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1 PROPOSTA CURRICULAR EDUCAÇÃO INFANTIL I 2016

PROPOSTA CURRICULAR EDUCAÇÃO INFANTIL I 2016

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PROPOSTA CURRICULAR

EDUCAÇÃO INFANTIL I

2016

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1. Concepção de educação da SME

Em 2013, a Secretaria Municipal de Educação de Jundiaí convidou seus

profissionais a fazerem uma reflexão sobre sua concepção de escola e de Educação, a partir de

estudos de documentos e discussões coletivas. Foram muitos encontros, reunindo gestores e

professores da rede, e, no ambiente escolar, educadoras e educadores, para definir qual a

concepção de escola e de Educação era consensual entre eles. Após estudos e reflexões e à

luz da legislação vigente sobre as várias correntes do pensamento pedagógico contemporâneo,

identificou-se na Pedagogia Crítica, inspirada no pensamento de Paulo Freire, a concepção que

atendia os anseios das educadoras e educadores. Desse estudo, surgiu o documento

“Diretrizes Pedagógicas Fundamentais Iniciais da Secretaria Municipal de Educação de Jundiaí:

Educação como ação política transformadora”, norteador das discussões para elaboração de

uma nova proposta curricular.

A pedagogia crítica pressupõe transformações nas relações entre o ensinar e o

aprender, num processo contínuo de aprender, desaprender, reaprender, refletir, avaliar e

reavaliar. Considerando a criança tanto como sujeito de suas ações, capaz de analisar sua

realidade social, cultural e histórica, com autonomia também para transformá-la, quanto como

indivíduo que compreende o mundo em sua integralidade, sem compartimentar os

conhecimentos. Portanto, na construção do currículo, devemos considerar a criança como

sujeito de direitos, vivendo um momento específico do seu desenvolvimento e conhecimento.

No documento Diretrizes Pedagógicas Fundamentais Iniciais da SME, a afirmação de

que a Educação deve ser entendida como prática da liberdade estabelece novas relações entre

educadora ou educador e educando, este considerado o centro do planejamento escolar,

sujeito de direitos, que traz consigo a marca de sua cultura e de seus valores. As propostas

pedagógicas devem, portanto, considerar esse saber como ponto de partida para a organização

curricular, agregando os saberes das crianças aos saberes historicamente construídos, sejam

eles populares ou eruditos. Dessa perspectiva o conceito de avaliação, ao superar aspectos

quantitativos e comparativos entre as crianças, coloca-se a serviço desses objetivos.

Os sujeitos não se educam sozinhos e toda relação pedagógica deve ser dialógica,

entendida a dialogicidade como escuta atenta que objetiva a compreensão do ponto de vista do

outro para fazer desse lugar o ponto de partida para novos saberes. Nesse processo, o

educando faz-se educador e os papéis se complementam.

Visando a construção do bem comum, onde se priorize o respeito à dignidade dos

seres humanos em sua diversidade, respeito a toda forma de vida, ao meio ambiente, uma das

principais finalidades dessa pedagogia é humanizar as relações entre os sujeitos. Fomenta-se,

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assim, a construção dos ideais da paz, liberdade e justiça social com compromissos éticos que

valorizem os conhecimentos já construídos, através de situações que estimulem a autoestima

da criança e suas relações interpessoais.

A ética deve nortear as relações entre os atores da escola, adultos e crianças, sendo

aqui interpretada na atitude de amorosidade que se manifesta no respeito a si mesmo, ao outro

e ao ambiente em que se vive.

Outros aspectos a serem observados no processo de humanização das relações são

a valorização dos diferentes pontos de vista, o reconhecimento e respeito às diversidades e,

também, a garantia à igualdade de direitos a todos.

A pedagogia crítica adota o conceito de qualidade social na Educação. Segundo

essa perspectiva, salienta-se a relevância da educação escolar no processo de reconstrução da

sociedade brasileira. A qualidade social se desenvolve e se efetiva quando algumas condições

estão sendo previstas nos encaminhamentos políticos do setor educacional. Consensualmente,

podem ser apontados alguns eixos indicadores de qualidade social: a educação como direito de

cidadania, que supõe a inclusão social e participação popular na gestão escolar; a valorização

das educadoras e educadores e os recursos adequados. Os recursos destinados à Educação

precisam ser aplicados como o que prevê a legislação vigente e, quando esses recursos não

forem suficientes, deve-se buscar outras fontes de recursos. A educação infantil, por exemplo,

apresenta mais custos que os demais níveis da educação básica, dado a sua especificidade de

atendimento (INEP 2004). Para que tal processo se efetive, é fundamental a determinação das

escolas na ampliação dos mecanismos de gestão democrática, com progressivos graus de

autonomia nas discussões e decisões financeiras, pedagógicas e administrativas, na

transparência das ações, na prestação de contas, na efetiva atuação dos Conselhos Escolares,

na garantia da palavra e na participação das famílias e das crianças.

A sustentação da gestão democrática requer uma estrutura alicerçada na autonomia

e participação num clima organizacional pautado na descentralização da gestão com a proposta

de construção de uma escola nova que leve à educação para a cidadania, construindo

paralelamente relações sociais democráticas e igualitárias. A participação popular na gestão

deve superar os limites de uma metodologia participativa, na qual a população é levada a

contribuir na tomada de decisões preestabelecidas, e legitimar-se efetivamente.

A construção da gestão democrática alicerça-se na autonomia das unidades

escolares, o que requer investimento na formação. A valorização das educadoras e

educadores, para além das questões de remuneração e de carreira, se dá também através da

garantia de condições dignas de trabalho, de formação inicial prevista em lei e de formação

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permanente. Os saberes das educadoras e educadores da infância e a interpretação das

linguagens das crianças não se dão apenas pela escuta atenta ou de forma intuitiva, embora

estes componentes sejam primordiais. A compreensão da cultura da infância exige do adulto:

preparo, estudo e reflexão sobre a prática. Dessa forma, essa concepção de educação

considera primordial o investimento na formação permanente de suas educadoras e

educadores. A partir de uma prática reflexiva (ação-reflexão-ação), as educadoras e

educadores da infância constituem-se como protagonistas de seu saber, dialogando com os

teóricos de forma singular.

A construção das relações democráticas supõe o estabelecimento de parcerias com

as famílias, as quais são convidadas a participar intensamente das ações dentro das

instituições escolares. Essa participação da comunidade deve observar-se tanto nas discussões

e reflexões quanto na execução de ações referentes às instituições escolares. Trata-se de uma

participação presente em todas as situações na escola, por meio do Conselho de Escola, APM,

Reuniões de Pais e Mestres, em propostas planejadas e definidas no Projeto Político

Pedagógico tais como eventos, palestras informativas, murais, reuniões, aprovação do

calendário escolar, projetos, entre outras.

Através da realização de um trabalho participativo, autônomo e democrático,

envolvendo todos os segmentos que compõem a escola, podemos contribuir para o rompimento

do autoritarismo, proporcionando uma reflexão coletiva sobre os problemas e a busca de

soluções. Pensar o trabalho coletivo significa construir mediações capazes de garantir que os

obstáculos não se constituam em imobilismo, que as diferenças não sejam impeditivas da ação

educativa coerente, responsável e transformadora.

O Projeto Político Pedagógico é, simultaneamente, um processo e um produto, que

tem como meta nortear a organização e o funcionamento da escola. Como processo, é

dinâmico e passível de mudanças com o objetivo de observar, refletir e replanejar ações que

favoreçam uma educação de qualidade. Como produto, reflete o trabalho coletivo de diferentes

atores – escola e comunidade. Por fim, mas não menos importante, está o clima organizacional,

ou seja, o ambiente de comprometimento e organização criado pelo coletivo, que favorece a

participação responsável dos envolvidos e consolida o Projeto Político Pedagógico.

A participação das crianças é indispensável no cenário da gestão democrática. Nas

instituições de Educação Infantil, as famílias assumem papel importante na interlocução com as

educadoras e os educadores. Constituindo-se muitas vezes na primeira experiência das

crianças fora do ambiente familiar, é a partir do dialogo com pais e outros responsáveis que

passamos a apreender o universo da criança que se insere no contexto escolar. O saber e o

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fazer das famílias devem ser considerados, desde o momento da matrícula das crianças na

escola.

Não podemos esquecer, sobretudo, que as crianças pequenas expressam seus

gostos, desgostos, desejos, interesses e afetos o tempo todo, por meio da linguagem corporal,

de seus desenhos, da arte, de suas brincadeiras e de todas as suas formas peculiares de

expressão. Para que a cultura da infância seja plenamente incorporada ao interior das

instituições de educação infantil, faz-se necessário que o adulto considere a criança potente,

autônoma e sujeito de direitos. Através da observação reflexiva das ações das crianças, de

suas falas, de suas demonstrações de bem estar, prazer e incômodos, faz-se necessário que

os adultos planejem ações na escola que reconheçam estes interesses e que sejam capazes de

interpretar suas linguagens, considerando suas singularidades, criando situações onde a

criança possa ser livre para se expressar, para compreender o mundo e a si mesma, para se

relacionar com o outro e desenvolver sua afetividade, para lidar com suas emoções, em

ambientes lúdicos, cuidadosamente planejados, onde os desafios, as interações, brincadeiras e

a livre expressão da corporeidade possam acontecer de forma rica e segura. Ambientes

planejados, acolhedores, humanizadores e integrados às necessidades coletivas são

importantes para a educação de qualidade social.

A concepção de escola e de educação adotada pela Secretaria de Educação de

Jundiaí tem, assim, o objetivo de contribuir favoravelmente para a emancipação humana e

construção da cultura de paz, de liberdade e de relações éticas e solidárias entre as pessoas,

na perspectiva de seres integrados à natureza e ao meio ambiente.

Referências Bibliográficas:

ALVES, Rubens. A escola dos meus sonhos. Revista Educação. Set. 2011. Disponível em:

www.revistaeducacao.uol.com.br/textos/76/artigo232754-1.asp

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www.portalanpedsul.com.br/.../2012/.../05_28_21_1645-6457-1-PB.pdf

BETTO, Frei. A escola dos meus sonhos. O Estado de São Paulo. 14. mai. 1997. Disponível

em: http://www.emdialogo.uff.br/.../escola-dos-meus-sonhos-artigo-de frei-betto

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Encontro Anual da ANDHEP/IV Seminário Internacional de Direitos Humanos da UFPB, João

Pessoa, PB, 2007

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2. Legislação e Documentos Oficiais de Referência

Os estudos de legislação que embasaram a Proposta Curricular do Município de

Jundiaí para o segmento de zero a três anos foram orientados pelos seguintes documentos:

Constituição da República Federativa do Brasil, de 05/10/1988 (Constituição

Federal / 88);

Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei n.º 8.069 de 13/07/1990 (ECA);

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, n.º 9394 de 20/12/1996

(LDBEN 9394 /96);

Parecer do Conselho Nacional de Educação/Câmara de Educação Básica n.º 20

de 11/11/2009 (Parecer CEN/CEB 20/2009);

Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, Ministério da

Educação, Conselho Nacional de Educação, Câmara da Educação Básica, de

17/12/2009 (Resolução 5/ 2009);

Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil Volumes 1 e 2,

Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2006;

Parâmetros Básicos de Infra Estrutura para as Instituições de Educação Infantil,

Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2006;

Critérios para um Atendimento em Creches que Respeite os Direitos

Fundamentais das Crianças, Ministério da Educação, Secretaria de Educação

Básica, 2.ª Edição, 2009 ;

Indicadores da Qualidade na Educação Infantil, Ministério da Educação,

Secretaria da Educação Básica, 2009;

Plano Municipal de Educação de Jundiaí, Lei n.º 8.446 de 24/06/2015 (PME);

Plano Nacional pela Primeira Infância, Rede Nacional Primeira Infância,

dezembro de 2010;

Anais Do I Seminário Nacional: Currículo Em Movimento – Perspectivas Atuais,

Belo Horizonte, Novembro de 2010;

Processo de Gestão da Alimentação Escolar para Unidades Escolares de 0 a 3

anos, Prefeitura de Jundiaí, Secretaria Municipal de Educação, 2015;

Manual de Boas Práticas para Atendimento na Educação Infantil Prefeitura de

Jundiaí, Secretaria Municipal de Educação, 2015;

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Decreto nº 23.548/2011 - Regulamento de Atendimento de Crianças de 4

(quatro) meses a 5 (cinco) anos nas Escolas Municipais de Educação Básica de

Jundiaí, Prefeitura de Jundiaí, Secretaria Municipal de Educação, de 05/12/2011;

A leitura levou em consideração os seguintes temas: Concepção de Educação, Escola,

Infância e de Educadores da Infância; Gestão Democrática; Adaptação e Acolhimento;

Princípios e Dimensões; Organização de Tempos e Ambientes; Saberes Essenciais e

Avaliação.

De acordo com a Constituição Federal, artigo 205:

A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será

promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao

pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da

cidadania e sua qualificação para o trabalho.

Considerando o que traz a LDBEN 9394/96, em seu artigo 1.º :

A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida

familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e

pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas

manifestações culturais.

Com a finalidade de atender ao texto das Diretrizes Curriculares Nacionais da

Educação Infantil, Resolução 05/2009, art. 3º:

O currículo da Educação Infantil é concebido como um conjunto de práticas

que buscam articular as experiências e os saberes das crianças com os

conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural, artístico, ambiental,

científico e tecnológico, de modo a promover o desenvolvimento integral de

crianças de 0 a 5 anos de idade.

A presente Proposta validou essas prerrogativas, com a visibilidade no desenvolvimento

integral da criança, tendo ainda como base o que legislam as Diretrizes Curriculares Nacionais

para a Educação Infantil e os Indicadores da Qualidade na Educação Infantil, quanto à

qualidade da educação oferecida e ao processo da construção de conhecimentos:

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Art. 8º A proposta pedagógica das instituições de Educação Infantil deve

ter como objetivo garantir à criança acesso a processos de apropriação,

renovação e articulação de conhecimentos e aprendizagens de diferentes

linguagens, assim como o direito à proteção, à saúde, à liberdade, à

confiança, ao respeito, à dignidade, à brincadeira, à convivência e à

interação com outras crianças.

§ 1º Na efetivação desse objetivo, as propostas pedagógicas das

instituições de Educação Infantil deverão prever condições para o trabalho

coletivo e para a organização de materiais, espaços e tempos que

assegurem:

I - a educação em sua integralidade, entendendo o cuidado como algo

indissociável ao processo educativo;

II - a indivisibilidade das dimensões expressivo-motora, afetiva, cognitiva,

linguística, ética, estética e sociocultural da criança;

III - a participação, o diálogo e a escuta cotidiana das famílias, o respeito e

a valorização de suas formas de organização;

IV - o estabelecimento de uma relação efetiva com a comunidade local e

de mecanismos que garantam a gestão democrática e a consideração dos

saberes da comunidade;

V - o reconhecimento das especificidades etárias, das singularidades

individuais e coletivas das crianças, promovendo interações entre crianças

de mesma idade e crianças de diferentes idades;

VI - os deslocamentos e os movimentos amplos das crianças nos espaços

internos e externos às salas de referência das turmas e à instituição;

VII - a acessibilidade de espaços, materiais, objetos, brinquedos e

instruções para as crianças com deficiência, transtornos globais de

desenvolvimento e altas habilidades/superdotação;

VIII - a apropriação pelas crianças das contribuições histórico-culturais dos

povos indígenas, afrodescendentes, asiáticos, europeus e de outros

países da América;

IX - o reconhecimento, a valorização, o respeito e a interação das

crianças com as histórias e as culturas africanas, afro-brasileiras, bem

como o combate ao racismo e à discriminação;

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X - a dignidade da criança como pessoa humana e a proteção contra

qualquer forma de violência – física ou simbólica – e negligência no interior

da instituição ou praticadas pela família, prevendo os encaminhamentos

de violações para instâncias competentes (Resolução 5/2009).

A instituição de Educação Infantil é um espaço de convivências,

experiências e aprendizagens. Nelas as crianças socializam, brincam e

convivem com a diversidade humana. (Indicadores da Qualidade na

Educação Infantil, página 57).

As escolas de Educação Infantil têm como objeto as relações educativas num espaço

de convívio coletivo, cujo sujeito prioritário é a criança. Destaca-se assim que essas relações

são perpassadas pela função indissociável do cuidar/educar, tendo em vista os direitos e as

necessidades próprias das crianças, no que se refere à alimentação, saúde, higiene, proteção e

ao acesso ao conhecimento sistematizado (Parâmetros Nacionais de Qualidade para a

Educação Infantil, volume I).

Dessa forma, a Proposta Curricular deve oportunizar a valorização do lúdico e as

culturas infantis, para garantir que as crianças tenham experiências variadas com as diversas

linguagens, reconhecendo que o mundo no qual estão inseridas, por força da própria cultura, é

amplamente marcado por imagens, sons, falas e escritas. Deve também contemplar o brincar

em diferentes espaços (pátios, quintais, praças, bosques, jardins, praias), permitindo a

construção de uma relação de identidade, reverência e respeito com a natureza.

O acesso a espaços culturais diversificados, como a inserção em práticas culturais da

comunidade, participação em apresentações musicais, teatrais, fotográficas e plásticas, visitas

a bibliotecas, brinquedotecas, museus, monumentos, equipamentos públicos, parques, jardins,

também devem ser considerados na Proposta Curricular (Parecer CNE/CEB 20/2009 e Critérios

de Atendimento em Creches).

Este trabalho, portanto, busca ampliar os diferentes olhares sobre o es-

paço, visando construir o ambiente físico destinado à Educação Infantil,

promotor de aventuras, descobertas, criatividade, desafios, aprendizagem

e que facilite a interação criança–criança, criança –adulto e deles com o

meio ambiente. O espaço lúdico infantil deve ser dinâmico, vivo,

“brincável”, explorável, transformável e acessível para todos. (Parâmetros

de Infra Estrutura, página 08)

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Destarte, a Proposta Curricular assume a responsabilidade de tornar creches em

espaços privilegiados de convivência, de construção de identidades coletivas e de ampliação de

saberes de diferentes naturezas, por meio de práticas que atuam como recursos de promoção

da equidade de oportunidades educacionais entre as crianças de diferentes classes sociais, no

que se refere ao acesso a bens culturais e às possibilidades de vivência da infância. Nessa

perspectiva, orienta-se pelos princípios previstos nas DCNEI :

Art. 6.º: As propostas pedagógicas de Educação Infantil devem respeitar

os seguintes princípios: I – Éticos: da autonomia, da responsabilidade, da

solidariedade e do respeito ao bem comum, ao meio ambiente e às

diferentes culturas, identidades e singularidades. II – Políticos: dos direitos

de cidadania, do exercício da criticidade e do respeito à ordem

democrática. III – Estéticos: da sensibilidade, da criatividade, da ludicidade

e da liberdade de expressão nas diferentes manifestações artísticas e

culturais.

A Proposta Curricular também evidencia o atendimento à educação especial, conforme

os artigos da LDBEN 9394/96:

Art. 58: Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a

modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede

regular de ensino, para educandos com deficiência, transtornos globais do

desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação. (Redação dada

pela Lei nº 12.796, de 2013)

§ 1º: Haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na

escola regular, para atender às peculiaridades da clientela de educação

especial. (...)

§ 3º: A oferta de educação especial, dever constitucional do Estado, tem

início na faixa etária de zero a seis anos, durante a educação infantil.

(...)

Art. 60, Parágrafo único: O poder público adotará, como alternativa

preferencial, a ampliação do atendimento aos educandos com deficiência,

transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou

superdotação na própria rede pública regular de ensino,

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independentemente do apoio às instituições previstas neste artigo

(Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013).

No entanto, a qualidade desse atendimento somente será possível mediante uma

gestão democrática efetiva, conforme os artigos 3.º da LDBEN e 206 da Constituição Federal. A

gestão será garantida pela participação da comunidade escolar1 na elaboração,

acompanhamento e avaliação da Proposta Pedagógica e em colaboração com as diversas

representações, como Associação de Pais e Mestres e Conselho de Escola (LDBEN 9394/96

artigos13 e 14, Parecer 20/2009).

Quanto mais pessoas dos diversos segmentos da comunidade se

envolverem em ações para melhoria da qualidade da instituição da

educação infantil, maiores serão os ganhos para as crianças, a sociedade

e para a educação brasileira (Indicadores da Qualidade na Educação

Infantil).

Nessa perspectiva, a instituição de Educação Infantil deve, constantemente, avaliar

suas ações e percursos, de acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais de Educação

Infantil, Resolução 05/2009, em seu Artigo 10.º:

As instituições de Educação Infantil devem criar procedimentos para

acompanhamento do trabalho pedagógico e para avaliação do

desenvolvimento das crianças, sem objetivo de seleção, promoção ou

classificação, garantindo:

I - a observação crítica e criativa das atividades, das brincadeiras e

interações das crianças no cotidiano;

II - utilização de múltiplos registros realizados por adultos e crianças

(relatórios, fotografias, desenhos, álbuns etc.);

III - a continuidade dos processos de aprendizagens por meio da criação

de estratégias adequadas aos diferentes momentos de transição vividos

pela criança (transição casa/instituição de Educação Infantil, transições no

1 Comunidade escolar refere-se ao todos os sujeitos: família, funcionários, professores, alunos e outras instituições de apoio a escola.

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interior da instituição, transição creche/pré-escola e transição pré-

escola/Ensino Fundamental);

IV - documentação específica que permita às famílias conhecer o trabalho

da instituição junto às crianças e os processos de desenvolvimento e

aprendizagem da criança na Educação Infantil;

V - a não retenção das crianças na Educação Infantil.

A avaliação de uma instituição de educação infantil, neste ínterim, deve ter o intuito de

desenvolver e ampliar as diversas formas das crianças conhecerem o mundo e se

expressarem, garantindo seu pleno desenvolvimento e respeitando suas capacidades

(Indicadores da Qualidade na Educação Infantil e LDBEN 9394/96).

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14

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Atendimento de Crianças de 4 (quatro) meses a 5 (cinco) anos nas Escolas Municipais

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3. Concepção de Infância

As escolas de educação infantil devem cumprir sua função sociopolítica e

pedagógica, conforme determinam as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil

(Resolução n. 5, de 17 de dezembro de 2009), pois estamos diante de uma concepção de

criança como sujeito histórico, potente e de direitos.

Neste sentido, cada criança possui personalidade, interesses e gostos particulares que

lhe conferem a individualidade, transformando-a em um “ser” único entre seus pares, buscando

compreender a si mesma e o mundo, sentindo-o e pensando-o de um jeito próprio.

A criança interage desde cedo com as pessoas e com o meio em que vive, revelando

esforço para compreender o mundo e as relações contraditórias que presencia, apropriando-se

da cultura não como mera expectadora, mas (re) construindo-a por sua vez.

A criança necessita ser protegida, respeitada em seus interesses, potencialidades e

necessidades, segundo seu próprio tempo e ritmo. Deve ser atendida com prioridade, tornando-

se o centro de todo o planejamento pedagógico.

Segundo Vygotsky, o brincar na educação infantil tem sua origem naquilo que a criança

vive no seu dia a dia, nas interações com seus pares, com os adultos e com o meio.

O brincar possibilita o processo de aquisição e ampliação de conhecimento, de

comunicação, do repertorio de atuação, num mundo de fantasia e imaginação, produzindo e

reproduzindo “culturas” próprias da infância. Facilita a construção da reflexão, da autonomia e

da criatividade, estabelecendo desta forma, uma relação estreita entre a brincadeira e a

aprendizagem.

Entendemos que ao brincar a criança tem o direito de tomar decisões, expressar

sentimentos, individualidade, identidade, valores, conhecer a si e aos outros, usar o corpo, os

sentidos, os movimentos, a solucionar e criar problemas, bem como desenvolver várias

linguagens. A criança usa a brincadeira para se expressar, aprender e se desenvolver. Enfim,

brincar é o ato que lhe dá oportunidade de atribuir significados, principalmente por meio do

corpo em movimento e do jogo simbólico.

3.1 Educadora e educador da Infância

“Passo então a dedicar-me a ele; disponho-me a participar de seu destino,

de suas buscas, de seus sofrimentos e de suas conquistas, enfim, de sua

vida.” (Boff, 2005)

16

É primordial que a educadora e o educador da Infância tenha uma base sólida de

formação e conhecimento sobre o desenvolvimento infantil e da natureza humana - como a

criança de 0 a 3 anos aprende e se desenvolve, suas necessidades de vínculo, ritmo,

acolhimento e cuidados essenciais, reconhecendo a plenitude e a intensidade do ato de cuidar

e educar para a complexidade e diversidade.

Dentre suas prioridades, a educadora e o educador da infância precisam levar em

consideração a proteção e o respeito à criança e à sua infância, sendo contrário ao

autoritarismo, distanciamento, desafeto, senso comum e negligência no planejamento e

realização de seu trabalho cotidiano.

É necessário que a educadora e o educador da infância reconheçam a importância de

possibilitar às crianças oportunidades diversas de brincar espontaneamente, tornando-se

referência a elas durante as brincadeiras, possibilitando o desenvolvimento corpóreo, cognitivo,

emocional e autônomo.

Para que isso aconteça, a educadora e o educador da infância precisam adquirir uma

postura de adulto brincante (Brasil 2012), ampliando seu olhar, levando o brincar desenvolvido

por essas crianças a sério, lembrando-se que a criança também é produtora de cultura.

Além disso, a educadora e o educador da infância precisam ser sensíveis em relação à

diversidade cultural que poderá encontrar entre crianças e suas famílias, visto que sua atuação

não é neutra e produz efeitos sobre a formação da criança. Através dessa atuação a educadora

e o educador buscam articular as experiências e os saberes das crianças com os

conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural, artístico, ambiental e outros a fim de

promover o desenvolvimento integral das mesmas.

Segundo Saviani (2013), deve-se dar condições para que a criança se desenvolva,

respeitando sua individualidade e considerando suas dimensões biológica, subjetiva, física e

psicológica.

Para que essa ação educativa cumpra seu objetivo, é essencial que a educadora e o

educador da infância sejam observadores e pesquisadores, atuando como mediadores e

articuladores que promovam para a criança a reflexão, buscando provocar mudanças nela

dando condições para seu desenvolvimento. Neste contexto, há necessidade de estarem

atentos à complexidade própria da criança em seu processo de desenvolvimento, utilizando-se

de diversas formas de registros, consolidando sua práxis.

A educadora e o educador da infância precisam ter consciência do seu papel e

responsabilidade num processo contínuo de autoeducação, valorizando em sua prática

momentos de troca de conhecimentos com seus pares.

17

A educadora e o educador da infância são leitores de símbolos e significados infantis que

constantemente buscam posturas que favoreçam as relações dialógicas e de construções de

saberes. Neste sentido, veem a criança como um ser único, singular, um indivíduo capaz de

relacionar-se com pessoas, objetos e ambientes, o que por sua vez, contribui para o seu

desenvolvimento integral.

Partindo de uma relação mais humanizada, estabelecem com a criança uma relação de

afeto, onde, por meio do olhar, da fala, do toque e consequentemente da confiança, o vínculo

se consolida.

Para que esse vínculo possa ser estabelecido é necessário que também desempenhem

junto às crianças o cuidado. O ato de cuidar, não sendo uma ação de menor importância,

precisa ser reconstruído e entendido na origem e no real significado do termo, uma vez que,

essa atitude se dá quando a pessoa de quem se cuida, tem importância para quem cuida.

Segundo Boff (2005), cuidado significa “Cura”, em latim coera, e era utilizada num “contexto de

relações humanas de amor e amizade”.

Buscando atuar em seu trabalho de cuidar de forma mais humanizada, tendo uma nova

visão sobre o profundo significado desta ação, a educadora e o educador da infância poderão

atingir a essência humana, de sensibilidade e solidariedade, em si e no outro. O momento do

banho, da troca, da alimentação, ou seja, quando atende às necessidades mais básicas do

corpo da criança, são grandes oportunidades para estabelecer este vínculo.

A relação que se estabelece nestes momentos pode ser de grande prazer para os

envolvidos, quem cuida e quem recebe o cuidado, mas para isso é necessário que a educadora

e o educador da infância possam interagir com a criança por inteiro, entendendo o grande valor

deste momento.

Além disso, possuem a responsabilidade de proporcionar um ambiente que atenda as

necessidades, os desejos, as brincadeiras, o movimento, a exploração e a interação com o

espaço, com os objetos e com o outro, de forma mais independente, respeitando o tempo e a

maneira de pensar da criança, e não do adulto.

É necessário que criem situações de interações cotidianas a fim de provocar nas

crianças a necessidade e a vontade de vivenciar situações de aprendizagem no coletivo e

individualmente.

Por fim, a educadora e o educador participativos, atuantes, brincantes, atentos e

sensíveis, que observam e interagem com as individualidades e especificidades da criança,

trazem, após a reflexão, novas ações para sua prática. Essa atitude de constância e equilíbrio

irá desenvolver o sentimento de confiança em relação ao outro garantindo a qualidade do

18

vínculo que estabelecem com a criança, promovendo o respeito, a observação, a escuta atenta

e a segurança afetiva.

Referencias Bibliograficas:

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Petrópolis, 1995

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SAVIANI, Demerval. Infância e Pedagogia Histórico Crítica. In: MARSIGLIA, Ana Carolina

Galvão (org.) Infância e Pedagogia Histórico-crítica. Campinas, SP. Autores Associados, 2013

19

4. Concepção de Escola de Educação Infantil

4.1 Percurso Histórico

A Educação pública municipal, de zero a três anos, na cidade de Jundiaí desde muito

cedo esteve ligada a Secretaria Municipal de Educação. Mesmo estando histórica e

culturalmente atrelada ao assistencialismo, com a publicação da Constituição de 1988 e a

aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente, no ano de 1990, as creches do Município

passaram a fazer parte da Secretaria da Educação, sendo conhecidas na época como UMEI

(Unidade Municipal de Educação Infantil). No ano de 1998, com o Regimento Comum das

Escola Municipais de Educação Básica de Jundiaí (decreto Municipal 16664 de 28/01/1998), as

Unidades Escolares passaram para EMEB (Escola Municipal de Educação Básica), em

cumprimento a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (nº 9394/96), no ano de

1996.

A princípio, entendia-se cuidar e educar separados, onde as auxiliares de serviços

operacionais (pajens) cuidavam das crianças e as professoras educavam. A lei nº 3.067/87 que

criou o cargo de auxiliar de serviços operacionais, atribuía a estes profissionais: além de cuidar

da higiene de crianças; colaborar nas atividades recreativas, vigiar e orientar as crianças nas

creches municipais; auxiliar as crianças das creches, ministrando refeições e medicamentos;

atribuía também, outros serviços públicos não ligadas a educação. Estes servidores poderiam

ser alocados em diversas secretarias. A escolaridade exigida para o cargo de auxiliar de

serviços operacionais (pajens) era a quarta série do ensino fundamental. Desta forma, o cargo

não estava exclusivamente voltado para o desenvolvimento cognitivo e afetivo das crianças. O

entendimento do educar se resumia ao tempo que a criança passava com o professor

(recreacionista) na sala, conhecida como “sala de recreação”. Não havia hora de estudos

direcionada a este profissional, apenas um momento semanal, onde todos os funcionários da

creche se reuniam com a diretora, aproximadamente por sessenta minutos, para algumas

orientações e recados administrativos, mas não regulamentada em lei.

Pelas pesquisas, percebe-se que o professor sempre esteve presente no trabalho com

esta faixa etária havendo, inicialmente, um professor por turno, o qual desenvolvia as atividades

educativas em todos os grupos da creche por volta de trinta a sessenta minutos por dia. O

diretor de escola orientava o trabalho com as crianças e as rotinas/planos de trabalho.

Depois se organizou estas escolas com um professor para atender a cada dois grupos,

no período da manhã. Em 2013 cada turma passou a ter um professor.

20

No ano de 2007 o Plano de Cargos, Empregos, Carreiras e Remuneração (lei 6.897/07)

foi revisado e o cargo de agente de serviços operacionais (pajem) foi trocado de nomenclatura

passando a se chamar “monitor de creche”. As atribuições também foram revisadas indicando

uma postura mais educacional e menos operacional ao cargo. Todas as atribuições

convergiram para o trabalho especifico na creche, ressalvando o atendimento a idoso que

permanecia atrelado a este cargo.

Com a Lei nº 7827 de 29 de março de 2012, houve outra reformulação do plano de

cargos da administração direta da Prefeitura de Jundiaí e o cargo de monitor de creche foi

renomeado para Agente de Desenvolvimento Infantil (ADI). Desta vez, todas as ações ficaram

voltadas para o trabalho com as crianças da creche. O sistema educacional direcionou o cargo

às funções pedagógicas/educacionais e formações especificas da área de atuação. Neste

mesmo ano, nesta mesma lei, houve redução da jornada de trabalho de 40 horas para 33 horas

semanais, sendo regulamentada pelo decreto 24965 de 23/04/2014 com 3 horas reservadas

para a formação permanente.

Até o momento, a administração direta não exige formação inicial em Pedagogia como

requisito de ingresso e permanência para as ADI. Como alternativa de cumprimento à exigência

federal, o município, desde 2013, oferta bolsa de estudo em Pedagogia para aqueles que

tiverem interesse.

Outra situação importante a ser observada na mudança da concepção da Creche é que

a função de Coordenador Pedagógico foi incluída neste segmento. Com a presença do

Coordenador Pedagógico, a atenção e qualidade do acompanhamento do trabalho educacional

ficaram valorizadas, pois esta função tem sua atividade voltada exclusivamente à ação

pedagógica escolar.

Em 1999, três Coordenadoras Pedagógicas atuavam nas quinze creches, sendo que

cada unidade era atendida somente um dia por semana. Em 2006 a coordenadora passou a

atender duas escolas e, a partir de maio de 2009 algumas creches passaram a ter sua própria

coordenadora, enquanto outras coordenadoras atendiam duas creches. Esse processo foi

concluído em 2010 quando cada creche teve sua própria coordenadora pedagógica, função em

carácter de confiança, regulamentada pelo DECRETO Nº 23.318, DE 24 DE AGOSTO DE

2011.

Em 1994, junto ao lançamento do Plano Decenal, foi lançado pela Secretaria Municipal

de Educação o texto norteador do trabalho de capacitação dos professores da rede municipal

de Jundiaí. Nesta publicação a SME informa o percurso da reorganização da rede municipal de

21

ensino, como revisão curricular, referencial teórico (construtivismo) e reflexões e formas da

capacitação dos professores.

Entre 1995/1997 foi lançado a versão preliminar do currículo de educação infantil de

Jundiaí. Nota-se mudanças nas formas de pensar a avaliação e a ação docente no processo

ensino-aprendizagem.

Essa versão preliminar teve influencia na elaboração do RCNEI (Referencial Curricular

Nacional para Educação Infantil), que foi instituído em 1998, onde coloca-se a creche como

visão educativa, fundamentando as concepções de criança, de escola e de profissional além de

definir os objetivos gerais da educação infantil.

Em 2003, foi lançado o documento “Metas de aprendizagem de Educação Básica”, com

expectativas de aprendizagens de 0 a 3 anos. Em 2004, com base neste documento, foram

elaboradas as expectativas de aprendizagens para todos os grupos, a partir do Berçário, onde a

concepção do cuidar e educar eram vistos como indissociáveis.

Em agosto de 2011 foi lançado o documento “Proposta Curricular Jundiaí- Educação

Infantil de 0 a 3 anos” que já encaminhava sua concepção de educação segundo as Diretrizes

Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Neste ano, também foi mudado a denominação

dos grupos: Berçário, mini grupo passou para Grupo 1, maternal 1 para grupo 2 e maternal 2

para grupo 3.

Em 2014, por meio do decreto 24649 de 30/10/2013, sete creches passaram a

funcionar em período parcial, atendendo a uma demanda de famílias com outras configurações

de organização e horário de trabalho, incentivando o equilíbrio de convivência da criança entre

a família e a escola. Nestas creches houve uma mudança na rotina de trabalho com as

crianças, com professores atuando nos dois períodos, além de ter dobrado o atendimento ao

número de crianças.

A Secretaria Municipal de Educação, em 2015, passou a organizar o processo de

construção coletiva da nova Proposta Curricular do Município, alinhada com a Pedagogia

Crítica, à luz dos atuais estudos da infância e da educação infantil.

4.2 Concepção de Escola

A concepção de escola de Educação Infantil que queremos, apoiada na pedagogia

crítica, participativa, cidadã e democrática, entende, respeita e afirma as diferentes infâncias,

garantindo o respeito à diversidade e a sua singularidade.

Temos como princípio básico a criança como sujeito de aprendizagem e não como ser

passivo, todas as ações devem ser pensadas para atender esta criança, tais como: a

22

arquitetura de construção do prédio (planejamento físico), recursos humanos, relação adulto-

criança, alimentação, recursos materiais, organização e equipamentos, organização de tempos

e ambientes.

Ao falarmos em concepção de escola é imprescindível pensar em corporeidade, sendo

assim as educadoras e os educadores da infância devem compreender e respeitar o fato de

que corpo e mente integram um único organismo - “sem viver concretamente, corporalmente, as

relações espaciais e temporais de que a cultura é repleta, fica difícil falar em educação

concreta, em conhecimento significativo, em formação para a autonomia, em democracia e

assim por diante”. (Freire, 2008. p.14).

Ao respeitar as expressões da criança em suas múltiplas linguagens, oportuniza-se e

assegura-se que ela seja produtora de cultura e conhecimento.

Essa escola deve atender a uma concepção de infância abrangente e de educação

democrática que tenha em sua ação a valorização dos princípios éticos, da autonomia da

criança, da solidariedade, do respeito ao bem comum e ao meio ambiente.

As crianças vivenciam o mundo, constroem conhecimentos, expressam-se, interagem e

manifestam desejos e curiosidades de modo bastante peculiar. Para tanto, Oliveira (1993, p.60)

atenta que:

O currículo busca articular as experiências e os saberes das crianças com

os conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural, artístico,

científico e tecnológico da sociedade por meio de práticas planejadas e

permanentemente avaliadas que estruturam o cotidiano das instituições.

A definição de currículo defendida nas Diretrizes põe o foco na ação mediadora da

instituição de Educação infantil como articuladora das experiências e saberes das crianças e os

conhecimentos que circulam na cultura mais ampla e que despertam o interesse das crianças.

O cotidiano dessas unidades, como contextos de experiências, aprendizagem e

desenvolvimento, requer a organização de diversos aspectos: os tempos de realização das

atividades, os ambientes em que essas atividades transcorrem (o que inclui a estruturação dos

ambientes internos, externos, de modo a favorecer as interações na exploração que fazem do

mundo) e os materiais disponíveis. Deve levar em consideração as maneiras que educadoras e

educadores da infância, em constante formação, exercem seu papel (organizando o ambiente,

ouvindo as crianças, oferecendo-lhes materiais, sugestões, apoio emocional, ou promovendo

condições para a ocorrência de valiosas interações e brincadeiras criadas pelas crianças etc.).

23

Para que tudo isso ocorra, é preciso educadoras e educadores da infância atentos, sensíveis,

cuidadosos e comprometidos.

De acordo com Oliveira (2002, p.7) a criança é o centro do planejamento curricular,

considerada um sujeito histórico e de direitos e se desenvolve nas interações, “[...] nas relações

e práticas cotidianas a ela disponibilizadas e por ela estabelecidas com adultos e crianças de

diferentes idades nos grupos e contextos culturais nos quais se insere”.

Nesse processo, é preciso oferecer às crianças uma escola que valorize as interações e

as brincadeiras, e oportunize o desenvolvimento das múltiplas linguagens, respeitando as

culturas infantis. Oferecer condições para que ela construa seu conhecimento e sua própria

cultura, bem como suas formas de agir e pensar que são marcantes no contexto histórico em

que se vive.

4.3 Recursos Materiais, Equipamentos e Organização

O espaço é físico e material, porém, inexiste sem suas dimensões

culturais, históricas e sociais. Portas, janelas e pisos, casas ruas e cidades,

todos configuram teoricamente um espaço, mas são as pessoas, objetos,

cores, texturas, cheiros e sons que o qualificam como ambiente. Do objeto

à paisagem urbana – a percepção, a cultura, e os costumes são

determinantes na configuração espacial, caracterizando as atividades e as

relações sociais que ali se estabelecem. O homem, ao fazer uso desse

espaço, transforma-o em ambiente (FREYBERGER, 2005, p. 17).

Toda escola tem que ser promotora de aventuras, de descobertas, de criatividade.

Os recursos materiais e equipamentos levam a uma importante reflexão sobre a

qualidade e diversidade do que é oferecido nas escolas de educação infantil. A criança, como

sujeito da ação, constrói sua aprendizagem por meio do brincar e das interações. Desta forma,

a organização dos materiais e equipamentos dentro dos ambientes educativos precisa

favorecer essa aprendizagem.

É preciso proporcionar à criança contato com a diversidade dos materiais, suas formas,

texturas, cores, tamanhos e outras especificidades que a ajudem a conhecer o mundo. Tanto a

funcionalidade quanto a organização dos ambientes e materiais devem ter o propósito de

educar e ser construído para e com a criança, tendo em vista que os sujeitos envolvidos

transformam e são transformados pelas experiências significativas.

24

Os brinquedos e os materiais oferecidos na educação infantil precisam apresentar

condições de segurança, durabilidade, acabamento e resistência à manipulação. Precisam ser

adequados a faixa etária e estar em boas condições de uso, sendo importante a manutenção,

reposição e higienização quando necessário. É importante que cada escola tenha os insumos

necessários para a plena realização de seu Projeto Político Pedagógico.

O mobiliário também precisa estar adequado a faixa etária, com móveis, estantes e

prateleiras acessíveis ao alcance das crianças.

As salas precisam de iluminação e ventilação adequadas, além de espaços seguros e

aconchegantes que possibilitem às crianças ampla circulação, interação e acesso aos

materiais, oferecendo inúmeras possibilidades de exploração num ambiente que proporcione a

mobilidade e o contato visual com o espaço externo e a natureza.

No prédio deve haver proteção adequada nas instalações elétricas, hidráulicas, vidros,

espelhos, escadas, janelas, etc., o que deve ser cuidadosamente planejado. As entradas de

energia elétrica devem estar nas paredes em locais altos, fora do alcance das crianças. Se

algumas se encontram baixas, devem ser utilizados protetores de tomadas. Os ambientes

devem ser seguros e conservados, com a garantia de conforto térmico e a inexistência de

objetos perigosos.

A conservação e higiene dos materiais, brinquedos, utensílios, dos espaços devem fazer

parte dos procedimentos diários. A limpeza é mais do que essencial e o uso de produtos

químicos deve ser cuidadosamente planejado, observando até mesmo questões relacionadas a

sensibilidades e alergias, seguindo as normas e padrões de limpeza em vigor.

Pesquisas e práticas vêm buscando afirmar a importância de se promover uma educação

de qualidade para todas as crianças, o que envolve também o ambiente construído. Como

afirma Frago (1995), referindo-se ao espaço escolar, este não é apenas um “cenário” onde se

desenvolve a educação, mas sim “uma forma silenciosa de ensino”.

Na contemporaneidade é importante ampliar os diferentes olhares sobre o espaço e o

ambiente, que precisam ser destinados a favorecer descobertas, criatividade, desafios,

aprendizagem, facilitando a interação criança-criança, criança-adulto, criança-objeto e delas

com o meio ambiente. Um espaço lúdico, dinâmico, vivo, “brincável”, explorável, transformável,

e acessível para todos.

Nesta concepção o projeto de construção e reforma de escola de educação infantil deve

contar com a participação da comunidade educacional, visando compartilhar os saberes e

experiências daqueles que vivenciam os espaços, além de incorporar a reflexão sobre o perfil

pedagógico da instituição.

25

Na LDBEN, a construção e a conservação das instalações escolares são incluídas nos

orçamentos de educação. A partir daí, uma série de documentos legais vem sendo produzidos

com o objetivo de definir ou redefinir critérios de qualidade para infraestrutura das unidades

destinadas à educação da criança de 0 a 6 anos. Sendo assim, engenheiros, arquitetos,

juntamente com a equipe educacional devem estar de acordo com a legislação vigente para

elaboração de projetos de construção e reformas da instituição pretendida.

4.4 Tempos e ambientes

Organizar o cotidiano das crianças da Educação Infantil pressupõe pensar

que o estabelecimento de uma sequência básica de atividades diárias é,

antes de mais nada, o resultado da leitura que fazemos do nosso grupo

de crianças, a partir, principalmente, de suas necessidades. É importante

que o educador observe o que as crianças brincam como estas

brincadeiras se desenvolvem, o que mais gostam de fazer, em que

espaços preferem ficar, o que lhes chama mais atenção, em que

momentos do dia estão mais tranquilos ou mais agitados. Este

conhecimento é fundamental para que a estruturação espaço-temporal

tenha significado. Ao lado disto, também é importante considerar o

contexto sociocultural no qual se insere e a proposta pedagógica da

instituição, que deverão lhe dar suporte. (BARBOSA; HORN, 2001, p. 67).

A constituição de um ambiente implica em vários aspectos ou dimensões, que estão

integrados, considerando a faixa etária atendida:

Dimensão Interacional: as interações sociais são elementos determinantes da

aprendizagem, por isso precisa ser levado em consideração a organização do ambiente bem

como o trabalho de planejamento.

Dimensão Física: é todo o espaço real e a organização dada ao mesmo, levando em

consideração a qualidade sensorial oferecida.

Dimensão Temporal: compreende na organização do tempo e os momentos em que os

diferentes ambientes serão utilizados, bem como a distribuição das atividades ao longo da

rotina diária.

Dimensão Funcional: considera a forma de utilização dos diferentes ambientes, sua

polivalência, sua flexibilidade e os tipos de experiência que podem ocorrer nelas.

26

Dimensão Estética: considera a arquitetura para a utilização e disposição das produções

artísticas, materiais e mobiliários, bem como as possibilidades de arranjos espaciais e físicos.

O ambiente precisa ser cuidadosamente preparado de modo a contemplar a segurança e

acolhimento da criança; a superação de obstáculos e a promoção de desafios para a sua

exploração; a valorização das produções infantis e todas as demais marcas da infância, nas

mais diversas formas de expressão e na composição estética do ambiente; as diversas funções

dos espaços e a acessibilidade de materiais para as crianças nas diferentes idades; a

diversidade das propostas nos ambientes: momentos coletivos, em grupo ou individuais; os

eventos de interações sociais prolongadas e criativas e ambientes para cada criança ter sua

individualidade; a presença de objetos que permitam à criança ter contato com elementos de

outras culturas e o convívio com uma diversidade maior de valores estéticos; a visibilidade do

ambiente exterior; o convívio com o meio externo e os elementos da natureza necessários à

saúde e à qualidade de vida.

Um dos principais objetivos do trabalho com o tempo são as relações que a criança

estabelece para começar a diferenciar seu tempo interno do tempo externo, construindo

também, hábitos sociais coletivos e situando-a na diferenciação dos momentos do dia a dia.

As experiências, com relação ao tempo, devem ser cuidadosamente planejadas para

torná-lo prazeroso, caracterizando-se como um convite à criança para interagir com seus pares,

a fim de estabelecer equilíbrio entre envolver-se em propostas por conta própria e construir algo

em conjunto; dedicar-se a propostas mais espontâneas e envolver-se em situações dirigidas

pelas educadoras e educadores da infância; oportunizar variedade, diversidade e regularidade

das atividades ao longo do tempo, favorecendo uma maior familiaridade com algumas delas e

apropriação de conhecimentos pelas crianças.

Ressalta-se a importância da flexibilização do tempo/rotina, pois quando as crianças

envolvem-se nas experiências propostas, dão significados a elas, sendo capazes de ficar muito

tempo interessadas, desconstruindo a ideia de que as crianças pequenas são dotadas de uma

capacidade de atenção reduzida.

As crianças de 0 a 3 anos precisam de tempo também para participar de seus cuidados

de forma significativa. Elas não podem ser apressadas e mecanizadas no ato de comer, lavar

as mãos, tomar banho, usar o banheiro, escovar os dentes, trocar de roupa. Estas

aprendizagens despertam interesse e exigem tempo individualizado.

4.5 Educação Infantil e valorização dos saberes

27

A concepção de escola desejada para o nosso Município, balizada pelas orientações das

DCNEI e concretizada com a nova proposta curricular, busca construir ações que garantam

uma educação de qualidade, igualitária e rica a todas as nossas crianças, em uma integração

entre a creche, a família e a comunidade.

Essa concepção deixa claro que a criança deve ser o centro de todo o planejamento das

ações educativas, que a infância é uma construção social e histórica. Assim, as crianças devem

ser consideradas sujeitos históricos e de direitos.

A escola que almejamos deve possibilitar o desenvolvimento integral das crianças e isso

significa aprendizagens para além das habilidades e competências, anteriormente buscadas.

Neste sentido, o estabelecimento de expectativas e metas, por idades e grupos deve ser

descartado, já que entendemos que a aprendizagem é um processo contínuo e que ocorrerá

por meio das interações, com crianças de idades variadas dentro de um mesmo grupo ou

grupos diversos. É oportuno registrar que, quando se estabelece uma meta ou expectativa para

um grupo, homogeneizamos os processos e responsabilizamos a criança se, eventualmente,

esta não atingir o estabelecido ao coletivo, desconsiderando seu percurso individual. É

necessário que as propostas tenham a intenção de ampliar os saberes das crianças por meio

das diferentes linguagens e todas as suas formas de expressão. Para a criança, permanecer

imóvel por muito tempo pode ser prejudicial a sua aprendizagem, pois por meio da expressão

corporal e ao experimentar os desafios motores a criança se desenvolve.

No contexto escolar as DCNEI indicam que: “as práticas pedagógicas que compõem a

proposta curricular da Educação Infantil devem ter como eixos norteadores as interações e a

brincadeira” (p. 25) , as quais devem ser observadas, registradas e avaliadas.

Sendo assim, educadoras e educadores da infância devem promover novas experiências

e novas vivências, num contexto social diverso, que busque apresentar texturas, formas, cores,

sons, aromas e variadas manifestações culturais e expressivas.

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Municipio de Jundiai. Jundiaí, 1993

29

_____________________________________ Regimento Comum Das Escolas Municipais

De Educação Basica de Jundiai. Jundiai, 1998

_____________________________________Texto Norteador Do Trabalho De Capacitação

De Professores Da Rede Do Municipio De Jundiai. Jundiaí, 1994.

30

5. Adaptação e Acolhimento, Educar e Cuidar, Relação com a Família e a

Comunidade

É certo que, desde que vem ao mundo, o bebê interage de diferentes

maneiras no ambiente físico e social que o cerca. Entretanto, seu ingresso

em uma instituição de caráter educativo o fará experimentar,

forçosamente e de forma sistemática, situações de interação distintas das

que vive com sua família. Ao separar-se de sua mãe/pai, para interagir

com outros adultos e compartilhar o mesmo espaço e brinquedos com

outras crianças, vai conviver com ritmos nem sempre compatíveis com o

seu e participar de um universo de objetos, ações e relações cujo

significado lhe é desconhecido. Oliveira (2001, p. 26)

A entrada na escola constitui uma situação nova para todos os envolvidos: crianças,

famílias, educadoras e educadores. A escola e a família têm o importante papel na adaptação,

que é necessária e indispensável, pois proporciona um melhor acolhimento e a inserção da

criança no contexto escolar.

A relação escola-família na Educação Infantil é firmada desde o início do processo de

matrícula. O diálogo deve permear essa relação que precisa ser construída com seriedade,

compreendendo que as famílias são coautoras do processo educativo.

Após a matrícula e antes do ingresso da criança na escola, a equipe escolar deve

realizar uma entrevista com os responsáveis para conhecer as crianças e estreitar as relações

com as famílias, oportunizando sempre que possível, a presença de um ou mais adultos do

grupo.

As entrevistas devem ser ricas em troca de informações de ambas as partes, em

benefício a um ingresso de qualidade. As dúvidas dos familiares devem ser esclarecidas e os

anseios precisam ser acolhidos pela equipe. É importante apresentar o espaço escolar e o

Projeto Político Pedagógico, esclarecendo procedimentos e as diferentes formas de

participação nas propostas da escola.

Para as crianças, a adaptação é um período de instabilidade e grande transformação,

portanto necessitam de um ambiente onde haja segurança emocional, acolhimento e atenção.

A adaptação deve ser vista com seriedade tanto pelas famílias quanto pela escola. Há de

se levar em conta as especificidades de cada uma nesse processo. O momento de adaptação é

31

o momento de aproximação do adulto e da criança. É importante criar vínculo para que a

criança sinta-se segura e se desenvolva plenamente.

Toda ação educadora de adaptação deve estar pensada, discutida e organizada no

Projeto Político Pedagógico. A equipe escolar deve prever o que fazer para acolher e adaptar a

criança e sua família. O tempo de permanência da criança na instituição deve ser aumentado

gradualmente, já que as necessidades de acolhimento são diferentes, porque cada ser tem

suas características e precisa de algo específico.

Sabendo que o choro é a linguagem do bebê, conhecer esse choro significa que o adulto

está conectado a essa criança, que a ouve e a atende no que precisa. É possível que algumas

crianças demonstrem dificuldades como a falta de apetite, a apatia e o desinteressem participar

das propostas escolares no processo de adaptação, porem quando não há choro, nem

manifestações explicitas de sentimentos, as educadoras e educadores devem se preocupar e

estar atentos, já que pode se tratar de um momento de grande sofrimento.

Durante o processo de adaptação, a permanência de um membro da família ou outro

adulto com quem a criança possua vínculo, respeitando seu tempo e ritmo, se faz necessária.

No entanto, precisamos entender que existem famílias que não podem acompanhar a criança

nesse processo por um longo período, algo que deve ser considerado. Logo, a equipe escolar

deverá criar estratégias diferenciadas tanto com a família que estará disponível durante todo o

processo, como com a que apresenta dificuldades nesse acompanhamento.

O uso de paninhos, chupetas, brinquedos, entre outros objetos de transição, são

facilitadores desse processo. Consolo é uma forma de cuidado. Se não sou cuidado, não tenho

repertório para cuidar. Os cuidados são aprendidos e são valores constituídos e levados para a

vida. Atividades de cuidado são significativas para a criança.

Ser cuidado é um direito da criança e um dever do adulto que cuida. A forma como

somos cuidados nos constitui, pois sem cuidados, deixamos de ser humanos. Cuidado, como

processo educativo, nada mais é que atenção com o outro, porque nos sentimos envolvidos e

afetivamente ligados ao outro. Cuidamos e somos cuidados. O modo como cuidamos diz para a

criança quem e como são as pessoas, a cultura e o lugar em que ela vive. Cuidado significa

desvelo, solicitude, diligência, zelo, atenção e bom trato.

O cuidar e o educar são indissociáveis. Deve-se cuidar e educar para a autonomia, pois

quando se cuida, se educa. No entanto, é necessário lembrar que autonomia não é abandono.

Autonomia é educação, é criar condições para que o sujeito faça por si e para si. O adulto é

indispensável nesta passagem e, quando não permite que a criança desenvolva seu repertório,

ele está descuidando e, consequentemente, não está educando.

32

O adulto ensina às crianças como viver nesse mundo. Brincar e interagir faz parte do

cuidar e do educar. Cada cultura cuida, educa, protege, oferece afeto e convivência, assim

como a escola com suas normas e procedimentos específicos.

É fato que as famílias chegam à escola com seus procedimentos próprios quanto ao

cuidar e educar as crianças. Dessa forma, muitas vezes, os conflitos acabam sendo gerados, já

que este cuidar e educar são compartilhados. Para que isso não prejudique essa relação, faz-

se necessária a negociação, de forma que as crianças se sintam seguras e capazes de lidar

com os ambientes da escola e de sua casa. Tal negociação só é possível numa relação

horizontal, de diálogos e trocas, em parceria. Ressaltamos que a educação de 0 a 3 anos é

constituída por uma comunidade que educa e é um direito da criança.

A escola precisa estabelecer uma relação efetiva com as famílias e a comunidade local

para conhecer e considerar, de modo crítico e reflexivo, os saberes, as crenças, os valores e a

diversidade de práticas sociais e culturais que cada grupo social tem para educar suas crianças.

A creche deixou de ter um caráter assistencialista, mas há necessidade de ter um olhar

social e humanizado, estabelecendo vínculos, respeitando a diversidade, não no seu aspecto

de exclusão, mas de contemplar novas situações que são apresentadas pelas famílias na

contemporaneidade.

Uma das especificidades desse segmento é construída em encontros diários, na entrada

e na saída, porque o processo educacional é constante, além das reuniões bimestrais ou

eventos ocasionais. As relações entre os adultos – pais, educadoras e educadores – não

podem ser descuidadas, apesar destes realizarem atividades diferenciadas junto às crianças. É

preciso momentos de formação para a partilha das dificuldades e a resolução de conflitos, para

a comunicação, integração e comemoração dos êxitos.

É importante ter clareza em relação ao que a escola compreende sobre o educar e o que

a família espera. Tal clareza permitirá fomentar discussões que irão permear relações de

confiança. A escola acolherá não apenas uma criança, mas toda uma família, que está vivendo

um processo de transformação. Segundo Barbosa(2010, p. 10), “...acolher uma criança na

creche exige dos diferentes profissionais atenção, competência e sensibilidade nas relações

com os bebês e suas famílias. Para isso, é preciso em primeiro lugar respeitar e valorizar as

famílias em suas diferentes formas de estruturação e organização e abrir diferentes canais para

a participação cotidiana das famílias nas escolas de educação infantil”.

Concluindo, a presença da família é essencial não só no processo de adaptação, mas

em todo o decorrer da vida escolar da criança. Por outro lado, para um bom acolhimento, cabe

à escola construir um ambiente estável de colaboração e um clima de confiança, tanto para as

33

crianças quanto para suas famílias e equipe escolar, pois assim conseguirá o bem-estar de

todos os envolvidos e, principalmente, a proteção das crianças.

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CHAGURI, Ana Cecília. Os fazeres na Educação Infantil. 12ªed.-São Paulo: Cortez, 2011.

34

6. Princípios e Dimensões

6.1 Princípios

A expressão princípio, originada do latim principium, significa o início, a origem de tudo.

Pensando a educação a partir desse conceito, podemos entender por princípio os aspectos

iniciais e centrais que permeiam qualquer proposta educativa. Nesse sentido, as Diretrizes

Curriculares Nacionais da Educação Infantil (Resolução nº 05/2009) apresentam os princípios

da educação infantil divididos em três aspectos: éticos, estéticos e políticos. Em consonância

com a normativa federal e compartilhando de sua importância e validade, ressaltamos que

todas as ações nas escolas municipais de educação infantil devem ser norteadas por esses três

princípios.

Os princípios éticos são baseados nas noções de autonomia, responsabilidade e

respeito, e determinam que as unidades escolares devam se apresentar como locais de

formação de uma criança capaz de entender e aceitar o outro em seus múltiplos aspectos seja

eles raciais, de gênero, de idade, religiosos, econômicos e culturais. Para tanto, as crianças

devem estar em contato não apenas com a apresentação dos princípios, mas estar exposta a

eles por meio das atitudes das educadoras e dos educadores com quem convivem.

Desse modo, as crianças conseguem desenvolver mais claramente a consciência de que

as diferenças devem ser tratadas com respeito e passam a compreender que fazem parte do

cotidiano. Por isso, no currículo da educação infantil em Jundiaí, não é a cultura da escola que

deve prevalecer sobre a das famílias, existe a necessidade de que haja respeito mútuo e a

consideração de que existem formas diferentes de se educar uma criança. Além disso, a

criança, dentro da escola, tem que ser ouvida em suas múltiplas linguagens, e realmente vista,

tendo seu tempo respeitado, suas experiências garantidas, e sua vontade levada em

consideração. As noções de autonomia, responsabilidade e respeito devem prevalecer em

todas as relações, seja entre a equipe escolar e os pais, entre a equipe escolar e as crianças,

entre as próprias crianças ou entre os próprios membros da equipe.

Nas propostas diárias, além do exemplo, a criança pode conviver com os princípios

éticos a partir do momento em que é incentivada a se cuidar e a cuidar do outro, sejam estes

cuidados básicos, exercitando a autonomia (se vestir, colocar sozinho o sapato, guardar o

brinquedo que tirou do lugar), ou no sentido da proteção (ajudar outra criança, brincar junto,

dividir o brinquedo, cooperar, se solidarizar com o colega), elementos que devem ser

trabalhados principalmente através da brincadeira, do jogo simbólico e da linguagem.

35

O Princípio Ético se estende também a questões de conservação e respeito ao meio

ambiente. Com essa finalidade, ações cotidianas como molhar o jardim, apagar a luz, fechar a

torneira, separar lixo devem ser incentivadas no ambiente escolar. Além disso, as crianças

devem aprender que todas as nossas ações possuem consequências, como por exemplo, a

morte de uma planta ao ser arrancada com sua raiz. Todavia, o respeito ao ambiente natural

não deve limitar a realização de experiências práticas, pois é por meio destas que a criança da

educação infantil aprende. No entanto, o que precisa ficar claro para os envolvidos é que não

existe uma separação entre o ser humano e o meio ambiente, e o último não está a serviço do

primeiro. Ser humano e natureza fazem parte de um todo, estão integrados em uma ação

mútua de cuidados, por isso, na escola, faz parte dos princípios éticos experienciar com as

crianças as possibilidades oferecidas pelo espaço da unidade escolar, de forma que elas

procurem, conheçam, explorem, não apenas com uma finalidade utilitária, mas também

integradora.

Os Princípios Políticos são tratados, inicialmente, como o ato de educar para a

cidadania, o direito de participação e crítica e a liberdade de expressão. Na educação infantil

esses princípios devem ser traduzidos na garantia de um espaço de expressão de sentimentos.

Considerando que a educação infantil atende crianças que não possuem completo domínio da

fala, essa expressão de sentimentos e de ideias devem ser incentivadas por meio da criação de

diferentes espaços, meios e suportes que possibilitem a manifestação das ideias,

questionamentos e da liberdade criativa.

Além disso, para que a criança possa expressar uma opinião sobre algo, é necessário

que ela tenha experiências pessoais. Nesse sentido, uma das formas de desenvolver o princípio

político é deixar a criança brincar criando e modificando brinquedos e brincadeiras, pois desse

modo a criança desenvolve sentidos e significados para as próprias ações, e entende o mundo

a sua volta. O olhar e a ação da educadora e educador da Infância não devem ser limitadores

no sentido de entender que a criança “está fugindo da regra”, ou “está brincando do jeito

errado”, e sim um olhar atento, que percebe as potencialidades e as possibilidades daquilo que

a criança está desenvolvendo. O direito à participação também pode ser garantido na forma

como o adulto usa a linguagem verbal, gestual e troca de olhares para que a criança

compreenda o que ocorre no cotidiano, como a forma de ser trocada, escolha de roupas, assim

como sua participação na organização da rotina. Essas ações devem ser estendidas e

garantidas a todas as crianças da unidade escolar, independente de suas especificidades, pois,

novamente, são as experiências de aprendizagem que irão garantir que elas se expressem.

36

Outro aspecto importante com relação à educação para a cidadania é trabalhar com a

criança a compreensão da existência do outro que, assim como ela, possui direitos, deveres,

ideias e pensamentos. Obviamente este trabalho deve ser feito respeitando os limites impostos

pela idade, pelo desenvolvimento específico de cada criança, mas deve acontecer nas unidades

de educação infantil nas atividades cotidianas, como esperar o colega escorregar, dividir um

brinquedo, perceber que pode fazer o colega chorar, ou que todos devem ajudar a guardar o

brinquedo, para que ninguém fique mais cansado. Entretanto, não se espera que a criança

compreenda verbalmente essas regras, mas sim que as vivencie, e por isso a educadora e o

educador de Infância têm que tomar o cuidado de não privilegiar somente a explicação oral,

mas que também crie espaços que possibilitem experiências, de forma que a criança aprenda a

se reconhecer como um cidadão.

Os Princípios Estéticos compreendem a valorização da diversidade, da ludicidade e da

criatividade. Considerando que a humanidade já produziu muito conhecimento antes da criança

vir ao mundo, e que muitas vezes as crianças (e os adultos) são influenciadas e pressionadas

com noções prontas do que é belo, é necessário que a escola desconstrua essa noção e

trabalhe outros conceitos de beleza além dos previamente construídos, postos como ideais.

Dentro do ambiente escolar, superando a ideia de que a criança deve receber

conhecimentos prontos, os princípios estéticos devem ser trabalhados com a finalidade de

incentivar a criança à realização de suas próprias experiências criativas, com diferentes meios e

suportes, aprendendo a valorizar aquilo que ela e as outras crianças criaram. Essa valorização

ocorre também por meio da apreciação das obras produzidas na escola, e aquelas histórica e

culturalmente produzidas pela sociedade. Desse modo, as crianças entendem que sua criação

gera um produto ou expressão a ser admirado. Para isso, a criança precisa ser levada a ter

experiências através do corpo, das emoções e sentidos, utilizando vários suportes, e valorizá-

las como sendo arte.

Considerando os princípios estéticos, é possível criar uma série de situações lúdicas e

agradáveis com as crianças de forma a desafiá-las a se expressarem por meio de diferentes

linguagens (música, dança, teatro, jogos, fotografia, escultura) e a perceber que existem outras

expressões além da sua, que apesar de ser diferente não deve ser julgada.

6.2 Dimensões

Considerando a legislação vigente, que apresenta os princípios de ação na educação

infantil, é possível também fazer referência às dimensões dessa ação, ou seja, a extensão, o

alcance, a forma como devem ser trabalhados esses princípios. Nesse sentido, pode-se inferir

37

como dimensões extremamente importantes da educação infantil, a corporeidade, a brincadeira

e a interação , que serão apresentadas nas linhas abaixo.

6.2.1.Corporeidade

Para pensar o corpo da criança no contexto escolar torna-se necessário entender quem

são esses corpos e de que forma se expressam na escola e fora dela. Além disso, é importante

olhar para esses corpos de maneira apurada, uma vez que carregam em si as especificidades

de sua cultura, as marcas de seu tempo, os desígnios sociais e históricos de um tempo e

espaço social.

O presente texto pretende um breve diálogo acerca do corpo da criança e da

corporeidade no contexto escolar. Para isso, apresenta a perspectiva do corpo como

construção cultural, corpo histórico e social.

Arroyo (2012), ao tratar sobre o conceito de corpos precarizados, afirma que o acesso à

escola pública aumentou desde a década passada e, por isso, indaga sobre qual infância e

adolescência está chegando às escolas. A resposta é preocupante, pois segundo ele são

outras vidas e outros corpos mais precarizados do que as crianças e adolescentes que por

décadas tiveram o privilégio do acesso à escola.

Segundo o autor é dever ético para a reflexão da prática, olhar esse corpo e trazê-lo para

a formação profissional docente, entender e aprofundar o que pode significar carregar um corpo

faminto, desnutrido e precarizado.

Esse corpo do qual fala Arroyo (2010) não deverá ser ignorado pelas educadoras e

educadores da Infância e pela equipe gestora, ao contrário, deverá ser esmiuçado, discutido e

principalmente constar no currículo para uma pedagogia que priorize o corpo e o movimento. A

concepção de corpo tratada neste texto é a de Foucault (1987), que o compreende como um

objeto de investimento político e ideológico ao longo da história. O autor fala sobre corpos

dóceis, que são disciplinados e fabricados para a submissão, sujeição. Diferentemente da

concepção de corpos da escravidão, esses corpos dóceis não são propriedades, mas são

controlados através de disciplina, que dispensa a violência e as agressões. Diferentes também

da domesticidade, que é uma relação de dominação constante, da vontade singular do patrão,

que se difere também do conceito de vassalo, que é relação de submissão altamente

codificada, e que se realiza muito menos sobre as operações do corpo, mas nas marcas rituais

da obediência (FOUCAULT, 1987).

O corpo dócil sobre o qual Foucault trata é o corpo obediente, com movimentos

detalhados, sutil na forma e na disciplina adquirida, é um corpo mais obediente quanto mais é

38

útil e vice-versa. Trata-se, portanto, de um controle político para manutenção de poder, com

enfoque em pequenas coisas de modo a controlar e utilizar os homens, levando consigo todo

um conjunto de técnicas, todo um corpo de processo e de saber, de descrições, de receitas e

dados (FOUCAULT, 1987).

Nessa perspectiva devemos entender e ver o corpo das crianças na escola, como um

corpo histórico e social, que traz em si a coerção, a repressão e a obediência como marca

principal. Como acrescenta Rodrigues (1980), o corpo é um suporte de signos sociais, nele

estão marcadas todas as regras e normas, os valores e a cultura de uma determinada

sociedade. É possível, então, como acrescenta Daólio (1995), pensar no corpo como uma

construção cultural, pois cada sociedade se expressa diferentemente por meio de seus corpos.

Assim, entender o corpo é entender os signos e significados de uma determinada sociedade.

Galvão (2012) afirma que o desenvolvimento da criança se dá por meio do corpo e do

movimento e nos traz contribuições à respeito do que significa o olhar da educadora e do

educador da Infância para o corpo da criança na escola. A autora nos diz que o corpo e

movimento são de natureza social, cultural, biológica e histórica, pois é por intermédio dessa

simbiose dialética que se constrói o desenvolvimento das crianças pequenas, que se dá na

dimensão espaço temporal e histórico social.

A autora afirma também que o desenvolvimento ocorre num processo contínuo e

descontínuo, provocando e detonando a complexa maturação do sistema nervoso da criança,

tendo em vista o seu acabamento e formação individual. Nesse limiar, o movimento, que é a

abstração pensada, e o pensamento é o resultado das relações entre o biológico e o social

(GALVÃO, 2012). Portanto, é conveniente não pensar esse corpo como estritamente biológico,

pois esses diversos elementos citados por Galvão se complementam e se apresentam como

um corpo muito mais completo e complexo na sua individualidade, coletividade e diversidade. A

partir desse viés, de um corpo social, cultural, biológico e histórico, poderemos dar sentido às

práticas na escola que nos impulsionam às ações que farão dessas crianças protagonistas do

seu próprio desenvolvimento.

A corporeidade, nessa perspectiva do corpo como construção cultural, histórica, social e

biológica, pode ser entendida como expressão e manifestação do corpo em movimento, que

carrega individualidade e coletividade de determinada cultura e tempo histórico.

Marques (2014) fala sobre a importância de conhecer a corporeidade das crianças e

perceber como estão vivenciando seus corpos em contextos concretos, virtuais e/ou imaginário,

dentro e fora da escola. Para isso, toma como ponto de partida as contribuições de Lefebvre

(1996), dos corpos vividos, percebidos e imaginados.

39

O corpo vivido, o qual a autora cita, relaciona-se ao corpo concreto no contexto escolar,

vivido na experiência, e que se constrói nas relações estabelecidas com o outro, adulto ou

criança (MARQUES, 2014). A criança quando envolvida em seus jogos, brinquedos,

brincadeiras, vive concretamente seu corpo, e por meio desses mecanismos se relaciona com o

mundo e expressa sua corporeidade. Segundo a autora, as educadoras e os educadores da

Infância devem atentar-se às necessidades e preferências das crianças, o tempo e espaços

corporais na escola, se são agitadas, se gostam de desafios corporais, se passam o tempo

correndo ou se são desaceleradas e preferem as atividades mais seguras (MARQUES, 2014).

Entretanto, vale ressaltar que as ações das crianças dentro da escola têm relação direta com as

experiências fora dela, portanto seria de grande valia conhecer as famílias e como são os

espaços em que vivem.

O corpo percebido, citado pela autora, trata a respeito de quais são as percepções

corporais que as crianças têm acerca de si, e do quanto isso é influenciado pelo mundo, pois

nem sempre o que a criança sente e percebe de seu corpo corresponde à realidade. O

interessante é a educadora e o educador de Infância perceberem como se dá essa relação

entre como vivem e como percebem seus corpos (MARQUES, 2014). Sabe-se que é comum

nas escolas surgirem piadas de “gordinhos”, “magricela”, “chorona”, e isto deturpa a maneira

com que a criança percebe o próprio corpo, por isso é importante conhecer tanto a percepção

que as crianças têm de si mesmas quanto àquilo que vivem concretamente (MARQUES, 2014).

Outro aspecto importante que Marques (2014) aponta é a concepção de corpos

imaginados, que sofrem influência nefasta da mídia, pois são apresentados como referência

corpos perfeitos, esbeltos, ricos e de alta performance, o que influencia também o imaginário

infantil. Por isso, é extremamente importante que a educadora e o educador de Infância

conheçam e investiguem esses aspectos que rondam o imaginário infantil acerca de seus

corpos.

Além disso, é frequente a educadora e o educador da Infância esquecerem-se do quanto

suas ações são referência para as crianças, por isso é preciso perguntarem-se o quanto

percebem seu corpo e como são suas interações com a criança na escola. As ações das

educadoras e dos educadores da Infância refletem diretamente no processo de formação

dessas crianças e seus corpos dizem muito a respeito do que são e fazem na escola e fora

dela. Marques (2014) discute sobre a importância de a educadora e de o educador da Infância

perguntarem-se à respeito de seus próprios corpos: “que corpos vivemos (...)? como

percebemos nossos corpos profissionais em atuação com os alunos? sentimo-nos cansados,

40

desanimados (...)? Ou, ao contrário, o contato com as crianças nos estimula (...) às descobertas

de outras possibilidades corporais pessoais?” (MARQUES, 2014)

Dada a influência que o educador exerce na formação das crianças, é imprescindível que

ele reflita a respeito da necessidade de ser um corpo lúdico que brinca com as crianças na

escola, pois é dessa ação que emerge a possibilidade de crianças mais ativas no meio escolar.

A corporeidade, vista como manifestações expressivas que surgem do corpo histórico e

social em movimento, deve ser pensada minuciosamente, pois não se trata de técnicas rígidas

e passos formatados , e sim da livre expressão em movimento. Entretanto, pensar a liberdade

dos movimentos em ação não significa deixar a criança fazer o que quer, ou fazer por fazer.

Segundo Marques (2014), se assim fosse feito, estaríamos trabalhando valores, atitudes e

princípios também opostos, por exemplo, a criança autocentrada, egoísta, sem limites e

percepção dos outros e do mundo. No entanto, por de trás desta ação, livre e espontânea do

movimento, deve existir a intencionalidade de despertar um corpo disposto a sua liberdade, a

seu fazer, a sua autonomia.

À luz das experiências de Lóczy (apud Falk, 2004), vale lembrar que a criança precisa ter

garantido espaço e tempo para vivenciar seu corpo, suas potencialidades e limites. Para isso,

não é possível que as educadoras e educadores da Infância estejam apenas presentes, mas

que se envolvam nas propostas, sem necessariamente intervir a todo o momento.

O adulto cuidador está presente no entorno, podendo ser visto pela

criança, contudo está centrado em outra atividade. (...) A presença da

pessoa de referência em um raio próximo permite às crianças ficarem

sozinhas sem se sentirem abandonadas. (LEITE, 2011)

A segurança da criança vai sendo construída por ela ao perceber o cuidado e a

confiança que a educadora e o educador da Infância lhe transmite, desde os momentos de

cuidado com o corpo (banho, trocas) até as demais propostas.

Devemos sempre antecipar para as crianças, por meio da linguagem, a ação a ser

realizada pelo adulto (“Vamos limpar seu nariz?”, “Precisamos trocar sua fralda.”...) e durante o

ato, ter consciência que o corpo infantil exige sensibilidade e respeito tanto no fazer quanto na

comunicação, seja ela, verbal ou gestual.

Discutir esse corpo em movimento na escola é ressignificar o universo infantil em

desenvolvimento. A criança que brinca e tem autonomia para fazer suas escolhas é corpo. A

criança com seus pés na terra, na areia, na grama, no chão, na água, no barro, potencializa seu

41

desenvolvimento, seu corpo, tanto individual quanto coletivamente, além de aprender com a

experiência, com as relações estabelecidas entre crianças e entre os adultos.

6.2.2 Brincadeiras

Brincar é uma forma de expressão e de constituição como sujeito, e é através da

brincadeira que a criança estabelece suas primeiras relações consigo mesma, com o outro e

com o mundo. No início da vida, o ato de brincar se dá de forma involuntária, mas, à medida

que a criança se desenvolve, conquista independência e autonomia em suas ações e

percepções (BRASIL, 1998; OLIVEIRA, 2008). Nesse processo, forma vínculos e desenvolve

sua identidade influenciada pela cultura na qual está inserida, pois, por detrás de cada gesto,

atitude e contatos que estabelece existe uma intenção comunicativa que carrega os sentidos e

significados construídos e reconstruídos historicamente por dado grupo na sociedade

(OLIVEIRA et. al., 2013; ORTIZ, CARVALHO, 2013).

Vygotsky, em seus estudos, ressalta o caráter social do desenvolvimento humano, pois

afirma que o sujeito se constitui nas relações dialéticas, na história e fazendo história, e também

por meio das interações sociais as funções superiores do pensamento são desenvolvidas

(OLIVEIRA, 2008).

Dessa forma, as brincadeiras são oportunidades para as interações e experiências em

diferentes linguagens, tais como, a imaginativa, a emocional, a sensorial e a oralidade. Pela

brincadeira há a possibilidade de se resolver problemas ora imaginados, ora reais aprendendo a

viver enquanto se desenvolve e explora o mundo. As Diretrizes Curriculares Nacionais para a

Educação Infantil colocam como eixos norteadores das propostas curriculares nas instituições

de Educação Infantil as brincadeiras e as interações (BRASIL, 2009). Nesse sentido, “O brincar

requer uma condição: é a criança a protagonista que faz a experiência” (BRASIL, 2012, p. 54).

A relevância do brincar está no protagonismo da criança em tomar decisões, fazer escolhas,

expressar seus sentimentos, desejos, valores, criando e recriando situações. Schlesener (2011)

explica que o protagonismo da criança está justamente no seu processo de criação quando dá

significados próprios a realidade que a rodeia, questionando as certezas instituídas e

construindo o seu modo de compreensão de mundo. Muito se fala da importância do brincar

para o desenvolvimento infantil, mas pouco sobre a brincadeira e o adulto. À medida que a vida

adulta chega, o trabalho toma conta do ser humano e, normalmente, o ato de brincar fica cada

vez mais distante. É como se fosse proibido à educadora e ao educador de Infância brincarem,

como se essa experiência não combinasse com o mundo do trabalho. No entanto, para

Winnicott (1975), é apenas no brincar que a criança e também a educadora e o educador da

42

Infância usufruem da própria liberdade para criar. Ao longo da história humana, o ato de brincar

passou da ação experimentada por pessoas de diferentes idades a uma experiência

predominantemente de criança. Porém, essa atividade precisa fazer parte do cotidiano do ser

humano, para que o sonho e a imaginação não se acabem. Isso não significa infantilizar o

adulto, mas potencializar seu papel interagindo criativamente com a criança.

I. Papel do adulto no ato de brincar

Para exercitar plenamente a ação do brincar na escola é necessário que as educadoras

e os educadores da Infância tenham claro o seu papel nesse processo, que é o de possibilitar

oportunidades de brincar espontaneamente e apresentar modelos para serem imitados. Além

disso, auxilia a criança a ampliar um repertório motor, instrumentalizando-a para que possa agir

sobre o ambiente e, assim, realize ações e se comunique conforme os signos e símbolos da

sociedade a qual pertence (OLIVEIRA et. al, 2013). Sua função mediadora é exercida

intencionalmente na organização de espaços, materiais estimulantes e adequados à faixa

etária, acompanhamento contínuo, interação com a criança e observação do processo de

desenvolvimento. Dessa forma, para observar como se dá a brincadeira é preciso que as

educadoras e os educadores da Infância adotem uma postura brincante (BRASIL, 2012), se

coloquem à escuta, ampliem o olhar, se sensibilizem pelo brincar, levem a criança a sério, como

sujeito potente e de direitos sociais, capaz de desenvolver-se integralmente, respeitando o

tempo, a cultura em que está inserida e a sua criatividade.

II. Diferentes formas de brincar, brinquedos e brincadeiras

Nessa perspectiva não se pode deixar de pensar na relevância de ofertar diferentes

materiais para exploração e manipulação, dependendo da intencionalidade do adulto nas

situações de aprendizagem. Os materiais não estruturados irão possibilitar à criança inúmeras

situações que potencializem sua criatividade no ato de ressignificar os signos e símbolos que o

objeto carrega. “Brincadeiras com sucatas e blocos desenvolvem a criatividade e tais materiais

ganham formas variadas nas mãos das crianças, que por meio deles expressam sua visão de

mundo” (BRASIL, 2012, p. 41). Afinal, “[...] tudo o que para o adulto é resto, detalhe,

descartável, nas mãos da criança torna-se meio de reconhecimento de si e do mundo”

(SCHLESENER, 2011, p.132). Aqui não se trata de excluir os brinquedos industrializados, já

que direcionam os modos de brincar, mas de priorizar modos de brincar que propiciem à

criança colocar toda a força do pensamento em suas criações e recriações.

43

De acordo com Oliveira (2008), a criança em seu desenvolvimento passa das relações

concretas para as associações com conceitos construídos culturalmente nas situações que

experimenta, tornando-se capaz de agir em um mundo imaginário em que o significado é

determinado pelas relações com o contexto e não pelos elementos concretos presentes. Por

esse motivo é que a brincadeira de faz de conta se torna fundamental para a construção do

pensamento abstrato, pois a criança vivencia, muitas vezes, papéis acima de suas capacidades

reais ao tentar desempenhar uma conduta regida por regras sociais pré-estabelecidas. Então,

pode-se afirmar que o brincar é a forma mais significativa da criança se desenvolver e se

apropriar do mundo ao qual está inserida, visto que “[...] a criança apreende o mundo com o

exercício permanente da imaginação, da fantasia, da sensibilidade” (SCHLESENER, 2011,

p.134).

6.2.3 Interações

O ponto de partida para a discussão sobre as interações será a partir da concepção de

criança adotada pelas DCNEIs, que afirma que a criança é sujeito histórico e de direitos que,

nas interações, relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói sua identidade pessoal e

coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e

constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura.

...desde o início da vida, as relações são construídas a partir das

interações, isto é, de ações partilhadas e interdependentes. Essas ações

se estabelecem por meios de processos dialógicos, nos quais cada

pessoa tem seu fluxo de comportamentos continuamente delimitado,

recortado e interpretado pelo(s) outro(s) e por si próprio, através da

coordenação de papeis ou posições, dentro de contextos específicos”

(ROSSETI FERREIRA, 2004, p. 24)

Para Lev Vygotsky (10 novembro de 2008), pioneiro na análise de que o

desenvolvimento intelectual das crianças ocorre em função das interações sociais, duas linhas

se entrecruzam no desenvolvimento da pessoa humana: o desenvolvimento biológico e o

desenvolvimento cultural. Isso significa “compreender que a singularidade do ser humano,

enquanto um sujeito histórico-social se constitui através das relações sociais, pela ação do

trabalho e pela utilização de elementos semióticos”.

44

Para o autor, o processo de interação pressupõe a existência de uma ação partilhada

entre os sujeitos, na qual ambos se constituem em sujeitos ativos. Tal processo, de cunho

essencialmente social, precisa ser compreendido dentro de uma dinâmica entre os sujeitos, na

qual os significados emergem em decorrência de uma ação conjunta, resultante dos

(des)encontros de diferentes níveis de conhecimento. O desenvolvimento e a aprendizagem

das crianças vão sendo potencializados pelas divergências, pela comparação e defesa de

hipóteses e por (des)acordos. É importante salientar a ideia de que, quando se fala em

interação no contexto escolar, temos presente, além da relação entre educadoras e educadores

da Infância e criança, também a que ocorre entre pares como um momento privilegiado para o

desenvolvimento dos sujeitos. Interação essa que compreende um processo cooperativo entre

os sujeitos envoltos numa situação comum. Entretanto, é necessário romper com uma visão

simplista de que todas as interações provocam ou desencadeiam processos de

desenvolvimento e aprendizagem, ou até mesmo possuem um valor formativo,

independentemente se essas acontecem no contexto escolar ou no contexto social mais amplo.

Nessa perspectiva, é tarefa da escola, palco das interações, e, no particular, é

responsabilidade da educadora e do educador da Infância, criarem situações de interações

cotidianas que provoquem nas crianças a necessidade e o desejo de vivenciar e experimentar

situações de aprendizagem como conquista individual e coletiva, a partir do contexto particular

e local, de forma espontânea, rica, criativa e agradável, preservando o prazer da descoberta e

da alegria contida nas atividades. “Situações que “ampliem a confiança e a participação das

crianças nas atividades individuais e coletivas” (Parecer CNE/CEB n167 20/2009).

Nesse processo, as crianças compartilham suas vivências e conhecimentos, tornando-se

não só meros receptores da cultura que os cerca, mas sim sujeitos ativos no processo, se

apropriando e reinterpretando seus elementos (BORBA, 2006). Desse modo, entende-se que a

criança, por meio da interação com os pares, não só se apropria da cultura advinda dos outros,

como também produz cultura. Assim, as produções de cultura infantil se dão por meio das

relações estabelecidas pelas crianças, resultado da interação e socialização entre os pares. No

dizer de Sarmento (2003, p. 8), “as culturas da infância constituem no mútuo reflexo de uma

sobre a outra das produções culturais dos adultos para as crianças e das produções culturais

geradas pelas crianças nas suas interações de pares”.

Para tanto, ao oportunizarmos os momentos de interação na escola devemos garantir

que elas aconteçam por meio das seguintes situações:

As crianças entre si – A cultura infantil só acontece quando asseguramos que os

espaços e as práticas educativas viabilizem a interação entre parceiros com diferentes

45

níveis de experiências. Isso rompe com a ideia de turmas homogêneas e aponta para a

heterogeneidade como mecanismo propulsor de desenvolvimento. É essencial para dar

riqueza e complexidade às brincadeiras.

As crianças e o ambiente – A posição de Lev Vygotsky sobre o papel do ambiente no

desenvolvimento da criança rompe com a ideia acerca da determinação do primeiro

sobre o segundo, pois tanto a criança quanto o ambiente estão num constante processo

de mudança e, desse modo, se influenciam mutuamente. As mesmas condições

ambientais - em crianças diferentes e em diferentes fases de desenvolvimento - podem

exercer diferentes tipos de influências, assim como provocar diferentes atitudes,

dependendo também do significado que cada criança atribui às situações vivenciadas e

do nível de consciência que ela possui em relação aos acontecimentos. Cada criança

interpreta, vivencia e se relaciona com as situações de forma particular. Já é consenso

que quanto mais lhes forem dadas condições de estabelecer interações com o outro,

com o seu entorno físico e sociocultural, maior será seu potencial de desenvolvimento e

aprendizagem.

As crianças e os brinquedos - É importante salientar que a efetivação das

competências em vias de consolidação está condicionada também às condições

materiais desse sujeito. A existência de um ser humano construtor de sua história

individual, que é gestada a partir de uma coletividade em que as condições materiais e

práticas sociais são fundamentais para o desenvolvimento, tanto individual quanto

coletivo.

As crianças e os adultos – A ideia de educadora e educador da Infância mediador e

articulador implica concebê-lo como alguém que possui papel primordial: a função de

organizar, selecionar, planejar e propor situações de aprendizagem, conhecer os

verdadeiros interesses e as necessidades das crianças, tornando as interações mais

complexas e desafiadoras de modo que instiguem a interlocução e a partilha de

experiências e conhecimentos. As demandas da criança passam a ser compreendidas

pelo outro e ressignificadas pela própria criança. É preciso haver um projeto político

pedagógico que coloque foco nas interações, valorizando-as e observando-as

cotidianamente como fonte de registro e reflexão.

As crianças e as brincadeiras - Uma das formas mais ricas de favorecer a interação e

consequentemente as trocas de saberes é pelas brincadeiras. Segundo o artigo 9º das

Diretrizes Curriculares Nacionais para a educação Infantil (DCNEI), os eixos norteadores

das práticas pedagógicas devem ser as “interações e as brincadeiras”. Assim, a principal

46

ação da criança é o brincar. As interações e brincadeiras acontecem como processo

dinâmico, indissociável; interagir e brincar são linguagens naturais das diferentes

infâncias. A interação que a brincadeira promove entre as crianças possibilita a aquisição

de valores como cooperação, respeito, responsabilidade e amizade, além de

reconhecimento das diferenças e da diversidade, dando novo significado e prazer a sua

prática. O ato de brincar tem função primordial de vincular a criança com a cultura e,

assim, inseri-la no mundo social. Nas brincadeiras as crianças produzem ações em

contextos sócio-histórico-culturais reais que favorecem a seus integrantes, não só um

conhecimento comum, mas a segurança de pertencer a um grupo e partilhar da

identidade que o mesmo confere a seus membros.

As crianças, as instituições e as famílias – Essas relações possibilitam vínculos que

favorecem um clima de respeito mútuo e confiabilidade, gerando espaço para o trabalho

e a identificação da cultura popular da criança e de sua família, de suas brincadeiras e

brinquedos preferidos. É importantíssimo que a comunidade escolar como um todo

esteja convicta da importância dessas interações para que esses espaços e tempos da

escola sejam ricos e pulsantes.

O processo de desenvolvimento da criança envolve, portanto, uma contínua negociação

de significados entre os atores em interação, em que as diferentes culturas são interpretadas e

reinterpretadas de forma ativa pelos indivíduos. Ao mesmo tempo, essas diferentes culturas,

que de alguma forma se modificaram, são constantemente internalizadas e externalizadas no

contexto sociocultural.

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49

7. Saberes Essenciais

Considerando a escola como espaço de ampliação da experiência humana, não

devemos limitar as experiências da criança, mas sim, pensar numa escola aberta aos saberes

contemporâneos da macro e micro sociedade. Esse currículo, que se pretende democrático,

visa também a formação do cidadão e da humanização de todos.

A partir da perspectiva da pedagogia crítica, acreditamos na importância de ampliarmos

nosso campo de ação nas escolas também no que se refere ao que contemplamos nos

processos de construção do saber. Assim, acolhemos a proposta de trabalhar com os “Saberes

Essenciais” aos seres humanos, no que preconiza as DCNEI para o trabalho com a Educação

Infantil, considerando que os saberes são socialmente constituídos, na relação do sujeito

consigo, com o outro, com o meio e com a ressignificação a partir dessas relações. Dessa

maneira, entendemos que abordagens como “áreas do conhecimento” ou “campos de

experiência” necessitam ser repensadas, pois tendem a reduzir a amplitude das possibilidades

que ocorrem nas vivências e experiências do cotidiano.

Uma das grandes questões é definir quais saberes devem ser vivenciados e

compartilhados, o que é relevante, essencial para fundamentar e orientar a prática pessoal e

coletiva. Os saberes essenciais dialogam com a produção do sentido e com a leitura de mundo

que se faz, daí a busca de saberes que ajudem não só o educando, mas também as

educadoras, os educadores e a comunidade, ajudando-os a se tornarem seres integrais. Desse

modo, ressalta-se que a interlocução entre os saberes regionais, locais e familiares merece ser

valorizada no interior das escolas com a mesma intensidade que os saberes eruditos,

formalizados como patrimônios da humanidade, de reconhecimento nacional e mundial.

A reflexão acerca de quais saberes são necessários para a construção de uma escola

significativa é fundamental, pois é também um dos elementos que forma a estrutura da ação

pedagógica e quase sempre representa a síntese da atividade do ser em busca da sua

humanização enquanto reconhecimento do desenvolvimento físico, mental, emocional,

espiritual, ético e social, em condições de liberdade e de dignidade.

Os saberes essenciais, fundamentais para o processo de humanização, são derivados

dos saberes de referência da diversidade e singularidade, os saberes artísticos, científicos e

tecnológicos, os comunicativos e os socioambientais. Para isso e nessa condição, a educação

infantil prepara-se para garantir às crianças vivências e experiências diversificadas,

50

desafiadoras, sensíveis e criativas, valorizando as interações, a brincadeira e sensações como

fonte de desenvolvimento e de descobertas. Por considerarmos importantes esses saberes é

que desejamos que as educadoras e os educadores da infância os internalizem e não que

apenas “passem por eles”.

É importante salientar que em relação aos saberes matemáticos, entende-se que, no que

condiz às propostas voltadas a educação de crianças de 0 a 3 anos, há a apropriação de

conceitos através das experiências e vivências das mais variadas, que perpassam os demais

saberes. É através da experienciação e exploração corporal e espacial, das relações entre os

seres, ambientes e objetos que a criança tem a oportunidade de resolver problemas. Dessa

forma, não há segmentação de conhecimentos matemáticos a serem ensinados e

sistematizados. Esse conhecimento deve ser valorizado como instrumento para interpretação

das coisas que rodeiam nossas vidas e o mundo, formando assim pessoas conscientes para a

cidadania e a criatividade, e não somente como memorização, alienação e exclusão.

O movimento corporal bem como toda forma de expressão da criança ocorre por meio do

e com todo o corpo, a todo instante, sendo importante o olhar atento do profissional para

permitir e viabilizar movimentações livres, desafiadoras, expressivas e comunicativas.

Nesse sentido, a prática da professora e professor de Educação Física na educação

infantil deve levar em consideração tal característica, assim como a condição da criança como

sujeito histórico e cultural, produtor de sua identidade. A função dessa professora e professor,

integrado ao ambiente educacional, é, portanto, viabilizar para as crianças experiências

significativas que articulem o conhecimento do patrimônio cultural produzido pela humanidade

com os elementos próprios da cultura da criança, permitindo sua incorporação no seu processo

de construção identitária em andamento. Na mesma medida, a presença desse profissional

nesse segmento educacional se justifica pelo seu conhecimento específico dos temas da

cultura corporal, conhecimento que deve enriquecer as experiências promovidas para as

crianças sem dar margem às práticas isoladas, desconectadas ou desarticuladas do processo

educacional promovido pela escola.

Quanto à mobilização dos saberes na ação educativa é importante que não haja

fragmentação dos conhecimentos, pois têm entre si vários pontos que os aproximam e, tanto o

conhecimento popular, quanto o erudito devem ser valorizados no currículo, uma vez que

ampliam a formação das crianças, das educadoras e dos educadores.

A manifestação e a apropriação dos saberes pelas crianças, educadoras, educadores e

familiares necessita ser permeada pela ação da escola por meio do diálogo, das manifestações

culturais diversas e da imersão em ambientes ricos em diversidades. De acordo com Paulo

51

Freire (Abertura do Congresso Brasileiro de Leitura – Campinas, novembro de 1981): “O ato de

ler o mundo implica uma leitura dentro e fora de mim. Implica na relação que eu tenho com esse

mundo”.

Para que o desenvolvimento e a aprendizagem se realizem de forma adequada é

necessário que as experiências propostas sejam diversificadas, que oportunizem a interação

com o mundo de diversas formas e em diferentes momentos.

Toda pessoa se desenvolve de forma integral e a relação dos saberes e conhecimentos

necessários ao trabalho educativo perpassa pelos saberes experienciais relacionados ao

contexto sócio histórico de cada um. Além disso, temos a corporeidade ativa como outra grande

dimensão norteadora das ações com as crianças, portanto, só compreendemos o sujeito

quando consideramos suas potencialidades físicas, emocionais, cognitivas, sociais e culturais.

Nenhuma dessas necessidades e interesses deve ser deixada de lado ou esquecida.

A ampliação de oportunidades de experimentação do mundo surge a partir do

movimento, das relações afetivas, da expressividade, pelas diferentes linguagens culturais e

precisam ser exploradas no tempo e espaço escolar. O trabalho com os princípios éticos,

estéticos, políticos são oportunidades de desenvolvimento que podem resultar em mudanças de

percepção de si próprio, e as de vivência coletiva. A consciência de si como ser de cultura e o

acolhimento à diversidade, se explorado no currículo, poderá modificar o ser humano na escola

e na sociedade.

O sujeito envolvido no processo educacional, com essa troca de vivência e experiência

coletiva, deixa sua condição passiva de simples reprodutor do saber para exercer um papel de

produtor do conhecimento. Passa a ser sujeito de seu processo de aprendizagem e mediador

das relações humanas. Acima de tudo poderá exercer o saber da prática reflexiva e

investigadora, integrados à realidade de forma participativa, crítica e transformadora. Organizar

ambiente e espaço de relação para as crianças apreenderem sobre as representações

simbólicas do universo humano. Transformar as práticas pedagógicas em oportunidades

potentes, para que os educandos, as educadoras e os educadores da infância sejam sujeitos

de sua história e coparticipes do processo educativo. Tempo de estar junto, fazer-se presente.

52

SABERES POPULARES E SABERES ERUDITOS

fig 1 - Saberes essenciais - Populares e eruditos

Partindo do pressuposto de que a criança é um sujeito histórico e potente, a escola

necessita educar para a sensibilidade e estética. Dessa forma, é dever da escola romper

historicamente com a ideia de que a criança era considerada uma tábula rasa, sem fala, sem

direitos, ou ainda um sujeito a vir a ser. A criança está aqui e o tempo presente é o agora!

Assim, deve-se possibilitar na proposta curricular espaço para a produção cultural dos

saberes populares legitimados, permitindo seu diálogo com os saberes eruditos, tornando–os

integrantes do currículo, instrumentos de ação na vida das crianças, capazes de promover a

ampliação da cultura e da concepção de mundo.

Levar em conta os saberes da comunidade escolar bem como do entorno são

necessários a uma prática que comunga com a sensibilidade, o diálogo e a partilha. Nas

palavras de Paulo Freire essa “comunhão” propriamente dita se concretiza a partir do momento

que os nossos saberes se entrecruzam possibilitando o reconhecimento e o sentimento de

pertencimento.

A erudição necessita, portanto, ser encarada como patrimônio material e imaterial da

humanidade à disposição das crianças e comunidade escolar, como instrumentos de fruição,

53

pesquisa, elaboração e reelaboração de percursos e histórias, de maneira acessível e que

permita aos sujeitos a apropriação de seus sentidos.

Os saberes populares devem ser levados em consideração tanto quanto os saberes

eruditos, salientando que não se trata de hierarquização de saberes, ou seja, devem ser

legitimados de forma igualitária considerando as suas peculiaridades. Não estamos buscando

uma igualdade epistemológica entre tais saberes, mas a pluralidade dos mesmos,

considerando-os como possíveis e válidos dentro do contexto da escola, buscando uma inter-

relação entre eles, de forma a contribuir para a construção do conhecimento e no

desenvolvimento das crianças.

Diferentes saberes coexistem nas pessoas e se enriquecem no encontro dos sujeitos.

Como educadoras e educadores, nos tornamos mais humanos, construímos a nossa história, a

alegria de conviver e o sentido de nossas vidas.

A manifestação e a apropriação dos saberes pelas crianças, educadoras, educadores e

familiares necessita ser permeada pela ação da escola através do diálogo, da valorização das

manifestações culturais diversas e da imersão em ambientes ricos em diversidade.

Assim, o desafio é construir nesse emaranhado complexo uma história viva e coletiva,

em que os saberes possam ecoar, ressoar, provocar; ou ainda, de forma mais ampla e

significativa, provocar enredos, inquietações e curiosidades que fomentem o exercício da

cidadania.

Uma sociedade que busca resgatar seus saberes pode garantir não apenas a

sobrevivência de uma coletividade, mas um referencial de humanidade e de civilização. Para

ser sujeito e autora de sua história é importante que a criança se aproprie do conhecimento

acumulado pela humanidade tanto quanto o seu próprio conhecimento, e desenvolva as

condições para produzir novos saberes.

54

fig 2 - Saberes essenciais - Populares e eruditos

7.1 Diálogos e práticas educativas

As educadoras e educadores da infância, na escolha intencional das propostas que

serão desenvolvidas, devem levar em consideração o grupo de crianças envolvidas, a

organização dos ambientes que acolherão a proposta, o contexto escolar, o desafio que será

proposto e as experiências que deseja proporcionar para livre expressão das linguagens da

criança, levando-se em consideração a existência dos diferentes saberes em uma única

proposta. A divisão dos saberes não é estática. As ações contínuas devem ser pensadas

visando a brincadeira, interação, corporeidade e autonomia.

É importante que as propostas ocorram ora individualmente, ora na coletividade, pela

livre escolha da criança em agregar parceiros ou organizar-se sozinha. A escolha dos parceiros

pela criança ocorre na diversidade das idades, e não apenas na divisão da faixa etária, por

grupos.

O trabalho deve ocorrer sem tempo de espera pela criança, descentralizado da figura do

adulto.

Promoção de experiências em artes visuais, gráficas, música, cinema, dança, arte dramática, expressão corporal.

Utilização de recursos tecnológicos e midiáticos, experimentações e transformações

Promoção e valorização da linguagem oral e gestual da criança por meio de experiências significativas, criativas e

expressivas utilizando textos literários, narrativos, poéticos, etc.

Valorização do contato das crianças com a natureza fortalecendo o elo de pertencimento; vivências e experiências de preservação e cuidado consigo e com o outro, com o meio e a biodiversidade com imersão e

em propostas corporais, espaciais e estéticas.

Valorização da cultura local, das culturas brasileiras e universais por meiode vivências e experiências sensoriais, corporais e expressivas.

Reconhecimento da individualidade e da diversidade por meio de propostas individuais e coletivas.

S A B E R E S

P O P U L A R E S

E

E R U D I T O S

ARTISTÍCOS

SOCIOAMBIENTAIS

DIVERSIDADE E SINGULARIDADE

COMUNICATIVOS

CIENTIFÍCOS E TECNOLÓGICOS

55

7.1.1 Saberes Artísticos

Alguém só se torna marceneiro Tornando-se sensível aos signos da madeira

e médico tornando-se sensível aos signos da doença.

Gilles Deleuze

Partimos do pressuposto de que as linguagens ocorrem no encontro de um corpo que

simultaneamente age, observa, interpreta e pensa num mundo imerso em linguagens, com

pessoas que vivem em linguagens, em um mundo social organizado e significado por elas. É

preciso que os as educadoras e os educadores sejam refinados tradutores e compreendam tais

linguagens. As crianças, por sua vez, são designers de linguagens cabendo ao adulto observar,

entender e, ao mesmo tempo, disseminá-las para todos.

Em artes, a atividade da criança deve ser caracterizada pelo exercício das possibilidades

corporais, de exploração, de movimentação e ação no mundo. A descoberta das sensações do

próprio corpo e das possibilidades de movimentos ao agir sobre os materiais plásticos são

muito prazerosas para as crianças. Isso, em si, já justifica a presença das experiências com a

linguagem visual na Educação Infantil. Além disso, o trabalho de produção plástica permite à

criança imprimir suas marcas no mundo e ser reconhecida como produtora de cultura.

Em artes visuais as educadoras e educadores da infância devem priorizar propostas

voltadas a:

Valorização e ampla utilização de experiências com tintas (caseiras e industrializadas),

melecas, argila, barro, areia, elementos da natureza diversos, massa de modelar

(caseiras e industrializadas), canetas coloridas, giz de cera (caseiro e industrializado),

carvão e demais materiais que proporcionem marcas artísticas e expressem a

individualidade da criança.

Utilização de diferentes suportes e diferentes recursos para produção das marcas

artísticas: papéis, caixas, telas, paredes, tecidos, jornais, rolos de pintura, pincéis,

diferentes partes do corpo, bexiga, esponjas, elementos da natureza e demais recursos

criativos que possam proporcionar a produção artística.

Organização de ambientes que deem oportunidade para as crianças desenharem em

diferentes superfícies deixando marcas sobre áreas de diferentes texturas, formas e

tamanhos.

56

Utilização de diversos recursos para o desenho com cores, texturas, formas de tamanhos

diversos.

Exploração, incentivo e valorização de diferentes posturas corporais na realização das

produções artísticas (em pé, deitado, sentado, em baixo de mesas, etc.), fugindo de

posturas escolarizadas na realização das propostas. Utilizar chão, estruturas aéreas,

paredes, cavaletes, cabanas de tecidos, dentro de caixas, etc., como base de apoio para

a realização da produção artística.

Em relação ao trabalho com bebês é importante garantir que eles visualizem imagens

diversas. Utilização de objetos e imagens em diferentes planos oferecem ricas

experiências visuais. Imagens plastificadas e fixadas no chão possibilitam que os bebês

interajam com elas ao engatinhar.

Variação da luminosidade da sala a fim de propiciar brincadeiras com luzes e sombras

que permitam às crianças investigarem e brincarem com esses elementos.

Estímulo à apreciação das próprias produções, de outras crianças, de familiares, de

artistas locais e de diversos períodos e estilos por meio de exposições feitas na sala da

criança, nos corredores e demais espaços da escola, bem como em visitas a outros

espaços onde haja exposições.

Valorização das manifestações artísticas de diferentes povos.

Utilização, na escola, de murais na altura da criança para facilitar a visualização. Pode-se

também utilizar de outras formas de exposição que estimulem o prazer da criança pela

apreciação artística.

Utilização de metodologia que incentive a escolha, a ludicidade, a interação e a

expressividade de cada criança que promova desafios ao mesmo tempo em que acolha;

que permita tempo de criação, diálogo e deslocamentos pelo espaço; que desconstrua a

existência de tempos de espera para a realização das propostas.

Incentivo de pesquisa com água, líquidos coloridos e outros materiais.

Valorização e observação por quem que prepara o ambiente para as explorações para

garantir que reservem um espaço amplo, que permitam a circulação e a mobilidade das

crianças.

Uso de áreas externas e oferta de diversos recursos como areia, terra, plantas, pedras e

outros elementos naturais.

Organização do local da proposta de modo atraente para as crianças, para compor um

cenário convidativo. É fundamental garantir às crianças que os materiais estejam

57

acessíveis para que elas possam tomar decisões sobre qual utilizar, sobre o que fazer

com eles, etc..

Planejamento de propostas de atividades alternativas para aquelas crianças que, ao

terminarem sua experimentação/ criação, possam se engajar autonomamente enquanto

outras permanecem na atividade inicial, a fim de eliminar o tempo de espera.

A expressividade Corporal pressupõe que nossas histórias estão marcadas no corpo,

sejamos crianças ou adultos. Ao longo da vida, nossas experiências vão construindo nossa

corporeidade e a forma de sermos e estarmos no mundo (JHONSON, 1991). Segundo o autor,

não temos um corpo, nós somos nossos corpos constituídos e construídos a partir das relações

que estabelecemos conosco, com os outros e com o ambiente.

Em expressividade corporal as educadoras e os educadores da infância devem priorizar

propostas voltadas a:

● Vivência de possibilidades de criação, de autoria, de protagonismo, favorecendo a

educação de corpos que sejam lúdicos, relacionais, críticos.

● Incentivo para que as crianças brinquem com seus corpos, inventem suas danças com e

a partir de suas histórias corporais. A primeira delas é trabalhar com os próprios

elementos da linguagem da dança: o espaço, o corpo, os ritmos, as ações corporais, os

relacionamentos, etc..

● Realização de atividades que permitam que as crianças criem personagens, brincadeiras

corporais.

● Utilização de materiais diversos, além da música, com o objetivo de promover a criação

de movimentos que interajam com esses sons.

● Realização de atividades expressivas que busquem a criação de movimentos

coordenados (dançar em duplas, em trios, grupos maiores, em roda, etc.).

● Utilização de espelhos nas salas e em diferentes espaços da escola, de forma que a

criança possa ver-se constantemente na realização de seus fazeres, promovendo o

reconhecimento da autoimagem.

A Música, principalmente a voz humana, brincadeiras cantadas e acalantos, no dia a dia

das crianças é fundamental para que elas possam compreender e construir seu cotidiano e seu

mundo a partir da linguagem sonora. As crianças estão envolvidas no universo sonoro desde

tenra idade. No fazer musical, as crianças percebem ritmos e sons e como estes podem ser

arranjados, desenvolvendo a sua própria imaginação musical. Não podemos reduzir o trabalho

com música utilizando-a como auxílio na organização de atividades relacionadas à hora da

alimentação e higiene das crianças. Torna-se necessário e fundamental que a música não se

58

reduza a aspectos de disciplinarização da infância e controle do corpo na rotina escolar. A

educadora e o educador da infância precisam estar atentos para perceber o modo como bebês

e crianças se expressam musicalmente em cada período de suas vidas.

Os eventos relacionados a fechamentos de projetos institucionais não devem se resumir

a uma ação isolada da escola. Nesse sentido, as datas comemorativas fazem parte de uma

construção histórica, no entanto, o que permeia um determinado evento histórico necessita ser

contextualizado e vivenciado pelas crianças no decorrer do ano e não visto como uma tarefa

ocasional.

Em música as educadoras e os educadores devem priorizar propostas voltadas a:

Promoção do contato com outros gêneros musicais, de outras culturas e, principalmente

com os sons de todas as partes do mundo, considerando também o que a criança porta

advindo de seu contexto social, familiar, cultural.

Criação de instrumentos sonoros, trabalho vocal com canto entre as crianças e

pesquisas sonoras, de modo a não tornarmos os espaços destinados à educação infantil,

meros reprodutores de músicas amplamente exploradas pelas mídias televisivas e

rádios, e devemos cultivar com elas um ouvido “pensante” e criador, e em ambientes

onde as músicas escolares cedam espaço para outros sons.

Utilização dos instrumentos musicais convencionais a partir do livre manuseio e de

formas diversificadas, à escolha da criança, de maneira que possam descobrir as

diversas possibilidades de produção sonora, convencional e não convencional.

Criação e construção de forma coparticipativa e colaborativa entre crianças e adultos, de

instrumentos musicais não convencionais a partir de materiais diversos como elementos

naturais e objetos que possam ser reutilizados.

Ampliação do repertório de brincadeiras de roda cantada, acalantos, parlendas e trava-

línguas.

Pesquisa, pelas próprias crianças, de novas formas de fazer sons com o próprio corpo

(bater palmas, esfregar as mãos, estalar os dedos, bater os pés no chão, criar ruídos

com a boca, etc.).

Produção de histórias sonoras criando com as crianças intervenções ao longo de uma

narrativa utilizando a própria voz, o corpo, diversos objetos e instrumentos musicais.

Exploração, pesquisa e apreciação de sons e músicas em diferentes espaços da escola

(internos e externos), garantindo que haja ampla circulação e movimentos livres durante

sua realização.

59

Pesquisas comparativas, pelas crianças, relativas à existência de sons e silêncio.

Apreciação e imersão em músicas e estilos musicais de repertório folclórico local.

O Teatro é um acontecimento de cultura, não se tratando de eventos esporádicos

apenas, envolve ricos processos de criação de todos os envolvidos, ainda mais, daqueles que

participam não somente da encenação, mas dos que assistem às peças, sejam quais forem e

como acontecerem, independente de sua faixa etária.

Assim, pode-se falar de situações teatrais com meninos e meninas da primeira infância?

Essa indagação, na verdade, é uma provocação ao pensar que o teatro para crianças

pequenas está muito relacionado com a sua linguagem corporal e ao ato de imitar.

Dessa forma, “fazer teatro” na primeira infância pressupõe cair por terra toda a ideia de

representação, considerando a vivência que pode ser expressa no corpo.

Em teatro as educadoras e os educadores da infância devem priorizar propostas voltadas

a:

Incentivo a situações em que o imaginário, ou ainda, a brincadeira de faz conta se faça

presente, possibilitando que as crianças criem a partir de seus próprios conhecimentos,

ou seja, não nos interessa aqui neste momento criar um enredo, com personagens ou

histórias já prontas, em que cabe a criança muitas vezes representar algo muito distante

do que lhe é peculiar.

Observação e modificação do ambiente, a partir das situações trazidas pelas crianças,

fomentando o uso de objetos, luzes e ampliando a possibilidade da criação de enredos e

cenários que se fazem a partir da criança e com ela.

Estímulo para que a linguagem teatral permeie várias situações no cotidiano da criança,

seja na história, na brincadeira, na expressão plástica, na linguagem musical e no

movimento, em diferentes espaços da escola (interno e externo).

Realizações de dramatizações entre adultos e crianças de diferentes idades, de forma

lúdica, utilizando-se, como ponto de partida, o repertório da criança.

O Cinema é um recurso bastante rico para as crianças dessa faixa etária. Nossas

crianças podem produzir filmes? Como a linguagem do cinema e da vídeogravação podem

fazer parte do cotidiano das crianças da Educação Infantil? Uma coisa é certa, nossas crianças

já nasceram num mundo imerso nas tecnologias, e a escola não pode deixar de pensar sobre

esses artefatos que cada vez mais estão presentes no dia a dia.

Deve-se, ainda, ter muita atenção para que os filmes não sirvam apenas para momentos

de controle das crianças, reprodução aleatória de filmes e desenhos de consumo ou momentos

60

de descanso para os adultos. São situações que devem ser planejadas, fundamentadas e

estudadas pelas educadoras e educadores da infância antes de serem propostas às crianças.

Vale destacar que não se trata aqui de substituir ou mesmo interferir na prática

pedagógica das educadoras e dos educadores da infância, no entanto há que se considerar

que em determinadas situações os recursos tecnológicos podem se tornar facilitadores e

instigadores para a produção do conhecimento das crianças e a escola precisa possibilitar o

acesso.

Em linguagem cinematográfica, as educadoras e os educadores da infância devem

priorizar propostas voltadas a:

Utilização e valorização das gravações de vários momentos da escola para diversas

situações, tais como, fechamento de projetos, participações em eventos, contações de

histórias, reuniões de pais entre tantas outras possibilidades, e apresentação para as

crianças.

Incentivo para que as crianças, as educadoras e os educadores da infância filmem

momentos diversos dentro da escola, e que isto seja mostrado às crianças e estudado

pela comunidade escolar.

7.1.2 Saberes científicos e tecnológicos

Aproximar-se das ciências e das tecnologias por meio de experiências e vivências pode

permitir às crianças a inserção no mundo contemporâneo, fortemente marcado por estes

saberes, de forma mais ativa e protagonista, quando utilizados em parceria e colaboração com

os adultos e quando à criança é permitido fotografar, filmar cenas e situações do contexto

escolar e ver seu resultado exposto, quando participa dos processos de feitura de misturas,

melecas, observação dos fenômenos da natureza, construção de brinquedos e engenhocas,

entre outros.

Os saberes científicos e tecnológicos concebem que as mídias digitais oportunizam

várias possibilidades de trabalho na escola tanto pelas crianças como pelas educadoras e

educadores da infância. Compreende-se que ao se reportar as mídias, estamos falando de

qualquer tipo de arquivo que possa ser visto por meio de tablets, câmeras digitais, edição de

CDs e DVDs, internet, rádios, gravadores, computadores entre tantos outros que estão cada

vez mais acessíveis à comunidade escolar.

Do ponto de vista da prática pedagógica a videogravação pode ser um importante

instrumento para as educadoras e educadores da infância, pois ao ser revisitado permite-lhes

obter informações relevantes que os auxiliam a observar as ideias das crianças que circularam

61

pela escola. Assim, entendemos que esse instrumento pode ser um facilitador para que se

reflita sobre a expressão das crianças. Desta forma, recomenda-se que as mídias que estão

disponíveis em nossas mãos não possibilitem o esvaziamento e a naturalização do cotidiano

para que não nos tornemos apenas meros produtores e receptores de imagens que quando

armazenadas em computadores podem correr o risco de não serem vistas, dialogadas e

compartilhadas com a comunidade escolar.

Nos murais das escolas comumente encontramos fotos que vão contando em seus

fragmentos uma história e a vida que nela pulsa. Em algumas escolas já existe a prática de

compartilhar registros em reuniões de pais e a edição de projetos por videogravação entre

tantas outras formas de comunicar a todos o que se faz.

Fomentar o uso dos recursos tecnológicos pelas crianças pode trazer vários indicadores

da percepção delas sobre a escola. Santos e Nacarato (2014) apontaram o quanto à câmera na

mão das crianças possibilitou-lhes um “olhar” de como as crianças enxergavam a escola dando

pistas, levantando hipóteses e produzindo conhecimentos. Acredita-se que possibilitar às

crianças o uso das mídias para nos dizer sobre como elas veem o mundo pode trazer

empoderamento a elas, o desenvolvimento da autonomia e valorizar as crianças como sujeitos

produtores de cultura e o seu protagonismo infantil.

Em se tratando de recursos científicos e tecnológicos as educadoras e os educadores da

infância devem priorizar propostas voltadas a:

Vivências e experiências com os diversos estados físicos da água (líquido, sólido e

gasoso) nas propostas artísticas, comunicativas, sensitivas e contemplativas.

Observação e acompanhamento da terra como geradora de vida animal, vegetal e

mineral.

Uso e/ou criação de instrumentos para observação, experimentação, como lupa,

binóculo.

Feitura de misturas, provocando mudanças físicas e químicas na realização de propostas

de culinária, pintura, brincadeiras e experiências com água, terra, argila, etc..

● Apreciação e/ou observação de fenômenos naturais – chuva, vento, granizo, sol, nuvens.

● Observação das imagens produzidas pela escola seja por meio de fotos ou gravações.

● Incentivo ao uso da câmera fotográfica, gravador, computador, rádios, etc. pelas crianças

desenvolvendo a autonomia e valorizando-as como sujeitos produtores de cultura e o

seu protagonismo infantil.

● Valorização do uso do projetor de luz permitindo brincadeiras interessantes com o

trabalho com a luz e a sombra.

62

● Realização de propostas que oportunizem que as crianças se vejam, bem como os

amigos, estabelecendo uma relação de identidade.

● Observação sobre a necessidade de permissão/comunicação com a equipe gestora para

a divulgação de registros que por ventura necessitem ser compartilhados para estudos e

trabalhos além dos muros da escola.

● Utilização de metodologia que incentive a escolha, a ludicidade, a interação e a

expressividade de cada criança que promova desafios ao mesmo tempo em que acolha;

que permita tempo de criação, diálogo e deslocamentos pelo espaço que desconstrua a

existência de tempos de espera para a realização das propostas.

7.1.3 Saberes Comunicativos

“Na tribo, o velho é o dono da história, o adulto é o dono da aldeia e

a criança é a dona do mundo.”

Orlando Villas Boas

Os saberes comunicativos envolvem diversas linguagens. A criança pequena possui

desejo profundo de se expressar utilizando suas linguagens. A educadora e o educador da

infância precisam dar voz e ouvir essa criança, valorizando suas manifestações como

momentos de criação, contrapondo-se à padronização por vezes massiva no contexto escolar.

É com a percepção cinestésica do mundo e com o seu corpo em movimento, que a

criança tem a possibilidade de abrir caminhos de conhecimento, expressão e comunicação e

que podem utilizar das suas diferentes linguagens, que não necessariamente a verbal. Assim,

as crianças que conhecem as possibilidades de seus corpos em movimento, em diferentes

tempos e espaços, poderão estabelecer uma maneira pessoal de ser, estar e se comunicar no

mundo.

Considerando essas diferentes linguagens, as educadoras e os educadores da infância

devem priorizar propostas voltadas a:

● Respeito às características da faixa etária de zero a três anos, cuja necessidade de

movimento é fator importante para que haja escuta e atenção significativas.

● Respeito à linguagem como forma de brincar, relação mútua não compreendida sem

gestos, movimentos corporais, carícias, expressões faciais, olhares, onomatopeias,

63

melodias, ritmos que acompanham e são transcendentais para seu pleno

desenvolvimento.

● Valorização de momentos de leitura de diversos gêneros literários, proporcionados pelas

educadoras e educadores da infância e, também, pelas crianças, ocorridos em diferentes

ambientes.

Valorização de momentos de contação de histórias, proporcionados pelas educadoras e

os educadores da infância e, também, pelas crianças, utilizando diferentes recursos

(fantoches, fantasias, fotos, gravuras, objetos, etc.), ocorridos em ambientes internos e

externos.

Incentivo ao manuseio dos diversos portadores de texto, como gibis, catálogos, revistas

e de livros de qualidade, sendo esses os mesmos utilizados pelos adultos para leitura e

contação.

Participação em teatros, no ambiente da escola, como em outros espaços culturais.

Compreensão de que o teatro é um acontecimento cultural que pode envolver ricos

processos de criação. Assim, quando a criança participa da encenação, assiste às

peças, contribui na construção do cenário, ela passa por esse processo de criação.

Apreciação de imagens, fotos, figuras, criação de cenários, etc., de boa qualidade, e não

estereotipadas, em todas as propostas realizadas na escola.

Estímulo ao uso da câmera fotográfica pelas crianças para fotografar e para filmar. Essas

fotos e vídeos feitos pelas crianças podem compor o banco de imagem e ser utilizado

pelo educador na construção de painéis, portfólios, caixa de imagem, criação de

cenários, entre outros.

Consideração aos momentos de introspecção e silêncio da criança, como necessidade

para elaboração de conteúdos internos e de aprendizagem. Cada criança precisa de um

tempo diferente para desenvolver determinada ação e algumas, inclusive, precisam de

momentos ociosos, que não devem ser confundidos sobremaneira com “cantos do

pensamento”.

Deve-se respeitar o direito que a criança tem de não desejar estar o tempo inteiro em

atividades ou na coletividade.

Consideração, também, aos momentos de choro das crianças, visto que essa é mais

uma maneira de comunicação, sobretudo das crianças bem pequenas. O adulto precisa

estar sensível ao choro, buscando compreender o seu significado, acalmando a criança

64

quando necessário e deixando que ela chore quando assim preferir, demonstrando a sua

insatisfação, seu sentimento.

Utilização de palavras, canções, parlendas, poesias, rimas, trava-línguas, histórias, que

afiançam e ampliam a comunicação entre os seres.

Comunicação com a criança, de forma sensível e adequada, sobre as diversas questões

que aparecem no cotidiano escolar, como doença de colegas, afastamento ou troca das

educadoras e dos educadores da infância.

Valorização das narrativas infantis e tradução dessas em uma forma de linguagem que

devolva à criança a sensação de ser compreendida, ao mesmo tempo em que enriqueça

a sua capacidade de se comunicar. Quando o adulto se comunica com a criança

somente ou principalmente para regular seu comportamento (ordens, proibições), isso

não garante trocas linguísticas significativas. Mais do que preparar situações com

objetivo de desenvolver atividades linguísticas, a educadora e o educador da infância

devem garantir que a criança tenha, cotidianamente, momentos de diálogo

individualizado e em grupo, inclusive para que eles possam modificar sua prática a partir

do que as crianças comunicam sobre a mesma.

Percepção dos desenhos e pinturas infantis como linguagem, que deve ser

proporcionada cotidianamente, pois a criança comunica a realidade através de traços e

tintas, quando manifesta situações e emoções que não consegue comunicar com a

linguagem verbal. Ter o cuidado de não esperar que o desenho da criança se aproxime

de modelos e conceitos dos adultos para que esses os considerem como adequados,

belos, bons. Ao contrário, as pinturas e desenhos são importantes fontes de informação

sobre as crianças, desde que possam se manifestar livremente no uso de materiais,

cores, tipos de traçados.

Inserção de trabalhos manuais, como tear, bordados, costuras simples, esculturas de

argila e papel reciclado, confecção de brinquedos, entre outros, dentre as atividades do

cotidiano escolar, entendendo esses trabalhos também como possibilidades de

linguagem da criança.

Estimulo à linguagem musical de modo a cultivar com as crianças um ouvido pensante e

criador, fugindo da mera reprodução de músicas exacerbadamente exploradas pelas

mídias. Nesse sentido, as diversas propostas de sons e barulhos como chocalhos com

sementes diversas, cortinas ou painéis sonoros etc. são bem-vindas, no sentido de

aguçar na criança a percepção dos diferentes sons e ritmos.

65

Estímulo à produção de sons e barulhos com os diversos instrumentos musicais, com

outros objetos que não sejam instrumentos, mas que a criança utiliza para este fim, e

mesmo com o próprio corpo através de palmas, batidas de pés, entre outros. Gravar as

crianças cantando, os diversos sons da escola/cidade e reproduzir com elas também

pode ser uma proposta interessante para deixar que o corpo das crianças interaja com

esses sons.

Valorização dos diversos ritmos musicais existentes na cultura popular e erudita,

proporcionando que as crianças conheçam desde músicas clássicas a populares, fugindo

dos repertórios infantis.

Consideração ao que as crianças já sabem e conhecem como dança, levando em conta

o improviso, a criação de formas, o que as crianças trazem de seus universos familiares,

de maneira que estas possam inventar e reinventar suas danças, seus movimentos, a

partir do repertório que é o próprio corpo, sem que haja obrigação de exibi-los em datas

pré-definidas. O corpo que dança livremente, que constrói seus movimentos e

coreografias não deve ter seus gestos e desejos cerceados em expressões limitadoras e

disciplinadoras na execução de algo pronto.

Conscientização das educadoras e dos educadores de que a criança os imitam e que a

maneira com a qual a criança se expressa e se comunica sofre influências desses

adultos, que são modelo para a criança.

Valorização do direito de sonhar da criança, rompendo com qualquer tipo de julgamento.

A criança tem liberdade para fantasiar, criar e imaginar seus sonhos e principalmente em

realizá-los. A criança é movida pela curiosidade e fantasia e tem necessidade de ir além

das explicações convencionais.

Respeito e valorização da poética pela vida, direito a maravilhar-se, alegrar-se diante de

imagens poéticas criadas pelos seres.

Estímulo para que as crianças busquem experiências que as levem a questionar,

desafiar e solucionar problemas.

Promoção de situações de autonomia, criatividade e verbalização da criança,

respeitando o tempo de aprendizagem de cada uma.

Utilização de metodologia que incentive a escolha, a ludicidade, a interação e a

expressividade de cada criança; que promova desafios ao mesmo tempo em que acolha

que permita tempo de criação, diálogo e deslocamentos pelo espaço que desconstrua a

existência de tempos de espera para a realização das propostas.

66

Finalizando, proporcionar que a criança se expresse com tantas e diferentes linguagens

também é uma maneira de possibilitar que construam suas identidades e de valorizar as

diferenças entre elas, sejam em relação à ampliação de repertórios ou preferências. Quando a

criança pode se expressar livremente, utilizando a linguagem que deseja, tendo experiências

saudáveis e agradáveis com seu corpo, ela também desenvolve sua autoestima, pois sente que

é valorizada e compreendida em sua primeira necessidade básica em relação ao outro: se

comunicar. E a autoestima está intrinsecamente ligada ao desenvolvimento de autonomia, pois

o ser autônomo é o que se sente capaz de realizar uma ação.

7.1.4 Saberes socioambientais

“Se va enredando, enredando Como en el muro la hiedra

Y va brotando, brotando Como el musguito en la piedra Como el musguito en la piedra,

Ay si, si, si.”2

Violeta Parra

O contato direto com a natureza é de fundamental relevância no dia a dia da Educação

Infantil e precisa ser potencializado. Há de se perceber a vida que há dentro e para além dos

muros da escola. Considerar adultos e crianças seres da natureza é também uma forma de se

recuperar a dimensão biológica da espécie humana e podemos, com isso, dizer que não

vivemos sós no planeta Terra, mas que a compartilhamos com outras espécies. Pensar os

espaços abertos, proporcionar o contato com elementos do mundo natural, permitir que as

crianças brinquem com barro, areia, água, musgo, e perceba o vento, o sol, as nuvens, a chuva,

a diversidade da vida animal como insetos, aves e pequenos animais que compartilham do

espaço onde a escola foi inserida e seu entorno. É a partir da curiosidade e da vontade de

conhecer das crianças que suas personalidades serão construídas, de forma processual e na

constante interação com o outro. A criança, quando em contato com a natureza, faz da areia o

seu castelo, de uma simples joaninha a sua investigação e poesia. O contato com o verde lhe

permite perceber as modificações no ambiente, favorece uma aproximação e interação maior

2 Vai se envolvendo, envolvendo

Como no muro a hera

E vai brotando, brotando

Como o musgo na pedra

Como o musgo na pedra,

Ai sim, sim, sim.

67

com o meio natural. Assim, a criança reconhece e se reconhece como parte integrante da

natureza.

Considerando esses princípios, as educadoras e os educadores da infância devem

priorizar propostas voltadas a:

Proposição de experiências artísticas, tecnológicas, comunicativas e expressivas

diversas em contato com os espaços naturais presentes nas escolas, ao ar livre, na terra,

gramado, areia, sob e sobre árvores, plantações, sejam elas in natura ou com

intervenção humana (paisagismo, canteiros, vasos).

Proposição da livre escolha da criança em envolver-se com água, terra, ar, fogo, seja

pelo manuseio, experimentos mistos entre os elementos ou pela observação.

Potencialização da livre escolha pela criança de brinquedos da natureza: galhos, folhas,

flores caídas, sementes, poças de água.

Interação diária da criança, sozinha ou em grupos, à sua livre escolha, com barro, argila,

areia, promovendo a sintonia consigo e a relação com os elementos naturais.

Aproximação da criança aos cuidados com a terra, plantações, colheitas, como

protagonistas das ações, visando fortalecer o sentimento de pertença e cuidados de si e

de todas as formas de vida.

Interação com as diversas espécies em seu habitat (ex: insetos, aves e outros pequenos

animais), em jardins, gramado, hortas e árvores, possibilitando a relação de cuidado e

respeito com as diferentes formas de vida.

Valorização da relação entre os momentos de alimentação com a geração de vida pela

terra.

Plantio e cuidados com plantas diversas, comestíveis ou não.

Organização da escola de forma que adultos e crianças vivenciem práticas de combate

ao consumismo e de desperdício de recursos naturais, economizando energia e água por

exemplo, apagar a luz quando não houver ninguém no ambiente/sala, utilizar água de

forma consciente, sem desperdício.

Organização da escola de forma que adultos e crianças pratiquem os cuidados com o

ambiente, respeitando as formas de vida presentes (jardins, árvores, vasos, hortas,

insetos).

Organização das salas e ambientes internos da escola de forma que adultos e crianças

pratiquem os cuidados com organização e higiene necessários para a preservação da

vida.

68

Organização da escola de forma que adultos e crianças descartem o lixo em recipientes

apropriados quotidianamente.

Visitas aos parques, museus, hortos florestais, praças, que permitam e potencializem a

liberdade e interação das crianças com os ambientes naturais em sua diversidade nos

mais variados locais externos à escola.

Aproximação de fontes de informações para pesquisa tais como vídeos, livros, revistas,

internet como portadores sociais de informação não escolarizadas ou escolarizantes.

Garantia dos cuidados essenciais, propiciando à criança o bem-estar, segurança, saúde

e higiene, envolvidas em uma relação afetiva e de proteção, proporcionando sua

autonomia no decorrer do processo.

Percepção do próprio corpo, dos corpos das outras crianças, dos corpos dos adultos de

modo que a criança possa estabelecer relações respeitosas consigo e com o outro, por

meio de experiências sensoriais diversas com os elementos naturais.

Estímulo à livre movimentação e deslocamento pelos diversos tipos de espaço (aberto,

semiaberto, fechado), diversos tipos de solo e composições espaciais.

Proposição nas brincadeiras e nas interações, livre escolha de elementos iguais em

diferentes tamanhos e pesos e livre escolha entre elementos diferentes com tamanhos e

pesos variados.

Permissão de acesso e manuseio de instrumentos tecnológicos pelas crianças que

tragam seu protagonismo na captura e registro de áudios e/ou imagens da natureza e

suas manifestações.

Experienciação de propostas artísticas populares diversas como danças circulares, rodas

de samba, maracatu, jongo, entre outras, em contato com o ambiente natural, tal qual

originalmente estas culturas se manifestam.

Vivência de momentos de fruição e contemplação ao ar livre como piquenique,

acantonamentos, sempre que possível, com acompanhamento de um instrumento que

deve ser tocado ao vivo por um adulto, ou com audição de músicas dos mais variados

estilos.

Vivência de momentos desafiadores como escaladas, rolamentos, que possam ocorrer

de forma prazerosa nas brincadeiras e interações que ocorram entre as crianças nos

espaços externos da unidade.

7.1.5 Diversidade e singularidade

69

O principal elemento da escola é o ser humano e, por isso, temos um rol de diversidade,

pois cada um traz consigo as suas particularidades, especificidades, crenças, características,

desejos, sonhos, enfim, cada ser é único e carrega dentro de si um conjunto de referências

diferentes de todas as outras, a sua singularidade.

A diversidade da comunidade escolar vai muito além das diferenças visíveis, alcançando

as vivências e experiências pelas quais cada indivíduo passou.

Contudo, analisando o percurso histórico, podemos perceber que o contexto escolar está

repleto de concepções equivocadas, nas quais as diferenças encontram-se presentes e são

perceptíveis, porém por vezes ignoradas ou tratadas de forma preconceituosa. É importante ter

consciência das diferenças entre os indivíduos para, assim, organizar uma prática educativa

que considere todos os envolvidos sem distinção, mas respeitando e valorizando a

singularidade de cada um.

A diversidade, que é composta pela singularidade, não deve ser um obstáculo na rotina

escolar ou uma ameaça à identidade do outro, mas um instrumento que enriquece o dia a dia

das pessoas que fazem parte desse grupo, ajudando a formar pessoas melhores, cheias de

conhecimento e sem preconceito.

É preciso que cada ator envolvido no processo educativo (escola, comunidade e família)

assuma seu papel no enfrentamento às discriminações de qualquer natureza, saindo do espaço

de omissão, negligência e silêncio, garantindo uma educação de qualidade, humanitária e para

todos.

A escola precisa aprender a valorizar todas as formas de ser, a singularidade de cada

um, respeitando as diferenças e reconhecendo as diversas formas de viver e relacionar-se.

Quando a escola trabalha com a diversidade, ela mobiliza potencialidades. Somos

resultados das nossas experiências e das trocas com o outro.

[...] significa afirmar a diferença sem com isso destruir o outro, nem

mesmo destruir-se. O fato é que para afirmar o meu ‘eu’ não preciso

necessariamente passar pela negação do outro. (...) O outro, que é

diferente, não é algo que possa ou não deva existir. Ele existe. (ITANI,

1998, p.128).

Ao se trabalhar com a diversidade e singularidade, as educadoras e os educadores da

infância devem priorizar propostas voltadas a:

70

● Consideração dos diferentes costumes do entorno social, despertando o respeito pelo

outro, por meio da livre exploração de vestimentas, culinária, manifestações religiosas,

tradições, entre outros aspectos, permitindo que a criança brinque com fantasias e

adornos.

● Estímulo à promoção da diversidade, fortalecendo a formação da identidade em uma

educação que respeite, proteja e a incentive a partir da nutrição estética, utilizando fotos

e produções artísticas que ressaltem as manifestações culturais como capoeira, samba,

congada, maracatu entre outros.

● Utilização de metodologia que incentive a ludicidade, a interação e a expressividade de

cada criança, oportunizando momentos de fala e escuta.

● Valorização das manifestações culturais brasileiras estimuladas por vídeos, livros,

objetos culturais, brincadeiras, canções e jogos que remetem às tradições culturais de

suas comunidades e de outros grupos.

● Criação de tempos e ambientes que favoreçam o percurso criativo infantil através da

interação com o outro, com a literatura, com a música, etc..

● Resgate e contextualização da nossa cultura local por meio de outras culturas universais.

● Organização de propostas que tragam os idosos para o interior das escolas, de forma

que eles compartilhem suas experiências com as crianças, educadoras e educadores,

valorizando e reconhecendo sua importância na sociedade.

● Valorização e respeito à diversidade cultural afro-brasileira, num processo de afirmação

com as nossas raízes culturais.

● Valorização e respeito à diversidade e culturas indígenas, num processo de afirmação

com as nossas raízes culturais.

● Adequação dos materiais e espaços disponíveis, considerando a singularidade das

crianças com deficiências visuais, auditivas, físicas ou intelectuais.

● Garantia de ambientes que respeitem as especificidades de cada criança bem como

seus saberes e potencialidades.

● Respeito ao tempo e ao ritmo de cada criança, através do estímulo à exploração,

interação e direito de escolha.

● Diversidade de materiais, como brinquedos e livros que tragam para dentro da escola as

diferentes características físicas.

● Promoção da inclusão das crianças com deficiências, de modo que elas sejam

plenamente integradas nas propostas, coibindo práticas e falas preconceituosas. Esse

71

processo deve ser objeto de constante reflexão e intervenção no cotidiano da Educação

Infantil.

● Conhecimento da produção vinculada às raízes e culturas da comunidade escolar e seu

entorno.

● Resgate da identidade cultural do bairro e da cidade.

● Resgate de tradições culturais que as crianças ouvem em suas casas ou que elas

próprias vivenciam nos mais diversos campos: artes plásticas, literatura, comunicação,

teatro, música.

● Abertura da escola à cultura de seu território e ao intercâmbio da escola com produções

e produtores de cultura na sociedade, planejando visitas, passeios, etc..

● Realização de pesquisas com as famílias para conhecer suas origens étnico-histórico-

culturais, bem como suas diversas organizações, como meios de repertório para

planejamento de projetos, oficinas e socializações.

● Inserção das famílias no cotidiano escolar nas propostas escolares e projetos

institucionais, garantindo o acolhimento e a preservação de suas culturas, tradições, e a

diversidade das organizações familiares em sintonia e diálogo com as práticas escolares.

● Combate a toda forma de discriminação que devem ser objeto de constante reflexão e

intervenção no cotidiano da Educação Infantil.

● Realização de propostas, organização de ambientes e escolha de materiais que não

reforcem desigualdades e senso comum dentro da escola, e que respeitem a integridade

da criança e sua liberdade como indivíduo.

● Valorização das escolhas das crianças por brinquedos, brincadeiras e uso de espaços no

interior das instituições de Educação Infantil.

● Valorização da diversidade das culturas das diferentes crianças e de suas famílias, por

meio de brinquedos, imagens e narrativas que promovam a construção de uma relação

positiva com seus grupos de pertencimento.

● Fortalecimento do vínculo familiar através do acolhimento de todas as formas de

organização familiar no espaço escolar.

● Inserção das famílias no dia a dia escolar, de modo que a participação aconteça

rotineiramente, de forma efetiva, planejada e/ou espontânea.

● Criação de parcerias com outras instituições, como Casa da Cultura, Centro de

Referência de Assistência Social (CRAS), etc., viabilizando acesso a espaços e eventos

culturais, proporcionando às crianças novas perspectivas de vida, socialização e

sensibilização.

72

● Planejamento de ações coletivas e individuais através de diferentes formas de expressão

e/ou manifestação cultural, como a música, teatro, artes, dança.

● Planejamento de espaços mais acolhedores, integradores, críticos, dinâmicos e criativos,

que valorizem as vivências, as experiências, as parcerias e a confiança entre a

comunidade.

● Respeito e reconhecimento das diversas manifestações religiosas e/ou crenças ou a

ausência delas, livre de quaisquer julgamentos de valores e apologias.

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75

8. Organizando Tempos e Ambientes na Educação Infantil

Quando entramos em uma escola, as paredes, os móveis e a sua

distribuição, os espaços mortos, as pessoas, a decoração, etc., tudo nos

fala do tipo de atividades que se realizam, da comunicação entre os

alunos (as) dos diferentes grupos, das relações com o mundo externo, dos

interesses dos alunos (as) e dos professores (as)... (FORNEIRO, 1998, p.

232).

Quando falamos sobre a organização dos ambientes nas Instituições de Educação

Infantil sob a perspectiva de uma Pedagogia Crítica e emancipatória, estamos assumindo um

posicionamento político transformador que traz à tona a criança como centro do planejamento

curricular, como sujeito histórico e de direitos, competente e que produz cultura. Nesse sentido,

a organização do ambiente surge como um elemento curricular que revela nossas concepções

e valores acerca do que pensamos sobre educação, criança, infância e aprendizagem. A

maneira de organizar o ambiente constitui diferentes experiências e formas de aprendizagem.

De acordo com Forneiro (1998), o termo espaço refere-se apenas ao espaço físico e

estrutural, entretanto, precisamos ampliar esse foco e pensar no termo ambiente, que abarca

uma gama de relações que se estabelecem nos espaços, nas quais estão presentes as

relações interpessoais e os meios históricos e culturais; a qualidade e quantidade de materiais e

objetos, bem como suas formas de organização e utilização; a organização do tempo e da

rotina nesses ambientes; a polivalência e flexibilidade (o mesmo ambiente sendo reinventado

para diferentes experiências e funções); o tempo das atividades; as normas de uso e

acessibilidade dos ambientes, se os mesmos têm intencionalidade, se são planejados e

convidativos, se propõem desafios, se garantem a movimentação ampla, a autonomia, a

corporeidade, a brincadeira e as interações das crianças (inclusive de diferentes idades), se

configuram diferentes tipos de agrupamentos e garantem boas experiências. Verdadeiros

ambientes de aprendizagem devem conter sons, imagens, cores, formas, aromas e tudo o mais

que constitui a vida.

É importante também que a criança participe da organização dos ambientes, dando

sugestões de diferentes arranjos ou trazendo novas propostas a partir dos materiais disponíveis

e organizados pelas educadoras e pelos educadores da infância.

Planejar os ambientes de aprendizagem é criar e reorganizar diferentes cenários com a

ajuda de todos que atuam direta ou indiretamente, propondo inúmeras possibilidades, e isso é

76

papel das educadoras e dos educadores que observam, que sabem ouvir, que planejam, que

avaliam, que modificam os ambientes, que são atentos aos interesses e desejos das crianças.

Transformar os espaços em verdadeiros ambientes é reconhecer as necessidades das crianças

nos momentos planejados ou imprevistos, individuais ou coletivos. O ambiente pode, inclusive,

estender-se ao entorno da escola, à rua, ao bairro, à cidade. O importante é que sejam lugares

de ser, conviver, investigar, criar, crescer e aprender, ampliando experiências no mundo da

natureza e da cultura, produzindo e reconstruindo sentidos. Nesse contexto, o livre acesso da

criança aos espaços, a criação e a ampliação de ambientes a ela destinados, devem ser

garantidos.

Todas essas experiências de aprendizagem e desenvolvimento pessoal mostram a

importância da organização do ambiente de forma que sejam ricos, estimulantes, e que tragam

elementos condicionantes à efetiva educação emancipadora e de qualidade.

Quando pensamos nos fatores climáticos (se está quente, frio, chuvoso, etc.), no

planejamento dos ambientes internos e externos (além das salas de referência e nos usos

comuns), nas condições arquitetônicas (como, por exemplo, tipos de piso que favoreçam

brincadeiras com segurança, e na altura das janelas, para que as crianças vejam o entorno), no

mobiliário (flexibilidade, novos arranjos e uso dos mesmos), na diversidade de materiais

(naturais ou artificiais, quantidades, segurança, se são estruturados ou não, se favorecem a

autonomia e as interações), na acessibilidade das crianças, na liberdade de movimento, na

intencionalidade e critérios de organização para favorecimento da aprendizagem, estamos

colocando a criança verdadeiramente como centro do planejamento escolar.

Especificamente sobre os tipos de materiais, há que se ter um equilíbrio entre o uso dos

materiais naturais e industrializados, uma vez que, quanto mais naturais, mais colaboramos

para práticas pedagógicas que visam uma educação ética, calcada em produções artísticas e

na construção de novas aprendizagens com as crianças, que fazem uso criativo e belo do que é

simples, reaproveitável, sustentável, que faz parte do contexto de vida e que não foi pensado

para ser brinquedo, mas que, nas mãos das crianças, ganham propriedades imaginativas

incríveis.

De acordo com Tiriba (2010), as crianças só se constituirão integralmente se forem

sujeitos de seus corpos e de seus movimentos nos ambientes onde vivem e convivem,

rompendo com as relações de dominação etária e superando a obsessão de controle por parte

dos adultos. Nessa lógica, não faz sentido que as crianças permaneçam por longos períodos

em ambientes fechados, enfileiradas, ou sentadas em mesas e cadeiras, em momentos de

espera, aguardando comandos dos adultos, mas sim que vivam práticas pedagógicas atentas

77

às manifestações infantis, que priorizem as interações e brincadeiras, assim como apontam as

dimensões norteadoras das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (2009).

As brincadeiras e as interações são livres para as crianças, mas muito bem planejadas e

intencionais para educadoras e educadores da infância atentos, uma vez que estes observam,

planejam, interagem, incitam diferentes formas de brincar, trazem a cultura para dentro da

escola, lançam desafios, modificam e criam novos ambientes e em diferentes planos (alto,

baixo, sob, vertical, horizontal...) e tempos, para interesses das crianças. Se pensarmos na

corporeidade infantil, na movimentação ampla e na autonomia das crianças, não utilizamos os

ambientes e mobiliários para garantir o controle dos corpos e a disciplina. Uma mesa na creche,

por exemplo, pode ser usada como uma bancada de trabalho em que os materiais ficam

acessíveis às crianças, como uma cabana para brincar e contar histórias, como um obstáculo

numa atividade de circuito de movimento, numa perspectiva polivalente e criativa, e não para

cercear os corpos, controlando uma atividade em que todos devam permanecer sentados à

espera de orientações de um adulto. Ambientes bem planejados servem à experimentação e

investigação infantil e não a ordens verticalizadas.

Assim, é importante que as crianças desfrutem de ambientes convidativos,

aconchegantes, bonitos, arejados, confortáveis, seguros e organizados funcionalmente, que

ofereçam e ampliem as experiências com vistas ao desenvolvimento humano, afetivo, motor,

lúdico, estético, cognitivo, social, linguístico, criativo, político e expressivo. Nessa perspectiva

não cabem escolas “enfeitadas” com desenhos estereotipados e infantilizados de domínio

popular, como personagens infantis da moda, por exemplo, ou decoradas com peças de EVA,

papel crepom ou similar. Nem tampouco imaginar que ambientes excessivamente coloridos são

a melhor escolha para compor um lugar de convivência da infância. Ou ainda, planejar

ambientes cujas delimitações de circulação são feitas com portões, tatames ou qualquer outro

material que exerçam controle sobre a criança.

Partindo desse pressuposto, cabe às educadoras e aos educadores da infância

pensarem em diferentes possibilidades de uso e aproveitamento dos ambientes, favorecendo

que, a partir do bom planejamento dos mesmos, as próprias crianças criem seus enredos para

brincar e dar continuidade às investigações, além de também poderem participar dessa

organização, criando novas possibilidades e dando um feedback aos adultos, que podem e

devem modificar os ambientes pelas percepções das crianças, provocando bons enredos de

histórias, brincadeiras, movimentação ampla, autonomia e momentos de escolha, incitando

novos desafios.

78

Refletindo sobre a questão estética dos ambientes institucionais, é importante pensar

nas cores e na poluição visual, principalmente procurando originalidade nos elementos, que

tenham a identidade de cada instituição, que sejam pensados pela ótica das crianças. Nesse

sentido, a organização visual do ambiente precisa ser feita com e pelas crianças, trazendo as

experiências vividas, processos de aprendizagem, murais com suas produções, na sua altura

física, com a finalidade de que visualizem e acompanhem seus percursos, garantindo que as

crianças criem sentidos e que sejam respeitadas suas personalidades e identidades próprias.

Valorizar os trabalhos das crianças é realçar o valor estético e afetivo de seus processos

cognitivos, além de possibilitar também o encorajamento de novos processos e da criatividade.

Para isso, é importante que haja ambientes esteticamente organizados também com as

famílias, com obras de arte, com objetos que tragam a cultura própria de cada realidade, enfim,

que tenham significado para cada instituição. De acordo com Horn (2004), é refletindo a cultura

própria de cada realidade, que se determinarão diferenças significativas de uma escola para a

outra e que marcará uma história, uma trajetória percorrida e um contexto singular.

Funções da organização do ambiente para o desenvolvimento integral das

crianças:

Que as crianças tenham a oportunidade de desenvolver sua individualidade, a fim de

que tenham seus próprios objetos e que participem da organização dos ambientes,

pensando e usando diferentes linguagens.

Que a criança tenha a oportunidade de desenvolver domínio, autonomia e controle

sobre seu próprio ambiente (acender luzes, tomar água, limpar seu nariz, pegar

roupas, fácil acesso a prateleiras e materiais, etc.).

Que a criança tenha oportunidades para desenvolvimento em ambientes abertos para

que possa andar, balançar, correr, subir, rolar, pular, controlando o próprio corpo.

Que a criança tenha oportunidades para desenvolvimento em ambientes onde haja

variação dos estímulos como cores, músicas, vozes, sabores, contato com a água,

barro, areia, folhas, hortaliças, variações estruturais (tetos altos e baixos, cobertos e

descobertos, biombos, estantes baixas, elevações do chão, ambientes barulhentos e

quietos, lugares mais claros e menos claros, etc.).

Que a criança tenha oportunidades para desenvolvimento em ambientes internos que

possam conter elementos naturais que estimulem os sentidos, como a presença de

79

vasos e plantas, entrada de luz natural, visão do entorno, etc., que são necessários à

saúde e à qualidade de vida.

Que a criança tenha sensação de segurança e confiança, pois precisa de um

ambiente confortável e seguro, que tenha modificações moderadas e que não lhe

causem estranhamento, ou seja, o ambiente não pode mudar o tempo todo, ainda que

seja necessário que haja desafios constantes, provocando a criança a investigar e

fazer descobertas. A criança explora o ambiente com o corpo todo, com variadas

sensações, compreendendo suas características físicas e, assim, vai se apropriando

de si mesmo e se relacionando e agindo com e sobre o ambiente, o que lhe

proporciona mais confiança em suas próprias ações.

Que a criança tenha oportunidades para contato social e privacidade. Ambientes

privados favorecem a expressão e exploração de sentimentos, especialmente raiva,

angústia e frustração, uma vez que a criança pode retirar-se momentaneamente,

longe do olhar dos outros e, assim, ter seu sentimento respeitado. Com relação aos

ambientes para contato social, conforme Campos de Carvalho e Rubiano (2010), as

melhores configurações são as chamadas zonas circunscritas ou ambientes

semiabertos. Comumente chamados de “cantos”, pois sua característica principal é

que são áreas espaciais claramente delimitadas por mobiliário, desníveis do solo,

tecidos, etc. São configurações muito recomendadas porque proporcionam uma visão

clara e fácil do todo, incluindo a localização de adultos e crianças (portanto gera

confiança e segurança), promovem interações afiliativas e tendem a evocar respostas

das crianças com mais autonomia, criatividade e imaginação. Cabe ainda salientar

que são nesses ambientes que acontece o jogo social mais complexo, que favorecem

a brincadeira, sendo palco privilegiado para o faz de conta, proporcionando tempos e

sequências mais longas de interação, ou seja, no tempo da criança.

As zonas circunscritas favorecem a promoção e manutenção das

interações entre crianças pequenas. [...] Esta facilitação ocorre em função

da diminuição da probabilidade de interrupção da atividade por outras

crianças ou pela educadora, o que é frequente em arranjos mais abertos.

Ademais, as zonas circunscritas, fornecendo proteção ou privacidade,

favorecem à criança focalizar sua atenção tanto na atividade que está

sendo desenvolvida bem como no comportamento do parceiro, requisitos

essenciais para a ocorrência de interação entre coetâneos, sobretudo com

80

idade inferior a três anos (CAMPOS DE CARVALHO E RUBIANO, 2010,

pp. 132 e 133).

A organização dos ambientes é um elemento curricular tão importante que pode conduzir

a atividades específicas, por exemplo, se o ambiente é tranquilizador e propício para dormir,

para a volta à calma; se é estimulante para as brincadeiras; se permite a pesquisa e

investigação. Vemos, portanto, que o ambiente pode definir se é o adulto que dirige e direciona

as ações da criança ou se a criança pode ser mais ativa e protagonista de todo o processo de

aprendizagem.

Em relação ao tempo, é importante destacar que cada criança tem o seu tempo, seu

interesse e seu modo de explorar o mundo, o que direciona para um currículo que não seja

acadêmico, aplicado ao mesmo tempo a todos, mas sim como ação produzida entre

educadoras, educadores da infância e crianças, tendo por base os princípios educativos.

Para que o tempo individual da criança e o seu ritmo sejam respeitados é importante que

o tempo da rotina seja flexível e que todos tenham um olhar atento para as crianças. O tempo

não poder ser rígido, com um fim em si mesmo. É importante considerar a existência de um

currículo orientador e não prescritivo. O tempo de uma criança na instituição educativa deve ser

visto da perspectiva da própria criança.

Na literatura pedagógica brasileira sobre a educação infantil, encontram-se

vários exemplos de preocupação com o uso do tempo. A princípio, pode-

se afirmar que ela gira em torno de duas temáticas básicas, que podem

ser vistas como concomitantes e complementares: por um lado, a

concepção de que é na infância que as crianças constroem as noções

temporais e, portanto, faz-se necessário criar circunstâncias ou situações

em que elas possam estruturar tal noção, e, por outro, a necessidade de

organizar o trabalho com as crianças de modo a harmonizar objetivos,

situações, suas características, etc. Assim, a construção do tempo é vista

como uma aquisição psicológica e sociocultural. (BARBOSA, 2006, p.

143).

Pensando nessa questão do tempo, é importante que a educadora e o educador da

infância organize rotinas diárias que contenham momentos de higiene, de alimentação com

propostas educativas, de repouso; propostas coletivas (momentos de conversa, leitura e

81

contação de histórias, oficinas de artes, entre outros.); propostas individuais e propostas nas

quais as crianças possam se envolver livremente, ainda que sob os olhares dos adultos.

Pensando especificamente sobre a corporeidade, o tempo do brincar e as interações (enquanto

dimensões da educação infantil), há que se garantir diariamente o brincar espontâneo, o brincar

individual e o brincar coletivo, em diferentes ambientes (internos e externos) e permeados por

diferentes agrupamentos, ou seja, entre pequenos e grandes grupos de crianças, entre crianças

de diferentes idades, entre adultos e crianças, inclusive em momentos de introspecção e

individualidade.

A organização deve proporcionar às crianças diferentes experiências e formas de

expressão, previstas nas modalidades organizativas elaboradas pelos professores em seus

planos de ensino (projetos, sequencias de atividades, atividades permanentes) como por

exemplo: canções e músicas, imagens, teatros e dramatizações, danças, artes visuais,

movimento, relações quantitativas e espaço-temporais, vivências éticas e estéticas,

biodiversidade, tradições culturais, assim como a linguagem oral e escrita, não se esquecendo

da linguagem de sinais. Isso tudo deve ser garantido por meio das interações, possibilitando

que as crianças construam seus saberes com experiências variadas e utilizando as diversas

linguagens, sempre valorizando as brincadeiras e a cultura infantil.

Tratando-se de cultura infantil, é necessário evitar que as datas comemorativas sejam

utilizadas como o centro das ações previstas em calendário, no planejamento escolar, nas

rotinas e propostas, inclusive numa sequência cronológica, uma vez que isso desfavorece a

ampliação de conhecimentos sobre fatos e conceitos, e minimiza toda a gama de relações

presentes e vivenciadas pelas crianças nas instituições.

Por definição, a rotina é uma estrutura organizacional pedagógica que permite que a

educadora e o educador da infância promova momentos de cuidado e educação diferenciadas

e sistemáticas, de acordo com as experiências que se pretende colocar em prática

intencionalmente, além daquelas que surgem naturalmente, seja por sugestão de uma criança

ou do grupo (LINO, 1998).

De acordo com OLIVEIRA (2012), a rotina na instituição de Educação Infantil é

fundamental para o desenvolvimento profissional das educadoras e dos educadores da infância

e o desenvolvimento integral (cognitivo, afetivo, motor, social) das crianças. Em sua definição, é

preciso considerar o tempo dos atores envolvidos: tempo de aprender, de conviver, de falar, de

escutar, de silenciar, de brincar, de ser.

O ato de respeitar o ritmo das crianças possibilita que elas decidam sobre seus tempos e

autorregulações (comer, dormir, defecar, etc.). Em outras palavras, é organizar rotinas que

82

possibilitem autoconhecimento, que as tornem conscientes de seus desejos, de seus processos

sensitivos, corporais, tanto quanto das questões sociais. A autorregulação é a capacidade

biológica e natural que revela o potencial para o desenvolvimento da autonomia. A partir dessa

referência à lei natural de funcionamento da vida no indivíduo, é que se pode compreender a

ideia de uma organização social baseada nos fluxos da natureza humana, pois o respeito a

esses fluxos é condição necessária a uma cultura que almeje reconhecer os indivíduos que a

compõem. O objetivo é integrar os processos biológico-naturais e sociais, tentando superar a

dicotomia entre natureza e cultura, e propor uma relação dinâmica entre indivíduo e sociedade.

Nesse sentido, não há mais que se pensar, por exemplo, na hora do banho ou nas trocas de

fralda de forma coletiva, em que todos passam pelos procedimentos ao mesmo tempo. Isso

deve acontecer sempre que necessário, considerando a individualidade de cada criança, e a

qualquer hora de sua rotina.

Assim, cabe dizer que o tempo do adulto (tempo institucional) é diferente do tempo da

criança e, tendo a criança como foco de todo o processo, a rotina da instituição não pode

prevalecer à da criança. Trabalhando com horários de regulação nas questões fisiológicas, a

criança consegue respeitar a instituição também aprendendo a conviver numa vida social. O

processo de autorregulação não traz interferências nos direitos das crianças, ao contrário, cria

regras e normas próprias que decorrem das necessidades sentidas por todos, sem imposição

externa e que orientam as relações sociais.

Além disso, na sequência da rotina organizada, ainda que se prevejam todos os tempos

individuais dos atores envolvidos, a mesma é intercalada por tempos de transição entre as

propostas. Esses tempos também podem ter uma duração bastante diversa devido aos

interesses das crianças e ao olhar atento do observador, para que seus tempos e ritmos sejam

respeitados, inclusive extinguindo momentos de espera.

Há que se problematizar para eliminar a existência de longas esperas de bebês e

crianças em filas, momentos de entrada e saída, ao se iniciar ou finalizar momentos de

alimentação, espera para uso do banheiro e trocas de fraldas, etc. Inclusive as filas precisam

ser revistas, pois incorporadas às práticas de organização, sejam diretamente ou de formas

maquiadas como “trenzinhos”, “trombas de elefante”, “segurar a camiseta do amigo” etc.,

mostram-se descoladas das práticas sociais reais e demonstram, na verdade, uma necessidade

de controle dos adultos.

Na ausência de um bom planejamento de tempos, ambientes e propostas, as crianças se

veem desinteressadas e ultrapassam os limites evidentemente colocados pelos adultos,

aumentando episódios de mordidas e conflitos. Reduzir tempos de espera, extinguir

83

confinamentos e qualificar tempos de propostas e ambientes pode resolver muitos problemas.

O tempo em uma instituição educativa deve ser vivido de modo a se aproveitar as

oportunidades de aprender e se desenvolver plenamente, além de ter experiências

diversificadas que não seriam possíveis no ambiente doméstico, até mesmo pela

intencionalidade das ações.

É preciso pensar no tempo da experiência, das interações, da repetição, para que a

criança crie enredos e possa dar continuidade às suas investigações e brincadeiras, ou seja,

dar lugar ao tempo da criação e da imaginação, bem como para uma maior familiaridade com

algumas propostas e construção de repertórios diversos. O prazer funcional de repetir uma

proposta por si mesma possibilita aprender pela experiência. Assim, a rotina deve nortear, mas

não engessar o trabalho e nem o tempo, não pode ser algo estanque. O olhar e a escuta

atentos às crianças é que faz com que os tempos sejam vistos e revistos, pois é preciso ter o

tempo da elaboração do conhecimento, que é diferente para cada criança. É evidente que

existem os tempos institucionais e que são fundamentais para a organização das instituições,

contudo os mesmos podem ser pensados sempre em função das crianças, da aprendizagem e

do desenvolvimento infantil.

O tempo de brincar, de explorar, de repousar, de comunicar-se, de contar e ouvir

histórias, o tempo das refeições, das brincadeiras livres e autônomas, de avaliar o próprio

processo, etc. deve mostrar uma coerência entre a nossa organização de tempos e ambientes

para garantir boas experiências que considerem a criança como centro de todo planejamento

pedagógico.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

BARBOSA, Maria Carmen S. Por amor e por força: rotinas da Educação Infantil. Porto

Alegre: ArtMed, 2006.

BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Infantil. Resolução CNE/CEB nº 5.

Brasília: MEC, 2009.

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FORNEIRO, Lina I. A organização dos espaços na educação infantil. In ZABALZA, M.

Qualidade em Educação Infantil. Porto Alegre: ArtMed, 1998, pp. 229 a 281.

84

HORN, Maria da Graça S. Sabores, cores, sons, aromas: a organização dos espaços na

Educação Infantil. Porto Alegre: ArtMed, 2004.

JUNDIAÍ (SP). Decreto nº 24.649, de 29 de outubro de 2013. Regulamento de atendimento

de crianças de 4 (quatro) meses a 5 (cinco) anos nas escolas municipais de Educação

Básica de Jundiaí. Jundiaí, SP: SME, 2013.

LINO, Dalila B. A rotina diária nas experiências-chave do modelo High/Scope. In ZABALZA, M.

Qualidade em Educação Infantil. Porto Alegre: ArtMed, 1998, pp. 185 a 204.

OLIVEIRA, Zilma de M. R. O trabalho do professor na Educação Infantil. São Paulo: Biruta,

2012.

TIRIBA, Léa. Crianças da Natureza. In Anais do I Seminário Nacional: Currículo em

Movimento – Perspectivas Atuais. Belo Horizonte, novembro de 2010.

85

9. Avaliação “Na” e “Da” Educação Infantil

Quando o assunto é avaliação, há um questionamento que muitos educadores e demais

profissionais da área da educação se fazem: por que avaliar? A avaliação tem potencial para

induzir políticas e ações, redirecionar trajetórias, subsidiar decisões, apoiar a formulação de

projetos pedagógicos, programas, planos e auxiliar o acompanhamento de desenvolvimento da

criança e não devem produzir comparações e classificações, ser instrumento de punição, servir

para rotular pessoas, escolas, redes, gerar competição e disputa e produzir fracasso escolar

(RIBEIRO, 2015).

9.1 Avaliação na educação infantil

A avaliação na educação infantil é um objeto de reflexão sobre a prática, por isso deve

ser considerada como um meio no processo educacional e não apenas um fim. Isso se deve ao

fato de que a criança é sujeito de direitos, protagonista do processo educativo e produtora de

cultura. Assim, a avaliação é realizada dentro da Instituição de Educação Infantil pelos

profissionais que atuam cotidianamente com a criança, pela própria criança e pelos familiares.

Neste aspecto Godoi (2007) aponta para a avaliação na perspectiva do olhar e da escuta

do adulto para com as crianças, no intuito de conhecê-las, e não de julgá-las ou compará-las,

nem mesmo de estabelecer padrões em relação à faixa etária, categorias ou expectativas.

A participação efetiva da família contribui imensamente na medida em que informações

são compartilhadas, aprendizagens são construídas e reconstruídas em contextos específicos

que precisam estar abertos a mudanças quando necessário, e que considere o cuidar e o

educar, o brincar, as diferentes infâncias, as diferentes marcas infantis em relação ao espaço,

as interações e o contexto social. Para se garantir essa participação, é necessário buscar

momentos de convivência produtiva, encontros que qualifiquem as reuniões de familiares com

os profissionais da Unidade Escolar, fortalecendo o processo dialógico.

Conforme estudos, toda ação avaliativa demonstra uma opinião e uma apreciação de

valor, portanto, vinculada a concepções. Os dispositivos da Lei de Diretrizes e Bases de 1996 e

as concepções das Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil sinalizam que as

Unidades Educacionais devem planejar formas de avaliação que contemplem o

acompanhamento do trabalho pedagógico e uma avaliação do desenvolvimento da criança em

relação a si mesma, na perspectiva do que é oferecido a ela e nas experiências que vivencia.

O principal desafio é construir documentações pedagógicas que considerem dinâmicas

mais amplas das relações, “focadas nas crianças enquanto sujeitos e coautoras de seus

desenvolvimentos” (DIDONET 2011 apud RIBEIRO, 2015).

86

Devido às recentes mudanças introduzidas pela Lei Federal nº 12796, de 2013, as

instituições de educação infantil deverão expedir documentações que possibilitem atestar os

processos de desenvolvimento da criança e acompanhá-la nos anos subsequentes.

Tal documentação não só se apresenta como registro do percurso do desenvolvimento

da criança, sem objetivo de promoção e classificação, mas também como instrumento que

possibilita a reflexão sobre a prática pedagógica, buscando sua qualificação com registros

significativos das atividades que desenvolvem. O objetivo dessa documentação é registrar a

história dos caminhos que o grupo percorreu em suas inter-relações, e que vem percorrendo

em busca do conhecimento de mundo e suas formas de expressões.

9.1.1. Documentação pedagógica – observação, registro e reflexão

Os registros considerados como documentação pedagógica, são todos aqueles que

expressam o que as crianças estão dizendo e fazendo, e a maneira como educadoras e

educadores da infância se relacionam com elas e com o seu trabalho, tendo como ponto de

partida a observação da criança.

Observar exige mirar, reparar, notar, registrar e analisar. É um processo de investigação.

Cabe as educadoras e educadores da infância um olhar observador em todos os momentos do

cotidiano das crianças, e levar em consideração suas linguagens. Dependendo da intenção, a

prática da observação pode ou não ser pautada, mas sempre dirigida. É preciso ter claro que o

olhar não é neutro, mas marcado pela subjetividade, crenças, valores e vivências e que, ao

iniciar a elaboração da documentação, deve-se respeitar e levar em consideração as crenças,

valores e vivências das crianças, famílias e cultura nas quais estão inseridas.

Segundo Godoi (2006), todas as práticas são construídas a partir das concepções

internalizadas de educadoras e educadores da infância, e sendo a avaliação um dos

componentes da organização do trabalho, estritamente ligada à produção do conhecimento,

faz-se necessário atentar para os valores que serão considerados nos momentos de

observação e registro.

A documentação pedagógica pode assumir diversas modalidades e linguagens:

portfólio, vídeo, relato de uma turma e de escola, pasta pessoal da criança, álbum fotográfico,

álbum de desenhos, murais. Educadoras e educadores da infância deverão utilizar o maior

número desses instrumentos compondo seu repertório diagnóstico que servirá para a

elaboração da Avaliação de Acompanhamento Bimestral, e a Ficha de Acompanhamento do

processo de Aprendizagem, de caráter obrigatório.

87

9.1.2 Portfólio

O portfólio é um instrumento que tem como foco a narração dos percursos de

aprendizagem de crianças e adultos (OLIVIERA-FORMOSINHO; AZEVEDO, 2002). As autoras

fazem referência à documentação pedagógica como conteúdo, pois integra o material que

registra o que a criança diz e faz, e como processo, é um meio de refletir de forma sistemática e

rigorosa, sobre o trabalho pedagógico.

Os portfólios representam a documentação real a partir de narrativas, fotografias, vídeos,

episódios que permitam revisar e pesquisar a situação. Além disso, implica na seleção de

registros que, organizados, representam uma forma de conferir visibilidade ao trabalho da

criança a um percurso de aprendizagem, conferindo a ele legitimidade; possibilita ainda

compreender as hipóteses e teorias por ela formuladas, problematizando e articulando suas

aprendizagens. Segundo Hilda Micarelo (2010) os portfólios podem ser:

Portfólios individuais: muitas educadoras e educadores da infância têm o hábito de

agrupar as produções das crianças em varais, caixas ou pastas. Essas produções

podem ser mais bem organizadas em portfólios, que têm a função não apenas de

registrar os produtos das atividades, mas também devem refletir o processo de

produção, por isso podem conter também fotos, objetos, coleções. Assim, ao propor uma

atividade de modelagem, por exemplo, o educador pode fotografar os diferentes

momentos de envolvimento das crianças na atividade e usar essas fotos para compor o

portfólio. É importante que os portfólios estejam sempre ao alcance das crianças e sejam

retomados frequentemente pela educadora ou educador da infância para relembrar

atividades já realizadas e situações já vividas, servindo de instrumento para provocar um

olhar observador da criança sobre suas próprias produções. As rodas de conversa

podem ser um ótimo momento para que as crianças participem da escolha dos materiais

que vão compor o portfólio e para ver e recordar o que já foi feito, discutindo sobre as

impressões das crianças com relação a esses materiais. Os portfólios são também um

importante instrumento a ser compartilhado com as famílias, pois possibilitam uma visão

mais ampla, do conjunto das produções da criança e dos processos vivenciados por ela.

Portfólios coletivos: são coleções de atividades realizadas em grupo. Podem compô-

los atividades produzidas pelas crianças, assim como as impressões delas com relação a

diferentes situações. Essas impressões podem ser colhidas pelas educadoras e

educadores da infância nas rodas de conversa e registradas por escrito.

Registros diários: Também conhecido como “diário de bordo” ou “diário de campo”, são

anotações diárias da educadora ou educador da infância, onde serão anotadas suas

88

hipóteses de trabalho, suas descobertas e preocupações, o que o torna um instrumento

reflexivo da sua prática.

Os diferentes instrumentos – registro, diário de aula, portfólio e outros – indicam

concepções e formas de organização diversas, mas não contraditórias. Existem, portanto várias

modalidades de documentação pedagógica que se relacionam e que podem contribuir para a

construção de práticas cada vez mais intencionais e adequadas à objetivos e necessidades das

crianças, educadores e pais.

9.1.3 Avaliação de acompanhamento bimestral

A Avaliação de Acompanhamento Bimestral, de caráter obrigatório, deverá contar

sempre com a presença do diretor, do coordenador pedagógico, de todos os professores e,

sempre que possível, com as demais educadoras e educadores da unidade. Essa forma de

avaliação usa as ferramentas da observação e propõe registros a partir das interações e

brincadeiras, tendo por objetivo compreender o processo de desenvolvimento e a relação que

as crianças estabelecem com os diferentes saberes, além de analisar os avanços, conquistas e

necessidades das crianças em relação a si mesmas e quais as propostas diferenciadas que

educadoras e educadores da infância planejarão para o bimestre seguinte. Essa é uma forma

de fazer com que as educadoras e educadores da infância tenham subsídios para organizarem

e reorganizarem suas propostas pedagógicas.

As reuniões de Avaliação de Acompanhamento Bimestral, quando bem conduzidas, se

transformam num espaço de reflexão da equipe escolar que possibilita a discussão de aspectos

muito importantes como a análise de rotina em relação ao plano de ensino e a proposta

curricular, da metodologia adotada e dos instrumentos de avaliação utilizados pelo professor e

demais educadoras e educadores. Dessa forma, traz aos professores e educadores uma

interessante experiência formativa, permitindo a reavaliação da prática pedagógica a partir de

sua reflexão, tendo a criança como centro do processo.

Na Educação Infantil, esse instrumento reconhece a inclusão das crianças no processo

educacional, dispensando os critérios comparativos ou que supõem expectativas de

aprendizagem do adulto sobre a criança.

9.1.4 Ficha de acompanhamento do processo de aprendizagem

A Ficha de Acompanhamento do Processo de Aprendizagem, de caráter obrigatório,

deve ser baseada nos diversos instrumentos que compõem a documentação pedagógica

89

produzida durante o período que antecede o seu preenchimento. Todos as educadoras e

educadores, ou seja, os profissionais que atuam diretamente com criança (professor da turma,

professor de Educação Física, professor do AEE, ADIs e demais educadores) participam dessa

avaliação de forma a agregar o máximo de informações possíveis ao processo, considerando a

integralidade da criança.

Vale lembrar que se trata de uma ficha para leitura, tanto dos pais como dos demais

profissionais no processo de transição e o registro desse processo deve estar numa linguagem

clara, de fácil compreensão, permitindo que durante essa leitura seja possível o reconhecimento

da criança a que se refere. Lendo a ficha, deve ser possível saber como cada criança

estabelece suas relações com os diversos saberes nas diversas linguagens que manifesta no

cotidiano escolar. Na produção desse documento, devem ser evitados adjetivos que

supervalorizem ou desqualifiquem a criança, ou que contenham critérios subjetivos

relacionados às questões socioeconômicas, gênero, raça, religião, regional e demais

manifestações passíveis de serem discriminatórias.

A redação dessa ficha deverá ser feita pela professora ou professor, apresentada aos

gestores para intervenções necessárias. Deverá ser assinada pela professora ou professor de

sala, pela professora ou professor de Educação Física, pela equipe gestora antes da

apresentação aos pais em Reunião de Pais, no final de cada semestre. Ao final de cada ano

esse documento deverá ser entregue a educadoras e educadores da infância do ano seguinte e

ao final do grupo três, deverá ser encaminhado para a escola que receberá a criança em seu

novo ciclo de formação.

9.2 Avaliação da instituição de educação infantil

Não existem respostas únicas de como deve ser uma instituição de educação infantil de

qualidade, pois as definições dependem de muitos fatores: os valores nos quais as pessoas

acreditam, as tradições de uma determinada cultura, os conhecimentos científicos a respeito da

aprendizagem da criança, o contexto histórico, social e econômico na qual a escola se insere.

De acordo com Ribeiro (2015), “avaliar é sempre uma atividade política que envolve

escolhas e valores que precisam ser negociados entre diferentes sujeitos, mas a questão que

se coloca quando o assunto é avaliação institucional é: que valores podem ser negociados e

quais devem ser?”.

Em resposta a essa questão, a avaliação institucional deve ser fundamentada em um

atendimento que respeite as necessidades e protagonismo da criança, independente da

instituição educacional que frequente. Além disso, deve ser participativa e aberta, de forma que

90

todos tomem conhecimento e possam discutir e decidir as prioridades de ação para sua

melhoria, sendo de responsabilidade de toda a comunidade escolar, pois possibilita a reflexão e

a definição de um caminho próprio para aperfeiçoar o trabalho pedagógico e social das

instituições.

A busca por fazeres pedagógicos cada vez mais qualificados deve constituir uma decisão

e um esforço permanente para todas as instituições de educação infantil. Embora o conceito de

qualidade se modifique ao longo do tempo e esteja relacionado à cultura do grupo, da

comunidade e da região, ele envolve parâmetros mínimos nacionais e locais. Tais parâmetros

devem ser bem conhecidos e utilizados como referencias para a avaliação da instituição, do

trabalho docente e da atuação das crianças, bem como para a construção de um plano de

busca permanente da qualidade.

O documento "Indicadores da Qualidade na Educação Infantil" é um importante

instrumento que pode ser utilizado na avaliação, não com o objetivo de medir, julgar, comparar

ou punir, mas sim um mecanismo de reflexão e precioso auxílio para tomada de decisões em

diferentes instâncias.

Indicadores não são, portanto, padrões, isto é, normas impostas do alto,

às quais devemos nos adequar. Não representam, nem mesmo um “valor

médio” de exequibilidade de aspectos de qualidade. São, ao contrário,

significados compartilhados sobre o que deve haver em uma creche para

que ela possa ser assim chamada, possa ser reconhecida como lugar de

vida e de educação para pequenos e grandes. São, portanto, como indica

o próprio termo, sinalizações, linhas que indicam um percurso possível de

realização de objetivos compartilhados (BONDIOLI, 2004, p. 18-19, apud,

RIBEIRO, 2015, p. 16)

Quando a instituição compreende seus pontos fortes e fracos, ela pode intervir para

melhorar sua qualidade, de acordo com suas condições, definindo suas prioridades e traçando

um caminho a seguir na construção de um trabalho pedagógico e social significativos, sendo a

avaliação um importante instrumento para auxiliar na garantia do atendimento às crianças

pequenas.

A avaliação institucional também carrega a perspectiva formativa, pois possibilita a

valorização dos contextos em que os resultados foram produzidos, os processos, os programas,

o conjunto das ações, o Projeto Político Pedagógico, comparando o que foi executado com o

91

que estava previsto, identificando os resultados não previstos, os fatores que facilitam ou são

obstáculos à qualidade da educação; possibilita a reflexão fundamentada em dados, visando

desencadear mudanças; põe em diálogo informações de fontes variadas (das crianças, dos

docentes, das famílias, das condições objetivas de trabalho, das avaliações externas).

Caminhando para a reinvenção das práticas avaliativas, FREITAS (2014) considera a

importância de incluir as crianças no processo de avaliação da instituição na perspectiva da

democracia e da emancipação.

A avaliação institucional não deve servir para divulgação ou à comparação de resultados

da avaliação entre unidades. Os resultados obtidos por meio de procedimentos qualitativos e

negociados entre os vários segmentos que participam do processo adquirem sentido apenas

para aquele contexto. A mesma equipe, em momentos diferentes, pode chegar a resultados

diversos; unidades com diferentes tipos de desafios podem obter resultados com distintos

significados. Assim, a avaliação institucional pode ser um instrumento potente para

reconstrução das práticas resultantes do confronto e da negociação de posições, de interesses,

de perspectivas e, ainda, para o fortalecimento das relações internas e das relações com as

demais instâncias decisórias do sistema de ensino.

De acordo com FREITAS (2014), a avaliação institucional com fim à compreensão de sua

realidade concreta, dificuldades e potencialidades, com a reflexão coletiva na busca de

indicadores para o avanço e crescimento da instituição, tende a fortalecer o Projeto Político

Pedagógico e qualificar a educação ofertada.

Assim, a finalidade da avaliação institucional é reafirmar a qualidade da educação e

propor planos de ação a curto, médio e longo prazo, para compartilhar responsabilidades dos

diversos atores da comunidade escolar.

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Belo Horizonte, novembro de 2010.

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BRASIL, Orientação Normativa nº01/13. Avaliação na Educação Infantil: Aprimorando os

olhares – São Paulo 2014.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes curriculares

nacionais para a educação infantil – Brasília: MEC, SEB, 2010.

CAMPOS, Maria Malta. Critérios para um atendimento em creches que respeite os direitos

fundamentais das crianças / Maria Malta Campos e Fúlvia Rosemberg. – 6.ed. Brasília : MEC,

SEB, 2009.

DIDONET, Vital – A Avaliação na e da Educação Infantil: Artigo – Assessor da Secretaria

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FIORAVANTE, Paulo. Avaliação “da” e “na” Educação Infantil: Reflexões e práticas para a

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subsídios para o debate. 2015 (no prelo)

FREITAS, Luiz Carlos de. et al. AVALIAÇÃO EDUCACIONAL: CAMINHANDO PELA

CONTRAMÃO, 6ª .ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014

GODOI. Elisandra Girardeli. Avaliação na creche: o caso dos espaços não-escolares 2006

UNICAMP tese de Doutorado. Disponível em:

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GODOI, E. G. . Avalilação na educação infantil: um encontro com a realidade. 2a.. ed. Porto

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GODOI, E. G. . Avaliação na educação infantil: a importância do registro como fonte de

reflexão. Revista Cirandar, Hortolândia, p. 4 - 5, 01 jul. 2007.

HOFFMANN, J. Avaliação na pré-escola: um olhar sensível e reflexivo sobre a criança. Porto

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Brasília: MEC/SEB, 2009.

______. Ministério da Educação e Cultura. Educação infantil: subsídios para construção de

uma sistemática de avaliação. Documento produzido pelo Grupo de Trabalho instituído pela

Portaria n. 1.147/2011. Brasília, MEC, 2012.

OLIVEIRA-FORMOSINHO, J.; AZEVEDO, A.. O Projeto dos Clautros: no Colégio D. Pedro V –

Uma pesquisa cooperada sobre o processo de construção da qualidade. In: OLIVEIRA-

FORMOSINHO, J.; KISHIMOTO, T. M. (Org.). Formação em Contexto: uma estratégia de

integração. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002.

93

OLIVEIRA-FORMOSINHO, J. Pedagogia(s) da infância: reconstruindo uma práxis de

participação. In: OLIVEIRA-FORMOSINHO, J.; KISHIMOTO, T. M.; PINAZZA, M. A. (Org.).

Pedagogia(s) da Infância – Dialogando com o Passado, Construindo o Futuro. Porto Alegre:

Artmed, 2007.

Orientação Normativa nº01/13, que discorre sobre a “Avaliação na Educação Infantil -

Aprimorando Olhares”, da Prefeitura Paulistana, (não sei como fazer essa referência. Precisa

saber onde foi publicado, quem publicou, quando publicou?)

PARODI, M. Prefazione. In: BENZONI, Isabella (Org.). Documentare? Sì, grazie. Ranica:

Edizioni Junior, 2001. PASQUALE, M. L’arte di documentare: perchè e come fare docum,

2001.

SHORES, E; GRACE, C. Manual de Portfólio: um guia passo a passo para o professor. (falta

cidade, ano e editora)

94

GLOSSÁRIO:

ACOLHIMENTO - Recepcionar; cuidar; o ato de cuidar dos que estão sem apoio.

AFETIVIDADE - Sendo o afeto fundamental para a vida, em todas as suas fases e de todas as

formas, destacamos a importância dos vínculos afetivos no processo de aprendizagem e no

papel do educador em manter-se atento para os vários aspectos de afeto estabelecidos na

escola. Defende-se a afetividade como motor do processo educativo, na medida em que

considera a criança na interação com seus pares, com os educadores, com o ambiente e com

os objetos.

AMOROSIDADE - A amorosidade se constitui no afeto como compromisso com o outro. Sua

essência se constitui como categoria de conteúdo ético. Amorosidade pode ser considerada

como uma potencialidade e uma capacidade humana que remete a uma condição de finalidade

existencial ético-cultural no mundo e com o mundo.

BRINCANTE - Prioriza o estar e o brincar junto à criança.

CULTURAS DA INFÂNCIA - Conjuntos de culturas individuais e coletivas que se encontram e

que refletem no cotidiano da escola, (re)significando a ação infantil.

DAR VOZ À CRIANÇA - Respeito ao direito da criança se expressar oralmente, de forma

convencional ou não, demonstrando que ela é compreendida e tem sua opinião considerada.

DESENVOLVIMENTO INTEGRAL DA CRIANÇA - De acordo com a Lei de Diretrizes e Base da

Educação Nacional, em sua Seção II, Artigo 29: A educação infantil, primeira etapa da

educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de até 5 (cinco)

anos, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da

família e da comunidade.

DIALOGICIDADE - Ação do diálogo. O diálogo é a força que impulsiona o pensar crítico-

problematizador em relação à condição humana no mundo. Através do diálogo podemos dizer o

mundo segundo nosso modo de ver. Por estar relacionado à práxis social, dizer o mundo

implica em fazer o mundo. O desafio é construir novos saberes a partir da situação dialógica

que provoca a interação e a partilha de mundos diferentes.

EDUCADORA E EDUCADOR - Todos os profissionais das unidades escolares, envolvidos nas

ações educativas cotidianas da escola, com ação indireta sobre a criança.

EDUCADORA E EDUCADOR DA INFÂNCIA - Aquele que possui a responsabilidade da ação

direta com a criança. Nesse documento compreende as professoras, professores e agentes de

desenvolvimento infantil.

95

HUMANIZAÇÃO - Processo de humanizar-se, tornar-se humano. Considera-se o homem como

um ser inconcluso, vocacionado por sua própria natureza a um constante auto fazer-se no

mundo, num impulso para “ser mais”. Essa busca revela que a natureza humana é programada,

jamais determinada, segundo sua dinâmica do inacabamento e do vir a ser. Assim, como seres

do inédito viável, não estamos totalmente prontos, viemos nos fazendo na história e podemos

sempre nos reinventar, num contínuo processo de humanização.

INFÂNCIA - Construção social e histórica enquanto período importante da formação biológica e

social. Nesse documento compreende a idade de 0 a 3 anos, de acordo com a faixa etária a

qual se refere.

INSUMOS - Cada um dos elementos (matéria-prima, equipamentos, horas de trabalho etc.)

necessários para produzir mercadorias ou serviços; investimentos que contribuem para a

obtenção de determinado resultado final.

INTERAÇÕES AFILIATIVAS - Interações que as crianças buscam, de forma harmoniosa, a

partir de interesses comuns.

MACRO SOCIEDADE - Grupo humano, que convive em um tempo-espaço estabelecendo

valores comuns num âmbito maior (cidade, estado, País).

MATERIAIS ESTRUTURADOS - São brinquedos industrializados ou artesanais baseados em

características de uso social, que só podem ser usados de uma maneira e que requerem o

mínimo de esforço das crianças.

MATERIAIS INDUSTRIALIZADOS - Todos os objetos que passam por um processo de

industrialização, produzidos em larga escala para fins diversos.

MATERIAIS NATURAIS - Elementos da natureza (gravetos, folhas, água, etc.)

MATERIAIS NÃO ESTRUTURADOS OU DE LARGO ALCANCE - São objetos industrializados

ou naturais (elementos da natureza) que possibilitam inúmeras formas de uso nas brincadeiras

a partir da criatividade e do sentido dado a eles. (Caixa de papelão, panelas, garrafa pet,

gravetos, pedras, tecidos etc.).

MELECAS - junção de materiais de diferentes texturas para manuseio da criança.

MICRO SOCIEDADE - Grupo humano, que convive em um tempo-espaço estabelecendo

valores comuns no âmbito menor (comunidades, escolas e agrupamentos familiares).

OUVIDO PENSANTE - Escuta atenta e reflexiva para uma diversidade sonora, musical ou não,

para além de conceitos pré-definidos de música e musicalidade.

RELAÇÃO HUMANIZADORA - Relação dialógica a partir de pressupostos éticos utilizando-se

da sensibilidade própria do ser humano no cuidado e educação com a criança.

96

RELAÇÕES EDUCATIVAS - Toda relação que se estabelece no âmbito da instituição de

Educação Infantil, compreendendo a diversidade de parceiros e experiências que potencializem

o desenvolvimento da criança.

VINCULO – Laço moral; aquilo que liga duas ou mais pessoas.