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EAESP/FGV/NPP - NÚCLEO DE PESQUISAS E PUBLICAÇÕES 1/133 R ELATÓRIO DE P ESQUISA N º 2/2001 RESUMO Este trabalho discute a questão do Gerenciamento de Projetos, atividade que vem crescendo em importância nos nossos dias. Inicialmente foi feita uma revisão geral sobre o conhecimento acumulado em Gerenciamento de Projetos, mostrando a seguir que, apesar de toda a evolução desta metodologia, os problemas para terminar um projeto dentro do prazo, com as características desejadas e mantendo os custos dentro do orçamento previsto, ainda falham. A Teoria das Restrições mostrou-se útil na redução dessas falhas cujas causas principais foram mostradas; uma metodologia é proposta para eliminá-las. Finalmente foi feita uma pesquisa exploratória em dez empresas de diferentes ramos e dimensões que aplicaram essa metodologia com uma análise sobre a adequação de sua utilização. PALAVRAS-CHAVE Empreendimentos; Gestão de Projetos; Teoria das Restrições e Corrente Crítica. ABSTRACT This work deals with the issue of Project Management, an activity that is becoming more and more important in our days. Initially, a synopsis was made of the accumulated general knowledge in Project Management, showing that, regardless of all the evolution of this methodology, the problems with finishing a project by the deadline with the desired characteristics while keeping costs within the budget still fail. The Theory of Constraints was found to be very useful in the reduction of these flaws whose major causes were shown; a methodology was proposed to eliminate them. Finally, an exploratory research was made in ten companies of different dimensions and areas of specialty that applied this methodology and aspects of its utilization were discussed. KEY WORDS Enterprise; Project Management; Theory of Constraints and Critical Chain.

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    R E L A T R I O D E PE S Q U I S A N 2 /2001

    RESUMO

    Este trabalho discute a questo do Gerenciamento de Projetos, atividade que vem crescendo em importncia nos nossos dias. Inicialmente foi feita uma reviso geral sobre o conhecimento acumulado em Gerenciamento de Projetos, mostrando a seguir que, apesar de toda a evoluo desta metodologia, os problemas para terminar um projeto dentro do prazo, com as caractersticas desejadas e mantendo os custos dentro do oramento previsto, ainda falham. A Teoria das Restries mostrou-se til na reduo dessas falhas cujas causas principais foram mostradas; uma metodologia proposta para elimin-las. Finalmente foi feita uma pesquisa exploratria em dez empresas de diferentes ramos e dimenses que aplicaram essa metodologia com uma anlise sobre a adequao de sua utilizao.

    PALAVRAS-CHAVE

    Empreendimentos; Gesto de Projetos; Teoria das Restries e Corrente Crtica.

    ABSTRACT

    This work deals with the issue of Project Management, an activity that is becoming more and more important in our days. Initially, a synopsis was made of the accumulated general knowledge in Project Management, showing that, regardless of all the evolution of this methodology, the problems with finishing a project by the deadline with the desired characteristics while keeping costs within the budget still fail. The Theory of Constraints was found to be very useful in the reduction of these flaws whose major causes were shown; a methodology was proposed to eliminate them. Finally, an exploratory research was made in ten companies of different dimensions and areas of specialty that applied this methodology and aspects of its utilization were discussed.

    KEY WORDS

    Enterprise; Project Management; Theory of Constraints and Critical Chain.

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    SUMRIO

    I. Introduo ........................................................................................................ 8

    II. Metodologia ................................................................................................... 11

    III. Corpo de conhecimentos para o gerenciamento de projetos. .......................... 14

    1. Definio de projeto ................................................................................. 14

    2. Gerenciamento de projetos ....................................................................... 15

    2.1. Definir o problema ........................................................................... 16

    2.2. Desenvolver opes de soluo ........................................................ 16

    2.3. Planejar o projeto ............................................................................. 16

    2.4. Executar o plano ............................................................................... 16

    2.5. Monitorar e controlar o progresso.................................................... 17

    2.6. Fechar o projeto................................................................................ 17

    3. reas de conhecimento ............................................................................. 17

    3.1. Gerenciamento de integrao do projeto ........................................... 17

    3.2. Gerenciamento do escopo do projeto ................................................ 18

    3.3. Gerenciamento da durao do projeto ............................................... 19

    3.4. Gerenciamento do custo do projeto................................................... 21

    3.5. Gerenciamento da qualidade dos projetos ......................................... 21

    3.6. Gerenciamento de recursos humanos do projeto ............................... 22

    3.7. Gerenciamento das comunicaes do projeto.................................... 23

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    3.8. Gerenciamento do risco do projeto ................................................... 25

    3.9. Gerenciamento do suprimento do projeto ......................................... 26

    IV. Sistema tradicional de gerenciamento de projetos........................................... 27

    1. Cenrio ..................................................................................................... 27

    2. Planejamento e incerteza .......................................................................... 29

    3. Problemas apresentados ............................................................................ 30

    V. A teoria das restries .................................................................................... 33

    1. Histrico................................................................................................ ...33

    2. Origem filosfica...................................................................................... 36

    3. Definio da TOC..................................................................................... 39

    4. Conceitos bsicos .................................................................................... 40

    5. Os cinco passos para enfocar segundo a TOC ........................................... 42

    5.1. IDENTIFICAR a(s) restrio(es) do sistema.................................... 43

    5.2. Decidir como EXPLORAR a(s) restrio(es) do sistema.................. 43

    5.3. SUBORDINAR tudo deciso acima ................................................ 43

    5.4. ELEVAR a(s) restrio(es) do sistema............................................. 44

    5.5. Se num passo anterior uma restrio foi quebrada, volte primeira etapa, mas no deixe que a inrcia cause uma restrio no sistema ... 44

    VI. Dificuldade de gerenciamento de projetos ...................................................... 45

    1. Estimativa de tempos................................................................................ 49

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    2. Mecanismos para adicionar tempos de segurana ..................................... 52

    2.1. Margem de segurana para lidar com incerteza................................. 52

    2.2. Adio de tempo pelo superior ......................................................... 53

    2.3. Superdimensionamento do tempo para ser reduzido.......................... 53

    3. Mecanismos de desperdcio da proteo ................................................... 54

    3.1. A sndrome do estudante................................................................... 54

    3.2. Multitarefa........................................................................................ 56

    3.3. Propagao dos atrasos ..................................................................... 57

    4. Processo de otimizao para restries no fsicas.................................... 59

    4.1. O que mudar? ................................................................................... 59

    4.2. Para o que mudar? ............................................................................ 62

    VII. Processo de enfocar no mundo do ganho aplicado ao gerenciamento de projetos. ..................................................................................................... 67

    1. Ambiente de monoprojeto......................................................................... 68

    1.1. IDENTIFICAR a restrio do sistema............................................... 68

    1.2. Decidir como EXPLORAR a restrio do sistema ............................ 70

    1.3. SUBORDINAR todas as no restries restrio do sistema .......... 73

    1.4. ELEVAR a restrio do sistema........................................................ 75

    1.5. Se em um passo anterior a restrio foi quebrada, volte primeira etapa, mas NO DEIXE QUE A INRCIA CAUSE UMA

    RESTRIO NO SISTEMA ............................................................ 75

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    2. Mudanas importantes de comportamento ................................................ 76

    3. Gerenciamento de pulmes ....................................................................... 77

    4. Ambiente de multiprojeto ......................................................................... 78

    4.1. IDENTIFICAR a restrio do sistema............................................... 80

    4.2. Decidir como EXPLORAR a restrio do sistema ............................ 82

    4.3. SUBORDINAR todos os recursos no restritivos ao recurso estratgico do sistema .......................................................... 86

    4.4. ELEVAR a restrio do sistema........................................................ 88

    4.5. Se em um passo anterior a restrio foi quebrada, VOLTE a primeira etapa................................................................................... 88

    VIII. No que consiste a metodologia da Corrente Crtica e em que difere do sistema tradicional utilizando PERT/CPM...................................................... 88

    1. Caso de monoprojetos ............................................................................... 88

    2. Ambiente de multiprojetos......................................................................... 93

    3. Simulao de resultados utilizando a teoria das restries ......................... 96

    IX. A pesquisa de campo .................................................................................... 100

    1. Empresas pesquisadas............................................................................. 101

    2. A dificuldade na obteno dos dados ...................................................... 104

    3. Resultados da pesquisa ........................................................................... 105

    3.1. Caracterizao das empresas........................................................... 105

    3.2. Histrico da Corrente Crtica nas empresas pesquisadas ................. 107

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    3.3. Implementao ............................................................................... 108

    3.4. Dificuldades de implementao ...................................................... 109

    3.4.a. Resistncia a mudanas de paradigmas ................................. 109

    3.4.b. Otimizao local................................................................... 110

    3.4.c. Liderana da alta administrao............................................ 111

    3.4.d. Estimativas de tempo............................................................ 112

    3.4.e. Software inadequado ............................................................ 112

    3.5. Exemplos de projetos implementados segundo a Corrente Crtica .. 113

    3.6. Teoria versus Realidade.................................................................. 115

    3.7. Ambiente externo ........................................................................... 115

    3.8. Resultados obtidos.......................................................................... 116

    X. Concluses ................................................................................................... 119

    XI. Anexo I......................................................................................................... 123

    XII. Bibliografia .................................................................................................. 130

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    AGRADECIMENTOS

    Agradeo ao NPP que possibilitou a pesquisa, as empresas entrevistadas que gentilmente disponibilizaram as informaes necessrias e ao doutorando Mauro Sampaio que dedicou muitas horas para tornar possvel este trabalho.

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    O GERENCIAMENTO DE PROJETOS SEGUNDO A TEORIA DAS RESTRIES*

    Joo Mrio Csillag

    I. INTRODUO

    A teoria das Restries, TOC (Theory of Constraints) vem sendo cada vez mais utilizada tanto em nosso pas quanto no exterior graas ao enfoque sistmico que a permeia, possibilitando uma atuao no ponto certo e de maneira sincronizada no sistema empresa. A conseqncia disso o aparecimento imediato dos resultados esperados.

    A divulgao da Teoria das Restries iniciou-se com a publicao do livro A Meta1 em 1984 nos Estados Unidos, o primeiro livro de administrao escrito na forma de um romance. Justamente por ser diferente, o manuscrito aps ser rejeitado pelas editoras mais importantes, acabou sendo aceito pela North River Press para alvio de seus autores Eliyahu Goldratt e Jeff Cox. O sucesso atingido foi imediato e seus autores resolveram escrever um segundo livro explicando de forma mais tradicional o que foi exposto na Meta. Assim foi publicado o segundo livro, A Corrida2 que, juntamente com o primeiro, serviu para muitos leitores conhecerem a Teoria das Restries.

    Vrias atividades relacionadas com a metodologia das Restries foram levadas a efeito na EAESP - Fundao Getlio Vargas. Algumas dissertaes de mestrado

    *O NPP agradece ao aluno que participou da pesquisa que originou o presente relatrio como auxiliar de pesquisas, Paulo Sanches Lopes. 1 GOLDRATT, Eliyahu M. e Cox, Jeff. A Meta. So Paulo, IMAM, 1990. 2 GOLDRATT, Eliyahu M. & FOX, Robert. A corrida pela Vantagem Competitiva So Paulo, IMAM, 1989.

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    (Christian3, Processo de Raciocnio), (Cunha4, Aplicao em Moinhos) (Milani5, Petrobrs)... foram terminadas com sucesso. Diferentes cursos foram ministrados como Teoria das Restries, o Processo de Raciocnio conforme a Teoria das Restries e Gerenciamento de Projetos segundo a Teoria das Restries no CEAG e tpicos desta teoria em outros cursos como: PCP no CG; Qualidade e Produtividade no CEAG, Gesto da Qualidade Total no MBA e Ferramentas da Qualidade, TQM e Mudana Organizacional no CMA/CDA.

    Buscando explicar melhor sua teoria, Goldratt escreveu a obra: What is this thing called Theory of Constraints,6 no qual explica de maneira ampla e genrica a filosofia da Teoria das Restries.

    Desde que as restries podem ser fsicas e no fsicas, a TOC passou a ser aplicada tambm para outras situaes tais como relacionamento entre pessoas ou construo de uma oferta irrecusvel para a venda de um produto ou servio. Para isso foram criadas algumas ferramentas posteriormente conhecidas como elementos do Processo de Raciocnio. Para divulgar estas ferramentas, Goldratt escreveu em 1994 o livro Mais que Sorte... um Processo de Raciocnio7, elaborando, no mais como anteriormente, problemas referentes a uma unidade de uma empresa, mas abordando problemas estratgicos de uma grande corporao.

    3 POST-SUSEMIHL, Johann Christian. Uma anlise crtica de um programa de Qualidade Total num grupo multi-unidades: o caso Siemens. Dissertao (MBA) EAESP - Fundao Getlio Vargas, 1998. 4 CUNHA, Eduardo Alves. Comparao entre correntes recentes de pensamento e ao para a melhoria da Qualidade Total: um estudo na cadeia produtiva da Farinha de Trigo. Dissertao (mestrado) EAESP - Fundao Getlio Vargas, 1998. 5 MILANI, ngelo. Gesto Sinrgica das Atividades de Explorao, Perfurao e Produo de Petrleo em uma Unidade Operacional. Fundao Getlio Vargas, 1992. 6 GOLDRATT, Eliyahu M.. What is this thing called Theory of Constraints, and how would it be implemented? Croton-on-Hudson, North River Press, NY, 1990. 7 GOLDRATT, Eliyahu M. . Mais que Sorte... um Processo de Raciocnio. So Paulo, Educator, 1994.

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    O primeiro aplicativo da Teoria das Restries foi para a logstica de produo tendo sido desenvolvido um software. Toda a conceituao para compreender a ferramenta, foi escrita sob o nome de The Haystack Syndrome.8

    A EAESP - Fundao Getlio Vargas foi tambm um dos receptores para uma Videoconferncia Internacional9 que consistiu de oito sesses semanais de trs horas cada uma. Neste programa, Goldratt aplicou sua teoria em mltiplas atividades tais como: Operaes, Finanas e Medio, Gerenciamento de Projetos/Engenharia, Distribuio/Cadeia de Suprimentos, Marketing, Vendas, Gerenciamento de Pessoas Respeito e finalmente Estratgias, atividades essas, abordadas com os poucos pressupostos da TOC.

    A TOC aplicada a projetos constitui uma abordagem recente, datada de 1996, tendo sido rapidamente aceita devido aos resultados que tem trazido. Inicialmente a Teoria das Restries abordava basicamente dois tipos de projetos, aqueles que tm data pr-determinada para terminar, como por exemplo, a construo de um Estdio Olmpico e aqueles, como a construo de um oleoduto, que tm o tempo de durao como o elemento mais relevante. Para divulgar este aplicativo da TOC, Goldratt escreveu a Corrente Crtica10 do qual, foi feita uma resenha na RAE.11

    Os pressupostos assumidos na teoria da Corrente Crtica foram exatamente os mesmos de outros aplicativos da TOC como: Distribuio Fsica, Logstica da Produo, Marketing e Vendas, Estratgia, entre outros.

    Uma dissertao de Mestrado no MIT mostrou a utilizao da Corrente Crtica para realizar dois projetos na empresa ITT, para o desenvolvimento de equipamentos

    8 GOLDRATT, Eliyahu M. . A Sndrome do Palheiro, garimpando informaes num oceano de dados. So Paulo, IMAM, 1991. 9 Videoconferncia: Goldratt Satellite Program, levado ao ar do ms de maro a maio de 1999 ao vivo, transmitido da Holanda para diferentes pases. 10 GOLDRATT, Eliyahu M. . Corrente Crtica. So Paulo, Nobel, 1998. 11 CSILLAG, Joo M.. Corrente Crtica. RAE abril/junho 1999, vol. 39 n 2, p. 88-93.

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    complexos para viso noturna. Os resultados foram to estimulantes que essa empresa decidiu implementar essa metodologia12 em outras situaes de projetos.

    A presente pesquisa tem o objetivo de apresentar a Corrente Crtica, uma nova metodologia baseada na Teoria das Restries, para gerenciar projetos. Tem ainda a inteno de analisar as prticas e os resultados da utilizao desta metodologia tanto em empresas nacionais quanto de outros pases tais como Estados Unidos, frica do Sul, Argentina e Israel. Para facilitar a compreenso da pesquisa primeiramente foi introduzida a conceituao da TOC assim como sua aplicao para projetos.

    Como uma justificativa desta pesquisa, convm citar a dificuldade encontrada tradicionalmente em terminar os projetos no prazo, dentro do oramento e sem alterar as especificaes iniciais. A experincia mostra que a TOC contribui para eliminar essas trs dificuldades.

    II. METODOLOGIA

    Foram realizados aqui uma pesquisa bibliogrfica a respeito de metodologia de projetos e seu estado da arte. Foram tambm pesquisadas a Teoria das Restries e especialmente sua recente aplicao no Gerenciamento de Projetos, assim como implementaes feitas tanto no Brasil quanto no exterior.

    Foi planejado um curso no CEAG sobre a aplicao da TOC no Gerenciamento de Projetos no qual cerca de 25 alunos que atuam na rea de projetos se inscreveram, sendo essa uma disciplina eletiva. Na medida em que a matria evolua, suas reaes foram discutidas e serviram para avaliar a extenso da mudana de paradigma necessria para se introduzir a Corrente Crtica em contextos diversos, nos quais era desconhecida a teoria.

    12 COOK, Stephen Carl. Applying Critical Chain to improve the Management of uncertainly in projects. MIT, 1998.

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    Foram identificadas dez empresas que implementaram a Corrente Crtica. Algumas delas foram visitadas pessoalmente pelo pesquisador; quando a distncia impossibilitava a visita, a troca de informaes foi feita via e-mails no antes de conhecer as pessoas envolvidas para facilitar uma intimidade e reduzir possveis vieses. Em casos em que a implantao foi realizada em outro pas, a troca de informao foi puramente na forma de e-mails eliminar possveis vieses. Ao final todas as respostas foram obtidas pelo pesquisador.

    O questionrio foi elaborado de maneira estruturada com perguntas especficas. Alm do questionrio estruturado o pesquisador apoiou-se em perguntas abertas, que apareceram contingencialmente ao longo do processo.

    O questionrio 13 possui uma parte com dados sobre a empresa, seus produtos, mercados, nmeros de funcionrios e concorrentes.

    A seguir, foi abordado por meio de onze questes, o histrico da empresa em termos de metodologias utilizadas anteriormente para o Gerenciamento de Projetos, assim como a quem recorreram para ajudar na implementao da Corrente Crtica. Ainda nesta parte foi perguntado sobre a natureza, durao e quantidade dos projetos realizados e sobre o ambiente que pode ser de mono ou multiprojetos.

    No que diz respeito implementao, dezenove questes foram includas, envolvendo datas de incio e trmino, tipos de projetos, departamentos participantes, apoio das gerncias e da alta administrao, resistncias eventualmente opostas, passos da implementao, como a empresa lidou com a resistncia s mudanas e prazo para que os resultados aparecessem.

    A terceira srie de quinze perguntas teve o ttulo de Realidade Atual, que abordou a satisfao da empresa com a Corrente Crtica, pediu indagou sua importncia para atingir os resultados obtidos. 13 Para o questionrio, ver o Anexo I, p. 101-107.

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    Os resultados obtidos por cada empresa foram explorados por meio de onze perguntas abordando o cumprimento de datas de entrega dos projetos, os dados sobre os custos envolvidos para a realizao dos projetos assim como informaes sobre seus escopos. Enfim, foram buscadas informaes sobre o impacto geral da aplicao da teoria das Restries.

    Numa pesquisa feita sobre a logstica de produo14 envolvendo o sistema de Tambor-Pulmo-Corda, aplicao da TOC, ficou claro que, na medida em que as empresas iniciavam a aplicao da TOC, comeavam a obter resultados. Verificou-se que aquelas que se satisfaziam com o resultado inicialmente obtido, no prosseguiam na implantao integral da metodologia, deixando inclusive de obter os resultados plenos. Em vista disso, foram includas nesse questionrio treze perguntas para saber at que ponto a empresa estava seriamente envolvida em avanar no melhoramento ininterrupto ao invs de se satisfazer em atingir um patamar mdio de melhoria.

    Finalmente, foi pesquisado por meio de cinco perguntas se houve algum impacto na empresa em termos mais genricos, assim como nos elos vizinhos da cadeia produtiva tais como os fornecedores e clientes.

    14 CSILLAG, J.M. e CORBETT Neto, T.. Utilizao da teoria das restries no ambiente de manufatura no Brasil. So Paulo: Relatrio do NPP- EAESP- Fundao Getlio Vargas, 1998.

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    III. CORPO DE CONHECIMENTOS PARA O GERENCIAMENTO DE PROJETOS

    1. DEFINIO DE PROJETO

    Um projeto pode ser definido como um problema programado para ser solucionado. Normalmente um projeto executado uma nica vez, portanto possui um incio, um meio e um fim.

    Um problema no passa daquilo que nos separa do que temos para o que queremos.15 Portanto resolver um problema significa encontrar meios para contornar ou vencer os obstculos que se interpem entre o estado em que estamos e aquele em que desejamos atingir.

    As organizaes desempenham trabalho, e trabalho em geral envolve tanto operaes como projetos. De acordo com PMBOK16 tanto operaes quanto projetos possuem algumas caractersticas comuns como:

    So desempenhados por pessoas,

    So restringidas por recursos limitados e

    So planejados, executados e controlados.

    Em funo do que foi dito acima, um projeto pode ser definido ainda conforme PMBOK,17 como sendo: um esforo temporrio empreendido para criar um produto

    15 CSILLAG, Joo M.. Anlise do Valor. So Paulo, Atlas, 1995, p. 100. 16 DUNCAN, William R.. A Guide to the Project Management Body of Knowledge PMI Standards Committee. Project Management Institute, 130 South State Road, Upper Darby, PA 19082 USA, 1996, p. 4. 17 DUNCAN, William R . A Guide.... p.3.

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    ou servio nico. Temporrio justamente significa o que foi dito acima, isto , tendo tanto o incio como o fim muito bem definido.

    Projetos podem envolver uma nica pessoa ou muitas delas, pode ser numa empresa em qualquer nvel ou fora dela. Como exemplos de projetos podem ser citados: desenvolver um software, implantar um projeto de Gerenciamento da Qualidade Total, desenvolver um produto novo, construir um edifcio, projetar um novo veculo que obedea a certos requisitos, promover uma mudana organizacional, preparar uma campanha de vendas ou mesmo planejar uma viagem de frias.

    Algumas caractersticas devem estar presentes nos projetos:

    Possuem um objetivo claro;

    Envolvem a coordenao de atividades inter-relacionadas;

    Possuem uma durao limitada;

    So nicos.

    2. GERENCIAMENTO DE PROJETOS

    Gerenciamento de Projetos implica em planejar, programar e controlar as atividades do projeto para atingir os objetivos desse projeto. Os objetivos mais importantes a serem atingidos englobam as metas de desempenho, custo e durao, ao mesmo tempo em que controlamos ou garantimos o escopo do projeto.

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    O gerenciamento de Projetos implica em algumas etapas, que resumidamente seguem: 18

    2.1. Definir o problema

    Esta etapa consiste em identificar o problema a ser resolvido pelo projeto. uma etapa importante, pois ajuda a visualizar os resultados esperados.

    2.2. Desenvolver opes de soluo

    Quantas solues diferentes podem satisfazer o problema? Pensando em maneiras alternativas, qual delas pode solucionar o problema? Seu custo maior ou menor do que de outras maneiras? Resolver completamente o problema ou apenas parcialmente?

    2.3. Planejar o projeto

    Implica em responder as questes: o que deve ser feito, por quem, por quanto, como, quando e assim por diante.

    2.4. Executar o plano

    Esta uma etapa fundamental, pois de nada adianta um plano se o mesmo no for cumprido rigorosamente.

    18 LEWIS, James P.. Fundamentals of Project Management - American Management Association New York, A Work Smart Book, 1997, p. 7.

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    2.5. Monitorar e controlar o progresso

    Planos so montados para que os resultados possam ser conseguidos com sucesso. Se os planos no so cuidadosamente monitorados e controlados, no h nenhuma garantia de que os resultados almejados sero obtidos.

    2.6. Fechar o projeto

    Esta uma etapa freqentemente esquecida, pois uma vez que os resultados esperados foram atingidos, o projeto formalmente terminado. Esta etapa implica em tirar lies do que foi feito. O que poderia ser feito melhor, o que foi bom, o que deve ser evitado e assim por diante.

    3. REAS DE CONHECIMENTO

    De acordo com PMBOK,19 existem nove reas de conhecimento listadas a seguir que descrevem o conhecimento e prticas para o Gerenciamento de Projetos.

    3.1. Gerenciamento de integrao do projeto

    Esta etapa descreve o processo requerido para assegurar que os vrios elementos do projeto estejam adequadamente coordenados. Ela consiste primeiramente no Desenvolvimento do Plano do Projeto, que utiliza os outputs dos outros processos de planejamento para criar um documento consistente, coerente que possa ser usado para guiar ambos os projetos, de execuo e de projeto.

    19 DUNCAN, William R.. A Guide to the Project Management Body of Knowledge PMI Standards Committee. Project Management Institute, 130 South State Road, Upper Darby, PA 19082 USA, 1996, p. 6.

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    Consiste ainda na Execuo do Plano de Projeto, que desempenha o plano do projeto por meio da execuo das atividades includas. muito importante nesta etapa que sejam coordenadas as vrias interfaces tcnicas que existem no projeto.

    Finalmente o Desenvolvimento do Plano do Projeto consiste tambm do Controle da Mudana Global que envolve trs atividades a saber: influenciar os fatores que criam mudanas para assegurar que as mudanas sejam benficas, garantir que as mudanas realmente ocorram e finalmente gerenciar as mudanas correntes.

    3.2. Gerenciamento do escopo do projeto

    Esta etapa descreve o processo requerido para assegurar que os vrios elementos do projeto estejam propriamente coordenados. Ela consiste de cinco partes, que so: a Iniciao, o Planejamento do Escopo, a Definio do Escopo, a Verificao do Escopo e finalmente o Controle de Mudana do Escopo.

    A Iniciao o processo de reconhecimento formal do projeto novo ou da continuao de um projeto j existente.

    O Planejamento do Escopo o processo de desenvolvimento de uma declarao escrita como base para decises futuras do projeto, incluindo em particular os critrios utilizados para determinar se o projeto ou fase foi completo com sucesso.

    A Definio do Escopo envolve a subdiviso do grande projeto em partes que possam ser entregues, conforme definido na declarao do escopo, em componentes menores, mais manejveis para melhorar a preciso de custos, tempo decorrido e estimativa de recursos. Alm disso, facilitar tarefas com responsabilidades claras como, por exemplo, definir a referncia para a medida do desempenho e seu controle. Um output importantssimo a definio da estrutura organizacional do trabalho.

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    A Verificao do Escopo o processo para formalizar a aceitao do escopo do projeto pelas partes interessadas (Stakeholders). Implica em rever os produtos do trabalho e resultados para assegurar que tudo esteja completo correta e satisfatoriamente.

    O Controle de Mudana do Escopo tem a ver com a influncia sobre os fatores que criam mudanas de escopo para assegurar que estas mudanas sejam benficas, alm de verificar de que as mudanas de escopo tenham ocorrido, e finalmente gerenciar as mudanas. Um output importante desta etapa a Ao Corretiva para trazer o desempenho esperado futuro em linha com o planejado. Tambm muito importante apontar as causas de variaes e motivos de aes corretivas assim como outros tipos de lies aprendidas das modificaes de escopo.

    3.3. Gerenciamento da durao do projeto

    Esta etapa implica no processo requerido para assegurar a concluso do projeto. Consiste de cinco partes, que so: a Definio das Atividades, o Seqenciamento das Atividades, a Estimativa de Durao das Atividades, o Desenvolvimento da Programao e o Controle da Programao.

    A Definio das Atividades identifica as atividades especficas que devem ser desempenhadas para produzir os vrios projetos a serem entregues.

    O Seqenciamento das Atividades identifica e documenta as dependncias entre as atividades. O diagrama de precedncias a ferramenta utilizada para esta parte, consistindo numa rede lgica com ns representando as atividades que so conectadas com setas que indicam as dependncias.

    A Estimativa de durao das Atividades cuida da estimativa do nmero de perodos de trabalho que sero necessrios para completar as atividades individuais. Como

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    output importante desta atividade, est o nmero de perodos esperados para completar cada atividade. Esta atividade deve incluir alguma indicao sobre a possvel variabilidade dos resultados.

    O Desenvolvimento da Programao analisa as seqncias das atividades, suas duraes e recursos requeridos para criar a programao do projeto. Esta parte implica em determinar datas de incio e de trmino para as atividades do projeto. Alguns inputs desta parte so os diagramas de rede, as estimativas das atividades, recursos requeridos e calendrio. A ferramenta utilizada mais comum o Critical Path Method (CPM) que calcula as datas de incio e trmino para todas as atividades do projeto sem considerar limitaes de recursos. O objetivo do CPM calcular a possvel flutuao para poder determinar quais atividades possuem a menor flexibilidade de programao. O Program Evaluation and Review Technique (PERT) utiliza uma rede seqencial lgica e uma estimativa da durao ponderada mdia para calcular a durao do projeto. O PERT difere do CPM primeiramente por que utiliza a mdia da distribuio (valor esperado) no lugar da estimativa mais provvel, originalmente utilizada no CPM. Tambm muito utilizada a simulao como ferramenta e softwares de gerenciamento de projetos. Como output do Desenvolvimento da Programao tem-se a programao do projeto que inclui ao menos as datas de incio e trmino para cada atividade podendo ser apresentada na forma de grficos, redes, lista de metas ou cronogramas.

    O Controle da Programao trata das mudanas de programao do projeto. Uma ferramenta efetiva para esta parte consiste nos softwares de gerenciamento de projetos. Estes softwares comparam as datas planejadas com as reais e prevem os efeitos das mudanas de programao. Outputs importantes desta parte so: atualizao da programao, aes corretivas e lies aprendidas.

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    3.4. Gerenciamento do custo do projeto

    Esta fase inclui o processo para assegurar que o projeto seja completo dentro do oramento aprovado. Consiste de quatro partes que so: o Planejamento de Recursos, a Estimativa de Custos, a Oramentao e o Controle de Custos.

    O Planejamento de Recursos determina quais recursos (pessoas, equipamentos, materiais) e em que quantidades devem ser utilizadas para desempenhar as atividades do projeto.

    A Estimativa de Custos envolve o desenvolvimento do custo aproximado dos recursos necessrios para completar as atividades do projeto.

    A Oramentao envolve a alocao dos custos globais estimados para itens de trabalho individual objetivando estabelecer uma referncia em custos para medio do desempenho do projeto.

    O Controle de Custos composto de quatro tpicos que incluem o monitoramento do desempenho de custos para detectar variaes em relao ao plano, a garantia de que todas as mudanas so apontadas precisamente na linha de referncia de custos evitando a incluso de mudanas incorretas, inapropriadas ou no autorizadas e finalmente a informao das mudanas autorizadas s partes interessadas.

    3.5. Gerenciamento da qualidade dos projetos

    Esta fase considera os processos requeridos para assegurar que o projeto satisfaa as necessidades do empreendimento. Inclui todas as atividades gerenciais que determinam a poltica da qualidade, objetivos e responsabilidades e as implementa por meio do planejamento da qualidade, controle da qualidade, qualidade assegurada e melhoramento da qualidade no contexto do sistema da qualidade. Ela

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    consiste de trs partes: o Planejamento da Qualidade, a Qualidade Assegurada e o Controle da Qualidade.

    O Planejamento da Qualidade identifica quais normas de qualidade so relevantes para o projeto e determina como satisfaz-las. As ferramentas mais utilizadas so: anlise de custo/benefcio, benchmarking, diagrama de fluxo, diagrama de Ishikawa e planejamento de experimentos.20

    A Qualidade Assegurada consiste de todas as atividades planejadas sistemticas implementadas no contexto do sistema da qualidade, para prover confiana de que o projeto satisfaa os padres relevantes de qualidade.

    O Controle da Qualidade envolve o monitoramento dos resultados especficos do projeto para determinar se concordam com as normas de qualidade relevantes e identificam meios para eliminar as causas de resultados insatisfatrios. Deve ser desempenhado atravs do projeto. Os resultados do projeto incluem resultados do produto como os entregveis e gerenciamento de resultados como custo e desempenho de programao. Ferramentas utilizadas so: Pareto, amostragem estatstica, diagrama de fluxo, anlise de tendncias.

    3.6. Gerenciamento de recursos humanos do projeto

    Inclui os processos requeridos para fazer o uso mais efetivo do pessoal envolvido com o projeto. Inclui todas as partes interessadas do projeto, patrocinadores, clientes, contribuidores individuais, empresa envolvida. Consiste de trs partes que so: o Planejamento da Organizao, a Seleo do Pessoal e o Desenvolvimento da Equipe.

    20 DUNCAN, William R. A Guide to the Project Management Body of Knowledge PMI Standards Committee. Project Management Institute, 130 South State Road, Upper Darby, PA 19082 USA, 1996, p. 87.

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    O Planejamento da Organizao envolve a identificao, documentao e designao das funes, responsabilidades e relaes de hierarquia. O output desta parte envolve a designao de funes e responsabilidade, o plano de gerenciamento de quando os recursos humanos so trazidos e retirados do grupo de projeto, o organograma e detalhes organizacionais.

    A Seleo do Pessoal implica em obter os recursos humanos necessrios (individuais ou grupais) designados para trabalhar no projeto.

    O Desenvolvimento da Equipe inclui a intensificao da habilidade das partes interessadas para contribuir como indivduos assim como realar a habilidade do grupo para atuar como equipe. Desenvolvimento individual (gerencial e tcnico) a base necessria para desenvolver a equipe. O desenvolvimento do grupo como uma equipe crtica para que o projeto atinja os objetivos.

    3.7. Gerenciamento das comunicaes do projeto

    Esta fase inclui os processos requeridos para assegurar a gerao em tempo e apropriada de informaes do projeto, sua coleta, disseminao, arquivamento e disposio. Prov a ligao crtica entre pessoas, idias e informaes que so necessrias ao sucesso. Todos envolvidos no projeto devem estar preparados para enviar e receber comunicaes na linguagem do projeto e devem compreender como as comunicaes com as quais so envolvidos como indivduos afetam o projeto como um todo. Consiste de quatro partes: o Planejamento da Comunicao, a Distribuio da Informao, o Relatrio do Desempenho e o Fechamento Administrativo.

    O Planejamento da Comunicao determina a informao e a necessidade de comunicao das partes interessadas; quem precisa qual informao, quando ser necessria e quando ser fornecida.

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    A Distribuio da Informao prov a informao necessria disponvel para as partes interessadas do projeto dentro do prazo adequado. Inclui a implementao do plano de gerenciamento da comunicao assim como a resposta aos pedidos inesperados de informao.

    O Relatrio de Desempenho envolve a coleta e a disseminao das informaes sobre como os recursos esto sendo utilizados para a consecuo dos objetivos do projeto. Este processo inclui: o relatrio da situao do projeto, o relatrio de progresso e o relatrio de previso indicando o progresso e a situao futura. As ferramentas utilizadas para esta parte so: revises de desempenho, anlise da variao que implica na comparao dos resultados reais obtidos com os esperados, anlise de tendncia (para verificar se os resultados obtidos at o momento esto melhorando ou deteriorando) e finalmente a anlise do valor ganho. Esta ltima ferramenta a mais utilizada para medio do desempenho. Aqui h o clculo de trs valores para cada atividade: o orado (tambm chamado custo orado do trabalho programado a ser despendido na atividade no perodo dado), o custo real (tambm chamado custo do trabalho desempenhado que corresponde ao total dos custos diretos e indiretos incorridos na consecuo do trabalho na atividade durante um perodo dado) e finalmente, o valor ganho (tambm chamado custo orado do trabalho realizado que corresponde porcentagem do oramento total e tambm porcentagem do trabalho realmente completo).

    O Fechamento Administrativo ocorre aps a consecuo dos objetivos ou trmino do projeto por outros motivos. Consiste na verificao e documentao dos resultados do projeto para formalizar a aceitao do produto do projeto pelo responsvel, cliente ou usurio.21

    21 DUNCAN, William R. A Guide to the Project Management Body of Knowledge PMI Standards Committee. Project Management Institute, 130 South State Road, Upper Darby, PA 19082 USA, 1996, p.93.

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    3.8. Gerenciamento do risco do projeto

    Inclui o processo que tem a ver com a identificao, anlise e resposta ao risco do projeto. Inclui a maximizao dos resultados de eventos positivos e minimizao das conseqncias de eventos adversos.

    Esta fase consiste dos processos a seguir: a Identificao dos Riscos, da Quantificao dos Riscos, do Desenvolvimento da Resposta dos Riscos e finalmente do Controle das Respostas dos Riscos.

    A Identificao dos Riscos consiste na determinao de quais riscos provvel que afetem o projeto alm de sua documentao. A Identificao dos Riscos deve referir-se tanto aos aspectos internos de controle ao grupo de projetos quanto os externos que fogem a este controle.

    A Quantificao dos Riscos envolve a avaliao de riscos e a interao de riscos para avaliar a faixa de possveis resultados. Envolve oportunidades e ameaas que podem interagir de maneira antecipada. importante considerar que tcnicas matemticas podem criar uma falsa impresso de preciso e confiabilidade. Ferramentas e tcnicas utilizadas so: Valor monetrio esperado, como uma ferramenta para a quantificao de riscos, Somas Estatsticas, Simulao, rvores de Deciso e Julgamento de Especialistas.

    O Desenvolvimento de Resposta dos Riscos envolve a definio de passos que possibilitam oportunidades e respostas s ameaas. Classifica-se nas seguintes categorias: impedimento por eliminao de ameaas, mitigao por reduo da probabilidade de ocorrncia e finalmente aceitao, que implica na passividade frente s conseqncias.

    O Controle da Resposta dos Riscos envolve a execuo do gerenciamento de riscos de maneira a responder aos acontecimentos de riscos ao longo do projeto. Quando

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    uma mudana ocorre, o ciclo bsico de identificao, quantificao e resposta so repetidas. importante entender que mesmo uma anlise compreensiva e cuidadosa no identifica todos os riscos e probabilidades corretamente. Sempre o controle e interao sero necessrios.

    3.9. Gerenciamento do suprimento do projeto

    Inclui os processos requeridos para adquirir bens e servios do exterior da organizao. Por simplicidade, bens e servios sero referidos como produtos. Incluem os seis processos a seguir: Planejamento do suprimento, Planejamento da Solicitao, A Solicitao, da Seleo das Fontes, da Administrao de Contratos e do Fechamento do Contrato.

    O Planejamento de suprimento o processo de identificar quais necessidades de projetos podem ser atingidos pela obteno de produtos ou servios fora da organizao. Envolve a considerao de onde, como, o que, como e quando obter. As ferramentas e tcnicas para esta etapa so: Anlise de Comprar ou Fazer, Julgamento de Especialistas e Seleo de tipo de Contrato.

    O Planejamento da solicitao envolve a preparao do documento necessrio para apoiar a solicitao.

    A Solicitao envolve a obteno de informao (concorrncias e propostas) de fornecedores potenciais de como as necessidades de projeto podem ser obtidas. As maiores parte dos esforos reais neste processo so despendidos por fornecedores potenciais, sem custo para o projeto.

    A Seleo das Fontes envolve o recebimento das concorrncias ou propostas e a aplicao de critrios de avaliao para selecionar um fornecedor.

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    A Administrao do Contrato o processo de assegurar que o desempenho do fornecedor atinja os requisitos contratuais.

    Finalmente o Fechamento do Contrato similar ao fechamento administrativo, requerendo a verificao se o trabalho foi corretamente terminado de maneira satisfatria.

    IV. SISTEMA TRADICIONAL DE GERENCIAMENTO DE PROJETOS

    1. CENRIO

    Projetos so realizados desde os tempos antigos como atestam as Pirmides no Egito, a Grande Parede na China, os Grandes Aquedutos em Roma ou o Templo de Salomo em Jerusalm.

    Foi nos ltimos cinqenta anos que o Gerenciamento de Projetos comeou a ser desenvolvido, com alguns fatores e acontecimentos moldando as condies de sua forma atual.

    A globalizao, a evoluo da informtica, o trabalho da mulher fora de casa e a telecomunicao trouxeram novas realidades. No cenrio que se apresenta, as organizaes tiveram que se adaptar, redimensionando sua estrutura de pessoal, reduzindo o nmero de nveis hierrquicos, potencializando suas equipes, para que sejam formadas parcerias e cadeias de valor. Os gerentes de projeto devem prosperar no caos,22 conforme Peters, e sua importncia cresceu enormemente. Por exemplo, o Instituto de Gerenciamento de Projetos (PMI) mantinha um corpo de

    22 PETERS, Tom. Prosperando no Caos. So Paulo, HARBRA, 1989, p. 28-29.

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    associados de 6.000 a 8.000 por muitos anos. No meio da dcada de 1990, o nmero de associados passou a mais de 25.000 pessoas.23

    O gerenciamento tradicional de projetos permitiu a realizao de aes impressionantes, tais como, colocar um homem na lua, a construo de plataformas de petrleo (rvores de natal) no mar do norte, construo de cidades, entre outras.

    O projeto Polaris, para a construo de um submarino nuclear em 1957, um desses marcos do gerenciamento. Cercado de riscos e incertezas, o projeto mobilizou muitas organizaes, com uma logstica complexa e metas bastante ambiciosas. A marinha norte-americana criou um grupo tarefa para gerir o projeto e delegou a uma equipe de consultores o desenvolvimento de instrumentos de controle para esse empreendimento: nascia o PERT Program Evaluation and Review Technique. Quase ao mesmo tempo seu irmo gmeo o CPM Critical Path Method, era desenvolvido pela Dupont Chemical (1959).24

    O projeto do Tnel do Canal da Mancha foi o maior projeto de construo j executado na Europa e o maior investimento singular em transporte de todo o mundo. Esta foi uma obra que desafiou por anos os empreendedores, quando em 1986 os governos, da Frana e do Reino Unido chegaram a um entendimento que deu partida no projeto. O grupo Eurotnel composto por duas empresas holdings, uma francesa e outra inglesa ganharam o contrato para projetar e construir o tnel. A previso era para ser a linha de trens mais ocupada do mundo. Trata-se de um tnel de 150 quilmetros correndo 40 metros abaixo do nvel do mar. As incertezas eram enormes. Inicialmente as polticas ameaaram o comprometimento de ambos os governos. Na fase de planejamento, a incerteza geolgica tinha que ser reduzida por uma srie de testes. O financiamento do projeto que requeria investimento de mais de 200 bancos e agncias financiadoras, assim como de mais de meio milho de acionistas, resultou em incertezas financeiras. No menos importantes, os

    23 BLOCK, Thomas R. e FRAME, Davidson J..The Project Office. Crisp Management Library, 1998, p. 1. 24 SABBAG, Paulo Y.. A Gesto do Risco em Empreendimentos. RAE Light Abril/Junho de 1999, v.6, n.2, p. 2-9.

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    problemas tcnicos, tanto na perfurao em si como na subcontratao dos trechos e sistemas dentro do tnel, precisaram ser superados para reduzir as incertezas tcnicas. A abertura histrica aconteceu em 1 de dezembro de 1990, quando grupos de trabalho franceses e ingleses encontraram-se em um ponto intermedirio. A inaugurao verdadeira ocorreu em 1994.25

    2. PLANEJAMENTO E INCERTEZA

    O domnio das ferramentas de planejamento extremamente til ao gerenciar projetos, porm de longe no suficiente para criar o plano perfeito. Planejar implica em lidar com o futuro, e como conseqncia, com a incerteza. Algumas vezes as estimativas podem ser bastante precisas. Por exemplo, aps completar 99 prdios similares, o centsimo ter seu tempo de construo previsto com boa segurana. No caso deste prdio em questo, a incerteza foi bastante reduzida, pois foi acumulada uma boa base de dados para prever o futuro. Na maior parte dos casos, no entanto, isto no verdade, especialmente nos dias de hoje em que os projetos avanam em reas pouco conhecidas. Nestes casos, o nvel de incerteza no apia o detalhamento do planejamento, por falta de informaes suficientes.

    importante ressaltar a diferena entre complexidade e incerteza. Veja-se o caso em que se quer ir de um ponto A para um ponto B. Imagine um primeiro caso, em que o caminho seja exatamente conhecido, porm bastante trabalhoso, demorado e complicado, ou seja, o caminho no incerto, porm complexo. Por outro lado, se o caminho de A para B for mais simples, porm chegando a uma encruzilhada sem ter informaes sobre o melhor caminho, trata-se neste caso de um caminho incerto. O alto nvel de incerteza muito comum nos projetos atuais.26 Na dcada de 80 houve um reconhecimento formal da anlise de riscos como um componente importante para o gerenciamento de projetos, quando o Instituto de Gerenciamento de Projetos 25 SLACK, Nigel e outros. Administrao da Produo. Atlas, p. 522. 26 FRAME J. Davidson. Managing Projects in Organizations. San Francisco, Jossey-Bass Publisher, 1995, p.163.

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    (PMI) declarou o Gerenciamento de riscos como parte dos conhecimentos do Corpo de Conhecimentos (PMBOK).27

    3. PROBLEMAS APRESENTADOS

    Apesar de toda a teoria, desenvolvimento e toda a atualizao do Corpo de Conhecimento do Guia de Gerenciamento de Projetos,28 ainda ocorrem problemas de atraso, de custos e de escopo.

    Conforme Frame,29 a abordagem ao gerenciamento de projetos est prejudicada, pois vrias deficincias foram sentidas.

    A primeira delas o insuficiente foco nos clientes. Muita energia dedicada ao trip: prazo, custo e especificaes, sendo estas criadas muitas vezes por especialistas e no exatamente baseadas nas reais necessidades dos clientes.

    Uma segunda deficincia sentida reside no enfoque tradicional numa srie de ferramentas dedicadas programao, oramentao e alocao de recursos, notadamente os grficos de Gant, Redes PERT e CPM. Na oramentao so as curvas em S e na alocao de recursos so as matrizes e grficos de carga. Na verdade, no h nada de errado no uso das ferramentas acima; o problema que elas desviam a ateno de outros problemas tais como gerenciar e satisfazer as necessidades dos clientes, motivar os funcionrios e adquirir habilidades polticas.

    Finalmente uma terceira deficincia da abordagem tradicional a definio estreita do que se espera, considerando as etapas do projeto ou seja: concepo,

    27 FRAME J. Davidson. The New Project Management. San Francisco, Jossey-Bass Publishers, 1995, p. 75. 28 DUNCAN, William R. A Guide to the Project Management Body of Knowledge PMI Standards Committee. Project Management Institute, 130 South State Road, Upper Darby, PA 19082 USA, 1996, p. 151. 29 FRAME, J. Davidson. The New Project Management. San Francisco, Jossey-Bass Publishers, 1995, p. 5.

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    planejamento, execuo e fechamento, aps o qual, as pessoas recebem novas incumbncias. No novo mundo competitivo, isto no basta. A assistncia ps-entrega deve ser feita, pois para a satisfao do cliente, o ciclo de vida deve ser estendido para incluir tambm a operao e a manuteno.

    A literatura acadmica e empresarial confirma essas deficincias relatando numerosos casos de insucesso:

    Desde a dcada de 80, a administrao Federal de Aviao dos Estados Unidos experimentou atrasos e estouros de oramento substanciais. O projeto mais importante foi o Sistema Avanado de automao, o maior programa para substituir todos os equipamentos e softwares nas torres terminais e nas facilidades de rotas. O projeto foi iniciado no incio dos anos 80. No incio da dcada de 90 os custos estimados foram aumentados dos originais US$ 2,5 bilhes estimados em 1983 para US$ 7,6 bilhes. O programa atrasou aproximadamente oito anos em relao ao previsto.30

    Projetos financiados pelo Banco Mundial: Atrasos reduziram, mas as previses ainda so otimistas. Em mdia, operaes avaliadas em 1994 tomaram 37% mais tempo para serem implementadas que originalmente programadas, mas j melhores que os 48 % originalmente programados em 1993 e 54% no perodo de 1974-94. 31

    Em 1996, uma dissertao de Mestrado analisou a situao de trs projetos na fbrica de Cinescpio da Philips. O primeiro implicou na ampliao da capacidade de produo de 5,0 para 7,0 milhes de produtos por ano, com sucesso parcial numa das linhas em que foi introduzida nova mecanizao; problemas de software impediram o cumprimento da curva de aprendizagem. O

    30 Department of Transportation Office Inspector General. May, 1997. Endereo Eletrnico: http// sss.dot.gov/oig/statement/attach.html. 31 Segundo Evolution Reports for 1994. Operation Evolution Department, World Bank, Washington D.C., 1995, citado por NEWBOLD, Robert C.. Project Management in the Fast Lane. The St. Lucie Press, 1998, p 28.

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    segundo projeto consistiu em introduzir industrialmente a tecnologia Black Matrix tendo havido sucessivos adiamentos por motivos estratgicos. O terceiro projeto consistiu em introduzir o sistema de controle de produo numa nova linha de fabricao. Tendo sua primeira etapa sida concluda com um atraso substancial devido a dificuldades tcnicas e de organizao.32

    Departamento de Energia dos Estados Unidos: GAO constatou que: (a) De 1980 at 1996, o Departamento de Energia conduziu 80 projetos designados como aquisies do grande sistema; (b) O Departamento completou 15 destes projetos e a maioria deles foram terminados aps o prazo programado e com custos superiores ao previsto (c) 31 outros projetos terminaram antes do prazo e aps dispndios de mais de US$ 10 bilhes; (d) Estouros de custos e de prazos continuam a ocorrer em muitos dos projetos atuais. 33

    Muitos projetos parecem subestimar a efetividade da lei de Murphy, que , se algo de errado tiver que acontecer acontecer, no pior momento possvel. Se houver diferentes maneiras de fazer algo, e uma delas produzir uma catstrofe, algum a escolher.34

    32 DARIO, Duran Gutirrez. Gerenciamento de Projetos: O uso de Modelo para sistematizar a implantao de projetos. Dissertao MBA EAESP - Fundao Getlio Vargas, 1996. p.12. 33 Segundo Report GAO/RCED 97-17, Department of Energy opportunity to improve management of major system acquisitions, U.S. Government Accounting Office, Washington D.C., November 26, 1996, citado por NEWBOLD, Robert C.. Project Management in the Fast Lane. The St. Lucie Press, 1998, p. 42. 34 MAXIMIANO, Antnio C. A .. Administrao de Projetos. So Paulo, Atlas, 1997, p. 92.

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    V. A TEORIA DAS RESTRIES

    1. HISTRICO

    A teoria das restries teve incio em 1978 quando o fsico israelense, Eliyahu M. Goldratt passou da pesquisa em fsica para a pesquisa em indstria. Ele foi procurado por um amigo, dono de uma fbrica de gaiolas, para ajud-lo a resolver um problema de logstica interna de produo. Para Goldratt tudo era novidade, afinal nunca pusera os ps numa fbrica antes, foi um desafio inusitado. J no incio, ele ficou perplexo com os mtodos de administrao da produo tradicionais e as medidas de desempenho, parecia at que as divises da empresa trabalhavam contra a meta estabelecida pelo prprio negcio que obter lucro.

    Valendo-se de alguns princpios da fsica, Goldratt elaborou um novo mtodo de logstica da produo denominado Tambor-Pulmo-Corda, atingindo rapidamente resultados surpreendentes. Logo, outras empresas interessaram-se em aprender essa tcnica.

    A partir de ento, ele se interessou pelo assunto, transferiu-se para os Estados Unidos e fundou uma empresa de consultoria - Avraham Goldratt Institute nome em homenagem de seu pai. Escreveu diversos livros para divulgar sua nova concepo em administrao, denominada de Theory of Constraints (TOC). Segundo o autor, esse nome foi escolhido para reforar dois conceitos bsicos: o primeiro de que se trata de uma teoria, que significa algo provado, com resultados comprovados. O outro o conceito de restrio que o elo fraco do sistema, qualquer coisa que impea um sistema de atingir um desempenho maior em relao sua meta. Elas no so boas ou ruins, elas existem. Aceitando sua existncia, e sabendo trat-las, pode alavancar o processo de melhorias.

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    Polmica, a teoria das Restries uma abordagem que questiona os pressupostos fundamentais de muitos conceitos consagrados, como a contabilidade de custos, planejamento estratgico, gerenciamento de projetos, logstica da produo entre outros.

    O processo de melhoria contnua segundo a TOC muito simples e intuitivo, porque se baseia no bom senso. Mas sua implantao geralmente complicada e controversa, devido resistncia das pessoas. Exige necessariamente uma mudana de paradigma, por vezes complicada, pois o velho paradigma est em geral arraigado durante anos na organizao.

    Goldratt considera essas dificuldades como sendo barreiras culturais. Fomos guiados pelo treinamento que recebemos todo o tempo para viver no mundo do custo, fatos corriqueiros e incoerentes no mundo empresarial ratificam esse pensamento.

    Muitos gerentes demitem trabalhadores de um setor que obteve ganhos de produtividade e, portanto, ficou com sobras de pessoal. Poucos empresrios entendem que quando transformam a melhoria em demisses, todo o trabalho pode entrar em colapso.

    Muitas empresas realizam cerca de 70 a 80 % do faturamento nos ltimos dias do ms, apesar de possurem inventrios suficientes para atender sua demanda a qualquer data.

    Nossa prpria intuio denuncia que deve haver alguma coisa muito errada, pois essas atitudes no podem ser consideradas normais em ambientes hipercompetitivos.

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    impossvel uma pessoa julgar idias de um novo paradigma analisando-as sob o prisma de um velho paradigma.35

    No mundo de hoje normal que todos de alguma forma estejam praticando novas metodologias como Gesto pela Qualidade Total (GQT) e Just in Time que esto no mundo do ganho.36 Elas dizem que necessrio satisfazer as necessidades dos clientes, a TOC concorda integralmente com isso.

    Segundo Goldratt a diferena entre essas metodologias e a TOC no est no que elas dizem, mas no que no dizem. A GQT e o Just in Time possuem excelentes ferramentas prticas para os elos especficos da corrente, mas no para toda a corrente. A Teoria das Restries permite identificar as falhas na corrente. A partir desse ponto podem ser utilizadas as boas ferramentas que tanto a Gesto da Qualidade Total e o Just in Time oferecem.

    Nos ltimos anos Goldratt elaborou solues para diferentes aplicaes e problemas sistmicos, porm sabia que as empresas precisavam de algo mais fundamental que apenas solues prontas. Passou ento a ensinar os processos de raciocnio que usava para resolver problemas. Para ele, as empresas precisavam aprender a resolver seus prprios problemas para que pudessem garantir o seu futuro e melhorar continuamente. Goldratt explicitou as ferramentas de raciocnio lgico que usava intuitivamente e passou a ensin-las a partir de 1991.37

    Hoje em dia a TOC composto de dois campos, o processo de raciocnio de um lado e os aplicativos especficos, como o gerenciamento de projetos, de outro.

    35 Segundo Joo Mario Csillag citado por CORBETT Netto, Thomas. Contabilidade do Ganho. So Paulo: Nobel, 1997, p.2. 36 Segundo Joo Mario Csillag citado por CORBETT Netto, Thomas. Contabilidade. p. 13. 37 CORBETT Netto, Thomas. Contabilidade do Ganho. So Paulo: Nobel, 1997, p. 14.

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    Aps essas consideraes, sero descritas as origens filosficas do processo de melhoramento contnuo baseado na Teoria das Restries.

    2. ORIGEM FILOSFICA

    A noo de sistemas foi incorporada no ensino de administrao h algumas dcadas. A Teoria Geral de Sistemas foi criada pelo bilogo Bertalanffy em 1954, justamente na poca em que Wiener (1947) criava a ciberntica e Von Neumann e Morgenstern (1947) criavam a Teoria dos Jogos. Seguidas mais tarde pela Teoria da Contingncia e a abordagem da Ecologia Organizacional. Recentemente, juntaram a estas, os trabalhos relacionados ao Paradigma da Complexidade e a Teoria do Caos. Todas essas correntes tratam da relao do organismo com o meio, enfatizam tambm a compreenso da relao entre as variveis internas da organizao.

    Fritjof Capra escreve sobre uma nova compreenso cientfica da vida em todos os nveis dos sistemas vivos, organismos, sistemas sociais e ecossistemas. Essa abordagem tem profundas implicaes no apenas para a cincia e para a filosofia, mas tambm para as atividades comerciais, a poltica, a assistncia sade, a educao e a vida cotidiana.38

    A ateno cientfica nos sculos anterior fora dada aos sistemas fechados, isto , os sistemas mecnicos, tais como sistema solar, mquinas, slidos, massas gasosas e outros. A partir dos anos 50, ascende a noo de sistema aberto, referindo-se aos organismos vivos e a grupos sociais.

    Beer39 define sistemas como qualquer conjunto de itens que esto dinamicamente relacionados. Para esse autor, o sistema d idia de conectividade: o universo est 38 CAPRA, Fritjof. A teia da vida. Cultrix, Amana Key, 1996, p. 23. 39 BEER, Stafford. Ciberntica e Administrao Industrial. Rio de Janeiro, Zahar Edits, 1969, p. 25.

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    formado de conjuntos de sistemas, cada qual contido em outro ainda maior, como um conjunto de blocos para construo.

    Sob um ponto de vista mais prtico um sistema pode ser definido como um conjunto estruturado, visando a um fim, no qual existem relaes complexas e no triviais entre os elementos constitutivos, de modo que o todo seja mais do que a soma das partes.40

    Alguns importantes princpios e corolrios de uma abordagem sistmica so:

    Todas as partes do sistema so interrelacionadas: uma alterao numa parte do sistema causa mudanas em todas as demais. A otimizao dos objetivos requer a integrao do sistema.

    Em vista da grande complexidade que existe no relacionamento entre as variveis do sistema e em razo dos muitos laos interligando os subsistemas, os efeitos das mudanas que incidem no modelo so contra-intuitivos e devem ser analisados atravs da construo e validao de um modelo.

    Nenhum sistema melhor do que seu componente mais fraco. Um elo fraco enfraquece toda a corrente. Por melhores que sejam as estruturas, a organizao e os equipamentos de um sistema, sempre haver uma restrio limitando seu ganho. O perigo que haja um ambiente que proteja, em vez de eliminar, os componentes frgeis, ou mesmo at ignore sua prpria existncia. Nesse caso, todo o sistema, e toda cultura da organizao se rebaixa ao nvel do elo mais fraco, nvel esse s vezes muito baixo, ameaando a prpria sobrevivncia da organizao.

    Os sistemas so sensveis modificaes, o desequilbrio persiste muito tempo depois de sua excitao. tanto maior quanto maior o nmero de elementos no

    40 MACHLINE, Claude. Dinmica de Sistemas. EAESP- Fundao Getlio Vargas Apostila PR-L-719 Abril 1977.

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    sistema. Portanto, necessrio cuidado ao se mexer em um sistema. Uma sndrome infelizmente comum do administrador incapaz de deixar o sistema em paz por muito tempo. Muitas mudanas bruscas e alteraes em um sistema traumatizado, j em desequilbrio, mataro fatalmente o paciente.41

    W. Edward Deming, consultor empresarial, tambm muito frente de seu tempo, j alertava as organizaes, nos anos 60, sobre a necessidade da compreenso de um saber profundo. De acordo com o autor, o conhecimento profundo advm do pleno entendimento da teoria do conhecimento, variabilidade, psicologia e da abordagem sistmica.

    A performance de cada componente do sistema dever ser avaliada em termos de suas contribuies para o objetivo do sistema e no para a produo ou lucro individual, nem para qualquer competio entre as partes. Alguns componentes podem ter que operar tendo perdas para si prprio, para a otimizao do sistema como um todo (...) Um exemplo de um sistema bem otimizado uma boa orquestra. Os msicos no esto l para realizarem solos como prima-donas...no necessrio que cada um deles em sua rea seja o melhor msico do pas. 42

    Muitos sistemas organizacionais modernos so considerados cibernticos, isto , utilizam para se regular, informaes provenientes de seu prprio desempenho. Alm de regular suas entradas e componentes internos para controlar a quantidade e qualidade de suas sadas, os sistemas cibernticos tambm podem redefinir suas metas, em resposta s mudanas ambientais. O enfoque sistmico exige um entendimento cuidadoso de como todos os componentes do sistema interagem

    41 MACHLINE, Claude. Dinmica de Sistemas. EAESP- Fundao Getlio Vargas Apostila PR-L-719 Abril 1977, p.5. 42 DEMING, W. Edwards. Qualidade: a revoluo da administrao. Rio de Janeiro, Saraiva, 1990, p. xviii.

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    entre si e como o sistema inteiro interage com o ambiente externo. Essa viso indispensvel para uma efetiva transformao organizacional. 43

    3. DEFINIO DA TOC

    A Teoria das Restries de Eliyahu M. Goldratt uma filosofia de melhoria sistmica. Quase todas teorias tradicionais de melhoria contnua, enfocam prioritariamente o aperfeioamento do processo, isto , devem ser melhorados ao mximo, o desempenho de cada componente do processo, at atingir o mximo de performance do sistema. Infelizmente, esse pressuposto ignora as relaes complexas e no triviais de interdependncia entre os componentes do processo e mesmo entre processos.

    Goldratt, entretanto, considera que a organizao vive e morre como um sistema, no como um processo. O sucesso ou o fracasso depende do desempenho conjunto de todos seus elementos, ou seja, cada elemento depende um do outro de alguma forma.

    O autor afirma que qualquer sistema anlogo a uma corrente, ou uma rede de correntes. Assim, a performance do sistema ser sempre limitada pelo elo mais fraco. Isso significa, que no importa a quantidade de esforos e/ou recursos despendidos numa organizao para melhoria dos processos, somente uma melhoria do seu elo mais fraco poder proporcionar uma melhoria ao sistema. O elo fraco a restrio do sistema.44

    A teoria das restries considerada mais do que apenas uma teoria. Segundo Goldratt um novo paradigma em administrao criado para reforar e/ou eliminar 43 DETTMER, H. William. Goldratts Theory of Constraints: a systems approach to continuous improvement. ASQS Quality Press. 1997, p. 12. 44 DETTMER, H. William. Goldratts Theory of Constraints: a systems approach to continuous improvement. ASQS Quality Press. 1997, p. 13.

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    os elos fracos de qualquer sistema, resultando em rpidas e intensas melhorias jamais anteriormente cogitado, muito alm que qualquer mera melhoria contnua.

    A teoria das restries um padro ou modelo de conduta que inclui no s conceitos, princpios direcionais e prescries, mas tambm ferramentas e aplicativos para solues de problemas sistmicos.

    4. CONCEITOS BSICOS

    O ponto de partida da Teoria das Restries entender que todo sistema possui um objetivo:

    O primeiro passo reconhecer que todo sistema foi constitudo para um propsito; no criamos nossas organizaes sem nenhuma finalidade. Assim, toda e qualquer ao tomada por qualquer parte da empresa deveria ser julgada pelo seu impacto no propsito global. Isso implica que, antes de lidarmos com aprimoramentos em qualquer parte do sistema, primeiro precisamos definir qual a meta global do mesmo e as medidas que vo permitir que possamos julgar o impacto de qualquer subsistema e de qualquer ao local nessa meta global. (...) A restrio do sistema qualquer coisa que impea um sistema de atingir um desempenho maior em relao a sua meta (...) Na nossa realidade qualquer sistema tem bem poucas restries e ao mesmo tempo qualquer sistema tem ao menos uma restrio.45

    A teoria das restries pressupe, a princpio, que os executivos conhecem os reais propsitos da organizao, isto , sua meta final. Infelizmente, nem sempre esse o

    45 CORBETT Netto, Thomas Contabilidade do Ganho. So Paulo: Nobel, 1997, p. 39.

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    caso. Nenhum sistema pode ser bem sucedido sem ao menos responder a trs questes fundamentais: 46

    Qual a minha meta final? Onde quero chegar?

    Qual minha posio em relao meta? Onde estou?

    Quais mudanas so necessrias para atingir a meta? Qual o caminho a seguir?

    Uma vez identificado o objetivo da organizao torna-se necessrio estabelecer o caminho a ser seguido, como vencer o gap entre a posio atual e a meta desejada.

    Para saber o que mudar torna-se obrigatrio fazer um diagnstico da situao, isto , tentar encontrar a restrio do sistema, o elo fraco, aquilo que impede o sistema de atingir um melhor desempenho. A TOC alega que a causa raiz nunca est muito aparente na superfcie da organizao, ela se manifesta atravs de inmeros efeitos indesejveis, interligados por uma rede de causa e efeito.

    Quase todos os efeitos indesejveis percebidos em um sistema, no so problemas, mas apenas indicadores, sintomas de doenas crnicas e profundas da organizao. Eliminar individualmente estes efeitos indesejveis pode proporcionar uma falsa sensao de segurana. Ou seja, o remdio acaba proporcionando apenas benefcios temporrios. Novos problemas emergem ou os mesmos se repetem com maior intensidade. Esto sendo ignoradas as causas-raiz dos efeitos indesejveis, e com isso esto sendo resolvidos os problemas errados do sistema.

    Ao contrrio, quando eliminada a causa-raiz do problema, ficam eliminados simultaneamente todos seus efeitos indesejveis. A causa-raiz geralmente uma

    46 DETTMER, H. William. Goldratts Theory of Constraints: a systems approach to continuous improvement. ASQS Quality Press. 1997, p. 15.

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    doena crnica causada por um conflito. Solucion-la requer desafiar pressupostos e crenas subordinadas ao conflito ou invalidar ao menos um.

    A restrio de um sistema pode ser tanto fsica como poltica. Usualmente as restries fsicas so relativamente fceis de serem identificadas, exploradas ou mesmo eliminadas. Em contrapartida, as restries polticas so mais difceis de serem identificadas e eliminadas, mas sua remoo pode resultar em melhorias sistmicas amplas e radicais, muito maior que a elevao de qualquer restrio fsica.

    A inrcia o pior inimigo da melhoria sistmica. Uma determinada restrio quando eliminada pode gerar muitas regras, a maioria intuitiva; quando a restrio eliminada, parece existir uma inrcia, uma resistncia em revisar essas regras, ficando todo o sistema limitado por restries polticas.

    Segundo Goldratt, idias no so solues, as melhores idias do mundo nunca sero potencializadas sem serem implementadas. A maioria das grandes idias falha no estgio de implementao.47

    5. OS CINCO PASSOS PARA ENFOCAR SEGUNDO A TOC

    A partir do raciocnio anterior foi criado o processo de otimizao contnua da TOC, sempre conduzindo os esforos em direo meta de qualquer sistema. Esse processo base das metodologias e aplicativos da TOC e contm cinco etapas:

    IDENTIFICAR a(s) restrio(es) do Sistema.

    47 DETTMER, H. William. Goldratts Theory of Constraints: a systems approach to continuous improvement. ASQS Quality Press. 1997, p. 17.

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    Decidir como EXPLORAR a(s) restrio(es) do Sistema.

    SUBORDINAR tudo deciso acima.

    ELEVAR a(s) restrio(es) do Sistema.

    Se num passo anterior uma restrio foi quebrada, volte primeira etapa, mas NO DEIXE QUE A INRCIA CAUSE UMA RESTRIO NO SISTEMA.

    Esses passos so descritos abaixo:

    5.1. IDENTIFICAR a(s) restrio(es) do sistema

    Qual parte do sistema constitui seu elo mais fraco? Trata-se de uma restrio fsica ou poltica?

    5.2. Decidir como EXPLORAR a(s) restrio(es) do sistema

    J que a restrio existe, como ela poder ser utilizada ao mximo, em outras palavras, o que pode ser feito para obter o mximo da restrio sem realizar qualquer eventual despesa para sua remoo ou alterao.

    5.3. SUBORDINAR tudo deciso acima

    Uma vez identificada a restrio (passo 1) e explorada ao mximo (passo 2), necessrio ajustar todos os demais componentes do sistema uma condio de operao que permita esta restrio operar com seu desempenho mximo. A

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    performance de cada parte deve ser avaliada pelo seu impacto no desempenho do sistema como um todo.

    5.4. ELEVAR a(s) restrio(es) do sistema

    Chegou-se nesse passo, significa que as etapas 2 e 3 foram insuficientes para eliminar a restrio e torna-se necessrio fazer alguma coisa a mais. Agora se pode pensar em mudanas significativas do sistema atual: reorganizao, investimentos de capital, desenvolvimento de novas competncias, ou qualquer outra modificao substancial do sistema. Geralmente esse passo absorve considervel investimento em tempo, energia, capital,.... Elevar significa tomar decises para eliminar a restrio. Uma das formas de eleva-la a aplicao da Anlise de Valor.48

    5.5. Se num passo anterior uma restrio foi quebrada, volte primeira etapa, mas no deixe que a inrcia cause uma restrio no sistema

    Se nos passos 3 ou 4, a restrio eliminada, imprescindvel voltar ao passo 1 e comear novamente o ciclo, procurando a prxima restrio ao desempenho. Nunca ser complacente ou resistente, uma regra, pois o ciclo nunca termina. Deve-se buscar continuamente localizar a restrio e elimin-la. E nunca deve esquecer que devido interdependncia e variabilidade, cada mudana realizada no sistema provoca novos efeitos nas mesmas restries que acabam de ser eliminadas. necessrio revis-las e atualiz-las tambm.

    48 CSILLAG, Joo M. How to increase the value of manufactured parts. USA, Save proceedings, 1992. p.109-118.

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    As restries no so intrinsecamente boas ou ruins, elas simplesmente existem. Se a escolha ignor-las se tornam ruins. Se a escolha reconhec-las se tornam uma grande oportunidade, uma alavanca para o negcio.49

    VI. DIFICULDADE DE GERENCIAMENTO DE PROJETOS

    Todo esse conjunto de conhecimentos da TOC (Theory of Constraints), proposto por Goldratt, tambm pode ser aplicado para o gerenciamento de projetos. Seu mtodo simples, porm requer uma profunda mudana de paradigma e o seguimento de uma lgica impecvel.50

    Muito se tem escrito sobre programar e gerenciar projetos, principalmente focando o uso de mtodos clssicos como a rede PERT e CPM, mas mesmo assim, observamos em inmeros casos na literatura, que essa atividade vem sendo desempenhada com alguns problemas: 51

    Quase sempre h dificuldade de completar projetos dentro do prazo.

    O Lead Time prometido mais longo que o desejvel.

    Freqentemente os recursos no esto disponveis quando necessrios, mesmo quando prometido.

    A gerncia est sob constante presso para aumentar o efetivo para dar vazo aos picos de demanda.

    49 CORBETT Netto, Thomas. Contabilidade do Ganho. So Paulo: Nobel, 1997, p. 42. 50 CSILLAG Joo Mrio. Corrente Crtica. RAE Abril / Junho de 1999, Vol. 39 n. 2, p. 88-93. 51 Videoconferncia: Goldratt Satellite Program, levado ao ar de maro a maio de 1999, ao vivo, transmitido da Holanda para diferentes pases.

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    Antes que as atividades sejam completas, mudam-se as prioridades devido aos novos projetos.

    A organizao lenta para responder a novas oportunidades de negcio.

    Os gerentes de projeto e os gerentes de recursos esto em constante conflito sobre prioridades.

    Escopo/contedo dos projetos, s vezes, prejudicado para manter a data de entrega ou oramento.

    H muitas mudanas e/ou retrabalho.

    H estouros oramentrios.

    Por que seria to difcil administrar projetos e conseguir entreg-los no prazo, dentro do oramento e com as especificaes do escopo intacto?

    Diante da insatisfao do cliente em relao aos problemas acima mencionados tradicionalmente so procuradas causas comuns: tempo ruim, incerteza, mudanas executadas pelos clientes, falta de entrosamento entre os membros da equipe, altos custos operacionais ou problemas de vendas.52

    Para cada uma dessas causas so imaginadas providncias que as bloqueiam. Assim devem ser considerados as previses de tempo e pocas de chuvas ou fazer o que for possvel em local ao abrigo da influncia do mau tempo. Para lidar com a incerteza, existem anlises de risco e especificaes mais detalhadas do processo. Para absorver as mudanas posteriores ao contrato executadas pelos clientes, procura-se estabelecer melhor os procedimentos e o monitoramento. Para trabalhar com a falta de entrosamento entre os membros da equipe recorre-se a treinamento em formao

    52 CSILLAG, Joo Mrio. Corrente Crtica. RAE Abril/ Junho 1999, Vol. 39 n. 2, p.37.

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    de equipes e dinmica de grupo, entre outras maneiras. O custo operacional, que na maioria das vezes, decisivo para o fechamento do contrato, abordado com reengenharia, melhoramento de eficincias ou com simples corte de efetivos. Finalmente, para lidar com os problemas de vendas so aperfeioados os contratos e os relacionamentos com os clientes. Todas as providncias apontadas acima so corretas sob certas circunstncias e produzem benefcios.53 Em suma, o cumprimento assumido de entrega do projeto perseguido, pressionando cada uma das suas atividades a cumprir seu prazo de trmino.54 Mas, de algum modo os problemas continuam e aparentemente essas providncias no eliminaram as suas reais causas, ou seja, a causa-raiz que origina as causas especficas dos problemas apontados. A TOC oferece meios para identificar a causa-raiz como ser explicitado a seguir.

    A TOC, diferentemente, defende o fato de que num sistema existe uma nica ou pouqussima causa das quais decorrem muitos problemas e que resolvendo a causa-raiz, as demais deixaro de existir.

    Para identificar a causa-raiz dos problemas, mencionados anteriormente, Goldratt utiliza a rvore da Realidade Atual, que tem a finalidade de mapear as relaes de causa e efeito do sistema. Partindo de uma srie de efeitos indesejveis que ocorrem no ambiente em estudo e estabelecendo um relacionamento de causa e efeito entre eles, chegar-se- causa comum.

    O autor, analisando os efeitos indesejveis anteriormente relacionados, conclui que a causa-raiz a maneira de como lidamos com as incertezas envolvidas no projeto.

    53 CSILLAG, Joo Mrio. Corrente. p. 38. 54 Videoconferncia: Goldratt Satellite Program, levado ao ar de maro a maio de 1999, ao vivo, transmitido da Holanda para diferentes pases.

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    Figura 1

    rvore da Realidade Atual55

    Todas as pessoas envolvidas em projetos sabem que eles contm alto grau de incerteza. Mas essa no a causa-raiz. Se por acaso o grau de incerteza fosse a causa-raiz dos problemas, jamais haveria um projeto terminado no prazo e nas condies previstas, desde que a incerteza caracteriza todos os projetos. Porm fato conhecido de que alguns projetos foram terminados dentro do prazo. Portanto o grau de incerteza no a causa-raiz dos problemas; a verdadeira causa est na maneira de como se lida com a incerteza.

    55 Adaptado de GOLDRATT, Eliyahu M.. Curso de Gerenciamento de projeto do AGI . Avraham Goldratt Institute, 1998.

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    O autor considera essencial entender mais profundamente a natureza do processo de planejamento dos projetos, ou seja, entender os pressupostos assumidos na prpria estimativa de prazo para uma determinada tarefa.

    1. ESTIMATIVA DE TEMPOS

    Para cada etapa no projeto h uma estimativa de tempo; o tempo previsto desde o comeo at o final daquela etapa. Goldratt argumenta que existem dois tipos de distribuies probabilsticas possveis para considerar essas estimativas de tempo, conforme as figuras a seguir:

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    Figura 2

    Curva de Distribuio de Gauss56

    56 Adaptado de GOLDRATT, Eliyahu M.. Corrente Crtica. So Paulo: Nobel. 1998. p. 46.

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    Figura 3

    Curva Assimtrica57

    Qual das duas formas de curvas de distribuio se parece mais com a forma da curva de distribuio dos tempos de uma atividade de projetos?

    A curva de distribuio normal (Curva de Gauss) somente valida quando o evento tem natureza aleatria, tal como, quando um bom atirador est mirando no centro do alvo usando uma boa arma. Nem sempre ele vai atingir o alvo, mas maior essa probabilidade do que a probabilidade dele atingir qualquer outro ponto do alvo58.

    A outra distribuio, a assimtrica, mais adequada para eventos no aleatrios e com elevado nvel de incerteza. Quanto maior o nvel de incerteza, maior a cauda da distribuio. Por exemplo, o tempo decorrido para dirigir entre dois lugares 57 GOLDRATT, Eliyahu M . Corrente Crtica. So Paulo: Nobel. 1998. p. 47. 58 GOLDRATT, Eliyahu M . Corrente.. p. 45.

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    distantes em uma grande cidade, certamente pode ser representado por essa curva de probabilidade. Tudo depende do trnsito, por exemplo, noite pode levar alguns minutos, enquanto que na hora do rush ou num dia ruim pode levar at uma hora.59

    Ponderando essas condies de contorno, pode ser concludo que o evento estimativa de tempo para atividades de projeto, apresenta muito mais caractersticas da distribuio assimtrica do que de uma distribuio normal.

    Normalmente quando uma pessoa faz uma estimativa de durao realstica para uma determinada atividade, h uma tendncia natural de adicionar uma margem de segurana. Isso faz sentido especialmente porque na maioria das empresas h pouco incentivo, se que h algum, para acabar antes do tempo. No entanto, muitas explicaes so necessrias quando a pessoa atrasa o trmino da tarefa. 60

    2. MECANISMOS PARA ADICIONAR TEMPOS DE SEGURANA

    Goldratt faz uma cuidadosa anlise de como esses tempos realsticos so estimados e constata vrios mecanismos comportamentais para embutir protees em suas estimativas:

    2.1. Margem de segurana para lidar com incerteza

    As pessoas tendem a adicionar significantes tempos de proteo para lidar com incertezas, isto porque so sempre influenciadas pelos ltimos desastres. Como as pessoas so cobradas por ocasio dos atrasos, se costuma prometer datas que tenham embutida uma probabilidade de 80 % de realizao e no 50 % como desejado. 59 GOLDRATT, Eliyahu M . Corrente Crtica. So Paulo: Nobel. 1998. p. 46. 60 GOLDRATT, Eliyahu M . Corrente.. p. 48.

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    Porm para passar de 50% a 80% de probabilidade praticamente se dobra o intervalo de tempo prometido. A figura 3 mostra o dito acima.

    2.2. Adio de tempo pelo superior

    Ger