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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
CIDADANIA E DIREITOS HUMANOS NO ENSINO DE LÍNGUA
PORTUGUESA
Autora: Cleonice Terezinha Totti1
Orientador: José Luiz Zanella2
Resumo: Apresentamos, nos limites deste artigo, a experiência obtida com o Projeto de
Intervenção Pedagógica do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE/PR, turma 2013/2014. O projeto foi desenvolvido no Colégio Estadual Boa Esperança do Iguaçu – Município de Boa Esperança do Iguaçu – PR, tendo como público-alvo os alunos do 3º Ano do Ensino Médio, com o objetivo de ajudá-los a entender as concepções de cidadania e dos direitos humanos assegurados no Estatuto do Adolescente e na Constituição Federal. O artigo trata inicialmente de algumas considerações sobre a história da cidadania, a perspectiva liberal, a perspectiva crítica e a relação entre cidadania, escola e o ensino de Língua Portuguesa no contexto brasileiro e, em seguida, aponta os resultados obtidos com a implementação do Projeto de Intervenção pedagógica na escola. O estudo deste tema requer que os educadores sejam profissionais críticos e reflexivos, com uma postura interdisciplinar e construtivista, capaz de compreender as relações entre sociedade e ser humano, assim como nas relações entre o trabalho pedagógico e o exercício da cidadania.
Palavras – chave: Cidadania, Classe Social, Escola, Língua Portuguesa.
1 Introdução
Este artigo é resultado de estudos que foram realizados para a
elaboração do projeto de Intervenção Pedagógica durante a participação no
Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE/PR, na turma 2013/2014.
Busca-se através deste, relatar o que foi planejado no Projeto de Intervenção
Pedagógica, intitulado: “Cidadania e Direitos Humanos no ensino da Língua
Portuguesa”, que teve como objetivo formar cidadãos ativos a partir do trabalho
desenvolvido na escola, essencialmente no ensino de Língua Portuguesa para
1 Especialização em Ensino de Língua Portuguesa e Pedagogia: Supervisão, Orientação e
Administração Escolar, Licenciada em Língua Portuguesa e Literatura, Professora do Colégio Estadual Boa Esperança do Iguaçu – Ensino Fundamental e Médio. E-mail: [email protected] 2 Doutor em Educação, Especialização para Educadores de Jovens e Adultos, Graduado em Filosofia
e Professor Efetivo da Universidade Estadual do Centro Oeste, Campus de Francisco Beltrão. E-mail: [email protected]
que sejam capazes de lutar pelos seus direitos no plano individual e social na
busca de uma sociedade mais justa e humana.
A escolha do tema do Projeto de Intervenção Pedagógica foi baseada no
contexto de nossos alunos, pois sabemos que a Constituição Federal garante
nossos direitos como cidadãos. Porém, vivemos num contexto histórico de
Estado neoliberal que tem continuamente atribuído a crise do sistema do
capital ao excesso de direitos dos trabalhadores, tornando-se senso comum a
negação dos direitos sociais, resultado da hegemonia neoliberal.
Por outro lado, este mesmo estado enfatiza a importância da cidadania.
Mas é uma cidadania da lógica do mercado, do instituído, com finalidades de
dinamizar o consumismo.
Colocamo-nos na perspectiva dos interesses da classe trabalhadora e
das lutas dos movimentos sociais. Por isso nos opomos a um ensino escolar
adaptado a lógica do estado neoliberal. Buscamos um ensino escolar que
desvele os processos de dominação e que propicie aos oprimidos o direito ao
trabalho digno com educação de qualidade.
O artigo trata, inicialmente, da reflexão teórico-metodológica que
perpassou os debates realizados durante a implementação do projeto na
escola e, num segundo momento, da sistematização das atividades realizadas
na escola.
Uma das principais funções da educação escolar é a formação para a
cidadania a partir da aquisição de conhecimentos sistematizados. Porém, nem
sempre nós professores da Língua Portuguesa conseguimos estabelecer esta
relação no ensino. Por isso o trabalho realizado na escola proporcionou aos
nossos alunos um ensino contextualizado, instrumentalizando-os para uma
leitura de mundo crítico a fim de que possam lutar pelos seus direitos, tendo
assim uma cidadania ativa.
2 Proposição teórico-metodológica do Projeto de Intervenção Pedagógica
2.1 Considerações sobre a história da cidadania
Ser cidadão é ter a garantia de todos os direitos civis, políticos e sociais que
asseguram a possibilidade de uma vida plena. Esses direitos não foram
conferidos, mas exigidos, integrados e assumidos pelas leis, pelas autoridades
e pela população em geral.
A cidadania não é dada, mas construída em um processo de
organização, participação e intervenção social de indivíduos ou de grupos
sociais. Só na constante vigilância dos atos cotidianos o cidadão pode
apropriar-se desses direitos, fazendo-os valer de fato. Se não houver essa
exigência, eles ficarão no papel.
O conceito de cidadania foi gerado nas lutas que estruturaram os direitos
universais do cidadão. Desde o século XVIII, muitas ações e movimentos foram
necessários para que ampliassem o conceito e a prática de cidadania. Assim
pode-se afirmar que defender a cidadania é lutar pelos direitos, pelo exercício
da democracia e a criação de novos direitos.
A cidadania está definida em cidadania formal e real. A formal é aquela
que está nas leis, principalmente na constituição de cada país, estabelecendo
que todos sãos iguais perante a lei e garantindo ao indivíduo a possibilidade de
lutar judicialmente por seus direitos. Essa garantia é muito importante, pois se
não houvesse leis para determinar nossos direitos, estaríamos nas mãos de
uma minoria, situação que os escravos viveram por muito tempo, sem direito
algum, sem ter autonomia. A cidadania substantiva ou real é aquela que
vivemos no dia a dia, nos mostra que não há uma igualdade fundamental entre
todos os seres humanos, entre homens e mulheres, crianças, jovens e idosos,
negros, pardos ou brancos. O direito à vida é o principal, sem ele os demais
nada valem. São elevados os números de pessoas, principalmente crianças,
morrendo de fome todos os dias em vários países. Percebe-se que estas
pessoas não conseguiram ter direito à vida, o direito real e substantivo à
cidadania.
O segundo direito básico em nossa sociedade, o de ir e vir, é
reconhecido desde o século XVII. No dia a dia, sabemos que nem sempre as
pessoas podem deslocar para qualquer lugar ou até mesmo permanecer no
mesmo. Como podemos perceber, existem algumas áreas públicas, mas
algumas foram fechadas por pessoas que consideram proprietárias e não
permitem a entrada de ninguém, como praias, ruas, vias públicas, os quais
impedem a livre circulação dos cidadãos, desrespeitando esse direito de ir e
vir.
Percebe-se que esses direitos básicos ainda não estão ao alcance da
maioria da população, pode-se imaginar o que acontece com os demais.
De acordo com (TOMAZI, 2010, p.p 140,141):
Cidadania, direitos e movimentos sociais são temas que
frequentemente são debatidos por governos, políticos, empresários
brasileiros ou não, estudantes, trabalhadores entre outro da
sociedade que enfrentam as piores condições de vida. A ideia da
cidadania está relacionada ao surgimento do Estado Moderno e a
expectativa de que este garanta os direitos essenciais dos cidadãos.
A cidadania é uma ideia e uma aspiração também, já existentes há
muitos séculos, mas se tornou consistência e veracidade com a Revolução
Francesa (1789). Foi um acontecimento histórico que encerrou de vez com os
privilégios de nascimentos, você tem direito pelo simples fato de nascer, numa
determinada cidade, num determinado país e tem direitos por que é cidadão e
é cidadão porque tem direito. Direitos esses, baseados nos princípios da
liberdade e da igualdade foram declarados universais, ou seja, válida para
todos os habitantes do planeta. Porém, esses direitos, expressos na
Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão aprovado pela Assembleia
Nacional Francesa, não se estendia para as mulheres. “É bom lembrar o caso
de Olympe de Gouges (1748-1793), ativista e dramaturga que em 1791, propôs
uma declaração dos direitos da mulher e acabou na guilhotina” (Apud:
Thomazi, 2010. p. 36).
Para (MARSHALL, 1967), a questão da cidadania só começou a
aparecer nos séculos XVII e XVIII, e ainda assim de forma sutis, por meio da
formulação dos chamados direitos civis. Naquele momento, procurava-se
garantir a liberdade religiosa e de pensamento, o direito de ir e vir, o direito à
propriedade, a liberdade contratual, principalmente a de escolher o trabalho,
finalmente, a justiça, que deveria salvaguarda (pôr fora de perigo, defender)
todos os direitos anteriores, mas não para todas as pessoas.
No século XX, chega a vez dos direitos sociais serem praticados. As
pessoas passaram a ter direito à educação básica, assistência à saúde,
programas de lazer, acesso ao sistema judiciário. Os direitos civis, políticos e
sociais estão assentados no princípio da igualdade, porém não podem ser
considerados universais, pois são vistos de modo diferente em cada estado e
em cada época. No final do século XX, e início do século XXI, surgem outros
direitos relacionados a segmentos e situações sociais específicas.
Nas palavras de (MARSHALL, 1967),
A cidadania é um status concedido àqueles que são membros
integrais de uma comunidade. Todos aqueles que possuem status
são iguais com respeito aos direitos e obrigações pertinentes ao
status. Não há nenhum princípio universal que determine o que estes
direitos e obrigações serão, mas a sociedade nas quais a cidadania é
uma instituição em desenvolvimento criam uma imagem de uma
cidadania ideal em relação à qual a aspiração pode ser dirigida. (...) A
classe social, por outro lado, é um sistema de desigualdade, e esta
também, como a cidadania, pode estar baseada num conjunto de
ideias, crenças e valores. É, portanto, compreensível que se espere
que o impacto da cidadania sobre a classe social tomasse a forma de
um conflito entre o princípio opostos (MARSHALL, 1967, p. 76).
2.2 A cidadania na perspectiva liberal
No contexto atual faz-se necessário uma reflexão de quais são as
dimensões que a perspectiva liberal atinge e a que classe social realmente
interessa.
Segundo John Locke (1632 -1704), somente os homens livres e iguais
podem fazer um pacto com o objetivo de estabelecer uma sociedade política.
Para o pensador francês Jean-Jacques Rousseau ( 1712-1778), a igualdade só
tem sentido se for baseada na liberdade, segundo sua definição, a igualdade:
“todos devem ser iguais perante a lei”.
Para que possamos entender a cidadania atual faz-se necessário voltar
no tempo e entender a ideologia capitalista como sistema econômico e político
que nasce a partir da crise do feudalismo. No século XIV surgiu nova classe
social que é a burguesia, sistema que se consolida no século XVIII, com a
revolução burguesa (Gloriosa Francesa e Independência dos EUA). Portanto, a
concepção de mundo liberal nada tem de natural, o que temos é uma maneira
de pensar historicamente determinada por uma classe social que é a
burguesia.
Para os liberais o mérito é tudo, talento, aptidões, esforço pessoal são
motivos de sua existência. Para eles o ser humano é como se fosse em
“átomo”, ser isolado com um grande potencial que precisa de espaço para
desenvolver o seu projeto de vida através do trabalho e talento que são os
mecanismos essenciais para a ascensão social e aquisição de riquezas,
qualquer indivíduo pobre que tenha vontade, que trabalhe pode adquirir bens e
datar- se de riquezas. (Cunha, 1991, p.31)
De acordo com os liberais as relações com o Estado e defendido com a
tese do estado “mínimo”, o melhor estado é aquele que governa menos, para
eles o bom seria que houvesse uma sociedade sem Estado, no entanto
defendem a existência do mesmo (Estado) entenderam que a natureza
humana é tão agressiva a ponto de comprometer a liberdade. Aí então, limita-
se a ação do Estado em três funções, que predominam a função policial:
proteção do indivíduo uns contra os outros; a função judicial: mediador das
desavenças (sociais), e a função militar: proteção dos indivíduos contra
agressões externas (Chaves, 2000, p.2).
O interessante do pensamento liberal foi à inserção na história do direito
de defesa do indivíduo com a criação de leis via parlamento e a liberdade de
expressão e de pensamento. A concepção liberal de cidadania é filha do
capitalismo, porém muito mais formal que ligada ao movimento real da história.
Formal, pois defende a liberdade de alguns indivíduos, daqueles que tem mais
riquezas e bens em relação à maioria de uma população empobrecida, ou seja,
muitas vezes filhos da miséria (miseráveis). Para os liberais a igualdade só
existe perante a lei, pois na realidade desde que nascemos somos diferentes, e
essa diferença que explica o porquê de tanta riqueza para poucos e a pobreza
para muitos, seria injusto para eles a igualdade real.
Para os liberais a cidadania se resume no comprimento das leis
(Constituições, Códigos de defesa do consumidor, Estatuto da Criança e do
Adolescente...). É conhecida a expressão dos direitos e dos deveres de cada
um, sendo que o meu direito começa onde termina a do outro... É este
individualismo que Marx (2000) denuncia e crítica na obra A Questão Judaica
(2000) como sendo um impedimento da emancipação humana.
O direito humano à propriedade privada, portanto, é o direito de
desfrutar de seu patrimônio e dele dispor arbitrariamente, sem
atender aos demais homens, independentemente da sociedade, é o
direito do interesse pessoal. (...) Nenhum dos chamados direitos
humanos ultrapassa, portanto, o egoísmo do homem, do homem
como membro da sociedade burguesa, isto é, do indivíduo voltado
para si mesmo, para seu interesse particular, em sua arbitrariedade
privada e dissociado da comunidade. Longe de conceber o homem
como um ser genérico, estes direitos, pelo contrário, fazem da própria
vida genérica, da sociedade, um marco exterior aos indivíduos, uma
limitação de sua independência primitiva. O único nexo que os
mantém em coesão é a necessidade natural, a necessidade e o
interesse particular, a conservação de suas propriedades e de suas
individualidades egoístas (Marx, 2000, p.p 36-37).
Sendo assim, a cidadania limita-se ao âmbito formal e no cumprimento
do que está prescrita pela lei, sempre numa perspectiva individual defendendo
alguns, sem muito preocupar-se com os outros.
De acordo com Émile Durklein, apud Tomazi (2010), a ideia de cidadania
está vinculada à questão da coesão social estabelecida com base na
solidariedade orgânica, que é gerada pela divisão de trabalho e se expressa
no direito civil.
Nos dias de hoje, em que predomina o individualismo, talvez essa seja a
maior obrigação do cidadão, que é garantir também os direitos dos outros
membros da comunidade. Esta prática deve ser aprendida na escola. Esta é a
ideia de Durkhein (1982) que trata a cidadania pela perspectiva da virtude
cívica que torna os cidadãos com consciência de coletividade, pois para ele
cidadãos virtuosos são aqueles que se preocupam com a comunidade, se
preocupa com o outro. Com esse pensamento se dá a promoção dos direitos
humanos.
2.3 A cidadania na perspectiva crítica
Tendo como ponto de referência a cidadania crítica, faz-se uma reflexão
sobre a cidadania e que esta não está no que o homem diz, nem no plano
jurídico, mas sim nas relações sociais a partir das práticas humanas numa
determinada sociedade, sendo este algo não isolado, fragmentado, totalmente
objetivo e desligado do pensar. Essa prática é complexa e é de tripla dimensão
que segundo Severino (1992), se expressa através da:
a) Prática produtiva: pelo trabalho, os homens interferem na natureza
com vistas a prover os meios de sua existência material, garantindo a
produção de bens e a reprodução da espécie;
b) Prática social: ao produzir seus meios de subsistência, os
homens estabelecem entre si relações que são funcionais e
caracterizadas por um coeficiente de poder;
c) Prática simbolizadora: as relações produtivas e sociais são
simbolizadas em níveis de representação e de apreciação
valorativa, no plano subjetivo visando a significação e a
legitimação da realidade social e econômica vivida pelos homens
(SEVERINO, 1992, p. 26).
Não é possível que as pessoas exerçam uma cidadania digna se não
tiverem um trabalho, mesmo que seja alienado. É pela ação do trabalho que
nós transformamos a natureza e nesse mesmo processo que nos sentimos
valorizados e respeitados como seres humanos. Por isso o homem vem
lutando por seus direitos: trabalho, educação de qualidade, moradia, saúde
e condições favoráveis a sua sobrevivência.
Os movimentos sociais são ações coletivas com os objetivos de manter
ou mudar a situação. Tais movimentos são organizados no dia a dia, como
greve trabalhista (por melhores salários e condições de trabalho), os
movimentos por melhores condições de vida entre outros. Tais movimentos
não são predeterminados, dependem sempre das condições específicas em
que se desenvolvem, ou seja, das forças sociais e políticas que os apoiam ou
confrontam, dos recursos existentes para mantém a ação e dos instrumentos
utilizados para obter repercussão. A greve é um dos instrumentos mais
utilizados pelos trabalhadores na sociedade capitalista.
2.4 Cidadania, escola e o ensino de Língua Portuguesa no contexto brasileiro
Depois de muitos anos da "Constituição cidadã" na qual estão
assegurados os direitos fundamentais dos cidadãos brasileiros, bem como as
responsabilidades do poder público, da sociedade, da família e do indivíduo,
ainda não conseguimos fazer valer os direitos para o dia-a-dia da maioria da
população. Os problemas históricos da nossa sociedade como analfabetismo,
oferta precária de serviços de saúde, saneamento, educação e assistência
social, e os problemas mais recentes como a violência urbana, ineficiência da
segurança pública, desemprego acentuado, ainda estão longe de serem
resolvidos.
Permanecem no país uma gigantesca concentração de renda e seus
subprodutos, como a miséria e a exclusão social. Ao lado disso, a atuação
omissa e vacilante por parte do Estado não promoveu ainda políticas públicas
adequadas e suficientes para corrigir essas desigualdades sociais e regionais.
A garantia dos direitos políticos e civis não resolveu os problemas históricos da
cidadania no Brasil. Contudo, esses direitos formam um quadro no qual os
movimentos sociais podem aparecer publicamente trazendo suas
reivindicações e propostas e pode haver rodízio de grupos políticos no poder.
O termo cidadania é usado no nosso cotidiano, em documentos oficiais,
nas leis, nos Parâmetros Curriculares Nacionais, sendo este uma finalidade da
Educação. A cidadania tem o mesmo significado para todos? Ela é vista com
os mesmos objetivos pelas classes dominantes (capitalistas e o Banco
Mundial) e pelos trabalhadores (sindicatos e movimentos sociais).
O ser humano buscando conhecimento e esclarecimento quanto os
seus direitos. A cidadania está presente, mas ainda fraca insuficiente para a
maioria do povo brasileiro. Pensando nos problemas dessa maioria, a escola é
um alicerce muito importante para orientar esta causa, é um espaço de
socialização, intermediando o processo entre a família e a sociedade tendo
assim um papel de extraordinária importância no desenvolvimento da
cidadania.
Segundo GIROUX (1986), para que a educação para a cidadania se
torne emancipatória, seu objetivo não é ajustar os alunos à sociedade atual,
sua finalidade principal deve ser de estimular nos alunos sua imaginação e seu
intelecto. Os alunos devem ser educados para demonstrar coragem cívica,
disposição para agir, como se de fato vivessem em uma sociedade
democrática.
Por isso, é importante que os professores da disciplina de Língua
Portuguesa, insiram em seus planos de aula o tema "Cidadania e Direitos
Humanos”, ensinando e orientando seus alunos a serem críticos e refletirem
sobre o assunto, pois é uma disciplina em que engloba muitos recursos
pedagógicos que irão favorecer este ensinamento e esclarecimento,
salientando também todo andamento das atividades na vivência cotidiana dos
alunos. Diante de todos os fatos acontecidos no decorrer da história, a
educação ainda é o fator mais importante para esta busca. As Diretrizes
Curriculares da Língua Portuguesa estabelecem que os processos educativos
da Língua Portuguesa devem garantir ao estudante a sua inserção ativa e
crítica na sociedade, e ainda que “é” na escola que o estudante brasileiro, e
mais especificamente o da escola pública, deveria encontrar o espaço para as
práticas de linguagem que possibilitem interagir na sociedade, nas mais
diferentes circunstâncias de uso da língua materna, em instância públicas e
privadas. Neste aspecto, a Língua Portuguesa como língua mãe e marca de
nossa nacionalidade permite-nos ter a dimensão mais profunda de
pertencimento a nossa nação, preservando nossos direitos e expandindo a
proteção aos que podem não ter vez e voz.
Segundo Freire (2007),
“...o exercício da cidadania compreende a totalidade dos direitos que
o indivíduo tem de desempenhar nas mais diversas funções no tecido
social, do ponto de vista individual e social”. No cotidiano de cada um,
seja criança ou adulto, o conhecimento dos direitos, o
reconhecimento dos deveres, a adesão legítima às riquezas das
necessidades (mesmo as sociais, culturais e políticas) garantem o
princípio de liberda de de cidadania. Isso confere ao cidadão o
direito de escolher seus amigos, brinquedos, diversão, o seu
emprego, a mulher com quem vai se casar, o número de filhos, o
médico que ele vai frequentar, o partido político do qual vai aderir, as
concepções de Estado e sociedade para as quais vai destinar o seu
voto, o lugar que ela vai ocupar na sociedade” (FREIRE, 2007, p. 30-
31).
A educação para cidadania, então, deverá resultar da consciência crítica
dos alunos ativos e participativos na sociedade em que estão inseridos,
convivendo com as leis, os deveres, com a concepção de sujeitos, implicando o
aprendizado do que é viver a cidadania, além da compreensão de uma
organização política de um país regido pelos poderes legislativo, executivo e
judiciário, baseando-se na vivência social desses poderes com objetivos do
desenvolvimento intelectual e social dede cada aluno.
3 Implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica
Durante o período em que participei das atividades do Programa de
Desenvolvimento Educacional - PDE, considero que os encontros e debates
com os colegas de curso, com os Professores das Universidades, as reflexões
com os professores da rede, através do Grupo de Trabalho em Rede – GTR,
foram momentos importantes e contribuíram para o desenvolvimento das
atividades propostas pelo PDE.
Como Professora de escola pública a mais de vinte no Colégio Estadual
Boa Esperança do Iguaçu, pude vivenciar que os nossos alunos estão cada dia
mais acomodados com relação às questões sociais, o respeito ao outro, os
deveres enquanto aluno e o desinteresse com a construção do conhecimento.
Nossos jovens do Ensino Médio estão dominados pela tecnologia,
dependentes de redes sociais e indiferentes com o exercício da cidadania.
Diante dessa realidade as atividades desenvolvidas buscaram despertar nos
alunos o exercício da cidadania e da luta pelos seus direitos a partir da vivência
em sala de aula, na escola e depois na comunidade. Na Produção Didático-
Pedagógica foram desenvolvidas atividades que articulam o ensino da Língua
Portuguesa com a formação da cidadania, propiciando aos alunos uma
instrumentalização conceitual para que possam ler criticamente a realidade e
lutar pelos seus direitos.
Durante o desenvolvimento do Projeto de Intervenção na Escola com os
alunos do 3º Ano do Ensino Médio, foi possível perceber a alienação dos
mesmos, poucos buscando conhecimento para enfrentar o vestibular e a
grande maioria aguardando o término do curso para poder trabalhar horas
extras e aumentar o ganho salarial. Para eles, o mais importante é ter um
salário para custear suas despesas básicas (roupas de marca, calçados,
créditos para celular, internet e festas). Percebe-se que esses jovens não têm
perspectivas de crescimento pessoal e profissional, tornando-se sujeitos
alienados no contexto em que vivem.
Ao propor atividades de reflexão em grupos para problemas sociais, a
resposta era: não podemos mudar essa realidade. Quando questionados o
direito aos idosos em filas de banco, para muitos deles, os idosos é que
deveriam aguardar, pois, segundo eles, não trabalham então dispõe de tempo
para ficar esperando.
O objetivo do projeto só foi atingido quando surgiu um problema de
desrespeito de um professor com um aluno do Ensino Fundamental, momento
este em que fizemos o estudo do Estatuto do Adolescente e então eles
perceberam que os seus direitos estão assegurados e que não podemos ficar
indiferentes quando os nossos direitos, assegurados constitucionalmente,
forem desrespeitados e ignorados. A partir desse acontecimento, muitas outras
situações levantadas por eles foram discutidas em grupo e com resultados
satisfatórios.
Quando trabalhado o texto: “Escola de todos... Para todos”, com 32
alunos, onde relatava a situação de um aluno que abandonou a escola porque
a Professora não deixou participar da aula de Educação Física por não ter um
tênis, eles foram convidados a descrever o destino desse aluno. O resultado
foi: 4 deles encaminharam o caso ao Conselho Tutelar, 5 disseram que a
diretora resolveu o problema comprando um tênis para o aluno, 3 que o aluno
foi embora e matriculou-se em outra escola, 12 deram um final trágico ao
garoto dizendo que o mesmo entrou nas drogas, 3 que a professora foi punida
e que pediu desculpas ao aluno e 5 deles que o aluno ateou fogo no carro da
Professora sendo preso logo após. O texto gerou muita discussão, pois a
proposta era que eles deveriam fundamentar a sua decisão.
Diante disso, torna-se claro que o ensino deve ser contextualizado com
o cotidiano do aluno para que ele sinta-se como parte integrante desse
processo e que os conteúdos trabalhados tenham significado para a vida deles.
4 Considerações finais
Ao término da implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica,
pode-se afirmar que os objetivos propostos foram alcançados. Os trabalhos em
equipe e as discussões das situações-problemas propostas aos alunos
motivaram os mesmos a posicionar-se diante dos fatos do cotidiano e
desenvolver a sua cidadania. Mesmo quando se mostraram indiferentes ao
Projeto, mantive a postura e aos poucos foi possível ganhar a atenção dos
mesmos. Fica evidente que o ensino deve ser contextualizado e que diante de
algumas situações é preciso fazer valer os nossos direitos enquanto cidadãos.
Mas para que isso aconteça é necessário que a escola trabalhe por uma
educação emancipadora, onde os alunos tornem-se os sujeitos do processo.
Precisamos realizar um trabalho para que o jovem tenha perspectiva de vida e
não seja um adulto alienado. Se não podemos mudar o mundo, podemos
torná-lo melhor.
Os autores que fundamentaram esse projeto sustentam que muitos de
nossos direitos ainda existem só no papel, mas somos nós educadores que
temos a ferramenta para mudar essa realidade: a educação.
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