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ESCOLA SUPERIOR DE CIÊNCIAS DA SANTA CASA DE MISERICORDIA DE VITÓRIA - EMESCAM ANDREW VIEIRA DE LOBATO GABRIEL SALMEN GONÇALVES LOBO ITALO PAGOTTO TONINI RADIOLOGIA INTERVENCIONISTA NO FÍGADO E VIAS BILIARES: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA VITÓRIA 2016

RADIOLOGIA INTERVENCIONISTA NO FÍGADO E VIAS … · 2.1.1 Abordagem da síndrome de hipertensão portal..... 8 2.1.2 Técnica ... O início do estudo da radiologia na medicina remonta

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ESCOLA SUPERIOR DE CIÊNCIAS DA SANTA CASA DE MISERICORDIA

DE VITÓRIA - EMESCAM

ANDREW VIEIRA DE LOBATO

GABRIEL SALMEN GONÇALVES LOBO

ITALO PAGOTTO TONINI

RADIOLOGIA INTERVENCIONISTA NO FÍGADO E VIAS BILIARES: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

VITÓRIA

2016

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ANDREW VIEIRA DE LOBATO

GABRIEL SALMEN GONÇALVES LOBO

ITALO PAGOTTO TONINI

RADIOLOGIA INTERVENCIONISTA NO FÍGADO E VIAS BILIARES: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Trabalho de Conclusão de

Curso apresentado à Escola

Superior de Ciências da Santa

Casa de Misericórdia de Vitória

– EMESCAM, como requisito

parcial para obtenção do grau

de Médico.

Orientador: Professor Dr. Mitre

Kalil

VITÓRIA - ES

2016

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ANDREW VIEIRA DE LOBATO

GABRIEL SALMEN GONÇALVES LOBO

ITALO PAGOTTO TONINI

RADIOLOGIA INTERVENCIONISTA NO FÍGADO E VIAS BILIARES: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Medicina da Escola Superior

de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória – EMESCAM, como requisito

parcial para obtenção do grau de Médico.

Aprovado em 14 de Outubro de 2016

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RESUMO

O objetivo deste estudo foi realizar uma revisão da literatura disponível sobre

os procedimentos de radiologia intervencionista na abordagem das vias

biliares e fígado. Foi efetuada uma busca nas bases de dados eletrônicas:

MEDLINE, NCBI, NIH e SciELO, entre setembro de 2014 e abril de 2016,

foram selecionados os artigos de acordo com a sua relevância. Os

procedimentos de TIPS, colecistostomia percutânea, biópsia hepática,

drenagem de abscesso hepático e microquimioembolização percutânea

figuraram entre os principais, tendo quase todos apresentado melhor custo-

eficácia, menor tempo de internação e menos complicações tardias quando

comparados às abordagens tradicionais.

Descritores: Radiologia Intervencionista, Biópsia guiada por imagem, TIPS,

Fígado, Vias Biliares.

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ABSTRACT

The purpose of this study was accomplish a review on the available literature

about interventional radiology procedures on biliary tree and liver. Was

performed a search on the electronic databases MEDLINE, NCBI, NIH and

SciELO, between September 2014 and April 2016. The pappers were

selected according to their relevance. The procedures that were included

were TIPS, percutaneous cholecystostomy, liver biopsy, liver abscess

drainage and hepatic chemoembolization by they showed better cost-

effectiveness, shorter hospital stays and fewer late complications if compared

to traditional approaches.

Keywords: Interventional Radiography, Image-guided Biopsy, TIPS, Liver,

Biliary Tract.

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SUMÁRIO 1 Introdução ........................................................................................ 6

1.1 Objetivos ........................................................................................... 7

1.1.1 Objetivo geral ................................................................................... 7

1.2 Justificativa ...................................................................................... 7

2 Radiologia intervencionista em fígado e vias biliares ................. 8

2.1 Transjugular intrahepatic portosystemic shunt ………….....……. 8

2.1.1 Abordagem da síndrome de hipertensão portal ........................... 8

2.1.2 Técnica ............................................................................................ 10

2.1.3 Indicações do uso de TIPS ........................................................... 11

2.1.4 Contraindicações ao TIPS ............................................................. 11

2.1.5 Complicações do uso de TIPS ...................................................... 12

2.2 Colecistostomia percutânea ......................................................... 13

2.2.1 Abordando as colecistopatias cirúrgicas .................................... 14

2.2.2 Técnica ............................................................................................ 14

2.2.3 Indicações para uso da PC ........................................................... 15

2.2.4 Contraindicações ........................................................................... 15

2.2.5 Complicações ................................................................................. 15

2.3 Drenagem percutânea de abscesso hepático ............................. 16

2.3.1 Abordagem do abscesso hepático .............................................. 16

2.3.2 Técnica ............................................................................................ 17

2.3.3 Indicações ..................................................................................... 17

2.3.4 Contraindicações .......................................................................... 18

2.3.5 Complicações .................................................................................18

2.4 Biópsia hepática ........................................................................... 18

2.4.1 Indicações ..................................................................................... 19

2.4.2 Técnica ........................................................................................... 20

2.4.3 Contraindicações ...........................................................................20

2.4.4 Complicações ................................................................................ 21

2.5 Abordagens radiológicas percutâneas de tumores hepáticos 22

2.5.1 Indicações ..................................................................................... 23

2.5.2 Técnicas ......................................................................................... 24

2.5.2.1 Terapias ablativas percutâneas ................................................... 24

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2.5.2.1.1 Ablação química .......................................................................... 24

2.5.2.1.2 Ablação térmica ........................................................................... 25

2.5.2.1.3 Eletroporação ............................................................................... 26

2.5.2.2 Microembolização arterial e venosa .......................................... 27

2.5.2.2.1 Terapias intra-arteriais ................................................................ 27

2.5.2.2.2 Embolização de Veia Porta ......................................................... 28

2.5.3 Contraindicações ......................................................................... 29

2.5.4 Complicações ............................................................................... 30

3 Discussão ..................................................................................... 33

4 Conclusão ..................................................................................... 36

Referências ................................................................................... 37

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1. Introdução O início do estudo da radiologia na medicina remonta à descoberta dos raios

X, em 8 de novembro 1895, pelo físico alemão Wilhelm Conrad Röntgen,1 o

que lhe rendeu o primeiro prêmio Nobel em Física em 1901. Em 1896, por

sua vez, o astrônomo Edwin Brant Frost conseguiu produzir, em Deartmouth,

a primeira radiografia de fratura já realizada.2 No ano de 1929, com auxílio de

radiografias, o residente de cirurgia Werner Forssman realizou, em si próprio,

o primeiro cateterismo cardíaco o que lhe rendeu prêmio Nobel de Fisiologia

e Medicina de 1956.3 Após isso, no início de 1960 a angiografia seletiva

popularizou-se, sendo usada para diagnosticar as condições patológicas em

praticamente todos os órgãos do corpo. Logo depois em 1964, Dotter e

Judkins, descreveram a primeira angioplastia transluminal percutânea através

da utilização de cateteres de dilatação dando os primeiros passos da

radiologia intervencionista. 4,5

Nesse ínterim, gastroenterologistas e cirurgiões acolheram muito bem a

angiografia pré-operatória, principalmente em situações de sangramento

gastrointestinal. Entretanto, para utilizá-la na emergência médica, foi

necessário que os angiologistas estivessem de plantão na emergência. Isto

alterou o paradigma da especialidade de radiologia. Assim, como era de se

esperar, o cateterismo vascular evoluiu rapidamente para tratamentos

endovasculares. E, logicamente, a união destes dois fatores foi na década de

1960 o que marcou o início da radiologia intervencionista.6

Portanto, ao longo deste último meio século, a radiologia intervencionista

desenvolveu-se como uma subespecialidade médica, a qual se dedicou a

uma ampla variedade de doenças e uma extensa gama de procedimentos

inclusive completou e até substituiu abordagens cirúrgicas tradicionais. De

forma geral, as técnicas intervencionistas guiadas por imagem diminuíram

significantemente a morbimortalidade relacionada a outras terapias.

Entretanto, dada a natureza invasiva dos procedimentos, ainda existem

complicações relevantes relacionadas a habilidade do profissional e o

equipamento disponível. Assim, com a crescente quantidade de pacientes

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tratados desta forma, se faz necessário aos médicos o conhecimento da

abordagem e seus desfechos.7 Este trabalho se propõe a revisar a literatura

disponível sobre tais técnicas aplicadas ao fígado e vias biliares.

1.1 Objetivos

1.1.1 Objetivo Geral

O objetivo deste estudo é realizar uma revisão descritiva da literatura acerca

dos procedimentos de radiologia intervencionista na abordagem das vias

biliares e do fígado.

1.1.2 Métodos Realizada revisão narrativa da literatura nas bases de dados MEDLINE,

Cochrane e SciELO. Os artigos foram filtrados por idioma e só foram

considerados trabalhos em português, inglês e espanhol. Os artigos foram

selecionados à critério dos revisores de acordo com sua relevância sobre o

tema. Foram incluídos artigos clássicos.

1.2 Justificativa Existem muitos artigos sobre métodos intervencionistas no manejo de “CHC”,

mas há uma falta de revisão sobre o tema (em português) que traga clareza

na comparação dos diferentes métodos.

Este artigo se propõe a revisar na literatura as abordagens radiológicas

intervencionistas em fígado e vias biliares. Isso se faz importante porque,

primeiramente, é um tema muito pouco explorado na língua portuguesa

assim como com disponibilidade limitada em território nacional. Além disso,

há poucos trabalhos que se disponham a organizar de forma sistemática as

abordagens radiológicas intervencionistas de fígado e vias biliares em

conjunto. De certo, há um consenso entre os autores que a maioria das

técnicas de radiologia intervencionista tem alto custo-efetivo6,7, ou seja,

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pacientes abordados por elas, geralmente precisam de menos tempo de

internação e desenvolvem menos complicações. Este trabalho também busca

avaliar se essa é uma premissa verdadeira quando lidamos com os distúrbios

hepatobiliares.

2 Radiologia intervencionista em fígado e vias biliares

Desenvolvido no final de 1960 e popularizado em 1980 para o tratamento de

complicações de hipertensão portal, a “Anastomose Portossistêmica Intra-

hepática Transjugular” (Transjugular Intrahepatic Portosystemic Shunt - TIPS)

foi a técnica radiológica intervencionista pioneira no tratamento de doenças

hepato-biliares.6 Desde então, graças aos avanços dos exames de imagem,

muitos outros tratamentos foram criados para abordar fígado e vias biliares,

dentre eles os mais relevantes são: colecistostomia percutânea, biópsia

hepática, microquimioembolização e drenagem percutânea de abscesso

hepático.

2.1 Transjugular Intrahepatic Portosystemic Shunt (TIPS)

Concebida para reduzir a pressão intraluminal do sistema porta-hepático, o

TIPS cria uma comunicação entre a veia porta e a cava inferior fazendo um

desvio da circulação porta-hepático. Embora tenha sido datado pela primeira

vez durante a década de 1960 como resultado acidental de uma

colangiografia transjugular,8 a maioria dos autores defendem Rosch como

seu inventor pelo trabalho experimental em animais publicado em 19699 e em

1971.10 Somente em 1982, entretanto, foi realizado um ensaio clínico

aplicando a técnica a humanos com cirrose avançada, hipertensão portal e

hemorragia por varizes esofágicas com elevado risco de vida, obtendo

resultados promissores.11 No entanto, este ainda resultava em má

permeabilidade da anastomose criada. E, para melhorar isso, um stent de

metal expansível foi colocado através do shunt para manter a sua

permeabilidade.12 Desde então, passou a ser uma opção terapêutica a ser

considerado na Síndrome de Hipertensão Portal e suas complicações.13

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2.1.1 Abordagem da síndrome de hipertensão portal

A hipertensão portal é uma síndrome hemodinamicamente definida por um

aumento patológico do gradiente de pressão portal (diferença entre a pressão

da veia porta e da veia cava inferior), e pela formação de circulação colateral

portal-sistêmica que desvia parte do fluxo de sangue que passaria pelo

fígado direto para a circulação sistêmica. Os valores normais do gradiente de

pressão portal são de 1-5 mmHg, entre 5-9 mmHg ocorre hipertensão portal

assintomática e apenas com valores superiores a 10mmHg a doença se torna

clinicamente relevante.14

Assim, em sua fisiopatologia, a doença é caracteriza pela resistência ao fluxo

sanguíneo portal, o qual pode ser de causa pré-hepática, intra-hepática ou

pós-hepática. Na pré-hepática, a obstrução ocorre antes que o sangue

alcance o fígado e na pós-hepática, após o sangue tê-lo feito. Desse modo,

as etiologias mais frequentes para essas duas situações são a trombose de

veia porta e a síndrome de Budd-Chiari respectivamente. As síndromes de

resistências intra-hepáticas, por sua vez, são ainda subdivididas em: pré-

sinusoidal, sinusoidal e pós-sinusoidal. Normalmente são patologias mais

complexas e não podem ser classificadas de acordo com um único local de

obstrução. Em geral, qualquer hepatopatia crônica que altere a

microarquitetura hepática pode ser causa de hipertensão portal. Vale

ressaltar também, que a cirrose hepática corresponde sozinha por mais de

90% dos casos de hipertensão portal nos países ocidentais.15

Ademais, em sua história natural o maior risco da hipertensão portal, num

primeiro momento, é o sangramento de varizes gastresofágicas seguida pela

combinação da degradação hepática e do desvio porto-sistêmico sendo a

causa de uma vasodilatação esplâncnica e arterial com resistência vascular

reduzida. Com o tempo, esse estado hiperdinâmico leva ao aumento do

débito e frequência cardíaca além da diminuição do volume sanguíneo

central (hipotensão), o qual causa, posteriormente, junto com a hipertensão

portal, a formação e perpetuação de ascite. Igualmente, a síndrome

hiperdinâmica afeta uma variedade de funções de órgãos tais como os

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pulmões, com o desenvolvimento da síndrome hepatopulmonar (SHP); o

coração, com a disfunção cardiovascular (incluindo aqui a cardiomiopatia

cirrótica); e os rins, com o desenrolar da síndrome hepatorrenal (HRS). Por

último, mas não menos importante, neste estado crônico é comum a

translocação bacteriana, o que complica as infecções em relação ao

sangramento de varizes e ao líquido ascítico - peritonite bacteriana

espontânea (PBE).16

2.1.2 Técnica

O radiologista intervencionista é o especialista responsável pela colocação do

TIPS, que é um shunt o qual liga a veia porta às veias hepáticas dentro do

parênquima hepático (Figura 1).

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Figura 1

O cateter é inserido através da veia jugular passa pelo átrio direito e segue

pela veia cava inferior até chegar dentro das veias hepáticas. A agulha é

então inserida no parênquima hepático, e se injeta o contraste ou CO2,

enquanto a agulha é lentamente retirada. Assim que um ramo da veia porta é

identificado, um fio guia é inserido na veia seguido por um cateter. As

pressões são obtidas, e a angiografia é realizada (Figura 1A). Logo em

seguida uma comunicação é criada dentro do parênquima hepático usando

um balão e finalmente o stent é implantado (Figura 1B).17 Quando há

(A) Angiografia de veia porta

após cateterização transjugu-

lar. O cateter é visto pas-

sando através do parênquima

hepático entre as veias

hepática (seta escura) e porta

(seta clara). Observa-se bom

enchimento dos ramos intra-

hepáticos da veia porta.

(B) Angiografia após a

colocação do TIPS. O contras-

te pode ser visto na veia porta

(seta escura) que flui através

da derivação (seta encurvada)

e pela veia hepática (seta

clara). Não se visualiza

nenhum dos ramos intra-

hepáticos da veia porta,

indicando que o TIPS é um

shunt total.

Fonte: Boyer TD 2003.

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sucesso na criação do shunt, este reduz o gradiente de pressão porto-

sistêmico em até 90% dos casos.13

2.1.3 Indicações do uso de TIPS

As principais indicações para TIPS estão correlacionadas com as

complicações da hipertensão portal, podendo-se destacar a prevenção

secundária de sangramento de varizes gastroesofágicas, tratamento de

hemorragia varicosa refratária aguda e ascites não tratáveis

convencionalmente. Outras indicações promissoras para o procedimento

incluem o tratamento de hidrotórax hepático, síndrome de Budd-Chiari, e

síndromes hepato-renal e hepatopulmonar. Mais recentemente tem se usado

o TIPS como primeira linha de tratamento precoce em hemorragia aguda e

trombose da veia porta.18

2.1.4 Contraindicações ao TIPS

As contraindicações absolutas para TIPS incluem insuficiência cardíaca

direita, hipertensão arterial pulmonar, sepse grave, obstrução biliar

importante. O benefício em pacientes com insuficiência hepática grave (Child-

Pugh classe C) ainda não está claro. Já as contraindicações relativas incluem

encefalopatia hepática, doença policística, carcinoma hepatocelular,

coagulopatia grave, sepse ativa, trombose crônica de veia porta. A trombose

aguda de veia porta não é uma contraindicação para TIPS, mas apresenta

uma necessidade de implante de stent para evitar a oclusão do shunt.19

2.1.5 Complicações do uso de TIPS

As complicações relacionadas ao TIPS podem ser classificadas como

técnicas, trombo-embólicas, induzidas diretamente pelo shunt, e sistêmicas

(Tabela 1). A ocorrência de complicações técnicas está essencialmente

relacionada com a habilidade do profissional. Variações anatômicas podem

ser fatores importantes que conduzem a resultados inesperados.

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Complicações locais, como estenose e oclusão podem ser reduzidas com o

uso de stents revestidos.20

Tabela 1 Complicações do TIPS Tipos Complicações Incidência

(%) Complicações Técnicas Perfuração transcapsular 33 Fístula Biliar, hemobilia <5 Hemoperitoneo 1–2 Arritmias Cardiacas <1 Bloqueio total de ramo <1 Fistula Raro Rotura de outros órgãos

(Vesicula Biliar, colon, rim) Raro

Complicações trombo-embólicas

Estenose, Oclusão 18–78 Trombose Extensa 3–15 Embolia Pulmonar Raro Coagulação intravascular

disseminada Raro

Complicações induzidas diretamente pelo shunt

Insuficiência Cardíaca Raro Edema Agudo de Pulmão Raro Encefalopatia Hepática 20–40 Falência Hepática 5 Hiperbilirrubinemia grave 5 Complicações Sistêmicas

Bacteremia, sepse 2–10 Febre não-infecciosa 1–5 Anemia Hemolítica 10–15 Insuficiência Renal transitória

induzida por contraste Raro

Fonte: Gin-Ho Lo, 201420. Tradução para o português pelos autores.

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2.2 Colecistostomia percutânea (PC)

A Colecistostomia Percutânea é um método minimamente invasivo de

abordagem das colecistopatias cirúrgicas. Esta proveio da colecistostomia

aberta, a qual foi realizada pela primeira vez por Bobbs em 1867. Só, então,

em 1979, executou-se a primeira colecistostomia guiada por ultrassom, com

a colocação de um cateter para tratar colangite num caso de icterícia

obstrutiva. Em seguida, em 1982 e 1983, tentou-se o mesmo procedimento

em doentes com colecistite aguda exibindo resultados razoáveis. Além disso,

ainda no ano de 1982 o método foi padronizado e publicado por Shaver.

Nesse interim, realizou-se, em 1874, a primeira colecistectomia (remoção

cirúrgica da vesícula biliar). E, logo depois em 1878, a cirurgia foi descrita,

quando os cirurgiões Sims, Kocher e Keen realizaram esse procedimento

separadamente (sendo que apenas o paciente de Kocher sobreviveu). A

técnica evoluiu e se mostrou a mais eficaz para as colecistopatias cirúrgicas

tornando-se o padrão-ouro para o tratamento. Entretanto, na população idosa

ou em estado crítico, as taxas de mortalidade perioperatória são elevadas.

Assim, a (PC), ou seja, a drenagem da vesícula biliar inflamada sob

anestesia local, é proposta e empregada no manejo desses pacientes,

especialmente após falha terapêutica.21-23

2.2.1 Abordando as colecistopatias cirúrgicas

As colecistopatias cirúrgicas podem ser definidas por toda colecistopatia a

qual necessite de drenagem ou remoção da vesícula biliar. Dentre elas

podemos citar a infecciosa (colangite) e a inflamatória por obstrução da

vesícula (colecistites), sendo esta última a mais importante. Assim, a

colecistite aguda (AC) é descrita como uma inflamação da vesícula biliar e,

embora litíase biliar seja a etiologia mais comum (colecistite calculosa), a

inflamação da vesícula biliar, é ainda possível na ausência de cálculos

(colecistite acauculosa). Assim, por mais que possua mais de uma causa, o

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tratamento e a clínica - dor em quadrante superior direito, febre e calafrios -

são iguais em ambos os casos.24 Contudo, para se realizar o diagnóstico da

AC não basta a clínica compatível mas é necessário também exames

laboratoriais (função hepática, bilirrubina total e frações) e de imagem

(ultrassonografia ou tomografia computadorizada). Isto foi protocolado pelo

“Tokyo Guideline” (TG13) o qual, além de fornecer critérios de diagnóstico,

permite a classificação das AC em três graus de severidade; colecistite leve

(grau I), colecistite moderada (grau II), e colecistite grave ou com falência de

múltiplos órgãos (grau III). Nos casos mais leves recomenda-se tratamento

de suporte e atibioticoterapia com posterior abordagem cirúrgica da vesícula

biliar. Já nos casos mais severos a abordagem cirúrgica é urgente.25

2.2.2 Técnica

A Colecistostomia percutânea pode ser resumida como a abordagem da

vesícula biliar por via trans-hepática ou transperitoneal com o objetivo da

colocação de um cateter para drenagem do conteúdo biliar. A primeira via de

abordagem é vantajosa para a estabilidade do cateter e possui menos

chances de escape da bile. Já a segunda, para minimizar sangramentos,

complicações infecciosas e hepáticas respectivamente. Quanto ao

especialista, a técnica deve ser realizada por radiologistas intervencionistas

e, preferencialmente, executada com anestesia local e sedação do paciente

na beira do leito (com cobertura antibiótica adequada) ou centro cirúrgico. Por

último, após a colocação do cateter, deve-se realizar dentro de alguns dias

uma colangiografia para avaliar a permeabilidade do canal formado, a

existência de cálculos e a posição do cateter. Se o paciente estiver

assintomático e sem complicações visíveis na colangiografia pode-se retirar o

cateter e programar a alta do paciente. Por fim, a abordagem transhepática

aparenta ser a melhor e com menos complicações, exceto na presença de

doença hepática grave ou coagulopatia. 26,27,28

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2.2.3 Indicações do uso da PC

A Colecistostomia percutânea pode ser utilizada no manejo de qualquer

colecistopatia cirúrgica. Todavia ela não é o padrão-ouro, sendo reservada

então para tratamento da colecistite aguda em pacientes cuja colecistectomia

esteja contraindicada ou possua índices mais elevados de morbimortalidade.

Aqui, se destacam os pacientes idosos ou graves das unidades de terapia

intensiva. Estes, possuem índice de morbimortalidade de até 46% quando

submetidos a colecistectomia.22,23,27,28

2.2.4 Contraindicações

Dentre contraindicações absolutas só podemos citar a não visualização da

vesícula biliar por imagem (o qual tornaria a técnica inviável),26 a irrelevância

da abordagem no tratamento do paciente e o desejo do paciente de não

realizar o procedimento. Quanto as contraindicações relativas, tem-se

coagulopatia severa, instabilidade hemodinâmica, falta de acesso seguro a

lesão, vesícula perfurada e tumor de vesícula biliar.28

2.2.5 Complicações

As complicações relacionadas ao procedimento incluem lesão do ducto biliar,

o vazamento de bile e peritonite, sangramento por lesão de veia porta ou do

parênquima hepático, o deslocamento do cateter, lesão de cólon ascendente

e transverso e reações vagais.27,28

2.3 Drenagem percutânea de abscesso hepático

Até o início de 1980, a drenagem de abscessos hepáticos piogênicos (PLAs)

era cirúrgica. Apenas com o desenvolvimento da ultrasonografia e da

tomografia computadorizada como ferramentas no diagnóstico de patologia

intra-abdominal houve a crescente utilização da drenagem guiada por

imagem. Pode-se acrescentar que, historicamente, Ochsner e DeBakey, em

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seu artigo publicado em 1938,29 foram pioneiros a defender uma abordagem

de menor incisão para a drenagem de abscesso hepático com o objetivo de

evitar a contaminação da cavidade peritoneal. Todavia só em 1953

McFadzean e colaboradores reportaram com sucesso o tratamento de 14

pacientes com abscesso hepático através de uma aspiração percutânea por

agulha e antibioticoterapia.30 Este estudo, porém, foi ignorado até o

surgimento de melhores técnicas de imagem, proporcionando avanços

significativos no diagnóstico e abordagem terapêutica. Atualmente, os

pacientes são tratados com antibióticos, juntamente com a punção aspirativa

(PNA) ou a drenagem por cateter percutâneo (PCD). Com a primeira

demonstrando uma taxa elevada de sucesso entre 69 % a 90% e a segunda

não muito diferente entre 58% e 88%.31

2.3.1 Abordagem do abscesso hepático

O abcesso hepático é uma cavidade supurativa no fígado resultante da

invasão e multiplicação de micro-organismos. Estes podem ser provenientes

de uma lesão direta, oriundos de vasos sanguíneos ou ascenderem pela

árvore biliar. É mais frequente em países tropicais, e entre suas etiologias

mais comuns, estão as infecções por bactérias piogênicas (Escherichia coli e

Klebsiella sp.) e, principalmente, amebíase (infecção por Entamoeba

histolytica).31,32 Mais raramente, este pode ser de origem fúngica. Vale

ressaltar também que o abscesso hepático é reconhecido desde os tempos

de Hipócrates (400 a.C). Nesta época acreditava-se na correlação entre o

prognóstico dos pacientes e o tipo de fluído no interior da cavidade

supurada.31,33

A clínica caracteriza-se por dor constante no quadrante superior direito do

abdômen referida ou não na região escapular e ombro direito, além de febre

entre 38 ºC e 40 ºC. O abscesso hepático pode ainda ocorrer em qualquer

sexo e idade, mas predomina em homens entre 20 e 40 anos.

Aproximadamente 60% destes abscessos são solitários e localizam-se no

lobo direito do fígado. Isto se deve não só ao fato de ser o maior lobo, mas

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também por drenar a maior parte do fluxo portal. Por fim, quando há múltiplos

abscessos, a etiologia mais provável é piogênica ou mista.33

2.3.2 Técnica

A PCD pode ser prontamente realizada até mesmo no momento do

diagnóstico radiológico. Evita-se anestesia geral e o material aspirado pode

ser enviado para análise nos serviços de microbiologia e patologia geral. A

melhor rota de acesso é atravessando a menor quantidade possível de tecido

hepático, além de evitar outras vísceras. Os cateteres são deixados no lugar

e fixados a pele até a drenagem ser mínima e não purulenta, o que

geralmente ocorre entre 5 a 7 dias. Cavidades residuais de abscessos são

geridos por reposicionamento do mesmo cateter ou pela introdução de um

novo.31,34

No caso da PNA, inicialmente se realiza a punção em todos os abscessos

diagnosticados e guiados por imagem. Em seguida, observa-se a resposta

clínica do paciente com USG seriados (a cada três dias), se necessário se

repete o procedimento até que a cura seja alcançada. Em média são

necessárias 2,2 aspirações para cada abscesso.31,34

2.3.3 Indicações

Embora alguns ainda defendam a drenagem cirúrgica aberta como terapia

primária, a maioria das autoridades preferem a abordagem percutânea no

tratamento inicial do abscesso hepático piogênico. Já nos casos dos

abscessos por amebíase (ALAs), o tratamento inicial é clínico. Entretanto,

nos 15% dos casos que são refratários ao tratamento, e os 20% os quais

evoluem com infecções bacterianas secundárias, a drenagem percutânea

passa a ser indicada.32

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2.3.4 Contraindicações

Por se tratar de um método minimamente invasivo para uma doença grave a

qual pode levar a morte. Não há na literatura nenhuma contraindicação

absoluta para o não tratamento com a drenagem percutânea. Todavia, pode-

se citar as ALAs responsivas a terapia medicamentosa como não sendo

necessária a execução de drenagem. Além disso nos pacientes com

múltiplos abscessos, a intervenção cirúrgica é sempre considerada, embora,

ainda hoje há um consenso entre autores que a drenagem de abscesso

percutâneo deva ser a abordagem inicial.31,35

2.3.5 Complicações

Não há grandes complicações causadas pelo método, embora haja alguns

relatos em literatura sobre potenciais complicações como obstrução,

sangramento, sepse, e deslocamento do cateter no PCD. No caso da PNA

não há complicações relatadas, porém há empecilho técnico devido a

necessidade de se realizar USG seriados os quais são examinador

dependente o que pode ser uma complicação para serviços que não

disponham de fácil acesso a esses exames.31

2.4 Biópsia hepática

A biópsia hepática é um procedimento invasivo que visa à obtenção de uma

amostra de tecido para diagnóstico e avaliação prognóstica de doença

hepática aguda ou crônica. A amostragem pode ser realizada durante uma

cirurgia, por endoscopia ou por biópsia de agulha percutânea usando

diferentes técnicas.36 Paul Ehrlich é creditado pela primeira biópsia hepática

percutânea em 1883 na Alemanha.37 Posteriormente, Menghini relatou uma

técnica de " biópsia do fígado com uma segunda agulha", em 1958, quando o

processo se tornou amplamente empregado.38

A biópsia do fígado é, em geral, o teste mais específico para determinar a

natureza e gravidade das hepatopatias. Esta pode ser útil, também, na

monitorização da eficácia de vários tratamentos. Atualmente existem vários

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métodos disponíveis para obtenção de tecido hepático: biópsia percutânea,

biópsia transjugular, biópsia laparoscópica, e aspirativa por agulha fina

guiada por ultrassonografia ou tomografia computadorizada (TC).38

Focaremos esse trabalho na biópsia percutânea, transjugular e aspirativa por

agulha fina por se utilizarem de métodos de imagem e serem executados

diversas vezes por radiologistas.

2.4.1 Indicações

Para as doenças focais, a biópsia hepática parece só perder em eficácia para

a ressonância magnética quanto ao diagnóstico de H-HCA (subtipo de

adenoma hepático relacionado a mutações HNF1A).39 Já em relação às

doenças hepáticas parenquimatosas, a lista de indicações para biópsia

hepática diagnóstica é extensa, listadas na Tabela 2, além de ser usada

como uma ferramenta para oferecer informações prognósticas em uma série

de condições, incluindo cirrose, hepatite, doença hepática gordurosa não

alcoólica (DHGNA) e cirrose biliar primária.40

Fonte: Vijayaraghavan GR, David S, Bermudez-Allende M, Sarwat H;40 Tradução para o português pelos autores.

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2.4.2 Técnica

Para a biópsia transjugular, o procedimento envolve o puncionamento

percutâneo da veia jugular interna direita, seguida pela introdução (com a

utilização de fluoroscopia) de um cateter na veia hepática direita, e uma

agulha de biópsia do fígado realizada através do cateter. A duração do

processo está compreendida entre 30 e 60 minutos. É necessária

monitorização eletrocardiográfica para detectar arritmias induzidas pela

passagem do cateter através do coração. As amostras são recuperadas a

partir de uma agulha a qual passa através do cateter para o fígado enquanto

a sucção é mantida. As amostras obtidas são geralmente pequenas e

fragmentadas, uma desvantagem da técnica cuja melhora é aguardada com

o avanço tecnológico.38

Pensando então na biópsia hepática percutânea, esta pode ser realizada a

cego ou com ultrassonografia (guiada ou assistida). Existem dois tipos de

agulhas de biópsia utilizadas: agulhas de corte (Tru-Cut, Vim-Silverman) e

agulhas de sucção (Menghini, Klatzkin, Jamshidi). O índice de complicações

graves após o procedimento a cegas é baixo, e varia entre 0,09% a 2,3%,

porém a biópsia hepática percutânea guiada por ultrassom é ainda mais

segura.40

A punção aspirativa por agulha fina do fígado é realizada sob orientação de

USG ou CT. A precisão do diagnóstico varia de 80% a 95% e é

substancialmente afetada pela perícia do profissional responsável pela

análise do material.38

2.4.3 Contraindicações

As contraindicações para a biópsia hepática percutânea são listadas na

Tabela 3:

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Fonte: Traduzido e adaptado de Bravo, AA ; Sheth, SG ; Chopra, S.38

2.4.4 Complicações

Embora o fígado tenha um rico suprimento vascular, complicações

associadas a biópsia hepática percutânea são raras. Estas ocorrem mais

frequentemente entre 2 e 24 horas após o procedimento e dor e hipotensão

são os sintomas mais presentes como motivo de internação hospitalar pós

biopsia. As complicações menos graves incluem desconforto transitório,

(localizado no local da biópsia); dor em aperto, leve e breve; e leve

hipotensão transitória (devido a uma reação vasovagal). Dentre as

complicações mais raras, a hemorragia intraperitoneal é a mais grave, esta

geralmente é percebida nas primeiras duas a três horas após o

Tabela 3: Contraindicações para Biópsia Hepática Percutânea

Contraindicações absolutas:

• Paciente não colaborativo

• História de Sangramento não explicada

• Tendência a sangramento*

• Transfusão sanguínea não disponível

• Suspeita de hemangioma ou outro tumor vascular

• Inabilidade para identificar sítio adequado para a biópsia pela

percussãoo ou pela ultrassonografia

• Suspeita de equinococose cística

Contraindicações Relativas:

• Obesidade mórbida

• Ascite

• Hemofilia

• Infecção na cavidade pleural ou hemidiafragmática à direita

* Embora este critério seja considerado uma contraindicação absoluta pela

maioria dos hepatologistas, ele pode ser corrigido por concentrado de

plaquetas ou plasma fresco congelado e portanto não é realmente uma

contraindicação absoluta.

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procedimento. Pequenos hematomas intra-hepáticos ou subcapsulares

podem ser notados após a biópsia do fígado, até mesmo em pacientes

assintomáticos. Se maiores, estes podem causar dor associada com

taquicardia, hipotensão, e queda do hematócrito. Nestes casos o tratamento

conservador geralmente é o recomendado. Muito menos comum dentre as

complicações hemorrágicas pode ocorrer a hemobilia, a qual se apresenta

comumente com a tríade clássica: hemorragia gastrointestinal, dor biliar e

icterícia (aproximadamente após cinco dias do exame). Outras complicações

raras de biópsia hepática percutânea incluem bacteremia seguida de sepse,

ascite biliar, pleurite biliar, peritonite biliar, pneumotórax, hemotórax, enfisema

subcutâneo, pneumoperitônio, abscesso subfrênico, crise carcinóide, e

pancreatite devido à hemobilia.38

Por último, mas não menos importantes as complicações relatadas de

biópsia hepática transjugular incluem dor abdominal, hematoma cervical,

síndrome de Horner transitória, disfonia transitória, arritmias cardíacas,

pneumotórax, formação de uma fístula da artéria hepática para a veia porta

ou da árvore biliar, perfuração da cápsula do fígado (especialmente em

fígados pequenos e cirróticos) e como consequência do descrito acima,

morte.38

2.5 Abordagens radiológicas percutâneas de tumores hepáticos

O envolvimento hepático em patologias neoplásicas representa um desafio

clínico em oncologia, tanto para tumores primários quanto para secundários

(metástases hepáticas, principalmente do câncer colorretal). Isto se deve

porque o fígado é importante a diversos sistemas e processos, dentre eles o

imune, hematológico, a homeostase, síntese biliar, metabolismo de tóxicos

entre outros.41

O câncer de fígado é o quinto câncer mais comum em homens e o sétimo em

mulheres. Sua incidência mundial varia de 250.000 a 1.000.000 de novos

casos por ano, com uma proporção homem-mulher de 5:1. Dentre as

neoplasias primárias do fígado, o carcinoma hepatocelular (CHC) representa

85% a 90% de todos os casos. Os principais fatores de risco para CHC

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incluem o consumo crônico de álcool, hepatite B, hepatite C e doença

hepática gordurosa não alcoólica. Por fim, qualquer agente que conduz à

lesão hepática crônica e eventualmente cirrose tem sido associada com

CHC.42

A ressecção hepática (RH) tem sido geralmente aceita como a primeira

escolha para o tratamento de lesões malignas. No entanto, comumente há

cirrose associada, o que limita a extensão da cirurgia e, portanto, aumenta o

risco de falha terapêutica.41

Assim, dependendo do acometimento do fígado em relação a número,

localização e tamanho dos tumores, diferentes abordagens minimamente

invasivas podem ser usadas. As terapias minimamente invasivas disponíveis

dividem-se em duas categorias: terapias ablativas e terapias intra-arteriais. O

foco da discussão será na aplicabilidade destas terapias no manejo do CHC

e das metástases colorretais no fígado.41

2.5.1 Indicações

As indicações de terapias radiológicas percutâneas em tumores hepáticos

foram padronizadas e reconhecidas pelo sistema de estadiamento BCLC

(Barcelona Clinic Liver Cancer group). Este, é o melhor e mais usado sistema

de estadiamento para CHC e metástases hepáticas de câncer colorretal.43, 44

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Figura 2: Algoritmo para estadiamento e tratamento do CHC segundo as recomendações do

BCLC. RFA = Ablação por radiofrequência. PEI = Injeção Percutânea de Etanol. TACE =

Embolização trans-arterial. 43,45

2.5.2 Técnicas

2.5.2.1 Terapias ablativas percutâneas

A ablação compreende um grupo de técnicas radiológicas as quais tem por

objetivo a destruição ultrasseletiva de tecidos previamente diagnosticados

como tumores. Estes métodos empregam diferentes meios que são aplicados

“in situ” no local acometido sem maiores danos ao tecido saudável. E, para

tanto, estes procedimentos são diferenciados pela natureza do agente a ser

utilizado, são estas: química, térmica (frio ou calor), elétrica ou ultrassom.41,46

2.5.2.1.1 Ablação química

A ablação química é a técnica de abordagem percutânea guiada por imagem

mais antiga. Para tal, utiliza-se uma agulha fina introduzida via percutânea

com o auxílio de exames de imagem (USG ou TC) para alcançar o tumor. O

químico é injetado e atinge as células da área onde está situado o bisel. A

técnica é amplamente realizada com o uso de etanol a 95% (injeção

percutânea de etanol, PEI). Pode-se ainda empregar como alternativa ao

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álcool o ácido acético pois o mecanismo de ação local e o resultado final

destes agentes é semelhante. Ambos, por fim, provocam a degradação de

proteínas e necrose coagulativa do alvo e de tecidos circundantes. Pode

levar até cinco ou seis sessões de injeções para destruir o câncer. 41,46 Vale

ressaltar também uma técnica bem menos difundida: ablação eletrolítica.

Esta se propõe a acidificar o pH do tumor e alcalinizar o pH do tecido

adjacente através de dois eletrodos de platina, criando um meio tóxico de

destruição tumoral.47

2.5.2.1.2 Ablação térmica

Na ablação térmica a destruição tumoral ocorre de duas formas, por

aquecimento do tumor, de forma prolongada a temperaturas entre 50 e 55ºC

e por curta exposição a temperaturas superiores a 60ºC, ou por resfriamento

(crioablação) a temperaturas entre -20 e -40 ºC. As técnicas por

aquecimento diferem-se quanto a forma de se fornecer calor. A ablação por

radiofrequência (RFA) emprega um ou dois eletrodos (mono ou bipolar) os

quais conduzem energia de uma fonte eletromagnética de frequências

inferiores a 30MHz. Uma corrente alternada é transmitida pelo tecido alvo, a

qual causa agitação iônica, e por conseguinte as moléculas se chocam

produzindo calor, este processo causa aquecimento e dano em uma área

esférica de cerca de 2 à 5cm a cada 20min de aplicação do procedimento. A

ablação por micro-ondas (MWA) funciona de forma semelhante. Esta se

utiliza de fontes eletromagnéticas de frequência entre 30MHz e 30GHz, para

produzir micro-ondas (entre 915MHz e 2,45GHz) cujo objetivo é oscilar as

moléculas de água e por fim produzir calor. Em 60 segundos é possível

atingir uma área levemente elipsoide de 2cm. Na ablação por Ondas

Ultrassônicas Focalizadas de Alta Intensidade (HIFU), alcança-se uma

potência de 30-100 W a qual é capaz de aquecer o tecido a mais de 90 °C.

Principalmente usada para ablação de metástases hepáticas, dois métodos

de aplicação são utilizados, o transcutâneo, e percutâneo com um

transponder em formato de agulha. Na ablação por laser (LITT), se utiliza

uma fonte luminosa como o laser de Nd-YAG (acrônimo do

inglês neodymium-doped yttrium aluminium garnet). Fibras ópticas são

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posicionadas no tumor através de agulhas percutâneas, para que através de

fótons produza-se calor para a destruição das células neoplásicas em um raio

de 6 a 7 cm. O tempo de tratamento varia, mas geralmente excede uma hora

por sessão. Por último, mas não menos importante, a crioablação, a qual

destrói o tecido com ciclos de congelamento e descongelamento letais, Esta

utiliza-se de “cryoprobes”, sondas próprias para a aplicação de um criogênico

(nitrogênio líquido ou, mais frequentemente, gás argônio). Estes são capazes

de produzir temperaturas inferiores a -100 °C e resultam de morte celular por

congelamento direto entre -20 e -40 °C. Este procedimento é capaz de

produzir zonas maiores que as demais técnicas de ablação, além de permitir

delimitação mais clara das margens cirúrgicas.47

2.5.2.1.3 Eletroporação

A eletroporação irreversível (IRE) é uma técnica de ablação não térmica

recentemente introduzida na prática médica, principalmente na abordagem

de tumores em fígado e pâncreas. A IRE se baseia na alteração do gradiente

elétrico potencial da membrana celular, a qual é induzida por campo elétrico

uniforme de alta voltagem atuando no tecido. Desta forma, há

desarranjamento da estrutura de bicamada lipídica por formação permanente

de microporos na membrana celular, não permitindo a regulação da

passagem de micro e macromoléculas pela célula. Como consequência da

alteração na parede celular há alteração da homeostase celular e finalmente

morte por apoptose. A IRE é orquestrada por um gerador bipolar, ou múltiplos

unipolares, sendo utilizadas ao menos duas agulhas 19G colocadas em torno

da lesão, posicionadas obrigatoriamente em paralelo e, para se evitar

necrose tumoral incompleta a distância máxima entre dois eletrodos é de 2

cm. Vale ressaltar também que lesões maiores necessitam de agulhas de

maior comprimento além do reposicionamento das mesmas para melhor

abordagem da neoplasia. Utiliza-se em média 2 a 4 agulhas variando em até

8 posições, sendo que em cada posição é realizado cerca de 90 pulsos

elétricos de 1500V por par de agulhas.47

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2.5.2.2 Microembolização arterial e venosa

A microembolização é outra opção terapêutica no manejo de neoplasias. Seu

objetivo é aplicar superseletivamente medicamentos ou substâncias que

provoquem isquemia. Quando realizado via intra-arterial, o objetivo final é a

necrose tumoral;48 quando via portal, otimiza uma posterior ressecção

hepática para os pacientes inoperáveis por insuficiência do volume

remanescente do fígado.49 A primeira, teve início nos anos 1960, com

estudos os quais descreviam métodos de radioembolização transarterial

usando microesferas do isótopo de Ítrio (90Y) em próstatas de cães,50 sendo

que apenas em 1988 usou-se a técnica pela primeira vez para tratar casos de

CHC e metástases no fígado.51 A segunda, começou a ser estudada em

coelhos em 1920, nos quais houve atrofia ipsilateral do ramo ligado da veia

porta. Em 1961, relatou-se uma ligadura de veia porta em humano como

primeira parte de uma extensa hepatectomia em dois tempos, o que

possibilitou em 1986 a realização da primeira embolização seletiva de veia

porta.49

2.5.2.2.1 Terapias intra-arteriais

A lógica para o tratamento intra-arterial de tumores hepáticos é que estas

lesões malignas são nutridas quase que inteiramente pela artéria hepática

(99%), em oposição ao tecido saudável, o qual depende principalmente da

veia porta para o seu fornecimento de sangue (80% na veia porta e de 20%

da artéria hepática). Assim, os agentes injetados por via arterial são

direcionados preferencialmente às células neoplásicas, resultando em

necrose tumoral com menos efeitos adversos, se comparado ao tratamento

sistêmico convencional.52 Há três tipos de técnicas de embolização arterial

em uso: a embolização intra-arterial (TAE), quimioembolização intra-arterial

(TACE) e quimioembolização com eluição de fármacos (DEB-TACE). Todos

estes procedimentos envolvem acesso percutâneo através da artéria femoral,

seguido de cateterização seletiva da artéria hepática. Em seguida se realiza

uma arteriografia para se confirmar a anatomia vascular do sítio tumoral.

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Pode-se utilizar o acesso braquial como uma alternativa ao femoral, apesar

de ser tecnicamente mais difícil.53

Na TAE, o agente embolizante são partículas de 50 µm de álcool polivinílico

(PVA), com ou sem contraste (Lipiodol). Estas partículas obstruem

fisicamente o fluxo sanguíneo, induzindo assim a lesão isquêmica. Outros

agentes embólicos atualmente empregados incluem gelfoam, cianoacrilato,

partículas tris-acrílico, e embosferas. A TACE, por sua vez, combina o uso de

material embólico com uma infusão inicial de um agente quimioterápico. Já

na DEB-TACE, utiliza-se agentes embólicos de 500 a 700 µm carregados

com um quimioterápico (geralmente a doxorrubicina), que dissocia-se

lentamente dentro do parênquima hepático ao longo de um período de 7 a 14

dias.53

2.5.2.2.2 Embolização de Veia Porta (PVE)

Em 1990 propôs-se pela primeira vez que a PVE poderia melhorar os

resultados da ressecção cirúrgica do fígado, caso essa seja realizada antes,

com a finalidade de induzir a atrofia dos segmentos hepáticos embolizados e

hipertrofia dos demais. Isso, em tese, impediria o aumento súbito da pressão

portal e a disfunção hepática perioperatória. Esse raciocínio foi confirmado

em estudos posteriores mostrando que o aumento do volume do “fígado não-

embolizado” (future liver remnant – FLR) está associado não só ao descrito

acima, como também o aumento da excreção biliar, da albumina sérica e

melhora da função hepática pós-operatória.54

A PVE pode ser realizada por dois diferentes acessos: percutâneo e

transileocólico. A transileocólica é a abordagem mais antiga das duas. Esta

ocorre sob efeito de anestesia geral e é feito uma incisão cirúrgica para

acesso direto de um ramo venoso ileocólico, o qual, após cateterizado,

permite acesso à veia porta. Já a embolização percutânea portal pode ser

realizada pela abordagem ipsilateral (por dentro do fígado portador de tumor)

ou contralateral (através do FLR). Para ambas, utiliza-se exame de imagem

(geralmente USG) para guiar o acesso à um ramo portal distal. Logo em

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seguida, é realizada uma portografia para pesquisar alterações anatômicas.

Em adição, afere-se a pressão portal com finalidade de descartar hipertensão

significativa, a qual contraindicaria a ressecção.54

Semelhantemente a embolização arterial, uma variedade de agentes foram

descritos para o uso em PVE, incluindo cianoacrilato, cola de fibrina, etanol, e

de micropartículas tais como o álcool polivinílico.54

2.5.3 Contraindicações

Todas as terapias de ablação local estão contraindicadas em pacientes com

ascite volumosa ou coagulopatia que não possam ser corrigidas. Quanto às

diferentes terapias ablativas, a PEI não deve ser realizada especificamente

na presença de tempo de protrombina elevado em mais de 16 segundos, ou

na existência de contagem de plaquetas inferior a 40.000 por mm³.55 Nos

métodos de ablação térmica, lesões situadas próximas à grandes vasos são

de difícil manejo devido ao efeito dissipador de calor (“Heat sink effect”), o

qual torna maior o dano perilesional. Tumores próximos à grandes ductos

biliares são suceptíveis à mesma sequela.56 Para IRE, a única

contraindicação absoluta são os pacientes que não podem ser submetidos a

anestesia geral, por isso é necessário triagem cardíaca criteriosa e avaliação

anestésica completa. O uso de marca-passo ou história de arritmias

ventriculares são contraindicações relativas, uma vez que a alta tensão

elétrica usada no procedimento, teoricamente, poderia induzir arritmias.57

No caso das embolizações intra-arteriais, o envolvimento hepático superior a

75% é considerado uma contraindicação relativa, uma vez que estes

pacientes tendem a ter uma menor resposta ao tratamento, associado a

maiores taxas de complicações, e até mesmo insuficiência hepática pós

intervenção. A presença de trombose da veia porta é uma forte

contraindicação, já que o parênquima hepático sadio precisa do fornecimento

de sangue venoso portal para se recuperar. Portanto, a embolização da

artéria hepática em pacientes com trombose da veia porta completa aumenta

os riscos de isquemia grave do fígado. Além disso, há relatos de que a

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terapia não seja segura em pacientes com níveis de bilirrubina maiores do

que 3 mg/dl.53

As duas contraindicações absolutas para PVE são hipertensão portal

clinicamente evidente e extensa área de trombose tumoral. No cenário de um

tumor extenso, a PVE é contra indicada, porque a maior parte do fluxo portal

já foi desviado, o que dificulta o acesso do agente embólico. No caso da

hipertensão portal clinicamente evidente, esta, por si só já é uma

contraindicação à hepatectomia, e por conseguinte a PVE também não está

indicada. Como contraindicações relativas, incluem-se coagulopatia

incorrigível e insuficiência renal.54

Finalmente, todos os pacientes com contraindicações gerais para a

angiografia, como intolerância de meios de contraste, doença vascular

periférica e coagulopatias, não devem ser considerados para as

embolizações.53,54

2.5.4 Complicações

Devido a taxa elevada de recidiva neoplásica na PEI, múltiplas injeções e

grandes quantidades de álcool são necessárias para atingir um melhor efeito

terapêutico, o que pode causar danos cumulativos e até mesmo cirrose.

Quanto aos métodos de ablação térmica, os malefícios mais frequentes são

devidos ao efeito dissipador de calor, o qual diminui o grau de necrose

coagulativa em tumores adjacentes a grandes vasos. Danos térmicos extra-

hepáticos, como a hérnia diafragmática podem ocorrer no tratamento de

tumores subcapsulares, tanto em momento inicial quanto meses após o

procedimento. Por último, a vesícula biliar também possui risco em potencial

de danos térmicos como a perfuração e colecistite.58,59

A IRE pode causar arritmias ventriculares durante o procedimento, devido a

interferência do campo elétrico no ciclo cardíaco. A incidência de tal viés e a

gravidade do quadro em uma eventual intercorrência se reduziram com a

sincronização dos pulsos elétricos da técnica ao ECG somados ao

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relaxamento muscular induzido por anestesia geral. Outras eventuais

complicações da IRE são trombose de veia porta, oclusão de ducto biliar e

extravasamento de bile por rotura canalicular. A dor pós eletroporação se

apresenta em monta e intensidade similar aos métodos ablativos térmicos.

Como complicação das embolizações intra-arteriais, a mais comum é a

chamada “síndrome pós-embolização”, caracterizada por febre, náuseas,

vómitos, dor abdominal, e elevação dos marcadores hepáticos. Normalmente

desaparece dentro de três dias pós-procedimento. Além disso, insuficiência

hepática, abscesso hepático, síndrome hepato-renal, sepse e hipertensão

grave podem ocorrer durante a embolização como consequência da isquemia

local induzida por embolização arterial. Vale ressaltar também a colecistite e

pancreatite, ambas complicações relativamente comuns de embolização da

artéria hepática. Estes eventos ocorrem devido ao refluxo de material

embólico para dentro da artéria cística ou artéria pancreaticoduodenal

respectivamente, causando lesão isquémica a estes órgãos. O

posicionamento cuidadoso da ponta do cateter para dentro da porção intra-

hepática da artéria hepática, juntamente com técnicas de infusão suaves, é

pensado para limitar a incidência destas complicações potencialmente

graves.

Pode-se notar também que os pacientes que realizam TAE têm taxas

semelhantes de complicação em comparação com pacientes da TACE. Por

fim, os procedimentos DEB-TACE demonstraram taxas de morbidade

comparáveis, com 30% a 60% dos pacientes que apresentam elementos da

síndrome pós-embolização.

As complicações da PVE percutânea são semelhantes a de outros

procedimentos transhepáticos. Estes incluem hematoma subescapular,

hemobilia, hemoperitônio, lesões vasculares, pneumotórax e colangite.

Complicações específicas da PVE incluem embolização de outros vasos,

recanalização de segmentos embolizados, completa trombose da veia porta.

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Por último, todas as complicações relacionadas à punção percutânea, tais

como pneumotórax e hemorragia podem surgir após os procedimentos

acima. Estas, no entanto, raramente ocorrem na prática sendo que sua

incidência é similar em todas as intervenções citadas acima.

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3 Discussão Há certa unanimidade entre autores quanto a indicação do uso de TIPS em

pacientes com hipertensão portal classificados como Child-Pugh B com

sangramento ativo ou Child-Pugh C. Nestes casos o procedimento deve ser

realizado em até setenta e duas horas da admissão (preferencialmente nas

primeiras vinte quatro horas) logo após a abordagem inicial farmacológica e

endoscópica sem sucesso. Com menor grau de evidência, porém ainda

indicado, pode-se usar TIPS em casos de sangramento de varizes esofágicas

refratário (dentro dos primeiros cinco dias após a abordagem inicial) ou como

profilaxia secundária em pacientes intolerantes a terapia farmacológica e a

endoscópica.60 Através das metanálises mais recentes, tem-se evidenciado

também a eficácia do TIPS na prevenção secundária de hemorragia por

varizes gastro-esofágicas,61 resta a dúvida e alvo de pesquisas futuras o uso

de TIPS na profilaxia primária do sangramento de varizes gástricas. Além

disso, este método se mostrou também de melhor custo-benefício em relação

aos tratamentos convencionais.62,63

Pode-se acrescentar, também, no que se refere ao manejo da síndrome de

Budd-Chiari (BCS) o uso de TIPS especialmente para pacientes classe II pelo

score de Rotterdam ou, maior ou igual a sete pelo BCS-TIPS Prognostic

Index score.64, 65

Quanto a colecistostomia percutânea, contrariando a indicação clássica, uma

metanálise publicada em 2013 foi incapaz de determinar o papel da

colecistostomia percutânea no manejo clínico dos pacientes cirúrgicos de alto

risco com colecistite aguda ou outras colecistopatias complicadas. Esta

concluiu interrogando a necessidade de ensaios clínicos randomizados

adequadamente alimentados de baixo risco de viés sobre essa questão.28

Posteriormente, uma análise longitudinal realizada entre 1995-2009 com um

número de 43.341 pacientes com colecistite aguda alitiásica, publicada em

agosto de 2014, concluiu que a colecistostomia percutânea não oferece

nenhum benefício quanto à sobrevida dos pacientes com sepse grave e

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choque se comparada ao tratamento farmacológico. Em contrapartida, o

mesmo estudo evidenciou que a colecistectomia aumenta a sobrevida dos

pacientes em comparação àqueles sem tratamento cirúrgico (colecistostomia

percutânea e tratamento farmacológico).67 Sendo assim, há necessidade de

mais estudos para se confirmar as indicações e eficácia do procedimento.

No que discerne sobre a drenagem de abscesso hepático, há certeza quanto

as indicações do tratamento.68 Mais recentemente, em metanálise de 2015,

concluiu-se que tanto a PNA quanto a PCD são métodos seguros para a

drenagem de abscessos hepáticos. No entanto, a PCD é mais eficaz do que

a PNA porque possui uma taxa de sucesso mais elevada, reduz o tempo

necessário para conseguir o resultado desejado e diminui em 50% o tamanho

do abcesso. No entanto, entre os pacientes tratados com sucesso com a

PNA, os resultados são comparáveis com os da PCD.32

No caso da biópsia hepática, há uma tendência mundial entre os

especialistas de que esta caia em desuso. Isto se dá porque este

procedimento diagnóstico, embora permaneça como padão-ouro,69 pode ser

substituído com segurança por exames de imagem não invasivos como o

fibrotest70 e a elastografia71 com valores já padronizados e validados para as

hepatites virais crônicas (B e C).69 Sendo assim, há pesquisas em andamento

para padronizarem e validarem o uso de tais exames de imagem no

diagnóstico de outras doenças do parênquima hepático. Ficando a biópsia

hepática apenas como último recurso diagnóstico.

Por último, mas não menos importante, no tocante às terapias radiológicas

percutâneas, estas estão amplamente validades pelo BCLC sendo

empregadas principalmente nos estágios A e B.72 No estágio A, a RFA é a

técnica de ablação de primeira escolha, competindo apenas com a ablação

por micro-ondas. A PEI embora possua menos controle local do tecido

destruído, ainda tem um papel importante nos casos em que há tecido viável.

Todas as técnicas possuem a eficácia e sobrevida em HCC solitárias de até 2

cm, sendo a hipertensão portal o principal desfecho. Nos tumores de 3 cm, a

sobrevida dos pacientes tratados com RFA é semelhante àquela oferecida

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pela ressecção cirúrgica. Assim, qualquer abordagem poderia, portanto, ser

considerada terapia de primeira linha, devendo-se levar em conta idade,

comorbidades, e localização do tumor para a escolha da terapia adequada.

Nos casos de HCC maiores que 3 cm ou multifocais, a taxa de falha de

terapêutica para a ablação é alta. Nestes casos a ressecção pode oferecer

um melhor resultado. O tratamento combinado com quimioembolização e

ablação tem sido propostos por alguns estudos, mas ainda não é possível

traçar nenhuma conduta determinante a partir dos estudos que foram feitos.

A taxa de recorrência após ablação de tumores de três centímetros é o

mesmo que após a ressecção cirúrgica, embora a ressecção anatômica

possa alcançar melhores margens cirúrgicas. Para os pacientes no estágio B

do BCLC o tratamento de escolha é a TACE. A sobrevida média foi de 28,7

meses, sendo superior ao grupo controle pelo estágio do BCLC o qual foi de

17,8 meses. Várias metanalises mostraram que a c-TACE aumentou

significativamente o número de pacientes com sobrevida de 2 anos e

estabeleceu-se como tratamento de primeira escolha para os casos acima

propostos. Quanto a DEB-TACE alguns estudos dizem aumentar a sobrevida

média em relação a c-TACE, por diminuir o tempo de exposição sistêmica à

quimioterapia. Todavia, o que se pode afirmar é que se a TACE for aplicada

corretamente a sobrevida média não deverá ser menor que 30 meses. Há

resultados promissores da combinação da RFA e da TACE para pacientes

em ambos os estágios, mas ainda há mais dúvidas do que respostas para

esta última opção.73

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4 Conclusão

Tais fatos tão inequívocos constatam que a relativamente recente

especialidade da radiologia intervencionista trouxe avanços importantes para

o tratamento das colecistohepatopatias, demonstrando diversas vantagens

como menos complicações, menos tempo de internação e

consequentemente menor custobenefício quando comparadas às

abordagens convencionais. De todos os procedimentos listados nesta breve

revisão apenas a colecistostomia percutânea parece não ser vantajosa

quando comparado as terapias convencionais. Além disso há o caso da

biópsia hepática, a qual ainda que padrão ouro, vem sendo substituída por

exames de imagem não invasivos.

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