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«A crise aumenta inevitavelmente a corrupção» Entrevista a Maria Jé Morgado P rtela magine Distribuição gratuita Dezembro 2012 Periodicidade Bimestral 7 # Est� Natavam� ajudar que� maiprecis� CAMPANHA DE SOLIDARIEDADE NACIONAL ERA 2012 Entrevista a António o maior cartunista português, e reportagem fotográfica no aeroporto || PÁGS. 12 E 13 Reabertura da biblioteca! || PÁGS. 2 E 3 || PÁGS. 14 E 15 Revista da Associação dos Moradores da Portela

Portela magazine n.º 7

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António Antunes, o maior cartunista português, fala à Portela Magazine do seu mais recente trabalho na estação de metro do Aeroporto de Lisboa, enquanto Maria José Morgado aborda a temática da corrupção em Portugal. Esta edição conta ainda com diversas histórias de figuras portelenses, com especial destaque para Manuel Monteiro, director da Portela Magazine, que lança o seu segundo romance intitulado «O Suave e o Negro».

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« A crise aumenta inevitavelmente a corrupção»

Entrevista a Maria José Morgado

P rtelamagazine

Distribuição gratuitaDezembro 2012 Periodicidade Bimestral7#

Est� Nata� vam� ajudar que� mai� precis�CAMPANHA DE SOLIDARIEDADE NACIONAL ERA 2012

Entrevista a Antónioo maior cartunista português, e reportagem fotográfica no aeroporto

|| PÁGS. 12 E 13

Reabertura da biblioteca!|| PÁGS. 2 E 3

|| PÁGS. 14 E 15

Revista da Associação dos Moradores da Portela

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MENSAGEM DA PRESIDENTE

ACONTECEU NA PORTELA

Caros leitores:

No cenário mundial contemporâneo, desejar simplesmente FELIZ NATAL parece um pouco vago, mas se este de-sejo significar mais humanidade, paz de espírito, solidariedade e a busca de relações mais puras e respeitosas, um simples Feliz Natal poderá significar tudo.

E é com o coração cheio de esperan-ça que vos dirijo a minha mensagem hoje.

Em nome da direcção da AMP, desejo que todos os nossos leitores tenham um Natal repleto de Felicidade, de Paz e Amor e que todos nós tenhamos

Carla MarquesPresidente da Associação dos Moradores da Portela

a consciência de que o rancor, o ódio e outros sentimentos mesquinhos a nada levam, apenas corrompem a nos-sa alma.

Que tenhamos a Paz de Espírito para o discernimento de que estamos a faz aquilo que é justo e correcto para nós e os nossos semelhantes.

Que tenhamos o prazer de ser útil a alguém.

E que o novo ano... seja um ano de muitas transformações e realizações para todos, não só no campo material, mas principalmente no nosso «eu» in-terior.

Que neste Natal se iluminem o vossos sorrisos para que eles se torne tão sin-ceros quanto o sorriso de uma criança.

Porque num mundo em que o individu-alismo e o corporativismo dão origem à exclusão, é importante sublinhar o espírito no qual se exerce a actividade humana, e se cada um de nós tiver por missão lutar contra essa exclusão e ser um agente de solidariedade, estamos, sem dúvida a contribuir para uma me-lhor e mais justa sociedade.

Este é também o papel que a AMP tem vindo a desempenhar, por uma solidariedade activa e responsável na sociedade, porque acreditamos que a Responsabilidade Social diz respeito ao cumprimento dos deveres e das obrigações dos indivíduos e das or-

20.˚ Aniversário da Igreja de Cristo-Rei da Portela

ganizações para com a sociedade em geral.

Por uma sociedade mais justa – TO-DOS SEREMOS MUITOS.

Nesta quadra festiva e sem querer parecer pretensiosa, gostaria de fa-zer minhas as palavras de David Mourão-Ferreira e dedicar a todos o seguinte poema:

Natal, e não Dezembro

Entremos, apressados, friorentos, numa gruta, no bojo de um navio, num presépio, num prédio, num pre-sídio no prédio que amanhã for demolido... Entremos, inseguros, mas entremos.Entremos e depressa, em qualquer sí-tio, porque esta noite chama-se Dezem-bro, porque sofremos, porque temos frio. Entremos, dois a dois: somos duzen-tos,duzentos mil, doze milhões de nada. Procuremos o rastro de uma casa, a cave, a gruta, o sulco de uma nave... Entremos, despojados, mas entremos. De mãos dadas talvez o fogo nasça,talvez seja Natal e não Dezembro, talvez universal a consoada.

David Mourão-Ferreira

FELIZ NATALCarla MarquesPresidente de Direcção da AMP

No dia 15 de Novembro, a Igreja de Cristo-Rei da Porte-la completou 20 anos da sua

dedicação, o que culminou na missa das 19.00 em que a Portela Magazi-ne marcou presença. O padre Alberto Gomes anunciou nesta data emblemá-tica a reabertura da Biblioteca Cardeal Ribeiro, realçando o trabalho desen-

volvido pela igreja, que salientou ser em grande parte alicerçado em tra-balho voluntário, e a necessidade de encontrar respostas num tempo de

Manuel Monteiro adaptações constantes. Sobre a biblio-teca, foi dito que esta terá uma nova configuração e identidade, procurando ser uma biblioteca vocacionada para a evangelização. Questiona-se natural-mente o que aconterá aos milhares de livros que não cumprem um propó-sito evangélico. A Portela Magazine procurou entrevistar Sua Eminência. Esperamos consegui-lo numa futura edição.

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EDITORIALCARTAS DOS

LEITORES

O que me preocupa não é o grito dos corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem carácter, dos sem ética. O que me preocupa é o silêncio dos bons.Martin Luther King

Numa altura em que fechar um jornal ou uma revista é prática co-mum, a aventura de criar, sem quaisquer tipo de apoios, uma publi-cação periódica do zero afigura-se como uma aventura condenada

ao fracasso. Há um ano, aquando da decisão da Associação dos Moradores da Portela de criar a Portela Magazine, nem o mais optimista imaginaria que a revista cresceria tanto. É certo que o elogio de outros é mil vezes mais valioso do que uma autopro-clamação. Mas, sem qualquer falsa modéstia, orgulhamo-nos do caminho percorrido. Recebemos literalmente centenas de cartas elogiosas. Os con-teúdos da nossa revista foram divulgados e comentados por leitores anóni-mos, designadamente na Internet. Entrevistámos personalidades das mais diversas áreas. Fernando Dacosta, Alice Vieira, Pinto Monteiro, Marinho e Pinto, Garcia Pereira, entre outras. Divulgámos o trabalho de muitos por-telenses, nomeadamente na área da cultura. Extravasámos claramente as fronteiras da nossa freguesia com conteúdos nacionais. Crescemos larga-mente em publicidade. Estamos também bastante satisfeitos com a qualida-de gráfica e a textura do papel e com a distribuição da revista.A título pessoal, e mudando da primeira pessoa do plural para a primeira pessoa do singular, manifesto o meu contentamento pelo contributo que a Portela Magazine deu em duas questões importantíssimas para a nossa freguesia: o alargamento do horário do centro comercial e a reabertura da biblioteca. Suscitámos na edição de Julho com o artigo «Os estranhos horários do Cen-tro Comercial da Portela» o debate em torno do horário do centro e do prejuízo que este representava para os lojistas. Foi com enorme alegria que soubemos que o alargamento do horário do centro está neste momento a ser analisado pela Câmara Municipal de Loures.E, finalmente, após várias edições em que frisámos o absurdo de mais de 28 000 mil livros estarem impedidos de ser lidos ou consultados, a Biblio-teca Cardeal Ribeiro reabriu no dia 15 de Novembro.Verifiquei nestas duas questões que muita gente se indignou, mas que muito poucos ousaram dar a cara ou mexer uma palha para corrigir uma situação que sentiam ser injusta. O medo devora a alma, como no filme de Fassbin-der. Afinal, vale a pena lutar.Termino dizendo que apesar de a revista ser propriedade da AMP, nunca a sua direcção exerceu qualquer pressão para que saísse A ou não saísse B.Agradeço sentidamente a todos aqueles que participam neste projecto.

Manuel [email protected]

Vivemos tempos tristes, toda a gente vê os dias a passar e Portugal cada vez mais distante do que merecemos. É fácil apontar o dedo ao Sócrates, ao Passos Coelho, ao Cavaco, a todos os políticos, do ratinho ao elefante. Diria mesmo que difícil, muitas vezes, é não o fazer. No entanto, já que o Estado Providência pouco providencia, é tão bom quando temos surpresas...Feliz fiquei, ao sair do centro comer-cial com o já clássico croissant de chocolate, quando me deparei com uma fantástica resposta à crise em que vivemos. Uma resposta dupla, algo in-vulgar. O fantástico lago ali perto da igreja, com queda de água e tudo. Por um lado, mostra alguma preocupação para com os lojistas, esperando atrair mais clientela, não se olhando a gastos para tal. Por outro, uma preocupação social fantástica: uma nova piscina para os financeiramente muito infe-lizes, e esta tem chuveiro e tudo. Os meus parabéns!

João Silva

Sr. Manuel Monteiro,aproveito este dia de greve nacional para lhe enviar uma mensagem de es-timulo e apreço pelos assuntos desen-volvidos ao longo dos seis números da Revista Portela Magazine da qual o Sr. é director.Há já algum tempo que o queria fazer mas só hoje encontrei disponibilidade,ainda sou das que possuem emprego e por isso o meu tempo é escasso para me dedicar a ou-tras tarefas.Tenho ficado surpreendida com as personalidades entrevistadas, a vossa revista consegue ser interessante do principio ao fim.Toda a equipa está de parabéns,nota-se a vossa isenção, coerência e honestidade,qualidades dificeis de encontrar nos tempos que correm.Apesar de não conhe-cer a biblioteca da freguesia, foi sem dúvida,um dos assuntos que me des-pertou mais atenção,não só porque gosto de ler,mas também pelos méto-dos utilizados.Pela entrevista da fun-cionária da biblioteca e pelo direito de resposta do padre,concluo que a Igre-ja da nossa freguesia não passa de um belo exemplo de moderna arquitectura religiosa.Mas, decerto que a nossa fre-guesia tem muitas “coisas” boas para

Portela Magazine – Revista Bimestral – Proprietário Associação dos Moradores da Portela – Director Manuel Monteiro – Redacção Eva Falcão, Filipa Assunção, Leonor Noronha – Colaboradores Armando Jorge Domingues, Bonifácio Silva, Carla Marques, Fernando Caetano, Filipa Lage, Humberto Tomaz, José Alberto Braga, Miguel Esteves Pinto, Miguel Matias, Rui Garção, Rui Rego – Sede de Redacção Associação dos Moradores da Portela, Urbanização da Portela, Parque Desportivo da AMP, Apartado 548, 2686-601 Portela LRS – Telefone 219 435 114 – Site www.amportela.pt – E-mail [email protected] – Email Comercial – [email protected] – Direcção Comercial Keep In Touch, Lda. – Grafismo ITW-Ideas That Work, Lda. – Impressão Nova Gráfica do Cartaxo – Tiragem 6500 exemplares – Depósito Legal n.o 336956/11 – ISSN N.o 126156

Ficha Técnica

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CARTAS DOS LEITORES

mostrar,conto com vocês para essa descoberta.É um prazer ler a revista,continuem o excelente trabalho,

A leitora dedicada Angélica Miranda

Manuel Monteiro,terei de o felicitar pela reabertura imaginária da biblioteca,as atitudes das pessoas que “trabalham” na pa-róquia reflectem o estado do país, anda tudo á deriva e a maioria dos que por lá passam são todos escolhi-dos a dedo.Nestes quinze dias em que a biblio-teca Cardeal Ribeiro está aberta,os computadores não funcionam, fichas de inscrição não há,levar livros para casa nem pensar, livros de autores manifestamente ateus nem vê-los,os voluntários que estão no espaço mudam todos os dias.Anda tudo ás aranhas,como a biblioteca esteve encerrada 10 meses contava encon-trar um espaço mais vivo, dinâmico, cheio de boas novidades.Encontro um espaço com menos livros,escuro,com voluntárias simpáticas mas que não sabem nada sobre autores ou tão pou-co sabem onde se encontram os livros.Qualquer pergunta tem como resposta isso é com o Dr. Vitor! Quem é o Dr. Vitor? É o novo bibliotecário? Se é está mais que chumbado, a biblioteca está desarrumada,confusa, novidades nem vê-las.Tanto tempo para apre-sentarem este triste panorama?Com a catequese e a missa a começarem ás 18.30 h e a biblioteca a encerrar ás 18.00h devem ter muitos leitores.O encerramento ao Sábado é mais uma indicação de que quem está á frente do assunto percebe tanto de biblio-tecas como do nascimento e tempo de vida do grilo ou da plantação de beterrabas.Resumindo a biblioteca foi reaberta para ser uma extensão da catequese e para calar o Patriarcado e a Câmara,e principalmente a po-pulação da Portela, deixamos de ter uma biblioteca pública para ter uma biblioteca para “elites duvidosas” que alimentam o marasmo doentio que impera na instituição.Volto a repetir a quem serve uma biblioteca reaberta das 14 ás 18h?

Quanto ao direito de resposta de Sua Excelência o Sr.Padre Alberto Go-mes, só lamento que a revista da as-sociação de moradores da Portela ter levado por tabela,mantenho as pala-vras que proferi,não pretendi ofender ninguém mas sim dar a conhecer os “hobbys privados”.Eu também gosto de motocross e não levo o meu ho-bby para o trabalho.Triste a atitude da Junta de freguesia e da Câmara Municipal,mas assim sempre sabe-mos com o que contamos.Conto com vocês para denunciarem casos deste género,a prepotência tem de acabar e os que precisam é que ne-cessitam de ser ajudados,a biblioteca cumpriu a sua actividade pública até 31 de Janeiro.Não entendo, cada vez se ouve mais Bispos e Padres a opi-narem sobre a crise social e o diá-logo mas,o Padre Alberto mantém-se impávido e sereno,aqui há mistério!Outro dos aspectos incorrectos para que chamo a atenção pretende-se com a página de facebook criada para a biblioteca: https://www.face-book.com/bibliotecacribeiro?fref=ts ;A 25 de Novembro de 2007 foi relançada a biblioteca paroquial Cardeal Ribeiro,onde foi servi-do um porto de honra ;nesse mes-mo dia pelas 16.30 houve uma conferência:”Do Concílio à Demo-cracia-D.António Ribeiro,Patriarca de Lisboa”,proferida pelo prof. Dou-tor António Matos Ferreira;ás 19 h a Eucaristia solene foi presidida por Sua Eminência Reverendíssima o Se-nhor Cardeal -Patriarca de Lisboa,D. José da Cruz Policarpo (guardo o convite).Não entendo porque tei-mam em mentir sistematicamente.A biblioteca já existe há mais de uma década e o seu verdadeiro mentor foi sua excelência o Cónego Janela.Pelo que já vi,os senhores limitaram-se a reabrir um espaço no qual já ti-nham a “papinha feita”,limitaram-se a selecionar os autores mal-amados,e agora aparecem como uns apaixona-dos pela leitura e pelos livros.Quem ficou a perder foram os leitores e os doadores dos livros. Quem mexeu os cordelinhos para que a Bibliote-ca Cardeal Ribeiro chegasse a esta mediocridade também tem muitos telhados de vidro.Não foi por acaso que certos elementos foram afastados no tempo do Cónego Janela,a meni-na que teve a “ousadia” de colocar a biblioteca no facebook,não se deve ter esquecido da época em que era a responsável pela catequese,só juntou

prejuízo atrás de prejuizo,enquanto a sua sucessora só deu lucro.Colocar uma biblioteca que já estava devi-damente organizada ,aproveitar-se do trabalho alheio não me parece um acto de boa indole.Mas, se pen-sarmos bem,vindo de quem vem já não se estranha.As conclusões ficam a cargo dos leitores,esses sim conhe-cem a biblioteca.

Muito obrigado a toda a equipa,João Franco

Manuel Monteiro,os meus elogios são mais que merecidos,este último número foi o que me agradou mais pela variedade de temas.Quanto à biblioteca suponho que no nº100 da revista ainda andamos a falar nela.Já reparou no hórario e programa ridículo.Só está aberta de das 14 ás 18 horas aos dias da se-mana.Isso não é fazer pouco dos leitores? E o programa? E a página de Facebook?A biblioteca da qual era leitor era ilegal?No facebook diz que foi inaugurada este ano!Nunca tive noção de que existia gente tão mesquinha,já acho que foi uma ben-ção a senhora da biblioteca ter sido despedida.Trabalhar num sitio de vespas e mentirosos não deve ser nada fácil.O que leva a uma instituição a ter um Conselho Pastoral ,Económico e Mo-vimentos pastorais tão fracos?.Essas pessoas para além de serem obrigadas a pedir desculpas deviam demitir-se.Alguém gosta de ir á missa sabendo que é tão mal frequentada?Eu irei sempre que sinta necessidade, mas do meu bolso não sairá mais um cên-timo.Os que andaram a fazer mal a pessoas competentes que alimentem a instituição.Se o Padre Alberto fizer outro direi-to de resposta,espero que seja mais objectivo,para além de ser ofensivo para a revista só se afundou mais, nada explicou,a não ser que se consi-dera uma personalidade prestigiada.Isso também eu,sou diretor numa empresa com 200 pessoas e tenho feito das tripas coração para não despedir, pago todos os impostos ao Gaspar,sou generoso e quando estou mal-disposto isolo-me para não ha-ver contágioTambém registei o mau desempenho da Junta de freguesia.Até ao próximo número

Um abraço a toda a equipaGonçalo Telles

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FIGURAS DA PORTELA

Chega o Outono, a chuva, o frio... Chega o fumo no ar, os vendedores pela rua e o cheiro

das castanhas a estalarem cinzentas na brasa. As estações do ano vão passan-do, mas há tradições que ainda se man-têm. Vera Lúcia, de 29 anos, herdou a profissão dos seus pais e é vendedora de castanhas assadas na Portela há 12 anos. Apesar de morar em Moscavide, foi numa das entradas do Centro Co-mercial da Portela que escolheu exercer a sua profissão. Quem para lá se dirige sabe que antes de entrar muito prova-velmente se cruza com ela, podendo deliciar-se e aquecer as mãos enregeladas do frio. Du-rante o resto do ano, ocupa-se da venda de fruta, tam-bém na nossa freguesia. Caracteriza a Portela como sendo um bairro normal, com pessoas simpáticas e clientes fiéis, que fazem questão de a visitar todos os anos, ajudando a prevalecer esta saborosa e quente tradição. «As pessoas dizem que gostam de mim e acabei por aqui ficar, mas acho que o centro devia ter algo que chamasse mais gente, porque agora tem es-tado muito parado. Há muitas lojas de pronto-a-vestir, cafés e restaurantes e faz falta outro chamariz. Penso que os parques de estacionamento também não deve-riam ser pagos», realça. A venda de «dúzias» tem-se tornado cada vez mais difícil de manter, imperando os pedidos de meia dúzia de castanhas. Confessa que este ano está a ser muito fraco, com as consequências da crise a serem cada vez mais notórias no dia-a-dia da população, já que com-prar castanhas quase se tornou num luxo para alguns. «Antigamente, facturava muito mais. Agora, as coisas estão muito mais paradas e no máximo facturo cerca de 50 € por dia. Até há pessoas que me pagam 0,50 € por 3 castanhas», diz. Questionada acerca da ordem da ASAE para a extinção dos cartuchos feitos de listas telefónicas ou de papéis de jornal, Vera é da opinião que o papel actualmente utilizado é mais higiénico, apesar de quebrar a tradição das castanhas enroladas em papel antigo: «Agora, as castanhas são servidas em saquetas ou em papel branco, mas cada saquinho custa cerca de 0,45 €, sendo mais acessível optar pelo papel branco.»Foram-se os magustos e as festas, mas ainda vão res-tando os vendedores, que invadem e animam as nos-

Filipa Assunção

sas ruas com o saboroso cheiro a castanhas assadas, abrindo-nos o apetite e apregoando pedaços de alegria e tradição. «Quem quer quentes e boas?»

Já se vê o fumo... já há castanhas!!!

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PERCURSOS DE VIDA

Filipa Assunção

Nascer num barco

Decorria o ano de 1951, quando Albertina Guerreiro iniciou o seu percurso de vida, de uma forma curiosa e pouco

habitual. A sua mãe regressava de Paris, quando ela decidiu vir ao mundo antes de tempo, acabando por nascer em alto-mar, num barco que traçava a sua rota entre Lisboa e Luanda. Com o decorrer dos anos, foi tentando recolher peças da sua vida, com a ambição de tentar com-preender o que se tinha passado naquele dia. Sentia-se vazia, com o coração pouco preenchido e precisava de saber o que se tinha passado realmente. As peças foram surgindo e Albertina consegue-nos agora contar a sua história.Filha das águas do mar, acabou por perder a sua mãe duas horas depois de sentir pela primeira vez as ondulações do mar. O navio Império estava cheio de passageiros, que rapidamente se prontifi-caram a angariar fundos para comprar uma urna, tendo em conta que existia apenas uma no barco, destinada ao comandante que não a cedera. Con-tudo, a sua mãe acabou por ser atirada ao mar. Com um percurso de vida a iniciar-se, Albertina foi criada em Luanda pelas suas tias e pela avó, que sempre deram tudo o que tinham e não ti-nham para a ver feliz: «Tive uma vida tão feliz que acho que nunca senti falta da minha mãe, a não ser mais tarde quando fui mãe. Aí, tive pela primeira vez consciência da falta que uma mãe faz», confessa.Prosseguiu a sua vida, viajando continuamente em memórias e em pedaços de história que sonhava um dia conseguir juntar. Alimentava-se de espe-ranças, de um dia poder vir a descobrir os porme-nores do seu nascimento, e quais as histórias que estavam escondidas por detrás daquela embar-cação. «O meu problema era o de que dificilmente iria encontrar alguém que se lembrasse do dia em que nasci. Podia encontrar alguém mais novo, mas que não tivesse a percepção do que real-mente tinha acontecido», diz. Sem nunca desistir, apoiou-se nas novas tecnologias e criou um grupo no facebook intitulado «Nasci num barco», com o intuito de partilhar a sua história, de ficar a conhe-cer outras, e principalmente, de tentar encontrar alguém que tivesse presenciado aquele momento. Ao saber que o Império iria passar em Luanda, na sua última viagem, Albertina aproveitou para ir conhecê-lo e para se familiarizar com o barco que a vira nascer. Foi então que descobriu mais uma pessoa que também tinha nascido a bordo.

Se lhe contasse, acreditava que Albertina nasceu num barco? E se ainda lhe dissesse que, nesse mesmo barco, estava Julieta e que anos mais tarde viriam a trabalhar juntas na mesma freguesia? Parece coincidência, mas a

verdade é que estas histórias existem.

Conta ainda que tem conhecimento que, ao todo, nasceram lá 5 pessoas.Mas parece que a história de Albertina ganhou novos contornos quando veio para Portugal na época do 25 de Abril e escolheu a Portela, local onde já mora há 36 anos. «Faço parte da direcção da AMP e sou também professora da Universidade Sénior. Nas horas livres, brinco com as cores e com as palavras», diz. Quando pensava não ir des-cobrir mais nada sobre o dia do seu nascimento, eis que Julieta Oliveira se cruza no seu caminho e, sem imaginarem, surgem novos detalhes.Julieta é natural da Régua, mas África sempre foi a paixão da sua vida. No ano em que com-pletou 18 anos, embarcou pela primeira vez para Luanda, na companhia da sua mãe, celebrando a bordo as festas de S. João. Por lá ficou e aos 19 anos acabou mesmo por casar. No entanto, com os problemas da Independência a serem cada vez mais acentuados, foi obrigada a regressar a Portu-gal com o seu marido. Após alguns períodos mais conturbados, a Portela acabou por ser o local es-colhido. «Acho que está tudo muito programado e destinado. Vim para a Portela, porque achei que tinha de ser. Senti uma empatia muito grande com esta zona e sabia que havia muita gente aqui que também tinha vindo de África», diz. Actualmente, é colaboradora da AMP e conhece Albertina há cerca de 30 anos, mas nunca tinha acontecido cruzarem as suas histórias de vida, à excepção deste ano, em que o destino se encarregou desse feito. «Como trabalhamos as duas na AMP, cos-tumamos estar presentes nos mesmos eventos, mas nunca tínhamos falado sobre isto. No dia da aula inaugural do novo ano lectivo da Universidade Sénior, o assunto do meu nascimento foi tema de conversa e acabámos por descobrir que tínhamos estado juntas no mesmo barco. A D. Julieta estava

na barco onde eu tinha nascido», conta Alber-tina comovida. Se até então nunca tivera obtido as informações que pretendia sobre o processo de nascimento, acabou por descobrir que Julieta assistira ao funeral da sua mãe, o qual contou com a presença de um padre e de uma pequena cerimónia fúnebre antes de o corpo ser lançado ao mar. «Estávamos a conversar e a Albertina co-meçou a contar a sua história. A certa altura, notei que quando fui para Luanda, me tinha acontecido exactamente a mesma coisa. Perguntei logo: Em que barco? Em que ano? E aí, percebemos que tínhamos estado no mesmo barco. Nessa noite, eu não consegui dormir», relembra Julieta. Com mais algumas peças encontradas, o puzzle da sua vida ganhou novos contornos e cores: «Foi uma gran-de e agradável coincidência. Chorámos muito as duas e ficámos muito comovidas. Se eu já gostava da Dona Julieta, fiquei a gostar ainda mais», diz Albertina, recordando este acaso da vida. Actualmente, quando conta a sua história, as pes-soas ficam admiradas. Se por um lado se torna curioso o facto de ter escrito nos seus documen-tos «Nascida a bordo», em contrapartida surgem alguns problemas burocráticos por não ter um local de nascimento. Costuma mesmo dizer, em tom de brincadeira: «Eu não nasci, eu apareci.» Por ter tido sempre presente na sua vida inúmeras questões para as quais não conseguia encontrar respostas, sente que agora existe uma serenida-de que não existia antigamente. «Era vazio, frio e doloroso saber que a minha mãe tinha sido atira-da ao mar, mas agora, ao saber que houve uma cerimónia dedicada a uma pessoa que termina os seus dias e deve ser encaminhada com toda a dignidade que merece, fiquei mais serena. Foi um conforto muito grande ter encontrado a D. Julie-ta.», confessa. Se a vida é feita de acasos, esta história é apenas mais uma ilustração desse pensamento. A história de duas jovens senhoras, que viram as suas vidas entrelaçadas pelo destino, permitiu encontrar as respostas procuradas. Afinal, todos fazemos parte do puzzle da vida, em que todas as peças se vão encaixando à medida que o tempo passa. Peça por peça, o puzzle do seu nascimento está perto de ficar completo, repleto de memórias, recorda-ções e pessoas especiais, como Julieta, que fica-rão guardadas no seu coração para toda a vida. Afinal, as coincidências existem...

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EDUCAÇÃO

Fernando Caetano

A crise e o ensino superior

Asituação que se vive actual-mente no país está a afectar todos os sectores produtivos

e o ensino superior não é excepção. Os sucessivos cortes orçamentais que têm vindo a ser feitos às universidades estão a asfixiar o seu funcionamento e cada vez mais se caminha para uma situação que poderá vir a ser insusten-tável. As universidades têm, entre outras, autonomia administrativa e financei-ra, mas têm continuado a depender do financiamento do Estado para poder continuar a ter uma oferta pedagógica relevante para o país. Actual-mente, existe uma insti-tuição independente, a Agência de Avalia-ção e Acreditação do Ensino Superior (A3ES), entidade independente no exercício das suas competências, que analisa a qualidade de cursos no ensino su-perior. Ainda recentemente foi anunciado o encerramento de mais de uma centena de cursos, en-tre universidades públicas e privadas (na sua maioria privadas, mas isso é outra questão). Mas as universida-des portuguesas e os seus docentes e não docentes respondem aos desafios procurando realizar trabalho de quali-dade que contribua para um ensino de excelência. Bolonha trouxe um novo paradigma às universidades e pode mesmo argumentar-se que a redução das licenciaturas para três anos foi meramente por questões de poupança económica, uma vez que a partir daí são os próprios estudantes que têm de pagar, na íntegra, os custos da sua formação, deixando de haver respon-sabilidades de financiamentos estatais. Mas, mesmo assim, o que se tem ob-

servado é uma contínua diminuição do financiamento estatal, ano após ano. Mas que funções têm as universidades perante a sociedade? Elas contribuem para a formação de recursos humanos qualificados em todas as áreas, sendo importantes para o desenvolvimento dos países. A quase totalidade do co-nhecimento criado, técnico, científico e cultural, é aí criado. Por outro lado, a forma de funcionamento das univer-sidades públicas obriga a uma gestão muito eficiente dos recursos dispo-níveis, que deve ser transparente, e é sempre auditada, gerando receitas próprias que, em muitos casos, é já superior à verba do financiamento do

Estado. Relativamente à inves-tigação, esta é, em grande

parte, financiada pela Fundação para a Ci-ência e Tecnologia (FCT), ainda que haja outras fontes possíveis e, tam-bém aqui, dados os

cortes constantes, se caminha para a rutura

completa. A preparação de projectos a concursos fi-

nanciados pela FCT tem suportado o desenvolvimento científico e tecno-lógico e a possibilidade de formação de mais pessoas qualificadas com o grau de mestre e de doutoramento. Tudo isso está em vias de acabar já que, sem financiamento, não há in-vestigação e os docentes do ensino superior são avaliados pela qualidade da sua investigação. Não podendo rea-lizar trabalho de investigação, deixam de estar a par dos colegas dos outros países. Poder-se-ia dizer que a investi-gação científica deveria ser coordena-da com o tecido empresarial/industrial nacional para conseguir encontrar ou-tras formas de financiamento, à seme-lhança do que se faz, por exemplo, no Reino Unido. Mas a grande diferença entre estes dois países está na quase

inexistência de indústria de monta em Portugal, capaz de suportar modelos de investigação como a reserva de parte dos seus lucros para aquelas ac-tividades. Já para não falar que a crise instaurada está também a afectar a sua capacidade produtiva…No passado dia 9 de Novembro, foi feita uma comunicação ao país pelos reitores pertencentes ao Conselho de Reitores das Universidades Portugue-sas (CRUP) avisando para os perigos de um corte de cerca de 9,4% previsto no Orçamento de Estado 2013. Entre 2005 e 2012, a redução do financia-mento público foi já de 144 milhões de euros e atingirá 200 milhões a man-ter-se aquela proposta de OE2013, ou seja, representa quase 39% do que já foi reduzido naqueles anos. Nesta co-municação, os reitores avisam para os riscos de não haver verbas para pagar aos seus funcionários durante o ano de 2013. Diversas escolas de ensino superior têm desligado aquecimentos e muitos equipamentos para poderem cortar nas suas despesas – por exem-plo, o Instituto Superior Técnico en-cerrou completamente as suas portas durante duas semanas em Agosto. Neste momento, a resposta encontra-da para aqueles cortes previstos no OE2013 para as universidades parece ser através da retirada de verbas ao ensino básico e secundário. O que é que isto quer dizer? Que se está a fa-zer mais do mesmo, tapando a cabeça, destapando as pernas. A maior fonte de riqueza de um país é através da educação, seja ela superior, secundária ou básica, como um todo. A sua destruição nunca deveria estar em cima da mesa, como parece estar. Uma educação bem estruturada torna o país mais forte e capaz de responder a todos os desafios, mas é algo que só traz mais-valias ao fim de algumas, poucas, décadas. Está na hora de re-alizar este investimento. Já se perdeu demasiado tempo.

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PORTELACULTURA

Filipa Assunção

Foi numa garagem da Portela que, em meados de 2010, um grupo de jovens percebeu que

o seu sonho podia tornar-se real. Os Zepher nascem da partilha do mes-mo amor à música e do desejo de compor temas originais, aliados a uma enorme vontade de dar a conhe-cer o seu estado de espírito. O nome tem origem na adaptação da palavra «Zephyr» associada à calma, à bri-sa e à harmonia com que o grupo se pretende caracterizar. Deram-se a conhecer pela primeira vez no evento Portela Summer Fest, organizado pela AMP, em Setembro do ano passado. Confessam que «O primeiro concerto marca sempre. Foi bom termos tocado em casa na nossa primeira actuação, porque tínhamos os nossos amigos e familiares connos-co sempre a apoiar-nos. Começámos logo lá em cima, porque tivemos mui-ta sorte de ter sido aqui, com tão boa organização e material técnico».O grande objectivo do grupo (na altu-ra ainda constituído por 5 elementos) era o de formar uma banda consisten-te, tal como sempre tinham sonhado. Foram passando por alguns proces-

Zephersos de mudança, evoluindo cada vez mais, tanto no plano da qualidade téc-nica como no número de elementos, que trariam novos tons e mais brilho às suas músicas. Com a formação do grupo concluída, actualmente os Zepher são compostos por: Duarte Sampaio, Filipe Fernandes, Fran-cisco Gonçalves, Joana Nunes, João Cunha, Pedro Neves e Zé Pedro.Com os contornos musicais a atingir os níveis que sempre tinham dese-jado, apostaram na criação de mais originais e foram surgindo algumas oportunidades de concertos, desta-cando-se um concerto de beneficên-cia em Camarate e uma recente actu-ação na Universidade Lusíada.As estruturas estavam cada vez mais complexas e era visível uma notória evolução e maturidade, o que tornou possível o lançamento do single A meu lado, muito bem recebido pelo público, e tornando-se ainda num factor de motivação para que não

desistissem do projecto: «Andamos todos na faculdade e é difícil gerir sete vidas completamente diferentes, para podermos ensaiar todas as se-manas.»O grupo revela-se no panorama mu-sical com um género ainda um pouco indefinido, podendo ser considera-da uma banda de pop/rock, que vai buscar algumas influências ao estilo urbano do hip-hop e à tranquilidade do Reggae, resultado da influência de cada um dos 7 elementos, que tenta trazer um pouco das suas raízes e vi-vências pessoais.Mais recentemente, a banda regres-sou às origens, tendo tocado nas Fes-tas da Junta de Freguesia, nas quais voltaram a sentir o conforto e a proxi-midade do público: «A Junta de Fre-guesia e a AMP ajudaram-nos muito, tanto no primeiro como no último concerto que aqui demos. Temos de agradecer muito, porque numa altu-ra em que se corta tanto na cultura,

fazemos parte de uma fre-guesia que nos apoia tanto e que pretende dar a conhecer o que aqui se faz. » Futuramente irá ser lançado o primeiro CD, que estará disponível para download em: http://www.facebook.com/zephermusicA determinação, o compa-nheirismo, a força de von-tade e um infinito amor à música partilhado por todos são a chave fundamental para que este grupo de ami-gos nunca deixe de acreditar que é possível sair de uma pequena garagem, para os palcos do país.

Da garagem para os palcos

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PORTELACULTURA

Leonor Noronha

Tímido e reservado é assim que se apresenta o Manuel Monteiro autor. Respos-

tas curtas e pouco opinativas com receio de que as suas declarações venham a influenciar a opinião dos futuros leitores: «Há uma frase de Kubrick, da qual gosto muito, que diz que “O autor não devia dar uma opinião sobre a sua obra, porque essa opinião colar-se-ia à obra como única e que isso esva-ziaria todas as infinitas possibi-lidades que as pessoas poderiam ter” e nesse sentido eu tenho muita dificuldade em falar sobre o meu livro.» O autor revelou-nos que o título da obra é inspirado numa frase da canção Disintegration, que traduziu para a revista cultural Alice, interpretada pela banda in-glesa The Cure, que diz «The soft and the black and the velvety/ Up tight against the side of me» [NR: O suave e o negro e o aveluda-do/ arremessados compactamente contra o meu lado] e acrescenta que «escolhi este título porque se trata de um livro de contrastes, de tons suaves e de tons negros».

«Acho que ele dá um excelente dramaturgo»Fernando Dacosta aceitou com muito gosto o convite do autor de O Suave e o Negro para apresentar o seu segundo romance. Dacosta considera que Manuel Monteiro

«Trata-se de um livro de contrastes»

Um escritor portelense

O Suave e o Negro é o segundo romance de Manuel Mon-teiro, director da Portela Magazine. O lançamento do livro, publicado pela editora QuidNovi, ocorreu na Fábrica do

Braço de Prata, em Lisboa, e a apresentação esteve a car-go do escritor Fernando Dacosta.

«tem um estilo muito próprio e essa é para mim a qualidade prin-cipal de um escritor, ser diferente, ser original. Ele tem essa origina-lidade. Agarrou-me muito pela te-mática e pelo diálogo, que é muito complicado, mas muito expressi-vo. Fiquei muito tocado pelo ta-lento que o Manuel tem para diálo-go. Acho que ele dá um excelente dramaturgo». Para Tiago Sousa Garcia, da Quid-Novi, a publicação desta obra justifica-se porque: «Nós temos é de encontrar talentos novos como o Manuel Monteiro e trazê-los cá para fora, uma vez que é isso que dá continuidade à literatura. O livro do Manuel despertou-nos; trata-se de uma narrativa muito, muito interessante, mestre quase, e tornou-se óbvio que tínhamos de publicar. Se o Manuel continuar a

escrever com certeza que vamos continuar a publicá-lo.»

Amizade e política, amizade e abuso: poderão elas conviver numa relação?«Alexandre meteu-se na política porque acreditava que podia mu-dar o mundo e salvar todos os infe-lizes que se cruzavam com ele» é o que podemos ler na contracapa de O Suave e o Negro. Este é o pon-to de partida para a trama imagi-nada por Manuel Monteiro; nesta luta pelos seus ideiais Alexandre conhece José, músico, com quem desenvolve uma amizade doentia suportada por um misto de culpa e compaixão. Até que ponto uma amizade pode ser destrutiva? Ou tornar-se num vício? Para isso, há que ler este romance e deixar-se levar pelas palavras do autor.

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Atendimento IntegradoPara a melhoria da qualidade do atendimento e do acompanhamento prestado às famílias em situações de risco ou de exclusão social, o Instituto da Segurança Social, a Câmara Municipal de Loures, as juntas de freguesia e as instituições de solidariedade locais implementaram um programa de Atendimento Integrado (AI), que se constitui como um serviço de grande proximidade às pessoas. A metodologia adoptada permite o acompanhamento das famílias nas suas múlti-plas problemáticas. Através de um «gestor de caso», a quem compete delinear uma estratégia de intervenção concer-tada que possa minimizar os problemas de cada um dos membros da família, é possível encontrar respostas globais, diminuir os tempos dessas respostas e qualificar a intervenção. «Porque ao invés das famílias terem que estar a contar a sua história aos vários técnicos das várias instituições por onde têm de passar naquele caso em concreto, está tudo centralizado num único que se chama gestor de caso que põe todas as áreas em funcionamento», explica Sónia Paixão. «É um dos bons exemplos do que é trabalhar em parceria. Já tínhamos um excelente conhecimento da realidade, por isso delineámos este atendimento e um conjunto de respostas que pudessem ir ao encontro das necessidades das pessoas carenciadas no concelho.» O atendimento integrado é feito por onze técnicas da câmara juntamente com algu-mas técnicas de juntas de freguesia e de instituições intervenientes no projecto.

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LOJAS SOLIDÁRIAS

Eva Falcão

As Lojas Solidárias de Loures são estru-turas que gerem os bens doados por particulares ou por empresas e são

uma resposta social desenvolvida pelo mu-nicípio em parceria com as juntas de fregue-sias e as instituições sociais. «Nós elegemos para o actual mandato, que teve início em Novembro de 2009, a área social como uma das áreas prioritárias de intervenção. Daí, sob o slogan “Mais Social” temos vindo a pôr em prática um conjunto de projectos e as Lojas Solidárias aparecem como uma resposta às famílias que são acompanhadas no âmbito do atendimento integrado num atendimento de melhor qualidade, mais centralizado ren-tabilizando os recursos técnicos existentes», explica Sónia Paixão, vereadora responsável pelo departamento de Coesão Social e Habi-tação da Câmara Municipal de Loures. Além das famílias com baixos rendimentos (incluindo os beneficiários do Rendimento Social de Inserção) encaminhadas pelos téc-nicos do Atendimento Integrado ou por ou-tros parceiros da Rede Social de Loures, po-dem aceder às Lojas Solidárias pessoas em

situação de desemprego prolongado, doença, abandono, separação, vítimas de violên-cia doméstica, idosos com fracos recursos económicos, crianças e jovens com neces-sidades básicas de subsistência. «Sabemos que ligada à problemática do desemprego está a escassez dos recursos financeiros e a impossibilidade das famílias, por si só, con-seguirem fazer face às suas despesas fixas. Fica muito menos para a questão da alimen-tação. Mas quando falamos de Lojas Solidá-rias estamos a falar num princípio que é o da dignidade da pessoa humana e que está subjacente nestes espaços. As pessoas têm ideia de que vão mesmo a uma loja», conti-nua a vereadora. Nas Lojas Solidárias, além dos géneros alimentares pode encontrar-se roupa, calçado, artigos de puericultura, al-guns equipamentos domésticos, livros, etc.Actualmente, são já 450 as famílias que usufruem das três Lojas Solidárias do con-celho. A primeira Loja Solidária de Loures abriu em Dezembro de 2010 num espaço da Casa da Cultura de Sacavém e encontra-se integralmente sob a gestão do município. A de Moscavide abriu em Setembro de 2011 numa loja do Mercado Municipal e resulta de uma parceria entre a câmara e a Junta de

Freguesia de Moscavide. Na gestão da loja de Camarate, estão envolvidas a Junta de Fre-guesia de Camarate e uma IPSS local tendo todas elas a mesma filosofia.

Alimentar estas lojasAs Lojas Solidárias são alimentadas fun-damentalmente pelas campanhas de soli-dariedade que se têm levado a cabo. São calendarizadas duas campanhas ao ano à semelhança do que faz o Banco Alimentar, mas desfasadas destas. «Há uma adesão bastante grande por parte dos munícipes. Em cada campanha realizada, aumentamos sempre os nossos números o que revela que os nossos munícipes são solidários e estão despertos para a causa», confirma Sónia Pai-xão, que sublinha «já conseguimos acreditar o projecto. Vamos devidamente identificados como Câmara Municipal de Loures através do nosso banco de voluntariado e explica-mos sempre do que é que se trata e porque estamos a fazer aquelas campanhas. O que é certo é que, de uma campanha para outra, o espírito de solidariedade tem vindo a au-mentar». O receio de que a crise viesse in-tervir nas dádivas dissipou-se na recolha de Abril. «Estávamos um pouco reticentes: será

Solidário o ano inteiro

Habitualmente, o sentimento solidário cresce na época natalícia. Aumentam as campanhas de aju-da a várias instituições e a compaixão desperta no ser humano. No entanto, quem precisa, precisa durante o ano inteiro. As Lojas Solidárias do concelho de Loures tentam satisfazer as carências dos bens de primeira necessidade de cada vez mais famílias atingidas pela situação socioeconómica

do país. Mas também elas necessitam de ser abastecidas quer por particulares, quer por empresas.

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Movimento Desperdício ZeroEm Abril do corrente ano, a Câmara Municipal de Loures celebrou um protocolo com a Associação Dar e Acordar, enti-dade relacionada com o movimento Desperdício Zero no qual estão envolvidos dez estabelecimentos comerciais do grupo Jerónimo Martins. Estes estabelecimentos aceitaram doar os seus desperdícios, ou seja, alimentos que foram confeccio-nados, não foram vendidos e que, ao fim do dia, têm de ser recolhidos pois não podem voltar a ser postos à venda no dia seguinte. Um projecto feito na base do voluntariado já que são os próprios trabalhadores das IPSS às quais os mais carenciados recorrem em busca de alimentação que vão às superfícies comerciais fora do horário de serviço buscar estes alimentos dos quais já beneficiam diariamente ou semanalmente cerca de 400 famílias. «Só em dimensão estamos perto das catorze toneladas de alimentos entre Maio, Junho e Julho passados, num valor de quase 24 mil euros. Falamos de coisas que iam para o lixo e que entraram em casa de 392 famílias», adianta Sónia Paixão. Tal como as autarquias, as Instituições Particulares de Solidariedade Social têm um conhecimento aprofundado da realidade. É também a elas que as famílias recorrem para pedir ajuda nas mais variadas vertentes entre as quais a alimentação.

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que vai ter o mesmo impacto das edições anteriores? Será que as pessoas por causa da crise vão ficar um pouco resguardadas e não querem colaborar tanto? Muito pelo contrário, o espírito é de dar e pensar se um dia não sou eu que vou precisar.» Existe, ainda, uma estratégia de marketing para com algumas das empresas do con-celho às quais a autarquia tem feito pedidos pontuais. «Atendendo às dimensões do con-celho, temos tido empresas que têm uma costela solidária mais acentuada e que têm dado mais alguns contributos.» Internamen-te, por parte dos funcionários da própria au-tarquia existe também alguma colaboração. «Temos feito campanhas de bens alimen-tares e de produtos de higiene que umas vezes têm maior número de bens doados do que outras, mas sabemos que a vida dos nossos trabalhadores não está fácil, estando a função pública a ser o principal alvo dos cortes.» Os particulares que estejam interessados po-dem ir a qualquer uma destas lojas levar os bens que pretendam doar. Existe um horário de funcionamento para cada uma delas, mas os munícipes que não possam fazê-lo por in-compatibilidade podem deixá-los nas insta-lações da Junta de Freguesia correspondente que, sendo parceira desta dinâmica, contacta com a câmara para que os vá buscar. «Não queremos que haja qualquer obstáculo para a concretização da dádiva e muitas vezes as pessoas não têm horários compatíveis com os das lojas.» Mobiliário e electrodomésticos são igualmente bem recebidos. «Há sempre famílias a precisarem, ou porque ficaram sem nada fruto de incêndios, ou mulheres vítimas de violência doméstica que têm que começar a vida do nada.» E a autarquia tem sempre forma de os ir buscar e fazer chegar ao destinatário. Novos ou usados, as Lojas Solidárias pro-videnciam aos seus utentes roupa, calçado, brinquedos, livros, material didático, artigos de puericultura e de higiene pessoal e bens alimentares. Neste momento, precisam de ser reabastecidas de fraldas quer de criança, quer de adulto, roupa e produtos de higiene

ContactosAtendimento Social Integrado Portela - Junta de Freguesia2.ª e 4.ª Quarta-feira de cada mês9h30 – 12h30Marcações: 219 446 417 Neste link tem os contactos das 18 freguesias http://www.cm-loures.pt/doc/AIntegrado.pdf

Lojas Solidárias de Loures – Camarate, Moscavide, Sacavém,Para ter acesso ou doar bens, contacte:Departamento de Coesão Social e Habitação211 150 [email protected] Loja Solidária de SacavémCasa da Cultura de SacavémUrbanização Municipal Terraços da Ponte, Parcela P2685 Sacavém211 150 [email protected] Loja Solidária de MoscavideMercado Municipal Casal dos Marcos1885 Moscavide219 458 670/[email protected] Loja Solidária de CamarateRua Manuel João dos Santos, 16 C2690-107 Camarate219 473 [email protected]

pessoal (como gel de banho, champôs, pasta e escovas de dentes, sabonetes, espuma de barbear, lâminas de barbear, desodorizantes, algodão, cotonetes, toalhitas húmidas para bebé, cremes hidratantes para bebé, cremes hidratantes para adultos, papel higiénico, etc). Por isso a AMP está a levar a cabo uma campanha de recolha destes mesmos bens até ao próximo dia 4 de Janeiro de 2013.

Alteração do utente tipoSó no segundo trimestre de 2012 foram en-

caminhadas para a Loja Solidária de Sacavém 212 famílias. Números preocupantes para a autarquia. O utente tipo de acção social alte-rou-se substancialmente. «O utente tipo não é o mesmo que era há dois, três anos atrás. As dificuldades estão a chegar à classe mé-dia que neste momento fica desempregada, que ainda consegue pagar todas as despe-sas fixas, mas depois não tem dinheiro para comer.» No entanto, Sónia Paixão tem uma preocupação acrescida: «A alimentação que nós conseguimos proporcionar naturalmente que não é a melhor nem a mais diversifi-cada. Acima de tudo não é suficiente. Estas famílias não vivem só de salsinhas e atum e, em termos alimentícios, é o que temos para oferecer. Espero que do pouco dinhei-ro que consigam ter na sua gestão familiar ainda lhes sobre qualquer coisa para irem comprar carne e peixe». E, por isso, Sónia Paixão espera que não haja muitas famílias a dependerem em exclusivo das lojas soli-dárias. É que a filosofia das Lojas Solidárias é a de que não sejam uma solução ad eter-num, mas apenas um apoio temporário até que as famílias consigam reequilibrar o seu rendimento. No entanto, «temos famílias que, já com alguma idade, os nossos seniores de 70, 80 anos, cuja perspectiva de melhoria de rendimento praticamente não existe (e ao contrário de aumentar, está a diminuir) usu-fruíram da Loja Solidária durante, por exem-plo, seis meses. Não lhes podemos dizer que já não podem usufruir mais. Sabemos que estas famílias infelizmente não vão conseguir inverter o ciclo que estamos a atravessar». Por ser autarca e pela proximidade com os munícipes que o próprio cargo lhe confere, Sónia Paixão tem conhecimento dos casos reais na primeira pessoa. «Ainda na semana passada, tive a oportunidade de contactar com um casal de idosos que paga a renda da casa, a água e a electricidade. Não tem despesas que podemos considerar como se-cundárias e cujo pequeno-almoço são três bolachas Maria e água.» A vereadora defende a necessidade de não se restringirem, como está a acontecer, as políticas sociais que já estavam em vigor.

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ENTREVISTA

A ideia de que os corruptos ra-ríssimas vezes são julgados e condenados em Portugal

vai-se disseminando pela sociedade. É uma percepção correcta ou dis-torcida em seu entender? Estando do lado do combate à corrupção, sente que há poucos meios em Por-tugal para travar essa luta?A percepção da impunidade é um fe-nómeno diferente da verdadeira im-punidade. Seja como for, os níveis de acusação e de condenação dos autores de corrupção são notoriamente infe-riores à realidade conhecida. Eu diria que os Tribunais e o MP [Ministério Público] ainda não conseguiram criar um risco sério para os autores da cor-rupção e das actividades análogas. O que é um falhanço da justiça penal.As pessoas têm uma sensação gene-ralizada de impunidade dos ricos, dos conhecidos e dos poderosos. Que a justiça penal não é igual para todos. Concorda?É um facto. A justiça penal é feita de

leis e de homens e mulheres que a aplicam, de advogados que influen-ciam a marcha dos processos… Pre-feria dizer que o mais importante «é que a justiça não seja fraca com os fortes nem forte com os fracos». Nem sempre o consegue.Outra ideia que tem vindo a galo-par na sociedade portuguesa é a de que os políticos não são honestos. Pensa que esta visão da classe po-lítica pode minar a democracia? O que se pode fazer para inverter esta visão?A democracia está notoriamente em crise. Uma das consequências é o des-vio das exigências populares para os tribunais e não para os políticos. Aí, os tribunais falham, porque a sua vo-cação não é a de fazer «revoluções», mas a de resolver os problemas das pessoas e das empresas aplicando a lei com equidade e rapidez. Não há vari-nhas mágicas na justiça. Tem de haver trabalho, trabalho e mais trabalho. To-dos os dias se recomeça do nada.A punição dos crimes informáticos, nomeadamente as constantes vio-lações dos direitos de autor, parece

não ter o efeito desejado. Há cerca de 2000 queixas arquivadas. São também frequentes os ataques à integridade pessoal na blogosfera, a utilização de citações com nomes trocados e os vídeos de divulgação da intimidade sexual de outras pes-soas. Este paradigma pode mudar? Como? Há uma dificuldade pericial em apanhar os seus autores?O principal problema entre nós é que enquanto o crime usa as tecnologias de informação para as suas activida-des lesivas dos direitos das pessoas, a justiça penal não usa as mesmas tec-nologias de informação para comba-ter e prevenir o crime. Estamos assim a combater cibercriminalidade com fisgas, o que é caricato. O MP não tem recursos periciais informáticos, o que é impensável. Continuamos nas ques-tões prévias. Depois há as outras. A cibercriminalidade ou os crimes prati-cados através da Internet revelam uma tendência de aumento exponencial, são muito voláteis, dificultam a reco-lha da prova da autoria, dado o anoni-mato das comunicações, a velocidade, a globalização dos comportamentos. É o maior desafio da justiça no século XXI.Afirmou recentemente que «a cri-

Manuel Monteiro

Dedicação ao trabalhoNão faço a mínima ideia dos meus horários. Gosto de madrugar, de disciplina férrea, de trabalhar, de alguma dureza de vida, são fei-tios. De responder a entrevistas ao domingo à tarde. O meu marido adorava trabalhar ao domingo, achava que não devíamos acumular muitos dias seguidos de descanso… era ele um hedonista.

O Mrpp na adolescênciaFui militante do MRPP na minha adolescência, era uma estudante radicalizada. Claro que há sempre uma questão de fundo: a luta pela justiça, o desejo de uma sociedade mais justa – o que afinal, não é uma herança MRPP.Depois há o desmistificar da história. Recomendo um belo filme sobre o ridículo da militância maoista, como foi a minha: La Chi-noise de Godard.

Maria José Morgado é um dos rostos mais mediáticos do combate à corrupção em Portugal. Conhecida por quem trabalha consigo pela

sua energia inesgotável, dedica-se a este causa dia e noite. De tal modo, que a entrevista foi concedida num domingo.

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se cria riscos corruptíveis sérios». Acha que a crise potencia a fraude e o esquema? Refere-se concreta-mente a quê?A crise aumenta a economia parale-la, a evasão fiscal, o branqueamento de capitais e com isso inevitavel-mente a corrupção que é instrumen-tal destes fenómenos criminais. A crise é também crise da justiça, o que potencia a impunidade e as ci-fras negras do crime organizado, nele incluindo a corrupção. A crise do Estado de Direito nunca foi boa conselheira, como qualquer pessoa pode compreender.A criminalidade parece ser hoje mais violenta. Mata-se para rou-bar e a imprensa noticia mortes por encomenda a troco de cente-nas de euros. Isto não acontecia antes com esta frequência?A percepção da violência está muito mediatizada, o que dramatiza a sua própria natureza. Temos uma vio-lência própria da nossa época. Ela surge entrelaçada com fenómenos de criminalidade altamente organi-zada, mas também pode surgir em redes sociais de forma insidiosa. É uma arma com fins diversos.Assistimos também a um aumento da violência gratuita, tipo Laranja Mecânica, com os jovens a tortu-rar jovens, por exemplo queiman-do-lhes cigarros no corpo, pelo simples exercício da violência per se. O crescimento dos gangues juvenis aumentou 400% em sete anos, há jovens que vão armados para as escolas e o fenómeno do bullying faz cada vez mais víti-mas. A que se deve? Devemos te-mer uma certa brasileirização da sociedade portuguesa?O culto da violência juvenil é um acontecimento oriundo da desagre-

Não há direitos absolutos. A liberda-de só existe se for limitada, se cada um de nós renunciar a uma parte da sua liberdade para ser verdadeira-mente livre.É essa a lição do 11 de Setembro. Para defender os direitos, liberdades e garantias, temos de os limitar em nome da paz pública e da protecção de todos.Concorda com a fiscalização do financiamento dos partidos polí-ticos? O que acha da tentativa de incriminação do enriquecimento ilícito dos titulares de cargos públi-cos?Concordo. A incriminação do enri-quecimento ilícito é a quimioterapia de que precisamos para curar a do-ença grave e crónica. Não podemos proteger fortunas privadas feitas com dinheiros públicos. Há uma reco-mendação sobre esta incriminação na Convenção da ONU Contra A Corrupção, que até foi ratificada por Portugal.O que pensa da ideia de transpor uma directiva comunitária que obriga à publicitação dos conde-nados por abusos sexuais de meno-res? A ministra da Justiça afirmou numa entrevista que não a repug-na nada a castração química dos pedófilos se a pedido dos próprios. Veria nesta medida uma necessida-de ou um retrocesso à barbárie?Não sei, acho que devemos evitar po-líticas criminais sentimentais ou fei-tas de emoção. Podem ser perigosas.É público que gosta de andar de transportes públicos. Não tem re-ceio? Andar de transportes públicos é bom. Faz bem à saúde porque se anda mais a pé, e faz bem à cabeça porque co-nhecemos como vivem as pessoas. É um bom hábito.

gação familiar, da crise económica e de valores, do desemprego. Tem aí a raiz do mal. As redes sociais re-forçam a capacidade e os currículos de violência procurados pelos jovens marginais, criam excitação na divul-gação e acumulam ainda mais agres-sividade. É um fenómeno comum em toda a Europa.Concorda com o limite legal dos 16 anos para a imputabilidade penal? Considera que as prisões portu-guesas exercem, grosso modo, a sua missão regeneradora? Faltam psi-quiatras e psicólogos nas cadeias portuguesas?Concordo. A missão regeneradora é um mito. A estatística da reincidência demonstra-o bem. Se não é possível arranjar emprego, nem ocupação social, não é possível nada. A delin-quência instala-se como um modo de vida. A psicologia é ineficaz nes-tes cenários.Se por um lado, assistimos ao au-mento e à sofisticação da crimina-lidade, por outro vão aumentando as críticas quanto ao torpediar dos direitos, liberdade e garantias. Ainda na recente manifestação da CGTP, a Amnistia Internacional criticou as irregularidades na ac-tuação da polícia. Numa época de crise, é mais fácil mutilarem-se os direitos, liberdade e garantias do cidadão?

«Os crimes praticados através da Internet são o maior desafio

da justiça no século XXI»

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ENTREVISTA

Como surgiu o projecto de cari-caturar 50 figuras portuguesas em 49 desenhos [Gago Coutinho e Sacadural Cabral estão num só desenho] na estação de metro do Aeroporto?Foi uma proposta minha que foi acei-te e que se foi desenvolvendo com o tempo e que passou por três admi-nistrações diferentes. Na altura em que o projecto arrancou [o projecto começou em 2005], ainda não havia projecto de arquitectura e portanto foi preciso encaixar uma coisa na outra, e ter em conta os espaço comerciais e os espaços de intervenção artística. Quais foram os critérios que presi-diram à escolha das 50 figuras?Os critérios são sempre discutíveis. O que se tentou foi abarcar um pouco da vida portuguesa em várias áreas, na literatura, pintura, ciência, políti-ca, no teatro, na música clássica, na música ligeira. Nunca duas pessoas estarão de acordo. Eu próprio acho que deveriam estar mais dois ou três que não estão.Considera este um dos seus mais importantes projectos?A estação do Aeroporto não é uma

estação qualquer. É uma porta de entrada do país. Por outro lado, acho que é importante para a caricatura portuguesa. É lhe dada um lugar de destaque. A caricatura ainda está um pouco no gueto e era importante que em Portugal se desse o pontapé de saída. Quer os Lisboetas quer os vi-sitantes gostaram.Está no Expresso há três décadas. Tem sido um casamento sem so-bressaltos?Teve alguns, mas é uma relação mui-to sólida. Houve uma altura no final dos anos setenta, princípio dos anos oitenta, em que saí em litígio com o jornal. Foi numa altura em que houve uma desvalorização dos salários pela inflação. É uma relação muito está-vel que passou por Governos mais à esquerda, mais à direita. Eu assino, tenho o peso da assinatura e sou res-

ponsável por aquilo que faço. A sensação que se tem é a de que o cartune enfraqueceu em Portugal. Recentemente, o celebrado Cid anunciou que deixaria o cartune. Há uma falta de renovação do car-tune no nosso país. Concorda com esta afirmação?Estamos pior, o Cid viu-se obriga-do a deixar o cartune. Entretanto, o António Jorge Gonçalves, que é re-lativamente jovem, fazia parte dessa renovação, desenhava no Inimigo Pú-blico, que ao que parece vai acabar. A Cristina Sampaio já teve muito mais espaço do que tem hoje, o Fazenda foi-se embora. Resta o Carrilho que vai tendo o seu espaço...Em relação ao humor inteligente e interventivo, considera que há re-novação?Tem havido algumas coisas, os Gato

Manuel Monteiro

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A experiência com a televisãoÉ curioso que o grande órgão de comunicação de massas que é a te-levisão teve várias tentativas com o cartune e todas correram mal em Portugal. Há uma sensibilidade terrível. Tive experiências com a RTP, a TVI e mais recentemente com a SIC com o Carrilho, a Cristina Sampaio e o Fazenda. No meu caso, chegou a acontecer que o desenho ficou fe-chado no armário e ninguém tinha a chave e depois não foi publicado e, portanto, chegámos todos à conclusão de que não vale a pena.

António Antunes, mais conhecido por António, é o melhor e mais conhecido cartunista português. Começou a sua carreira no República. Mantém uma relação de três décadas de colaboração assí-dua com o Expresso. As suas quarenta e nove caricaturas inscritas na estação de metro do Aero-porto são uma das mais bem conseguidas intervenções artísticas no espaço público português.

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Fedorento, nomeadamente o Ricardo Araújo Pereira [RAP]. Houve um ci-clo do Herman José que se esgotou, era um tipo talentoso que se eclipsou. Na rádio e na televisão, acho que não estamos pior. Temos a Maria Rueff, o Bruno Nogueira, tem havido renova-ção. O RAP tem um humor com con-teúdo político, há outros que não. Eu lembro-me daquela coisa genial do aborto em que alguém de uma forma cruel e muito inteligente atropelou o Marcelo Rebelo de Sousa com o seu próprio discurso.As reacções violentas na sequên-cia da publicação dos cartunes na Dinamarca fazem-nos pensar que estes podem interferir no rumo da sociedade?Acabam por fazer mossa. Aconte-ceu no tempo de Nixon. Eu prefiro o excesso de liberdade à ausência de liberdade. Mesmo não concordan-do, acho muito bem que se façam cartunes de Maomé, Jesus Cristo, Hitler, do que se quiser. Depois, há tribunais para resolver os excessos e abusos. A onda de choque dos cartu-nes da Dinamarca foi completamen-te artificial, aparece seis meses após a sua publicação, não tem nada de espontâneo, é completamente fabri-cado. Em países de grandes tiragens, ou em países como os EUA em que os autores publicam o mesmo de-senho em várias publicações, pode acontecer. O seu cartune do Papa João Paulo II com o preservativo no nariz foi o que até hoje suscitou maior po-lémica. Voltaria a ele com a mes-ma acutilância?Voltaria. A Igreja começa a cami-nhar no sentido de se tornar mais

chegam aqui em segunda mão muito mais baratos. A crise do cartune não é só aqui, é internacional, e é muito à base da Internet e do computador. O computador é uma máquina extraor-dinária, mas eu sempre tratei os com-putadores por você. É uma questão geracional. Gosto de sujar as mãos, gosto sensorialmente do papel.Tem mantido boas relações de in-tercâmbio cultural com o Brasil. Os assuntos portugueses desper-tam curiosidade no Brasil?Eu movo-me num Brasil muito es-pecial, que não é o Brasil do homem de rua. Há muitos brasis.Em geral, penso que não se inte-ressam especialmente por Portugal. Por outro lado, eles são muito ame-ricanos, americanos no sentido da América Latina, e com uma inspira-ção muito forte da América do Nor-te. As pessoas que têm algum poder de compra começam a perceber que Portugal também é Europa. A Expo 98 foi importante para isso. A culpa também é muito nossa, porque nós não divulgámos bem a nossa mo-dernidade. Mas ainda há a cultura de cliché, da anedota do português. Há uns anos, eu era o alvo das ane-dotas enquanto o português no meio do jornalismo.É precisa uma certa insensibili-dade à susceptibilidade do visado para se fazer humor livremente?O cartune interessa-me no plano das ideias. Não o ataque pessoal só por-que sim. No plano das ideias, sim. As pessoas são portadoras de ideias e é nesse ponto que devem ser ata-cadas, digamos. Pegar num ponto da realidade, exagerá-lo, ampliá-lo e se possível bater onde dói.

tolerante, ainda cheias de mas e de ses, mas vai ter de lá chegar porque a Igreja está desfasada do tempo, da vida, da realidade. Em relação àquele cartune, é tudo muito claro. Eu tinha razão porque eu estava com o meu tempo, com as preocupações das pessoas e sensível às mortes causadas nomeadamente pela sida, e do outro lado estava uma organiza-ção fechada sobre si própria, autista, dogmática. Que conselhos daria a quem lhe dissesse que pretendia seguir o ofício de cartunista?Houve um tempo forte do cartune na Primeira República, depois o Estado Novo acabou com isso tudo e depois foi necessário refazer tudo. Hoje, o cartunista deve ter outros meios de subsistência porque a situação além do mais na imprensa é má. O enqua-dramento económico é muito mau. Os jornais ou não compram ou com-pram muito barato ou compram coi-sas que são publicadas noutros lados e

«Prefiro o excesso de liberdade à ausência

de liberdade»

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OPINIÃO

O grande desafio é manter-se sóbrio enquanto bêbado

Beber ou não beber, eis a questão, prosaica ou hamle-tiana, a depender das papilas

gustativas e do cérebro de cada um. Naveguemos então, não nas águas, mas no álcool em questão.Sir Winston Churchill, figura decisi-va na derrota do mauzão Adolf Hi-tler, bebia para lá de Bagdad. Sobe-jamente conhecido é o caso de John Wayne, que, apesar da interminável quantidade de litros de bourbon, continuou a ser escalado por John Ford para empurrar os índios para debaixo das legendas dos filmes. Apesar de ser da turma do funil, o também actor Richard Burton não deixou de interpretar Shakespeare (segundo dizem, melhor até do que Laurence Olivier). Quem diria, Ri-chard Milhous Nixon também era da turma da pesada e, literalmente, chegou a tomar um porre federal an-tes de se demitir da presidência dos EUA (foi Kissinger quem delatou). E há o poetinha Vinícius de Morais, o homem que dizia «não é o cão, mas, sim, o uísque o melhor amigo do homem». A propósito, esta eu vi. Certo dia, escalado para uma con-ferência no Real Gabinete Portu-guês de Leitura, no Rio de Janeiro, Vinícius chegou e logo colocou os pontos nos is: «Só falo se puserem duas garrafas de uísque na minha frente.» Veio o precioso néctar e o bardo discorreu fácil sobre tudo e mais alguma coisa. Entretanto, entrou em campo Tom Jobim que,

justificadamente, brindava, e muito, às suas músicas memoráveis que encantam os nossos ouvidos. Entre um copo e outro, ele dizia: «Viver em Nova Iorque é bom, mas é uma merda. Viver no Rio de Janeiro é uma merda, mas é bom!»Há cerca de duas décadas, o já então veterano Dorival Caymmi cantou em Lisboa, acompanhado de dois dos seus filhos não menos talentosos, Danilo e Nana. Depois da cantoria, sobrevivemos a uma grande jantarada, ilustrada pelo omnipresente embaixador José Aparecido de Oliveira. Depois da sobremesa, fomos apresentados a duas escocesas, garrafas, natural-mente. Nana, mais rápido do que o gatilho do John Wayne, disse: «Esta é minha, a outra é de vocês.» Leitores, eu vi: a moçoila enxugou a dita escocesa em menos de duas horas de paleio. Claro, nunca ouvi dizer que a vivíssima Nana, May-sa Matarazzo ou Dolores Duran te-nham vozes imortais só por causa da bebida que lhes passou no gogó. Ou será que sim? Eu sei lá, já es-tou meio bêbado só por mergulhar no assunto.Como parte do elenco feminino do nosso tema, avulta a figura de Enei-da de Moraes, uma brasileira que, se viva fosse, já estaria para lá dos cem anos. Jornalista e escritora, era uma das mais profundas conhece-doras do Carnaval brasileiro (ela foi homenageada pela Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro, do Rio de Janeiro, em 1984, sob o tema do samba-enredo Eneida,

Amor e Fantasia). Certo dia, a jor-nalista e escritora Elsie Lessa (cro-nista e escritora, que viveu vários anos em Lisboa e faleceu em Cas-cais) perguntou a Eneida porque ela morava num «quarto e sala», quando tinha um amplo imóvel ao seu dispor. «Que é feito do seu lin-do apartamento?», perguntou Elsie. Ao que Eneida respondeu: «Ah, como era bonito, sim. Mas aquele apartamento... eu bebi.» Curiosa-mente, a sede alcança espaços nun-ca dantes navegados; pior, chega a secar apartamentos...O tema é vasto, mas o espaço é pequeno para tanta bebida. Está na hora de lembrar a frase genial de Humphrey Bogart: «O proble-ma da humanidade é estar sempre três uísques atrasada.» Ou cinco, como exige o humorista brasileiro Jaguar.Em Portugal, convivi com colegas jornalistas, bons de copo. O surre-alista Mário Henrique-Leiria, com o qual trabalhei (ele editava e eu colaborava num suplemento de hu-mor que saía no jornal “República”, do resistente jornalista Raul Rego), derrotava-me sempre na ginjinha. Bebida doce nunca foi o meu forte, mas nela, o autor de Contos do Gin Tonic era imbatível. Baptista-Bas-tos também «goelava» bem, mas, tanto quanto sei, aposentou o copo. Para mim, o mais engraçado era o Hélder Costa, actor e director d´A Barraca. «Vamos tomar um copo?», dizia-lhe eu. Ele olhava-me muito sério e perguntava:

Eu bebo, simJosé Alberto Braga

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«Que horas são?»«19.30, Hélder.»«Então, pode ser.»Perguntava sempre as horas, como se algum poder vigilante interferis-se no pode ou não pode beber, antes ou depois de algum horário. Fos-sem as horas que fossem, o copo era garantido. Perguntar as horas era apenas uma mania irónica de dar a partida... Mas a história mais engraçada que eu conheço aconteceu com o jornalista português José Maria Rodrigues, no começo de vida pro-fissional enquanto assessor do em-presário teatral Vasco Morgado. Ele também era conhecido por fazer pequenos papéis no cinema portu-guês dos anos 50 do século passado (e assediar as coristas dos teatros de revista). José Maria aportou no Rio de Ja-neiro onde sobreviveu a trabalhar nos jornais do meio luso-brasileiro, nomeadamente a Voz de Portugal. Em Lisboa, ou no Rio, sempre foi um homem da noite e das luzes da ribalta. Numa noite de copos infindáveis, dois dos amigos de José Maria Ro-drigues bebiam e esperavam a hora de pegar o avião para Lisboa. E re-solveram pregar uma peça ao nosso jornalista. Passaram com ele na sua casa, pegaram o seu passaporte e... ala para Lisboa. O José Maria acor-dou de manhã num hotel num fim de piela de fazer gosto. Foi abrir a janela e...«Caramba, bebi tanto, que até pare-ce que estou em Lisboa!» Ele esta-va realmente, graças a uma partida

inesquecível dos seus «amigos».Aliás, o compositor Joaquim Pimentel (au-tor de Só Nós Dois é Que Sabemos), vendo-o sempre na noite com o indefectível copo na mão, inspirou-se nele para fazer o fado Coitado do Zé Maria, que falava do autênti-co buraco existente na alma do jornalis-ta, que vivia no Brasil a pensar d i a r i a m e n -te em Portu-gal. Pimentel disse-me que se arrependeu da autoria do fado tão realis-ta. Mas já era tarde, a música entrara nos ou-vidos do povo.Bem, perguntava eu no começo do texto. Beber ou não beber? De minha parte, eu bebo – ainda que inutilmente – para tentar chegar àquela maldita luz que antevejo no fim do túnel. O dia que conseguir chegar lá, eu juro que paro de beber.Chega. Está na hora de pedir a conta! Companheiro, de que é que estávamos mesmo a falar?

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Tem a certeza de que quando vai àás compras adquire os alimentos mais saudáveis? Compra produtos light/diet com o objectivo de manter a linha? A verdade é que é muito importante atentar nos rótulos daquilo que compra, porque, muitas vezes, são enganadores e pode estar a fazer uma compra pouco aconselhável. Patrícia Almeida Nunes desmistifica estas e outras dúvidas neste guia prático de compras completo que será o seu maior aliado nas deslocações ao supermercado. A especialista analisou milhares de rótulos de diferentes produtos alimentícios e escreveu este guia que ajuda todos os consumidores a escolherem os produtos mais saudáveis para a saúde de cada um.

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SAÚDE

Será que a gelatina é uma aliada das dietas? Terá a gelatina propriedades benéficas, ou não, para a saúde? Falámos com Patrícia Almeida Nunes, nutricionista, sobre este assunto

e damos-lhe a resposta a estas e outras questões relacionadas com este alimento.

Fresca, saborosa e doce, a gelatina está entre as sobremesas preferidas de quem quer fazer um plano alimentar para perder peso. Asso-

ciada a alimentos de baixas calorias, sacia, muitas vezes, a gula dos mais gulosos evitando assim que ingiram chocolate, sobremesas ou outros doces. Mas se pensa que apenas quem faz dietas é que deve ingerir gelatina, desengane-se pois este ali-mento poderá ser benéfico para muitos. A verdade é que os benefícios deste alimento são mais do que aqueles que se possam imaginar. Daí termos consultado uma dietista, com experiência compro-vada, para desmistificar os mistérios que existem por trás daquele pó mágico que se transforma num doce muito apreciado.A gelatina pura é «constituída essencialmente por proteínas (84 a 90%) e de fácil digestão. Contêm na sua composição 9 nove dos 10 aminoácidos essenciais, e 1 a 2% de sais minerais, sendo o res-to água», explica Patrícia Almeida Nunes. Gelatina pura é aquela que se apresenta em folhas ou em pó e cujo valor calórico é baixo., Aalém desta ca-racterística muito vantajosa, é também «rica em proteínas, fornecendo cerca de 86 gr por 100 gr, é isenta de colesterol e de matéria gorda e tem apenas vestígios de hidratos de carbono e de adi-tivos». No entanto, é importante realçar que os preparados «à base de gelatina, que se encontram à venda

prontos a consumir em pequenas taças ou que ne-cessitam de ser preparados com adição de água, têm características nutricionais diferentes das ge-latinas “puras”: fornecem por cada 100 gr, menos proteínas (em média 9,3 gr) e são muito ricos em sacarose (açúcar, como fonte de hidratos de carbo-no)», esclarece a nutricionista. Contudo, já existem no mercado preparados menos calóricos e com menos açúcar (por terem edulcorantes), que forne-cem igualmente menos proteínas.

Benefícios e malefíciosA gelatina tem duas origens: animal e vegetal. As primeiras são compostas por «gelatina pura prove-niente dos tecidos dos mamíferos, que sofrem vá-rios processos industriais para serem elaborados, aos quais se adiciona açúcar e alguns aditivos. Os preparados de origem vegetal, são constituídos por açúcar e por aditivos, entre eles os espessantes», explica a dietista.Este alimento é rico em colagénio, «pelo que pode

Gelatina, a sobremesa saudável

Leonor Noronha

contribuir para o crescimento e para o fortaleci-mento das unhas e dos cabelos»; no entanto, os «preparados à base de gelatina» fornecem menos proteína. Como já foi referido, muitas pessoas vêm na gelatina um substituto dos doces e sobremesas convencionais, o que poderá ser uma razão para que ingiram gelatina com maior frequência. Patrí-cia Almeida Nunes esclarece que «a gelatina pura é muito pouco calórica, um litro pode fornecer apenas 40 calorias e uma folha cerca de sete. Os preparados à base de gelatina (em pó ou prontos a consumir em taças/copos), que a maioria das pessoas apelida vulgarmente de gelatina, podem ser pouco calóricos se em vez de sacarose ti-verem na lista de ingredientes edulcorantes em sua substituição (caso do maltitol, aspartame, acesulfame K), que se apresentam ao consumidor com a designação de «sem ou 0% de açúcar» e acrescenta que «os preparados ditos “normais” fornecem em média dois pacotes de açúcar por cada 100 g, o que equivale a um copo pequeno tipo iogurte sólido». A especialista conclui que «regra geral, a gelatina tem a vantagem de dar sacie-dade e é menos calórica do que as sobremesas tradicionais».Mas as qualidades deste alimento não se ficam por aqui, «a gelatina pura é importante para as dietas que necessitem de reforço proteico, po-dem ser utilizadas na hidratação, dão saciedade e têm pouco valor calórico. Os preparados, também podem ser utilizados na hidratação, mas são tra-dicionalmente uma fonte de açúcar simples – a sacarose». No entanto, não se pense que só há benefícios, «o seu consumo em excesso pode contribuir, entre outraos coisas, para o aumento de peso e para alterações glicémicas em diabéticos. As versões sem açúcar devem ser evitadas por doentes com fenilcetonuria».

«Uma Especialista em Nutriçcão no Supermercado»

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HUMOR

É com enorme pesar que hoje falo sobre a renúncia de Portugal em participar no Festival Eurovisão da Canção 2013. Este era, a par com o Campeonato

Mundial de Curling Feminino, o evento a não perder para o próximo ano. E, tal como no Curling, eu estava em pulgas para ver a sempre estrondosa participação Portuguesa.Mas quer o destino que assim não seja, sendo que neste caso o destino se chama RTP. A cadeia de televisão justificou a decisão com «a actual conjuntura orçamental, que não per-mite que se possam acumular eventos de monta», tendo de «optar por aqueles que tragam maior dignidade» aos can-tores e sejam mais «abrangentes» em termos de público.Dignidade, dizem eles? Mas haverá algo mais digno do que 9 músicas no Top 10, em 45 participações? Haverá algo mais digno do que a nossa participação de 1997 na qual, em termos pontuais, seríamos apenas batidos pelo actual desempenho do Sporting no campeonato?Temos conceitos de dignidade muito diferentes, minha cara RTP.E desde quando é que a abrangência em termos de público é um critério? A RTP rejeita assim tão facilmente o público na faixa dos 65 – «ligados ao ventilador»? É preciso en-tender que este festival representa tradição em Portugal e as tradições, tal como as touradas de morte e a violência do-méstica, têm um valor imensurável na progressão de uma sociedade que se quer moderna e vanguardista.Ao relegar esta participação, a RTP está também a negar aos músicos portugueses a hipótese de se mostrarem ao mundo. Não há maior montra para um músico do que o Festival Eurovisão da Canção. Basta pensar em todo o sucesso in-ternacional que foi alcançado pelas Non Stop ou pela Célia Lawson. E como pretenderá a RTP preencher o vazio deixado na pro-gramação por este evento? Que irão fazer para nos mandar areia para os olhos? Mais uma edição do Prós e Contras? Mais uma edição de um espaço em que se reúnem alguns dos melhores profissionais de uma dada área para debater e discutir temas pertinentes e, às vezes, até de vital importân-cia para Portugal? Suponho que a RTP esteja à espera que eu engula esta fachada de acesso à informação, num formato imparcial em que diferentes pontos de vista podem ser ex-postos em prol dos portugueses.A mim não me enganam!Despeço-me com um apelo à RTP: Não desistam de par-ticipar no Festival! Chamem a música, com essa lusitana paixão, como um conquistador. Minha querida RTP, não sejas má para mim.

Adios, adieu, auf wiedersehen, goodbye... Festival Eurovisão

Hugo Rosa www.facebook.com/hugohrosa

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ACONTECEU NA AMP

Novo Site da AMPO Site da AMP está em reestru-

turação, apresentando já um novo visual e organização, mais «limpo» e mais dinâmico. É já pos-sível ir acompanhando as nossas equipas de futsal, conhecer os seus atletas e os resultados obtidos. Visi-te-nos em www.amportela.pt

Exposição de Pintura de Andreia Tourais

Desde o dia 30 de Novem-bro, que a AMP acolhe,

no seu Centro de Actividades, a exposição de pintura de An-dreia Tourais, uma jovem e promissora pintora Lisboeta. A exposição intitula-se As duas Paixões.

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Concerto de NatalAssociação dos Moradores da

Portela, em parceria com a Polyphonia Scola Cantorum, rea-lizou no dia 8 de Dezembro, pelas 21H30 um Concerto de Natal no Auditório da Paróquia de Cristo-Rei da Portela que contou com a presença de inúmeros dos nossos associados.

Portela Jovem em festaEntre estudo, testes e explicações, os jovens que fre-

quentam o nosso Centro de Actividades celebraram duas ocasiões festivas num ambiente divertido e bem-disposto. No Halloween, houve tempo para máscaras, bruxas, abóboras, doçuras e travessuras. Já o são Marti-nho foi festejado com muitas castanhas assadas e quen-tinhas que animaram uma tarde de outono fresquinha.

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A Portela continua Solidária

A campanha do Banco Alimentar intitulada «Papel por Alimentos», à qual a AMP se associou, continua a ser desenvolvida com a preciosa colaboração dos nossos

associados. Congratulamo-nos por ter conseguido fazer mais uma entrega de papel no Banco Alimentar, as quais totalizaram mais 400 kg os quais serão convertidos em alimentação para quem mais precisa. A campanha continua!

Portela Wellness Solidário

Campanha de Solidariedade

A Associação dos Morado-res da Portela (AMP) e o Portela Wellness (PW)

associaram-se neste ano às Lojas Solidárias da Câmara Municipal de Loures para uma campanha de Natal.

Entre os dias 3 de Dezembro e o dia 4 de Janeiro estaremos a an-gariar bens, em especial roupas e produtos de higiene pessoal (inclusive fraldas) para crianças e adultos, para as Lojas Solidá-rias de Loures.

A entrega dos bens recolhidos será realizada no dia 6 de Janei-

ro na Câmara Municipal de Lou-res que se encarregará poste-riormente de os distribuir pelas lojas Solidárias de Moscavide, Sacavém e Camarate, de acordo com as necessidades.As lojas solidárias constituem uma nova resposta social que pretende minimizar os impactos do actual contexto socioeconó-mico do país nas famílias, sa-tisfazendo carências de bens de primeira necessidade. Além das famílias com baixos rendimen-tos encaminhadas pelos técni-cos do Atendimento Integrado ou por outros parceiros da Rede Social de Loures, podem aceder

às lojas solidárias pessoas em situação de desemprego pro-longado, doença ou separação, vítimas de violência doméstica ou abandono, idosos com fracos recursos económicos e crianças e jovens que apresentem neces-sidades básicas de subsistên-cia.

Deste modo, pedimos a partici-pação e divulgação de todos. É importante dar a quem menos tem, a entrega dos bens deverá ser efectuada no Centro de Acti-vidades da AMPE desde já um muito obrigado em nome da Direção da AMP.

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ACONTECEU NA AMP

Acrobática - AcroPortelaRealizou-se entre os dias 15 e

17 de Dezembro, nas instala-ções da Universidade Técnica de Lisboa – Faculdade de Motricida-de Humana em Paço de Arcos, o primeiro estágio de preparação da época desportiva da nossa classe AcroPortela.

FLIC FLAC – O Espetáculo GímnicoEntre os dias 13 e 16 de Dezem-

bro, no Multiusos de Odivelas, a Federação de Ginástica de Portu-gal apresentou um grande evento gímnico especial, nunca antes vis-to em Portugal. Dedicado ao tema Viagem, FLIC FLAC foi um espe-táculo dedicado a todas as idades, um encontro mágico entre os ginas-tas das seleções nacionais de artís-tica, rítmica, trampolins, acrobática e aeróbica e um grupo de bailari-nos, músicos, artistas de circo e de parkour. Veja um pouco mais do evento no site Flic-Flac.

Em meados de Outubro, a empresa Cadeifoz (sede em Águeda) doou ao Portela Sá-

bios 22 cadeiras que foram estufadas de novo. Estas mesmas cadeiras estão agora na nossa sala de convívio para todos os sábios e jovens que queiram usufruir do nosso espaço. Um obri-gado especial a quem, mesmo em momento de crise, quer participar de forma voluntária neste nosso projec-to que cresce de ano para ano.O início do ano lectivo 2012/2013 do Portela Sábios foi marcado, no dia 17 de Outubro, com a realização de jan-tar partilhado e entrega de diplomas aos nossos Sábios que nos honraram por terem frequentado o ano lectivo de 2011/2012 e contou com a presen-ça dos nossos sábios e professores, de elementos da Direcção da AMP e ainda com a ilustre presença da Di-rectora Distrital da Segurança Social, Dra. Susana Branco, bem como do Sr. Presidente da Câmara Municipal

de Loures e Reitor do Portela Sábios Eng.º Carlos Teixeira e a Senhora Ve-readora, Dra. Sónia Paixão. Nesta cerimónia uma das nossas ilus-tres sábias, Maria do Carmo Carneiro ofertou à AMP um dos quadros que pintou na nossa aula de Artes, a quem muito agradecemos e que irá certa-mente embelezar o nosso Centro de Atividades.

Início do 4.º Ciclo de Palestras PORTELA SÁBIOS

Dando já início às habituais Palestras Portela Sábios, no dia 7 No-vembro, pelas 18H30, realizou-se a primeira palestra do nosso 4.º

Ciclo de Palestras, com a presença do Dr. Paulo Ferreira, dermatologista do Hospital Cuf Descobertas e colaborador da PSOPortugal, o qual nos veio falar sobre o Dia Mundial da Psoríase e as problemáticas relaciona-das com esta doença.

Tertúlia «Alimentar o Ser»Aconteceram mais duas das já famosas Tertúlias «Alimentar o Ser», va-

mos já na 8.ª Tertúlia que neste ano lectivo passou a realizar-se nas instalações da Universidade Sénior - Portela Sábios da Associação dos Mo-radores da Portela. Estas tertúlias realizam-se uma vez por mês, fique atento à data da próxima e se estiver interessado e quiser juntar-se a nós é só… aparecer.Após as férias de Natal, a nossa Universidade Sénior – Portela Sábios reto-ma a sua atividade no dia 3 de Janeiro com mais novidades.

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VAI ACONTECER NA PORTELA

Acrobática – AcroPortelaNos dias 9 e 10 de Fevereiro, a

AcroPortela vai representar a AMP no Campeonato Distrital de Acrobática da Associação de Gi-nástica de Lisboa, que se irá reali-zar no Pavilhão Alto dos Moinhos, Catojal. Estaremos ainda presentes no 1.º torneio de Desenvolvimento de Acrobática, nos dias 23 e 24 de Fevereiro, novamente no Pavilhão do Catujal. Apareçam para apoiar os nossos jovens atletas.

As Férias de Natal chegaram – As inscrições mantêm-se aber-

tas e destinam-se a todos os jovens, quer os que estão connosco duran-te todo o ano no nosso Centro de Actividades para Jovens, quer para jovens que apenas se juntam a nós nos períodos de férias escolares.– Para mais informações, contac-tar a secretaria da AMP – telef. 21 9435114 ou 918552954, ou através de e-mail [email protected] ou [email protected]

Continuam abertas as INSCRI-ÇÕES DO PORTELA SÁ-

BIOS e do PORTELA JOVEM para o ANO LECTIVO 2012-2013 e para as MODALIDADES DES-PORTIVAS DA AMP – para mais informações contactar a secretaria da AMP – telef. 21 9435114 ou 918552954, ou através de e-mail [email protected] ou [email protected] ou [email protected]çam, colaborem e desfrutem da Vossa Associação!

Foi realizado um protocolo com as Clínicas ONE Dental and Fa-cial Concept que irá beneficiar os nossos associados e funcioná-rios e respectivos familiares em 1.º grau da seguinte forma:

• Aplicar os preços descritos no Anexo «Tabela de Preços – Protoco-lo» nos tratamentos mencionados;

• Desconto até 25% nos tratamentos não mencionados na referida ta-bela de preços;

• As consultas e os tratamentos poderão ser realizados nas clínicas: ONE EXPO sita em Avenida D. João II, n.1.16.03 A, 1990-083 Lis-boa, ONE SALDANHA sita em Avenida da Republica n.6, 1050-191 Lisboa, ONE SETUBAL sita em Avenida dos Combatentes da Grande Guerra n.11, 2900-329 Setúbal, em virtude das preferências do pa-ciente. (Eventualmente, se necessário e de acordo com a complexi-dade do diagnóstico médico, alguns tratamentos estarão apenas dis-poníveis em clínica a designar.);

• Formas de pagamento adaptadas às necessidades de cada paciente, tal como as distintas possibilidades que as clínicas ONE podem ofe-recer no seu programa de financiamentos e pagamentos fraccionados na ONE EASY;

• Agendar consultas de reavaliação da saúde oral a cada seis meses;• As limpezas orais serão gratuitas, uma vez iniciado o tratamento

prescrito pelo médico;• Prioridade no agendamento das consultas e tratamentos;• Realização de uma acção de rastreio anual, a efectuar nas instalações

da AMP, em data a agendar entre as partes;• Oferta de um vale de desconto nos tratamentos a efectuar aos bene-

ficiários que comparecerem ao rastreio anual, com prazo de validade de 3 meses;

• Uma sessão de esclarecimento anual sobre saúde oral orientada para o público infantil/júnior e outra para o público sénior, a efectuar nas instalações da AMP, em datas a agendar entre as partes.

Novos Protocolos

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O que é necessário para requerer Protecção Jurídica?Pode requerer-se protecção jurídica em qualquer serviço de atendimento da Segurança Social. Os formulários de requerimento são gratuitos e devem ser apresentados pessoalmente em qualquer balcão de atendimento ao pú-blico dos serviços de segurança social, enviados por fax, por correio ou por e-mail (através do preenchimento do respectivo formulário digital).Para mais informações: 808 26 2000 (custo de chamada local) e http://www.dgpj.mj.pt/sections/gral/arbitragem*informação recolhida em http://www.gral.mj.pt

Justiça para todos

Eva Falcão com Carla Marques

Na edição anterior, abordámos duas formas mais céleres e menos dispendiosas de resolver litígios, a Mediação e os Julgados

de Paz. Os Centros de Arbitragem são uma alter-nativa igualmente rápida e financeiramente mais acessível.*

A ArbitragemA Arbitragem voluntária é mais uma das formas de resolução alternativa de litígios (prevista na Lei n.o 31/86, de 29 de Agosto). Nela, as partes, atra-vés de um acordo de vontades que se designa por convenção de arbitragem, submetem a decisão a árbitros por elas escolhidos, desde que o litígio não esteja exclusivamente atribuído a tribunal judicial ou a arbitragem necessária e não respeite a direitos indisponíveis.A convenção de arbitragem pode ser de dois tipos: compromisso arbitral quando a convenção de ar-bitragem tem por objecto um litígio actual mesmo que se encontre afecto a tribunal judicial; cláusula compromissória sempre que abarque os eventuais litígios futuros emergentes de uma determinada re-lação jurídica contratual ou extracontratual.Os interessados em promover a realização de arbi-tragens voluntárias com carácter institucionalizado devem requerer ao Ministro da Justiça a criação dos respectivos Centros de Arbitragem, respeitan-do o disposto no Decreto-Lei n.o 425/86, de 27 de Dezembro.

Os Centros de Arbitragem Os Centros de Arbitragem são entidades que pres-tam informações, disponibilizam aos cidadãos me-diação e conciliação e, caso não se chegue a acordo por uma dessas vias, a Arbitragem, sob a forma de Tribunal Arbitral. Os Centros de Arbitragem operam em função da sua área geográfica, em função do tipo de litígios que podem resolver e, em regra, em função do limite do valor dos litígios.O prazo legal de duração dos processos não deve exceder os 6 meses, embora possa ser superior se as partes assim o convencionarem.O Ministério da Justiça, por razões de ordem social

e atendendo à importância de certas áreas, apoia determinados Centros de Arbitragem: sete na área do consumo, a saber:– Centro de Arbitragem de Conflitos de Consumo

do Distrito de Coimbra – CACCDC;– Centro de Arbitragem de Conflitos de Consumo

de Lisboa – CACCL; – Centro de Arbitragem de Conflitos de Consumo

do Vale do Ave – CACCVA; – Centro de Informação de Consumo e Arbitragem

do Porto – CICAP; – Centro de Informação, Mediação e Arbitragem da

Região de Consumo do Algarve – CIMAAL; – Centro de Informação, Mediação e Arbitragem de

Consumo (Tribunal Arbitral) – CIAB; – Centro Nacional de Informação e Arbitra-

gem de Conflitos de Consumo – CNIACC; dois no sector automóvel: Centro de Informação, Mediação, Provedoria e Arbitragem de Seguros – CIMPAS; e o Centro de Arbitragem do Setor Automóvel – CASA;

– Centro de Arbitragem para a Propriedade Indus-trial, Nomes de Domínio, Firmas e Denominações – ARBITRARE e o Centro de Arbitragem Admi-nistrativa – CAAD.

A criação de Centros de Arbitragem observa sem-pre os mesmos procedimentos e regras legais, sendo a criação de todos autorizada pelo Ministro da Justiça.

Acesso à justiçaDireito fundamental previsto no artigo 20.o da Constituição da República Portuguesa, a Lei de Acesso ao Direito e aos Tribunais consagra, como formas de acesso ao direito e aos tribunais, a in-formação jurídica e a protecção jurídica (consulta jurídica e de apoio judiciário).A informação jurídica serve, essencialmente, para que todos conheçam os seus direitos e deveres, cabendo ao Estado divulgar o Direito aplicável aos cidadãos.A protecção jurídica é concedida em questões ou causas judiciais concretas ou susceptíveis de concretização que versem sobre direitos directa-mente lesados ou ameaçados de lesão e em que o utente demonstre estar em situação de insufi-ciência económica e tenha um interesse próprio. A protecção jurídica abrange as modalidades de

consulta jurídica e de apoio judiciário. A consulta jurídica consiste no esclarecimento técnico sobre o direito aplicável a questões ou casos concre-tos, apreciando da existência ou não de funda-mento legal para a pretensão do utente. O apoio judiciário deve em regra ser requerido antes da primeira intervenção processual e pode compre-ender as seguintes modalidades: dispensa de taxa de justiça e demais encargos com o processo, nomeação e pagamento da compensação de pa-trono, pagamento da compensação de defensor oficioso, pagamento faseado de taxa de justiça e demais encargos com o processo, nomeação e pagamento faseado da compensação de patrono, pagamento faseado da compensação de defensor oficioso e atribuição de agente de execução.Têm direito a protecção jurídica os cidadãos na-cionais e da União Europeia, bem como os es-trangeiros e os apátridas com título de residência válida num Estado membro da União Europeia que demonstrem estar em situação de insuficiência económica. As pessoas colectivas com fins lu-crativos e os estabelecimentos individuais de res-ponsabilidade limitada não têm direito a protecção jurídica. As pessoas colectivas sem fins lucrativos têm apenas direito à protecção jurídica na mo-dalidade de apoio judiciário. A insuficiência eco-nómica é aferida mediante factores de natureza económica e respectiva capacidade contributiva, ou seja, quando não existem condições objecti-vas para suportar, pontualmente, os custos de um processo. A apreciação dessa insuficiência econó-mica deverá ser feita de acordo com o rendimen-to, o património e a despesa do agregado familiar. Cabe ao requerente fazer a prova da sua situação económica. O simulador de cálculo do valor do rendimento, relevante para efeitos de protecção jurídica encontra-se disponível no sítio da Internet da Segurança Social e da Rede Judiciária Europeia em Matéria Civil e Comercial. Qualquer requerente pode saber se tem ou não direito ao benefício e em que modalidade e medida mediante a aplica-ção da fórmula de cálculo do rendimento relevan-te para efeitos de protecção jurídica.A insuficiência económica das pessoas colectivas sem fins lucrativos é aferida nos mesmos moldes que a das pessoas singulares, tendo em conta o rendimento, o património e a despesa.

JUSTIÇA

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A Associação dos Moradores da Portela vê com orgulho dois atle-tas seus serem seleccionados para representarem a Selecção Nacional de Portugal e a Selecção Distrital de Lisboa.

NILSON MIGUELEste jovem talento, atleta da AMP deste a época passada, é interna-cional universitário e disputou de 11 a 17 de Dezembro de 2012 o Tor-neio de St. Petersburgo na Rússia, representando a Selecção Nacional de Futsal Sub-21.

JOÃO AMARALGuarda-Redes da AMP desde a presente época, vai representar a Selecção Distrital de SUB-20 de Futsal – A. F. Lisboa para o Torneio Inter-Associações a disputar de 11 a 13 de Janeiro de 2012.

Votos de muito SUCESSO!

Passados três meses desde o início da época 2012-2013, a AMP e a sua equipa Sénior

ainda não conseguiram a evolução em relação à época anterior. Não atingimos até agora o nível de qualidade exibicional para subir-mos mais um degrau na progressão do que ambicionamos para esta épo-ca.O Futsal é uma aposta consciente da nossa Associação. Temos excelentes técnicos e praticantes, e um público que queremos mais entusiasta…É o trabalho dos atletas e de todos os restantes elementos que fazem com que isso aconteça.Quanto à nossa formação, tem sido

Futsal Armando Jorge Domingues

Os nossos Atletas nas selecções…

um regalo ver a nossa equipa de Escolas/Benjamins, sempre bem apoiados pelos pais e um público que se anima com a garra, querer e vontade dos nossos atletas.Os nossos Infantis e Iniciados, em crescendo e a cada jornada mostran-do-se mais consistentes em termos de jogo.Juvenis e Juniores, cumprindo com o que deles se espera, proporcionan-do bons jogos. Sabemos dos valores das NOSSAS equipas, sabemos que será uma épo-ca difícil, mas é para sermos melho-res que trabalhamos e certamente com muito esforço e dedicação va-mos procurar e encontrar TODOS o que objetivamos…

Haja Alegria… Mística… Portela… a «cultura» do ser PORTELEN-SE…É esse o nosso sucesso!

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AMP

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magazineP rtela26

AMP

Portela premiada na Gala

do DesportoEva Falcão

A equipa sénior de futsal da AMPortela esteve em destaque na 4ª Gala do Desporto da Câmara Municipal de Lou-

res. Uma menção honrosa pelo primeiro lugar do campeonato nacional da terceira divisão, um prémio pelo melhor treinador e uma ho-menagem ao atleta Nilson Miguel traduziram-se no reconhecimento do trabalho dos atle-tas e da equipa técnica na época desportiva 2011/2012.A Câmara Municipal de Loures promoveu no passado dia 17 de Novembro a 4ª Gala do Desporto. Uma iniciativa do Departamento de Cultura, Desporto e Juventude da autarquia que tem como objectivo homenagear atle-tas, equipas e treinadores do concelho que se destacaram na época desportiva 2011/2012, tendo por base as classificações obtidas nos quadros competitivos do sistema desportivo federado e/ou escolar. O evento pretende re-conhecer o esforço e empenho dos vários agentes desportivos incentivando, desta for-ma, a prática de actividade física. Entre os homenageados, destaque para David Grachat, campeão nacional e atleta paraolímpico em natação adaptada, nomeado pela GesLoures como Atleta do Ano e o «nosso» Mário Silva como Treinador do Ano e campeão nacional da 3ª divisão de futsal pela Associação dos Moradores da Portela. As menções honrosas foram, por sua vez, atribuídas a Armando Ribeiro, treinador de taekwondo, e campeão nacional, pela Asso-ciação Humanitária dos Bombeiros Voluntá-rios de Loures, à equipa sénior de futsal da Associação dos Moradores da Portela, que se sagrou campeã nacional da terceira divisão, a Carlos Clara, atleta de natação da Gesloures, vice-campeão nacional dos 400 e 200 me-tros livres e vencedor do XVII Meeting Inter-nacional do Estoril, Rui Rodrigues, atleta de taekwondo do Grupo União Lebrense, campeão nacional em sub-21 e seniores e vencedor do Open Internacional de Londres, Renato Ferrei-ra, atleta de BTT, campeão nacional de rampa sub-23 e primeiro classificado sub-23 no campeonato nacional de maratonas e a Au-gusto Vitorino, ciclista do Grupo Desportivo de Lousa, campeão nacional de contra-relógio.

Unir pelo desportoNo decorrer do evento, Carlos Teixeira, Pre-sidente da Câmara Municipal de Loures, des-

tacou a enorme diversidade de modalidades existentes no município, enaltecendo o va-lor daqueles que diariamente, pela sua prática, honram o nome do município. João Pedro Domingues, Vice-Presidente da Câmara Muni-cipal de Loures, defendeu a prática do desporto como forma ímpar no exercício da cidadania. «O desporto une sem diferenças nas origens, línguas ou culturas, fazendo dessa força o seu próprio código de intervenção. Ao longo do último ano, mais de sete mil atletas e 400 treinadores e muitas centenas de dirigentes continuaram a fazer do desporto a sua forma de estar na sociedade e do seu trabalho uma exemplar forma de cidadania plena, determi-nada e convicta.»O autarca lembrou as «dificuldades com que todos os agentes desportivos se debatem hoje, pois partilhamos diariamente das suas limita-ções, mas queremos continuar a ser a parte da solução e não apenas um mecanismo do problema. A Câmara Municipal de Loures nos últimos 11 anos promoveu uma política des-portiva assente na criação de infra-estruturas para a prática desportiva. Investiram-se largos milhões de euros na construção de pavilhões, na requalificação de recintos desportivos e na instalação de relvados sintéticos. Mas acima de tudo apostamos na formação. Na formação não apenas de atletas, mas também de técni-cos e de dirigentes», acrescentou.

Trabalho reconhecidoO futsal sénior da Portela foi distinguido com três nomeações: melhor treinador, melhor atleta (Nilson Miguel, internacional universi-tário português que se estreou aos 19 anos no escalão sénior pela AMPortela, num jogo frente ao Sassoeiros, a contar para a Taça de Portugal) e melhor equipa. No entanto, Mário Silva, vencedor do troféu de Melhor Treinador do Ano sublinha que se trata de um prémio colectivo, e não in-dividual. «É um prémio atribuído ao trabalho de uma equipa técnica composta por mim,

José Amado e Tiago Cor-deiro, onde nunca existiram treinadores principais nem secundários. Sem eles sería-mos sem dúvida mais fracos, e com menor capacidade de sucesso.» Não esconde a (agradável) surpresa já que se trata do reconhecimento a «um treinador jovem, no primeiro ano de actividade. Ser reconhecido pelo traba-lho desempenhado é bas-

tante gratificante. Encoraja-nos a trabalhar mais e melhor, com a mesma dedicação e entrega. É neste espírito que, tanto eu como a restante equipa técnica, encaramos esta distinção, tendo sempre a noção que fomos premiados pelo que fizemos no passado». Foi precisamente aquando da atribuição do pré-mio que Mário Silva expressou publicamente a preferência pelo prémio de melhor equipa, sentimento que se mantém inalterado. «Fiquei com uma sensação de angústia, porque senti e sinto que os verdadeiros obreiros do nosso sucesso foram os atletas. Fizemos uma se-lecção dos mesmos com base no carácter, e tivemos a felicidade de todos eles terem cumprido com as expectativas, ficando tudo mais fácil. Acredito que para todos o reco-nhecimento de um trabalho bem realizado é sinónimo de motivação e espero que a equipa sinta isso e mantenha a vontade de ser sem-pre melhor.» Mas Mário Silva prefere encarar tudo isto numa perspectiva de continuidade. «Todos têm noção de que o que alcançámos desportivamente no ano passado foi muito positivo, fizemos história, batemos recor-ds, mas como se diz na gíria, quem vive de passado é museu. Temos de continuar a ser capazes de nos adaptarmos aos novos desa-fios, e a termos a capacidade de ir mudando de acordo com as dificuldades e exigências que se nos vão deparando. Só assim vamos continuar a evoluir e a almejar os objecti-vos traçados.» Termina com uma citação de John Fitzgerald Kennedy: «A mudança é a lei da vida. Aqueles que apenas olham para o passado ou para o presente, irão certamente perder o futuro.»

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