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Anais do VIII Congresso Brasileiro de Turismo Rural e I Colóquio Internacional de Pesquisa e Práticas em Turismo no Espaço Rural, Rosana - SP, 10-13 de novembro de 2013. v.1. p. - A. K. C. Delgado. POLÍTICAS PÚBLICAS DO TURISMO NO ESPAÇO RURAL BRASILEIRO: UMA BREVE DISCUSSÃO TEORICA ANNA KARENINA CHAVES DELGADO Instituto Federal de Pernambuco - IFPE Campus Barreiros Professora do curso Técnico em Hospedagem [email protected] RESUMO - Este artigo objetiva discutir as políticas públicas. Primeiro enfatizando o seu conceito e forma de análise, baseado principalmente nos trabalhos de Meny e Thoenig (1989), Dye (2003), Parsons (2007), Dunn (2008) e Subirats (1993). O trabalho em questão também discute a importância das políticas públicas, destacando a visão das falhas de mercado como principais razões de desequilíbrio que levam a criação de um instrumento de controle via Estado. Dentro deste panorama a atividade turística surge, a princípio de forma pouco estruturada, mas logo em seguida é apropriada pelo discurso de que sua expansão consiste numa política redistributiva sendo portanto essencial para o desenvolvimento de localidades pouco favorecidas. Assim, o espaço rural que inicialmente foi totalmente excluído do processo de ‘desenvolvimento’ turístico passa a ser de forma ainda tímida incorporado em políticas públicas de turismo. Neste artigo pretende-se tecer breves considerações sobre o Programa Nacional da Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), Programa Nacional de Turismo Rural na Agricultura Familiar (PNTRAF) e o Macroprograma de Regionalização do Turismo (PRT) Roteiros do Brasil, criado pelo Ministério do Turismo. Palavras chave: Políticas Públicas, Avaliação, Turismo Rural, PRT, PRONAF. ABSTRACT - This article aims to discuss public policies. First emphasizing the concept and method of analysis based primarily on the studies of Meny and Thoenig (1989), Dye (2003), Parsons (2007), Dunn (2008) Subirats (1993). This article also discusses the importance of public policies, emphasizing the view of market failures as the main reasons of public policies creation. Within this panorama tourist activity arises, the principle of loosely structured, but then the speech is appropriate that its expansion is a redistributive policy is therefore essential for the development of less-favored locations. Thus, the rural area that was initially completely excluded from the process of 'development' tour becomes an even shy incorporated into public policies on tourism. In this article we intend to make considerations about the Programa Nacional da Agricultura Familiar (PRONAF), Programa Nacional de Turismo Rural na Agricultura Familiar (PNTRAF) and Macroprograma de Regionalização do Turismo (PRT) Roteiros do Brasil, created by the Ministry of Tourism. Key words: Public Policies, Evaluation, Rural Tourism, PRT, PRONAF. 1 INTRODUÇÃO As políticas públicas englobam um leque variado de ações que conforme o seu escopo podem ser consideradas extremamente necessárias, a exemplo das leis que se propõem a garantir o direito a vida ou igualdade de qualquer cidadão até aquelas consideradas por muitos desnecessárias ou até mesmo injustas, a exemplo de algumas políticas redistributivas do Governo que concedem bolsas a determinadas parcelas da população brasileira. Independente da análise de casos particulares, a necessidade das políticas públicas é reconhecida até mesmo por aqueles que acreditam na presença de um Estado mínimo, já que são essas ações dos órgãos públicos que garantem a ordem social. Utilizando-se de uma bibliografia composta principalmente por Meny e Thoenig (1989), Dye (2004), Parsons (2007), Dunn (2008) e Subirats (1993) são tecidas considerações sobre diversos aspectos de criação e avaliação das políticas públicas, enfatizando os diversos modelos de estudo adotados pelos autores em questão.

Politicas Publicas

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  • Anais do VIII Congresso Brasileiro de Turismo Rural e I Colquio Internacional de Pesquisa e Prticas em Turismo no Espao Rural, Rosana - SP, 10-13 de novembro de 2013. v.1.

    p. -

    A. K. C. Delgado. ,661

    POLTICAS PBLICAS DO TURISMO NO ESPAO RURAL

    BRASILEIRO: UMA BREVE DISCUSSO TEORICA

    ANNA KARENINA CHAVES DELGADO

    Instituto Federal de Pernambuco - IFPE

    Campus Barreiros Professora do curso Tcnico em Hospedagem

    [email protected]

    RESUMO - Este artigo objetiva discutir as polticas pblicas. Primeiro enfatizando o seu conceito e

    forma de anlise, baseado principalmente nos trabalhos de Meny e Thoenig (1989), Dye (2003), Parsons

    (2007), Dunn (2008) e Subirats (1993). O trabalho em questo tambm discute a importncia das polticas

    pblicas, destacando a viso das falhas de mercado como principais razes de desequilbrio que levam a

    criao de um instrumento de controle via Estado. Dentro deste panorama a atividade turstica surge, a

    princpio de forma pouco estruturada, mas logo em seguida apropriada pelo discurso de que sua

    expanso consiste numa poltica redistributiva sendo portanto essencial para o desenvolvimento de

    localidades pouco favorecidas. Assim, o espao rural que inicialmente foi totalmente excludo do

    processo de desenvolvimento turstico passa a ser de forma ainda tmida incorporado em polticas pblicas de turismo. Neste artigo pretende-se tecer breves consideraes sobre o Programa Nacional da

    Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), Programa Nacional de Turismo Rural na Agricultura

    Familiar (PNTRAF) e o Macroprograma de Regionalizao do Turismo (PRT) Roteiros do Brasil, criado pelo Ministrio do Turismo.

    Palavras chave: Polticas Pblicas, Avaliao, Turismo Rural, PRT, PRONAF.

    ABSTRACT - This article aims to discuss public policies. First emphasizing the concept and method of

    analysis based primarily on the studies of Meny and Thoenig (1989), Dye (2003), Parsons (2007), Dunn

    (2008) Subirats (1993). This article also discusses the importance of public policies, emphasizing the

    view of market failures as the main reasons of public policies creation. Within this panorama tourist

    activity arises, the principle of loosely structured, but then the speech is appropriate that its expansion is a

    redistributive policy is therefore essential for the development of less-favored locations. Thus, the rural

    area that was initially completely excluded from the process of 'development' tour becomes an even shy

    incorporated into public policies on tourism. In this article we intend to make considerations about the

    Programa Nacional da Agricultura Familiar (PRONAF), Programa Nacional de Turismo Rural na

    Agricultura Familiar (PNTRAF) and Macroprograma de Regionalizao do Turismo (PRT) Roteiros do Brasil, created by the Ministry of Tourism.

    Key words: Public Policies, Evaluation, Rural Tourism, PRT, PRONAF.

    1 INTRODUO

    As polticas pblicas englobam um leque variado

    de aes que conforme o seu escopo podem ser

    consideradas extremamente necessrias, a exemplo das

    leis que se propem a garantir o direito a vida ou

    igualdade de qualquer cidado at aquelas consideradas

    por muitos desnecessrias ou at mesmo injustas, a

    exemplo de algumas polticas redistributivas do Governo

    que concedem bolsas a determinadas parcelas da

    populao brasileira.

    Independente da anlise de casos particulares, a

    necessidade das polticas pblicas reconhecida at

    mesmo por aqueles que acreditam na presena de um

    Estado mnimo, j que so essas aes dos rgos

    pblicos que garantem a ordem social.

    Utilizando-se de uma bibliografia composta

    principalmente por Meny e Thoenig (1989), Dye (2004),

    Parsons (2007), Dunn (2008) e Subirats (1993) so

    tecidas consideraes sobre diversos aspectos de criao e

    avaliao das polticas pblicas, enfatizando os diversos

    modelos de estudo adotados pelos autores em questo.

  • Anais do VIII Congresso Brasileiro de Turismo Rural e I Colquio Internacional de Pesquisa e Prticas em Turismo no Espao Rural, Rosana - SP, 10-13 de novembro de 2013 v1.

    A. K. C. Delgado. I661

    Entender a lgica de funcionamento das polticas

    pblicas fundamental. Os muitos mecanismos que

    influenciam na elaborao das polticas pblicas com

    questionamentos acerca das razes que fazem certos

    temas entrarem na agenda poltica e outros serem

    totalmente ignorados contribuem para um melhor

    entendimento sobre o funcionamento de determinados

    setores, a exemplo do turismo.

    A elaborao de polticas pblicas de turismo um

    fenmeno relativamente recente, o que leva a um

    questionamento sobre por que as entidades pblicas por

    tanto tempo desconsideraram o setor. Os marcos iniciais

    das polticas pblicas se preocupavam exclusivamente

    com a criao de estruturas regulatrias para o setor, aps

    esse perodo nota-se uma grande centralizao do

    planejamento turstico nas mos do Estado, passando-a

    para o mbito estatual e depois municipal.

    As polticas pblicas estruturantes do setor que

    encontravam-se centradas nas regies litorneas e nas

    capitais dos estados comeam a tomar uma nova direo

    rumo ao espao rural.

    Esse artigo pretende tecer breves consideraes

    sobre as polticas de turismo enfatizando como

    determinados tipos de turismo so amplamente

    privilegiados por aes do Governo enquanto outros so

    quase que esquecidos. Mostrando tambm, que apesar da

    nfase dada ao litoral pelas polticas pblicas j existem

    aes como o PNTRAF que visam incentivar novas

    formas de turismo.

    O artigo de natureza exploratria utilizando de

    um mtodo de pesquisa bibliogrfica para discutir as

    polticas pblicas de turismo.

    O estudo se encontra estruturado da seguinte

    forma: a primeira parte compreende discusses gerais

    sobre as polticas pblicas enfatizando seu processo de

    criao e a necessidade das mesmas, posteriormente so

    feitas consideraes sobre a evoluo das polticas

    pblicas de turismo e o surgimento da atividade turstica no ambiente rural, por fim, so feitas breves

    consideraes sobre o PRT-Roteiros do Brasil, PRONAF

    e PNTRAF.

    2 TURISMO RURAL E AGROTURISMO

    O fenmeno de segmentao do turismo inicia-se,

    principalmente, na dcada de 80 quando se percebe que

    apenas o turismo de massa, no conseguia responder as

    necessidades do contingente cada vez maior de turistas.

    Ansarah (1999) acredita que foram trs as principais

    razes para a segmentao do setor turstico. A primeira

    razo foi o posicionamento de marketing que mudou, estando este ainda mais voltado para a criao de

    produtos voltados para o encantamento do cliente e no

    simplesmente para a sua venda, a segunda foi a

    modificao do prprio cliente que passa a exigir mais

    das empresas e por fim, a recesso econmica dos anos 80

    exigindo uma maior criatividade por parte do produtor.

    Desta forma, segmentos tursticos como o

    ecoturismo, turismo de natureza, turismo de aventura,

    turismo no espao rural, turismo rural e agroturismo,

    surgem (em diferentes perodos e contextos) com o intuito

    de suprir a necessidade de fuga do ser humano do espao

    urbano. O ser humano constantemente agredido no espao

    urbano busca em paisagens no urbanizadas o equilbrio

    que no vivencia no cenrio catico das cidades.

    Os conceitos relativos a turismo rural e

    agroturismo so comumente confundidos. Rodrigues

    (2001), afirma que o turismo rural aquele associado a

    atividades agrrias que modificam nitidamente a

    fisionomia da paisagem, diferenciando-a das reas cuja

    marca persistente o seu grau de naturalidade. A

    atividade agrria pode estar ou no em curso, o que define

    o turismo rural na viso da autora a modificao da

    paisagem em decorrncia do processo de transformao

    do espao causada pela atividade agrria. Rodrigues

    (2001), Portuguez (1998), Roscoche e Carvalho (2006)

    ainda diferenciam o turismo rural do agroturismo. Na

    viso destes autores o agroturismo envolveria a

    participao efetiva dos turistas nas atividades foradas, ou seja, implica em atividades agrrias em curso com a

    participao efetiva do turista nas chamadas lidas presentes nas atividades agrrias.

    A discusso do turismo rural e agroturismo

    envolve tambm a compreenso do espao em que essas

    atividades esto inseridas. Traar uma linha que separe o

    espao urbano do espao rural no uma tarefa fcil, j

    que a prpria compreenso do rural x urbano no

    simples, o rural muitas vezes confundido com o urbano

    e vice versa.

    Veiga (2003) coloca que o Brasil bem mais rural

    do que se imagina, na sua concepo a definio de

    urbano utilizada no Brasil equivocada, isso porque

    durante o Estado Novo (1938) vrias localidades alaram

    a categoria de cidades sem possuir nem uma caracterstica

    (de ordem funcional ou estrutural) que as pudesse

    caracterizar como tal. Alm dos mtodos para a definio

    do urbano x rural serem obsoletos conforme afirma Veiga

    (2003), a imagem negativa associada a ruralidade que

    permeava a mente da sociedade durante os anos 60 e 701

    tambm pode ter contribudo para a definio de

    localidades rurais como urbanas. Alm do, mas, segundo

    Tulik (2003), atualmente existem vrias reas

    intermedirias que misturam caractersticas urbanas e

    rurais, que tornam ainda mais complexa a definio destas

    localidades como zonas urbanas ou rurais.

    Roscoche e Carvalho (2006) apontam uma

    possvel soluo para a definio de locais que misturam

    caractersticas urbanas e rurais, na viso dos autores deve-

    se pensar numa nova forma de associao entre o par

    aparentemente dialtico (rural x urbano), a esta

    conciliao Gilberto Freyre denomina rurbanizao.

    O espao das cidades parece transbordar para o

    espao rural, fazendo com que os espaos rurais ps-

    1 A imagem negativa est associada ao perodo de industrializao do Brasil. As indstrias e a urbanidade eram

    vistos como sinnimos do progresso enquanto a ruralidade era

    associada ao subdesenvolvimento.

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    A. K. C. Delgado. ,661

    modernos apresentem especificidades no percebidas em

    perodos anteriores, seja devido a modernizao dos

    processos agrcolas, a presena de indstrias ou at

    mesmo devido a presena de atividades produtivas ps-

    modernas como o turismo. O espao rural, especialmente

    aquele prximo a regies economicamente dinmicas ou

    grandes aglomerados urbanos, vem cada vez mais

    misturando caractersticas prprias dos ncleos urbanos

    com uma paisagem rural.

    O desenvolvimento do turismo nesses espaos no

    Brasil ocorre primeiramente na regio sul do pas

    conforme afirma Rodrigues (2001), o municpio de Lages

    em Santa Catarina pioneiro nesse segmento de turismo.

    Outros estados da regio sul comeam a desenvolver essa

    modalidade de turismo na dcada de 80.

    De acordo com Rodrigues (2001), as primeiras

    atividades de lazer no ambiente rural surgem como uma

    resposta a crise que assolava o setor produtivo, assim

    criado o dia de campo na Fazenda Pedras Brancas onde o visitante era recepcionado pela manh permanecendo

    at o anoitecer, participando de atividades relacionadas

    aos trabalhos agrcolas, a exemplo da colheita, plantio,

    tosa de animais, ordenha de vacas, etc. Rapidamente a

    ideia copiada por fazendas vizinhas que passam a

    oferecer alm das atividades ldicas o pernoite

    (hospedagem), criando assim, as primeiras fazendas-hotel.

    A princpio o turismo rural se expande na Regio

    Sul e Sudeste do pas, destacando nesta ltima, as

    iniciativas que surgiram nos estados de Minas Gerais, So

    Paulo e Esprito Santo, que acabam por consolidar de vez

    o setor no pas.

    3 POLTICAS PBLICAS

    Os estudos sobre polticas pblicas iniciam-se na

    Frana e nos Estados Unidos. Aqueles realizados nos

    Estados Unidos tm uma obra inicial de destaque, que o

    livro O estudo da Administrao de 1887, escrito por Woodrow Wilson. No livro, o autor tece consideraes

    acerca da ineficincia existente no pas gerada

    principalmente pela corrupo, propondo que a

    administrao governamental deveria se tornar mais

    similar a forma de administrao dos negcios privados.

    De acordo com Benh (1998), o novo paradigma

    desenvolvido por Woodrow Wilson traz evolues com

    relao ao combate a corrupo, j que tinha por base

    separar a implementao das polticas pblicas das

    decises polticas que as criam, protegendo assim, as

    polticas pblicas do favoritismo e do ganho individual,

    ou seja, promove-se uma separao entre o ato de

    administrar e a poltica em si.

    Na viso de Wilson, a administrao se encontra

    fora da esfera prpria da poltica. Questes

    administrativas no so questes polticas. Embora a

    poltica determine as tarefas para a administrao, no se

    deve tolerar que ela manipule seus cargos. A percepo

    que Wilson tinha sobre as polticas pblicas influenciou

    na evoluo do estudo das polticas pblicas no pas

    criando a chamada public administration theory que

    tambm foi fortemente influenciada pela teoria da

    administrao cientfica de Frederic Taylor comumente

    conhecido por Taylorismo, assim como, nos estudos de

    Fayol, na teoria clssica da administrao.

    Na Frana, Meny e Thoenig (1989) tambm

    analisam a produo de conhecimentos em polticas

    pblicas. Segundo afirmam os autores, os estudos

    relacionados a rea na dcada de 60 envolviam

    predominantemente trs correntes, a saber: a cincia

    administrativa (ou public administration theory); a sociologia dos grupos de presso (percebe que as

    autoridades pblicas so influenciadas por um jogo de

    interesses obscuros que comprometem a eficincia das

    decises administrativas) e o determinismo dos grandes

    sistemas (nessa viso as polticas pblicas no explicam

    nada, j que a atuao do Governo so influenciadas por

    uma srie de outras variveis, como as lutas de classes).

    Nenhuma das correntes na viso dos autores do resposta

    a complexidade da rea.

    Cabe, no entanto, enfatizar que o estudo das

    polticas pblicas deve ser iniciado pelo entendimento de

    seu conceito. Dye (2004) acredita que poltica pblica

    tudo aquilo que o Governo decide fazer ou deixar de

    fazer. Meny e Thoenig (1989, p.130) veem as polticas

    pblicas como atos e no atos engajados por uma autoridade pblica face a um problema ou um setor de sua

    competncia. Parsons (2007), primeiramente faz uma anlise sobre os conceitos por vezes contraditrios do que

    caracteriza o pblico e privado, entendendo a chamada

    empresa pblica como aquela que tem finalidade externa,

    com sua gesto e eficincias subordinadas a satisfao de

    problemas ou metas externas aps essa anlise Parsons

    (2007) afirma que uma poltica pblica representa a inteno de definir e estruturar uma base racional para

    atuar ou no atuar. Nessa perspectiva as polticas pblicas podem ser entendidas inclusive como as

    omisses dos Governos, ou seja, quando o poder pblico

    decide no criar polticas para determinado setor, essa

    ao j considerada uma poltica pblica. A questo da insero, excluso ou omisso de um tema da agenda

    poltica um processo que deve ser estudado.

    Dye (2004) entende que o estudo da poltica

    pblica deve se basear no estudo das aes tomadas pelo

    Governo (aes e omisses), por que o Governo toma

    essas decises e quais diferenas (impactos) suas aes

    causam na sociedade. O ltimo elemento enfatizado por

    Dye (2003), implica num questionamento feito sobre as

    polticas pblicas como instrumento de mudana. Ser

    que as polticas pblicas realmente causam mudanas na

    sociedade ou as polticas pblicas se limitam apenas a

    acompanhar as mudanas na sociedade?

    A resposta para esses questionamentos

    complexa. Como mensurar se as polticas pblicas so

    uma resposta do Governo a sociedade ou se o Governo

    o real elemento de mudana?

    Chevalier (2005) coloca que o Estado pode ser um

    agente transformador ou apenas dar resposta as

    inquietaes sociais, no ltimo caso, o Estado teria uma

    viso incremental da poltica. importante ressaltar que o

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    Estado no necessita seguir exclusivamente uma linha de

    atuao, ou seja, tanto pode ter uma viso incremental

    seguindo as mudanas sociais como propor mudanas por

    conta prpria. Esse atuao [misturando as duas

    abordagens] a ideal para a atuao das polticas

    pblicas.

    As mudanas na sociedade influenciam

    sobremaneira a elaborao de polticas pblicas, em

    especial, nos pases democrticos. A autoridade

    governamental constitui, em geral, o ator central do

    processo e do contedo das polticas pblicas, no entanto,

    h uma gama de outros atores (stakeholders) que tambm podem estar engajados. Por vezes, a atuao desses outros

    atores, na forma de manifestaes populares ou presses

    diversas podem desencadear uma atuao incremental da

    poltica.

    O chamado processo das polticas pblicas passa

    por um conjunto de aes composto por cinco fases,

    conforme mostra a Figura 1 a seguir. Por outro lado, cabe

    destacar que antes mesmo da primeira fase (identificao

    do problema) deve-se mencionar a questo da incluso da

    rea/ setor/ tema na agenda de discurso poltica, porque

    s a partir dessa insero que pode ocorrer a

    identificao do problema.

    Figura 1 Processo das polticas pblicas Fonte: Elaborao prpria (2013).

    O processo das polticas pblicas ainda pode

    passar por uma fase de avaliao com o intuito de

    entender quais foram as possveis falhas se estas foram

    relacionadas ao planejamento ou a implementao das

    aes, ou mesmo para saber quais foram os resultados

    alcanados. A anlise da poltica pblica consiste num

    processo multidisciplinar que alm de melhorar as aes

    estabelecidas pela poltica tambm tem como objetivo

    entende-la. Assim vrios so os autores que discorrem

    sobre a anlise de polticas pblicas tendo em vista o

    entendimento da posio do governo com relao a

    determinado tema, setor ou rea de interesse.

    Dunn (2008) afirma que o processo de anlise da

    poltica pblica baseado numa combinao de

    conhecimentos comuns e mtodos especiais cientficos de

    questionamento da prtica social, do planejamento e da

    administrao.

    A anlise de polticas pblicas em parte

    descritiva porque depende da cincia social para justificar

    as causas e consequncias das polticas. Mas tambm

    normativa. Para avaliar a utilidade esperada e o valor

    moral da poltica, ele baseia-se em estudos econmicos e

    anlise de deciso, bem como na tica e em outros ramos

    da filosofia social e poltica. (DUNN, 2008).

    Discusses sobre anlise de polticas pblicas

    tambm so comuns nos estudos de Meny e Thoenig

    (1989), Parsons (2007), Dye (2004) e Subiratis (1993).

    Meny e Thoenig (1989) enfatizam a necessidade

    de uma anlise neutra combinada com uma postura

    comprometida. As perguntas iniciais para essa fase so:

    Quais so as alternativas de ao que podem ser

    politicamente estudadas, que o ator pblico pode

    considerar de onde se encontra? Como e por que essa

    alternativa e no outra aparece na cena poltica?

    Os autores supracitados ainda afirmam que

    existem quatro posturas para a anlise das polticas, a

    postura chamada descritiva realiza um inventrio

    exaustivo de uma ao pblica; a clnica destaca

    parmetros que correspondem aos objetivos fixados,

    fazendo um diagnstico; a normativa julga a poltica com

    base em valores escolhidos; enquanto que a experimental

    tenta descobrir as relaes de causalidade entre o

    contedo de uma poltica e um conjunto de efeitos.

    Subirats (1993) coloca que existem trs tipos de

    avaliao de polticas pblicas, o primeiro seria aquela

    avaliao para a determinao das necessidades do

    programa (relacionada especificamente a questionamentos

    sobre o planejamento), a segunda avaliao a formativa

    ou corretora (relacionada a problemas de implementao

    das aes procurando entender o funcionamento real do

    programa), e por fim, a avaliao de balano ou

    conclusiva (busca informaes sobre os resultados finais

    da poltica).

    Dye (2003), ao invs de considerar apenas trs

    formas de avaliao como Subirats (1993), afirma que

    existem oito modelos de avaliao. A criao do modelo

    como instrumento de avaliao justificada pelo autor

    devido a simplificao que este atribui. Assim os modelos

    citados por Dye (2003) so:

    - Modelo institucional: devido a grande relao

    existente entre as polticas pblicas e as instituies

    governamentais, o modelo prev o entendimento das

    instituies para que se entenda as polticas propostas por

    estas instituies;

    - Modelo de processo: aborda a poltica a partir de

    um conjunto de fases que compreende a identificao do

    1) IDENTIFICAO

    DO PROBLEMA

    2) FORMULAO

    DE SOLUES

    3) TOMADA DE

    DECISO

    4) IMPLEMENTAO

    5) TRMINO DA

    AO

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    A. K. C. Delgado. ISSN 2176-9052

    problema, entrada na agenda, formulao, legitimao,

    implementao e avaliao;

    - Modelo racional: a viso racional especfica que

    a melhor poltica aquela que traz o ganho social

    mximo. importante ressaltar que esse modelo

    considera a viso racional como aquela que envolve o

    clculo de todos os valores sociais, polticos e

    econmicos sacrificados ou alcanados pela poltica, no

    s aqueles que podem ser mensurados em moeda

    - Modelo incremental: so polticas que se

    limitam a dar continuidade a aes passadas, esse modelo

    enfatiza que por vezes o Governo no possui tempo,

    informao ou dinheiro para investigar outras alternativas

    recorrendo assim ao incremento de polticas j existentes.

    Alm de que os atores polticos j tem uma boa noo das

    consequncias/ resultados que pode obter ao contrrio do

    que ocorre ao implementar uma poltica nova;

    - Teoria dos grupos: essa corrente tem como

    fundamento a proposio de que a interao entre os

    grupos o fator central da poltica, sendo assim, as

    mudanas de equilbrio entre os relacionamentos dos

    grupos que definem as mudanas na poltica, desta

    forma, deve-se estudar essas interaes para melhor

    analisar as polticas pblicas;

    - Teoria da elite: as polticas pblicas tambm

    podem ser vistas como as preferncias e valores da elite.

    Devido a apatia e desinformao das massas a elite acaba

    tomando a frente e influenciando a opinio da massa nas

    questes polticas e negociando com os administradores pblicos para que as polticas pblicas privilegiem as

    demandas da elite;

    - Teoria da escolha pblica: assume que todos os

    atores visam maximizar os benefcios pessoais sem pensar

    nas aes que so mais eficientes para a coletividade, mas

    sim nas aes mais eficientes a nvel individual. Assim,

    os estudos baseiam-se em entender a que nvel as

    demandas individuais influenciam na criao das polticas

    pblicas que so por natureza coletivas;

    - Teoria dos jogos: no processo de tomada de

    deciso dois ou mais participantes fazem escolhas

    racionais, mas a melhor alternativa depende da escolha

    dos outros participantes ou da expectativa das alternativas

    por eles escolhidas.

    Deve-se tambm enfatizar que a poltica pblica

    apresenta caractersticas especficas que tambm

    influenciam no seu processo de anlise.

    Meny e Thoenig (1989) estudam essas

    caractersticas. Toda poltica deve ter um contedo, ou

    seja, a poltica envolve a mobilizao de recursos que

    geram determinados produtos (outcomes), estes por sua vez so os que se investigam como um problema de

    investigao da ao. A poltica tambm envolve um

    programa, que seriam os atos articulados em torno de

    eixos de ao especficos, esses eixos de ao podem

    dizer muito sobre as reais intenes da poltica. A

    orientao normativa est presente na poltica pblica, os

    atos da poltica esto (intencionalmente ou no)

    relacionados a certos valores que tambm devem ser

    texturizados pelo analista de polticas pblicas. O fator

    de coero que prprio de todas as aes do Governo, j

    que este possui o poder de impor para a coletividade as

    suas decises e por fim, a competncia social ou pblico

    atingido, todos aqueles indivduos cuja situao afetada

    pela ao pblica (de forma direta ou indireta).

    A respeito da aplicao de modelos para definir

    qual linha deve ser tomada para analisar as polticas

    pblicas, Dunn (2008) traz a definio do passo a passo

    para a sua aplicao ilustrado na figura 2 a seguir.

    Est. Pro. = Estruturao do Problema;

    Rec. = Recomendao.

    Figura 2 Processo de anlise de poltica integrado Fonte: Dunn (2008, p.4)

    O modelo de processo de anlise integrado de

    Dunn (2008) baseado em cinco campos, tendo como

    centro o problema de poltica, ao seja qual o problema

    que a poltica quer resolver? A resposta para este

    questionamento requer o levantamento dos antecedentes

    histricos do problema, informaes sobre os fins

    esperados e quais aes/ realizaes que podem levar a

    soluo do problema.

    O segundo campo, resultados esperados tem como

    questionamento principal qual curso de ao deve ser

    escolhido para resolver o problema? Nessa etapa o

    analista de polticas deve ser criativo e se preocupar com

    resultados das polticas esperados que no so dados por

    uma situao existente.

    A poltica preferida se refere a soluo potencial

    para o problema se baseando nos estudos e avaliaes

    feitas nas outras fases, juntamente com o levantamento de

    dados sobre os possveis impactos da adoo da poltica

    preferida, assim como, o julgamento do valor da utilidade

    das aes desencadeadas pela sua adoo.

    O quarto campo, resultados observados so as

    consequncia que a poltica pblica causa no passado ou

    Problemas

    de poltica

    Performance

    da poltica

    Rec.

    Predio

    Resultados

    esperados

    Est.

    Pro.

    b.

    Est.

    Pro.

    b.

    Est.

    Pro.

    b.

    Est.

    Pro.

    b.

    Polticas

    Preferidas

    Monitorar

    Resultados

    Observados

    Avaliao

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    A. K. C. Delgado. ISSN 2176-9052

    ainda est causando no presente. Algumas consequncias

    das polticas pblicas no conseguem ser mensuradas

    antes de sua implementao (ex ante), mas apenas depois de sua devida implementao (ex post).

    Por fim, a performance (ou desempenho) da

    poltica se refere ao grau em que um resultado da poltica

    pblica contribui ou no para gerar oportunidades para a

    resoluo do problema encontrado na fase inicial.

    3.1 A criao de polticas pblicas necessria?

    A discusso sobre a real necessidade das polticas

    pblicas requer um questionamento sobre o escopo das

    polticas, ser que todas as polticas pblicas so iguais ou

    cada poltica criada visando uma estratgia de atuao diferenciada?

    Comumente as polticas pblicas podem ser

    entendidas a partir de uma classificao baseada em

    quatro tipos:

    - Poltica distributiva: consiste em um conjunto de

    concesses que podem ser dadas a particulares, a exemplo

    de licena para dirigir ou construir;

    - Poltica redistributiva: so entendidas como

    aquelas que beneficiam a classe de indivduos

    necessitados, que a rigor estaria orientada para a

    redistribuio de renda e benefcios, a exemplo da

    reforma agrria;

    - Poltica regulamentar: compreende a definio de

    regras e procedimentos que regulam o comportamento

    dos atores sociais para atender aos interesses gerais da

    sociedade, a exemplo das polticas tributrias;

    - Poltica constitutiva: a ao pblica aquela que

    define as regras a serem seguidas.

    As polticas pblicas regulamentadoras,

    constitutivas e distributivas so quase que um consenso

    sobre sua importncia para a sociedade, no entanto, deve-

    se primeiramente entender que o alicerce para justificar a

    existncia das polticas pblicas est na ineficincia da

    escolha individual, ou seja, em muitos casos aquilo que

    bom para alguns indivduos isoladamente (e que por

    consequncia seriam as escolhas adotadas por eles) pode

    no ser bom para a sociedade como um todo, desta forma,

    torna-se necessria a presena de um ente que garanta o

    interesse da coletividade, e no de apenas alguns grupos

    particulares que podem comprometer o todo.

    Assim, os economistas enfatizam a existncia das

    chamadas falhas de mercado para ilustrar esse problema.

    Stiglitz e Walsh (2003) citam como principais falhas de

    mercado: a) ineficiente proviso de bens pblicos; b) os

    comportamentos no competitivos das empresas; c) as

    externalidades negativas e positivas; d) as informaes

    assimtricas; e) os mercados incompletos.

    Alm das falhas de mercado, muitos estudiosos

    defendem a interveno estatal a partir inclusive das

    polticas redistributivas pela excluso de indivduos do

    mercado. Segundo esta viso aquele indivduo que no

    possui fatores de produo (terra, capital ou fora de

    trabalho) encontra-se excludo do mercado, dessa forma,

    compete ao Governo criar uma forma de incluso desse

    indivduo no mercado. Tratando especificamente do

    modelo de gesto brasileiro a principal soluo

    encontrada foi a elaborao de polticas redistributivas

    que concedem bolsas de auxlio as populaes mais

    carentes, baseando-se no princpio de que a igualdade no

    consiste em tratar todos os indivduos da mesma forma,

    mas sim tratar com diferena aqueles que so diferentes.

    3.2 Polticas pblicas de turismo

    Cruz (2002) divide as polticas de turismo em trs

    fases, a primeira delas a chamada pr-histria do

    turismo (1938 - 1966), que compreende a criao das

    primeiras polticas de turismo que tratam de discorrer

    sobre as atribuies de algumas empresas turistas a

    exemplo das agncias (de viagem, de turismo),

    operadoras, e empresas de transporte turstico.

    Posteriormente, no perodo de 1966 a 1991 surgem as

    primeiras polticas de ordenao da atividade que

    estipulam a criao do Sistema Nacional de Turismo

    formado pela Empresa Brasileira de Turismo

    (EMBRATUR) e pelo Conselho Nacional de Turismo

    (CNTUR), que devem se encarregar da criao de uma

    poltica pblica de estruturao do turismo, no entanto,

    esse perodo no apresenta numa produo concreta em

    termos da implementao do Plano Nacional de Turismo,

    h apenas a sua criao, e h tambm a criao e

    implementao dos megaprojetos hoteleiros no litoral do

    Nordeste brasileiro, sendo, implementado nesse perodo

    apenas no Rio Grande do Norte; a fase seguinte, de 1991

    a 1999 marca um perodo em que so criados e

    implementados vrias polticas pblicas de turismo, as

    duas principais polticas desse perodo so o Programa de

    Desenvolvimento do Turismo no Nordeste

    (PRODETUR/NE) e o Programa de Municipalizao do

    Turismo (PNMT).

    O PNMT representa um marco nas polticas

    pblicas de turismo por ser o primeiro instrumento a

    discorrer sobre uma descentralizao no planejamento

    turstico, enfatizando o papel dos municpios na gesto da

    atividade, com base no PNMT foi criada a principal

    poltica pblica de turismo da atualidade, o PRT Roteiros do Brasil. Ao analisar os resultados e a prpria

    lgica de criao do PNMT percebe-se que os municpios

    de forma isolada no conseguiam dar resposta as

    demandas tursticas necessrias para desenvolver os

    ncleos tursticos.

    O PRODETUR/NE surge como um mecanismo

    para subsidiar a poltica dos megaprojetos que neste

    perodo, na dcada de 90, no existia apenas no Rio

    Grande do Norte, j havia se expandido para a Paraba,

    Bahia, Pernambuco e Alagoas.

    Beni (2006) ainda inclui uma nova fase nas

    polticas pblicas de turismo, esta fase tem incio com a

    criao do Ministrio do Turismo (Mtur) em 2003 e com

    uma nova estruturao do papel da EMBRATUR que

    passa a ser denominado como Instituto Brasileiro de

    Turismo e modifica sua linha atuao, deixando de estar

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    relacionado a criao de polticas pblicas para a

    promoo do turismo no exterior. O papel de criao e

    implementao do Plano Nacional de Turismo (PNT)

    passa a ser da alada do Mtur.

    A partir da elaborao do PNT (2007 - 2010), a

    poltica pblica de turismo mais enfatizada o

    macroprograma de regionalizao do turismo, este

    composto pelos programas de planejamento e gesto da

    regionalizao; programa de estruturao dos segmentos

    tursticos; programa de estruturao da produo

    associada ao turismo e programa de apoio ao

    desenvolvimento regional (o PRODETUR nacional).

    O fundamento do PRT a elaborao de

    roteiros tursticos agrupando o potencial dos municpios

    de uma determinada regio. Diferente do PNMT que

    trabalhava apenas com os atrativos tursticos e

    equipamentos de um determinado municpio o PRT

    pretende elaborar roteiros que a partir da sinergia entre

    atrativos e infraestrutura de diferentes municpios possa

    proporcionar qualidade e descentralizar os fluxos

    tursticos no pas, valorizando a criao de roteiros no

    interior dos Estados.

    3.3 PRT Roteiros do Brasil

    O macroprograma PRT Roteiros do Brasil estruturado conforme a figura 3, por quatro programas

    estruturantes.

    Figura 3 Composio do PRT Roteiros do Brasil

    Fonte: Mtur (2009)

    - Programa de planejamento e gesto da

    regionalizao: consiste num conjunto de aes e projetos

    voltados a todas as unidades da federal com o objetivo de

    promover a articulao, sensibilizao e mobilizao,

    assim como a elaborao e a implementao dos planos

    estratgicos no mbito das instncias regionais de

    turismo, que so responsveis pelo planejamento das

    regies tursticas. Dentre as principais aes realizadas

    por este programa esto o inventrio da oferta turstica e a

    estruturao/ gesto dos 65 destinos indutores;

    - Programa de estruturao dos segmentos

    tursticos: esse o programa que se encarrega de criar

    aes para ampliar o consumo do turismo e descentralizar

    a atividade a partir da criao e implementao de outras

    formas de turismo, que fuja do turismo de sol e mar. Uma

    das principais aes efetivadas pelo programa foi a

    apresentao dos destinos de referncia em segmentos

    tursticos, alm dos cursos de educao a distncia;

    - Programa de estruturao da produo associada

    ao turismo: apoiar a produo de elementos diversificados

    nos destinos tursticos produes relacionadas, por

    exemplo, a produo de peas artesanais. Uma das aes

    propostas pelo programa o apoio a diversificao da

    oferta turstica por meio da produo associada, ou seja,

    agregar valor aos roteiros tursticos com os elementos

    tpicos locais;

    - Programa de apoio ao desenvolvimento regional:

    que nada mais do que o PRODETUR/ NE em escala

    nacional.

    Quando o programa foi lanado em 2008, vrios

    estudiosos se mostraram satisfeitos com a iniciativa do

    Mtur em criar um programa de planejamento turstico que

    realmente leva-se em considerao as potencialidades

    locais de uma forma sinrgica, baseando nos princpios de

    estudo do espao turstico desenvolvidos por Boulln. No

    entanto, a implementao do macroprograma trouxe uma

    srie de questionamentos.

    Beni (2006), antes mesmo da implementao do

    programa j tece consideraes sobre a regionalizao

    poder levar a um processo de clusterizao turstica que

    envolve o estabelecimento de parcerias entre destinao j

    existentes e consolidadas como ncleos. O autor ainda

    chama ateno para o aparecimento de uma roteirizao

    regionalizada em vez de regionalizao sustentvel do

    turismo, com ausncia de planos e projetos.

    No caso especfico do PRT Roteiros do Brasil como foi observado, existem projetos, no entanto, a sua

    implementao no ocorre como planejado. Estudos, a

    exemplo do Virginio (2011) mostram que um grande

    entrave para a implementao do programa a falta de

    conhecimento sobre o macroprograma e sobre o PNT

    como um todo. Na pesquisa realizada por Virginio (2011)

    no Polo Costa das Dunas poucos foram os gestores

    pblicos que afirmaram conhecer o funcionamento do

    PRT, poucos tambm participaram dos cursos de

    educao a distncia promovido pelo Mtur, em especial,

    aquele curso que visava a qualificao profissional para o

    PRT Roteiros do Brasil. Apesar do PRT discorrer sobre uma

    descentralizao e empoderamento local percebe-se

    claramente que o modelo imposto em mbito regional,

    ou seja, as regies no tem nenhum poder para modificar

    a estrutura do programa ou de propor diferentes formas de

    participao da populao.

    O programa est associado aos conselhos de

    turismo que a rigor so tambm compostos pela sociedade

    civil organizada, por outro lado, na prtica, como mostrou

    o estudo de Virginio (2011), poucos so os integrantes da

    sociedade civil organizada que participam do conselho,

    assim, o planejamento do turismo fica mais uma vez nas

    mos do poder pblico e de alguns representantes do

    trade turstico. Por fim, outra crtica diz respeito a prpria

    composio dos polos. possvel notar claramente que os

    polos mais dinmicos e estruturados so aqueles

    localizados nas regies litorneas, que mostram aes

    mais consistentes. Ainda so poucos os polos existentes

    no interior dos estados, e mesmo naqueles casos em que

    existe um polo no interior as aes em relao aos polos

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    localizados no litoral so evidentes. A nfase dada ao

    turismo de sol e mar em detrimento do turismo rural/

    agroturismo claramente percebida. No entanto, ser que

    essa uma escolha dos planejadores do turismo, ou ser

    que fruto da prpria lgica de funcionamento do

    mercado, na figura do capital que parece ser atrado para

    as regies que so economicamente mais dinmicas

    contribuindo para a sustentao do perverso modelo

    capitalista atual.

    3.4 PRONAF

    O PRONAF, programa de autoria do Ministrio do

    Desenvolvimento Agrrio (MDA), surge com o objetivo

    de auxiliar o pequeno agricultor (agricultor familiar) a

    desenvolver projetos individuais ou em forma de

    cooperativa. O auxilio se d na forma de financiamento.

    A despeito dos grandes avanos tecnolgicos no

    setor agropecurio e da nfase em termos de polticas

    pblicas que tem-se dado a agricultura patronal, ainda so

    os agricultores familiares que respondem pelo maior

    percentual de produo de alimentos no Brasil. O prprio

    MDA (2011), afirma que os pequenos agricultores so

    responsveis por 70% da produo dos alimentos no pas.

    O programa foi criado em 1996, segundo Mattei

    (2005) dois fatores foram fundamentais para a elaborao

    do programa, as reivindicaes dos proprietrios rurais e

    os estudos realizados pelo Instituto Nacional de

    Colonizao e Reforma Agrria (INCRA) e pela Food and

    Agriculture Organization (FAO).

    A temtica da agricultura familiar s entra

    definitivamente na agenda poltica quando as massas

    (neste caso os agricultores familiares) comeam a se

    organizar formando as jornadas nacionais de luta. E

    tambm a partir do momento em que o setor pauta de

    pesquisa de rgos de grande importncia em mbito

    nacional e internacional.

    Para a concesso de financiamento primeiramente

    deve-se provar que se trata de um produtor rural (figura

    fsica, jurdica ou mesmo cooperativas), os parmetros

    estabelecidos para a concesso incluem:

    - Uma renda bruta anual no maior do que 360 mil

    reais (onde no mnimo 50% desta renda deve ser gerada

    por atividade agrcola ou no agrcola realizada no

    estabelecimento);

    - O agricultor deve residir na localidade onde se

    encontra a propriedade;

    - O produtor pode possuir empregados, mas estes

    devem ser em menor nmero do que o nmero de pessoas

    da famlia ocupadas com o estabelecimento;

    - Pequena propriedade (tamanho mximo de seis

    mdulos fiscais2).

    Alm das exigncias acima o programa s concede

    financiamento para aqueles agricultores que apresentarem

    um projeto, o MDA sugere que os agricultores procurem

    2 O tamanho do mdulo fiscal em hectares vai variar de acordo

    com a regio e sub-regio aonde a propriedade est inserida.

    auxilio de Organizaes no-governamentais (ONGs) ou da Assistncia Tcnica e Extenso Rural (EMATER).

    O PRONAF se divide em diversos tipos, a saber:

    a) custeio; b) mais alimentos; c) investimento; d)

    agroindstria; e) agroecologia; f) floresta; g) semirido; h)

    mulher; i) jovem; j) custeio e comercializao de

    agroindstrias familiares; k) cota-parte; e l) microcrdito

    rural.

    De acordo com os dados do Safra 2013/ 2014 as

    possibilidades de crdito na finalidade Investimento para

    atividades agropecurias, turismo rural, artesanato e

    outras atividades no meio rural (grifo nosso) podem ser

    observadas na tabela 1 a seguir.

    Linha Pblico Crdito Juros

    Mulher Mulheres agricultoras Grupos A,

    A/C e B: R$

    2,5 mil

    0,5%

    a. a.

    Jovem Filhos de agricultores.

    Faixa etria: 16 a 29

    R$ 15 mil

    (uma nica

    operao)

    1%

    a.a.

    Tabela 1 Linhas de crdito 2013/ 2014 relacionadas ao turismo rural

    Fonte: Plano Safra 2013/2014

    A classificao feita na coluna crdito com as

    letras A e A/C se refere a grupos especficos de mulheres

    que podem ser beneficiadas. Grupo A so as mulheres

    integrantes de unidades familiares assentadas de reforma

    agrria ou beneficirias do crdito fundirio e o Grupo

    A/C so aquelas egressas do Grupo A ou do Programa de

    Crdito Especial para a Reforma Agrria (PROCERA).

    Ao analisar as concesses de crdito do PRONAF

    referente ao perodo de 2013/ 2014 percebe-se que so

    poucas as possibilidades de crdito (apenas duas) na

    finalidade turismo rural. A maior parte das concesses de

    crdito (e com valores mais elevados) dizem respeito a

    projetos na rea de agroecologia, enfatizando o setor

    tambm de recuperao e conservao ambiental.

    O MDA possui, alm do PRONAF, um programa

    denominado de diversificao da economia, este possui

    dois projetos que envolvem a atividade turstica no meio

    rural, so eles: turismo e artesanato; e roteiros tursticos

    da agricultura familiar. O ltimo projeto atua em

    associao com o MTur e com o Ministrio do Meio

    Ambiente, alm de ONGs, tcnicos e representantes diversos da sociedade civil organizada formando a

    chamada rede de Turismo Rural na Agricultura Familiar

    (TRAF), gestora do Programa Nacional de Turismo Rural

    na Agricultura Familiar (PNTRAF).

    Atualmente o PNTRAF o programa que tem

    apresentado resultados mais expressivos com relao a

    prtica do associativismo e da descentralizao do

    turismo. O programa envolve alm da concesso de

    crdito, um projeto para a qualificao da mo de obra.

    No entanto, esse um programa recente, criado em 2004.

    A primeira discusso sobre a efetivao de uma poltica relacionadas ao setor do turismo rural surgem apenas em

    2003 com o documento das diretrizes para o

  • Anais do VIII Congresso Brasileiro de Turismo Rural e I Colquio Internacional de Pesquisa e Prticas em Turismo no Espao Rural, Rosana - SP, 10-13 de novembro de 2013 v1.

    A. K. C. Delgado. ISSN 2176-9052

    desenvolvimento do turismo rural no Brasil, elaborado

    pelo MTur no ltimo PNT.

    4 CONCLUSES

    O presente estudo ressalta a importncia das

    polticas pblicas como um elemento que promove uma

    maior organizao da sociedade, organizao esta que

    exclusivamente a partir do mercado no seria possvel.

    Apesar das benesses relativas as aes ou omisses do

    poder pblico frente a sociedade deve-se destacar que

    diversos devem ser os questionamentos relativos as

    polticas pblicas, dentre eles o questionamento bsico de

    o que faz determinada pauta entrar na agenda poltica?

    Vrios so os modelos e formas de anlise usadas

    para tentar responder a essa pergunta, autores como

    Parsons (2007), Subirats (1993), Meny e Thoenig (1989),

    Dunn () e Dye (2004) se debruam sobre essas e tantas

    outras questes relacionadas as polticas pblicas.

    A atividade turstica que a princpio, nas dcadas

    de 30 a 60 quase que totalmente ignorada em termos de

    polticas pblicas estruturantes do setor, passa a entrar na

    agenda poltica por meio de uma poltica denominada

    megaprojetos (cuja extenso se limitava a alguns estados

    do Nordeste brasileiro). O primeiro megaprojeto realizado

    foi no Rio Grande do Norte, o Costa das Dunas, este

    sofreu diversas crticas devido ao grande impacto

    ambiental e a excluso social que causou. O projeto

    concedia uma srie de vantagens aos grandes grupos

    internacionais que se interessassem em construir seus

    resorts no litoral do Rio Grande do Norte. Dando prosseguimento a poltica dos megaprojetos

    tem-se o PRODETUR/NE que atuou como um

    mecanismo estruturador das destinaes tursticas

    litorneas para a chegada de investimentos estrangeiros em estruturas hoteleiros.

    Desta forma, percebe-se claramente que as

    polticas pblicas de turismo privilegiavam o turismo de

    sol e mar, as principais polticas pblicas brasileiras

    atuavam dentro desse segmento e em grande medida

    ainda atuam, basta observar os resultados do PRT Roteiros do Brasil fazendo uma leitura mais crtica dos

    mesmos.

    O turismo no espao rural surge no Brasil na

    dcada de 80 e s passa a ser fruto de uma poltica pblica

    de turismo um pouco mais consistente a partir de 2004,

    com o PNTRAF.

    Apesar da iniciativa da rede TRAF ser benfica

    para a descentralizao do turismo no se pode deixar de

    enfatizar que, muitos projetos se utilizam da nomenclatura

    de TRAF sem, no entanto, apresentarem caractersticas

    prprias de agricultura familiar, talvez ainda falte ao

    programa um conjunto de regras mais consistente a

    exemplo do que acontece com o PRONAF3.

    3 O PRONAF inclusive j apresentou uma linha de crdito

    voltado exclusivamente para o turismo, o PRONAF turismo, mas com o surgimento do PNTRAF acabou por deixar de ser to

    Tambm se torna necessrio um estudo mais

    aprofundado sobre todas as aes realizadas pelo

    programa, j que em decorrncia de este envolver uma

    ampla quantidade de atores torna-se difcil a mensurao

    de todas as suas atividades. Apenas a partir do

    levantamento desses dados possvel analisar de forma

    ampla em que medida o PNTRAF tem impactado o

    cenrio turstico brasileiro.

    REFERNCIAS

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