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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO OS CRIMES DE GESTÃO FRAUDULENTA E GESTÃO TEMERÁRIA DE INSTITUIÇÃO FINANCEIRA FACE O EQUILÍBRIO DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL-UMA ABORDAGEM À LUZ DA LEI 7492/86. PATRÍCIA IGNES MULLER DECLARAÇÃO ―DECLARO QUE A MONOGRAFIA ESTÁ APTA PARA DEFESA EM BANCA PUBLICA EXAMINADORA‖. ITAJAÍ (sc), de novembro de 2010. ___________________________________________ Professora Orientadora: Adriana Maria Gomes de Souza Spengler UNIVALI Campus Itajaí-SC

OS CRIMES DE GESTÃO FRAUDULENTA E GESTÃO …siaibib01.univali.br/pdf/Patricia Ignes Muller.pdf · Como se fossem peças que se integram a uma sólida estrutura, cada um de seus

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJA UNIVALI CENTRO DE CINCIAS SOCIAIS E JURDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

OS CRIMES DE GESTO FRAUDULENTA E GESTO TEMERRIA DE INSTITUIO FINANCEIRA FACE O

EQUILBRIO DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL-UMA ABORDAGEM LUZ DA LEI 7492/86.

PATRCIA IGNES MULLER

DECLARAO

DECLARO QUE A MONOGRAFIA EST APTA PARA DEFESA EM BANCA PUBLICA EXAMINADORA.

ITAJA (sc), de novembro de 2010.

___________________________________________ Professora Orientadora: Adriana Maria Gomes de Souza Spengler

UNIVALI Campus Itaja-SC

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJA UNIVALI CENTRO DE CINCIAS SOCIAIS E JURDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

OS CRIMES DE GESTO FRAUDULENTA E GESTO TEMERRIA DE INSTITUIO FINANCEIRA FACE O

EQUILBRIO DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL-UMA ABORDAGEM LUZ DA LEI 7492/86.

PATRCIA IGNES MULLER

Monografia submetida Universidade do Vale do Itaja UNIVALI, como requisito parcial obteno do grau de Bacharel

em Direito. Orientador: Professora Msc. Adriana Maria Gomes de Souza Spengler

Itaja, Novembro 2010

AGRADECIMENTO

Deus por ter me dado foras e iluminado meu

caminho para que pudesse concluir mais uma etapa

da minha vida;

Aos meus pais Davir e Dorinha que com muito

esforo e dedicao me auxiliaram nos meus

estudos e me conduziram para que hoje eu me

tornasse quem sou;

A minha irm Mrcia, companheira, parceira e amiga

de todas as horas, sem a qual alcanar meus

objetivos no faria nenhum sentido;

Ao meu companheiro Marcelo que sempre esteve do

meu lado me apoiando nos momentos de ausncia,

ansiedade, e com muita compreenso e amor,

absorveu tudo com muita pacincia;

A minha eterna amiga Graziele Fernanda da Veiga

companheira de todas as horas, e pela verdadeira

amizade que construmos nestes longos cinco anos,

e por todos os momentos que passamos juntas ,

meu especial agradecimento. E a todos os demais

que contriburam sem vocs essa trajetria no seria

to prazerosa;

A minha orientadora, Adriana Maria Gomes de

Souza Spengler, pelo ensinamento e dedicao

dispensados no auxilio concretizao dessa

monografia;

A instituio Financeira BLUCREDI , aos diretores,

e superintendente Jean , pela compreenso , e

entendimento nos momentos de ausncia ;

A todos os professores do curso de direito, pela

pacincia, dedicao e ensinamentos

disponibilizados nas aulas, cada um de forma

especial contribuiu para a concluso desse trabalho

e conseqentemente para minha formao

profissional;

3

Por fim, gostaria de agradecer aos meus amigos e

familiares, pelo carinho e pela compreenso nos

momentos em que a dedicao aos estudos foi

exclusiva, a todos que contriburam direta ou

indiretamente para que esse trabalho fosse realizado

meu eterno. AGRADECIMENTO.

4

DEDICATRIA.

Dedico esta monografia a duas pessoas Davir e

Dorinha, que em nenhum momento mediram

esforos para realizao dos meus sonhos, que me

guiaram pelos caminhos corretos, me ensinaram a

fazer as melhores escolhas, me mostraram que a

honestidade e o respeito so essenciais a vida, e

que devemos sempre lutar pelo que queremos. A

eles devo pessoa que me tornei, sou

extremamente feliz e tenho muito orgulho por

cham-los de pai e me. Amo Vocs!

5

TERMO DE ISENO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte

ideolgico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do

Itaja, a coordenao do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de

toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Itaja, novembro 2010

Patrcia Igns Muller Graduanda

PGINA DE APROVAO

A presente monografia de concluso do Curso de Direito da Universidade do Vale do

Itaja UNIVALI, elaborada pela graduanda Patrcia Igns Muller, sob o ttulo Os

crimes de Gesto Financeira e Gesto Temerria Face o equilbrio do sistema

Financeiro Nacional Uma abordagem Luz da Lei 7492/86, foi submetida em 25 de

Novembro de 2010 banca examinadora composta pelos seguintes professores:

Adriana Maria Gomes de Souza Spengler (orientadora e presidente da banca), e

Wellington Cesar de Souza (membro da banca), e aprovada com a nota

__________________ (____).

Itaja , Novembro de 2010

Adriana Maria Gomes de Souza Spengler Orientadora e Presidente da Banca

Msc Antonio Augusto Lapa Coordenao da Monografia

ROL DE CATEGORIAS

Rol de categorias1 que a Autora considera estratgicas

compreenso do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais2.

Crime Econmico

Os delitos econmicos, em sua maioria, no possuem penas elevadas e, mesmo os

que possuem, permitem a substituio por uma pena mais leve, o que acaba

levando a crer que a pena privativa de liberdade no ser aplicada (art. 44, CP). No

que se defenda a sua aplicao, pois nem sempre ela necessria, mas as penas

pecunirias, nestes casos, deveriam ser mais elevadas, expropriando-se do

condenado os valores ilicitamente obtidos. Outro fator que deve ser mencionado

que geralmente a pessoa que comete um delito econmico tem uma boa imagem

perante a sociedade, pois habitualmente so pessoas que colaboram com

instituies de caridade, educacionais, etc. Assim, a imagem que se tem deste tipo

de criminoso positiva, como se as boas obras compensassem o delito praticado3.

Crime Organizado

uma entidade coletiva ordenada em funo de estritos critrios de racionalidade.

Como se fossem peas que se integram a uma slida estrutura, cada um de seus

membros realiza uma determinada funo para qual se encontra especialmente

capacitado em razo de suas aptides ou possibilidades pessoais4.

1 Categoria a palavra ou expresso estratgica elaborao e/ou expresso de uma idia; PASOLD, Csar Luiz. Prtica da pesquisa jurdica: idias e ferramentas teis para o pesquisador do Direito. 7. ed. Florianpolis: OAB/SC, 2002. p. 40.

2 Conceito Operacional (= cop) uma definio para uma palavra e expresso, com o desejo de que tal definio seja aceita para os efeitos das idias que expomos. PASOLD, Csar Luiz. Prtica da pesquisa jurdica: idias e ferramentas teis para o pesquisador do Direito. p. 56.

3 LARRINOA, San Martin, Begoa, Derecho penal, econmico y tributrio, em Hacia um Derecho Penal Econmico Europeo, p.359.

4 FBIAN CAPARRS, Eduardo, El Delito de Blanqueo de Capitales, Colex, 1998, p.37.

8

Direito Penal Econmico

Direito Penal Econmico, fruto do entrelaamento entre o Direito Econmico e o

Direito Penal, visando a recobrir a Ordem Econmica com sua proteo, de forma a

evitar que o avano do Poder Econmico a comprometa de tal modo, que o prprio

Estado, em ltima anlise, venha a sucumbir frente o Poder Econmico Privado5.

Gesto fraudulenta

a que o administrador utiliza, continuada e habitualmente, na conduo dos

negcios sociais, artifcios, ardis ou estratagema para por em erro outros

administradores da instituio ou seus clientes. 6

Gesto temerria

a que o administrador age imprudentemente em transao perigosas, sem a

prudncia, que deve presidir sua atuao 7.

Sistema Financeiro

O Sistema Financeiro Nacional, parte integrante e fundamental da Ordem

Econmica, tem carter constitucional e, nesse sentido, funciona como instrumento

viabilizador dos objetivos constitucionais no campo econmico. A sua tutela penal

imprescindvel, em razo da importncia do setor financeiro para o desenvolvimento

equilibrado da nao bem como para o aprimoramento social arquitetado pelo

Estado 8.

5 PINHEIRO JNIOR, Gilberto Jos. Crimes Econmicos: as limitaes do direito penal. 2003, Campinas, p. 51.

6 GLOSSARIO Vade Mecum, FUGENCIO, Paulo Cesar. Tribunal de contas . Rio de Janeiro

2007.p.13 7 GLOSSARIO Vade Mecum, FUGENCIO, Paulo Cesar. Tribunal de contas. P.13

8 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral. 2007, p. 11.

SUMRIO

RESUMO.......................................................................................... XII

INTRODUO .................................................................................. 13

CAPITULO 1 ..................................................................................... 15

DIREITO PENAL ECONMICO ........................................................ 15

1.1 NOTAS INTRODUTRIAS ............................................................................ 15

1.2 DIREITO ECONOMICO ................................................................................ 16

1.3 A ORDEM ECONMICA NA CONSTITUIO FEDERAL ........................... 19

1.4 DIREITO PENAL ECONMICO .................................................................... 22

1.5 O CRIME ORGANIZADO ECONMICO ....................................................... 23

1.5.1 CARACTERSTICAS .................................................................................. 23 1.5.1.1 POUCA VISIBILIDADE DOS DANOS E AUSNCIA DE VTIMAS INDIVIDUAIS (BEM JURDICO SUPRA INDIVIDUAL) ..........................................................................25 1.5.1.3 TRANSNACIONALIDADE ...................................................................................30

CAPITULO 2 ..................................................................................... 33

DOS CRIMES CONTRA O SISTEMA FINANANCEIRO ................... 33

x

2.1 INTRODUO ............................................................................................... 33

2.1 O SISTEMA FINANCEIRO ............................................................................ 34

2.2.1 DISCIPLINA CONSTITUCIONAL DO SISTEMA FINANCEIRO .................. 36

2.2.2 MERCADO FINANCEIRO ........................................................................... 38

2.2.3 MERCADO DE CAPITAIS ........................................................................... 39

CONCEITO DE INSTITUIO FINANCEIRA ...................................................... 41

2.3.1 CONCEITO DE INSTITUIO FINANCEIRA POR EQUIPARAO ......... 43

2.4 FUNES DO BANCO CENTRAL ............................................................... 45

2.4.1 CAPTAO ................................................................................................ 47

2.4.2 INTERMEDIAO ...................................................................................... 48

2.4.3 APLICAO ............................................................................................... 49

2.4.4 CUSTODIA .................................................................................................. 50

2.4.5 EMISSO .................................................................................................... 52

2.4.6 DISTRIBUIO ........................................................................................... 53

2.4.7 NEGOCIAO ............................................................................................ 55

2.4.8 ADMINISTRAO ...................................................................................... 57

2.5 SUJEITOS ATIVOS- ART. 25 ........................................................................ 58

CAPITULO 3 ..................................................................................... 61

GESTO FRAUDULENTA E GESTO TEMERRIA DAS INSTITUIS FINANCEIRAS........................................................... 61

xi

3.1 GESTO FRAUDULENTA ............................................................................ 61

GESTO TEMERRIA: ....................................................................................... 64

MODALIDADES ................................................................................................... 67

SUJEITOS ATIVO E PASSIVO ........................................................................... 71

CONDENO POR GESTO FRAUDULENTA ................................................. 72

CONSIDERAES FINAIS .............................................................. 79

REFERNCIA DAS FONTES CITADAS ........................................... 81

RESUMO

O tema proposto no presente trabalho de monografia objetiva

estudar aspectos destacados dos crime de gesto fraudulenta e de gesto temerria

de instituio financeira, com escopo na Lei 7492/86 Inicia - se com o estudo do

Direito Penal Econmico e suas caractersticas, segue-se com as caractersticas e

os requisitos necessrios para a configurao dos crimes contra o sistema

financeiro, com a anlise de questes de direito material e processual. Aps, tendo

como objetivo principal expor a problemtica em torno da gesto fraudulenta e

gesto temerria de instituio financeira, faz-se um estudo atravs da doutrina e da

jurisprudncia da configurao dessas duas modalidades criminosas.

INTRODUO

A presente Monografia tem como objeto aspectos destacados

dos crimes de gesto fraudulenta e gesto temerria de instituio financeira

conforme a Lei 7.492/86

O seu objetivo geral o estudo do crime econmico

organizado, consubstanciados nos delitos de gesto fraudulenta e gesto temerria

de instituio financeira, como objetivo institucional a obteno do ttulo de bacharel

em Direito pela Universidade do Vale do Itaja UNIVALI.

Para tanto, principiase, no primeiro captulo, tratando do

Direito Penal econmico, tendo a ordem econmica como bem jurdico penalmente

tutelado, passando anlise desse tipo de criminalidade organizada com suas

caractersticas especificas.

No segundo capitulo, enfoca-se os crimes contra o sistema

financeiro nacional, analisando seus aspectos normativos fundamentais.

No terceiro capitulo e ltimo captulo, abordar-se- os aspectos

relativos aos delitos de gesto fraudulenta de instituio e gesto temerria ,

diferenciando as condutas com abordagem doutrinria e jurisprudencial.

O presente Relatrio de Pesquisa se encerra com as

Consideraes Finais, nas quais so apresentados pontos conclusivos destacados,

seguidos da estimulao continuidade dos estudos e das reflexes sobre a

criminalidade organizada.

Para a presente monografia foram levantadas as seguintes

hipteses:

1 Hiptese: O crime organizado econmico se diferencia da

criminalidade comum por suas peculiaridades

14

2 Hiptese: Os crimes contra o sistema financeiro tm como

sujeitos ativos tanto as pessoas ligadas diretamente instituio financeira, quanto

qualquer pessoa que burle o sistema financeiro atravs de operaes fraudulentas

3 Hiptese: Nos crimes de gesto fraudulenta de instituio

financeira e de gesto temerria de instituio financeira as intenes so distintas.

Quanto Metodologia empregada, registra-se que, na Fase de

Investigao9 foi utilizado o Mtodo Indutivo10, na Fase de Tratamento de Dados o

Mtodo Cartesiano11, e, o Relatrio dos Resultados expresso na presente

Monografia composto na base lgica Indutiva.

Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as Tcnicas

do Referente12, da Categoria13, do Conceito Operacional14 e da Pesquisa

Bibliogrfica15.

9 [...] momento no qual o Pesquisador busca e recolhe os dados, sob a moldura do Referente

estabelecido [...]. PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurdica: teoria e prtica. 11 ed. Florianpolis: Conceito Editorial; Millennium Editora, 2008. p. 83.

10 [...] pesquisar e identificar as partes de um fenmeno e colecion-las de modo a ter uma

percepo ou concluso geral [...]. PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurdica: teoria e prtica. p. 86.

11 Sobre as quatro regras do Mtodo Cartesiano (evidncia, dividir, ordenar e avaliar) veja LEITE,

Eduardo de oliveira. A monografia jurdica. 5 ed. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. p. 22-26.

12 [...] explicitao prvia do(s) motivo(s), do(s) objetivo(s) e do produto desejado, delimitando o

alcance temtico e de abordagem para a atividade intelectual, especialmente para uma pesquisa. PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurdica: teoria e prtica. p. 54.

13 [...] palavra ou expresso estratgica elaborao e/ou expresso de uma idia. PASOLD,

Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurdica: teoria e prtica. p. 25.

14 [...] uma definio para uma palavra ou expresso, com o desejo de que tal definio seja aceita

para os efeitos das idias que expomos [...]. PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurdica: teoria e prtica. p. 37.

15 Tcnica de investigao em livros, repertrios jurisprudenciais e coletneas legais. PASOLD,

Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurdica: teoria e prtica. p. 209.

15

CAPITULO 1

DIREITO PENAL ECONMICO

1.1 NOTAS INTRODUTRIAS

A ordem econmica descrita como um conjunto de princpios

jurdicos de conformao do processo econmico, desde uma viso macrojurdica,

conformao esta operada mediante o condicionamento da atividade econmica a

determinados fins polticos do Estado.

realizada na ordenao fundamental, isto , nos aspectos

que peculiarizam e caracteriza um sistema e um regime econmico, expresso de

uma opo ideolgica do processo, importando a substituio da ordem espontnea

da economia, do liberalismo, por uma ordem institucional e premeditada.16

Para Martos Nuez17:

A idia de ordem econmica a diferencia da ordem privada que afeta ao particular e pessoal de cada um, referindo-se administrao reta e prudente dos bens e da riqueza pblica, ao conjunto de exerccios e de interesses econmicos e estrutura ou regime de alguma organizao ou instituio econmica. Constitui, portanto, uma noo especfica de Economia Poltica, isto , da Cincia que trata da produo e distribuio da riqueza.

Para Grau18

O sistema econmico refere-se a um conjunto de instituies jurdicas e sociais, de conformidade com as quais se realiza o modo de produo, propriedade privada, propriedade estatal ou propriedade coletiva dos bens de produo, e a forma de repartio do produto econmico.

16

GRAU, Eros, Roberto. A Ordem Econmica na Constituio, So Paulo: Revista dos Tribunais, 1988, p, 59

17 MARTOS NUES, Juan Antonio. Derecho Penal Econmico, p. 357.

18 GRAU, Eros Roberto. A Ordem Econmica na Constituio 1988, p.60.

16

O sistema capitalista brasileiro encontra-se, no dizer de

Bastos:19 temperado por graus diversos de interveno do Estado, o que tem levado

alguns autores a falarem na existncia de uma forma de economia mista. A ordem

econmica entendida por diversos autores como:

Para Grau20:

Conjunto de princpios de organizao da vida econmica condicionando juridicamente a determinados fins polticos do Estado. a ordenao fundamental do Estado.

Tavares21 tambm concebe:

A ordem econmica com uma ordem jurdica da economia, a define como sendo a expresso de um certo arranjo econmico, dentro de um especfico sistema econmico, preordenado juridicamente. a sua estrutura ordenadora, composta por um conjunto de elementos que confronta um sistema econmico.

O sistema econmico caracteriza-se, no plano terico ou ideal,

como uma determinada sociedade empreende a forma e a tcnica da sua atividade

macroeconmica.

1.2 DIREITO ECONOMICO

O regime econmico, por sua vez, decorre do arcabouo

jurdico que d sustentao legal organizao econmica de um pas.

No entender de Souza22:

O Direito Econmico tanto se preocupa com o direito do indivduo enquanto unidade dentro da sociedade e em suas relaes particulares com os demais quanto com a funo desse indivduo dentro da sociedade, em termos de bem-estar coletivo. Em contrapartida essa disciplina jurdica daquelas que atendem s condies da sociedade de nossos dias, e, portanto, no comportam

19

BASTOS, Celso, MARTINS, Ives Gandra da Silva. Comentrios Constituio do Brasil. v 7

20 GRAU, Eros Roberto. A ordem econmica na Constituio de 1988, p. 41.

21 TAVARES, Andre Ramos, Direito Constitucional Econmico. 2 Ed. Ver. E atual So Paulo

mtodo 2006, p.81.

22 SOUZA, Washington Peluso Albino de, apud GRAU, Eros Roberto. Primeiras linhas de Direito

Econmico. 4 Ed. So Paulo: LTR, 1999, p.31.

17

pacificamente o enquadramento na diviso milenar de Direito Privado e Direito Pblico.

Huber23 citado por Pereira, diz que o Direito Econmico o

conjunto das estruturas e das medidas jurdicas com as quais, servindo-se de meios

administrativos, a Administrao Pblica influi no ordenamento da economia privada.

Pereira Junior24afirma:

Todo o Direito Pblico e Privado, de ordem individual ou coletiva, com sano de toda natureza, inclusive penal, no qual a economia individual ou geral at mesmo a noo de um patrimnio nacional ou da nacionalidade est ai compreendida.

Pereira25 aponta que os fatos sociais, sendo tambm fatos

jurdicos, tm um carter de duplicidade econmico-jurdica, e, sendo assim, regular

os fatos sociais jurdico-econmicos, , em ultima instncia, objeto do Direito

Econmico

Souza26 afirma:

O Direito Econmico impe regras e uma delas A Ordem Jurdico-Poltico-Econmica, teoricamente considerada, assenta-se sobre normas provinda de regras jurdicas captadas nos dados ideolgicos dos princpios. Quando se trata de Ordem Jurdico-Poltico-Econmica vigente, temos, ento, o direito positivo com a legislao que as incorpora.

O direito econmico fica evidente nos conceitos de Souza27:

O direito econmico o ramo do Direito, composto por um conjunto de normas de contedo econmico e que tem por objeto regulamentar as medidas de poltica econmica referentes s relaes e interesses individuais e coletivos, harmonizando-as, pelo princpio da economicidade, com a ideologia adotada na ordem jurdica.

23

PEREIRA, Affonso Insuela. O Direito Econmico na Ordem Jurdica; 2 Ed. So Paulo: Bushatsky, 1980, p.63.

24 PEREIRA, Affonso Insuela. O Direito Econmico na Ordem Jurdica; p. 63

25 PEREIRA, Affonso Insuela. O Direito Econmico na Ordem Jurdica. , p.54.

26 SOUZA, Washington Peluso Albino de, apud GRAU, Eros Roberto. Primeiras linhas de Direito

Econmico. ps.130-132.

27 SOUZA, Washington Peluso Albino de, apud GRAU, Eros Roberto. Elementos do Direito

Econmico. So Paulo: Revista dos Tribunais, 1981, ps, 23-24.

18

Pinheiro Junior28 afirma:

O Direito Econmico surgiu para regular uma nova realidade jurdica, no prevista pelo Direito tradicional e originria de um desvio dos preceitos bsicos da cincia econmica, constituindo,mais do que um novo ramo do Direito, uma nova maneira de enfrentar os problemas da Economia face s necessidades da vida em sociedade.

O Direito possui ramos somente para que sejam atribudas

caractersticas prprias a cada um destes ramos sem, no entanto, se desvencilhar

de sua linha.

Souza29 explica que:

Surgindo como ramo autnomo dos conhecimentos jurdicos, torna-se necessrio estabelecer a clara diferenciao entre o Direito Econmico e as demais disciplinas jurdicas, delimitando-lhes os campos para que no seja posta em dvida a sua prpria autonomia.

Existe, no entanto uma diferena. que o Direito Econmico

examina obrigatoriamente sobre atos e fatos econmicos, porm sob o prisma

poltico-econmico, enquanto o mesmo no acontece com todos os demais ramos

da cincia jurdica. O elemento econmico, enquanto gnero, dado comum

entre o Direito Econmico e as demais disciplinas.30

Hedemann31, citado por Pereira classifica em trs grupos as

diversas teorias sobre o conceito de Direito Econmico a) teorias coletivas, b) teorias

objetivas e c) teorias de cosmoviso.

28

PINHEIRO JNIOR, Gilberto Jos. Crimes econmicos. As limitaes do direito penal, 2003, p.50-51.

29 SOUZA, Washington Peluso Albino de. Primeiras Linhas de Direito Econmico. p. 66.

30 SOUZA, Washington Peluso Albino de. Primeiras Linhas de Direito Econmico. p. 66-67.

31 PEREIRA, Affonso Insuela. O Direito Econmico na Ordem Jurdica. p. 49.

19

Oliveira32 traz outra classificao as principais doutrinas e as

divide da seguinte forma: a) Direito Econmico como uma especialidade jurdica, ou

o que denomina concepo de Siburu; b) determinao pelo sujeito (concepo de

Hug); c) diferenciao pelo sentido (concepes de Moenckmeier e de Cottely); d)

diferenciao pelo sentido de acordo com Lautner e, por fim, e) diferenciao pelo

marco institucional ou Direito da Economia Organizada e Direito da Comunidade na

Economia.

O Direito Econmico, um conjunto de normas com um

contedo de economicidade, vincula as entidades econmicas, privadas e publicas

aos fins constitucionais cometidos a ordem econmica33.

1.3 A ORDEM ECONMICA NA CONSTITUIO FEDERAL

A Ordem econmica possui um conjunto de princpios que,

funcionando com harmonia, oferecem tanto a concepo de sistema econmico

quanto a de regime econmico.

Souza34, explica:

A Ordem econmica no impe os seus princpios prtica dos atos capazes de garantia, indicados como referncias harmoniosas. A efetivao depende de sua doao, porm no oferece a fora que s a norma jurdica possui e que se tornar fora cogente, quando seja transformada em Lei.

No entender de Martos Nuez35 a ordem econmica

constitucional expressa

O conjunto de princpios, instituies, objetivos e fins que configuram a organizao econmica do Estado Social e Democrtico de Direito,

32

POLO, Antonio: El Nuevo Derecho de La Economia in PEREIRA, Affonso Insuela. O Direito da Economia na Ordem Jurdica 2 Ed. So Paulo: Bushatsky, 1980, ps, 49/50.

33 PEREIRA, Affonso Insuela apud Modesto Carvalhosa. O Direito Econmico na Ordem Jurdica.,

p.61.

34 SOUZA, Washington Peluso Albino. Primeiras Linhas de Direito Econmico. p. 190.

35 MARTOS NUEZ, Juan Antonio. Derecho Penal Econmico, p. 359.

20

cujo modelo socioeconmico fruto das tarefas encomendadas ao Estado pelas diversas concepes filosficas polticas imperantes.

Barroso36 explica:

Independentemente das controvrsias de cunho poltico, a Constituio Federal de 1988 assegurou diversas garantias constitucionais, com o objetivo de dar maior efetividade aos direitos fundamentais, permitindo a participao do Poder Judicirio sempre que houver leso ou ameaa de leso a direitos. Para demonstrar a mudana que estava havendo no sistema governamental brasileiro, que sara de um regime autoritrio recentemente, a constituio de 1988 qualificou como crimes inafianveis a tortura e as aes armadas contra o estado democrtico e a ordem constitucional, criando assim dispositivos constitucionais para bloquear golpes de qualquer natureza. Com a nova constituio, o direito maior de um cidado que vive em uma democracia foi conquistado: foi determinada a eleio direta para os cargos de Presidente da Repblica, Governador do Estado e do Distrito Federal, Prefeito, Deputado Federal, Estadual e Distrital, Senador e Vereador.A nova Constituio tambm previu uma maior responsabilidade fiscal. Pela primeira vez uma Constituio brasileira define a funo social da propriedade privada urbana, prevendo a existncia de instrumentos urbansticos que, interferindo no direito de propriedade (que a partir de agora no mais seria considerado inviolvel), teriam por objetivo romper com a lgica da especulao imobiliria. A definio e regulamentao de tais instrumentos, porm, deu-se apenas com a promulgao do Estatuto da Cidade em 2001.[2] a partir de mil novecentos e oitenta e cinco(1985)

Moenckmeier37 citado por Barroso:

A poltica econmica visa estabelecer a orientao econmica, com prioridade absoluta, buscando a melhoria do bem star do povo e o atendimento dos interesses do Estado.

A ordem econmico como dito, esta recepcionada na

Constituio Federal de 1988 em seu art. 17038:

Art. 170. A ordem econmica, fundada na valorizao do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos a

36

Internet: BARROSO, Luis Roberto,

21

existncia digna, conforme os ditames da justia social, observados os seguintes princpios:

I. soberania nacional;

II. propriedade privada;

III. funo social da propriedade;

IV. livre concorrncia;

V. defesa do consumidor;

VI. defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento

diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e servios e

de seus processos de elaborao e prestao;

VII. reduo das desigualdades regionais e sociais;

VIII. busca do pleno emprego;

IX. tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte

constitudas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e

administrao no pas.

Diante da previso constitucional da ordem econmica Silveira

39explica:

(...) o art. 170 da carta Magna, ao tratar dos princpios gerias da atividade econmica, assevera (...) a ordem econmica, fundada na Valorizao do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existncia digna, conforme os ditames da justia social (...), para tanto estipula uma serie de princpios orquestradores da economia social.

Barroso40 afirma:

luz da Constituio brasileira, a ordem econmica funda-se, essencialmente, na atuao espontnea do mercado. O Estado pode, evidentemente, intervir para implementar polticas pblicas, corrigir distores e, sobretudo, para assegurar a prpria livre iniciativa e promover seu aprimoramento. Este o fundamento e o limite de sua interveno legtima. No lhe cabe, assim, determinar o que produzir, onde comercializar, que preos praticar. A normatizao que poder a autoridade pblica efetuar sobre a atividade econmica, circunscreve-se, compatibilizao dos empreendimentos econmicos com exigncias conaturais segurana, salubridade, higidez do meio ambiente, qualidade mnima do produto em defesa do consumidor e outros bens jurdicos que compem a constelao de interesses coletivos.

39

SILVEIRA, Renato de Mello Jorge. Direito Penal Supra Individual. Direitos Difusos. p, 140.

40 BARROSO, Luis Roberto. A Ordem Econmica Constitucional e os limites a atuao estatal

no controle de preos. Revista Dilogo Jurdico. Salvador, jun/ago 2002. Disponvel em: http://direitopublico.com.br.Acesso em: 02 de junho de 2010.

http://direitopublico.com.br.acesso/

22

1.4 DIREITO PENAL ECONMICO

O Direito Penal Econmico um ramo do direito penal que

trata das infraes contra a ordem econmica, ou seja, uma rea especifica que

sanciona determinadas condutas que afetam sensivelmente as relaes

econmicas, ultrapassando as raias do mero ilcito administrativo-econmico.

Conforme o ensinamento de Pimentel41:

o conjunto de normas que tem por objeto sancionar, com as penas que lhe so prprias, as condutas que, no mbito das relaes econmicas, ofendam ou ponham em perigo bens ou interesses juridicamente relevantes

Segundo Rinck42 citado por Pereira:

O direito penal econmico compreende: Sistemas de leis e de medidas do Estado destinados a dirigir, a promover ou a limitar as atividades lucrativas e tendentes ao bem do conjunto econmico, visando ao mesmo tempo a justia social.

O Direito Penal um conjunto de normas jurdicas que o

Estado se baseia para combater as infraes penais, como crimes ou delitos e

contravenes, aplicando assim as medidas de segurana.43

Pinheiro Junior 44entende:

O Direito Penal sancionador e preventivo porque assume uma dupla face funo no corpo social: ao mesmo tempo em que reprime aquelas condutas que lesaram os bens jurdicos fundamentais, exerce uma funo preventiva ao cometimento de novas condutas ilcitas, face ao receio de reprimenda que impe aos integrantes do grupo social.

41

PIMENTEL, Manoel Pedro. Direito Penal Econmico, So Paulo: Revista dos Tribunais, 1973, p.10

42 PEREIRA, Affonso Insuela. O Direito Econmico na Ordem Jurdica; p. 63.

43 PEREIRA, Affonso Insuela. O Direito Econmico na Ordem Jurdica; p. 139

44 PINHEIRO JUNIOR, Gilberto Jose. Crimes Econmicos. As limitaes do direito penal, p. 42

http://br.mc314.mail.yahoo.com/mc/welcome?.gx=1&.tm=1275238247&.rand=0v0beh5l699hk#_Toc244014889

23

Anbal Bruno45 em sua doutrina cita Pinheiro Junior O conjunto

de normas jurdicas que regulam o poder punitivo do Estado, ligando o delito, como

pressuposto, e apena como conseqncia.

Por seu turno, Pinheiro Jnior46 esclarece:

imperativo que se admita, em conseqncia das inmeras transformaes sociais que se desenvolvem, notadamente no campo de atuao do Direito Econmico, um Direito Penal de direo, especializado, prevalecendo sobre o Direito Penal clssico, de proteo, prprios das sociedades estritamente liberais, mesmo levando-se em conta os perigos inerentes a essa transformao.

Em relao aos bens jurdicos defendidos pelo Direito Penal

Econmico, esses caracterizam-se pela relevncia que se pretende assegurar para

o sistema econmico, ou seja, so resultantes do intervencionismo estatal na vida

econmica.

1.5 O CRIME ORGANIZADO ECONMICO

1.5.1 CARACTERSTICAS

O crime organizado engloba algumas caractersticas centrais,

e para entende-lo necessrio verificar quais so essas caractersticas que tornam

as organizaes criminosas tradicionais, diferentes dos crimes comum e das

organizaes empresariais licitas:

Mingardi 47 aponta :

45

PINHEIRO JNIOR, Gilberto Jos. Crimes Econmicos. As limitaes do direito penal, p. 20.

46 PINHEIRO JNIOR, Gilberto Jos. Crimes econmicos. As limitaes do direito penal, p. 51.

47 MINGARDI, Guaracy. O Estado e o Crime Organizado. So Paulo:IBCCrim, 1998, p.82

24

(1) atividades ilcitas; (2) atividades clandestinas; (3) hierarquia; (4) previso de lucros; (5) diviso do trabalho; (6) uso da violncia (7) simbiose com o Estado; (8) mercadorias ilcitas, (9) planejamento empresarial; (10) uso da intimidao; (11) vendas de servios ilcitos; (12) clientelismo; (13) Lei do silencio; (14) monoplio pela violncia; (15) controle territorial.

Mingardi48, explica :

Crime Organizado Tradicional: Grupo de pessoas voltadas para atividades ilcitas e clandestinas que possui uma hierarquia prpria e capaz de planejamento empresarial, que compreende a diviso do trabalho e o planejamento de lucros. Suas atividades se baseiam no uso da violncia e da intimidao, tendo como fonte de lucros a venda de mercadorias ou servios ilcitos, no que protegido por setores do Estado. Tem como caractersticas distintas de qualquer outro grupo criminoso um sistema de clientela, a imposio da lei do silncio aos membros ou pessoas prximas e o controle pela fora de determinada poro de territrio.

Sua caracterstica mais marcante transpor para o crime

mtodos empresariais, ao mesmo tempo em que deixam de lado qualquer resqucio

de conceitos como honra, lealdade, obrigao.

Conforme preleciona Maia49

De qualquer sorte, independentemente do conceito de crime organizado que se utilize, defrontamo-nos sempre com uma estrutura organizacional, que transcende o mero ajuntamento de indivduos, muitas vezes similar a das modernas corporaes, com todo arsenal tecnolgico utilizado por estas, inclusive com a utilizao da computao e da comunicao eletrnica de dados e transferncia de valores fator ainda mais estimulado pela crescente imbricao entre ambas.

Ainda Maia50, afirma que:

48

MINGARDI, Guaracy. O Estado e o Crime Organizado. p. 82

49 MAIA, Rodolfo Tigre. O Estado Desorganizado contra o Crime Organizado. Rio de Janeiro:

Lumens Juris. 1997, p.15.

50 MAIA, Rodolfo Tigre. O Estado Desorganizado contra o Crime Organizado. p, 17.

25

[...] em busca de elementos comuns um estudioso norte-americano

encontrou um relativo consenso no reconhecimento de que

indispensvel sua caracterizao a presena de uma organizao

estvel operando racionalmente para obter lucros atravs de

atividades ilcitas. Outras caractersticas recorrentes, fixadas pela

mesma pesquisa, foram o reconhecimento da utilizao da violncia,

ao menos sob a forma de ameaas, para manter suas operaes e,

igualmente, a presena da corrupo de funcionrios pblicos,

freqentemente citada como um ingrediente necessrio ao sucesso

de suas aes.

A criminalidade organizada ressaltado por Franco 51 citado

por Callegari que afiana:

Precisa isolar um potencial de ameaa qualitativamente novo. Este potencial eu vejo no assalto, usurpao ou infiltrao de instncias centrais da ordem estatal, procedido por organizaes criminosas. Somente quando seja possvel influenciar criminosamente a definio, a elucidao ou o julgamento de violaes penais que a estrutura criminosa ter-se- estabilizado.

Face a esta realidade, diversos pases passaram a estudar o

fenmeno, em todos os seus aspectos, ao mesmo tempo em que deram inicio

busca da produo de leis e atos normativos capazes de enfrent-lo, como tambm

ocorre no Brasil52.

1.5.1.1 POUCA VISIBILIDADE DOS DANOS E AUSNCIA DE VTIMAS

INDIVIDUAIS (BEM JURDICO SUPRA INDIVIDUAL)

Apenas a prtica de um ilcito econmico pode colocar a

segurana da sociedade em perigo, e pode mesmo ter conseqncias gravssimas a

toda uma populao.

51

SILVA FRANCO, Alberto in CALLEGARI, Andr Lus. Direito Penal Econmico e Lavagem de Dinheiro. Aspectos criminolgicos. Porto Alegre: Livraria do Advogado Ltda., 2003, p. 29

52 GOMES, Abel Fernandes. Crime Organizado e suas conexes com o poder pblico. 2000.

p,04.

26

Pinheiro Junior 53 ressalta que Um importante ponto sobre a

criminalidade que por estarmos em um pas com uma desigualdade social muito

relevante, j se afirmou que essa a mais importante causa da criminalidade.

Hassemer54 citado por Franco:

A criminalidade organizada possui uma estrutura organizada que possibilita aproveitar fragilidades estruturais de nosso sistema judicirio, provocando assim danos considerveis a sociedade possui meios instrumentais tecnolgicos de ultima gerao, possui um esquema de comunicao com outros grupos criminosos e uma rede subterrnea de ligaes com os quadros oficiais da vida social, econmica e ppoltica da comunidade, possui extrema violncia, expondo um poder corrupo que no visvel, se apossa de disfarces e simulaes, capaz de tornar inertes os Poderes do prprio Estado.

Silva55 no seu entendimento elucida que a criminalidade

organizada menos visvel que a criminalidade comum, sendo um dos fatores a

ausncia de vtimas e a dificuldade para apurar este tipo de conduta. Aquele que

comete um crime previsto no Direito Penal Econmico no atinge um nmero restrito

de indivduos e sim, toda uma coletividade.

Fromm56 citado por Trindade :

[...] A ambio humana, tendo por fregus o mundo inteiro, torna-se ilimitada, e o homem se enche de desgosto com a futilidade da busca interminvel... A sociedade se torna um p desorganizado de indivduos... As comunidades industrializadas negligenciam os prprios objetivos pelos quais se torna justificvel a aquisio de riqueza, em sua preocupao com os meios pelos quais essa riqueza pode ser adquirida.

Betti57 comenta:

53

PINHEIRO JUNIOR, Gilberto Jos. Crimes Econmicos. As limitaes do Direito Penal. p. 59.

54 SILVAFRANCO, Alberto in CALLEGARI, Andr Lus. Direito Penal Econmico e Lavagem de

Dinheiro. p. 29.

55 SILVA, Juary. A criminalidade organizada sinnimo de macro criminalidade, p. 69.

56 TRINDADE, Antnio Augusto Canado ET al. Desenvolvimento Econmico e interveno do

estado na ordem constitucional. Estudos jurdicos em homenagem ao Professor Washington Peluso. Albino de Souza, Porto Alegre: Grafline Assessoria Grfica e editorial ltda., 1995, p. 41.

57 BETTI, Francisco de Assis. Aspectos dos crimes contra o sistema financeiro no Brasil: leis

7.492 e 9.613/98. Belo Horizonte: Del Rey, 2000, p. 18.

27

Os danos materiais mais caractersticos so os financeiros e pode-se afirmar que so muito maiores do que os da delinqncia violenta, superando a totalidade dos causados pelas outras formas de delito. Com relao aos danos materiais, pode-se aferir a perda de confiana nas relaes comerciais, a deformao do equilbrio do mercado e o descrdito nas polticas econmicas, financeiras e sociais do governo.

A criminalidade econmica como sempre existiu, no sentido de

que uma pessoa causa danos aos interesses econmicos de uma outra pessoa,

fraude, falta de fidelidade econmica, porm a criminalidade moderna diferente,

no se trata de casos individuais e nem de pessoas como vitima, mas de

estratgias58.

A ausncia de vitimas individualizadas surge no entender de

Pinheiro Jnior59:

[...] No se pode olvidar que os resultados de prejuzos Ordem Econmica podem advir da prtica de um delito econmico que tem proporo infinitas vezes maior do que aqueles hoje previstos como hediondos, pois alm de terem natureza supra individual, atingem de modo certeiro a ordem estabelecida na Constituio, o que nos permite concluir, sem qualquer dvida, que este tipo de delito atenta contra o prprio Estado e contra toda a sociedade em propores inimaginveis.

O Direito compreende a necessidade de se proteger a

liberdade e o interesse coletivo, tendendo a determinao de um ponto de equilbrio

entre esses dois valores. Deve, portanto, assegurar a preservao das condies de

existncia do homem em sociedade coibindo-o de atos que possam prejudicar os

demais.

Cerqueira60 afirma que:

Algumas prticas ilcitas causadoras de vitimizao difusa so possibilitadas pelo emprego de moderna tecnologia, como o caso de computadores e da utilizao da internet, e o de aparelhos de telefonia celular, entre outros novos meios de comunicao.

58

HASSEMER, Winfried. Perspectivas de uma moderna poltica criminal. p, 87.

59 PINHEIRO JNIOR, Gilberto Jos. Crimes Econmicos. As limitaes do Direito Penal, p. 61.

60 CERQUEIRA Atilo Antonio. Direito Penal Garantias e A nova Criminalidade. Curitiba: Juru, 2020. p,60.

28

Hassemer61 esclarece de forma mais detalhada sobre o

ingresso da sociedade no combate do crime:

Esse tipo de criminalidade no tem vitimas individuais, ou melhor, as vtimas individuais s existem de forma mediata na criminalidade clssica poderamos apontar, como semelhante, os delitos fiscais, onde a vitima imediata o Estado. Toda criminalidade moderna, de regra, no tem vitimas individualizadas. As vitimas so ou o Estado ou comunidades, como o caso da comunidade Europia.

Pinheiro62 em suas colocaes oportunas, fala sobre a

ausncia de vitimas individualizadas como caractersticas da criminalidade:

Se considerarmos os resultados concretos que alcana a criminalidade, percebemos que vitimam como verdadeiros genocdios - pois atentam contra ordem constitucional, proporcionando no mais um resultado imediatamente individual, mas sim imediatamente supra individual. Alm de terem natureza supra individual, atingem de modo certeiro a ordem estabelecida na Constituio, o que nos permite concluir, sem qualquer duvida, que este tipo de delito atenta contra o prprio Estado e contra toda a sociedade em propores inimaginveis.

1.5.1.2 MODUS OPERANDI

A criminalidade organizada revela-se em diversos campos de

aco, socorrendo-se de "modus operandi" tradicionais e/ou inovadores e

contemplando reas de actividade, produtos e bens de "valor acrescentado" na

sociedade, materiais como imateriais: a vida humana, a segurana, a estabilidade

scio-econmica, a confiana nas estruturas de autoridade, o dinheiro, ou o poder63.

61

HASSEMER, Wilfried. Perspectivas de uma moderna poltica criminal, Revista brasileira de Ciencias Criminais: Revistas dos Tribunais, 2001 p. 45. 62

PINHEIRO JNIOR, Gilberto Jos. Crimes Econmicos. As limitaes do Direito Penal. p. 60/61. 63

_________internet:

http://www.artigonal.com/educacao-artigos/criminalidade-organizada-operacionalidade-1224891.htmlhttp://www.artigonal.com/educacao-artigos/criminalidade-organizada-operacionalidade-1224891.html

29

Relata Lyra64 citado por Costa Junior et al:

O dinheiro por no existir na natureza, e ser exclusivamente humano, pois constituiu uma nova forma de pensamento e ao que mudou totalmente o mundo. Somente agora, depois de aproximadamente trs mil anos, o poder total do dinheiro tornou-se aparente nas questes humanas, medida que suplanta e dominam muitos dos laos sociais tradicionais baseados na famlia, tribo, comunidade e nao.

Pinheiro Junior 65 citado por Santos explica que:

A tipologia do abuso de poder econmico compreende a poluio ambiental, a produo e distribuio de produtos inseguros, o suborno e a corrupo de funcionrios pblicos, mediante pagamentos ilcitos, comisses, corretagens, etc, as fraudes ao consumidor, a evaso de impostos, por registros e documentos falsos, receitas no registradas, etc., as falncias intencionais, fraudes contra credores, as prticas monopolistas de restrio produo e comercializao, as violaes aos padres mnimos de sade e de segurana industrial e o crime organizado.

Com a facilidade proporcionada pela Internet, e por outros

canais de comunicao, surgiu a corrupo de uma forma avassaladora conforme

informa Pinheiro citado por Santos66:

So muitos os modos de burlar a lei, o crime organizado explora as complexidades da vida organizacional (em proveito prprio e com o objetivo de lucro), utiliza fachadas legtimas para suas operaes (empresas regulares, etc.), implementa uma poltica de autoproteo com vastos recursos para a compra de suporte poltico (corrupo e suborno) e no pode ser controlado: a produo de lucros explora a chamada criminalidade sem vitima (a criminalidade das drogas, jogos e, tambm, prostituio e lcool, est em todos os setores da sociedade, agrega executivos, figuras do submundo, industriais, comerciantes, banqueiros, polticos, etc. com agentes ou intermedirios em cargos pblicos e empresas privadas, e, finalmente, pelo sigilo bancrio sobre origem e propriedade de fundos.

64

COSTA JR, Paulo Jose da; QUEIJO, M. Elizabeth; MACHADO, Charles M. Crimes do Colarinho Branco. p. 06. 65

PINHEIRO JUNIOR, Gilberto Jose. Crimes Econmicos. As Limitaes do direito Penal. p.62.

66 COSTA JR, Paulo Jose da; QUEIJO, M. Elizabeth; MACHADO, Charles M. Crimes do Colarinho

Branco. p, 77.

30

O campo de atuao de todos os grandes crimes encontra-se

tambm nos crimes empresariais, que visam somente ao lucro fcil e de maneira

desmedida.

Observa Pinheiro Junior67

O que devemos levar em considerao quando falamos em criminalidade econmica a potencialidade para lesar a estrutura econmica do pas em geral, bem como as medidas estatais de planificao em particular. Isso porque o carter tico, sempre presente nestes delitos, refere-se a uma Ordem Econmica que visa, em ltima anlise, a prover a justia social.

A criminalidade econmica foi crescendo, esbarrou na

chamada confuso legislativa, o que implicou leis que apresentam defeitos de forma,

imperfeies tcnicas, erros que, de to grosseiros, chegam a incentivar a

criminalidade ao invs de reprimi-la.68

Pinheiro Junior 69 continua:

Aliados a esses fatos, podemos citar ainda uma certa falta de vontade poltica, que conseqentemente leva os crimes econmicos a no serem coibidos ou, se ao menos so perseguidos, o so tardiamente e com resultados inexpressveis.

A criminalidade econmica abrange os delitos fiscais, cambiais,

falimentares, financeiros, os ligados s relaes de trabalho, aos abusos do poder

econmico, livre concorrncia, economia popular e s relaes de consumo.70

1.5.1.3 TRANSNACIONALIDADE

67

PINHEIRO JUNIOR, Gilberto Jose. Crimes Econmicos. As Limitaes do Direito Penal, p.61

68 PINHEIRO JUNIOR, Gilberto Jose. Crimes Econmicos. As Limitaes do Direito Penal, p.67

69 PINHEIRO JUNIOR, Gilberto Jose. Crimes Econmicos. As Limitaes do Direito Penal. p.67

70 PINHEIRO JUNIOR, Gilberto Jose. Crimes Econmicos. As Limitaes do Direito Penal. p.69

31

O mundo encontra-se envolvido numa constante transio

tecnolgica sem precedentes na historia da humanidade, tanto que as relaes

econmicas, financeiras, sociais, polticas e jurdicas so hoje determinadas, em sua

maioria, por processos globais, em que culturas, economias e fronteiras nacionais

so redimensionadas a cada dia71.

Nesse sentido Macedo72 preconiza:

(...) o primeiro dos marcos sociais que se pode reputar como geratriz desse tipo de criminalidade o prprio fenmeno da globalizao onde o incremento das relaes humanas, potencializado pela facilidade das comunicaes, transporte, interao das naes, e principalmente o novo enfoque do conceito de soberania fizeram com que no s as atividades empresariais licitas se desenvolvessem internacionalmente.

Para Stelzer73 a transnacionalizao representa, assim, uma

das facetas da globalizao, que no se descola dela, mas que refora a idia de

permeabilidade fronteiria, de relaes espacialmente no localizadas, de ultra-

capitalismo e de decadncia poltico-jurdica soberana.

A transnacionalidade insere-se no contexto da globalizao e liga-se fortemente concepo do transpasse estatal. Enquanto globalizao remete idia de conjunto, de globo, enfim, o mundo sintetizado como nico; transnacionalizao est atada a referencia do Estado permevel, mas tem na figura estatal a referencia do ente em declnio. Com efeito, no se trata mais do Estado-territorial, referencia elementar surgido aps a Paz de Vestflia e que se consolida at o sculo XX, viabilizando a emergncia do direito internacional sob amparo da idia soberana74.

Macedo75 ressalta:

A renncia ou mesmo a incapacidade de controle fronteirio no transito de capitais colocou em marcha uma desastrosa dinmica interna, que sistematicamente costeia a soberania das naes pelos controles administrativos, produzindo efeitos incontrolveis, j

71

BARROS, Marco Antonio. Lavagem de Capitais e Obrigaes Civis Correlatas. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2008, 2 Ed., p. 33. 72

MACEDO, Carlos Mrcio Rissi. Lavagem de dinheiro. p, 25.

73 STELZER, Joana. O Fenmeno da Transnacionalidade da Dimenso Jurdica. Curitiba Juru,

2010, p. 76

74 Transnacionalidade. Disponvel em http://vlex.com/vid/transnacionalidadeacessado em 04.06.10.

75 MACEDO, Carlos Mrcio Rissi. Lavagem de dinheiro. p, 28.

http://vlex.com/vid/transnacionalidadeacessado

32

apresentado traos anrquicos. Os Estados perderam sua soberania fiscal, os governos tornam-se passveis de extorso, as autoridades policiais defrontam-se, impotentes, com organizaes criminosas que escondem muito bem seu capital.

Lacerda76 conceitua:

O processo de financeirizao e rentismo das economias

capitalistas extrapolou as fronteiras nacionais, configurando-se em um fenmeno

internacional, magnificando pela liberalizao dos mercados cambiais e pela

desregulamentao dos fluxos de capitais77.

Esse processo no se restringiu aos espaos nacionais, uma vez que houve uma aumento significativo da transnacionalizao das aplicaes financeiras, facilitadas pela liberalizao dos mercados cambiais e desregulamentao dos controles sobre os fluxos de capitais.

(...) empresrios podem acumular riqueza inerte e podem deixar de traduzir todos os seus ganhos em dinmica de investimento ou consumo. Alguns empresrios e polticos tambm podem transferir dinheiro no exterior, e, apesar da existncia de regras permissivo legal que lhes permita passar o seu capital atravs das fronteiras, eles encontrarem formas de aumentar os montantes movimentados recorrendo a prticas ilegais ou adquiridos por modos ilegais.

Por fim registre-se que, h uma ausncia de instituies no

controle e superviso financeira do Estado, o que se repercute nas operaes ilegais

de transferncia de valores de um pas para o outro, acabando por prejudicar o

saudvel desenvolvimento econmico e financeiro.

Com base nas disposies doutrinarias acima referidas, tendo

como escopo abordar aspectos informadores do Direito Penal Econmico,

propriamente ditas, passar-se-, no capitulo seguinte, analise detalhada da lei

7492/86, que trata dos crimes contra o sistema financeiro, objeto de estudo deste

trabalho monogrfico.

76

LACERDA, Antonio Correa de. Globalizao e investimento estrangeiro. p,04.

77 STELZER, Joana. O fenmeno da transnacionalidade da dimenso jurdica. p. 54.

CAPITULO 2

DOS CRIMES CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO

2.1 INTRODUO

A Lei n. 7492 foi instituda em 16 de junho 1986, e define os

crimes contra o sistema financeiro Nacional e d outras providencias, tinha

inicialmente como alvo os diretores e administradores de instituies financeiras.

Hoje essa denominao estende-se a vrios outros indivduos que de alguma forma,

lesam a ordem econmica78.

H uma grande preocupao dos nossos governantes, em

proteger o Sistema Financeiro Nacional. Pois os crimes cometidos contra ele

atingem, diretamente a economia nacional. Portanto, o Sistema Financeiro um

bem jurdico que mereceu a proteo penal nos termos da Lei 7.492, de 16 de junho

de 1986.

Cabe ressaltar, que logo no seu artigo 1, a lei 7492/86 deixa

claro que se deve compreender sistema financeira nacional de forma ampla e, tanto

o , que o caput do referido artigo considera a instituio financeira a pessoa jurdica

de direito pblico ou privado que tenha como atividade principal ou acessrio

cumulativamente ou no, a captao, intermediao ou aplicao de recursos

financeiros de terceiros, em moeda nacional ou estrangeira, ou a custodia, emisso

distribuio, negociao, intermediao ou administrao de valores imobilirios79.

Segundo Prado80:

O bem jurdico protegido nesse diploma fundamentalmente o sistema financeiro nacional, composto pelo conjunto de instituies (monetrias, bancarias, e sociedades por aes) e do mercado financeiro (de capitais e valores mobilirios). Os seus objetivos so

78

VADE MECUM RT -5 ed. Rev., ampl. E atual. So Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010.

79 PITOMBO, Moraes. SERGIO, Marcos. Crimes contra o sistema financeiro nacional; ntulas lei

7492/86, in Revista dos Advogados. p, 67.

80 PRADO, Regis. Direito Penal Econmico, Editora Revista dos Tribunais Ltda., 2004, p. 24.

34

gerar e intermediar crditos e empregos, estimular investimentos aperfeioar os mecanismos de financiamento empresarial, garantir a poupana popular e o patrimnio dos investidores, compatibilizar crescimento com estabilidade econmica e reduzir desigualdades, assegurando uma boa gesto da poltica econmico-financeira do Estado, com vistas ao desenvolvimento equilibrado do Pas.

Assim, o que parece no se atentar que a segurana, a

confiana e a regularidade dos negcios, da ordem econmica, esto atrelados ao

desenvolvimento equilibrado do Estado Brasileiro e, por bvio, ao seu Sistema

Financeiro, restando, desta forma, inequvoco que a Lei 7492/86 tambm tutela a

Ordem Econmica81.

Dessa forma percebe-se que a lei de proteo do sistema

financeiro nacional tutela institutos que esto na rbita tambm do direito

econmico.

2.1 O SISTEMA FINANCEIRO

O Sistema Financeiro Nacional formado pelo conjunto de

instituies dedicadas proporcionar condies satisfatrias para que haja a

manuteno de recursos entre poupadores e investidores no pas. Seu principal

objetivo valorizar a intermediao entre poupana e investimento, possibilitando

assim maior eficincia ao setor produtivo, ele ainda intermdia o dinheiro dos que

esto investindo aos que esto precisando de recursos. 82

Lopes83 compreende dois subsistemas:

1. O normativo que regulamenta e fiscaliza o mercado financeiro, fazendo parte desse subsistema o Conselho Monetrio Nacional (CMN), o Banco Central (BACEN), a Comisso de Valores Mobilirios (CVM), a Superintendncia de Seguros Privados (SUSEP), Secretaria de Previdncia Complementar (SPC) alm da intermediao as instituies auxiliares.

81

ARAJO JUNIOR, Joo Marcelo. Os crimes contra a ordem econmica. So Paulo: Revista dos Tribunais, 1995, p.45. 82

COSTA JR., Paulo Jos da; QUEIJO, M. Elizabeth; MACHADO, Charles M. Crimes do Colarinho Branco, So Paulo: Saraiva, 2000, p. 29 e 30.

83 LOPES, Joo do Carmo e ROSSETTI, Jose Paschoal. Economia Monetria. 9. ed. Rev., ampl.e

atual So Paulo: Atlas, 2005, p. 177.

35

2. Corresponde aos operadores do sistema financeiro, nesse sentido: Instituies Financeiras Captadoras de depsitos vista, demais Instituies Financeiras, outros Intermedirios Financeiros e administradores de Recursos de terceiros, Bolsas de Mercadorias e Futuros, Bolsas de Valores, Companhias de Crdito, Financiamento e Investimento e Instituies auxiliares.

O banco tem um conceito amplo, o mesmo das instituies

financeiras, ou seja, uma entidade que pratica a prestao ou interposio no

crdito, de maneira mltipla, profissional84

O sistema financeiro nacional causa certa curiosidade em uma grande quantidade de pessoas. Algo a dizer sobre como ele funciona entra no aspecto de sua estrutura e funcionamento interno. Ele composto por entidades supervisoras, rgos normativos, bancos pblicos operadores de polticas governamentais, e de instituies financeiras. Sua estrutura formada no mercado de capitais, que necessitam de capital para fazer investimentos, e por sua vez esses investimentos contribuem para o aumento do capital de quem investe, conforme andam as aes na bolsa de valores, que so tidas como em alta e baixa. Por essa razo necessrio acompanhar as aes na bolsa para saber como andam os seus lucros. sempre um risco, mas para pessoas que gostam de investir vale a pena correr esse risco. As companhias so de diferentes portes e suas necessidades financeiras tambm so variadas, sendo feitas suas operaes em mercado monetrio, mercado de crdito, mercado de capitais e mercado de cmbio, todos com suas prospectivas caractersticas, mas bem rentveis em todos os aspectos. O prazo a que se resumem curto, mdio e longo, dependendo de quando voc quer retirar seu investimento. As negociaes podem ser feitas em mercado de bolsa ou em mercado de balco. Essas so algumas caractersticas que compem o conceito do sistema financeiro nacional. 85

Para compreender o banco como uma instituio financeira

necessrio abordar quais as reas que so atingidas por essa instituio.

Os bancos, principalmente os comerciais, representam a base do sistema monetrio brasileiro. Eles esto sob a superviso, regulamentao e fiscalizao do Banco Central do Brasil e so classificados de acordo com a atividade que exercem: Os bancos

84

COSTA JR., Paulo Jos da; QUEIJO, M Elizabeth; MACHADO, Charles M. Crimes do Colarinho Branco. p 28.

85 ____ Sistema Financeiro Nacional. Internet: Disponvel em:

< www.blogers.com.br/conceito-de-sistema-financeiro-nacional/> Acessado em 29-06-2010.

36

comerciais; desenvolvimento;investimento; mltiplos; cooperativo; e caixas econmicas.86

O objetivo precpio dos bancos comerciais como um todo proporcionar o suprimento oportuno e adequado dos recursos necessrios para financiar, a curto e a mdio prazo, o comercio, a indstria, as empresas prestadoras de servios e as pessoas fsicas87.

rasil e so classificados de acordo com a atividade que exer

2.2.1 DISCIPLINA CONSTITUCIONAL DO SISTEMA FINANCEIRO

Conforme o entendimento de alguns autores sobre o conceito

de Disciplina Constitucional Medeiros explana que 88 o conjunto de normas,

reunidas numa lei, concernente forma do poder, ao estabelecimento de seus

rgos, aos limites de sua atuao, proclamando e garantindo os direitos individuais

e sociais".

Para Bastos89:

Um complexo de normas jurdicas fundamentais, escritas ou no, capaz de traar as linhas-mestras de um dado ordenamento jurdico. Constituio, nesta acepo, definida a partir do objeto de suas normas, vale dizer, a partir do assunto tratado por suas disposies normativas.

Silva90 afirma que a disciplina constitucional :

Um sistema de normas jurdicas, escritas ou costumeiras, que regula a forma do Estado, a forma de seu governo, o modo de aquisio e o exerccio do poder, o estabelecimento de seus rgos e os limites de sua ao. Em sntese, a Constituio o conjunto de normas que organiza os elementos constitutivos do Estado

86

_____Sistema Financeiro Nacional, Internet: disponvel em: http://www.portaldoinvestidor.gov.br/entendendoomercadodevaloresmobiliario/sistemafinanceiro nacional.

87 LOPES, Joo do Carmo, ROSSETTI, Jose Paschoal. Economia Monetria. p.456.

88 MEDEIROS, Antonio Paulo Cachapuz de: Conceito de Instituio. Internet: DISPONIVEL em:

http:estudandojunto.blogspot.com/2008/12/constituio.Acessado em 02/07/2010.

89 BASTOS, Celso. Hermenutica e interpretao Constitucional. So Paulo: Bastos Editora, 1997,

p,163.

90 SILVA, Jose Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. So Paulo: Malheiros 2002, p.

105.

http://www.portaldoinvestidor.gov.br/entendendoomercadodevaloresmobiliario/sistemafinanceiro

37

Pode - se chegar a um mesmo ponto: a Constituio a

organizao jurdica fundamental do Estado. Nela se baseiam todas as demais

normas, s possuem validade se forem fundamentadas no texto constitucional. A

Constituio estrutura o Estado, organiza seus rgo, o modo pelo qual esses

rgos adquirem poderes e os limites desses poderes. Vai definir o regime poltico e

coordena as atividades scio-econmicas do Estado, seus fundamentos e princpios.

Assegura tambm os direitos e as garantias imprescindveis s pessoas91.

[...] a relao entre Constituio e Sistema Econmico ou

mesmo Regime Econmico, freqente nas constituies modernas, que

contemplam pautas fundamentais em matria econmica. Chega-se a falar que ao

lado de uma constituio poltica, reconhece-se a existncia de uma Constituio

econmica.

[...] Fala-se, em doutrina recente, em uma petrificao constitucional de certo programa econmico, com a plasmao da aplicao de distintos programas econmicos. Surge essa proposta em texto constitucional que tem vocao de permanncia, objetivando a necessidade de regular o respeito ao pluralismo, que permite a alternncia, no poder, das diversas foras polticas92 .

Nesse sentido Silva93 :

"O sistema financeiro nacional ser regulado em lei complementar. Fica valendo, como tal, pelo princpio da recepo, a Lei 4.595/64, que precisamente instituiu o sistema financeiro nacional. No , portanto, a Constituio que o est instituindo. Ela est constitucionalizando alguns princpios do sistema. Aquela lei vale, por conseguinte, como se lei complementar fosse."(44)

91

_____Constituio. Internet: Disponvel em: http://jus2.vol.com.br/doutrina/texto.asp.id+189>. Acessado em 06-07-10.

92 Constituio. Internet: Disponvel em: http://jus2.vol.com.br/doutrina/texto.asp.id+189>. Acessado

em 06-07-10.

93

SILVA, Jose Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. p. 44

http://jus2.vol.com.br/doutrina/texto.asp.id+189http://jus2.vol.com.br/doutrina/texto.asp.id+189

38

2.2.2 MERCADO FINANCEIRO

O mercado financeiro visa economia e as alternativas de

aplicao e captao de recursos financeiros. Sempre existiro indivduos e

empresas que poupam e, dispem de recursos financeiros excedentes, enquanto

outros necessitam de recursos financeiros alm do que possuem.

Batista 94conceitua o Sistema Financeiro como:

um conjunto de instituies e instrumentos financeiros que possibilitam a transferncia de recursos dos ofertadores ltimos para os tomadores ltimos e criam condies para que os ttulos tenham liquidez no mercado

A evoluo do sistema financeiro essencial para a evoluo

da prpria economia e desenvolvimento de uma nao, pois permite a otimizao da

produo ao antecipar a captao de recursos para aqueles que tencionem investir

alm de sua renda. A evoluo do sistema financeiro leva percepo do chamado

Mercado Financeiro organizado95.

Meirelles 96explica:

O mercado financeiro divide-se basicamente em duas categorias, levando-se em conta, principalmente, os prazos das operaes: Mercado de Credito: composto pelo conjunto de agentes e instrumentos financeiros envolvidos em operaes de prazo curto, mdio ou aleatrio. Mercado de Capitais: composto pelo conjunto de agentes e instrumentos financeiros envolvidos em operaes de prazo mdio, longo ou indeterminado.

Para Assaf Neto97, alm das categorias anteriormente

apresentadas, o mercado financeiro se divide, em: mercado monetrio, cujas

operaes se destinam a controlar a liquidez monetria da economia e envolvem,

basicamente, ttulos pblicos e CDIs (Certificados de Depsitos Interfinanceiros), e

94

BATISTA Jr., P.N. (2000) A Economia como ela ... So Paulo, Editorial Boi tempo, 2000, p. 126.

95 OLIVEIRA, Silas Marques de. Marketing e sua aplicao em bibliotecas: uma abordagem

preliminar. Ciencia da Informao, vol.14, n.2, p.139, jul./dez.1985.

96 MEIRELLES, H.L.Direito Administrativo Brasileiro. So Paulo: Malheiros Ed.32 Ed. 2006,p.615.

97 ASSAF NETO, Alexandre. Mercado Financeiro. 6. Ed. So Paulo: Atlas, 2005, p.165.

39

em mercado cambial, no qual ocorrem as operaes de compra e venda de moedas

internacionais conversveis.

Mosqueira98 assevera:

Como a instituio financeira parte na intermediao, ela pode atuar como sujeito ativo ou passivo nas operaes realizadas. Se o banco est na posio de devedor, ou seja, se recebe recursos e, portanto, tem a obrigao de devolver no futuro o valor recebido, eventualmente acrescido de juros, tem-se uma operao passiva. Porm, se o banco empresta os recursos a um tomador e passa a ter direito de receber no futuro o valor emprestado acrescido de juros, tem-se uma operao ativa. Depsito e conta corrente so exemplos de operaes passivas, enquanto emprstimo, financiamento e desconto so exemplos de operaes ativas.

Nesse mercado, tambm denominado mercado de crdito,

realiza-se a atividade bancria por excelncia, a intermediao financeira, e as

instituies financeiras podem cumprir a importante funo social e econmica de

otimizar a utilizao dos recursos financeiros, alocando a poupana popular de

forma eficiente, para gerar desenvolvimento.99

2.2.3 MERCADO DE CAPITAIS

O mercado de capitais abrange as operaes financeiras

exercidas pelo banco comandado pelo banco central, onde so efetuadas as

transaes bancrias, como o emprstimo, cadernetas de poupana, etc.

Nesse mercado, as operaes so em geral efetuadas

diretamente entre poupadores e tomadores, de modo que a instituio financeira no

atua, em regra, como parte na operao, mas como auxiliar, e cobra uma comisso

por facilitar a realizao dos negcios. A instituio financeira no capta nem

98

MOSQUEIRA, Roberto Quiroga. Tributao no Mercado Financeiro e de capitais. So Paulo: Dialetica, 1998, p. 17.

99 COVELLO, Sergio Carlos. Contratos bancrios. So Paulo: LEUD, 1999, p. 38.

40

empresta recursos em nome prprio; ela ajuda o tomador a captar recursos

diretamente.100

Para Mosqueira101 :

As operaes mobilirias tm o aval do banco central. Esse mercado abrange, basicamente, o conjunto de operaes com valores mobilirios, tais como aes e debntures. Essas operaes realizam-se principalmente em bolsas de valores e mercados de balco. Em virtude da mera colaborao da instituio financeira, costuma-se identificar o mercado de capitais com o conceito de desintermediao financeira, fenmeno que consiste na reduo do nmero de participantes em cada transao.

Por fim, cabe observar que, nesse mercado, predominam as

operaes de renda varivel, que se caracterizam pelo conhecimento do resultado

nominal e real apenas na data da venda do papel.

Existem, ainda, no que se denomina mercado privado, as

negociaes efetuadas diretamente entre tomadores e poupadores, sem

intermediao ou colaborao de instituio financeira. Um exemplo um contrato

de mtuo entre duas pessoas fsicas. Nesse caso, no h que se falar em mercado

financeiro ou mercado de capitais.102

No Brasil o mercado financeiro vive basicamente da emisso e

compra e venda de ttulos financeiros, devido alta taxa de juros. O governo federal

tambm recorre a eles com freqncia, usando-os para alongar o perfil tanto da

divida interna como da externa.

Para Costa Jr103, o governo para preservar a economia, teve a

necessidade de disciplinar esse mercado.

100

ASSAF NETO, Alexandre. Mercado financeiro. p. 86

101 MOSQUEIRA, Roberto Quiroga.Tributao no mercado financeiro e de capitais. p. 21.

102 VAN HORNE, James Carter. Funes e anlise das taxas de mercado de capitais. So Paulo:

Atlas, 1972, p. 16-19. COMISSO

103 COSTA JR, Paulo Jose da. Queijo, M. Elizabeth;Machado, Charles M. Crimes do Colarinho

Branco.p.43.

41

Dispe o art. 2 da Lei n. 4728 que o Conselho Monetrio Nacional e o Banco Central exercero as suas atribuies legais relativas ao mercado financeiro e de capitais com a finalidade de: I facilitar o acesso do pblico a informaes sobre os ttulos ou valores mobilirios distribudos no mercado e sobre as sociedades que os emitirem; II proteger os investidores contra emisses ilegais ou fraudulentas de ttulos ou valores mobilirios; III evitar modalidades de fraude e manipulao destinadas a criar condies artificiais da demanda, oferta ou preo de ttulos ou valores mobilirios distribudos no mercado; IV assegurar a observncia de prticas comerciais equitativas por todos aqueles que exeram, profissionalmente, funes de intermediao na distribuio ou negociao de ttulos ou valores mobilirios [...].

preciso leis rgidas para controlar o sistema financeiro e

garantir a lisura de suas aes.

Costa Jr104, explica:

Com relao interveno e liquidao extrajudicial das instituies financeiras quando se fizer necessria regulada pela Lei n. 6024 de 3-3-1974, levando-se em considerao a definio de instituio financeira dada pela Lei n. 4.595 de 31-12-1964, mais recentemente o sistema financeiro conheceu um terceiro tipo de interveno, o regime de administrao especial, que foi institudo pelo Decreto-lei n. 2.321 de 25-12-197 a fim de proteger as instituies financeiras pblicas e provadas contra gestes temerrias e fraudulentas capazes de colocar em risco os credores e os depositantes.

No mbito nacional, existe apenas um departamento do

Tesouro com poder para emitir ttulos e valores a curto e a longo prazo.

CONCEITO DE INSTITUIO FINANCEIRA

A instituio conforme o dicionrio Aurlio a associao ou

organizao de carter social, educacional, filantrpico, etc. J a instituio

financeira conforme Ceneviva105 :

104

COSTA JR, Paulo Jos da; QUEIJO, M. Elizabeth; MACHADO, Charles M. Crimes do Colarinho Branco. p 46.

42

Instituio financeira, em definio, uma organizao estruturada e coordenada, prevista em lei ou regulamento legalmente autorizado, com objetivo e finalidade de, mediante atividade peculiar de gerenciamento de recursos prprios e/ou de terceiros, prover meios pecunirios para financiar a aquisio de bens e servios, a realizao de empreendimentos, a cobertura de despesas pessoais ou gerais, a manuteno de capital de giro, o abatimento de dvidas preexistentes e as demais atividades inerentes vida econmica das pessoas fsicas e jurdicas de Direito pblico e privado.

As entidades referidas no incio deste item apresentam a

peculiaridade do lucro stricto sensu nas operaes de financiamento, na medida em

que lhes permitido cobrar juros alm da taxa-limite de remunerao do capital,

legalmente adequada.

Silva106 compreende um dos aspectos:

A assertiva pode ser confirmada em primeiro, pela excluso preconizada no art. 17 do Decreto n. 22.626/33: O governo federal baixar uma lei especial, dispondo sobre as casas de emprstimos, sobre penhores e congneres.

Monteiro107 compreende outro aspecto:

Pelo entendimento firmado na Smula n. 596 do Supremo Tribunal Federal, in verbis: As disposies do Decreto n. 22.626/33 no se aplicam s taxas de juros e aos outros encargos cobrados nas operaes realizadas por instituies pblicas ou privadas que integram o Sistema Financeiro Nacional.

Assim, consideramos como instituio financeira os bancos,

estabelecimentos de seguro, cooperativas de crdito entre elas.

Oliveira108 por fim consigne-se:

105

CENEVIVA, Walter. Segredos Profissionais. So Paulo: Malheiros, 1996, p.126.

106 SILVA, De Plcido e. Vocabulrio Jurdico. 4 v.v III.Rio de Janeiro: Forense, 1991, p.63.

107 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil. 11 ed. So Paulo: Saraiva 1972,

p.101.

108 OLIVEIRA, Leonardo H.M. Moraes. Instituies Financeiras. Internet. Disponvel em:

http//:www.cjf.jus.br/revista/numero9/artigo16.htm> Acessado em 27/07/10.

43

Que o Banco Central do Brasil no pode ser considerado como instituio financeira. A uma, porque no h disposio legal nesse sentido; a duas, porque, tecnicamente, o Banco Central no tem como funo exercer atividade financeira. A funo daquela Autarquia Federal , nesse particular, zelar pela higidez e integridade do Sistema Financeiro Nacional e das demais entidades submetidas Lei Bancria, sendo certo que, nos limites e sob vinculao do exerccio de sua indispensvel ao governamental, eventualmente financia uma instituio financeira bancria (Lei n. 4.595/64, art. 10, inc. IV). Vale dizer, a atividade de concesso de financiamento no integra a destinao especial da Autarquia, mas apenas um leque de inmeros atos governamentais coordenados e destinados ao cumprimento dos papis de fiscalizao, superviso e zelo.

Existem algumas questes que andam em desacordo com as

decises administrativas. Conforme Covello109:

Dentre as questes que mais geram controvrsia no Direito Econmico e expem indesejvel desuniformidade tanto as decises administrativas quanto as judiciais, est a da definio de "instituio financeira" e, especialmente, a da definio do que seja "atividade prpria ou exclusiva de instituio financeira".

O Sistema financeiro nacional foi formado para promover o

equilbrio e o desenvolvimento do pas, para que possa servir aos interesses da

populao, sendo regulado pelo governo.

2.3.1 CONCEITO DE INSTITUIO FINANCEIRA POR EQUIPARAO

Pimentel110 confirma a seu turno, o art. 1 da Lei n. 7.492/86

conceitua a instituio financeira para fins penais como:

(...) a pessoa jurdica de Direito pblico ou privado, que tenha como atividade principal ou acessria, cumulativamente ou no, a

109

COVELLO, Sergio Carlos. O sigilo bancrio. So Paulo: Universidade de Direito, 1991,

110 PIMENTEL, Manoel Pedro. Crimes Contra o Sistema Financeiro Nacional. So Paulo: Revista

dos Tribunais, 1987, p. 96.

44

captao, intermediao ou aplicao de recursos financeiros (vetado) de terceiros, em moeda nacional ou estrangeira, ou a custdia, emisso, distribuio, negociao, intermediao ou administrao de valores mobilirios.

Pargrafo nico equipara instituio financeira:

I a pessoa jurdica que capte ou administre seguros, cmbio, consrcio, capitalizao ou qualquer tipo de poupana, ou recursos de terceiros;

II a pessoa natural que exeram quaisquer das atividades referidas neste artigo, ainda que de forma eventual.

O art. 17 da Lei n. 4.595 de 31-3-1964, conhecida como Lei de

Reforma Bancria, considera instituio financeira qualquer pessoa jurdica que

tenha como atividade principal ou acessria a coleta, intermediao ou aplicao de

recursos prprios ou de terceiros e a custdia de valores de terceiros.

Costa Jr111 enfatiza:

A Lei n. 7.492/86, por sua vez, pune com pena de recluso o indivduo que "faz operar" instituio financeira sem a devida autorizao do Banco Central do Brasil (art. 16). Todavia, a jurisprudncia, e mesmo os ementrios da Administrao Pblica, evidenciam discrepncias na conduo do caso e na aplicao de sanes, todas fulcradas, ou de alguma forma decorrentes da vexata quaestio referida no incio deste texto.

As instituies financeiras somente podero funcionar no Pas

mediante prvia autorizao do Banco Central do Brasil ou decreto do Poder

Executivo, quando forem estrangeiras.112

1 Alm dos estabelecimentos bancrios oficiais ou

privados, das sociedades de crdito, financiamento e investimento, das caixas

econmicas e das cooperativas de crdito ou a seo de crdito das cooperativas

111

COSTA JR, Paulo Jos da QUEIJO, M. Elizabeth; MACHADO, Charles M. Crimes do Colarinho Branco. p.29

112 SILVA, DE Plcido e. Vocabulrio Jurdico. 4. v.v.III. Rio de Janeiro: Forense, 1999, p. 62.

45

que a tenham, tambm se subordinam s disposies e disciplina desta Lei, no que

for aplicvel s bolsas de valores, s companhias de seguros e de capitalizao, s

sociedades que efetuam distribuio de prmios em imveis, mercadorias ou

dinheiro, mediante sorteio de ttulos de sua emisso ou por qualquer forma, e s

pessoas fsicas ou jurdicas que exeram, por conta prpria ou de terceiros,

atividade relacionada com a compra e venda de aes e outros quaisquer ttulos,

realizando nos mercados financeiros e de capitais operaes ou servios de

natureza dos executados pelas instituies financeiras.113

2.4 FUNES DO BANCO CENTRAL

O Banco Central do Brasil, BACEN, foi criado em 1964 em

substituio Sumoc, para atuar como rgo executivo central do sistema financeiro

do pas, cabendo-lhe cumprir e fazer cumprir as disposies que regulam o

funcionamento desse sistema e as normas expedidas pelo CMV.

No de entendimento Lopes114, atualmente so da privativa

competncia do BACEN as seguintes atribuies:

emitir papel moeda metlica, nas condies e limites programados pelo CMN; b) Executar servios do meio circulante; c) receber recolhimentos compulsrios dos bancos comerciais e os depsitos voluntrios das instituies financeiras, bancarias e no bancarias que operam no pas; d) realizar operaes de redesconto e emprstimo s instituies financeiras que operam no pas, sejam em decorrncia de aplicaes seletivas definidas pela poltica econmica do governo, sejam em decorrncia de necessidades de caixa momentaneamente manifestadas por essas instituies; e) regular a execuo dos servios de compensao de cheques e outros papis; f) efetuar, como instrumento de poltica monetria, operaes de compra e venda de ttulos pblicos federais; g) emitir ttulos de responsabilidade prpria, de acordo com condies estabelecidas pelo CMN; h) exercer controle do credito sob todas as suas formas; i) exercer a fiscalizao das instituies financeiras, aplicando-lhes as penalidades previstas; j)conceder autorizao s instituies financeiras a fim de que possam: a) Funcionar no pas; b) instalar ou transferir suas sedes, ou dependncias, inclusive no exterior; c) ser transformadas, fundidas, incorporadas ou encampadas; d) praticar operaes de cambio, de credito de compra

113

SILVA, DE Plcido e. Vocabulrio Jurdico. p. 63. 114

LOPES, Joo do Carmo e ROSSETTI, Jose Paschoal. Economia Monetria.p. 89

46

e venda habitual de ttulos de divida publica federal, estadual ou municipal, de aes, de debntures, de letras hipotecarias e de outros ttulos de credito ou imobilirios; e) ter prorrogado os prazos concedidos para funcionamento e; f) alterar seus estatutos.

Em sntese, dado esse elenco de atribuies, o Bacen pode ser

considerado no entender de Lopes 115:

a)Banco dos bancos: medida que recebe, com exclusividade, os depsitos compulsrios dos bancos comerciais, fornece emprstimos de liquidez e redescontos para atender s necessidades imediatas das instituies financeiras e regulamenta o funcionamento dos servios de compensao de cheques e outro papis;

b) superintendente do sistema financeiro nacional: medida que adapta seu desenvolvimento e os fundos e programas especiais por ele administrados s reais necessidades e transformaes verificadas na economia do pas, baixando normas, fiscalizando e controlando as atividades das instituies financeiras, concedendo autorizao para seu funcionamento e decretando interveno ou liquidao extrajudicial dessas instituies;

c) executor da poltica monetria; medida que regula a expanso dos meios de pagamento, elaborando o oramento monetrio e utilizando os instrumentos de poltica monetria (administrao das taxas dos recolhimentos compulsrios, dos redescontos de liquidez e das operaes de compra e venda de ttulos pblicos no mercado aberto);

d) banco emissor: medida que detm o monoplio de emisso do papel-moeda e da moeda metlica e executa os servios de saneamento do meio circulante;

e) banqueiro do governo: medida que o Tesouro Nacional, mediante a colocao de ttulos pblicos, administra a dvida pblica interna e externa, depositrio e administrador das reservas internacionais do pas e executa as operaes ligadas a organismos financeiros internacionais.

Desse modo, o Banco Central o rgo que fiscaliza e regula

os mercados financeiros e de capitais, o qual compete assegurar a necessria

confiabilidade no Sistema Financeiro Nacional e, em ltima anlise, o xito da

poltica econmica do Governo Central116

115

LOPES, Joo do Carmo, ROSSETTI, Jose Paschoal. Economia Monetria. p, 446.

116 SILVA, Paulo Cezar da. Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional. 2006, p. 27.

47

2.4.1 CAPTAO

Como o Banco do Brasil o principal executor dos servios

bancrios de interesse do Governo Federal, ele deve receber em depsito com

exclusividade, as disponibilidades de quaisquer entidades federais compreendendo

as reparties de todos os ministrios civis e militares, instituies de previdncia e

outras autarquias, comisses, departamentos, entidades em regime especial de

administrao e quaisquer pessoas fsicas ou jurdicas responsveis por

adiantamentos, ressalvados os depsitos nas caixas econmicas federais, as

excees previstas em lei ou casos especiais, expressamente autorizados pelo

Conselho Monetrio Nacional117.

Ele deve executar os servios de compensao, de cheques e

outros papis, receber com exclusividade os depsitos referentes s entradas de

capital das sociedades por aes em organizao.118

Elton119 afirma:

A obrigatoriedade da presena concomitante da coleta , data vnia, pouco conveniente, posto que excluiria da ilicitude as concesses de emprstimos respaldadas por recursos prprios da pessoa fsica ou jurdica financiadora. Permiti-lo implicaria em apreciar uma mesma conduta financiar - sob dois aspectos diferentes, em razo de uma questo secundria como a origem dos recursos emprestados.

A atividade de captar recursos junto a entidades econmicas

superavitrias e repass-las s unidades econmicas deficitrias chamado de

mediao.

117

COSTA JR, Paulo Jos; QUEIJO, M. Elizabeth; MACHADO, Charles M. Crimes do Colarinho Branco. p, 41.

118 COSTA JR, Paulo Jos; QUEIJO, M. Elizabeth; MACHADO, Charles M. Crimes do Colarinho

Branco. p.41

119 ELTON, E.J. et al. Moderna Teoria de Carteiras e Anlise de investimentos. So Paulo: Atlas,

2004, p.44

48

Monteiro120 explica:

A atividade de intermediao financeira nasceu da necessidade da destinao eficiente dos recursos financeiros disponveis dos diversos agentes econmicos superavitrios aos diversos agentes econmicos deficitrios. As operaes financeiras de transferncia de recursos dos agentes econmicos superavitrios para os deficitrios poderiam ser diretas, entretanto, os agentes econmicos superavitrios, em sua maioria, no tm como foco de suas atividades a destinao de seus recursos excedentes, com vistas a financiamento dos agentes econmicos deficitrios. nessa lacuna entre agentes econmicos superavitrios e deficitrios que surge o intermedirio financeiro.

2.4.2 INTERMEDIAO

Existe a autorizao para o funcionamento das instituies

financeiras, assegurado s instituies bancrias oficias e privadas acesso a todos

os instrumentos do mercado financeiro bancrio.

Para Monteiro121:

Os bancos comerciais so financiadores e tem por natureza emprestar quaisquer recursos que no so vinculados em sua atividade cotidiana. Nem todos os estabelecimentos bancrios so, no entanto de propriedade dos depositantes ou investidores. o caso do cheque especial e a remunerao de servios bancrios que debitada em conta de depsito. Esses recursos passam a integrar o patrimnio do banco e que sero emprestados aos tomadores.

Costa Jr122 traz no seu entendimento:

A intermediao no crdito vem a ser exatamente a tomada de dinheiro junto ao pblico, agindo aqui como emprestador, e o emprstimo desse mesmo dinheiro a outras pessoas, tomadoras de emprstimo.Existem ainda as condies para a participao do

120

MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil. 11 ed. So Paulo: Saraiva 1972, p. 82

121 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil. p. 82

122 COSTA JR, Paulo, Jose; Queijo, M. Elizabeth; MACHADO,