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Por que o óvulo se divide gerando gêmeos univitelinos? O que provoca essa divisão e como ela ocorre? João Batista Alcântara Oliveira CENTRO DE REPRODUÇÃO HUMANA, MATERNIDADE SINHÁ JUNQUEIRA (RIBEIRÃO PRETO/SP) Na verdade, quem se divide é o embrião, não o óvulo. A formação de gêmeos univitelinos ou idênticos ou monozigóticos corresponde a um terço dos casos. Esse fenômeno acontece durante o desenvolvimento do embrião (multiplicação celular) quando, após a fertilização de um óvulo por um espermatozoide, o embrião divide-se dando origem a dois ou mais novos embriões com idêntico material genético. Essa forma de gemelaridade pode ser encarada em algumas espécies como um caminho de adaptação para a sobrevivência. Esse princípio parece não se aplicar ao ser humano, onde a ocorrência de gêmeos monozigóticos é aparentemente um fenômeno casual e fracamente hereditário. Contudo, observa-se que um número um pouco maior de gêmeos monozigóticos tem nascido após o uso de medicações para indução da ovulação. Existem várias formas possíveis de gêmeos monozigóticos. Quando o embrião se divide pouco tempo após a fertilização, os gêmeos monozigóticos serão diamnióticodicoriônico, ou seja, cada um tem seu próprio âmnio (bolsa) e córion (placenta) – o fenômeno ocorre em torno de 8% das gestações gemelares. O tipo mais comum de gêmeos monozigóticos é o diamniótico-monocoriônico (cerca de 75% dos casos), em que a divisão embrionária ocorre entre o 4º e 8º dia após a fertilização. Nesse caso, os embriões têm a sua própria bolsa, mas dividem a mesma área placentária. Se o embrião se divide após o 8º dia de sua fertilização, é chamado de monocoriônico-monoamniótico, isto é, os gêmeos têm a mesma bolsa e a mesma placenta. Esse tipo corresponde a menos de 1% dos casos e normalmente é o que apresenta mais complicações durante a gestação. Por fim, se a divisão embrionária ocorre após o 12º dia, poderá ser imperfeita, levando a malformações estruturais (xifópagos). [CH 203 – abril/2004]

Por que o óvulo se divide gerando gêmeos univitelinos

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Por que o óvulo se divide gerando gêmeos univitelinos? O que provoca essa divisão e como ela ocorre?João BatistaAlcântara OliveiraCENTRO DE REPRODUÇÃOHUMANA, MATERNIDADESINHÁ JUNQUEIRA(RIBEIRÃO PRETO/SP)

Na verdade, quem se divide é o embrião, não o óvulo. A formação de gêmeos univitelinos ou idênticos ou monozigóticos corresponde a um terço dos casos. Esse fenômeno acontece durante o desenvolvimento do embrião (multiplicação celular) quando, após a fertilização de um óvulo por um espermatozoide, o embrião divide-se dando origem a dois ou mais novos embriões com idêntico material genético. Essa forma de gemelaridade pode ser encarada em algumas espécies como um caminho de adaptação para a sobrevivência. Esse princípio parece não se aplicar ao ser humano, onde a ocorrência de gêmeos monozigóticos é aparentemente um fenômeno casual e fracamente hereditário. Contudo, observa-se que um número um pouco maior de gêmeos monozigóticos tem nascido após o uso de medicações para indução da ovulação.Existem várias formas possíveis de gêmeos monozigóticos. Quando o embrião se divide pouco tempo após a fertilização, os gêmeos monozigóticos serão diamnióticodicoriônico, ou seja, cada um tem seu próprio âmnio (bolsa) e córion (placenta) – o fenômeno ocorre em torno de 8% das gestações gemelares. O tipo mais comum de gêmeos monozigóticos é o diamniótico-monocoriônico (cerca de 75% dos casos), em que a divisão embrionária ocorre entre o 4º e 8º dia após a fertilização. Nesse caso, os embriões têm a sua própria bolsa, mas dividem a mesma área placentária. Se o embrião se divide após o 8º dia de sua fertilização, é chamado de monocoriônico-monoamniótico, isto é, os gêmeos têm a mesma bolsa e a mesma placenta. Esse tipo corresponde a menos de 1% dos casos e normalmente é o que apresenta mais complicações durante a gestação. Por fim, se a divisão embrionária ocorre após o 12º dia, poderá ser imperfeita, levando a malformações estruturais (xifópagos). [CH 203 – abril/2004]