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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DIREITO MILITAR CONTEMPORÂNEO SÉRGIO ANTONIO MEREGE DE MELLO FILHO UTILIZAÇÃO DE ESPARGIDORES – ASPECTOS TÉCNICOS E LEGAIS PARA USO NO POLICIAMENTO OSTENSIVO GERAL CURITIBA 2013

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO

DIREITO MILITAR CONTEMPORÂNEO

SÉRGIO ANTONIO MEREGE DE MELLO FILHO

UTILIZAÇÃO DE ESPARGIDORES – ASPECTOS TÉCNICOS E LEGAIS PARA USO NO POLICIAMENTO OSTENSIVO GERAL

CURITIBA

2013

SÉRGIO ANTONIO MEREGE DE MELLO FILHO

UTILIZAÇÃO DE ESPARGIDORES – ASPECTOS TÉCNICOS E LEGAIS PARA USO NO POLICIAMENTO OSTENSIVO GERAL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentada por exigência curricular do Curso de Pós Graduação na disciplina de Metodologia de Pesquisa Científica.

CURITIBA

2013

Ao Deus pela vida, pelo amor e cuidado.

Aos meus pais, pelo exemplo de perseverança, pela dedicação e zelo.

À minha querida esposa, amiga de todas as horas, fiel companheira, pelo amor,

carinho, compreensão e apoio.

Ao meu filho Miguel pelo sorriso que contagia, pela inocência de criança, pela

felicidade que transmite.

RESUMO

A profissão Policial Militar é uma das atividades mais estressoras por colocar o Agente de Segurança Pública frente à diversas situações com diferentes níveis de complexidade, apresentando risco para sua integridade, pequeno em certas ocorrências ou extremo em outras. Durante uma Ocorrência Policial, a situação pode se tornar mais perigosa durante a execução do serviço operacional, o policial se submete a um ápice de emoções e sentimentos que alteram de forma expressiva seu organismo, tanto fisicamente quanto psicologicamente e deve agir dentro dos limites legais. É de fundamental importância fazer a análise de quais são os efeitos que os Espargidores utilizados durante a ação policial podem acarretar, tanto para a equipe policial quanto para os autores de crimes, bem como terceiros envolvidos. Ademais, é de fundamental importância o agente ter conhecimentos técnicos a respeito dos materiais utilizados no uso progressivo da força, bem como em quais situações os materiais devem ser empregados conforme legislações, agindo de acordo com os ditames legais. Determinante analisarmos a atual situação da utilização desse material no policiamento ostensivo geral e fazermos uma analise das circunstâncias onde é cabível sua utilização, qual tipo de espargidor a ser usado, bem como o modo de aquisição desse material junto às empresas devidamente credenciadas para a comercialização do material que utilizado de forma correta e técnica é muito útil para a atividade de manutenção da segurança pública.

Palavras-chave: Espargidor. Gás pimenta. Uso progressivo da força.

ABSTRACT

The Military Police profession is one of the most stressful for putting the Public Security Agent against the various situations with different levels of complexity, presenting risk to their integrity, small in certain instances or in other extreme. During a Police Report, the situation can become more dangerous during the execution of operational service, the officer submits a culmination of emotions and feelings that significantly alter your body, both physically and psychologically and must act within the legal limits. It is of fundamental importance to the analysis of what are the effects that sprinklers used during the police action may entail, both for the police team and for the perpetrators of crimes, as well as third parties involved. Moreover, it is of fundamental importance the agent have technical knowledge about the materials used in the progressive use of force, as well as situations in which the materials are to be used as laws, acting according to the dictates of law. Determining analyze the current situation of the use of such materials in general patrolling and do an analysis of the circumstances in which their use is appropriate, what type of sprinkler to be used as well as how to purchase this material with companies duly authorized for marketing material used in correct form and technique is very useful for the activity of maintaining public safety. Keywords: spreader . Pepper spray. Progressive use of force. SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ……………………………………………………………………… 7 1.1 APRESENTAÇÃO …………………………………………………………………. 7

1.2 OBJETIVOS ………………………………………………………………………... 8

1.2.1 Objetivo geral …………………………………………………………………….. 8

1.2.2 Objetivos específicos ……………………………………………………………... 8

1.3 JUSTIFICATIVA ………………………………………………………………….. 9 2 DESENVOLVIMENTO ……………………………………………………………. 112.1 ESTRESSE …………………………………………………………. 112.2 CONDIÇÕES EM QUE SE OBSERVA O AUMENTO DE SECREÇÃO DE ADRENALINA ……………………………………………………………… 19

2.3 TÉCNICAS E TECNOLOGIAS NÃO-LETAIS............………………………… 233 METODOLOGIA …………………………………………………………………… 334 CONCLUSÕES ..…………………………………………………………………… 47REFERÊNCIAS ………………………………………………………………………. 52DOCUMENTOS CONSULTADOS ...……………………………………………….. 55

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1. INTRODUÇÃO

1.1 APRESENTAÇÃO

A presente pesquisa foi realizada visando analisar as reações fisiológicas a

que está sujeito a pessoa submetida à aplicação de técnicas não letais, em especial

os espargidores, no momento de uma ocorrência policial, visto que se faz necessário

o conhecimento das consequências que o uso incorreto do material que se usado

dentro das normas, é um ótimo instrumento para cessar agressões injustas e

solucionar ocorrências dentro do policiamento ostensivo geral. Analisar sua

utilização atual em um Batalhão de Área da cidade de Curitiba, para projetar a

solução ao problema e proporcionar ao profissional de segurança fundamentos e

base legal para a atividade fim com a utilização desse instrumento de trabalho.

No dia a dia do policial militar empregado no policiamento ostensivo para a

preservação da ordem e manutenção da segurança pública, está sempre exposto

aos riscos inerentes a tal atividade. No campo profissional uma das categorias que

está mais exposta às influências do estresse é a do policial militar. Sobretudo os

policiais que atuam diretamente no atendimento a ocorrência que exijam imediata

tomada de decisões que muitas vezes em função dos fatos podem finalizar em

ações à integridade física dos envolvidos.

São rotineiras as ocorrências envolvendo o policial militar e o infrator, onde

se faz necessária utilização de meios não letais, todavia, as prováveis

consequências oriundas de tais situações, podem acarretar em problemas que,

inevitavelmente, trarão reflexos à Instituição e ao homem. De fato os policiais sofrem

influências do estresse profissional em ocorrência que resulte em neutralização do

indivíduo infrator, com elevado nível de estresse. O Estresse: Significa tensão ou esforço. Representa ainda, na terminologia

científica, “a soma de todas as forças que agem contra a resistência”, esta presente

em tais ocorrências, e o policial durante o atendimento da ocorrência deve agir de

forma a diminuir o estresse para através da argumentação resolver a situação. Não

resolvida através do convencimento, utilizando-se do uso progressivo da força, há a

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possibilidade da utilização de espargidores, os quais utilizados corretamente servem

para neutralizar a ação do infrator de forma rápida e sem ocasionar lesões.

Embora seja difícil estimar quantos policias fazem o uso indevido do material

é necessário pontuar sua utilização, fazendo a análise de que modo e em que

circunstâncias devem ser utilizados, observando os meios legais face à eficácia e

eficiência dessa técnica não-letal.

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo geral

Essa pesquisa objetiva demonstrar: os efeitos que ocorrem no organismo da

pessoa exposta à espargidores como equipamento não-letal utilizado no

desenvolvimento da atividade Policial Militar, fazendo a análise dos materiais

disponíveis, materiais utilizados de fato na área de atuação do 23º Batalhão de

Polícia Militar da Polícia Militar do Estado do Paraná, fazendo um parâmetro com a

legalidade de sua utilização.

1.2.2 Objetivos específicos

Para chegarmos ao desenvolvimento do nosso objetivo geral pretendemos:

a) contextualizar o estresse policial nos dias atuais;

b) apontar fatores de risco1, que estão presente no cotidiano policial que

interferem na qualidade de vida pessoal e profissional;

1 Condição que pode estar presente no indivíduo, na família, na escola, entre os pares, na comunidade ou na

sociedade e que propicia o abuso de drogas ou a violência, ocorrendo isoladamente ou em conjunto. (ASINELLI-LUZ, 2000)

 

9

c) indicar a resiliência2 como um comportamento e fator de proteção3 para o

enfrentamento das situações adversas que o ser humano policial

costumeiramente encontra;

c) evidenciar a necessidade da valorização profissional do ser humano

policial através da educação policial.

d) demonstrar a importância de meios não letais no Policiamento Ostensivo

Geral, no atendimento de ocorrências rotineiras e não, tão somente, em

ocorrências com concentração elevada de pessoas (ocorrências de

CHOQUE).

1.3 JUSTIFICATIVA

Os policiais dedicam-se toda a sua carreira preparando-se para os piores

cenários possíveis. A consequência desses treinamentos aliados à rotina e aos

eventos diários ou eventuais leva os policiais a um condicionamento que pode se

tornar uma obsessão com a adição dos treinamentos e a realidade. Solursh (1989)

definiu dois fatores que parecem exacerbar e ampliar os fatores de adição quando

ocorrem encontros mortais. O primeiro, é a existência de uma série de reforços

mútuos de excitação que começam com a experiência múltipla de confronto e as

recordações emocionais de tal experiência. A segunda são as alterações

psicofísicas decorrentes dessa excitação.

A principal importância dessa monografia é a institucional, visando o policial

militar que enfrentam a risco de morte durante a execução dos serviços

operacionais, combatendo nas ruas do Estado infratores da lei.

Dessa forma vemos que o conteúdo dessa pesquisa é de fundamental

importância a análise dos efeitos de equipamentos não-letais utilizados em

atividade, em foco os espargidores durante ocorrências policias, identificando os

2 Entendida inicialmente aqui como um comportamento eficaz, adequado e íntegro frente à exposição de

pressões ou situações negativas e/ou adversas.  3 Condição que pode estar presente no indivíduo, na família, na escola, entre os pares, na comunidade ou na

sociedade e que pode contribuir para diminuir a probabilidade de envolvimento com a droga, com a violência, com a gravidez indesejada, impedindo o aparecimento de novos casos, mesmo quando há fatores de risco presentes. (ASINELLI-LUZ, 2000) 

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meios legais de adquirir e de emprego prático, com o intuito de padronizar

procedimentos.

Esperamos que essa pesquisa seja objeto de reflexão a todos os policiais

que tiverem acesso à mesma. Que após a reflexão, ela sirva de alavanca para as

mudanças necessárias, afinal, qualquer mudança que pretendemos deve iniciar-se

por nós mesmos.

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2. DESENVOLVIMENTO

2.1 ESTRESSE

Etimologicamente, o termo Estresse tem sua origem na palavra inglesa

“Stress” que, num linguajar comum, significa “tensão” ou “esforço”. Representa

ainda, na terminologia científica, “a soma de todas as forças que agem contra uma

resistência”. A palavra estresse foi usada pela primeira vez por Hans Selye, médico

e professor da Universidade de Mc Gill, no Canadá. Indica a condição em que fica o

organismo diante de ação dos mais variados agentes estressantes: calor, frio,

esforços físicos, emoções violentas, fatos traumáticos de natureza variada, entre

outros.

É definida ainda como sendo uma resposta não específica do organismo a

toda solicitação que lhe é feita. Assim, toda e qualquer demanda, seja ela física,

psicológica, boa ou má, provoca uma resposta biológica do organismo. Se as

respostas são adaptadas às normas fisiológicas do indivíduo, trata-se do Bom

Estresse ou “eutress”. Porém, se as respostas exigidas por uma demanda intensa e

prolongada, agradável ou desagradável, são excessivas e ultrapassam a capacidade

de resistência e adaptação do organismo, trata-se do Mau Estresse, ou nomeado

em inglês “Distress”. Desta forma a resposta não é somente de cunho biológico, pois

ela não está alheia à personalidade, podendo assim variar o comportamento,

interagindo numa resposta do sistema nervoso autônomo, tais quais a ansiedade, o

medo, a raiva, etc.

O termo Estresse refere-se ao conjunto das reações metabólicas e viscerais

provocadas no organismo por agentes agressores variados, no qual estes agentes

externos expõem em perigo o equilíbrio de uma pessoa. Tal definição de Estresse

passou a ter seu uso popularizado somente no início do século XX. Até então, o

termo estresse era empregado pela física para descrever a força que tende a

deformar um objeto, por exemplo, as modificações produzidas numa borracha

quando esta é esfregada, ou numa mola qualquer quando esta é esticada. Além

disso a expressão estresse já tinha sido utilizada para descrever a tensão mental.

Segundo o Dr. Hans Selye, o Estresse defini-se como sendo uma resposta

não específica do organismo a toda solicitação que lhe é feita. Esta definição

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significa que toda e qualquer demanda, seja ela física, psicológica, boa ou má,

provoca uma resposta biológica do organismo. Se as respostas são adaptadas às

normas fisiológicas do indivíduo, trata-se do Bom Estresse ou Eustress. Porém, se

as respostas exigidas por uma demanda intensa e prolongada, agradável ou

desagradável, são excessivas e ultrapassam a capacidade de resistência e

adaptação do organismo, trata-se do mau estresse ou, como nomeado em inglês,

Distress.

Desta forma, a resposta não é somente de cunho biológico, pois ela não

está alheia à personalidade, podendo, assim, variar o comportamento, interagindo

numa resposta do sistema nervoso autônomo, tais quais a ansiedade, o medo, a

depressão, etc.

Algumas características pessoais tornam o indivíduo mais vulnerável ao

estresse. As mais determinantes são as dificuldades para dizer não e estabelecer

limites, senso de obrigação excessiva e ambição desmensurada. Some-se a isso

uma alimentação desequilibrada, vida sedentária, pouco lazer e tensão constante no

trabalho, e o resultado pode gerar irritabilidade, falta de auto-estima, ansiedade,

depressão e até distúrbios físicos, como úlcera e enfarte.

Lista das profissões mais estressantes:

PROFISSÔES Grau de ESTRESSE

MINEIRO 8,3

POLICIAL 7,7

AGENTE-PENITENCIÁRIO 7,5

PILOTO DE AVIÃO 7,5

JORNALISTA 7,5

PUBLICITÁRIO 7,3

EXECUTIVO 7,3

DENTISTA 7,3

MÉDICO 6,8

ENFERMEIRA 6,5

BOMBEIRO 6,3

GERENTE DE PESSOAL 6,0 Fonte: Instituto de Ciências e Tecnologia da Universidade de Manchester

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2.1.1 FISIOLOGIA DO ESTRESSE

Segundo Lima (2005, p. 69-73), quando o cérebro, independentemente de

vontade, interpreta alguma situação como ameaçadora, todo o organismo passa a

desenvolver uma série de alterações denominadas de Síndrome Geral da

Adaptação ao Estresse, em seu conjunto, descrita por Seyle (1936) em três fases

sucessivas: reação de alarme, fase de adaptação ou resistência e fase de exaustão.

1) Reação de Alarme: as respostas corporais entram em estado de

prontidão geral, ou seja, todo organismo é mobilizado sem envolvimento específico

ou exclusivo de algum órgão particular. É um estado de alerta geral, tal como s fosse

um susto. A reação de alarme subdivide-se em dois estados: a) a fase do choque e

b) fase de contrachoque.

a. Fase de Choque: é o momento quando o indivíduo experimenta a

ameaça ou estímulo adverso (estressor), muito exuberantes. Durante a reação de

alarme, o chamado sistema nervoso autônomo (SNA) participa ativamente do

conjunto de alterações fisiológicas. Trata-se, este SNA, de um complexo conjunto

neurológico que controla, autonomamente, todo o meio interno doorganismo através

da ativação e inibição dos diversos sistemas, visceras, e glândulas. Durante a fase

de choque da reação de alarme, que é como um susto inicial de estresse, predomina

a atuação de uma parte desse SNA chamado de sistema simpático, o qual

proporciona descargas de adrenalina da medula da glândula supra-renal e de

noradrenalina nas fibras pós-ganglionares para a corrente sanguínea. Essa fase

apresenta as seguintes alterações fisiológicas:

- aumento da freqüência cardíaca e pressão arterial. O sangue circulando

mais rápido, melhora a atividade muscular esquelética e cerebral, facilitando a ação

e o movimento;

- contração do baço, levando mais glóbulos vermelhos à corrente

sanguínea e melhorando a oxigenação do organismo e de áreas estratégicas;

- o fígado libera glicose para ser utilizado como alimento e energia para

os músculos e cérebro;

- redistribuição sanguínea diminui o sangue dirigido à pele e vísceras,

aumentando para músculos e cérebro;

- aumento da freqüência respiratória e dilatação dos bronqios, que

favorece a captação de mais oxigênio;

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- dilatação das pupilas para aumentar a eficiência visual;

- aumento do número de linfócitos na corrente sanguínea, para preparar

os tecidos para possíveis danos por agentes externos agressores.

b) Fase Contrachoque: ocorre o aumento da resistência corporal, como um

meio para se adaptar, caso o dano não seja muito grave, o córtex supra-renal e os

órgãos linfáticos hipertrofiam. Ainda durante o momento que está havendo a

estimulação estressante aguda (fase de choque da reação de alarme), uma parte do

sistema nervoso central, denominado hipotálamo, promove a liberação de um

hormônio, o qual, por sua vez, estimula a hipófise (glândula vizinha ao hipotálamo) a

liberar outro hormônio, o ACTH, este ganhando a corrente sanguínea e estimulando

as glândulas supra-renais para a secreção de corticóides.

Como percebemos, toda seqüência de acontecimentos tem origem no

cérebro, e o hipotálamo é que acaba disparando a sucessão de eventos. Ao mesmo

tempo em que este hipotálamo está providenciando a estimulação da hipófise para a

secreção do ACTH, também proporciona a secreção de outros neuro-hormônios

(hormônios produzidos no cérebro), tais como os chamados peptídeos cerebrais,

como é o caso das endorfinas (que modificam o linear da dor) e outros.

Desaparecendo os agentes estressores, todas essas alterações tendem a se

interromper e regredir. Se, no entanto, por alguma razão o organismo é

continuamente submetido a uma situação estressante, é obrigado a manter seu

esforço de adaptação e então passará para a fase de resistência.

2) Fase de Adaptação ou Resistência

Se esse estresse continua por um período mais longo, sobrevém a segunda

fase, a qual acontece quando a tensão se acumula. Esta fase, o corpo começa a

acostumar seus estímulos causadores do estresse e entra num estado de

resistência ou de adaptação. Durante este estágio, o organismo adapta suas

reações e seu metabolismo para suportar um estresse por um período de tempo.

Neste estado, a reação de estresse pode ser canalizada para um órgão específico

ou para um determinado sistema, seja um sistema cardiológico, por exemplo, ou a

pele, sistema muscular, aparelho digestivo, etc.

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Entretanto, a energia é dirigida para a adaptação da pessoa a solicitação

estressante não é ilimitada e se o estresse ainda continuar, o corpo todo pode entrar

na terceira fase, o estado de esgotamento, onde haverá queda acentuada da

capacidade adaptativa.

3) Fase de Exaustão: é a fase apenas atingida nas situações mais graves

e, normalmente persistentes; acontece quando começa a falhar os mecanismos de

adaptação e há déficit da reservas de energia. Essa fase é grave levando à morte de

alguns organismos. A maioria dos sintomas somáticos e psicossomáticos ficam mais

exuberantes nessa fase.

Como se supõe, a resistência do organismo não é ilimitada. O estado de

resistência é a soma das reações gerais não específicas que se desenvolvem como

resultado da exposição prolongada aos agentes estressores, frente aos quais se

desenvolveu a adaptação e que, posteriormente, o organismo não pode manter.

As modificações biológicas que aparecem nessa fase se assemelham

àquelas da reação de alarme, mais precisamente as fases de choque. Mas, nesta

fase o organismo já não é capaz de equilibrar-se por si só e sobrevém a falência

adaptativa.

Considerando as alterações fisiológicas observadas durante a reação de

alarme (choque e contrachoque), sabemos que o ser humano e os animais

superiores foram dotados de um complexo mecanismo fisiológico à disposição da

adaptação, mecanismo esse capaz de promover transformações diante de

circunstâncias novas e para as quais o indivíduo deve adaptar-se.

Na realidade, toda essa revolução fisiológica produzida pelo estresse visa

colocar todo o organismo à disposição da adaptação, e não apenas através da

adequação do desempenho físico e visceral do organismo, mais sobretudo,

fornecendo uma quantidade suficiente de ansiedade como requisito psicológico para

a manutenção do estado de alerta. Dessa forma, ficam melhor viabilizadas as

possibilidades de ataque ou de fuga.

Enfim, a Síndrome Geral de Adaptação viabiliza as atitudes adaptativas

necessárias para a manutenção da vida diante de um mundo dinâmico e altamente

solicitante. Curiosamente diante desta maravilhosa característica que proporciona a

Síndrome Geral de Adaptação, intriga-nos o fato de tão brilhante mecanismo

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defensivo se relacionar com o desenvolvimento de transtornos emocionais, físicos e

psicossomáticos.

Talvez o ser humano tenha começado a parecer com a Síndrome Geral de

Adaptação quando seus objetivos, inicialmente colocados à disposição de sua

sobrevivência física, foram deslocados para sua sobrevivência social e afetiva. Os

agentes estressores, que continuamente estimulam a pessoa, não representam mais

apenas ameaças ao seu bem estar físico imediato, são, antes disso, também

estressores que estimulam uma tomada de atitude diante de ameaças subjetivas e

abstratas.

O ser humano tem que se adaptar aos problemas da infância, às perdas e

abandonos sofridos, às agressões, ao medo e frustrações. Tem que adaptar-se às

expectativas que seu grupo social lhe dirige, a uma identidade conveniente, mas

nem sempre sincera, adaptar-se à competição e à manutenção de seu espaço

social, às angústias do amor, à conquista de segurança para seus entes queridos,

enfim tem que adaptar-se às ameaças impalpáveis e abstratas, ameaças essas

encontradas mais eu seu próprio interior, como um inimigo sempre presente, do que

fora dele. Tudo isso, ou seja, todos estes estímulos estressores são capazes de

convocar a Síndrome Geral de Adaptação por tem pó indeterminado.

As reações de estresse resultam exatamente, do esforço adaptativo. As

doenças, como o estado bem conhecido por “esgotamento”, surgem quando o

estímulo agressor é muito intenso ou muito persistente. É o custo (mental e

biológico) do esforço adaptativo. Os efeitos da Síndrome Geral de Adaptação sobre

o indivíduo cronicamente ao longo do tempo compõem o substrato fisiopatológico

das doenças psicossomáticas. Cada órgão ou sistema é envolvido e apenado pelas

alterações fisiológicas continuadas do estresse, de início apenas com alterações

funcionais, e depois, com lesões também anatômicas.

Por causa disso, podemos dizer que as doenças psicossomáticas são

aquelas determinadas ou agravadas por motivos emocionais, já que é sempre a

emoção quem detecta a ameaça e o perigo, sejam eles reais, imaginários ou

fantasiosos.

Os efeitos fisiológicos provocam profundas alterações fisiológicas saindo do

estresse normal, para o distresse, eu-estresse até estresse pós-traumático.

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2.1.1 EFEITOS PSOCOSSOMÁTICOS DO ESTRESSE SOBRE O SISTEMA

NERVOSO

As reações ocorridas pelo sistema têm duas saídas para o corpo: a via

nervosa e a via hormonal. A resposta nervosa é mais rápida e atinge órgãos

específicos, como o coração. Um bom exemplo é a taquicardia. Já a resposta

hormonal caminha pelo sangue. É mais lenta, porém atinge vários órgãos.

As alterações hormonais são regidas pelo hipotálamo, parte do cérebro que

controla todas as glândulas endócrinas do organismo. Sob um estímulo estressante,

o hipotálamo ordena, através de substâncias neurotransmissoras, que libera o

hormônio A.C.T.H (adrenocorticotrófico).

Este hormônio estimula o córtex da glândula supra hormonal cortiço

esteróides, especialmente, o cortisol, hormônio que acelera o organismo. Em doses

normais, o cortisol estimula a função imunológica. Mas, se a concentração for muito

alta, ele afeta o sistema imunológico, baixando a resistência do organismo. Como

conseqüência do alto índice de cortisol, também ocorrem alterações do humor,

desânimo, perturbações do apetite e retração à libido.

Outro importante hormônio envolvido no processo de estresse é a

adrenalina, produzida pela glândula supra-renal. Além de aumentar a freqüência

cardíaca e o volume de oxigênio que circula no corpo, a adrenalina também participa

do processo de formação de glicose e libera energia. Descobriu-se, por exemplo,

que raiva e o medo produzem reações fisiológicas diferentes e podem ser

discriminadas entre si. As descobertas deram uma nova visão para o estudo de

doenças mentais e de comportamentos de profissionais que lidam com o perigo,

como é o caso da profissão policial.

Segundo Cannon “quando um animal se defronta com uma nova situação

que evocava dor, raiva ou medo, respondia com um conjunto de reações fisiológicas

que o preparava para enfrentar o perigo pela luta ou fuga”. Essa reações segundo

ele, eram mobilizadas pela secreção de um hormônio denominado adrenalina;

quando o córtex cerebral percebia a ameaça, enviava um estímulo pelo ramo

simpático do sistema nervoso autônomo para as glândulas supra-renais e estas

secretavam o hormônio.

Cannon descreveu os resultados obtidos da seguinte forma:

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A respiração se aprofunda; o coração bate mais rapidamente; a pressão

arterial sobe; o sangue é deslocado do estômago e intestinos para o

coração, sistema nervoso central e músculos; cessam os processos no

canal alimentar; o açúcar é liberado das reservas do fígado; o baço contrai-

se e descarrega seu conteúdo de corpúsculos concentrados e a adrenalina

é secretada pela medula supra-renal.

A chave dessas transformações corporais encontra-se no relacionamento

entre os acompanhantes naturais do medo e da raiva – fugir para escapar do perigo

e atacar para dominá-lo. Qualquer que seja a ação, pode seguir-se um combate de

vida ou morte. Algumas investigações recentes sugerem uma possível resposta. Von

Euler, Sueco, descobriu que a estimulação de certas áreas do hipotálamo provoca a

secreção de noradrenalina pela glândula supra-renal, enquanto a estimulação de

outras áreas causa a secreção de adrenalina.

Essas áreas podem corresponder àquelas que o comportamento agressivo e

fuga, ocorrem respectivamente em animais. Os experimentos sugerem que a raiva e

o medo podem ativar áreas do hipotálamo, levando a produção de noradrenalina no

primeiro caso e a produção de adrenalina no segundo.

Von Euler comparou as secreções da supra-renal, encontradas num grupo

de diferentes animais. O material de pesquisa foi fornecido por um amigo chamado

Ruesch, que voou à África para obter as medulas supra-renais de animais

selvagens. Interpretando suas descobertas, Ruesch ressaltou que animais

agressivos como o leão, tinham uma quantidade alta de noradrenalina, enquanto

que animais como o coelho, que dependem para a sobrevivência, primeiramente da

fuga, tinham predominantemente a adrenalina.

Animais domésticos e animais selvagens, que tem uma vida social também

possuem uma proporção elevada de adrenalina. Tais descobertas estimulantes

sugerem a teoria de que o homem nasce com a capacidade de reagir com uma

variedade de emoções ( tem dentro dele o leão e o coelho), e que suas experiências

precoces na infância, determinam em grande parte por qual desses caminhos ele

reagirá sobre pressão.

Foi descoberto que as reações emocionais habituais dos indivíduos têm alta

correlação com suas percepções de fatores psicológicos em suas famílias. Toda

essa série de experimentos forneceu dados que podem ser compreendidos no

quadro de referência das observações psicanalíticas.

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Segundo GUYTON (1977, p. 541), “muitas anormalidades psicossomáticas

resultam da hiperatividade do sistema simpático ou do parassimpático”. Em geral a

hiperatividade do sistema simpático ocorre em muitas áreas do organismo ao

mesmo tempo que em áreas focais, e os efeitos habituais são:

a) Diminuição/aumento da freqüência cardíaca;

b) Aumento da pressão arterial;

c) Constipação;

d) Aumento do índice metabólico.

Por outro lado, os sinais parassimpáticos tendem a ser mais focais. Por

exemplo, o estímulo de páreas específicas dos músculos motores pode causar mais

ou menos especificamente:

a) Aumento/diminuição da freqüência cardíaca;

b) Espasmos do esôfago;

c) Aumento da peristalse no trato gastrintestinal alto;

d) Aumento da hiperacidez gástrica, com resultante aparecimento de úlcera

intestinal.

O estímulo da região sacra de um nervo parassimpático pode causar

extrema secreção cólica e peristalse, com diarréia conseqüente. Pode-se ver

imediatamente que os padrões emocionais que controlam os centros simpáticos e

parassimpáticos do hipotálamo e da porção inferior do tronco cerebral podem causar

grandes variedades de defeitos psicossomáticos periféricos.

2.2 CONDIÇÕES EM QUE SE OBSERVA O AUMENTO DE SECREÇÃO DE

ADRENALINA

Segundo Houssay (1980) o aumento da secreção e conseqüentemente da

taxa de adrenalina ocorrem nas seguintes circunstâncias:

a. Na estimulação centrípeda dos nervos sensitivos (braquial, ciático e

vago), e aos estímulos dolorosos (secreção reflexa);

b. Nos estados emocionais de raiva e temor;

c. Na exposição ao frio sobre a pele da mucosa digestiva (bebidas frias);

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d. A hipertensão arterial estimula os receptores localizados no cajado

aórtico (Nervo de Cion) e no seio carotídeo (Nervo de Hering), e nas

zonas sensíveis destes vasos, determinam aumento da secreção reflexa

de adrenalina. Geralmente a hipertensão vem acompanhada de inibição

da secreção de adrenalina;

e. Na asfixia por anóxia. A hipóxia, além de ter efeitos sobre o sistema

nervoso central, afeta diretamente a medula adrenal e aumenta a

secreção de adrenalina;

f. Na hipoglicemia insulínica, por estimulação dos centros adrenalinos

secretores determina a descarga de adrenalina, suficiente para elevar os

níveis glicêmicos. No ser humano, a hipoglicemia aumenta a

concentração sérica de adrenalina em 0,06mg/ml (Houzbauer e Vogt).

g. Certas drogas anestésicas (éter), estriciana, morfina, nicotina, entre

outras.

2.2.1 AÇÕES DA ADRENALINA E NORADRENALINA

Conforme Houssay (1980) a medula supra-renal não desempenha uma

função vital, pois a sua extirpação não leva o animal à morte sempre que o córtex da

supra-renal for mantido intacto. Desempenha um papel coadjuvante do simpático,

que tem como intermediário químico a noradrenalina, cuja função principal é manter

o tônus vasomotor e a pressão arterial, entretanto, a ação da medula supra-renal

deve-se a liberação de adrenalina que, sendo lançada na circulação, atua à

distância sobre todo o organismo e constitui, segundo Cannon, o hormônio

específico para as situações de emergência; hipotensão, hipoglicemia, freio, etc.

2.2.2 EFEITOS CIRCULATÓRIOS

A adrenalina aumenta a contratilidade e a excitabilidade cardíaca,

aumentando a freqüência e o volume cardíaco. Facilita o aparecimento de arritmias

(Extra-sístoles) e da fibrilação ventricular. A noradrenalina, por outro lado, não

produz estes efeitos, nem arritmias.

21

Tanto a adrenalina como a noradrenalina a elevação da pressão arterial,

entretanto a noradrenalina é 1,5 a 3 vezes mais potente do que a adrenalina em seu

efeito hipertensor. A noradrenalina produz aumento de pressão arterial média com

elevação tanto da pressão sistólica como diastólica, devido ao aumento

generalizado da resistência periférica, conseqüente à vaso constrição. A adrenalina

aumenta somente a pressão sistólica; ela produz vaso dilatação em certos territórios

(fígado, músculo) e diminui a resistência periférica, embora este efeito seja

sobrepujado pela estimulação da função miocárdica (aceleração cardíaca, maior

volume minuto). Como conseqüência, não se modifica a pressão arterial média.

A noradrenalina determina vaso constrição generalizada, enquanto a

adrenalina determina principalmente a contração dos vasos esplênicos e da pele.

2.2.3 APARELHO RESPIRATÓRIO

A adrenalina relaxa a musculatura lisa dos brônquios, determinando vaso

constrição da mucosa (palidez) e diminuição das excreções brônquios. Nesta ação a

adrenalina é cerca de 10 a 15 vezes mais potente que a noradrenalina, o que a torna

útil para o tratamento de crises asmáticas agudas.

2.2.4 FUNÇÕES DO SISTEMA NERVOSO NO ESTRESSE

Ambas as catecolaminas exercem ação sobre o sistema nervoso central,

embora as reações observadas com a adrenalina (ansiedade; opressão torácica;

palidez e tremores) não ocorrem quando se administra noradrenalina.

As catecolaminas têm uma distribuição hipolâmica cujo conteúdo varia com

o estímulo estressante, elevadas concentrações de catecolaminas poderiam estar

relacionadas com a regulação da temperatura.

Uma relação dos efeitos mais importantes de um aumento na atividade

simpática geral quase constitui um guia de como enfrentar emergências. Desta

forma algumas destas ações apresentam-se fisiologicamente como:

- aumentada glicogenólise hepática e muscular (prevê uma rápida fonte

de glicose);

22

- aumentada degradação de trigliceróis do tecido adiposo (facultada um

suprimento de glicerol para a neoglicogênese e de ácidos graxos para oxidação);

- aumenta a atividade de vigília e alerta do sistema nervoso central;

- aumenta a atividade contrátil da musculatura esquelética e diminuída

fadiga;

- aumenta o débito cardíaco secundário e aumentos de contrabilidade

cardíaca e de freqüência de bati,mentos;

- redistribuição do sangue das vísceras para os músculos esqueléticos

por meio de vaso constrição nos primeiros e vaso dilatação nos últimos.

2.2.5 OUTROS HORMÔNIOS LIBERADOS DURANTE O ESTRESSE

Outros hormônios usualmente liberados durante muitos tipos de estresse

são aldosterona, o hormônio antidiurético, e o hormônio do crescimento. Os

aumentos em A.D.H. e aldosterona asseguram a poupança de sal e água ao

organismo, uma adaptação importante diante das perdas potenciais por hemorragia

e sudorese (o A.D.H. também pode influenciar ao aprendizado por uma ação sobre o

encéfalo).

O hormônio do crescimento reforça os efeitos mobilizadores de gordura da

adrenalina. Além disso, provavelmente, estimula a captação de aminoácidos por um

tecido lesionado e por isso facilita a reparação tissular se necessário; porém, desde

que possa antagonizar os efeitos generalizadores sobre o catabolismo protéico do

cortisol, a neoglicogênese não é impedida.

Finalmente, evidência recente sugere que esta lista de hormônios cujas

secreções estão alteradas no estresse não é de forma alguma completa. É provável

que a secreção de cada um dos hormônios conhecidos possa ser influenciada pelo

estresse. O Significado adaptativo de muitas destas alterações não é conhecido,

porém, suas contribuições possíveis aos processos mórbidos induzidos por estresse

podem ser muito importantes.

O estresse já é característica, portanto, da função policial militar, visto estar

presentes em diversas situações no enfrentamento ao crime e atendimento de

ocorrências das mais corriqueiras a confrontos armado com marginais de alta

periculosidade.

23

2.3 TÉCNICAS E TECNOLOGIAS NÃO-LETAIS

Segundo Andrade (2009), não-letal é o conceito norteador da produção,

utilização e aplicação de toda tecnologia, equipamento, arma e munição não-letais e

desenvolvimento de técnicas para emprego policial ou militar, no interesse da

segurança pública e para defesa pessoal, cujo objetivo é causar no indivíduo ou

grupo de indivíduos uma debilitação ou incapacitação temporárias sem lhes causar

sofrimento ou dor desnecessária, sendo que, no caso de objetos, o objetivo é causar

a interrupção do seu funcionamento e não a sua destruição.

As Armas não-letais atuam através de ruído, irritação da pele, mucosas e

sistema respiratório, privação visual por ação de fumaça e luz, limitação de

movimentos através de choque elétrico, e impacto controlado e objetivam inibir ou

neutralizar temporariamente a agressividade do indivíduo através de debilitação ou

incapacitação, além de dispersar turbas.

O conhecimento dessas técnicas e tecnologias contribuirá para uma melhor

solução e resultado para aqueles que estão envolvidos com atividades de perigo

constante e iminente, facilitando, por conseguinte, quando ocorrem, não mais serão

tidos como irracionais misteriosos, servindo de subsídios para o melhor desempenho

profissional.

1) Técnicas Não-Letais: É o conjunto de métodos utilizados para resolver um determinado litígio ou

realizar uma diligência policial, de modo a preservar as vidas das pessoas

envolvidas na situação.

Tais técnicas devem ser utilizadas nas mais diversas situações de severo

estresse como ocorrências de briga acidentes de trânsito, confrontos com infratores

da lei e tantas situações enfrentadas quando no atendimento de ocorrência policial.

Tudo isto faz parte da chamada Body Alarm Reaction (Reação de Alarme do

Corpo). Quando o cérebro percebe que o organismo encontra-se em perigo,

desencadeia o reflexo de sobrevivência. Esta reação de alarme do corpo se inicia

com imediata taquicardia, aumento da pressão arterial, hiperventilação, com a

secreção súbita de hormônios tais como: adrenalina, noradrenalina, cortisol, etc.

O corpo secretará os próprios analgésicos, como por exemplo, a endorfina,

chamados de matadores da cor, com uma super carga instantânea que durará por

um período significativo de tempo.

24

Essas alterações súbitas provocarão grande aumento da força muscular e

insensibilidade à dor, conseqüentemente, a pessoa estará muito mais rápida que em

toda a sua vida. Por outro lado, existe uma parte negativa, ocasionada pelo

estresse. Irá se vivenciar de forma dramática, muito forte, perda da coordenação

motora.

A destreza acaba,as mãos começam a tremer; inicialmente os tremores

serão percebidos nas extremidades do corpo, primeiro na fraca, e quase

imediatamente nos dedos da mão forte; os próximos locais atingidos serão as

pernas e os joelhos.

As técnicas certas para cada tipo de situação são de fundamental

importância para que o agente consiga no menor lapso temporal cessar a agressão

de um ou mais indivíduos.

2) Tecnologias Não-Letais:

É o conjunto de conhecimentos e princípios científicos utilizados na

produção e emprego de equipamentos não letais. Em caso de extremo perigo, o

objeto em foco: arma/ pessoa, poderão parecer muito maiores e mais próximos o

que na verdade se encontram. Outro ato interessante é que no momento em que a

pessoa deixa de perceber detalhes como a existência de outros objetos à sua volta,

estará, portanto, com sua atenção totalmente voltada para a potencial ameaça.

Ocorre assim, o chamado túnel de visão, que representa um grande perigo para os

policiais que perscrutam ambientes e áreas na busca de delinqüentes. Focado na

situação, o policial tem que ter percepção e tirocínio para aplicar a melhor técnica e

tecnologia não-letal para cada situação.

3) Armas Não-Letais:

Armas Não-letais são as armas projetadas e empregadas, especificamente,

para incapacitar pessoal ou material, minimizando mortes, ferimentos permanentes

em pessoas, danos indesejáveis à propriedade e comprometimento do meio

ambiente.

Segundo o Department Of Defense (USA), armas não-letais são: “As armas

e munições Não Letais são especialmente projetadas para o emprego primário na

incapacitação de pessoas, objetivando não causar fatalidades ou lesões

25

permanentes, bem como neutralizar materiais sem provocar danos ao patrimônio e

ao meio ambiente”.

As armas e munições têm, portanto, dois tipos de objetivos, antipessoais e

antimaterias.

4) Munições Não-Letais:

São as munições desenvolvidas com objetivo de causar a redução da

capacidade operativa e/ou combativa do agressor. Podem ser empregadas em

armas convencionais ou específicas para atuações não-letais.

5) Equipamentos Não-Letais:

São todos os artefatos, inclusive os não classificados como arma,

desenvolvidos com finalidade de preservar vidas, durante atuação policial ou militar,

inclusive os Equipamentos de Proteção Individual.

Quanto qual equipamento deverá ser utilizado, fica evidenciado naqueles

momentos em que se pode analisar as atitudes de segurança de policiais recém

formados, quando em serviço operacional estes apresentam dificuldades em

perceber situações ameaçadoras, não conseguem muita vezes detectar e prever as

possíveis reações de pessoas em ambientes de risco e demoram em decidir qual

atitude tomar.

Esta capacidade, portanto, não é ensinada em cursos de formação, mas é

uma aquisição que demanda tempo e somente a convivência no dia-a-dia

profissional irá contribuir para o correto pressentimento do perigo. Neste estágio, a

pessoa passará a confiar em seus palpites. Tomamos como exemplo um caso em

que um policial rodoviário estadual aborda um motorista por verificar irregularidades

e irá aplicar-lhe uma. O motorista ao ver-se “molestado” pelo policial diz alguns

palavrões e apresenta uma linguagem de corpo que pressupõe uma agressão física.

De imediato o policial desfere-lhe um golpe no rosto. As pessoas que presenciam a

situação enxergam apenas um policial agredindo um homem indefeso, porém uma

pessoa treinada em Técnicas de Defesa Pessoal ou de Combates, enxerga

pequenos indicadores, o que propicia o policial agir antecipadamente. Neste caso,

por ter treinamento, policial sabe que o gesto com o quadril significa preparo para

desferir um golpe. Já um leigo no assunto não possui este “felling” que possibilita

uma distinção correta.

26

Desta forma, se faz de extrema importância o contato com o

equipamento para familiarização com o material, treinamento e estudos de caso,

para que no atendimento da ocorrência, essa percepção seja facilitada.

2.3.1 EQUIPAMENTOS NÃO-LETAIS

Os equipamentos, técnicas e tecnologias se dividem em duas vertentes,

sendo as debilitantes e as incapacitantes:

1) Debilitantes – Baseiam-se principalmente na dor, no desconforto ou na

inquietação. Podem ser consideradas debilitantes as munições de borracha, os

agentes químicos (inquietantes), o uso da força física e outros.

2) Incapacitantes – Atuam diretamente no sistema nervoso, causando

reações involuntárias do organismo e, consequentemente, atingindo 100% das

pessoas expostas a elas. Ex: TASER.

Equipamentos de proteção: São os conhecidos como de proteção individual

(EPI) ou coletiva (EPC), considerados equipamentos não letais por dois motivos:

visam resguardar a vida do agente; e ao protegerem o agente de Segurança

Pública, permitem que ele tenha maior segurança na ação policial e,

consequentemente, tenha tranquilidade para agir tomando a decisão mais

adequada à ocasião.

Os Equipamentos Não-Letais Possibilitam alternativas de se evitar o uso da

força letal:

• Bastões policiais

• Espargidores de agentes químicos

• Lançadores/projetores

• Espingarda calibre 12

• Munições de impacto controlado

• Granadas

27

2.3.2 AGENTES QUÍMICOS

Toda substância que por sua atividade química produza efeito

incapacitante, fumígeno ou incendiário, quando empregada intencionalmente para

esse fim. Não confundir com agentes biológicos, que são oriundos de

microorganismos vivos e suas toxinas.

2.3.3 ESPARGIDORES DE AGENTES QUÍMICOS

Os espargidores são artefatos usados para dispersar agentes químicos no

ambiente. Os mais comuns usados no Brasil são a Oleoresina de Capsaicina (OC) e

a Ortoclobenzalmalononitrilo (CS). Para serem adquiridos, é necessário haver

autorização do Exército Brasileiro, por se tratar de produto controlado, de acordo

com o R-105 (Regulamento para Fiscalização de Produtos Controlados).

O CS é um produto químico sintético apresentado na forma de

micropartículas sólidas que em diversas concentrações, forma o misto químico ou a

solução lacrimogênea. É classificado como um agente irritante, lacrimejante e

esternutatório (que causa espirros). O efeito inicia-se de 3 a 10 segundos após o

contato inicial, e causa lacrimejamento intenso, espirros, irritação da pele, das

mucosas e do sistema respiratório. Não surte efeito contra animais e pode não ser

eficaz contra pessoas alcoolizadas ou drogadas. Causa contaminação em roupas e

materiais absorventes. Normalmente após 10 minutos os efeitos da atuação do CS

desaparecem.

O agente lacrimogêneo CS, por ser um produto químico agressivo, deve ser

utilizado em concentrações adequadas, por profissionais treinados, em locais

abertos e arejados. É recomendável o uso de máscara contra gases. Usar sempre a

favor do vento. O CS é persistente e devido à sua dispersão em micropartículas é

de difícil remoção. Em ambientes úmidos o efeito se potencializa e dura por longo

tempo.

Este produto só pode ser utilizado por pessoas legalmente habilitadas e

treinadas. Se empregado de forma inadequada, pode causar lesão grave ou morte e

ainda provocar danos ao patrimônio e ao meio ambiente.

28

2.3.4 SPRAY DE ESPUMA PIMENTA – GL 108/E

Foi desenvolvido objetivando atender a operações onde se deseja

incapacitar pessoas de forma direcionada, sem contaminar o ambiente e as demais

pessoas presentes no local. O gás pimenta ou spray de pimenta, como é conhecido

pelo público em geral na verdade se chama OC, sigla de Oleoresin Capsicum,

extraído da pimenta e é um agente lacrimogênio (composto químico que irrita os

olhos e causa lacrimejo, dor e mesmo cegueira temporária) usado pelas forças de

segurança para controle de distúrbios civis e, em alguns países, para defesa

pessoal:

Figura 01: Espargidor GL 108/E

O espargimento do agente pimenta na forma de espuma direcionada e não

em dispersão cônica como nos sprays tradicionais, concentra seus efeitos na

ardência sobre a pele e fechamento involuntário dos olhos, sendo portanto o aqui

apresentado como o ideal para utilização no serviço policial.

A irritação das vias respiratórias é consideravelmente menor, o que

possibilita sua utilização em ambientes fechados, especialmente em locais nos

quais a contaminação de pessoas não envolvidas seja altamente indesejável, como

é o caso de ambientes hospitalares ou shopping centers.

Deve ser acionado respeitando a distância mínima de 1 metro, diretamente

contra a face do agressor. Bastam um ou dois jatos de 0,5 a 1 segundo para

incapacitar o agressor imediatamente. Os efeitos do OC geralmente duram em torno

29

de 40 minutos e podem ser minimizados lavando com água em abundância e sabão

neutro a região atingida.

2.3.5 ASPECTOS LEGAIS

O artigo 5º da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 diz

que “Ninguém será submetido à tortura nem a tratamento ou castigo cruel,

desumano ou degradante”. Este artigo nos leva a seguinte reflexão: “O que poderia

gerar o mau uso de equipamentos não-letais?” Nas entrelinhas, está implícito que

agentes despreparados poderiam causar muito sofrimento às pessoas; poderiam

submetê-las a castigos absolutamente desnecessários, levando-as inclusive à

morte. Alguém duvida? Portanto, o agente operador deve usar o equipamento com

responsabilidade, tendo sempre em mente que apesar do nome não-letal, o risco

existe e o uso desnecessário fere Normas Internacionais, bem como se usado de

forma incorreta pode levar quem sofre a ação à morte.

Os equipamentos não-letais são de uso controlado, cabendo ao Exército

Brasileiro tal circunspecto. O REGULAMENTO PARA A FISCALIZAÇÃO DE

PRODUTOS CONTROLADOS (R-105) - Nova redação do Regulamento aprovado

pelo Decreto nº 1.246-36, o DECRETO Nº 55.649 - DE 28 DE JANEIRO DE 1965

define os órgãos de fiscalização em seu Art. 9º. Os órgãos de fiscalização direta dos

produtos controlados pelo Ministério do Exército são os Serviços de Fiscalização de

Produtos Controlados (SFPC). A Diretoria de Fiscalização de Produtos Controlados

(DFPC) e os SFPC têm uma ação administrativa ostensiva, atual e dinâmica, a

serviço do Departamento de Material Bélico.

Compete ainda, a fiscalização da estruturação e do funcionamento das

fábricas civis de armas, munições, petrechos, pólvoras, explosivos e seus

elementos e acessórios, para fins militares, as quais para existirem, deverão ter sido

para isso autorizadas. Compete também a fiscalização da estruturação e do

funcionamento das fábricas civis de armas, munições, pólvoras, explosivos e seus

elementos e acessórios, para fins civis, regulando o registro, a produção, o comércio

e o transporte desses produtos.

Ainda, pelos Princípios Básicos sobre a Utilização da Força e de Armas de

Fogo pelos Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei adotados pelo Oitavo

30

Congresso das Nações Unidas para a Prevenção do Crime e o Tratamento dos

Delinquentes, realizado em Havana, Cuba, de 27 de Agosto a 7 de Setembro de

1990, em suas disposições, sempre que o uso legítimo da força ou de armas de

fogo seja indispensável, os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem:

a) Utilizá-las com moderação e a sua ação deve ser proporcional à gravidade da

infração e ao objetivo legítimo a alcançar; b) Esforçar-se por reduzirem ao mínimo

os danos e lesões e respeitarem e preservarem a vida humana; c) Assegurar a

prestação de assistência e socorros médicos às pessoas feridas ou afetadas, tão

rapidamente quanto possível; d) Assegurar a comunicação da ocorrência à família

ou pessoas próximas da pessoa ferida ou afetada, tão rapidamente quanto possível.

Considerando que todo agente de segurança pública que, em razão da sua

função, possa vir a se envolver em situações de uso da força, deverá portar no

mínimo 2 (dois) instrumentos de menor potencial ofensivo e equipamentos de

proteção necessários à atuação específica, independentemente de portar ou não

arma de fogo, conforme prevê a PORTARIA INTERMINISTERIAL nº 4.226, DE 31

DE DEZEMBRO DE 2010, a qual Estabelece Diretrizes sobre o Uso da Força pelos

Agentes de Segurança Pública, o uso de espargidor é aqui apresentado como

material indispensável pelo seu efeito de neutralização como o ideal a ser utilizado

por todo policial no desenvolvimento da atividade rotineira do policiamento ostensivo

geral.

2.3.6 ESPARGIDOR NO POLICIAMENTO OSTENSIVO GERAL

Policiamento ostensivo, de competência da Polícia Militar, são todos os

meios e formas de emprego da Polícia Militar, onde o policial é facilmente

identificado pela farda que ostenta, como principal aspecto e de equipamentos,

aprestos, armamento e meio de locomoção, para a preservação da ordem pública,

observando critérios técnicos, táticos, variáveis e princípios próprios da atividade,

visando à tranquilidade e bem estar da população.

A Polícia Militar, força pública estadual deve dar à comunidade a sensação

de segurança pela certeza de cobertura policial militar. Para obter este resultado, as

ações e operações desenvolvidas deverão ser descentralizadas ao máximo,

31

alocando-se frações de tropa próximas às coletividades, de forma a facilitar ao

máximo o acesso do público. Neste aspecto, ocupa relevante papel a sua maior

fração destinada ao serviço policial militar, que é o Posto de Policiamento

Comunitário - PPC. Este, quando instalado em locais com demanda crítica, contribui

para o aumento qualitativo da capacidade do policiamento ostensivo. Os esforços

empreendidos devem visar o atendimento dos anseios e aspirações da comunidade

ordeira, bem como proporcionar maior sensação de segurança e maior rapidez nas

respostas, proporcionando-lhe melhor qualidade de vida. Os recursos humanos e

materiais também deverão ser judiciosamente empregados, dando-se ênfase à

produção de informações de segurança pública que permitam conhecer, com

oportunidade, os locais de risco. A presença do policiamento nos locais

selecionados simboliza a resistência da comunidade às ameaças contra sua

segurança e, em especial, à transgressão da lei e o seu desejo de que a Ordem, o

Direito e a Justiça sejam preservados.

O policiamento bem planejado, executado com inteligência e criatividade,

propicia uma redução drástica dos índices de criminalidade e violência e

consequentemente, transmite tranquilidade à população, proporcionando melhor

qualidade de vida. Um comandante não deverá divulgar publicamente, que está com

insuficiência de efetivo ou de meios materiais, para empreender o policiamento

ostensivo. Isto é assunto administrativo, de âmbito interno e sua propagação afetará

negativamente a segurança subjetiva.

Ao relatar uma ocorrência, realizar uma busca pessoal, vistoriar uma

edificação, isolar ou congelar uma área, desviar o trânsito de uma via, autuar um

infrator ou efetuar uma prisão, estará no exercício de uma competência que lhe é

atribuída por lei, ancorada na constituição federal. Diante de ilícitos, o policial tem a

missão constitucional, portanto, de agir. Quando da ocorrência de reações, através

do uso progressivo da força o policial irá neutralizar as injustas agressões à terceiros

ou à própria equipe policial.

O policial deverá ter em seu cinto de guarnição os equipamentos

necessários para ação imediata, tendo a maior gama de possibilidades ao seu

alcance. Atualmente, contudo, os policias fazem uso de equipamentos de forma

errônea. Espargidores são adquiridos de maneira incorreta por falta de

conhecimento dos policias quanto ao controle. Espargidores, sendo equipamentos

de uso controlado, devem ser comprados em empresas credenciadas, que

32

obedecem aos padrões de qualidade e percentuais de agentes químicos nos

produtos. Cada Policial deveria ter o espargidor de espuma a seu alcance durante o

atendimento de ocorrências. Sendo o espargidor de espuma o ideal para a utilização

no Policiamento Ostensivo Geral, por incapacitar apenas o agressor, não se

dispersando no ambiente, e desta forma, não atingindo os próprios milicianos ou

ainda terceiros inocentes. É também, um material fácil de ser utilizado, pois é

pequeno e prático para se ter no cinto de guarnição individual.

33

3. METODOLOGIA

Esta pesquisa é de caráter qualitativo, uma vez que, como cita Bauer (2002,

p. 23) “lida com interpretação das realidades sociais”. A educação policial deve ser

pesquisa cientificamente para que possa atender a todas as necessidades

educacionais e as profissionais já citadas.

Entendemos ainda que por pretender “explicar um problema a partir de

referências teóricas publicadas” (RAMPAZZO, 2005, p. 53) trata-se de uma pesquisa

bibliográfica que também apresenta características de uma pesquisa-ação por ter a

vontade de “solucionar um problema coletivo.” (LUDWIG, 2009, p. 60). Para

corroborar com nosso pensamento, referente às características dessa pesquisa-

ação, citamos também Appolinário (2004, p. 151-152, grifo do autor) o qual identifica

que a pesquisa-ação é uma “modalidade de pesquisa aplicada cujo objetivo básico é

o de resolver, através da ação, algum problema coletivo no qual os pesquisadores e

sujeitos da pesquisa estejam envolvidos de modo cooperativo e participativo”.

A pesquisa bibliográfica ocorreu em laboratório, através de documentos

existentes sobre a educação policial; os fatores de risco e os de proteção presentes

nessa atividade laboral. Pesquisamos ainda a resiliência, a terminologia, a

aplicação, a origem do termo, o uso do construto por outras áreas do conhecimento,

o estado da arte e outros pontos que colaboraram na compreensão e pretensão de

aplicabilidade dela como fator de proteção.

Quanto à apresentação dos elementos adotamos nessa monografia o

modelo de apresentação por itens, em detrimento à apresentação textual. Sentimos

a forma adotada mais didática, de maior clareza e riqueza para a percepção das

necessidades metodológicas propostas.

34

CAPITULO II

A PESQUISA

4. UNIDADE PESQUISADA

A pesquisa de campo foi realizada com policiais militares do 23º Batalhão de

Polícia Militar, mais especificamente os pertencentes na atividade operacional no

Policiamento Ostensivo Geral.

Tabela 1. Efetivo atual do 23º BPM:

TENENTE-CORONEL 1

MAJOR 2

CAPITÃO 2

1º TENENTE 0

2º TENENTE 2

ASPIRANTE 4

SUBTENENTE 0

1º SARGENTO 1

2º SARGENTO 4

3º SARGENTO 10

CABO 6

SOLDADO 157 Fonte: P/1 do 23º BPM.

Tabela 2. Efetivo da PMPR pesquisado:

Categorias Oficiais Sargentos cabo Soldados

nº pesquisado 1 3 2 24

35

A pesquisa foi realizada com policiais pertencentes ao 23º BPM, que atuam

predominantemente na atividade operacional, que se envolvem em ocorrências onde

se faz necessário o uso progressivo da força. A amostra da pesquisa é de 15,88%

do efetivo do Batalhão.

Para realização da pesquisa foi elaborado um questionário (anexo 1), que foi

aplicado com a autorização do Comandante do 23º BPM, e de seus comandantes

imediatos, dando-lhes ciência do tema da monografia, e solicitando abertura para

coleta dos dados necessários.

O questionário compõe-se de 13 perguntas sendo:

- 3 perguntas de ordem pessoal e de identificação;

- 2 perguntas sobre conhecimento dos espargidores (perguntas 3 e 8);

- 4 perguntas sobre situaçções já vivenciadas (perguntas 1, 4. 5 e 6);

- 2 perguntas objetivas com a intenção de comprovar os efeitos psicológicos

e fisiológicos que ocorreram com o indivíduo que foi submetido à utilização do

espargidor por parte do policial militar em situação de extremo estresse, tendo como

objetivo principal, portanto, verificar a existência desses fenômenos e com que

freqüência eles ocorreram (perguntas 7 e 10);

- 1 pergunta quanto à origem do material (pergunta 2);

- 1 pergunta quanto à importância do material (pergunta 9).

Primeiro foi feito um levantamento dos policiais do 23º BPM .

Posteriormente, foram esclarecidas as dúvidas sobre o trabalho aos

policiais, assegurando aos mesmos o anonimato sobre todas as informações

prestadas no trabalho.

Por fim, foi aplicado o questionário e em seguida recolhido o material para

análise.

36

ANEXO 1

UTILIZAÇÃO DE ESPARGIDORES

Qual seu nome - Posto/Graduação? Quanto tempo de serviço? Qual seu Setor de trabalho?

1. Você já utilizou espargidor de pimenta ou CS em atividade operacional?

Sim ( ) Não ( ) 2. O material foi adquirido de que maneira?

Recursos Próprios ( ) Corporação ( )

3. Você possuía conhecimento de que Espargidor é material de uso controlado e não pode ser comprado sem autorização do EB? Sim ( ) Não ( )

4. Qual tipo de espargidor você fez uso?

CS ( ) OC ( ) pimenta 5. Espuma ou jato pulverizador?

Jato pulverizador ( ) Espuma ( ) 6. Em que ocasião foi utilizado o espargidor?

Atendimento de Ocorrência ( ) Evento ( )

7. Foi suficiente para neutralizar o agressor? Sim ( ) Não ( ) Explique_____________________________________

8. Você recebeu Treinamento para utilização de Espargidores?

Sim ( ) Não ( )

9. Considera importante a utilização de espargidores no POG? Sim ( ) Não ( )

10. Qual foi o efeito do espargidor no agressor?

Cessou a agressão ( ) Investiu com maior intensidade contra a equipe ( )

37

4.1 GRÁFICOS DOS RESULTADOS DA PESQUISA DO ANEXO 1, SOBRE

UTILIZAÇÃO DE ESPARGIDORES

01) Você já utilizou espargidor de gás pimenta ou CS em atividade operacional?

% de Policiais

O gráfico acima demonstra em porcentagens os policiais militares que já

fizeram uso de espargidores em atividade operacional, seja ela em eventos, em

operações ou durante realização de atendimento de ocorrências. Foi utilizado o

gráfico de barras, pois os policiais consultados tinham a opção de assinalar SIM ou

NÃO. Pode-se perceber que metade dos policiais consultados já fizeram uso do

espargidor de pimenta em sua atividade laboral. Um dado relevante para a pesquisa,

é de que 74% que não fizeram uso do espargidor são policiais com até 5 anos de

serviço, os quais possuem instrução e conhecimento de que a compra do material

não deve ser pessoal e feita em qualquer loja.

50%

50%

0%10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90%

100%

SIM NÃO

38

02) O material foi adquirido de que maneira? 

86%

14%

Recursos próprios

Corporação

Este primeiro gráfico demonstra que 86% dos policiais que já fizeram uso de

espargidor obtiveram o material não-letal de iniciativa própria, com recursos

particulares para a compra do material a ser utilizado no desenvolvimento e

desempenho do serviço Policial Militar, com o intuito de ter uma ferramenta a mais.

14% da amostra pesquisada elencou que fez uso de espargidores comprados com o

devido processo legal pela Corporação, sendo que os eles utilizaram tais materiais

em decorrência de terem sido empregados nas manifestações ocorridas na metade

do ano de 2013 no bairro Centro Cívico, na cidade de Curitiba, dando apoio à tropa

de CHOQUE do Batalhão de Operações Especiais na contenção da turba durante os

Distúrbios que ocorreram, não sendo portanto, estes espargidores adquiridos pela

PMPR com a finalidade de ser usado no Policiamento Ostensivo Geral.

39

03) Você possuía conhecimento de que Espargidor é material de uso ontrolado e não pode ser comprado sem autorização do Exército? c

57%

43%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90%

100%

Este segundo gráfico demonstra em porcentagens o conhecimento do

Policial a respeito do material, o qual é de uso controlado, cabendo ao Exército

Brasileiro a autorização para a compra e fiscalização das empresas que são

licenciadas para comercializar o produto. Foi utilizado o gráfico de barras.

57% respondeu que possuía conhecimento de que o material é de uso

controlado, sendo que apenas 2 pessoas das que nunca fizeram uso de

espargidores não sabia que cabia ao Exército tal controle deste tipo de material não-

letal.

40

04) Qual tipo de espargidor você fez uso?

100% 100% 90%

80%

70%

60% 50%

40%

30%20%

10%0%

CS OC

O gráfico acima demonstra em porcentagens a utilização de espargidores CS,

OC e por último a percentagem dos policiais que nãi fizeram uso do material.

Observamos que 50% dos policiais nunca fizeram uso do material, portanto

não utilizaram nem o CS nem tampouco o OC (pimenta). 13% dos milicianos fizeram

uso do CS, sendo que foi o de espuma o qual foi fornecido pela Corporação em

manifestações, e os outros 37% fizeram uso do OC, gás pimenta comprado de

forma irregular, os quais não foram devidamente controlados pelo Exército Brasileiro

e são vendidos em sítios da internet ou ainda em lojas no Brasil e em outros países,

as quais não possuem autorização para a venda do produto ou fiscalização por parte

da autoridade competente.

41

05) Qual tipo de espargidor você fez uso?J ato pulverizador ou espuma.

100% 90% 80%

80%

70%

60%50%40%

30% 20%20%

0% 10%

Jato pulverizador

Espuma

Dos policiais que utilizaram o espargidor, apenas 20% fizeram uso do material

ideal para a atividade policial, que é o de espuma. Quando utilizados, foram

comprados pela Corporação parta as manifestações, justamente por atingir apenas

a quem se destina a aplicação da técnica não-letal. Vimos, todavia, que a visão

Institucional até o presente momento visa apenas a utilização em ocorrências

essencialmente de emprego de Polícia de CHOQUE.

42

06) Em que ocasião foi utilizado o espargidor?

80%

20%

0% 10%

20%30%

40%50%60%

70%80%

90%100%

Atendimento de Ocorrência

Evento

Um pequeno grupo de 20% deu um parecer positivo quando a utilização em

eventos, o qual como já explanado é de fundamental importância e já é de doutrina

de emprego padrão PMPR a nível Estadual seu emprego. Outros 80% já fizeram

utilização em ocorrências, quando no atendimento de situações de rádio

patrulhamento, evidenciando a necessidade do uso correto e do material certo para

o Policiamento Ostensivo .

43

07) Foi suficiente para neutralizar o agressor?

87%

13%

0% 10%

20%30%

40%50%60%

70%80%

90%100%

Sim

Não

A maioria constatou que a a utilização apenas da técnica não-letal com uso

de espargidor foi suficiente para neutralizar a ação do agressor contra a própria

polícia ou contra terceiros: 87%. Dentre estes, além da dispersão de indivíduos,

obtivemos resposatas tais como cessou a agressão imediatamente, que o indivíduo

passou a acatar as ordens verbais, o que ressalta o espargidor como ferramenta

ideal para o Policiamento Ostensivo Geral em sintonia com o progressivo uso da

força. Em relação aos 13% que disseram que não foi suficiente para cessar a

agressão, verificamos que um dos policiais pesquisados relatou que o jato foi fraco

não causando o efeito a que se destinou. Ao analisarmos, verificamos que o policial

utilizou nesta ação em específico, o espargidor de OC de jato pulverizador, ou seja,

o material que não é o indicado pelas razões já citadas anteriormente.

44

--------------------------------------------------------------------------------------------------------

-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------

-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------

-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------

------------------------------------------------------------

08) Você recebeu treinamento para utilização do espargidor?

100% 90%

80% 70%

70%

60%50%40% 30%30%20%

10%0%

Não Sim

Como resultado desta pergunta, obtivemos infelizmente, o percentual de que

70% dos policiais não tiveram treinamento para a utilização de espargidores,

mostrando assim a necessidade da preocupação institucional de educação e

treinamento. Durante a pesquisa de campo, foi possível vereficar o interesse da

tropa quanto a profissionalização, no sentido de receberem o material e instruções

para terem conhecimento da legislação e da maneira correta de utilizar as armas

não-letais. Realmente era essa a expctativa da pesquisa, pois despertou no efetivo a

vontade de buscar novas tecnologias no desenvolvimento das suas atividades

laborais.

45

09) Considera importante a utilização de espargidores no POG?

90%100% 90%

80%

70%

60%50%40%

30%20% 10%

10%0%

Sim Não

O objetivo dessa pegunta é comprovar a acuidade que o efetivo dá à

utilização de técnicas não-letais. Apenas 10% demonstrou que acredita que os

espargidores não são necessários, porém ao analisarmos os demais quesitos

respondidos por estes miliatares, verificasse que estes não possuem instruções

quanto à legalidade e até mesmo quanto ao material correto para a utilização, pois

apenas conheciam o espargidor de jato pulverizador.

46

10) Qual foi o efeito do espargidor no agressor?

100% 90% 80%

80%

70%

60%50%40%

20%30% 20%

10%0%

Investiu com maior intensidade Cessou a agressão

80% do grupo que fez uso do espargidor respondeu que a agressão foi

cessada com a utilização desta ferramenta. Dos 20% que responderam que o

indivíduo investiu contra a equipe com maior intensidade, verificamos que 10%

utilizou o espargidor de jato pulverizador, o qual facilmente se dispersa no ambiente.

Os outros 10% utilizaram o espargidor de espuma em manifestações, onde de fato

os ânimos estão bem alterados e o indivíduo que está na turba se utiliza do

anonimato, do contagio e da imitação da massa, e pratica ações que se estivesse

sozinho não faria justamente pela certeza da punição.

Ainda, comparando os dados obtidos nessa pergunta, com o tempo de

serviço do policial entrevistado, pode-se estabelecer uma relação direta entre, o

tempo de serviço com o nivel de ansiedade sentido pelo policial militar. Quanto

menos o tempo de serviço, maior o nivel de ansiedade. Mesmo com o alto nivel de

treinamento e condicionamento para situações de alto risco, a experiência adquirida

pelo policial com o passar dos anos, mais tranquilo ele fica para enfrentar situações

de extremo perigo e estresse.

47

5. CONCLUSÕES

A passada e ainda atual “formação” policial apresenta relevantes

conhecimentos quanto aos aspectos técnicos, que a atividade profissional de polícia

requer. Entretanto, a formação cidadã encontra-se em processo de

aperfeiçoamento, dessa forma apresentamos a necessidade urgente de uma

mudança de comportamentos, começando pela substituição na nomenclatura que

será importante para a percepção e pretensão educativa. Não podemos somente

formar policiais, devemos educar o policial. Propomos falarmos sempre em

Educação Policial, termo adequado à real necessidade pedagógica do ensino

policial, objetivando melhora nas condições de trabalho, no reconhecimento da

atividade policial e na evidência da cidadania para o próprio ser humano policial.

Assim a educação policial deve levar ao desenvolvimento completo e

integral do ser humano policial. Deve propiciar ao ser humano que optou pela

carreira policial a autonomia necessária para o enfrentamento pessoal, social e

profissional das situações adversas que encontrará no dia-a-dia do desenvolvimento

de sua atividade profissional. Nessa esteira aproveitamos a afirmativa de Juan

Delval, o qual nos esclarece que toda educação cidadão deve propiciar o estudante

à compreensão da “necessidade de regras, de suas prescrições e de sua

idoneidade, para dessa forma atingir a autonomia de conduta.” (DELVAL, 2006, p.

59).

Precisamos entender aqui que há grande diferença em um policial com

autonomia para um policial com heteronomia. Levando-se em conta a esfera de

competência individual, um policial com autonomia terá recursos, advindos de uma

adequada educação policial, para agir eficaz e eficientemente diante das mais

variadas e complexas condições que a carreira policial lhe apresentará. Um policial

com heteronomia precisará de auxílio para tomar essas decisões, mesmo dentro da

sua área de responsabilidade. Não queremos passar a ideia prepotente de auto-

suficiência, mas sim de capacidade de saber o que fazer e fazer isso de forma

adequada, sem prejuízo às partes envolvidas.

Essa autonomia faz parte da própria filosofia de policiamento comunitário,

que prevê a autoconfiança para tomar decisões assertivas como um fator de

48

proteção para o policial. Com certeza essa possibilidade de agir de forma correta,

coerente e certa, dentro dos princípios de legalidade, ética e responsabilidade, torna

o policial comunitário um aliado da sociedade.

A filosofia de polícia comunitária já é atitude presente nas relações e ações

dos policiais com a sociedade, entretanto ainda enfrentamos resistências internas à

sua aplicação. A explicação está na relação bioecológica do ambiente-sujeito que

temos em nossas instituições, da educação policial à rotina diária. Nosso policial não

vive uma situação de atenção comunitária dentro da instituição, então ele tem

dificuldade para perceber o quanto esse comportamento é eficaz à atividade de

policiamento em prol da segurança pública.

Devemos tratar nossos policiais da forma como queremos que ele trate a

sociedade, com atenção, respeito e atendimento a todas as necessidades que

estiverem ao nosso alcance. Quando agirmos assim, tratando o policial como

cidadão pleno de direitos e deveres, estaremos praticando polícia comunitária com o

próprio policial. Uma palavra comove, mas um exemplo arrasta.

Essa mudança de comportamento nada mais é do que tratar o policial com

respeito, tratando como um ser humano e não apenas como um número.

Constatamos essa necessidade de mudança de comportamento interno à

medida que verificamos as deficiências atuais da educação policial, a qual já está

em fase de reformulação. Prova disso é a proposição pela Secretaria Nacional de

Segurança Pública do Ministério da Justiça (SENAS/MJ) da matriz curricular

nacional (MACUNA).

A MACUNA percebe o policial como ser humano, em desenvolvimento

integral e completo, em processo de educação. Verificamos a preocupação em

propiciar uma educação policial de qualidade na matriz.

Dentro de perspectivas atualizadas da pedagogia moderna a MACUNA

evidencia o estudante policial com um ser ativo, que pensa, pesquisa e aplica

conhecimentos científicos de várias áreas do conhecimento humano em prol de uma

qualificação profissional, buscando em primeiro plano a valorização do profissional

de segurança pública e em seguida o reconhecimento das instituições policiais e da

atividade de polícia em si.

As propostas da MACUNA apresentam a necessidade do sistema de ensino

policial perceber as necessidades dos seus discentes, através de uma malha

curricular flexível adaptável às peculiaridades de cada instituição policial.

49

Vemos a abordagem bioecológica de Bronfenbrenner presente já na

educação policial, diante da preocupação da MACUNA com a dicotomia policial-

meio. O Brasil é um país conhecido pela sua extensão territorial, que propicia

inúmeras culturas, tradições e comportamentos diferentes. Isso é tão forte que

temos vários sotaques para uma mesma língua portuguesa. Assim como os

sotaques são locais, locais também os são os problemas e as dificuldades da

segurança pública, logo a educação policial também deve ser assim, com uma

matriz para dar um mote, mas com a possibilidade de ter seus próprios “sotaques”.

Ao contrário das especificidades da educação policial, os fatores de risco

(FRs) a que estão expostos os policiais tornam-se praticamente universais. Dos FRs

externos às instituições aos internos, percebemos várias coincidências.

Quanto aos externos enfatizamos o abuso de drogas e a violência como

sendo os principais FRs que atuam na relação do policial com a sociedade,

interferindo e prejudicando fortemente essa relação.

Não podemos, nem devemos ignorar a existência da dependência entre

policiais, fazê-lo é tentar não enxergar o que nossos olhos estão vendo, é querer

não escutar o que nossos estão ouvindo, é calar quando precisamos falar!

E nessa fala devemos nos perguntar: o que há de errado?

A ausência de políticas de prevenção ao abuso de drogas dentro de nossas

instituições policiais se apresenta como FR potencial à dependência por policiais.

Enfatizamos que os levantamentos oficiais apresentam apenas a ponta do problema,

esse iceberg, infelizmente, é maior do que oficialmente temos registrado. Esse é um

comportamento reflexo da própria sociedade brasileira que mascara as questões

afetas à doença epidêmica chamada dependência.

A violência, tão presente, na nossa sociedade torna-se motivo de

preocupação e FR aos policiais quando banalizada e naturalizada. São pequenos

gestos diários, aparentemente inofensivos, mas que retratam a atual disseminação

da violência. Quando não reconhecemos direitos fundamentais e a própria cidadania

do ser humano policial institucionalizamos a violência e a tornamos aceita.

De fora vamos para dentro das instituições e vemos que os FRs também são

inúmeros, principalmente aqueles que afetam diretamente a saúde mental dos

nossos policiais. Dos vários citados centramos nossas percepções em dois: na

ausência de efetivo para a atividade fim, que resulta em vários problemas; e nas

atividades-extras que expõe o policial.

50

Quanto à falta de efetivo afirmamos que há um descaso do Estado em

relação à profissão. Como um policial será valorizado senão percebe preocupação

pela própria administração policial quanto a um tratamento humanizado de seus

próprios policiais?

Nosso policiais trabalham mais do que o recomendável para realizar o

policiamento necessário e atender às demandas da sociedade, quanto à segurança

pública. O ter que ser feito, como escutamos, não paga a saúde mental dos seres-

humanos policiais que ficam à mercê da própria sorte, de quando for possível

acontecer uma folga a mais. Se os quadros organizacionais fossem cumpridos de

acordo com o que as leis estabelecem esse seria um primeiro passo rumo à uma

verdadeira valorização profissional.

Às vezes a administração deixa de educar adequadamente seus

profissionais de segurança pública, principalmente através de uma educação

continuada, devido à falta de policiais, ou seja, ou colocamos os policiais na rua,

para fazer policiamento, ou fazemos educação continuada. É vergonhoso, mas há

policiais que nunca passaram por uma reciclagem e já tem mais de dez anos desde

sua escola de formação.

Os problemas vividos por policiais são percebidos nessa pesquisa como FRs

que comprometem a qualidade de vida, pessoal e profissional, dos policiais, bem

como deixa de propiciar a valorização profissional adequada, que a maestria da

atividade laboral de policial requer, bem como a perfeita instrução de táticas e

técnicas policiais para um aperfeiçoamento constante. Mesmo que não existam

soluções imediatas há necessidade de nós os revelarmos e pensarmos juntos os

melhores fatores de proteção para que possamos conviver com eles da melhor

maneira possível.

Os FRs da profissão policial, como vimos, são inúmeros, então temos que

propiciar, já na educação policial inicial, fatores de proteção que possam fazer frente

e auxiliar para um adequado desenvolvimento da atividade profissional de

segurança pública.

Pensando assim apresentamos nesse trabalho a resiliência como um fator

de proteção promissor para a atividade policial. Acreditamos que um comportamento

resiliente é fundamental para realizarmos a atividade policial e assim propiciarmos

condições de valorização e de reconhecimento profissional.

51

Um comportamento resiliente deve apresentar capacidade e possibilidade de

enfrentamento, superação e de adaptação frente à exposição a FRs. Dessa forma

há condição de sairmos de situações adversas sem manifestações negativas em

nossos comportamentos.

Para que esse comportamento resiliente faça parte do rol de fatores de

proteção do policial se faz necessário que ele seja um conhecimento propiciado e

evidenciado e principalmente significativo pois:

[...] o aluno aprende um conteúdo qualquer – um conceito, uma explicação de um fenômeno físico ou social, um procedimento para resolver determinado tipo de problemas, uma norma de comportamento, um valor a respeitar, etc. – quando é capaz de atribuir-lhe um significado. (SALVADOR, 1994, p.148).

Esse aprendizado significativo da resiliência acontecerá através de

conteúdos programáticos que evidenciem o eu tenho, eu sou, eu estou e o eu posso

para os policiais. Garantindo assim autonomia, autoestima, autovalorização, enfim a

própria resiliência.

As percepções pessoais resilientes citadas acima evidenciam a importância

da presença da resiliência como fator de proteção. À medida que potencializamos e

empoderamos nossos policiais a agirem assim possibilitamos condições mais

humanas e cidadãs, valorizando-o profissional e pessoalmente.

Finalmente temos consciência que essa necessidade de mudanças no

ensino policial objetiva uma educação policial adequada à realidade que o ser

humano policial enfrenta em seu dia-a-dia. A busca de uma valorização profissional

passa, acima de tudo, pela qualificação educacional que esse agente de segurança

pública terá para mediar nas ocorrências que, com toda certeza, se deparará.

Capacitar o ser humano policial de forma adequada é garantir-lhe a própria

cidadania, dando-lhe além de instruções constantes, meios de trabalho adequados,

com equipamentos usuais e que até mesmo não são tão dispendiosos, mas que

utilizados de maneira correta, comprados e distribuídos pelo Estado a cada policial,

têm maiores e melhores condições de atender bem a população a qual servimos.

52

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