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ESTUDO DO DESENVOLVIMENTO EQUILIBRADO DA FUNÇÃO DE CRÉDITO NA ECONOMIA ANGOLANA Documento Resumo JULHO DE 2013

Potenciação do Crédito à Economia

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Page 1: Potenciação do Crédito à Economia

ESTUDO DO DESENVOLVIMENTO EQUILIBRADO

DA FUNÇÃO DE CRÉDITO NA ECONOMIA ANGOLANA

Documento Resumo

JULHO DE 2013

Page 2: Potenciação do Crédito à Economia

ESTUDO SOBRE POTENCIAÇÃO DE CRÉDITO NA ECONOMIA ANGOLANA Julho 2013

2

Índice

I. Introdução .............................................................................................................................. 3 II. Situação da actividade creditícia em Angola ......................................................................... 4

III. Principais Entraves à Concessão de Crédito...................................................................... 6 IV. Benchmark Internacional de Medidas de Impacto no Desenvolvimento Equilibrado do

Crédito12 V. Programa de Desenvolvimento Equilibrado da Função de Crédito na Economia .............. 17 VI. Próximos Passos .............................................................................................................. 22

Page 3: Potenciação do Crédito à Economia

ESTUDO SOBRE POTENCIAÇÃO DE CRÉDITO NA ECONOMIA ANGOLANA Julho 2013

3

I. Introdução

1. Na fase que economia angolana actualmente atravessa, de grande crescimento económico

potencial, o acesso ao crédito não deve ser um entrave ao investimento, mas antes um catalisador

que suporte o desenvolvimento da economia. A actividade creditícia tem igualmente um papel

indispensável no suporte aos esforços em curso de diversificação da economia angolana,

funcionando como fornecedor de liquidez aos vários sectores;

2. Foi no contexto da necessidade de desenvolver uma função de crédito que promova um

crescimento sustentado da economia que o Banco Nacional de Angola decidiu realizar um estudo,

com o apoio da The Boston Consulting Group (BCG), com o objectivo de entender de forma

detalhada as razões e bloqueios que limitam essa função do crédito na economia angolana, bem

como definir um plano de acção para os ultrapassar;

3. O estudo focou-se nas seguintes actividades:

Entender a situação da actividade creditícia em Angola;

Entender os principais entraves ao desenvolvimento de crédito na economia;

Levantar as melhores práticas internacionais existentes na dinamização e promoção da

actividade creditícia e reflectir sobre a sua aplicabilidade à realidade angolana;

Definir um Programa de Desenvolvimento Equilibrado da Função de Crédito;

Reflectir e propor sobre o modelo de implementação e seguimento.

4. Para garantir uma adequação do diagnóstico e das linhas de acção propostas à realidade

angolana, o estudo tentou assegurar a participação dos "stakeholders" relevantes:

As empresas, tendo sido realizado um inquérito a mais de 100 PMEs;

Os cidadãos, tendo sido realizado um inquérito a 30 indivíduos;

Os bancos, tendo sido entrevistados 9 dos bancos a operar no sistema financeiro angolano.

5. Também, como complemento ao estudo de possíveis medidas a lançar, foram identificados os

países com prácticas relevantes no desenvolvimento do crédito na economia. Para o benchmark foi

analisado um conjunto de 9 países em contextos particularmente relevantes para a realidade

angolana, incluindo:

Países com penetração elevada de crédito (África do Sul, Tunísia e Marrocos);

Países com penetrações médias em crescimento (Brasil, Turquia e Emirados Árabes

Unidos);

E países com penetrações baixas e crescimentos acelerados (Nigéria, Arménia e Paraguai).

6. Também foram analisados outros países que, apesar de estarem em contextos diferentes, se

distinguem a nível mundial com as melhores práticas na área de crédito (França, Inglaterra,

Guatemala, Austrália, Cazaquistão, Roménia, Nova Zelândia, Palestina, Etiópia, Maurícias,

Camboja e Argélia).

7. Resume-se neste documento o detalhe de análises, medidas e benchmarks de referência

utilizados. Para além do capítulo introdutório, este documento está organizado nos seguintes

capítulos: capítulo II, onde se faz um breve diagnóstico da situação do crédito em Angola; capítulo

III, onde são mencionados os principais entraves à concessão de crédito; capítulo IV, que resume

as melhores práticas existentes noutros países conducentes à dinamização do crédito; capítulo V,

Page 4: Potenciação do Crédito à Economia

ESTUDO SOBRE POTENCIAÇÃO DE CRÉDITO NA ECONOMIA ANGOLANA Julho 2013

4

que propõe um programa de desenvolvimento equilibrado para a potenciação do crédito à

economia; capítulo VI que apresenta os próximos passos.

II. Situação da actividade creditícia em Angola

8. Apesar do crescimento absoluto da actividade creditícia no mercado angolano, o seu peso face

ao PIB tem-se mantido estagnado e está ainda muito aquém dos países congéneres, usados como

referência no benchmark. O crédito apresenta uma elevada concentração em Luanda e no sector

privado, sendo os empréstimos ao sector dos serviços o maior consumidor de crédito. O crédito

em Angola revela também margens decrescentes e uma cada vez maior representação em moeda

local;

9. A actividade de crédito tem vindo a crescer de forma significativa, com o stock de crédito a

crescer a uma taxa de 42% por ano, desde 2006, tendo atingido os 2,4 biliões de kwanzas em

2012, face a 0,3 biliões em 2006. Apesar do aumento notável em volume, o peso do crédito na

economia estagnou a partir de 2009, com o rácio de crédito/PIB a oscilar entre os 20% e os 21%,

após um período de crescimento médio de 37% por ano;

Gráfico 1:Evolução do Crédito à Economia entre 2006 - 2012

212020

21

1312

8

0

5

10

15

20

25

Crédito (mM Kz)

2,500

2,000

1,500

1,000

500

0

2012

2,393

2011

1,957

Crédito/PIB (%)

2010

1,509

2009

1,272

2008

815

2007

538

2006

298

Crédito

Crédito/PIB

10. O tecido empresarial privado é o principal utilizador do crédito no país, representando 79% do

crédito líquido de provisões. O crédito também está geograficamente concentrado, com Luanda a

representar 90% do stock do sistema financeiro, Huíla e Benguela a representar 2% cada, e o

conjunto das restantes províncias, a pesar apenas 6%;

11. Na distribuição do crédito por produto e a respectiva relação com os diferentes sectores

económicos, existe uma grande predominância dos empréstimos bancários ao sector dos serviços1,

que nos últimos três anos viu o seu peso aumentar 7%, de 11% para 18%, e representa hoje a

maior fatia do crédito à economia. O crédito ao sector do comércio representa a segunda maior

fatia (17%);

1 Inclui Produção e Distribuição de Energia, Alojamento e Restauração, Actividades Financeiras e Seguros, Educação,

Saúde e Acção Social

Page 5: Potenciação do Crédito à Economia

ESTUDO SOBRE POTENCIAÇÃO DE CRÉDITO NA ECONOMIA ANGOLANA Julho 2013

5

Gráfico 2: Benchmark do Crédito /PIB Gráfico 3: Benchmark da Taxa de Transformação

41

Turquia

50

Brasil

61

Emiratos

62

Marrocos

71

Tunísia

76

África do Sul

135

Crédito/PIB 2011 (%)

150

100

50

0

Ø 59

Angola

20

Arménia

35

Nigéria

37

Paraguai

Rácio de transformação 2011 (%)

200

150

100

50

0

Ø 110

Angola

55

Arménia

127

Nigéria

70

Paraguai

86

Turquia

98

Brasil

121

Marrocos2

136

Tunísia1

139

África do Sul

160

12. Comparativamente ao benchmark escolhido para este estudo, o peso do crédito à economia

sobre o Produto Interno Bruto situa-se abaixo da média, conforme se pode observar no Gráfico 2

acima. O baixo nível de aprofundamento financeiro poderá estar a ser causado pela relativamente

baixa taxa de transformação do crédito à economia no sector bancário angolano que, de acordo

com o Gráfico 3, também se situa abaixo da média do benchmark;

Gráfico 4: Benchmark da Taxa de Bancarização

13. Outro factor que contribui para a baixa

penetração do crédito na economia angolana é a baixa

taxa de bancarização. Apesar do crescimento

verificado ao longo dos últimos anos – situava-se nos

23% em 2012 – o acesso aos serviços bancários por

parte da população angolana ainda se encontra abaixo

da média do benchmark seleccionado para este

estudo. O Gráfico 4 à direita mostra que os países

onde a bancarização é mais alta são aqueles onde a

taxa de transformação e o peso do crédito na

economia é maior;

14. A Figura 1 em baixo ilustra a situação do crédito por sectores comparado ao peso que os

mesmos têm na estrutura do PIB. No caso da Agricultura, que não coincide com as outras áreas do

sector primário da economia, nota-se uma discrepância média de 76% quando se compara o

crédito concedido àquele sector e a sua contribuição para o PIB. Por outro lado, são as áreas do

sector secundário da economia que beneficiam de maior crédito e, portanto, contribuem também

com maior peso na estrutura do PIB. Deve-se no entanto ter presente que estas áreas, como é o

caso da Construção, foram alvo de investimentos públicos significativos, que certamente

contribuíram para o aumento do seu peso na economia angolana;

15

30

4042

54

63

6970

19

0

25

50

75

Taxa de bancarização 2011 (%)

Ø 45

x2

Angola

Paraguai

Nigéria1

Emirados

Arménia

Brasil

África do Sul

Marrocos1

Turquia

23% em 2012

Page 6: Potenciação do Crédito à Economia

ESTUDO SOBRE POTENCIAÇÃO DE CRÉDITO NA ECONOMIA ANGOLANA Julho 2013

6

Figura 1: Comparação entre Crédito Concedido e Peso na Economia

0.2 0.30.2

0.10.10.1

0.0

0.2

0.4

0.6

Pescas (%)

-48%-48%-40%

201220112010

10910

322

0

10

20

Agricultura (%)

-72%-79%-76%

455047

5330

50

100

Indústria Extractiva1 (%)

-89%-93%-94%

88814

1010

0

20

40

Construção (%)

+64%+22%+18%

201220112010

222021 202023

0

20

40

60

Comércio (%)

-9%+3%+11%

201220112010

66611109

0

20

40

2010

Indústria Transformadora (%)

+75%+63%+51%

20122011

% Crédito% PIB

III. Principais Entraves à Concessão de Crédito

15. Para entender os principais pontos críticos na concessão de crédito em Angola foram

utilizadas 3 fontes: (i) entrevistas a vários stakeholders como bancos, empresas e clientes; (ii)

análises aos processos de concessão de crédito em Angola; (iii) e uma comparação com países

através de um benchmark.

16. Para o benchmark foi analisado um conjunto de 9 países em contextos particularmente

relevantes para a realidade angolana, incluindo:

Países com penetração elevada de crédito (África do Sul, Tunísia e Marrocos);

Países com penetrações médias em crescimento (Brasil, Turquia e Emirados Árabes

Unidos);

E países com penetrações baixas e crescimentos acelerados (Nigéria, Arménia e Paraguai).

17. Para melhor entender os desafios à actividade de crédito em Angola foram identificados os

temas críticos à concessão de crédito. Do lado da procura, o acesso limitado ao sistema bancário e

o baixo nível de educação financeira da população mostram ser as razões fundamentais à não

utilização de produtos de crédito. No que toca à oferta, a capacidade e motivação dos bancos para

concederem crédito, a falta de adequação à procura e as limitações na informação disponível, que

não permitem fundamentar as decisões de concessão com uma correcta avaliação do risco, são os

aspectos identificados como mais críticos. Finalmente, existem também dificuldades relacionadas

com o enquadramento legal em Angola;

Page 7: Potenciação do Crédito à Economia

ESTUDO SOBRE POTENCIAÇÃO DE CRÉDITO NA ECONOMIA ANGOLANA Julho 2013

7

Figura 2: Esquema de Estudo sobre Contrangimentos da Concessão de Crédito

Banco Central

Banco

Garantias

Crédito

InformaçãoClientePedido de

crédito

Populaçãoangolana e empresas

1

3

2

6

4

5

• Os potenciais clientes têm acesso ao sistema bancário e utilizam produtos de crédito?

• O enquadramento legal é positivo à concessão de crédito, assegura as garantias ao banco e ao cliente?

• Os clientes têm educação financeira para fundamentar um pedido de crédito ao banco?

• A informação disponível dos clientes permite fundamentar uma decisão com a correcta avaliação do risco?

• A oferta de crédito disponível e as condições oferecidas são adequadas aos clientes?

• Os Bancos têm capacidade e dispõe da organização e processospara conceder crédito?

1 2

4

3

5

6

Procura

Oferta

Legal

Com base nestes temas, foram identificadas seis questões críticas à concessão de crédito, que um

programa de desenvolvimento da função de crédito papel deverá tentar responder, a saber:

17.1 Os potenciais clientes têm acesso ao sistema bancário e utilizam produtos de crédito?

Com uma taxa de bancarização (23%), que é metade da taxa média do benchmark (45%) como

aparece no Gráfico 4, existe ainda um grande espaço para aumentar o acesso ao sistema bancário.

O baixo nível de bancarização no país está a restringir a utilização de crédito por parte da

população, que tem a relação Crédito per capita/PIB per capita mais baixa do conjunto de países

analisados. Nalguns sectores, como a Indústria Extractiva e Agricultura, existe um gap entre o

contributo para o PIB e a utilização de crédito. Existem já algumas ferramentas para promover o

aumento do acesso ao sistema bancário, como o Bankita, ou o projeto SOBA - a iniciativa em

curso do BPC para promoção da utilização de produtos financeiros simples junto das

comunidades; Gráfico 5: Benchmark do Crédito /PIB Gráfico 6: Benchmark da Taxa de Transformação

12

8

4

0

Principais desafios à concessão de crédito (# menções nos 3 mais importantes)

Capital próprio limitado

2

Baixa sofisticação financeira

7

Sistema jurídico (incluindo temas

de Garantias)

10

"A sofisticação da procura passa também pela cultura

de crédito e comportamento creditício"

Entrevistas a Bancos

10

20

70100

0

25

50

75

100

Análise de pedidos de crédito (%)

Contabilidade organizada e

fiável

Contabilidade organizada

Sem contabilidade

Total

Pedidos rejeitados

Page 8: Potenciação do Crédito à Economia

ESTUDO SOBRE POTENCIAÇÃO DE CRÉDITO NA ECONOMIA ANGOLANA Julho 2013

8

17.2 Os clientes têm educação financeira para fundamentar um pedido de crédito ao banco?

O baixo nível de sofisticação financeira foi apontado pelos bancos entrevistados como uma

barreira importante à concessão de crédito, sendo estimado que 9 em 10 pedidos de crédito sejam

rejeitados à partida por falta de contabilidade organizada e fiável. A melhoria na formação

financeira teria impactos importantes sobretudo na concessão de crédito a pequenas e médias

empresas;

17.3 Os Bancos têm capacidade e dispõem da organização e processos para conceder crédito?

A capacidade de concessão de crédito por parte dos bancos está limitada, por um lado, pela

capacidade interna de gestão de crédito e, por outro, pela discrepância entre a maturidade das

necessidades de crédito, de mais longo prazo, e a capacidade de funding dos bancos, de mais curto

prazo.

Os bancos comerciais enfrentam alguns constrangimentos internos que têm dificultado a

concessão de crédito e essencialmente tornam os processos de gestão e recuperação de crédito

ineficientes. Os principais constrangimentos apontados pelos bancos (por ordem decrescente de

referências) foram:

Qualidade da informação sobre os clientes, e as garantias associadas desactualizadas ou

incorrectas;

Processos internos incompletos e em fase de desenvolvimento;

Ferramentas de suporte à gestão de crédito de cariz manual;

Formação dos quadros bancários desadequada para dar resposta aos actuais níveis de

procura.

Figura 3: Contrangimentos da Concessão de Crédito – Feedback dos Bancos Comerciais

Nível de desenvolvimento:

Processos

- +

Exemplos seleccionados de Entrevistas a Bancos

Gestão de crédito vencido

Alarmes"A prestação vencida é o nosso alarme e apenas é considerada a partir da segunda prestação em atraso"

Contencioso"Departamento de gestão de riscos e contencioso apenas enfocada em crédito parado há mais de 1 ano"

"Temos processos e timings bem definidos das etapas de crédito no contencioso"

"Implementámos um sistema informático de sinais negativos que analisa varias variáveis (saldos médios, etc.)"

"Apenas libertamos capital mediante factura e no máximo permitimos um desembolso de 10% para fundo maneio"

"Temos objectivos bem definidos de timings para análise de proposta e somos avaliados em relação a estes objectivos"

"Temos uma matriz de correlação do risco do cliente e o risco da operação para definir o nosso pricing"

"Ainda estamos a implementar processos de controlo da libertação de capital"

"Todas as nossas propostas de crédito tem de ir a CA para serem aprovadas"

"O nosso pricing é fixo por tipo de produto"

Análise de propostas

PricingConcessão

Libertação capital

Acompa-nhamento

"Apenas este ano revemos a frequência do acompanhamento de mensal para semanal"

"Criamos Direcção de dinamização e gestão de carteira com staff dedicado diariamente ao acompanhamento "

Gestão da carteira

Page 9: Potenciação do Crédito à Economia

ESTUDO SOBRE POTENCIAÇÃO DE CRÉDITO NA ECONOMIA ANGOLANA Julho 2013

9

Internamente existem realidades muito diferentes nos bancos, sendo que o nível de

desenvolvimento dos processos de concessão e de gestão de crédito é bastante variado. O facto

de os bancos não terem os processos adequados resulta numa maior restrição de crédito

concedido como forma de redução de risco assumido devido a processos não optimizados.

Adicionalmente a capacidade de conceder créditos de longo prazo está limitada pelas

maturidades reduzidas dos recursos, havendo uma pressão da procura por produtos de

maturidades superiores, que não está a ser satisfeita pelos bancos. Aliada a isto está a falta de

disponibilidade financeira a longo prazo, por parte dos bancos:

A maioria dos depósitos de clientes é de curto prazo;

Não existe ainda mercado secundário em Angola, o que torna os activos menos

líquidos;

A cedência de liquidez do banco central à banca comercial é de curto e muito curto

prazo;

Gráfico 7: Evolução da Estrutura do Activo do SFA

Apesar da diminuição considerável do peso dos

títulos, que se movimentou dos 29% em 2009, para os

15% em 2012, os bancos preferiram desviar a sua

disponibilidade financeira para investimentos mais

líquidos e de curto prazo, face a aumentar o peso dos

créditos à economia (que subiu apenas 2 pontos

percentuais entre 2009 e 2012), tendo aumentado o

peso de operações em aplicações de liquidez, como

operações no mercado monetário interbancário;

17.4 A oferta de crédito disponível e as condições oferecidas são adequadas aos clientes?

O principal bloqueio à procura de crédito identificado pelas PMEs foi a taxa de juro (30% das

respostas), no entanto, fazendo uma análise comparativa com os países do benchmark, verifica-se

que estas taxas estão, em Angola, abaixo da média (14% face a 20%). Bons exemplos são os

programas que estão a ser implementados com o objectivo de melhorar as condições de crédito

para sectores prioritários, como o Angola Investe (que inclui uma linha de crédito bonificado e um

fundo de garantias públicas), lançado em 2012 ou a linha de crédito à agricultura incluída no

Programa de Fortalecimento dos Pequenos e Médios Produtores Agro-pecuários, lançado em

2011;

29 28 21

33 36 42 45

15

100

50

0

Estrutura do activo do SFA (%)

Créditosa Clientes

Títulos eValoresMobiliários

Outrosactivos

2012E

40

2011

37

2010

37

2009

38

179

2011

423

4

18

2010

363

4

19

Outros

Imobilizações

Aplicações de Liquidez1

Disponibilidades

Page 10: Potenciação do Crédito à Economia

ESTUDO SOBRE POTENCIAÇÃO DE CRÉDITO NA ECONOMIA ANGOLANA Julho 2013

10

Gráfico 8: Principais restrições à procura de crédito pelas PMEs Gráfico 9: Benchmark da Taxa de Transformação

(% respostas)

1111

21

26

30

0

10

20

30

40

OutrosRequisitosdo Banco

Oferta limitada

Garantias exigidas

Taxa de juro

13

48

5 4 6

25

25

1011

103

0

10

20

30

40

ArméniaParaguaiBrasil

Ø 20

África do Sul

AngolaNigéria

Taxa de juro de depósitos (%)

Spread (%)

17.5 A informação disponível dos clientes permite fundamentar uma decisão com a correcta

avaliação de risco? A disponibilidade e qualidade de informação de crédito são críticas para o

sucesso do crédito numa economia. No entanto, estas encontram-se em situação ainda muito

incipiente em Angola face aos países do benchmark, com o nível mais baixo do índice de

disponibilidade de informação do IFC-Doing Business (4 numa escala de 0 a 6), a par da Nigéria.

Os bancos entrevistados identificaram igualmente a qualidade de informação como um dos

principais desafios à gestão de risco e recuperação de crédito;

Gráfico 10: Índice de Disponibilidade de Informação de Crédito Gráfico 11: Principais Desafios à Gestão de Risco e

Recuperação de Crédito

1

3

44

6

0

2

4

6

8

Formação de quadros

Ferramen-tas

Processos internos

Qualidade da

informação

Sistema jurídico

4

55555

666

4

0

2

4

6

8

Angola

Nigéria

Marrocos

Tunísia

Turquia

Emirados

Brasil

Arménia

Paraguai

África do Sul

A criação da Central de Informação e Risco de Crédito (CIRC), com a sua função agregadora de

informação dos bancos acerca do historial de crédito dos clientes do sistema financeiro, veio

colmatar as lacunas existentes, permitindo aos bancos fundamentarem as suas decisões de

concessão de crédito com análises de risco mais fiáveis alimentadas com a informação da CIRC.

Contudo, na central de risco existem oportunidades de melhoria, nomeadamente:

Aumento do nível de utilização (1/3 das operações não estão carregadas);

Revisão da periodicidade e metodologia de preenchimento;

Page 11: Potenciação do Crédito à Economia

ESTUDO SOBRE POTENCIAÇÃO DE CRÉDITO NA ECONOMIA ANGOLANA Julho 2013

11

Melhorias no cruzamento entre operações de uma empresa e de particulares, dono da

mesma empresa.

17.6 O enquadramento legal é positivo à concessão de crédito, assegura as garantias ao banco e

ao cliente? A actividade de crédito é muito penalizada pelo enquadramento legal do país, em

particular, com as limitações no registo de propriedade com implicações na constituição de

garantias. Estas limitações são agravadas pela morosidade do sistema jurídico nos casos em que

seja necessário recuperar legalmente os créditos. Os bloqueios legais constringem tanto a fase de

concessão (fragilidade de titularidade de bens como garantias legais), como a fase de gestão de

risco e recuperação de crédito (dificuldade em garantir a execução dos mesmos). A dificuldade

existente em conseguir a correcta constituição e execução de penhor financeiro é um dos temas

principais no que toca ao enquadramento legal. Existe fragilidade na titularização de garantias,

tanto da parte dos proprietários que têm dificuldade e são desincentivados a fazer as garantias,

como o sistema de registo tem falhas de informação e congestionamento nas principais

conservatórias. Mesmo nos casos em que há registos de propriedade existem poucos casos de

sucesso de execução das garantias associadas a créditos.

Gráfico 12: Índice de Enquadramento Legal para Gráfico 13: # De Dias para Registar uma Propriedade

Obtenção de Crédito

333

444

6

9

10

3

0

4

8

12

AngolaMarrocos

TunísiaParaguai

BrasilTurquia

EmiradosArménia

NigériaÁfrica

do Sul

6710

2334

3946

7586

184

0

50

100

150

200

AngolaTurquia

ArméniaEmiradosBrasil

TunísiaParaguai

MarrocosNigéria

Page 12: Potenciação do Crédito à Economia

ESTUDO SOBRE POTENCIAÇÃO DE CRÉDITO NA ECONOMIA ANGOLANA Julho 2013

12

IV. Benchmark Internacional de Medidas de Impacto no Desenvolvimento Equilibrado do Crédito

18. Foi analisado um conjunto de 9 países com melhores práticas em contextos particularmente

relevantes para a realidade angolana, incluindo países com penetração elevada de crédito (África

do Sul, Tunísia e Marrocos), países com penetrações médias em crescimento (Brasil, Turquia e

Emirados Árabes Unidos) e países com penetrações baixas e crescimentos acelerados (Nigéria,

Arménia e Paraguai). Adicionalmente foram analisados outros países que apesar de estarem em

contextos diferentes, se distinguem a nível mundial com as melhores práticas na área de crédito

(França, Inglaterra, Guatemala, Austrália, Cazaquistão, Roménia, Nova Zelândia, Palestina,

Etiópia, Maurícias, Camboja e Argélia);

19. Os 9 países em contexto semelhante ao nosso permitiram identificar as melhores práticas em

4 áreas fundamentais: acesso ao crédito, condições de financiamento, formação financeira e gestão

de risco e do incumprimento;

Melhores práticas na melhoria do acesso ao crédito

Contas bancárias simplificadas, com processo de abertura simplificado e sem custos de

gestão, que permitam alargar a abrangência do sector financeiro;

Agência dedicada ao Crédito Agrícola, que centraliza a gestão das linhas de crédito

agrícola, acompanhamento da execução dos projectos e transferência de know-how técnico

para os projectos;

Programas de microcrédito que promovam o financiamento a micro, pequenas e médias

empresas, através de mecanismos de fomento, como: taxas bonificadas e fundos de

garantia;

Redução das taxas de juro do crédito através da descida das taxas de juro nas operações de

política monetária e liquidez no sistema bancário;

Linhas de crédito à habitação enfocadas nas classes baixa e média-baixa, potencialmente

através de parcerias com promotores imobiliários.

Destacam-se as seguintes medidas implementadas pelos países do benchmark:

A África do Sul criou contas bancárias simplificadas e sem custos de gestão (chamadas

Mzansi), em que para abertura da conta é apenas necessário um número de identificação

válido. Estas contas oferecem apenas os produtos financeiros básicos aos seus clientes,

estando as transacções limitadas a depósitos, transferências, levantamentos e cartões de

débito;

A Tunísia autorizou o Fundo Nacional de Garantia a cobrir juros em mora de culturas

afectadas por catástrofes naturais;

Marrocos tem um Banco Agrícola para financiar projectos no sector da agricultura,

acompanhar a sua execução e assegurar a transferência de know-how técnico, tendo criado

Page 13: Potenciação do Crédito à Economia

ESTUDO SOBRE POTENCIAÇÃO DE CRÉDITO NA ECONOMIA ANGOLANA Julho 2013

13

recentemente uma agência dedicada ao crédito agrícola (SFDA), para financiamento

exclusivo de pequenos e médios agricultores. Esta agência centraliza a gestão das linhas de

crédito agrícola e é responsável por definir a população elegível;

A África do Sul está a criar parcerias público-privadas (PPPs) para garantir que os seguros

agrícolas são acessíveis a todos os produtores e rentáveis para as seguradoras. Em África,

para além da África do Sul, apenas a Etiópia, o Quénia, o Malawi e o Senegal oferecem

serviços de seguro agrícolas;

A Nigéria, que elaborou um plano integrado para o sector financeiro, denominado 2020

Strategy, onde inclui o objectivo nacional de inclusão financeira, de aumentar em 20% até

2020 os níveis de bancarização da população. Para isso, o Banco Central dinamiza uma

série de medidas na área de crédito, incluindo fundo para PMEs, garantias de crédito para

PMEs, centros de reestruturação e refinanciamento da dívida e um sistema de informação

de crédito agrícola.

Melhores práticas na melhoria da disponibilidade e qualidade da informação de crédito

Promoção da redução das taxas de juro, através da descida das taxas de juro nas operações

de política monetária e liquidez no sistema bancário;

Introdução de limites aos encargos de processamento e outras taxas cobradas por serviços

de crédito;

Desenvolvimento de um conjunto de instrumentos para facilitar o acesso a produtos de

crédito específicos (ex.: crédito à habitação) ou a segmentos específicos (ex.: crédito a

PMEs).

Destacam-se as seguintes medidas implementadas pelos países do benchmark:

O Brasil lançou o programa "Minha Casa Minha Vida" para promover o crédito à

habitação às classes mais baixas e os bancos públicos brasileiros têm produtos atractivos

para a classe média emergente;

O Brasil tem também fomentado o crédito ao consumo através da descida das taxas de

juro. O Banco Central brasileiro publica periodicamente um benchmark de taxas de juro

para referência no mercado;

O Banco Central dos Emirados Árabes Unidos introduziu limites aos encargos de

processamento e outras taxas cobrados por serviços de crédito, de forma a incentivar a

promoção de produtos de crédito mais acessíveis;

A África do Sul desenvolveu mecanismos de fomento de microfinanciamento, tendo criado

um fundo que financia, forma e acompanha organizações de microcrédito, em nome do

Governo (South African Microfinance Apex Fund – SAMAF) e uma fundação que

financia pequenos trabalhadores por conta própria, estimulando a poupança e enfocando no

desenvolvimento social (The Small Enterprise Foundation – SEF).

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ESTUDO SOBRE POTENCIAÇÃO DE CRÉDITO NA ECONOMIA ANGOLANA Julho 2013

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Melhores práticas de formação financeira da população

Desenvolvimento de programas de educação financeira, que têm um papel estratégico para

os bancos na redução dos custos operacionais e aumento da competitividade;

Criação de centros de empreendedorismo, com o objectivo de desenvolver capacidade

empreendedora e de gerar oportunidades de emprego na economia;

Preparação de campanhas de comunicação pública com elementos básicos sobre crédito,

promovendo a alfabetização financeira da população.

Destacam-se as seguintes medidas implementadas pelos países do benchmark:

O Brasil desenvolveu um programa de educação financeira, estando o Banco Central a

coordenar as medidas para a educação financeira dos grupos de consumidores com baixos

rendimentos, que têm sido operacionalizadas pela Federação de Bancos (FEBRABAN),

pela Associação Brasileira das Empresas de Cartão de Crédito e Serviços (ABECS) e pelos

bancos;

A África do Sul também desenvolveu programas semelhantes, como o programa de

alfabetização financeira da população jovem sul-africana (HOPE), tendo como parceiros

um banco privado, o IFC, o Governo e a Fundação Nelson Mandela. Adicionalmente, o

Banco Central, a Bolsa de Valores e o Governo também se envolveram para a promoção

da formação financeira, tendo criado o Dia Nacional da Literacia Financeira, marcado

anualmente com conferências e workshops sobre o tema.

Melhores práticas para melhorar a gestão de risco e do incumprimento

Criação de sistemas de registo complementares (ex.: sistema de registo de garantias) para

melhorar a disponibilidade e qualidade da informação para avaliação do risco de crédito;

Promoção do desenvolvimento de agências privadas de informação, como a criação de um

bureau de crédito privado complementar à Central de Risco do Banco Central, de forma a

alargar a informação além do sistema financeiro;

Inclusão de informação positiva e negativa na base de dados de crédito, de modo a

melhorar a capacidade dos credores para distinguirem bons e maus devedores;

Criação de obrigatoriedade legal para a formação de comités de crédito, de risco e de

auditoria interna nos bancos comerciais;

Introdução de limites ao crédito pessoal pelo Banco Central de forma a travar as taxas de

incumprimento;

Levantamento de barreiras a expatriados, fazendo uma revisão da política de retenção de

expatriados com investimentos elevados no país.

Destacam-se as seguintes medidas implementadas pelos países do benchmark:

O Brasil ampliou a compreensão dos sistemas de informação do Banco Central, tendo

criado um Sistema de Informação de Crédito complementar à Central de Risco e que inclui

Page 15: Potenciação do Crédito à Economia

ESTUDO SOBRE POTENCIAÇÃO DE CRÉDITO NA ECONOMIA ANGOLANA Julho 2013

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informação adicional (positiva e negativa), suprindo uma lacuna no mercado privado de

bureau de crédito, que agrega apenas informação negativa;

Em Marrocos, o Banco Central lançou um concurso internacional para a criação de um

bureau de crédito privado, complementar à central de riscos do banco. Esta agência tem a

vantagem de alargar a fonte de informação para além dos sistemas financeiros (outros

credores, tribunais, etc.);

O Banco Central da Tunísia legislou a obrigatoriedade dos Bancos Comerciais criarem

comités de crédito, de risco e de auditoria interna.

No contexto dos direitos legais, foi identificada a seguinte lista de melhores práticas

Criação da possibilidade de execução extrajudicial de garantias, através da celebração de

um acordo entre as partes no momento da constituição da garantia, e que permite ao credor

apropriar-se da garantia ou apelar a um oficial não judicial no caso de contestação. Esta é

uma ferramenta chave quando o sistema judicial é um entrave à execução de garantias,

permitindo reduzir a dependência dos tribunais e libertar recursos;

Criação de uma central de registo de garantias que permita ao credor apurar se o mutuário

já utilizou o bem como garantia noutra operação, com registos unificados numa única base

de dados, de forma a evitar a busca de registos múltiplos, que aumenta os custos de

transacção. As centrais modernas têm acesso online para pesquisas e registo, permitindo

registar todos os tipos de restrições à utilização de garantias e estabelecer parâmetros

claros de prioridade legal;

Permissão de uma descrição geral da garantia, que torne a contratualização mais flexível,

aumentando o acesso ao financiamento. Esta prática possibilita a diminuição dos custos de

transacção quando os activos do tipo stock/mercadoria são utilizados como garantia, pois

evita novo registo quando há substituições.

Destacam-se as seguintes medidas implementadas pelos países do benchmark:

Em França, foram desenvolvidas alternativas ao regime de hipoteca, tendo os bancos

criado uma oferta de crédito à habitação suportada por um seguro de caução, em vez de

uma garantia real (hipoteca sobre o imóvel);

Em Inglaterra, há maior participação das imobiliárias, existindo a prática da preparação,

por parte do vendedor, de um dossier com todas as informações relevantes para a aquisição

do imóvel com vista a facilitar a transacção;

A Guatemala melhorou o regime de transacções seguras, emitindo um decreto que

expandiu a gama de activos móveis que podem ser utilizados como colateral.

Paralelamente, criou um registo para a propriedade móvel e publicou um decreto que

concede aos mutuários o direito de consultar os seus dados em todas as instituições

públicas;

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ESTUDO SOBRE POTENCIAÇÃO DE CRÉDITO NA ECONOMIA ANGOLANA Julho 2013

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A Austrália criou um registo unificado para a propriedade móvel (Personal Property

Securities Act, de 2009), com base online e que permite aos credores pesquisar e registar, a

qualquer momento, direitos de garantia em propriedade pessoal;

No Cazaquistão, uma nova lei introduziu alterações à regulamentação do procedimento de

reabilitação ao abrigo da legislação de falência, especificando várias condições, segundo as

quais os credores com garantia podem candidatar-se a um apoio durante o procedimento.

Esta lei foi responsável pelo fortalecimento dos direitos dos credores com garantias,

durante os procedimentos de reorganização;

Na Roménia, deu-se a expansão da gama de activos móveis que podem ser usados como

colateral, através de um novo código civil, introduzindo o conceito de hipoteca e

permitindo direitos de garantia em bens imóveis e móveis.

Melhores práticas na disponibilização de informação de crédito de qualidade

Reporte do mau e bom comportamento creditício, incluindo na base de dados, informações

negativas que abranjam padrões e pagamentos em atrasos, e informações positivas, que

incluam reembolsos de empréstimos a tempo e os valores originais e pendentes de

empréstimos;

Ampliação do leque de informações distribuídas pelos registos de crédito, incluindo

informações de crédito de outros serviços públicos, desde informação fiscal até à

informação de empresas públicas, como a empresa fornecedora de energia eléctrica ou de

telecomunicações. Esta abrangência de informação, apoia a criação de um historial de

crédito para os clientes sem histórico bancário;

Revisão dos limites de empréstimo mínimo para registo na central de risco, de forma a

alargar a informação a grupos de risco de incumprimento;

Destacam-se as seguintes medidas implementadas pelos países do benchmark:

A Nova Zelândia adoptou um enquadramento jurídico para expansão do conjunto de

informação recolhido pelas agências de crédito;

A Palestina criou uma lei que concede o direito de acesso aos dados, aos mutuários, na

Cisjordânia e Gaza;

A Etiópia introduziu um novo sistema online para partilha de informação de crédito;

Nas Maurícias, o registo público de crédito desenvolveu um novo formato de reporte de

crédito, que inclui pagamentos atempados e prestações por pagar, tendo começado a

recolher dados de retalhistas;

O Camboja criou a sua primeira agência de crédito privada, abrangendo mais de 1,1

milhões de pessoas;

A Argélia eliminou o patamar mínimo para empréstimos incluídos na base de dados.

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ESTUDO SOBRE POTENCIAÇÃO DE CRÉDITO NA ECONOMIA ANGOLANA Julho 2013

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V. Programa de Desenvolvimento Equilibrado da Função de Crédito na Economia

20. Ultrapassar os constrangimentos e desenvolver de forma equilibrada a função do crédito na

economia angolana poderá passar por um programa baseado em 6 iniciativas. Cada uma das

iniciativas é composta por um conjunto de medidas, algumas delas já em curso. Optou-se, assim,

por incluir também as acções e medidas já em curso, pois só dessa forma se pode garantir uma

visão transversal do programa, com todas as acções em curso relacionadas e com potencial

impacto no desenvolvimento do crédito.

Potenciar o acesso ao sistema bancário

A garantia de acesso ao sistema bancário é a premissa base para o desenvolvimento do crédito

numa economia e foi possível identificar alguns exemplos de medidas nos benchmarks. O

objectivo desta iniciativa é assegurar o acesso de todos ao sistema bancário em geral e ao crédito

em particular. As medidas a serem desenvolvidas no âmbito desta iniciativa seriam as seguintes:

Identificar entidade responsável pela dinamização do crédito agrícola: identificar uma

entidade que se responsabilize pela dinamização do crédito agrícola ou avaliar a

criação de uma agência dedicada ao crédito agrícola que asseguraria a centralização

da gestão das linhas de crédito à agricultura;

Promover criação de seguros agrícolas: Desenvolver mecanismos de incentivo ao

Seguro Agrícola, como por exemplo, a criação de parceiras público-privadas com

seguradoras, assegurando que desastres naturais são cobertos por fundos do Governo;

Promover o acesso ao crédito da indústria extractiva nacional: Desenvolver um

conjunto de instrumentos para promover a utilização do financiamento no sistema

bancário da indústria extractiva nacional, alavancando no financiamento disponível

na banca nacional, para rever o posicionamento do sector nas parcerias

internacionais;

Promover uma saudável relação do Estado com a banca privada (em concepção):

Acelerar pagamentos do Estado e desenvolver um conjunto de instrumentos para

promover a utilização do financiamento no sistema bancário de empresas do estado e

parcerias público-privadas, substituindo financiamento público por financiamento na

banca;

Fomentar o acesso ao sistema bancário (em implementação): Criar um programa de

fomento da utilização do sistema bancário através do desenvolvimento de produtos

simplificados (ex.: contas bancárias), mas também de fomento de transacções através

do sistema bancário (ex.: pagamento de salários).

Page 18: Potenciação do Crédito à Economia

ESTUDO SOBRE POTENCIAÇÃO DE CRÉDITO NA ECONOMIA ANGOLANA Julho 2013

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Garantir o acesso à formação financeira

A formação financeira é um pilar fundamental para o desenvolvimento sustentável do crédito, e

existem alguns exemplos internacionais de sucesso. O objectivo desta iniciativa é lançar medidas

de formação adequadas a cada segmento para melhorar a sofisticação da procura. As medidas

seriam as seguintes:

Criar incentivos para empresas com contabilidade organizada: Desenvolver conjunto

de incentivos para as empresas com contabilidade organizada, garantindo benefícios a

nível das condições de crédito, mas também a outros níveis (fiscais, assessoria, etc.);

Criar centros de empreendedorismo (já implementada): Criar centros de formação e

consultoria ao pequeno empreendedor, apoiando na geração de ideias (incubadora),

na formação em skills de gestão e na realização de planos de negócio;

Lançar um programa de formação financeira a empresas (em implementação):

Desenvolver e coordenar a implementação de um programa de formação financeira

para empresas e jovens empreendedores;

Lançar um programa de formação financeira a particulares (já implementada):

Desenvolver e coordenar a implementação de um programa de formação financeira,

promovendo o trabalho conjunto de diferentes stakeholder no desenvolvimento e

distribuição de conteúdos, bem como pela preparação de campanhas de comunicação

pública.

Reforçar a capacidade e incentivos dos bancos para a concessão e gestão de crédito

É crítico garantir que existe capacidade dos bancos para conceder crédito, bem como acautelar que

os incentivos estão alinhados para tal, criando mecanismos que reduzam as restrições e criem

incentivos para a concessão e crédito. As medidas a serem desenvolvidas no âmbito desta

iniciativa seriam as seguintes:

Criar instrumentos de crédito para maturidades de longo prazo: Facilitar a gestão de

risco de liquidez dos bancos, através da criação de linhas de crédito orientadas para

financiamento de longo prazo e desenvolver incentivos a depósitos a longo prazo;

Rever incentivos e mecanismos de poupança (em implementação): Desenvolver

incentivos à poupança (incluindo incentivos fiscais) e à criação a depósitos a longo

prazo, para facilitar a gestão do risco de liquidez dos bancos;

Potenciar mecanismos de financiamento alternativos (em implementação):

Disponibilizar títulos ou acesso a recursos financeiros de maturidade longa para

facilitar a gestão do risco de liquidez dos bancos, através do desenvolvimento de

mecanismos de financiamento de maiores maturidades ligados a mercados financeiros

e fundos de maturidade mais elevada (ex.: criação de mercado de capitais);

Optimizar processos de gestão de crédito no sistema bancário: Lançar um programa

de optimização dos processos de gestão de crédito no sistema bancário, desde

concessão, acompanhamento, recuperação até ao contencioso, ponderando a criação

de um programa de formação e certificação financeira de analistas de crédito.

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ESTUDO SOBRE POTENCIAÇÃO DE CRÉDITO NA ECONOMIA ANGOLANA Julho 2013

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Fomentar a melhoria da oferta e condições de financiamento

É importante fomentar a melhoria da oferta e condições de crédito para facilitar o acesso ao

crédito. Países como o Brasil, África do Sul e Emirados criaram soluções apontadas a resolver

estes desafios. O objectivo desta iniciativa é dinamizar a utilização de crédito, garantindo

adequação das condições de financiamento aos diferentes segmentos. As medidas a serem

desenvolvidas no âmbito desta iniciativa são as seguintes:

Criar linha jovem de crédito à habitação bonificado: Desenvolver um conjunto de

instrumentos para facilitar o acesso ao crédito à habitação junto da banca e avaliar a

criação de ferramentas de incentivo ao aluguer jovem;

Introduzir limites nos fees de crédito: Introduzir limites aos encargos de

processamento e outras taxas cobradas por serviços de crédito, incentivando a

promoção de produtos de crédito mais acessíveis;

Fomentar a maior participação de capitais próprios: Fomentar a maior participação de

capitais próprios nos pedidos de créditos de empresas, através de um plano nacional

que identifique fundos de participação de capital social em projectos;

Facilitar o acesso ao crédito das PMEs (já implementada): Desenvolver um conjunto

de instrumentos para facilitar o acesso ao financiamento junto da banca, através de

fundos de garantia, linhas de crédito a sectores prioritários, entre outros;

Criar fundo público de capital de risco (já implementada): Desenvolver um fundo de

capital de risco para estímulo ao desenvolvimento de projectos competitivos em fase

early-stage;

Articular políticas monetárias com actividade de crédito (em concepção): Continuar a

promover o acompanhamento e articulação das politicas monetárias com actividade

de crédito na economia;

Fomentar programas de microcrédito (já implementada): Melhorar o acesso e as

condições de financiamento dos microempresários, através da continuação do

fomento à criação de linhas de microcrédito.

Melhorar a informação disponível para a avaliação de risco

A disponibilidade e qualidade de informação de crédito é crítica para o sucesso do crédito numa

economia. Este é um desafio enfrentado por muitos países, e existem muitos exemplos de como

melhorar a informação no sistema). O objectivo desta iniciativa é melhorar a capacidade de

partilha de registos de crédito e a qualidade da informação partilhada, através das seguintes

medidas:

Rever status do conteúdo da CIRC: Melhorar a quantidade e qualidade da informação

de crédito, através do desenvolvimento de um programa de auditorias para controlar e

homogeneizar a qualidade da informação disponibilizada pelos bancos na CIRC, e

criar um programa de formação para melhorar a capacidade de utilização;

Page 20: Potenciação do Crédito à Economia

ESTUDO SOBRE POTENCIAÇÃO DE CRÉDITO NA ECONOMIA ANGOLANA Julho 2013

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Potenciar a utilização da CIRC: Melhorar a qualidade da informação de crédito,

procurando garantir uma maior actualização da informação, através de uma revisão

da periodicidade de alimentação da base de dados por parte dos bancos, e apoiar os

bancos no aumento da automatização de processos para alimentar a central;

Criar central de registo de garantias: Criar uma central de registo de garantias que

permita ao credor apurar se o mutuário já utilizou o bem como garantia em outra

operação;

Avaliar a criação de bureau de crédito: Criar um bureau complementar à CIRC,

alargando a informação além do sistema financeiro (outros credores, tribunais, etc.);

Criar bases de dados de informação empresarial (em implementação): Criar uma

central de registo de empresas com informação de registo estatal que agregue

informação do registo empresarial.

Assegurar um enquadramento legal positivo ao crédito

Assegurar os direitos legais dos credores e devedores é fundamental para atrair a concessão de

crédito. É um desafio enfrentado por países em desenvolvimento assim como países

desenvolvidos, havendo exemplos de práticas variadas para melhorar o enquadramento legal. O

objectivo desta iniciativa é mitigar os bloqueios legais à concessão de crédito e à recuperação de

crédito vencido, através das seguintes medidas:

Criar incentivos à actualização da titularidade: Criar incentivos fiscais junto dos

proprietários com propriedades com titularidade desactualizada e que não estão em

processo de actualização;

Criar canais rápidos para constituição de hipotecas: Promover a criação de canais

céleres para constituição de hipotecas (ex.: balcão único) e a centralização do

interface dos processos num único balcão, bem como o reforço dos restantes

intervenientes com pessoal dedicado aos processos que dão entrada por este canal;

Avaliar alternativas a hipotecas: Melhorar processos e legislação associada à

execução de garantias, avaliar a criação da figura do Penhor Financeiro e criar

processos céleres para execução de garantias;

Melhorar processos e legislação associados à execução de garantias: Avaliar

oportunidades de melhoria nos processos e legislação para execução de garantias;

Rever processos de legalização de propriedade (em concepção): Promover um

programa de revisão dos processos associados à legalização de propriedade,

identificando os principais bloqueios e desenvolvendo soluções e planos de acção

para os ultrapassar;

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ESTUDO SOBRE POTENCIAÇÃO DE CRÉDITO NA ECONOMIA ANGOLANA Julho 2013

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21. Estas medidas foram priorizadas com base na criticidade e complexidade de implementação,

através de uma análise qualitativa, baseada nas prioridades dos bancos comerciais e em linha com

os objectivos de fomentar a concessão de crédito, do BNA. As 29 medidas foram distribuídas por

quatro níveis de prioridade:

Prioridade 1 – Quick wins, que inclui medidas de rápida implementação e com impacto

directo na concessão do crédito;

1.3 Promover o acesso ao crédito da indústria extractiva nacional;

1.4 Promover uma saudável relação do Estado com a banca privada;

1.5 Fomentar a utilização do sistema bancário;

3.4 Optimizar processos de gestão de crédito no sistema bancário;

4.4 Facilitar o acesso ao crédito das PMEs;

5.1 Rever status do conteúdo da CIRC;

5.2 Potenciar a utilização da CIRC.

Prioridade 2 – Medidas estruturantes, que são as medidas com impacto elevado e com

grande capacidade transformadora do crédito em Angola, mas com um grau de

complexidade na implementação mais elevado;

6.5 Rever processos de legalização de propriedade;

6.1 Criar incentivos à actualização da titularidade;

6.2 Criar canais rápidos para constituição de hipotecas;

6.4 Melhorar processos e legislação associada à execução de garantias;

5.3 Criar central de registo de garantias;

3.2 Rever incentivos e mecanismos de poupança;

3.3 Potenciar mecanismos de financiamento alternativos;

3.1 Criar instrumentos de crédito para maturidades de longo prazo;

1.1 Identificar entidade responsável pela dinamização do crédito agrícola;

1.2 Promover criação de seguros agrícolas;

4.1 Criar linha jovem de crédito à habitação bonificado.

Prioridade 3 – Medidas catalisadoras de outras medidas, tendo sobretudo impacto

indirecto;

2.3 Lançar programa de formação financeira a empresas;

5.5 Criar bases de dados de informação empresarial;

4.3 Fomentar a maior participação de capitais próprios;

4.7 Fomentar programas de microcrédito;

4.5 Criar fundo público de capital de risco;

2.4 Lançar programa de formação financeira a particulares.

Prioridade 4 – Medidas a serem implementadas numa próxima fase do programa, devido à

sua elevada dificuldade na obtenção de impactos, pela alta dependência das outras

medidas.

2.1 Criar incentivos para empresas com contabilidade organizada;

4.6 Articular politicas monetárias com actividade de crédito;

4.2 Introduzir limites nos fees de crédito;

2.2 Criar centros de empreendedorismo;

6.3 Avaliar alternativas a hipotecas;

5.4 Avaliar a criação de bureau de crédito.

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ESTUDO SOBRE POTENCIAÇÃO DE CRÉDITO NA ECONOMIA ANGOLANA Julho 2013

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VI. Conclusões & Próximos Passos

22. Este documento resumiu o estudo que foi feito sobre os contrangimentos à concessão de

crédito à economia por parte dos bancos comerciais angolanos. A dificuldade de execução de

garantias, a baixa sofisticação financeira e o fundeamento de longo prazo são três das razões

apontadas pelos bancos comerciais como estando a impedir um crescimento do crédito à

economia;

23. Através de uma análise benchmark, foram identificadas melhores práticas em países com

aprofundamento financeiro médio superior ao de Angola, no intuito de se identificarem possíveis

acções que, se implementadas em Angola, pudessem contribuir para o aumento do crédito à

economia;

24. O documento resumiu igualmente possíveis medidas a serem implementadas em Angola no

âmbito de um programa que, necessariamente, teria que ser integrado por várias instituições do

Executivo, i.e. BNA, Ministérios da Economia, das Finanças e da Justiça, visando a resolução dos

constrangimentos que impedem o crescimento do crédito ao sector privado;

25. Propõe-se como próximo passo a discussão deste documento com os bancos comerciais para

recolher a opinião dos mesmos no sentido de se decidir sobre a implementação ou não de um

amplo programa de incentivo ao crédito à economia.