3
1 SETOR DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES - SCHLA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA DISCIPLINA: TÓPICOS ESPECIAIS EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS – HC807 PROFESSORES: DR. ALEXSANDRO EUGÊNIO PEREIRA ALUNOA: JOSÉ RICARDO MARTINS DATA: 17 DE NOVEMBRO DE 2010. UNIDADE III: SEGURANÇA INTERNACIONAL: ABORDAGENS TRADICIONAIS E ABRANGENTES. Resenha do artigo “O papel de síntese da Escola de Copenhague nos estudos de segurança internacional” de Maria Guedes Duque. A Escola de Copenhague conseguiu se destacar no cenário dos estudos de defesa pelo aporte inovador de sua epistemologia e temáticas de estudo. Barry Buzan é seu principal representante. A autora do artigo, Marina Guedes Duque, faz um apanhado histórico dos estudos de segurança. Estes eram divididos entre (i) estudos estratégicos, sendo predominante nos Estados Unidos e mundo afora, e (ii) estudos para a paz. Esta última área, não tendo tanta repercussão, foi predominante na Europa e “enfatizavam as concepções de sociedade internacional e segurança internacional” (p. 462). Os estudos de segurança, fortemente influenciados pela Segunda Guerra Mundial e sobretudo pela Guerra Fria, refletiam os temas da teoria das Relações Internacionais. Antes da Segunda Guerra Mundial, esta área de estudos era domínio exclusivo dos militares e do Direito Internacional.

Resenha DUQUE, Marina Guedes_O papel de síntese da Escola de Copenhague

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Resenha DUQUE, Marina Guedes_O papel de síntese da Escola de Copenhague

1

SETOR DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES - SCHLAPROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA POLÍTICADISCIPLINA: TÓPICOS ESPECIAIS EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS – HC807PROFESSORES: DR. ALEXSANDRO EUGÊNIO PEREIRAALUNOA: JOSÉ RICARDO MARTINSDATA: 17 DE NOVEMBRO DE 2010.

UNIDADE III: SEGURANÇA INTERNACIONAL: ABORDAGENS TRADICIONAIS E ABRANGENTES.

Resenha do artigo “O papel de síntese da Escola de Copenhague nos estudos de segurança internacional” de Maria Guedes Duque.

A Escola de Copenhague conseguiu se destacar no cenário dos estudos de

defesa pelo aporte inovador de sua epistemologia e temáticas de estudo. Barry

Buzan é seu principal representante.

A autora do artigo, Marina Guedes Duque, faz um apanhado histórico dos

estudos de segurança. Estes eram divididos entre (i) estudos estratégicos, sendo

predominante nos Estados Unidos e mundo afora, e (ii) estudos para a paz. Esta

última área, não tendo tanta repercussão, foi predominante na Europa e

“enfatizavam as concepções de sociedade internacional e segurança internacional”

(p. 462).

Os estudos de segurança, fortemente influenciados pela Segunda Guerra

Mundial e sobretudo pela Guerra Fria, refletiam os temas da teoria das Relações

Internacionais. Antes da Segunda Guerra Mundial, esta área de estudos era

domínio exclusivo dos militares e do Direito Internacional.

Os estudos de segurança estão fortemente influenciados pelo positivismo.

Estes ganham força epistemológica com Kenneth Waltz com a publicação de

Teoria da política internacional em 1979 que consolida a concepção de ciências

sociais positivista.

Contudo, nos anos 1980 e 1990, tem-se uma nova concepção de segurança,

mais ampla. Passam a fazer parte da agenda de segurança temas como: recursos,

meio-ambiente, demografia, ameaças não militares e internas, economia, ecologia,

fatores domésticos da segurança e ameaças transnacionais. Ou seja, os estudos

Page 2: Resenha DUQUE, Marina Guedes_O papel de síntese da Escola de Copenhague

2

de defesa deixam de ser exclusivamente militar e como parte da teoria

realista/neorealista para abordar questões amplas da sociedade. Autores que

contribuíram para esta mudança foram: Mathews, Ullman e Haftenddorn.

Em seguida a autora demonstra que o construtivismo ganhou espaço sobre

o realismo e neorealismo na teoria das Relações Internacionais baseado em três

fatores: (i) a importância das idéias na análise das relações internacionais – e não

apenas o meio material advogado pelo realismo; (ii) a relação agente-estrutura; e

(iii) a natureza das explicações, que não eram mais apenas racionalistas.

“A distribuição relativa de capacidade entre os Estados” (p. 467) é essencial

para compreender o conceito de estrutura. Este está igualmente conectado à idéia

de anarquia de Watz, mas no estruturalismo adquire a significação dada por

Wendt: “a anarquia é aquilo que os Estados fazem dela” (p. 467). Agente-estrutura

constitui, portanto, um processo dinâmico que inclui mudanças sociais trazidas

pelos agentes. Dessa forma, o conceito de segurança saiu das “amarras”

militarista-realista e ganha dimensão ampla, chegando mesmo a incorporar

conceitos pós-modernos como relações sociais de poder.

É nesta vertente abrangente que se insere a Escola de Copenhague, que

também vê a segurança como ameaça não militar e no discurso, como “redefinição

do significado de segurança como ato de fala” (p. 473). Este aspecto remete ao

pós-modernismo foucaultiano. Buzan é o principal expoente dessa escola. Suas

principais contribuições são: (i) o conceitos de securitização; (ii) as novas unidades

de análises de segurança; e (iii) a abordagem multissetorial da segurança (p. 477).

Esta última refere-se ao alargamento da concepção de segurança, englobando

novos temas mencionados anteriormente.

O conceito de securitização se interroga pelo próprio conceito e significado

de segurança. De mesmo, afirma que “a condição de hostilidade resulta de uma

relação construída socialmente” (p. 478).

Em suma, com a Escola de Copenhague, segurança deixa de ser um

conceito exclusivamente militar, tornando-se também social e sobretudo político,

aportado com o conceito de securitização, o que fornece uma nova agenda de

pesquisa em estudos estratégicos, de segurança e defesa.

FONTE: DUQUE, Marina Guedes. O papel de síntese da Escola de Copenhague

nos estudos de segurança internacional. Contexto Internacional, Rio de Janeiro,

vol. 31, n. 3, setembro/dezembro 2009, p. 459-501.