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SIDEREUM ANA I El río Guadiana en Época Post-orientalizante Anejos de AEspA XXXIX, 2008, p. 447-467 RESUMO A modelação manual é a mais antiga das técnicas de fabrico cerâmico. Em Castro Marim verificou-se a persistên- cia desta tradição oleira em todas as fases de ocupação proto-históricas, abarcando uma cronologia balizada entre os sécs. IX/VIII e o séc. III a.n.e. Durante este amplo lapso temporal assiste-se a um progressivo decréscimo das produções ma- nufacturadas, motivado pela difusão da tecnologia do torno rápido. O conjunto cerâmico foi contextualizado de acordo com o faseamento proposto para o sítio, tendo-se ensaiado a sua distribuição espacial nos vários espaços ocupados du- rante os séculos VI e V a.n.e. O repertório formal e decorativo da cerâmica manual de Castro Marim do séc. VI a.n.e. é consistente com outros sítios indígenas “orientalizados”, nomeadamente aqueles conectados com mundo tartéssico da Andaluzia Ocidental. Na segunda metade do primeiro milénio são mais evidentes as relações com o Alentejo interior e a Extremadura espanhola (nomeadamente com os sítios relacionados com o rio Guadiana), denotando-se algumas alte- rações na baixela, principalmente ao nível das decorações. RESUMEN El modelado a mano es la técnica cerámica más antigua. En Castro Marim se documenta su presencia en todas las fases de ocupación protohistórica, desde los siglos IX-VIII al siglo III a.n.e. Durante este tiempo se asiste a un decre- mento de las producciones a mano motivado por la difusión de la técnica del torno rápido. El elenco cerámico se con- textualiza de acuerdo con la articulación cronológica y con la distribución topográfica en los espacios ocupados en los siglos VI y V a.n.e. El repertorio formal y decorativo de la cerámica a mano de Castro Marim del siglo VI es coinci- dente con el de otros sitios indígenas “orientalizados”, principalmente con aquellos que tienen conexión con el mundo tartésico de Andalucía Occidental. En la segunda mitad del primer milenio son más evidentes las relaciones con el Alen- tejo central y la Extremadura española (especialmente con los sitios relacionados con el Guadiana), percibiéndose al- gunas alteraciones en la vajilla, principalmente en las decoraciones. ABSTRACT Hand modelling is the oldest of pottery techniques. In Castro Marim it has been observed the presence of this kind of technique in all the phases of proto-historical occupation, from the 9 th -8 th to 3 rd century B.C. During this wide period, a progressive downfall on handmade production can be seen, due to the widespread of the wheel technology. The pot- tery collection was contextualized with the proposed phasing of the site, and was tested its spacial distribution on the many areas occupied during the 6 th and 5 th centuries B.C. The decorative and formal repertoire of Castro Marim’s hand- made pottery on the 6 th century assembles other local settlements “under oriental influence”, mostly those connected with the Tartesian area of western Andalusia. On the second half of the first millennium B.C, the relations with Alentejo’s hinterland and the Spanish Extremadura are more evident, (mainly those connected with the Guadiana river), being no- ticed some changes on the repertory, mostly on a decorative level. PRODUÇÃO E CONSUMO DE CERÂMICA MANUAL NO CASTELO DE CASTRO MARIM DURANTE OS SÉCULOS VI E V A.N.E. Carlos Filipe PEREIRA PINTO DE OLIVEIRA UNIARQ – Universidade de Lisboa

PRODUÇÃOECONSUMODECERÂMICAMANUALNO ... · SIDEREUMANAI ElríoGuadianaenÉpocaPost-orientalizante AnejosdeAEspA XXXIX,2008,p.447-467 RESUMO Amodelaçãomanualéamaisantigadastécnicasdefabricocerâmico

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SIDEREUMANA IEl río Guadiana en Época Post-orientalizanteAnejos de AEspA XXXIX, 2008, p. 447-467

RESUMO

Amodelação manual é a mais antiga das técnicas de fabrico cerâmico. Em Castro Marim verificou-se a persistên-cia desta tradição oleira em todas as fases de ocupação proto-históricas, abarcando uma cronologia balizada entre os sécs.IX/VIII e o séc. III a.n.e. Durante este amplo lapso temporal assiste-se a um progressivo decréscimo das produções ma-nufacturadas, motivado pela difusão da tecnologia do torno rápido. O conjunto cerâmico foi contextualizado de acordocom o faseamento proposto para o sítio, tendo-se ensaiado a sua distribuição espacial nos vários espaços ocupados du-rante os séculos VI e V a.n.e. O repertório formal e decorativo da cerâmica manual de Castro Marim do séc. VI a.n.e. éconsistente com outros sítios indígenas “orientalizados”, nomeadamente aqueles conectados com mundo tartéssico daAndaluzia Ocidental. Na segunda metade do primeiro milénio são mais evidentes as relações com oAlentejo interior ea Extremadura espanhola (nomeadamente com os sítios relacionados com o rio Guadiana), denotando-se algumas alte-rações na baixela, principalmente ao nível das decorações.

RESUMEN

El modelado a mano es la técnica cerámica más antigua. En Castro Marim se documenta su presencia en todas lasfases de ocupación protohistórica, desde los siglos IX-VIII al siglo III a.n.e. Durante este tiempo se asiste a un decre-mento de las producciones a mano motivado por la difusión de la técnica del torno rápido. El elenco cerámico se con-textualiza de acuerdo con la articulación cronológica y con la distribución topográfica en los espacios ocupados en lossiglos VI y V a.n.e. El repertorio formal y decorativo de la cerámica a mano de Castro Marim del siglo VI es coinci-dente con el de otros sitios indígenas “orientalizados”, principalmente con aquellos que tienen conexión con el mundotartésico deAndalucía Occidental. En la segunda mitad del primer milenio son más evidentes las relaciones con elAlen-tejo central y la Extremadura española (especialmente con los sitios relacionados con el Guadiana), percibiéndose al-gunas alteraciones en la vajilla, principalmente en las decoraciones.

ABSTRACT

Hand modelling is the oldest of pottery techniques. In Castro Marim it has been observed the presence of this kindof technique in all the phases of proto-historical occupation, from the 9th-8th to 3rd century B.C. During this wide period,a progressive downfall on handmade production can be seen, due to the widespread of the wheel technology. The pot-tery collection was contextualized with the proposed phasing of the site, and was tested its spacial distribution on themany areas occupied during the 6th and 5th centuries B.C. The decorative and formal repertoire of Castro Marim’s hand-made pottery on the 6th century assembles other local settlements “under oriental influence”, mostly those connected withthe Tartesian area of western Andalusia. On the second half of the first millennium B.C, the relations with Alentejo’shinterland and the Spanish Extremadura are more evident, (mainly those connected with the Guadiana river), being no-ticed some changes on the repertory, mostly on a decorative level.

PRODUÇÃO E CONSUMO DE CERÂMICAMANUAL NOCASTELO DE CASTRO MARIM DURANTE OS SÉCULOS

VI E VA.N.E.

Carlos Filipe PEREIRA PINTO DE OLIVEIRAUNIARQ – Universidade de Lisboa

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1. INTRODUÇÃO

O objectivo que presidiu à elaboração destetexto foi o de caracterizar e cartografar a baixela decerâmica manual utilizada em Castro Marim du-rante os séculos VI e V a.n.e. O faseamento queserve de base à organização deste trabalho foi defi-nido de acordo com os diferentes planos arquitec-tónicos identificados na escavação sector 1, cujosresultados foram já alvo de algumas publicaçõespreliminares (Arruda 2005; Arruda e Freitas noprelo a; Arruda et al. no prelo b). A assinalávelcomplexidade estratigráfica registada testemunhauma ocupação longa e intensa, ritmada por suces-sivos momentos de construção, remodelação, de-molição e reconstrução, configurando um autênticoambiente urbano, particularmente a partir do séc.VII a.n.e.

A especificidade do tema deste encontro ditou aselecção de contextos datados dos séculos VI e Va.n.e., que se enquadram, respectivamente, nasfases IV e V da ocupação sidérica documentada emCastro Marim. A maioria dos materiais apresenta-dos procedem de níveis situados sobre os pisos dosdiferentes espaços identificados, que, em algunscasos, ofereceram exemplares fragmentados in situ.Publicam-se, igualmente, alguns recipientes reco-lhidos no enchimento de estruturas negativas, deforma a melhor caracterizar o momento de aban-dono de determinadas espaços. Para cada uma dasfases estudadas, a amostra foi analisada de acordocom a sua distribuição micro-espacial, conside-rando apenas os recipientes associáveis aos con-textos de abandono (Figs. 1, 2 e 3). Foi aindarealizada uma caracterização geral da totalidadedos fragmentos recolhidos em ambas as fases deocupação, procurando definir as pautas de consumoe produção da categoria cerâmica tratada.

O presente trabalho não tem quaisquer preten-sões de se constituir como uma tipologia de cerâ-mica manual —que seria sempre limitada eincompleta— até porque, algumas das formas re-conhecidas no sítio estão ausentes nos contextosaqui apresentados.Assim, optou-se por uma divisãomuito genérica das diferentes categorias formais,privilegiando como critérios de análise, não só,nem principalmente, as características morfométri-cas dos diversos recipientes, mas também o seu as-pecto geral e potencial funcionalidade. Nestesentido, deve alertar-se para o facto dos recipientesdesignados potes/panelas incorporarem vasos de di-ferentes dimensões e perfis, podendo incluir exem-plares de corpo ovóide, globular ou mesmotroncocónico. O bordo pode ser mais ou menos es-

vasado, consoante o estrangulamento registado aonível do colo. Em raros exemplares documentaram-se também bordos de tendência vertical. A opçãode reunir sob a mesma designação recipientes comformas diferentes, prende-se com a convicção deque estes poderiam cumprir serventias similares,nomeadamente a armazenagem, no caso dos con-tentores de maior dimensão, ou a confecção culi-nária e pequena reserva, no caso dos exemplarescom menor capacidade. Distinguiram-se as taçase/ou tigelas das bacias/alguidares em função das di-mensões que, sendo largamente superiores nesta úl-tima categoria, não se adequam a determinadasfunções, como por exemplo ao consumo individual.Por outro lado, e ao contrario das primeiras, satis-fazem os requisitos necessários para actividades re-lacionadas com a higiene pessoal, nomeadamenteabluções. Não obstante, ambas as categorias pos-suem as mesmas formas básicas, podendo ser defeição mais hemisférica ou troncóconica; de ten-dência esférica (com bordo reentrante), de perfil ca-renado ou perfil suave em “S”.

2. FASE IV (SÉC. VI – PRIMEIRA METADEDO SÉC. VA.N.E.)

Os vestígios arquitectónicos atribuídos à faseIV testemunham um assinalável incremento do es-paço construído, que no decorrer do séc. VI e pri-meira metade do séc. V foi alvo de diversasremodelações. A sequência estratigráfica registadasugere uma desactivação desfasada das diferentesáreas edificadas, com primazia para aquelas situa-das a norte dos compartimentos 21 e 22. Comefeito, neste espaço documentou-se a presença dequatro fossas escavadas, imediatamente, sobre asruínas dos compartimentos da fase IV, sendo pos-teriormente ocultadas pelos edifícios da fase V, cujaconstrução remonta a meados do séc. V. A existên-cia destas estruturas negativas testemunha o lapsode tempo em que, aquela área em concreto, não seencontrava edificada, embora continuasse a ser uti-lizada. Por outro lado, verificou-se que os derrubesdos compartimentos localizados a Sul foram soter-rados, por níveis da fase V datados pela cerâmicaática da segunda metade do séc. V, parecendoassim, fazer sentido afirmar que, estes edifícios emconcreto, permaneceram ocupados ainda durante aprimeira metade da mesma centúria. A esta crono-logia devem também corresponder as estruturas ne-gativas antes referidas, remetendo, para os finais doséc. VI, o momento de abandono dos comparti-mentos ali construídos no início do mesmo século.

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2.1. REPERTÓRIO DA FASE DE ABANDONO E SUA DIS-TRIBUIÇÃO ESPACIAL

Os contextos da fase IV encontram-se em me-lhor estado de conservação, tendo sido documenta-dos alguns recipientes fragmentados em conexão,que possibilitam aferir com maior base de rigor,qual o repertório em uso aquando desactivação dasdiferentes áreas edificadas. Como atrás se referiu afase IV compreende dois momentos de abandonodistintos, aos quais correspondem materiais de ta-fonomia e, obviamente, cronologia diferente,sendo, por isso, tratados em separado.

O momento de abandono mais antigo corres-ponde à desactivação dos compartimentos locali-zados da zona Norte e central da escavação, queforam intensamente ocupados, como demonstramalgumas remodelações documentadas. Na figura 1encontram-se representados todos os recipientesque se podem associar indiscutivelmente à derra-deira ocupação dos espaços onde foram recolhidos,uma vez que se encontram fragmentados in situ.Fica desde logo claro, que os únicos recipientesnestas condições se integram na categoria pote/pa-

nela, reportando-se, portanto, a actividades corren-tes, como a pequena armazenagem e a confecçãoculinária, denunciando, assim, um carácter emi-nentemente doméstico da área abandonada.

No compartimento 12 recolheu-se um pequenocontentor de aspecto tosco, paredes queimadas edotado de uma asa vertical que deve ter servidocomo panela de ir ao lume, resultando significativoa sua descoberta num espaço equipado com de la-reira, ao qual se pode atribuir, uma funcionalidaderelacionada com actividades culinárias. Este reci-piente encontra-se decorado com incisões ao níveldo bordo e uma fileira digitada abaixo do colo (Fig.4, nº 1844), um esquema comum em contextos si-déricos do Sudoeste peninsular. A associação destaforma com esta decoração corresponde à forma I emotivo XVII da tipologia de Ladrón de Guevara(1994), que assinala a sua particular incidência nazona de Huelva (C. de S. Pedro, C. de la Esperanza,S. Bartolomé de Almonte e C. Salomón). Esteexemplar e um outro recolhido no compartimento20 (Fig. 4, nº 15238) permitem rebaixar, para finaisdo séc. VI a.n.e., a cronologia proposta para o de-saparecimento deste esquema decorativo, que a au-

Fig. 1.– Distribuição espacial dos recipientes de cerâmica manual na planta da fase IV de Castro Marim (séc. VI).

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tora situa nos inícios da mesma centúria (Ladrónde Guevara 1994: 335).

O acesso ao compartimento 12 fazia-se por umpequeno “alpendre” construído no último momentode utilização da área 16, que funcionou como umarua. Junto a esta estrutura, recolheu-se um pote deampla capacidade equiparável aos, comummente,denominados “vasos à chardon” (Fig. 5, nº 1790).Apeça em questão possui o fundo plano, a partir doqual se desenvolve o corpo troncocónico, separadodo colo por uma suave carena central. O colo émuito desenvolvido e de morfologia acampanada,culminando num bordo amplamente exvertido. Aspartes inferior e superior apresentam tratamentos di-ferenciados, sendo que a primeira foi apenas ligei-ramente alisada, enquanto que a segunda seencontrava polida em toda a parede externa e numafaixa da superfície interna. As características mor-fométricas evocam uma utilidade conectada com aarmazenagem móvel ou “quotidiana”, nomeada-mente de produtos sólidos. A descoberta desteexemplar completo oferece especial interesse, poispermite confrontar o seu perfil com o de outrosexemplares conhecidos, revelando algumas caracte-rísticas próprias de uma fase avançada deste tipo deformas, nomeadamente um corpo inferior troncocó-nico, ao invés de globular como sucede nos exem-

plares mais antigos. Não sendo uma forma muitofrequente nos contextos sidéricos da Península Ibé-rica é, no entanto, bem conhecida, encontrando-seigualmente reproduzida a torno, quase sempre co-berta de engobe vermelho ou pintada em bandas.Vários autores têm sublinhado a sua incidência, es-pecialmente do tipo manufacturado, em sítios indí-genas da Andaluzia e Extremadura, em particularnas necrópoles, onde são utilizadas como urnas.Com efeito, sítios como La Joya (Garrido 1970;Garrido e Orta 1978), Medellín (Almagro-Gorbea1977) ou Mesa de Setefilla (Aubet et al. 1983) con-firmam a utilização de vasos “à chardon” ao longodo período orientalizante, constituíndo uma formacomum em contextos funerários. Não obstante, for-mas afins foram também documentadas em algunspovoados, ainda que raramente se recolham exem-plares que permitam a reconstituição de perfis com-pletos. Não se pode deixar de referir que a peça emquestão aparenta grandes similitudes morfológicascom um exemplar exumado na sepultura 12 da ne-crópole Medellín, datada de finais do séc. VI (Al-magro-Gorbea 1977: 400, fig.157, nº3), coincidindocom a cronologia proposta para o abandono de al-guns edifícios da fase IV de Castro Marim.

Na área em frente ao compartimento 15, que,provavelmente, corresponde ao prolongamento da

Fig. 2.– Distribuição espacial dos recipientes de cerâmica manual na planta da fase IV de Castro Marim (primeira me-tade do séc. V a.n.e).

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rua acima referida, foram recuperados dois reci-pientes da categoria Pote/Panela: um de morfolo-gia globular com forte estrangulamento ao nível docolo (Fig. 4, nº 2992) e outro de forma aberta como bordo amplamente esvasado, colo muito desen-volvido de tendência vertical e corpo hemisférico(Fig. 4, nº 3290). Este último, apesar de não cons-tituir uma forma muito comum, encontra paralelosem alguns recipientes modelados a torno, podendocitar-se, a titulo de exemplo, um vaso coberto comengobe vermelho, procedente de Santa Olaia (Fi-gueira da Foz), (Pereira 1997: 246, fig. 15 nº 2 e248, fig. 117 b). O exemplar de Castro Marim os-tentava uma fileira de pequenas incisões oblíquasao nível da pança (Fig. 4, nº 3290), que constituium decoração relativamente frequente em vários sí-tios da Andaluzia quer indígenas, quer coloniais,destacando-se as suas semelhanças com um outrorecipiente procedente de S. Bartolomé de Almonte(Fernandéz Jurado, Ruiz-Mata 1986: lam. LVIII,nº778). Apesar das consideráveis diferenças mor-fológicas, ambos recipientes recolhidos em frente

ao compartimento 15 parecem ter funcionado comopanelas, tendo em conta o seu aspecto tosco e prin-cipalmente os sinais de exposição reiterada ao fogo.A preparação culinária em espaços descobertos é,assim, uma possibilidade que deve ser consideradae que, aliás, é também sugerida pela presença de la-reiras nestas áreas.

No complexo construtivo da área central da es-cavação, a ocorrência de recipientes fragmentadosin situ é mais rara, resumindo-se a um único exem-plar, identificado junto à parede Norte do compar-timento 19 (Fig. 5, nº 10162). Trata-se de umcontentor de média capacidade que se encontrava,parcialmente, enterrado no piso, pelo que pode serrelacionado com a armazenagem fixa, possivel-mente de líquidos, conforme sugere a sua morfolo-gia fechada.

Deve ainda referir-se um contexto escavado nocompartimento 20, onde se documentou presençaexclusiva de recipientes da categoria pote/panela,nomeadamente de dois exemplares de grande ca-pacidade, bem como um outro contentor ornamen-

Fig. 3.– Distribuição espacial dos recipientes de cerâmica manual na planta da fase V de Castro Marim (segunda me-tade do séc. V a.n.e).

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tado com os mesmos motivos identificados na pa-nela do compartimento 12, reforçando a tipicidadedesse esquema decorativo nos contextos de aban-dono desta área em concreto (Fig. 4, nº 14448,14379, 15238, 14449, 144450).

Como se viu na introdução deste ponto, osdados estratigráficos conjugam-se no sentido depoder defender-se, que os compartimentos locali-zados na zona mais a Sul foram abandonados emmomento posterior aos que acima analisados. Defacto, e apesar da escassez de elementos datantes,parece possível supor que os primeiros alcançarama primeira metade do séc. V, enquanto que os loca-lizados a Norte terão sido desactivados ainda noséc. VI, possivelmente na sua etapa final. Sobre asruínas deste último complexo, foram escavadas al-gumas fossas, cuja posição estratigráfica permiterelacionar com a ocupação mais tardia (Fig. 2).

Nos compartimentos 21 e 22 recolheram-seduas peças completas, ambas da categoria Pote/Pa-nela (Fig. 6, nº 10214 e fig. 5, nº 10212, respecti-vamente). O facto de não ostentarem sinaisevidentes de exposição ao fogo afasta a sua inter-pretação como panela de cozinha, remetendo-a paraactividades relacionadas com pequena armazena-gem. A reduzida área escavada em ambos os espa-ços dificulta um esclarecimento cabal dafuncionalidade destes. Contudo, pode dizer-se quea presença destes recipientes no seu interior sugereum carácter doméstico, ainda que, as suas distintasdimensões e os equipamentos documentados nocompartimento 21, deixem antever uma utilizaçãodiferenciada.

No compartimento 26 recolheu-se um conjuntode cerâmica manual muito restrito, onde pontua oúnico recipiente classificado como sertã (Fig. 6, nº5013). Trata-se de uma forma de base plana e muitoampla, a partir da qual se desenvolvem paredes cur-tas e ligeiramente inclinadas, sendo que o diâme-tro do bordo é ou pouco maior do que o do fundo.Em estudo dedicado à cerâmica manual de Cartago,K. Mansel (2005: 260-261) integra estes recipien-tes no lote das produções tipicamente fenícias edestaca a sua presença em muitos sítios do Medi-terrâneo, desde o Magreb à costa Sul peninsular,pelo menos desde o séc. VIII, prolongando-se atéao séc. IV, particularmente em alguns contextos fu-nerários da Tunísia. Na Península Ibérica, integramos inventários das principais colónias do litoral Sula partir de finais do séc. VIII/ inícios do VII, per-durando até ao séc. finais do VI/ inícios do V, deacordo com os exemplares procedentes de Málaga(ApudMansel, Ibidem: 261, nota de rodapé nº 5).Por outro lado, Ruiz-Mata assinala a incidência

desta forma na área onubense e Baixo Guadalqui-vir, onde, segundo o autor, constituem um elementocaracterístico do denominado Bronze Final pré-fe-nício (Ruiz-Mata 1995: 266-267). A morfologiadeste tipo de recipientes e alguns exemplos etnoló-gicos sugerem a sua serventia na secagem ou tos-tagem de cereais e frutos, bem como na cozedurade pão. A este respeito, importa esclarecer que al-guns dos exemplares conhecidos em outros sítiostêm perfurações na base, quiçá para potenciar oaquecimento da superfície interior e, consequente-mente, melhorar o desempenho na cozedura. Outroargumento que poderá ser evocado para defender autilização destes recipientes na confecção de pãoreside na forma circular que configuram, sugerindoligações a ancestrais tradições de panificação, comparticular relevo para as de origem semita.A amos-tra exumada no compartimento 27 é consideravel-mente mais vasta, mas seu estado de preservaçãonão autoriza uma associação directa às actividadesdesenvolvidas neste compartimento, uma vez quese tratam de fragmentos muito diminutos. Não obs-tante, parece importante mencionar que foram do-cumentados vários tipos de Potes/Panelasdefinidos, bem como diversas taças e tigelas de per-fil hemisférico.

No compartimento 25, apenas os níveis relati-vos à sua construção se encontravam conservados.Não obstante, o exemplar que foi ai recolhido estáinegavelmente associado a este espaço, pois foi uti-lizado como parte de um ritual de fundação. Trata-se de amplo fundo côncavo, que se encontravacompleto, mas com o perfil muito truncado, im-possibilitando reconhecer a morfologia do reci-piente que integrava (Fig. 6, nº 10918).Paradoxalmente, é o único exemplar de todo o con-junto estudado que não oferece dúvidas quanto àsua funcionalidade, uma vez que, no seu interior,jazia parte do esqueleto de um neo-nato, demons-trando assim a sua serventia como urna. Apesar deconstituir uma situação inédita no Ocidente penin-sular, os enterramentos infantis em espaços públi-cos ou domésticos estão bem documentados aolongo da costa oriental, em especial no Nordesteespanhol e Sul de França, onde se enquadram nadenominada “Cultura Ibérica”, (AAVV 1989),coincidindo cronologicamente, com os exemplosescavados em Castro Marim. A identificação desterito fundacional e a sua associação a este tipo defundos alertam para a possibilidade do comparti-mento 25 ter sido construído num momento tardioda fase IV, provavelmente, já durante a primeirametade do séc. V a.n.e. Com efeito, à excepçãodeste caso concreto, quer os enterramentos rituais,

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Fig. 4.– Cerâmica manual da fase IV recolhida no compartimento 12 (UE-222), em frente ao compartimento 15 (UE-170) e no compartimento 20 (UE-929).

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quer os fundos côncavos foram documentados uni-camente na fase V, podendo ser datados da segundametade do séc. V.

A área entre os compartimentos 21, 22, 25 e 26constitui um espaço descoberto que define uma pe-quena “praça” à volta da qual se distribuíam diver-sos edifícios. Neste espaço, recolheu-se um escassoconjunto de materiais, entre os quais se destaca umataça hemisférica, fracturada in situ, junto ao com-partimento 21, que mostrava sinais de um restauroantigo, como demonstram os “gatos” identificados(Fig. 6, nº 10216). No mesmo contexto recolheram-se alguns fragmentos de potes/panelas (Fig. 6, nº13369 e 10442), assim como parte de uma bacia/al-guidar de tendência esférica (Fig. 6, nº 10441), umaforma que atingirá o auge da sua popularidade apartir da segunda metade do século. V a.n.e, ou sejajá na fase seguinte.

Ao derradeiro momento da fase IV correspon-dem, igualmente, quatro fossas localizadas na zonaNorte da área escavada, que documentam o lapsode tempo que medeia entre a desactivação de al-guns dos compartimentos desta fase e a reestrutu-ração urbanística inaugurada na fase V. A presençadestas estruturas negativas testemunha um mo-mento durante o qual parte da área escavada pareceter sido utilizada como vazadouro. Parece impor-tante referir que, embora todas partilhem a mesmaposição estratigráfica relativa, não é possível esta-belecer relações de anterioridade e posterioridadeentre estas, uma vez que cortavam e eram sobre-postas por estratos diferentes e sem relação físicaentre si. A quantidade de espólio recolhido nos res-pectivos enchimentos é também muito variável,sendo relativamente abundante em [775], enquantoque em [120] é quase inexistente. Na primeira, oconjunto é dominado por taças de morfologia he-misférica e/ou troncocónica, encontrando-se repre-sentados também alguns exemplares de tendênciaesférica (Fig. 7). Pela sua raridade no conjunto, im-porta destacar a presença de uma tigela com deco-ração brunida no interior, cujo motivo desenhadocorresponde a um esquema evolucionado das gra-máticas decorativas habituais neste tipo de produ-ções, condizendo com a sua avançada cronologia(Fig. 7, 13530). Os Potes/Panelas integram, igual-mente, o conjunto tendo sido documentado umexemplar de bordo denteado (Fig. 7, 12057). Al-guns dados parecem conjugar-se no sentido de sepoder propor uma relativa antiguidade deste con-junto, comparativamente com os documentados nasoutras estruturas negativas. Assim, deve salientar-se que os exemplares decorados ocorrem, exclusi-vamente, neste contexto e que a ponderação

estatística da relação manual/torno é relativamenteelevada (22 %), quer em comparação a cifra esta-belecida para o conjunto total da fase IV (20 %),quer em relação à amostra da fossa [132] (10 %).Esta última compunha-se quase unicamente porfragmentos de recipientes do tipo potes/panelas,que se encontravam misturados com uma grandequantidade de malacofauna (Fig. 7). Para a fossa[153] não foi possível estabelecer o índice da rela-ção manual/torno, uma vez que a amostra total ébastante restrita. Não obstante, cumpre assinalar apresença, neste contexto, juntamente com outrosfragmentos de Potes/Panelas e uma pequena tigelahemisférica de fundo convexo (Fig.7).

2.2. CARACTERIZAÇÃO GERAL DA AMOSTRA

A cerâmica manual recolhida nos níveis corres-pondentes à fase IV totaliza um conjunto 538 indi-víduos (N.M.I.) que equivalem a 20 % do conjuntocerâmico isolado para este período.Aolaria manualsofre um considerável decréscimo, acompanhando atendência registada em outros sítios com ocupaçãosíncrona e conectados com a influência orientali-zante. O índice de cerâmica manual estimado paraesta fase (20 %) é consistente com o valor obtido nonível V da escavação de Puerto 6 (26.8 %), emHuelva, datado de meados do séc. VI e integrado noTartéssico Final III (Fernandéz Jurado 1988-1989:108-141). Não obstante, outras intervenções namesma cidade e que entregaram espólio de igualcronologia e período cultural apresentam cifras, re-lativamente, mais modestas, oscilando entre os6.3% no nível III.C de Puerto 9 (idem, ibidem) e os12.2% contabilizados no nível I.B de Botica 10-12(Rufete Tomico 2002: 32). Em comparação com oBaixo Guadalquivir, o índice de cerâmica manualde Castro Marim é superior aos resultados calcula-dos para a ocupação do séc. VI registada no corteestratigráfico de San Isidoro (fase IIII - 3.9%) emSevilha (Campos et al. 1988: 21), assistindo-se aoseu desaparecimento a partir desta cronologia. NoCerro de la Cabeza, o abandono da técnica manu-facturada dá-se ainda em momento mais precoce,cujos escavadores situam a partir de finais do séc.VII (Domínguez de la Concha et al. 1988: 181).Comparando com regiões mais interiores, verifica-se uma quase coincidência com cifra obtida nos es-tratos 8 (24%) e 7 (18.5%) de Medellin, que dizemrespeito à ocupação do sítio durante o séc. VI (Al-magro-Gorbea e Martin Bravo 1994). Todavia, estesítio parece constituir uma verdadeira excepçãonuma área ainda muito marcada pelas tradições olei-

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Fig. 5.– Cerâmica manual da fase IV recolhida em frente ao compartimento 12 (UE-220) no compartimento 19 (UE-1011), e no compartimento 22 (UE 799).

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Fig. 6.– Cerâmica manual da fase IV recolhida no compartimento 21 (UE-842) no compartimento 25 (UE-981), no com-partimento 26(UE-485) e na praça entre os compartimentos 21, 22, 25 e 26 (UE-664).

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ras ancestrais, como foi possível observar, porexemplo, na Herdade da Sapatoa (Alentejo Central)(Mataloto 2004: 77) ou em Los Caños (Extrema-dura) (Rodríguez Díaz et al. 2006), ambos datadosentre finais do séc. VI e a primeira metade do séc. Va.n.e, onde as produções manuais representam ainda38% e 33% da respectiva baixela cerâmica.

O repertório formal desta fase é muito próximodaquele registado na ocupação do séc. VII a.n.e.Não obstante, a distribuição das principais catego-rias formais inverte-se, sendo agora maioritários oscontentores do tipo pote/panela. Com efeito, maisde metade (53 %) dos fragmentos classificáveiscorrespondem a recipientes desta categoria, compredominância para os exemplares com corpo detendência ovóide ou globular, colo estrangulado ebordo esvasado. Em conjunto, as taças e/ou tigelastotalizam 45 % da amostra, sendo mais uma vezevidente a preferência por formas de perfil hemis-férico. De facto, durante o séc. VI acentua-se a ten-dência verificada a partir do Bronze Final para umacrescente suavização dos perfis, sendo as taças ca-renadas já bastante raras. Por outro lado, os exem-plares de perfil hemisférico representam 69 % dototal de recipientes desta categoria, enquanto que,no momento anterior, esta cifra se situava nos 57%. O decréscimo verificado nas taças e/ou tigelas éparticularmente visível nos exemplares de menordimensão, geralmente associados ao consumo in-dividual de alimentos, tornando-se, assim, evidenteque esta funcionalidade passa a ser cumprida quaseexclusivamente por louça modelada ao torno. Osrecipientes classificados de bacia/alguidar com-põem 2% da amostra, podendo distinguir-se exem-plares de perfil hemisférico ou de tendênciaesférica. A única novidade no repertório desta faseé protagonizada pela identificação de um recipienteclassificado como “sertã” (Fig. 6, nº 5013), que,como já se viu, tem amplos paralelos em sítios pe-ninsulares indígenas e coloniais, bem como aolongo de toda a costa mediterrânea.

Do ponto de vista estilístico verificam-se algu-mas diferenças comparativamente com o conjuntoda fase anterior, uma vez que não se documenta-ram recipientes com ornatos brunidos na superfícieexterna ou ornamentados com motivos “belisca-dos” e pintados. Não obstante, o índice de exem-plares decorados mantem-se bastante reduzido (5%) e os recipientes da categoria pote/panelas con-tinuam a ser os preferidos para receber decoração(8.7 %). Nestes, o motivo mais comum é o “den-teado” sobre o bordo, executado por incisão ou porimpressão. Em quatro indivíduos, este motivo en-contra-se combinado com uma fileira de digitações

impressas no colo, ou pouco abaixo deste. Docu-mentaram-se também alguns exemplares com de-coração incisa sobre o bojo, sendo vários osmotivos desenhados: fileiras de traços oblíquos ouverticais, reticulados e linhas quebradas conver-gentes. Em suma, pode dizer-se que as incisõessobre o bordo constituem a mais popular das técni-cas decorativas da cerâmica manual durante o séc.VI, fazendo perdurar uma tradição com raízes naIdade do Bronze.

Documentou-se também a ornamentação de ce-râmica manual com desenhos brunidos na superfí-cie interna. Destaca-se um exemplar de umapequena tigela de perfil suave decorada com moti-vos triangulares justapostos aos pares, em que umdos vértices se encontra apontado para o centro dorecipiente. Não identifiquei qualquer paralelo exactopara este motivo, que parece representar um tipo jámuito evolucionado das gramáticas decorativas nor-malmente desenhadas nestes recipientes, condi-zendo com avançada cronologia do seu contexto derecolha. Porém, não excluímos a hipótese de estapeça se encontrar descontextualizada em relação àfase que estratigraficamente se integra. No entanto,deve dizer-se que as decorações brunidas, apesar deserem raras em contextos do séc. V, são no entantoconhecidas em alguns sítios, como por exemplo emLaMesa de Setefilla, onde se documentam até à faseIbérica (Aubet et al. 1983: 108-109).

3. FASE V – SEGUNDAMETADE DO SÉC. V-SÉC. IV

A fase V corresponde à ocupação do sítio entrea segunda metade do séc. V e o séc. III, inclusive.Os vestígios arquitectónicos postos a descobertopermitiram verificar que o espaço foi alvo de umaprofunda renovação urbanística. Os compartimen-tos 29, 30 e 31 constituem a áreas edificadas maisantigas, devendo ter sido construídos ainda no de-curso da segunda metade do séc. V. Não obstante,as várias remodelações documentadas nestes com-partimentos demonstram que a sua ocupação seprolonga durante o século IV, tendo, portanto, as-sistido à construção dos restantes edifícios quecompõem o plano arquitectónico desta fase.

3.1. REPERTÓRIO DA FASE DE ABANDONO E SUADISTRIBUIÇÃO ESPACIAL

O espólio recolhido nas diferentes u.e’s da faseV constitui um conjunto vasto e muito diversifi-

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Fig. 7.– Cerâmica manual recolhida nas várias estruturas negativas do período tardio da fase IV.

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cado, onde pontuam algumas novidades relativa-mente ao período anterior. Os contextos de aban-dono mais antigos foram escavados noscompartimentos 29, 30, 31 e 32 (Fig. 3), devendocorresponder, de acordo com associação a cerâmicaática, nomeadamente taças Cástulo, a uma crono-logia de finais do séc. V a.n.e. O compartimento 30entregou o conjunto mais escasso, embora as for-mas representadas coincidam com o repertório re-cuperado nas restantes divisões. Assim, cabemencionar a presença de taças hemisféricas, umadas quais com uma pequena “aleta”, contentores dacategoria pote/panela de capacidade mediana eainda bacias/alguidares de tendência esférica (Fig.8, nº 11952, 11946, 12200, 12203).

O compartimento 31 constitui um autênticocontexto primário, ainda que, no respeitante à ce-râmica manual, tenham sido poucos os recipientesrecuperados intactos. Esta situação contrasta como ocorrido nas outras categorias cerâmicas, espe-cialmente nas ânforas, que compunham grandeparte do conjunto. Entre os materiais recolhidos,contam-se também vários recipientes de cerâmicaática, cerâmica cinzenta e cerâmica comum, prin-cipalmente formas abertas do tipo taça (Arruda etal. no prelo).Aolaria manual recuperada neste con-texto é, estatisticamente, pouco expressiva repre-sentando apenas 5% da amostra total. Não obstante,constitui um conjunto diversificado, composto porvários recipientes do tipo pote/panela, bacia/algui-dar, um copo, assim como algumas taças (Fig. 9).Entre estas, cabe destacar um exemplar com a “as-terisco” inciso na base, e um outro fragmento defundo em que, à volta do ônfalo central, foram de-senhadas, por incisão, pétalas, resultando numa re-presentação incrivelmente realista de uma flor (Fig.9, nº 3093 e 2026). Os habitualmente denominadosplatos margarita procedentes de Cancho Roano eLa Mata constituem os melhores paralelos decora-tivos, para este exemplar. Com efeito, apesar de os-tentar uma técnica bem distinta daquela utilizadanos platos margarita, a peça de Castro Marim re-produz um esquema decorativo muito semelhante,partilhando, também o mesmo âmbito cronológico(meados/finais do séc. V). Em relação a estes tiposde produções, julgo importante referir, que, emCancho Roano, foi considerada a hipótese de con-terem cosméticos ou narcóticos (Celestino e Jimé-nez Ávila 1996: 222), hipótese recentementeconfirmada em La Mata, onde a análise dos con-teúdos acusou a presença de um opiáceo (papaversomniferum) (Rodriguez Díaz e Ortiz 2004: 220).Devido ao motivo vegetalista que ostentam, tam-bém já foi sugerida a sua vinculação a rituais rela-

cionados com o culto de Astarté ou Tanit (Celes-tino 2001: 49). A categoria bacias/alguidares estárepresentada por recipientes de tendência esférica,dotados de asas cegas e, num dos casos, de um cor-dão horizontal (Fig. 9, nº 1712 e 2039). Deve aindareferir-se a presença de um pequeno copo (Fig. 9, nº7422), bem como de um recipiente de forma aberta,munido com uma asa cega (Fig. 9, nº 4561). O es-paço onde este contexto foi recuperado tem vindoa ser interpretado como um bothros, anexo a umlocal de culto, situado no compartimento 29 (Ar-ruda et al., no prelo). Infelizmente, este último en-tregou um conjunto de cerâmica manual muitoreduzido e fragmentado que, dificilmente, pode seratribuído às actividades ai desenroladas.

Do compartimento 32 apenas se escavou umapequena parte junto ao canto Sul, que, não obstante,entregou um significativo conjunto de materiaisfragmentados in situ (Fig. 8, nº 10434, 10426,10428, 10048, 10213, 13627). A olaria manual re-presenta 19% deste contexto, um valor bem maiselevado do que o registado no compartimento 31,denunciando, certamente, uma funcionalidade di-ferenciada. O conjunto reparte-se pelas categoriaspote/panela e taças hemisférica, mas deveria incluirtambém, uma Bacia/Alguidar, da qual, no entanto,restam escassos fragmentos, num dos quais se iden-tificou uma asa cega (Fig. 8 nº 10434). Das duastaças recuperadas, uma apresentava-se lisa e outramunida com dois pares de asas análogas às acimareferidas. Os potes/Panelas deste contexto são con-tentores de dimensão e morfologia variável, quedevem ter cumprido uma funcionalidade distinta,conforme sugere, também, o aspecto das suas pa-redes. Assim, se para os recipientes nº 10426,13627 parece provável uma utilização como panelade ir ao lume, uma vez que a superfície exteriormostrava sinais de exposição ao fogo, o mesmo jánão se pode dizer em relação a um exemplar nº10048, que, para além de não apresentar este tipode sinais, se encontrava perfurado na parte inferior.

3.2. CARACTERIZAÇÃO GERAL DA AMOSTRA

Acerâmica manual recolhida nos níveis da faseV totaliza um conjunto 349 indivíduos. Compa-rando com o período anterior, este valor traduz umsignificativo decréscimo, não só em termos abso-lutos, mas também relativamente ao conjunto daolaria produzida a torno. De facto, a ponderação es-tatística dos vários tipos cerâmicos informa que,nesta fase, a modelação manual foi a técnica em-pregue no fabrico de apenas 11% dos recipientes,

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Fig. 8.– Cerâmica manual da fase V recolhida no compartimento 30 (UEs 680 e 707) e no compartimento 32 (UE-679).

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podendo, no entanto, oscilar em função dos diver-sos contextos analisados, como se viu anterior-mente. Este valor é consistente com as cifrasobtidas em povoados do interior alentejano e na Ex-tremadura Espanhola como por exemplo o Castelode Medellín (ladeira norte), onde, nos estratos 6 e7 da ocupação “pós-orientalizante”, a cerâmica ma-nual representa 12.6 % e 9.5 %, respectivamente(Almagro-Gorbea e Martín Bravo 1994). Na últimafase de ocupação de Cancho Roano, datada de fi-nais do séc. V, a representatividade deste tipo deolaria oscila entre os 11 e os 15 %, sendo um poucomais elevada entre as oferendas do sector Oeste(29.4%) (Celestino Pérez e Jiménez Ávila 1993;Celestino Pérez et al. 1996). Também em La Matase registaram valores semelhantes, oscilando entreos 15 e 20 % (Rodriguez Díaz e Ortiz Romero2004: 218), aproximando-se, igualmente, da cifraestimada para o Castro da Azougada: 12 % (Antu-nes 2005).

Os exemplares que permitiram uma classifica-ção distribuem-se, maioritariamente pelos váriostipos de potes/panelas (53% -167 NMI) e pelo con-junto das taças e/ou tigelas (38% - 119 NMI). Osrecipientes integrados na categoria Bacia/Alguidarencontram-se escassamente representados (24NMI), ainda que, em comparação com as fases pre-cedentes, se registe um importante acréscimo naexpressão deste tipo que evolui dos 2 para os 8 %.A baixela de cerâmica manual da fase V é comple-tada por dois pequenos recipientes classificadoscomo copos (1%), que constituem uma novidadeno registo arqueográfico do sítio (Fig. 9, nº 7422),apresentando paralelos praticamente exactos emCancho Roano (Celestino Pérez e Jiménez Ávila1993: Fig. 35 nº 13), La Mata (Rodriguez Díaz eOrtiz Romero 2004: 219, forma B.9.b) e no po-voado de El Chaparral (Jiménez Ávila et al. 2005:473, fig. 13, nº 9).

As produções manufacturadas deste momentoreflectem elementos de continuidade com a olariada fase anterior, mas também rasgos de inovação,particularmente visíveis ao nível das decorações. Orepertório é composto principalmente por formasutilizadas desde longa data, embora algumas ques-tões de pormenor permitam atribuir ao conjuntouma certa personalidade, que as distingue das pro-duções anteriores. Analisando as taças e/ou tigelas,verifica-se, desde logo, que os vasos de morfologiaesférica e/ou troncocónica se encontram, mais umavez, em larguíssima maioria, totalizando 86 % daamostra dos recipientes desta categoria. Os reci-pientes com esta morfologia apresentam dimensõesgenerosas, com diâmetros frequentemente superio-

res a 20 cm. A aplicação de asas nestes tipos devasos constitui uma característica exclusiva destemomento, com alguns paralelos coevos que pare-cem interessantes de referir. Entre as novidades,destacam-se as comummente designadas “asascegas”, identificadas também nos sítios ditos pós-orientalizantes do Guadiana, concretamente emCancho Roano (Celestino Pérez e Jiménez Ávila1996), La Mata (Rodriguez Díaz e Ortiz Romero2004: 219) e Castro da Azougada (Antunes 2005),parecendo configurar um tipo característico dos sé-culos V (segunda metade) e IV a.n.e. As asas derolo estão igualmente documentadas, verificando-se que a sua aplicação pode ser realizada tanto navertical (Fig. 8, nº 11946) como na horizontal (Fig.10, nº 14542). No primeiro caso, trata-se de umapequena “aleta” colocada sobre o bordo, enquantoque no segundo, a zona mesial da parede foi a eleitapara a aplicação de uma espessa asa de rolo, da qualapenas se identificou a parte correspondente ao ar-ranque, e cuja orientação sugere que esta se desen-volveria com uma ligeira inclinação para cima,numa clara alusão às importações áticas, nomeada-mente às taças Cástulo. Este exemplar encontra oparalelo mais próximo no sítio recentemente publi-cado de Los Caños (Rodríguez Díaz et al. 2006: fig.12 nº 8).

Um outro tipo de contentores chama a atençãodevido à inovadora técnica decorativa que, nor-malmente, lhe está associada. Trata-se das ba-cias/alguidares de tendência esférica, geralmenteadornados com cordões plásticos de secção trian-gular ou asas cegas”, podendo ambos os elementossurgir também associados. É possível reconhecerrecipientes de morfologia análoga desde os iníciosda ocupação do sítio, ainda que na fase V os exem-plares se mostrem excepcionalmente grandes e fre-quentes, tendo sido documentados em todos oscontextos datados da segunda metade do séc. V edo séc. IV. Este tipo de contentores está bem docu-mentado na região na área de Castro Verde (NevesI, Neves II e Corvo I), onde foram interpretadoscomo recipientes para guardar água (Maia e Cor-rea 1985: 263). O exemplar publicado de Neves II(Idem, Ibidem, Fig. 9 nº1) é praticamente igual aoutros de Castro Marim, deixando antever uma re-lação próxima entre ambos os sítios, também evi-denciada pela ocorrência de cerâmica ática eânforas tipo Maña PascoalA.4. No Castro daAzou-gada (Antunes 2005), em El Castañuelo (Pérez Ma-cias 1991: 15) e em El Chaparral (Jiménez Ávila2005: 473, fig. 13, nº 2), reconheceram-se, igual-mente, recipientes da mesma morfologia e decora-dos com o mesmo tipo de aplicações plásticas.

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Fig. 9.– Cerâmica manual da fase V recolhida no compartimento 31.

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Aparentemente, esta “moda” tende a desaparecer apartir do séc. IV, sendo já vestigial em Capote (Ber-rocal-Rangel 1992: 338, nº405) e estando ausentesdos contextos do séc. III, em Castro Marim.

No que diz respeito às decorações, importa,desde logo, destacar a relativa sobriedade do con-junto, onde somente 4.5 % dos indivíduos se en-contram decorados, coincidindo, quaseexactamente, com o valor registado na fase ante-rior. Contudo, assiste-se a uma profunda alteraçãodas principais opções técnicas utilizadas bemcomo, dos motivos desenhados. Com efeito, aonível estilístico a amostra da fase V revela uma per-sonalidade muito própria, vincada, sobretudo, pelapreponderância de recipientes ornamentados comaplicações plásticas, particularmente cordões hori-zontais, que se documentam apenas neste momentode ocupação. Este elemento decorativo adorna,principalmente, recipientes da categoria Bacia/Al-guidares. Em casos excepcionais, o cordão encon-tra-se decorado com pequenos traços oblíquosincisos (Fig. 10, nº 7232), podendo também surgirem associação com as denominadas “asas cegas”(Fig. 9, nº 1712 e 2039; fig. 10, nº 9647). A deco-ração incisa está, igualmente, documentada mos-trando, no entanto, algumas peculiaridades, comopor exemplo sua aplicação sobre fundos (Fig. 9, nº3093 e 2026). A técnica impressa e o desenho deornatos brunidos encontram-se ausentes deste con-junto.

4. CONCLUSÕES

Pensamos ter ficado claramente demonstradoque durante os séculos VI e V a.n.e. pode apreciar-se uma notável perduração da olaria manual, emambiente doméstico e virada para o auto consumo,valorizada essencialmente enquanto objecto de uti-lidade quotidiana. A análise comparada entre osmateriais característicos do séc. VI e aqueles maiscomuns na segunda metade do séc. V, permite iden-tificar alguns elementos de continuidade, mas tam-bém anotar algumas situações de ruptura.Relativamente às formas identificadas é desde logoevidente, a presença de certos tipos básicos comunsa ambos os âmbitos cronológicos, devendo desta-car-se os potes/panelas de média e pequena dimen-são, assim como as taças. Com efeito, estas formasdocumentam-se ao longo de toda a ocupação sidé-rica do sítio, mostrando-se especialmente conser-vadoras, facto que deixa antever a sua utilidade emcontextos muito específicos, para os quais parecemestar particularmente bem adaptadas, concreta-

mente às actividades culinárias. Contudo, é tam-bém evidente que, durante a segunda metade doséc. V se assiste ao desaparecimento de algumasdas formas características do século anterior, no-meadamente os “vasos à chardon” e as sertãs, aopasso que outras novas são introduzidas (copos).Os recipientes de tendência esférica, apesar de con-figurarem uma morfologia conhecida desde os mo-mentos mais precoces de ocupação do sítio, surgemdurante o séc. V com particular incidência, encon-trando-se representados por exemplares de excep-cionais dimensões. Todavia, é ao nível das técnicasdecorativas que a diferença entre ambos os contex-tos cronológicos se acentuam, configurando umasituação ruptura, similar à reconhecida na olaria atorno (cf. com Arruda e Freitas neste mesmo vo-lume) De facto, as divergências são tão flagrantesque podem distinguir-se tipos exclusivos do séc. VI(impressões digitais e incisões sobre o bordo) deoutros introduzidos apenas da segunda metade damesma centúria (decoração plástica aplicada, naforma de cordões e “asas de ferradura”).

Todos os dados se conjugam no sentido estabe-lecer uma longevidade diferenciada das várias for-mas em função da natureza, dimensão e destinofinal dos recipientes. Neste sentido, deve dizer-seque a persistência da olaria manual, é particular-mente evidente nos recipientes de armazenagem econfecção de alimentos, ao passo que nos vasos deconsumo individual esta tecnologia tende a desa-parecer, sendo que em finais do séc. IV já não sedocumentam exemplares manufacturados. Este fe-nómeno explica a tendência verificada no decrés-cimo destas produções, que, no momento daintrodução da cerâmica a torno, é acentuado, sendodepois mais progressivo, reproduzindo quase ex-clusivamente potes/panelas. Com efeito, apesar daolaria a torno reproduzir formas muito similares, osrecipientes que foram utilizados como panelas, nãochegam a desaparecer do registo arqueológico si-dérico.

Vários autores têm sublinhado a necessidade decompreender padrões de comportamento de longaduração, que, observados à escala regional ampla,permitam avaliar o grau de autonomia de uma de-terminada cultura em relação à outra, o que, em úl-tima instância, possibilita pensar em implicaçõesde carácter sócio-político. A cerâmica manual as-sume especial relevância na contrastação das váriasáreas regionais do Sudoeste Peninsular, uma vezque se trata de objectos de uso corrente, parte inte-grante do quotidiano destas comunidades, respon-sáveis também pelo seu fabrico. As principaistendências aferidas ao longo da ocupação do sítio,

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Fig. 10 .– Cerâmica manual recolhida em vários níveis da fase V.

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corroborando muitas das observações genéricas quetêm vindo a ser feitas acerca da evolução da cerâ-mica manual nas mais diversas paragens. Em pri-meiro lugar, destaca-se o decréscimo contínuo dacerâmica manual ao longo da estratigrafia, que du-rante o Bronze Final representa 100% do conjunto(fase I - séc. IX/VIII), caindo para os 11% na der-radeira fase da Idade do Ferro (fase V – segundametade do séc. V-inícios do séc. III). A variaçãodeste índice tem sido, recorrentemente, entendidacomo indicador de transformação cultural e servidopara avançar cronologias, constituindo um dos pon-tos centrais na discussão e análise das sociedadessidéricas. No que ao Sudoeste peninsular diz res-peito, o fenómeno de perduração das cerâmicas ma-nuais manifesta-se de modo diferente quase de sítiopara sítio, tendo, no entanto, como denominadorcomum um decréscimo contínuo, pois, uma vez in-troduzida a olaria a torno esta desenvolve-se sem-pre em crescendo nas respectivas estratigrafias.

Como seria de esperar, nos sítios onde as in-fluências orientalizantes se fizeram sentir de modomais intensivo, a olaria manual é menos expressivacomparativamente com sítios do interior, onde estatécnica subsiste em quantidades apreciáveis, atéépoca avançada da Idade do Ferro. O povoado deMedellín constitui uma verdadeira excepção, de-monstrando, desde meados do séc. VI, um percursomuito semelhante ao verificado em Castro Marim,mesmo ao nível das principais formas representa-das. Com efeito, em ambos os povoados denota-seque o decréscimo das cerâmicas manuais se ficou adever, sobretudo, à quebra na produção de reci-pientes de formas abertas, associáveis ao consumoindividual de alimentos, cuja substituição foi pron-tamente efectuada por vasos fabricados a torno. Poroutro lado, verifica-se que a persistência da olariamanual é, particularmente, evidente nos recipien-tes do tipo pote/panela, não só em Castro Marim,mas também na grande maioria dos sítios com ocu-pação sidérica orientalizante, como tem sido fre-quentemente afirmado por diversos autores(Almagro-Gorbea e Martín Bravo 1994: 108; Fa-bião 1998: 27; Arruda 2002). Assim, parece lógicoconcluir que a manutenção das produções manu-facturadas neste tipo de recipientes, não deve estarrelacionada com quaisquer questões de índole cul-tural, mas antes com factores pragmáticos e fun-cionais, nomeadamente com as característicasintrínsecas da pasta cerâmica, cuja abundância dedesengordurantes lhe confere uma maior resistênciatérmica, tornando-as especialmente aptas paraaguentarem temperaturas elevadas. Uma outra ex-plicação para este fenómeno pode ser encontrada

em alguns estudos antropológicos e etnográficosque demonstram existência de uma certa resistênciaàs alterações que afectam directamente o âmbitodoméstico, em particular os padrões de alimenta-ção. Por outro lado, os aspectos relacionados coma vida pública mostram-se menos conservadores,uma vez que tendem a ser manipulados de formaconsciente, jogando um importante papel nas es-tratégias de mobilidade social (Delgado 2005:1255). Esta capacidade de manipulação conscienteconfere um carácter ambíguo à cultura materialquando, a partir desta, se tentam extrair identida-des étnicas.

Como tem sido referido por vários autores, acontinuidade da técnica manufacturada não se podeimputar unicamente à manutenção de um nível deprodução familiar, a par de outro estandardizado quefabricaria a cerâmica a torno (Gibson et al. 1998:203; Mataloto 2004: 78), embora esta pudesse ser,também, uma realidade (Fabião 1998: 65). Comefeito, os poucos dados que se podemmanejar nestesentido deixam antever um quadro mais complexo,abrindo portas para que possa pensar-se no comér-cio de cerâmica manual, ainda que este possa tersido fundamentalmente local. A este respeito sãoparticularmente interessantes as análises realizadassobre alguns recipientes de produção manual deAbul, que demonstraram uma produção situada adezenas de quilómetros do local (Schmitt 2000:279). Também em Castro Marim se identificou umgrupo de fabrico cujas características diferenciadas(presença de micas) sugerem, igualmente, uma pro-cedência exterior ao âmbito local do povoado. È in-teressante notar que os recipientes fabricados comeste tipo de pastas são sempre muito minoritários,só adquirindo uma importância maior a partir da se-gunda metade do séc. V a.n.e, quando surgem espe-cialmente em grandes contentores de tendênciaesférica, classificados como bacia/alguidar, que,como já se viu apresentam um ampla distribuição aolongo do curso do Guadiana. A análise efectuada àsamostras isoladas para cada uma das fases tratadas,revelou um conjunto de afinidades com diversasáreas geográficas que, a modo de conclusão, importasublinhar novamente. Todavia, não creio ser possí-vel estabelecer uma relação directa entre as seme-lhanças e dissemelhanças evidenciadas na culturamaterial de determinadas comunidades e a sua inte-gração numa mesma etnia, pelo menos partindo doestudo de um único item artefactual. Não obstante,se estas afinidades não devem ser sobrevalorizadas,por outro lado, também não podem ser esquecidas,sob pena de passarmos ao lado de uma questão cen-tral na análise do relacionamento inter-regional das

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sociedades que ocuparam o Sudoeste Peninsular emépoca proto-histórica.A ocupação de Castro Marimdurante o séc. VI vem na sequência directa das an-teriores, mantendo-se a mesma matriz oriental noespólio e na arquitectura. A cerâmica a torno de-nuncia a integração do sítio numa “koiné orientali-zante”, sendo incontornáveis as suas relações como “mundo fenício” da região Onubense e vale doGuadalquivir (cf. Arruda e Freitas, neste volume).Com efeito, cerâmica manual recolhida nos níveisda fase IV reproduz basicamente o mesmo tipo derecipientes já conhecidos em época anterior, aindaque estes surjam agora representados em proporçõesdiferentes, com clara vantagem para os potes/pane-las, ao invés do que sucedia no séc. VII, quando astaças e tigelas dominavam o conjunto. No entanto,denota-se a ausência de algumas formas que ante-riormente se encontravam representadas por exem-plares únicos (lucernas), assim como a introduçãode outras novas, também escassamente representa-das (sertã). As maiores diferenças são visíveis aonível das técnicas decorativas, salientando-se o de-saparecimento da decoração pintada e “beliscada”.Os vários paralelos arrolados para o conjunto da faseIV evidenciam a manutenção dos contactos com aárea Onubense e Baixo Guadalquivir.

Durante a fase V (primeira metade do séc. V -séc. III) assiste-se a uma assinalável continuidadeao nível das principais formas produzidas em cerâ-mica manual. Por outro lado, verifica-se uma pro-funda alteração nas técnicas decorativas, emergindocomo opção favorita a aplicação de elemento plás-ticos. A identificação de um conjunto tão expres-sivo de cerâmica manual em momento avançado daIdade do Ferro torna-se particularmente significa-tiva no quadro “histórico” da região onde se insereCastro Marim. Com efeito, o estudo de determina-dos tipos cerâmicos de grande circulação (cerâmicaÁtica ou cerâmica tipo Kuass) sugere que a partirdo séc. V as relações entre oAlgarve litoral e aAn-daluzia ocidental permitem antever um único es-quema cultural e social em ambas regiões, sendopossível constatar a extensão da entidade politica eeconómica dita Turdetana até aoAlgarve Ocidental(Arruda 2005: 105). Todavia, nas publicações dasvárias intervenções arqueológicas levadas a efeitona cidade de Huelva, denota-se que, a partir demeados do primeiro milénio a.n.e a cerâmica ma-nual quase que desaparece do registo arqueográfico(Rufete Tomico 2002). O fenómeno de perduraçãoem Castro Marim poderá ser explicado pelo intensocontacto mantido com as populações do interior,entre as quais a técnica manual subsiste até épocaavançadas, chegando a coincidir com o advento da

romanidade (veja-se por exemplo o caso de Mesasdo Castelinho, Fabião 1998: 65). Este facto, pareceevidenciar uma clara vocação comercial do sítioque, conforme tem sido defendido desde as pri-meiras intervenções, poderia actuar como centro re-distribuidor, mantendo, assim, um contactoprivilegiado com as comunidades interiores.

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