53
Ana Camila Parra PERSISTÊNCIA DO DUCTO ARTERIOSO São Paulo 2008

PERSISTÊNCIA DO DUCTO ARTERIOSO - arquivo.fmu.brarquivo.fmu.br/prodisc/medvet/acp.pdf · do curso de Medicina Veterinária, sob orientação da Professora Aline Machado De Zoppa

  • Upload
    lenga

  • View
    221

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: PERSISTÊNCIA DO DUCTO ARTERIOSO - arquivo.fmu.brarquivo.fmu.br/prodisc/medvet/acp.pdf · do curso de Medicina Veterinária, sob orientação da Professora Aline Machado De Zoppa

Ana Camila Parra

PERSISTÊNCIA DO DUCTO ARTERIOSO

São Paulo

2008

Page 2: PERSISTÊNCIA DO DUCTO ARTERIOSO - arquivo.fmu.brarquivo.fmu.br/prodisc/medvet/acp.pdf · do curso de Medicina Veterinária, sob orientação da Professora Aline Machado De Zoppa

2

Faculdades Metropolitanas Unidas

Ana Camila Parra

PERSISTÊNCIA DO DUCTO ARTERIOSO

Trabalho apresentado para conclusão

do curso de Medicina Veterinária, sob

orientação da Professora Aline Machado

De Zoppa.

São Paulo

2008

Page 3: PERSISTÊNCIA DO DUCTO ARTERIOSO - arquivo.fmu.brarquivo.fmu.br/prodisc/medvet/acp.pdf · do curso de Medicina Veterinária, sob orientação da Professora Aline Machado De Zoppa

3

Parra, Ana Camila PERSISTÊNCIA DO DUCTO ARTERIOSO/ Ana Camila Parra.- São Paulo: Faculdades Metropolitanas Unidas, 2008. Nº de pág. ; ilustração

1. Ducto Arterioso. 2. Cardiopatias Congênitas 3. Cães. I. Ana Camila Parra. II. Persistência do Ducto Arterioso

Page 4: PERSISTÊNCIA DO DUCTO ARTERIOSO - arquivo.fmu.brarquivo.fmu.br/prodisc/medvet/acp.pdf · do curso de Medicina Veterinária, sob orientação da Professora Aline Machado De Zoppa

4

Ana Camila Parra

Persistência do Ducto Arterioso

Trabalho apresentado para

conclusão do curso de Medicina

Veterinária da FMU, sob

orientação da Profª. Aline

Machado De Zoppa. Defendido e

aprovado em 16 de dezembro de

2008, pela banca examinadora

constituída por:

Profª. Ms. [Aline Machado De Zoppa]

FMU – Orientador

Profº. Dr. [Ronaldo Jun Yamato]

FMU

M.V. [Daniela Giantomasi Martins]

FMU

Page 5: PERSISTÊNCIA DO DUCTO ARTERIOSO - arquivo.fmu.brarquivo.fmu.br/prodisc/medvet/acp.pdf · do curso de Medicina Veterinária, sob orientação da Professora Aline Machado De Zoppa

5

Dedico este trabalho à meus pais,

Enio e Arminda e aos meus avós,

Dirce e Antônio, pelo apoio em todos

os momentos e pela confiança

depositada num sonho que hoje se

torna realidade

Page 6: PERSISTÊNCIA DO DUCTO ARTERIOSO - arquivo.fmu.brarquivo.fmu.br/prodisc/medvet/acp.pdf · do curso de Medicina Veterinária, sob orientação da Professora Aline Machado De Zoppa

6

Agradeço à Deus primeiramente, pela minha vida e saúde para seguir em

frente e concluir a faculdade.

Aos meus pais pelo incentivo, paciência e carinho nos momentos mais difíceis.

Aos meus avós, por todo amor e compreensão, entendendo a falta de tempo

devido à faculdade. A minha avó Laura, por tantas demonstrações de orgulho e,

mesmo não estando mais presente, tenho certeza que está muito feliz com a minha

realização.

A professora Aline Machado De Zoppa, por ter sido uma amiga e não só uma

orientadora, pela paciência em cada aula, em cada dúvida (principalmente quando o

assunto era TCC), pelo carinho nas horas mais estressantes. Foi uma honra ter sido

monitora nas suas aulas, muito obrigada pela oportunidade e por compartilhar seus

conhecimentos, repetindo explicações quantas vezes fosse necessário.

À toda equipe do Hospital Veterinário Santa Inês, PROVET e Unidade

Veterinária Jardim Paulista pela oportunidade de estágio e aprendizado.

À todos os professores, funcionários, residentes e ex-residentes da FMU por

compartilharem seus conhecimentos, pela ajuda nos atendimentos, e pela atenção

em todos os momento que precisamos de vocês.

Aos professores Ana Cláudia Balda, Ronaldo Jun, Aline Zoppa e Edu, por terem

sido muito mais que simples professores, tenho em vocês grandes exemplos. À

toda galera da vet, por terem feito os 5 anos de faculdade os mais divertidos, por

todas as risadas, viagens, cervejadas, fanterinárias, copas vet, baladas... Em

especial: Adriana, Bruna, Rodrigo e Fernando, pela amizade, conselhos, apoio,

broncas, incentivo e companheirismo sempre.

Ao pessoal da biomedicina, por terem me acolhido como a mais biomédica

das veterinárias e me divertirem tanto.

Ao Dri, uma pessoa especial. Muito obrigada por cada palavra de carinho,

incentivo, apoio, por todas as brincadeiras, por cada conversa, por cada sorriso, pela

paciência nos meus dias mais chatos e por estar presente sempre, compartilhando

sonhos e realizações e me ensinando a crescer diante das dúvidas e dificuldades.

Page 7: PERSISTÊNCIA DO DUCTO ARTERIOSO - arquivo.fmu.brarquivo.fmu.br/prodisc/medvet/acp.pdf · do curso de Medicina Veterinária, sob orientação da Professora Aline Machado De Zoppa

7

RESUMO PARRA, A.C. PERSISTÊNCIA DO DUCTO ARTERIOSO. [Patent Ductus Arteriosus]

53f, 2008. Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em Medicina Veterinária

da Universidade Das Faculdades Metropolitanas Unidas, São Paulo, 2008.

O ducto arterioso é um vaso que, durante a vida fetal, conecta a aorta à artéria

pulmonar e normalmente se fecha algumas horas após o nascimento. A não oclusão

desse ducto é chamada de persistência de ducto arterioso (PDA), sendo o defeito

cardíaco congênito mais comum em cães e raramente encontrado em gatos, que

acomete mais fêmeas do que machos e que se apresenta de duas formas: A forma

clássica de PDA, se caracteriza pelo fluxo sangüíneo no interior do ducto ocorrendo

da esquerda para a direita, o que sobrecarrega o ventrículo esquerdo, levando o

animal a desenvolver uma dilatação e hipertrofia ventricular esquerda, já casos de

PDA reverso, o fluxo sangüíneo vai na direção da aorta, ou seja, da direita para a

esquerda, devido ao aumento da pressão pulmonar se sobrepor a pressão da aorta,

por alterações morfológicas na composição das arteríolas pulmonares e pode

ocorrer também como complicação da PDA clássico não tratado e os animais

acometidos nesse casos, podem apresentar, dispnéia, apatia, síncopes, convulsões

e ausência de sopro contínuo, além de cianose diferencial, mais aparente nas

mucosas caudais enquanto que, as mucosas craniais se mantenham normocoradas,

enquanto os animais com PDA clássico, podem ser assintomáticos ou

simplesmente apresentar intolerância ao exercício durante um certo período de

tempo, porém, os sinais clínicos mais freqüentes são: pulso hipercinético, sopro

contínuo “de maquinaria”, dispnéia e mucosas normocoradas. Quadros de edema

pulmonar e insuficiência ventricular também podem ser observados e o diagnóstico

de PDA é concluído através do ecocardiograma, mas exames radiográficos,

eletrocardiograma e angiografia também são utilizados. O tratamento, que é a

intervenção cirúrgica para oclusão do ducto arterial através de um procedimento

aberto, eleito como técnica padrão devido a segurança que esse método oferece.

Outra alternativa é a oclusão através de transcatéter, uma técnica mais recente que

vem apresentando ótimos resultados, além de ser minimamente invasiva. Porém,

somente os animais com persistência de ducto arterioso clássico podem ser

operados para fechamento do ducto, pois nos casos de fluxo reverso, o ducto

Page 8: PERSISTÊNCIA DO DUCTO ARTERIOSO - arquivo.fmu.brarquivo.fmu.br/prodisc/medvet/acp.pdf · do curso de Medicina Veterinária, sob orientação da Professora Aline Machado De Zoppa

8

funciona como válvula de escape para a artéria pulmonar. O prognóstico dos

animais operados é excelente a longo prazo, porém estima-se que 70% dos não-

tratados, venham à óbito antes do primeiro ano de idade. Em ambas as técnicas de

correção relatadas, os resultados são satisfatórios e a tentativa de tratamento

somente com a utilização de medicações não é efetiva.

Palavras-chave: Ducto Arterioso. Cardiopatias congênitas. Cães

Page 9: PERSISTÊNCIA DO DUCTO ARTERIOSO - arquivo.fmu.brarquivo.fmu.br/prodisc/medvet/acp.pdf · do curso de Medicina Veterinária, sob orientação da Professora Aline Machado De Zoppa

9

ABSTRACT PARRA, A.C. PATENTE ARTERIOSUS DUCTUS. [Persistência do Ducto Arterioso]

53f. Course Conclusion work of Graduation in Veterinary Medicine of the United

Metropolitan Faculties, São Paulo, 2008.

The not occlusion of this Duct is called Duct's Persistence arteriosus, being the most

common congenital heart defect in dogs and rarely found in cats, females are

considered to be predisposed to have PDA more than males, and that is showed in

two forms: PDA's classical form, characterizes by the blood that flows inside the

ductus occurring on the left to the right, what overloads the left ventricle, carrying the

animal to develop a dilation on the left ventricular hypertrophy, already PDA's reverse

cases, the blood flows and goes to aorta’s direction, in other words, on the right to

the left, due to the increase of the pulmonary pressure if superimpose the aorta

pressure, for morphologic alterations in pulmonary small arteries composition and

also can occur as PDA's classical complication not treated and the animals in this

cases, can present, shortness breath, apathy, syncopes, convulsions and absence of

continuous murmur, besides cyanosis differential, more apparent in the mucosas

assetses while, the cranial mucosas keep pink, while the animals with PDA classical,

they can be assintomátics or simply present intolerance to the exercise during a

certain period of time, however, the most frequent clinical signals are: Hiperkinetic

pulse, continuous murmur “of machinery”, shortness breath, and pink mucosas.

Pulmonary edema and ventricular inadequacy also can be observed and PDA's

diagnosis can be closed through ecocardiography, but x-rays, electrocardiogram and

angiography also are used. The treatment, that is the surgical intervention for ductus

arterial occlusion through an openning procedure, elect as technical standard due to

safety that that method offers. Other alternative is the transcatheter occlusion, the

most recent technique is coming presenting great results, besides being minimaly

invasive. However, only the animals with ductus classical persistence arteriosus can

be operated for ductus shutdown, because in the cases of reverse flow, ductus act

like escaping the valve from the pulmonary artery. The prognosis of the operated

animals is an excellent and long term, however, approximately 70% of the untreated

animals, come to the death before the first year old. In both cases the techniques of

related correction, the results are satisfactory and the treatment attempt only with

Page 10: PERSISTÊNCIA DO DUCTO ARTERIOSO - arquivo.fmu.brarquivo.fmu.br/prodisc/medvet/acp.pdf · do curso de Medicina Veterinária, sob orientação da Professora Aline Machado De Zoppa

10

drugs is not effective.

Key-words: Ductus Arteriosus. Heart Disease. Dogs

Page 11: PERSISTÊNCIA DO DUCTO ARTERIOSO - arquivo.fmu.brarquivo.fmu.br/prodisc/medvet/acp.pdf · do curso de Medicina Veterinária, sob orientação da Professora Aline Machado De Zoppa

11

LISTA DE ABREVIATURAS

ADO: Amplatzer Duct Occluder

BID: Duas vezes ao dia

cm: Centímetros

HOVET: Hospital Veterinário

>: maior que

m/s: Metros por segundo

mmHg: Milímetros de mercúrio

mg: Miligramas

mm: Milímetros

PDA: Persistência do Ducto Arterioso

PDAc: Persistência do Ducto arterioso clássica

PDAr: Persistência do Ducto arterioso reversa

%: Por cento

/: Por

kg: Quiilograma

®: Registrado

Page 12: PERSISTÊNCIA DO DUCTO ARTERIOSO - arquivo.fmu.brarquivo.fmu.br/prodisc/medvet/acp.pdf · do curso de Medicina Veterinária, sob orientação da Professora Aline Machado De Zoppa

12

SC: Subcutâneo

TID: Três vezes ao dia

V/VI: cinco de seis

Page 13: PERSISTÊNCIA DO DUCTO ARTERIOSO - arquivo.fmu.brarquivo.fmu.br/prodisc/medvet/acp.pdf · do curso de Medicina Veterinária, sob orientação da Professora Aline Machado De Zoppa

13

LISTA DE FIGURAS Figura 1- Circulação normal comparada com a circulação alterada pela presença do

ducto arterioso persistente........................................................................................18

Figura 2- Radiografia lateral torácica de cão com persistência do ducto arterioso,

apresentando cardiomegalia e aumento da circulação pulmonar ............................ 29

Figura 3- Classificação angiográfica dos tipos de ducto arterioso segundo Krichenko

et al. .......................................................................................................................... 31

Figura 4- Angiografia de cão com persistência de ducto arterioso. Aorta (AO). Artéria

pulmonar (AP). Ducto arterioso persistente (PDA) .................................................. 31

Figura 5- Angiografia de cão com persistência de ducto arterioso. Aorta (AO). Artéria

pulmonar (AP). Ducto arterioso persistente (PDA).................................................... 35

Figura 6- Reprodução esquemática do procedimento de contorno do ducto através

de toracoscopia......................................................................................................... 35

Figura 7- Oclusão do ducto com clipe de titânio ...................................................... 36

Figura 8- Representação esquemática da clipagem do ducto ................................. 36

Figura 9- Ducto arterioso ocluído com dois clipes de titânio .................................... 36

FIGURA 10: Representação esquemática do ducto arterioso duplamente

clipado....................................................................................................................... 36

Figura 11- Catéter angiográfico introduzido através da artéria braquial (a). Ducto

arterioso persistente (b). Estreitamento do ducto na base da artéria pulmonar........ 38

Figura 12- Dispositivo Gianturco-Grifka Vascular Occlusion Device ........................ 40

Page 14: PERSISTÊNCIA DO DUCTO ARTERIOSO - arquivo.fmu.brarquivo.fmu.br/prodisc/medvet/acp.pdf · do curso de Medicina Veterinária, sob orientação da Professora Aline Machado De Zoppa

14

Figura 13- Sistema Flipper Detachable Embolization Coil....................................... 41

Figura 14- Dispositivo Amplatzer Duct Occluder...................................................... 42

Figura 15- Dispositivo Amplatzer Duct Occluder, separação do implante oclusor da

haste removível ........................................................................................................ 42

Figura 16- Fluroscopia durante o implante do dispositivo Amplatz, demonstrando sua

adaptação às conformações do ducto arterioso........................................................ 42

Figura 17- Sioux, Pastor Alemão, macho, 3 meses ................................................. 45

Figura 18- Incisão cirúrgica através do quarto espaço intercostal............................ 46

Figura 19- Dreno torácico.......................................................................................... 46

Figura 20- Visualização do ducto arterioso recidivante. A seta mostra o local da

ligadura feita na primeira intervenção cirúrgica......................................................... 48

Page 15: PERSISTÊNCIA DO DUCTO ARTERIOSO - arquivo.fmu.brarquivo.fmu.br/prodisc/medvet/acp.pdf · do curso de Medicina Veterinária, sob orientação da Professora Aline Machado De Zoppa

15

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................16

2 CIRCULAÇÃO FETAL .......................................................................................18

3 CARDIOPATIAS CONGÊNITAS ...................................................................... 20

3.1 Prevalência das Cardiopatias Congênitas .......................................................21

4 PERSISTÊNCIA DO DUCTO ARTERIOSO ...................................................... 23

4.1 Fisiologia e Embriologia .................................................................................. 24

4.2 Fisiopatologia .................................................................................................. 25

4.3 Persistência do ducto arterioso: forma clássica .............................................. 26

4.4 Persistência do ducto arterioso: forma reversa .............................................. 27

5 DIAGNÓSTICO E DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL ........................................... 29

6 TRATAMENTO .................................................................................................. 31

6.1 Ligadura do ducto ........................................................................................... 33

6.2 Toracoscopia .................................................................................................. 35

6.3 Oclusão percutânea ........................................................................................ 37

7 COMPLICAÇÕES .............................................................................................. 49

8 PROGNÓSTICO ................................................................................................ 44

9 RELATO DE CASO ........................................................................................... 45

10 CONCLUSÃO .................................................................................................. 49

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................... 50

Page 16: PERSISTÊNCIA DO DUCTO ARTERIOSO - arquivo.fmu.brarquivo.fmu.br/prodisc/medvet/acp.pdf · do curso de Medicina Veterinária, sob orientação da Professora Aline Machado De Zoppa

16

1 INTRODUÇÃO A persistência do ducto arterioso (PDA) é o defeito cardíaco congênito mais

comum em cães, aparecendo em sete de cada mil nascidos, e raramente

encontrado em gatos (BONAGURA, 1989; ORTON, 1997; SAUNDERS et al., 1999). O ducto arterioso é um vaso fetal que conecta a artéria pulmonar à aorta

descendente durante a vida fetal e normalmente se fecha algumas horas após o

nascimento. O não fechamento desse ducto é chamado de ducto arterioso patente

ou persistência do ducto arterioso (FOSSUM, 2002). Existem duas condições com características hemodinâmicas diversas em

relação à persistência do ducto arterioso: a primeira e mais freqüente, é

caracterizada pelo fluxo sangüíneo no interior do ducto, ocorrendo da esquerda para

a direita, conhecida por persistência do ducto arterioso clássica. A segunda forma,

chamada de persistência do ducto arterioso reversa, caracteriza-se pela reversão do

fluxo sangüíneo, ou seja, da direita para a esquerda, do tronco pulmonar para a

aorta (STOPIGLIA, A.J, et al., 2004). A principal conseqüência da PDA clássica, é a sobrecarga do ventrículo

esquerdo, ocasionando posteriormente dilatação e hipertrofia ventricular esquerda.

De modo geral, a persistência do ducto não vem acompanhada de outros defeitos

congênitos. (FOSSUM, 2002). A correção do ducto arterioso patente, é feita cirurgicamente e possui boa

evolução e alta sobrevida. A técnica aceita como padrão se dá por toracotomia

intercostal esquerda, seguida de dissecação e ligadura do ducto (KIM et al., 2000;

BONAGURA, 1989). Segundo alguns autores, estudam-se novas possibilidades de técnicas de

correção, como o uso de cirurgia toracoscópica, uma técnica considerada

minimamente invasiva (McFADDEN; ROBBINS, 1998; FUCHS, 2002). No entanto, os casos não corrigidos cirurgicamente, tendem a evoluir para

casos de insuficiência cardíaca congestiva esquerda, edema pulmonar e hipertensão

pulmonar severa, esta que, culmina na reversão do fluxo sangüíneo, provocando

hipoxemia severa, cianose e intolerância ao exercício, instalando-se um quadro de

persistência de ducto arterioso reverso (FOSSUM, 2002). É relatado óbito de 70% dos animais não-tratados cirurgicamente, antes de

Page 17: PERSISTÊNCIA DO DUCTO ARTERIOSO - arquivo.fmu.brarquivo.fmu.br/prodisc/medvet/acp.pdf · do curso de Medicina Veterinária, sob orientação da Professora Aline Machado De Zoppa

17

um ano de idade (STOPIGLIA, A.J, et al., 2004).

Nos casos de PDA completamente reverso, a intervenção cirúrgica é contra-

indicada, agravando-se o quadro e tornando o prognóstico de reservado a ruim

(FOSSUM, 1994).

O PDA é encontrado mais em cães de raça pura, como Maltês, Chihuahua,

Collie, Poodle, Lulu da Pomerânia, Shetland Sheepdog, Bichon Frisé, English

Springer Spaniels, Pastor de Shetland e Yorkshire Terrier (KITTLESON; KIENLE,

1998) e segundo FOSSUM,1997; ACKERMAN, et al., 1978; BIRCHARD;

BONAGURA e FINGLAND,(1990), as fêmeas são mais predispostas, na proporção

de 1,72:1.

Page 18: PERSISTÊNCIA DO DUCTO ARTERIOSO - arquivo.fmu.brarquivo.fmu.br/prodisc/medvet/acp.pdf · do curso de Medicina Veterinária, sob orientação da Professora Aline Machado De Zoppa

18

2 CIRCULAÇÃO FETAL

Os pulmões do feto de mamíferos estão colapsados e oferecem alta

resistência ao fluxo sangüíneo, então, para que a oxigenação seja adequada, a

aorta é ligada à artéria pulmonar através de um vaso sangüíneo curto e de grande

calibre, conhecido como canal arterial ou ducto arterioso (RANDALL, 2000) (FIGURA

1)

Ao nascer, os pulmões são insuflados, reduzindo a resistência ao fluxo no

circuito pulmonar e então a circulação placentária dos mamíferos desvia-se para

uma circulação pulmonar e o sangue ejetado do ventrículo direito passa até os

vasos pulmonares, aumentando o retorno sangüíneo para o lado esquerdo do

coração (RANDALL, 2000).

Durante esse processo, a circulação placentária desaparece, aumentando a

resistência sistêmica (RANDALL, 2000).

As pressões na circulação sistêmica aumentam e ultrapassam as da

circulação pulmonar, então, o ducto arterioso se fecha, tornando-se ligamento

arterioso e impede a passagem de sangue através deste (KITTLESON; KIENLE,

1998).

FIGURA 1: Circulação normal comparada com a circulação alterada pela presença do ducto arterioso persistente. Fonte: Manual Merck,1967.

Page 19: PERSISTÊNCIA DO DUCTO ARTERIOSO - arquivo.fmu.brarquivo.fmu.br/prodisc/medvet/acp.pdf · do curso de Medicina Veterinária, sob orientação da Professora Aline Machado De Zoppa

19

Caso o ducto permaneça aberto mesmo após o nascimento, a diferença de

pressão ocasiona um desvio da esquerda para a direita, ou seja, com o fluxo

sangüíneo fluindo da aorta para a artéria pulmonar, caracterizando a persistência de

ducto arterioso (RANDALL, 2000).

Page 20: PERSISTÊNCIA DO DUCTO ARTERIOSO - arquivo.fmu.brarquivo.fmu.br/prodisc/medvet/acp.pdf · do curso de Medicina Veterinária, sob orientação da Professora Aline Machado De Zoppa

20

3 CARDIOPATIAS CONGÊNITAS

A cardiopatia congênita constitui a causa mais comum de cardiopatias nos

animais com menos de um ano de idade (BONAGURA,1995).

Os defeitos mais comuns são: Persistência de ducto arterioso (PDA),

estenose aórtica subvalvular, estenose pulmonar, displasia de mitral e tricúspide,

causando insuficiência ou estenose valvulares, defeitos septais atriais e

ventriculares, Tetralogia de Fallot e hérnia peritoneopericárdica (BONAGURA,1995).

A maioria dos defeitos cardíacos congênitos possui uma base genética, por

isso, é aconselhável a não reprodução desses animais, que podem ser

assintomáticos e desenvolver insuficiência cardíaca súbita (GOODWIN, 2002).

Os sintomas e sinais clínicos de moléstia cardíaca congênita são: retardo no

crescimento,falta de ar, tumefação abdominal, cianose, fraqueza, síncopes,

distensão da veia jugular, anormalidades eletrocardiográficas, evidências

radiográficas de cardiomegalia. e morte súbita (BONAGURA,1995).

Alguns sinais como síncopes e colapsos com exercício, estão associado a

cardiopatias congênitas severas e podem estar relacionados com desvios da direita

para a esquerda (hipoxemia), arritmias paroxísticas, e obstrução do trato de fluxo

ventricular (estenose aórtica e pulmonar, por exemplo) (MILLER; BONAGURA,

1998).

Em geral, suspeita-se de cardiopatia congênita quando se detecta sopro

cardíaco em cães ou gatos jovens, porém, deve-se distinguir do sopro inocente, que

geralmente desaparece por volta do quarto ao quinto mês de idade (GOODWIN,

2002).

Geralmente, os defeitos congênitos são identificados nas primeiras consultas

ao médico veterinário pela auscultaçã de sopros cardíacos altos acompanhados de

choques pré-cordiais, porém, nem sempre são audíveis, mesmo em presença de

moléstia cardíaca cianótica grave. Assim, sopros cardíacos de qualquer grau são

compatíveis com a moléstia cardíaca congênita e a localização do choque precordial

freqüentemente é característica do defeito associado (BONAGURA, 1987).

A intensidade do murmúrio não possui correlação com a severidade do

defeito cardíaco, exceto no caso da obstrução da saída ventricular (BICHARD,

SHERDING, 1998).

Page 21: PERSISTÊNCIA DO DUCTO ARTERIOSO - arquivo.fmu.brarquivo.fmu.br/prodisc/medvet/acp.pdf · do curso de Medicina Veterinária, sob orientação da Professora Aline Machado De Zoppa

21

O diagnóstico específico pode ser confirmado, na maioria dos casos, através

dos resultados obtidos nos exames eletrocardiográfico e ecocardiográfico, este, que

pode determinar a gravidade da doença, principalmente se o recurso Doppler for

utilizado, pois avalia a velocidade do sangue no coração (BONAGURA, 1987).

Defeitos cardíacos congênitos podem ocorrer por diversos fatores, sendo

eles, genéticos, ambientais, cromossômicos, infecciosos, toxicológicos, nutricionais,

e relacionados a medicamentos (MILLER; BONAGURA, 1998).

A espécie, idade, raça e sexo devem ser considerados em uma avaliação de

animais com moléstia cardíaca congênita, porém, uma predisposição sexual não

está muito bem estabelecida em cães, exceto pela elevada prevalência do ducto

arterioso patente em fêmeas desta espécie (MILLER; BONAGURA, 1998).

A maioria dos estudos, sugere uma base poligênica para a transmissão. Os

fatores genéticos exercem efeitos específicos e resultam em tipos específicos de

malformações cardiovasculares (MILLER; BONAGURA, 1998).

Alguns padrões de hereditariedade explicam o grau de malformações, desde

subclínicas até as mais severas (MILLER; BONAGURA, 1998).

Sem um estudo cuidadoso da árvore genealógica e dos resultados de ensaios

de reprodução, torna-se mais difícil a redução de prevalência dos defeitos cardíacos

em certas raças (MILLER; BONAGURA, 1998).

3.1 Prevalência das cardiopatias congênitas

A exata prevalência dos defeitos cardíacos congênitos no cão e no gato,

ainda não pode ser definida com certeza, porém, a maioria das pesquisas, sugere

que o ducto arterioso patente seja a malformação mais comum em cães, enquanto o

defeito septal atrioventricular ou a displasia das válvulas atrioventriculares, sejam as

mais encontradas nos gatos (BONAGURA, 1995).

Segundo Bonagura (1995), em uma pesquisa com cães, foram identificadas

325 malformações em 290 cães.

A freqüência de diagnósticos nesses 290 animais foi de 28% para ducto

arterioso patente, 20% para estenose pulmonar, 14% para estenose aórtica, 8%

para arco aórtico direito persistente, 7% para defeitos septais ventriculares e menos

Page 22: PERSISTÊNCIA DO DUCTO ARTERIOSO - arquivo.fmu.brarquivo.fmu.br/prodisc/medvet/acp.pdf · do curso de Medicina Veterinária, sob orientação da Professora Aline Machado De Zoppa

22

de 5% para Tetralogia de Fallot e defeitos septais atriais e veia cava cranial

persistente (BONAGURA, 1995).

Já em gatos, segundo Bonagura, (1995) a prevalência identificou entre 2 e 10

gatos por 1000 admissões e constatou um total de 287 anomalias, sendo que os

machos foram afetados quase duas vezes mais que as fêmeas e os defeitos septais

atrioventriculares corresponderam a 24% das moléstias identificadas.

Page 23: PERSISTÊNCIA DO DUCTO ARTERIOSO - arquivo.fmu.brarquivo.fmu.br/prodisc/medvet/acp.pdf · do curso de Medicina Veterinária, sob orientação da Professora Aline Machado De Zoppa

23

4 PERSISTÊNCIA DO DUCTO ARTERIOSO

O ducto arterioso é um vaso sangüíneo curto e de grande calibre, derivado do

sexto arco aórtico esquerdo, existente durante a vida fetal, que conecta o tronco

pulmonar à aorta descendente e tem como função, levar o sangue oxigenado da

mãe para a aorta, desviando dos pulmões afuncionais do feto, que estão colapsados

e oferecem alta resistência ao fluxo sangüíneo (TILLEY; GOODWIN, 2002).

Durante esse processo, a circulação placentária desaparece, aumentando a

resistência sistêmica (RANDALL, 2000).

As pressões na circulação sistêmica aumentam e ultrapassam as da

circulação pulmonar (TILLEY; GOODWIN, 2002).

Normalmente o ducto se fecha imediatamente após o nascimento, no período

de transição da vida fetal para a extra-uterina e passa a ser chamado de ligamento

arterioso. O não-fechamento desse ducto, é a moléstia conhecida como persistência

de ducto arterioso ou ducto arterioso patente (SAUNDERS et al., 1999;

MAVROUDIS, 2003).

Caso o ducto permaneça aberto mesmo após o nascimento, a diferença de

pressão ocasiona um desvio da esquerda para a direita, ou seja, com o fluxo

sangüíneo fluindo da aorta para a artéria pulmonar (BONAGURA, 1989; ORTON,

1997).

A persistência de ducto arterioso, pode se apresentar de duas formas: PDA

clássico (PDAc) ou PDA reverso(PDAr). (BONAGURA, 1989; ORTON, 1997).

Alguns animais jovens com PDA, permanecem assintomáticos ou apresentam

uma leve intolerância ao exercício, quando sintomáticos, podem apresentar tosse e

dispnéia até um colapso de membros posteriores após exercícios (BONAGURA,

1989; ORTON, 1997).

O PDA geralmente é encontrado em filhotes, em média, com até um ano de

idade, porém, segundo Israel (2003), uma pesquisa feita no Hospital for Small

Animals of the Royal Veterinary School of Edinburg, no período de 1990 até 2000

registrou 101 animais com PDA, sendo que 24 deles tinham 2 anos ou mais de

idade e todos os animais com mais de seis anos eram fêmeas e apresentavam

cardiomegalia nas radiografias.

Dos animais estudados, apenas um apresentou PDA reverso, todos os outros

Page 24: PERSISTÊNCIA DO DUCTO ARTERIOSO - arquivo.fmu.brarquivo.fmu.br/prodisc/medvet/acp.pdf · do curso de Medicina Veterinária, sob orientação da Professora Aline Machado De Zoppa

24

apresentavam a forma clássica da doença associada com quadros de hipertensão

pulmonar, displasia de válvula tricúspide e defeito de septo atrial (ISRAEL; FRENCH;

DUKES, 2003).

Ainda não se sabe como animais com PDA sobreviveram até seis anos ou

mais, acredita-se que o diâmetro do ducto esteja relacionado (ISRAEL; FRENCH;

DUKES, 2003).

4.1 Fisiologia e embriologia

Durante a vida fetal, os pulmões do feto não têm a capacidade de expansão,

ou seja, são colabados e não exercem sua função de oxigenar o sangue, portanto,

não têm a necessidade de receber a circulação sangüínea (JUBB, KENNEDY,

PALMER).

O ducto, possui estrutura diferente da artéria pulmonar e da aorta, e promove

uma ligação entre elas, para que o sangue oxigenado da mãe, possa ser

transportado para todo o organismo do feto, sem passar pelos pulmões, até que este

se desenvolva completamente até o nascimento (JUBB, KENNEDY, PALMER,

1991).

Durante esse período, existe a produção de prostaglandinas pela placenta,

que ficam circulantes. Essa alta concentração de prostaglandinas circulantes é o que

mantém o ducto patente (KITTLESON, KIENLE, 1998).

Acredita-se que, logo após o parto a tensão de oxigênio leva à inibição

dessas prostaglandinas locais, promovendo a oclusão funcional do ducto através de

uma importante constrição, juntamente com acetilcolina, e, posteriormente, progride

para um fechamento total e obliteração anatômica nas próximas semanas de vida

(KITTLESON; KIENLE, 1998).

Em cães normais, a parede do ducto possui frouxidão da musculatura lisa

circunferencial, enquanto que, em cães com PDA, a parede do ducto arterioso

apresenta estrutura não-contrátil remanescente da aorta, tornando a parede mais

rígida, prejudicando sua capacidade de sofrer o fechamento fisiológico (MILLER;

GORDON; SAUNDERS, 2006).

Outras transformações ocorrem durante a oclusão fisiológica do ducto, como

Page 25: PERSISTÊNCIA DO DUCTO ARTERIOSO - arquivo.fmu.brarquivo.fmu.br/prodisc/medvet/acp.pdf · do curso de Medicina Veterinária, sob orientação da Professora Aline Machado De Zoppa

25

separação de células endoteliais da lâmina elástica interna, edema subendotelial,

migração de fibras musculares lisas não-diferenciadas e deposição de células

endoteliais no interior do ducto. Tais transformações não acontecem nos quadros de

PDA, explicada como resultado de modificações histológicas no interior da parede

do ducto (MILLER; GORDON; SAUNDERS, 2006).

4.2 Fisiopatologia

No período da vida fetal, a pressão na artéria pulmonar é maior que a pressão

sistêmica, direcionando o fluxo sangüíneo no interior do ducto, da direita para a

esquerda (MILLER; BONAGURA, 1998).

O fluxo sangüíneo que passa através do ducto, também depende do seu

diâmetro. Em casos de ducto de pequeno diâmetro, o volume de sangue desviado é

bem menor, podendo não ocasionar alterações hemodinâmicas (MILLER;

BONAGURA, 1998).

Nos casos onde o ducto possui grande calibre e o desvio é significativo, o que

possibilita a turbulência do fluxo sangüíneo e permite a ausculta do murmúrio

cardíaco constante, ocorre também, na maioria das vezes, sobrecarga de volume

em átrio e ventrículo esquerdos, causando então, insuficiência do lado esquerdo do

coração. Esse aumento de volume, pode ser responsável pelo aparecimento de

edema pulmonar (BONAGURA, 1989; ORTON, 1997).

Após o nascimento, a resistência vascular sistêmica aumenta repentinamente,

devido à uma eliminação da baixa resistência da circulação placentária, ao mesmo

tempo, a resistência vascular pulmonar diminui, devido à expansão dos alvéolos e

do efeito do aumento da pressão de oxigênio, levando à uma dilatação vascular

pulmonar (RANDALL, 2000).

Nesses casos, se o ducto persistir, é observado o quadro clássico do PDA,

mais freqüentemente encontrado, com desvio do fluxo do lado esquerdo para o

direito, ou seja, da aorta para a artéria pulmonar, resultando em sopro cardíaco

contínuo, aumento do fluxo pulmonar, aumento do retorno venoso para o átrio e

ventrículo esquerdos, promovendo uma hipertrofia e dilatação, sobrecarregando o

lado esquerdo do coração (KITTLESON; KIENLE, 1998).

Page 26: PERSISTÊNCIA DO DUCTO ARTERIOSO - arquivo.fmu.brarquivo.fmu.br/prodisc/medvet/acp.pdf · do curso de Medicina Veterinária, sob orientação da Professora Aline Machado De Zoppa

26

O desvio da direita para a esquerda pode ocorrer em casos de ducto arterioso

não tratado e se deve à hipertensão pulmonar, onde murmúrios cardíacos sistólicos

poderão ser ouvidos (ORTON, 1997).

Em cães, estudos mostram que o ducto arterioso é bem largo, maior que 1cm

de diâmetro, e curto, com aproximadamente 1cm de comprimento e fica localizado

entre a aorta e o tronco pulmonar, caudal à origem do tronco braquicefálico e artéria

subclávia esquerda (ORTON, 1997).

A forma mais simples da malformação do ducto arterioso é o divertículo

ductal, um saco cego em forma de funil, que pode ser reconhecida na angiografia,

ou em casos de óbito, no exame necroscópico, o que indica que o animal possui

genes para esse defeito (ORTON, 1997).

Quadros de hipoxemia são relatados em animais com PDA clássico se o

edema pulmonar estiver presente (JUBB; KENNEDY; PALMER, 1991).

4.3 Persistência do ducto arterioso: forma clássica

A forma clássica de persistência de ducto arterioso, ou seja, com desvio da

esquerda para a direita, é a mais observada dentre os animais que apresentam o

quadro de ducto arterioso patente (BONAGURA, 1995).

Segundo Fossum (2002) e Saunders et al. (1999), nos quadros de PDA

clássico, ou seja, com o fluxo indo da esquerda para a direita, os animais podem não

apresentar sinais clínicos durante um certo período de tempo ou apresentar

intolerância ao exercício.

Alguns sinais como pulso arterial hipercinético, sopro contínuo de

“maquinaria” (melhor percebido na região de base esquerda do coração,

sobrepondo-se aos outros sons normais), mucosas normocoradas (passando à

cianóticas apenas nos quadros em que apareça edema pulmonar e insuficiência

ventricular) e dispnéia (devido ao edema pulmonar) também são observados e

freqüentemente, observa-se que o murmúrio sistólico é evidente em região de mitral

(BONAGURA, 1989; ORTON, 1997).

Em gatos, o murmúrio pode ser percebido mais caudoventralmente que em

cães, principalmente se houver hipertensão pulmonar presente(FOX, SISSON,

Page 27: PERSISTÊNCIA DO DUCTO ARTERIOSO - arquivo.fmu.brarquivo.fmu.br/prodisc/medvet/acp.pdf · do curso de Medicina Veterinária, sob orientação da Professora Aline Machado De Zoppa

27

MOISE, 1999).

Nos casos de ductos de grande calibre e de alta resistência, o aumento de

volume sangüíneo e aumento de pressão ventricular esquerda, pode resultar em

edema pulmonar (falência cardíaca esquerda congestiva) (BONAGURA, 1987).

4.4 Persistência do ducto arterioso: forma reversa

Bem menos comum, porém muito mais grave, a forma reversa do ducto

arterioso patente pode ser definida como reversão da direção do fluxo sangüíneo no

interior do ducto, ou seja, vai da artéria pulmonar em direção a aorta, da direita para

a esquerda (FOSSUM, 2002).

O quadro reverso pode ser atribuído, além de outros fatores, a uma diferença

de pressão, ou seja, em alguns animais, logo após o nascimento, a pressão

pulmonar começa a aumentar e se iguala ou até mesmo ultrapassa a da aorta

(relata-se que por alterações na composição das arteríolas pulmonares, como por

exemplo, baixa quantidade de tecido muscular, alta quantidade de tecido elástico ou

sobrecarga de volume) (TILLEY; GOODWIN, 2002).

O PDA reverso, pode ocorrer como seqüela tardia do PDA não tratado

(FOSSUM, 2002).

Quando se observa PDA da direita para a esquerda em animais muito jovens,

pode-se relacionar a uma hipertensão pulmonar persistente após o nascimento

(FOSSUM, 2002).

Cães e gatos com PDAr, apresentam uma alta resistência vascular pulmonar,

alta pressão no interior do ventrículo direito e da artéria pulmonar e hipertrofia do

ventrículo direito (FOX, SISSON, MOISE, 1999).

Os achados do exame físico em animais com PDA reverso, diferem dos

desvios da esquerda para a direita (FOX, SISSON, MOISE, 1999).

Devido a localização do ducto arterioso persistente, que encontra-se

caudalmente ao tronco braquiocefálico e à artéria subclávia esquerda e, portanto, o

desvio sangüíneo vai ser efetuado após aquele já ter sido direcionado para os vasos

referidos, observa-se um quadro de cianose diferencial, mais aparente nas mucosas

caudais enquanto que as mucosas oral e ocular, continuam normocoradas

Page 28: PERSISTÊNCIA DO DUCTO ARTERIOSO - arquivo.fmu.brarquivo.fmu.br/prodisc/medvet/acp.pdf · do curso de Medicina Veterinária, sob orientação da Professora Aline Machado De Zoppa

28

(KITTLESON; KIENLE, 1998).

Além dessa cianose característica, nota-se dispnéia, apatia, síncope, convulsões,

ausência de sopro contínuo, intenso choque pré-cordial em hemitórax direito

(KITTLESON; KIENLE, 1998).

Episódios de síncopes e incoordenação podem ocorrer em conseqüência da

hiperviscosidade do sangue, que na micro-vascularização, promove hipóxia de

cérebro e outros tecidos (BONAGURA, 1989; ORTON, 1997).

Os animais com persistência de ducto arterioso reverso não podem ser

submetidos a uma intervenção cirúrgica pelo fato do ducto, nestes casos, funcionar

como válvula de escape para o ventrículo direito (BONAGURA, 1989; ORTON,

1997).

Page 29: PERSISTÊNCIA DO DUCTO ARTERIOSO - arquivo.fmu.brarquivo.fmu.br/prodisc/medvet/acp.pdf · do curso de Medicina Veterinária, sob orientação da Professora Aline Machado De Zoppa

29

5 DIAGNÓSTICO E DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL

Além dos achados no exame físico e as informações obtidas na anamnese,

alguns exames complementares possibilitam o fechamento do diagnóstico de PDA,

tais como exame radiográfico, ecocardiograma, eletrocardiograma e exames

laboratoriais (EYSTER, 1998).

Nos casos de persistência de ducto arterioso clássico, as radiografias

torácicas na posição dorso-ventral, podem mostrar cardiomegalia, aumento atrial e

ventricular esquerdo, dilatação dos vasos pulmonares e da aorta descendente e

edema pulmonar (BONAGURA, 1989; ORTON 1997). (FIGURA 2)

No eletrocardiograma, o alargamento das ondas P indica aumento atrial, já a

dilatação ventricular esquerda é caracterizada por eixo frontal normal e ondas R e Q

com maior voltagem (R > 2,5mV) nas derivações craniocaudais II, III e aVF

(BONAGURA, 1987; FOSSUM, 2002).

No ecocardiograma, é possível a exclusão de outras cardiopatias associadas, além

de perceber o aumento atrial esquerdo, dilatação e hipertrofia ventriculares

esquerdas, dilatação de artéria pulmonar, aumento na velocidade de ejeção aórtica

e um padrão de fluxo Doppler turbulento reverso, ou seja, fluxo contínuo e

FIGURA 2- Radiografia lateral torácica de cão com persistência do ducto arterioso, apresentando cardiomegalia e aumento da circulação pulmonar Fonte: HOGAN; SANDERS, 2006.

Page 30: PERSISTÊNCIA DO DUCTO ARTERIOSO - arquivo.fmu.brarquivo.fmu.br/prodisc/medvet/acp.pdf · do curso de Medicina Veterinária, sob orientação da Professora Aline Machado De Zoppa

30

retrógrado na artéria pulmonar, além de aumento discreto à moderado na velocidade

do fluxo da aorta (geralmente maior que 2.5 m/s, além de dilatação do anel mitral,

devido à uma insuficiência do anel mitral secundário à uma sobrecarga de volume do

lado esquerdo. Pode- se observar também, uma fração de encurtamento normal, ou

diminuída, também relacionada com aumento de volume de sangue do lado

esquerdo (KITTLESON; KIENLE, 1998).

Nos exames laboratoriais, não é encontrada nenhuma evidência sugestiva de

persistência de ducto arterioso, na sua forma clássica (KITTLESON; KIENLE, 1998).

Nos casos de PDA reverso, pode-se observar nas radiografias torácicas, em

projeção dorso-ventral, dilatação do tronco pulmonar e das artérias lobares

principais, além de hipertrofia ventricular direita (KITTLESON; KIENLE, 1998).

Nos exames de laboratório, é constatada uma policitemia em resposta a um

aumento na produção de eritropoietina, devido à hipoxemia crônica (KITTLESON;

KIENLE, 1998).

Os sinais clínicos observados em animais com ducto arterioso persistente,

como sopro contínuo e pulso hipercinético, podem ser confundidos com o sopro

presente nos quadros de estenose e insuficiência aórtica ou defeitos septais e

insuficiência aórtica associados. Tetralogia de Fallot e defeitos atriais ou

ventriculares da direita para a esquerda também podem ser incluídos como

diagnósticos diferenciais nos casos de persistência de ducto arterioso reverso

(FOSSUM, 2002).

A cateterização permite ao clínico analisar o fluxo de sangue através dos

vasos (BONAGURA, 1992).

Nos quadros de ducto arterioso persistente, ocorrerá uma hiperperfusão

pulmonar significativa, e a diferença de pressão entre artéria pulmonar e aorta

poderá ser documentada através da cateterização, porém, não é um recurso

indispensável na conclusão diagnóstica, sendo mais requisitado nos casos em que

há complicação do quadro de PDA por outras anomalias ou quando os achados do

ecodopplercardiograma são confusos (MILLER; BONAGURA, 1998).

No caso da angiografia, quando o contraste é injetado no interior do ventrículo

esquerdo, ou preferencialmente na aorta descendente, o ducto fica evidente e tanto

a aorta, quanto a artéria pulmonar aparecem opacificadas. Pode ser observada uma

regurgitação da válvula mitral durante o exame contrastado, em decorrência de uma

dilatação do ventrículo esquerdo (FOX; SISSON; MOISE, 1999).

Page 31: PERSISTÊNCIA DO DUCTO ARTERIOSO - arquivo.fmu.brarquivo.fmu.br/prodisc/medvet/acp.pdf · do curso de Medicina Veterinária, sob orientação da Professora Aline Machado De Zoppa

31

A angiografia é muito importante quando o tratamento de eleição para oclusão

do ducto seja através da oclusão percutânea, pois é possível medir com precisão, as

dimensões do ducto arterioso e sua morfologia (FIGURA 3) e assim, permitir a

seleção precisa do tamanho do equipamento a ser utilizado (HADDAD et al., 2005)

(FIGURA 4).

6 TRATAMENTO

FIGURA 4- Angiografia de cão com persistência de ducto arterioso. Aorta (AO). Artéria pulmonar (AP). Ducto arterioso persistente (PDA). Fonte: HADDAD, et al., 2005.

FIGURA 3- Classificação angiográfica dos tipos de ducto arterioso segundo Krichenko et al. Fonte: HADDAD, et al., 2005.

Page 32: PERSISTÊNCIA DO DUCTO ARTERIOSO - arquivo.fmu.brarquivo.fmu.br/prodisc/medvet/acp.pdf · do curso de Medicina Veterinária, sob orientação da Professora Aline Machado De Zoppa

32

A persistência de ducto arterioso, é corrigida exclusivamente através de

intervenção cirúrgica e, relata-se que, quanto mais precocemente o animal for

operado, maior será a percentagem de êxito (EYSTER, 1998).

Animais com essa cardiopatia, quando não operados, dificilmente sobrevivem

além do primeiro ano de idade (EYSTER, 1998).

Em todos os animais, independentemente do porte e da idade, a correção

cirúrgica é feita assim que o problema é descoberto, a não ser que possuam alguma

outra alteração que contra-indique o procedimento (FOSSUM, 2002).

Animais com arritmias devem ser controlados antes de uma intervenção

cirúrgica, principalmente se o quadro evoluir para insuficiência cardíaca congestiva,

nesse caso, o uso de inótropos positivos, vasodilatadores e diuréticos se torna

indispensável. Deve-se evitar o excesso de diuréticos e vasodilatadores para evitar

quadros de hipotensão (FOSSUM, 2002).

A ligadura do ducto arterioso pode ser realizada por ligadura simples,

transfixação, ligaduras múltiplas transfixadas, oclusão por clipe de titânio ou sutura e

divisão (EYSTER, 1998).

A oclusão do ducto com clipe é de fácil aplicação, podendo ser feita através

de toracoscopia, porém, pode não ser apropriada quando o ducto persistente for

maior que 9 mm, devido ao risco de laceração do ducto e à possibilidade de

recanalização posterior (KIM et al., 2000; VASILENKO; KIM; KOTOV, 2002;

SHARAFUDDIN et al., 1996).

Sharafuddin et al. (1996) indicaram a ligadura para ductos largos, devido à

maior segurança que esta técnica oferece.

Algumas técnicas de cateterização estão sendo relatadas, pois têm a

vantagem de não dependerem de toracotomia, exigindo poucos cuidados pós-

operatórios e diminuindo o período de recuperação dos pacientes (SAUNDERS et al,

1999; ORTON, 1997; GLAUS ET al., 2003). Este procedimento é indicado quando o

ducto é pequeno, não servindo para aqueles cujo diâmetro é maior que 5 mm

(SHARAFUDDIN et al., 1996).

Nos casos de PDA reverso com policitemia secundária, o tratamento consiste

em repouso forçado, limitação dos exercícios e tentativa de impedir tensão, além da

manutenção do hematócrito entre 62 e 68% (FOX; SISSON; MOISE, 1999).

Page 33: PERSISTÊNCIA DO DUCTO ARTERIOSO - arquivo.fmu.brarquivo.fmu.br/prodisc/medvet/acp.pdf · do curso de Medicina Veterinária, sob orientação da Professora Aline Machado De Zoppa

33

Nesse casos, a intervenção cirúrgica não é recomendada devido ao fato do

ducto arterioso estar servindo como um escape da artéria pulmonar e, se for ligado,

poder gerar uma grave hipertensão, promovendo uma dilatação das estruturas,

aumentando a tensão, o risco de um rompimento e conseqüentemente uma

hemorragia difícil de ser controlada, levando o animal à óbito (FOSSUM, 2002).

6.1 Ligadura do ducto

A primeira ligadura do ducto foi realizada em 1939, por Gross e Hubbard e ,

desde então, é a correção cirúrgica aceita como padrão (KIM et al., 2000;

BONAGURA, 1989).

Em cães e gatos, o nervo vago encontra-se sobre o ducto arterioso, e deve

ser cuidadosamente identificado no trans-cirúrgico. Além disso, alguns outros

cuidados devem ser tomados antes do início do procedimento cirúrgico (EYSTER,

1998).

Nos casos de edema pulmonar, é feito tratamento com diuréticos até que o

padrão pulmonar normal seja restabelecido e, só então, o animal é encaminhado

para a cirurgia (EYSTER, 1998).

A abordagem é feita, segundo Fossum (2002), com o paciente em decúbito

lateral direita, através de uma toracotomia intercostal esquerda, no quarto espaço

intercostal. Logo após, os pulmões são rebatidos e o ducto pode ser observado

ventralmente à aorta e dorsalmente à artéria pulmonar, exatamente no local onde o

nervo vago esquerdo é encontrado (EYSTER, 1998).

Afasta-se o nervo vago e o ducto é isolado possibilitando a palpação do

frêmito produzido pela turbulência contínua dentro do ducto (EYSTER, 1998).

Devido à proximidade e manipulação do nervo vago durante a cirurgia, a

maioria dos animais recebem uma dose de atropina, para evitar bradicardia vagal

durante a dissecação (EYSTER, 1998).

A dissecação começa pela abertura do pericárdio, paralelamente ao nervo

frênico e avança transversalmente ao mediastino (FOSSUM, 2002).

A pleura e o pericárdio sobre o ducto são dissecados e afastados deste,

juntamente com o nervo vago (FOSSUM, 2002).

Page 34: PERSISTÊNCIA DO DUCTO ARTERIOSO - arquivo.fmu.brarquivo.fmu.br/prodisc/medvet/acp.pdf · do curso de Medicina Veterinária, sob orientação da Professora Aline Machado De Zoppa

34

Uma pinça de ângulo reto é passada por trás do ducto, isolando sua face

caudal e, posteriormente, a face cranial é dissecada ventral mente à parede direita

da aorta. A dissecação é finalizada com a passagem da pinça no sentido caudal à

cranial a partir da porção medial do ducto (EYSTER, 1998).

Segundo Miller e Bonagura, 1998, o ducto deve ser atenuado antes da

ligadura, afim de se observar os efeitos hemodinâmicos. Caso o animal apresente

bradicardia, pode se administrar atropina durante o procedimento.

São preparados dois pontos de sutura com fios de seda 2-0 (EYSTER, 1998),

1-0 ou 0 (FOSSUM, 2002) e passados por trás do ducto até o lado esquerdo,

paralelamente à superfície da aorta. A sutura deste lado é feita em primeiro lugar

(EYSTER, 1998).

Logo após essa primeira ligadura, a pressão arterial aumenta muito,

diminuindo a freqüência cardíaca e também o diâmetro da artéria pulmonar, que

pode ser ligada depois de alguns minutos (EYSTER, 1998).

Em animais com mais de 7kg, podem ser feitas suturas de sustentação, para

evitar possíveis hemorragias durante a ligadura do ducto. É utilizada uma pinça,

obliterando a aorta e artéria pulmonar próximo ao ducto arterioso, essa obliteração

permite dois a quatro minutos para o reparo do ducto ou o seu pinçamento, antes

que a circulação seja restabelecida (EYSTER, 1998).

O procedimento de segurança não pode ser utilizado em animais com menos

de 5kg, pois sofrem uma perda de sangue importante nos 10 a 20 segundos

necessários para oclusão dos vasos (EYSTER, 1998).

Após o término das ligaduras, o pericárdio recebe uma ou duas suturas,

evitando que ocorra a herniação do apêndice atrial esquerdo e um dreno é instalado

no tórax e realiza-se a toracorrafia. É feita a drenagem do ar no tórax e, o tubo de

dreno torácico é removido imediatamente, ou até 24 horas após a cirurgia

(FOSSUM, 2002).

As suturas são removidas de 7 a 10 dias e o paciente fica impedido de fazer

exercícios mais intensos durante aproximadamente 21 dias (EYSTER, 1998).

No pós-operatório, pode ser ouvido um sopro sistólico de insuficiência mitral

ou de relativa estenose aórtica no lado esquerdo do tórax, devido a uma turbulência

resultante do aumento de volume sangüíneo secundário ao desvio e geralmente

desaparece em poucos dias a algumas semanas após a cirurgia (EYSTER, 1998).

6.2 Toracoscopia

Page 35: PERSISTÊNCIA DO DUCTO ARTERIOSO - arquivo.fmu.brarquivo.fmu.br/prodisc/medvet/acp.pdf · do curso de Medicina Veterinária, sob orientação da Professora Aline Machado De Zoppa

35

A toracoscopia foi originalmente introduzida por Jacobeus, em 1910, na

Universidade de Estocolmo, utilizando um citoscópio modificado sem magnificação

de imagens para realizar diagnóstico de tuberculose. Desde então, o acesso

toracoscópico vem registrando importante expansão nas diversas possibilidades

diagnósticas e terapêuticas (LANDRENEAU et al., 1992) . (FIGURAS 5 e 6)

Segundo Oto et al. (1998), no ano de 1996 foram realizadas, pela primeira

vez, duas ligaduras de ducto arterioso patente por correção toracoscópica vídeo

assistida, em seres humanos.

A literatura veterinária apresenta poucos relatos sobre o emprego da

toracoscopia, que foi utilizada primeiramente para exploração e biópsia dos órgãos

intratorácicos e é caracterizada por um acesso minimamente invasivo (REMEDIUS;

FERGUSSON, 1996; FAUNT et al., 1998).

Nos casos de correção de PDA através da toracoscopia, o processo envolve

o acesso pelo tórax e visualização através de um endoscópio e oclusão do ducto

através de um clipe de titânio (FREEMAN, 1998). (FIGURAS 7, 8, 9 e 10)

FIGURA 5: Pinça contornando o ducto através de toracoscopia Fonte: SOUTO et al., 2002.

FIGURA 6: Reprodução esquemática do procedimento de contorno do ducto através de toracoscopia Nervo vago (B); Aorta (A); Artéria pulmonar (D); Ducto arterioso (E). Fonte: SOUTO et al., 2002.

Page 36: PERSISTÊNCIA DO DUCTO ARTERIOSO - arquivo.fmu.brarquivo.fmu.br/prodisc/medvet/acp.pdf · do curso de Medicina Veterinária, sob orientação da Professora Aline Machado De Zoppa

36

Segundo Isakow, Fowler e Walsh (2000), o posicionamento dos instrumentos

na toracoscopia, deve seguir o conceito de triangulação, para aumentar a

visibilidade e facilitar a manipulação. Landrenau et al. (1992) sugeriram o sexto

espaço intercostal para a colocação da ótica para visualização do hemitórax.

A câmera de videocirurgia proporciona um aumento de até 20 vezes,

possibilitando melhor visibilidade das estruturas, porém, pequenos sangramentos

podem interferir (FREEMAN, 1998).

Laundreneau et al., (1992) sugerem a utilização de um eletrocautério para

hemostasia dos pequenos sangramentos ocasionados na incisão dos espaços

intercostais para introdução dos instrumentais.

Segundo Isakow, Fowler e Walsh (2000), os materiais toracoscópicos

especializados, são dispensáveis para o procedimento cirúrgico, podendo ser

FIGURA 7: Oclusão do ducto com clipe de titânio Fonte: SOUTO et al., 2002.

FIGURA 8: Representação esquemática da clipagem do ducto Fonte: SOUTO et al., 2002.

FIGURA 9: Ducto arterioso ocluído com dois clipes de titânio Fonte: SOUTO et al., 2002.

FIGURA 10: Representação esquemática do ducto arterioso duplamente clipado. Fonte:SOUTO et al., 2002.

Page 37: PERSISTÊNCIA DO DUCTO ARTERIOSO - arquivo.fmu.brarquivo.fmu.br/prodisc/medvet/acp.pdf · do curso de Medicina Veterinária, sob orientação da Professora Aline Machado De Zoppa

37

utilizados os materiais convencionais, porém, materiais especialmente desenvolvidos

para toracoscopia facilitam a manipulação tecidual e podem ser introduzidos através

de cânulas que diminuem o trauma nos músculos intercostais, nervos e vasos.

A vantagem dos procedimentos minimamente invasivos, é a possibilidade de

diagnóstico e tratamento ao mesmo tempo, além de diminuição da perda de calor

durante a cirurgia, o que é observado durante os procedimentos abertos, devido a

exposição da cavidade pleural. Essa perda de calor deve ser cuidadosamente

considerada em casos de animais muito jovens, cuja regulação térmica pode não ser

totalmente desenvolvida (BURKE, 1999).

Qualquer procedimento minimamente invasivo no tórax são passíveis de

complicações, devido ao risco de perfuração do pulmão ou penetração em qualquer

estrutura vascular, podendo haver a necessidade de conversão da técnica para a

cirurgia aberta (REMEDIUS; FERGUSSON,1996; McFADDEN; ROBBINS, 1998

ISAKOW; FOWLER; WALSH, 2000).

Segundo Vasilenko, Kim e Kobe (2003), nos casos de PDA corrigidos através

de toracoscopia, foram estimados 11% de óbito, sendo observados quadros de

edema pulmonar, fibrilação ventricular, insuficiência cardíaca e hemorragia pela

dissecação do ducto, esta que, pode ser observada também na técnica aberta de

correção.

6.3 Oclusão percutânea A oclusão do ducto arterioso foi descrita pela primeira vez por Porstmann et

al. em 1967 (HADDAD, et al., 2005).

Atualmente, no Brasil, a oclusão através de embolização não é tão realizada

quanto a ligadura por toracotomia, enquanto na Europa, o uso de coils é o método

mais comum nos casos de persistência do ducto arterioso (HADDAD et al, 2005).

Após vários estudos, os dispositivos de Gianturco são os mais utilizados,

devido a sua eficácia na oclusão dos ductos de pequeno calibre (MILLER et al,

2006).

O desenvolvimento de novos dispositivos tem permitido a oclusão de todos os

ductos, nos casos de PDA clássica (MILLER et al, 2006).

Page 38: PERSISTÊNCIA DO DUCTO ARTERIOSO - arquivo.fmu.brarquivo.fmu.br/prodisc/medvet/acp.pdf · do curso de Medicina Veterinária, sob orientação da Professora Aline Machado De Zoppa

38

O procedimento exige uma angiografia anterior, para que possa ser

selecionado, de acordo com as dimensões do ducto, o dispositivo mais adequado

para sua oclusão, e deve determinar, principalmente, o diâmetro interno mínimo do

ducto arterioso persistente (MILLER et al, 2006). (FIGURA 11).

Um catéter especial, que é introduzido através da artéria femoral, guiado por

fluoroscopia, permite determinar o local correto da implantação do dispositivo, que

pode ser do tipo coil ou balão inflável (GLAUS et al, 2003).

No caso do coil, durante o implante, a posição adequada do dispositivo deve

ser controlada antes da sua liberação, com injeções de contraste na aorta, exceto

quando se utilizam coils de Gianturco por via retrógrada. Administra-se também, três

doses de Cefazolina intra-venosa (22mg/kg) como medida antibiótica profilática

(GLAUS, et al., 2003).

Após a liberação do coil no interior do ducto, uma angiografia da aorta é

realizada, geralmente com 15 minutos de intervalo entre elas, para comprovar a

oclusão total ou avaliar o grau de fluxo residual, este que pode ser observado logo

após o procedimento, independentemente do tipo de dispositivo utilizado, mas que

FIGURA 11: Catéter angiográfico introduzido através da artéria braquial (a). Ducto arterioso persistente (b). Estreitamento do ducto na base da artéria pulmonar (c). Fonte: SHNEIDER et al. 2003.

Page 39: PERSISTÊNCIA DO DUCTO ARTERIOSO - arquivo.fmu.brarquivo.fmu.br/prodisc/medvet/acp.pdf · do curso de Medicina Veterinária, sob orientação da Professora Aline Machado De Zoppa

39

geralmente desaparece no primeiro ano de evolução. Se o fluxo residual for

significativo, é indicada nova intervenção para substituição do dispositivo por outro

maior, de outro tipo ou implantar uma segunda unidade (MILLER et al., 2006).

O tempo total do procedimento é de aproximadamente 80 minutos (HOGAN;

GREEN; SANDERS, 2006).

O implante a ser colocado deve ser, pelo menos, duas vezes maior que o

diâmetro mínimo do ducto, para evitar sua migração para outros locais (MILLER et

al., 2006).

Em 1967, PORSTMANN et al. trataram a PDA por cateterismo

intervencionista através do Porstmann Ivalon plug®, porém, não teve sucesso nos

casos de ducto de grande calibre, então, em 1979, RASHKIND et al, introduziram

um novo sistema oclusivo que foi bastante difundido o Rashkind umbrella®, que

permaneceu por duas décadas no mercado até ser substituído por molas ou coil de

Gianturco (principalmente 0.038” Gianturco Embolization Coils® em 1992,

Gianturco-Grifka Vascular Occlusion Device® em 1995 e 0.052” Gianturco

Embolization Coils® em 1998), e, atualmente em desenvolvimento, os dispositivos

de Amplatzer Duct Occluder® (ADO) em 2003 e Amplatzer Vascular Plug®, 2004

(HADDAD, et al., 2005).

O sistema de Gianturco-Grifka Vascular Occlusion Device foi idealizada para

oclusão de vasos tubulares. A prótese é formada por um saco de nylon que, após

ser posicionado no vaso, é preenchida com um tipo de espiral flexível, feito de aço

inoxidável, que é liberada após o procedimento de oclusão (HADDAD et al., 2005).

(FIGURA 12)

Page 40: PERSISTÊNCIA DO DUCTO ARTERIOSO - arquivo.fmu.brarquivo.fmu.br/prodisc/medvet/acp.pdf · do curso de Medicina Veterinária, sob orientação da Professora Aline Machado De Zoppa

40

O sistema de liberação da espiral apresenta uma certa dificuldade, sendo

muito trabalhosa nos casos de retirada percutânea após a embolização (HADDAD,

et al., 2005).

Os coils de Gianturco de forma helicoidal, são os mais utilizados na oclusão

de ductos com menos de 3 mm de diâmetro. São constituídos por um fio de aço

inoxidável com cerdas aderidas em quase toda sua extensão, que possuem alto

poder trombogênico e possuem diferentes espessuras do fio metálico, comprimento

do coil esticado e diâmetro. Os mais utilizados são os de 0.038” de espessura por

apresentar maior retração elástica e resistência ao fluxo, diminuindo a possibilidade

de embolização. São implantados via retrógrada mediante a um catéter previamente

posicionado na artéria pulmonar. Os dispositivos de 0.052” são utilizados nos ductos

de alto fluxo, por oferecerem maior resistência que os de 0.038” (HADDAD, et al.,

2005).

Muito parecido com os coils de Gianturco, o sistema Flipper Detachable

Embolization Coil, é constituído por aço inoxidável de 0.038”, porém seu interior é

oco e as cerdas são de menor espessura e comprimento, com o objetivo de evitar o

enovelamento das cerdas proximais (HADDAD, et al., 2005). (FIGURA 13)

FIGURA 12- Dispositivo Gianturco-Grifka Vascular Occlusion Device. Fonte: HADDAD, et al., 2005)

Page 41: PERSISTÊNCIA DO DUCTO ARTERIOSO - arquivo.fmu.brarquivo.fmu.br/prodisc/medvet/acp.pdf · do curso de Medicina Veterinária, sob orientação da Professora Aline Machado De Zoppa

41

Por ser oco, esta técnica permite o controle angiográfico com a utilização de

um cateter arterial e um reposicionamento do coil, se necessário, para que, após a

obtenção da posição adequada, este coil possa ser liberado no local correto

(HADDAD, et al., 2005).

A prótese de Amplatzer® Duct Occluder, a mais recentemente desenvolvida

para oclusão do canal arterial, é um dispositivo auto-expansível, com formato de

cogumelo ou bala de revólver, feito de uma malha metálica de nitinol, que é liberado

no interior do ducto, guiado por um catéter que posteriormente é retirado

(NGUYENBA; TOBIAS, 2007). (FIGURAS 14 e 15)

FIGURA 13- Sistema Flipper Detachable Embolization Coil. Fonte: HADDAD, et. al., 2005)

Page 42: PERSISTÊNCIA DO DUCTO ARTERIOSO - arquivo.fmu.brarquivo.fmu.br/prodisc/medvet/acp.pdf · do curso de Medicina Veterinária, sob orientação da Professora Aline Machado De Zoppa

42

Esse sistema é o mais indicado nos casos de ductos de grande calibre. Logo

após a liberação, é possível observar que, o dispositivo começa a se adaptar às

conformações do ducto, promovendo sua oclusão, que será confirmada através da

evolução do contraste injetado no final do procedimento (HADDAD, et al., 2005)

(FIGURA 16).

FIGURA 14: Dispositivo Amplatzer Duct Occluder. Fonte:HADDAD, et al., 2005.

FIGURA 15: Dispositivo Amplatzer Duct Occluder, separação do implante oclusor da haste posteriormente liberada. Fonte: HADDAD, et al, 2005).

FIGURA 16- Fluoroscopia durante o implante do dispositivo Amplatzer®, demonstrando sua adaptação às conformações do ducto arterioso. Fonte: NGUYENBA; TOBIAS, 2007.

Page 43: PERSISTÊNCIA DO DUCTO ARTERIOSO - arquivo.fmu.brarquivo.fmu.br/prodisc/medvet/acp.pdf · do curso de Medicina Veterinária, sob orientação da Professora Aline Machado De Zoppa

43

7 COMPLICAÇÕES A principal complicação é o rompimento do ducto ou dos grandes vasos

envolvidos, no trans cirúrgico, durante sua dissecação, ou no momento da ligadura,

principalmente na região de encontro da aorta e ducto e ducto e artéria pulmonar ou

na porção média do ducto arterioso (FOSSUM, 2002).

A hemorragia ocasionada pelo rompimento, deve ser controlada

imediatamente com uma pinça vascular e a junção deverá ser suturada (FOSSUM,

2002).

Nestes casos, opta-se pela divisão total do ducto, utilizando-se fio não

absorvível, geralmente o polipropileno 6-0. Além disso, pode ser necessário a

utilização de grampos vasculares ou sutura manual para total oclusão (EYSTER,

1998).

Lipowitz et al. (1996), relatam que os sangramentos menores não são

detectados até que ocorra a recuperação da anestesia e conseqüentemente, o

aumento da pressão sangüinea.

Casos de recidivas são mais difíceis devido a formação de aderências no

local. Geralmente, após uma ruptura, uma ligadura ductal simples não é possível de

ser feita, devendo-se optar pela sutura de colchoeiro ou a divisão e fechamento do

ducto entre as pinças vasculares (FOSSUM, 2002).

O fechamento do ducto sem sua divisão, é a técnica que oferece maior

segurança, pelo fato de diminuir o risco de hemorragias, porém, o risco de

recanalização é maior (FOSSUM, 2002).

Nos casos de oclusão percutânea com transcatéter, pode ocorrer hemorragia

no local de acesso, embolização pulmonar ou sistêmica pelo stent, ligeira recidiva

(shunt ou sopro cardíaco), que tende a desaparecer em alguns dias, hemólise e/ou

estenose da artéria pulmonar, que também tende a desaparecer em alguns dias

(HADDAD et al. 2005).

As duas últimas ocorrem em função do uso de somente um stent. O uso de

um stent adicional reduz drasticamente tais sinais, porém seu alto custo dificulta a

realização do procedimento além de aumentar o risco de embolia pulmonar

(HADDAD et al. 2005).

Page 44: PERSISTÊNCIA DO DUCTO ARTERIOSO - arquivo.fmu.brarquivo.fmu.br/prodisc/medvet/acp.pdf · do curso de Medicina Veterinária, sob orientação da Professora Aline Machado De Zoppa

44

8 PROGNÓSTICO

A cirurgia de correção mais utilizada nos casos de PDA, a ligadura do ducto, é

considerada um cirurgia segura e o prognóstico a longo prazo é excelente, embora

seja desaconselhável usar o cão para reprodução (MILLER; BONAGURA, 1998).

Segundo Goodwin (2002), a taxa de sucesso das cirurgias de correção do

PAD é de 95%, não apresentando risco adicional significativo nos casos de cães

maiores e mais velhos.

A taxa de mortalidade de 5%, pode ser considerada alta em casos não

complicados (BONAGURA, 1992).

Com exceção dos casos de persistência de ducto arterioso reverso, todos os

animais com PDA devem ser tratados cirurgicamente o quanto antes, se possível,

assim que o defeito congênito for identificado (ORTON, 1997).

Segundo Orton (1993) e Bonagura (1987), 70% dos animais com PDA que

não foram submetidos à cirurgia vão à óbito antes do primeiro ano de vida, sendo

relatada, muito raramente, sobrevivência de cães com PDA clássico que nunca

foram operados.

Os principais sintomas apresentados pelos animais que possuem o ducto

arterioso patente como o frêmito principalmente, cessam logo após a ligadura do

(FOSSUM, 2002).

Alguns autores estimaram que, aproximadamente 1,5% dos animais

submetidos à cirurgia para correção do PDA acabam sofrendo recanalização e

necessitam de uma nova intervenção cirúrgica (SHARAFUDDIN et al, 1996;

GOODWIN, 2002).

Nos casos em que a insuficiência cardíaca congestiva avançada ou quadros

de fibrilação atrial estejam presentes, o prognóstico é reservado à sombrio, assim

como os cães em que o PDA clássico já tenha evoluído para o quadro de fluxo

reverso, com hipertensão pulmonar severa, em que a cirurgia não é indicada

(BONAGURA, 1992). Nos casos de PDA reverso sem alterações hemodinâmicas

severas, não é rara a sobrevivência até meia-idade (GOODWIN, 2002).

Page 45: PERSISTÊNCIA DO DUCTO ARTERIOSO - arquivo.fmu.brarquivo.fmu.br/prodisc/medvet/acp.pdf · do curso de Medicina Veterinária, sob orientação da Professora Aline Machado De Zoppa

45

9 RELATO DE CASO

Sioux, canino, 3 meses, Pastor Alemão, (FIGURA 17) chegou ao Hospital

Veterinário FMU (HOVET) no dia 24/07/2008 encaminhado por colega para cirurgia

de correção de persistência do ducto arterioso.

No exame físico constatou-se animal abaixo do peso, apresentando dispnéia

e sopro contínuo grau V/VI com frêmito. Foi realizado, no mesmo dia, exame

radiográfico, onde foi observado quadro de edema pulmonar e cardiomegalia.

Animal foi medicado com Lasix® (4,0mg/kg/SC)

O animal havia realizado um exame ecocardiográfico realizado no dia 03/07,

que apresentava as seguintes alterações: moderada repercussão hemodinâmica em

átrio e ventrículo esquerdos e persistência de ducto arterioso com gradiente de

pressão do ducto de até 93,14mmHg.

Foram realizados exames pré-operatórios e a intervenção cirúrgica foi

marcada para o dia 29/07, nesse período, o animal foi medicado em casa com

Lasix® (4,0mg/kg/TID) e Aldactone® (1mg/kg/BID).

No dia 29/07, às 10:00hs, animal entrou em procedimento cirúrgico.

O animal foi posicionado em decúbito lateral direito, realizou-se tricotomia e

assepsia da região e obteve-se acesso cirúrgico através do 4º espaço intercostal

FIGURA 17- Sioux, Pastor Alemão, macho, 3 meses. Fonte: ZOPPA, 2008. (Arquivo pessoal)

Page 46: PERSISTÊNCIA DO DUCTO ARTERIOSO - arquivo.fmu.brarquivo.fmu.br/prodisc/medvet/acp.pdf · do curso de Medicina Veterinária, sob orientação da Professora Aline Machado De Zoppa

46

esquerdo. (FIGURA 18)

Realizou-se a incisão da pele, divulsão da camada subcutânea e rebatimento

da musculatura, até a localização do coração, identificação das estruturas e

isolamento do nervo vago.

A técnica utilizada foi ligadura dupla do ducto com fio não-absorvível Nylon

4.0.

Após o procedimento de correção, a toracorrafia foi realizada e um dreno

torácico foi fixado e retirado após 36 horas. (FIGURA 19)

No dia 1/08 animal retornou ao HOVET para reavaliação pós-cirúrgica, e, na

auscultação foi notado sopro grau I/VI. Foi agendado novo retorno para o dia 8/08.

FIGURA 19: Dreno torácico. Fonte: ZOPPA, 2008.

FIGURA 18: Incisão cirúrgica através do quarto espaço intercostal. Fonte: ZOPPA, 2008. (Arquivo pessoal)

Page 47: PERSISTÊNCIA DO DUCTO ARTERIOSO - arquivo.fmu.brarquivo.fmu.br/prodisc/medvet/acp.pdf · do curso de Medicina Veterinária, sob orientação da Professora Aline Machado De Zoppa

47

Ao retornar ao HOVET no dia 08/08, foi realizada nova radiografia que

indicava edema pulmonar. Iniciou-se controle do quadro com medicação diurética

(Furosemida injetável aplicada no HOVET e em forma de comprimidos, prescrito

para casa), um novo exame ecocardiográfico foi solicitado.

No dia 1/09, o animal foi submetido ao ecocardiograma, que diagnosticou

recidiva do quadro de persistência do ducto arterioso, com moderada repercussão

hemodinâmica, insuficiência mitral de grau discreto e insuficiência aórtica de grau

discreto. As alterações indicam necessidade de nova intervenção cirúrgica.

No dia 23/09, o animal foi submetido à uma nova cirurgia para fechamento do

ducto arterioso, optou-se pela mesma técnica utilizada no primeiro procedimento, a

de ligadura do ducto.

Após a incisão da pele e divulsão da camada subcutânea, notou-se grande

região com aderência, devido à reação ao fio utilizado para sutura da musculatura.

Ao visualizar a região da ligadura do ducto, notou-se frouxidão do nó e

presença de fluxo moderado no interior do ducto (FIGURA 20). Foi realizada nova

ligadura na mesma região, e assim, o ducto foi totalmente ocluído. Novo dreno

torácico foi fixado e, após 36 horas, o mesmo foi retirado.

Page 48: PERSISTÊNCIA DO DUCTO ARTERIOSO - arquivo.fmu.brarquivo.fmu.br/prodisc/medvet/acp.pdf · do curso de Medicina Veterinária, sob orientação da Professora Aline Machado De Zoppa

48

Após doze dias da segunda cirurgia o animal retornou para retirada dos

pontos, não apresentando sopro ou quadro de edema pulmonar. Animal recebeu alta

cirúrgica.

Atualmente o animal apresenta quadro clínico estável, com reversão total das

alterações cardíacas.

FIGURA 20- Visualização do ducto arterioso recidivante. A seta mostra o local da ligadura feita na primeira intervenção cirúrgica. Fonte: ZOPPA, 2008. (Arquivo pessoa)

Page 49: PERSISTÊNCIA DO DUCTO ARTERIOSO - arquivo.fmu.brarquivo.fmu.br/prodisc/medvet/acp.pdf · do curso de Medicina Veterinária, sob orientação da Professora Aline Machado De Zoppa

49

10 CONCLUSÃO

A persistência do ducto arterioso, leva à óbito cerca de 70% dos animais

quando não tratados.

A técnica de eleição na maioria dos casos de PDA, inclusive no caso atendido

no Hospital Veterinário FMU, continua sendo a ligadura do ducto, através de

procedimento cirúrgico aberto, pela segurança que esta oferece, apesar dos

resultados positivos obtidos com as técnicas de oclusão por transcatéter.

Pode-se observar que, mesmo que incomum, a recidiva do quadro e,

conseqüentemente dos sinais clínicos, pode ocorrer, necessitando de nova

interferência cirúrgica.

O tratamento através de medicamentos somente, não teve eficácia

comprovada até o encerramento deste trabalho.

Page 50: PERSISTÊNCIA DO DUCTO ARTERIOSO - arquivo.fmu.brarquivo.fmu.br/prodisc/medvet/acp.pdf · do curso de Medicina Veterinária, sob orientação da Professora Aline Machado De Zoppa

50

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ACKERMAN, N. et al. Patent Ductus Arteriosus in the dog: a retrospective study of radiographic, epidemiologic, and clinical findings. American Journal of Veterinary Research, v. 39, n. 11, p. 1805-1810, 1978. BACKER, C. L.; MAVROUDIS, C. Congenital heart desease. In:_______NORTON, J. A. Essencial practice in surgery: basic science and clinical evidence. New York: Springer-Verlag, 2003. cap. 44, p.559-566. BICHARD, S.J.; BONAGURA,J.D.; FINGLAND, R.B. Results of ligation of patent ductus arteriosus in dogs: 201 cases (1969-1988). Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 196 n.12, 196-2011,1990. BONAGURA, J.D. Congenital Heart Disease. In:______. BONAGURA, J.D. Cardiology – Contemporary Issue in Small Animals Pratice. Hardcover, 1987. Cap. 1, p. 1-4. BONAGURA, J. D. Congenital heart desease. In: ETTINGER, S. J. Textbook of veterinary internal medicine. 3. rd. ed. Philadelphia: Saunders, 1989. cap. 74, p. 976-1030. BONAGURA, J.D. Moléstia Cardíaca Congênita. In: ______. ETTINGER, S.J; FELDMAN, E.C. Tratado de Medicina Veterinária Interna- Moléstias do Cão e do Gato. Califórnia: Manole LTDA, 1995. Cap. 74, p. 1026-1043. BONAGURA, J.D.; MILLER, M.W. Cardiopatia Congênita. In:______. BICHARD,S.J.; SHERDING,R.G. Manual Saunders – Clínica de Pequenos Animais. São Paulo: Rocca, 1998. Cap.12 e 13, p. 564-579 BURKE, R. P. Video assisted thoracoscopic surgery for patent ductus arteriosus in low birth weight neonates and infants. Pediatrics, v.104, n.2, p.227-230, 1999. EYSTER, G.E. Procedimentos Cirúrgicos Cardíacos Básicos. In:______ SLATTER, D. Manual de Cirurgia de Pequenos Animais. São Paulo: Manole, 1998. cap. 60. p. 1080-1083.

Page 51: PERSISTÊNCIA DO DUCTO ARTERIOSO - arquivo.fmu.brarquivo.fmu.br/prodisc/medvet/acp.pdf · do curso de Medicina Veterinária, sob orientação da Professora Aline Machado De Zoppa

51

FAUNT, K. K. et al. Evaluation of biopsy specimens obtained during thoracoscopy from lung of clinically normal dogs. American Journal of Veterinary Research, New York, v. 59, n.11, p. 1499-1502, 1998. FOSSUM, T.W. Cirurgia do Sistema Cardiovascular. In:______. Cirurgia de Pequenos Animais. São Paulo: Rocca, 2002.p. 646-650. FOX, P.R.; SISSON, D.; MOISE, N.S. Congenital Heart Disease. In:______. Canine and Feline – Cardiology – Principles and Clinical Pratice. Filadélfia: Saunders, 1999. p. 505-513. FUCKS, K. H. Minimally invasive surgery. Endoscopy, New York, v. 34, n. 2, p. 154-159, 2002. GLAUS et al. Catheter closure of patent ductus arteriosus in dog: variation in ductal size requires different techniques. Journal of Veterinary Cardiology, v. 5, n. 1, p. 7-12, 2003. GOODWIN, J.K. In:______ TILLEY, L.P.; GOODWIN, J.K. Manual de Cardiologia para Cães e Gatos. 2002. Cap. 14. p.259-267. HADDAD,J. et al. Oclusão Percutânea da Persistência do Canal Arterial. Revista Brasileira de Cardiologia Invasiva, v.13, n. 3, p.206-218, 2005. HOGAN,D.F.; GREEN, H.W.; SANDERS, R.A. Transcatheter closure of patent ductus arteriosus in a dog with a peripheral vascular occlusion device. Journal of Veterinary Cardiology, n. 8, p. 139-143, 2006. ISAKOW, K; FOWLER, D; WALSH, P. Video-assisted thoracoscopic division of the ligamentum arteriosum in two dogs with persistent right aortic arch. Journal of the American Veterinary Medical Association. v. 217, n. 9, p.1333-1336, 2000. ISRAEL, N.V. et al. Patent Ductus Arteriosus in the older Dog. Journal of Veterinary Cardiology, v. 5, n. 1, p.13-21, 2003. KITTLESON, M.D.; KIENLE, R.D. Persistência do Ducto Arterioso. In:______. Small Animal Cardiovascular Medicine. Califórnia: Mosby, 1998. Cap. 12, p. 218-230.

Page 52: PERSISTÊNCIA DO DUCTO ARTERIOSO - arquivo.fmu.brarquivo.fmu.br/prodisc/medvet/acp.pdf · do curso de Medicina Veterinária, sob orientação da Professora Aline Machado De Zoppa

52

JUBB, K.V.F.; KENNEDY, P.C.; PALMER, N. The Heart. In:______. Pathology of Domestic Animals. Flórida: Academic Press, 1991. Cap.1. p. 9-11. KIM, B. Y. et al. Video-assisted thoracoscopic ligation of a patent ductus arterious. Technique of sliding loop ligation. Journal of Cardiac Surgery, v. 41, n. 1, p. 69-72, 2000. LANDRENEAU, R. J. et al. Video-assisted thoracic surgery: basic technical concepts and intercostal approach strategies. Annals of Thoracic Surgery, Philadelphia, v. 54, p. 800-807, 1992. LIPOWITZ, A. L. et al. Cardiovascular Surgery In:______ Complications in Small Animal Surgery, Philadelphia: Lea & Febiger, 1996. cap. 8, p. 267-286. McFADDEN, P. M.; ROBBINS, R. J. Thoracoscopic surgery. Surgical Clinics of North America, New Jersey, v. 78, p. 763-772, 1998. MILLER, M.W. et al. Angiographic classification of patent ductus arteriosus morphology in the dog. Journal of Veterinary Cardiology, n.8, p.109-114, 2006. NELSON, N. W.; COUTO. G.; Anomalias cardíacas congênitas comuns In:______ Medicina interna dos pequenos animais. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1994. p. 83. NGUYENBA,T.P.; TOBIAS, A.H. The Amplatz® canine duct occluder: A novel device for patent ductus arteriosus occlusion. Journal of Veterinary Cardiology,n.9, p.109-117, 2007. ORTON, C. E. Surgery of cardiovascular system. In:______ FOSSUM, T. W. Small animal surgery. St. Louis: Mosby, 1997. cap. 24, p. 575-608. OSWALD, G.P.; ORTON, C. Patent ductus arteriosus and pulmonary hypertension in related Pembroke Welsh Corgis. Journal of the American Veterinary Medical Association. v. 202, n. 5, p. 761-764, 1993. RANDALL,B.F. Circulação. In:______. Fisiologia Animal – Mecanismos e Adaptações Eckert. Guanabara Koogan, 2000. p. 450-452. REMEDIUS, A. M.; FERGUSSON, J. Minimally invasive surgery: laparoscopy and

Page 53: PERSISTÊNCIA DO DUCTO ARTERIOSO - arquivo.fmu.brarquivo.fmu.br/prodisc/medvet/acp.pdf · do curso de Medicina Veterinária, sob orientação da Professora Aline Machado De Zoppa

53

thoracoscopy in small animals. Compendium on Continuing Education for the Practice Veterinary, Toronto, v. 19, n. 11, p. 1191-1199, 1996. RICHTER, K.R. Ducto Arterioso Patente em Cães: Indução experimental por toracotomia, correção por cirurgia torácica vídeo-assistida (CTVA) e avaliação de aderências por toracoscopia. 2006. 88f. Dissertação (Doutorado em Medicina Veterinária) – Universidade Federal de Santa Maria, Rio Grande do Sul, 2006. SAUNDERS, J. E. et al. Use of ballon occlusion catheter to facilitate transarterial coil embolism of a patent ductus arterious in two dogs. Veterinary Record, v. 145, p. 544-546,1999. SHARAFUDDIN, M. et al. Experimental evaluation of a new self expanding p.d.a. occluder in a canine model. Journal of Interventorial Radiology, California, v. 7, p. 877-878, 1996. SHNEIDER, M. et al. Percutaneous angiography of Patent Ductus Arteriosus in dog: techiniques, results and implications for intravascular occlusion. Journal of Veterinary Cardiology, v. 5, n.2, 2003. SIMÕES, L.C. et al. Fechamento Percutâneo do Canal Arterial com a Prótese Amplatzer. Experiência no Brasil. Arquivo Brasileiro de Cardiologia, v. 77, n. 6, p. 520-525, 2001. SOUTO, G.L.L. et al. Ligadura videotoracoscópica da persistência do canal arterial. Revista Brasileira de Cirurgia Cardiovascular. São Paulo, v. 15, n. 2, 2002. STOPIGLIA, A.J. et al. Persistência do ducto arterioso em cães: revisão. Revista Educação Contínua. CRMV-SP. São Paulo, v. 7, n. 1/3, p. 23-33, 2004. VASILENKO, Y. V; KIM, A. I.; KOTOV, S. A. Extravasal occlusion of large venels with titanic clips: efficiency, indications, and contraindications. Byulleten Eksperimental noi Biologii i Meditsini, Moscou, v. 134, n. 5, p. 516-517, 2002.