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INTERLETRAS, ISSN Nº 1807-1597. V. 8, Edição número 28, outubro 2018 / março 2019 - p 1 RELATO DE EXPERIÊNCIA NA JORNADA DE PEDAGOGIA UNIGRAN: O USO DE ORIGAMI NA EDUCAÇÃO AS METODOLOGIAS ATIVAS Luciana Amâncio Chaves* Linda Missako Hayakawa Simada Komori** Clóvis Irala*** RESUMO: Este artigo relata a experiência vivenciada na oficina de origami ministrada durante a jornada de pedagogia UNIGRAN. Este trabalho tem por objetivo discutir e apresentar os resultados obtidos nesta oficina com base nos propósitos iniciais, e ainda demonstrar as possibilidades da utilização do origami como recurso lúdico pedagógico no enriquecimento da prática pedagógica, possibilitando o ensino a aprendizagem, contribuindo assim com o desenvolvimento integral das crianças e adolescentes. O trabalho recorreu aos seguintes teóricos: Imenes (2003), Gênova (2008 - 2009), Rêgo (2003), Zanolini (2010), Rosseti Ferreira (2000) e Hirose (2017). Para a metodologia, utilizou-se a abordagem qualitativa na análise dos dados observados durante a oficina e nas informações coletadas através de questionário aplicado aos participantes. Com base no questionário, a experiência permitiu analisar e compreender que o origami é um recurso que enriquece as práticas pedagógicas, favorecendo a concentração e a coordenação motora das crianças, possibilitando criar uma infinidade de formas que auxiliam nos conhecimentos de geometria básica. ABSTRACT: This article aims to discuss and show the results acquired in this workshop and demonstrate the possibilities with the use of origami as a ludic activity in the enrichment of teaching practice making the education possible in learning, so contributing to the development of children and teenagers. The work appealed for this theorists: Imenes (2003), Gênova (2008-2009), Rêgo (2003), Zanolini (2010), Rosseti Ferreira (2000) e Hirose (2017).For methodology was used qualitative approaches collected through questionnaire applied to the participants. Based on the questionnaire, the experience allowed to analyze and realize that origami is a resource that enriches pedagogical practices supporting the concentration and motor coordination of children generation great possibilities to create a number of components which help in basic geometry. PALAVRAS-CHAVE: Origami, Unigran; Pedagogia; KEYWORDS: Origami, UNIGRAN, Pedagogy INTRODUÇÃO A educação encontra-se em transformações e revisões, o que possibilita refletir sobre novas formas de metodologias e escolas. Nessa perspectiva, o professor precisa pensar sobre suas práticas pedagógicas de maneira à ressignificá-las. É pertinente discutir que no mundo globalizado, num contexto de profunda mudança ideológica, social e cultural, torna-se necessária a responsabilização dos educadores na compreensão do presente e na

RELATO DE EXPERIÊNCIA NA JORNADA DE PEDAGOGIA UNIGRAN: O ... · da construção do saber pelo aluno. As pedagogias novas insistem sobre o papel ativo do aluno como condição de

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INTERLETRAS, ISSN Nº 1807-1597. V. 8, Edição número 28, outubro 2018 / março 2019 - p

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RELATO DE EXPERIÊNCIA NA JORNADA DE PEDAGOGIA UNIGRAN: O

USO DE ORIGAMI NA EDUCAÇÃO AS METODOLOGIAS ATIVAS

Luciana Amâncio Chaves*

Linda Missako Hayakawa Simada Komori**

Clóvis Irala***

RESUMO: Este artigo relata a experiência vivenciada na oficina de origami ministrada durante a

jornada de pedagogia UNIGRAN. Este trabalho tem por objetivo discutir e apresentar os resultados

obtidos nesta oficina com base nos propósitos iniciais, e ainda demonstrar as possibilidades da utilização

do origami como recurso lúdico pedagógico no enriquecimento da prática pedagógica, possibilitando o

ensino a aprendizagem, contribuindo assim com o desenvolvimento integral das crianças e adolescentes.

O trabalho recorreu aos seguintes teóricos: Imenes (2003), Gênova (2008 - 2009), Rêgo (2003), Zanolini

(2010), Rosseti Ferreira (2000) e Hirose (2017). Para a metodologia, utilizou-se a abordagem qualitativa

na análise dos dados observados durante a oficina e nas informações coletadas através de questionário

aplicado aos participantes. Com base no questionário, a experiência permitiu analisar e compreender que

o origami é um recurso que enriquece as práticas pedagógicas, favorecendo a concentração e a

coordenação motora das crianças, possibilitando criar uma infinidade de formas que auxiliam nos

conhecimentos de geometria básica.

ABSTRACT: This article aims to discuss and show the results acquired in this workshop and

demonstrate the possibilities with the use of origami as a ludic activity in the enrichment of teaching

practice making the education possible in learning, so contributing to the development of children and

teenagers. The work appealed for this theorists: Imenes (2003), Gênova (2008-2009), Rêgo (2003),

Zanolini (2010), Rosseti Ferreira (2000) e Hirose (2017).For methodology was used qualitative

approaches collected through questionnaire applied to the participants. Based on the questionnaire, the

experience allowed to analyze and realize that origami is a resource that enriches pedagogical practices

supporting the concentration and motor coordination of children generation great possibilities to create a

number of components which help in basic geometry.

PALAVRAS-CHAVE: Origami, Unigran; Pedagogia;

KEYWORDS: Origami, UNIGRAN, Pedagogy

INTRODUÇÃO

A educação encontra-se em transformações e revisões, o que possibilita refletir sobre

novas formas de metodologias e escolas. Nessa perspectiva, o professor precisa pensar

sobre suas práticas pedagógicas de maneira à ressignificá-las. É pertinente discutir que

no mundo globalizado, num contexto de profunda mudança ideológica, social e cultural,

torna-se necessária a responsabilização dos educadores na compreensão do presente e na

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preparação do futuro, buscando meios de redefinir o seu papel, desenvolvendo

competências. Segundo Charlot:

O ensino é transmissão de um saber, mas se essa transmissão pode tomar uma

via direta, a via magistral, ela pode também se operar pela via indireta, aquela

da construção do saber pelo aluno. As pedagogias novas insistem sobre o papel

ativo do aluno como condição de acesso ao saber, o papel do professor como

sendo menos o de comunicar seu saber que o de acompanhar a atividade do

aluno, de lhe propor uma situação potencialmente rica, de lhe ajudar a

ultrapassar os obstáculos e de criar outros novos para que ele progrida. O

modelo subjacente é aqui, enfim, aquele da aprendizagem, mais no sentido que

este termo toma no mundo do artesão do que aquele da comunicação de uma

mensagem. Em outros termos, há uma prática do saber e o ensino deve formar

para essa prática, e não apenas se contentar em expor conteúdos. (2005, p .91).

Partindo da premissa da responsabilidade do educador em proporcionar experiências,

oferecer materiais oportunizando a descoberta e exploração de movimentos que impõe o

aperfeiçoamento das capacidades motoras dos aprendizes ou que lhes conduza novos

desafios, entrecruzando situações de pensamento com a realidade, este artigo visa

apresentar as diferentes possibilidades educativas do origami como recurso didático e

interdisciplinar no processo de ensino aprendizagem a partir da oficina aplicada, na qual

abordamos quais são as possibilidades e benefícios do ensino com origami para a

educação infantil, ensino fundamental e educação inclusiva.

Do ponto de vista de Zanolini:

Origami deve ser um recurso aplicado ao currículo escolar, pois auxilia no

desenvolvimento, além de servir como entretenimento, estimulando a

imaginação e contribuindo para desenvolver a destreza manual e a criatividade.

(2010, p. 16).

As contribuições do origami para a educação são inúmeras, já que este permite às crianças

na educação infantil uma melhor compreensão dimensional do objeto ao seu redor, bem

como pode contribuir no progresso potencial pleno de cada indivíduo, ressaltando a

maneira de observar e se expressar, a concentração, persistência, atenção, meticulosidade,

autoconfiança, a coordenação motora fina e acima de tudo a criatividade. Sendo assim, o

origami pode se tornar uma importante ferramenta no trabalho docente, criando condições

para a descoberta de novos sentimentos, valores, ideias, costumes e papéis sociais.

1. A OFICINA

A oficina intercalou momentos expositivos, explicativos, reflexivos e práticos, sendo os

conceitos e abordagens apresentados em etapas. O foco foi abordar os seguintes temas:

aspectos históricos do origami; apropriação de técnicas relativas ao origami;

contextualização da dobradura nos variados conteúdos curriculares; apresentação dos

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teóricos que fundamentam a utilização do origami (importância na educação infantil,

ensino fundamental e na perspectiva da educação inclusiva) e confecção de dobraduras.

Iniciou-se a oficina com apresentação através de projeção de slides do contexto histórico

do origami. Acredita-se que sua origem seja chinesa, assim como a origem do papel,

porém difundiu-se tanto no Japão que é considerado patrimônio da cultura japonesa. Tem

interligação com religiosidade, simbolismo e caráter educativo. Origami é uma palavra

japonesa composta do verbo dobrar (折り= ori) e do substantivo papel (紙 = kami).

Significa, literalmente, "dobrar papel".

Para contextualizar a prática da dobradura com práticas educativas, expõe-se as

viabilidades do uso e aspectos relevantes das contribuições para a educação infantil. O

origami propicia às crianças benefícios, tais como: ajuda a desenvolver a coordenação

mãos-olhos e a motricidade fina, estimula a concentração, ativa a memória, desenvolve a

paciência, ajuda na satisfação emocional e incentiva a imaginação. Além de ser uma

atividade relaxante, promove o aprendizado e é muito útil para o tratamento de

certos transtornos como o TDAH, hiperatividade ou dislexia.

A sistematização do trabalho pedagógico na educação infantil deve ser orientada pelo

princípio básico de tentar propiciar à criança o desenvolvimento integral e autonomia.

Para que isso ocorra, o modelo pedagógico deve oportunizar situações em que as crianças

possam vivenciar as mais diversas experiências, fazer escolhas, tomar decisões, socializar

conquistas e descobertas. Nesse sentido, cabe ao educador pesquisar e conhecer o

desenvolvimento infantil, com intuito de organizar atividades na qual a criança possa

experimentar situações mais diversas (LIMA, 2016, p. 14).

Para Rosseti Ferreira ao trabalhar com crianças na educação infantil:

Nosso papel fundamental passa a ser, a partir disso, o de um parceiro de

interação, num trabalho cujo principal objetivo é o próprio processo de fazer,

de brincar, de pintar, de rabiscar, de sugerir... E cujo principal produto é

também o próprio processo de criar, de fazer junto, de abrir um espaço gostoso

de convivência e parceria. Porque é neste interagir, nesta emoção

compartilhada, que acontece o desenvolvimento tanto da criança quanto do

educador. (2000, p. 107).

Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, as práticas

pedagógicas devem garantir experiências que:

Promovam o conhecimento de si e do mundo por meio de ampliação de

experiências sensoriais, expressivas, corporais que possibilitem movimentação

ampla, expressão da individualidade e respeito pelos ritmos e desejos da

criança;

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Favoreçam a imersão das crianças nas diferentes linguagens e o progressivo

domínio por elas de vários gêneros e formas de expressão: gestual, verbal,

plástica, dramática e musical;

Possibilitem vivências éticas e estéticas com outras crianças e grupos culturais,

que alarguem padrões de referência e de identidades no diálogo e

conhecimento da diversidade. (2010, p. 25-26).

A utilização do origami como um recurso lúdico pedagógico pode contribuir para a

criança desencadear situações de aprendizagem, relacionando a manipulação do papel

com as formas geométricas, tendo em vista que toda dobradura se origina de uma folha

quadrada. Desse modo, o origami não só favorece no processo criativo, mas servirá de

recurso para diversas linguagens, tanto de linguagem visual através da forma, como

linguagem corporal, por meio da sequência de movimentos das mãos.

Marques apud Tommasi e Minuzzo afirma que:

O contato com o origami desde a pré-escola propicia a aquisição e

interiorização de conceitos como fração, dimensão, proporção e forma. Ao

observar como se faz, e fazer a dobradura, a criança começa a perceber as

coisas, a natureza e os objetos à sua volta. Ao mesmo tempo desenvolve a

autodisciplina, concentração, memória, raciocínio lógico, psicomotricidade

fina, imaginação e a criatividade. (2010, p. 41-42).

No âmbito do ensino fundamental, o olhar sensível para as produções dos alunos permitirá

conhecer seus interesses e os conhecimentos que estão sendo apropriados por eles. Assim

será possível desenvolver um trabalho pedagógico no qual o aluno estará em foco. Nesse

sentido, cabe ao professor planejar, propor e coordenar atividades significativas e

desafiadoras, aptas a arrojar o desenvolvimento dos alunos.

Ao propor atividades que beneficiem intervenções dos alunos sobre o mundo natural e

social, devem existir possibilidades de agir, pois sem ação não haverá elementos para

construção de conceitos espontâneos, e assim não chegarão à tomada de conceitos

científicos. Por esta razão, os planejamentos das atividades, sejam elas de português,

ciências, geografia, história ou matemática, necessitam inicialmente de ação, a própria

movimentação do aluno e manipulação de objetos e materiais, sendo, portanto, essencial

a existência de mediações entre o adulto e aluno por meio de práticas pedagógicas

intencionais, significativas e dinâmicas.

O origami no ensino fundamental pode viabilizar o ensino aprendizagem de conteúdos

curriculares das diversas áreas. Desperta o gosto pela geometria e matemática, pode ser

usado como forma de ilustrar histórias, fábulas, textos, murais, folclores, entre outros.

Segundo Hirose:

Um exemplo de tópico de ensino de nosso cotidiano. O simples conceito de

“metade” pode ser intransponivelmente abstrato para crianças iniciantes. E aí

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você pode insistir em traçar um segmento de reta que evidencie a divisão ao

“meio” de um quadrado. E fazer vários exercícios no caderno para que

entendam o significado da “metade” de várias figuras geométricas. Entretanto

esse conceito pode se transformar em um exercício mais concreto e facilmente

compreensível, como quando a criança insiste em juntar “ponta com ponta”

para “não deixar uma parte maior que a outra” em uma folha de Origami. Neste

caso, surpreendentemente, a própria estética da folha de papel convida a

criança a buscar a melhor forma de “dobradura” de um quadrado para chegar

à sua metade. A satisfação da criança em encontrar a metade perfeita no

quadrado do Origami é encantadora, pois ela precisa de concentração,

desenvoltura e delicadeza para lidar com aquela folha colorida que obedece

fielmente a seu manuseio. Nenhum professor precisa dizer como seria ter duas

partes completamente iguais. Pelo estímulo da beleza simétrica, as crianças

intuitivamente vão em busca da medida exata que a “metade” de duas partes

iguais possuem e encontram o jeito de dobrar a folha para alcançar essa

igualdade nas formas. Um desejo espontâneo – na forma de tentativa e erro –

que o Origami propicia aos aprendizes de todas as idades. (2017, p. 2).

É possível compreender a importância do origami em atividades nos espaços escolares,

pois entre tantas finalidades, pode levar aos alunos uma nova possibilidade de trabalho

manual e artístico, além de possibilitar a ampliação do repertório imagético para cegos

que, de outro modo, dificilmente conseguiriam construir mentalmente uma imagem

tridimensional de animais, insetos ou personagens ficcionais.

Após a apresentação das possibilidades do uso do origami na educação, foi apresentado

às participantes da oficina o origami na perspectiva da cultura japonesa, enfocando o

simbolismo das dobraduras, destacando o significado do Tsuru. A fim de aproximar as

participantes da cultura japonesa, foi exposta a lenda dos mil Tsurus, pois no ano de 2018

a imigração japonesa no Brasil completa 110 anos. Hirose explica a lenda da seguinte

maneira:

Por que mil? Ninguém tem uma explicação certa. Uns dizem que é por causa

do provérbio japonês que diz “Tsuru mil anos; tartaruga, dez mil”, símbolos

da longevidade. Outros dizem que é porque o número 1000 simboliza “muita

quantidade”, ou seja, há uma crença popular de que ao dobrar 1000 grous de

papel o doente tem uma recuperação completa e o desejo de longevidade se

torna realidade. Por essa razão, muitas vezes, são presenteados aos pacientes

internados nos hospitais.

Conheci a seguinte história aos meus 10 anos, em Hiroshima, e me fez

compreender o poder do Origami. Vejamos como a história de uma menina é

apresentada no Museu de Hiroshima:

Expostos à bomba atómica lançada sobre Hiroshima aos seus três anos, Sadako

Sasaki apresentou a doença por radiação somente depois de 10 anos, quando

ela estava no 6º ano de escola. Durante os meses de internação, ela soube do

poder dos mil tsurus e pôs-se a dobrar seus pássaros. Os familiares e amigos

viam o empenho de Sadako nessa tarefa e, uma vez concluída, vendo que não

obtivera a cura, a menina reemprendeu o trabalho, dedicando o segundo milhar

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para os sacrifícios dos pais para pagar pelo seu tratamento. Até que a morte

interrompeu essa sua determinação. Na cerimônia de despedida, o pai entregou

a cada um dos colegas, professores e amigos um dos Origamis de Sadako.

Após a morte de Sadako, seus colegas de classe assumiram como legado o

desejo da sua amiga criando um monumento em homenagem a todas as

crianças que morreram no bombardeio atômico. Nesse ano, 1955, ocorreu em

Hiroshima uma reunião de dirigentes de escola (Fundamental II) de todo o

Japão e os colegas de Sadako convenceram esses educadores a criar uma

estátua de bronze de nove metros de altura, inaugurada, três anos depois de sua

morte. É uma figura de uma menina segurando um tsuru de origami. No

monumento, uma placa, em poucas palavras, resume o sentimento de todos:

"Este é o nosso clamor. Esta é a nossa oração. Para construir a paz neste

mundo.” (2017, p. 12-13).

Segundo Hirose a explicação do tsuru é baseada na ave japonesa, Grou:

O Tsuru que aparece no origami se inspirou nessa ave chamado grou japonês.

Ela é um patrimônio natural protegido pelo país e é visto como a representação

do próprio Japão. É um pássaro do leste asiático, um dos mais raros que pesa

de 8 a 12 kg e mede, aproximadamente, 120 cm a 150 cm e quando abre as

asas pode medir até 240 cm. Ele apresenta uma coloração branca no corpo e

nas asas, e preta no pescoço e na ponta das asas. É reconhecido pelo capuz

vermelho na cabeça que na verdade é a própria cor da pele que aparece e não

a cor da pena, tal como a crista do galo. O grou japonês é considerado sagrado

pela sua figura formosa e alva, de nobre aparência. É um pássaro símbolo

reconhecido entre todos os japoneses. Chamado pela cultura Ainu 10 de

“Shitsugen no kami” (deus do pantanal). Dizem que quem vai na imensidão da

natureza onde eles ficam no inverno e presencia ao vivo o vôo e o pouso do

grou erguendo sua enorme asa nos campos esbranquiçados de neve,

experimenta um arrebatamento de admiração. O espectador sente-se estar

diante de algo sagrado, como o gracioso revoar dos anjos. Por esse imaginário

místico que a sua figura traz, desde antigamente considera-se o tsuru um

pássaro que traz um prenúncio de boa sorte. (2017, p. 9).

Após a apresentação dos conceitos e abordagens do origami, propôs-se às participantes a

prática da dobradura e cada participante recebeu um kit com papéis, miçangas e linha para

construção de um móbile de tsuru. Com a mediação da oficineira, cada participante fez o

passo a passo, as dobras no papel até transformá-lo no tsuru, conforme as figuras 1, 2, 3

e 4. Nesse sentido, as imagens aqui, nos possibilita demosntrar/ilustrar o processo das

etapas da oficina.

Figura 1 – Participante praticando a dobradura

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Fonte: Elaborada pela autora.

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Figura 2 – Participante praticando a dobradura

Fonte: Elaborada pela autora.

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Figura 3 – Participante praticando a dobradura

Fonte: Elaborada pela autora.

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Figura 4 – Participante praticando a dobradura

Fonte: Elaborada pela autora.

2. ANÁLISE DA OFICINA

A oficina de origami foi bem quista pelas participantes, pois é uma excelente prática que

pode desenvolver significativamente o ensino e aprendizado. O origami é uma

interessante atividade de adestramento motor, para todas as idades, não requer aptidões

especiais, e sem maiores esforços, proporciona um entretenimento criativo e instrutivo,

já que é possível criar uma infinidade de formas. Na área pedagógica, constrói saberes,

desenvolve a disciplina e harmonia, incentiva a criatividade, concentração e coordenação

motora. "O origami, como material pedagógico, faz com que as crianças aprendam o

sentido da precisão e tenham uma percepção melhor de como transformar uma folha

bidimensional em tridimensional.” (MUNARI, 1987, p.49).

Para avaliação da oficina pelas participantes foi aplicado um questionário no término das

atividades propostas. A primeira questão levantada foi: após a participação nesta oficina,

você considera ser possível utilizar as técnicas do origami como recurso lúdico

pedagógico para enriquecer as práticas docentes possibilitando o ensino aprendizagem,

na perspectiva do desenvolvimento integral? Justifique.

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A esse questionamento a participante A, respondeu: "Sim, pois o origami pode ser

utilizado para trabalhar formas geométricas, memória, habilidades manuais e

concentração, além de ser lúdico atraindo mais a atenção das crianças". A participante B:

"Sim, além de um recurso lúdico o qual chama a atenção das crianças, também desenvolve

muitas áreas como atenção e coordenação, fundamentais no desenvolvimento infantil". A

participante C: "Sim, a prática do origami seria um recurso que chamaria muito atenção

e iria contribuir muito no desenvolvimento motor e na coordenação, propondo a

integração da criança, e também pode contribuir para integrar a paz e os sentimentos

bons". A participante D: "Sim. O origami é uma técnica bem avançada na qual sua prática

estimulará a imaginação da criança, onde ela se vê capaz de ir muito além daquela

dobradura". A participante E: "Sim, pois através desta prática podemos trabalhar a

concentração, habilidade e memória da criança e ainda acaba se inserindo em outras

culturas, no caso a oriental". A participante F: "Com certeza é uma técnica possível, pois

é uma possibilidade de estimular o desenvolvimento motor do estudante assim como

despertar o gosto pela arte". A participante G: "Sim, trabalhar com origami com as

crianças, para o desenvolvimento e aprendizagem integral, pois envolve muita

concentração e participação das mesmas".

A arte do origami é uma das poucas técnicas trabalhadas com alunos que

permite praticar a ligação entre a mente, mãos e olhos, ou seja, a capacidade

de criar objetos guiados pelo cérebro sob a intervenção da visão. Entre os

benefícios visados pelo uso do origami pode destacar: exercício psicomotor

dos estudantes, coordenação, desenvolve a sua criatividade e originalidade, e

fornecer aos professores uma ferramenta de apoio ao expor vários temas e

assuntos (MENEZES, 2018, p. 4).

Outro questionamento feito às participantes foi: Essa oficina contribuiu de forma

significativa, acrescentou conhecimentos que poderão ser utilizados por você?

A participante A respondeu: "Sim, além de enriquecer nossa cultura a respeito da história

dos japoneses, aprendi a técnica da dobradura". A participante B: "Sim com certeza, visto

que o mesmo é tido como "difícil" "complicado" a oficina contribuiu para desmistificar

esse preconceito facilitando a compreensão de como fazer, que certamente pode ser

utilizados posteriormente. A participante C: "Sim, poderão ser usados por mim como

terapia calmante, pois percebi que é uma prática de fácil desenvolvimento e confecção.

A participante D: "Sim e muito, pois com a prática é possível dar aula de dobradura para

as crianças". A participante E: "Sim, contribuiu no enriquecimento das metodologias que

poderei usar quando me formar". A participante F: "Uma aquisição de conhecimento

riquíssima, com certeza agregou muito a minha prática docente". A participante G: "Sim,

aprender essa prática e um pouco dessa cultura foi muito gratificante e significativa para

desenvolver futuramente como professora".

O origami, além da grande satisfação que você tem quando você terminar de

dobrar qualquer forma, oferece a possibilidade de desenvolver talento,

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criatividade, habilidade, paciência, sabedoria e inúmeros ensinamentos para

praticar esta arte. (GARCIA-GUTIERREZ, 1991, p. 10).

O último questionamento feito às participantes: Aponte aspectos positivos e negativos

desta oficina de origami, e se possível faça suas sugestões.

A participante A: "Positivos: disseminação de técnicas e atividades diferenciadas.

Negativos: pouco tempo de oficina". A participante B: "Aspecto muito positivo é a

contribuição para a prática pedagógica mais lúdica. Aspecto negativo, não foi acessível

para um número maior de pessoas, poderia ser realizado na formação acadêmica, seria

interessante. A participante C: "A prática de desenvolvimento foi muito boa e simples,

foi fácil acompanha o desenvolvimento". A participante D: "A dobradura incentiva a

prática da paciência e da concentração". A participante E: "Teoria e prática, dois aspectos

muito importantes e significativos para o desenvolvimento dessa oficina, foi muito bom

participar e aprender fazer o Tsuru ótima oficina". A participante F: "Não existiram

aspectos negativos. Senti desejo, de me desafiar a aprender coisas novas, desenvolver

novas técnicas, aprender para poder ensinar melhor". A participante G: "Os positivos é

que trabalha memória e a concentração, aspecto negativo é que é um tanto complexo e

para assimilar você precisa praticar".

[...] um recurso pedagógico facilita a compreensão e assimilação do

conhecimento pelos alunos, sendo uma ferramenta eficaz no trabalho

educativo dos docentes. A arte do origami é um recurso dinâmico que está

distante das aulas expositivas tradicionais, propiciando aos alunos habilidades

artísticas que permitem adquirir um conhecimento mais prático, motivador e

interessante. (MENEZES, 2018, p. 7).

Assim, é essencial que sejam selecionados recursos que auxiliem o aluno a pensar a

compreender e apropriar-se dos conhecimentos, esses recursos devem servir de apoio ao

professor na mediação do conhecimento, visando o sucesso dos processos de ensinar e

aprender na vida escolar dos alunos. Nesse sentido, o desenvolvimento do ser humano

está intimamente ligado aos processos de aprendizagem, permitindo experiências

transformadoras, pois ao aprenderem, as pessoas se modificam.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As práticas pedagógicas precisam ser eficazes para favorecer a construção de

conhecimento nos educandos. É relevante transpor as velhas didáticas de ensino, na qual

o professor era tido como detentor do saber e recorrer a ferramentas lúdicas pedagógicas

que sejam capazes de tornar o processo de ensino aprendizagem prazeroso e significativo.

Segundo Cantero:

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Surge então de forma instigante, a necessidade de buscar cada vez mais o

aperfeiçoamento contínuo, adotando uma prática mais reflexiva, adquirindo,

deste modo, uma identidade de habitus, o que possibilita uma conscientização

sobre a responsabilidade de ser professor e do papel que este deve assumir na

produção do fracasso ou do sucesso dos alunos. (2007, p. 293).

Nesse sentido, ao utilizar o origami como prática lúdica pedagógica haverá contribuição

para que o aluno perceba de forma concreta o conteúdo trabalhado. Ao propor uma oficina

de origami possibilitou-se a percepção das inúmeras possibilidades que se pode recorrer

a fim de tornar o trabalho docente expressivo.

Através da oficina, as participantes constataram que o origami é um recurso que agrega à

educação conhecimentos, podendo ser usado desde a educação infantil ao ensino médio.

É também um recurso para a inclusão escolar, já que a partir das dobraduras, pessoas com

baixa visão ou cegueira poderão ter contato com dimensões que jamais teriam.

Nas considerações de Paulo Freire:

Você, eu, um sem número de educadores, sabemos todos, que a educação não

é a chave das transformações do mundo, mas sabemos também que as

mudanças do mundo são um que fazer educativo em si mesmas. Sabemos que

a educação não pode tudo, mas pode alguma coisa. Sua força reside exatamente

na sua fraqueza. Cabe a nós pôr sua força a serviço dos nossos sonhos. (1991,

p. 126).

Cabe aqui ressaltar que o ensinar, é construir uma prática que também é permeada pelos

sonhos, desse modo, a prática pedagógica precisa discutida numa perspectiva crítica, isto

porque, para o autor ensinar e educar não é adestrar, mas sim, construir conhecimentos,

caminhos na perspectiva da promoção intelectual, cultural, e social do ser.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes

Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEB, 2010.

CANTERO, Jesuína Maria de Morais. A formação continuada dos professores:

reflexões sobre a prática pedagógica. Campo Grande, MS: Ed. UFMS, 2007.

CHALORT, Bernard. Relação com o saber, formação de professores e globalização:

questões para educação hoje. Porto Alegre: Artmed, 2005.

GADOTTI, Moacir. Convite à leitura de Paulo Freire. 2° ed; São Paulo: Scipione,

1991.

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GARCIA-GUTIERREZ, J. G. Como Hacer Figuras de Papel. Madrid, Espana: AKAL,

1991.

LEHENBAUER, Silvana et al. (Org.). O ensino fundamental no século XXI: questões

e desafios. 1°. ed. Canoas: Ulbra, 2005.

LIMA, Terezinha Bazé de; BRITO, Angela Maria. Metoologia para a Educação

Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental: Fundamentos, Organização e Prática

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http://www.fai.com.br/portal/ojs/index.php/omniahumanas/article/view/229 Acesso em:

20 JUL 2018.

* Centro Universitário da Grande Dourados (UNIGRAN), graduanda do curso de

Licenciatura em Pedagogia presencial. ** Centro Universitário da Grande Dourados (UNIGRAN), graduanda do curso de

Licenciatura em Pedagogia presencial.

***Centro Universitário da Grande Dourados (UNIGRAN), professor do curso de

Licenciatura em Pedagogia presencial, Mestre em educação.