11
Revista Portuguesa de Nefrologia e Hipertensão 143 Rev Port Nefrol Hipert 2004; 18 (3): 143-153 RESUMO A litíase urinária é conhecida pelo Homem desde a Antiguidade, datando os primeiros cálculos identificados em múmias egípcias de cerca de 8000 AC. As primeiras referências escritas sobre a litíase urinária e as suas formas de tratamento situam-se entre 3200 e 1200 AC, tendo a litotomia sido descrita pela primeira vez entre 600 AC e 600 DC. O tratamento cirúrgico da litíase urinária limitava-se, habitualmente, aos cálculos vesicais de grandes dimensões, estava associado a elevada mortalidade e morbilidade e a sua prática não era bem vista na maioria das civilizações. É na Época Hipo- crática (Antiguidade grega) que são descritos pela primeira vez os sinais e sintomas da litíase vesical e da cólica renal, é feita a distinção en- tre os diferentes locais de formação dos cálculos e surge pela primeira vez o conceito de Nefrolitíase. Durante o período do Império Romano, é reconhecida a necessidade do tratamento médico adequado da nefrolitíase e surgem algumas publicações com descrições de várias plantas utilizadas com este fim. Na Idade Medieval assiste-se à consolidação da ideia de que a nefrolitíase deve ter um trata- mento essencialmente médico, sendo a lito- tomia praticada apenas nas classes sociais mais desfavorecidas e os litotomistas penali- zados pela sua prática. No período renascentista História da litíase urinária – os primórdios da nefrologia Fernando Domingos * , Adelaide Serra ** * Assistente Hospitalar de Nefrologia. ** Assistente Hospitalar de Nefrologia. Assistente Convidado da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa. Recebido em: 03/09/2003 Aceite em: 22/03/2004 Artigo de Revisão

História da litíase urinária – os primórdios da nefrologia · Revista Portuguesa de Nefrologia e Hipertensão 145 HISTÓRIA DA LITÍASE URINÁRIA – OS PRIMÓRDIOS DA NEFROLOGIA

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: História da litíase urinária – os primórdios da nefrologia · Revista Portuguesa de Nefrologia e Hipertensão 145 HISTÓRIA DA LITÍASE URINÁRIA – OS PRIMÓRDIOS DA NEFROLOGIA

Revista Portuguesa de Nefrologia e Hipertensão 143

HISTÓRIA DA LITÍASE URINÁRIA – OS PRIMÓRDIOS DA NEFROLOGIA

Rev Port Nefrol Hipert 2004; 18 (3): 143-153

RESUMO

A litíase urinária é conhecida pelo Homemdesde a Antiguidade, datando os primeiroscálculos identificados em múmias egípcias decerca de 8000 AC. As primeiras referênciasescritas sobre a litíase urinária e as suas formasde tratamento situam-se entre 3200 e 1200 AC,tendo a litotomia sido descrita pela primeira vezentre 600 AC e 600 DC. O tratamento cirúrgicoda litíase urinária limitava-se, habitualmente,aos cálculos vesicais de grandes dimensões,estava associado a elevada mortalidade e

morbilidade e a sua prática não era bem vistana maioria das civilizações. É na Época Hipo-crática (Antiguidade grega) que são descritospela primeira vez os sinais e sintomas da litíasevesical e da cólica renal, é feita a distinção en-tre os diferentes locais de formação doscálculos e surge pela primeira vez o conceitode Nefrolitíase. Durante o período do ImpérioRomano, é reconhecida a necessidade dotratamento médico adequado da nefrolitíase esurgem algumas publicações com descriçõesde várias plantas utilizadas com este fim. NaIdade Medieval assiste-se à consolidação daideia de que a nefrolitíase deve ter um trata-mento essencialmente médico, sendo a lito-tomia praticada apenas nas classes sociaismais desfavorecidas e os litotomistas penali-zados pela sua prática. No período renascentista

História da litíase urinária – os primórdios danefrologia

Fernando Domingos*, Adelaide Serra**

* Assistente Hospitalar de Nefrologia.* * Assistente Hospitalar de Nefrologia. Assistente Convidado da Faculdade de Ciências

Médicas da Universidade Nova de Lisboa.

Recebido em: 03/09/2003Aceite em: 22/03/2004

Artigo de Revisão

Page 2: História da litíase urinária – os primórdios da nefrologia · Revista Portuguesa de Nefrologia e Hipertensão 145 HISTÓRIA DA LITÍASE URINÁRIA – OS PRIMÓRDIOS DA NEFROLOGIA

Revista Portuguesa de Nefrologia e Hipertensão144

Fernando Domingos, Adelaide Serra

inicia-se a litotomia por via suprapúbica e sãoremovidos pela primeira vez cálculos locali-zados no rim. Nos séculos XVIII e XIX, com odesenvolvimento da bioquímica, começam a seridentificados os componentes químicos doscálculos, e vários médicos tentam estabelecerrelação entre a composição química da urina ea formação de cálculos urinários, sendo destaaltura a primeira relação cientificamentedocumentada entre os hábitos dietéticos e aprobabilidade de formação de cálculos. No finaldo século XIX e início do século XX verifica-senovo avanço no estudo da nefrolitíase, com adescoberta dos métodos de imagem (RX,urografia de eliminação, ecografia); nos anos80, o desenvolvimento da litotrícia extracorporalpor ondas de choque vem reforçar a abordagemradicalmente diferente da nefrolitíase que sepratica a partir do século XX.

Palavras-chave: História; litíase renal; litíaseurinária; nefrolitíase.

SUMMARY

The history of urinary lithiasis – nephrolo-gy’s early beginnings

Man has been aware of urinary lithiasis sincethe ancient times, with the first stones identifiedin Egyptian mummies of about 8000 BC. Thefirst written references on urinary lithiasis andits forms of treatment are placed between 3200and 1200 BC, with the lithotomy having beendescribed between 600 BC and 600 AC. Thesurgical treatment of urinary lithiasis was lim-ited to the vesical stones of great dimensions,was associated with raised mortality andmorbility and its practice was uncommon in themajority of the civilizations. It was during theHipocratic era (Greek Antiquity) that the signals

and symptoms of vesical lithiasis and of renalcolic were described for the first time, the dis-tinction was made between the different placesof formation of the stones and the concept ofNephrolithiasis appeared for the first time. Du-ring the period of the Roman Empire, the needfor an updated medical treatment of nephroli-thiasis was recognized and some publicationsappeared with descriptions of some plants usedto achieve this aim. In the Medieval Age, the ideathat nephrolithiasis must have an essentiallymedical treatment was consolidated, with thelithotomy practised only among lower socialclasses and the lithotomists penalized for itspractice. In the Renaissance period, lithotomywas first carried out by suprapubic approach andstones located in the kidney were removed forthe first time. In the XVIII and XIX centuries, withthe development of biochemistry, the identifica-tion of chemical components of the stones be-gan, and some doctors tried to establish a rela-tionship between the chemical composition ofurine and the formation of urinary stones. Thefirst registered scientific relation between thedietary habits and the probability of the forma-tion of stones was made at this period. At theend of the XIX and beginning of XX century, anew advance in the study of nephrolithiasis wasseen, with the discovery of the image methods(x rays, intravenous urography, echography); inthe 80’s, the development of the extracorporeallithotripsy with shock waves came to strengthenthe radically different approach to nephrolithiasisthat has been practised from the XX century on-ward.

Key-words: History; nephrolithiasis; renalstones, urinary lithiasis.

Page 3: História da litíase urinária – os primórdios da nefrologia · Revista Portuguesa de Nefrologia e Hipertensão 145 HISTÓRIA DA LITÍASE URINÁRIA – OS PRIMÓRDIOS DA NEFROLOGIA

Revista Portuguesa de Nefrologia e Hipertensão 145

HISTÓRIA DA LITÍASE URINÁRIA – OS PRIMÓRDIOS DA NEFROLOGIA

INTRODUÇÃO

Apesar da tendência actual da Medicina por-tuguesa, de que a litíase renal deve ser tratadapreferencialmente pela Urologia, a verdade é quedesde sempre a nefrolitíase foi estudada e tra-tada do ponto de vista médico, e a origem daprópria Nefrologia confunde-se com a históriado conhecimento da litíase.

Actualmente, a litíase renal é, em todo omundo, avaliada e tratada do ponto de vista daNefrologia e o seu estudo tem contribuído deforma importante para o conhecimento do modode funcionamento do túbulo renal, componentefundamental do nefrónio e local de transfor-mação do filtrado glomerular no seu produto fi-nal, a urina. Nas últimas décadas, o contributoda Urologia para o tratamento da nefrolitíase,com o desenvolvimento das técnicas dedestruição ou remoção dos cálculos renais, temsido extremamente importante, sendo impres-cindível o contributo das duas especialidadespara o tratamento e prevenção desta doença.

PRÉ-HISTÓRIA E ANTIGUIDADE

A litíase urinária é uma situação patológicaconhecida do Homem desde a mais remotaAntiguidade. Foram encontrados cálculosurinários na cavidade pélvica de múmiasegípcias pré-históricas datadas de cerca de8000 AC1. A análise dum cálculo urinário iden-tificado por Elliott Smith em 1901, numa múmiaegípcia datada de 4800 AC, revelou uma cons-tituição mista, com um núcleo de ácido úrico ecamadas concêntricas de oxalato de cálcio efosfato de amónio magnesiano2. Provavelmenteesta doença era bem conhecida por aquelacivilização, onde seria relativamente comum3.O maior cálculo urinário de que há registopesava mais de 1,36 Kg4.

As primeiras referências escritas sobre alitíase urinária e as formas do seu tratamentona Antiguidade podem ser encontradas nosprimeiros textos escritos pelas civilizações daAntiga Mesopotâmia, entre 3200 e 1200 AC.Também as civilizações da antiga Pérsia, Índiae China deixaram textos sobre o mesmo as-sunto, registando as formas de tratamento dadoença em cada uma destas civilizações, deacordo com os conhecimentos que tinham,misturando frequentemente tratamentos con-servadores, mais ou menos empíricos e deeficácia duvidosa, conceitos filosóficos, ideiasreligiosas, e formas de tratamento cirúrgico2.

A litotomia terá começado a ser utilizada naAntiguidade, mas deve-se a Sushruta, ummédico indiano, uma das primeiras descriçõesconhecidas desta técnica em textos médicosdatados entre os anos 600 AC e 600 da eraCristã2. A técnica terá sido trazida para a Europapor médicos gregos, ao serviço dos exércitosde Alexandre o Grande, durante as suascampanhas na Pérsia e na Índia5. O tratamentocirúrgico da litíase urinária era limitado aoscálculos de dimensões palpáveis localizados nabexiga, e estava associado a grande morbi-lidade e mortalidade, motivo porque era utilizadocomo recurso extremo.

ANTIGUIDADE GREGA

A litotomia era conhecida e praticada na Gré-cia Antiga, mas não era bem vista pela Medicinagrega, principalmente pelos médicos e filósofosda Escola Médica da ilha de Cós, fundada noSéculo V AC no apogeu do Império Helénico, eda qual Hipócrates (460-377 AC) foi sem dúvidaa maior figura (figura 1). A Medicina Hipocráticabaseava-se em princípios científicos sólidos, naobservação das causas naturais das doenças,e na adopção princípios éticos rigorosos para o

Page 4: História da litíase urinária – os primórdios da nefrologia · Revista Portuguesa de Nefrologia e Hipertensão 145 HISTÓRIA DA LITÍASE URINÁRIA – OS PRIMÓRDIOS DA NEFROLOGIA

Revista Portuguesa de Nefrologia e Hipertensão146

Fernando Domingos, Adelaide Serra

seu tratamento; qualquer forma de tratamentoque implicasse perigo para a vida humana eramal considerada, à luz dos seus princípios. Tal-vez por esse motivo a litotomia não tenha sidodescrita no Corpus Hippocraticum, o extensotratado médico que reúne a descrição dostratamentos médicos e cirúrgicos existentes naépoca de Hipócrates3.

A perspectiva da Medicina Helénica sobre otratamento cirúrgico da litíase urinária ficou bemdocumentada no próprio Juramento deHipócrates, o qual, na sua forma original, incluíaum parágrafo onde especificamente desacon-selhava aos médicos a sua utilização, deixandoesse trabalho para outros...

“…/…I will not use the Knife, not even on suffers

from stone, but will withdraw in favor of such menas are engaged in this work.

…/…”

Para não desvirtuar o seu sentido numa duplatradução, este parágrafo do Juramento de Hipó-crates é deixado em Inglês, língua para que foitraduzido do original por Ludwig Edelstein3.

No entanto, apesar de nos desaconselharuma das poucas formas de tratamento exis-tentes na época, o contributo da Medicina Helé-nica para a história da litíase urinária acabou porser muito mais importante. Até esta fase daHistória, apenas podemos falar de litíase urináriaem termos genéricos, não especificando o lo-cal de formação dos cálculos ou a sua locali-zação no aparelho urinário. Hipócrates iden-tificou e descreveu com precisão cinco sinaisda litíase vesical: 1) dor à micção; 2) passagemda urina gota-a-gota, devido a obstrução; 3) urinamanchada de sangue, por lesão da bexiga pelocálculo; 4) inflamação da bexiga; 5) emissãode areias com a urina2.

Data muito possivelmente dessa época opróprio conceito de nefrolitíase, consideradacomo entidade clínica distinta da litíase urináriabaixa, uma vez que a litíase vesical seria muitofrequente na época. Já Hipócrates tinhamencionado previamente o facto de a nefroli-tíase ter mau prognóstico quando se acompa-nhava da formação de pus no rim, mas adescrição da doença como entidade encontra-se pela primeira vez numa obra de autor desco-nhecido, denominada Acerca dos SofrimentosInternos. Nesta obra faz-se pela primeira vez adescrição clássica da cólica renal, de formaclara e precisa:

“O doente apresenta uma dor aguda, tipocólica, no flanco, a qual irradia para o abdómen,testículo homolateral e pénis; nos estádios pre-coces, queixa-se de urgência em urinar masmais tarde torna-se oligúrico e elimina areias epedras com a urina”6. Pela primeira vez, fazia-se o diagnóstico diferencial entre a litíase renale a litíase vesical, que passam a ser descritascomo doenças diferentes, com tratamentos e

Figura 1: Uma das imagens que se considera poder representarHipócrates. Estátua encontrada na ilha de Cós. Museu de Cós,Cós.

Page 5: História da litíase urinária – os primórdios da nefrologia · Revista Portuguesa de Nefrologia e Hipertensão 145 HISTÓRIA DA LITÍASE URINÁRIA – OS PRIMÓRDIOS DA NEFROLOGIA

Revista Portuguesa de Nefrologia e Hipertensão 147

HISTÓRIA DA LITÍASE URINÁRIA – OS PRIMÓRDIOS DA NEFROLOGIA

prognósticos igualmente diferentes. Eram aindadadas recomendações sobre dietas, e reco-mendado que os doentes com nefrolitíase inge-rissem alimentos e líquidos de forma a aumentaro volume de urina e restituir a composição e oequilíbrio dos líquidos do corpo7.

A autoria desta obra é discutida por váriosinvestigadores6. Para alguns, esta deveria seratribuída à Escola de Cnidos, situada muito pertoda Ilha de Cós, na península de Cnidos, numaparte da costa da Ásia Menor, que na altura doapogeu do Império Helénico estava sob domínioGrego. Esta Escola teve como principal figuraum anatomista e médico conhecido comoEuryphon de Cnidos, cuja fama deveria naépoca igualar a do próprio Hipócrates. A Escolade Cnidos foi provavelmente fundada antes daprópria Escola de Cós, tendo-se tornadoconhecida por desenvolver uma medicinabaseada numa classificação exaustiva dasdoenças então conhecidas, sistematizadas deacordo com os órgãos afectados. Essaclassificação servia de orientação para umconjunto de tratamentos, igualmente sistema-tizados de acordo com a doença. Por outro lado,em Cós praticamente não se faziam classifi-cações de doenças, optando-se por uma atitudebaseada na observação do doente como umtodo, prestando particular atenção à avaliaçãodos sintomas e sinais apresentados. Sabe-seque no auge do Império Helénico as duasEscolas terão sido contemporâneas, e queapesar da sua diferente metodologia dediagnóstico, não deveriam existir diferençasmuito significativas quanto às medidas tera-pêuticas que preconizavam. Por estes motivos,e dada proximidade geográfica das duasEscolas (figura 2), não é improvável que quandoa totalidade da obra de Hipócrates foi compiladavários séculos depois, já durante o períodobizantino, algumas das obras cuja autoria lhefoi atribuída tenham na realidade sido escritas

por outros autores gregos seus contemporâneos.Muitos deles seriam possivelmente seusdiscípulos, mas outros terão sido seguidoresda Escola de Cnidos, ou simples anónimos daépoca.

Mais tarde, Aristóteles (384 AC) voltou a referir--se à litíase vesical, formulando a hipótese doscálculos vesicais se formarem na bexigahumana a partir das substâncias previamentepresentes na urina, curiosamente referindo quenão tinha observado esse facto noutros animais2.

O contributo da Medicina Hipocrática para anefrolitíase estende-se à própria terminologiaainda hoje utilizada, a qual tem as suas raízesna terminologia utilizada no Corpus Hippocra-ticum. ‘Nephros’ era o termo utilizado para definiro principal orgão do aparelho urinário, e ‘lithos’(= pedra) era a palavra utilizada para definir apresença de cálculos8. Litíase definia a forma-ção de cálculos num órgão interno, mais con-cretamente no rim, no caso da nefrolitíase.

Figura 2: Mapa da Grécia Antiga, no auge do Império Helénico,onde se pode ver a localização das Escolas Médicas de Cós e deCnidos, esta última na costa da Ásia Menor, numa região sobdomínio Grego.Mapa desenhado por Keith Johnston, publicado em 1886 no Ginn & CompanyClassical Atlas.

Page 6: História da litíase urinária – os primórdios da nefrologia · Revista Portuguesa de Nefrologia e Hipertensão 145 HISTÓRIA DA LITÍASE URINÁRIA – OS PRIMÓRDIOS DA NEFROLOGIA

Revista Portuguesa de Nefrologia e Hipertensão148

Fernando Domingos, Adelaide Serra

IMPÉRIO ROMANO

Durante o Império Romano, a Grécia antigafoi ocupada, mas os princípios da MedicinaHipocrática foram adoptados e desenvolvidospelos médicos romanos. Neste período, foramdescritas várias plantas para o tratamento devárias doenças renais e o tratamento danefrolitíase começou a ser sistematizado. Noséculo I DC, Dioscorides (40-90 DC), físicogrego ao serviço dos exércitos de Nero comobotânico, escreveu em De Materia Medica, 12plantas utilizadas no Império Romano desti-nadas ao tratamento das doenças renais9. Outroautor, Caius Plinius Secundus (Pliny the Elder)(23-79 DC), Senador Romano, escritor e cien-tista, deixou uma extensa enciclopédiacomposta por 37 volumes, denominada Natu-ralis Historia. Nos 16 volumes desta obradedicados à botânica, podem ser encontradasreferências a 130 plantas utilizadas no ImpérioRomano no tratamento das doenças renais,muitas das quais citadas igualmente na obrade Dioscorides10. Uma reavaliação recente dasacções terapêuticas de 20 dessas plantasmedicinais, descritas nos livros XX-XXVII daNaturalis Historia, permitiu confirmar o seu in-teresse terapêutico, constituindo um marcoimportante na História da terapêutica médicanefrológica9, 11.

Galeno (131-200 DC) foi um dos grandesvultos da Escola de Cnidos, já durante o ImpérioRomano, e embora tenha sido reconheci-damente um praticante da técnica de litotomiapara o tratamento da litíase urinária, deixoudescrições clínicas sobre a associação entre anefrolitíase e a possibilidade da formaçãoabcessos renais. Deixou também referênciasà ulceração e perda de sangue na urina devidoà presença de areias ou cálculos de maioresdimensões, reconhecendo a necessidade danefrolitíase ter um tratamento médico ade-

quado2. Ao longo da sua extensa obra podemser encontradas inúmeras prescrições, a maio-ria delas baseadas na utilização de princípiosvegetais. Por esse motivo, ainda hoje o ramoda Farmácia dedicado ao estudo das acçõesterapêuticas dos produtos vegetais é conhecidopor Farmácia Galénica.

IDADE MEDIEVAL

Durante a Idade Medieval, no períodocompreendido entre 1096 e 1438, o tratamentoda nefrolitíase não conheceu avanços signifi-cativos. O tratamento médico baseava-se nautilização de substâncias naturais, conhecidase utilizadas pelas civilizações do MediterrâneoOriental, muitas das quais já referenciadas du-rante os períodos das civilizações greco-romanas; outras terão sido introduzidas duranteeste período sem qualquer base científica.

Numa revisão recente da terapêutica medi-eval da nefrolitíase, verifica-se que a maioria dassubstâncias utilizadas eram princípios vegetais.Alguns possuíam propriedades diuréticas bemdocumentadas, podendo ainda exercer efeitobenéfico na prevenção ou dissolução doscálculos urinários. Algumas das espécies utili-zadas são ainda referidas nas Farmacopeiasactuais1.

Foi igualmente documentada a utilidadeterapêutica duma substância de origem mineralmuito utilizada nessa época, a pedra Judaica,extraída de estratos geológicos do período Ju-rássico com 100 milhões de anos. Tambémconhecida por Lapis Judaicus, na denominaçãolatina, ou Hajar al-Yahudi, na denominaçãoárabe, a pedra Judaica já era conhecida naépoca de Dioscorides e Galeno, sendorecomendada como diurético e consideradaeficaz no tratamento médico da nefrolitíase1.

Em contrapartida, os tratamentos cirúrgicos

Page 7: História da litíase urinária – os primórdios da nefrologia · Revista Portuguesa de Nefrologia e Hipertensão 145 HISTÓRIA DA LITÍASE URINÁRIA – OS PRIMÓRDIOS DA NEFROLOGIA

Revista Portuguesa de Nefrologia e Hipertensão 149

HISTÓRIA DA LITÍASE URINÁRIA – OS PRIMÓRDIOS DA NEFROLOGIA

da litíase urinária e a litotomia eram, regra geral,muito mal considerados, sendo quase exclu-sivamente realizados por pessoas com poucaou nenhuma formação médica. Os textosmédicos medievais advertiam fundamen-talmente para os riscos associados à cirurgia,e a sua utilização estava praticamente limitadaàs classes sociais mais desfavorecidas. Emalguns casos, os litotomistas eram mesmopenalizados e obrigados a pagar multas àsautoridades locais para realizarem a suaactividade2.

RENASCENÇA

Durante o período renascentista, entre 1453e 1600, verificaram-se alguns aspectos interes-santes na nefrolitíase. Um deles, é a existênciade documentos que descrevem o tratamentoda doença na perspectiva do doente, muito bemdocumentado em inúmeras cartas escritas pelopintor Miguel Ângelo Buonarroti (1475-1564) paraa sua família e para alguns amigos12.

A partir de 1540, Miguel Ângelo foi afectadopor episódios recorrentes de litíase renal, tendo-lhe sido prescritas injecções e regime com águade uma fonte a 40 milhas de Roma. A compo-sição dessas injecções continua desconhecida,mas sabe-se que não bebia qualquer outraágua, e que também não utilizava qualquer outraágua na preparação de todos os alimentos.Sabe-se hoje que a água a que Miguel Ângelose referia provinha de uma fonte situada emViterbo, ainda hoje muito popular em Itália,actualmente comercializada como água min-eral recomendada para o tratamento dos cál-culos de ácido úrico (água de Fiugi).

Miguel Ângelo sofreu de litíase renal duranteo resto da sua vida, facto que ficou expresso nasua obra. São conhecidos os esboços queefectuou, e os conhecimentos profundos que

tinha da anatomia humana, mas o registo maissignificativo que deixou da sua preocupaçãocom a doença renal que afectou a sua vidaencontra-se provavelmente no tecto da CapelaSistina, na pintura da Separação da Terra e daÁgua, onde se pode ver a imagem do rim nomanto do Criador12.

No período renascentista, verificou-setambém algum avanço no tratamento cirúrgicoda litíase renal. Algumas novas técnicascirúrgicas terão sido experimentadas em conde-nados presos nas cadeias da época. Comoresultado destas experiências, verificou-se umamodificação da técnica de litotomia, que passoua ser efectuada por via suprapúbica quando atéaí apenas tinha sido descrita a sua utilizaçãopor via perineal18. Esta intervenção foi descritapor Marianus Sanctus (1490-1530), autor doLibellus aureus, que ficou conhecido por MarianoSanto de Barletta.

Em 1550 terá sido efectuada por Cardan deMilão (1501-1576) a primeira cirurgia em queforam efectivamente removidos cálculospresentes no rim, mas pensa-se que o achadodos cálculos renais terá sido acidental, nãohavendo conhecimento desta cirurgia ter voltadoa ser efectuada durante os anos seguintes2.

SÉCULOS XVII A XIX

Durante os séculos XVII e XVIII, a atitude mé-dica perante as técnicas cirúrgicas de trata-mento da litíase renal continuou a ser muitopessimista. Esse facto está bem evidente naobra de Hermann Boerhaave (1668-1738), pro-fessor de Medicina da Universidade de Leidene uma das figuras mais conceituadas daMedicina do século XVIII. Boerhaave escreveuum tratado de Medicina denominado Insti-tutiones Medicae, no qual dedicava um capítuloao tratamento da litíase urinária. As suas

Page 8: História da litíase urinária – os primórdios da nefrologia · Revista Portuguesa de Nefrologia e Hipertensão 145 HISTÓRIA DA LITÍASE URINÁRIA – OS PRIMÓRDIOS DA NEFROLOGIA

Revista Portuguesa de Nefrologia e Hipertensão150

Fernando Domingos, Adelaide Serra

recomendações incluíam a ingestão abundantede água e a emersão num banho com águaquente para dilatar os vasos, seguida de mas-sagens com óleos relaxantes; recomendavaainda a utilização de clisteres e bastante exer-cício físico para expulsar os cálculos. Quandoeste tratamento não era suficiente, recomen-dava então a introdução de óleo na cavidadevesical, e a litotrícia dos cálculos através dumasonda introduzida na bexiga. Quanto à litotomia,na opinião deste autor, era “apenas uma ques-tão de fé...”5.

Nos séculos XVIII e XIX verificaram-se mu-danças muito significativas na História danefrolitíase, nomeadamente com o advento dabioquímica. Em 1776, o químico sueco KarlWilhem Scheele (1742-1785) identificou noscálculos urinários um composto ácido até aídesconhecido, o qual possuía um elevadoconteúdo em azoto, e que quando exposto aelevadas temperaturas tinha um odor a amónia.Scheele notou que este composto cristalizavaem meio ácido ou quando era exposto a baixastemperaturas, mas que se dissolvia em meioalcalino ou a temperaturas mais elevadas; notouainda que quando era aquecido em ácido nítricoadquiria uma coloração avermelhada13. Esteácido foi considerado na altura o principal com-ponente dos cálculos urinários (lithos), motivoporque foi inicialmente denominado por Scheelecomo ácido lítico. A partir de 1798, este com-posto passou a ser conhecido como ácido úrico,a sua designação actual13,14.

A descoberta do ácido úrico foi consideradaum marco histórico, não apenas para a litíaserenal mas para o metabolismo em geral, umavez que foi o primeiro produto final do meta-bolismo proteico a ser identificado, vinte anosantes da identificação da ureia por NicolasVauquelin (1763-1829). Vauquelin estudou aurina de várias espécies animais existentes numjardim zoológico perto do seu laboratório, com

o objectivo de identificar o ácido úrico e a ureia.As suas conclusões foram extremamenteinteressantes, pois permitiram saber que oHomem é o único mamífero capaz de excretarsimultaneamente ácido úrico e ureia na urina(mais tarde veio a conhecer-se a incapacidadeque os Dálmatas partilham com o Homem demetabolizar o ácido úrico, e que em ambas asespécies podem apresentar formação decálculos urinários quando a excreção de ácidoúrico está aumentada); os restantes mamíferosapenas excretavam ureia e não excretavamácido úrico, enquanto as aves e os répteisapenas excretavam ácido úrico13.

Pouco depois, W.H. Wollaston (1766-1828)descreveu a presença de urato de sódio nostofos gotosos de doentes com gota, estabe-lecendo uma relação entre o metabolismo doácido úrico no Homem, a litíase úrica e a gota13.

Nos quarenta anos seguintes à descobertade Scheele, o interesse pelo estudo químico doscálculos urinários foi extraordinário, tendo levadoà realização de estudos multicêntricos, efec-tuados com o objectivo de identificar outroscomponentes químicos. Foram inicialmenteidentificados o fosfato de cálcio, o fosfato deamónio-magnesiano e o oxalato de cálcio. Em1810, Wollaston identificou em Londres oprimeiro cálculo de cistina, a qual se tornou noprimeiro aminoácido identificado. Marcet, poucotempo após, identificou cálculos de xantina.Paralelamente com a identificação química,foram descritos os aspectos cristalográficosdas formas cristalinas identificadas, permitindoa sua identificação numa época em que asanálises bioquímicas eram de difícil acesso erealização14.

A partir de 1815, perante as novas possi-bilidades oferecidas pela bioquímica, váriosmédicos, nomeadamente François Magendie(1783-1855), William Prout (1785-1850) e PierreRayer (1793-1867), tentaram estabelecer uma

Page 9: História da litíase urinária – os primórdios da nefrologia · Revista Portuguesa de Nefrologia e Hipertensão 145 HISTÓRIA DA LITÍASE URINÁRIA – OS PRIMÓRDIOS DA NEFROLOGIA

Revista Portuguesa de Nefrologia e Hipertensão 151

HISTÓRIA DA LITÍASE URINÁRIA – OS PRIMÓRDIOS DA NEFROLOGIA

relação entre a composição química da urina ea formação de cálculos urinários. Infelizmente,devido a alguns erros de metodologia, esteobjectivo nunca foi inteiramente conseguido. Noentanto, datam dessa época a primeira relaçãocientificamente documentada entre os hábitosdietéticos e a probabilidade de formação decálculos urinários13,14.

DO FINAL DO SÉCULO XIX ATÉÀ ACTUALIDADE

No final do século XIX e na primeira metadedo século XX assistiu-se a um novo desenvol-vimento significativo no estudo da nefrolitíase,com a descoberta dos meios de diagnóstico

por imagem. Em 1895, na Alemanha, WilhelmRöntgen (1845-1923) descreveu um novo tipode radiação, os Raios X. O seu trabalho valeu--lhe a atribuição do Prémio Nobel da Física em1901. Esta nova técnica passou a ser utilizadacom frequência desde 1896, sendo uma dassuas vantagens iniciais a visualização nãoinvasiva dos cálculos do aparelho urinário, factoque antes apenas era possível com recurso àcirurgia15.

Em 1928, também na Alemanha, MosesSwick (1900 - ?), ao experimentar um novo anti-biótico selectivo para o aparelho urinário, o Uro-Selectan, descobriu que a excreção renal desteantibiótico permitia visualizar ao Rx a totalidadedo aparelho urinário, descrevendo dessa formao primeiro contraste radiológico15, a base para

Figura 3: Evoluções significativas no estudo e tratamento da litíase urinária ao longo de várias épocas da História.

4800 aC 600 aC Séc. II dC 1453-1600 Séc. XVII-XVIII Séc. XX

800 aC 3600-1800 aC 500 aC 1096-1438 aC 1776 1895 1977

Pré-História Antiguidade Clássica IdadeMedieval Renascimento Idade Moderna Actualidade

Idade MedievalParagem do

conhecimentomédico; litotomia

mal vista

Antigo EgiptoCálculos urináriosidentificados emmúmias egípcias

MesopotâmiaPrimeiras

referênciasescritas à

Litíase Urinária

HipócratesDiagnóstico

diferencial dalitíase renal e

vesical

ScheeleIdentificação

do ácido úriconos cálculos

urinários

WilhelmRontgenInício dastécnicas

radiológicas

LitotríciaExtracorporal

por OndasChoque

Cálculo urináriomais antigo decomposiçãoconhecida

SushrutaDescrição da

técnica deLitotomia

GalenoPrescriçõesmedicinais

Litotomia por viaperineal

MarianusSanctus

Litotomia porvia supra-

púbica

Vauquelin,Wollaston, Marcet,Magendie, Prout,...Composição química

dos cálculos e dasalterações urinárias

Desenvolvimentodas técnicas de

imagem; Métodoscirúrgicos; Estudo

metabólico etratamento

médico

Page 10: História da litíase urinária – os primórdios da nefrologia · Revista Portuguesa de Nefrologia e Hipertensão 145 HISTÓRIA DA LITÍASE URINÁRIA – OS PRIMÓRDIOS DA NEFROLOGIA

Revista Portuguesa de Nefrologia e Hipertensão152

Fernando Domingos, Adelaide Serra

as novas técnicas de diagnóstico radiológico.Em 1951 apareceu um novo exame de ima-

gem não invasivo, a ecografia. Existe algumadisputa sobre quem terá sido o primeiro utilizadordesta técnica16, 17, mas não existem dúvidas deque a ecografia surgiu da tecnologia do sonar,desenvolvida para fins militares na SegundaGrande Guerra.

Com o desenvolvimento das técnicas deimagem não invasivas, o conhecimento dasalterações bioquímicas da urina responsáveispela litogénese, o aparecimento de terapêuticamédica eficaz para a prevenção da doença, e odesenvolvimento de técnicas urológicas menosinvasivas, nomeadamente da litotrícia extracor-poral por ondas de choque a partir dos anos80, a abordagem da litíase renal modificou-seradicalmente durante século XX (figura 3).

Correspondência:Dr. Fernando DomingosAv. Conselheiro Barjona de Freitas, nº 22-1º Dto1500-204 LisboaE-mail: [email protected]

Referências

1. LEV E, DOLEV E. Use of natural substances in the treatmentof renal stones and other urinary disorders in the medievalLevant. Am J Nephrol 2002; 22: 172-179.

2. SHAH J, WHITFIELD HN. Urolithiasis through the ages. BJU Int2002; 89: 801-810.

3. LYONS AS, PETRUCELLI RJ. Medicine: An illustrated history.New York: Abradale Press-Abrams Inc, 1987.

4. LONSDALE K. Human stones. Science 1968; 159: 1199-1207.

5. ANTONELLO A, BONFANTE L, FAVARO S, GAMBARO G, D’ANGELO A,MENNELLA G, CALO L. Hermann Boerhaave and lithotomy:What he thought about it. Am J Nephrol 2002; 22: 290-294.

6. DARDIOTI V, ANGELOPOULOS N, HADJICONSTANTINOU V. Renal dis-eases in the Hippocratic era. Am J Nephrol 1997; 17: 214-216.

7. MARKETOS SG. Hippocratic medicine and nephrology. Am JNephrol 1994; 14: 264-269.

8. POULAKOU-REBELAKOU E, MARKETOS SG. Renal terminology fromthe Corpus Hippocraticum. Am J Nephrol 2002; 22: 146-151.

9. DE MATTEIS TORTORA M. Some plants described by Dioscoridesfor the treatment of renal diseases. Am J Nephrol 1994;14: 418-422.

10. ALIOTTA G, POLLIO A. Useful plants in renal therapy accord-ing to Pliny the Elder. Am J Nephrol 1994; 14: 399-441.

11. DE SANTO NG, CAPASSO G, GIORDANO DR, AULISIO M, ANASTASIO P,ANNUNZIATA S, ARMINI B, COPPOLA S, MUSACCHIO R. Nephrologyin the natural history of Pliny the Elder (23-79 A.D.). Am JNephrol 1989; 9: 252-260.

12. EKNOYAN G. MICHELANGELO: Art, anatomy and the kidney. Kid-ney Int 2000; 57: 1190-1201.

13. RICHET G. Nephrolithiasis at the turn of the 18th to 10th cen-turies: Biochemical disturbances. Am J Nephrol 2002; 22:254-259.

14. RICHET G. The chemistry of urinary stones around 1800: afirst in clinical chemistry. Kidney Int 1995; 48: 876-886.

15. HIERHOLZER K, HIERHOLZER J. The discovery of renal contrastmedia in Berlin. Am J Nephrol 2002; 22: 295-299.

16. SHAMPO MA, KYLE RA. John Julian Wild – pioneer in ultra-sonography. Mayo Clin Proc 1997; 72: 234.

17. VAN TIGGELEN R, POUDERS E. Ultrasound and computed tom-ography: spin-offs of the world wars. JBR-BTR 2003; 86:235-241.

18. TRINCHIERI A. Epidemiology of urolithiasis. Arch Ital Urol Androl1996; 68: 203-249.

19. THIND SK, SIDHU H, NATH R, MALAKANDAIAH GC, VAIDYANATHAN S.Chronological variation in chemical composition of urinarycalculi between 1965-68 and 1982-86 in north westernIndia. Trop Geogr Med 1988; 40: 338-341.

20. RAMELLO A, VITALE C, MARANGELLA M. Epidemiology of nephro-lithiasis. J Nephrol 2000; 13 (Suppl 3): S45-S50.

21. YOSHIDA O, TERAI A, OHKAWA T, OKADA Y. National trend of theincidence of urolithiasis in Japan from 1965 to 1995. Kid-ney Int 1999; 56: 1899-1904.

22. GOLDFARB S. Dietary factors in the pathogenesis and prophy-laxis of calcium nephrolithiasis. Kidney Int 1988; 34: 544-555.

23. JOHNSON CM, WILSON DM, O’FALLON WM, MALEK RS, KURLAND LT.Renal Stone epidemiology: a 25-year study in Rochester,Minnesota. Kidney Int 1979; 16: 624-631.

24. REIS-SANTOS JM. The epidemiology of stone disease in Por-tugal. In: Jungers P, Daudon, M, editors. Renal Stone Dis-ease: Proceedings of the 7th European Symposium onUrolithiasis; 1997; Paris. Paris: Elsevier; 1997. p. 12-14.

25. CURHAN GC, WILLETT WC, RIMM EB, STAMPFER MJ. A prospec-tive study of dietary calcium and other nutrients and therisk of symptomatic kidney stones. N Engl J Med 1993;328: 833-838.

Page 11: História da litíase urinária – os primórdios da nefrologia · Revista Portuguesa de Nefrologia e Hipertensão 145 HISTÓRIA DA LITÍASE URINÁRIA – OS PRIMÓRDIOS DA NEFROLOGIA

Revista Portuguesa de Nefrologia e Hipertensão 153

HISTÓRIA DA LITÍASE URINÁRIA – OS PRIMÓRDIOS DA NEFROLOGIA

26. DI SILVERIO F, D’ANGELO AR, GALLUCI M, SECCARECCIA F, MENOTTI

A. Incidence and prediction of stone recurrence after lithot-ripsy in idiopathic calcium stone patients: a multivariateapproach. Eur Urol 1996; 29: 41-46.

27. LEUSMANN DB, BLASCHKE R, SCHMANDT W. Results of 5035 stoneanalyses: a contribution to epidemiology of urinary stonedisease. Scand J Urol Nephrol 1990; 24(3): 205-210.

28. SMITH LH. The pathophysiology and medical treatment ofurolithiasis. Semin Nephrol 1990; 10: 31-52.

29. DONSIMONI R, HENNEQUIN C, FELLAHI S, TROUPEL S MOEL GL, PARIS

M, LACOUR B, DAUDON M. New aspects of urolithiasis inFrance. GERBAP: Groupe d’Evaluation et de Recherchedes Biologistes de l’Assistence Publique des Hopitaux deParis. Eur Urol 1997; 31: 17-23.

30. TRINCHIERI A, ROVERA F, NESPOLI R, CURRO A. Clinical observa-tions on 2086 patients with upper urinary tract stone. ArchItal Urol Androl 1996; 68: 251-262.

31. BEUKES GJ, DE BRUIYN H, VERMAAK WJ. Effect of changes inepidemiological factors on the composition and racial dis-tribution of renal calculi. Br J Urol 1987; 60: 387-392

32. EL-RESHAID K, MUGHAL H, KAPOOR M. Epidemiological profile,mineral metabolic pattern and crystallographic analysis ofurolithiasis in Kuwait. Eur J Epidemiol 1997; 13: 229-234.

33. REIS SANTOS JM. Composition of urinary calculi in the southof Portugal. In: Ryall R, Bais R, Marshall VR, Rofe AM,Smith LH, Walker VR, editors. Urolithiasis 2. New York:Plenum Press; 1994. p. 465-467.

34. SCHEINMAN SJ. Nephrolithiasis. Semin Nephrol 1999; 19: 381-388.

35. LEROLLE N, LANTZ B, PAILLARD F, GATTEGNO B, FLASHAULT A, RONCO

P, HOUILLIER P, RONDEAU E. Risk factors for nephrolithiasis inpatients with familial idiopathic hypercalciuria. Am J Med2002; 113: 99-103.

36. TRINCHIERI A, MANDRESSI A, LUONGO P, COPPI F, PISANI E. Familial

aggregation of renal calcium stone disease. J Urol 1988;139: 478-481.

37. MICHAELS EK, NAKAGAWA Y, MIURA N, PURSELL S, ITO H. Racialvariation in gender frequency of calcium urolithiasis. J Urol1994; 152: 2228-2231.

38. ASPLIN JR, ARSENAULT D, PARKS JH, COE FL, HOYER JR. Contri-bution of human uropontin to inhibition of calcium oxalatecrystallization. Kidney Int 1998; 53: 194-199.

39. MATTIX KRAMER HJ, GRODSTEIN F, STAMPFER MJ, CURHAN CG. Meno-pause and postmenopausal hormone use and risk of inci-dent kidney stones. J Am Soc Nephrol 2003; 14: 1272-1277.

40. CURHAN GC, WILLETT WC, RIMM EB, SPEIZER FE, STAMPFER MJ.Body size and risk of kidney Stones. J Am Soc Nephrol1998; 9: 1645-1652.

41. CUPISTI A, MORELLI E, MEOLA M, COZZA V, PARRUCCI M, BARSOTTI

G. Hypertension in kidney stone patients. Nephron 1996;73: 569-572.

42. BORGHI L, MESCHI T, GUERRA A, BRIGANTI A, SCHIANCHI T, ALLEGRI

F, NOVARINI A. Essencial arterial hypertension and stonedisease. Kidney Int 1999; 55: 2397-2406.

43. STROHMAIER WL. Course of calcium stone disease withouttreatment. What can we expect? Eur Urol 2000; 37: 339-344.

44. LJUNHALL S, DANIELSON BG. A prospective study of renal stonesrecurrences. Br J Urol 1984; 56: 122-124.

45. ULMANN A, CLAVEL J, DESTREE D. Histoire naturelle de la lithiaserénal calcique. Données obtenues à partir d’une cohortede 667 malades. Presse Med 1991; 20: 499-502.

46. TISELIUS HG. Epidemiology and medical management of stonedisease. BJU Int 2003; 91: 758-767.

47. IGUCHI M, UMEKAWA T, ISHIKAWA Y, KATAYAMA Y, KODAMA M, TAKADA

M, KATOH Y, KATAOKA K, KOHRI K, KURITA T. Clinical effects ofprophylactic dietary treatment on renal stones. J Urol 1990;144: 229-232.