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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO, CIÊNCIAS CONTÁBEIS E CIÊNCIAS ECONÔMICAS JIAN DE PAULA OLIVEIRA OS PROGRAMAS DE INCENTIVOS FISCAIS FOMENTAR E PRODUZIR: POLÍTICA VERSUS RENÚNCIA FISCAL GOIÂNIA 2013

Os Programas de Incentivos Fiscais em Goiás: Política vs Renúncia Fiscal

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Uma análise do real objetivo dos programas de incentivos fiscais realizados no Estado de Goiás. O trabalho visa comparar o efeito benéfico da política de atração industrial em detrimento do orçamento do governo devido à renúncia fiscal.

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIS

    FACULDADE DE ADMINISTRAO, CINCIAS CONTBEIS E CINCIAS

    ECONMICAS

    JIAN DE PAULA OLIVEIRA

    OS PROGRAMAS DE INCENTIVOS FISCAIS FOMENTAR E

    PRODUZIR: POLTICA VERSUS RENNCIA FISCAL

    GOINIA

    2013

  • JIAN DE PAULA OLIVEIRA

    OS PROGRAMAS DE INCENTIVOS FISCAIS FOMENTAR E

    PRODUZIR: POLTICA VERSUS RENNCIA FISCAL

    Monografia apresentada Faculdade de Economia da Universidade Federal de Gois, como requisito para concluso do Curso de Graduao em Cincias Econmicas

    Orientadora: Professora Dra. Sabrina Faria de Queiroz

    GOINIA

    2013

  • Oliveira, Jian de Paula Os programas de incentivos fiscais Fomentar e Produzir: poltica versus

    renncia fiscal / Jian de Paula Oliveira, Goinia/GO:

    FACE-UFG, 2013.

    45f.

    Monografia apresentada Faculdade de Economia-UFG;

    Campus Samambaia, 2013.

    Orientadora: Dra. Sabrina Faria de Queiroz

    Banca examinadora: Dra. Cludia Regina Rosal Carvalho, Dr. Srgio

    Fornazier Meyrelles Filho.

    1. Incentivos fiscais. 2. Fomentar. 3. Produzir. 4. Gois.

  • JIAN DE PAULA OLIVEIRA

    OS PROGRAMAS DE INCENTIVOS FISCAIS FOMENTAR E

    PRODUZIR: POLTICA VERSUS RENNCIA FISCAL

    Nota: ______

    Monografia apresentada ao Curso de Cincias Econmicas da Universidade Federal de Gois,

    para obteno de ttulo de bacharel em Cincias Econmicas, aprovada em _____ de

    _________________ de 2013, pela Banca Examinadora constituda pelos seguintes

    professores:

    _______________________________________________________________

    Orientadora: Profa. Dra. Sabrina Faria de Queiroz

    ______________________________________________________________

    Profa. Dra. Claudia Regina de Rosal Carvalho

    ______________________________________________________________

    Prof. Dr. Srgio Fornazier Meyrelles Filho

  • RESUMO

    Os programas de incentivos fiscais, enquanto ferramenta de desenvolvimento industrial tm bastante relevncia no contexto da economia regional brasileira, inclusive em Gois, que precisou utilizar esse tipo de poltica, com vistas a desenvolver um parque industrial capaz de competir com o restante da indstria nacional. As principais teorias que discorrem sobre o tema, ligam a necessidade desse tipo de poltica forma como ocorreu o processo de industrializao brasileiro, gerando uma grande concentrao industrial na regio centro-sul do pas. O principal objetivo desta monografia analisar, se os benefcios concedidos atravs dos principais programas de incentivos fiscais do Estado de Gois, Fomentar e Produzir, contriburam para o desenvolvimento da indstria goiana, de forma a compensar o incentivo que o estado outorgou s empresas neste perodo. Para estes fins, so analisados dados e indicadores que mostram a evoluo da economia goiana, vis--vis os valores concedidos pelo Estado em forma de incentivos. Observou-se, de modo geral, que mesmo sendo necessrio um grande esforo, em incentivos, por parte do Estado, os programas citados foram de grande importncia para o desenvolvimento da indstria goiana. As concluses apresentadas, so favorveis aos programas, na medida sugerem o crescimento da indstria goiana, frente indstria nacional, enquanto minimiza-se a deteriorao da receita fiscal do Estado. PALAVRAS-CHAVE: Incentivos Fiscais; Fomentar; Produzir; Gois.

  • SUMRIO

    INTRODUO..................................................................................................4

    1. MOVIMENTOS DE CONCENTRAO E DESCONCENTRAO

    INDUSTRIAL NO BRASIL...........................................................................................7

    1.1 Movimento de concentrao industrial (1930-1970).....................................7

    1.2 Movimento de desconcentrao industrial a partir de 1980......................12

    1.3 A descentralizao poltica e fiscal a partir da Constituio de 1988......14

    2. OS PROGRAMAS FOMENTAR E PRODUZIR..............................................17

    2.1 A implantao do programa Fomentar........................................................17

    2.2 As modificaes do programa partir dos anos 90..................................20

    2.3 A reformulao do programa e sua substituio pelo Produzir.............. 25

    3. OS IMPACTOS DO PROGRAMA PRODUZIR...............................................28

    4. CONSIDERAES FINAIS............................................................................40

    BIBLIOGRAFIA..............................................................................................44

  • INTRODUO

    O processo de industrializao brasileiro se deu de forma tardia,

    necessitando assim de polticas especficas para reduzir a dependncia do mercado

    externo e estimular a produo industrial interna. Para isso foram necessrios vrios

    tipos de investimentos, primeiramente em infraestrutura bsica, para tornar este

    processo possvel, e depois em polticas especficas para estimulao da indstria

    nascente.

    Durante este processo, as polticas nacionais de desenvolvimento se

    desenrolaram de tal forma, que algumas economias centrais conseguiram absorver

    este desenvolvimento, enquanto as economias mais perifricas ficaram margem

    deste processo.

    A partir dos anos 80 houve uma descentralizao fiscal no pas, com a

    promulgao da constituio de 88, que permitiu aos estados brasileiros uma maior

    autonomia no que diz respeito captao e uso de recursos, permitindo que estes

    elaborassem as suas prprias polticas regionais de desenvolvimento industrial.

    Nesse contexto surgiram os chamados programas de incentivos fiscais, que

    consistem basicamente na concesso de financiamentos de parte dos impostos

    devidos ao estado durante as operaes das empresas, principalmente o ICMS, que

    o principal instrumento utilizado para estas polticas, visando assim atrair novos

    investimentos industriais.

    Este tipo de poltica se tornou comum no Brasil a partir dos anos 80 e Gois

    no ficou fora deste processo, criando ento em 1984 o programa Fomentar. Este

    programa visou o desenvolvimento da indstria goiana.

    Durante o tempo que esteve em vigor, o Fomentar passou por algumas

    adversidades e sofreu modificaes, at ser reformulado e substitudo pelo Produzir

    em 2000. Este que tomou outras direes, buscando diminuir as falhas

    apresentadas pelo programa anterior, e cumprir os objetivos propostos de estimulo

    indstria goiana.

  • 5

    Este um trabalho de cunho histrico, que visa detalhar o contexto do

    programa fomentar, sua implantao, suas adversidades, o contexto da renncia

    fiscal por parte do estado, as modificaes sofridas a partir dos anos 90 at o final

    do programa no ano 2000, alm de detalhar o seu substituto, Produzir, e analisar

    quais foram os benefcios destes programas frente renncia a que o Estado se

    imps.

    O trabalho parte da seguinte pergunta problema: Os benefcios gerados

    pelos programas de incentivos fiscais no Estado de Gois, Fomentar e Produzir,

    foram capazes de compensar a renncia fiscal? A hiptese que as polticas de

    incentivos fiscais desenvolvidas no Estado de Gois contriburam para o

    desenvolvimento da indstria goiana, e a renncia fiscal utilizada para tal efeito

    tenha sido minimizada ao longo dos programas.

    O objetivo geral do trabalho analisar se os benefcios concedidos atravs

    dos programas Fomentar e Produzir contriburam para o desenvolvimento da

    indstria goiana, de forma a compensar o incentivo que o Estado outorgou neste

    perodo.

    Os objetivos especficos do trabalho so: analisar o contexto no qual se

    formaram as polticas de incentivos fiscais em Gois; detalhar o programa Fomentar,

    desde a sua implantao, funcionamento e modificaes, at a sua substituio pelo

    Produzir; Detalhar o programa Produzir e suas principais modificaes em relao

    ao Fomentar; e analisar os efeitos do Produzir sobre a indstria, o produto e o

    emprego no estado de Gois, comparativamente aos benefcios fiscais concedidos

    pelo Estado.

    Para estes fins, o mtodo utilizado foi pesquisa exploratria, para o

    levantamento de dados estatsticos e informaes em geral, e pesquisa bibliogrfica.

    Essa ltima buscou primeiramente contextualizar o histrico dos movimentos de

    concentrao e desconcentrao industrial, durante o processo de industrializao

    brasileiro, com vistas a obter informaes sobre as principais polticas de

    desenvolvimento industrial e os seus efeitos sobre a concentrao industrial no

    Brasil.

  • 6

    A pesquisa documental buscou detalhar atravs da legislao, sites

    governamentais, e trabalhos anteriores, detalhar os programas Fomentar e Produzir,

    e seu histrico e modo de funcionamento, e buscar informaes complementares

    para a realizao do trabalho.

    Os dados estatsticos foram buscados principalmente em sites de rgos

    governamentais, como o Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada Ipea e Instituto

    Mauro Borges IMB, visando complementar as anlises em busca dos objetivos do

    trabalho.

    Alm desta Introduo, o trabalho foi dividido em mais quatro partes. O

    captulo 1, composto pelo processo histrico de concentrao que favoreceu a

    criao dos programas de incentivos fiscais. Primeiramente abordado o histrico

    de concentrao durante a formao industrial do pas, a seguir abordado o

    processo de desconcentrao industrial e reconcentrao em direo ao interior do

    centro-sul do pas, e finalmente a descentralizao fiscal que permitiu a criao dos

    programas.

    No captulo 2 so detalhados os programas Fomentar e Produzir.

    Primeiramente mostrada a implantao do programa Fomentar, seus principais

    objetivos e funcionamento. Em seguida so abordadas as modificaes ocorridas a

    partir dos anos 90. Depois abordada sua reformulao e substituio pelo

    Produzir, bem como suas principais modificaes em relao ao programa anterior.

    J no captulo 3, so analisados os principais efeitos do Produzir sobre a

    indstria goiana, bem como sua participao na indstria nacional; o crescimento do

    produto goiano, frente ao produto nacional; os empregos gerados durante este

    perodo; e os valores concedidos em benefcios para as empresas beneficirias.

    Por fim, so traadas consideraes finais sobre o tema.

  • 1. MOVIMENTOS DE CONCENTRAO E DESCONCENTRAO

    INDUSTRIAL NO BRASIL

    A partir da dcada de 30, passaram a ser desenvolvidas no pas polticas

    governamentais de desenvolvimento industrial. Durante esse processo, os

    investimentos na indstria brasileira foram atrados principalmente para a regio

    centro-sul do pas, sofrendo movimentos de concentrao e desconcentrao

    industrial, afetando ento, outras reas produtivas do pas1.

    Neste captulo ser exposto o histrico da formao industrial brasileira. O

    objetivo compreender melhor como o pas chegou a um nvel de desigualdade

    regional to elevado que exigiu de algumas regies a implementao de uma

    poltica de crescimento regional, na tentativa de alavancar a indstria naqueles

    espaos que ficaram margem do processo de industrializao brasileiro.

    1.1 Movimento de concentrao industrial (1930-1970)

    A anlise da concentrao industrial parte da dinmica nacional ps crise de

    29, uma vez que anteriormente no havia no pas poltica governamental de

    industrializao, existia apenas um incipiente processo de industrializao onde

    havia algumas fbricas com base na atividade agropecuria (CANO, 2007). At o

    perodo da crise de 1929, ento, a economia brasileira era primrio-exportadora. A

    estrutura de produo baseada em grandes propriedades e grande escala,

    propiciaram uma acumulao primitiva de capital considervel em So Paulo.

    Aps o perodo de agravamento da crise de 1929, o modelo de crescimento

    baseado no dinamismo ditado pelas exportaes entra em crise, acarretando uma

    enorme fuga de capital do pas e fortes desvalorizaes cambiais. Durante a

    recuperao da crise, iniciou-se a chamada Industrializao Restringida, o primeiro

    1 Os investimentos na periferia, entre 1970 e 1985, acabaram aumentando o grau de

    complementaridade com a estrutura produtiva instalada no eixo dinmico, num processo de integrao produtiva que acabou estimulando uma espcie de solidariedade entre regies na medida em que o crescimento do centro gerava efeitos positivos na periferia. (COSTA, 2012).

  • 8

    perodo de desenvolvimento industrial do Brasil, onde a dinmica da economia

    passa a ser determinada pela demanda interna. Nesta fase houve uma diminuio

    das importaes, um aumento da produo interna e um estabelecimento de um

    novo nvel de preos relativos.

    Segundo Cano (2007), essa recuperao a partir de 1933, centrada na

    indstria, enxugou a capacidade ociosa industrial que teria sido gerada na dcada

    anterior e, associado queda na capacidade para importar e mudana na

    estrutura de preos relativos tornaram o pas mais propcio ao desenvolvimento e

    expanso da indstria nacional.

    Assim, ainda na dcada de 30, segundo Bielschowsky (2010), ocorreu o que

    foi chamado de processo de desenvolvimento via substituio de importaes, com

    seus impulsos sendo gerados pelos desequilbrios do mercado externo. A partir

    deste, os desequilbrios gerados pelas restries importao, foram superados

    pela produo interna, o que permitia solucionar o problema de insuficincia de

    divisas, mas ao mesmo tempo renovando este mesmo problema devido s

    contradies geradas entre a necessidade de crescimento e uma barreira

    importao.

    Nesse mesmo sentido, Tavares (1972), explica o surgimento do processo de

    substituio de importaes:

    A nossa tese central de que a dinmica do processo de desenvolvimento por substituio de importaes pode atribuir-se, em sntese, a uma srie de respostas aos sucessivos desafios colocados pelo estrangulamento do setor externo, atravs dos quais a economia vai se tornando quantitativamente menos dependente do exterior e muda qualitativamente a natureza dessa dependncia. Ao longo desse processo, do qual resulta uma srie de modificaes estruturais da economia, vo-se manifestando sucessivos aspectos da contradio bsica que lhe inerente entre as necessidades de crescimento e a barreira que representa a capacidade para importar (TAVARES, 1972, p. 41-42).

    A autora mostra que a adoo do Programa de Substituio de Importaes

    - PSI, durante o Primeiro Governo Vargas, foi basicamente uma resposta s

    dificuldades encontradas no setor externo da economia, o que acabou colocando o

    mercado interno como fator dinmico principal da economia brasileira nos anos

    seguintes.

  • 9

    O PSI, at ento, apesar de fomentar o processo industrial do pas, no foi

    vinculado a uma poltica que articulasse a indstria com os demais setores da

    economia, deixando esta sem competitividade, obsoleta, voltada para a produo de

    bens de consumo no durveis, dependente do investimento e da proteo do

    Estado. A forma como foi conduzido o processo de industrializao contribuiu para

    um aumento da concentrao de renda, e para uma indstria concentrada em

    apenas algumas regies do pas, pois o mesmo dependia de divisas, e quem gerava

    as mesmas era So Paulo.

    Neste primeiro perodo do processo de industrializao Brasileiro, segundo

    Cano (2007), quem mais se destacou dentro da economia nacional foi o estado de

    So Paulo, com estrutura diversificada e lastreada nas mais desenvolvidas relaes

    capitalistas de produo do pas. Aquele estado alcanou uma concentrao de

    37,5% da indstria brasileira, j em 1930. Durante a grande crise, portanto, o centro

    do pas se recuperou com avano, modernizao e ampliao das suas bases

    produtivas enquanto na periferia nacional, salvo rarssimas excees, o crescimento

    econmico at ento continuava muito fraco, respondendo crise no limite das suas

    foras.

    A magnitude dessa concentrao industrial pode ser analisada quando

    comparada a participao de So Paulo, com a participao das demais regies do

    pas na produo nacional. So Paulo concentrava 37,5 % da produo industrial

    brasileira em 1930, passou para 41% em 1939, depois para 49% em 1949 e

    chegando a 52% entre 1955 e 1956, antes do plano de metas. Enquanto isso, nas

    outras regies, no perodo de 1919 a 1949 a participao na indstria era muito

    baixa: Centro-oeste (0,4% 0,5%), Santa Catarina (1,9 2,4%), Minas Gerais (5,4%

    - 6,6%) e Nordeste (16% - 9%), dentre outros (CANO, 2007).

    Em um segundo perodo, a partir da dcada de 50, houve uma tomada de

    direo no processo de desenvolvimento brasileiro, durante o Governo Juscelino

    Kubitschek. A partir de ento implantado um processo de estmulo da indstria

    durante o Plano de Metas (1956 1960). Essa fase, conhecida por industrializao

    ampliada, se d novamente por um processo de substituio de importaes, que

    estimulou por consequncia a integrao do mercado nacional, com a consolidao

    de vez, de So Paulo como principal centro industrial do pas em funo da sua

  • 10

    crescente capacidade de acumulao de capital, introduo de novas tecnologias e

    diversificao da estrutura produtiva (MONTEIRO, 2012).

    Segundo Cano, (2007) mesmo a partir de 1953 surgindo algumas indstrias

    produtoras de bens de consumo durveis e de produo, somente a partir da

    concretizao dos principais investimentos estimulados pela Instruo 113 da

    Superintendncia da Moeda e do Crdito - Sumoc e pela poltica econmica do

    Plano de Metas que a taxa de crescimento industrial saltaria para nveis ainda

    mais elevados.

    A Instruo 113 da Sumoc, de 17 de janeiro de 1955, foi considerada o

    marco que orientou a economia brasileira para sua internacionalizao, criando um

    ambiente favorvel entrada de capital estrangeiro no pas. Essa instruo permitiu

    a importao sem cobertura cambial, de mquinas e equipamentos para completar

    ou aperfeioar os conjuntos j existentes. Porm isto no seria interpretado como

    importao, e sim como investimento direto, uma vez que o investidor estrangeiro

    teria participao societria na empresa nacional. Deste modo, a instruo foi uma

    maneira de obter divisas, sem onerar o balano de pagamentos (CAPUTO, 2007).

    Por sua vez, o Plano de Metas, institudo durante o governo de Juscelino

    Kubitschek estabelecia uma poltica clara de incentivo a indstria de bens

    intermedirios e bens de capital. O plano consistia em um conjunto de objetivos

    metas a serem alcanados em diversos setores da economia, tendo a indstria

    nacional como assunto de suma importncia. Algumas metas principais do governo

    englobavam os setores de infraestrutura, como energia e transportes, para o

    favorecimento da implantao industrial, alm de outros setores como alimentao,

    educao e indstria bsica, julgados tambm como necessrios ao

    desenvolvimento do pas (RABELO, 2002).

    Mas o Plano no se restringiu apenas infraestrutura. O Estado atuou

    diretamente ou indiretamente a favor da instalao do setor de bens intermedirios e

    de capital, principalmente no que diz respeito indstria siderrgica e

    automobilstica.

    Embora o Plano de Metas tenha colaborado fortemente para o

    desenvolvimento da indstria brasileira, vale ressaltar, como cita Rabelo (2002), em

  • 11

    seu estudo sobre a consolidao do capitalismo industrial no Brasil, a falta de

    preocupao com a distribuio de renda:

    O Programa de Metas, nome oficial da poltica econmica de JK, partia de um diagnstico sobre os pontos de estrangulamento da economia nacional situados em trs setores bsicos: infraestrutura, indstria de bens intermedirios e indstria de bens de equipamentos. O Plano no se preocupa especialmente com a agropecuria, nem define metas com relao distribuio espacial ou pessoal da renda. (RABELO, 2002, p. 48).

    Assim como concentrao de renda, esse perodo de expanso acelerada

    levou a um agravamento da concentrao industrial na regio centro-sul do pas.

    Segundo Cano (2007), esse movimento ocorreu na medida em que se instalavam as

    chamadas indstrias pesadas, principalmente em So Paulo, devido a uma maior

    diversificao industrial que existia no local antes deste processo. Pode-se ver, por

    exemplo, o caso da implantao da indstria automobilstica em So Paulo, que se

    aproveitou da matura indstria de autopeas j existente. Dessa forma, os efeitos de

    encadeamento nessa regio foram muito maiores que na periferia brasileira.

    Assim, no nvel agregado da indstria de transformao, o domnio de So

    Paulo passou de 48,9% em 1949 para 55,6% da produo nacional em 1959. E no

    perodo posterior, mesmo diminuindo o ritmo chegou a 58,2% em 1970. Paran e

    Rio de Janeiro tambm ganharam destaque com o crescimento durante o perodo.

    J a regio Centro-Oeste, embora tenha apresentado crescimento, sua participao

    na indstria nacional continuava muito baixa, atingindo ao final da implantao dos

    investimentos do Plano de Metas, apenas 0,6% da produo nacional. (CANO,

    2007)

    Portanto, o perodo de 1930-1970, se caracterizou por aprofundar a

    concentrao industrial no Brasil, iniciando durante a industrializao restringida e o

    programa de Substituio de Importaes durante o Governo Vargas, e

    consolidando So Paulo como principal centro industrial do pas a partir do Plano de

    Metas do governo Juscelino Kubitschek. Dessa forma as regies menos

    desenvolvidas industrialmente ficaram marginalizadas desse perodo de crescimento

    industrial.

  • 12

    1.2 Movimento de desconcentrao industrial a partir de 1980

    O processo de concentrao industrial, verificado no perodo de 1930 a

    1970, se modifica em meados dos anos 80. A problemtica da desconcentrao

    industrial no Brasil, ou seja, da distribuio do capital pelo territrio, tem sido um

    tema constante em estudos atuais, buscando verificar se ele tem continuado ou no.

    Segundo Pacheco (1999), o analisar os movimentos da indstria brasileira

    na dcada de 80 e incio dos anos noventa, foram verificados alguns aspectos

    importantes e que sustentam a tese do movimento de desconcentrao da indstria.

    Primeiramente, os investimentos realizados no final da dcada de 70 ainda

    repercutiam, no incio da dcada de 80, nas bases regionais da indstria brasileira, e

    traziam consigo forte componente de desconcentrao. Esse fato pode ser

    exemplificado pela indstria qumica e de extrativismo mineral, dentre outras

    indstrias de bens intermedirios, que ainda se fortaleciam nos anos 80, herdadas

    de investimentos do II PND (PACHECO, 1999).

    Em segundo lugar, foram ampliadas as alternativas localizadas de

    dinamismo econmico, como consequncia do esforo do setor exportador na

    economia. Mesmo no alcanando um padro de crescimento, os investimentos

    gerados neste processo foram muito importantes para algumas regies, como

    Esprito Santo, Par e Maranho, por exemplo, que se beneficiaram dos

    investimentos em papel e celulose, extrativismo mineral e siderurgia (PACHECO,

    1999).

    Em terceiro lugar, houve um crescimento da tendncia de localizao de

    novas atividades industriais fora das reas metropolitanas, evitando as

    deseconomias de aglomerao das grandes cidades. Essas deseconomias

    derivaram do crescimento urbano-industrial nas grandes cidades, em paralelo ao

    desenvolvimento de novas economias de aglomerao em outros espaos urbanos,

    assim as empresas buscaram fugir da menor disponibilidade de terrenos e maiores

    custos de instalao e operao dos grandes centros (PACHECO, 1999).

    Esses fatores propiciaram o movimento de desconcentrao industrial no

    Brasil, a partir dos anos 80. O primeiro ponto desse movimento de desconcentrao

  • 13

    industrial foi a reverso da polarizao da rea metropolitana de So Paulo, com as

    chamadas deseconomias de aglomerao. Assim a participao paulista no

    emprego e na indstria caiu de 34% e 44% respectivamente, para 28% e 29%, isso

    em um perodo de apenas 15 anos, entre 1970 e 1985. Isso tudo como resultado de

    um ciclo expansivo da economia brasileira, o milagre econmico, a partir do qual

    houve um grande processo de crescimento industrial com desconcentrao

    geogrfica. (DINIZ e CROCCO, 1996).

    De acordo com Diniz e Crocco (1996), o segundo ponto deste processo

    refere-se ao crescimento da infraestrutura econmica do pas. Investimentos em

    transportes, energia e comunicao tornaram o mercado brasileiro mais forte e

    unificado, facilitando assim a localizao das indstrias em novas reas,

    principalmente em cidades de porte mdio. Alm disso, o aumento dos custos na

    rea metropolitana de So Paulo e o desenvolvimento de economias de

    aglomerao nas cidades de porte mdio fizeram com que as cidades menores se

    tornassem mais atrativas indstria do que a capital paulista.

    O que possibilitou esses primeiros movimentos de desconcentrao

    industrial foi a atuao do Estado na economia, ao aplicar alguns tipos de polticas

    compensatrias, revertendo o quadro de concentrao. Algumas das medidas

    adotadas foram os investimentos produtivos diretos, investimentos em infraestrutura

    e polticas de incentivos fiscais. (PASCHOAL, 2001).

    Embora o processo de desconcentrao industrial tenha expandido a

    fronteira agrcola do Centro-Oeste, a fronteira mineral do Norte, e o crescimento via

    incentivos fiscais no Norte e Nordeste do pas, ficou constatado que o mesmo foi

    relativamente contido na Regio Centro-Sul do pas. (DINIZ & CROCCO, 1996). A

    partir disso, segundo Paschoal, a atrao de indstrias que levam a um maior grau

    de encadeamento para frente e para trs, ficou mais restrita e este espao do pas.

    Assim, no incio dos anos 80, o pas vivia um movimento de

    desconcentrao industrial, principalmente na regio metropolitana de So Paulo em

    direo ao interior, e em algumas regies prximas na regio centro-sul do Brasil.

    A partir de 1984, quando se reduz o papel do governo federal como principal

    articulador das polticas regionais, estas passam a ser elaboradas pelos prprios

  • 14

    governos estaduais, passando a ser de cunho eminentemente regional, voltados

    para a atrao de indstrias, a partir de incentivos fiscais e financeiros.

    (PASCHOAL, 2001).

    Segundo Diniz (1999), neste perodo acontece ainda um processo de

    reconcentrao industrial em direo regio centro-sul do pas, excluindo a regio

    metropolitana de So Paulo. Ao estudar os dados em relao ao emprego no pas, o

    autor verifica que este cresce no interior da Regio Centro-Sul, mas no fora dela.

    Assim, os investimentos voltam a se concentrar nas regies mais dinmicas do pas,

    acontecendo o que chamado de desconcentrao concentrada.

    Neste contexto, os estados fora da regio Centro-Sul, precisariam de

    polticas mais especficas para desenvolvimento da indstria local, e neste

    contexto que este estudo analisa os impactos do programa de incentivos fiscais

    Fomentar/Produzir que foi realizado no Estado de Gois para atratividade industrial.

    1.3 A descentralizao poltica e fiscal a partir da Constituio de 1988

    A dcada de 80 foi marcada pelos impactos decorrentes da segunda crise

    do petrleo, da alta dos juros e da recesso norte-americana. Os principais credores

    do pas defendiam fortemente um ajuste estrutural, que tinha por objetivo possibilitar

    um maior envio de recursos para pagamento da dvida externa. Assim a economia

    brasileira levada para um perodo de estagnao e inflao acentuada, agravando

    ainda mais a desigualdade de renda que j era verificada nos anos 70 (Senra,

    2009).

    A partir de ento surgem algumas polticas nacionais na tentativa de

    reverso deste quadro. Primeiramente o III Plano Nacional de Desenvolvimento,

    ainda no final do Regime Militar, afirmando alm da preocupao com o crescimento

    da renda e do emprego, a necessidade de fortalecer os estados e municpios,

    desconcentrar recursos e promover o desenvolvimento regional.

    Logo aps o final daquele regime, durante o governo de Jos Sarney, surge

    o I Plano Nacional de Desenvolvimento da Nova Repblica, onde sua preocupao

  • 15

    com o desenvolvimento regional est basicamente voltada para a Regio Nordeste

    do pas, com prioridade absoluta, com o objetivo de reverter as condies de

    subdesenvolvimento da regio. (BRASIL, 1986).

    Segundo Senra (2009), na dcada de 80 o planejamento nacional caiu em

    descrdito, a inflao e o fracasso dos planos de estabilizao econmica

    contriburam para o abandono dos planos de desenvolvimento. Neste mesmo

    perodo houve o fim do regime militar, levando promulgao da nova Constituio

    Federal de 1988. Neste contexto, governadores, prefeitos e movimentos sociais,

    lutaram a favor da descentralizao do poder pblico.

    A Constituio de 1988 trouxe a ideia da redemocratizao nacional, e assim

    a descentralizao poltica, fiscal e administrativa. Segundo Souza (1999):

    A redemocratizao traz consigo a bandeira da descentralizao poltica, fiscal e administrativa e da restaurao do federalismo, juntamente com compromissos de melhorar os servios pblicos e de promover a distribuio da renda. A maioria dessas demandas recebeu tratamento especial na Constituio de 1988 (SOUZA, 1999, p.7).

    A partir da descentralizao fiscal proposta pela constituio a participao

    do governo federal na receita pblica diminuiu e foram aumentadas as receitas dos

    municpios e estados da federao. Esse aumento se deu de diversas formas,

    segundo Souza (1999), duas delas so importantes para se entender melhor o

    federalismo. A primeira forma foi a transferncia de alguns impostos federais para os

    estados, aumentando sua bases tributria, principalmente a do seu principal

    imposto, o Imposto Sobre Circulao de Mercadorias e Servios ICMS. De acordo

    com o artigo 155 da Constituio Federal:

    Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre: II - operaes relativas circulao de mercadorias e sobre prestaes de servios de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicao, ainda que as operaes e as prestaes se iniciem no exterior (BRASIL, 1988).

    A constituio tambm deu maior liberdade aos estados para determinar os

    critrios de cobrana do ICMS e total liberdade no que se refere ao uso desta

    contribuio, o nico limite sendo a transferncia de 25% para os municpios.

    A segunda forma de aumento das receitas subnacionais aconteceu a partir

    do aumento do percentual das transferncias dos impostos federais que constituem

    os fundos de participao. Deste modo, enquanto a primeira forma evitou as reaes

  • 16

    contrrias dos estados economicamente mais fortes, pois o ICMS o maior imposto

    em termos absolutos, a segunda por sua vez, beneficia os estados economicamente

    mais frgeis, uma vez que sua frmula de clculo redistribui os recursos de acordo

    com o tamanho da populao e a renda per capita.

    Os estados passam ento, a ter uma maior autonomia, para formulao de

    polticas voltadas para o crescimento econmico regional, utilizando a liberdade

    sobre o uso e arrecadao do ICMS como instrumento. Paschoal (2001) discute

    sobre o movimento dos programas de incentivos fiscais, visando atrao de

    indstrias, a partir da constituio de 1988:

    A gnese deste movimento centra-se na Constituio de 1988, que amplia a participao de Estados e de Municpios na receita tributria, permitindo a estes, dentro dos parmetros formulados pela legislao vigente, estabelecer concesses envolvendo o Imposto Sobre Circulao de Mercadorias e Servios. A adoo de incentivos fiscais passa a ser cada vez mais utilizada, sendo, inclusive, um dos fatores de atrao de novos investimentos para seus espaos econmicos (PASCHOAL, 2001, p.17).

    Assim vrios destes programas so instalados nos estados brasileiros,

    inclusive no Estado de Gois, utilizando o ICMS como arma para melhorar a

    competitividade do estado na atrao de investimentos industriais.

    Gois se destaca neste meio, pelos seus programas de incentivos fiscais,

    voltados para o desenvolvimento da indstria, se aproveitando principalmente do

    forte setor agropecurio existente, para a implantao da agroindstria. Estevam

    (1997) destaca a importncia dos incentivos fiscais para a implantao da

    agroindstria no Estado de Gois: A implantao da agroindsnia em Gois se deu

    em momento anterior com relao ao Centro-Oeste quando os incentivos estaduais

    e a localizao da capital federal constituam fatores de atratividade de grande

    importncia.

  • 2. OS PROGRAMAS FOMENTAR E PRODUZIR

    O principal programa de incentivos fiscais em Gois, Fomentar, foi criado em

    1984, para combater o fraco poder de concorrncia da indstria goiana, frente

    fora dos principais centros industriais brasileiros. O programa buscou assim,

    estimular investimentos capazes de alterar aquele quadro, promovendo um maior

    nvel de industrializao da economia do Estado.

    Durante o perodo em que o programa Fomentar esteve em vigor, houve

    diversos obstculos e modificaes, de acordo com os interesses do Estado e de

    investidores, em prol dos seus objetivos. Nesse captulo sero descritos desde o

    aspecto da criao do programa, at as suas necessrias modificaes e a

    reformulao ocorrida em de 1999, a partir da qual se originou o Produzir, programa

    que continua em vigor at esta data (2013).

    2.1 A implantao do programa Fomentar

    O Fundo de Expanso da Indstria e Comrcio do Estado de Gois

    FEINCOM foi o primeiro programa de incentivo industrializao implantado em

    Gois, amparado pela Lei n 7.700, de 19 de setembro de 1973. Esta lei, associada

    ao incio do II PND, estabeleceu incentivos industrializao do Estado e criou o

    Conselho Superior de Prioridades para o Desenvolvimento Industrial do Estado de

    Gois para colocar em prtica a poltica de desenvolvimento industrial do Estado e

    fixar as normas para concesso de benefcios previstos pela lei (CHAVES, 2009).

    O objetivo principal do FEINCOM foi a criao de uma infraestrutura bsica,

    principalmente no que diz respeito energia eltrica, gua, servios de

    comunicaes e estradas, visando garantir uma estrutura para o recebimento de

    novas indstrias. Em uma ao conjunta entre o Estado e os municpios,

    concedendo isenes de impostos como ICMS, ISS e IPTU, foram atradas vrias

    indstrias para Gois, sendo 90 projetos aprovados apenas no primeiro ano

    (PASCHOAL, 2001).

  • 18

    Assim, j no incio do II PND, comeavam a aparecer alguns programas

    voltados para o mbito regional, principalmente no que diz respeito introduo de

    infraestrutura bsica visando atrair investimentos que fossem capazes de levar o

    crescimento econmico regies que no tinham grande atratividade para a

    indstria.

    Tambm associado ao movimento do II PND, foi criado posteriormente o

    Fundo de Participao e Fomento Industrializao do Estado de Gois

    FOMENTAR, por meio da Lei n 9.489, de 19 de julho de 1984, com intuito de

    incrementar a implantao e a expanso de atividades que promovessem o

    desenvolvimento industrial do Estado de Gois (GOIS, 1984). Logo o programa

    visava no s a atrao de novas indstrias para o Estado, mas tambm a expanso

    das indstrias j existentes.

    De acordo com a Secretaria de Gesto e Planejamento do Estado de Gois

    (2011), o programa Fomentar foi criado com o discurso de promover o

    desenvolvimento industrial em Gois, apresentando os seguintes objetivos:

    Incrementar as atividades industriais no Estado, por meio de projetos

    de implantao e expanso das atividades industriais, preferencialmente do

    ramo da agroindstria, e que contribuam efetivamente para o

    desenvolvimento econmico de Gois;

    Apoiar tcnica e financeiramente as atividades que promovam o

    desenvolvimento dos setores de micros, pequenas e mdias empresas;

    Apoiar o desenvolvimento das grandes indstrias consideradas de

    maior relevncia social e econmica para o Estado.

    As fontes de recursos utilizadas para alcanar aqueles objetivos, foram

    definidas principalmente sobre o ICMS a ser recolhido das indstrias implantadas ou

    expandidas com o apoio do programa. Segundo esse sistema as empresas ficariam

    temporariamente isentas de 70% do ICMS devido, desde que no ultrapassasse o

    limite de 12% de todas as sadas registrveis no perodo de competncia.

    Alm do recurso do ICMS, foram definidas outras fontes de recursos

    secundrias para o programa, como crditos oramentrios destinados pelo poder

    pblico ou rendimentos operacionais de cobrana de encargos financeiros, de

  • 19

    reembolso de capital despendido e aplicao em ttulos mobilirios dentre outros

    (PASCHOAL, 2001).

    Alm da iseno temporria do ICMS, o programa tambm reduziu o valor

    do ICMS sobre o faturamento mensal das empresas de 17% para 7%, para

    transaes realizadas entre as empresas beneficiadas pelo Fundo. Algumas outras

    formas de apoio fornecidas pelo governo foram a iseno de correo monetria

    (para os projetos aprovados at 31 de dezembro de 1998), elaborao de projetos

    de edificaes de obras, realizao de obras de infraestrutura bsica de interesse

    das empresas, venda de terrenos a preo simblico e apoio financeiro direto, por

    meio de concesso de financiamentos para a implantao ou expanso de

    empreendimentos enquadrados no programa (PASCHOAL, 2001).

    Desta maneira, o Governo de Gois dava total apoio implantao e

    expanso industrial, desde o fornecimento dos recursos mais bsicos, passando

    pelo financiamento, elaborao e assessoramento de projetos e chegando iseno

    temporria do ICMS. Alm disso, promovia a integrao entre as empresas

    beneficiadas, e da mesma forma, a integrao do parque industrial de Gois.

    Segundo a legislao inicial do Fomentar, as empresas beneficirias,

    pagariam 30% do ICMS mensalmente, como Ordens de Proviso Financeira e

    Oramentria, os outros 70% seriam o valor do incentivo fiscal, que teria seu

    recolhimento protelado pelo prazo de 5 anos, e o seu pagamento seria efetuado

    mensalmente aps esse perodo, e com um prazo de mais 5 anos. Sobre o valor

    total do dbito seriam cobrados juros no capitalizveis de 2,4% a.a., mas o

    montante total at o perodo de pagamento no seria acrescido de correo

    monetria.

    Na primeira parte do programa, entre 1985 e 1989, o Governo de Gois

    aprovou um total de 245 projetos, sendo que destes, 210 foram para a instalao de

    novas empresas, ou seja, o programa se mostrou um forte atrativo de investimentos

    para o Estado. O total de investimentos em capital fixo que foram projetados nessa

    fase do Fomentar foram estimados em R$ 939.176.510,00, e o total de benefcios

    outorgados no mesmo perodo foi de R$ 2.007.223.200,27. (CHAVES, 2009).

    Mesmo o programa se mostrando um forte atrativo para investimentos, foi cercado

    de uma srie de questionamentos quanto sua forma de atuao.

  • 20

    Segundo o exemplo hipottico, apresentado por Paschoal (2001), a ausncia

    de correo monetria sobre o valor do benefcio, isso sem contar com os juros

    praticados abaixo do valor do mercado, levava a que os 70% do ICMS devido pelas

    empresas beneficirias se constitusse praticamente em iseno fiscal. Tendo em

    vista que no perodo da formulao do programa, a inflao girava em torno de

    200% a.a., e no apresentava sinais de diminuio. Portanto, a ideia inicial de

    emprstimo, que era indicada na legislao, acabou por no ter nenhum

    fundamento.

    Quando a correo monetria aplicada sobre o montante do benefcio de

    uma empresa hipottica, no perodo de pagamento, entre 1989 a 1993 no exemplo

    citado pelo autor, verifica-se que o valor pago pelas empresas se torna irrisrio,

    perto do valor corrigido. Assim, Paschoal (2001), questiona a real inteno inicial do

    programa:

    Assim, a no cobrana de correo s pode ser entendida por qualquer analista econmico como inteno de desvalorizao da dvida, de efetiva renncia fiscal. Para ns, o que se evidencia que, desde o incio da implantao do Programa, a inteno era de iseno de 70% do ICMS devido por 5 anos. No entanto, medida que a inflao foi controlada no incio dos anos 90, tal expediente passou a no mais funcionar, levando adoo de outras medidas, com intuito de no cobrar efetivamente o valor do ICMS protelado (PASCHOAL, 2001, p. 54).

    Deste modo, a primeira parte do programa ficou caracterizada pela real

    renncia fiscal por parte do Estado, como forma de atratividade de investimentos

    para a indstria goiana. Em um segundo perodo, a partir dos anos 90, o programa

    sofreu uma srie de modificaes distanciando assim, dos seus objetivos iniciais.

    2.2 As modificaes do programa a partir dos anos 90

    A partir dos anos 90, a legislao do Fomentar foi bastante modificada.

    Algumas mudanas como a incluso das micro, pequenas e mdias empresas e os

    aumentos no prazo de fruio dos benefcios ganharam destaque neste perodo.

    Na fase inicial do programa, as micro, pequenas e mdias empresas, no

    foram contempladas com os seus benefcios, o que dificultava muito a sua

  • 21

    concorrncia com as grandes empresas beneficirias e contestava a funo social

    do Fundo, uma vez que grandes empreendimentos que se utilizavam dos avanos

    da tecnologia de automao, se tornavam mais intensivos em capital do que em

    trabalho, reduzindo a gerao de empregos (PASCHOAL, 2001).

    A lei n 11.180, de 19 de abril de 1990, estabeleceu algumas modificaes

    na legislao inicial do Fomentar, dentre elas aumentando o apoio s empresas de

    pequeno porte, visando corrigir a prtica at ento adotada pelo programa.

    At a data de edio desta lei, empresas de pequeno e de mdio porte no eram contempladas, estas s passaram a usufruir dos benefcios do Programa, como ficou demonstrado no Relatrio de Auditoria do Tribunal de Contas do Estado de Gois, quando da edio da Resoluo n 029/85 (fls. 158/159, V, II,), conjugada com as determinaes do artigo n 179, da Constituio Federal de 1988, e com as normas legais do FOMENTAR. Essas normas passaram a garantir s empresas em questo, o financiamento de at 400 (quatrocentas) Obrigaes Reajustveis do Tesouro Nacional, mais juros no capitalizveis, semelhantes aos estabelecidos para as demais indstrias (PASCHOAL, 2001, p. 56).

    As empresas de pequeno porte passaram ento a ter os mesmo benefcios

    das grandes empresas, o que se faz com o total amparo da nova Constituio

    Federal, que visava, no artigo n 179, incentivar este tipo de empreendimento, dando

    a elas uma maior fora para competir com as grandes empresas no mercado.

    Art. 179. A Unio, os Estados, o Distrito Federal e os Municpios dispensaro s microempresas e s empresas de pequeno porte, assim definidas em lei, tratamento jurdico diferenciado, visando a incentiv-las pela simplificao de suas obrigaes administrativas, tributrias, previdencirias e creditcias, ou pela eliminao ou reduo destas por meio de lei (BRASIL, 1988).

    O programa Fomentar se ajustou ento legislao, para garantir a

    presena de empresas de pequeno e mdio porte no programa, mas isto se deu em

    piores condies que as das grandes empresas, principalmente no que diz respeito

    ao prazo dos benefcios que era muito menor. Alm disso, seguidas modificaes na

    legislao reduziram ainda mais este prazo e aumentaram as taxas de juros,

    aprofundando essa discrepncia e levando sada de um grande nmero de

    pequenas empresas do programa. (PASCHOAL, 2001).

    Houve ainda outras alteraes no programa. No que diz respeito ao prazo de

    fruio dos benefcios e ao prazo de protelao dos pagamentos, houveram

    constantes modificaes na legislao do programa, levando a um aumento dos

    prazos e por consequncia do tempo de renncia fiscal por parte do estado. Essas

  • 22

    modificaes se deram por meio da edio de 7 leis e 4 decretos entre 1985 e 1998,

    como foram apresentados por Paschoal (2001), pelo quadro abaixo:

    QUADRO I

    ALTERAES NOS PRAZOS DO FOMENTAR ENTRE 1985 E 1998

    Decreto ou Lei Contedo Efeito provocado no programa

    1. Decreto n 2.453, de 22/02/1985

    Dispe sobre o prazo de utilizao dos benefcios dentro do programa

    Concede 5 anos de prazo para utilizao dos benefcios, com diferenciao de prazos para pagamentos de encargos.

    2. Decreto n 2.579, de 28/04/1986

    Dispe sobre o prazo de resgate dos benefcios do Tesouro Nacional

    Concede ao pagamento o mesmo tempo de fruio dos benefcios, ou seja, 5 anos.

    3. Lei n 11.180, de 19/04/1990

    Fixa novos prazos de fruio e de resgate dos benefcios

    At 10 anos para empreendimentos situados nas reas da Amaznia Legal e 7 anos para as demais localidades.

    4. Decreto n 3.503, de 08/08/1990

    Fixa novos prazos de fruio e de resgate dos benefcios

    Ratificando para ambos o prazo de 5 anos

    5. Lei n 11.660, de 27/12/1991

    Fixa novos prazos de fruio e de resgate dos benefcios

    At 10 (dez) anos para: empreendimentos situados na rea abrangida pelo PRONORDESTE e AMAZNIA LEGAL. Indstrias pioneiras no seu ramo de atividade. Investimentos industriais em municpios de at 20.000 habitantes. Projetos considerados de alta relevncia para o desenvolvimento scio-econmico do Estado de Gois. At 7 (sete) anos para: Indstrias estabelecidas em distritos industriais, mantidas pelo Estado de Gois. Indstrias que fabricam produtos sem similares no Estado de Gois. Indstrias que destinam mais de 50% de suas mercadorias para venda no Estado. Indstrias que pertencem a grupos que possuem 3 ou mais empresas amparadas pelo programa. At 5 (cinco) anos para: Indstrias no enquadrveis nas normas Anteriores. Para indstrias com projetos de expanso de sua capacidade instalada. Para indstrias com projetos que visam reduo de sua capacidade ociosa.

  • 23

    6. Decreto n 3.822, de 10/07/1992

    Fixa novos prazos para fruio dos benefcios e a nova pontuao a ser alcanada

    At 10 anos: Conforme estipulado pela lei n 11.660, de 27/12/1991 At 7 (sete) anos: Para indstrias que ofeream mais de 1.000 (mil) empregos diretos. Para indstrias que fabriquem produtos similares no Estado de Gois. Para indstrias que destinem mais de 50% de sua produo venda no mercado interno do Estado de Gois. Para indstrias pertencentes a grupo possuidor de 3 (trs) ou mais estabelecimentos fabris amparados pelo Fomentar. At 5 (cinco) anos: Para indstrias no enquadrveis nas normas acima.

    7. Lei n 12.425, de 15/08/1994

    Fixa novos prazos de fruio e de resgate dos benefcios

    Concede 15 anos: para indstrias de autopeas instaladas em distritos industriais mantidos pelo Estado de Gois, locais diversos de onde se encontram instaladas montadoras de automveis e de tratores, no entanto, devem manter integrado, a estes setores.

    8. Lei n 12.543, de 28/12/1994

    Fixa novos prazos de fruio e de resgate dos benefcios

    Estende os 15 anos s indstrias de tratores instaladas nos distritos industriais do Estado

    9. Lei n 12.855, de 19/04/1996

    Fixa novos prazos de fruio e de resgate dos benefcios

    Concede mais 5 anos para indstrias de autopeas e de tratores, que contenham projetos novos de enquadramento, adequao ou reformulao daquele anteriormente aprovado.

    10. Lei n 13.246, de 13/01/1998

    Fixa novos prazos de fruio e de resgate dos benefcios

    Concede 20 anos de prazo para os demais setores beneficiados.

    11. Lei n 13.436, de 31/12/1998

    Fixa novos prazos de fruio e de resgate dos benefcios

    Concede 30 anos para os beneficirios do programa para fruio e resgate dos benefcios.

    Fonte: PASCHOAL, (2001).

    Deste modo, gradativamente, ao longo de 13 anos, o Estado elevou o prazo

    de fruio e resgate dos benefcios de 5 para 30 anos, ou 60 anos no caso de a

    empresa utilizar dois benefcios. E, aps a estabilizao da inflao, o meio

    encontrado pelo governo para isentar as empresas do imposto, foi o aumento dos

    prazos, levando o impacto a ser muito maior do que o de uma iseno de 5 anos,

  • 24

    pois passou a se tratar de uma iseno de 30 anos, com mais 30 como prazo de

    pagamento.

    Outro fator responsvel pela maior renncia fiscal se deve aos crditos de

    ICMS gerados que deixaram de ser contabilizados. Segundo o Paschoal (2001),

    quando realizaram a correo monetria do ICMS devido e das Ordens de Proviso

    Financeira e Oramentrias, entre 1986 e 1994, foi observada uma diferena de R$

    193.654.428,32 entre os dois, ou seja, a diferena entre o que era realmente devido

    e o que foi contabilizado. Deste modo, enquanto na primeira parte do programa a

    ausncia de correo monetria foi o gerador da renncia fiscal, no segundo

    momento a no contabilizao de cerca de 90% dos crditos de ICMS nos d a

    indicao de que o governo continuaria no regime de renncia fiscal.

    Alm disso, grande parte dos pagamentos no ocorreu, pois os grandes

    passivos gerados s empresas impediam as mesmas de obterem financiamentos,

    logo o fundamental era zerar legalmente esses dbitos. A partir da, foi criado o

    leilo dos crditos de ICMS, com 89% de desconto para as empresas quitarem os

    valores devidos. Esse desconto foi calculado para que as empresas conseguissem

    quitar as suas dvidas utilizao apenas a calo que teria sido feita para adentrar

    ao programa, e os outros 1% de desconto se devem ao fato de que essa calo

    deveria estar aplicada em Certificados de Depsito Bancrio - CDBs.

    Deste modo, dos R$ 773.662.671,07 devidos pelas empresas em 1999, R$

    626.642.849,80 foram levados a leilo, arrecadando um total de apenas R$

    72.220.387,47, pago em grande parte com os crditos de CDBs. Apenas as

    empresas que no tinham aplicado devidamente as caues tiveram que

    desembolsar uma pequena parte do pagamento. (PASCHOAL, 2001).

    Mesmo com os problemas citados, no que diz respeito atrao de

    investimentos essa segunda fase do programa se mostrou ainda mais forte que a

    anterior. No perodo de 1990 at o fim do programa em 2003, aps sua fase de

    transio para o Produzir, foram aprovados mais 1320 projetos, uma mdia mais de

    100 projetos por ano, sendo destes, 689 para instalao de novas empresas. O valor

    do benefcio concedido pelo estado foi exorbitante neste perodo, sendo estimado

    em um total de R$ 34.903.133.954,03 (CHAVES, 2009).

  • 25

    Embora a segunda fase do programa tenha sido novamente um sucesso

    para a atrao de investimentos, sendo mais de R$ 5,6 bilhes de reais em 13 anos,

    as distores causadas pelo seu modo de funcionamento, tendo os enormes prazos

    como viles, levaram o programa a ser reformulado a partir de 1999, sendo depois

    substitudo pelo Produzir.

    2.3 A reformulao do programa e sua substituio pelo Produzir

    partir de 1999, quando Marconi Perillo assumiu o Governo de Gois, foi

    solicitada uma reformulao do programa Fomentar, surgindo ento a ideia da

    criao de um novo programa. Assim, surgiu a partir da Lei n 13.591, de 18 de

    janeiro de 2000, o Programa de Desenvolvimento Industrial de Gois Produzir,

    visando corrigir as distores que aconteceram no programa Fomentar, mas

    continuando com o mesmo perfil de poltica de incentivo industrializao via

    incentivos fiscais (MAIA, 2005).

    Como um projeto de reformulao da poltica anterior, o Produzir veio com

    objetivos mais fortes, buscando transformar Gois em um polo industrial de

    crescente importncia, tanto no cenrio nacional, quanto internacional, tentando

    assim dar uma real competitividade de mercado indstria goiana; estimular a

    realizao de investimentos, a renovao das estruturas produtivas e usar essa

    expanso e modernizao para um desenvolvimento sustentvel, do ponto de vista

    econmico, social, regional e ambiental; gerar emprego e renda, e ao mesmo tempo

    diminuir as desigualdades sociais e regionais; e diversificar a capacidade produtiva,

    dentre outros. (CHAVES, 2009)

    Uma das modificaes importantes no programa a nova tentativa de

    incluso das empresas de pequeno porte, criando a partir do art. 7 da lei do

    Produzir, um subprograma, voltado para este tipo de empresa.

    Art. 7 - Fica institudo o MICROPRODUZIR, subprograma integrante do PRODUZIR, considerado prioritrio e que abranger as aes voltadas para as empresas industriais, enquadradas ou no no Regime Simplificado de Recolhimento dos Tributos Federais, desde que o faturamento no ultrapasse o limite fixado para o enquadramento no mencionado regime. (GOIS, 2000).

  • 26

    Esse subprograma atuaria ento com enquadramento diferenciado e

    privilegiado para as empresas beneficirias, que poderiam financiar uma parcela

    maior do valor mensal do ICMS, teriam melhores condies de subsdios para

    realizao dos investimentos, melhores encargos financeiros e diminuio da

    burocracia para se conseguir os benefcios.

    Alm do Microproduzir, foram criados outros subprogramas visando o

    crescimento de reas especficas que beneficiassem o programa, segundo a

    Secretaria da Indstria e Comrcio do Estado de Gois (2011), os principais foram:

    CENTROPRODUZIR (Lei n. 13.844 de 01/06/01) Visava Incentivar,

    por meio de apoio financeiro, a instalao, no Estado de Gois, de central

    nica de distribuio de produtos de informtica, telecomunicao, mvel,

    eletroeletrnico e utilidades domsticas em geral.

    TELEPRODUZIR (Lei n. 13.839 de 15/05/01) Prestao de

    assistncia financeira destinada ao financiamento de parcela do custo do

    investimento realizado, empresa de telecomunicao que instalar unidade

    central de atendimento (call center) no Estado de Gois.

    COMEXPRODUZIR (Lei n. 14.186 de 27/06/02) - Apoiar operaes de

    comrcio exterior no Estado de Gois, realizadas por empresa comercial

    importadora, inclusive por trading company, que operem exclusiva ou

    preponderantemente com essas operaes. Concede um crdito outorgado

    de ICMS, a ser apropriado na sada interestadual de mercadorias

    importadas, compensando o imposto devido pela empresa no valor de at

    65% sobre o saldo devedor do imposto no perodo correspondente s

    operaes internacionais.

    TECNOPRODUZIR (Lei n. 13.919 de 04/10/2001) - Prestao de

    incentivo financeiro destinado a motivar investimentos privados para a

    construo da torre central do Teleporto Parque Serrinha.

    LOGPRODUZIR (Lei n. 14.244 de 29/07/02) - Incentivar a instalao e

    expanso de empresas operadoras de Logstica de Distribuio de produtos

    no Estado de Gois. O incentivo consiste na concesso de crdito outorgado

    sobre o ICMS incidente sobre as operaes interestaduais de transportes

    pela empresa operadora de logstica.

  • 27

    O Produzir passou a funcionar ento sob forma de financiamento de at 73%

    do imposto devido, com prazo para pagar at 2020, no caso dos mdios e grandes

    empreendimentos. J o Microproduzir, financiava at 90% do ICMS para as micro e

    pequenas empresas, com prazo de 5 anos e tambm com juros de 2,4% ao ano e

    sem correo monetria. Os outros subprogramas por sua vez financiavam uma

    mdia de 65% do ICMS para pagar at 2020 (PASCHOAL, s.d).

    Outro aspecto importante do programa era sua preocupao com o

    desenvolvimento de ideias e capacitao profissional. O programa determinou que

    obrigatoriamente, as empresas deveriam investir uma parcela do benefcio, sendo

    essa corespondente a 10% do imposto devido em Pesquisa e Desenvolvimento

    (P&D), e/ou capacitao de recursos humanos (RH). A aplicao dessa parcela ficou

    sujeita a aprovao por parte da empresa de um Plano de Inovao Tecnolgica

    Industrial PITI e de um Plano de Capacitao de Recursos Humanos PCRH

    (CHAVES, 2009).

    Comparativamente ao Fomentar, o Produzir conseguiu reduzir algumas

    distores. Primeiramente, o programa no teve que lidar com o problema

    inflacionrio, que corroeu a dvida de ICMS das empresas beneficirias da primeira

    fase do Fomentar, em segundo lugar, o PRUDUZIR, quando efetivado, encontrou

    uma planta industrial muito mais forte, instalada no Estado de Gois, que aquela

    presente em 1984. Assim restou ao Produzir, apenas diminuir os exorbitantes prazos

    de protelao e pagamento concedidos pelo Fomentar, e embora os prazos

    concedidos pelo Produzir ainda fossem altos, no se pode compar-los aos

    concedidos pelo antigo programa.

    Deste modo, entre os anos de 2000 e 2011, o Produzir atraiu quase R$ 32

    bilhes em investimento fixo, e concedeu mais de R$ 150 bilhes em crditos para

    as empresas beneficirias (SEPLAN, 2012). Assim, em conjunto o

    Fomentar/Produzir foi eficiente na atrao industrial, para Gois, mas embora os

    investimentos, por suposto, deveriam gerar mais renda e por consequncia maior

    arrecadao, os custos disso foram muito grandes.

  • 3. OS IMPACTOS DO PROGRAMA PRODUZIR

    Para analisar os efeitos gerados pelo programa Produzir, contraposto aos

    efeitos do programa Fomentar, foi realizada uma pesquisa exploratria, utilizando os

    seguintes dados: estrutura do PIB goiano 1990 a 1997/Paschoal (2001); estrutura

    do PIB goiano 1999 a 2010/SEGPLAN (S.d.); taxa de crescimento do PIB 1987 a

    2010/IPEA (2013); PIB industrial goiano e nacional 1990 a 2009/IPEA (S.d.);

    nmero de indstrias de transformao existentes em Gois 2006 a 2011/IBGE

    (2012); PIB das dez maiores economias goianas 1999 a 2010/SEGPLAN (S.d.);

    valor adicionado industrial e agropecurio das cinco maiores economias goianas

    1999 a 2010/SEGPLAN (S.d.); postos de trabalho ocupados em Gois 1999 a

    2010/SEGPLAN (S.d.); nmero de admisses e desligamentos em Gois 2000 a

    2008/IPEA (S.d.); benefcios outorgados pelo Fomentar 1985 a 2003/Chaves

    (2009); benefcios outorgados pelo Produzir 2000 a 2010/SEGPLAN (2012); e

    arrecadao de ICMS do Estado de Gois 1995 a 2010/IPEA (S.d.).

    Um dos objetivos dos programas de incentivos fiscais, elaborados para o

    Estado de Gois, era contribuir para a expanso, modernizao e diversificao do

    setor industrial Goiano, modificando assim a sua estrutura produtiva, elevando assim

    a participao da indstria na composio do Produto Interno Bruto PIB do estado.

    De acordo com o estudo apresentado por Paschoal (2001), at 1997 o

    programa Fomentar ainda no havia cumprido esse objetivo, uma vez que naquele

    perodo a participao na indstria no PIB goiano era de apenas 12,8%, contra

    27,8% do setor agropecurio e 59,4% do setor de servios. A tabela I mostra a

    estrutura do PIB do Estado de Gois, entre 1999 e 2010, segundo Paschoal.

    TABELA I

    ESTADO DE GOIS: ESTRUTURA DO PRODUTO INTERNO BRUTO - 1990 A 1997

    Setor 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997

    PIB Total 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%

    Agropecuria 20,5% 17,2% 17,5% 18,2% 27,6% 28,2% 27,5% 27,8%

    Indstria 14,5% 10,8% 11,5% 7,6% 10,0% 12,0% 12,6% 12,8%

    Servios 65,0% 72,0% 71,0% 74,2% 62,4% 59,8% 59,9% 59,4%

    Fonte: PASCHOAL, 2001, p. 101.

  • 29

    Ainda assim, as modificaes realizadas no programa Fomentar ao longo

    dos anos 90 surtiram algum efeito, sendo verificado ento, que entre os anos de

    1993 e 1997, houve um pequeno ritmo de crescimento da participao do setor

    industrial. Em 1993, essa participao era de apenas 7,6%, havendo crescimento

    em todos os anos que se seguiram, at chegar aos 12,8% em 1997.

    Esse ritmo de crescimento se acentuou com a maturao dos projetos

    aprovados pelo Fomentar e com a criao do Produzir. A tabela II mostra a

    composio do Produto Interno Bruto de Gois, no perodo de 1999 a 2010. Ela

    permite visualizar essa modificao na estrutura produtiva do estado.

    TABELA II

    ESTADO DE GOIS: ESTRUTURA DO PRODUTO INTERNO BRUTO - 1999 A 2010

    Setor 1999 2000 2001 2002 2003 2004

    PIB Total 100% 100% 100% 100% 100% 100%

    Agropecuria 12,5% 14,0% 15,1% 18,7% 18,3% 17,2%

    Indstria 21,9% 24,0% 24,4% 23,9% 23,2% 25,0%

    Servios 65,7% 62,0% 60,5% 57,4% 58,5% 57,9%

    TABELA II ESTADO DE GOIS: ESTRUTURA DO PRODUTO INTERNO BRUTO - 1999 A 2010

    (CONTINUAO)

    Setor 2005 2006 2007 2008 2009 2010

    PIB Total 100% 100% 100% 100% 100% 100%

    Agropecuria 13,4% 10,3% 11,0% 12,8% 14,0% 14,1%

    Indstria 26,0% 26,5% 27,0% 26,2% 27,0% 26,6%

    Servios 60,7% 63,2% 62,0% 61,0% 59,0% 59,3%

    Fonte: Elaborado pelo prprio autor. Dados: SEGPLAN/IMB, (S.d.).

    No perodo analisado, a tabela mostra que a participao do setor industrial

    no PIB, ultrapassou a participao do setor agropecurio. Em 1999, a participao

    da indstria era de 21,9%, chegando a 26,6% em 2010, enquanto a participao

    agropecuria passou de 12,5% para 14,1% no mesmo perodo. Assim, a

    composio do PIB neste perodo se mostrou bem diferente do que o apresentado

    na dcada anterior, com o setor industrial ficando a frente do setor agropecurio,

    enquanto o setor de servios pouco se modificou.

    Alm disso, o programa Produzir buscava elevar a competitividade de Gois

    no cenrio nacional, fortalecendo a economia local e ao mesmo tempo buscando

    uma maior participao no produto brasileiro. A tabela III mostra a taxa de

  • 30

    crescimento do PIB do Estado de Gois frente taxa de crescimento do PIB

    Brasileiro entre 1987 e 2010.

    TABELA III

    TAXA DE CRESCIMENTO DO PIB GOIS/BRASIL - 1987 A 2010

    Ano Gois Brasil Ano Gois Brasil

    1987 2,46 3,53 1999 1,75 0,25

    1988 6,32 -0,06 2000 5,01 4,31

    1989 0,13 3,16 2001 3,34 1,31

    1990 0,01 -4,35 2002 5,32 2,66

    1991 2,38 1,03 2003 4,24 1,15

    1992 1,85 -0,47 2004 5,22 5,71

    1993 6,43 4,67 2005 4,18 3,16

    1994 2,71 5,33 2006 3,10 3,96

    1995 1,84 4,42 2007 5,47 6,09

    1996 2,64 2,15 2008 7,99 5,17

    1997 4,83 3,38 2009 0,93 -0,33

    1998 1,19 0,04 2010 8,76 7,53

    Fonte: Elaborado pelo prprio autor. Dados: IPEA, 2013.

    Pode-se notar ento que mesmo durante o programa Fomentar, o Estado de

    Gois no conseguiu manter grandes taxas de crescimento, sofrendo com grandes

    oscilaes, j a partir de 2000, durante o Produzir, foram mantidas altas taxas de

    crescimento, exceo do ano de 2009, onde mesmo assim a taxa de crescimento

    do PIB goiano foi maior que a nacional como em grande parte deste perodo.

    Assim Gois alcanou uma maior participao no PIB nacional. Em 1985, o

    produto interno goiano correspondia a apenas 1,79% do produto interno brasileiro.

    J nos anos 2000, houve um grande salto dessa participao, chegando a 2,53% no

    incio do programa Produzir em 2002, e continuou crescendo at 2,64% em 2009.

    Esse crescimento da participao de Gois no PIB se deve em parte ao

    crescimento da participao da indstria goiana no PIB industrial do pas, como

    observado no grfico I, que mostra a evoluo da taxa de participao do PIB

    industrial de Gois no PIB industrial brasileiro.

  • 31

    GRFICO I - EVOLUO DA TAXA DE PARTICIPAO DA INDUSTRIA GOIANA NO PIB INDUSTRIAL DO PAS 1990 A 2009

    Fonte: Elaborado pelo prprio autor. Dados: IPEA, (S.d.).

    Nota-se ento, que a principal alavancagem da indstria goiana se deu a

    partir dos anos 2000, aps as correes das falhas ocorridas durante o programa

    Fomentar atravs da sua substituio pelo Produzir. Nesse perodo houve um

    grande salto da participao da indstria goiana no cenrio nacional, passando de

    0,99% em 1990 para 2,30% em 2002, e chegando a uma taxa de participao de

    2,72% em 2009.

    No que diz respeito aos empreendimentos efetivados em Gois, Paschoal

    (2001), conclui que at 1999, aquele Estado, conseguia atrair apenas indstrias de

    setores mais tradicionais (alimentos, laticnios e confeces), enquanto os

    empreendimentos de maior integrao inter-industrial, como as indstrias de

    mquinas e equipamentos, qumica e eletroeletrnica eram atradas para os grandes

    centros urbanos do pas.

    Seis anos aps o incio do programa Produzir, este quadro se mostrou um

    pouco diferente, como aponta a tabela IV. O nmero de indstrias de transformao

    existentes no estado de Gois de acordo com o seu ramo de atividade, entre 2006 e

    2011, segundo o Cadastro Central de Empresas do Instituto Brasileiro de Geografia

    e Estatstica IBGE.

    0,99%

    1,17%

    1,11% 1,14%

    1,32%

    1,27%

    1,32%

    1,40%

    1,47%

    1,39%

    1,56% 1,78%

    2,30%

    2,13%

    2,12%

    2,16%

    2,28%

    2,44%

    2,40%

    2,72%

    0,00%

    0,50%

    1,00%

    1,50%

    2,00%

    2,50%

    3,00%

  • 32

    TABELA IV

    NMERO DE INDSTRIAS DE TRANSFORMAO EXISTENTES NO ESTADO DE GOIS 2006 A 2011

    Setor 2006 2007 2008 2009 2010 2011

    Produtos Alimentcios 2612 2840 2800 2702 2882 2562

    Bebidas 94 91 96 105 133 101

    Fumo 11 16 7 8 9 9

    Txtil 275 298 336 371 429 440

    Vesturio e acessrios 3718 3774 4065 4157 4526 4560

    Artefatos de couro e calados 469 495 511 500 527 541

    Produtos de madeira 261 279 295 305 302 297

    Papel, celulose e derivados 100 107 110 118 175 125

    Impresso e reproduo de gravaes 539 584 650 722 725 775

    Biocombustveis e derivados do petrleo 32 45 54 57 59 54

    Qumica 271 289 310 338 370 362

    Produtos farmoqumicos e farmacuticos 56 68 61 68 68 56

    Produtos de borracha e plstico 328 352 356 364 357 368

    Produtos Minerais no-metlicos 872 943 992 1103 1206 1347

    Metalrgica 73 92 97 101 105 92

    Produtos de metal 812 902 999 1082 1175 1266

    Informtica, eletrnicos e pticos 50 49 51 54 58 49

    Mquinas, aparelhos e materiais eltricos

    70 77 79 81 81 101

    Mquinas e equipamentos 187 192 209 227 241 267

    Veculos automotores, reboques e carrocerias

    162 170 181 192 212 223

    Equipamentos de transporte 38 35 40 37 43 40

    Mobilirio 619 625 647 683 756 833

    Diversos 274 258 293 352 409 463

    Manuteno e instalao de mquinas e equipamentos

    373 418 498 600 672 746

    Total 12296 12999 13737 14327 15520 15677

    Fonte: IBGE Cadastro Central de Empresas, (2012).

  • 33

    No perodo de 2006 a 2011, foi verificado um aumento significativo do

    nmero de indstrias nos setores de maior integrao. Destacam-se os setores de

    mquinas e equipamentos, acompanhado pelo setor de manuteno, reparos e

    instalao de mquinas e equipamentos, mostrando essa integrao entre setores

    na economia goiana; a indstria qumica; e a indstria de veculos automotores.

    Se comparado ao estudo realizado por Paschoal (2001), onde foram

    compreendidos os estabelecimentos industriais no perodo de 1991 a 1999, foi

    observada uma maior diversificao produtiva, havendo at mesmo uma reduo de

    um dos setores mais tradicionais da indstria goiana, o setor de alimentos, que em

    1996, chegou a ter 3470 estabelecimentos industriais instalados no Estado, e ao fim

    de 2011 tem apenas 2562. Os dados sugerem uma contribuio da reduo da

    participao do setor agropecurio no PIB do Estado para essa reduo do nmero

    de indstrias de produtos alimentcios. Enquanto isso, outros setores menos

    tradicionais cresceram, elevando o numero total de indstrias que passou de 9420

    em 1999, como o observado por Paschoal, para 15677 em 2011.

    Outro objetivo buscado pelos programas de incentivos fiscais em Gois,

    Fomentar e Produzir, foi atrair indstrias, mas sem gerar concentrao industrial, ou

    seja, com uma melhor distribuio espacial dos empreendimentos. Assim, segundo

    Paschoal (2001), ao longo dos programas foram criados cerca de 45 distritos

    agroindustriais para o recebimento de plantas industriais.

    O objetivo era levar a industrializao a um maior nmero de regies, contemplando municpios considerados ricos em recurso naturais, como os situados no centro-sul do estado e como tambm quelas reas desprovidas de infra-estrutura, objetivando dot-las de benefcios necessrios ao seu desenvolvimento (Paschoal, 2001, p.92).

    Mesmo com os esforos do governo para levar a industrializao a vrias

    regies, segundo Paschoal (2001), as cidades que concentraram a maior parte dos

    investimentos do Fomentar, so praticamente as mesmas apontadas pela

    SEGPLAN (2013) como as maiores economias de Gois. Aps o incio do Produzir,

    foi verificado que o poder de concentrao das 10 maiores economias de Gois

    praticamente no se modificou. A tabela V mostra a evoluo da participao dos

    municpios goianos no PIB estadual, no perodo de 1999 a 2010.

  • 34

    TABELA V EVOLUO DA PARTICIPAO DOS MAIORES MUNICPIOS GOIANOS NO PIB ESTADUAL

    1999 2010

    Cidade 1999 2000 2001 2002 2003 2004

    Goinia 32,28% 30,23% 28,41% 27,07% 25,11% 25,76%

    Anpolis 6,87% 6,67% 6,33% 5,75% 5,57% 5,31%

    Aparecida de Goinia 3,73% 4,05% 4,00% 3,81% 3,83% 3,94%

    Rio Verde 3,82% 3,76% 4,32% 4,98% 4,64% 4,58%

    Catalo 2,47% 3,16% 3,55% 3,40% 4,26% 4,67%

    Senador Canedo 1,80% 2,13% 2,71% 3,20% 3,31% 3,05%

    Itumbiara 2,73% 2,67% 2,71% 2,57% 3,05% 2,78%

    Jata 2,47% 2,51% 2,71% 2,55% 2,65% 2,66%

    Luzinia 2,17% 2,18% 2,17% 2,21% 2,39% 2,56%

    So Simo 1,66% 1,62% 1,79% 2,12% 1,90% 2,04%

    Total 60,01% 59,00% 58,70% 57,64% 56,70% 57,34%

    TABELA V EVOLUO DA PARTICIPAO DOS MAIORES MUNICPIOS GOIANOS NO PIB ESTADUAL -

    1999 A 2010 (CONTINUAO)

    Cidade 2005 2006 2007 2008 2009 2010

    Goinia 26,76% 27,86% 27,37% 25,85% 24,97% 25,05%

    Anpolis 5,59% 6,62% 7,17% 8,32% 9,47% 10,31%

    Aparecida de Goinia 4,41% 4,68% 4,76% 5,15% 5,37% 5,28%

    Rio Verde 4,66% 4,74% 4,73% 4,80% 4,98% 4,26%

    Catalo 4,72% 4,36% 4,46% 4,45% 4,28% 4,07%

    Senador Canedo 3,02% 3,25% 3,12% 3,06% 3,11% 3,27%

    Itumbiara 2,59% 2,65% 2,36% 2,72% 2,51% 2,32%

    Jata 2,30% 2,02% 2,04% 2,47% 2,26% 2,20%

    Luzinia 2,69% 2,49% 2,50% 2,40% 2,38% 2,13%

    So Simo 1,72% 1,59% 1,66% 1,78% 1,47% 1,42%

    Total 58,46% 60,25% 60,16% 61,00% 60,80% 60,30%

    Fonte: Elaborado pelo prprio autor. Dados:SEGPLAN (S.d.).

    Embora as dez maiores economias de Gois tenham mantido a

    concentrao de cerca de 60% do PIB goiano ao longo de dez anos do Produzir, a

    participao da capital ao longo deste perodo diminuiu. Em 1999, Goinia

    concentrava cerca de 32% do PIB goiano, j no ano de 2010 passou a concentrar

    apenas cerca de 25%, reeditando o que Diniz (1999) chamou em So Paulo de

    desconcentrao concentrada, uma vez que na capital h um processo de

    desconcentrao, mas as outras cidades mais dinmicas do estado, como Anpolis,

    Aparecida de Goinia, Rio Verde e Senador Canedo aumentam o seu poder de

    concentrao.

  • 35

    Outro fator importante a ser considerado a proporo entre o produto

    industrial e o produto agropecurio nas principais economias goianas, como mostra

    a tabela VI.

    TABELA VI

    RAZO ENTRE VALOR ADICIONADO INDUSTRIAL/VALOR ADICIONADO AGROPECURIO 1999-2010

    Cidade 1999 2000 2001 2002 2003 2004

    Anpolis 20,31 22,81 22,36 18,46 19,78 20,36

    Aparecida de Goinia 112,31 126,59 121,60 102,59 76,28 88,94

    Catalo 3,35 4,62 4,44 2,55 4,04 4,50

    Goinia 123,06 119,19 101,05 76,94 63,36 85,08

    Rio Verde 0,84 0,81 1,01 0,82 1,17 1,54

    TABELA VI

    RAZO ENTRE VALOR ADICIONADO INDUSTRIAL/VALOR ADICIONADO AGROPECURIO 1999-2010 (CONTINUAO)

    Cidade 2005 2006 2007 2008 2009 2010

    Anpolis 28,19 36,06 41,64 52,80 55,00 51,15

    Aparecida de Goinia 131,14 155,31 142,71 146,06 150,62 138,81

    Catalo 7,48 9,79 10,09 7,89 7,66 9,61

    Goinia 133,78 148,33 150,84 142,06 119,33 103,35

    Rio Verde 2,73 4,92 3,88 2,64 2,08 2,33

    Fonte: Elaborado pelo prprio autor. Dados:SEGPLAN, (S.d.).

    Percebe-se ento, que exceo de Goinia, onde so mais fortes os

    fatores de desconcentrao industrial, acontece no perodo em que o Fomentar se

    transforma no Produzir, um contnuo processo de industrializao, alterando as

    regies de economias basicamente movidas pela agropecuria, para regies com

    potencial industrial.

    Um dos fatores mais importantes a serem analisados a gerao de

    empregos, prevista na legislao do Produzir como um dos seus objetivos principais,

    conforme citado no artigo 2 da Lei 13.591, de 18 de janeiro de 2000.

    Art. 2 - O PRODUZIR tem por objeto social contribuir para a expanso, modernizao e diversificao do setor industrial de Gois, estimulando a realizao de investimentos, a renovao tecnolgica das estruturas produtivas e o aumento da competitividade estadual, com nfase na gerao de emprego e renda e na reduo das desigualdades sociais e regionais (GOIS, 2000).

  • 36

    Segundo o Ministrio do Trabalho e Emprego, houve uma crescente

    variao do nmero de empregos ocupados no Estado de Gois. A tabela VII mostra

    o nmero de vnculos empregatcios ativos em Gois no perodo de 1999 a 2011.

    TABELA VII

    POSTOS DE TRABALHO OCUPADOS EM GOIS - 1999 A 2011

    Ano Postos de trabalho ocupados

    1999 610.672

    2000 663.902

    2001 730.608

    2002 781.443

    2003 827.039

    2004 872.824

    2005 944.927

    2006 992.822

    2007 1.061.426

    2008 1.135.046

    2009 1.209.310

    2010 1.313.641

    2011 1.385.230

    Fonte: Elaborado pelo prprio autor. Dados: SEGPLAN, (S.d.).

    No perodo analisado, o nmero de empregos no estado cresceu mais de

    100%, comprovando a eficcia do Estado na busca pela criao de empregos,

    colocando em prtica os empregos previstos nos projetos aprovados pelo Produzir.

    Porm, embora o objetivo de criao de empregos tenha sido alcanado

    com sucesso, o nmero de desligamentos tambm cresceu. O grfico II, mostra a

    evoluo do nmero de admitidos e desligados em Gois, segundo o Cadastro Geral

    de Empregados e Desempregados CAGED, entre 2000 e 2008.

  • 37

    GRFICO II - EVOLUO DA ADMISSES E DESLIGAMENTOS EM GOIS 2000 2008 EM PESSOAS

    Fonte: Elaborado pelo prprio autor. Dados: IPEA (S.d.).

    Foi observado ento neste perodo, que o nmero de desligamentos cresce

    praticamente no mesmo ritmo do nmero de admisses, deixando o saldo de criao

    de empregos bem abaixo do esperado para o nvel de concesses que foram

    realizadas durante o programa.

    Em busca destes objetivos, os programas Fomentar e Produzir aprovaram

    juntos mais de 186 bilhes de reais em incentivos fiscais. Assim os resultados

    apresentados foram obtidos atravs de um grande esforo por parte do Governo de

    Gois, a partir de 1985, que foi quando o Fomentar comeou a trilhar este caminho.

    A tabela VIII mostra o valor dos incentivos fiscais (em mil R$), outorgados pelo

    programa Fomentar, entre 1985 e 2003.

    TABELA VIII BENEFCIOS OUTORGADOS PELO FOMENTAR - EM

    MIL R$ - 1985 A 2003

    Ano Valor (MIL R$)

    1985 185.812

    1986 289.269

    1987 619.574

    1988 304.667

    1989 607.901

    1990 1.135.943

    1991 1.450.015

    1992 5.832.810

    1993 1.490.498

    1994 3.597.181

    1995 2.381.935

    1996 842.751

    1997 2.317.053

    265.797 292.087 298.605 300.215

    346.598 380.208 386.167

    454.710

    545.751

    243.807 270.706 279.342 280.685

    309.345 348.536 365.106

    413.557

    498.404

    21.990 21.381 19.263 19.529 37.253 31.672 21.061 41.153 47.347

    0

    100.000

    200.000

    300.000

    400.000

    500.000

    600.000

    2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

    Admisses

    Desligamentos

    Diferena

  • 38

    1998 4.714.038

    1999 4.262.080

    2000 3.138.709

    2001 318.013

    2002 22.083

    2003 3.400.024

    Total 36.910.356

    Fonte: CHAVES, 2009.

    O Fomentar aprovou um total de quase 37 bilhes de reais em incentivos,

    durante os 18 anos de funcionamento. Sendo que dentro deste perodo, o que mais

    se destacou foi a partir dos anos 90, quando o programa sofreu uma grande srie de

    reformulaes. Vale ressaltar que, como dito anteriormente, em 2000, o Fomentar foi

    substitudo pelo Produzir, mas alguns projetos do programa anterior ainda foram

    aprovados at 2003, porm apena 3 deles, durante o ano de 2001, foram para

    criao de novas empresas, e nos anos seguintes, foram aprovados apenas projetos

    de expanso (CHAVES, 2009).

    Aps a reformulao que transformou o Fomentar em Produzir, o programa

    ganhou uma fora ainda maior. A tabela IX mostra o valor dos incentivos fiscais (em

    mil R$), outorgados pelo programa Produzir, entre 2000 e 2010.

    TABELA IX BENEFCIOS OUTORGADOS PELO PRODUZIR - EM MIL R$

    2000 A 2010

    Ano Valor (MIL R$)

    2000 142.108

    2001 1.221.627

    2002 1.481.213

    2003 15.757.379

    2004 10.047.356

    2005 16.237.600

    2006 20.411.101

    2007 41.537.084

    2008 32.886.586

    2009 6.164.636

    2010 3.933.637

    Total 149.820.327

    Fonte: Elaborado pelo prprio autor. Dados: SEGPLAN, (2012).

    O Produzir aprovou quase 150 bilhes de reais em incentivos fiscais, em

    apenas 10 anos de funcionamento. Assim, comparado ao Fomentar, o programa

    concedeu um valor muito maior em benefcios em um curto perodo de tempo. Mas

    vale tambm ressaltar que, segundo Paschoal (2001), grande parte dos incentivos

    fiscais concedidos pelo programa fomentar no foram contabilizados, somente no

  • 39

    perodo entre (1986 e 1994) estima-se que em mdia 91% dos crditos de ICMS

    gerados deixaram de ser contabilizados. Explicando assim a grande discrepncia

    entre os benefcios concedidos pelos dois programas.

    Enquanto os benefcios repassados pelo Fomentar, foram concedidos,

    segundo Paschoal (2001), sob regime de praticamente iseno fiscal, o Produzir

    conseguiu minimizar a renncia fiscal por parte do estado, desta maneira a

    arrecadao de ICMS do Estado de Gois deu um grande salto a partir do ano 2000.

    A tabela X, mostra os valores de ICMS arrecadados pelo Estado, entre 1995 e 2010.

    TABELA X

    VALOR DO ICMS ARRECADADO PELO ESTADO DE GOIS - 1995 A 2010

    Ano Valor (Em R$)

    1995 1.135.574.000,00

    1996 1.390.824.737,00

    1997 1.511.441.241,00

    1998 1.520.269.810,00

    1999 1.759.086.845,00

    2000 2.142.345.282,66

    2001 2.560.977.447,50

    2002 2.914.196.807,91

    2003 3.608.729.117,89

    2004 3.831.705.916,96

    2005 4.078.902.958,37

    2006 4.522.538.727,01

    2007 5.311.182.333,84

    2008 6.342.450.150,57

    2009 6.560.910.751,38

    2010 7.810.077.691,88

    Fonte: IPEA, (S.d).

    Foi observado, que em 1999, o estado arrecadou R$ 1.759.086.845,00 em

    ICMS, enquanto em 2010 foi arrecadado o valor de R$ 7.810.077.691,88, ou seja,

    aps dez anos do programa Produzir, a arrecadao de ICMS em Gois aumentou

    cerca de 344%. Mostrando ento que o programa conseguiu minimizar o efeito de

    renncia fiscal que ocorria durante o programa Fomentar.

  • 4. CONSIDERAES FINAIS

    A forma de conduo do processo de industrializao brasileiro agravou as

    desigualdades regionais entre os anos de 1930 e 1970. Em 1929 iniciava-se, no

    pas, um processo de industrializao voltado para o mercado interno, por meio de

    um modelo de desenvolvimento especfico, o PSI.

    O PSI vigorou durante o governo Vargas, e foi adotado novamente na

    dcada de 50, por meio do Plano de Metas, visando diminuir a dependncia do pas

    em relao ao mercado externo e desenvolver a indstria brasileira.

    No se pode negar que os planos desenvolvimentistas contriburam para o

    processo de desenvolvimento brasileiro. Porm, houve um agravamento da

    concentrao industrial naquele perodo, principalmente em So Paulo.

    A partir dos anos 80, o panorama da concentrao industrial brasileira se

    modificou, principalmente devido ao crescimento da tendncia de localizao das

    atividades industriais fora das reas metropolitanas, devido s deseconomias de

    aglomerao. Porm, essa desconcentrao industrial se deu principalmente em

    direo s cidades do interior da regio centro-sul, excluindo-se as grandes

    metrpoles. Essa tendncia resultou no que Diniz (1999) chamou de um processo

    de desconcentrao concentrada.

    Nesse contexto, os estados que ficaram margem do processo de

    industrializao brasileiro, tiveram que buscar outras formas de desenvolver seu

    setor industrial. Logo, eles aproveitaram a descentralizao fiscal, ocorrida na

    dcada de 80, para lanar as polticas de incentivos fiscais. A partir dessa fase, foi

    possvel aos Estados utilizarem a liberdade sobre o uso e arrecadao do ICMS

    como principal instrumento para atrao de investimento industrial.

    Como o Estado de Gois apresentava um setor secundrio fraco e de

    pequena dimenso, ele aderiu a este movimento e passou a fazer uso de polticas

    que visassem o aumento e o crescimento do mesmo. O primeiro programa com

    alguma expresso nesse sentido foi o FEICOM, que abriu as portas do incentivo

    fiscal em Gois.

  • 41

    Para dar sequencia ao objetivo de industrializao, foi efetivado em 1984 o

    Fomentar, buscando incrementar a implantao e a expanso de atividades que

    promovessem o desenvolvimento industrial no Estado de Gois.

    Porm, durante o Fomentar, ocorreu um grande movimento de renncia

    fiscal por parte do Estado. Instrumentos como ausncia de correo monetria,

    contabilizao a menor dos impostos devidos e leiles dos crditos de ICMS,

    beneficiaram o empresariado em detrimento do Estado.

    Dessa forma, os quase 37 bilhes de reais concedidos em incentivos fiscais,

    atraram inmeros investimentos industriais para o estado, porm no h um grande

    indicativo de mudana no panorama da fraca competitividade da indstria goiana,

    nem na participao do Estado no produto nacional. E mesmo crescendo o nmero

    de indstrias no estado, no houve uma grande diversificao, assim os principais

    setores da indstria que cresciam eram aqueles tradicionais, principalmente indstria

    alimentcia.

    No incio do ano 2000, para corrigir essas distores apresentadas ao longo

    do programa, o mesmo foi reformulado, e ento substitudo pelo Produzir. Este, por

    sua vez, tomou um caminho diferente do programa anterior, corrigindo os efeitos da

    renncia fiscal, e aumentando em 344% a arrecadao de ICMS do estado.

    Alm disso, os dados sugerem uma maior proximidade de chegar em grande

    parte dos objetivos que no foram alcanados pelo programa anterior. Assim o

    Produzir contribuiu para que a indstria goiana ganhasse maior dinamismo, e

    consequentemente uma maior participao no PIB estadual. A indstria goiana

    tambm obteve um salto, no que diz respeito a sua participao no PIB industrial do

    pas. Essa evoluo contribuiu, ento para uma maior participao do Estado de

    Gois no PIB total brasileiro.

    Logo, a competitividade goiana frente aos outros estados brasileiros

    cresceu, e embora ainda esteja longe de ser uma das maiores economias do pas,

    os resultados so animadores, uma vez que esta cresce a uma mdia maior que a

    nacional.

    Outro objetivo alcanado pelo programa foi uma maior diversificao das

    indstrias instaladas. Setores como produo de mquinas e equipamentos, de

  • 42

    veculos automotores e indstria qumica tiveram crescimento satisfatrio. Enquanto

    isso, setores mais tradicionais como o de produtos alimentcios mostraram uma

    regresso, explicada pelo maior crescimento da indstria em relao agropecuria.

    Quanto desconcentrao regional, o resultado no foi to satisfatrio, uma

    vez que grande maioria dos investimentos, do Produzir, foram realizados nas

    principais economias do estado. Porm, o que se observa que a situao da

    concentrao da indstria goiana apresenta o mesmo padro que a indstria

    nacional, uma vez que a concentrao no principal centro produtivo tem reduzido,

    enquanto nas principais cidades do interior essa concentrao tem aumentado.

    A principal ressalva quanto aos objetivos do Produzir pode ser feita em

    relao gerao de empregos. Embora o programa tenha sido eficiente quanto

    criao dos mesmos, sendo este um dos principais requisitos para adentrar ao

    programa, a manuteno destes empregos preocupante. O nmero de

    desligamentos dos registros empregatcios tem crescido quase que na mesma

    proporo que o nmero de admisses, tornando ento questionvel, o carter da

    criao destes empregos por parte das empresas beneficiadas.

    De acordo com os dados analisados, os programas de incentivos fiscais

    Fomentar e Produzir, contriburam para o desenvolvimento industrial do Estado de

    Gois. Embora o Fomentar no tenha conseguido alcanar seus objetivos, e sua

    administrao seja questionvel quanto ao carter dos mesmos, se realmente

    buscando desenvolver a indstria ou somente beneficiar o empresariado, o

    programa ainda atraiu vrios investimentos. E, mesmo que atuando em regime de

    quase iseno fiscal, serviu de base para que a implantao do Produzir fosse

    realizada com sucesso.

    O Produzir, por sua vez, cumpriu a grande maioria dos seus objetivos, e

    contribuiu para uma melhora dos indicadores da economia goiana e da indstria,

    mostrando que a mudana de direo, tomada a partir de uma reformulao do

    programa anterior, surtiu um efeito satisfatrio, fazendo com que o a poltica de

    incentivos fiscais goiana passasse a cumprir a sua funo original, compensando os

    esforos que o Governo de Gois fez atravs dos incentivos fiscais.

  • BIBLIOGRAFIA

    BIELSCHOWSKY, Ricardo. Maria da Conceio Tavares. Revista de Economia

    Contempornea, Rio de Janeiro; v. 14, n.1, 2010. Disponvel em:

    . Acesso em: 16 out. 2013.

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    Braslia, Casa Civil, 1988. Disponvel em:

    .

    Acesso em: 17 out. 2013.

    BRASIL. Lei n 7.486, de 06 de junho de 1986. Aprova as diretrizes do Primeiro

    Plano Nacional de Desenvolvimento (PND) da Nova Repblica, pa