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OS CUSTOS DE UMA SST DEFICIENTE – PARA UMA ESTIMATIVA A NÍVEL DA UE-28 Reunião de peritos sobre o custo dos acidentes e problemas de saúde relacionados com o trabalho 1 Antecedentes O presente relatório descreve os trabalhos da reunião técnica que juntou peritos para analisarem a forma de obter uma estimativa dos custos de uma política de segurança e saúde no trabalho deficiente a nível da UE-28. A reunião tomou como base o projeto da EU-OSHA «Estimar os custos dos acidentes e problemas de saúde relacionados com o trabalho – Uma revisão das metodologias» (relatório e resumo traduzido para oito línguas disponíveis em: https://osha.europa.eu/en/topics/business-aspects-of-osh). Os custos dos acidentes e das doenças profissionais podem ser significativos. Na UE27, em 2007, 5580 acidentes no local de trabalho resultaram em mortes e 2,9 % dos trabalhadores sofreram um acidente no trabalho que resultou em mais de três dias de ausência. Além disso, cerca de 23 milhões de pessoas tiveram um problema de saúde originado ou agravado pelo trabalho ao longo de um período de 12 meses 1 . Não é tarefa fácil efetuar uma estimativa geral precisa dos custos que representam, para todas as partes envolvidas a nível nacional ou internacional, os acidentes e as doenças profissionais ocorridos devido a condições de segurança e saúde deficientes ou inexistentes. É vital, contudo, que os decisores políticos tenham noção do âmbito e da escala das condições de segurança e saúde no trabalho deficientes ou inexistentes para que implementem medidas efetivas neste domínio. O projeto mencionado acima, concluído em 2013, consiste numa análise de modelos de avaliação do impacto dos acidentes e problemas de saúde relacionados com o trabalho e pretende ser, para a EU- OSHA, o ponto de partida para a criação de um modelo à escala europeia que forneça estimativas a nível da UE-28. A reunião de peritos teve por objetivo debater as principais conclusões do projeto e, com base nelas, chamar a atenção para os fatores que a EU-OSHA deve ter em conta para o desenvolvimento de uma estimativa europeia: as limitações existentes, as possíveis formas de as superar e, de modo geral, a determinação da melhor abordagem metodológica a seguir. Durante a manhã foi apresentado o relatório da EU-OSHA e explicado o interesse de se dispor de uma estimativa europeia. Seguiu-se uma apresentação sobre o modelo australiano e a forma como este foi aplicado a outro país (Singapura) com o objetivo de destacar algumas questões relacionadas com a transferibilidade de metodologias entre países. A sessão da tarde centrou-se nas duas etapas fundamentais necessárias para fornecer uma estimativa quantitativa dos custos associados aos acidentes e às doenças profissionais: (1) a identificação do número de casos e (2) a aplicação de valores monetários aos casos identificados. A última sessão foi de trabalho em grupo, seguido de um debate geral para informação e encerramento da jornada. A reunião teve lugar nas instalações da Agência em Bilbau, em 19 de junho de 2014, com a presença de peritos que tiveram uma participação ativa ao longo de toda a reunião. A ordem do dia da reunião figura no Anexo 1, que inclui as hiperligações para as apresentações, e a lista de participantes consta do Anexo 2. As secções seguintes descrevem os principais pontos discutidos na reunião no âmbito de cada um dos pontos da ordem do dia. 1 Eurostat (2010), Health and safety at work in Europe (1999–2007): A statistical portrait [Saúde e Segurança no Trabalho na Europa (1999-2007): Um retrato estatístico]. Disponível em: http://epp.eurostat.ec.europa.eu/cache/ITY_OFFPUB/KS-31-09-290/EN/KS-31-09-290-EN.PDF (consultado em 21 de junho de 2013).

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OS CUSTOS DE UMA SST DEFICIENTE – PARA UMA ESTIMATIVA A NÍVEL DA UE-28

Reunião de peritos sobre o custo dos acidentes e problemas de saúde relacionados com o trabalho

1 Antecedentes O presente relatório descreve os trabalhos da reunião técnica que juntou peritos para analisarem a forma de obter uma estimativa dos custos de uma política de segurança e saúde no trabalho deficiente a nível da UE-28. A reunião tomou como base o projeto da EU-OSHA «Estimar os custos dos acidentes e problemas de saúde relacionados com o trabalho – Uma revisão das metodologias» (relatório e resumo traduzido para oito línguas disponíveis em: https://osha.europa.eu/en/topics/business-aspects-of-osh).

Os custos dos acidentes e das doenças profissionais podem ser significativos. Na UE27, em 2007, 5580 acidentes no local de trabalho resultaram em mortes e 2,9 % dos trabalhadores sofreram um acidente no trabalho que resultou em mais de três dias de ausência. Além disso, cerca de 23 milhões de pessoas tiveram um problema de saúde originado ou agravado pelo trabalho ao longo de um período de 12 meses1.

Não é tarefa fácil efetuar uma estimativa geral precisa dos custos que representam, para todas as partes envolvidas a nível nacional ou internacional, os acidentes e as doenças profissionais ocorridos devido a condições de segurança e saúde deficientes ou inexistentes. É vital, contudo, que os decisores políticos tenham noção do âmbito e da escala das condições de segurança e saúde no trabalho deficientes ou inexistentes para que implementem medidas efetivas neste domínio.

O projeto mencionado acima, concluído em 2013, consiste numa análise de modelos de avaliação do impacto dos acidentes e problemas de saúde relacionados com o trabalho e pretende ser, para a EU-OSHA, o ponto de partida para a criação de um modelo à escala europeia que forneça estimativas a nível da UE-28.

A reunião de peritos teve por objetivo debater as principais conclusões do projeto e, com base nelas, chamar a atenção para os fatores que a EU-OSHA deve ter em conta para o desenvolvimento de uma estimativa europeia: as limitações existentes, as possíveis formas de as superar e, de modo geral, a determinação da melhor abordagem metodológica a seguir.

Durante a manhã foi apresentado o relatório da EU-OSHA e explicado o interesse de se dispor de uma estimativa europeia. Seguiu-se uma apresentação sobre o modelo australiano e a forma como este foi aplicado a outro país (Singapura) com o objetivo de destacar algumas questões relacionadas com a transferibilidade de metodologias entre países. A sessão da tarde centrou-se nas duas etapas fundamentais necessárias para fornecer uma estimativa quantitativa dos custos associados aos acidentes e às doenças profissionais: (1) a identificação do número de casos e (2) a aplicação de valores monetários aos casos identificados. A última sessão foi de trabalho em grupo, seguido de um debate geral para informação e encerramento da jornada.

A reunião teve lugar nas instalações da Agência em Bilbau, em 19 de junho de 2014, com a presença de peritos que tiveram uma participação ativa ao longo de toda a reunião.

A ordem do dia da reunião figura no Anexo 1, que inclui as hiperligações para as apresentações, e a lista de participantes consta do Anexo 2. As secções seguintes descrevem os principais pontos discutidos na reunião no âmbito de cada um dos pontos da ordem do dia.

1 Eurostat (2010), Health and safety at work in Europe (1999–2007): A statistical portrait [Saúde e Segurança no

Trabalho na Europa (1999-2007): Um retrato estatístico]. Disponível em: http://epp.eurostat.ec.europa.eu/cache/ITY_OFFPUB/KS-31-09-290/EN/KS-31-09-290-EN.PDF (consultado em 21 de junho de 2013).

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2 Introdução – Projeto atual e perspetivas futuras William Cockburn, Chefe em exercício da Unidade «Prevenção e Investigação» (EU-OSHA), fez uma apresentação geral da EU-OSHA. Na sua intervenção, concentrou-se no projeto atual, que fornece uma panorâmica geral das estimativas dos custos dos acidentes e problemas de saúde relacionados com o trabalho e, mais importante ainda para o propósito da reunião de peritos, revelou também os futuros planos para a EU-OSHA neste domínio concreto, a saber, as novas atividades no domínio dos benefícios da SST, que visa estabelecer uma estimativa a nível da UE-28.

3 A necessidade de uma estimativa a nível da UE-28 Jadwiga Tudek (Comissão Europeia, DG Emprego, Assuntos Sociais e Inclusão) contextualizou a importância de que tal estimativa se reveste para a Comissão Europeia. Começou por invocar o Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia (TFUE), cujo artigo 153.º estabelece a melhoria do ambiente de trabalho, a fim de proteger a saúde e a segurança dos trabalhadores. Em seguida, passou em revista as diferentes iniciativas em vigor a nível da UE que beneficiariam com a existência de tal estimativa, em particular o recentemente publicado quadro estratégico da UE para a saúde e segurança no trabalho (2014-2020), que menciona explicitamente a necessidade de se dispor, até 2016, de uma avaliação dos custos e benefícios, assim como a avaliação em curso da aplicação prática das diretivas da UE relativas à saúde e à segurança no trabalho nos Estados-Membros da UE e as análises de impacto.

Após a apresentação, os participantes discutiram a questão dos níveis de conformidade, tendo alguns deles admitido considerar que se demonstra maior empenho em definir os limites do que em verificar os níveis de conformidade. Admitiu-se que esta situação se pode dever, em grande medida, à falta de dados comparáveis a nível dos países, sendo essa uma das razões pelas quais o novo quadro estratégico da UE para a saúde e segurança no trabalho faz especificamente referência à necessidade de se dispor de dados de boa qualidade. No que se refere à conformidade, porém, a principal conclusão genérica é a de que, em geral, os níveis exigidos são cumpridos mas que isso também se deve, em grande medida, ao facto de não existirem dados disponíveis. Dispor de modelos e dados de qualidade que forneçam informações fiáveis sobre os custos – incluindo os investimentos necessários no domínio da SST – proporcionaria uma base de ação, não para comparar países, mas para monitorizar a evolução ao longo do tempo.

4 Apresentação do relatório da EU-OSHA Xabier Irastorza (EU-OSHA) fez uma apresentação geral do projeto, explicando os seus antecedentes, os principais objetivos e a metodologia subjacente à revisão dos modelos. Destacou as duas etapas para uma estimativa correta, a saber, (1) a identificação do número de casos e (2) a aplicação de valores monetários aos casos identificados, descrevendo em seguida os tipos de custos a ter em consideração e as diferentes partes interessadas que os suportam. Salientou alguns dos principais pontos do exercício de modelização, assim como os prováveis desafios que se colocarão ao futuro projeto relativo aos benefícios da SST, que visa estabelecer uma estimativa a nível da UE-28.

A discussão centrou-se em alguns dos desafios mencionados na apresentação. No que se refere ao valor da qualidade de vida, a Organização Mundial da Saúde (OMS) realizou um estudo com o objetivo de determinar quanto estariam as pessoas dispostas a pagar para preservar a sua qualidade de vida. O valor médio – ou o custo em termos de dias de trabalho – foi fixado em 6000 dias para o caso de Singapura. Poder-se-ia, certamente, ter em conta o vasto trabalho realizado pela OMS nesta matéria. Alguns trabalhos de investigação realizados também na Nova Zelândia relativamente a esta questão específica estimam que os custos da dor e do sofrimento representam, para a sociedade, 95 % dos custos globais totais de uma política de SST deficiente, sendo, por conseguinte, indispensável contabilizá-los.

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Mencionou-se igualmente a importância de ter em mente as variáveis medidas pelo PIB e questionar se podemos realmente calcular os custos de uma SST deficiente em percentagem do PIB, já que estes indicadores não medem a mesma coisa. Chamou-se a atenção para o facto de que, na tentativa de quantificar o impacto de uma política de SST deficiente, poderá fazer mais sentido considerar a taxa de lesões/doenças por trabalhador e por setor.

No que concerne ao debate sobre a prevalência vs. incidência, argumentou-se que o método da prevalência apresenta valores mais elevados, não só porque tem em conta os casos existentes com origem em anos anteriores, mas também porque se verificavam mais acidentes no passado. A incidência dá-nos conta das condições de trabalho atuais, mas, ao utilizar a abordagem baseada na incidência, temos uma subnotificação de casos passados pelos quais ainda estamos a pagar. A latência dificulta a contabilização correta dos casos, e a opção entre a incidência e a prevalência não é uma decisão muito clara – dependerá muito dos dados disponíveis –, mas pode argumentar-se que a prevalência nos proporciona uma imagem mais real, uma vez que mede os casos já em curso e os custos reais atuais, independentemente do momento em que esses casos ocorreram realmente.

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5 Modelo de cálculo de custos australiano Richard Webster (Safe Work Australia) apresentou o modelo australiano, amplamente reconhecido como um dos modelos de estimativas mais fiáveis a nível internacional. Um dos pontos que salientou, como já foi referido supra, foi a necessidade de estar ciente do que a estimativa nos diz: é realmente uma medida que dá alguma perspetiva, como meio de comparação, mas não é a perda real do PIB ou a perda de dinâmica da atividade económica. O modelo tem em conta aspetos diferentes e, embora alguns deles possam resultar em detrimento dos resultados em matéria de SST, favorecem certamente o crescimento do PIB. Insistiu ainda na necessidade de incluir também os custos da conformidade com os regulamentos em matéria de segurança e saúde no trabalho. Aguarda-se uma nova estimativa australiana em janeiro de 2015, muito provavelmente referente ao exercício de 2012-2013.

Em princípio, a estimativa do número de casos deve ser efetuada independentemente da metodologia de cálculo dos custos reais, dado tratar-se de diferentes etapas do processo e porque o cálculo dos custos deve aplicar-se diretamente às informações sobre o número de casos – que devem, idealmente, ser disponibilizadas com brevidade. A estimativa australiana adota uma abordagem baseada na incidência e não inclui danos materiais, desde que estes não tenham efeitos para os seres humanos.

O modelo tem em conta os trabalhadores que tenham estado ausentes do trabalho durante uma semana, tendo presentes as diferentes situações entre os estados, o que conduz a uma subnotificação. Foram identificados quatro tipos de doenças claramente relacionadas com o trabalho e os dados mostram que, embora se tenha verificado um aumento do número de doenças, houve uma diminuição do número de casos permanentes.

A taxa de desconto aplicada no modelo foi calculada com base nos custos de oportunidade – tendo em conta as taxas monetárias oficiais previstas pelas obrigações de longo prazo – e nas taxas de inflação. O orador concluiu acrescentando que o aumento verificado na percentagem dos custos totais suportados pelos trabalhadores está diretamente ligado a um aumento dos salários.

A discussão que se seguiu à apresentação centrou-se na diversidade dos regimes de indemnização dos diferentes Estados-Membros da UE e na forma como esta diversidade deverá ter impacto no potencial de comparabilidade das estatísticas nacionais existentes. Tendo isto em mente, argumentou-se que, em vez de se colocar o enfoque na indemnização, este deveria antes incidir no número de anos perdidos, e que a taxa de desconto deverá ter em conta a evolução dos salários. A repartição dos custos por quem os suporta diferirá certamente segundo os países – por exemplo, os empregadores na Austrália têm uma participação nos custos totais inferior à dos empregadores no Reino Unido.

Discutiu-se a questão de saber em que medida é correto presumir que as taxas de produtividade sobem e de que modo têm os modelos em conta a percentagem crescente de trabalhadores mais velhos, que terão sofrido várias doenças ao longo da vida. No entanto, e apesar de a produtividade individual poder baixar, é grande a probabilidade de a produtividade global para a sociedade aumentar com o passar do tempo.

6 Transferência de modelos entre países – uma experiência recente da metodologia australiana em Singapura

Jukka Takala (Instituto Nacional para a Segurança e Saúde no Trabalho, Singapura) apresentou a estimativa de Singapura, que se baseia na metodologia australiana. A estimativa global para Singapura é mais baixa do que para a Austrália, o que se deve em grande medida à diferença salarial entre os dois países.

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Reiterando o que já fora dito, o orador insistiu na conveniência de as estimativas terem efetivamente em conta os custos da dor e do sofrimento, já que estes representam uma parte importante do custo final para a sociedade – na Nova Zelândia foi desenvolvido um amplo trabalho sobre esta matéria.

É fundamental determinar durante quanto tempo as pessoas permanecem no mercado de trabalho, uma vez que a percentagem das pessoas que se reformam antes dos 55 anos varia de país para país, o que tem naturalmente impacto na sociedade e no funcionamento dos sistemas de segurança social. O orador elogiou o modelo do Reino Unido, salientando contudo o facto de parecer verificar-se uma certa subnotificação dos acidentes nos valores britânicos.

Por último, no que se refere ao impacto dos projetos de desenvolvimento de estimativas dos custos, adiantou que alguns países já adotaram medidas – na Noruega o quadro legal foi alterado na sequência do respetivo projeto, tendo em vista uma distribuição mais equitativa dos encargos entre as diferentes partes interessadas. Seguiram-se alguns comentários a respeito desta questão, defendendo a utilidade de fornecer uma panorâmica dos custos suportados por cada uma das partes interessadas a fim de melhor informar as decisões políticas.

Os participantes debateram os desafios que a transferência de conclusões entre países coloca devido às suas diferentes estruturas setoriais. Foi consensual que é necessária uma avaliação da desagregação por setor nos diversos países, o que poderá dar lugar à formação de diferentes agrupamentos de países em função da sua estrutura económica. Estes grupos poderiam então constituir o centro do exercício de modelização, dado considerar-se muito complexo levar a cabo este projeto para cada um dos Estados-Membros. Além disso, é importante ter em conta a diferente composição etária dos países, tendo presente a capacidade de trabalho e a idade da reforma, de modo a refletir essa diferença.

Em linha com a discussão sobre o PIB e as diferenças existentes entre países, chamou-se também a atenção para a conveniência de a estimativa a nível da UE avaliar as transações intra UE a fim de melhor determinar o que reflete o PIB e de que modo os fatores de produção de outros países são tidos em conta em cada PIB nacional. Além disto, e tal como já fora dito anteriormente, referiu-se que, embora o cálculo dos custos seja útil e interessante, a sua apresentação como uma fração do PIB poderá não ser a melhor e mais sólida forma de prosseguir.

Teceram-se também alguns comentários a respeito da relação entre o ciclo económico e os resultados em matéria de SST, a qual é necessário analisar e ter em conta para efeitos da modelização. Isto deve-se em grande medida ao facto de o aumento da atividade económica poder conduzir a um aumento do número de acidentes, mas é de esperar que, a partir de determinado momento, graças à adoção de medidas de prevenção e a uma maior consciencialização na sequência de uma mudança de atitude das pessoas, as taxas de acidentes diminuam. Esta mudança de atitude é importante e, com a melhoria da atividade económica, poderá esperar-se um aumento da consciencialização.

O Sr. Takala apresentou ainda um projeto sobre as estimativas, a nível global, dos custos originados pelas lesões e doenças profissionais, que utilizou dados do Eurostat relativos ao conjunto da UE, mas ajustados por dados nacionais. No que se refere às doenças relacionadas com o trabalho, foi utilizado o método das frações atribuíveis, como no caso da Finlândia, mas desta feita para o conjunto da UE. Estabelecer a fração atribuível a utilizar é uma decisão que cumpre tomar e que, como tal, deve ser devidamente documentada e justificada. No que concerne ao cancro relacionado com o trabalho, foram tidos em conta os dados da base CAREX (CARcinogen EXposure), mas há outros fatores de risco de cancro, para além dos produtos químicos, que devem igualmente ser considerados.

7 Contabilização dos casos – relação com o trabalho Heidi Edwards (Health and Safety Executive, HSE) apresentou o modelo britânico realizado pelo HSE, centrando-se na primeira etapa do processo de modelização, ou seja, a contabilização dos casos de acidentes e doenças relacionados com o trabalho. Explicou que em 2006/2007 foi efetuada uma revisão metodológica importante que teve impacto no número de casos e respetiva gravidade, mas que, em todo o caso, é provável que seja necessário alterar e atualizar constantemente o modelo em função do aparecimento de dados ou investigações adicionais. Isso aplicar-se-ia, por exemplo, ao valor monetário da dor, que sempre se procurou incluir e refletir no modelo.

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No que se refere aos casos de cancro relacionados com o trabalho, deverá estar concluído para 2014/2015 um modelo de custo relativo ao cancro, que, caso se encontrem disponíveis dados de boa qualidade, também poderia ser utilizado para outras doenças de latência prolongada.

A qualidade dos dados, precisamente, é motivo de grande preocupação, porque constitui uma etapa fundamental do processo. Por exemplo, decidiu-se deixar de fora do modelo os acidentes que não provocam lesões devido à má qualidade dos dados existentes. Do mesmo modo, o relatório oficial relativo às lesões é bom no que se refere aos casos fatais, mas existe uma clara subnotificação de casos não fatais. É importante lembrar aqui que as lesões cuja comunicação não é obrigatória são as que motivam ausências do trabalho por um período inferior a sete dias – correspondem a números elevados em termos absolutos, mas baixos em termos de custos.

Por último, ter uma estimativa das pessoas que não voltarão a trabalhar representa um grande desafio.

8 Contabilização dos custos Michael Zand (Health and Safety Executive, HSE) centrou a sua apresentação na segunda etapa do processo, ou seja, a contabilização dos custos. O principal princípio metodológico subjacente à contabilização é a utilização dos custos de oportunidade.

Consideram-se como principais componentes dos custos a perda de qualidade de vida – tal como já salientado supra – e os custos de produtividade, associados principalmente ao absentismo. O «presentismo» – os efeitos negativos sobre a produtividade resultantes do facto de estar presente no local de trabalho com incapacidade parcial devido a acidente/doença – constitui uma parte significativa do impacto sobre a produtividade, mas é muito difícil de estimar, razão por que apenas deverá ser incluído se estiverem disponíveis uma metodologia e uma fonte de dados satisfatórias.

Os custos de conformidade também não estão incluídos e é difícil avaliá-los. Os prémios de seguro estão incluídos como custos para os empregadores.

Após a sua apresentação foi feito um comentário sobre as estimativas existentes relativamente à perda de qualidade de vida no setor dos transportes rodoviários, que são ex-ante, antes do acontecimento – por exemplo, um acidente rodoviário com consequências fatais. Poder-se-á argumentar que o grau de transferibilidade entre países nesta matéria é limitado, mas tanto a UE como a OCDE possuem estimativas. Houve comentários idênticos a respeito das diferenças existentes entre países no que se refere aos cuidados de saúde e aos regimes de indemnização, tendo-se salientado o facto de estas diferenças poderem dificultar o exercício de cálculo dos custos.

9 Debate geral – trabalho em grupo Após as apresentações plenárias, os participantes dividiram-se em dois grupos para debater em maior profundidade os principais desafios metodológicos e os fatores que a EU-OSHA deve ter em conta para a criação de uma estimativa para a UE-28. Nesta secção apresenta-se um resumo das discussões ocorridas em ambos os grupos e da sessão de informação que se seguiu no plenário.

No que se refere ao número de casos, foi proposto que se começasse por utilizar os valores do Inquérito às Forças de Trabalho (IFT) relativos aos acidentes – é mais difícil no que se refere às doenças – e se realizassem estudos de validação das condições autoavaliadas. Dado que a dimensão das amostras poderá ser reduzida para algumas células específicas, considerou-se que poderia ser uma boa ideia agregar os países. Esta ideia foi apoiada com base na assunção de que poderá não ser viável realizar o exercício de modelização a nível nacional para cada um dos Estados-Membros.

Em todo o caso, e a fim de ter uma perspetiva tão completa quanto possível, tanto no que respeita aos acidentes como aos problemas de saúde, considerou-se que o IFT deve ser complementado com dados a nível nacional. Atendendo às disparidades entre os países e à existência de uma clara subnotificação (i.e., o tráfego e as deslocações pendulares domicílio/trabalho não estão incluídos), é fundamental analisar os dois níveis de dados. É importante não esquecer também que o IFT reflete

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variações culturais, já que, ao basear-se numa autoavaliação da sua condição pelos próprios trabalhadores inquiridos, abre espaço para alguma divergência adicional entre os países. Em todo o caso, sublinhou-se o facto de que as diferenças mais significativas serão determinadas pelas estruturas económicas nacionais, discriminadas por setores de atividade. Com base na estimativa do número de casos, poderá ser necessário aplicar frações atribuíveis, caso em que, como foi referido acima, os pressupostos estabelecidos terão de ser devidamente documentados.

O relatório da EU-OSHA apresenta uma visão geral das diferentes metodologias de contabilização dos custos para trabalhadores e empregadores, tendo suscitado uma discussão sobre se seria coerente simplesmente adicionar valores calculados segundo diferentes metodologias. Por exemplo, a abordagem do capital humano faz efetivamente sentido quando se trata dos trabalhadores, mas não necessariamente para os empregadores, já que uns e outros não pensam nos mesmos termos. Pode ser relativamente fácil identificar os custos, mas nem sempre é fácil adicioná-los de uma forma razoável e coerente. Não obstante, e tal como foi mencionado ao longo da reunião, será necessário estabelecer pressupostos no projeto que devem ser devidamente documentados, por forma a garantir abertura e transparência relativamente a todas as decisões tomadas.

A transferência de modelos de custos entre países pode ter algumas limitações e também não é necessariamente um processo simples. Recomendou-se que não sejam incluídos custos indiretos como a perda de marcas ou os danos materiais e que, em vez disso, o enfoque seja colocado nas perdas humanas. No que se refere aos custos de produção, defendeu-se a utilização de algum tipo de ponderação por país, enquanto, no que respeita ao valor da vida humana, a discussão se centrou na questão de saber se se deve ou não incluir diferentes valores por país. Houve quem argumentasse que deve utilizar-se o mesmo valor em todo o lado, mas outros chamaram a atenção para o facto de a dor e o sofrimento serem avaliados de forma diferente nos diversos países. Uma opção poderia consistir em expressar os valores em Paridade do Poder de Compra (PPC).

Relativamente ao indicador real a utilizar, discutiu-se também a questão de saber se deve utilizar-se o salário ou o PIB per capita e insistiu-se em que, qualquer que seja a decisão, esse indicador deverá ser aplicado de forma uniforme em todos os países visados.

Foi feito um comentário sobre a utilização dos resultados do modelo, referindo-se, por exemplo, que as estimativas do HSE têm sido úteis aos seus utilizadores para:

• Apresentar escalas e taxas em moeda comum. • Fornecer informações sobre a distribuição dos custos por parte interessada. • Monitorizar as alterações ao longo do tempo. • Apresentar os custos unitários, que são de grande utilidade para as avaliações.

No que se refere à utilização dos dados, é importante explicar as limitações da informação fornecida de modo a evitar, tanto quanto possível, o seu uso indevido. Daí a necessidade de uma reflexão aturada sobre a forma de comunicar os resultados da modelização. E será fundamental envolver as partes interessadas não só na identificação/validação dos dados existentes, mas também na discussão de uma primeira proposta de metodologia.

Mencionou-se ainda a importância de fornecer a estimativa no contexto de outros dados, como os anos de vida ajustados em função da incapacidade (AVAI)2, e de procurar apresentar a informação desagregada por setor e tipo de risco, pois a informação combinada tem geralmente um efeito revelador.

Tendo presentes as limitações invocadas ao longo das discussões e dando particular ênfase ao valor acrescentado do projeto, chamou-se a atenção para o facto de ser fundamental diferenciar claramente as duas etapas, isto é, o número de casos, por um lado, e o custo médio para cada caso, por outro. Curiosamente, o projeto também poderá constituir uma boa oportunidade para identificar lacunas nos dados mediante a realização de uma análise aprofundada da informação disponível.

A título de comentário final, observou-se que a EU-OSHA poderá começar por ter uma estimativa relativamente simples a fim de poder dispor em breve de um modelo, trabalhando depois no seu aperfeiçoamento, pois há vantagem em ter algo para mostrar, discutir, e que suscite a sensibilização das partes interessadas.

2 Anos de vida ajustados em função da incapacidade.

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10 Observações finais e próximas etapas A equipa da EU-OSHA (William Cockburn, Dietmar Elsler e Xabier Irastorza) deu por encerrada a reunião, agradecendo aos participantes a sua participação ativa na discussão e os úteis comentários que irão contribuir para as próximas etapas. Até o final de 2014 a EU-OSHA publicará no seu sítio Web um resumo dos principais pontos discutidos na reunião de peritos e lançará um concurso público para o projeto de desenvolvimento da estimativa a nível da UE-28, que deverá, em princípio, estar pronto até o final de 2016. Tanto os peritos envolvidos como as partes interessadas da EU-OSHA serão mantidos informados.

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ANEXO 1: ORDEM DO DIA

OS CUSTOS DE UMA SST DEFICIENTE - PARA UMA ESTIMATIVA A NÍVEL DA UE-28

Reunião de peritos sobre o custo dos acidentes e problemas de saúde relacionados com o trabalho

EU-OSHA 19 de junho de 2014

09h00-09h10

Introdução (incluindo apresentações)

Xabier Irastorza e Dietmar Elsler, EU-OSHA

09h10-09h20

Projeto atual e perspetivas futuras

William Cockburn, EU-OSHA

09h20-09h30

A necessidade de uma estimativa a nível da UE-28

Jadwiga Tudek, Comissão Europeia, DG Emprego, Assuntos Sociais e Inclusão

09h30-10h15

Apresentação do relatório da EU-OSHA

Xabier Irastorza, EU-OSHA

10h15-11h00

Modelo de cálculo de custos australiano

Richard Webster, Safe Work Australia

11h00-11h30 Pausa para café

11h30-12h15

Transferência de modelos entre países – uma experiência recente da metodologia australiana em Singapura

Jukka Takala, Instituto Nacional para a Segurança e Saúde no Trabalho, Singapura

12h30-13h30 Almoço

13h30-14h15

Contabilização dos casos – relação com o trabalho

Heidi Edwards, Health and Safety Executive (HSE)

14h15-15h00

Contabilização dos custos

Michael Zand, Health and Safety Executive (HSE)

15h00-15h30 Pausa para café

15h30-17h00

Discussão geral • Fatores a ter em conta • Limitações/oportunidades • Abordagem metodológica

(todos os participantes)

17h00-17h15

Observações finais e próximas etapas

Xabier Irastorza e Dietmar Elsler, EU-OSHA

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ANEXO 2: PARTICIPANTES

Nome Organização País

Heidi EDWARDS HSE - Health and Safety Executive Reino Unido

Ana María GARCÍA ISTAS (Instituto de Investigação do CC OO), Universidad de Valencia Espanha

Ernst KONINGSVELD Perito Independente Países Baixos

Lesley RUSHTON Epidemiologia no Trabalho, Imperial College London Reino Unido

Desislava STOILOVA Universidade do Sudoeste «Neofit Rilski», Faculdade de Economia Bulgária

Jukka TAKALA Instituto Nacional para a Segurança e Saúde no Trabalho Singapura

Antonis TARGOUTZIDIS ELINYAE - Instituto Helénico para a Saúde e Segurança no Trabalho Grécia

Jadwiga TUDEK DG Emprego – Comissão Europeia Comissão Europeia

Richard WEBSTER Safe Work Australia Austrália

Mike ZAND HSE - Health and Safety Executive Reino Unido

William COCKBURN Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho EU-OSHA

Dietmar ELSLER Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho EU-OSHA

Xabier IRASTORZA Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho EU-OSHA

Elke SCHNEIDER Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho EU-OSHA