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O que é inovação para crianças? Quais são os processos de inovação social e cultural voltadas para crianças? O que caracteriza produções criativas e inovadoras? Como criar modos inovadores de desenvolvimento e produção para e com crianças? Como oferecer uma produção cultural que potencialize a iniciativa, a curiosidade e a criatividade das crianças (e dos profissionais que trabalham com a infância)? A partir de uma visão contemporânea da infância, o comkids cria um espaço de debate sobre inovação dirigida às crianças em seus mais diversos conceitos e nas mais diversas plataformas, além de estimular a discussão e o desenvolvimento de produção cultural para os pequenos.
Citation preview
WWW.COMKIDS.COM.BR
Fonte SingularSingular
INICIATIVA
PATROCÍNIO
APOIO
REALIZAÇÃO
PARCERIA
COLABORAÇÃO
Apresentação 5
Goethe-Institut SP 7
Os habitantes da “Casa das estrelas” 10 Javier Naranjo
Compromisso com a criança, uma conversa com Jan-Willem Bult 18comkids e Felipe Jahn
A casa azul 29Gabriela Romeu
Espaços que honram a infância 36Cielo Salviolo
O brincar e as janelas para inspiração 44Garatujas Fantásticas
Escola: espaço de cultura e inovação 52Luiza Furman e Helena Mendonça
O casting, indo além da busca de personagens de TV 56Claudia Patrícia González
Primeiro de abril: um jogo entre um jogo, entre um jogo... 62Teca Alencar de Brito
O trovão e o relâmpago, sobre a relação entre som e imagem no mundo infantil 72Hélio Ziskind
Desenho, infância, trabalho 76Laura Teixeira
comKids Inovação – programação 78
comKids Inovação – imagens 84
Vídeos 86
Sobre o comKids 90
Equipe e agradecimentos 93
Sumário
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5
Apresentação
Com o objetivo de fazer um debate sobre o novo e seus conceitos,
criamos o espaço do comKids Inovação. Já há algum tempo, a pa-
lavra “inovação” tem um uso quase indiscriminado para se referir
ao diferente, ao especial e ao criativo. Mas seria apenas isso? Quais
são os seus conceitos? O que ela é de fato? O que é inovação de-
dicada à infância? Quais são os processos de inovação social e cul-
tural voltados para crianças? O que caracteriza as produções cria-
tivas e inovadoras? Como criar novos modos de desenvolvimento
e produção para e com crianças? Como oferecer uma produção
cultural que potencialize a iniciativa, a curiosidade e a criatividade
das crianças (e dos profissionais que trabalham com a infância)?
Em abril de 2014, realizamos o comkids Inovação junto com
nosso parceiro Goethe-Institut e vieram respostas a essas pergun-
tas em várias tonalidades. Entre elas, buscar a essência da infância
para se inspirar e se dedicar a ela nos pareceram modos perma-
nentes de inovação, ou um movimento contínuo de criar e produzir
para crianças. Infância vista como aquele estado de encantamento,
curiosidade e surpresa, como quem vê o mundo pela primeira vez.
Aprendemos que podemos potencializar a criatividade e o de-
senvolvimento humano e infantil a partir de suas capacidades cog-
nitivas, simbólicas e emocionais, e que a arte e a cultura estimulam
e se conectam com a infância com o frescor do olhar das crianças.
Em uma reunião de convidados bem diferentes, que trabalham
com várias linguagens e iniciativas, abordamos temas relacionados
à inovação cultural, social, tecnológica e artística. Tratamos a criati-
vidade na linguagem e na metodologia de produção para a infância
6
e a apresentação de iniciativas nacionais e internacionais de projetos
inovadores em audiovisual e em plataformas digitais e interativas.
A partir desse encontro, e de outras conexões com amigos do
comKids, organizamos esta publicação, onde temos Javier Naranjo,
com sua contribuição que mostra que a poesia tem mais a ver com a
vida do que com genialidade; uma prosa com Jan-Willem Bult, em um
lugar em que as crianças estão no centro; Gabriela Romeu nos conta
sobre a Casa Azul, onde uma das lições mais fortes é a amizade e a
humanidade profunda, além das lindas imagens produzidas por meni-
nos e meninas da Fundação Casa Grande – Memorial do Homem Kariri.
Também temos as belas contribuições de Teca de Alencar sobre músi-
ca e criatividade, as do nosso parceiro Garatujas Fantásticas sobre as
janelas da inspiração da infância e as de Cielo Salviolo sobre o Tríptico
da Infância, projeto que conta com a gestão de Chiqui González, que
esteve conosco no evento. A realizadora colombiana Claudia González
compartilha a reflexão sobre seu trabalho com as crianças e outros ca-
minhos para o casting e as professoras Luiza e Helena da Escola da Vila
compartilham a ideia de que escola também é espaço de inovação. Por
fim, percorremos os processos criativos do músico Hélio Ziskind e da
ilustradora Laura Teixeira, que estiveram com a gente presencialmente.
Entre palavras, ideias e imagens, temos também a felicidade de
compartilhar registros do encontro, que contam com pílulas em vídeo
realizadas por nossa equipe.
Beth CarmonaDiretora-geral e
editorial do comKids
Vanessa FortCoordenação geral
e editorial comKids
7
Goethe-Institut SP
O Goethe-Institut, em todas as suas unidades espalhadas pelo
mundo, contribui para a diversificação e a renovação da cena cul-
tural local. Em São Paulo, a parceria com o comKids acontece justa-
mente nesse caminho, especialmente na vontade de redescobrir e
inaugurar olhares sobre a produção cultural voltada para crianças
e adolescentes. O comKids Inovação, passo importante no trabalho
conjunto entre o Goethe-Institut e o comKids, vem solidificar nosso
interesse em fomentar as discussões e projetos voltados para a in-
fância, além de representar um investimento sincero na qualidade
das produções oferecidas às crianças e jovens.
Concretizando a parceria para essa edição do comKids
Inovação, o Goethe-Institut ofereceu uma Menção Honrosa ao pro-
jeto que, de maneira original e consciente, procura ainda na fase de
elaboração e produção, um envolvimento direto com o público para
o qual é construído. Temos a certeza de que pensar na recepção
dessas produções de maneira complexa e profunda só tem a contri-
buir para que os projetos fiquem melhores e consigam estabelecer
pontes diretas com o imaginário e as potências do público infan-
tojuvenil. Envolver o público como produtor de sentido do próprio
trabalho é um desafio grande, todavia acreditamos muito na criati-
vidade da rede que o comKids vem formando com tanta dedicação
desde o seu início.
Laura HartzDiretora do Departamento Cultural
em São Paulo e para a América do Sul
Goethe-Institut São Paulo
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Os habitantes da “Casa das estrelas”
Javier Naranjo
Da guirlanda de lugares comuns com os quais se adorna a in-
fância – a ternura das crianças, sua imaginação sem limites,
seu riso plural e contagiante, seus desenhos espontâneos – não
acredito em nenhum deles.
Onde outros adultos veem imaginação sem censura, eu vejo
desenhos sem sentido, onde outros veem frases que elevam à
categoria de verdades reveladas, eu vejo orações torpes dita-
das pela ignorância do idioma. Onde todos os pais veem gênios,
eu vejo humanos que, em sua maioria, serão senhores e senho-
ras comuns que não descobrirão a origem do universo nem es-
creverão a novela perfeita, que terão empregos insignificantes
e envelhecerão vendo televisão com seus filhos perfeitamente
comuns nos que, por sua vez, desejarão ver meninos gênios. O
etecetera é eterno.
Leila Guerriero (Trad. libre)
A vida é uma imagem que vai se desconfigurando, perdendo os
contornos, dia-a-dia. Crescer é o trânsito da imagem precisa à
distorção. Quero seguir sendo menina para conservar a vista.
Claudia Masin (Trad. libre)
11
Quando deram um nome a esta conversa, eu o questionei, po-
deria parecer a algumas pessoas algo exageradamente doce e pre-
visível, essa dose intragável de glicose com a qual untamos muitas
vezes a infância, e sobre a qual Guerriero ironiza. Pensei melhor
sobre isso e decidi acolher o nome, supor - por que não? - que os
habitantes de “Casa das estrelas” podem ser as crianças. Assumi
isso para que conversemos sobre a infância e sobre o livro, ao que
Carlos Gómez, de 12 anos, deu o título, ao escrever que o universo
é a casa das estrelas.
Suspeito que, ao publicar o que me escreveram as crianças
em muitas oficinas, os politicamente corretos me culparão por não
mostrar os pequenos como Rubens pinta seus anjinhos, arredon-
dados e sorridentes, imersos em uma paz bobalhona que os banha
de candura e êxtase. Há expressões batidas que eu definitivamente
não habito (e nem as crianças), como: ah, essas criaturas sempre
maravilhosas, ternas, mostras de poesia pura. Querubins em céus
de marmelada. Esses pobres seres a quem ninguém escuta, espo-
liados sempre, maltratados sempre, submetidos a nossos caprichos
e à tirania dos adultos. Vítimas desamparadas do nosso desejo do-
entio e da ordem de buscar ofício assim que desocupam o ventre.
Oh dificuldade extrema: sua dura vontade domesticada por nosso
estéril esforço para que entendam as regras do mundo: o que é
bom e o que é mau, e os converterá em cidadãos exemplares com
“carro, casa e bolsa de estudos”.
As crianças, máximo imaginativo e criatividade sem limites,
pequenos artistas aos seus pesares. As crianças sem arrodeios,
sem hipocrisia, sem crueldade alguma, nem maldade possível.
Seres que veneram os seus pais sobre todas as coisas, e aos quais
é preciso falar com diminutivos, porque as suas cabecinhas ainda
não assimilam nossas vozes graves.
12
Aqui quero recordar Wilde: “As crianças começam por amar os
pais. Quando crescem, os julgam e, algumas vezes, até os perdo-
am” (trad. livre).
Onde está a maneira precisa de entender o que são as crian-
ças? O que nós adultos fazemos de suas vidas? Sempre há matizes,
mas com certeza está o maltrato que lhes trazemos e, muitas ve-
zes, a cegueira que temos do outro, e mais da criança. A abruma-
da solidão desses primeiros anos sem ninguém a nos acompanhar,
abraçando sua vida. Ou a sobre-estimulação à que também os sub-
metemos para que não nos toque a necessária solidão, o encon-
tro consigo no silêncio que ilumina. E onipresente está a paulatina
doença que nos carcome, sem redenção alguma enquanto cresce-
mos, e cujos sintomas descreve Andrés Felipe Bedoya, de 8 anos,
ao apontar que “um adulto é uma pessoa que, em toda coisa que
fale, vem primeiro ela”.
A infância é uma condição, um modo particular de se estar no
mundo, de entendê-lo e de habitá-lo. Não creio que um olhar mais
justo esteja no discurso de tantas pessoas, com argumentos bobos
e impertinentes, nem naquelas que supõem que as crias de nossa
espécie são tiranos prepotentes, egoístas, ignorantes, carentes de
uma percepção do real sugestiva e benéfica.
Escreve Bachelard: “A criança conhece a visão cósmica, que
nos une ao mundo, é na memória dessa solidão cósmica onde en-
contraremos o núcleo de infância que permanece no centro da
psique, nossas imersões nas imaginações infantis nos permitem
conhecer um ser prévio ao nosso ser; toda uma perspectiva de an-
tecedência de ser, contada pelos poetas. É voltar à origem” (trad.
livre)
Com o perdão de Andrés Felipe, aqui vou em primeira pessoa,
para referir algo do que vi nos mais de vinte anos que passei com
os “monstrinhos” ou “anjinhos”... conversando, recolhendo suas
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vozes, tentando, apesar de minhas próprias e patéticas urgências,
escutá-los, olhá-los nos olhos, alcançar sua altura.
Em uma sessão de trabalho em um bairro de desabrigados das
encostas de Medellín, Alexandra Villa, de dez anos, descreveu a si
mesma: “sou a gota que queima a sua carne fresca”. Li despre-
venido, me detive, voltei a ler e, apesar de crer ser próximo das
crianças, fiquei assombrado, fiz um montão de festa, celebrando, e
ela não entendeu. Me olhava como que dizendo “que graça tem isso
que escrevi?”. E este e outros achados mais me fizeram pensar em
algo que vou tratar de esboçar me tornando muito sério, atitude de
gente grande que à Alexandra e aos meninos e meninas seria algo
natural.
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O: B
EN
JA
MÍN
CA
SA
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GO
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Eles asseguram que já está validada a teoria que diz que, em
alguma parte da psicologia evolutiva, no desenvolvimento de um
ser humano se repete o da espécie. A ontogênese reproduz a fi-
logênese. Vamos fingir que não acreditamos que transcendemos
essa ideia e pensemos que a criança estaria nesse estado “primiti-
vo”, próximo do animismo, onde tudo estava dotado de uma alma
comum e não nos sentíamos diferenciados do mundo. Dizer “eu”,
era dizer o mundo. E ansiamos retornar, voltar à unidade que é o
alívio da separação da criatura humana. Ao crescer temos avidez de
individualização, pressão social para conseguirmos nos distinguir
uns dos outros, mas, no fundo, nosso ser íntimo anseia por “reunir-
-se” e, para isso, inventamos algumas coisas que supostamente nos
entregam acordos: religiões, promessas de paraísos, ideologias, a
arte, a poesia, o amor, o erotismo. Alguns desses “inventozinhos”
procuram nos afinar, nos trazer harmonia; outros como as ideolo-
gias e as religiões nos dissociam de maneira implacável. Tratamos
de nos distinguir da manada mas (ah!), dentro de nossas solidões,
como desespera cada pessoa por descansar de si mesma para se
fundir em comunhão, nesses breves momentos de graça que mui-
tos místicos e artistas encontraram. Hierofanias as chamam, e
quando as contemplamos “entramos no templo”, chegamos a essa
união que nos apaga do nome, onde ser e estar não se distinguem.
Dizem “os que sabem” que a espécie humana vem “melhoran-
do”, crescendo em complexidade. Construindo para isso, ou a partir
disso, capas cerebrais. Que nossa evolução afirmou o império do eu,
a eficácia do indivíduo, o domínio de nossas emoções e o controle
de nossos instintos. Supõe-se que a sensação de pertencimento a
um Todo estaria mais próxima de estruturas arcaicas do cérebro,
que se situam no mesmo local em que podem estar a experiência
mística e a poesia... E a maneira sem tempo do mundo que habita
a infância? Essa infância que vem do latim infans: aquele que não
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fala. As crianças que por definição são praticamente mudas, ou não
sabem falar e menos escrever. Mas condescendemos a admitir que
eles têm viva a “capacidade de se espantar”, que sua imaginação
é riquíssima, que são profundamente intuitivos. Lendo o que es-
crevem, vendo-os entregues a seus jogos, sinto que há algo mais
profundo: talvez eles possam viver melhor a Unidade, que para nós
é recusa. Não quero idealizá-los, isso não nega a sua “crueldade
inocente” e o desgarrar e a dor que o mundo vai paulatinamen-
te trazendo-lhes e que se reflete em seus escritos. Para eles, o
tempo caminha de maneira diferente, e a riqueza das imagens em
suas palavras é comum, porque com imagens o que é nomeado
vai além do sentido unívoco que a linguagem meramente utilitária
entrega. O mundo é mais rico porque está enramado em meio a
correspondências.
Muitos especularam sobre as primeiras manifestações da lin-
guagem e concluíram que depois dos gritos e grunhidos, a voz foi
se modulando para encontrar analogias e as palavras então fala-
ram dos fios que nos unem a tudo.
Parece que a poesia na linguagem esteve nos primeiros tempos da espécie, quando participávamos do indiferenciado. E as palavras que a criança-poeta usa nos fazem lembrar isso. A poesia está em sua fala natural, e as crianças nem sabem disso – nem lhes importa – porque quando os deixamos, dizem as coisas assim como as dizem, com toda a tranquilidade, brandura e total despropósito.
Apesar do ceticismo de Guerriero, que, com justiça, se
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encarrega do complexo de Peter Pan, talvez ela não tivesse podido
ver e evocar poesia em seu belo livro “Una historia sencilla”, quan-
do escreveu sobre Rodolfo González, campeão do baile tradicional
de Malambo:
“Ele era o campo, era a terra seca, era o horizonte tenso da
pampa, era o odor dos cavalos, era o som do céu de verão, era o
zumbido da solidão, era a fúria, era a doença e era a guerra...” (trad.
livre).
Juan José Millas assegura que é impossível que um escritor
chegue realmente longe se não segue se maravilhando – como uma
criança – com os fenômenos da natureza, se não é capaz de des-
cobrir que detrás de muitos dos acontecimentos aparentemente
rotineiros se escondem motivos extraordinários.
Lembro-me de meu espanto quando um astrônomo muito fa-
moso nos olhava a todos, desde a televisão, e muito seguro afirma-
va que somos pó de estrelas. Já não é metáfora, mas talvez volte-
mos a habitá-las (nos alegramos com a ideia), quando algo infantil
em cada um de nós vive o mundo com a novidade do que nasce, e
nos faz lembrar que nossa condição de pertencimento, fusão, nos-
so vínculo com as coisas, que, sem dúvida, também somos nós.
Existe um conto maravilhoso de H. G. Wells que se chama “A
porta no muro”, o protagonista é um adulto que se lembra da sua
vida de menino e da descoberta, em uma rua sórdida, de uma por-
ta verde que em seus recorridos diários nunca havia observado.
Quando atravessa a porta, encontra um jardim que descreve assim:
“Lá encontrei companheiros de jogo, o que foi demais para mim,
porque eu era uma criança solitária. Brincavam jogos maravilhosos
em um terreno coberto de grama que tinha um relógio solar feito
de flores. E enquanto se jogava, se amava...” Em “Casa das estre-
las”, Ricardo Mejía diz que jogo é estar feliz e amando. É como se
Ricardo aos seus dez anos já conhecesse bem esse jardim, que não
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é propriamente um espaço, mas ainda o tempo de despropósito da
infância, que se esplende em meio do que para tantas crianças e
adultos é apenas a miséria cotidiana.
Ser criança é poder encontrar às vezes a porta no muro dos
dias, e atravessá-la encontrando a alegria do amor tranquilo, onde
as panteras ronronam como gatos mansos e comprazidos. Não há
qualquer perigo, nem dissonância, nem angústia, nem orfandade.
Já não podemos esquecer nunca esse estado do ser onde, apesar
de tanta dor e perdas, tudo palpita e cintila ao olhar. Recém-criado,
destila, se unge de novidade. Nós adultos buscaremos sempre, - ai,
tantas vezes em vão – voltar a caminhar em êxtase por esse jardim.
Texto escrito e lido na 2ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura de Brasília.
Javier Naranjo MorenoEscritor, gestor cultural, promotor de leitura e docente. Dirige a Biblioteca
e o Centro Comunitário Rural “Laboratorio del Espíritu”. Entre seus li-
vros de poesia se encontram “Orvalho” e “De parte del aire”. “Casa de las
Estrellas” (traduzido ao português, Editora Foz) e “Proyecto Gulliver” são
recopilações de criações infantis. “As cartilhas “El Diario de Mammo” y “El
Diario de…” foram escritas para o Museu de Arte Moderna de Medellín para
aproximar as crianças ao mundo da arte.
FOT
O: C
ÁM
AR
A L
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IDA
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Compromisso com a infância, uma conversa com Jan-Willem Bult
Por comkids e Felipe Jahn
Nessa entrevista para o comKids, Jan-Willem Bult nos fala sobre
suas experiências de produção para crianças, como enxerga a pro-
dução audiovisual em outros países, especialmente na América
Latina e de sua incontornável filosofia de TV infantojuvenil:
bons programas devem fazer as crianças imaginar. Para ele, obras
infantojuvenis precisam também olhar as crianças com todo seu
protagonismo, agindo como elas são, naturalmente. Essa é a me-
lhor forma de criar uma conexão e permitir que as crianças pen-
sem sobre seus interesses, direitos e responsabilidades. Ele nos
fala ainda sobre o seu último trabalho na KNN, Kids News Network.
Com os desafios históricos entre gerações, qual é o ponto
de encontro entre elas hoje? Qual é o melhor jeito de criar um
diálogo com a infância?
Atualmente as crianças de hoje parecem, ou passam a imagem
de serem mais adultas, mas, fundamentalmente, elas serão sempre
crianças. Isso quer dizer que você pode contar uma boa história e
elas vão se emocionar. Com as inovações tecnológicas, há plata-
formas diferentes e essas possibilidades aumentam, assim como o
desafio de achar a linguagem certa. Nesse sentido, há muito a ser
desenvolvido. Só que não vejo tantas mudanças em como esse pú-
blico é por dentro. Temos mais ferramentas e circunstâncias, mas
as bases continuam sendo as mesmas: respeitar e estimular o po-
tencial criativo que elas têm.
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FOTO: FREE PRESS UNLIMITED
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Subestimar as crianças é uma armadilha fácil de cair, no mo-
mento de desenvolver um conteúdo para elas. Como evitar?
Não é fácil. Estava conversando com alguém algum tempo
atrás sobre como, em casos de divórcio, o juiz ainda não escuta o
que as crianças pensam e querem. A nossa historia é assim, nos es-
quecemos da posição delas. E temos um papel crucial na emancipa-
ção da criança. É um sinal para adultos que eles têm historias para
contar. Tenho a forte convicção de que o meu trabalho exige mais
responsabilidade do que muitas pessoas atribuem. Quando fui para
Cuba, houve uma expectativa de que eu seria muito crítico ao tra-
balho feito lá, por ser de uma geração que trata de assuntos como
guerra fria de uma maneira muito polarizada. Mas no momento em
que começamos a debater, entenderam que meu objetivo é outro.
Como falei para o ministro de educação de lá, você tem uma boa
mídia para crianças quando coloca elas na tela para inspirar as que
assistem em casa. E a qualidade dessa mídia reflete a qualidade
de uma nação. Podemos ver nos Estados Unidos, por exemplo, em
que há uma posição capitalista, de mercado, onde se vende. Já no
meu país há um interesse maior em cultura e menos em marketing.
Tratamos mais de temas que são importantes para as crianças.
Qual tem sido a influência das inovações tecnológicas em
tanta oferta de conteúdos infantojuvenis?
Geralmente você pode dizer que o poder da televisão diminuiu
e outras plataformas mostraram ótimas maneiras para educar uma
audiência. Assim, com os aplicativos, jogos e redes sociais virtuais,
nos últimos 15 anos temos procurado desenvolver abordagens de mí-
dia cruzada. Produzimos programas de televisão que vão para o site,
assim como vídeos que vão primeiro para a web e depois para a tele-
visão. O papel da TV mudou nos últimos anos, em alguns casos tem
um papel secundário, mas de maneira geral ela ainda é protagonista.
21
FOTO: FREE PRESS UNLIMITED
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Com um projeto na internet de bons resultados, muitas pessoas pen-
sam na televisão quando querem ter uma abrangência maior. Porém
hoje é preciso se perguntar antes o que está sendo feito na web.
Há vídeos, um canal no Youtube, uma conta no Twitter? Tem muita
coisa interessante antes desse mundo muito competitivo e caro da
TV. Além disso, temos que levar em conta o quanto a repetição é
importante para esse público. E com a web, é possível assistir uma
obra quantas vezes quiserem. Ou seja, agora você produz algo para
a televisão, mas que vai ser muito mais utilizado em outras platafor-
mas. Então, quando crio um show, sempre penso em como minha
audiência vai vê-lo depois da quinta vez. Ainda vai ter o bastante
para que ela imagine?
Alguns programas da KROyouth, durante sua gestão, atin-
giram bastante sucesso colocando crianças para fazer ações co-
tidianas, como cozinhar ou desmontar objetos. Como percebeu
que isso iria atrair a atenção desse público?
Essa é a base da minha filosofia de TV para crianças. Quando
era jovem, assistia ao show Vila Sésamo, que tem apenas bonecos,
todos interpretando um papel. E quando comecei, eu me perguntei
se adultos gostam tanto da realidade, por que não damos às crian-
ças também? Já nas ficções eu gostaria que tivessem os pequenos,
agindo naturalmente, sem falar como adultos. Ou seja, às vezes até
se comportando mal. Então produzi um documentário sobre o que
as crianças da pré-escola gostam de fazer. Foi daí que surgiram as
ideias de programas em que elas cozinham e usam a caixa de ferra-
mentas. O estranho é que apesar desses shows serem muito respei-
tados e ganharem prêmios, quase ninguém copia. Muitos chegam e
dizem “olha como as crianças se divertem!”, porém não copiam por-
que acham que os pais vão reclamar, acham perigoso colocar uma
faca na mão de uma criança. Mas o que isso tem a ver? Programas
23
assim dão ideias, estimulam a criatividade. Isso é o que importa. Eu
me vejo como alguém completamente comprometido com as crian-
ças. Estou interessado em trazer valores, estimular o engajamento,
dar os melhores programas. E vi que consigo isso assim.
Sobre o seu novo desafio, KNN , por que você acha impor-
tante que crianças e jovens estejam em contato com notícias?
Como abordar este tema com elas?
Crianças que vivem em países onde existem programas de no-
tícias feitos especialmente para elas, ficam menos assustadas com
os conflitos e os temas de violência do que crianças que vivem em
lugares sem esta oferta, como os Estados Unidos e o Brasil. Isso
já foi apontado num estudo recente realizado pelo IZI, Instituto de
Estudos de Televisão da Alemanha. Recentemente fui convidado
pela Free Press Unlimited para dirigir o setor dedicado à audiência
infantil. A FPU é uma ONG holandesa que trabalha pela liberdade
de imprensa e promove a mídia independente. Uma de suas princi-
pais atividades da organização é a Kids News Network (KNN), uma
Rede de Notícias para Crianças. Há 10 anos eles iniciaram o primei-
ro programa de notícias em Suriname, antiga colônia holandesa
no Caribe, e acabamos de lançar a mesma atividade na Ásia, em
Bangladesh. Nestes 10 anos, a KNN vem dando suporte a 12 países,
conectando hoje Suriname, Nicarágua, Bolívia, Peru, Nepal, Burma,
Indonésia, África do Sul , Gana, Zâmbia, Bangladesh. Já estamos
trabalhando para incluir o México, o Egito, a Rússia, a Índia, e com
planos de ter o Brasil em nossa rede.
Falar sobre a KNN no comKids Inovação foi importante porque
reconhecemos o nosso trabalho como inovador. Não estamos só
desenvolvendo programas de notícias, estamos conectando comu-
nidades de crianças e jovens, para que eles tenham sua própria
rede. São eles que dão input e trazem as questões para que os
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produtores possam produzir, e são eles que promovem os progra-
mas. Às vezes, também editam novos clips, transformando em no-
vas produções. Como as notícias produzidas para KNN fazem parte
de uma coleção de curtas e pequenos documentários, cada item,
individualmente, pode funcionar como uma peça de VOD (vídeo on
demand) para telefones celulares, por exemplo.
Programas de notícias como nosso telejornal semanal
“Wadada World Kids News” representam a conexão entre crianças
FOTO: FREE PRESS UNLIMITED
25
de diferentes partes do mundo e a criação de conteúdos em con-
textos multiculturais.
Eu acredito que a nossa obrigação como adultos é abrir possibilidades para que crianças e jovens possam expressar seus sentimentos e pensamentos, e possam entender melhor o mundo que os cerca. Essa é a base para pensar os direitos da infância e das crianças, e é disso que os adultos devem cuidar.
Outra característica das suas produções é tratar abertamen-
te de assuntos considerados tabus, como morte ou bullying. Em
sua experiência, como você enxerga esses temas sendo tratados
no seu e em outros países?
Sempre penso que há muita diferença entre o que fazemos
aqui e em outros lugares, mas de fato temos mais liberdade. Há
países que estão melhorando, principalmente no norte da Europa.
Na Alemanha, na Bélgica, você pode achar programas desse tipo.
No entanto ainda há uma hesitação geral. Na América Latina eu
vejo um desejo de luta ainda no começo. É sempre importante ver
o que a criança pensa, não somente o adulto. Cito um caso. Vi que
as crianças da pré-escola costumam ser bastante espirituais, gos-
tam de assuntos relacionados a esse tema. Então pensei, por que
não fazer uma série de ficção para elas sobre morte? A questão é
que eu podia facilmente falar sobre um jovem que o pai ou a mãe
morreu. É o que acontece na maioria dos programas. Resolvi falar
com meu público e descobri que essa situação seria muito abstrata,
porque eles não conheciam os pais de outros. Podiam achar triste,
26
mas só. A solução encontrada foi simples. Se o cachorro do garoto
morresse, a conexão seria muito maior. Então, na série o protago-
nista enterra o animal no quintal de um vizinho rico e sempre volta
até o túmulo. Em um episódio, um gato suja a sepultura e o garoto
vai atrás dele por impulso, para jogar água, na companhia de um
amigo. Isso mostra como uma criança é. Falamos do luto e da raiva,
mas também de felicidade, ao mostrar o protagonista e seu amigo
se divertindo. Isso tudo poderia ser considerado comportamento
impróprio, mas ninguém reclamou, todos que assistiram entende-
ram a reação do personagem.
Qual a importância dos encontros e festivais para o desen-
volvimento de mídia infantil no mundo e na região?
A cooperação. Quando trabalhamos juntos é importante. Se
isso existe, fica mais fácil mostrar exemplos de bons programas.
Além disso, filmes são muito importantes. A TV tem que trabalhar
com festivais de cinema também. Com filmes você pode fazer algo
poderoso e frequentemente as histórias de ficção conseguem cor-
rer o mundo. Se forem curtas, há a possibilidade de ficarem dis-
poníveis online e atingir um público imenso. Isso significa que há
milhões de pessoas no mundo que o assistiram espontaneamente.
Se houvesse um trabalho de divulgação, esse número poderia ser
multiplicado. Então é aí que entra essa cooperação internacional.
Nossa presença no comKids Inovação, por exemplo, gerou mui-
tos contatos com criadores, produtores e ONGs interessados no
compromisso e na criação de novas redes com crianças e jovens.
ComKids provou que é uma plataforma poderosa para conectar a
América Latina com os resto do mundo e encontrou no Goethe-
Institut um grande parceiro. Vamos sim manter nosso foco na
Inovação e na cooperação e, juntos, poderemos fazer a diferença
na vida das crianças e dos jovens.
27
Veja também:
– Como Explicar?
– As Histórias Infantis
– Autonomia Infantil
Jan-Willem Bult É escritor de livros infantis, roteirista de cinema e séries de TV. De 1997 a
2013 ocupou a posição de diretor criativo e chefe de programação infanto-
juvenil da KRO, emissora pública da Holanda. Por seu trabalho já recebeu
prêmios do Prix Jeunesse Internacional, Prix Danube e Dutch Academy
Award, sempre pontuados pela ousadia, inovação e criatividade. Em 2007,
fundou sua própria fundação, a JWB Foundation, para apoiar projetos de
mídias e esportes com participação infantil para o desenvolvimento da
paz. Desde fevereiro de 2014, é embaixador do Kids News Network, com
o propósito de apoiar o desenvolvimento da ação e o alcance da rede dos
programas de notícias para crianças.
28
Menino Ezaquiel por Samuel Macedo.
29
A casa azul
Por Gabriela Romeu
“Sai do meio!”, “olha a lapada”, “errou, deita, deita!”. Depois que a
chuva deixa o chão de terra do terreiro da Casa Azul batidinho, os
meninos se amontoam por ali, braços ligeiros e falas apressadas,
para fazer o pião rodopiar em manobras arriscadas. No meio de ta-
manha agitação, entre os intensos zunidos dos giros do brinquedo
e as disputas narradas de forma acalorada pelo meninos, ouvimos
um grito lá de dentro: “Augusto, larga aí, cabinha, tá na hora do
programa!”.
Augusto Diniz por Samuel Macedo
30
Augusto é um dos cabinhas que corre os dias pela Fundação
Casa Grande – Memorial do Homem Kariri, lugar onde viver-apren-
der-brincar-crescer-ser são verbos conjugados com a mesma in-
tensidade. O programa é Submarino Amarelo, que há tempos vai
ao ar na Rádio Casa Grande FM. Já a Casa Azul, assim como os
meninos-personagens dessa história, é importante protagonista de
uma narrativa afetiva que se desenrola no dia a dia de um pedaço
de Brasil que se configura em Nova Olinda, cidadezinha sertaneja
do Cariri cearense. (Ah, e cabinha é como as crianças são chama-
das na região do Cariri. Cabra vira caba, que vira cabinha.)
Os meninos da Casa azul – Letícia, Tainara, Alycia, Yasmin, Augusto, Thiaguinho e Thalles por Hélio Filho
31
São muitas as histórias que já ouvi os meninos, os tais cabi-
nhas, narrando sobre suas peripécias na Casa Azul. Ela, a Casa,
está nas muitas fotos que as crianças de lá tiram, também surge
entre os versos das narrativas infantis escritas em cordel nessa ter-
ra de Patativa do Assaré. Talvez, não sei bem, a Casa Azul seja a
maior protagonista dessa história contada aqui – e olha que a gale-
ria de personagens ilustres é extensa: as crianças (e as já não mais
tão crianças) Miguel, Samuel, Helinho, Aécio (Bilu), Júnior, Fabiana,
João Paulo, Aureliano, Yasmin, Samara, Bruninha, Taynara, Letícia,
Thiaguinho, Felipim, Thales, Alycia e, claro, Alemberg e Rosiane
(menino e menina crescidos que estão na origem de tudo).
Convido então o leitor a entrar nessa Casa e conhecer um pou-
co tal experiência – se é que isso é possível em tão poucas palavras.
Do terreiro onde há pouco os meninos rodavam o pião (sinto ainda
o cheiro de terra molhada), adentramos na sala do Memorial do
Homem Kariri. Ali, logo somos recepcionados por Cariuzinho, ima-
gem de madeira de um menino índio, antigo cariú, herdado de uma
senhora cabocla da região. O indiozinho, imóvel, aparece ao lado de
uma das saltitantes crianças (talvez Yasmin, Bruninha ou Thales),
provavelmente com a fardinha (o uniforme de camiseta branca e
calça vermelha) suja de terra – coisa de criança que brinca.
Na parede da mesma sala, Santo Antônio, São Miguel e São
Jorge se misturam com as fotos antigas, já esmaecidas, de duas
crianças, um menino e uma menina – símbolo da eterna infân-
cia, uma Terra do Nunca sertaneja. São as imagens de Alemberg
Quindins e Rosiane Limaverde, casal que nos anos 80 se dividia
entre a vida nos festivais de música e as pesquisas das narrativas
míticas do Cariri a bordo de uma moto. Nessas andanças, foram
reunindo histórias, fotos, objetos, peças da arqueologia (vasos de
cerâmica, ferramentas de pedra) da região. Assim, criaram em 1992
um memorial numa casa do século 18, construção que deu origem
Menina Bruna, uma das responsáveis por receber os visitantes da casa, no Memorial do Homem do Cariri por Hélio Filho
32
Glauber Filho por Samuel Macedo
Menino Alan por Fabiana Barbosa
Menino Filipinho por Fabiana Barbosa
33
à Nova Olinda, onde vivia Neco Trajano, avô de Alemberg. Era um
jeito de preservar suas origens e retribuir tudo àquela gente.
Das janelas laterais da Casa Azul, avistamos o Parque do Véio
Leonso, onde as crianças brincam de escorregar e balançar, entre
o entra-e-sai das atividades nas salas que abrigam diversos labora-
tórios da Fundação Casa Grande. Numa se faz gibi, na outra há uma
DVDteca com filmes de arte, numa terceira aprendem arqueologia.
Há ainda biblioteca, estúdio de edição de audiovisual e teatro, este
último numa construção que remete às antigas casas de engenho
Meninos em reunião Iêdo, Augusto, Antonieldo, Tailane, Daniel, Thalles, Felipe, Thiaguinho, Alycia, Ana Julia por Hélio Filho
34
da região. Todo canto da Casa tem uma história a ser contada – e
diz a lenda que a Tapera (em tupi-guarani, casa velha abandonada,
como já foi chamada) foi mal-assombrada no passado. Hoje, só o
assombro de quem chega desavisado.
Na Casa Azul, as crianças carregam nas mãos uma vassoura
do mesmo jeito que empunham uma filmadora. Elas recebem os
visitantes no memorial (local que percorremos em palavras nos
parágrafos anteriores), escolhem as músicas e contam histórias
nos programas da rádio, acompanham a arqueóloga Rosiane em
trabalhos de escavação nos sítios arqueológicos, brigam para defi-
nir os rodízios de tarefas às vezes (ou quase sempre), organizam a
programação do teatro, que já recebeu artistas como Manu Chao,
recolhem o lixo do banheiro. Se existe protagonismo infantil, ele
mora na Casa Azul.
Entre o parquinho e a biblioteca, meninos e meninas são auto-
ras e autônomas, o que é visível em suas criações, que têm a mar-
ca da irreverência das crianças. Quando conheci a Fundação Casa
Grande, estavam no auge das paradas de sucesso da Rádio Casa
Grande FM as músicas da bandinha de lata Os Cabinha, que reunia
um grupo incrível de cinco meninos (Momô, Iêdo, Rodrigo, Artur e
Renê). Crias da FCG, eles tocavam na lata, cantavam no gogó sem
medo de errar e inventavam composições como Noite de Lua, com
versos animados assim:
“Um dia, noite de lua
Abri a porta, fui cagar no meio da rua
A bosta endureceu, passou um jipe e furou o pneu
Levaram pra prefeitura, examinaram, era bosta pura
Levaram para o xadrez; se duvidarem, eu cago outra vez”
Alycia, Yasmin, Augusto, Thiaguinho, Felipe, Thalles, Tainara, Filipinho, Ana Julia, Momô, Adenilson, Iêdo, Daniel, Alan e Diassis por Hélio Filho
35
Já li várias definições para o trabalho da Fundação Casa
Grande, coisas como uma “escola de comunicação e gestão dos
meninos do sertão”. Pra mim, a Casa Azul é um verdadeiro labo-
ratório de experiências de infância – ou para experimentar, viver e
habitar com vontade a infância. Laboratório “experimental” esse
que nasceu na infância de seu fundador, Alemberg Quindins, que
se lembra com fervor de suas criações mirabolantes de menino,
inventor de cineminha em caixa de papelão numa cidade onde não
chegava nem gibi e repórter das partidas de futebol que rolavam
no “campinho do pé-de-pequi”. Sem se apegar a teorias pedagógi-
cas, Alemberg costuma dizer que a Fundação Casa Grande não é
espaço de formação, mas lugar de vivência. A Casa Azul é morada
da infância.
Apoio na edição de imagens: Fabiana Barbosa
Veja também:
– Um homem de narrativas, sobre Alemberg Quindins, funda-
dor da Fundação Casa Grande, junto com Rosiane Limaverde.
– A conversa com Alemberg Quindins no evento comKids
Inovação (em vídeo).
Gabriela Romeu É jornalista, documentarista e crítica de teatro infantil. Coautora de Tutu-
Moringa – História que Tataravó Contou (Companhia das Letrinhas), está
agora escrevendo um sobre suas andanças pelos quintais do Cariri cearen-
se ao lado do fotógrafo Samuel Macedo, um sempre menino da Fundação
Casa Grande. Em parceria com a jornalista Marlene Peret, é idealizadora
do Projeto Infâncias.
36
Espaços que honram a infância
Por Cielo Salviolo
A província de Santa Fe, no centro da Argentina, tem o privilégio de
ter a queridíssima Chiqui González, uma criadora incansável de es-
paços e propostas culturais para as infâncias argentinas que enri-
quecem as experiências, as histórias e os repertórios dos meninos
e meninas de todo o país.
Alguns dos conceitos que orientaram as propostas culturais e
recreativas que ela e sua equipe puseram à disposição de garotos
e garotas de todo o país permeiam todos nós que trabalhamos a
relação entre infâncias e cultura, desde uma perspectiva que re-
conhece a todos os meninos e meninas como produtores culturais.
O Tríptico da Imaginação (El Molino, La Redonda y La Esquina
Encendida) na cidade de Santa Fe e o Tríptico da Infância (La Isla,
El Jardín y La Granja) em Rosário, são lugares com uma poética
particular, onde os passeios, os jogos, a disposição dos elementos,
nos recordam o nosso lado humano, nos remetem a estados de fe-
licidade, de prazer, de brincadeiras, de liberdade, de imaginação e
de criação com os outros.
A infância, diz Chiqui, é “transmissão” e “criação” de cultu-
ra de uma só vez. Por isso, quando pensamos e projetamos nos-
sas propostas culturais, estamos na verdade honrando, facilitando
e apoiando o que é próprio da infância: o jogo, a imaginação e a
apropriação pelas novas gerações do melhor que oferece o acervo
cultural legado pelas gerações anteriores.
Não se trata de impor os valores que as crianças têm que in-
ternalizar para criar uma sociedade melhor no futuro, e sim de
1
Créditos das Fotos1, 2, 3, 4 e 6: Victoria Vazquez
para el Ministerio de Innovación y Cultura de la Provincia de Santa Fe
5: Franco Trovatto/ Guillermo Turin para la Secretaría de Educación y Cultura de la Municipalidad de
Rosario, Provincia de Santa Fe
37
2
4
3
5 6
38
39
respeitar os processos mediante os que construímos cultura en-
tre todos, e sobretudo aqueles processos de renovação da cultura
próprios da infância.
Projetar propostas culturais inovadoras para a infância impli-
ca incluir nessas propostas os modos de ser e estar no mundo que
a infância possui: o jogo, a imaginação, as perguntas, o estudo, a
exploração e a mediação do real. Mas é necessário também nos
perguntarmos quais aportes queremos fazer, para que queremos
fazê-los e como aquilo que faço para e com as crianças enriquece
os seus repertórios culturais, cria afeto, abre caminho à liberdade
e convida ao jogo.
A cultura precisa da proximidade do cotidiano, do vínculo,
porque sem o cotidiano não existe o afeto, e precisa também da
distância da imaginação poética porque sem a imaginação poética
não há mudança, não há transformação. Esta é a ideia que está por
trás dos maravilhosos espaços que Chiqui González e sua equipe
criaram.
Vale a pena conhecê-los, reconhecê-los e deixar-se inspirar
por eles.
Veja também:
– Congreso de la felicidade
– Chiqui González en TED: “Ser un salto”
– Rosario, ciudad de los niños
– La Redonda
– El Molino
40
41
42
43
Chiqui GonzálezMinistra de Inovação e Cultura de Santa Fé desde 2007, é também advo-
gada, especialista em Direito da Família pela UNR, Argentina. Durante a
sua gestão, criou o projeto “Tríptico de la Infancia” de Rosario, circuito
pedagógico integrado por espaços públicos destinados para a convivência,
educação, criação e imaginação de crianças e adultos. Docente titular da
FADU – UBA e da Escola Internacional de Cinema e Televisão ECTV, Chiqui
também conta com uma extensa produção teatral como atriz, diretora e
dramaturga dentro e fora do país. Vice-Presidenta do Conselho Diretivo de
ATEI, participou da criação de canais de televisão infantis como Pakapaka
e Encuentro.
Cielo SalvioloConsultora e investigadora em comunicação, cultura e infância e produ-
tora especializada em audiovisual para crianças. Participou no processo
de criação do Pakapaka, primeiro canal de televisão pública infantil da
Argentina reconhecido na América Latina (Diretora fundadora e consulto-
ra criativa e de conteúdos). Dirige o Laboratorio de Televisión Infantil para
América Latina (latinlab.org), especializado em conteúdos em múltiplas
plataformas.
44
O brincar e as janelas para inspiração
Por Garatujas Fantásticas
O brincar e as janelas para a inspiração
Foi numa manhã de sol suave em Barcelona. Estranhas esculturas
de caixa de papelão despon-tavam tranquilas na calçada em frente
a uma biblioteca pública. Os pilares marrons, antes tristes, firmes
e de pé no chão, tremeram ao som de uma batucada que se se-
guiu, anunciando a chegada de 24 ilustradores. Era o sinal de que
algo muito importante estava para acontecer com as caixas, com
a biblioteca, com a calçada da biblioteca, com Barcelona e com a
imaginação das crianças, que até aquele minuto chegavam timida-
mente ao evento.
A pompa do batuque foi ideia da Libreria La Petita, que preten-
dia criar um grande quebra-cabeças ilustrado e tridimensional ao
ar livre. O projeto, aliado à Petit PobleNou, uma organização que
trata de promover ações locais para famílias, contou com o apoio
de editoras e a audácia dos ilustrado-res. Cada um com sua técnica
e uma unidade tremenda transformaram o espaço público em uma
festa de família. L’art trenca closques, assim chamado o evento em
catalão, quer dizer A arte des-arma tua cabeça. Conceito e esforço
de realização que partiram da cabeça desarmada do ilustra-dor e
editor argentino Diego Bianki.
Ao trabalho, os convocados passaram a ilustrar os caixotes de
papelão em duas faces, cada uma com pedaços dos personagens
de seus livros. Ao mesmo tempo, logo ao lado, um outro quintal
revelava uma imaginação sem tamanho. Assim como as caixas
TARTARUGA FELIZ
46
enormes para os adultos, havia outras menores, especialmente
para as crianças. Depois desse processo de ilustração tão rico, a
brincadeira gerou um mundo novo a ser explorado. Começou o tro-
ca-troca do maior quebra-cabeças ilustrado que já vimos.
Foi divertido demais observar como as crianças queriam mu-
dar e experimentar. E, ao final, como elas mesmas queriam voltar
às combinações iniciais, para que cada parte de cima encontrasse
de novo com sua parte de baixo correspondente. No quintal das
crianças pequenas, uma monitora incentivava a ser livre, pintar, su-
jar, criar à vontade. No final do evento, a pequena obra virou pre-
-sente para a praça: uma escultura em colunas coloridas.
Em poucas horas, crianças e adultos puderam experimentar
juntos o fazer poético no espaço público e reorientar o olhar so-
bre os personagens da literatura. A transformação das caixas de
papelão em um universo criativo rompeu o cotidiano com jogo e
imaginação, que uniram uma pequena comunidade em torno do
brincar. Os ilustradores, de mãos dadas com esse ideal, fizeram a
mediação com louvor.
Processo e inovação
O processo das crianças em reordenar os caixotes, rabiscar e
sujar foi um rompante de inovação, com resultados práticos e cons-
trutivos. No entanto, é preciso ressaltar: trata-se de um rompante
normatizado, em uma operação de espaço/tempo definidos. Há ele-
mentos limitadores implícitos. Toda a operação se resume a mais
uma janela aberta que deixou entrar uma brisa, um raio de sol sua-
ve, que iluminou a subversão das regras e permitiu a transgressão.
A questão que nos afronta, em muitos momentos, é a dificul-
dade em deixar as janelas sempre abertas para a inovação - e não
apenas em momentos pré-definidos. Mesmo nas conceituações
47
FOTOS: GARATUJAS FANTÁSTICAS
48
mais recentes do termo, como a famosa e influente definição do
educador britânico Ken Robinson, que propõe a inovação como a
criação de novas ideias que tenham valor e que possam ser im-
-plementadas, há a tarefa perene de encontrar uma chave, escan-
carar algo e torná-la factível. Ora, se na acepção de Robinson a
implementação é o rasgo final da inovação, sob quais parâmetros é
possível pensar em implementação?
Um deles, que consideramos o mais presente e o mais desa-
fiador, é a entidade luzidia chamada mercado. O mercado é fator
preponderante na normatização do espaço/tempo para a inovação,
reflexo de um contexto em que o processo capitalista e a infusão de
ideais de consumo é galopante. Entre as razões mais perniciosas
para inovar está a invisível aceitação do mercado, que submete ao
seu jugo o que é ou não é válido como jogo, como imaginação e
como brincar.
Mesmo as crianças, inovadoras por natureza, acabam subme-
tidas a delimitações imperceptíveis e veem o potencial de suas in-
fâncias ferido de maneira atroz. Acabam esmagadas pela narrativa
utilitária do adulto que, muitas vezes sem perceber, ou por enten-
der que não há remédio, transfere uma lógica paradoxal de que a
inovação só é permitida se aceita pelo que ele considera como o
mercado. Desmorona, assim, a noção de que o inovar é um estado
natural de curiosidade e experimentação, elementos cruciais para
o brincar.
Interessante notar como no ambiente formal de educação o
brincar é notadamente tolhido. Muito presente nos anos iniciais de
ensino, a janela da inovação se fecha nos períodos seguintes. Esse
é um processo bastante simbólico que merece ser repensado, com
uma eventual proposição de outras formas de apropriação de sa-
beres que envolvam a brincadeira, tenham as crianças a idade que
tiverem.
49
O brincar como norma
O filme Tarja Branca (veja trailer aqui), da Maria Farinha Filmes,
propõe que simplesmente esquecemos de brincar. A afirmação,
quase óbvia, que ganha peso com a profusão de problemas de saú-
de mental e o uso de medicamentos para combater distúrbios. O
verdadeiro remédio, aponta o filme, está na infância e nas constru-
ções que advêm do brincar. Isto é, a resposta está nas janelas sem-
pre abertas para receber a brisa e a luz, e precisamente refratárias
às narrativas do mercado.
Em vez de nos orientarmos por uma normatização do espaço/
tempo da inovação, uma proposição mais atraente é galvanizar o
conceito de inovação como norma. O brincar dilapidado pela rotina
pesada, pela narrativa do correr atrás e pela contrição da necessi-
dade de implementação, pode voltar a ganhar corpo se partirmos
do princípio que a experiência que narramos de Barcelona, ou de
qualquer cidade brasileira, não pode ser apenas uma das poucas
janelas abertas entre tantas outras fechadas à inovação.
Como propõe o filme Tarja Branca, a autoanálise do adulto que
deixou de brincar oferece a redenção à infância ferida. Ele reabre a
janela da imaginação e do brincar, rompe com o padrão de acumu-
lação de capital e dissolve pressões sociais com vistas para um fu-
turo melhor. É a transgressão como agente facilitador da inovação.
Em outras palavras, é apresentar a possibilidade de que é possível
e desejável viver daquilo que dá alegria e prazer, e não daquilo que
é proposto pelo mercado como ideal.
É perfeitamente possível mudar hábitos e reinventar a práxis
que leve à inovação. Há princípios talvez um pouco esquecidos, mas
bastante importantes, para orientar nossa visão. Estamos falando
de cooperação, de coletividade e de horizontalidade. O espetáculo
50
FOTO: GARATUJAS FANTÁSTICAS
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diário do diálogo torto entre adultos, que envolve a polarização po-
lítica, a reificação de estereótipos, a agressividade e a violência,
destrói a alegria do debate para a construção de novas ideias.
Precisamos a todo momento olhar para as crianças e lembrar
das crianças que fomos quando buscamos inspiração. Essa é uma
das maneiras de inspirar as pessoas a abrir suas janelas e deixar
os raios de sol arejarem os cantos escuros que criamos para nós
mesmos.
Garatujas FantásticasO site Garatujas Fantásticas é um projeto independente do Estúdio
Voador. Com foco em arte e literatura, é uma ponte para que adultos e
crianças experimentem o mundo juntos, troquem olhares e experiências.
Compartilhamos conteúdo e convidamos os mediadores a explorar nossas
ideias e vivências pensadas no mundo infantil.
52
Escola: espaço de cultura e inovação
Por Luisa Furman e Helena Mendonça
Desde a fundação da Escola da Vila, na década de 80, a cultura faz
parte do projeto pedagógico e está totalmente inserida no dia a
dia, sendo considerada um aspecto fundamental na formação de
nossos alunos.
Entendemos esse aspecto como uma das marcas que carateri-
zam e permeiam o trabalho em atividades dentro da sala de aula,
em cursos de extensão curricular em ações que por si só contri-
buem com a compreensão do que é cultura na escola, no mundo e
de como os alunos podem e devem se relacionar com isso, dentro e
fora da comunidade escolar.
O trabalho da Área de Cultura da Escola da Vila é justamen-
te olhar para a comunidade escolar e pensar formas de articular
todos esses elementos, oferecendo atividades que apoiem e/ou
complementem o currículo , além de eventos anuais para todos os
segmentos.
Como a Escola da Vila tem se debruçado intensamente sobre a
relação entre as tecnologias digitais e a educação, no ano passado
realizamos um evento para os alunos de Ensino Médio chamado
VilaLab, que congregou uma série de atividades cujo propósito era
o de aproximar os alunos de práticas e concepções inerentes às
tecnologias de informação e comunicação. Dentre a programação
do evento, tivemos oficinas sobre processos de criação e produção
musical, animação, remixagem, computação física com arduíno e
muitos outros temas.
Além destes eventos, os alunos do ensino fundamental podem
optar por frequentar os cursos de criação de jogos, destinado aos
53
alunos de 9 e 10 anos e o curso de mídias digitais para alunos do en-
sino fundamental 2, de 11 aos 14 anos. Nesses cursos, eles são con-
vidados a experimentar a programação e criação de peças digitais.
“Aprender a programar e programar para aprender”, esta é a
frase usada por Mitchel Resnick para definir a proposta de escri-
ta de código desenvolvida por sua equipe no MIT - Massachusetts
Institute of Technology - com o uso do Scratch, aplicativo criado
por sua equipe, voltado para crianças e jovens e usada atualmen-
te por milhões de pessoas em todo o mundo. Resnick afirma que
“quando você aprende a ler, você pode então ler para aprender. É a
mesma coisa ao escrever códigos. Se você aprende a escrever códi-
gos, você pode escrever códigos para aprender”. Temos trabalhado
com os alunos em algumas propostas, nas quais um dos objetivos é
que eles programem, escrevam e decifrem códigos, para aprender.
O curso de criação de jogos promove um contato com progra-
mação de dados e criação de objetos digitais com imagem, texto e
áudio. Além de oferecer recursos visuais avançados, o aplicativo
usado, scratch, permite que a programação de objetos seja realiza-
da através do encaixe de blocos, similar a um jogo de lego.
Temos feito, neste curso, uma série de propostas de criação
de jogos de entretenimento, que abrangem ampla quantidade de
blocos e tipos de ações disponíveis no aplicativo. As propostas in-
cluem a criação de labirintos, jogos de campo minado, de adivinha-
ção e outros. Em alguns momentos, usamos temas e ilustrações
de outros projetos realizados em outras aulas, como material de
apoio para a construção dos jogos. Um dos jogos construídos nos
últimos meses, usou ilustrações produzidas pelos alunos do 2o ano,
nas aulas de inglês, com base nas fábulas “O Leão e o ratinho” e “A
tartaruga e a lebre”.
Para a criação de um jogo em meio virtual, os alunos criam
uma história. Nela, há personagens, desafios e formas distintas de FOTOS: ARQUIVO DA ESCOLA
54
se atingir um objetivo. Além dos conhecimentos de lógica e progra-
mação, resolução de problemas, matemática e outros, necessários
para as sequências de comandos e instruções, é fundamental que
eles se coloquem no lugar do outro, o jogador, antecipando quais
as instruções a serem dadas, se é possível ou não chegar ao fim do
jogo e quais os caminhos possíveis para se atingir o objetivo prin-
cipal. É importante também pensar sobre o que comunicamos e o
que queremos comunicar com este jogo.
Recentemente, fizemos algumas propostas com Arduíno e
Scratch. Em uma das aulas, os alunos montaram um circuito com
um “pontenciômetro” e a variação desse circuito foi uma das
55
variáveis de um programa construído no Scratch. Pense em dinos-
sauro que tem seu tamanho aumentado ou reduzido a partir do
giro de um botão. Foi a primeira experiência desses alunos com
computação física na escola.
Estas iniciativas têm atraído cada vez mais alunos que se
interessam e ficam curiosos ao verem o resultado de suas pro-
duções e as dos colegas. Além de promover espaços de criação,
pensando num maior protagonismo das crianças e jovens diante
das telas, a intenção é, também, mobilizar o conhecimento sobre o
uso das tecnologias para o desenvolvimento de games, a criação de
aplicativos e outros fins. Estas propostas despertam a vontade de
aprender de muitos alunos e trazem temas importantes da nossa
cultura, a serem discutidos na escola, como o uso de tecnologias
digitais , a educação e a criação de pequenos, e quem sabe, no fu-
turo, grandes mundos virtuais.
Helena Andrade MendonçaCoordenadora de Tecnologias Educacionais na Escola da Vila e e atua tam-
bém no Centro de Formação da Escola da Vila. Formada em Engenharia
Eletrônica com especialização em Psicopedagogia, atualmente pesquisa
sobre digital literacies e formação de professores na FFLCH-USP.
Luisa FurmanFormada em Artes Plásticas pela FAAP, é professora de Artes para alunos
de Fundamental 2 e também uma das coordenadoras da Área de Cultura na
Escola da Vila. É mãe, profissional e nas horas vagas, ilustradora amadora.
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O casting, indo além da busca de personagens de TV
Por Claudia Patricia González V.
Até uns anos atrás, o caminho para se fazer televisão infantil
na Colômbia era um caminho sem mapa e cheio de atalhos para
se chegar mais rápido à meta de cumprir com uma cota de
programação. Naquela época, nenhuma capacitação era suficiente
para que desempenhássemos esse ofício com segurança e sempre
ficávamos com mais perguntas do que respostas ao tentar produzir
programas infantis de qualidade. Trabalhávamos enfurnados em
um escritório, quebrando a cabeça para chegar a conteúdos que
conseguissem conquistar o público infantil. Um público que estava
longe, muito longe, deste escritório, detrás de milhares de telas de
TV ao longo de toda a extensão de nosso país. Mas não sabíamos
realmente quem eram eles, o que eles sentiam, o que pensavam,
de que precisavam e nem como reagiam aos conteúdos que
produzíamos. O público infantil era apenas um número que nos era
entregado a cada segunda-feira, segundo o informe das pesquisas
de audiência. E assim, com esse número, se media a eficiência de
nosso conteúdo.
Um dia, o caminho se iluminou, com uma experiência que
marcou profundamente a todos nós que fizemos parte dela. Foi a
produção de uma série de TV infantil, precedida de uma pesquisa
muito completa sobre os meninos e meninas de 8 a 10 anos
pertencentes a diversos grupos populacionais1. Para encontrar
aos personagens da série, sentimos a necessidade de entrevistar
mais de setecentas crianças, em treze regiões do país, na etapa de
1. De ocho a diez, Un acercamiento a niñas y niños colombianos para hacer televisión. Proyecto de Televisión Infantil Cultural de la Dirección de Comunicaciones del Ministerio de Cultura, 2010 (“De oito a dez, uma aproximação às meninas e meninos colombianos para fazer televisão. Projeto de Televisão Infantil Cultural da Direção de Comunicadores do Ministério de Cultura, 2010”)
57
pré-produção. Nunca antes na história da TV infantil da Colômbia
tínhamos ido conhecer os meninos e meninas destinatários de
nossas produções. E, por fim, depois de trabalhar para eles à
distância, nós os tínhamos bem diante de nossa câmera, abrindo
para nós as portas das suas vidas. Foi assim, fazendo o casting
de La Lleva2, que começamos a descobrir o mapa do caminho
que vínhamos percorrendo, às cegas, anos atrás. O casting se
converteu em mais que um processo de busca de personagens,
ele foi uma ferramenta poderosa de investigação e em uma das
estratégias mais eficazes para se desenhar novos formato ou nutrir
os conteúdos dos programas de TV que vieram depois: El Gran Dia,
Senha Verde (Colômbia), Buzykandá e Te Re-creo tus noticias.
Descobrir um personagem de TV infantil é um dos processos
da etapa de produção aos que se dedica menos tempo e rigor.
Quase sempre conhecemos um menino ou menina que “se encaixa”
adequadamente: a filha impetuosa de uma amiga, o sobrinho
que é um diabinho abençoado, ou a vizinha extrovertida que
encontramos no elevador e que não pára de falar. Em outros casos,
também se recorre às agências de casting ou às escolas de talentos
artísticos, onde há mais possibilidades de se encontrar a meninos e
meninas talentosos, simpáticos, com boa expressão oral e corporal,
e com expectativas de começar cedo uma carreira artística nos
meios de comunicação, evento para o que se preparam com muita
antecedência. Isso facilita a etapa de casting e, assim, quase sempre
se atinge o objetivo de encontrar a criança buscada. Porém, como
estamos envolvidos em projetos nos que se pretende fomentar a
participação e a inclusão de toda a população infantil, exaltando a
sua diversidade, nada poderia ser mais contraditório que limitarmos
essa busca aos lugares onde só se encontram “crianças artistas”.
Fazê-lo deste modo seria excludente e incoerente com os princípios
e com a filosofia de nossos projetos de televisão infantil.
2. Série de TV infantil do Ministério de Cultura, RTVC Señalcolombia, Canal 13 e da Universidade Javeriana, 2010.
58
Explorando outros caminhos, começamos a incorporar uma
metodologia de oficinas que nos permitiria mais aproximação,
conhecimento e encontros com meninos e meninas diferentes, com
o potencial para se converter em personagens de TV. Enquanto em
um casting tradicional, os participantes chegam nervosos para
fazer filas e para ser expostos, sem maiores preâmbulos, às câmeras
de televisão, no nosso casting-oficina todos conseguem ficar a
vontade, em uma atividade grupal na que, através de jogo e de
atividades lúdicas é possível romper o gelo e baixar o nível de
tensão. No casting tradicional, as crianças sabem que vão ser
avaliadas, e que dependendo do que sejam capazes de demonstrar,
serão eleitos ou não pelos produtores do programa, o que gera
uma relação vertical entre o “casteador” e a criança. No casting-
oficina, em vez de avaliá-los, nós os valorizamos e estabelecemos
uma relação horizontal entre os condutores da atividade e os
participantes, assim como entre eles mesmos, o que propicia
um ambiente de respeito e apreciação pelas ideias de todos. No
casting tradicional, os participantes nem sempre atuam de modo
espontâneo e natural, pois evidentemente têm o interesse de
deixar a melhor impressão. No casting-oficina todos demonstram
quem realmente são e a essência de seu ser se expressa de modo
autêntico e criativo. É maravilhoso ver como até o mais quieto
ou tímido termina participando e se animando a dar sua opinião,
tornando a atividade um espaço de conversa, de encontro, de jogo
e intercâmbio de ideias, para saber o que lhes agrada e o que não,
o que pensam, o que opinam, como se comportam, de que riem, o
que os entristece, o que os faz felizes, como falam, que palavras
usam, enfim... Tudo isso surge numa oficina, mais do que em uma
simples entrevista de casting tradicional.
Um dos aspectos que mais nos preocupava ao convocar
os meninos e meninas a uma atividade de casting era gerar
59
expectativas sobre ser selecionados ou não e deixar neles um
sentimento de frustração ao finalizar o processo de seleção. Porém,
começamos a ver que, para a grande maioria, o simples fato de
participar no casting-oficina já era, em si, uma experiência nova,
enriquecedora e divertida. Essa observação nos ajudou a definir
uma condição obrigatória na metodologia do casting-oficina: que a
atividade fosse sempre um intercâmbio de bens.
Depois que essas crianças nos oferecem duas horas de seu
tempo, compartilham conosco suas ideias e sentimentos, tornando
mais fácil nossa tarefa de desenvolver formatos e conteúdos e
nos ajudando a encontrar os personagens de TV que buscamos,
é obrigatório deixar-lhes algo positivo em troca: o aprendizado
profundo sobre o seu próprio ser, sobre quem são, o que lhes
agrada e o que são capazes de chegar a realizar. Por essa razão,
uma tarefa adicional em cada casting-oficina é a de reconhecer
e fazê-los ver os seus potenciais criativos, suas capacidades de
empreendimento e todas aquelas habilidades que muitas vezes
nem eles mesmos sabem que tem. Por se tratar de uma experiência
na que meninos e meninas têm a oportunidade de se expressar,
participar, ser reconhecidos, desenvolver seu próprio conteúdo
e se sentir valorizados e incluídos, os participantes do casting-
oficina saem da experiência com a auto-estima nutrida. Colocar-
nos às suas alturas para conversar, escutá-los com atenção,
interessar-nos pelas suas respostas respeitando-os e valorizando-
os TODOS, sem classificá-los em bons ou ruins, tudo isso tem um
efeito inimaginável na autoestima dos meninos e meninas, que, na
maioria dos casos, veem como algo insólito o fato de que os adultos
os tratem desta maneira.
Ainda que nos esforcemos para que o intercâmbio de bens seja
equilibrado, o que eles levam nunca poderá ser comparado com
o bem que eles deixam para nós, os “casteadores”; não só como
60
FOTO: ARQUIVO PESSOAL
Primeiro dia de gravação do teaser do Buzykandá.
61
profissionais do setor da TV infantil, mas como seres humanos.
Fazer casting é a minha atividade favorita, o ofício que mais nutre o
meu coração, e o que mais me diverte em fazer televisão infantil. E
sem dúvidas é o espaço em que encontro as respostas que surgem
no meu cotidiano como roteirista ou realizadora audiovisual. O
casting, sem dúvidas, me revelou o mapa do caminho que sigo
percorrendo, ainda que um pouco perdida algumas vezes.
Cláudia GonzálezComunicadora Social dedicada à pesquisa, elaboração e produção de
conteúdos para o público infantil com experiência de 15 anos em séries
televisivas para crianças e jovens. Entre suas produções encontram-se
“Revelados”, “La Lleva” e “El Gran Día”. É sócia fundadora da Latente
Media Lab for Kids. Atualmente, trabalha no noticiário infantil Te Re-Creo
Tus Noticias, da Secretaría de Educación Distrital e do Canal Capital (prê-
mio UNICEF no Prix Jeunesse Internacional 2014).
62
Primeiro de abril: um jogo entre um jogo, entre um jogo…
Por Teca Alencar de Brito
Resumo: A partir do relato de uma experiência que aconteceu em um
grupo de musicalização o qual reunia crianças com idades entre seis e
oito anos de idade, o artigo tece considerações acerca das relações das
crianças com sons e músicas. Considerando o jogo musical infantil sob
o prisma da singularidade que caracteriza a infância, cria alianças com
alguns conceitos filosóficos propostos pelos filósofos Gilles Deleuze e Félix
Guattari, bem como, com proposições do chileno Humberto Maturana,
entre outros teóricos.
Palavras-chave: jogo musical, infância, educação musical, criação musical.
Introduzindo
Era dia primeiro de abril e nosso encontro começou com o
compartilhar de pequenas mentiras e relatos de casos referentes à
data. Formávamos um grupo de musicalização do qual participavam
crianças com idades entre seis e oito anos, dois professores e uma
estagiária. O jogo da mentira, que a todos divertiu, gerou o desejo
de criar uma música para aquele dia especial.
Apenas havíamos começado a pensar em ideias e possibilidades
para desenvolver o trabalho (uma improvisação, uma canção, uma
historia sonorizada etc) quando Henrique1 cantarolou:
Hoje eu vi um gato pirata no espaço1. os nomes das crianças foram alterados.
63
Seu canto provocou muitos risos e o modo como ele cantava
e se expressava corporalmente capturou todo o grupo. Ele, então,
continuou:
Ele era preto (repetindo o mesmo contorno melódico que
caracterizou a primeira parte da frase anterior), completando,
após um pequena pausa (que nos permitiu deduzir que ele pensava
na continuidade do discurso), que nem um gato preto. A solução
encontrada também divertiu o grupo, o que talvez justifique a
criação da frase seguinte: ele era doido, que nem um gato doido.
Henrique dera início a um processo de criação antes mesmo
que pudéssemos conversar melhor a respeito da ideia com todas
as crianças. Vale lembrar que ele participava das aulas há menos
de dois meses, mostrando-se motivado e interessado em fazer
música, fosse tocando, improvisando, cantando, escutando…. E
agora chegara o momento de criar!
Considero relevante apontar o fato de que o menino
improvisou sua invenção, criando em tempo real, movendo-se pelo
acontecimento. Caminho que ele caminhava ao andar, lembrando
os versos do poeta espanhol Antonio Machado.
Utilizo a palavra invenção para demarcar territórios,
ressaltando a diferença existente entre o modo intuitivo de criar
próprio àquela e a outras crianças (em faixas etárias próximas)
e os processos de criação de compositores musicais, no sentido
em que a palavra tende – tradicionalmente - a ser compreendida.
Diferenças de complexidade, podemos dizer.
O menino integrou letra e melodia, de imediato, colocando tais
forças em jogo. À estabilidade do perfil melódico, que muito pouco
variou, ele propôs variações na letra, atualizando um campo de
repetições e diferenças.
O “gato” de Henrique conquistou o grupo e estimulou o
emergir de novas contribuições. Essas, foram movidas, também, 1. os nomes das crianças foram alterados.
64
pela consciência de que aquele deveria ser um trabalho coletivo.
Felipe, então, transportou para a criação os risos disparados pela
história, repetindo ritmicamente: Ha ha ha, você acreditou, ha, ha,
ha, na minha história tola. Concentrando-se nas forças do ritmo, o
menino fez circular aquele ritornelo, que logo tornou-se de todos,
até que João introduziu mais uma ideia: Primeiro de abril, o gato
sorriu. Imperou, mais uma vez, a força rítmica e com tal frase a
invenção se completara.
Passamos então a uma nova etapa, dedicada, agora, à realização
vocal do trabalho. Dividiram-se em três grupos, ficando, cada um,
responsável por repetir uma das partes. Depois de experimentarem
algumas vezes decidiram fazer algumas mudanças, a saber: a- a
parte criada por Felipe (ha ha ha…) passaria para o final, já que,
segundo a análise de Laura, o trecho fazia referência ao jogo da
mentira e ao prazer de haver enganado alguém. Por isso, segundo
ela, deveria estar no fim; b- inverter a frase primeiro de abril, o gato
sorriu, considerando que seria melhor dizer o gato sorriu, primeiro
de abril, ou seja, primeiro a mentira e depois a referência ao dia,
como costuma ocorrer.
As sugestões pareceram interessantes e pertinentes, guiadas
por critérios que sinalizavam o modo como aquelas crianças lidavam
com as ideias, com os conceitos e formas com as quais trabalhavam.
E após os ajustes sugeridos, tínhamos, enfim, o texto final:
Hoje eu vi um gato pirata, no espaço
Ele era preto, que nem um gato preto
Ele era doido, que nem um gato doido
O gato sorriu, primeiro de abril - bis
Ha, ha, ha, você acreditou
Ha, ha, ha, na minha historia tola.
65
Definida essa etapa e depois de cantarmos bastante, passamos
à etapa de elaboração de um arranjo, começando pela escolha dos
instrumentos musicais que seriam utilizados. Bongôs, tamborim,
pandeiros, maracas, triângulo, além de um balafon africano, foram
os materiais escolhidos. O balafon, vale lembrar, havia capturado
Léo, uma das crianças, e sempre que possível eles “tocavam
juntos”, criando uma espécie de parceria ou quase cumplicidade!
Vinícius, que trabalhava comigo naquele grupo, entrou no jogo
criando uma linha de baixo no violão, que realizava enquanto as
crianças improvisavam ritmicamente, ora tocando junto com as
vozes, ora alternando. No final, Léo seguiu improvisando no balafon
e não demorou para que mais uma aliança emergisse: as baquetas
que pareciam caminhar por entre as lâminas de madeira – “telhado
do gato” – capturaram João, que deixou, então, sua condição de
músico e cantor para se tornar gato. Devir-gato primeiro de abril.
Como afirmaram Deleuze e Guattari,
Cantar ou compor, pintar, escrever não têm talvez outro obje-
tivo: desencadear esses devires. Sobretudo a música; todo um
devir-mulher, um devir-criança atravessam a música, não só no
nível das vozes [...], mas no nível dos temas e dos motivos: o pe-
queno ritornelo, o rondó, as cenas de infância e as brincadeiras
de criança. A instrumentação, a orquestração são penetradas
de devires-animais, devires-pássaro primeiro, mas muitos ou-
tros ainda.
DELEUZE, GUATTARI, 1997, p.63
Crianças, música, educação musical
O relato acima convida-nos a pensar na maneira como as
crianças elaboram e reelaboram dinamicamente a relação com a
música, destacando a singularidade própria a tais processos.
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A realização musical da infância se reorganiza continuamente,
acompanhando o todo das experiências vivenciadas pelas crianças,
lembrando, obviamente, que a possibilidade de conviver com a música
nos territórios da educação amplia e transforma significativamente os
planos de realização musical.
É importante considerar que as crianças elaboram e reelaboram
suas ideias de música, como já sinalizei, de modo que entender e
conferir valor ao acontecimento musical aos quatro ou aos oito anos,
para exemplificar, revela a consciência e também o modo como se
atualiza o jogo de interação com sons e músicas.
As vivências musicais se transformam em complexidade, sobretudo
quando ocorrem planos de formação musical orientada, obviamente. Se
características que marcam cada etapa do desenvolvimento tendem a
padronizar as condutas musicais, é necessário considerar a presença
dos “ruídos”, ou seja, das interferências que singularizam cada percurso.
(BRITO, 2009, p.12-13)
O diálogo entre o mundo interno e o externo aponta a congruência
entre distintos tempos: tempo da criança / tempo da cultura,
comportando séculos de um jogo que integra estabilidade e movimento.
Entendendo que a construção do significado da música por cada
sujeito (a “reinvenção da música”) se dá no jogo com o ambiente
(“eu-meio-construção de relações sonoro-musicais”), em processos
dinâmicos, considero que as crianças reconstroem as ideias de música
em contínua e permanente transformação.
Sob essa ótica, importa investigar as condutas de escuta, de
relacionamento com sons e silêncios, de produção de gestos, de
repetição e de criação no fluxo da infância. Escutar o jogo que se atualiza
no relacionamento com o território de sons e músicas da cultura, que
implica em constante movimento de estratificar e desestratificar.
(BRITO, 2007, p.68)
No caso em questão, o jogo da mentira migrara para o jogo musical.
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Jogo ideal, repetindo Deleuze, onde não há ganhadores ou perdedores,
e que jogamos pelo prazer de jogar. Jogo da pseudo-inutilidade que a
arte comporta. Jogo da captura, jogo de sensações, da instauração de
ritornelos que se ocupam dos contínuos movimentos de criar e desfazer
lugares.
As crianças são capturadas por ideias de música que se tornam
territórios que se desterritorializam, criando, então, novos territórios... A
interação com o ambiente sonoro agrega o contato com produtos musicais
da cultura, estabilizados pela repetição, de maneira que experiências
de ordens diversas podem emergir, dependendo de cada contexto,
obviamente, com a singularidade implícita em cada situação. “Fazendo
música as crianças não apenas “sonorizam” percepções, pensamentos,
forças, movimentos..., como também reproduzem os modelos que
observam e apreendem, o que fazem vivendo uma espécie de faz-de-
conta. (BRITO, 2007, p.159).
A convivência com educadores pode se constituir em uma
experiência compartilhada de jogos de escuta, de criação, de pesquisa, de
pensamento... e muito mais. Isso, se o diálogo com os planos de autoridade
não se confundir com o mero controlar, com o preparar unicamente para
a repetição do mesmo, para a ausência do efetivo espaço para fazer
escutas, trocas e, enfim, para estar juntos. Sempre criando, vale lembrar!
Importa, de fato, buscar o equilíbrio entre aspectos que devem ser
complementares, que são partes de um todo. No entanto, reconheço não
ser fácil transformar relações vinculadas aos sistemas de educação, nos
quais, além dos problemas referentes à estrutura e as condições para a
realização do trabalho, tende a vigorar um pensamento educacional que
privilegia a homogeneização, a repetição do igual, dentre tantos outros
aspectos.
Segundo o neurobiólogo chileno Humberto Maturana (1928 - ), o
processo “ensinar/aprender” deve desencadear mudanças estruturais,
devendo acontecer em um espaço de convivência onde alunos e
68
professores são afetados pelas mais variadas sensações. Esse espaço
deve ser um espaço de aprendizagem mútua no qual, pela escuta, pela
troca, o professor apreende, aprende e refaz o percurso do ensinar,
indo além da transmissão de informações e/ou do desenvolvimento
de competências específicas em uma ou outra área do conhecimento
(MATURANA, 1997).
Discorrendo sobre a formação do espaço de convivência, Maturana
recorre a uma metáfora na qual lembra a criança que chega à escola
pela primeira vez, ainda pequena e que depois de relutar, ou mesmo
choramingar, aceita dar a mão à professora que a recebe. Juntas, então,
elas se tornam co-ensinantes, transformando-se, continuamente, em
congruência. Um professor, para ele, é alguém que aceita a condição
de ser guia na criação do espaço de convivência inerente à educação,
espaço marcado pela aceitação recíproca que se configura no momento
em que surge o professor em relação com seus alunos, produzindo uma
dinâmica na qual todos mudam juntos (MATURANA, 1997).
“É preciso aprender a apreender do aluno o que ensinar” repetiu
Hans-Joachim Koellreutter, muitas vezes, em suas aulas. Repensando o
papel e a postura do educador, ele propunha que este fosse animador
e parceiro, ao invés de transmissor de informações e conhecimentos.
Educador, desse modo, criador de espaços de convivência e de efetiva
troca, como bem diria Humberto Maturana.
Considerações finais
Recorri ao relato de uma experiência ocorrida em um grupo de
crianças, alunas da Teca Oficina de Música, com a intenção de apontar
possibilidades para o fazer musical nos territórios da educação.
Possibilidades que consideram as ideias de música das crianças, que se
reorganizam contínua e dinamicamente, bem como, as parcerias entre
adultos e crianças, tendo a criação como condição essencial.
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Pretendi sinalizar, também, a construção de espaços de convivência,
no ambiente da educação, regidos por modos de comunicação que
abarcam “a diversidade da natureza das trocas, em que se fazem
presentes os signos representativos ou intelectuais, mas principalmente
os poderosos dispositivos do afeto” (SODRÉ, 2006, p.13).
Referências
BRITO, Maria Teresa Alencar de. Por uma educação musical do
pensamento: novas estratégias de comunicação. Tese de Doutorado.
Programa de Comunicação e Semiótica. PUC/SP, 2007.
DELEUZE, Gilles, GUATTARI, Félix - Mil platôs - Capitalismo e
Esquizofrenia, vol.4; tradução de Suely Rolnik – São Paulo: Ed.34
(Coleção TRANS), 1997.
MATURANA, Humberto R. A ontologia da realidade. Cristina Magro,
Miriam Graciano, Nelson Vaz (org.). Belo Horizonte: Editora UFMG, 1997.
SODRÉ, Muniz. As estratégias sensíveis: afeto, mídia e política.
Petrópoli, RJ: Vozes, 2006, 230p.
Teca Alencar de Brito é Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP e educadora musical, cria- e educadora musical, cria-
dora da Teca Oficina de Música, núcleo de educação musical voltado à educação
musical de crianças, adolescentes e adultos. Desde 2008 é professora e pesqui-
sadora no Depto de Música da ECA-USP.
Este artigo foi publicado, originalmente, nos Anais
do XXI Congresso da ANPPOM – Associação e Pesquisa
e Pós-Graduação em Música, em Uberlândia-MG
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Processos criativos
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O trovão e o relâmpago, sobre a relação entre som e imagem no mundo infantil
Por Hélio Ziskind
Em abril deste ano (2014) participei de uma mesa no comKids sobre
o tema Inovação. Apresentei um trabalho que fiz para o programa
Castelo Ratimbum, da TV Cultura. Um trabalho de vinte anos atrás...
Nesse trabalho, eu busquei usar recursos de imagem para
aprofundar a percepção musical de crianças. Músicas de um minu-
to, com três ou quatro instrumentos. Meu objetivo era apresentar
os instrumentos tocando juntos, desmembrá-los (ouvir em separa-
do) e reagrupá-los.
Na imagem, bailarinos dançando representavam os instru-
mentos. Apareciam sobrepostos na tela. O trabalho está dispo-
nível no site www.helioziskind.com.br (videos). Foi apelidado de
“Pentagramas”.
Os primeiros Pentagramas criados mostraram que ouvir qua-
tro sons simultâneos é algo muito diverso do que ver quatro baila-
rinos dançando quatro coreografias diferentes ao mesmo tempo.
O ouvido sintetiza, é capaz de ouvir o todo e as partes ao mesmo
tempo. O olho não. A diversidade da imagens atrapalhava a percep-
ção do som.
A cada novo quadro, fomos modificando a arquitetura das
idéias, buscando meios de conduzir o olhar da criança pela tela. O
Pentagrama se transformou num espaço de invenção.
Creio que a inovação é algo que se encontra inesperadamente,
quando se caminha em busca de sentido. Encontrar algo novo é
decorrência de um trabalho de criar vínculo, criar motivos para o
73
encaixe das peças.
Em geral, os músicos são chamados para integrar um projeto
audiovisual quando a idéia já está concebida. A música vem reco-
brir algo existente. Vem para complementar o ato de ver.
Porém, o vídeo contem tempo. Quem explicita o tempo do ví-
deo é a trilha. Os estados afetivos da imagem são controlados pelo
som. A música estabelece o ritmo do fluxo. A presença da música,
compreendida como consciência do tempo, quando participa da
elaboração de uma idéia visual, produz inovações estrondosas. Cito
dois exemplos.
Para mim, um exemplo extraordinário foi a série Teletubies.
Imagens com tempo expandido, repetições integrais de cenas lon-
gas (uma crianças olhando a chuva batendo na janela, por exemplo)
nunca tinham sido vistas dessa forma. Não era a trilha musical que
74
comandava, era uma sensação musical que comandava a escolha e
o tempo das imagens. O resultado era um convite à percepção. E à
coragem de mexer no tempo da linguagem de TV.
Outro exemplo fortíssimo foram filmes como Koyaanisqatsi,
com trilha criada por Philip Glass. A música estabelece um tempo
para o olhar, permitindo transitar rapidamente de andamentos ra-
pidíssimos para tempos ultralentos, de modo que a própria noção
de narrativa sai da imagem e passa a residir num ponto intermedi-
ário entre som e imagem.
Certamente, ver e ouvir acontecem em áreas distintas de nos-
so cérebro. E uma arte que as coloca em contato nos pede para es-
tabelecer relações. Helicópteros bombardeando soldados ao som
de uma ópera de Wagner (Apocalypse Now) nos põe numa situação
de percepção (e reflexão) que os elementos separados não conse-
guiriam atingir.
E, o que queremos para as crianças que assistem um vídeo com
música? Que se mantenham absorvidas (e quietas) diante da tela?
Ou que tenham inquietações? O que vamos oferecer às crianças?
Projetos audiovisuais que não pretendem reduzir a criança a
um estado de euforia constante deveriam chamar músicos desde
o início. As vozes caricatas não deveriam prejudicar a dicção. Os
tempos deveriam ser variados. Não podemos ter medo do dos tem-
pos lentos nem do silêncio na TV. A música e o som deveriam ser
assuntos, personagens. O refinamento deveria ser uma meta. Não
há necessariamente contradição entre refinamento e sucesso. Os
Beatles, ou mesmo o disco Acabou Chorare dos Novos Bahianos,
são prova disso.
Termino com a metáfora do trovão e o relâmpago. São even-
tos fora de sincronia. A luz chega antes, mas o som alto traz o
medo, porque indica se a descarga está perto ou longe. Usamos
75
esse “vídeo-com-trilha natural” para organizar o noso pensamento.
Penso nas canções que quero fazer, nas histórias que quero contar.
Nesse momento, estou voltado para o Patinho Feio. O texto
original de Andersen traz uma narração belíssima, descreve uma
trajetória com inúmeros sofrimentos em série. Comparo a versão
original com as versões modernas da mesma história, onde todos
os sofrimentos foram eliminados. A história ficou mais curta e sem
sofrimentos.
Tem sentido contar (ou cantar) em nossos dias a história origi-
nal? Estaremos levando as crianças a um sofrimento desnecessá-
rio? Ou será que a força da história reside justamente em fornecer
à criança uma ferramenta para aprender a suportar?
Tendo para a segunda hipótese. Mas guardo comigo o final dos
12 Trabalhos de Hércules, na versão de Monteiro Lobato. Na última
missão, Hércules desce ao inferno. Mas Pedrinho, nosso menino he-
rói que tanto o ajudou, não quer ir, porque tem medo. A delicadeza
(e o respeito) com que Hércules o trata na volta, é uma lição.
Hélio ZiskindMúsico, atua como compositor, arranjador e intéprete. Trabalha com mú-
sica para crianças, projetos educacionais, trilhas sonoras para dança, tea-
tro, TV, rádio e cinema. Através de seu selo, vem lançando CDs de música
para crianças, tendo já recebido três Prêmios Sharp por CDs infantis. Hélio
Ziskind é conhecido como autor de temas para os programas infantis da
TV Cultura de São Paulo (Cocoricó, Castelo Ratimbum, entre outros).
76
Desenho, infância, trabalho
Por Laura Teixeira
Meu nome é Laura Teixeira e sempre me apresento como ilustradora,
apesar de não trabalhar exclusivamente com ilustração. Fui convi-
dada pela equipe do comKids para participar de uma mesa redonda
falando sobre meu processo de criação.
Ao longo de alguns anos, descobri uma certa facilidade em me
comunicar com as crianças, talvez porque me sinta mais à vonta-
de entre menos filtros sociais e formalidades. E eu gosto de brincar,
pode ser por isso também.
Entretanto, embora tenha atuado bastante num universo voltado
para o público infantil, há bastante tempo venho entendendo que o
foco da minha carreira não está - e nem nunca esteve - no público-alvo
e, sim, no próprio desenho em suas mais variadas formas.
Ao me deparar com a necessidade de apresentar às pessoas o
que faço, sua relação com a infância e as razões que me levaram
a desenvolver esse tipo de atividade, resolvi estabelecer analogias
entre alguns trabalhos atuais e outros realizados quando era meni-
na. Imaginei que, através da observação de recorrências e utilizan-
do mais imagens do que palavras, poderia encontrar algumas pistas
importantes na tentativa de responder perguntas que surgissem na
hora.
Três núcleos logo me pareceram claros: os personagens, os ves-
tidos e os livros. Então a estrutura de cada discurso visual ficou as-
sim: algo feito na infância, em seguida trabalhos recentes de criação,
depois oficinas relacionadas/trabalhos de terceiros dentro do tema.
Seguem algumas imagens mostradas durante o evento.
Obrigada pelo convite, comKids!
77
Laura TeixeiraIlustradora e designer especialista em livros infantis e ilustração. É autora
de livros de imagens (histórias em quadrinhos, murais e estampas para
roupas) que tem como base o desenho à mão livre. Formou-se na FAU-USP,
onde fez também um mestrado sobre livros infantis, e especializou-se em
ilustração em Barcelona. É integrante do coletivo Charivari. Publicou pelas
editoras Cosac Naify, Hedra, Melhoramentos e Jujuba.
78
Programação
• Palestra: Tríptico da Infância e da imaginação
Com Chiqui Gonzalez – Ministra de Inovação e Cultura de Santa Fé
– Argentina
Ministra de Inovação e Cultura de Santa Fé desde 2007, María de los
Ángeles “Chiqui”González é advogada, especialista en Derecho de
Familia pela UNR, Argentina. Durante sua gestão, Chiqui González
criou projeto “Tríptico de la Infancia” de Rosario, circuito pedagó-
gico integrado por espaços públicos urbanos, mostras e disposi-
tivos lúdicos destinados a crianças e adultos para a convivência,
educação, criação e imaginação: La Granja de la Infancia, El Jardín
de los Niños e La Isla de los Inventos. Além de transformar a cida-
de de Rosario em um grande cenário de aprendizagem e em uma
escola da democracia, o projeto contribuiu para a recuperação pa-
trimonial do município. Chiqui González também é vice-presidenta
do Conselho Diretivo de ATEI (Associação de televisão educativa
ibero-americana) e participou da criação de canais de televisão de-
dicados às crianças na Argentina – Pakapaka e Canal Encuentro –,
e do Programa Señal Santa Fe, iniciativa dedicada à produção de
conteúdos audiovisuais sobre a memória, história e cultura santa-
fesina. Além de docente titular da Universidade de Buenos Aires
(FADU – UBA) e da Escola Internacional de Cinema e Televisão
ECTV, Chiqui também conta com uma extensa produção teatral
como atriz, diretora e dramaturga dentro e fora do país.
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• Mesa: Inovação e criatividade
O comKids reúne artistas que se dedicam à infância. Eles irão com-
partilhar conosco sua pesquisa, seus processos criativos e projetos
inspirados e que inspiram as crianças a serem crianças em toda
sua potência.
MEDIAÇÃO: Vanessa Fort – coordenação geral e editorial do
comKids
CONVIDADOS
Andrés Lieban: Trabalha com animação há mais de 20 anos e acu-
mula inúmeros prêmios nacionais e internacionais com seus cur-
tas e séries em festivais. Colabora regularmente com eventos que
ligam animação e o público infantil. Criador e diretor das séries
“Meu AmigãoZão” (melhor programa infantil da TV de 2010 pela
APCA – Associação Paulista de Críticos de Arte) e “Quarto Do Jobi”.
Laura Teixeira: Ilustradora e designer especialista em livros infan-
tis e ilustração. É autora de livros de imagens (histórias em qua-
drinhos, murais e estampas para roupas) que tem como base o de-
senho à mão livre. Formou-se na FAU-USP, onde fez também um
mestrado sobre livros infantis, e especializou-se em ilustração em
Barcelona. É integrante do coletivo Charivari. Publicou pelas edito-
ras Cosac Naify, Hedra, Melhoramentos e Jujuba.
Hélio Ziskind: Músico, atua como compositor, arranjador e inté-
prete. Trabalha com música para crianças, projetos educacionais,
trilhas sonoras para dança, teatro, TV, rádio e cinema. Através de
80
seu selo, vem lançando CDs de música para crianças, tendo já recebido
três Prêmios Sharp por CDs infantis. Hélio Ziskind é conhecido como
autor de temas para os programas infantis da TV Cultura de São Paulo
(Cocoricó, Castelo Ratimbum, entre outros).
Winston Petty: Empreendedor e game designer. Sócio-fundador da
Webcore, agência digital e produtora de games e da Insolita Studios.
Já liderou jogos premiados como “Turma do Chico Bento”, ven-
cedor do troféu EGW de melhor jogo brasileiro de 2013, e produziu
“Freekscape”. Convidado para ser coautor do livro-mangá “Uma Dupla
que Faz Acontecer”, com temática empreendedora baseada em sua
trajetória. Com formação em Ciência da Computação e Design, foi pre-
sidente da Abragames em 2009/10.
• Mesa 2: Inovação e Modos de fazer
Laboratórios, núcleos criativos, salas de criação, coletivos. O comkids
está interessado em discutir os modos de fazer, os outros e novos mo-
dos. Aqueles não tão tradicionais, que permitem novas dinâmicas de
gestão criativa. Mediação: Beth Carmona, diretora geral e editorial do
comKids.
CONVIDADOS
Jan-Willem Bult: É escritor de livros infantis, roteirista de cinema e
séries de TV. Desde 1997 foi diretor criativo e chefe de programação
infantojuvenil da KRO, na Holanda. Por seu trabalho já recebeu prê-
mios do Prix Jeunesse Internacional, Prix Danube e Dutch Academy
Award. Desde fevereiro de 2014 Jan-Willem Bult é embaixador do
Kids News Network e Wadada World World Kids News, apoiando o
81
desenvolvimento e o alcance da rede dos programas de notícias para
crianças. O Kids News Network já existe em 12 países, entre os quais o
Suriname, Bolívia, Gana e Birmânia. Em 2007, fundou sua própria fun-
dação, a JWB Foundation, para apoiar projetos de mídias e esportes
com participação infantil para o desenvolvimento da paz.
Coletivo Lumika: O Lumika acredita que o mundo está mudando pra
melhor. Produzir conteúdo sobre diversidade sexual e de gênero é a
maneira que encontraram de questionar e estimular os jovens que são
catalisadores de mudanças e estão sedentos por novos diálogos.
Ricardo Palmieri: Artista, produtor multimídia e pesquisador de ino-
vação e ferramentas livres para produção artística. Foi colaborador e
jurado da GameJam “sobre”viver em Berlim, uma parceria do Goethe-
Institut e Festival A.MAZE.
Também estarão presentes os ganhadores da Gamejam.
• Rodada de Projetos
Com a intenção de fomentar a produção e o desenvolvimento de proje-
tos com esse olhar criativo e reconhecer trabalhos que tenham poten-
cial de desenvolvimento e produção, o comKids Inovação selecionou
seis projetos com potencial de desenvolvimento, que serão apresenta-
dos publicamente no evento.
PRÉ-JURI (que consolidou os finalistas): Thais Caramico e Roberto
Almeida (Garatujas Fantásticas), Cielo Salviolo (Consultora e dire-
tora do LatinLab), Cleomar Rocha (Media-Lab da UFG), Artur Tilieri
(Cartoon Network), Vanessa Fort e Beth Carmona (comKids).
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PROJETOS FINALISTAS: Nina (Carmela Conteúdos e Ideias),
Pedra Dourada (Alopra Estúdio), Projeto Blogar, Maguaré (Ministério
de Cultura da Colômbia), Crianceiras (Criatto Promoções), Projeto
Piquenique.
JÚRI (presente na avaliação pública): Karen Acioly – FIL –
Festival Internacional de Intercâmbio de Linguagens, Luiz Rangel
– Programador cultural do Goethe-Institut São Paulo, Sabrina
Nudeliman – Elo Company, Herminia Bragança – TV Brasil, Jimmi
Leroy – Nickelodeon, Beth Carmona – direção geral do comkids
MEDIAÇÃO: Vanessa Fort – coordenação geral e editorial do
comkids
• Conversa com Alemberg Quindins, Fundação Casa Grande (Cariri, Ceará)
Músico de formação popular, historiador autodidata, Fellow da
Ashoka e Líder da Avina. Em 1992, restaurou a primeira casa gran-
de da fazenda que deu origem ao Município de Nova Olinda (CE) e
criou em sua sede a Fundação Casa Grande-Memorial do Homem
Kariri: uma organização não governamental que tem como missão
educar crianças e jovens através da gestão cultural e do protago-
nismo juvenil. Na África, em Moçambique e Angola, criou a rede de
jovens comunicadores da língua portuguesa.
• Rodada de Projetos: entrega de Prêmios e Menções
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Programação
8h30 / 9h - Credenciamento
9h / 9h20 - AberturaBeth Carmona Eva Fiedler-Carvalhodiretora de Cooperação Pedagógica do Goethe-Institut
9h20 / 10h20 - PalestraTríptico da Infância, com Chiqui Gonzalez – Ministra de Inovação e Cultura de Santa Fé – Argentina
Chiqui Gonzalez
10h20 / 10h40 - Intervalo
10h40 / 12h40 - MESA 1: inovação e criatividadeVanessa Fort – coordenação geral e editorial do comKids Hélio ZiskindAndrés LiebanLaura TeixeiraWinston PettyJan Willen
12h40 / 14h00 - Almoço
15h30 / 15h50 - Intervalo
15h50 / 17h50 - Rodada de ProjetosMediação: Vanessa Fort – coordenação geral e editorial do comkids
Karen AciolyFIL – Festival Internacional Intercâmbio de LinguagensLuiz RangelProdutor de Artes Visuais do Goethe-Institut São Paulo
Herminia BragançaTV Brasil
Sabrina NudelimanELO Consultoria
Jimmy LeroyNickelodeon
Beth CarmonaDireção geral do comKids
17h50 / 18h50 - Conversa: Inovação social e CulturalAlemberg Quindins (Fundação Casa Grande)
19h – Rodada de Projetos – Entrega de Prêmios e Menções
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Imagens comKids inovação
Fotos de Danila Bustamante/ comKids
Chiqui González (de pé), Beth Carmona (esq.) e Eva Fiedler Carvalho (dir.)
1. Beth Carmona (de pé), Chiqui González e
Eva Fiedler-Carvalho (sentadas)2, 3. Chiqui González
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1
2 3
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Alemberg Quindins
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Hélio Zinskind
Laura Teixeira
88
Andrés Lieban, Vanessa Fort e Winston Petty
Laura Teixeira
89
Babi Sonnenwend e José Agripino
Jan-Willem Bult
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Auditório do Goethe-Institutt
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Maribel Salazar, portal Maguaré, menção honrosa
Prêmio comKids
Rodada de projetos
Márcio de Camillo, projeto Crianceiras
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Phablo Gouvêa de Lima, projeto Blogar, prêmio Goethe-Institut
Cristina Menna Barreto, Angélica Kalil, Liliane haag Brum, Adriana Oliveira, projeto Piquenique
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Nichola Paim e Fernando Stefano,
Projeto Pedra Dourada, Prêmio Elo Company
Flávia Amado e Daniela Conde,
projeto Nina, Prêmios comKids,
Elo Company e FIL
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Vídeos comKids inovação
PLAYLIST GERAL
CHIQUI GONZÁLEZ
– Criatividade e Infância
– Audiovisual, Infância e linguagem
– As Histórias
– Infância e Identidade
– Infância e Arte
JAN-WILLEM BULT
– Como Explicar?
– As Histórias Infantis
– Autonomia Infantil
LAURA TEIXEIRA
– Inspiração
– Experiência estética
– Livros-Objetos
ANDRÉS LIEBAN
– Os Personagens
– No Mundo da TV
– Histórias
– As Falhas
ALEMBERG QUINDINS
– Fundação Casa Grande
– Protagonismo Infantil
HÉLIO ZISKIND
– Música e Subjetividade
– Música e Imagem
WINSTON PETTY
– Winston Petty - Games e
aprendizado
COLETIVO LUMIKA
– Coletivo Lumika - Novos Diálogos
RICARDO PALMIERI
– Ricardo Palmieri - Interfaces e
aprendizado
SOBRE O EVENTO
– Teaser do evento
– Mesa Inovação e criatividade
– Mesa Inovação e Modos de fazer
– Palestra Chiqui González
– Finalistas Rodada de Projetos
– comKids Inovação - Geral
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Sobre o comKids
O comKids é uma iniciativa para a promoção e produção de conteúdos
digitais, interativos e audiovisuais de qualidade para crianças e adoles-
centes, a partir de pressupostos culturais, de inovação e de responsa-
bilidade social no Brasil e na América Latina. Os propósitos e espaços
do comKids trabalham à favor das crianças, buscando uma abordagem
especializada e um olhar cuidadoso.
Dedicado a compor uma visão mais contemporânea e integral da
infância, o comKids reúne artistas, produtores, diretores, roteiristas,
ilustradores, animadores, escritores, artistas, game-designers, desig-
ners, educadores e agentes culturais para estimular ideias que poten-
cializem o desenvolvimento e a criatividade infantis, a partir da produ-
ção cultural dedicada às crianças.
Para fazer isso, organiza espaços e incentiva a produzir conteúdos
com a intenção de articulá-los em pensamentos e inspirações, e logo em
pesquisas, artigos, conversas, vídeos, debates, cursos, entre outras coi-
sas. A intenção é criar espaços livres para o encontro dos profissionais
acima mencionados, para enriquecer e possibilitar outras e inovadoras
conexões com o circo, o teatro, a música, as artes plásticas, a poesia, a
literatura, o audiovisual e as plataformas digitais e interativas. Produzir
arte e cultura para a infância é um lindo caminho para a formação do
universo simbólico e emocional das crianças, trazendo ricos e fortes
estímulos ao seu desenvolvimento. E o objetivo é conseguir isso sempre
mantendo a conexão e a inspiração junto ao universo infantil.
Dentre o conjunto de atividades promovidas está o Portal comKids,
o Festival comKids Prix Jeunesse Iberoamericano (nos anos ímpares) e
os eventos temáticos (nos anos pares), como o comKids Inovação, do
qual esta publicação faz parte.
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comKids inovaçãoDireção Geral e editorialBeth Carmona
Coordenação de comunicaçãoGeraldo Leite
Coordenação Geral e editorial Vanessa Fort
Coordenação administrativa Sandra Alves
Coordenação de produçãoGabriela Hashimoto
ProduçãoDaniel LeitePaula de Oliveira
Assistente de produção Beatriz GonçalvesLeila Baesso
Edição de texto e traduçãoDaniel Leite
Programação visual e designThereza Almeida
Foto e vídeoDanila Bustamante
AssistenteJamir Cervera
SiteElav
Goethe-InstitutDiretora ExecutivaKatharina von Ruckteschell-Katte
Diretora do Programação CulturalLaura Hartz
Programadora CulturalIsabel Hölzl
Programador CulturalLuiz Rangel
Assessora de Imprensa e ComunicaçãoSimone Malina
AgradecimentosVera Franco de CarvalhoJuliane CavalcanteSergio Brandão Leandro Elias Ronaldo Santiago Thiago Lage Milena de AlmeidaFabiana BarbosaSamuel MacedoHélio FilhoAlemberg QuindinsCielo Salviolo
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