PROCURADORIA-GERAL DO TRABALHO CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO

PROCESSO PGT/CCR/14045/2014

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Origem: PRT 9ª Região

Órgão Oficiante: Dra. Ignez Guimarães

Interessado 1: Sigiloso

Interessado 2: Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização de Londrina (CMTU)

Interessado 3: Transportes Coletivos Grande Londrina Ltda (TCGL)

Assunto: Condições de Trabalho, Órgãos e Medidas de Proteção (01.01.08/01.01.16 )

RECURSO ADMINISTRATIVO. QUALIDADE NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE TRANSPORTE COLETIVO. RELAÇÃO CONSUMERISTA PROTEGIDA EM TAC. COMPETÊNCIA DO MPE. Não há legitimidade de atuação do MPT quando a denúncia tem por motivação a baixa qualidade dos serviços de transporte coletivo prestados, e que já é objeto de proteção em TAC no âmbito do MPE. O inconformismo da denunciante, quanto a eventual descumprimento ou ineficácia do TAC, deveria ser ofertado perante o parquet estadual. Recurso não provido. Promoção de arquivamento que se homologa.

I – RELATÓRIO

A Procuradora do Trabalho Ignez Guimarães promoveu o

arquivamento da presente Notícia de Fato, autuada em razão de denúncia

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que noticiou irregularidades na prestação de serviços de transporte coletivo

pelas empresas CMTU e TCGl.

A denunciante informou sobre a precariedade dos terminais

de transporte em Londrina e sobre a péssima qualidade da prestação do

serviço de transporte, decorrente da falta de ordem e respeito aos

consumidores, motivada pela ausência de cobradores no interior dos

ônibus. Registrou que os motoristas cumulam a função de cobrador,

colocando em risco os passageiros. Além disso, consignou que os idosos

eram desrespeitados nos veículos, que passageiros fumam no seu interior,

e que eram constantes as agressões e algazarras movidas a músicas

pornográficas.

A Dra. Inez Guimarães, ao promover o arquivamento da

referida denúncia, consignou que após a ciência dos fatos oficiou ao MPE

para a investigação, por envolver matérias relacionadas ao direito do

consumidor. Registrou também que o MPE firmou TAC com o Município e

as empresas envolvidas, onde ficou acordado: a reforma dos terminais de

ônibus; a obrigatoriedade de manutenção de cobradores nas linhas de fluxo

intenso de passageiros; a substituição de 77 ônibus para maior

acessibilidade; criação de regras de convivência e respeito entre usuários

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(como a não utilização de som dentro dos veículos); e a fiscalização do

cumprimento das obrigações.

A ilustre representante do parquet trabalhista, por fim,

aduziu que a atribuição para a análise de irregularidade de consumo seria

do MPE, em sua promotoria de defesa do consumidor, o que acontecera no

caso, onde ensejou, inclusive, a assinatura de TAC com os responsáveis

pelas irregularidades denunciadas. Ademais, a única irregularidade que

teria viés trabalhista/consumerista, quanto a falta de cobrador nas linhas,

também foi abrangida pelo TAC firmado.

Por sua vez, a denunciante, se insurgindo em face da

promoção de arquivamento da Notícia de Fato nº 00145.2014.09.003/4,

interpôs recurso administrativo em fls. 15 e 17 dos autos sigilosos.

Não foram ofertadas contrarrazões.

É o breve relatório.

II – ADMISSIBILIDADE Conheço do presente recurso, haja vista observância do

prazo previsto no artigo 10-A da Resolução CSMPT nº 69/2007, bem como

pelo inconformismo da manifestação do recorrente, essencial ao recurso.

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III - VOTO

Quanto ao mérito, não assiste melhor sorte à recorrente.

Após a análise dos autos, verifica-se a inexistência de lesão

a direitos ou interesses tuteláveis pelo MPT in casu, por envolver matérias

relacionadas a direito do consumidor, que foram, inclusive, objeto de

assinatura de TAC pelo Ministério Público Estadual, a vigorar até o ano de

2015.

Dentro do TAC ficou acordado a reforma dos terminais de

ônibus, a obrigatoriedade de manutenção de cobradores nas linhas de fluxo

intenso de passageiros, a substituição de 77 ônibus para maior

acessibilidade, e a manutenção de regras de convivência e respeito entre

usuários.

Portanto, o inconformismo da denunciante, quanto a

eventual descumprimento ou ineficácia do TAC, inclusive quanto a falta de

cobrador em horário de grande fluxo, deveria ser ofertado perante o

parquet estadual, ao invés do MPT.

Além disso, se equivoca a denunciante em seu argumento

de que todos os problemas relatados decorreriam da falta de cobradores

no interior dos ônibus, até porque, não está dentro das funções do

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cobrador a manutenção da ordem dentro dos ônibus. A falta de ordem,

respeito e cordialidade dos veículos só é corrigida com a implementação de

políticas públicas voltada a educação dos usuários – o que foi objeto do TAC

firmado - bem como a contribuição de cada passageiro para a

implementação da solidariedade e paz nos transportes públicos.

A cumulação da função de motorista e cobrador em horários

de pouco fluxo de passageiros, além de ser prática comum em diversos

estados brasileiros, também foi objeto de Acordo Coletivo de Trabalho no

âmbito da municipalidade, não havendo qualquer ilegalidade, pois ao

prever a cumulação das funções somente em horário de pouco fluxo (entre

19h e 5h), não comprometeu a saúde dos motoristas e segurança dos

passageiros. Ademais, quanto ao possível descumprimento do ACT, vale

frisar que o sindicato da categoria é entidade competente para proteger os

termos das negociações coletivas.

De qualquer maneira, o Ministério do Trabalho e Emprego,

através da Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), ao descrever

pormenorizadamente a função do motorista em geral, inclui a possibilidade

de cobrança de pagamento e entrega dos bilhetes a passageiros.

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Por fim, neste mesmo sentido, de reconhecer a legalidade

da cumulação da função de cobrador pelo motorista de ônibus, se encontra

os seguintes precedentes oriundos do TST cortes trabalhistas:

RECURSO DE REVISTA. DIFERENÇAS SALARIAIS. ACÚMULO DE FUNÇÕES. MOTORISTA DE TRANSPORTE COLETIVO COM ATRIBUIÇÕES DE COBRADOR. COMPATIBILIDADE. APLICAÇÃO DO ARTIGO 456, PARÁGRAFO ÚNICO, DA CLT. I. No âmbito desta Corte Superior, a questão tem sido decidida à luz do disposto no artigo 456, parágrafo único, da CLT: "A falta de prova ou inexistindo cláusula expressa e tal respeito, entender-se-á que o empregado se obrigou a todo e qualquer serviço compatível com a sua condição pessoal". II. É possível, portanto, a aplicação do entendimento de que a atribuição de receber passagens é compatível com as condições contratuais do motorista de transporte coletivo, não havendo amparo legal para que se conclua que o exercício dessa atribuição, nos momentos anteriores ao início da viagem propriamente dita, importe em alteração contratual ilícita, conforme dispõe o artigo 468 da CLT. Precedentes. III. Recurso de revista de que se conhece, por divergência jurisprudencial, e a que se dá provimento. (RR - 154000-77.2009.5.01.0037 , Relator Ministro: Fernando Eizo Ono, Data de Julgamento: 27/08/2014, 4ª Turma, Data de Publicação: DEJT 05/09/2014).

RECURSO DE REVISTA. AÇÃO CIVIL PÚBLICA AJUIZADA PELO SINDICATO DE CLASSE. ACÚMULO DE FUNÇÃO. MOTORISTA E COBRADOR. MICRO-ÔNIBUS. Em processos em que se discute a possibilidade de acúmulo das funções de motorista e cobrador, esta Corte tem dirimido a questão conforme o art. 456, parágrafo único, da CLT, que dispõe que -à falta de prova ou inexistindo cláusula expressa a tal respeito, entender-se-á que o

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empregado se obrigou a todo e qualquer serviço compatível com a sua condição pessoal-. Assim, tem decidido pela possibilidade do exercício da dupla função em casos como o de motorista de micro-ônibus. Violação da lei e da Constituição Federal não configurada. Ressalva de entendimento pessoal. Recurso de revista de que não se conhece. (RR - 1419-61.2010.5.03.0013 , Relatora Ministra: Kátia Magalhães Arruda, Data de Julgamento: 04/12/2013, 6ª Turma, Data de Publicação: DEJT 06/12/2013).

Por todo o exposto, nego provimento ao recurso.

III – CONCLUSÃO

À vista do exposto, conheço e nego provimento ao recurso

administrativo, homologando, consequentemente, a promoção de

arquivamento.

Brasília, 15 de setembro de 2014.

______________________ Junia Soares Nader

Subprocuradora Geral do Trabalho Membro da CCR/MPT