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Origem Bacia do Mediterrânico; Europa e Ásia de clima temperado até à China. Introduzida como planta pratense em muitos outros territórios de clima temperado ou mediterrânico (e.g. Açores, Madeira, Américas do Norte e do Sul, Austrália, Nova Zelândia e África do Sul). Como distinguir no campo Corpo vegetativo. Planta perene, sem pêlos (glabra) e formando toiças densas de caules (cespitosa). Caules até 1,2 m, espalmados na base. Folhas largas (4-12 mm), sem nervuras evidentes, sem aurículas, de lígula muito comprida branca e irregular, aquilhadas na extremidade apical; bainhas e folhas jovens dobradas pelo meio (conduplicadas). Vulgarmente conhecido por panasco, é uma das poucas gramíneas que se identifica com facilidade na fase vegetativa porque apresenta pseudocaules (estrutura que resulta da compactação das bainhas das folhas antes do encanamento) espalmados e folhas conduplicadas. Na maior parte das gramíneas os pseudocaules são roliços e as folhas enroladas em espiral (convolutas). Flores e inflorescência. O nome genérico Dactylis provém do grego dactylos “dedo”; o restritivo glomeratus “como uma bola” é latino. O nome científico do panasco resume a melhor forma de distinguir esta espécie – sobretudo as plantas da subsp. glomerata – na fase reprodutiva: uma panícula ereta de espiguetas organizadas em grupos compactos, onde o ramo inferior parece separar-se dos restantes como o dedo polegar numa mão erguida. Espiguetas com 3-6 flores. Floração entre maio e agosto. Variabilidade O panasco é uma espécie complexa. Em função da morfologia e do número de cromossomas são correntemente aceites pelo menos dezoito subespécies. A Euro+Med Plantbase admite a presença de cinco subespécies em Portugal: glomerata, hackelii (= marina), izcoi, lusitanica e hispanica. A subsp. hackelii com as suas folhas papilosas e ecologia litoral tem um escasso interesse agronómico. As subsp. glomerata, izcoi e lusitanica são difíceis senão impossíveis de distinguir no campo, por essa razão são reunidas por muitos autores numa subsp. glomerata s.l. (de sentido lato), critério este seguido nesta ficha. As subespécies glomerata s.l. e hispanica distinguem-se com base nos seguintes carateres: subsp. glomerata s.l. – Folhas largas (até 12 mm). Inflorescência ampla (aberta). Eixos secundários da inflorescência (ramos diretamente inseridos no eixo primario que resulta do prolongamento do colmo) longos; o eixo secundário inferior maior do que o primeiro entre-nó do eixo primário. Lema geralmente bidentada e com uma arista até 1,5 mm. Frequente nas regiões mais húmidas de Portugal (e.g. faixa litoral e sublitoral oeste, noroeste e montanhas) em lameiros, pousios de terras profundas, orlas de bosque, taludes terrosos e margens de caminhos. As cultivares comercializadas em Portugal enquadram-se nesta subespécie. subsp. hispanica. – Folhas mais estreitas (até 4,5 mm). Inflorescência contraída (compacta), raramente com mais de 1 cm de largura. Eixos secundários da inflorescência curtos, menores do que o primeiro entre-nó do eixo primário da panícula. Ápice das lemas lobulados e com uma arista até 1 mm. Frequente em orlas de bosques, clareiras de matos, taludes e margens de caminhos em áreas de clima mediterrânico. Ecologia Encontra-se desde o litoral até grande altitude (atinge os 2500 m nos Alpes). Requer valores de precipitação de, pelo menos, 450 a 650 mm. Cessa o crescimento quando as temperaturas são inferiores a 5,0 ºC. Prefere solos moderadamente ácidos a alcalinos (pH entre 5,8 e 7,5, de preferência), húmidos mas bem drenados. Para além de não suportar períodos prolongados de excesso de humidade no solo, também não vegeta bem em solos salinos. Indiferente à textura e à fertilidade do solo, por desenvolver um forte sistema radicular que favorece a adaptação a situações Panasco Dactylis glomerata Família: Poaceae Inflorescência da subespécie hispanica

Panasco - DRAP C · Bacia do Mediterrânico; Europa e Ásia de clima temperado até à China. Introduzida como planta pratense em muitos outros territórios de clima temperado ou

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Page 1: Panasco - DRAP C · Bacia do Mediterrânico; Europa e Ásia de clima temperado até à China. Introduzida como planta pratense em muitos outros territórios de clima temperado ou

OrigemBacia do Mediterrânico; Europa e Ásia de clima temperado atéà China. Introduzida como planta pratense em muitos outrosterritórios de clima temperado ou mediterrânico (e.g. Açores,Madeira, Américas do Norte e do Sul, Austrália, Nova Zelândiae África do Sul).

Como distinguir nocampoCorpo vegetativo. Planta perene, sem pêlos (glabra) eformando toiças densas de caules (cespitosa). Caules até 1,2m, espalmados na base. Folhas largas (4-12 mm), sem nervurasevidentes, sem aurículas, de lígula muito comprida branca eirregular, aquilhadas na extremidade apical; bainhas e folhasjovens dobradas pelo meio (conduplicadas).

Vulgarmente conhecido por panasco, é uma das poucasgramíneas que se identifica com facilidade na fase vegetativaporque apresenta pseudocaules (estrutura que resulta dacompactação das bainhas das folhas antes do encanamento)espalmados e folhas conduplicadas. Na maior parte dasgramíneas os pseudocaules são roliços e as folhas enroladasem espiral (convolutas).

Flores e inflorescência. O nome genérico Dactylis provémdo grego dactylos “dedo”; o restritivo glomeratus “como umabola” é latino. O nome científico do panasco resume a melhorforma de distinguir esta espécie – sobretudo as plantas dasubsp. glomerata – na fase reprodutiva: uma panícula ereta deespiguetas organizadas em grupos compactos, onde o ramoinferior parece separar-se dos restantes como o dedo polegarnuma mão erguida. Espiguetas com 3-6 flores. Floração entremaio e agosto.

VariabilidadeO panasco é uma espécie complexa. Em função da morfologiae do número de cromossomas são correntemente aceitespelo menos dezoito subespécies. A Euro+Med Plantbaseadmite a presença de cinco subespécies em Portugal:glomerata, hackelii (= marina), izcoi, lusitanica e hispanica.A subsp. hackelii com as suas folhas papilosas e ecologialitoral tem um escasso interesse agronómico. As subsp.glomerata, izcoi e lusitanica são difíceis senão impossíveisde distinguir no campo, por essa razão são reunidas pormuitos autores numa subsp. glomerata s.l. (de sentido lato),critério este seguido nesta ficha.As subespécies glomerata s.l. e hispanica distinguem-se combase nos seguintes carateres:

• subsp. glomerata s.l. – Folhas largas (até 12 mm).Inflorescência ampla (aberta). Eixos secundários dainflorescência (ramos diretamente inseridos no eixo primarioque resulta do prolongamento do colmo) longos; o eixosecundário inferior maior do que o primeiro entre-nó doeixo primário. Lema geralmente bidentada e com uma aristaaté 1,5 mm. Frequente nas regiões mais húmidas de Portugal(e.g. faixa litoral e sublitoral oeste, noroeste e montanhas)em lameiros, pousios de terras profundas, orlas de bosque,taludes terrosos e margens de caminhos. As cultivarescomercializadas em Portugal enquadram-se nesta subespécie.

• subsp. hispanica. – Folhasmais estreitas (até 4,5 mm).Inflorescência contraída(compacta), raramente commais de 1 cm de largura. Eixossecundários da inflorescênciacurtos, menores do que oprimeiro entre-nó do eixoprimário da panícula. Ápice daslemas lobulados e com umaarista até 1 mm. Frequente emorlas de bosques, clareiras dematos, taludes e margens decaminhos em áreas de climamediterrânico.

EcologiaEncontra-se desde o litoral até grande altitude (atinge os2500 m nos Alpes). Requer valores de precipitação de, pelomenos, 450 a 650 mm. Cessa o crescimento quando astemperaturas são inferiores a 5,0 ºC. Prefere solosmoderadamente ácidos a alcalinos (pH entre 5,8 e 7,5, depreferência), húmidos mas bem drenados. Para além de nãosuportar períodos prolongados de excesso de humidade nosolo, também não vegeta bem em solos salinos. Indiferenteà textura e à fertilidade do solo, por desenvolver um fortesistema radicular que favorece a adaptação a situações

PanascoDactylis glomerata

Família: Poaceae

Inflorescência da subespéciehispanica

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menos favoráveis. Ao contrário do azevém-perene (Loliumperenne L.) suporta bem o ensombramento, grandesvariações de humidade no solo ao longo do ano e verãossecos (as cultivares de proveniência mediterrânica como a‘Kasbah’ ou a ‘Porto’ entram em dormência estival).O corte favorece mais esta espécie do que o pastoreio, sendoa planta prejudicada por pressões de pastoreio elevadas(como seja o pastoreio a fundo por ovelhas no verão) ouquando o solo está muito húmido. O pastoreio estivalintensivo por ovelhas é aliás uma das explicações do insucessode persistência da espécie em algumas pastagens de sequeiro.

Implantação e maneioA implantação do panasco numa pastagem deve ser feita noperíodo de outono-inverno, sobre uma cama de sementeirabem preparada. As sementes não devem ficar a mais de 2cm de profundidade, pela reduzida dimensão das mesmas(1000 sementes pesam 1,2 a 1,4 g). O panasco é geralmentesemeado à razão de 1 a 4 kg/ha, em misturas com outrasgramíneas e leguminosas. Quando semeado estreme aquantidade de semente a usar pode alcançar os 15-20 kg/ha.Esta espécie germina com facilidade, mais rapidamente atédo que outras gramíneas, mas apresenta um desenvolvimentolento nas primeiras fases do ciclo. O crescimento lento naprimavera do ano de implantação é compensadoposteriormente por um desenvolvimento acelerado. Empastagens de sequeiro, deve-se ter algum cuidado com opastoreio no ano de implantação, para deixar que as plantasproduzam semente suficiente de modo a assegurar uma boapersistência desta espécie na pastagem. Deve-se evitar osobrepastoreio que poderá levar à diminuição da persistênciado panasco. Cuidados acrescidos devem ser tomados empastoreio com ovinos que efetuam um corte mais rente aosolo e podem comprometer seriamente a manutenção destaespécie na pastagem. Responde muito bem à fertilizaçãoazotada (recomendada quando se efectuam cortes em verdeou para feno) e ao regadio. Em pastagens bem estabelecidas,o seu crescimento arranca mais rapidamente que o de outrasgramíneas após as primeiras chuvas outonais e prolonga-seaté mais tarde em condições de ensombramento,nomeadamente em pastagens sob-coberto (e.g. montadosde azinho ou de sobro).

Possibilidades de usoO panasco é geralmente usado em misturas com outrasgramíneas e leguminosas em pastagens permanentes. Estaespécie pode ser usada para pastoreio direto, corte em verde,produção de feno ou silagem. As pastagens que incluem opanasco são apropriadas para todas as espécies pecuárias,havendo algumas referências na bibliografia que as recomendampara a criação de cervídeos (veado, corço, gamo, etc.).

Proporciona uma pastagem de excelente qualidade, tendo aparticularidade de continuar a crescer durante o pastoreio,desde que as condições de humidade e temperaturas sejam asadequadas. Este facto faz com que seja uma das espécies maisdifundidas nas pastagens de sequeiro e de regadio, em Portugale no Mundo. Ao crescer bem em condições de ensombramentoapresenta boas produções em pastagens sob coberto, frequentesem muitas regiões de Portugal. As plantas apresentam teoresde açucares mais elevados que os de outras gramíneas, peloque a biomassa que produz é mais apetecida pelos animais. Noentanto, a palatabilidade diminui abruptamente a partir do finalda floração.

Tomando o Lolium perenne L. como referência, o Dactylis produzuma biomassa de menor qualidade alimentar mas obtida atravésde mais baixos consumos de azoto.

Variedades comerciaisConsideram-se 2 grandes grupos de variedades: um que agrupaas variedades de climas frios ou temperados, do Norte da Europa,com plantas resistentes ao frio, com dormência invernal ecrescimento ativo no verão; outro, designado por“mediterrânico”, com variedades cujas plantas apresentamcrescimento Outono-Invernal e são resistentes à secura, algumascom dormência estival. As primeiras apenas são adequadas parazonas de altitude da região Norte enquanto que as outras sãoindicadas para a generalidade do País. As variedades comerciaismais difundidas em Portugal pertencem ao grupo das“mediterrânicas” e são a “Kasbah”, a “Currie” e a “Porto”. A“Kasbah” é a mais precoce, resiste muito bem à secura, apresentadormência estival, vai bem a partir de 350 mm de precipitaçãoe adapta-se bem a solos ligeiros e ácidos. A “Currie”, de ciclomédio a tardio, é indicada para pastagens de sequeiro por serresistente à secura, apresenta dormência estival relativa,adequada para misturas e consociações e requer 450-500 mm.A “Porto” é uma variedade tardia, indicada para regadio (emsequeiro só a Norte do Mondego), que requer mais de 500 mmde precipitação. Em 2011, o INRB/L-INIA de Elvas inscreveu noCatálogo Nacional de Variedades a variedade “Delta 1”, de ciclomédio, muito produtiva, sem dormência estival e resistente àsecura.

Autores: Carlos Aguiare Francisco Mondragão Rodrigues

SPPF - FICHA TÉCNICA nº2