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Ciência Rural, v.38, n.4, jul, 2008. Ciência Rural, Santa Maria, v.38, n.4, p.997-1002, jul, 2008 ISSN 0103-8478 RESUMO Neste estudo, utilizaram-se 30 nutrias, 15 fêmeas e 15 machos, com o sistema arterial aórtico-abdominal preenchido com látex 603, pigmentado em vermelho, e fixado em uma solução aquosa de formaldeído a 20%. A aorta abdominal emitiu de sua superfície dorsal de 6 a 8 artérias lombares únicas. Das artérias renais, direita e esquerda, originaram-se as artérias frênico-abdominal para irrigar parte do diafragma e da parede abdominal lateral cranial. A aorta abdominal lançou dorsalmente, a artéria sacral mediana, cranialmente a sua bifurcação em artérias ilíacas comuns. As artérias ilíacas comuns, ramos terminais da aorta abdominal, originaram as artérias ilíacas interna e externa. A artéria ilíaca interna distribuiu-se nas vísceras da cavidade pélvica. A artéria ilíaca externa emitiu uma artéria umbilical e, antes de alcançar o anel femoral, lançou a artéria circunflexa ilíaca profunda para a parede abdominal lateral, em seus dois terços caudais. A artéria ilíaca externa lançou o tronco pudendo-epigástrico, que originou a artéria epigástrica caudal, para a parede abdominal ventral e a artéria pudenda externa, que saiu pelo canal inguinal, para irrigar a genitália externa. Os ramos parietais diretos da aorta abdominal foram as artérias lombares e a artéria sacral mediana, enquanto as artérias frênico- abdominal, circunflexa ilíaca profunda e epigástrica caudal, foram ramos colaterais parietais indiretos. Os ramos terminais da artéria aorta abdominal foram as artérias ilíacas comuns com seus ramos, as artérias ilíacas interna e externa. Palavras-chave: artérias abdominais, vascularização, roedor, nutria, Myocastor coypus. ABSTRACT For this study it was used 30 nutria, 15 females and 15 males, with its abdominal aorta system full filled with latex 603, stained in red, and fixed in an aqueous solution of formaldehyde 20%. The abdominal aorta emitted from its dorsal surface 6 to 8 single lumbar arteries. From the renal arteries, left and right, it has been originated the phrenicoabdominal arteries, in order to irrigate part of the diaphragm and the cranial lateral abdominal walls. The abdominal aorta emitted, dorsally, the median sacral artery, cranially to its bifurcation into the common iliac arteries. These common iliac arteries, terminal branches of the aorta, originate the internal and external iliac arteries. The internal iliac artery was distributed along the pelvic cavity viscera. The external iliac artery emitted an umbilical artery and, before reaching the inguinal ring, emitted the deep circunflex iliac artery to 2/3 of the caudal lateral abdominal wall. The external iliac artery emitted the pudendoepigastric trunk, wich has originated the caudal epigastric artery, to the ventral abdominal wall, and the external pudendal artery, wich passed through the inguinal ring to irrigate the external genital. The direct parietal branches of the abdominal aorta were the lumbar arteries and the median sacral artery, while the phrenicoabdominal arteries, deep circunflex iliac and the caudal epigastric artery were indirect colateral parietal branches. The terminal branches of the abdominal aorta were the common iliac arteries with its branches, the internal and external iliac arteries. Key words: abdominal arteries, vascularization, rodents, nutria, Myocastor coypus. INTRODUÇÃO Os roedores (ordem Rodentia) representam o mais numeroso grupo dentro da classe Mammalia. Da família Capromyidae, registra-se no Brasil a ocorrência apenas do gênero Myocastor, com uma única espécie vivente, o Myocastor coypus, conhecido como ratão-do-banhado ou nutria (SILVA, 1994). Trata- se de um roedor de tamanho médio, nativo do extremo sul da América do Sul, mas disseminado em várias partes do mundo, como Estados Unidos e Europa, onde tem sido explorado com fins comerciais, em I Programa de Pós-graduação em Ciências Veterinárias, Departamento de Ciências Morfológicas, Instituto de Ciências Básicas da Saúde, Faculdade de Veterinária, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Av. Bento Gonçalves, 9090, 91540-000, Porto Alegre, RS, Brasil. E-mail: [email protected]. *Autor para correspondência. Ramos colaterais parietais e terminais da aorta abdominal em Myocastor coypus (nutria) Paulete de Oliveira Vargas Culau I* Rodrigo Cavalcanti de Azambuja I Rui Campos I Terminal and parietal colateral branches of the abdominal aorta in Myocastor coypus (nutria) Recebido para publicação 13.12.06 Aprovado em 29.08.07

Ramos colaterais parietais e terminais da aorta abdominal ... · A aorta abdominal emitiu de sua superfície dorsal de 6 a 8 artérias lombares únicas. Das artérias renais, direita

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997Ramos colaterais parietais e terminais da aorta abdominal em Myocastor coypus (nutria).

Ciência Rural, v.38, n.4, jul, 2008.

Ciência Rural, Santa Maria, v.38, n.4, p.997-1002, jul, 2008

ISSN 0103-8478

RESUMO

Neste estudo, utilizaram-se 30 nutrias, 15 fêmease 15 machos, com o sistema arterial aórtico-abdominalpreenchido com látex 603, pigmentado em vermelho, e fixadoem uma solução aquosa de formaldeído a 20%. A aortaabdominal emitiu de sua superfície dorsal de 6 a 8 artériaslombares únicas. Das artérias renais, direita e esquerda,originaram-se as artérias frênico-abdominal para irrigar partedo diafragma e da parede abdominal lateral cranial. A aortaabdominal lançou dorsalmente, a artéria sacral mediana,cranialmente a sua bifurcação em artérias ilíacas comuns. Asartérias ilíacas comuns, ramos terminais da aorta abdominal,originaram as artérias ilíacas interna e externa. A artéria ilíacainterna distribuiu-se nas vísceras da cavidade pélvica. A artériailíaca externa emitiu uma artéria umbilical e, antes de alcançaro anel femoral, lançou a artéria circunflexa ilíaca profundapara a parede abdominal lateral, em seus dois terços caudais.A artéria ilíaca externa lançou o tronco pudendo-epigástrico,que originou a artéria epigástrica caudal, para a paredeabdominal ventral e a artéria pudenda externa, que saiu pelocanal inguinal, para irrigar a genitália externa. Os ramosparietais diretos da aorta abdominal foram as artérias lombarese a artéria sacral mediana, enquanto as artérias frênico-abdominal, circunflexa ilíaca profunda e epigástrica caudal,foram ramos colaterais parietais indiretos. Os ramos terminaisda artéria aorta abdominal foram as artérias ilíacas comunscom seus ramos, as artérias ilíacas interna e externa.

Palavras-chave: artérias abdominais, vascularização, roedor,nutria, Myocastor coypus.

ABSTRACT

For this study it was used 30 nutria, 15 femalesand 15 males, with its abdominal aorta system full filled withlatex 603, stained in red, and fixed in an aqueous solution offormaldehyde 20%. The abdominal aorta emitted from its dorsalsurface 6 to 8 single lumbar arteries. From the renal arteries,left and right, it has been originated the phrenicoabdominalarteries, in order to irrigate part of the diaphragm and the

cranial lateral abdominal walls. The abdominal aorta emitted,dorsally, the median sacral artery, cranially to its bifurcationinto the common iliac arteries. These common iliac arteries,terminal branches of the aorta, originate the internal andexternal iliac arteries. The internal iliac artery was distributedalong the pelvic cavity viscera. The external iliac artery emittedan umbilical artery and, before reaching the inguinal ring,emitted the deep circunflex iliac artery to 2/3 of the caudallateral abdominal wall. The external iliac artery emitted thepudendoepigastric trunk, wich has originated the caudalepigastric artery, to the ventral abdominal wall, and the externalpudendal artery, wich passed through the inguinal ring toirrigate the external genital. The direct parietal branches of theabdominal aorta were the lumbar arteries and the mediansacral artery, while the phrenicoabdominal arteries, deepcircunflex iliac and the caudal epigastric artery were indirectcolateral parietal branches. The terminal branches of theabdominal aorta were the common iliac arteries with itsbranches, the internal and external iliac arteries.

Key words: abdominal arteries, vascularization, rodents,nutria, Myocastor coypus.

INTRODUÇÃO

Os roedores (ordem Rodentia) representamo mais numeroso grupo dentro da classe Mammalia.Da família Capromyidae, registra-se no Brasil aocorrência apenas do gênero Myocastor, com umaúnica espécie vivente, o Myocastor coypus, conhecidocomo ratão-do-banhado ou nutria (SILVA, 1994). Trata-se de um roedor de tamanho médio, nativo do extremosul da América do Sul, mas disseminado em váriaspartes do mundo, como Estados Unidos e Europa,onde tem sido explorado com fins comerciais, em

IPrograma de Pós-graduação em Ciências Veterinárias, Departamento de Ciências Morfológicas, Instituto de Ciências Básicas daSaúde, Faculdade de Veterinária, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Av. Bento Gonçalves, 9090, 91540-000,Porto Alegre, RS, Brasil. E-mail: [email protected]. *Autor para correspondência.

Ramos colaterais parietais e terminais da aorta abdominal em Myocastor coypus (nutria)

Paulete de Oliveira Vargas CulauI* Rodrigo Cavalcanti de AzambujaI Rui CamposI

Terminal and parietal colateral branches of the abdominal aorta in Myocastor coypus (nutria)

Recebido para publicação 13.12.06 Aprovado em 29.08.07

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especial pela qualidade de sua pele e de sua carne(BAROFFIO et al., 1979).

Informações sobre a morfologia do ratão-do-banhado são escassamente encontradas naliteratura, salvo abordagens gerias sobre sua pelagem,dentição e volume corporal (SILVA, 1994). Com relaçãoao suprimento vascular da região abdominal,encontram-se alguns relatos sobre o suprimento arterialpara as glândulas adrenais (MACHADO et al., 2002) esobre a artéria celíaca e seus ramos em ratão dobanhado (MACHADO et al., 2002). Assim, paraconfrontar os resultados, na discussão, utilizamosinformações sobre a aorta abdominal em ratos, gambáse cães.

Desse modo, este trabalho busca obterinformações de cunho morfológico que possamfundamentar discussões do ponto de vista funcional eresultaem em subsídios para a melhor compreensão dafisiologia desses animais. Assim é possível oferecersuporte para medidas que visem a protegê-los em seuambiente natural, bem como aprimorar métodos de suaexploração racional. Portanto, o presente trabalho temcomo objetivo sistematizar e descrever os ramosparietais e terminais da aorta abdominal em Myocastorcoypus.

MATERIAL E MÉTODOS

Para este estudo, utilizaram-se 30 nutrias (15fêmeas e 15 machos), jovens e adultas, provenientesde um criatório localizado na cidade de Caxias do Sul,licenciado pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambientee Recursos Naturais Renováveis (IBAMA).Administrou-se aos animais 5000UI de heparinaa e trintaminutos depois 20ml de Tiopental sódicob a 12,5%, viaintraperitoneal. A caixa torácica foi aberta ventralmenteem plastrão, e a aorta torácica foi canulada próximo aodiafragma. O sistema foi lavado com 250ml de soluçãosalina. Após, preencheu-se o sistema com látex 603c,corado em vermelhod (BASF), e o animal permaneceuem água corrente por uma hora para solidificação domesmo. Rebateu-se a pele e injetou-se intraperitoneal150ml de formaldeído a 20% e o animal foi imerso nestasolução por sete dias.

Abriu-se a cavidade abdominal na linhamediana ventral e as artérias foram dissecadas. Depoisforam confeccionados desenhos esquemáticos detodas as peças e algumas amostras paradocumentação. As designações seguiram a NôminaAnatômica Veterinária (INTERNATIONALCOMMITTEE ON VETERINARY GROSSANATOMICAL NOMENCLATURE, 2005).

RESULTADOS

A aorta atravessou o hiato aórtico entre ospilares do diafragma e, ao emergir na cavidade

abdominal, emitiu em seqüência a artéria celíaca e aartéria mesentérica cranial, ventralmente e justapostas.

De sua superfície dorsal, lançou emseqüência e com espaçamento constante de 6 a 8artérias lombares únicas, que se distribuíram na regiãolombar, sendo que a última artéria lombar foi quasesempre originada da artéria sacral mediana (Figura 1).

A alguns centímetros, caudalmente à origemda artéria mesentérica cranial, a aorta abdominal emitiu,lateralmente, as artérias renal direita e esquerda. Aartéria frênico-abdominal, o primeiro ramo parietal, foinormalmente lançada como ramo colateral das artériasrenais (Figuras 1 e 2). Este tronco lançou a artéria frênicacaudal, a artéria abdominal cranial e as artérias adrenaisem 66,7% dos casos à direita e em 63,3% à esquerda.As artérias frênicas caudais, direita e esquerda,dirigiram-se cranialmente para os respectivos pilaresdo diafragma, irrigando suas porções lombares. Aartéria abdominal cranial originou-se do tronco frênico-abdominal caudo-lateralmente, alcançando o terço maiscranial da parede dorsolateral da cavidade abdominal.As várias artérias adrenais, direita e esquerda, foramemitidas lateralmente, cooperando na irrigação daglândula adrenal.

A artéria frênica caudal direita originou-seda artéria frênico-abdominal direita, que era ramo daartéria renal direita em 66,7% dos casos. Ela surgiutambém como ramo colateral da artéria renal direitajuntamente com a artéria adrenal em 26,7% dos achadosou então ela foi ramo colateral da aorta abdominal comoum tronco comum com a artéria abdominal cranial eadrenal em 3,3% dos casos e em 3,3% das amostras elaera um ramo colateral da artéria celíaca.

A artéria frênica caudal esquerda originou-se da artéria frênico-abdominal esquerda, que era ramoda artéria renal esquerda em 63,3% dos casos. elatambém surgiu como ramo da artéria frênico-abdominalesquerda, que era ramo direto da aorta abdominal em16,7% dos achados, ou era ramo colateral da artériarenal direita juntamente com a artéria adrenal em 16,7%,dos casos. Ela também foi ramo colateral da aortaabdominal em 3,3% das amostras.

A porção lombar do diafragmaesporadicamente recebeu uma complementaçãovascular de uma artéria frênica caudal acessória oriundade uma fonte alternativa, ou seja, em uma peça à direita,a artéria frênica caudal acessória foi ramo da artériagástrica esquerda e ramo da artéria celíaca em outra. Jáà esquerda, em três dos achados, ela era ramo da artériagástrica esquerda.

A artéria abdominal cranial direita foi ramoda artéria frênico-abdominal, que foi emitida da artériarenal direita em 63,4% das amostras. Ela também foi

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ramo de uma artéria lombar originada da aortaabdominal, caudalmente à origem da artéria mesentéricacranial em 20% das peças, enquanto foi lançadadiretamente da artéria renal direita em 10% dos casos,ou da artéria frênico-abdominal direita que foi emitidada aorta abdominal em 3,3% e ainda foi ramo da artériarenal direita juntamente com a artéria adrenal em 3,3%das amostras.

A artéria abdominal cranial esquerda, ramoda artéria frênico-abdominal, originou-se da artéria renalesquerda em 63,3% das amostras, enquanto foi ramoda artéria frênico-abdominal esquerda que foi emitidadiretamente da aorta abdominal em 16,7% das peças,ou foi ramo de uma artéria lombar originada da aortaabdominal, caudalmente à origem da artéria mesentéricacranial em 13,3% dos achados, e ainda foi lançadadiretamente da artéria renal esquerda em 6,7% doscasos.

A artéria sacral mediana, diferentemente dosanimais domésticos, originou-se da aorta abdominaldorsalmente em 100% dos animais (Figura 1),projetando-se profundamente para a cauda, logo apósemitir em 83,3% das peças a última artéria lombar. Em53,3% dos casos, a artéria sacral mediana foi lançadapouco depois da emissão ventral da artéria mesentéricacaudal. Já em 26,7% dos achados, a artéria sacralmediana originou-se da aorta abdominal cranialmenteà origem da artéria mesentérica caudal, enquanto em16,7% das peças ela foi emitida na mesma altura daorigem da artéria mesentérica caudal e em 3,3% nãohouve ponto de referência devido à ausência da artériamesentérica caudal.

Próximo à entrada da cavidade pélvicadorsalmente, a aorta abdominal, em todas aspreparações, dividiu-se em seus ramos terminais, asartérias ilíacas comuns, direita e esquerda, projetadascaudalmente em afastamento divergente de 30° a 40°.A artéria ilíaca comum dividiu-se em artéria ilíacainterna, continuando-se em artéria ilíaca externa, depoisde um trajeto de dois a três centímetros, em todas aspreparações, nos dois antímeros (Figuras 1 e 2).

A artéria ilíaca interna dirigiu-se caudo-medialmente, no interior da cavidade pélvica,distribuindo-se nas vísceras da região, por meio desuas ramificações. A artéria ilíaca externa projetou-secaudo-lateralmente em direção ao anel femoral, emitindojunto ou próximo a sua origem a artéria umbilical, em86,7% das peças à direita, e 90% à esquerda, enquantoque em 13,3% dos casos à direita e em 6,7% à esquerda,a artéria umbilical foi ramo colateral da artéria ilíacacomum e em 3,3% à esquerda foi ramo colateral da ilíacainterna.

Figura 1 - Desenho esquemático em vista ventral da aortaabdominal e seus principais ramos colaterais eterminais: a - aorta abdominal; b – a. celíaca; c- a. mesentérica cranial; d - a. renal; e - a.frênico-abdominal; f - a. frênica caudal; g - aa.adrenais; h - a. abdominal cranial; i – a. lombares;j - a. mesentérica caudal; k - a. sacral mediana; l- a. ilíaca comum; m - a. ilíaca interna; n - a.ilíaca externa; o - a. umbilical; p - a. circunflexailíaca profunda; q - tronco pudendo-epigástrico;r - a. epigástrica caudal; s - a. pudenda externa;t – a. femoral.

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A artéria umbilical, nos machos (Figuras 1 e2), originou ramos vesicais para a bexiga urinária eglândulas anexas do aparelho genital masculino,

continuando-se como artéria testicularque saiu pelo anel inguinal, incorporadaao funículo espermático até atingir otestículo. A artéria umbilical, nas fêmeas,além de lançar ramos vesicais para abexiga urinária, continuou-secranialmente como artéria útero-ováricairrigando todo o útero e os ovários.

A artéria ilíaca externa lançoulatero-cranialmente uma artériacircunflexa ilíaca profunda (Figuras 1 e2), que percorreu os dois terços caudaisda parede dorsolateral da cavidadeabdominal, anastomosando-se com aartéria abdominal cranial. A artériacircunflexa ilíaca profunda direita foiúnica em 96,7% das amostras, sendoque em 24 casos ela foi emitida da artériailíaca externa, cranialmente ou na mesmaaltura da origem do tronco pudendo-epigástrico. Já em 4 amostras, a artériacircunflexa ilíaca profunda originou-seda artéria ilíaca externa, caudalmente àorigem do tronco pudendo-epigástrico,e, em um dos achados, a artériacircunflexa ilíaca profunda foi ramocolateral do tronco pudendo-epigástrico, logo após sua origem. Aartéria circunflexa ilíaca profunda direitafoi dupla em 3,3% das amostras, sendoque o primeiro vaso foi lançadocranialmente à origem do troncopudendo-epigástrico.

A artéria circunflexa ilíacaprofunda esquerda foi única em 80% dasamostras, sendo que em 19 casos elafoi emitida da artéria ilíaca externa,cranialmente ou na mesma altura daorigem do tronco pudendo-epigástrico.Já em 4 amostras, a artéria circunflexailíaca profunda originou-se da artériailíaca externa, caudalmente à origem dotronco pudendo-epigástrico, e, em umdos achados, a artéria circunflexa ilíacaprofunda foi ramo colateral do troncopudendo-epigástrico, logo após suaorigem. A artéria circunflexa ilíacaprofunda esquerda foi dupla em 20%das amostras. Em três casos, ambos osvasos originaram-se da artéria ilíaca

externa sendo que o primeiro vaso foi cranial à origemdo tronco pudendo-epigástrico e o segundo foi emitidona mesma altura deste. Já em duas amostras, o primeiro

Figura 2 - Fotografia em vista ventral da parede abdominal dorsal, retirado otrato digestivo, para salientar a aorta abdominal e seus ramoscolaterais e terminais: a - aorta abdominal; b - a. celíaca; c - a.mesentérica cranial; d - a. renal; e - a. frênico-abdominal; f - a.frênica caudal; g -a. mesentérica caudal; h - a. ilíaca comum; i - a.sacral mediana; j - a. ilíaca externa; k - a. umbilical; l - a. circunflexailíaca profunda; m - tronco pudendo-epigástrico; ri - rim; ur - ureter;ms - musculatura sublombar; re - reto, vs - vesícula seminal. Barra= 20 mm.

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vaso foi lançado cranial à origem do tronco pudendo-epigástrico e o segundo vaso caudal à origem deste.Ainda em uma peça o primeiro vaso foi ramo da artériailíaca externa, cranial à origem do tronco pudendo-epigástrico e o segundo vaso foi ramo direto destetronco.

A artéria ilíaca externa, pouco antes demergulhar no anel femoral, emitiu caudo-medialmenteo tronco pudendo-epigástrico (Figura 1). O troncopudendo-epigástrico apresentou-se curto em relaçãoà origem da artéria epigástrica caudal em 53,4% daspeças à direita e 50% à esquerda. Já em 23,3% dosachados à direita e 26,6% à esquerda, este tronco foilongo e em 20% à direita e 16,7% à esquerda este troncofoi de tamanho médio. Entretanto, em 3,3% dasamostras, à direita, e 6,7% à esquerda, não houve aformação do tronco, pois a artéria epigástrica caudalera ramo da artéria ilíaca externa.

A artéria epigástrica caudal (Figura 1)projetou-se ventro-látero-cranialmente na paredeabdominal, percorrendo a parede abdominal ventral,irrigando o músculo reto abdominal, anastomosando-se em ósculo com os ramos da artéria epigástrica cranialproveniente da artéria torácica interna, cranialmente àaltura da cicatriz umbilical. A artéria pudenda externasaiu pelo canal inguinal, indo irrigar a genitália externa.A artéria ilíaca externa abandonou a cavidadeabdominal, através do anel femoral, como artéria femoral,indo irrigar o membro pélvico.

DISCUSSÃO

A aorta abdominal foi a parte da aortadescendente que penetrou na cavidade abdominal apósatravessar o hiato aórtico do diafragma. No cãoapresentou sete artérias lombares pares. Destas as duasou as três primeiras surgiram da aorta torácica e asrestantes da aorta abdominal. As sétimas artériaslombares surgiram de um tronco comum, quer da parteterminal da aorta abdominal, quer da artéria sacralmediana ou da artéria ilíaca interna (GHOSHAL, 1986;EVANS, 1993). A nutria apresentou de 6 a 8 artériaslombares, porém ímpares, originadas da superfíciedorsal da aorta abdominal, sendo que a última artérialombar originou-se quase sempre da artéria sacralmediana.

A artéria frênico-abdominal par surgiu daaorta abdominal entre a artéria mesentérica cranial e aartéria renal. A artéria frênico-abdominal, à esquerda,foi bastante constante, enquanto que a artéria direitasurgiu em alguns casos da artéria renal direita(GHOSHAL, 1986; EVANS, 1993). Na nutria, a artériafrênico-abdominal foi normalmente emitida como ramo

colateral das artérias renais. A artéria frênico-abdominalfoi um tronco comum para as artérias frênica caudal eabdominal cranial. A artéria frênica caudal e a artériaabdominal cranial também se originaram separadamente.Sua terminação caudal normalmente anastomosou-secom as terminações da artéria circunflexa ilíacaprofunda, como também foi observado no cão porGHOSHAL (1986) e EVANS (1993).

No cão a artéria aorta abdominalfreqüentemente terminou-se em duas artérias ilíacasinternas e sacral mediana. A artéria ilíaca externa surgiuda face lateral da aorta abdominal e foi considerada porEVANS (1993) como o maior ramo parietal da aortaabdominal. Segundo CARVALHO et al. (1990), a aortaabdominal no gambá terminou-se como artérias ilíacascomuns, as quais emitiram as artérias ilíacas interna eexterna. Pelos desenhos esquemáticos de COOK (1965),a aorta abdominal no rato terminou em duas artériasilíacas comuns que lançaram a artéria ilíaca interna,continuando-se como a artéria ilíaca externa, o quetambém foi observado na nutria, sendo que a artériasacral mediana surgiu da face dorsal da aorta abdominalantes da divisão terminal. Para CULAU et al. (2002), em68,2% dos gambás, a artéria sacral mediana originou-se diretamente da bifurcação da aorta abdominal emartérias ilíacas comum direita e esquerda.

No gambá, a artéria circunflexa ilíacaprofunda originou-se da artéria ilíaca comum, na alturade sua bifurcação em artérias ilíacas externa e internaem 54,5% dos casos nos dois antímeros (CULAU et al.,2002). Na nútria a artéria circunflexa ilíaca profunda foinormalmente ramo da artéria ilíaca externa, próximo àorigem do tronco pudendo-epigástrico.

No cão, segundo GHOSHAL (1986) eEVANS (1993), o tronco pudendo-epigástrico foi muitocurto e próximo ao anel inguinal profundo emitiu aartéria epigástrica caudal (profunda) e seguiu atravésdo canal inguinal como artéria pudenda externa. Àsvezes o tronco pudendo-epigástrico esteve ausente eas artérias epigástrica caudal e pudenda externaoriginaram-se separadamente da artéria femoralprofunda, que foi ramo da artéria ilíaca externa. Nanutria, o tronco pudendo-epigástrico apresentou-securto em relação à origem da artéria epigástrica caudalna maioria dos casos. Além disso, em 3,3% daspreparações à direita e 6,7% à esquerda, não houve aformação do tronco, pois a artéria epigástrica caudalfoi ramo da artéria ilíaca externa. A artéria pudendaexterna saiu pelo canal inguinal, irrigando a genitáliaexterna.

CONCLUSÃO

Com base nos resultados obtidos pelopresente trabalho, concluímos que os ramos colaterais

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parietais diretos da aorta abdominal são: as artériaslombares ímpares e a artéria sacral mediana. Os ramoscolaterais parietais indiretos são as artérias: frênico-abdominais, circunflexas ilíacas profundas eepigástricas caudais. Os ramos terminais são as artériasilíacas comuns com seus ramos e as artérias ilíacasinterna e externa.

FONTES DE AQUISIÇÃO

aHeparin – Cristália Produtos Químicos Farmacêuticos Ltda.,Itapira, SP.bTiopental - Cristália Produtos Químicos Farmacêuticos Ltda.,Itapira, SP.cCola 603 – Bertoncini Ltda, São Paulo, SP.dSuvinil corante – BASF S.A., São Bernardo do Campo, SP.

REFERÊNCIAS

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