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NÚCLEO DE PESQUISA ACADÊMICA RELATÓRIO DE PESQUISA 02 PERCEPÇÕES ÉTICAS DE FUTUROS GESTORES DA ECONOMIA Pesquisa financiada por: Programa de Apoio à Iniciação Científica CURITIBA 2005

PERCEPÇÕES ÉTICAS DE FUTUROS GESTORES DA ECONOMIAPedro Gomes de Quadros (Informática/ Sistemas de Informação Empresarial) Rafael Araújo Leal (Tecnologia: em Gestão de Recursos

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NÚCLEO DE PESQUISA ACADÊMICA

RELATÓRIO DE PESQUISA 02

PERCEPÇÕES ÉTICAS DE FUTUROS GESTORES DA ECONOMIA

Pesquisa financiada por:

Programa de Apoio à Iniciação Científica

CURITIBA

2005

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ASSOCIAÇÃO FRANCISCANA DE ENSINO SENHOR BOM JESUS

PRESIDENTEFrei Guido Moacir Sheidt, ofm

DIRETOR ADMINISTRATIVO-FINANCEIROPaulo Arns da Cunha

CENTRO UNIVERSITÁRIO FRANCISCANO DO PARANÁ

REITORFrei Gilberto Garcia

PRÓ-REITOR ACADÊMICOJudas Tadeu Grassi Mendes

PRÓ-REITOR ADMINISTRATIVOPaulo Arns da Cunha

DIRETOR ACADÊMICOLuis Roberto Antonik

SECRETÁRIO GERALVicente Keller

COORDENADOR ACADÊMICO DE PÓS-GRADUAÇÃOGilberto de Oliveira Souza

COORDENADOR ACADÊMICO DO MESTRADOChristian Luiz da Silva

COORDENADORES DE CURSOAderbal Nicolas Müller (Ciências Contábeis)

Antonio Lázaro Conte (Administração/Administração deNegócios Internacionais/Administração Integral)Gilmar Mendes Lourenço (Ciências Econômicas)

José Vicente Bandeira de Mello Cordeiro (Engenharia de Produção)Luis Roberto Antonik (Comunicação Social: Publicidade e Propaganda e

Comunicação Social: Gestão da Comunicação Organizacional – RP)Pedro Gomes de Quadros (Informática/ Sistemas de Informação Empresarial)

Rafael Araújo Leal (Tecnologia: em Gestão de Recursos Humanos e Logística)Sérgio Luiz da Rocha Pombo (Direito)

Vicente Keller (Filosofia)

COORDENADORES DOS NÚCLEOSChristian Luiz da Silva (Pesquisa Acadêmica)

Francisco Carlos Lopes da Silva (Ação Comunitária)Nancy Malschitzky (Empregabilidade)

Rafael Araújo Leal (Relações Internacionais)Rubens Fava (Relações Institucionais e Governamentais)

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CORPO TÉCNICOCentro Universitário Franciscano do Paraná

Professor Dr. José Edmilson Souza Lima (Coordenador)Christian Alfaro do Nascimento (Acadêmico do Curso de Administração)

APOIO TÉCNICO OPERACIONALMaria Aparecida da Silva Arcanjo Pereira (Revisão de texto)

Ana Rita Barzick Nogueira e Mariana Fressato (Editoração eletrônica)Edith Dias (Revisão bibliográfica)

Centro Universitário Franciscano do Paraná. Núcleo de Pesquisa Acadêmica.Percepções éticas de futuros gestores da economia; relatório de

pesquisa/ Centro Universitário Franciscano do Paraná; coordenação de JoséEdmilson Souza Lima, colaboração de Christian Alfaro do Nascimento.Curitiba, UNIFAE,2005.

27p. ilust. (Relatório de pesquisa, v.02)

1.Ética profissional. 2.Terrceiro setor (Empresas) – Administração. Lima,José Edmilson Souza. II. Nascimento, Christian Alfaro do.

CDD 174.4658.408

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APRESENTAÇÃO

O Núcleo de Pesquisa Acadêmica constitui-se em um espaço institucional eoperacional, com vistas a concentrar esforços na direção da pesquisa científica, capacitaçãodo corpo docente, iniciação científica e promoção de publicações acadêmicas.

Entre os objetivos, um dos principais é o incentivo à pesquisa e à iniciação denovos pesquisadores, cujos projetos são acompanhados por professores, em consonânciacom os propósitos das linhas de pesquisas institucionais.

Esse incentivo ocorre, mediante bolsas de pesquisa fornecidas pelo CentroUniversitário Franciscano do Paraná (UniFAE) para os professores e alunos envolvidos nosprojetos, por meio do Programa de Apoio à Iniciação Científica – PAIC. Os bolsistas têmcomo responsabilidade a elaboração de um artigo no Caderno do PAIC e a produção dorelatório de pesquisa. O presente relatório é fruto de um dos projetos do PAIC 2004.

O PAIC 2004, fonte financiadora da presente pesquisa, começou em setembro de2004, com término em junho de 2005. Foram 8 projetos aceitos e desenvolvidos por 8professores coordenadores e 16 alunos, que contaram com a bolsa de pesquisa. O 6o.Caderno do PAIC, publicado no final de 2005, apresentou sumariamente artigos referentesaos relatórios de pesquisa, os quais, agora, estão sendo expostos na íntegra.

É com muita satisfação que, neste ano de 2006, estamos iniciando esta série depublicação dos relatórios de pesquisa, pois isso nos aproxima ainda mais do objetivo defazer da pesquisa um instrumento de transformação econômica e social.

Esse processo somente acontece, se houver envolvimento das pessoas efetivamenteresponsáveis pelo sucesso do programa e pelo alcance do resultado em prol dessatransformação. Cabe-nos, portanto, citar as partes fundamentais para o desenvolvimento desseprocesso: os pesquisadores, alunos e professores bolsistas; a UniFAE, por meio da reitoria epró-reitorias, como promotora e viabilizadora da pesquisa; todos os funcionários do Núcleo dePesquisa Acadêmica, com a colaboração dos bibliotecários.

Esperamos uma participação contínua de todos (pesquisadores – alunos eprofessores), para que possamos fazer da ciência um instrumento de desenvolvimento dasociedade.

Desejamos a todos uma ótima leitura!

Prof. Christian Luiz da Silva Prof. Judas Tadeu Grassi MendesCoordenador do Núcleo Acadêmico e do Mestrado Pró-Reitor Acadêmico

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................................................... 5

1 PROBLEMÁTICA .......................................................................................................................... 7

2 METODOLOGIA ............................................................................................................................ 9

3 MODELO DE ANÁLISE................................................................................................................. 10

3.1 PERFIL DAS POSTURAS ÉTICAS ............................................................................................ 10

3.2 RESULTADOS ESPERADOS .................................................................................................... 13

4 REFERENCIAIS TEÓRICOS......................................................................................................... 14

4.1 UM NOVO CENÁRIO SOCIAL ................................................................................................... 14

4.2 A UTILIZAÇÃO DO TERMO TERCEIRO SETOR ...................................................................... 14

4.3 O TERCEIRO SETOR E SUA LEGISLAÇÃO............................................................................. 15

4.4 TIPOS DE ENTIDADES.............................................................................................................. 16

4.4.1 Associações ............................................................................................................................. 16

4.4.2 Fundações................................................................................................................................ 16

4.4.3 Sindicatos................................................................................................................................. 17

4.4.4 Cooperativas ............................................................................................................................ 17

4.4.5 Igrejas....................................................................................................................................... 17

4.4.6 Organizações Não-Governamentais (ONGs) .......................................................................... 18

4.5 ÉTICA X MORAL......................................................................................................................... 18

4.6 TEORIAS SOBRE CONCEITOS ÉTICO .................................................................................... 18

5 RESPONSABILIDADE SOCIAL ................................................................................................... 20

5.1 UMA BREVE DEFINIÇÃO........................................................................................................... 20

5.1.1 Definir o que é Responsabilidade Social ................................................................................. 20

5.2 RESPONSABILIDADE SOCIAL X FILANTROPIA...................................................................... 20

6 GESTÃO NO TERCEIRO SETOR................................................................................................. 22

6.1 O DESEMPREGO NO BRASIL .................................................................................................. 22

6.2 A “MIGRAÇÃO” DO SEGUNDO PARA O TERCEIRO SETOR ................................................. 22

6.3 A NECESSIDADE DE QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL E CULTURAL.................................. 23

6.4 IMPLICAÇÕES OPERACIONAIS EFICAZES NA GESTÃO DO TERCEIRO SETOR............... 24

CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................................... 25

REFERÊNCIAS.................................................................................................................................. 26

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INTRODUÇÃO

Na contemporaneidade, os temas e dilemas éticos vêm se projetando,progressivamente, como verdadeiros freios às políticas de desenvolvimento econômico semlimites. Tal constatação sinaliza que as análises em torno da noção de ética vêm se ampliando,tentando inserir, nas políticas econômicas e públicas, novos indicadores que apontem paraperspectivas não apenas econômicas, mas também políticas e, sobretudo, socioambientais.

Sob essa nova ótica, parte das políticas empresariais apresenta, como núcleos,temas que necessariamente passam pelo crivo da ética, como, por exemplo, os temassocioambientais. A partir do momento em que as possibilidades de sobrevivência do planetaTerra começam a ser questionadas, caso se continue a agredi-lo, novos valores começam ase projetar como exigências às práticas no mundo dos negócios.

No bojo desse debate com contornos globais, mas com reflexos regionais e locais, éfundamental desenvolver e aprofundar estudos capazes de identificar como empresasparanaenses têm se posicionado ante desafios dessa ordem. Além disso, no âmbito da UniFAECentro Universitário, trata-se de estudo que tende a aproximar estudantes das três áreas deformação profissional, uma vez que os temas éticos, em virtude de sua complexidade, sãointerdisciplinares por definição e transcendem a formação monodisciplinar.

Outro ponto favorável é o envolvimento dos estudantes, cuja consciência amplia-se,em termos éticos, com pesquisas dessa natureza, o que possibilita a elevação daresponsabilidade deles perante a sociedade. Em última análise, trata-se de estudo que altera a“percepção” dos futuros profissionais, os quais vêem-se estimulados a elaborar propostas paraas empresas, que gerem riquezas sem sacrifício de valores íntimos da condição humana.

Serviu de justificativa para o presente estudo, também, a pesquisa realizada porSrour (2000). Naquela ocasião, foram entrevistados 642 executivos brasileiros. Dosrespondentes, apenas 3,74% foram considerados profissionais íntegros, isto é, éticos.Considerando-se que o resultado da pesquisa restringe-se ao segundo setor da economia,resta verificar se a situação nesse setor continua da mesma forma e se no terceiro setor asituação é muito diferente.

De acordo com as duas pesquisas exploratórias realizadas por dois orientandosdo programa de 2002/2003, a ética aparece mais como obstáculo para o segundo setor ecomo alavanca para o terceiro setor. As pesquisas dos orientandos do programa de2003/2004 ainda estão em andamento, mas, pelos relatórios parciais apresentados atéentão, parecem tenderem a validar as conclusões das pesquisas do biênio 2002/2003.

Sendo assim, é imperativo dar continuidade, ampliar e aperfeiçoar tais pesquisasporque se tratam de descobertas fundamentais não apenas para os estudantes envolvidos

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mas, principalmente, para todos aqueles que não estão satisfeitos com um mundo marcadopela indiferença e pela exclusão social. Fatores que tendem a reforçar comportamentos edecisões abusivas tanto por parte dos privilegiados pela racionalidade capitalista, bem comopelos excluídos do sistema.

Os estudos realizados dão pistas, de maneira singela, mas profunda, danecessidade de se produzirem gestores competentes tecnicamente, mas tambémsocialmente responsáveis.

Talvez seja esse conjunto de fatores que justifique a necessidade civilizatória dedar continuidade ao presente projeto.

O objetivo geral da pesquisa foi aprofundar pesquisas iniciadas nos PAICs –2002/2003 e 2003/2004 sobre a qualidade ética e dilemas éticos de gestores do terceiro edo segundo setores.

Os objetivos específicos foram: ampliar revisão bibliográfica referente às práticasdo terceiro setor e ética empresarial; ampliar revisão bibliográfica referente às práticas dosegundo setor e ética empresarial; ampliar amostras com o fito de continuar verificando sehá diferenças significativas entre a qualidade ética de gestores do terceiro setor quandocotejadas com a de gestores do segundo setor.

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1 PROBLEMÁTICA

Ao que parece, a relação entre segundo setor da economia e ética tende a ser deexclusão. Infelizmente, as conclusões preliminares da pesquisa de um dos orientandos de2002/2003 comprova tal fato. “Infelizmente” porque tal constatação reforça idéiaspredatórias do mundo dos negócios, em relação à sociedade. Por outro lado, a dimensãopositiva da constatação está associada à descoberta de que a ética talvez seja um dos maisfortes indicadores de otimismo para a civilização.

Em geral, a crença predominante é que o sucesso de qualquer organizaçãoformal está diretamente relacionado ao sacrifício da ética. O mundo dos negócios tende aviver sob a tirania do Homo economicus (SMITH, 1986), aquele que só toma decisões apartir de seu mais estrito auto-interesse – interesse pecuniário – aliado à idéia do menoresforço. Sem dúvida, essa visão unidimensional do homem é a que prevalece no cenáriodos negócios; a do homem interesseiro, que apenas se aproxima dos outros em busca devantagens exclusivistas.

É evidente que nessa visão de mundo – herdada de uma tradição clássica dopensamento econômico - há pouco, ou nenhum espaço para a ética. No mundo do Homoeconomicus prevalece a máxima do “salve-se quem puder”, do “cada um por si e Deus portodos”. Cada um age de acordo com seus próprios interesses, independente dos possíveisabusos sobre o outro. Em termos práticos, parece não haver limites, uma vez que todosagem balizados por sentimentos, paixões e interesses absolutamente particularistas.

Ressaltar que sempre que se atua ou se deixa que os outros atuem sob a égidedos sentimentos excessivamente particularistas, está-se excluindo a possibilidade objetiva deeducação das vontades. Exclui-se, portanto, a ética, já que ela deve ser apreendida comopossibilidade objetiva de educação das vontades. Cada vez que se educam vontades, tomam-se decisões minimamente abusivas em relação ao outro; está-se sendo ético (CHAUÍ, 2001).Por outro lado, cada vez que decisões sejam tomadas, ou que se permita que outros astomem, amparando-se apenas nos desejos particularistas, está-se sendo antiético.

Nesse sentido, a relação entre negócios e ética tende a ser de conflito, pois, se,de um lado, os negócios reivindicam liberdade absoluta para que os jogadores façam o quebem entenderem; de outro, a ética aparece como a delimitação dessa liberdade. Ela vemalertar todos os jogadores de que nem sempre aquilo que é desejado para alguém édesejável para a coletividade. Nem sempre o interesse de um indivíduo ou de um pequenogrupo corresponde ao interesse da coletividade como um todo.

Alicerçado nesse debate, Giannetti(1993) se propõe a demonstrar que, aocontrário da crença vigente, a ética é fundamental para o êxito, para a riqueza de qualquernação. Para ele, ética e riqueza não são incompatíveis; são faces de uma mesma moeda,

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uma vez que possibilitam a emancipação não apenas do indivíduo, mas, sobretudo, dacoletividade, da nação.

Outro autor que compartilha as mesmas idéias de Giannetti, é Srour(2000). Aorecuperar a discussão clássica, proposta por Weber (1968), sobre as éticas da convicção eda responsabilidade, o presente autor evidencia sua crença de que, se nem toda empresaabusiva, antiética, é competitiva; toda empresa com preocupações éticas, é competitiva emtermos mercadológicos.

Com essa conclusão, ele está reiterando o que Weber afirmou sobre a ética daresponsabilidade. As organizações formais do Ocidente obrigam-se a tomar decisões maisapoiadas em cálculos e análises circunstanciais – ética da responsabilidade - do que emvalores íntimos, em sentimentos – ética da convicção.

As organizações – por questões de sobrevivência no mercado - vêem-seobrigadas a tomar decisões socioambientalmente responsáveis. Quanto maior o grau deexigibilidade da sociedade – definido por níveis educacionais – maior a possibilidadeobjetiva das referidas organizações formais tomarem decisões éticas.

Pode-se, assim, inferir que o fator definidor da ética empresarial é a sociedade.Quem educa as vontades das empresas, portanto, é uma sociedade educada, exigente eque não faz concessões a práticas e decisões oportunistas.

No tocante ao terceiro setor, em particular, a algumas Organizações NãoGovernamentais, a relação entre ética e práticas empresariais não parece ser de auto-exclusão. O fundamento de uma ONG é a confiança recíproca de seus membros aliada àconfiança de que suas ações são decisivas no processo emancipatório da comunidade oudas pessoas diretamente auxiliadas. No trabalho de Ultramari (2001), ficam claras essasquestões, ao analisar a intervenção de ONG’s curitibanas, em questões relacionadas aourbanismo e ao meio ambiente. O autor se utiliza do conceito de “boas práticas” para definir,de fato, ações consideradas aqui como éticas.

Os estudos elencados não analisam se há diferenças consideráveis entre aqualidade ética de gestores do terceiro e segundo setores da economia. Os estudos nãocorroboram, nem negam se é verdadeira a tese de Giannetti: “a riqueza de qualquer nação –leia-se empresa, instituição, etc. – é definida pela qualidade dos jogadores”. Portanto, apresente pesquisa propõe-se a continuar testando a tese que está muito próxima deGiannetti: será a ética, de fato e de direito, um dos mais importantes fatores de produçãopara o mundo dos negócios?

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2 METODOLOGIA

Inicialmente serão selecionados textos envolvendo ética, práticas e decisões dossegundo e terceiro setores da economia. As análises terão como balizas uma bibliografiaampla que aborde e projete os temas éticos como núcleos de qualquer proposta dedesenvolvimento e expansão empresarial.

Para avaliar a qualidade ética dos gestores tanto do terceiro quanto do segundosetor, será utilizado um questionário tal como a proposta de Srour (2000), que mede índicesde “oportunismo” ou de “integridade” nas ações empresariais; e/ou entrevistas semi-estruturadas que captem a percepção ética dos entrevistados, a partir dos discursos usadospara justificar e legitimar decisões no mundo dos negócios.

O questionário e as entrevistas permitem balizar se o gestor costuma tomardecisões mais ou menos oportunistas ou íntegras.

Com relação ao critério de escolha dos gestores a serem entrevistados, basta queatuem em organizações do terceiro ou segundo setor e, ao longo do projeto, as duasamostras serão definidas, seguidas de questionário.

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3 MODELO DE ANÁLISE

3.1 PERFIL DAS POSTURAS ÉTICAS

Quatro possibilidades são apresentadas no primeiro quadro, as quais podemocorrer no momento das respostas do questionário. Ao todo são dez situações, cada qualcontendo duas proposições.

O entrevistado deverá:

- posicionar-se, em conformidade com uma escala entre 0 e 3, a qual esteja deacordo com o grau de concordância em relação às proposições. Exemplo: sena primeira situação, ele concorda totalmente com a primeira proposição, entãodeve preencher 3 e 0. Se, ao contrário, discordar da primeira proposição, devepreencher 0 e 3;

- orientar-se para ser absolutamente sincero, uma vez que não existemrespostas certas ou erradas;

- responder não o que gostaria de ser ou de pensar se o mundo fosse diferente,mas como é e pensa na atual realidade;

- não deixar de classificar nenhum conjunto;

- não repetir nem dividir notas.

No final, serão identificadas as notas que foram dadas em cada situação, comuma decisão íntegra e outra oportunista, ou seja, no último quadro, a coluna I corresponde àmoral da integridade; e a coluna II, à moral do oportunismo.

Com relação aos resultados, o profissional que somar:

- menos de 19 pontos, na coluna I, é um adepto em potencial da moral dooportunismo;

- de 20 a 24 pontos, na coluna I, mantém relações confusas com a moral daintegridade, adotando decisões ambíguas;

- de 25 a 29 pontos, na coluna I, costuma fazer concessões correntes à moral dooportunismo, vivendo na ambigüidade.

Para que as respostas do entrevistado revelem um perfil de integridade máxima, asomatória da coluna I deverá ser de 30 pontos: é o profissional que não faz qualquer tipo deconcessão às práticas oportunistas.

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Letra 3 0 2 1

Letra 0 3 1 2

Situação 1

Evito ao máximo subornar fiscais e sonegar impostos. Mas se um fiscal forçar a barra, eu pago, e se minhaempresa estiver em dificuldade, sonego e pronto. Nos negócios, bom senso e pragmatismo sãofundamentais.

A

Estou convencido de que um comportamento reconhecido como idôneo pelos clientes traz bons negócios emprazo médio e longo. De modo que a sonegação de impostos ou o suborno de fiscais são práticas difundidasque só merecem repulsa, porque prejudicam a coletividade, bem como a imagem da empresa.

B

Situação 2

Lamento que muita gente lance mão de expedientes, no velho estilo do Brasil tradicional. Numa economiaaberta, quem não fornece qualidade, atendimento personalizado, preços competitivos, garantias pós-venda,está fadado a desaparecer. Minha empresa veio para ficar e não para fazer negócios com uma visãoimediatista.

A

Penso que não se deve misturar negócios e questões morais. Afinal, quem põe capital de risco quer ganhardinheiro; não está aí para fazer caridade ou para bancar o missionário. Vamos deixar de hipocrisia: quem faznegócios não pode ser santo. Dadas as muitas complicações que existem no Brasil, é preciso ter jogo decintura para que as coisas funcionem. Quem tem juízo sabe como se virar.

B

Situação 3

Acho que maximizar os lucros dos acionistas não pode ser o único dínamo das empresas: estas precisamagir com claro sentido de responsabilidade social. Por exemplo, devem repartir ganhos com clientes efuncionários, além de respeitar o meio ambiente.

A

Creio que a frase anterior só faz sentido se outros agentes forem contidos em seu apetite: as autoridadescom seus impostos, os sindicatos com seus pleitos, os ecologistas com suas exigências, os fornecedorescom seus preços, os bancos com seus juros e suas taxas.

B

Situação 4

Penso que a única maneira de sobreviver, para as empresas, é preparar-se para o que der e vier. Aconcorrência está cada vez mais acirrada e desleal. Seria ingênuo arriscar o negócio bancando o bom-moço.Cabe um acordo entre as empresas para que não haja concorrência predatória e para que não se ponha emperigo o emprego de muita gente.

A

Não importa o tipo de concorrência, se estrangeira ou nacional. Quem é competente sabe reduzir custos erepensar o próprio negócio, sabe inovar sempre e lançar produtos novos, com qualidade e bom design.Apelar para o vale-tudo é uma atitude desesperada de curto alcance.

B

Situação 5

Se eu souber que a empresa em que trabalho vai adquirir uma empresa concorrente cujas ações estão a umpreço muito baixo, compro um lote de ações, já que seu valor certamente subirá.

A

Não compro ação alguma, a não ser que a minha empresa autorize tal procedimento, porque, caso contrário,eu estaria me valendo de informações confidenciais que podem trazer prejuízo às operações como um todo.

B

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Situação 6

Se eu, como presidente de uma empresa, souber que um concorrente acabou de desenvolver uma novatecnologia que vai lhe garantir boa fatia do mercado, faço com que um dos especialistas desse concorrenteme repasse o know-how. Como todo mundo procura se defender, também me adapto às circunstâncias,embora o faça a contragosto. Quem está na chuva é para se molhar.

A

Procuro manter-me sempre atualizado e não me deixar surpreender pelos concorrentes. Lanço produtos cominovações, valendo-me apenas da inteligência competitiva, e não da espionagem econômica. A meu ver,quem se socorre de manobras escusas não merece o respeito de ninguém e demonstra miopia empresarial.

B

Situação 7

Acredito que as empresas devem adotar políticas criteriosas na área da publicidade, na qualidade dosprodutos ou dos serviços prestados, no atendimento aos clientes e nos preços competitivos. Enganar osclientes ou omitir deficiências pode realmente dar resultados imediatos, mas está errado. Além de podertrazer problemas com o Código de Defesa do Consumidor, o Procon, a mídia e até a Justiça. Não façonegócio com esperteza.

A

Seria ingenuidade minha lançar um produto e não ressaltar todas as suas qualidades, ao mesmo tempo emque omito naturalmente as possíveis deficiências ou insuficiências. Isso não quer dizer que eu deixe de terprodutos competitivos. O mercado está aberto para qualquer um poder comparar os produtos e os preços, osserviços prestados e o tipo de atendimento. Os clientes não são crianças que devem ser pajeadas. Cabe aeles apreciarem a publicidade que se faz e aquilo que compram. Minha responsabilidade é para com osacionistas em primeiro lugar.

B

Situação 8

Obedeço ao prazo do mercado e considero que oferecer brindes, presentes e gratificações a compradores egerentes das empresas clientes é uma atitude de boa educação. Danço conforme a música, como todomundo faz. Aliás, quem deixa de fazê-lo perde negócios e reduz suas próprias oportunidades.

A

Acho que é preciso estabelecer uma política explícita e restritiva no tocante à aceitação ou à oferta deconvites, favores, brindes e presentes. Trata-se de um dos itens que um código de conduta empresarial deveter, porque deixar cada funcionário orientar-se segundo sua própria consciência é abandoná-lo num matosem cachorro.

B

Situação 9

Sendo eu presidente de uma empresa, não vejo nada de errado em possuir ações de uma companhia com aqual minha empresa faz negócios regularmente. É um modo inteligente de estabelecer uma boa parceria. Emais: não vejo por que não sentarmos juntos para procurar regular o mercado (acabando com a guerra entreos concorrentes) e para descobrir o melhor método de contornar tanto imposto – afinal, a carga tributária noBrasil é altíssima e muito mal distribuída.

A

Acho inadequado possuir ações de um concorrente se eu for presidente de uma empresa. Certamentehaverá conflito de interesses e eu ficaria impedido de tomar certas decisões. E mais: é um absurdo combinaros preços dos produtos com as empresas concorrentes, porque isso prejudica os clientes. No entanto, cabeapoiar-se mutuamente no que diz respeito aos interesses do setor para pressionar o Executivo e o Legislativoe conseguir diminuir a carga tributária.

B

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Situação 10

Não basta elaborar um código de conduta, é preciso conscientizar os funcionários a respeito das normasmorais nele contidas e controlar o que fazem sem esmorecer. Isso significa que o código de conduta é paravaler, devendo corresponder a cada uma das práticas de gestão.

A

Códigos de conduta acabam servindo para jogar poeira nos olhos do pessoal de fora. Quem conhece arealidade dos negócios sabe disso. Afinal, o que se escreve não é para ser cumprido, caso contrário não sefaria mais negócio algum. Felizmente, nós aprendemos a dissociar desde sempre o discurso e os atos.Então, vamos deixar isso para lá e parar com esses modismos tolos.

B

SITUAÇÃO COLUNA I – Integridade COLUNA II – Oportunismo

1 B= A=

2 A= B=

3 A= B=

4 B= A=

5 B= A=

6 B= A=

7 A= B=

8 B= A=

9 B= A=

10 A= B=

TOTAIS =30

Obs. A soma das colunas I e II tem que ser 30 pontos.

3.2 RESULTADOS ESPERADOS

A expectativa é que há diferenças significativas entre gestores do terceiro setorquando comparados a gestores do segundo setor. Isso significa que se espera da presentepesquisa a validação da tese de Giannetti, a saber: “a riqueza de uma organização estádiretamente relacionada à qualidade ética de seus jogadores”.

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4 REFERENCIAIS TEÓRICOS

4.1 UM NOVO CENÁRIO SOCIAL

O Estado sempre exerceu, e exerce, ainda que com suas limitações, um papelfundamental na sociedade que é a prestação de serviços sociais.

Com a falência do bem-estar social promovido pelo Estado, surgiu um novocenário que teve seus alicerces fundamentados no Brasil, principalmente, no início dadécada de 1990. Acredita-se que, a partir de então, surgia uma nova ordem socialconstituída por entidades que prestassem tais serviços sociais sem ganhar nada por isso, anão ser o reconhecimento da população e, por conseguinte, sua ajuda, quer seja por meiode recursos financeiros, serviços, doações de materiais, divulgações, etc.

Essa nova ordem social se diferencia do Estado, não tanto pelos serviçosprestados à sociedade, mas, fundamentalmente, por não ter como fonte de recursos osimpostos e tributos. Também não se assemelharia às empresas privadas, as quais, além defavorecer e concentrar renda para a elite, promovem, muitas vezes, a desigualdade social e,conseqüentemente, a exclusão social.

Segundo Melo Neto (2001) essa “nova ordem social” sustenta algumascaracterísticas, tais como:

- predomínio da ação comunitária sobre a ação estatal e empresarial;

- mudanças profundas nas relações do cidadão com o governo;

- surgimento de uma nova concepção de Estado;

- substituição da prevalência dos interesses corporativos pela hegemonia dointeresse social;

- aparecimento de novas instituições sociais;

- diminuição da influência da burocracia estatal ao aumento da influência dasentidades comunitárias;

- abertura de novos canais de reivindicações sociais;

- emergência de redes de solidariedade social.

4.2 A UTILIZAÇÃO DO TERMO TERCEIRO SETOR

O termo Terceiro Setor foi introduzido, na década de 1950, nos EUA, paraconceituar um mesclado de dois setores econômicos da sociedade: o representado peloEstado chamado de público; e outro, pelas empresas, denominado de privado. Acredita-se

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que essa tendência teve como base o comportamento filantrópico desempenhado pelamaioria das empresas norte-americanas.

No Brasil, esse termo começou a ser utilizado, no início da década de 1990, parase referir às organizações sem fins lucrativos, de sociedade civil, que haviam sido criadaspara atuarem na área social, com ênfase na participação voluntária.

Inúmeras são as definições sobre o terceiro setor. Segundo Modesto (1998) “Oterceiro setor é o conjunto de pessoas jurídicas, privadas de fins públicos e sem finalidadelucrativa, constituídas voluntariamente, como auxiliares do Estado na persecução deatividades de conteúdo social relevante”.

O fato de utilizar-se o termo “Terceiro” deve-se à composição de outros doissetores da economia denominados anteriormente, ou seja, atribui-se ao Estado e suasinstituições públicas o “Primeiro Setor”; e às empresas privadas, cujo objetivo principal é alucratividade, o “Segundo Setor”.

O terceiro setor não deve ser confundido com o “setor terciário”, ou seja, o termoutilizado nas ciências econômicas para se referir ao setor de serviços, ou melhorexplicitando, o conjunto de produtos oferecidos pela atividade humana visando à satisfaçãode uma necessidade da população, sem assumir a forma de bem material.

4.3 O TERCEIRO SETOR E SUA LEGISLAÇÃO

De conformidade com a Constituição Brasileira Federal de 1988, as entidades deassistência social, sem fins lucrativos, gozam de imunidade tributária nos seguintes termos:

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aosEstados, ao Distrito Federal e aos Municípios: ...

VI - instituir impostos sobre:...

c) patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidadessindicais dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social, sem finslucrativos, atendidos os requisitos da lei.

No Apêndice 1 do livro Administrando Organizações do Terceiro Setor – O Desafio deAdministrar Sem Receita, o autor Mike Hudson (1999) explicita algumas teorias doseconomistas sobre as Organizações Sem Fins Lucrativos. Entre elas está a “teoria do status”,por meio da qual se declara que algumas organizações optam pelo status de “sem finslucrativos”, pura e simplesmente pela isenção dos impostos pelas autoridades governamentais.

Relacionada ou não com a aprovação da isenção de impostos pelo governofederal, mediante a Constituinte de 1988, a expansão do terceiro setor no Brasil teve seuinício, nos primeiros anos da década 1990, e desde então não parou de crescer.

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Com a intenção de obter um maior controle na fiscalização das instituições quecompõem o terceiro setor, foi aprovado pelo Senado Federal, em vinte e nove de junho de2004, a criação do Cadastro Nacional de Organizações Não Governamentais (ONGs) peloProjeto Lei 07/2004, que será administrado pelo Ministério da Justiça. O Projeto Lei aguardaaprovação na Câmara dos Deputados, e, após ser aprovado, toda instituição atuante noterceiro setor será obrigada a se cadastrar sob pena de impossibilidade de funcionamento.

Até o presente momento já foram cadastradas 17.326 ONGs (Disponível na homepage www.institutoterceriosetor.org.br. Acesso em 11 de out. 2004). Esse número ainda émuito pequeno, pois se estima que no Brasil existam mais de 250.000 organizaçõesatuantes no terceiro setor (MELO NETO e FROES, 2001).

4.4 TIPOS DE ENTIDADES

4.4.1 Associações

As associações são instituições constituídas por pessoas que compartilhamconhecimentos e serviços, visando ao mesmo ideal e objetivo, podendo ser econômicas ounão, com capital ou sem, mas nunca com intenção de lucratividade. Quando sua atuaçãoatende à comunidade como um todo sem restrições, atribui-se a ela finalidade altruística.Em contrapartida, quando está voltada somente para atender a um grupo homogêneo eespecífico, atribuem-se a ela características ditas egoísticas.

A associação é classificada como pessoa jurídica de direito privado, direcionada aatividades culturais, religiosas, sociais, recreativas, entre outras, desde que não tenhaobjetivo lucrativo e esteja regularmente organizada.

4.4.2 Fundações

As fundações são patrimônios colocados à disposição de um determinadoobjetivo, destinado ao benefício da comunidade ou parte dela, porém, com finalidadealtruística e não egoística.

Para se formar uma fundação são necessárias basicamente duas coisas: aprimeira é o patrimônio, ainda que de uma única pessoa; e a segunda é a vontade dedestinar esse patrimônio a uma idéia filantrópica.

Os objetivos das fundações, apesar de serem altruísticas, não são genéricas. Oinstituidor expressa o objetivo específico que deverá ser executado pela entidade jurídicaconstituída. Quanto à expressão do desejo, quando acontece em vida, é realizada medianteescritura pública (inter vivos); e, após a morte, por testamento (causa mortis).

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4.4.3 Sindicatos

Os sindicatos, nos países democráticos, são pessoas jurídicas de direito privado,com direito livre de associação, ou seja, não estão subordinados ao Estado.

Atuantes em questões de caráter profissional, os sindicatos são associações quereúnem empregadores e empregados, profissionais liberais e trabalhadores autônomos quedesempenham as mesmas atividades ou similares, com o intuito de defender seusinteresses individuais e profissionais.

4.4.4 Cooperativas

O cooperativismo se desenvolveu e conquistou seu próprio espaço, devido a umanova forma de pensar o homem, o trabalho e o desenvolvimento social. É reconhecido pelosgovernos como uma das soluções aos problemas socio-econômicos, por possuíremcaracterísticas de igualdade e sociais.

As cooperativas podem ser de consumo fechada, quando se admitem somentepessoas de um grupo seleto, pertencentes a uma empresa, sindicato, profissão; ou deconsumo aberta, quando qualquer pessoa pode a ela se associar.

Para o surgimento de uma cooperativa é necessária a união voluntária depessoas que desejem satisfazer aspirações econômicas, sociais e culturais, em comum.

Alicerçadas em valores de solidariedade, democracia, ajuda mútua e participação,as cooperativas acreditam nos valores éticos de honestidade, preocupação com seupróximo e responsabilidade social.

4.4.5 Igrejas

As igrejas têm ampliado seu espaço de atuação, devido à grande necessidadede auxílio material, emocional e, essencialmente, espiritual que as pessoas guardam emseu âmago.

Com o intuito de evangelizar as pessoas, e levarem-nas a um arrependimentogenuíno e, conseqüentemente, a uma mudança de atitude, as igrejas têm buscado pessoas quesão discriminadas pela sociedade, tais como: drogados, presos, prostitutas, entre outras.

As igrejas também devem cumprir uma missão fundamental para a sociedade queé a de passar valores, como: amor ao próximo, responsabilidade social, solidariedade, ética,fé em Deus, etc.

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4.4.6 Organizações Não-Governamentais (ONGs)

As ONGs são instituições de sociedade civil sem fins lucrativos, que lutam eapóiam causas coletivas, como, por exemplo: preservação ambiental, racismo, proteção amulheres, crianças, velhos, desarmamento, antiguerra, etc.

Como entidades procuradas por excelência, as ONGs elaboram políticas quearticulam o governo e a comunidade organizada, partindo de interesses de determinadosgrupos, por intermédio de movimentos e organizações sociais.

4.5 ÉTICA X MORAL

Inúmeros são os casos em que a ética e a moral são confundidas entre si. Afinal,existe diferença entre a ética e a moral ou ambas têm o mesmo significado?

Ao estudá-las com superficialidade, pode-se dizer que ética e moral sãosinônimas, em muitos casos, todavia, adotar a substituição de uma pela outra, em todos oscasos, é uma maneira errônea, quanto ao emprego das palavras e conceitos.

Quando se emite um juízo de valor (se boa, se má ou duvidosa), sobre algumaprática social ou pessoal, pode-se ter, como origem, um problema ético, um problema moralou, até mesmo, um problema ético e moral.

Aprofundando mais nos assuntos em questão, percebe-se que a ética faz parte dafilosofia, e a moral faz parte da vida concreta.

Destarte, a ética leva em consideração assuntos relacionados com a vida, o serhumano e seu destino, o universo, etc., e institui princípios e valores que dirigem pessoas esociedades. Quando uma pessoa orienta-se por princípios e convicções diz-se que essapessoa é ética.

A moral trata da prática das pessoas, levando-se em conta seus hábitos, costumes evalores culturais. Uma pessoa moral age, em conformidade com tais hábitos, costumes evalores. Nesse caso, uma pessoa pode ser moral, porém, não necessariamente, ética.

4.6 TEORIAS SOBRE CONCEITOS ÉTICO

A Teoria do Fundamentalismo defende a idéia de que os conceitos éticos sãoobtidos pelo ser humano por uma fonte externa, como, por exemplo: um livro (como aBíblia), regras e preceitos estabelecidos por um grupo ou, até mesmo, outras pessoas. Acrítica principal sobre essa teoria é a de que o ser humano não encontra o certo e o erradopor si só.

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Jeremy Bentham (1748-1832) e John Stuart Mill (1806-1873) criaram idéias sobrea ética e, dessas, nasceu a Teoria do Utilitarismo. Nessa teoria, o conceito ético é fruto domaior benefício à sociedade denominado de “maior bem”. Cada indivíduo, diante de algumasituação, em que deva optar por uma alternativa, deve escolher aquela que gere o maiorbem para a sociedade. A idéia de maior está relacionada ao tamanho do bem e não aonúmero de beneficiados. Os críticos dessa teoria destacam a dificuldade de saber discerniro “bem maior para a sociedade” em cada uma das situações vividas pelo indivíduo.

Emanuel Kant (1724-1804) foi o defensor da Teoria do Dever Ético, cujasdiretrizes são os princípios universais. Outras duas regras que dão base a essa teoria sãoas seguintes: um padrão ético, uma vez estabelecido, deve ser aplicado a todos que seencontram em mesma situação; aquilo que se exige de si mesmo pode-se exigir dos outros,porém, aquilo que não se exige de si mesmo não se pode exigir dos outros. O consensosobre quais sejam os princípios universais é o principal motivo das críticas a essa teoria.

Nas idéias de John Locke (1632-1704) e Jean Jacques Rousseau (1712-1778)baseia-se a Teoria Contratualista, na qual os conceitos éticos são extraídos das regrasmorais que apóiem a harmonia, a paz e a perpetuação de um grupo social. O fato de cadagrupo social contar com suas próprias regras de conduta é o alvo principal das críticas sobreessa teoria.

A Teoria do Relativismo expõe a idéia de que cada indivíduo, com base nas suaspróprias convicções, deve decidir sobre o que é ético e o que não é ético, ou seja, a éticavaria de indivíduo para indivíduo. Os críticos dessa teoria afirmam que os indivíduospoderiam utilizar-se desse argumento para justificar suas ações imorais.

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5 RESPONSABILIDADE SOCIAL

5.1 UMA BREVE DEFINIÇÃO

5.1.1 Definir o que é Responsabilidade Social

Os consumidores têm despertado para algo percebido por poucos anteriormente,que é a valorização das empresas socialmente responsáveis e desvalorização daquelas quenão têm essa mesma preocupação. Nesse sentido, a conscientização dos gestores dessasempresas seria o “primeiro passo” a caminho da responsabilidade social.

Outro grande “passo” é a empresa deixar de ver o lucro como um fim, e começara vê-lo como um meio para se atingir um desenvolvimento sustentável, capaz de garantir asnecessidades das gerações futuras.

Esses “dois passos”, ao serem percebidos pelos dirigentes, devem ser difundidospor toda a empresa, sem se perder de vista a necessidade de sobrevivência, ou seja, ageração de receitas.

O maior ganho, olhando pelo prisma estratégico e financeiro, que as empresassocialmente responsáveis podem ter, é a confiança do consumidor e conseqüentemente asua fidelização. Tal ganho dá-se a médio e longo prazo.

Vale lembrar que o fato de a empresa ser socialmente responsável não dispensaoutros fatores, tais como: qualidade dos produtos e serviços, preços competitivos, prazos,garantias, entre outros.

Nesse cenário, pode-se dizer que as empresas socialmente responsáveis, devemse adequar às grandes exigências de uma demanda, em um mercado extremamentecompetitivo, sem se limitar aos interesses lucrativos dos acionistas, mas visando a umbenefício maior à sociedade. Tal benefício vai além de questões legais, como o pagamentode impostos e tributos, e atinge deveres morais norteados pela ética.

Por ser uma tarefa um tanto quanto difícil, as empresas devem adotar atitudespró-ativas, como, por exemplo, buscar parcerias com governo e instituições sem finslucrativos, lançamento de campanhas, etc.

5.2 RESPONSABILIDADE SOCIAL X FILANTROPIA

Seria correto afirmar que responsabilidade social é apenas uma maneira mais“elegante“ de dizer filantropia? Ou quem sabe ambas poderiam ser empregadas ao sereferirem a uma boa ação realizada? Afinal, qual é a diferença entre filantropia eresponsabilidade social?

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Pode-se dizer que a responsabilidade social teve como passo inicial a filantropia, ouseja, com o passar do tempo, a evolução da filantropia resultou na responsabilidade social.

Quando uma empresa mantém apenas uma relação social para com ocomunidade, diz-se que ela desempenha uma ação filantrópica; porém, quando tal açãoestá inserida no planejamento estratégico da empresa, tratando dos negócios da empresa,trata-se de responsabilidade social para com a comunidade.

Nesse caso, a responsabilidade social vai além da filantropia, por não se referir auma ação isolada, mas a ações pró-ativas, com as quais todos na empresa estãoenvolvidos, e estas fazem parte do planejamento e da cultura da empresa.

Os investimentos, as despesas operacionais, as não operacionais, os recursospara os projetos, tudo isso se nivela em um mesmo patamar, em conformidade com oplanejamento financeiro da empresa. Sendo assim, as doações esporádicas não podem serconsideradas como ações de responsabilidade social.

Um processo, com o qual o corpo funcional não é envolvido, como no caso dafilantropia, gera uma perda motivacional e, conseqüentemente, produtiva entre as pessoas.Isso aponta os inúmeros casos de profissionais que optam em ganhar menos, em empresassocialmente responsáveis, a ganhar mais em empresas, nas quais o lucro, a qualquer preço,é o objetivo principal.

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6 GESTÃO NO TERCEIRO SETOR

6.1 O DESEMPREGO NO BRASIL

Com a extinção dos inúmeros postos de trabalho, devido ao avanço tecnológicodas indústrias de pequeno, médio e grande porte, houve um grande abalo na sociedade,nos três setores da economia.

Salienta-se, em primeiro lugar, o fato de o Estado não conseguir atender a toda apopulação, em suas necessidades como alimentação, moradia, saúde, educação,segurança, etc. Em segundo lugar, estão as empresas que perderam uma parcela de suademanda, tendo de reduzir a sua produção, gerando, portanto, mais desemprego. Emterceiro lugar, podem-se citar as organizações filantrópicas que perderam uma parte deseus doadores, e aumentaram ainda mais sua demanda.

Segundo dados do Departamento Intersindical de Estatística e EstudosSocioeconômicos (DIEESE), estima-se que, só na cidade de São Paulo, existam,atualmente, cerca de 1.836.000 pessoas desempregadas, ou seja, 18,3% da populaçãoeconômica ativa. Essa porcentagem chega a ser ainda maior em outras capitais, como BeloHorizonte (18,6%), Recife (23,8%) e Salvador (25,2%).

Esse quadro vem se agravando, com o transcorrer dos anos e, apesar dasestratégias do governo para estabilizar a economia, dificilmente, elas resultam em umamelhora significativa em relação ao desemprego.

Isso explica, em partes, o alto crescimento das instuições de ensino no Brasil,quer sejam elas acadêmicas, pós-médias, profissionalizantes ou relacionadas a idiomas. Emvirtude da crescente concorrência pelas ofertas de emprego no mercado, o “candidato” vê-se na obrigação de obter uma melhor qualificação profissional.

6.2 A “MIGRAÇÃO” DO SEGUNDO PARA O TERCEIRO SETOR

A crise financeira, no setor privado, e a divulgação crescente da imprensa sobre oterceiro setor da economia têm atraído profissionais de diversas áreas que estão se“aventurando” nesse novo mercado de trabalho; além de alguns otimistas sugerirem que asorganizações estariam, inclusive, remunerando seus funcionários, em patamares compatíveiscom os do setor privado.

Por que jovens talentos optam por fazer carreira, junto ao terceiro setor? Por queos demais profissionais estão migrando das empresas privadas para o terceiro setor?Estariam eles descobrindo novas oportunidades de carreira ou, simplesmente, fugindo dacrise financeira?

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Seria demasiadamente “poético” acreditar que esses profissionais estão em buscasomente de um ideal nas organizações do terceiro setor. Isso equivaleria a uma empresaser responsável, socialmente, porém, sem se preocupar em gerar receitas para pagamentode seus funcionários, fornecedores, novos investimentos, etc.

No entanto, tem-se observado que, uma vez inserido nesse “novo mercado”, asatisfação pessoal supera a financeira, antes suprida pela ambição do lucro a qualquercusto, no segundo setor.

Estudos na área de gestão de pessoas têm apontado que alto salário não é oúnico fator que determina a motivação das pessoas, no ambiente do trabalho. Oreconhecimento, o respeito, a participação também são fatores fundamentais para seconseguir um maior desempenho dos colaboradores da empresa.

Nesse aspecto, o terceiro setor é bastante privilegiado, posto que oreconhecimento e respeito, por parte daqueles que, de alguma forma são beneficiados,chegam, em muitas das vezes, a constranger os voluntários, funcionários e gestores deinstituições sem fins lucrativos.

6.3 A NECESSIDADE DE QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL E CULTURAL

As instituições sem fins lucrativos focam suas ações nas suas atividades fim, e nãono modelo mais adequado de gestão que deveria ser adotado. Conseqüentemente, a grandemaioria dessas organizações desenvolveu seu estilo próprio de gerir, em que o improviso e afalta de planejamento são evidenciados, com facilidade, na execução das tarefas.

Com a crescente demanda pelas ofertas de emprego, a necessidade deprofissionalização tornou-se também um desafio para os candidatos a uma vaga pertencenteao terceiro setor.

Tal profissionalização não se restringe somente a uma boa administração de seusrecursos financeiros, mas envolve missão, visão, metas bem definidas, parcerias,planejamento, transparência, ética, etc.

Além da profissionalização, existe a necessidade de uma qualificação cultural,entender que esse novo setor é diferente daquele em que atuava anteriormente. Antes oque prevalecia era o lucro a qualquer custo, ganhar do concorrente, pressionar osfornecedores, atender às necessidades emergenciais dos clientes e, com o passar dotempo, poder, até, esquecê-los.

Nesse setor, não existem concorrentes, mas, sim, fornecedores e clientes, que,com o passar do tempo, podem vir a ser um fornecedor em potencial. É o caso de, porexemplo, dependentes químicos que, após a recuperação, envolvem-se como voluntáriosem programas sociais ou, até mesmo, como patrocinadores desses programas.

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Tanto a qualificação profissional quanto a cultural são extremamente importantespara o bom desempenho dessas organizações, no cumprimento de sua missão, no cerneda sociedade.

6.4 IMPLICAÇÕES OPERACIONAIS EFICAZES NA GESTÃO DO TERCEIRO SETOR

A razão pela qual as instituições sem fins lucrativos existem é a sua missão e issonunca deve ser esquecido. Tal missão deve ser planejada e precisa ser adaptada ao novocenário que se apresenta com o passar dos tempos. Ao gestor, cabe a tarefa-prima deassegurar que todos vejam, ouçam e vivam a missão. Para isso, é necessário que aliderança seja exemplo, pois, além de estar sempre em evidência, o gestor representa aorganização. Perder o foco da missão, pela qual foi criada, fará com que a instituiçãocomece a caminhar a passos largos para sua queda.

Toda organização deve contar, pelo menos, com uma estratégia para que possatransformar sua missão e seus objetivos em desempenho. Muitas organizações, por estaremsatisfazendo uma necessidade alheia, acreditam que aqueles que desejam ser atendidosdevem aceitar os serviços da maneira como estão sendo oferecidos. Tanto os beneficiadosquanto os doadores devem ser vistos como clientes e precisam ser satisfeitos. Nesse caso,faz-se necessária uma estratégia de marketing que venha interagir o cliente com a missão. Talestratégia auxilia na formação e desenvolvimento de uma base de doadores.

A motivação pessoal é um grande desafio para os gestores do terceiro setor, poisse sabe que somente a remuneração não é suficientemente motivadora, a ponto de aspessoas darem o seu melhor desempenho em favor da organização. Além disso, o que dizeracerca daqueles que trabalham, sem receber nenhum recurso financeiro. A tendência é quenão haverá distinção entre o trabalho desempenhado pelas pessoas remuneradas e nãoremuneradas, nas instituições sem fins lucrativos. Cabe ao gestor definir, juntamente com opessoal, quer este seja remunerado ou não, suas contribuições, planos de trabalho, metas eprazos específicos; sempre visando a facilitar os respectivos trabalhos, assim como aobtenção de resultados, com um maior prazer no desempenho de cada função.

Um processo de autodesenvolvimento é fundamental para aqueles que desejamdirigir uma instituição sem fins lucrativos. Tal processo engloba o indivíduo como um todo, oque significa desenvolver a pessoa e suas aptidões, competências e capacidade de contribuir.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em função das dificuldades na coleta de dados das organizações formais, apesquisa limitou-se a analisar níveis de percepção dos gestores da economia, ficando aanálise específica dos gestores do terceiro setor para pesquisas futuras. A despeito dascitadas dificuldades, foi possível produzir um artigo que será apresentado no SegundoSeminário de Gestão de Negócios, durante a Feira de Gestão.

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