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ev\ (j3^ oV LU JWJ<0/AGOSTO-« ^;; : :-:':-:::-;-:í:í:-i:>:o:>: ; -:-:. : ^ : í;-::v::Sx;X BlumÊnau é exemplo de ação do ECA O Estatuto da Criança e do Adolescente completa cinco anos. O desafio ainda colocado a todos que estão envolvidos direta ou indiretamente com a questão da criança e do adolescente é saber se a sua implantação está rendendo bons frutos ao trabalho. O Jornal do AMENCAR procurou conhecer as ações desenvolvidas no município de Blumenau, em Santa Catarina. A constatação é que uma evidente união de forças entre Prefeitura Municipal, sociedade civil, poder Judiciário, empresários e trabalhadores que desejam realmente mudar a situação da criança empobrecida no Brasil. Confira a reportagem nas páginas 6 e 7. Prostituição infantil Painel, em Natal (RN), discute a exploração sexual de crianças e adolescentes. Campa- nha quer acabar com o "sexo-turismo". Página 11 AMENCAR renova acordo com entidades conveniadas. Página 3 ENTREVISTA O magistrado gaúcho é um dos mais alinhados quanto à aplicação do Estatuto da Criança e do Adolescente. O presidente da Associação dos Juizes do RS, Guinther Spode, é o entrevistado desta edição. Página 12 CARLOS LEITE PeléjTafíáreleRenatoAragão convidados a participar do VI Torneio Olímpico. PÁGINA 10 Regionais do AMENCAR realizam mostras de teatro em Minas Gerais e no Paraná. ANDHÉ FELTF< Atleta levanta o troféu da cidadania Peça apresentada no ano passado em Belo Horizonte

que estão envolvidos direta ou indiretamente com a questão ... · ropéia, Tigres Asiáticos e Mercosul são exem- plos da Globalização. Éevidente que alguns desses blocos cons-

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Page 1: que estão envolvidos direta ou indiretamente com a questão ... · ropéia, Tigres Asiáticos e Mercosul são exem- plos da Globalização. Éevidente que alguns desses blocos cons-

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BlumÊnau é exemplo de ação do ECA

O Estatuto da Criança e do Adolescente completa cinco anos. O desafio ainda colocado a todos

que estão envolvidos direta ou indiretamente com a questão da criança e do adolescente é saber

se a sua implantação está rendendo bons frutos ao trabalho. O Jornal do AMENCAR procurou

conhecer as ações desenvolvidas no município de Blumenau, em Santa Catarina. A constatação é que há

uma evidente união de forças entre Prefeitura Municipal, sociedade civil, poder Judiciário, empresários

e trabalhadores que desejam realmente mudar a situação da criança empobrecida no Brasil. Confira a

reportagem nas páginas 6 e 7.

Prostituição infantil

Painel, em Natal (RN), discute a exploração sexual de crianças e adolescentes. Campa- nha quer acabar com o "sexo-turismo".

Página 11

AMENCAR renova acordo com entidades conveniadas.

Página 3

ENTREVISTA

O magistrado gaúcho é um dos mais alinhados quanto à aplicação do Estatuto da Criança e do Adolescente. O presidente da Associação dos Juizes do RS, Guinther Spode, é o entrevistado desta edição.

Página 12

CARLOS LEITE

PeléjTafíáreleRenatoAragão convidados a participar do VI Torneio Olímpico.

PÁGINA 10

Regionais do AMENCAR realizam mostras de teatro

em Minas Gerais e no Paraná. ANDHÉ FELTF<

Atleta levanta o troféu da cidadania Peça apresentada no ano passado em Belo Horizonte

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2 ■ JORNAL DO AMENCAR ■ JULHO/AGOSTO - 95 FORMfiÇÂO Q

TUàM ofiátcãa

Estatuto é pra valer

Apesar de já estar vigindo há cinco anos, muitas dúvidas, anseios e dúvidas permeiam os debates sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente. Existem os arautos do pessimismo e as "viúvas" do Código de Menores, os quais ainda não admitem conviver com uma nova lei, que é reconhecida internacional- mente como uma das melhores do mun- do na área da infância.

Esta edição do Jornal do AMENCAR traz algumas matérias que demonstram justamente o inverso do raciocínio con- servador: o ECA está aí, inclusive sen- do implementado em muitos municípi- os, num entrosamento civilizado entre o Poder Público e a sociedade civil. O exemplo mais concreto está na reporta- gem das páginas seis e sete. Lá o leitor vai encontrar informações sobre a implementação do ECA no município catarinense de Blumenau. Até o Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente funciona ! O entrevistado, na página 12, é o presidente da Associ- ação do Juizes do RS, Guinther Spode. O juiz revela o porquê da magistratura gaúcha ser uma das mais sintonizadas com o ECA em todo o Brasil. Enfim, nesta edição, oJA revela que basta ter vontade política, articulação das ONGs e participação da sociedade para que as coisas mudem. E, para melhor. Boa leitura!

EXPEDIENTE AMENCAR - Amparo ao Menor Carente - Utili- dade Pública Federal, Decreto-Lei n0 89.685 - C. Postal, 433 - Fone: (051) 592.8111 - Fax: (051) 592.8623 - CEP: 93001-970 - São Leopoldo (RS)

AMENCAR é uma Organização Não-Gover- namental, cristã e filantrópica, voltada para cri- anças e adolescentes empobrecidos do país, que se articula com 136 instituições conveniadas para a realização de programas sociais, educacionais, profissionalizantes e de desenvolvimento, medi- ante repasse de recursos oriundos de doações da sociedade civil. E integrante do Conselho Nacio- nal dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda).

ESCRITÓRIOS REGIONAIS: RECIFE (PE): R. Barão de Beberibe, 235 - Boa Viagem - CEP: 51030-560 Fone: (081) 341.5146 - Fax: (341.6519) BELO HORIZONTE (MG): R. Goitacazes, 333 - sala 706 - Centro - CEP: 30190-91 - Fone/Fax: (031)222.3085

Presidente: P. Huberto Kirchheím Secretário Executivo: P. Sigmar Reichel Redação, Edição e Jornalista Responsável: Carlos Leite de Oliveira - MTB 6914/29/80v Tiragem dessa edição: 4.000 exemplares Fotolito e Impressão: Jornal Zero Hora - P. Alegre -RS

Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião deste jornal.

Comunicação e Globalização no Cone Sul Flinal dali Guerra Mundial. Guerra Fria.

Blocos hegemônicos no Leste Europeu e consolidação do capitalismo na Euro-

pa e América do Norte. Novo ator em cena: televisão. Conseqüência: massificação e de- senvolvimento da Indústria Cultural.

O primeiro parágrafo é apenas uma breve contextualização, para iniciar a dissertação dos temas que aqui serão abordados.

Para discutir e analisar o fenômeno da Globalização, é imprescindível anotar as radi- cais mudanças que houveram Pós- II Guerra Mundial. Transformações de ordem econô- mica, política, social, cultural, religiosaeéti- ca mexeram com a humanidade nos últimos 50 anos.

Pode-se afirmar que o capitalismo avan- çou muito nessas décadas desfazendo, inclu- sive, previsões que o "sistema entraria em crise". Ao contrário, o capital se fortaleceu e as tendências são as de continuar convivendo com as suas "disfunções", conforme Michael Foucault.

A denominação neoliberalismo foi e é a principal designação para nominar o novo modelo de capitalismo experimentado por boa parte dos países desenvolvidos. A novi- dade é o ingresso de países periféricos que estão ou já aderiram às novas teorias liberais de supressão do Estado na economia.

Um dos resultados do neoliberalismo, ela- borados por muitos anos, foi a criação dos blocos econômicos. Nafta, Comunidade Eu- ropéia, Tigres Asiáticos e Mercosul são exem- plos da Globalização.

Éevidente que alguns desses blocos cons- tituem-se em verdadeiras potências mundiais integradas. Por sua vez, é nítida a preocupa- ção de vários países em fazer parte dessa integração. Como também é verdadeiro afir- mar que o Mercosul, por exemplo, terá difi- culdades - não tanto na suaimplantação - mas sim, na disputa de mercado. Aliás, disputa e concorrência que são objetos de propulsão e vida do capitalismo.

A partir de constatações desse nível, toma- se fácil verificar que o capitalismo está sem- pre buscando - e encontra - espaços para se movimentar e consolidar seus objetivos.

Também é oportuno salientar, que a Globalização é um caminho sem volta. Não há no momento - indicações ou tendências- que esse processo sejaretardado ou que sofra abalos no percurso. Recentemente, num en- contro no Uruguai, que reuniu intelectuais de esquerda da América Latina, a conclusão foi que aquela não tem propostas alternativas ao que hoje está colocado. Nem sequer para atuar dentro do contexto de Globalização.

Comunicação Quando o presente texto reporta-se à his-

tória - principalmente Pós-II Guerra - também deseja-se refletir sobre a atuação dos meios de comunicação, desde então.

Ao término da II Guerra Mundial, surge com muita força o novo fenômeno em comu- nicação: a televisão.

O cotidiano das pessoas com a crescente industrialização, o medo e as ameaças da Guerra Fria, tornou-se mais visível com a produção e a utilização da televisão.

Padrões éticos, comportamentais e cultu- rais começaram a ser alterados pelos meios. Em função disso, teóricos - especialmente sociólogos, psicanalistas e filósofos - multi- plicaram bibliografias procurando entender o novo fenômeno, ou seja, a comunicação de massa que invadia o mundo e, principalmente os indivíduos.

Teorias A intenção é entender na atualidade todas

as questões objetivas e subjetivas que alguns teóricos elaboraram na tentativa de criar uma Teoria da Comunicação.

Se levado à categoria de dogma ou "profe- ta", Marshall McLuhan já sabia de antemão que o mundo seria uma "Aldeia Global". Com isso, torna-se evidente que a Comunicação e a Globalização já têm antecedentes ou pressu- postos teóricos. Todavia, as análises daqueles teóricos, aqui em especial do canadense, po- dem ser questionadas, como a afirmação: o "meio é a mensagem".

Ninguém melhor que os psicanalistas para responder através da teoria da recepção.

O que será que existe, que se cruza entre o emissor, o meio (aqui a mensagem) e o recep- tor, o indivíduo? Não é difícil afirmar que o indivíduo que recebe a mensagem sabe reprocessá-la conforme sua subjetividade, seus sonhos, ideais, suas fantasias e seus desejos.

Mas dentro de uma análise mais histórica, a Escola de Frankfurt também trouxe indaga- ções e posteriores frustrações.

A terminologia Indústria Cultural foi mui- to utilizada pelos frankfurtianos, em especial Theodor Adorno. Este e seus demais colegas mostravam preocupação em função da cres- cente manifestação dos produtos culturais, via meios de comunicação de massa. Assim, a discussão acerca da Comunicação e suas interferências junto à humanidade, os indiví- duos, é, até hoje, uma questão em aberto.

O debate teórico não pode ser reduzido a chavões e conceitos ortodoxos.

Na década de 60 e 70 a América Latina debateu muito sobre os meios de comuni- cação alternativos. A Igreja enfatizou mui- to a Leitura Crítica da Comunicação (LCC). O pensador francês Armand Mattelart foi um dos expoentes nessa investigação teó- rica.

Todavia, para o bem da práxis, os concei- tos e debates são aprofundados e revistos. Esses mesmos teóricos - os não reticentes - percebem hoje que a Teoria da Manipulação é completamente discutível e, para alguns pós-modernos, até descartável.

* Carlos José Leite de Oliveira Jornalista e Assessor de Comunicação do AMENCAR

Pós-modernidade Pode parecer contraditório falar em pós-

modernidade num país com contrastes sociais como o Brasil. Porém, existem bolsões onde a cultura pós-moderna se faz presente.

As caractensticas pós-modernas, princi- palmente a desterritorialização e a desrefe- rencialização precisam ser levadas em conta quando teoriza-se acerca da Comunicação e a Globalização.

A velocidade da informação, o simulacro e a imagem são elementos que determinam mudanças radicais nas sociedades contempo- râneas.

A ausência de referências dos indivíduos é um atributo às características de uma socieda- de mediatizada. As pessoas parecem estar "levitando". A perda de todos os referenciais - antes verticais - impostos por teorias "determinantes", hoje estão suplantadas por incertezas e angústias.

Por estar se vivendo numa época em que a imagem é onipotente, a "cultura do narciso" dita as regras, do "quem não é visto não é lembrado", portanto, visa o egocentrismo. A constatação é que a forma está superando, sobrepondo-se ao conteúdo. Vive-se acultura da imagem, portanto, valoriza-se a forma do belo, mesmo que sej a sem conteúdo, substân- cia. Como conviver com essas atitudes e com- portamentos? O desafio está em saber viver e reelaborar o cotidiano através de culturas in- tegradas.

Globalização em comunicação A incógnita é saber se é possível vi ver com

diversidades culturais, políticas e econômi- cas num processo de integração no Cone Sul. Algumas pistas podem ser esboçadas.

Se partir da premissa que a Globalização é um caminho sem volta, e que as "culturas não têm fronteiras" é satisfatório afirmar que há chances de se manter diferentes culturas e identidades regionais, com uma complemen- tação: possibilitar que todos os povos possam ter um amplo e enriquecedor conhecimento das diversas culturas existentes nospaíses do Cone Sul.

Nesse sentido, os meios de comunicação podem desempenhar uma função determi- nante e não exterminadora da cultura.

Por esse caminho, é eficaz afirmar que deve-se discutir sobre Globalização e Comu- nicação sem maniqueísmos de qualquer or- dem. Para isso, vale observar as contribuições da psicanálise e da recepção, que indicam indivíduos que pensam e que, portanto, po- dem discernir sobre o que é manipulação ou não.

A pesquisa no campo da comunicação e da cultura podem trazer elementos novos nessa discussão. Os meios de comunicação podem trazer uma grande contribuição ao debate sobre a fomentação das culturas regionais, sem a perda de suas identidades. Nesse pro- cesso, a integração deverá contar com muita pesquisa, estudos e proposições, aqui em es- pecial de universidades, sociedade civil orga- nizada e governos. É óbvio que nesse debate não háespaçoparaingenuidades, primordial- mente quando discute-se temas econômicos. Todavia, aí reside a busca da mudança e a esperança de construir Comunicação e Globalização a partir de novas teorias, sem dogmas, ortodoxias, mas sim com fundamen- tos teóricos e éticos.

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JULHO/AGOSTO - 95 ■ JORNAL DO AMENCAR ■ 3

Aeitw com apdama

CEDCA-CE O Conselho Estadual dos Direitos da

Criança è do Adolescente do Ceará, com grande satisfação acusa o recebimento das edições números 10 e 11 do Jornal do AMENCAR, que sem sombra de dú- vida prima por uma abordagem atualiza- da e participativa na questão da criança e do adolescente. (Mônica Carolina Diógenes, secretária Executiva do CEDCA, Fortaleza (CE).

JA Agradecemos a V. Sa. o envio do

Jornal do AMENCAR e, na oportunida- de, encaminhamos nossos informativos, para conhecimento de nosso trabalho em defesa dos direitos da criança e do ado- lescente, sem receber qualquer ajuda fi- nanceira. (Geraldo Henrique Alves, presidente da Associação de Defesa da Criança e do Adolescente -ADCA - Juiz de Fora (MG).

DIGNIDADE A luta pela vida digna de crianças e

adolescentes está em cada um de nós. Quando li - no Jornal do AMENCAR - sobre a reforma constitucional, estão querendo hotar a mão novamente no ar- tigo 228 dà Constituição Federal, fiquei indignada! Em vez dos homens do "po- der" aprovarem projetos de mais vida e dignidade, buscam criar mais mecanis- mos de massacre e morte para aqueles que são pura e duramente vítimas de seus projetos mesquinhos e descomprometidos com a vida dos cidadãos. O que nos anima, entretanto, é a luta da sociedade organizada que vêm buscando maior par- ticipação nas decisões. O Jornal do AMENCAR dá muita força e esclareci- mento a esse respeito. Creio que como conseguimos, através de manifestações, moções, aprovar o ECA em 1990; agora, se conseguirá também a derrubada desta. Estamos unidos a todos vocês aí do Bra- sil que lutam pela vida, através da oração e o apoio moral. Sou solidária nesta luta. (Irmã Inês Fassar.ello, Cíudad dei Este, Paraguai).

FOI DITO "Em vez dos homens do "poder" aprovarem projetos de mais vida e dignidade, buscam criar mais mecanismos de massacre e morte às crianças e adolescentes". Irmã Inês Passarello, ex-dire- tora da entidade Escola de In- tegração Social de Palmas (PR)/ EISPAL, sobre a proposta de redução da maioridade penal de 18 para 16 anos.

Novo acordo entre AMENCAR e entidades Convênio terá validade de cinco anos

Uma nova relação de convênio começa a ser delineada pelo AMENCAR e suas entidades

conveniadas. As instituições deve- rão elaborar um programa de traba- lho nos anos de 96 e 97. O novo acordo prevê que o planejamento das entidades seja para cinco anos, sendo renovável ou não, conforme discussões entre a assessoria do AMENCAR e as conveniadas.

A forma de conveniamento até hoje estabelecida nunca obedeceu a um prazo legal para se esgotar. O que pretende-se, agora, é ter um pe- ríodo delimitado -no caso, cinco anos- para uma avaliação sistemáti- ca de como está sendo planejado e executado o trabalho. "Será um ins- trumento para profissionalizar mais o trabalho", assegura o coordenador da Assessoria do AMENCAR, Charles Pranke.

O convênio não terá mais a "car- ta-compromisso", antes assinada entre ambas as partes. Será estabele- cido um conjunto de responsabilida- des tanto para o AMENCAR como às instituições. Ao AMENCAR, por exemplo, é conferido o dever de acompanhar e assessorar o processo de elaboração, a implementação e a avaliação do planejamento. "A obri- gação da nossa organização é de es- tar junto, acompanhar as entidades e não se omitir", reforça Pranke.

Para tornar as discussões abran- gentes, as quatro regionais do AMENCAR já estão assessorando as entidades durante as visitas, pro- curando refletir sobre formas de pla- nejamento e informando sobre as bases do novo acordo. O AMEN- CAR criou o Comitê Executivo de Planejamento que deliberou algu- mas ações imediatas, entre as quais

que deve haver muito envolvimento das entidades nos cursos, encontros e assessorias do AMENCAR, a fim que o tema planejamento torne-se um assunto corriqueiro e participati- vo na sua formulação.

A Comissão Preparatória do V Encontro Nacional das Entidades Conveniadas ao AMENCAR (ENE- CA) também estará refletindo sobre a temática nas sua próximas reuni- ões. Inclusive, as entidades conve- niadas já possuem um bom acúmulo para iniciar seus planejamentos, prin- cipalmente a partir do último ENE- CA, que definiu temas no Programa de Ação Política (PAP). Isso é ape- nas um exemplo, pois "as entida- des têm outras experiências e refe- renciais de planejamento, como o participativo, que precisam ser sis- tematizadas", conclui Charles Pranke.

Planejamento Estratégico está na segunda fase Durante uma semana, no mês de ju-

lho, a equipe de assessoria e repre- sentantes dos demais departamen-

tos do AMENCAR estiveram vivenciando a segunda etapa do Planejamento Estratégi- co Situacional Participativo. A primeira fase ocorreu em março, porém, existe uma interligação entre as três etapas previstas (março, julho e outubro), que serão planeja- das e executadas pelo Comitê . O objetivo principal do trabalho é ajudar a instituição a definir a sua identidade.

Como as entidades conveniadas estão se preparando para elaborar um planejamento para cinco anos, o AMENCAR também está realizando essa atividade. A Kinderno- thilfe vem se reordenando em nível mundi- al, através da discussão sobre novos convê- nios [ver box]. Daí, então, a necessidade de o AMENCAR e as instituições conveniadas participarem das discussões.

Não é de hoje que o Amparo ao Menor Carente tem preocupação em planejar suas ações. Entretanto, somente agora foi efeti- vada a contratação de uma assessoria espe- cífica para esse fim. Através do Departa- mento de Projetos do Instituto Cajamar, de São Paulo, a instituição vem procurando encontrar maneiras de redimensionar seu trabalho. O AMENCAR definiu preparar seu planejamento em três etapas, procuran- do, com isso, aprender com o processo, bem como colocar em prática esse aprendizado no cotidiano das atividades da organização. "Queremos conhecer o conteúdo, a concep- ção e a metodologia do planejamento", ex- plica o sociólogo Charles Pranke.

Operações Na primeira etapa do planejamento, foi

detectado que o problema a ser enfrentado é a limitação na capacidade de atendimento e na atuação em defesa dos direitos. Com o intuito de enfrentar essas dificuldades, fo- ÍÜ5

ram descritas cinco operações básicas que servi- rão de subsídio, para que, a partir de outubro, possa se elaborar o planejamento detalhado das ações do AMENCAR com vistas aos próximos cinco anos.

Operação 1: Definir e implantar uma políti- ca de captação de recursos baseadas em fontes diversificadas.

Operação 2: Definir e operacionalizar um programa de assessoria e articulação.

Operação 3: Elaborar e implantar uma polí- tica de recursos humanos.

Operação 4: Implantação de um programa deformação e monitoramento.

Operação 5: Implantar sistema mais ágil e eficaz de informação, decisão e encaminhamen- to.

O planejamento do AMENCAR deve ficar pronto até o final desse ano. Vai vigorar até o ano 2001.

Planejamento é geral

Não é somente o AMENCAR e as ins- tituições com quem possui convênio que estão planejando ou replanejando seus pro- gramas de trabalho. A Kindernothilfe (KNH), da Alemanha, sua organização parceira, também está revendo todo seu sistema de conveniamento mundial, ou seja, nos 27 países onde possui ligações.

Desde o ano passado, a KNH está pro- pondo aos seus parceiros internacionais uma revisão completa nos planejamentos. A idéia é básica para todos: buscar qualifi- car o trabalho através de ações planejadas. Esse é um desafio, principalmente às orga- nizações não-govemamentais da área so- cial, que normalmente sempre planejam em cima do imediato e não a médio e longo prazo. O planejamento servirá para quali- ficar o trabalho.

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GERfiL/fiRTIGO ^

Um Ano de Real A Inflação maltrata, mas câmbio e

juros matam (sabedoria popular)

0 Plano Real completa um ano, ou até mais se consideramos a transição da URV. Nesse período, a taxa de inflação crônica reduziu-se drasticamente: desde sua implantação até maio de 1995, os preços por atacado cresceram 14,5%, o que eqüivale a uma taxa média mensal de 1,4%, enquanto os preços ao consumidor acumularam um crescimento de 24,7%, ou cerca de 2,2% ao mês.

Qual a mágica, que desta vez parece estar funci- onando e nos planos anteriores foi um tremendo fracasso? É simples: O Plano Real tem conseguido manter os preços relativamente baixos pela maior abertura comercial ao exterior e pela estabilidade da taxa de câmbio nominal. Com o aumento do grau de abertura da economia, iniciada em 1990, pode-se usar a "âncora cambial" para segurar os preços internos. Os produtores domésticos dos chamados bens "internacionais", aqueles que podem ser expor- tados ou importados, não conseguem alterar os pre- ços a não ser que esses tenham sido mudados em dólares ou que a taxa de câmbio tenha sido modifi- cada. Com a participação crescente desses bens na economia brasileira e como a taxa de câmbio nomi- nal tem sido relativamente estável nesse período, foi possível manter baixa a taxa de inflação.

A questão maior, entretanto, é se essa taxa vai persistir baixa ao longo do tempo, vale dizer, por quanto tempo é possível manter a "âncora cambial".

Os acontecimentos recentes indicam a crescente dificuldade do governo em manter a sobrevalorização do câmbio, dadas as suas nefastas conseqüências. O resultado da sua utilização até hoje tem sido desas- troso para a economia. No bojo de uma política de abertura comercial irresponsável, a âncora cambial significou a destruição do saldo comercial, o país acumula déficits desde novembro passado e o gover- no, para evitar uma maior deterioração das contas externas, adota medidas casuísticas e protecionistas. Esti ma-se, para 1995, um déficit comercial da ordem de US$ 8 a 10 bilhões, enquanto que a conta de serviços deve acumular um déficit em torno de US$ 17 a 18 bilhões, sendo que o pagamento com juros deve corresponder praticamente à metade desse montante. Considerando-se as remessas dos brasi- leiros que trabalham no exterior, o déficit em conta corrente ficará em torno de US$ 25 a 27 bilhões, ou o equivalente a 5% do PIB. Para financiar este déficit, o governo depende crescentemente do capi- tal especulativo de curto prazo, que para aqui vem atraído por uma taxa de juros, que está entre as mais altas do mundo.

É precisamente esta política de juros escorchantes, combinada com a extinção do crédito, que está destruindo a capacidade produtiva do país, tomando milhares de pessoas e empresas inadimplentes, cri- ando desemprego e encolhendo a economia. A taxa de inadimplência cresceu 130% em maio, em rela- ção ao mesmo mês do ano anterior, e as concordatas aumentaram 418% no mesmo período. E, tudo isso, por medidas amalucadas de câmbio e juros que conseguem, temporariamente, frear a inflação. Mas, cabe a pergunta de um desses produtores desespera- dos, hoje em dia tachado de caloteiro, publicada na Folha de São Paulo, "será necessário exterminar pessoas para acabar com a inflação?" Claro que não, desde que não se busquem "mágicas" e se passe a implantar uma política consistente de desenvolvi- mento voltada para o aumento da poupança interna, o crescimento da produtividade e da competitivida- de daeconomia brasileira e a melhoria das condições de vida da população.

Texto extraído do Boletim do Inesc

Paulo Furtado de Castro Economista; Consultor do INESC

Curso de administração aponta necessidades das instituições

A máxima diz que um trabalho eficaz pressupõe um bom pla- nejamento e organização. A

idéia começa a ganhar força junto às entidades conveniadas ao AMENCAR. Isso ficou evidente no Curso de Admi- nistração, realizado de dois a quatro de agosto, na Escola Sindical 7 de Outu- bro, em Belo Horizonte. A organiza- ção do encontro ficou a cargo da regi- onal II do AMENCAR e contou com a assessoria do responsável pelo depar- tamento de Projetos da instituição, Jair Kievel. Participaram 46 educadores de 24 entidades dos Estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo e do Distrito Federal.

O evento teve como temática a in- trodução à administração. Foram apre- sentadas aos participantes as quatro áreas básicas das ações administrati- vas, que são: planejamento, organiza- ção, direção e monitoramento. As ações estão interligadas. Durante o encontro foi possível constatar que, sobre o pla- nejamento, as entidades conveniadas já possuem certo grau de conhecimen- to. Isso em função da regional ter abor- dado a temática planejamento partici- pativo nas assessorias. Das ações ad- ministrativas, segundo Jair Kievel, o ponto sobre direção teve o principal enfoque durante o curso. "O adminis- trador deve ter um papel motivador para que as pessoas possam desempe- nhar suas atividades satisfatoriamen- te", comenta Kievel. Cabe à direção observar os seguintes itens, a fim que se consiga alcançar objetivos claros no trabalho: motivação para o trabalho, delegação de tarefas e autonomia, re- lações grupais e pessoais, comunica- ção eficiente na organização, lideran- ça e reuniões.

Conforme o assessor Jair Kievel, foi possível, durante os três dias do

encontro, abordaralguns aspectos his- tóricos e teóricos da administração. "Discorremos desde a história remota da administração, que corresponde havia quatro mil anos antes de Cristo, até como ela está organizada nos dias atuais, bem como quais são suas ten- dências, dentro de uma visão abran- gente", informa Kievel.

O curso permitiu, ainda, que fosse possível discorrer sobre as cinco áreas de administração, envolvendo discus- sões desde o marketing, a produção, a área financeira, de recursos humanos e

a administração geral. Essa última corresponde ao cotidiano das entida- des conveniadas ao AMENCAR, as quais estão mais atentas a esse modelo de administração. Nesse item, reside um dos focos problemáticos em ter- mos de administração das instituições. A maioria das pessoas que ocupam funções administrativas nas entidades não são profissionais preparados para área. "Boa parte das pessoas não têm formação na área administrativa, vão aprendendo com a prática", constata o assessor Kievel.

Projeto é sugestão para próximo curso A avaliação dos participantes do

Curso de Administração foi unânime: no próximo deve-se discutir mais a respeito de projetos. Existe, nas enti- dades, uma vontade e demanda em saber quais os passos necessários para se elaborar um bom projeto, e também quais são as outras fontes que se pode recorrer a fim de conquistar apoio a inici- ativas nessa área.

Outra la- cuna aponta- da pelos e- ducadores é com relação a questões co- mo a elabora- ção de orça- mentos. En- fim, são defi- ciências bási- cas que o Cur- so de Admi- nistração tem por objetivo

ajudar a resolver nas instituições. "Es- ses encontros deverão ir se especifi- cando e segmentando", explica Kievel. É a necessidade de adaptação aos no- vos tempos de planejamento e organi- zação, pois, caso contrário, os erros cometidos podem trazer enormes pre- juízos ao trabalho.

MARCUS FUOKS

Participantes do Curso de Administração

Pelo fim da fábrica de idiotas "T" Tm recente estudo de 370 pógi- I j nas realizado pelo Ministério V-/ da Educação e Cultura (MEC)

chegou a uma conclusão estarrecedora: a qualidade dos livros didáticos utiliza- dos pelos cerca de 28 milhões de alunos da rede pública brasileira é de baixíssima qualidade, salvo raras exce- ções. Em termos práticos, significa que alunos de primeira e quarta séries do primeiro grau - 94% dos que se utilizam deste tipo de material em sala de aula - estão sendo obrigados a alicerçar seu futuro profissional sobre as bases extre- mamente frágeis. É uma notícia preocupante, sobre todos os aspectos.

De acordo com a equipe de 23 con- sultores designados para elaborar o material (pessoal do próprio MEC), os livros didáticos recomendados às esco- las não são bons porque tendem a levar os estudantes à mais completa "idioti- zação". Ou seja: por absoluta falta de critérios quando na hora da publicação das obras, o MEC gastará, nos próxi-

mos dois anos, R$ 120 milhões a cada 365 dias para tomar 60 milhões de crianças e adolescentes verdadeiros idiotas.

Engana-se quem pensa que este é umproblema recente ou de fácil reso- lução. Os livros já foram impressos, e, neste momento, estão sendo distri- buídos nas salas de aula de todo o País. Isso porque, há exatos nove anos, quando o Plano Nacional do Livro foi instituído, nenhum critério técnico, científico e/ou didático foi elaborado para a aquisição e conseqüente dis- tribuição deste material. O assunto foi divulgado na grande imprensa e funciona da seguinte forma: há nove anos, o MEC não tem feito mais que escolher os títulos que lhe são sugeri- dos pelo mercado editorial e os re- passar às escolas para que os profes- sores escolham aqueles que julgarem melhor para seus alunos.

Tudo estaria perfeito caso questões conjunturais como salários aviltados.

Giovani Peites Dep. Estadual PMDB/RS

falta de preparo e motivação não dei- xassem literalmente de mãos amarra- das os 1,3 milhão de professores públi- cos de todo o País. Sem falar, é claro, no cerco extremamente agressivo de edito- res pouco escrupulosos que não medem conseqüências para vender seus produ- tos, sejam eles de boa ou má qualidade.

Este é um assunto que me deixa ex- tremamente preocupado, principalmen- te por integrar a Comissão de Educa- ção e Cultura da Assembléia Legislati- va e por ter filhos pequenos que logo estarão em idade escolar. Urge que algo seja feito para estancar esta ferida grave encravada no seio de nossa soci- edade. Ferida esta que inevitavelmente acabará comprometendo toda uma ge- ração que está em processo de forma- ção neste exato momento em cada uma das salas de aula da rede pública de nosso País.

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G QERfiL JULHO/AGOSTO - 95 ■ JORNAL DO AMENCAR ■ 5

0tfa üWji Mtfa Livro I

O advogado e membro do Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua Rodrigo Stumpf González lançou o livro Saiba como dizernão à violência - Orienta- ções para defesa dos direitos da criança e do adolescente. O lançamento aconteceu em Porto Alegre (RS). O livro - de 74 páginas - aborda questões básicas sobre a violência contra crianças, passando por uma aborda- gem sobre a legislação na área da infância, além de mostrar, numa linguagem clara e precisa, as várias faces da violência. Para maiores informações de como adquirir o livro, entrarem contato pelo fone: (061) 226 9634. «.

SMBACOMO DOBI

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Livro II Terra, água e chá é o nome do livro

editado pelos Projetos GUANDU, DENES, Associação Diacônica Luterana (ADL), CETAPA e Prefeitura Municipal de Santa Maria de Jetibá, no Espírito Santo. A publi- cação é uma coletânea de várias experiênci- as populares e pesquisas científicas divulgadas em outras fontes. O leitor encon- trará informações sobre terapias com barro, água e plantas, e quase uma centena de indicações de plantas medicinais curativas. Terra, água e chá pode ser solicitado junto à ADL -entidade conveniada ao AMEN- CAR - pelo fone: (027) 770 2111.

COL: 60 anos Uma instituição tradicional de São Leo-

poldo (RS), o Círculo Operário Leopoldense, completou 60 anos de trabalho junto à comu- nidade leopoldense. De 29 de julho de 1935 até hoje, o COL dá atenção às problemáticas sociais, visando sempre o benefício do ho- mem trabalhador. O Círculo Operário tem três frentes de trabalho: a Casa da Criança e do Adolescente (conveniada ao AMEN- CAR), a Creche Nossa Senhora da Media- neira e a Clínica Freudiana.

Kellogg investe na formação de educadores e jovens

O AMENCAR dá mais um pas- so em busca de novas parce- rias e na perspectiva de am-

pliar a cooperação internacional. A entidade firmou convênio, dia primei- ro de agosto, com a W.K. Kellogg Foundation (Fundação Kellogg), na área de formação. A Kellogg já repas- sou US$ 80 mil ao AMENCAR, des- tinados à implantação do Projeto de Assessoria - Programa de-Formação de Educadores e Educandos, a ser de- senvolvido nas quatro regionais.

A parceria vai vigorar até o final do ano, sendo que os recursos serão re- passados à realização de 122 assesso- rias nas entidades conveniadas, na pro- moção de sete encontros de educado- res e quatro de adolescentes, além de três seminários e nove cursos de edu- cadores. Os eventos - todos de forma- ção - ocorrerão nos Estados de Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Pernambuco e Rio Grande do Norte. Serão envolvidos, diretamente, 1.435 educandos e educadores.

A matriz da Kellogg é no Estado de Michigan, nos Estados Unidos, entre- tanto, as negociações para aprovação do projeto aconteceram em São Paulo. O AMENCAR argumentou a impor- tância de investir na formação dos educadores, com o objetivo que estes possam desenvolver um trabalho com- patível com os desafios pedagógicos, sociais e culturais hoje colocados para quem trabalha na área da infância.

Por sua vez, o diretor de Programa e Coordenador para América Latina e Caribe da Kellogg, Marcos Kisil, resu- me os motivos que fizeram com que a fundação investisse na parceria com o AMENCAR: "A Kellogg quer melho- rar acessos ao desenvolvimento de jo- vens, aumentando a capacidade técni- ca dos educadores de jovens e promo- vendo esforços integrados e de cola- boração entre organizações que se ocu- pam com jovens no Brasil".

CARMO FUCKS

Encontros, como este em Natal (RN), serão apoiados pela Kellogg

KNH amplia recursos à capacitação Com o entendimento que éfundamental garantir um bom programa

de formação aos educadores das entidades conveniadas ao AMEN- CAR, a Kindernothilfe (KNH), da Alemanha, repassou R$ 115 mil à instituição brasileira, sua parceira.

Os recursos servirão para cobrir todas as despesas já efetuadas neste ano, por ocasião dos diversos cursos e encontros realizados pelo AMENCAR. De acordo com os diretores da KNH, que visitaram o Brasil em maio e junho, "foi reconhecido que o trabalho pioneiro do Amparo ao Menor Carente é uma ação de formação e qualificação ". Os alemães entendem que "não pode ser colocado em risco " todo um planejamento em função de uma " situação financeira tensa". Refe- rem-se aqui à crise que estão passando as ONGs brasileiras..

Esse programa de apoio à qualificação dos profissionais das instituições de atendimento a crianças e adolescentes foi discutido entre o AMENCAR e a KNH e servirá para que, nos próximos anos, sejam garantidos recursos à realização do trabalho na área de formação. "Nós desejamos muito que o programa de capacitação promova os princípios sistemáticos de pensar e agir, que possam ser aplicados no trabalho com crianças e adolescentes, famílias, grupos e clubes, bem como na orientação de uma pessoa, individualmente ", recomenda o diretor da KNH Rolf Heringer.

Concluído diagnóstico sobre implantação do ECA no RS O Projeto de Assessoria na Im-

plantação do Estatuto da Cri- ança e do Adolescente já cum-

priu sua primeira fase. Os assessores Sandra Rodrigues e João Cacildo Przyczynski visitaram e mapearam a situação dos Conselhos de Direitos e Tutelares, bem como o Fundo Munici- pal, nos 15 municípios atingidos pelo projeto.

O diagnóstico apontou que existem problemas comuns no que tange à im- plantação do Estatuto no Rio Grande do Sul. Um dos principais entraves verificados é a desarticulação das or- ganizações não-govemamentais e tam-

bém o não funcionamento do Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente. "Não basta o Fundo estar regulamentado em lei. É preciso colocar em prática suas fontes de recursos, para que se implemente po- líticas de atendimento", constata o advogado Przyczynski. No RS, ape- nas 20 por cento dos municípios têm o Fundo criado e regulamentado em lei. Com relação à participação da so- ciedade civil nos Conselhos de Direi- tos, os assessores detectaram que há uma intervenção limitada e pouco pro- positiva por parte das ONGs. "Existe uma sobreposição de papéis, princi-

palmente entre executivo, legislativo e as próprias entidades", observam. Entretanto, salientam que o Ministério Público e o Juizado da Infância e da Juventude estão trabalhando no senti- do de buscar a melhor forma de implementar o ECA.

A partir desse diagnóstico, os as- sessores estão, agora, definindo es- tratégias para auxiliar as ONGs a fim de qualificar a sua ação nos Con- selhos de Direitos. O Projeto ECA iniciou em maio e é coordenado pelo AMENCAR. Atacará, basicamente, três frentes: política de atendimen- to, legislação e fundo municipal.

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Estatuto da Criança é aplicado, de fato, em Blumenau , Em Blumenau (SC), as crianças são tratadas com

carinho e dignidade. As ações desenvolvidas pela Secretaria Municipal da Criança e do Adolescente, direcionadas aos direitos e à qualidade de vida, bus- cando a integração social, educação, saúde e a pre- venção da marginalidade, resultaram no título de "Município Modelo do Brasil", atribuído pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). O Jornal do AMENCAR quer presentear os seus leitores com essa reportagem, em homenagem aos cinco anos do "nascimento" epromulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente. Pela matéria, dá para verificar que realmente épossível aplicar o ECA. Para isso, basta o poder público ter vontade política e a sociedade se envolver na tarefa do resgate da cidadania da infância e da adolescência brasileira.

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Para aplicar o ECA basta vontade política

Cidade tem oito meninos de rua Blumenau é uma das cidades

brasileiras com o menor índice de meninos de rua. Pesquisa desen- volvida pela Secretaria da Crian- ça e do Adolescente verificou a existência de apenas oito crianças nesta situação, das quais, 50 por cento são oriundas de outros mu- nicípios. Através do Conselho Tu- telar, os meninos de rua recebem assistência total e, em seguida, são entregues às suas famílias. Se a família ou parentes não forem localizados, as crianças são aloja- das no albergue Kolping, onde

recebem alimentação, pernoite e são integradas aos diversos pro- gramas da Secretaria.

Roberto Diniz Saut, secretário da Criança e do Adolescente de Blumenau, adiantou que, a partir do mês de setembro, será implan- tado o Programa Cristal, envol- vendo diversos segmentos da so- ciedade. O projeto prevê a instala- ção de uma casa de referência para os meninos de rua, onde rece- berão educação, alimentação e a possibilidade de desenvolver ati- vidades culturais e esportivas.

Aoperacionalização de to- dos os mecanismos do Estatuto da Criança e do

Adolescente (ECA) possibilita o desenvolvimento de programas protetivos, preventivos e sócio- educativos. O trabalho conjunto de vários segmentos da socieda- de fortalece as ações e beneficia mais de onze mil crianças exclu- ídas e que convivem diariamen- te com a pobreza e desentendi- mentos familiares.

Através do Conselho dos Di- reitos da Criança e do Adoles- cente, que promove a integração entre os órgãos governamentais e não-govemamentais, definin- do as políticas e diretrizes do ECA, o município agiliza a exe- cução de dez programas volta- dos às necessidades enfrentadas pelas crianças. Os dois Conse- lhos Tutelares atuam no atendi- mento direto de denúncias de violência, maus-tratos, negligên- cia, abuso e abandono cometi- dos pelas famílias e sociedade contra as crianças, fiscalizando todas as ações desenvolvidas nas instituições.

A Secretaria da Criança e do Adolescente, responsável pela deliberação, execução e manutenção dos programas, investe aproximadamente R$ 200 mil ao ano na compra de materiais de consumo e de equi-

Por Cláudio Rodolfo Hõlzer (Free-lance para o JA)

Promenor proporciona esperanças

Blumenau é uma das cidades brasileiras com o menor índice de meninos de rua

pamentos. "A criança e o ado- lescente têm sido alvo de nos- sas preocupações e a Secreta- ria da Criança, com criativida-

de, dispõe de uma equipe com- prometida com o desenvolvi- mento do menor", destaca o prefeito Renato Viana. Outro

fator importante é a parceria com a iniciativa privada, Mi- nistério Público, Poder Judici- ário, sindicatos dos trabalha-

dores e patronais, FURB-Uni- versidade Regional de Blume- nau - e associações de morado- res.

Possibilitar e garantir às cri- anças o direito aos estudos, à

alimentação e à oportunidade de aprender uma profissão, através de inúmeros estágios e cursos profissionalizantes, são ativida- des exercidas pela Promenor - Sociedade Promocional de Blu- menau do Menor Trabalhador. O aluno matriculado na enti- dade recebe três refeições por dia. As crianças também dis- põem de médicos e dentistas todos os dias. Em alguns ca- sos, a única alimentação e auxílio médico e odontológi- co destes jovens são garanti- dos pela Promenor.

Ao se matricularem na ins- tituição, realizam um traba- lho de prevenção da margi- nalidade e desenvolvimento pessoal e social, através do estímulo ao aprendizado de jogos e brincadeiras, oficinas de trabalho, canto e coral, edu- cação física, expressão corpo- ral (arte cênica e dança), leitu- ra (pesquisa em biblioteca), co- nhecimentos gerais, curso de datilografia e iniciação em in- formática. Ao superar este pe- ríodo, o adolescente é encami- nhado a Estágios Educacionais

Município está entre os dez melhores Fundo Municipal repassa recursos

A1

Levantamento feito pelo Unicef aponta Blumenau entre os dez municípios brasi- leiros que proporcionam melhor atendi-

mento à criança e que segue à risca as diretrizes estabelecidas pelo ECA. O Programa Social Criança Forte foi reconhecido pelo Unicef como de vital importância no atendimento das neces- sidades da criança, e que executa as diretrizes do Estatuto da Criança. A iniciativa procura desenvolver no adolescente, através de inúme- ras atividades, o interesse pelo esporte. As ações conjuntas entre várias secretarias solucionam as dificuldades das famílias excluídas da soci- edade. O Criança Forte teve início na região do Horto Florestal em abril de 1993, com a parti- cipação de 120 crianças e dois professores. Atualmente, mais de 4.600 crianças e adoles- centes estão envolvidos em mais de dez bairros, sob a orientação de 14 profissionais.

Os jovens têm, ainda, a oportunidade de aprenderem uma profissão. O Programa Social

Trabalho Educativo mantém convênios com mais de 120 empresas, que oferecem cursos profissionalizantes a mais de 260 adolescentes. Durante um período do dia, rapazes e meninas, que possuem vínculo escolar, recebem uma bolsa de estudo nas empresas da região. As indústrias proporcionam aos alunos condições adequadas de aprendizado e, mediante paga- mento de meio salário mínimo, colaboram nas despesas escolares. Na maioria dos casos, estes adolescentes, após cumprirem seis meses de estágio, são efetivados como funcionários.

Os programas Dança nos Bairros, que incen- tiva o lado artístico da criança; o Pequeno Planeta, que proporciona às crianças excluídas a oportunidade de aprender um outro idioma; e o Sabiá, com a finalidade de despertar no ado- lescente o interesse pela música, através de pequenos corais e orquestras, também buscam a integração e o resgate dos jovens blumenau- enses.

lém dos programas prote- J~\. tivos da Secretaria da Cri- ança e do Adolescente, outras seis entidades não-governa- mentais promovem o atendi- mento às crianças excluídas do

município. Mensalmente, o Fundo Municipal repassa re- cursos para manutenção e de- senvolvimento das atividades realizadas.

Em julho, foram liberados

O resgate da cidadania é tarefa, também, da sociedade

pouco mais de R$ 40 mil, que beneficiaram as seguintes en- tidades: Sociedade Casa da Es- perança, Centro de Educação Amiguinho Feliz, APAE, As- sociação Blumenauense de Amparo ao Menor e Lar Betâ- nia.

O Fundo Municipal da Cri- ança e do Adolescente atua em quatro frentes de trabalho, pro- piciando condições mínimas de vida às crianças excluídas, atra- vés do Abrigo Nossa Casa, Pro- grama Capoeira, Dança nos Bairros e Programa de Apoio Social e Econômico à Família, no qual se efetuam atendimen- tos com o pagamento de subsí- dio financeiro, e com encami- nhamento pelos Conselhos Tu- telares ou pelo Juizado da In- fância e da Juventude com o acompanhamento à famílias na vigência do benefício.

Laborativos, através do con- vênio firmado entre a institui- ção e empresas do município.

Profissionalização Convênios firmados entre a

Promenor e empresas garantem o acesso dos adolescentes aos Estágios Educacionais Labora- tivos. Este programa proporcio- na ao estagiário o aprendizado de uma profissão, via atividades compatíveis com sua capacida- de. Atualmente, a instituição mantém parceria com 200 em- presas de Blumenau, nas quais 370 alunos aprendem uma pro- fissão.

O convênio tem por objetivo orientar e promover socialmen- te adolescentes que não possu- em condições financeiras de realizar um curso profissiona- lizante. Com obrigações mú- tuas, Promenor e empresas ze- lam pelo desenvolvimento do estagiário e o cumprimento das cláusulas que compõem o acor- do e que devem estar funda- mentadas no Estatuto da Cri- ança e do Adolescente. Ao completar 14 anos, o aluno po- derá ser registrado, com car- teira de trabalho assinada pela

Promenor, no regime CLT. A empresa repassa mensalmente à entidade o valor equivalente aos encargos sociais e à remu- neração do estagiário.

Reciclagem Estão matriculadas na Pro-

menor 500 crianças -130 entre sete e onze anos e 370 entre os 12 e 18. Os alunos até onze anos, que estão incluídos no aprendizado fase número um, permanecem cinco horas/dia na sede da entidade, divididas em duas turmas (matutino e ves- pertino). No outro período, fre- qüentam escola de ensino re- gular. Os alunos com idade acima dos 12 anos e que são estagiários nas empresas con- veniadas têm à sua disposição orientadores educacionais que acompanham seu aprendizado profissionalizante.

Em janeiro de 1994, a Pro- menor assumiu a parte operacio- nal da usina de reciclagem de lixo. Os recursos da venda do material são revertidos para a manutenção da entidade, na com- pra de materiais pedagógicos e na construção de um ginásio de esportes.

Lar Betânia é conveniado ao AMENCAR

A Associação Assistencial Lar Betânia propicia atendi- mento a 170 crianças e adolescentes do município. Na entida- de, as crianças fazem suas refeições, descansam, efetuam as. tarefas escolares e participam de dois cursos profissionalizan- tes: costura industrial e de semi-oficiais de padeiro. Na pada- ria, são feitos ainda os pães e doces consumidos na instituição. O atendimento à criança visa proporcionar assistência e edu- cação tendo em vista o seu desenvolvimento, global e harmo- nioso, de acordo com suas necessidades bio-psico-sociais, próprias da faixa etária. As crianças e adolescentes recebem também orientação religiosa, sem vínculos confessionais, tratamento médico, odontológico e de prevenção. Fundado no dia oito de abril de 1979, o Lar Betânia é mantido por recursos repassados pelo Fundo Municipal da Criança, contribuições da iniciativa privada e da própria comunidade. O AMENCAR contribuirá, durante este ano, com pouco mais de R$ 70 mil à entidade. "Também atuamos junto à família propiciando opor- tunidades aos pais de entrarem em contato e refletirem sobre a vivência familiar e, com isto, visualizar novas formas de exercerem seus papéis, fortalecendo os vínculos", declarou o diretor da entidade Voldemar Kinas.

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8 ■ JORNAL DO AMENCAR ■ JULHO/AGOSTO - 95 GERfiL

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ECA (S. Benedito I) O dia 13 de julho teve um significado

importante para o Instituto São Benedito, de Pelotas (RS). A entidade - conveniada ao AMENCAR - comemorou o quinto aniver- sário do Estatuto da Criança e do Adoles- cente. Houve uma concentração no Calça- dão, no Centro da cidade. Muitas crianças, adolescentes e educadores e diversas insti- tuições de promoção e defesa de direitos participaram das atividades. A promoção do evento ficou a cargo do Fórum Munici- pal dos Direitos da Criança e do Adolescen- te de Pelotas.

Crianças no ato público

Oficinas (S. Benedito II) O Instituto São Benedito, de Porto Ale-

gre (RS) implantou este ano uma novidade: são as oficinas educativas. Teatro, dança, leitura, canto e artes estão proporcionando momentos lúdicos e de lazer às crianças e adolescentes que participam do projeto. De acordo com a irmã Zoleima Perondi, as oficinas estão fazendo com que as meninas participem mais, tenham desenvoltura e demonstrem cada vez mais interesse em passar por todas as oficinas, já que o siste- ma é de rodízio. "Melhorou tanto a qualida- de de serviços prestados pela instituição, quanto o desenvolvimento bio-psico-social da meninada", comemora Perondi.

Teatro de fantoches sm PoA

Ouro (ARIL) A Associação de Reabilitação Infantil

Limeirense tem em seus quadros umatleta de ouro. Trata-se do jovem Edson Arantes de Paula, 18 anos, que esteve nos Estados Unidos integrando a seleção brasileira de basquete. Os brasileiros disputaram os IX Jogos Mundiais de Verão. Edson ficou campeão mundial de basquete, quando a seleção venceu o Paraguai por 23X21. Osjogosaconteceramentreos dias primeiro e nove de julho. Na abertura das competições estiveram presentes o presidente norte-americano Bill Clinton, o ator de cinema Jean-Claude Van Dame, além do ministro Extraordinário dos Desportes,Fc/e. A ARILe o atleta Edson estão de parabéns, porque acre- ditam no esporte e na força de determinação das pessoas.

Regional Nordeste elabora plano qüinqüenal Pelas deliberações tomadas no

Encontro de Diretores da re- gional I do AMENCAR, em

Natal (RN), realizado entre 20 e 23 de agosto, o grupo saiu fortalecido e com propostas claras de trabalho. Os diretores presentes definiram o novo programa de ação da regional para os próximos cinco anos (ver quadro). As entidades fizeram uma leitura sobre as ações desenvolvi- das por elas, a partir das delibera- ções do FV Encontro Nacional das Entidades Conveniadas ao AMEN- CAR (ENEC A), realizado em agos- to do ano passado. Segundo os edu- cadores, está sendo possível ocupar mais os meios de comunicação e vive-se um processo de reordena- mento institucional, descentralizan- do, assim, as entidades. Informa-

ram, ainda, que houve um envolvi- mento nas lutas de fortalecimento dos Conselhos de Direitos e maior articulação das entidades em nível municipal. Apontaram, também, problemas: o governo tem procura- do desestruturar as entidades da sociedade civil. Exemplificaram essa ação através do Programa Co- munidade Solidária. Quanto à ação governamental, colocaram que eles não têm vontade política para resol- ver os problemas sociais. Expuse- ram críticas às organizações não- govemamentais, que precisam ser mais conscientes de seu papel. A destruição e mudanças de valores, além do comprometimento dos meios de comunicação com a cha- mada classe dominante, foram al- vos de críticas e inquietações.

As metas traçadas para o próximo qüinqüênio são:

Incentivar a formação através de: - Encontros de Diretores, Educandos e Educa-

dores - Cursos e Encontros promovidos por outras

entidades afins. Conhecimento das leis constitucionais - Assessoria jurídica para melhor conhecimento

das leis Maior articulação com outras entidades Fortalecer a organização dos membros das enti-

dades Mobilização na luta de fortalecimento dos Con-

selhos de Direitos, Frentes e demais grupos de articulação.

Reativação da Federação das Entidades Conve- niadas ao AMENCAR (FECA)

Incrementação do Projeto de Esporte, Lazer e Cultura

Entidades da regional II querem intensificar cursos O II Módulo do Curso de

Capacitação para Educadores da regional II do AMENCAR

aconteceu entre os dias três e sete de julho, na Escola Sindical 7 de Outubro, em Belo Horizonte. O evento reuniu aproximadamente 40 participantes das entidades conveniadas de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Goiás e Distrito Federal. Os temas abordados foram: o resgate do I Módulo do Curso, que aconteceu em março, educação e participação popular, tendências peda- gógicas e feira de experiências, promo- vendo o intercâmbio entre as institui- ções. Oito entidades expuseram os re-

sultados obtidos, como tarefa que ti- nha sido deliberada no I Módulo, ou seja, de execução do Programa de Ação Política (PAP) definido no IV Encontro Nacional de Entidades Con- veniadas ao AMENCAR, realizado no ano passado. As instituições colo- caram experiências que estão reali- zando na área do lúdico na educação, a utilização dos jogos pedagógicos, o trabalho com famílias e com jovens na formação de lideranças, o regime de abrigo, as atividades com meninos e meninas em situação de risco, a músi- ca, a dança e o teatro na educação, bem como as ações integradas entre a

escola e a comunidade. Segundo os assessores da regional

II, Marcus Fucks e Ronald Jansen Campos, a experiência de realizar cur- sos de capacitação em módulos foi amplamente reconhecida, enquanto metodologia. Os educadores propu- seram que esses momentos também aconteçam nas microrregionais e até nas próprias entidades, possibilitan- do, assim, um número maior de parti- cipantes. Essa proposta será levada para ser avaliada no próximo encon- tro de avaliação e planejamento da regional II, que acontece de seis a dez de novembro, na Capital mineira.

Cursos abordam políticas públicas e construtivismo A regional III do AMENCAR (SP e

PR) realizou dois Cursos de Edu- cadores nos meses de julho e agos-

to em Rolândia (PR) e São Manuel (SP). O evento no Estado do Paraná reuniu 65 educadores da região, os quais discutiram sobre Políticas Públicas. Já os paulistas encontraram-se para conhecer e refletir sobre o método Construtivista de educa- ção. O que são políticas públicas? Esta pergunta norteou o curso em Rolândia. Os palestrantes discorreram sobre a história das políticas sociais no Brasil, de como eram definidas as políticas públicas antes do Estatuto da Criança e do Adolescente e de que forma elas são concebidas a partir da promulgação do ECA. As Políticas

Públicas e sua relação com a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) também foram um dos principais pontos de discus- são. Os Conselhos de Direitos, enquanto espaços para participação popular, igual- mente renderam idéias e polêmicas. A docente do departamento de Serviço Soci- al da Universidade Estadual de Londrina Jolinda de Moraes Alves chamou a aten- ção dos participantes para a necessidade de todos conhecerem a LOAS, pois esse é um instrumento legal imprescindível para quem trabalha na área social. A relação entre a lei da assistência social e o ECA deve orientar as ações daqueles que vão elaborar as políticas voltadas à criança e ao adolescente.

A volta do velho professor Em pleno século XX, um grande professor

do século passado voltou à Terra e, chegando à sua cidade, ficou abismado com o que viu: as casas altíssimas, as ruas pretas, passando umas sobre as outras, com uma infinidade de máquinas andando em alta velocidade; o povo falava muitas palavras que o professor não conhecia (poluição, avião, rádio, metrô, tele- visão ... ); os cabelos de umas pessoas pareci- am com os do tempo das cavernas... e as roupas deixavam o professor ruborizado.

Muito surpreso e preocupado com a mu- dança, o professor visitou a cidade inteira e cada vez compreendia menos o que estava acontecendo. Na Igreja, levou susto com o padre (que não mais rezava em latim, com o

órgão mudo e um grupo de cabeludos tocando uma música estranha. Visitando algumas fa- mílias, espantou-se com o ritual depois do jantar: todos se reuniam durante horas para adorar um aparelho que mostrava imagens e emitia sons. O professor ficou impressionado com a capacidade de concentração de todos: ninguém falava uma palavra diante do apare- lho.

Cada vez mais desanimado, foi visitar a escola - e, finalmente, sentiu um grande alívio, reencontrando a paz. Ali, tudo continuava da mesma forma como ele havia deixado: as car- teiras uma atrás da outra, o professor falando, falando... e os alunos escutando, escutando, escutando...

Curso em São Manuel envolveu os educadores

Construtivismo Em São Manuel, a tônica do curso

foi o Construtivismo. A assessora do evento foi Sueli Micazotto Ricci, que abordou os conceitos do tema em dis- cussão. Discorreu sobre as teorias da aprendizagem, o processo cognitivo na aprendizagem da escrita, a mudança no enfoque pedagógico e o erro como con- dição da aprendizagem. Ricci trabalhou, ainda, oficinas de produção de textos e de matemática. Ao lado, um dos textos utilizados no curso.

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Crianças e adolescentes fazem arte em MG

Os atores-mirins das entidades con- veniadas ao AMENCAR dos Esta- dos de Minas Gerais, Rio de Janeiro,

Espírito Santo, Goiás e Distrito Federal estão se preparando para o grande evento do ano: a III Mostra de Teatro. Durante os dias nove e 13 de outubro, 400 crianças, adolescentes e educadores estarão dramatizando nq palco a arte, a vivência de cada um e o espírito cultu- ral que permeia toda peça apresentada. Neste ano, oí/oganda Mostra é: A arte e a expressão dos sentimentos. O objetivo do evento é de fornar educandos e educadores na perspecti- va de serem multiplicadores da proposta de arriscar e inovar com ousadia e sem medo na prática de atendimento às crianças e adoles- centes empobrecidos. De acordo com o coor- denador da regional II do AMENCAR em Belo Horizonte, o pedagogo Marcus Fucks, os participantes da Mostra "voltam para suas entidades contagiados pela magia, vibração e emoção do evento".

Estão programadas diversas atividades para serem desenvolvidas no Acampamento da Mocidade para Cristo, em Nova Lima (MG), local onde acontecerá o evento. Pelo menos 25 grupos teatrais estarão se apresentando. As dramatizações são escritas, produzidas e en- cenadas por crianças e adolescentes. Outro aspecto importante da Mostra são as oficinas pedagógicas. Serão mostrados cinco espetá- culos, possibilitando que todos os participan- tes assistam as apresentações de circo, comé- dia, mímica, dança e bonecos. Como aconte- ceu no ano anterior, novamente a criançada poderá se divertir com os brinquedos alterna- tivos e estimulantes oferecidos pela brinque- doteca, que será armada dia 12 de outubro; Shows musicais, visita a um teatro profissio- nal em Belo Horizonte, lazer, comemoração específica do Dia da Criança e intercâmbio cultural complementam a festa da meninada. Na próxima edição do Jornal do AMEN- CAR, a cobertura completa do evento.

Curso discute comunicação com eficiência O Departamento de Comunicação do

AMENCAR realiza, de quatro a nove de setembro, um curso para abordar a temática Comunicação. O evento reúne 50 educadores de entidades conveniadas ao AMENCAR dos Estados do Rio Grande do Sul e Santa Cata- rina. Porto Alegre sedia a atividade.

OI Curso de Comunicação tem por obje- tivo capacitar os educadores sobre histórias e teorias da comunicação. Segundo o jornalista do AMENCAR, Carlos Leite de Oliveira, a partir dessa formação, os indivíduos e as organizações terão maior capacidade para alcançar resultados positivos de ocupação e divulgação de seu trabalho nos meios de comunicação. "É importante que os educado- res possam desenvolver uma postura crítica e plural, para melhor compreender as tendênci- as sociais, políticas, econômicas e culturais, as quais são abordadas cotidianamente pela mídia", enfatiza Leite.

PROGRAMAÇÃO

04/09/95 - SEGUNDA-FEIRA 9h - Abertura 9hl5min - Vídeo WhlSmin- Teorias da Comunicação * Funcionalismo * Escola de Frankfurt (Teoria Crítica) * Manipulação * Psicanálise e Comunicação * Pós-Modernidade História da Comunicação * Escrita, Símbolos e Linguagem oral - Palestrante: Dr. Jair Marcatti Júnior (So-

ciólogo, Historiador e doutor em Comunica- ção. Professor da PUC/SP e da Fundação Getúlio Vargas).

05/09/95 - TERÇA-FEIRA 8h30min - Continuação da temática do dia anterior (Teorias) 14h - As Bases da Cultura da Imagem

- Palestrante: Dr. Jair Marcatti Júnior Noite - Visita a uma emissora de TV (a confir- mar)

06/09/95 - QUARTA-FEIRA 8h30min -Análise Técnico-Cultural e Estru- tural de Telenovelas e Telejornais - Palestrante: Dr. Jair Marcatti Júnior

16h - Visita ao jornal Correio do Povo e rádio Guaíba

07/09/95 - QUINTA-FEIRA 8h30min - A relação dos meios de comunica- ção com a sociedade civil. - Palestrante: Nilson Mariano (Jornalista de Zero Hora) 14h - Visita à Casa de Cultura Mário Quinta- na

08/09/95 - SEXTA-FEIRA 8h - A relação das entidades conveniadas e o Departamento de Comunicação do AMEN- CAR. -Palestrante: Carlos Leite de Oliveira (Jor-

nalista do AMENCAR). IQhlSmin- O potencial e as possibilidades de utilização do rádio.

- Palestrante: Paulo Torino (Jornalista e professor de rádio na Unisinos) 14h - Dicas para produção gráfica e editorial de materiais informativos. * Como envolver educadores e adolescentes

no processo de comunicação democráticana instituição * Momento para exposição de experiências

em comunicação desenvolvidas pelas enti- dades 17h30min- Encerramento Noite - Confraternização

09/09/95 - SÁBADO 8h30min - Monitoramento * Definição de como acompanhar o desen-

volvimento de ações comunicativas nas enti- dades lüh - Avaliação llh- Encerramento

No Paraná, teatro também está em pauta

A regional III (SP e PR) do AMENCAR foi a pioneira na realização de Mostras de Teatro, promovidas pela organização. E, no próximo mês, entre os dias dois e seis, acontece a IV edição da Mostra de Teatro "Viver o Direito de Sonhar". O evento será realizado na cidade de Campo Largo (PR), região metropolitana de Curitiba.

Segundo os organizadores, lido Franz e Dílson Wrasse, a idéia da Mostra é difundir aproposta de arte-educação como instrumento pedagógico de construção da cidadania das crianças e adolescentes. Entendem que é fundamental que a crian- çada desperte para a realidade cultural brasileira. Queremos também que a meninada possa conhecer e entender os diferentes tipos e formas de teatro", colo- ca Wrasse. Já lido Franz quer "assegurar o direito à cultura e ao lazer às crianças e adolescentes".

Ao todo, serão 26 apresentações de grupos dos dois Estados. Também ficou definido que as peças dramatizadas trata- rão de temas relacionados à realidade cultural brasileira. Entre outras atrações previstas, destaca-se o passeio que será realizado em pontos turísticos de Curitiba, como a Ópera de Arame, o Jardim Botâni- co e a Universidade do Meio Ambiente. O Baile-do Sonho, o show com a Orquestra

de Harmônicas de Curitiba, a apresenta- ção de um grupo de teatro profissional e a realização de oficinas teatrais, comple- mentam o sonho artístico-cultural da cri- ançada.

Peça apresentada no Paraná, ano passado

Ruth Cardoso recebe carta de adolescentes Durante o VI Encontro de Adolescentes de

Entidades Conveniadas ao AMENCAR do Distrito Federal e Goiás, realizado em Hidrolândia (GO), entre os dias 24 e 25 de junho, mais de 200 jovens assinaram uma carta-aberta dirigida ao presidente da Repú- blica, Fernando Henrique Cardoso. A primei- ra-dama, Ruth Cardoso, recebeu o texto das mãos de um grupo de crianças no Instituto La Salle, emTaguatinga (DF). A seguir a íntegra da manifestação dos adolescentes:

Nós, adolescentes e educadores das enti- dades de atendimento à criança e adolescen- tes empobrecidos: lar São José da cidade de Goiás (GO), Centro Social Caminho do Gi- rassol e Ação Social Nossa Senhora de Fáti- ma, de Ceilândia e Instituto Agrícola La Salle, de Águas Claras (DF), reunidos na cidade de Hidrolândia, com o objetivo de discutir a situação do menor no Brasil, ao longo do trabalho, percebemos que em seus cinco anos de existência oEstatuto da Crian- ça e do Adolescente (ECA), não está sendo cumprido como deveria. Diante disso, apre- sentamos à Vossa Excelência algumas consi- derações a serem feitas:

- Diante desta falta de cumprimento ou esquecimento, a situação do menor no Brasil encontra-se cada vez mais difícil;

- A qualidade da educação a cada dia mais distante da realidade prometida, em sua campanha;

- A escola impõe normas contrárias à

realidade econômica da comunidade; - E clara a má preparação de alguns

professores e dirigentes; - Estrutura física das escolas deficitárias,

falta de manutenção; - A escola seleciona os alunos, rejeita,

deixando-os de fora; - Poderia haver fornecimento gratuito e

adequado dos materiais de ensino-aprendi- zagem, pois não são suficientes (cadernos, lápis, livros, etc);

- Garantir a qualidade de saúde àpopula- ção, principalmente crianças e adolescentes carentes;

- Garantir a assistência às entidades já existentes que atendem a essa clientela para que as mesmas tenham condições de dar continuidade a esses atendimentos.

Certos de contarmos com vossa valiosa compreensão, estaremos aguardando suas respostas a tais considerações, através de ações concretas, não esperando assim, um aniversário do ECA sem sua plena e devida realização.

Segue um questionamento que muito nos deixou encitados em nossas discussões: "Qual a proposta de seu governo para o trabalho social, principalmente voltado às crianças, adolescentes e famílias carentes? Pois não estamos entendendo o programa "Comuni- dade Solidária", do qual ouvimos falar.

Nós, educandos e educadores. Seguem 200 assinaturas.

'ame %U SETEMBRO

2 - Reunião da Comissão do Programa de Formação e Capacitação de Educadores, em Penápolis (SP).

4 a 9 -1 Curso de Comunicação do AMEN- CAR, no IPJ, em Porto Alegre (RS).

II - Reunião da Comissão de Organização

do Seminário sobre a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), em Maringá (PR).

11 e 12 - Plenária do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda(, em Brasília.

25 - Reunião ordinária do Conselho Diretor do AMENCAR, em São Leopoldo (RS).

28 e 29 - Encontro de Educadores da regio- nal IV (RS e SC) do AMENCAR, no IPJ,

em Porto Alegre. * Toda primeira quinta-feira do mês, às

14h30min, reunião da Frente de Defe- sa das Entidades Sociais Não-Gover- namentais de Pernambuco, no CTC, em Recife.

OUTUBRO 2 e 3 - Plenária do Conselho Nacional dos

Direitos da Criança e do Adolescente

(Conanda), em Brasília 2 a 6 - IV Mostra de Teatro Viver o Direito

de Sonhar, em Campo Largo (PR). Pro- moção: regional III do AMENCAR.

6 a 9 - VI Torneio Olímpico, em Recife. Promoção: regional I do AMENCAR.

9 a 13 - III Mostra de Teatro A Arte e a Expressão dos Sentimentos, em Belo Ho- rizonte (MG). Promoção: regional II do AMENCAR.

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10 ■ JORNAL DO AMENCAR ■ JULHO/AGOSTO - 95 N0CIONBL Q

Torneio Olímpico pode ter presença do Rei Pele No ano passado, Renato Aragão foi atração

As crianças e adolescen- tes atendidos pelas enti- dades conveniadas ao

AMENCAR, na região Nordes- te já estão na fase final de prepa- ração para o VI Torneio Olímpi- co. Eles são os protagonistas desse evento que tomou-se uma tradição para os jovens atendi- dos nas instituições dos Estados de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e Bahia. Entre os dias seis e nove de outu- bro, em torno de duas mil crian- ças e adolescentes e educadores estarão exercendo a cidadania através do esporte, do lazer e da integração. Mais uma vez, o

Núcleo de Educação Física e Desporto da Universidade Fede- ral de Pernambuco está sediando e apoiando a iniciativa.

Dentre os objetivos do Tor- neio Olímpico, destaca-se a ne- cessidade que as crianças e os adolescentes têm de praticar es- porte, de usufruir de momentos de lazer, de trocar experiências com outros jovens de diferentes regiões, bem como de garantir- lhes esses direitos. O próprio Estatuto da Criança e do Adoles- cente, no seu artigo quarto ga- rante: "É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público assegu-

PROGRAMAÇÃO 06/10 - 18h às 21h : Solenidade de abertura 07/10 - 8h às 17h30min: Realização das competições

de atletismo 08/10- 8h às 17h30min: Realização das competições de atletismo e jogos coletivos 09/10 - 8h às 17h: Realização dos jogos coletivos

18h: Entrega das premiações e encerramento do Torneio Olímpico

rar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referen- tes à vida, à saúde, à alimenta- ção, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cul- tura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência fami- liar e comunitária". Com isso, o AMENCAR em conjunto com as entidades conveniadas da re- gião, além do importante apoio do Unicef (Fundo das Nações Unidas para Infância) e da Uni- versidade Federal de PE realiza essa atividade, sabendo que é obrigação também da sociedade proporcionar esses direitos à cri- ançada.

Atração Ainda não está garantido, mas

o AMENCAR vêm realizando contatos sistemáticos com a as- sessoria do ministro Extraordi- nário dos Desportes, Edson Arantes do Nascimento, o Pele, o Rei mesmo, para que ele se faça presente na abertura dos jogos olímpicos, no dia seis de

Pele e Taffarel estão nos planos da Comissão de

Organização

outubro, em Recife. De acordo com informações do chefe de Gabinete do ministro, existem possibilidades concretas dePelé participar. Tratativas nesse sen- tido estão sendo articuladas há mais de dois meses pelo AMEN- CAR. Outro contato também está sendo mantido. Trata-se de con- vidar o tetracampeão mundial, o

goleiro Taffarel, para que ele participe do evento. "Queremos valorizar sempre mais nosso Torneio Olímpico. Por isso, de- sejamos colocar em contato as crianças com alguns ídolos do esporte", afirma o coordenador do AMENCAR no Nordeste, Carmo Fucks.

Inimputabilidade penal aguarda audiência em Brasília

Na edição número 11 do Jor- nal do AMENCARa man- chete do periódico foi sobre

a redução da maioridade penal de 18 apara 16 anos. A redação do JA está acompanhando os desdobra- mentos do Proposta de Emenda à Constituição - PEC 37/95, que tra- mita na Comissão de Constituição e Justiça e de Redação, na Câmara dos Deputados, em Brasília (DF).

Os membros da comissão apro- varam, no dia 20 de Junho, o pedido de diligências e de audiência públi- ca para discutir a matéria. Desde aquela data, a PEC está parada, en- tão, no leg'slativo federal. O próxi- mo capítulo dessa novela será a audiência pública, em que se pre- tende fazer um amplo debate com os diversos setores da sociedade que

estão interessados no assunto. A presidente da Febem do Rio

Grande do Sul, Maria Josefina Becker, se manifestou sobre o as- sunto e foi enfática: "A redução da idade mínima de inimputabilidade não elimina as causas da incrimina- lidade, ao contrário, pode agravá-la colocando adolescentes e adultos juntos num sistema penitenciário precário e superlotado".

A recomendação do Fórum Na- cional Permanente de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescen- te, em Brasília, é de que todas as instituições contrárias a redução da inimputabilidade penal se manifes- tem junto aos deputados federais, estaduais, enfim, mobilizem-se para evitar esse retrocesso na legislação. O fax da Comissão de Constitui-

ção e Justiça, para enviar moções de repúdio a lei, é: (061)318.2144.

Maria Josefina Becker preside a Febem no RS

Encontro quer agilizar Fundo Existe um grupo de estudos no Rio Grande do Sul

que está unindo esforços com o objetivo de articular ações de incentivo ao funcionamento

do Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente. No dia 28 de agosto, foi realizado o primeiro Encontro de Implementação do Fundo Muni- cipal, na Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho, em Porto Alegre.

O encontro reuniu representantes de Conselhos de Direitos e Tutelares, gestores dos Fundos de Prefeituras e os administradores da Febem, nos municípios onde estão localizados os dez juizados regionais da infância

e da juventude no RS. Os tenjas abordados foram explicativos sobre a elaboração do orçamento munici- pal e o Fundo, a discussão sobre as leis que regulamen- tam as doações ao Fundo e o planejamento de seminá- rios regionais para aprofundar os debates sobre a ques- tão.

A promoção do evento é do Grupo de Estudos do Fundo, que é composto pelo AMENCAR, Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente do Porto Alegre, Federação das Associações dos Municípios do RS, Febem, Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho, OAB/RS e Tribunal de Contas do RS.

"Empresa Amiga da Criança" combate trabalho infantil

A Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança e do Adolescente lançou, dia 23 de agosto, em Brasília, o Programa "Empresa Amiga da Criança". Com o apoio do Unicef e da Organização Internacional do Trabalho (OIT), a campanha visa a conscientização para que as empresas não utilizem trabalho infantil

De acordo com o presidente da Abrinq, empresá- rio Oded Grajew, o programa quer que as empresas desenvolvam ações em benefícios das crianças e adolescentes. Toda a empresa que não utilizar tra- balho infantil receberá um selo da campanha para ser colocado em seus produtos. Também será vei- culada na mídia uma ampla campanha publicitária incentivando os consumidores a adquirir somente produtos das empresas que estejam respeitando os direitos da infância, aqui, em especial, o de não trabalhar, pelo menos antes de 14 anos.

Para se credenciar no programa, basta a empresa solicitará Fundação Abrinq o diploma de "Empresa Amiga da Criança". O documento será fornecido pela Abrinq se a candidata estiver cumprindo com os requisitos acima mencionados. Para maiores informações, entrar em contato com a Fundação

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G •ar NfiaOMfiL JULHO/AGOSTO - 95 ■ JORNAL DO AMENGAR ■ 11

Debate discute "sexo-turismo", em Natal O Centro Brasileiro de Infor-

mação e Orientação da Saú- de Social (Cebraios), de

Natal (RN), e o AMENCAR reali- zaram um debate público, na Capi- tal Potiguar, para discutir sobre a prostituição infanto-juvenil. O as- sunto está preocupando entidades, uma vez que existem índices alar- mantes referentes à exploração se- xual de meninas e meninos. O even- to aconteceu no dia 21 de agosto, no auditório da Escola TécnicaFederal do Rio Grande do Norte, e reuniu 200 participantes.

Segundo levantamento do Ce- braios, os maiores compradores de "pacotes turísticos" para a explora- ção sexual de crianças e adolescen- tes, nas principais Capitais nordes- tinas, são os europeus e norte-ame- ricanos. Para combater essa prática, foi lançada pelo Cebraios a Campa- nha Nacional pelo fim da Explora- ção, Violência Sexual contra Crian- ças e Adolescentes e do Turismo Sexual (ver box). De acordo com o coordenador do AMENCAR no Nordeste, Carmo Fucks, o debate proporciona que o tema "faça um contraste com a beleza geográfica da cidade de Natal e também com os valores legais, éticos, morais e cris-

tãos do povo brasileiro". Fucks apro- veitou para criticar a omissão do governo Federal: "Antes nossas cri- anças e adolescentes sofriam com o abandono porpartedaLBAeCBIA. Agora, com a extinção desses ór- gãos , elas se tornaram órfãs, aumen- tando seu sofrimento. O padrasto, que é conhecido pelo nome de Co- munidade Solidária, vira suas cos- tas para seus filhos", conclui Fucks.

União Por sua vez, o pró-Reitor da Uni-

versidade Federal do Rio Grande do Norte, Amom de Andrade, salien- tou que "nós temos o turista que convidamos". Refere-se ao tipo de campanha turística que é veiculada no exterior. "Não se fala da beleza cultural e geográfica; antes, fala-se da beleza das mulheres e da condi- ção econômica das mesmas e do nosso povo", alfineta Andrade. Ou- tro dado preocupante, apontado pe- los expositores, é que cerca de 95 por cento dos casos de violência sexual praticado contra crianças e adolescentes são cometidos na pró- pria família.

O vereador petista, de Fortaleza (CE), Durval Ferraz, foi presidente da Comissão Especial de Inquérito

(CEI) que investigou a prostituição na Capital cearense. Ele apresentou os trabalhos da comissão e destacou

a importância de haver união no combate ao "sexo-turismo". "Não acredito no trabalho isolado; é ne-

cessário estabelecermos pactos, sem estrelismos, guetos ou partidaris- mo", desafiou Ferraz.

Campanha denuncia exploração sexual Não é de hoje que crianças e

adolescentes são explorados e mo- lestados sexualmente no Brasil. Entretanto, desde outubro do ano passado, o Cebraios, em conjunto com o Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (Ceap/ RJ) e o Centro da Mulher Oito de Março, da Paraíba, estão intensifi- cando a Campanha Nacional pelo fim da Exploração, Violência Sexu- al contra Crianças e Adolescentes e do Turismo Sexual.

De acordo com a coordenadora da campanha, Dilma Felizardo, di- retora do Cebraios (entidade conveniada ao AMENCAR), não existe uma estatística nacional que comprove com exatidão o número de crianças e adolescentes que são explorados sexualmente no Brasil. Por sua vez, a CPI da Câmara Fe- deral que investigou o assunto che- gou a anunciar o número de 500 mil meninas prostituídas.

Durval Ferraz e Dilma Felizardo unidos contra prostituição infantil

A campanha vem tentando mo- bilizar diferentes grupos da socie- dade no combate à prostituição e à violência sexual. Os coordenado- res pretendem que ela transforme- se em realidade cotidiana nas di-

versas regiões do país. Para parti- cipar da campanha, entrar em con- tato com Dilma Felizardo, telefone: (084). 221 4711. Endereço: R. Ezequias Pegado, 1026 A Tirol, Natal (RN) - Cep: 59014-240.

Conanda reúne Conselhos Estaduais O Conselho Nacional dos Di-

reitos da Criança e do Ado- lescente realiza, de dois a

quatro de outubro, nas dependên- cias da CNTI, em Brasília, o II Encontro de Articulação entre Conanda e Conselhos Estaduais. A reunião objetiva possibilitar uma maior interação e unidade no processo de deliberação e contro- le das políticas na área da infância e da juventude.

Cada Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adoles- cente pode participar com dois representantes, sendo um gover- namental e outro da sociedade ci- vil. O encontro servirá, entre ou- tros objetivos, para que se possa conhecer as propostas de políti- cas e de ações do governo Federal com vistas a estabelecer um monitoramento na elaboração de um plano integrado de trabalho que responda às determinações contidas no ECA. Também defi- nirá uma pauta mínima de articu- lação entre o Conanda e os Conse- lhos Estaduais.

PROGRAMA DO ENCONTRO DIA 02/10:

20h - Abertura, apresentação da pauta e fala do ministro da Justiça e presidente do Conanda, Nelson Jobim

DIA 03/10: 8h30min - Propostas de Políticas e Ações do Governo Federal 14h - Indicativos para Formulação da Política Nacional da

Criança e do Adolescente ECA e LOAS. Conanda e CNAS. 15h - Trabalho em grupos, abordando análise e

aprofundamento dos indicativos. 17h - Plenária com apresentação do resultado do trabalho

dos grupos DIA 04/10:

8h30min - Análise das políticas e ações propostas pela primeira Conferência Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente. Exposição do Conanda no que se refere às suas competências

9h - Trabalho em grupos: resgate das deliberações da primeira Conferência e definição de pauta mínima para a segunda Conferência.

14h - Plenária com apresentação dos resultados dos grupos. 16h - Encaminhamentos de articulação: capacitação

de conselheiros, rede de informações. Pacto pela Infância e encontros do Conanda com os Conselhos Estaduais

18h - Avaliação

Conselho propõe "cardápio para doações" O Conselho Nacional dos Di-

reitos da Criança e do Ado- lescente (Conanda) resolveu

fazer um chamamento à sociedade, no sentido de buscar investimentos e doações que possam ser repassa- das aos Fundos dos Direitos da Cri- ança e do Adolescente. O órgão, encarregado de elaborar as políticas nacionais à área da infância, está produzindo um folder (prospecto), com o objetivo de tomar públicas as principais necessidades e carências que podem ser supridas a partir de um engaj amento do Poder Público e da sociedade.

As doações podem ser dirigidas aos Fundos Municipais, Estaduais e Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente. Esses recursos po- dem, ainda, ser canalizados para entidades de atendimento, promo- ção e defesa de direitos. Se a doação for feita aos Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente, os incen- tivos para abater do imposto de ren- da devido é de 1 % para pessoa jurí-

dica ou 10% da base de cálculo do imposto de renda para pessoas físi- cas. Às entidades de atendimento, promoção e defesa, o incentivo é de até 10% da base de cálculo do im- posto de renda.

Conforme o representante do AMENCAR no Conanda, Charles Pranke, os recursos que as empresas doarem serão aplicados em centros comunitários, programas de aten- ção a crianças vítimas de maus-tra- tos, abrigos e centros de convivên- cia para meninos e meninas de rua. Programas de profissionalização para adolescentes, projetos e pro- gramas de informação e capacitação de educadores e implantação, estru- turação e equipamento dos Conse- lhos de Direitos e Conselhos Tute- lares são outras frentes que podem ser auxiliadas. "Somente garantin- do os direitos das crianças e adoles- centes, através dessas ações, é que poderemos construir um mundo melhor "a população infanto-juve- nil brasileira", acredita Pranke.

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CD-ROM -A Associação do Juizes do Rio Grande do Sul (AJUR1S), a Fundação Banco do Brasil e o Unicef lançaram, dia 16 de agosto, em Porto Alegre, o projeto Biblioteca Nacional dos Direitos da Cri- ança e do Adolescente. O convênio prevê a produção de um CD-ROM (disco com- pacto com textos, imagens e sons), que sintetiza a doutrina de proteção integral

à infância e adolescência preconizada pela ONU. A versão informatizada do Estatuto da Criança e do Adolescente terá seu lançamento nacional na semana da criança. A distribuição é gratuita e dirigida a Juizes, profissionais e entida- des da área.

VEJA I - Editorial da Revista Veja de 30 de agosto: "...Veja escalou os repórteres Valéria França e Joaquim de Carvalho para fazer uma reportagem em profundi- dade sobre os 3 milhões de meninos e meninas com menos de 14anos que, pelo

Brasil afora, todos os dias saem para trabalhar. Joaquim foi para o interior do Ceará, onde encontrou um menino de 6 anos quebrando pedras. A reportagem mostra uma tragédia: crianças, que po- deriam ser nossos filhos ou irmãosjoga- das numa engrenagem que lhes mói a melhor fase da vida".

VEJA II - Continua o editorial: "As meni- nas e os meninos que trabalham não estudam direito, e porque não estudam Jamais conseguirão um trabalho melhor, e sem um bom emprego estarão condena-

dos a ter filhos que não poderão estudar porque também serão obrigados a traba- lhar desde cedo. É urgente tomar inicia- tivas para arrancar essas crianças do trabalho embrutecedor".

VEJA III - "Algo está muito errado numa sociedade em que algumas crianças vão à escola, ao clube e à praia, enquanto outras vão à fábrica, à plantação e à usina. Permitindo a exploração desses meninos e meninas, o Brasil bloqueia suas chances de progresso", finaliza o editorial.

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f ENTREVISTO

Poder Judiciário do RS acredita no ECA O juiz Guinther Spode, 44 anos, é presidente da

Associação dos Juizes do Rio Grande do Sul

(AJURIS). A entidade - com sede em Porto Alegre

-pauta suas ações na necessidade de aproximação

do Judiciário com a sociedade. Guinther Spode

já foi vice e hoje é presidente da AJURIS. Nessa

entrevista exclusiva ao Jornal do AMENCAR, o

magistrado revela a importância de afirmar o

Estatuto da Criança e do Adolescente. Enfatiza,

ainda, os métodos que a sua administração

implementa para conquistar a adesão do Poder

Judiciário à defesa dos direitos da infância e da

adolescência. A conquista da cidadania para

todos é a palavra de ordem da AJURIS.

Jornal do AMEN- Guinther Spode - A CAR(JA)-Como magistratura gaúcha tem esfá se posicio- umaposiçãoclaradecom- nando a maioria promisso com o cumpri- dos tnagistra- mento do ECA, que conta dos do Rio Gran- com o respaldo institucio- de do Sul frente nal da Administração do ao Estatuto da Tribunal de Justiça - tanto Criança e do A- pela Presidência quanto dolescente? pela Corregedoria-Geral.

Além disto, a AJURIS criou na atual gestão um Departamento especi- alizado na Promoção da Cidadania, cujo eixo de trabalho preponderante é exatamente a promo- ção dos direitos da Criança que também influiu para que a magistratura gaúcha adotasse a posi- ção favorável ao ECA. Esse compromisso trans- cende a aplicação da nova legislação no âmbito da atividade judicial, havendo a consciência dos magistrados de que seu apoio às comunidades para a implantação dos Conselhos e Programas de Atendimento é fundamental para que tanto a atuação dos Juizados da Infância quanto dos Conselhos Tutelares tenha efetividade prática.

JA - As resistên- GS - Lamentavelmen- cias ao ECA ain- te, é preciso reconhecer da persistem que determinados juizes por parte de se- brasileiros - o que inocorre, fores do Judiei- ou ao menos não prospera ário ? no Rio Grande do Sul -

ainda se opõe à nova legis- lação. A AJURIS preocupa-se diante de tais posicionamentos, que colocam o Judiciário na contramão da história, e tem-se dedicado a con- tribuir politicamente para a superação dessas resistências. Nota-se, por parte de tais segmen- tos minoritários, uma dedicação quase obsessiva em desacreditar o ECA, possivelmente como reação ao esvaziamento dos poderes plenipoten- ciários que se delegava ao "juiz de menores" pelo Código revogado. A AJURIS entende, no entanto, que o momento é de contribuição da magistratura no sentido de que o ECA seja implementado enquanto conjunto sistêmico de políticas de atendimento, esforço seguramente mais fértil do que a crítica meramente reativa ao novo modelo que, não se pode abstrair, é basea- do na Convenção da ONU e portanto universal.

JA ■ A AJURIS GS-Como já referido, desenvolve a- a AJURIS tem no seu De- pões no sentido partamento de Promoção de dialogar com de Cidadania, espaço OS juizes sobre institucionalizado que se a importância de dedica, prioritariamente, implementar as ao impulsionamento da ações assegu- implementação do ECA radas no ECA, no meio judiciário gaúcho, principalmen- e suas atividades vem ga- fe aquelas cabí- nhando progressiva reper- veis ao Poder cussão no cenário nacio- Judiciário? nal. Exemplos concretos

de iniciativas nesse senti- do foram a campanha pela instalação dos Conse- lhos, realizada em 1994, com sete seminários regionais atingindo 2.350 multiplicadores, e far- ta distribuição de material de apoio promocional a todos os 427 municípios do Estado. Atualmen- te, desenvolve-se o Projeto "O Direito é Apren- der", visando engajar os juizes no asseguramento de um sistema de ensino fundamental de quali- dade. A AJURIS também promoveu, em março deste ano, a Reunião de Cúpula sobre o Novo Direito da Infância, quando foram trazidos Mi- nistros do Supremo Tribunal Federal, do Supe-

rior Tribunal de Justiça, os Presidentes de todos os Tribunais de Justiça dos Estados, todos os Presidentes das Associações de juizes, além da maioria dos Corregedores-Gerais da Justiça dos Estados, tudo com o objetivo de alavancar a assimilação e efetividade do ECA no âmbito do Poder Judiciário. Atualmente, estamos elabo- rando a Biblioteca Nacional dos Direitos da Criança, um CD-ROM que será distribuído a todos os juizes da infância do País, contendo orientações jurídicas, legislação, roteiros práti- cos sobre como cumprir o ECA.

JA - Volta à d/s- GS - De modo algum. cussão o artigo Aliás, a magistratura gaú- 228 da Cons- cha, em Assembléia Geral tituição Fede- realizadaem93,jáseposi- ral que trata da cionou unanimemente inimputabilida- contra a redução da idade de penal. O se- da imputabilidade penal. nhor acredita Agora, diante da tramita- qúe reduzir de ção da PEC 37/95 CPro/e- 18 para 16 anos to de Emenda à Constitui- a responsabili- çõo), o Departamento de dade penal é a Cidadania, articulado com solução para d;- a Comissão de Direitos Hu- minuir a crimi- manos da Câmara Federal nalidade infan- e com as diversas entida- to-juvenil ? des não-governamentais

do Fórum Nacional DCA, vem orientando todos os 157 Juizes da Infância do Estado para mobilizarem suas comunidades para que reflitam e se manifestem contra a proposição. Entendemos que o encaminhamen- to de adolescentes de 16 a 18 anos ao sistema carcerário é inadmissível e degradante, princi- palmente quando o dia-a-dia da jurisdição de- monstra que a delinqüência juvenil sempre re-

sulta de um histórico de omissões da sociedade e do Estado, que comprometeram o desenvolvi-

mento do infrator desde a infância. A questão é, pois, de promover a implemen- tação das políticas de aten- dimento do ECA, que po- derão evitar a criminalida- de. Deve-se prevenir, e não reprimir.

JA - No RS se- rão instalados dez Juizados Regionais da In- fância e da Ju- ventude. Que re- sultados imedi- atos essa medi- da poderá tra- zer?

GS -Os Juizados Regi- onais já estão instalados, e

Por Carlos Leite de Oliveira

avançam no sentido da sua implementação. A competência regional é restrita à execução das medidas privativas de liberdade, às adoções in- ternacionais e à fiscalização das entidades de atendimento. Dentre estas funções jurisdicionais, a preponderante será e execução das internações e semiliberdades, e para isso faz-se imprescindí- vel que o Governo do Estado instale as casas regionais. Mas, para que estas casas não repitam o lamentável exemplo dos depósitos de infrato- res que o Código de Menores proporcionou, é necessário que os Juizes Regionais contribuam junto às comunidades da sua região para que o ECA seja integralmente cumprido em cada mu- nicípio. É também indispensável que cada Comarca abrangida pelos Juizados Regionais possa executar suas medidas não-privafiyas de liberdade, seja para evitar as internações, seja para possibilitar o regresso do infrator ao seu ambiente sócio-f amiliar quando obtiver a pro- gressão. Esse apoio aos demais juizes e aos próprios municípios das regiões é um papel relevantíssimo dos juizes regionais -especia- listas na área - e tem integral respaldo da AJURIS.

JA - Que ações GS - Já se festejou o senhor enten- muito e se cumpriu pouco de que deveriam o Estatuto, que representa ser desenvolvi- um grande desafio para das para ver-de autoridades e sociedade fato-o ECA sen- civil. Sua implementação do aplicado e avança de forma lenta e dando certo? muitas vezes desordenada,

com falhas técnicas que comprometem a efetividade do modelo. Uma pesquisa do IBASE apontou a postura "imperi- al" dos administradores municipais, de um lado, e o despreparo dos representantes da sociedade, de outro, como razão maior desses desencontros. É preciso parar para refletir sobre o que vem ocorrendo, encarar as falhas de lado a lado, e partir para uma convivência diplomática e har- mônica entre sociedade e governo. Essa condi- ção é indispensável para o desencadeamento das ações, pela implantação ou correção de rumos. A partir daí é necessário priorizar algumas estra- tégias: promover maior integração entre os di- versos setores - instituições e pessoas - que atuam na área; mobilizar através de um eficiente aproveitamento da mídia, a sociedade como um todo; capacitar recursos humanos; e desenvolver e difundir uma tecnologia social para apoiar a implantação e execução de programas preventi- vos, protetivos e sócio-educativos.

JA - O Estatuto GS - Ainda não siste- da Criança e do matizamos os aspectos qúe Adolescente, mereçam alterações, mes- depois de cinco mo porque entendemos anos, já merece prioritário implementar e revisão de ai- testar na prática o texto gum artigo ? que está em vigor. Movi-

mentos revisionistas, nes- se momento, só contribuem para fragmentar os esforços e talvez só sirvam aos despóticos, que resistem ao espírito democratizante do Estatuto. Entendemos que somente após uma maior assimilação e compreensão do ECA em seu conjunto - para o que estes cinco anos ainda não foram suficientes - é que se poderá assi- nalar os aspectos que efetivamente mereçam ser reconsiderados.

FOTOS: NILSON WINTER/GES

Guinther Spode

"A magistratura gaúcha tem uma posição clara de compromisso com o ECA ".

"A delinqüência juvenil resulta de omissões da sociedade e do Estado ".

"Deve-se prevenir, e não reprimir y\

"Já se festejou muito e se cumpriu pouco o Estatuto ".