos em forma de apresentaçõesorais e painéis. Foram encaminhados70 trabalhos científicos, comabstracts em inglês, para possívelpublicação no Kidney International.

Na abertura do evento, foram des-taques a fala de João Cezar

Mendes Moreira, presidente daSBN, sobre os quarenta anosda Sociedade Brasileira deNefrologia; a fala de AluízioCosta e Silva em homenagema Oswaldo Luiz Ramos, pio-neiro da nefrologia brasileirafalecido no ano passado, agorapatrono de um prêmio oficialda SBN; e a fala do repre-sentante do Ministério daSaúde, Alberto Beltrame,sobre as propostas de políticasdo governo federal para a áreade terapia renal substitutiva.

João Cezar Mendes Moreira, presidente da SociedadeBrasileira de Nefrologia

SBN5.p65 09/02/01, 08:583

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Unidades de diálise devem unirtecnologia e bem-estar

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Não só de equipamentosmodernos e recursoshumanos capacitados é

feita a qualidade de uma clínica dehemodiálise. O espaço onde os pro-cedimentos acontecem deve ser cui-dadosamente projetado. O arquitetoLuiz Laurent Bloch atua na área deprojetos para unidades de diálisedesde 1985. Nesta entrevista aoSBNInforma, ele conta quais são ospontos mais importantes a seremobservados em um projeto e comotrabalha o seu escritório, a BlochSó.

Quais devem ser as principaispreocupações do arquiteto aoelaborar o projeto de uma clínica?

Luiz Bloch – O papel prioritário doescritório de arquitetura é ouvir aequipe de médicos e enfermeiras,buscando entender seus objetivos esuas particularidades. A participaçãoseguinte é na escolha do local ondeserá instalada ou adaptada a clínica.Essa avaliação pode, muitas vezes,indicar a busca de novos espaços nosquais a relação entre o custo do terrenoe o retorno financeiro seja mais equi-librada ou haja um número tal de“cadeiras” que viabilize o empreen-dimento. Isso sem falar na necessáriaproximidade de terminais de trans-porte coletivo, bem como na avaliaçãodas legislações urbanísticas.

Qual é o modelo ideal?O modelo ideal é aquele no qual

o projeto de arquitetura favorece oótimo desempenho de todo osistema de atendimento da clínica.

O perfil das clínicas de hemodiá-lise parece estar sofrendo transfor-mações. Um aspecto recente é apossibilidade de atender, além doSUS, clientes de convêniosparticulares. Embora a qualidade dosserviços médicos não vá se alterar,outras especificidades poderão surgir,

orientando as clínicas aadotar sistemas de gestão dequalidade total.

Como alcançar a har-monia entre aspectos fun-cionais e estéticos?

Quando um arquiteto écontratado, tanto ele quantoo cliente não devemresignar-se com o bom: têmde buscar o ótimo. Essasolução será resultado deuma excelência funcional ede uma correção estética.Beleza, no nosso enten-dimento, é mais que de-corrência da funciona-lidade. Ela também é fun-ção. A harmonia resulta daatenção aos detalhes, emtodas as etapas do projeto.O que exige toda dedicaçãoe esforço da equipe é amanutenção de prazos eorçamentos.

Como equacionar problemasrelacionados ao acesso às clínicas?

Ao participarmos da escolha do ter-reno ou do edifício, damos prioridade,nos grandes centros, a uma locali-zação próxima a terminais detransporte. Superados os obstáculospara a locomoção, presentes nasnossas cidades, o paciente encontrarána clínica condições absolutamentefavoráveis para seu acesso e cir-culação. A ausência de barreiras fí-sicas é uma preocupação constantenos projetos desenvolvidos pelaBlochSó.

Qual é a importância dada aosaspectos de conforto ambiental?

Buscamos proteger o edifício pormeio de para-sóis, cores refletoras,forros e elementos que atenuem aentrada de calor no ambiente. Emnosso clima, no entanto, muitas vezesnão é possível dispensar o uso deaparelhos de ar-condicionado.Optamos então prioritariamente por

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sistemas tipo Split, sem tubulaçõesonde proliferem bactérias.

Todo o cuidado com cores, odorese o conforto termo-acústico colabo-ra com o bem-estar do paciente.Aberturas para entrada de luz e parao aumento do campo de visão dousuário também agregam valor.Comodidades especiais recentespodem adicionar qualidade aoperíodo de permanência nas sessões,tais como circuito interno de TV acabo, fones de ouvido, pontos paralaptops, mobiliário especial e acessoà Internet, entre outros. Futura-mente, pode-se pensar até em uma“customerização” do atendimento.

Como conciliar qualidade demateriais e de projeto e baixo custo?

A função do projeto de arquiteturaé buscar a melhor relação inves-timento/benefício. Qualidade deprojeto não significa alto custo deobra. Contrariamente, o arquiteto vai,dentro de certos limites, encontrar

soluções construtivasregionais, com menordesembolso para quem ocontrata. Especificamen-te para clínicas de hemo-diálise, o arquiteto deveselecionar materiais quenão se deteriorem frenteà agressividade dos pro-dutos utilizados para sualimpeza.

E quanto aos aspectosecológicos?

Nas clínicas de hemo-diálise é possível reciclarvários materiais, comocaixas de papelão, galõesvazios e similares. Procu-ramos definir espaçospara a permanência destesou separamos prateleirasjunto ao depósito deresíduos. Quanto à água,a garantia do absolutocontrole de sua qualidadeimplica em processos de

tratamento com elevado volume derejeitos. Assim, a água descartada épassível de reaproveitamento parcialpara caixas de descarga, para limpeza,etc. Os cuidados com confortotérmico, já mencionados, propiciam,por sua vez, uma diminuição do usodo aparelho de ar-condicionado. Já osistema de iluminação requer aescolha de luminárias apropriadas, dealto desempenho, com dimmer ecircuitos diferenciados, dentre outrasopções que trazem economia a longoprazo.

Como o senhor avalia a situaçãodas clínicas de hemodiálise doBrasil? Há preocupação com osaspectos arquitetônicos?

Temos percebido um gradativoaumento da procura por profis-sionais especializados para aelaboração de projetos de ar-quitetura na área da saúde. Ima-ginamos que grande parte de nossasclínicas de hemodiálise estejabuscando sua adaptação às últimaspublicações do Ministério da Saúde,nem sempre possível a curto prazo.Percebemos também crescentesrespeito e preocupação com osusuários.

Luiz Bloch: “O papel prioritário do escritório de arquiteturaé ouvir a equipe de médicos e enfermeiras, buscando

entender seus objetivos e suas particularidades”

Imagens de clínica com projeto arquitetônicodesenvolvido pelo escritório de Luiz Bloch

SBN5.p65 09/02/01, 08:584

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Como transcorreu o processoque culminou na implan-tação do cadastro único?

Agenor Spallini – As atividades detransplante no país se desenvolverama partir de 1965, às custas de inicia-tivas de grupos universitários, semparticipação governamental, o que ge-rou distorções que se manifestariambem mais tarde. À medida que ostransplantes saíam das salas de cirur-gia experimental, o Ministério da Saú-de era cobrado a oferecer esses pro-cedimentos. A falta de critérios paraa alocação dos órgãos e de controle eavaliação oficial dos resultados eramos problemas mais graves.

A partir de 1986, o Governo ensaiouvárias iniciativas, mas, na prática,pouca coisa resultou em melhoriasefetivas até 1996, quando foi criadauma comissão na área de alta comple-xidade da Secretaria de Assistência àSaúde do Ministério da Saúde, encar-regada de propor soluções. Coube amim elaborar um projeto, que entre-guei no final de 1996, para ser dis-cutido por vários profissionais.

As dificul-dades para aimplantação e-ram muitas.Resistênciasvinham desetores daABCDT (As-sociação Bra-sileira dos Centros de Diálise e Trans-plante), da ABTO (Associação Bra-sileira de Transplante de Órgãos), daprópria SBN e de outras pessoas in-fluentes. Entretanto, o maior empe-cilho era a falta de vontade políticadas autoridades federais e estaduais.A regulamentação da lei 9.434 trouxea oportunidade de implantar o projetoquase na íntegra: o decreto 2.268, dejulho de 1997, criou o SistemaNacional de Transplantes (SNT).

De todos os estados que agora dis-punham de um instrumento legalpara a regulamentação, só São Pauloimplantou o projeto na totalidade.

Qual foi a importância da expe-riência do senhor no Spit (São PauloInterior Transplante)?

O Spit foi uma experiência pioneirano país em distribuir rins de cadávercom base na compatibilidade HLA.

“Forças contrárias esperam um vacilo”Agenor Spallini Ferraz, coordenador do Sistema Estadual de Transplantes de São Paulo, aponta

as resistências ao processo de regulamentação da captação, doação e transplante de órgãos

O objetivo da criação do Spit foi me-lhorar os resultados a médio e a lon-go prazo dos transplantes renais comrins de cadáver e não visar, a priori,justiça na alocação desses rins, comopareceu para a maioria das pessoasque nos assistiam de fora. No decorrerdo processo percebemos que com aadoção de critérios técnico-científicospara selecionar os receptores está-vamos fazendo justiça.

Com o Spit aprendemos a trabalharcom a “fila única”, em conjunto comdiferentes serviços, com um protocolomínimo comum a todos, e tambémque os nefrologistas não transplan-tadores eram capazes de indicar epreparar seus doentes para otransplante.

Como está a situação na Centralde Captação e Doação de Órgãos deSão Paulo? E no resto do país?

Podemos dizer que, passados trêsanos do início tormentoso, a situaçãoestá calma e a maioria dos parti-cipantes colabora com o sistema.Apesar disso, as forças contrárias

estão vivas,latentes, à es-pera de umvacilo pararetornarem aoque era antes.

No resto dopaís, com ex-ceção de Per-

nambuco, as novas regras nuncaforam totalmente implementadas.Recentemente, o Ministério da Saúdecomeçou uma investida séria paramudar este quadro.

Como o senhor avalia as pressõespelo fim da lista única?

Como já afirmei, as forças contrá-rias que se sentiram prejudicadas comas novas regras ou que simplesmentenão entenderam como elas funcionamna prática, estão sempre prontas parafazer refluir o rio da história. Antesdo seminário “Transplantes – açõespara incremento da captação deórgão”, realizado pelo Ministério daSaúde em agosto, foram identificadosmovimentos de transplantadores derim e de fígado que queriam influen-ciar o ministro da Saúde para mudaras regras e afrouxar os critérios.Felizmente não tiveram sucesso e o

ministro ratificou sua posição favo-rável à “lista única”.

É claro que em sistemas como o dostransplantes as políticas devem serperiodicamente revistas em funçãodos avanços dos conhecimentoscientíficos ou mesmo de acertos paracorrigir erros de rota. Isso pode e deveser feito, masusando os ca-nais oficiais queatualmente es-tão abertos.Golpes políti-cos devem serproscritos daprática diária, por serem anacrônicose superados.

Renilson Rehem de Souza,Secretário Nacional de Assistênciaà Saúde, afirmou em entrevista aoSBN Informa que o maior problemaem relação aos transplantes no Brasilé a deficiência na captação de órgãos.O senhor concorda?

Faltam doadores, mas falta tambéminfra-estrutura em vários hospitais eequipes interessadas em muitosestados, apesar das últimas medidasdo ministério, que foi fundo na criaçãoe na modificação de tabelas paracobrir praticamente todo o processode captação, transplante e seguimentotardio. Os valores atualmente pagospodem não ser muito competitivos emrelação aos preços pagos pelospacientes privados, mas são tão bonsque assustam os convênios e planosde saúde quejá deveriamestar ofere-cendo essaalternativa detratamento aosseus clientes.

Uma coisaque não estábem é o índice de aproveitamento dospotenciais doadores: aproximadamen-te 30%. Esse número pode aumentara curto prazo se melhorarmos aqualidade de atendimento ao pacienteem morte encefálica que vira doador.

Todos sabemos que aí reside umparadoxo inquietante, uma vez que asgraves deficiências estruturaispresentes no atendimento do cidadãoenquanto vivo nos pronto-socorrosdesaparecem quando ele morre e vira

doador. Isso provoca revolta nosfamiliares, nos médicos e nasenfermeiras desses estabelecimentos,que se esforçaram para salvar umavida e se frustraram. As eventuaisvidas que poderão ser salvas não esta-rão sob responsabilidade daquelesprofissionais que, na maioria das ve-

zes, nem sãomais lembradospelo sistema.

Uma das fa-lhas apontadasna lista única éa combinação

entre falta de vagas nos hospitaispúblicos e a obrigatoriedade dotransplante ser realizado onde opaciente se cadastrou. Como esseproblema pode ser contornado?

A obrigatoriedade de fazer o trans-plante no hospital da equipe que ca-dastrou o paciente não é do sistemanem da lei; era um “hábito” vigentena cidade de São Paulo que foi man-tido pelo Sistema Estadual de Trans-plante. A solução veio recentementeatravés de um mandato judicial queobrigou a Secretaria da Saúde afazer respeitar a seqüência da lista.Se o hospital de origem não tivervagas ou equipes disponíveis, oEstado deverá achar um serviço queatenda o paciente pelo SUS oucobrir as despesas em umainstituição privada. Ou seja, a leiacha que o órgão pertence aopaciente e não à equipe.

Como avaliar a qualidade dostransplantes?

Neste ano, São Paulo implantou oseguimento para todos os transplantescom órgãos de cadáver. Os primeirosresultados mostram que a sobrevidaestá um pouco menor do que empaíses do primeiro mundo. Após aimplantação do HLA, prevista para opróximo ano, vamos poder compararnossos resultados em igualdade decondições.

“Faltam doadores, mas falta tambéminfra-estrutura em vários hospitais e

faltam equipes interessadas emtransplante em muitos estados”

“A lei acha que o órgãopertence ao paciente e

não à equipe”

“Uma coisa no processoque não está bem é o

índice de aproveitamentodos potenciais doadores”

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Como o senhor avalia o ensinomédico no Brasil?

Thomas Maack – O ensinomédico brasileiro tem algumas dasmesmas contradições que o país. Éum reflexo do estágio de desenvol-vimento do Brasil.

Em algumas escolas e sob algunsaspectos, é equivalente ao que setem de melhor no mundo; em outrasescolas, e infelizmente não sãopoucas, o ensino é comparável aoque há de mais atrasado.

O maior problema, indubitavel-mente, é a proliferação desenfreadade escolas médicas de baixíssimopadrão profissional e científico.Permitiram essa proliferação umaracionalização primária e a crença– incabível, neste caso – de que omercado se encarregaria de eliminaras escolas mais incompetentes.

O governo decidiu abandonar oprocesso de somente permitir a a-bertura e funcionamento deescolas que demonstrem ummínimo de condições humanas emateriais para a formação demédicos competentes e escolheujulgar a qualidade do ensino aposteriori, usando um instrumentototalmente inadequado para essepropósito: o “Provão”, um exameindividual de competência.

“Maior problema é a proliferação de

Thomas Maack, brasileiro radicado nos Estados Unidoshá mais de 30 anos, é professor do Departamento deFisiologia da Weill Cornell Medical College, de Nova

York. Devido à experiência acumulada com a participação ativano processo de reestruturação curricular da Cornell, foi convidadoa participar como consultor na reforma empreendida pela Unicampneste ano. Nesta entrevista, Maack faz uma crítica do ensino médicono Brasil e sinaliza possíveis caminhos a serem seguidos.

Qual é, para o senhor, o modeloideal de avaliação?

Sou a favor de um exame nacionalde competência para todos osestudantes de medicina do país, poisesse exame permitiria eliminar osestudantes incompetentes daprofissão médica. O “Provão”poderia desempenhar esta função,mas obviamente não o faz. Para oestudante, o resultado do “Provão”é inconseqüente. Dessa forma, oBrasil usa um exame decompetência individual não paraavaliar a capacitação de umindivíduo para o exercício daprofissão médica, mas sim paraavaliar a posteriori se umadeterminada instituição preparaadequadamente os seus estudantespara esta prova.

Exames de competência in-dividual, mesmo quando executadoscom o propósito de averiguarcompetência individual, raramenterefletem a qualidade de ensino deuma escola. Nos Estados Unidos,por exemplo, os alunos de escolasde altíssimo padrão, como Harvard,Stanford, John Hopkins, Yale,Columbia ou Cornell, alcançam emmédia notas inferiores aos alunos demuitas escolas de padrão bem maisbaixo. A razão é simples: estudantes

de escolas que sãoreconhecidamente de pontase preparam menos para aprova porque esse exametem menos valor para a sua

carreira profissional.Mesmo adotando a lógica

kafkiana que presentemente permiteo funcionamento, por assim dizer,temporário, de escolas médicas noBrasil, é altamente duvidoso que o“Provão”, como instrumento parauma intervenção direta ou indiretado mercado, venha a eliminar asescolas médicas incompetentes nofuturo. Em primeiro lugar, eu tenhominhas dúvidas de que mesmoescolas cujos alunos sistema-ticamente tenham péssimo desem-penho no “Provão” sejam facil-mente fechadas pelo mercado oupelo governo. Mas, mesmo se essefor o caso, o sacrifício humano e asperdas de recursos materiais queessa análise a posteriori acarreta sãoastronômicas, particularmente emum país como o Brasil. Finalmente,isso levaria mais cedo ou mais tardeao abandono do sistema vigente e oretorno ao licenciamento a priori,exigindo a presença de recursoshumanos e de materiais.

Todas as escolas que estãofuncionando, sem exceção, tambémdevem ser reavaliadas a cada sete anospor um grupo de reconhecidacompetência. Não tenho ilusões deque este processo vá assegurarimediatamente a eliminação dasescolas médicas incompetentes, masseria certamente bem melhor e menosoneroso do ponto de vista humano ematerial do que o sistema atual.

Ao mesmo tempo, eu estimulariao uso do “Provão” como um examenacional de competência, no qual oindivíduo teria que obter uma notamínima para prosseguir notreinamento médico e no exercícioda profissão.

Como é feito o controle nos EUA?Nos Estados Unidos, nenhuma

faculdade de medicina podefuncionar sem ser acreditada por

um organismo que é parte daAcademia Nacional de Medicinae sem o aval governamental. Aliás,sem apoio financeiro go-vernamental é impossível manteruma faculdade de medicina. Pormeio do apoio financeiro ogoverno também exerce diversoscontroles sociais, inclusive cláu-sulas contra discriminação porsexo, raça, país de origem ereligião, entre outros, incentivos àaceitação de estudantes deminorias raciais (principalmentenegros e latinos), obrigações denão contaminar o meio ambiente,licenciamento para uso desubstâncias radioativas, segurançacontra incêndio, etc. As escolasmédicas são acreditadas por nomáximo sete anos, ao fim dosquais devem ser reacreditadas. Oprocesso de acreditação não ésimplesmente para averiguar aexistência de condições mínimas.É uma revisão e crítica geral detodos os aspectos de ensinodaquela faculdade. Portanto,mesmo faculdades de pontaencaram o processo extremamentea sério e se preparam até um anoantes da visita da equipe deacreditação.

Avaliação externa e auto-avaliação são complementares ouexcludentes?

A avaliação externa é ab-solutamente necessária. Sem ela nãohá incentivo para a auto-avaliação.No entanto, em geral a auto-avaliação detecta problemasfundamentais que seriam difíceis deserem percebidos pela avaliaçãoexterna e, ainda mais importante,permite medidas corretivas maisrapidamente que a avaliaçãoexterna.

Qual é o currículo ideal para aformação de bons médicos?

A dificuldade de definir o queensinar é um problema universale não só do ensino médico noBrasil. Em diversas palestras quefiz, no Brasil e nos EstadosUnidos, sempre ressaltei que emmatéria do que ensinar emmedicina eu só tenho duas certezas– ou quase certezas. A primeira éque os fatos que nós ensinamoshoje ao estudante de medicina não

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“O Brasil usa um exame de competênciaindividual não para avaliar a capacitação deum indivíduo para o exercício da profissão

médica, mas sim para avaliar a posteriori seuma determinada instituição prepara

adequadamente os seus estudantes paraesta prova”

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ão desenfreada de escolas médicas”são os fatos que ele utilizará nofuturo como médico. Um colegacirurgião, especialista em uro-logia, me confessava outro dia quenenhuma cirurgia que ele faz hojelhe foi ensinada na residênciacirúrgica feita dez anos atrás.Cursos de atualização não cor-rigem esse problema, porque osavanços são tão rápidos que omédico simplesmente perde anoção de onde e de como aprender.E isso me leva à minha segundacerteza. Devemos ensinar oestudante de medicina a auto-aprender por toda a sua vida e aobter novas informações de formarápida e eficiente. Qualquer queseja o método utilizado, umcurrículo médico que não écentrado nessas duas premissasestá fadado a formar um médicoque se desatualizará rapidamente.

Por isso, reformas curriculares

que proponham nada mais do queum rearranjo da grade horária, oumesmo que permitam somente umaintegração melhor entre asdisciplinas, estão fadadas a nãocorrigir os problemas principais docurrículo clássico.

Como então deve ser feita umareforma curricular?

Existem diversas maneiras dealcançar os objetivos de umareforma curricular efetiva. Edu-cadores médicos divergem tre-mendamente sobre qual seria amelhor. Todavia, todos concordamque a premissa fundamental dareforma é abrir espaços de tempolivre para o auto-aprendizado. Naminha experiência, essa é a maiorresistência no Brasil a umareforma curricular efetiva doensino médico. Os argumentos quetenho ouvido variam desde o

temor de que o estudante utilizariao tempo livre para jogar futebol oufazer qualquer outra coisa menosestudar até o temor de docentesperderem salário se não cum-prirem um número requerido dehoras formais de aula.

A minha resposta ao primeirotemor é simplesmente fazercobrança semanal através de testes,argüições, etc. Quanto ao problemada possível perda salarial, pode-seargumentar que, em um currículonovo, mesmo sem muitas aulasformais os docentes tem que estar àdisposição como consultores,tutores ou mentores por um tempoequivalente ao que hoje usam paradar aulas.

Se me perguntassem qual ocurrículo que considero melhor, eudiria que isso depende dosobjetivos de cada escola e daqualidade de seu corpo docente ou

discente. Se o objetivo é formarclínicos gerais para uma de-terminada região do país e se oscorpos docente e discente são derazoável qualidade eu reco-mendaria um currículo baseado na“aprendizagem baseada emproblemas” (PBL) durante o cursobásico e intenso treinamentoclínico no hospital de ensino, noconsultório e no centro de saúdecomunitário, durante os anosclínicos. Se os objetivos tambémincorporam a formação de es-pecialistas de ponta e líderes damedicina, então a situação é maiscomplexa. Nesse caso, a minhapreferência durante o curso básicoseria por um modelo híbridomultidisciplinar com integraçãohorizontal de disciplinas básicas evertical entre disciplinas básicas eclínicas, no qual a PBL seja feitaconjuntamente com atividades

clássicas como aulas e laboratórios.

Como as escolas brasileiras rea-gem às mudanças no ensino queacontecem no mundo?

As mudanças que acontecem noexterior geralmente só chegam aoBrasil muitos anos depois. Porexemplo, algumas das melhoresescolas médicas do país resistemtremendamente a uma reforma realdo ensino. A conseqüência óbvia éque o país tende a sempre estar umpasso atrás. A conseqüência maissutil é que quando a pressão pormudança é tal que não pode ser maisignorada, a tendência é sim-plesmente copiar o que tem no ex-terior sem considerar a realidadeprópria do local em que a reformavai ser implantada.

Qual é a importância do hospitaluniversitário para a formação dobom médico?

Uma faculdade de medicina semum hospital de ensino não é umaescola de medicina. Não deveria serpermitido a criação e o funcio-namento de nenhuma escola médicasem um hospital de ensino. NosEstados Unidos, muitos dos hos-pitais de ensino não pertencem àuniversidade, mas o acordo entre aescola médica (ou a universidade)e o hospital no que se refere aoensino é absolutamente estrito edefinido em contrato. Por exemplo,todos os médicos que internam noNew York Presbyterian (hospital deNova York) têm que ser docentes ouda Cornell ou da Columbia e têmobrigação de ensinar estudantes demedicina e residentes. Eu aindaacho que o ideal seria que o hospitalde ensino pertencesse à uni-versidade, mas muitas vezes issonão é factível.

E quanto à residência médica?Nos Estados Unidos, a residência

médica não é orientada ou dirigidadiretamente por escolas médicas,mas sim pelos hospitais de ensino.Acho que esse não é um bommodelo para o Brasil, porque sãopouquíssimos os hospitais não-universitários com recursos própriospara organizar sua residência.Todavia, hospitais não-univer-sitários de alta qualidade como oEinstein, o Sírio-libanês ou a

Beneficência Portuguesa em SãoPaulo, para citar exemplos queconheço, poderiam perfeitamenteparticipar ou mesmo ter o seupróprio programa de residência,desde que os critérios de licen-ciamento para tanto sejam rigorosose os hospitais sejam reavaliados acada sete anos, como as escolas.

O ensino médico muitas vezes éacusado de ter, ao longo do tempo,deixado de lado a formação hu-manística do aluno, o que teriacomprometido a relação médico-paciente. Como o senhor avalia estasituação?

Eu sou pragmático a esserespeito. Humanismo em escolasmédicas se aprende por modelos,não por cursos. É o exemplo deatividade profissional deprofessores e mentores que dá otom humanista a uma escolamédica. Obviamente, aspectostécnicos da relação médico-paciente devem ser uma parteintegral do ensino. Também achoque o estudante deve obrigatoria-mente ser exposto a todas ascamadas da sociedade em que vaiatuar como profissional durante oseu treinamento, para adquirir oconhecimento da cultura e doshábitos dos seres humanos quecompõem essa sociedade. Isso deveser feito não somente no contextodo hospital, mas sim nas própriascomunidades.

Qual é a relação entre a qualidadedo ensino médico e a situação dasaúde de um país?

Não tenho estatísticas em mãos ouconhecimento suficiente pararesponder objetivamente estapergunta. O senso comum diria quequanto melhor os médicos e,portanto, o ensino médico, melhora situação da saúde do país.Aparentemente, a relação não é tãosimples. Por exemplo, acredito queos Estados Unidos têm o melhorensino médico e os médicos maisbem treinados do mundo. Todavia,estão longe – bem longe – de ser opaís cujo povo desfruta de melhorsaúde. Sem um programa nacionalde assistência médica adequada euniversal, o melhor ensino médicodo mundo não vai prover a melhorsaúde da população.

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“Reformas curriculares queproponham nada mais do que um

rearranjo da grade horária, oumesmo que permitam somenteuma integração melhor entre asdisciplinas, estão fadadas a nãocorrigir os problemas principais

do currículo clássico”

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Os alunos que ingressarem naFaculdade de CiênciasMédicas (FCM) da Uni-

camp em 2001 estrearão o novocurrículo do curso, baseado emmódulos de conhecimento. Sigis-fredo Luís Brenelli, coordenador deensino de graduação da FCM, co-menta nesta entrevista o processo dereformulação do ensino médico naUnicamp e no resto do país.

Em qual contexto se insere o novocurrículo da Unicamp?

Sigisfredo Brenelli – Os EstadosUnidos têm mudado os curricula desuas escola médicas, pois não conse-guem mais manter seus profissio-nais atualizados após dez anos daformatura. Isso num país onde o mé-dico é re-creditado periodicamente,de maneira séria e competente. Oque dizer da nossa realidade, na qualrenovamos até nossa carteira de mo-torista porém nosso CRM é “eter-no”? São tempos de aprender a a-prender, pois os conceitos modifi-cam-se rapidamente, e isso só serápossível com uma formação dife-renciada dos nossos alunos.

Quais são as principais deficiên-cias da formação atual do médico?

O país criou, de forma democrática,um sistema justo de serviço médico,que é o SUS; nossos alunos saempouco adaptados a ele. Também opensamento científico, base de toda aboa prática médica, é bastantedeficiente em nossas escolas. Aindanão incorporamos a medicina baseadaem evidências, nosso modelo éhospitalocêntrico quando a novaordem é a exploração dos diferentescenários da atuação médica para oensino; a especialização é precoce, arelação humana é desvalorizada e ocompromisso com o paciente e seusfamiliares ainda está longe de ser umaprática constante.

Acredito que o desafio imposto àsuniversidades pela pós-modernida-de é a formação global e humanís-tica de seus profissionais. Retornaraos princípios da universalidade dosconhecimentos, respeitando a espe-cificidade, talvez seja o grande de-safio impostos à nossa geração decientistas e professores.

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Unicamp implanta novo currículomédico em 2001Como a Unicamp pretende se

adaptar a esses novos tempos?Buscamos a construção de um no-

vo currículo viável dentro da nossacultura institucional e respeitador dasnossas tradições. Com uma cons-trução coletiva, escutando a maiorparte de nosso corpo docente e donosso alunado, procuramos, dentrodas várias tendências e possibilidades,uma metodologia capaz de continuarformando o profissional que atuará nopróximo século.

A longo prazo, a escola médica de-verá estar formando um profissionalque possa interferir na promoção dasaúde e ajudar assim a criar umasociedade mais justa e igualitária.

Como foi o processo de constru-ção deste novo currículo?

Para o embasamento teórico utiliza-mos a assessoria de vários especialis-tas em ensino, pessoas que tivessemexperiência em transformações cur-riculares. Uma dessas colaborações,pela sua vivência em uma das melho-res escolas médicas do mundo, que éa Cornwell University, foi a de Tho-mas Maack. No início do processo,quando realizamos um seminário pa-ra definir os princípios que norteariama nossa transformação, Maack foi degrande valia. Suas orientações, bemcomo de outros profissionais, forammuito importantes para nossa mudan-ça educacional, que entrará em vigorem 2001.

Qual será o sistema de avaliaçãodos alunos nesse novo modelo?

Pensamos na avaliação como par-te importante, desde que formativa.Ainda não temos fórmulas prontas,pois nosso pensamento avaliativo éextremamente contaminado pelasidéias de poder e punição que a de-terminam. Acredito que mudar a tra-dição avaliativa também é mais umurgente e necessário papel, não sódas nossas escolas, mas também pa-ra as sociedades de especialidade,para os ministérios públicos, etc.

As mudanças atingem os hospitaisuniversitários e os programas deresidência médica?

A transformação do ensino médi-co deve abranger todos os setores

da saúde. Nesse sentido, são neces-sários os postos de saúde, os hospi-tais secundários e os hospitais uni-versitários. Todo o sistema deveráser bom para a formação do bommédico. Ampliam-se os cenários daformação profissional, porém o pre-ceito fundamental da boa qualidadedos serviços para a boa formaçãocontinua o mesmo.

Toda essa mudança necessita deuma rápida estruturação da resi-

dência médica. Nada será efetivo secontinuarmos com um sistema deespecialização mal avaliado e poucosupervisionado. Além disso, seabrimos escolas médicas sem cri-térios bem definidos, sem estudo desua real necessidade, a maioria semrecursos mínimos para um bomfuncionamento, perpetuamos o erroabrindo e credenciado residênciasmédicas sem qualquer projeto pe-dagógico definido.

Residentes lutampela valorização

Campanha foi elaborada durante o 24o Congresso Nacionalde Médicos Residentes, que aconteceu de 8 a 11 de junho

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As escolas médicas não estão sozinhas na busca por uma melhorformação dos futuros responsáveis pela saúde do Brasil. A AssociaçãoNacional dos Médicos Residentes (ANMR) lançou em julho desteano a campanha “Residência médica: sem ela a saúde não funciona”,com o objetivo de revalorizar a residência. Segundo Roberto Ter-ranova, presidente da ANRM, a campanha foi motivada pela falta dereajuste das bolsas e pelo desrespeito com relação à legislação. “Ofato principal é que a qualidade da residência médica vem diminuindohá dez anos”, diz ele.

Os principais problemas apontados pelos residentes são a carga horáriacumprida (muito acima do determinado pela lei), os plantões de 48 horas,o valor reduzido das bolsas e o fato de a maioria dos hospitais não darmoradia, alimentação e supervisão. Outra falha apontada é a concentraçãodos programas de residência na região Sudeste. Segundo Terranova, aformação do médico acontece nas regiões Sul e Sudeste e depois ele éenviado compulsoriamente para o interior do país. A ANRM defendeque seja desenvolvida uma estrutura que possibilite a formação local.

Além da campanha, outras ações estão sendo planejadas. A ANRMpretende utilizar panfletos, cartazes e outdoors para levar a discussãopara a sociedade. Outro projeto é a reedição do guia de residênciamédica, com informações sobre a legislação e as especialidades. Aprimeira edição foi lançada este ano, pelo ex-presidente da ANRM,Luís Magno, que, segundo Terranova, viajou o Brasil todo paraconhecer a realidade das universidades e hospitais do país.

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Pesquisa propõe ações paraincentivar procura da nefrologia

Com o objetivo de identificaras causas da baixa procurada residência na área de

nefrologia nos últimos anos, aSociedade Brasileira de Nefrologia(SBN), em parceria com a Fundaçãodo Desenvolvimento Administra-tivo (Fundap), realizou umapesquisa com sextanistas de todo opaís. Foram coletados dadosreferentes a diversos temas: dadospessoais do aluno, o aluno e a escolamédica, o aluno e a residênciamédica, o aluno e a nefrologia e oaluno e o mercado de trabalho. “Paraque pudéssemos alcançar nossosobjetivos, era necessário detectar asaspirações e as necessidades queconduzem à escolha de uma espe-cialização na residência médica”,afirma Sílvia Sampaio, socióloga ecoordenadora do Programa deBolsas de Residência Médica doGoverno do Estado de São Paulo,que dirigiu a equipe do estudo.

O questionário utilizado pelapesquisa, composto por questõesabertas, deveria ser aplicado em10% (690 alunos) dos formandosem medicina do país. A amostra foisorteada de forma aleatória de modoque todas as escolas tivessem umdeterminado número de médicossorteados, que variou em função daparticipação de cada região do paíspara o total de médicos formados.

Os questionários foram enviadospela SBN para seus representantesem cada uma das escolas. “Naverdade, o tempo dado para opreenchimento dos questionários foimuito curto. Foram distribuídos nodia 10 de agosto e deveriam serpreenchidos até o dia 25, em funçãodo compromisso de apresentarmosos resultados durante o XXCongresso Brasileiro de Nefrologia,que aconteceu de 24 a 27 desetembro. Por isso, o relatóriopreliminar apresentado no eventocontabilizou um total de 336questionários respondidos, o quesignifica 48,7% do total. Poste-riormente recebemos mais 37questionários, que estão sendoacrescentados ao estudo. Acreditoque até o final do ano estaremos como novo relatório pronto”, diz Sílvia.

ResultadosO relatório preliminar da pesquisa

mostrou que, entre os médicosentrevistados, 23% já haviamescolhido a sua especialidade aoingressar no curso médico. Desses,65% mantiveram a escolha naresidência. A maioria (47%) optoupelas áreas básicas. As espe-cialidades clínicas foram a opção de18% dos entrevistados para aespecialização. A nefrologia foi asegunda especialidade mais pro-curada, perdendo apenas para acardiologia.

Com relação ao mercado detrabalho médico, 38% considera oprofissional de formação geral comomais adequado e 26% acha ocontrário (que o profissionalsuperespecializado é maisadequado). Para 13%, ambos osperfis são adequados, sendo que omédico de formação geral seriaindicado para o interior dos Estadose o superespecializado para ascapitais.

No campo da opção profissional,24% dos alunos pensaram em sernefrologistas; desses, 52% optarampelas áreas básicas na residência e22% foram para as especialidadesclínicas. Apenas 10% dos quepensaram em ser nefrologistas emalgum momento do curso aindamantém a escolha.

A opinião de 74% da amostra éde que a nefrologia é umaespecialidade em expansão; 48%acha que o mercado de trabalho éamplo, mas 46% não sabe o porquê.Dos 32% que acharam que omercado é restrito, 44% alega queisso acontece em função do trabalhodepender de equipamentos e degrandes centros urbanos.

Baseadas nesses re-sultados, algumas con-clusões puderam seralcançadas. Como es-tratégia para incentivar aprocura pela residênciaem nefrologia, açõesforam definidas: atuarmais precocemente naescola médica; es-pecificar para o aluno aabrangência do mercado

de trabalho (possibilidade de atuarno interior dos Estados e emclínica médica e nefrologia);trabalhar com os que optam pelaescolha clínica; destacar que a

Regiões do país*CO NE N SE S

No de médicos formados em 1996 3% 17% 5% 58% 17%No de escolas médicas em 1996 5% 16% 5% 54% 20%Questionários respondidos(% em relação aos enviados) 50 39,3 36,1 48,4 63,4

*CO – Centro-oeste; NE – Nordeste; N – Norte; SE – Sudeste; S – Sul.

Universo da pesquisa

RESULTADOS

nefrologia está bem colocada entreas especialidades clínicas; e,finalmente, dissociar a imagem donefrologista dos centros de diálisenas capitais.

Dos entrevistados:

47% optou pelas áreas básicas na residência18% pelas especialidades clínicas

38% considera o profissional de formação geralcomo mais adequado para o mercado de trabalho26% acha que o profissional superespecializadoé mais adequado13% acha que ambos os perfis são adequados

24% dos alunos pensaram em ser nefrologistasem algum momento do cursoDesses, 52% optaram pelas áreas básicas22% foram para as especialidades clínicas10% ainda mantém a escolha

74% acha que a nefrologia é uma especialidadeem expansão

48% acha que o mercado de trabalho é amplo32% que acharam que o mercado é restritoDesses, 44% alega que isso acontece em funçãodo trabalho depender de equipamentos e degrandes centros urbanos

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A oitava edição do Encontro Pau-lista de Nefrologia, que acontece de9 a 12 de maio, em Águas de Lin-dóia, SP, traz, além de temas rele-vantes para o nefrologista, uma novamodalidade de atividade que buscaabordar temas importantes paravárias especialidades médicas. Sãoas “Refresher Meetings”, queoferecerão ao profissional médico ede enfermagem uma revisão do queé importante, do que mudou e dequais são as tendências atuais naespecialidade.

Paralelamente, acontece o Encon-tro Paulista de Enfermagem emNefrologia. A organização de ambosos eventos está a cargo da Sociedadede Nefrologia do Estado de SãoPaulo e conta com o apoio da Socie-dade Brasileira de Nefrologia e daSociedade Brasileira de Enfermagemem Nefrologia.

Maiores informações podem serobtidas na Internet, no endereçowww.nefro2001.com.br. O telefoneda secretaria do congresso é (0xx11)7292-2281.

De 13 a 16 de junho, a NationalKidney Foundation Singapore e aAmerican Society of Nephrologypromovem em Cingapura o eventoNephroAsia 2001. O tema destaedição do evento é “ConqueringCurrent Challenges in Nephrology”.

O endereço do evento na Interneté www.nephroasia.com. Informa-ções podem ser obtidas pelo [email protected].

NephroAsia2001

8o EncontroPaulista

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AAssociação dos RenaisCrônicos de Piracicaba eRegião encaminhou à SBN

em novembro uma carta listando osobstáculos no atendimento en-contrados pelos pacientes da região.Alguns pontos abordados são ocontrole das unidades de diálise poralguns grupos e a dificuldade deencaminhamento de pacientes paratransplante.

TransplantesCom relação aos transplantes, a

Associação, de acordo com FabianoAugusto Amorim, tesoureiro, con-sidera que o processo de creden-ciamento para transplante do Hospi-tal dos Fornecedores de Cana dePiracicaba não foi conduzido daforma ideal pela DIR XV Piracicaba(Direção Regional da Saúde).

“A conseqüência da demora nocredenciamento foi que o hospitaldeixou de fazer nesse período(desde fevereiro de 1999, momentodo protocolo inicial do processo)pelo menos 20 transplantes. Todaessa demora nos causou e ainda está

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Associação de pacientes apontaobstáculos no atendimento

A Associação MédicaBrasileira (AMB) alterou astaxas para a expedição do Títulode Especialista, da 2a via doTítulo e do Certificado de Áreade Atuação. Para os sócios daAMB, a taxa para a 1a via passaa ser de 60 reais e, para a 2a, 120

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AMB reajusta taxa deexpedição

reais. Para os não-sócios, a 1a

via custa 60 reais e a 2a 360reais. As novas taxas entramem vigor a partir de 1o dejaneiro de 2001. Também apartir desta data, as trocas ousubstituições dos títulos serãoconsideradas como 2a via.

causando uma grande ansiedade eum desânimo. Por outro lado, o pro-cesso da Santa Casa de Piracicabafoi protocolado pelo menos seismeses depois e já foi aprovado”,afirma Fabiano.

DiáliseQuanto ao controle das unidades

de diálise, a carta de denúncia iden-tifica o suposto grupo controladorcomo “Grupo Barão Geraldo”.“Não conseguimos entender comoum grupo de ex-médicos residentesda Unicamp pode, em seis ou seteanos, ter sob sua responsabilidademais de seis centros de diálise,enquanto uma universidade comoa Unicamp tem uma sala comapenas nove máquinas”, questionao tesoureiro.

A principal solicitação da As-sociação, em sua carta à SBN, é quea Sociedade os oriente com relaçãoa como proceder para elaborar umretrato da situação e para tomarmedidas que facilitem e otimizemo atendimento aos pacientes renaisda região.

A sede da SBN em São Paulo está com novos telefones. Anoteos números:• (0xx11) 5579-1242• (0xx11) 5084-3047• (0xx11) 5579-7838• (0xx11) 5579-6937• (0xx11) 5573-6000 (fax)

O Departamento de Hipertensão Arterial da SBN comunicaque o Simpósio “Rim e Hipertensão”, programado para o finalde novembro, foi adiado, devendo a nova data ser comunicadaoportunamente. O Encontro “Hipertensão Arterial na ResidênciaNefrológica” também foi adiado para os dias 19, 20 e 21 dejaneiro de 2001, na cidade de Pouso Alegre (MG), devendo oscentros de residência participantes receberem correspondênciaa respeito em breve.

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Novos telefones

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Eventos de hipertensãotêm novas datas

Centro de diálise em Piracicaba: segundo Fabiano AugustoAmorim, tesoureiro da Associação de Renais Crônicos de

Piracicaba e Região, pacientes encontram dificuldades paraserem encaminhados para centros “não-Barão Geraldo”

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Como surgiu a idéia de escrevero livro?

Roberto Zatz – Este livro nasceuda necessidade de documentaradequadamente o Curso de BasesFisiológicas da Prática Médica,capítulo Nefrologia, administradoaos alunos do 2º ano da Faculdadede Medicina da Universidade de SãoPaulo desde 1993. Tanto o cursoquanto o livro têm o propósitoexplícito de ocupar o vácuoexistente entre o estudo da fisiologia(mecânica do funcionamento deórgãos e sistemas) e o da clínica(propedêutica clínico-laboratorial epatologia clínica).

Os estudantes e os próprios cursosmédicos têm uma certa tendência atratar esses dois conjuntos comouniversos estanques. No livro e nocurso procuramos mostrar que elessão muito mais estreitamenterelacionados do que comumente seimagina.

Quais são os temas que baseiamo livro?

O livro aborda os mecanismosbásicos de funcionamento dos rinsenquanto responsáveis pela ma-nutenção da homeostase do meiointerno e as razões por que essesmecanismos podem deixar de fun-cionar corretamente em condiçõespatológicas.

Qual é o público alvo?De início, o texto destinava-se aos

alunos do segundo ano do cursomédico, tendo inclusive nascido soba forma de apostilas. Durante aelaboração do livro, no entanto,percebemos que o vazio entre fisio-logia e clínica era também sentido pe-los alunos dos outros anos do cursomédico, além de residentes e atémesmo de pós-graduandos e médicosprofissionais. Acreditamos, portanto,que o público alvo seja bem mais am-plo do que o imaginado inicialmente.

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Livro busca aproximar estudo dafisiologia e da clínica

S istema Renal, livro do nefrologista Roberto Zatz, lançado oficialmente durante o XX CongressoBrasileiro de Nefrologia (realizado em Natal, RN, de 24 a 27 de setembro), aborda os mecanismosbásicos de funcionamento dos rins e as razões por que eles deixam de funcionar corretamente em

condições patológicas. A publicação, que é parte da Série Fisiopatologia Clínica, da Editora Atheneu,vem acompanhada de um CD-Rom que adiciona aos conceitos discutidos no livro simulações e exercíciosbaseados em recursos visuais. Nesta entrevista ao SBN Informa o autor comenta os objetivos da suaobra e discute a situação da pesquisa médica no Brasil.

Quais são os benefícios do livrovir junto com um CD-Rom?

O CD-Rom não contém umasimples reprodução das informaçõescontidas no texto do livro. Trata-sede simulações e exercícios for-temente baseados em recursosvisuais, tais como gráficos, figurase esquemas didáticos, muitos delesanimados. Algumas publicaçõesrecentes têm também utilizado essetipo de recurso. No entanto, nossoCD-Rom inova nesse campo devidoao seu caráter interativo: o usuáriopode fazer variar uma série deparâmetros (por exemplo, a taxa deingestão de água) e verificar,instantaneamente e de formagráfica, o efeito dessa variaçãosobre outros parâmetros (porexemplo, volume e osmolaridadeurinários, concentração plasmáticade hormônio antidiurético eaparecimento de sede). Desse modo,o usuário é forçado a rever osconhecimentos contidos no texto,que podem então ser melhorcompreendidos e assimilados.

Como o senhor avalia a pesquisamédica no Brasil? Quais seriam aslimitações e a importância dela parao país?

Esta questão requer muito mais doque o espaço aqui disponível para seradequadamente respondida. Re-sumidamente, eu diria que a pesquisamédica é importante para qualquerpaís. Uma óbvia utilidade dapesquisa médica é o fato de que elapermite a busca de soluções paraproblemas específicos de cada nação(estudos de epidemiologia clínica,busca de tratamentos para endemias,etc.). No entanto, é equivocadoconsiderar que a importância dainvestigação médica se esgota aí. Senão tivermos pesquisadores capazesde desenvolver projetos de caráteruniversal (câncer, doenças cardio-vasculares, doenças renais, etc.),

tampouco seremos capazes deconduzir pesquisas relevantes deinteresse local.

Um exemplo claro dessa inter-dependência é a recente elucidaçãodo genoma da Xylela fastidiosa.Realizada por pesquisadores bra-sileiros, essa pesquisa, de evidenteutilidade para a nação, teria sidoimpossível se seus executores,formados no exterior, não tivessemdesenvolvido anteriormente outraspesquisas de caráter universal,posteriormente publicadas emperiódicos internacionais.

A pesquisa médica brasileira temevidentemente progredido nosúltimos tempos, mas ainda estáaquém do seu verdadeiro potencial.

Quais são as razões desta situação?Como melhorá-la?

As razões para isso sãomúltiplas. Em primeiro lugar,o número de centros depesquisa médica e biomédicaé ainda muito pequeno econcentrado na região Su-deste, especialmente no Esta-do de São Paulo. Apenas asuniversidades públicas de-senvolvem trabalho de pes-quisa de modo significativo,o que torna a investigaçãomédica refém de fatores taiscomo o corporativismo e adisponibilidade de verbaspúblicas. Como se não bas-tasse, o bom andamento dosprojetos de pesquisa esbarraem um emaranhado de obs-táculos burocráticos, dentro

das próprias universidades(departamentos de comprasemperrados, processos de compraque se perdem, etc.) e junto aórgãos públicos (retenção alfande-gária de material importado,exigência de papelada inexistenteem outros países, etc.).

Para aprimorar o nível da pesquisamédica brasileira, julgo seremnecessários: maior apoio financeiroaos centros de excelência existentes;multiplicação dos núcleos deexcelência, principalmente com oapoio aos centros existentes fora daregião Sudeste e o estímulo aosurgimento de novos centros. Issoinclui não só apoio financeiro comotambém formação de pessoal (pós-doutorado no país e no exterior,etc.); participação das universidadesprivadas no esforço de pesquisa,como ocorre em países desenvolvi-dos; apoio às entidades de fomento,como o CNPq, a Finep e as FAPestaduais (Fapesp, Faperj, Faperg,etc.); e desburocratização dosprocedimentos ligados à pesquisa (éclaro que o ideal seria que todo opaís fosse desburocratizado).

Zatz: “O usuário pode fazer variar uma série deparâmetros, como, por exemplo, a taxa deingestão de água, e verificar o efeito dessavariação sobre o volume e a osmolaridade

urinários, entre outros”

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ção

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