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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS CAMPUS CIDADE DE GOIÁS LABORATÓRIO DE PRÁTICA JURÍDICA PENAL II PROF. MS. ALLAN HAHNEMANN FERREIRA ADRIANE DE BRITO MORAES MATOS ANEXO 02 RELATÓRIO REFERENTE À ATIVIDADE 03

[Prática Penal II] Relatório 5

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trabalho apresentado no curso de pratica processual penal, Faculdade de Direito, UFG Cidade de Goiás.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

CAMPUS CIDADE DE GOIÁS

LABORATÓRIO DE PRÁTICA JURÍDICA PENAL II

PROF. MS. ALLAN HAHNEMANN FERREIRA

ADRIANE DE BRITO MORAES MATOS

ANEXO 02

RELATÓRIO REFERENTE À ATIVIDADE 03

JANEIRO/2016

1) Qual peça adequada ao Caso? (Fazer referência legal – arts., Códigos,

Legislação)

A peça processual adequada ao caso é o “Recurso Ordinário em Habeas

Corpus.”, com fulcro nos arts. 104, II- a, da CRFB/88 e art. 30 da Lei 8.038/90.

2) Qual competência? (endereçamento)

Por meio da análise do caso em voga, percebe-se que a competência para o feito

é do Superior Tribunal de Justiça, devendo ser endereçado ao juízo ao Tribunal

Regional da 3ª Região para que encaminhe ao STJ.

3) Quais teses levantadas? (Preliminares e de mérito com base doutrinária).

FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA

CABIMENTO DO RECURSO ORDINÁRIO

Conforme já ressaltado, o Tribunal Regional Federal da 3º Região

denegou a ordem de Habeas Corpus pretendida pelo recorrente, neste sentido a medida

cabível, nos termos do que determina o art. 105,II, a, da CRFB/88 e do art. 30 da Lei

8.038/90, respectivamente, é a interposição de Recurso Ordinário:

Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:

II - julgar, em recurso ordinário:

a) os habeas corpus decididos em única ou última instância

pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos

Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão

for denegatória;

Art. 30 - O recurso ordinário para o Superior Tribunal de

Justiça, das decisões denegatórias de Habeas Corpus, proferidas

pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos Tribunais dos

Estados e do Distrito Federal, será interposto no prazo de cinco

dias, com as razões do pedido de reforma.

Desta forma, verifica-se que a presente medida é perfeitamente cabível

DO CABIMENTO DO HABEAS CORPUS:

A redação do artigo 5º, inciso LXVIII, da Constituição Federal, esclarece as

situações em que deve ser concedido o Habeas Corpus:

“ Art. 5-LXVIII- Conceder-se-á habeas-corpus sempre que alguém sofrer ou se

achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção,

por ilegalidade ou abuso de poder”.

Nota-se que ao caso em tela, cabe-se o habeas corpus, uma vez que o recorrente

encontra-se preso na Penitenciária Federal de Campo grande, em razão de

ilegalidade de decisão do Poder Judiciário. O abuso de poder encontra-se

claramente caracterizado pelo não concedimento de liberdade provisória pelo

juiz, tendo em vista que não estão presentes os requisitos para a prisão

preventiva. Não há razões para afirmar com absoluta certeza, que o Recorrente

vá dificultar a instrução da lei penal ou atentar contra a ordem pública. Além

disso, existem nos autos documentos que comprovam a ausência de antecedentes

criminais. O artigo 321 do Código de Processo Penal, determina qual deve ser a

ação do Juiz nesse caso:

“Art. 321- Ausentes os requisitos que autorizam a decretação da prisão

preventiva, o juiz deverá conceder liberdade provisória, impondo, se for o caso,

as medidas cautelares previstas no artigo 319 deste Código e observados os

critérios constantes do artigo 282 deste Código.”

Como desenvolvido na Síntese dos Fatos, não foram indicados elementos

concretos que justifiquem a custódia preventiva do Paciente, quando denegou-se

o pedido de liberdade provisória. Não obstante a clara ilegalidade nesta decisão,

a Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Mato Grosso do Sul

entendeu por bem denegar a ordem de habeas corpus.

Em razão da ilegalidade da manutenção do recorrente em custódia, sob o

argumento ilegítimo da necessidade de se garantir a ordem pública e a

conveniência da instrução criminal, resta-se claro o cabimento da ação de habeas

corpus.

DA AUSÊNCIA DOS REQUISITOS AUTORIZADORES DA PRISÃO

PREVENTIVA

a) Garantia da ordem publica

O juiz justificou a conversão diante da periculosidade do agente, da violência do

crime e da intensa comoção na comunidade e na mídia causada pelo delito,

enfim, pela garantia da ordem pública. A negativa do pedido de liberdade

provisória foi justificada por tratar-se de crime hediondo e ser necessária sua

manutenção diante da garantia da ordem pública e o TRF3 denegou a ordem de

habeas corpus sob o mesmo argumento. Assim:

Alegar que a prisão preventiva fundamentada na garantia da ordem

pública tem como finalidade evitar que o acusado possa praticar novos delitos

(fundamentar com citação doutrinária).

Diante disso, dizer que o denunciado não registra antecedentes criminais,

que o suposto crime foi fato isolado em sua vida, e que a vítima foi encontrada

ilesa, o que desconstrói o conceito de periculosidade do agente.

Quanto a justificativa de violência do crime, alegar novamente o fato da

vítima ter sido encontrada ilesa, e que tal conceito é vago, genérico, e subjetivo,

não podendo a prisão cautelar nele ser fundamentada, tendo-se em vista a

proibição de juízo precário de culpabilidade, que faz com a prisão preventiva

deva se basear em fatos objetivos e concretos que realmente correspondam as

hipóteses legais.

No mesmo sentido será a desconstrução da intensa comoção na

comunidade e na mídia causada pelo delito.

Ainda neste tópico, desconstruir o argumento de impedimento de

concessão de liberdade provisória em casos de crime hediondo, alegando que

com o advento da Lei 11.464/2007, que alterou a redação do art. 2º, II, da Lei

8.072/90, tornou-se possível a concessão de liberdade provisória aos crimes

hediondos ou equiparados, nas hipóteses em que ausentes os fundamentos

previstos no art. 312 do CPP, sendo, inclusive, o entendimento jurisprudencial

do STF nesse sentido. Assim, sempre que estiverem ausentes tais fundamentos,

em respeito a não culpabilidade e demais princípios vigentes no ordenamento

jurídico pátrio, deve a liberdade provisória ser concedida, sob pena de se ferir os

referidos princípios e fazer da prisão regra, ao invés da exceção que, em tese,

deve ser.

b) Garantia da aplicação da lei penal

Tal requisito visa garantir que o denunciado não se esquivará da aplicação de

eventual pena. Nesse sentido, embora o caso nada fale sobre, entendemos ser

possível alegar que o denunciado possui residência e trabalho fixos (fazendo

menção a juntada de declaração) e que isso o impediria.

c) Conveniência da instrução criminal

Visa garantir a produção da prova e evitar que vestígios do crime desapareçam.

Alegar que o acusado não reagiu à prisão em flagrante, que não foi registrada

nenhuma tentativa de fuga ou de atrapalhar a investigação. Assim, qualquer

coisa alegada em tal sentido é mera conjectura abstrata, não sendo

objetiva/concreta o suficiente para ensejar exceção tão gravosa quanto a prisão

preventiva.

Afastados tanto os argumentos evocados para a conversão da prisão em flagrante

em preventiva, quanto para a negativa de liberdade provisória, mostra-se

desproporcional a manutenção da prisão preventiva, devendo ser provido o

presente recurso.

4) Jurisprudência relacionada.

PRISÃO PREVENTIVA. Medida cautelar. Natureza instrumental. Sacrifício da

liberdade individual. Excepcionalidade. Necessidade de se ater às hipóteses

legais. Sentido do art. 312 do CPP. Medida extrema que implica sacrifício à

liberdade individual, a prisão preventiva deve ordenar-se com redobrada cautela,

à vista, sobretudo, da sua função meramente instrumental, enquanto tende a

garantir a eficácia de eventual provimento definitivo de caráter condenatório,

bem como perante a garantia constitucional da proibição de juízo precário de

culpabilidade, devendo fundar-se em razões objetivas e concretas, capazes de

corresponder às hipóteses legais (fattispecie abstratas) que a autorizem. 2.

AÇÃO PENAL. Prisão preventiva. Decreto fundado na gravidade do delito, a

título de garantia da ordem pública. Inadmissibilidade. Razão que não autoriza a

prisão cautelar. Constrangimento ilegal caracterizado. Precedentes. É ilegal o

decreto de prisão preventiva que, a título de necessidade de garantir a ordem

pública, se funda na gravidade do delito. 3. AÇÃO PENAL. Prisão preventiva.

Decreto fundado na necessidade de restabelecimento da ordem pública, abalada

pela gravidade do crime. Exigência do clamor público. Inadmissibilidade. Razão

que não autoriza a prisão cautelar. Precedentes. É ilegal o decreto de prisão

preventiva baseado no clamor público para restabelecimento da ordem social

abalada pela gravidade do fato. 4. AÇÃO PENAL. Prisão preventiva. Decreto

fundado no perigo de fuga do réu. Garantia de aplicação da lei penal.

Ilegalidade. Decisão de caráter genérico e vago. HC concedido. Precedentes.

Fuga do réu e garantia de aplicação da lei penal, sobretudo quando invocadas em

decisão genérica, sem alusão a dados específicos da causa, não constituem

causas legais para decreto de prisão preventiva. (STF HC 87343/SP, rel. Min.

Cezar Peluso, da Segunda Turma, julgado em 24.4.2007).

EXCESSO DE PRAZO DA PRISÃO PREVENTIVA.

Conforme noticiado, Ercézio Castanhol encontra-se preso desde o da

15/08/2015, ou seja, sua prisão completa quase 06 meses. Impende ressaltar que

as medidas cautelares no Processo Penal têm como fim garantir o bom

andamento do processo, visando garantir que, ao final, haja uma sentença válida

e efetiva, passível de produzir efeitos e “fazer justiça”, conforme clamam as

vítimas. O art. 312 do CPP é taxativo ao prever a decretação de prisão

preventiva como garantia da ordem pública ou econômica quando houver prova

da existência do crime e indícios suficientes de autoria. Ocorre que da análise de

tal dispositivo percebe-se que o legislador foi omisso quanto ao prazo da

mencionada medida. Na tentativa de “solucionar” tal lacuna a jurisprudência

passou a entender que o prazo seria de 81 dias, prazo este que foi computado

tendo como base a duração dos procedimentos no Processo Penal. Com a

reforma do CPP, tal prazo deixou de ser adotado jurisprudencialmente, restando

a ponderação dos casos conforme o princípio da razoabilidade. Neste sentido,

impossível falar em razoabilidade em uma prisão que teria o objetivo de ser

provisória e que já dura 06 meses. Assim, contata-se que há excesso de prazo na

prisão cautelar de Ercézio Castanhol, configurando, portanto, verdadeiro

constrangimento ilegal, sendo mais um motivo para a concessão de liberdade

provisória ressaltando-se, desde já, que, na hipótese de eventual decreto

condenatório ao final da instrução e julgamento, deverão tais dias serem levados

em consideração para fins de detração penal, conforme art. 42, CP.

5) Quais Pedidos:

Conforme o cumprimento da lei, em que se aplica ao fato da causa, com

respaldo no “principio da reserva legal”, observando que no caso em tela não

foram atendidos os requisitos para que fosse convertido o flagrante em prisão

preventiva. Vem a impetrante requerer ao Exmo. Relator Presidente de

seguimento que mande processar e atuar o presente Recurso Ordinário em

Habeas Corpus, determinando a anulação da sentença, com fundamento no art.

321 do CPP.

Que seja conhecida e provida com posterior confirmação pela Douta Turma

Criminal designada, a favor do paciente Ercézio Castanhol, expedindo-se o

competente alvará de soltura para Penitenciária Federal de Campo Grande,

concedendo a devida liberdade provisória. O recorrente espera confiante no

saber de seus Juízes, certo de que a experiência de Vossas Excelências possa

contribuir para minorar a angustia que pesa injustamente sobre o mesmo, é o que

se pede.

Nestes termos,

Pede-se Deferimento

Mato Grosso do Sul, Campo Grande em 10/02/2016