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Os Ritmos do Encéfalo Profa. Dra. Eliane Comoli Departamento de Fisiologia da FMRP

Os Ritmos do Encéfalo - edisciplinas.usp.br · inteiramente novo e muito importante da ciência médica, a neurofisiologia clínica. Encefalograma Humano. O registro eletroencefalográfico

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Os Ritmos do Encéfalo

Profa. Dra. Eliane ComoliDepartamento de Fisiologia da FMRP

1) Rítmos de EEG e Geração de rítmos sincronizados;

2) Sono e nível de atenção;

3) Ciclo e fases do Sono: Sono não-Rem e sono REM;

4) O que regula o sono e a vigília?

Processo homeostático e processo circadiano;

5) Mecanismos neurais do sono;

6) SARA e Sistemas neuromoduladores difusos: acetilcolina, noradrenalina,

serotonina, histamina, hipocretina, dopamina, histamina;

7) Área promotora do sono e GABA;

8) Fator molecular promotor do sono: adenosina;

9) O que causa o sono REM?

10) Como despertamos?

11) Distúrbios do Sono: Insônia, Hipersônia e Parassônias.

ROTEIRO DE AULA TEÓRICA:

Rítmos Biológicos: Regulação do ciclo Sono-Vigília

Porque essa aula é importante para o curso de medicina?

Primeiro EEG registrado por Hans Berger, aproximadamente em 1928.Hans Berger,

psiquiatra alemão

Em 1929, Hans Berger (Jena), anunciou que:

1) atividade elétrica encefálica modificava-se de com o estado funcional do cérebro, tais como no sono, na anestesia, na hipóxia e

em certas doenças nervosas, como na epilepsia.

2) era possível registrar as fracas correntes elétricas geradas no cérebro humano, sem abrir o crânio, e mostrá-las na forma de um registro em papel.

Berger denominou a esta nova forma de registro fisiológico de eletroencefalograma (ou EEG).

Foram descobertas revolucionárias. Berger acabou sendo o fundador de um ramo inteiramente novo e muito importante da ciência médica, a neurofisiologia clínica.

Encefalograma Humano

O registro eletroencefalográfico é realizado através de eletrodos afixados com

um gel condutor de eletricidade à pele. Um amplificador eletrônico aumenta a

amplitude do sinal elétrico que é gerado pelo cérebro e pode ser captado.

O galvanômetro, que tem uma pena inscritora presa ao seu ponteiro, escreve

sobre a superf'ície de uma tira de papel, que se desloca a velocidade constante. O

resultado é a inscrição de uma onda tortuosa.

Um par de eletrodos constitui um canal de EEG.

Os aparelhos modernos permitem o registro simultâneo de muitos canais, em

paralelo. Este é chamado de registro multicanal do EEG.

Registro Encefalográfico

Registro eletroencefálicoO EEG mede a diferença de correntes que fluem

durante a excitação sináptica dos dendritos de muitos

neurônios piramidais no córtex cerebral.

São necessários milhares de

neurônios subjacentes ativados em

conjunto para gerar um sinal de EEG.

A amplitude do sinal do EEG

depende de quão sincrônica é a

atividade dos neurônios subjacentes.

Liberação de GLU, abertura de canais catiônicos; influxo de corrente +; negatividade no líquido extracelular; difusão da corrente das proximidades do soma; fluido torna-se levemente -

Neurociências-Desvendando o sistema nervoso, M.F. Bear, B.W. Connors & M.A. Paradiso

Atividade sincrônica e Atividade Irregular

Geração de Ritmos SincronizadosAs oscilações sincronizadas podem ser geradas de duas maneiras:

A) Neurônios podem receber informação de um

marcapasso.

B) Neurônios podem compartilhar ou distribuir a função de marcador de tempo entre si, excitando ou inibindo um ao outro (mecanismo coletivo).

No encéfalo de mamíferos, a atividade rítmica sincrônica é coordenada por combinação de marcapasso e método coletivo.

Ritmos do EEG

Ritmos rápidos,Córtex AtivadoNeurônios dessincronizados

Estados de vigília, em repouso

Estados de sono

Ritmos muito lentos,Grande amplitude,Indica sono profundoAlta sincronia dos neurônios

Sono... é um estado facilmente reversível de reduzida

responsividade e interação com o meio ambiente.

O sono é universal e altamente conservado em animais desde as moscas de frutas até humanos.

A privação do sono é devastadora para um funcionamento adequado do organismo, sendo essencial para a vida.

De

sem

pen

ho

Co

mp

ort

ame

nta

l

Nível de atividade cortical

100%

EuforiaComa

Sono Vigília

Nível máximo de atenção

Nível de Atenção

Porque dormimos Para que propósito serve o sono

Conservação de energia: reposição de estoques energéticos do

encéfalo, os quais diminuem durante as horas de vigília.

Sobrevivência: falta de sono leva à prejuízos de memória,

redução de capacidades cognitivas; alteração de humor, e até alucinações se persistir; isolamento e proteção de predadores.

Nascimento

Média de horas dormidas por dia para sentirmos descansados e revigorados ao acordar.

Evolução do sono ao longo dos anos do indivíduo

O ciclo Sono-Vigília

Registro diário do período de sono

Ritmo Sincronizado e Livre Curso

Durante um dia normal há 02 tipos muito diferentes de comportamento: sono e vigília

Fases do SonoEstágios NREM e REM

Estados do SonoSono REM e NREM

O Sono tem fases distintas:

O sono REM (rapid eyes movements): *EEG se parece mais com o do estado acordado do que dormindo;

* corpo imobilizado (atonia) exceto músculos dos olhos,respiração e coração;

* evocações de ilusões detalhadas e vívidas chamadas sonhos;* sono paradoxal (consumo de O2 é mais elevado que quando acordado);

* sistema de controle dominados pelo simpático.

O sono não-REM ou sono de ondas lentas: * tensão muscular reduzida em todo o corpo;

* movimento do corpo para ajustes de posição corporal;* oscilação em sincronia dos neurônios corticais;

* aferências sensoriais não alcançam o córtex;;* sistema de controle dominados

pelo parassimpático.

EEG estado de Alerta

EEG sono profundo (não-REM)

EEG sono REM

Dessincronizado (ritmo β) → baixa voltagem e alta freqüência

Sono sincronizado (ritmo α) →maior voltg e menor freqüência

(ritmo /delta, profundo) →alta voltagem e baixa freqüência

Sono Paradoxal ou REM →(rapid eye movement)

rítmo dessincronizado

Eletroencefalograma da transição da vigília para o sono de ondas lentas e paradoxal

Ciclo do Sono

Registros de EEG na primeira hora do sono01 ciclo de sono leva 70-90 min

ritmo ultradiano

O ciclo do Sono

Mudanças fisiológicas duranteestágios do sono

Episódios de Sono no Jovem e Adulto

Adulto: Desperta mais vezes, não chega a estágios de sono mais profundos do sono de ondas lentas;menos episódios de sono REM.

Jovem: vários episódios de sonoREM alternados com estágiosde sono de ondas lentas, e momentos de vigília

vermelho= sono paradoxallaranja = vigília

O que regula o sono e a vigília ?

Modelo de dois processos de regulação do sono.Processo Homeostático de regulação do sono se acumulando ao longo do dia e sendo dissipado durante o sono (cinza). Sol e lua formam a curva que representa o Processo Circadiano de regulação do sono. Em Vermelho outra curva representando a propensão ao sono consequente da ação dos dois processos.

Mecanismos neurais do sono

Na década de 40 acreditava-se que o sono era um mecanismo passivo:

prevenção do encéfalo de aferências sensoriais.

Frédéric Bremer (1930)

Sinais sensoriais são importantes para manutenção da vigília

Horace Magoun e Giuseppe Moruzzi (1949)Animal dormindo: estimulação do SARA desperta EEG dessicronizado

Walter HessAnimal acordado: estimulação do tálamo dorme EEG sincronizado

Interação entre o Tálamo e o Córtex

Mecanismos neurais do sono

Hoje sabe-se que o sono é um processo ativo que requer a

participação de uma variedade de regiões encefálicas:

*Modo de operação dos núcleos relés talâmicos:

tonicamente ativos (+) ou em estado oscilatório;

* Sistemas de neurotransmissores modulatórios;

* Modulação inibitória dos motoneurônios medulares

Núcleos relés talâmicos

Registro de células talâmicas:

Canais iônicos dependentes de

voltagem permitem geração

de padrão de descarga rítmicas

altamente sustentáveis na ausência

de aferência ativadora.

Potenciais de ação são gerados quando as células

talamocorticais estão suficientemente

hiperpolarizadas para ativar canais de Ca+2 de

baixo limiar

Atividade marcapasso dos neurônios talâmicos.

fase oscilatória fase tonicamente ativa

EEG

Registro intracelular de neurônios talâmicos

Estado de Vigília Sono

Modo tonicamente ativo Modo oscilatório(sincronia com o córtex)

A estimulação

glutamatérgica nos

neurônios talâmicos geram

PA em modo continuo,

conforme a atividade da

via aferente.

Os neurônios corticais

estão em franca atividade

arrítmica; EEG

desssincronizado

Córtex

Glu +

Vias aferentes

Tálamo: núcleos relés corticais e núcleo

reticular do tálamo

O núcleo reticular controla o modo de operação dos núcleos relés talâmicos, inibido na vigília.

Subgrupo colinérgico aumenta a frequência de disparo dos neurônios do núcleo reticular do tálamo.

Modo oscilatório pode ser acionado por projeções colinérgicas

do prosencéalo sob a atividade dos neurônios no n.reticular

talâmico que hiperpolarizam os neurônios talâmicos (GABA).

A estimulação

gabaergica do núcleo

reticular do tálamo

causam salvas de PA.

Os neurônios corticais passam

a exibir ritmos sincronizadas.

EEG sincronizado

NGL

Córtex

Gaba -

Núcleo reticular

Sistemas Moduladores do Ciclo Sono-Vigília:

Coletivamente fazem sinápse diretamente em todo o tálamo,

córtex cerebral e outras regiões do encéfalo.

Efeitos gerais são a despolarização de neurônios, um aumento

da sua excitabilidade.

Características dos neurônios

Origem no tronco encefálico;

Cada neurônio influencia uma grande

quantidade de células pós-sinápticas em

diferentes regiões do SNC;

Aumentam a excitabilidade;

Inibem ativamente os neurônios

espinhais, previnindo a atividade motora

descendente.

Ritmicidade (frequência constante).

Sistema de Modulação Difuso

Impulsos

visuais

FORMAÇÃO

RETICULAR

Sistema Ativador Reticular Ascendente - SARA

Cerebelo

Vias descendentes

Medula

Impulsos auditivos

Vias ascendentes

Tronco

Encefálico

Sistema de Modulação Difuso

Antagonistas colinérgicos diminuem os sinais de ativação cortical e agonistaaumenta esses sinais (Vanderwolf, 1992).

Estimulação de neurônios localizados na ponte e prosencéfalo basal, induzem a ativação e dessincronização cortical (Jones, 1990; Steriade, 1996).

Redução na frequência de disparo antes e durante o sono e aumento abrupto quando o animal acorda. (Aston-Jones e Bloom, 1981)

Ativação dos neurônios do Locus Coeruleus aumenta a vigilância. (Aston-Jones et al., 1994)

Sistema de Modulação Difuso

A frequência de disparo de potencias diminui durante o sono de ondas lentas e quase zero durante o sono REM. (Trulson e Jacobs, 1979)

Sistema de Modulação Difuso

Sistema de Modulação Difuso

Vias aferentes sensoriais

Glu

Modo de Transmissão continuo

VIGÍLIA EEG de ondas rápidas

Relé talâmico

TÁLAMO

CÓRTEX

CEREBRAL

Salvas

de PA

N. reticularGABA

ACH

ACh

SONO EEG de ondas lentas

A atividade talâmica é regulada pelo sistema de modulação difuso

SARA

Hipotálamo Anterior – Grupo GabaérgicoHipotálamo Posterior – Grupo Histaminérgico

Lesões na Área pré-óptica ventrolateral (POVL) produz insônia. Nauta, 1946.

Estudos eletrofisiológicos demonstrou ativação de neurônios localizados no POVL durante o sono. Szymusiak etal.,1998.

Sistema de Modulação Difuso

Sistema da Histamina

Tálamo Vias aferentes sensoriais

Glu

Modo de Transmissão continuo

VIGÍLIA EEG de ondas rápidas

CÓRTEX

CEREBRAL

Hipotálamo

posterior

HIS

+

Neurônios histaminérgicos do hipotálamo posterior e GABAérgicos do hipotâlamo anterior

Hipotálamo

anteriorGABA

A atividade GABAergica

do HA inibe o HP e induz

o sono Drogas anti-histamínicas causam sonolência

Vigília

VigíliaHipocretinas

Noradrenalina

Serotonina

Histamina

Acetilcolina

Dopamina

Hipotálamo Anterior – Grupo GabaérgicoÁrea Pré-Óptica Ventrolateral – área promotora do sono

SonoNREMGABA

Hipocretinas

Noradrenalina

Serotonina

Histamina

Acetilcolina

Dopamina

Área Pré-Óptica Ventrolateral – Área Promotora do Sono

Hipotálamo Anterior – Grupo GabaérgicoÁrea Pré-óptica ventrolateral

Fator promotor do sono - Adenosina

Recente candidato é a adenosina, que atua como um neuromodulador nas

sinápses por todo encéfalo.

A atividade neural no encéfalo acordado adenosina.

adenosina progressivo, supressão dos sistemas que modulam a vigília,

probabilidade o encéfalo entrar em atividade sincrônica de ondas lentas,

características do sono.

No sono, adenosina e a atividade nos sistemas modulatórios

gradativamente até acordarmos.

Hipótese de abordagem molecular: a adenosina seria um sinal para

restauração do encéfalo, devido a à depleção do glicogênio encontrado nos

astrócitos e usado como fonte de energia pelos neurônios durante a vigília.

Adenosina como Neuromodulador do Sono

Adenosina extracelular no prosencéfalo basal (n.colinérgicos) desempenhariam um papel na avaliação da necessidade homeostática do sono. Ação via receptor A2 no VLPO. Adenosina fornece um índice do estado energético celular.

Área Pré-Óptica Ventrolateral – área promotora do sono

O que causa o sono REM??????

Atividades do núcleo da formação

reticular pontina (N. reticular pontino

oral e caudal): sua destruição abole o

sono REM e estão em atividade

durante o sono REM.

Ondas espontâneas de disparo

colocam os núcleos tálamo-corticais

em modo de transmissão

dessincronizando o EEG (ondas PGO

ou pontino-genículo-occipitais).

No sono REM predomina um clima

colinérgico.

Ondas

PGO

Os neurônios colinérgicos pontinos causam forte inibição

dos neurônios motores somáticas causando intensa atonia.

Esse mesmo sistema inibe ativamente

os neurônios motores espinhais, previnindo a

atividade motora descendente de se

expressar como movimento real (mecanismo adaptativo de proteção).

Atonia muscular durante sono REM

Como despertamos?

Estimulação das vias

sensoriais aferentes com

maior intensidade, ativando

o SARA e os sistemas

moduladores;

Atividade aumentada do

locus ceruleus durante a

transição sono REM e a

vigília, dessincronizando

ainda mais o EEG.

Efeito da luz na Área Pré-Óptica Ventrolateral – área promotora do sono

Ao despertar as ondas cerebrais se tornam rápidas

1) Ativação cortical

2) Percepção sensorial, integração sensório-motora, orientação

Como despertamos???

Distúrbios do Sono

Insôniasintoma que dificultam o início ou manutenção do sono.

Desbalanço nos sistemas colinérgico, serotoninérgico e noradrenérgico; Fatores emocionais, preocupações do dia-a-dia, etc...;

Privação do Sono e Obesidade

Apnéia do Sono: interrupção da respiração durante o sono repetidamente impedindo que ocorra estágio de sono profundo e sono REM (causas neurológicas ou mecânicas)

Insôniasintoma que dificultam o início ou manutenção do sono.

Hipersônias: causam sonolência exagerada e crises de

sono na vigília.

Narcolepsia: freqüentes ataques de sono REM durante o dia, entrando em sono REM diretamente do estado de vigíla, sem passar pelo sono de ondas lentas. O indivíduo pode tornar-se catapléticos(perda do controle muscular) consciente (acompanhada por intensa expressão emocional) ou inconsciente, podendo sofrer quedas.

Hipersônias: causam sonolência exagerada e crises de

sono na vigília.

Parassônias: distúrbios passageiros e brandos

do acordar.

Sonambulismo (Estágio 4, Sono NREM, )

Parassônias: distúrbios passageiros e brandos do

acordar.

Sleep-related eating disorder (Estágio 4, Sono NREM )

Parassônias: distúrbios passageiros e brandos do

acordar.

Sono paradoxal sem atonia ou Transtorno de comportamento do sono REM

Porque essa aula é importante para o curso de medicina?