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PAPÉIS AVULSOS 25 Vera Lins Gonzaga Duque: crítica e utopia na virada do século FUNDAÇÃO CASA DE RUI BARBOSA MINISTÉRIO DA CULTURA RIO DE JANEIRO 1996

Gonzaga Duque Ensaio

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ensaio sobre a obra de Gonzaga Duque

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PAPIS AVULSOS 25Vera LinsGonzaga Duque:crtica e utopia na virada do sculoFUNDAO CASA DE RUI BARBOSAMINISTRIO DA CULTURARIO DE JANEIRO 1996Presidente da RepblicaFernando Henrique CardosoMinistro da CulturaFrancisco WeffortFundao Casa de Rui BarbosaPresidenteMario Brockmann MachadoDiretora ExecutivaRosa Maria Barboza de AraujoDiretor de AdministraoAlberlandino SilvaDiretor do Centro de Memria e DocumentaoJayme ZettelDiretor do Centro de PesquisasJos Almino de Alencar e Silva NetoChefe do Setor de FilologiaAdriano da Gama KuryISBN 8570041829Lins, VeraGonzagaDuque:crticaeutopianaviradadosculo/VeraLins. Rio de Janeiro: Fundao Casa de Rui Barbosa, 1996.32 p. (Papis Avulsos; 25)1. Duque, Gonzaga, 1863 1911 Crtica e interpretao. I.Fundao Casa de Rui Barbosa. II. Ttulo. III. Srie.CDU 869.0 (81) Duque (G.) .06Gonzaga Duque: crtica e utopia navirada do sculoEste ensaio foi redigido a partir da tese de DoutoradoemTeoriadaLiteraturaNovospierrs,velhossaltimbancos:avisocrticadeGonzagaDuque, defendida por Vera Lins na Faculdade deLetras da UFRJ, em abril de 1995.45Gonzaga Duque: critica e utopia na virada do sculoFazer crtica nesta abenoada terra de reclames, parece arrojose no demncia.GONZAGA DUQUE1A ironia de Gonzaga Duque, ao se referir crtica em terra de reclames,configura uma cena em que a mercadoria roubou o espetculo. Nos anncios, nas vitrines, nos episdios de rua que aparecem em Mocidade Morta, seimpe e exerce sua seduo:A multido noctmbula passava. Vultos encapotados entrecruzavamse pelaestreiteza da rua; burguesinhas amaridadas, abrindo olhares cobiosos para asvitrines iluminadas, seguiam pelos braos de seus homens circunspectos; algumas toaletes de teatro eram adivinhadas sob os metros confeccionados decasimiras water proof.2Gonzaga Duque escreve no Rio de Janeiro entre 1888 e 1911.Com ele searticula o primeiro grupo simbolista carioca, em torno da revista Folha Popular.Ficcionista,crticode ArtesPlsticasetambmhistoriador,seustextosrevelam uma concepo de arte e modernidade que faz lembrar Baudelaire.Em Parque Central, Walter Benjamin fala da boufonnerie de Baudelairecomo a conscincia de uma perda. Num mundo em que se profana tudo que sagrado, o bufo apontaria, com sua posio irnica, o vazio: Baudelaireviase obrigado a reivindicar a dignidade do poeta numa sociedade que notinha mais nenhuma dignidade a conceder.3 Para viver dignamente os tempos modernos, preciso uma posio herica de recusa transformao geral que opera a mercadoria. Mas esse heri moderno apenas representa umpapel. O desejo de ir contra a marcha do mundo, resistir ao efmero e fugaz,acompanha a conscincia de sua impossibilidade e arma a cena trgica.Para Baudelaire a modernidade apenas uma metade da arte, a outra oeterno e imutvel. Sem desprezar ou prescindir desse elemento transitrio efugidio, necessrio extrair da modernidade a beleza misteriosa que a vida6humana involuntariamente lhe confere. Sua postura dupla marca um modernismo que difere do que as vanguardas que se seguem vo propor. Apenas caricatura do moderno, porque submetidas ao imperativo do tempo4, asvanguardas pregam a liquidao do passado em nome do novo, identificadocom o atual, a urgncia do momento.Os textos de Gonzaga Duque revelam uma conscincia trgica da modernidade, incomum na literatura brasileira. Trgico no o pattico, mas, sim, acrticaradicalquepropeareversodaordemdascoisas.Vseomundocomo aparncia, iluso, e se pretende virlo do avesso, o que se traduz nabuscadeumaoutralinguagemcomaimaginaolivreparaultrapassarosensvel. Essa conscincia trgica a nica possibilidade de contraposio aootimismo progressista, s tentativas modernizadoras, identificao do pensamento como clculo.7O crtico da cultura: uma reviso da arte e da histriaEm A Arte Brasileira5, Gonzaga Duque conta como o artista Jos Leandro forado a encobrir, com camadas de cola, o retrato que pintava. A multidonacionalista,enfurecida,noqueriasinaisdeestrangeirosnopaseexigiaque se destrusse o quadro, um retrato de D. Joo VI, mulher e filhos, em queo pintor se orgulhava de estar fazendo seu melhor trabalho. A multido forao prprio pintor a apagar sua obra. Gonzaga Duque ressalta a violncia doato:Os patriotas no cediam. Em grupos, pelas ruas, vibrando cacetes, exaltados, ostentando no topo do chapu posto banda fitas distintivas com as coresdo pavilho nacional, pediam o devastamento do painel. Afinal Jos Leandroapareceu.Eraumhomemalto,cheiodecorpo,obeso,olhartristonho,afisionomiagrave. Entrou na capela. Diversas vozes partiram da multido [...]O artista entrou plido, os olhos fixos no cho. Atrs dele vinha um aprendiz trazendo uma caarola e uma brocha. As portas do templo estavam fechadas; no recinto, no coro, alguns rapazolas empregados em acolitar os sacerdotes nos ofcios espiavam para a rua atravs das vidraas. Puseram ao lado doaltarmor uma escada, o artista subiu por ela e l do alto comeou a brochar opainel. A mo tremialhe; copioso suor de febre inundavalhe o rosto, mas enrgicoeresignado,ialentamentepassandoerepassandoabrochauntadadecola. O berreiro da multido ecoava longe como um som abafado de trovoque vai rolando pelo infinito.[...]Desde esse tempo Jos Leandro desapareceu.A imagem se torna emblemtica do que tem acontecido na arte e na literatura brasileiras, inclusive com a escrita de Gonzaga Duque. O mesmo sacrifcio sofre Cruz e Sousa na viso curta do naturalismo evolucionista de JosVerssimo,quevnasuapoesiaapenasoressoardostamboresafricanos.Exercese na crtica uma razo que no capaz de apreender o paradoxo, apluralidade de experincias, o que excede seu quadro da realidade. Uma lutaaparentemente progressista mostrava, no entanto, total incompreenso comaarte,queficavaobrigadaaseajustaraomomento,aonacionalismoimediatista. Como se com a cultura, no Brasil, acontecesse o mesmo que comoquadrodeJosLeandronumconstanteapagamento,camadasdecolaobscurecessem as imagens que se produzem, assim obstruindo os sentidosque podem trazer tona. Vai ficando em falta, incompleta, frgil, sem hist8ria, quer dizer, sem memria e imaginao. O crtico aponta uma sociedadeque apaga suas produes em nome do novo, enquanto o mais recente; emque a arte no tem autonomia como reflexo. Criase uma linguagem de exclusesesilncios.GonzagaDuquevaipreencheressaslacunas,aotrazerimagensesquecidasecontarumahistriadaarteedapolticabrasileirasapenasesboadaoudeixadadeladopelahistoriografiaoficial.Emvezdeuma dimenso teleolgica, que marca a modernidade esclarecida e progressista, o tempo com que trabalha o da memria, buscando imagens do passado para produzir novos smbolos. Sua inteno refazer uma tradio criticamente.No livro Revolues Brasileiras6, Gonzaga Duque tenta recontar a histriado pas pelo lado libertrio, suas revolues, como ele denomina o que atentoeraconsideradoapenasrusgas.Revoluoimplicatransformao.Inicia com a imagem da revolta dos negros de Palmares, com Zumbi, comouma iluminao antecipatria, imagem que pode provocar uma transformao radical. Ele mesmo diz que o Quilombo dos Palmares serviu de exemplostnuesaspiraesrepublicanasdochefedaGuerradosMascates,que, paradoxalmente, foi um dos destruidores do povoado de negros.Enquanto as armas lusobrasileiras chocavamse nos campos de batalha deencontro ao ao batavo, aceirado nas forjas de Amsterd e de Haia, quarentanegros que o trfico tinha roubado s trridas regies da frica, unindose aum pequeno nmero de mulheres parceiras, fugiam dos engenhos do PortoCalvo para os sertes circunvizinhos, confinados com as Alagoas.Galgando a serra spera, lutando com a fulva ona feroz e os devastadoresqueixadas bandeiros, afugentando os terrveis rpteis peonhentos, eles escolheram um stio agreste e a fundaram o grande Quilombo dos Palmares, ondeviveram vida independente e social durante sessenta e cinco anos!Sobre os passos dos primeiros, outros vieram e, a pouco e pouco, as choasforam surgindo dentre a ramagem densa da floresta como uma cidade rstica.De outros distritos, de outros lugares, chegavam escravos foragidos e os doquilombo embrenhavamse cautelosamente na solido das matas, desciam paraos amanhos dos engenhos ao encontro dos cativos para segredarlhes a direo do couto, onde a liberdade tinha levantado pela f crist um enorme cruzeiro tosco de Redeno7.Continua a narrar a Guerra dos Mascates, o Sete de Abril, a Cabanada, aRevoluoPraieira,eoutras,concluindocomaRepblica. Afirmaquesuainteno contar o que no fora contado: essas sucessivas e sangrentas guerras que vieram conduzindo a nova nao sulamericana posse do governodo povo pelo povo. Ao recriar essas imagens por sobre as excluses, os apagamentos, obra de rasura que uma razo dominante vai operando, GonzagaDuque se aproxima da concepo histrica messinica de Benjamin, para quemo passado s pode retornar recriado, num momento de perigo. Compe, em9Revolues Brasileiras, de 1898, uma histria poltica margem da histria oficial. O incio do livro com Zumbi dos Palmares d a dimenso da repblicano desejo de Gonzaga Duque como uma insurreio que invertesse a ordemdas coisas, dentro de uma tradio libertria.Para Ernst Bloch8, a utopia resiste a uma realizao, ela sempre desejo doqueaindano.Comoconscinciadequealgoestfaltando,pressupeaidia de totalidade, porque acredita numa reverso total: o desejo de mudarcompletamenteatotalidade.Suafunoessencialareflexosobreoqueest presente. Numa discusso entre Bloch e Adorno, este diz que a utopiaest essencialmente na negao determinada do que existe apenas por existir.No se sabe o que , mas o que no a utopia. Para Adorno as pessoas perderam a imaginao de que a totalidade poderia ser diferente. No entanto, ela uma aspirao, assim como o infinito e o absoluto, para uma razo como apostulavam os primeiros romnticos e os simbolistas. Mas, ao mesmo tempo,inatingvel. Segundo Schlegel, o que se chama comumente de razo apenasuma subespcie aquosa; h uma outra, espessa e incandescente9. Em Kant, osublime uma disposio do esprito que aspira ao absoluto. Este, no entanto, permanece apenas uma idia regulativa:Mas precisamente pelo fato de que em nossa faculdade da imaginao encontrase uma aspirao ao progresso at o infinito e em nossa razo, porm,umapretensototalidadeabsolutacomoaumaidiareal,mesmoaquelainadequaoaestaidiadanossafaculdadedeavaliaodagrandezadascoisas do mundo dos sentidos, desperta o sentimento de uma faculdade suprasensvel em ns10.Com a razo pragmtica e imediatista, banalizouse a utopia. Bloch, j em1964, diz que o socialismo perdera sua noo e, assim, tendia a se transformar numa nova ideologia para dominao. Segundo ele, a utopia propiciaum horizonte para a imaginao produzir formas. A imaginao utpica difere da mera fantasia, pois as idias da imaginao possuem uma existnciaainda no visvel, tm um modo antecipatrio. No so lembranas do passado,nemscombinamoquejexiste,mascarregamoqueexistenasuapotencialidadedeseroutro,antecipamumapotencialidadereal.Afunoutpica inclui a esperana, pois antecipa atravs de ideais ticos e estticos.No entanto, como a aposta de Pascal, o oposto da segurana. Mas o trgicotemacapacidadedeviveremmeioaincertezas,mistriosedvidas,semuma irritvel procura do fato e da razo, porque postula um absoluto quenopodemosconhecer,maspeloqualseafirmaaleimoralealiberdade.Uma razo transcendente, no sentido kantiano, que no tem sentido emprico,como uma faculdade de desejar cujo fim ltimo a liberdade, acolhe a imagi10nao que transborda os limites do entendimento e possibilita o vo do pensamento.A conscincia utpica cria a iluminao antecipatria uma imagem quepossibilita um rearranjo, uma transformao radical; imagem do ainda noconsciente, do que est margem, mas que pode se concretizar. Em Bloch,como nos romnticos alemes, h uma outra idia do novo, como este aindano consciente nada a inventar, mas o arcaico reatualizado, produzido deoutra forma, em constante metamorfose.A idia de recriar o mundo externo, de modo a refletir o interno, aindano consciente, tem afinidades com a concepo de revoluo pela poesia, deNovaliseSchlegel,paraquempoesiafilosofiaemitologia,i.,reflexoeimagens antigas reelaboradas, recriadas, infinitamente. Poesia uma outralinguagem, fico, que, ao questionar a representao, reverte a prosa, a linguagem comum. Para os romnticos, smbolo, alegoria, hierglifo e arabescoso uma mitologia indireta. Podese lembrar, para entender a noo de mitologia dos romnticos alemes, a leitura de Vico, do mito e do smbolo comoformas cognitivas, anteriores ao pensamento abstrato11. A afirmao de queh uma sabedoria potica que governa a relao dos antigos significa umacrtica noo iluminista de que o mundo racionalmente ordenado.Aoapostarnopensamentoenaimaginao,GonzagaDuque,emArteBrasileiraeRevoluesBrasileiras,tentarecriarumahistriadaarteeumahistria poltica por caminhos deixados de lado: Em arte, como em literatura, como em cincia, como em comrcio e indstria foroso ir alm do queh,dizele.Ressaltanaculturadopasopapeldonegro,cujapresenareprimidapelopoder.Aarte,segundoele,noBrasil,jnascedesprezada,como ofcio de negros e mulatos:As profisses letradas transbordam assustadoramente, enquanto as profisses diretamente produtoras passam s mos dos estrangeiros que, enriquecidos, constituemse conforme os seus interesses pessoais em fora motriz dessapoltica. Ora, sendo as profisses letradas as que maior interesse despertam aobrasileiro, claro que a arte, considerada at h pouco tempo um desprezvelofcio de negros e mulatos, medrada em pas onde no esto ainda desenvolvidos o luxo e bomgosto, ficasse destinada s classes pobres, aquelas que nopodiam educar convenientemente seus filhos para fazlos entrar nasAcademias12.V uma atuao negativa da Misso Francesa: A Colnia Lebreton concorreu involuntariamente para retirar de nossa arte a feio nativa e a originalidade. Com a Misso e a importao de um modelo trazido pelos artistasneoclssicos franceses se institucionaliza uma atividade que j se desenvol11via e, em liberdade, porque margem, exercida pelos negros e mulatos libertos.Com o ensinamento da Colnia desapareceram os nossos coloristas e paisagistas que a pouco e pouco se manifestavam para dar lugar a uma geraode artistas mais instrudos, porm menos habilidosos. Joo Debret, NicolauTaunay e Henrique da Silva desenvolveram o gosto pelos assuntos histricose pelo estudo da figura mas to desastradamente que, a partir desse tempo,os artistas se nos mostraram pretensiosos, frios, amaneirados13.Gonzaga Duque ressalta que a fora resiste nesta arte feita sombra. Nodiscurso de 1908, que termina o livro Contemporneos e abre o salo de artesplsticas da Exposio Internacional, diz que a sociedade no necessitavadeles, pois estava rudemente ocupada com coisas utilitrias14.Enquanto Watteau, o filho de um pobre mestre pedreiro em Valenciennes,rematandoadecadnciadaartefrancesacomaelegnciaeagraadasuabizarra fantasia nas ftes galantes, era animado e solicitado pelos amadores ricos,... os nossos pobres mestres pintores que enchiam de ingnuas imagens desantos os retbulos das igrejas e os oratrios das sacristias, eram humildes edesamparados; oriundos de famlias pauprrimas e sem nome, eles ganhavampor seu ofcio a subsistncia parca de cada dia com o mesmo direito e na mesma obscuridade que os rudes artfices dos misteres ignaros15.No pouco interesse pela arte e pela literatura como na prpria produoartstica do pas, Gonzaga Duque v a falta de pensamento, esprito, imaginao. Pergunta: como se pode ter uma arte onde no se tem pensamento eao? E, em todo o livro, se esfora por encontrar sinais de alguma reflexo,tantoantescomodepoisdaMissoFrancesa,nasimagensquenossaarteproduzia. Mas conclui:Todas as grandes obras acusam um grande torpor intelectual, nenhum pensamentosuperiorasveste,algumassoconcludascomenormepredileopeloacabamentoenorarascomcertahabilidade,mas,emessnciasenosapresentam com uma pobreza profunda16.Gonzaga Duque divide Arte Brasileira em trs perodos: Manifestao, de1695 at 1816 com o ensinamento da Colnia e a fundao da Academia deBelasArtes; o segundo, Movimento, de 1830 a 1870; e o terceiro, Progresso,que comea com Pedro Amrico e Vtor Meireles, designao que tenta exprimir a estabilidade do ensino acadmico e o maior nmero de produo eprodutores. Afirma que no se tem, nem no terceiro, uma escola brasileira, mas, apenas, manifestaes individuais, pois nossa arte no tem umaesttica nem no seu ensinamento existem tradies. Publicado em 1888, seulivro ressalta os pintores Castagneto, Almeida Jr. e Belmiro de Almeida. Dedica pginas Batalha do Ava, de Pedro Amrico, com uma descrio que12tenta acompanhar o delrio que diz ser a marca dos grandes quadros de batalha de pintores que, como Delacroix, abandonam o academismo:E que absurdo! tentar o movimento pela ordem na chapa acadmica, negaroprpriomovimento.Compreendamosbemqueomovimentoemumquadro de batalha o delrio, e no o movimento resultante da ordem de umagrupamento de pessoas pouco mais ou menos entusiasmadas17.Afirma que o artista completado aquele que tenha na imagem a traduo fiel de seu pensamento. Quem imita porqueno pode inventar.DeacordocomGonzagaDuque,apinturamodernatemquedeixarasgrandes cenas histricas, para ser a pintura da multido e do interior domstico, onde se configuram conflitos psicolgicos, como no quadro Arrufosde Belmiro de Almeida.Acusa o que chama de desnacionalismo e busca um pensamento nacional, que, em arte, no est na mera pintura de costumes, mas numa culturaesttica, que possa interpretar o que v:Os artistas que se inspiram na realidade tm em geral uma noo falsa daarte; os idealistas degringolam para o incompreensvel, acusando a decadncia de uma arte que ainda no teve estabilidade porque nunca teve unidade deexpresso. Uns chegam a estado prometedor e depois tombam rapidamente,outros estacionam para todo o sempre18.Denuncia a busca superficial do que seja arte brasileira. Por isso ataca apoltica romntica de idealizar o ndio como carter nacional. Na tela de Aurlio de Figueiredo Redeno do Amazonas, diz que o artista no quis darse ao trabalho de meditar sobre o assunto. Questiona a representao. Irritasecomoindianismoecomaidentificaodonegrocomorupoltico.Contra o extico, procura uma arte cosmopolita e universal, que possa pintara natureza da Amaznia.Ah! se o artista em lugar de encher a sua tela decorativa de tanta riqueza deestofos, colunas de mrmore, e tapetes e flores e nforas, tivesse pintado umapaisagemdo Amazonas,amatavirgemdaquelaregiovastssima!..Talveztivesse interpretado o assunto19.Aidiadeumaartebrasileira,paraGonzagaDuque,maiscomplexa.Contra a arte histrica e as alegorias nacionalistas, cita o exemplo de Puvis deChavannes, que no procura reconstruir pocas histricas nem criar alegorias, mas busca o smbolo, como a noo pura de que fala Mallarm.Noencontraumainterpretaodapaisagembrasileira.Grimm,oalemo que inicia a pintura de paisagem no Brasil fora do ateli, en plein air,formou sete artistas brasileiros, mas que no fizeram mais do que imitlo.Por isso, diz o crtico, ironicamente, o estudo deu sete Grimms20. Termina13afirmandoquenosfaltamestudosemeditaoparacriarumpensamentoindependente:NumpascolocadonasatuaiscircunstnciasemqueseachaoBrasil,sestudos longos e muita meditao podem elevar o artista a sua merecida posio e darlhe os elementos para sua independncia de pensar e agir.SegundoGonzagaDuque,contriburamparanossoestacionarismoaescravido, a violncia da metrpole com o trabalho de sangria que operouem nossas riquezas, o domnio dos jesutas sobre os ndios e a politicagem.Para ele, tnhamos uma incultura esttica em que o positivismo marcavalugar. Ao falar de um quadro, ironiza: como assunto est a lembrar livro demoral, talvez seja um ponto de esttica positivista. Batalha pela formao deuma cultura esttica, que contenha uma reflexo sobre as condies singulares do pas, mas afinada com uma cultura e uma tradio universais.Em Aranheiro da escola, relata a histria da Academia de BelasArtes edo enquistamento do poder na instituio, que resiste a qualquer mudana.Junto com alguns artistas jovens tenta fundar o ensino livre das Artes PlsticasnoRio.Ainsubmissodogrupoficcionalizadanoromance MocidadeMorta.Assim narra o episdio em Contemporneos21:Urgia entretanto remodelar a instituio, darlhe um regulamentode acordo com a poca moderna, refundir os seus moldes e inutilizar aquele compadriohumilhante. E em prol dessas idias, a mocidade acadmica levantouse combatendo o estacionarismo e a caturrice da Academia.ArticulamsecomDcioVilares, AurliodeFigueiredoeMontenegroCordeiro, que apresentam um projeto algum tanto calcado nos princpiosda escola comtiana, mas inegavelmente utilssimo e srio, dado que ele sofresse algumas pequenas modificaes. Transcreve as medidas que dissolviamaescolaeconcediamplenaliberdadeaartistaseaaspirantesaestettulo. O plano, no entanto, no logra a ateno do Governo. Os jovens artistas tentam um compromisso com Dcio Vilares, pintor e positivista, mas desistem, pois este tenta lhes impor o credo. Gonzaga Duque e seu grupo querem ir mais longe, desejam transformao, enquanto Dcio Vilares se junta iniciativaoficial,quenofazgrandesmudanas. Afinal,emdezembrode1890, promulgada a reforma da Academia, chamada agorade Escola Nacional de BelasArtes. Questo de rtulo, segundo Gonzaga Duque. Escolhemum novo diretor, um artista respeitado Rodolfo Amoedo. O crtico continuaafirmando que no era uma questo de nomes, mas de princpios, pois, rpido, Amoedo se envolve no aranheiro da escola, uma antiga teia de interesses. Inconformados, ele e seus amigos insistem e tentam, paralelamente, fun14dar oensino livre das Artes Plsticas do Rio de Janeiro, num barraco. poresses abusos que temos apreciado o plano inclinado pelo qual caminham ascousas de nosso pas, afirma, no texto sobre o escultor Correia Lima.15O crtico como cronistaSegundoNestorVtor,asituaodasArtesPlsticaseradeabandono:jornalistasemerosreprteresdisponveisnoinstantepassavamavistanosalo anual. E, ainda, quem escrevia era arbitrrio nos seus juzos:... pior, no entanto, quando a folha ou revista dispe de um crtico parao caso. Porque este, quase pela certa, s o porque tem o encargo de ser, noque o seja. E um homem j relacionado com os artistas, pois que os procurahabitualmente, e, como tal, simpatizando com estes, antipatizando com aqueles, no raro porque uns lhe do mais quadrinhos e outros menos. Mas entender propriamente daquelas cousas, ele no entende. um arbitrrio nos seusjuzos,irrisrioaosolhosdequempodeverporsi,masqueconcorreparaestabelecer falsas idias no meio sobre os objetos de que fala, para conservartudo mais ou menos no caos, como entre ns isso de pintura e escultura maisou menos se conserva22.Outroscronistastambmseocupavamdasartes,comoCarlosdeLaet,MeloMoraiseBethencourtdaSilva,e,entreossimbolistas,SilveiraNeto,ColatinoBarrosoeSaturninodeMeireles.MasHumbertodeCamposdizque Gonzaga Duque foi o homem de letras que nos deu a iluso de que possuamos vida artstica.Inicia sua trajetria pela imprensa oficial, em 1887, aos 22 anos, sob o pseudnimo de Alfredo Palheta, em A Semana. Carioca, sem diploma de bacharel,filho de um pai sueco, que no chega a conhecer (seu sobrenome da famliada me), suas origens e sua carreira so peculiares. Comea como pintor, depois escreve em jornais e revistas e somente aos quarenta anos se torna funcionrio pblico, diretor da Biblioteca Municipal.GonzagaDuquemolhaapenanapalheta,disseHumbertodeCampossobre sua escrita. Sua crtica se sabe um discurso e vaise fazendo tambmpor imagens. Na coletnea de artigos, Contemporneos, publicao pstuma,de1929,estosuascrnicassobreossaleseexposiesindividuaiseumartigo sobre caricatura, todos publicados primeiramente em Kosmos. Disfaradodeummerorabiscadordecrnicas,comoelemesmosechama,oescritor simbolista assim comenta o salo de 1905:Notrio,poucodistantedoGladiador,vejopassarasilhuetaornamentalduma esbelta senhora, encantadoramente cingido por um costumetailleur cor16de musgo. Num gesto rpido, em que a elegncia se confunde com a prtica, asua estreita e fina destra, em pelica branca arrebanha a saia. Descubro a linhade escoro dum borzeguim de verniz... ela galga os degraus. Ao enviesar nolanoesquerdo,emfrenteaonichoapanholheoperfil,derelance.claro.Tem a pupila negra. Negros lhe so os cabelos [...]Penso, um bom augrio. Compro a entrada e o catlogo. Subo. Biombosvermelhos, um espao curto. Levanto o olhar junto trave da porta, a nicaquedacessoaoSalodivididoemtrscompartimentos,umafigurafriaenegra me surpreende. Parece um corvo atalaiado. Atento melhor. um retrato23.A passante baudelairiana vai acompanhar sua reflexo durante o percurso, aparecendo e desaparecendo no texto, como nos vos entre os quadros.Logo depois de interpretar a viso da mulher como um bom augrio, distingue um corvo, smbolo de mau pressgio, que sua imaginao confunde nonegrume de um quadro com um retrato. Com este jogo irnico fez seu comentrio obra.Movendose entre sombras e sinestesias, figuras imaginrias se sobrepondo a reais, perfumes aturdindoo, continua a visita ao salo, perguntando asimesmo:Que que me aturde to deleitosamente?! H perto de mim a carcia dumasombra Volvo o olhar e dou com ele na esbelta senhora em costume tailleurcor de musgo. Suas pupilas negras, que so duas noites claras de lendas, fitamo retrato, por momentos; o fruto paradisaco de sua boca se entreabre24 ...O vulto da mulher desconhecida, misteriosa, que lhe escapa, liga desejo aimagem.GonzagaDuqueentranossalescomoBaudelaire,procuradeuma coisa rara: imaginao. Por isso, o mau agouro. Brinca, faz a pose de umflneur, como se lhe aborrecesse a incumbncia, mas discute seus conceitos eo que vai encontrando, definindo sua expectativa quanto a uma arte que nosejadecostumes,masumaprovadenossavidaemotivacerebraleumaafirmao de que somos algum.25Em meio a esse passeio, atrado pela figura e pelo perfume da desconhecida, pra frente pintura de Heitor Malagutti e coloca sua idia de arte, aofalar da tela meditada, em que se encontra algo de espiritual, resultante deuma idia concebida previamente:Certo que essa pintura no tem o atrativo comum dos quadrinhos de enfeite, um pedao de tela meditado longamente, durante horas de idealizao eao queimar duma cigarrilha. E dentro de sua aparente simplicidade encontrase algo de espiritual, que resulta duma idia preconcebida.26Malagutti um prrafaelita e Gonzaga Duque, um ruskiniano, cita Modernpainters e The seven lamps of architecture. Para Ruskin, os fundamentos de umateoria da arte se enrazam no sagrado, a grande arte e o artista autntico vei17culam idias fortes: o verdadeiro, o belo, o bom e o intelectual so idnticos.O valor da obra est ligado ao rigor moral do artista. Trazido para a Frana,atravs de artigos de Robert Monier de la Sizeraine, na Revue des Deux Mondes, na virada do sculo, suas idias repercutem aqui. Nele, como em WilliamMorris, se ligam preocupaes sociais e estticas. Para Ruskin, que, contra onaturalismo, defendia Turner e os prrafaelitas, a imaginao seria anterior pintura, e lhe forneceria os sentimentos.Todososgrandeshomensvemoquepintamantesdepintlo,vemnumamaneirapassivamuitasvezesaimagemmental,acredito,emhomens de imaginao mais clara que a imagem corporal. Pois o sentimentopotico, i., apenas emoo nobre no poesia. inerente em toda naturezahumana que merece o nome e se encontra mais pura geralmente no menossofisticado. Mas o poder de juntar, com a ajuda da imaginao, tais imagensque excitam esses sentimentos, poder do poeta ou daquele que produz.27Nestor Vtor diz que Gonzaga Duque preferia os artistas mais cerebrais:No nos escapa a secreta preferncia que vota Gonzaga Duque pelos artistas de vida interior patente. Uns e outros, os mais refinados, mais cerebrais, jorando pela extravagncia, so visivelmente seus prediletos.28A concepo o ponto de partida: o artista tem uma concepo prpria eprocura no real a transmutao do quanto idealiza.29 A arte uma atividadeintelectual, que reflete sobre a condio humana; a imaginao saber e contm o esprito crtico. No mesmo salo, contra a pintura documental de umDallAra, assim defende a pintura simbolista de Malagutti:Da provm a fixao intencional do artista que pretendeu e conseguiu darao quadro o carter prrafaelita dos estetas rebelados contra a tendncia copiadora da arte contempornea... sua obra um documento dos cismas estticosque se controvertem modernamente e tambm afirmao duma individualidade inconfundvel.30O simbolismo inclui os prrafaelitas ingleses, que criavam imagens chocantes para a Inglaterra vitoriana, pois buscavam nos artistas do Quattrocento,como Fra Angelico e Botticelli, uma pintura que se opunha tradio naturalista renascentista. Pintavam cenas religiosas, mitolgicas ou literrias comuma exatido fotogrfica, dandolhes veracidade indubitvel, um hiperrealismo que fora a crena no que h de mais etreo e mais imaterial. Baudelaire j vira que, na modernidade, esta crena se enfraquece:Dia a dia a arte diminui o respeito por si mesma,prosternase diante darealidade exterior e o pintor tornase cada vez mais inclinado a pintar no oque sonha, mas o que v. No entanto uma felicidade sonhar, e era uma glriaexprimir o que se sonhava; mas que estou dizendo; ele ainda experimenta essafelicidade?[...]18No ser permitido pensar que um povo cujos olhos se acostumam a considerar os resultados de uma cincia material como os produtos do belo nodiminusse singularmente ao cabo de certo tempo a faculdade de julgar e desentir o que h de mais etreo e de mais imaterial.31Os impressionistas, em contraposio, seguem a tendncia a pintar no oque sonham, mas o que vem e, por isso, recebem o ataque de Gauguin (paraquem o centro artstico o crebro) de que pintam com os olhos e no com ocentro misterioso do pensamento. O intelectualismo que marca Baudelaire eosromnticosalemesestpresentenossimbolistase,depois,emartistascomo Duchamp e correntes conceituais contemporneas.A concepo de Gonzaga Duque de arte como idia esttica. Conceitokantiano,aidiaesttica,quemaisdoquesepodepensarempalavras,permite a transcendncia do abismo entre o sensvel e o suprasensvel. Estna linguagem da poesia e expressa o que inexpressvel na idia racional,pois a representao qual nenhum conceito adequado. As idias aspiramaalgosituadoacimadoslimitesdaexperinciaesoirrepresentveisnum sentido lgico. Com isso se esboroa o naturalismo que ficava preso aosfenmenos, empiria. A matria pode ser elaborada por aquilo que ultrapassa a natureza, o esprito. A arte domnio tambm da reflexo, que um purojogo da imaginao.Um artigo em Contemporneos sobre a caricatura revela a importncia quelhe dava Gonzaga Duque. A ironia e o grotesco so produtos de uma reversoqueoolharopera.Paraele,acaricaturaumesquema,sintetizacomespontaneidade as caractersticas do que olha e pode assim criticar, demolidorae irreverente. Numa sociedade parada, em que o mximo acontecimento eraochsdezdanoite,oaparecimentodeumafolhadecaricaturacomooBazarVolanteseigualavaprovocaocausadapordoisteatros,o AlcazarLyrique e o El Dorado. Ao falar de Raul Pederneiras, diz que a caricaturasailheespontnea,surgeinesperadadeseulpis,completadanumjato,como se a mo copiasse, automaticamente, o que est na viso interior do artista,quediremostemapropriedadedeformadoradessesconhecidosespelhos de inverso tica.32Por isso seu entusiasmo com o poder crtico de um trao que no imita,mas deforma, inverte. No artigo diz que o caricaturista v o ridculo por ummodo sinttico e lcido e pode exprimir pelo desenho, dando corpo a todasas idias e pensamentos, concretizando o trabalho em seu crebro por imagensmateriais.ParaBaudelaire,naverdade,todososbonseverdadeirosdesenhistas desenham a partir da imagem inscrita no prprio crebro e no apartir da natureza.19Noquadrodeumfrancs,GonzagaDuquedestacaaluzaturdidora,aferienaselvagemclaridadedummeiodiadostrpicos.Suainsistnciacom a luz e a luz tropical notada por Gilda de Mello e Souza33, mas no oaproxima das experincias sensveis, retinianas, dos impressionistas.Se, como afirma Kant, a faculdade da imaginao pode criar uma outranatureza, a partir da matria que a natureza efetiva lhe d, natureza no nosfalta,reconheceGonzagaDuque,nocomentrioaoquadroRedenodoAmazonas, de Aurlio de Figueiredo. Nossa paisagem ampla, um espaognstico, como viria a entender Lezama Lima, espao que instaura uma afirmaoeumasadaparaocaoseuropeu.Faltafixaraluztropical,oqueGonzaga Duque, continuamente, reclama aos pintores. Pelo que afirma e procuraemseustextoscrticos,essaluzseriaaproduodeumareflexo,aliberdade de um pensamento nos trpicos.AconscinciadalinguagemedaartecomoidiaestticamarcatodaaescritadeGonzagaDuque.Diz AnaBalakian34,citandoValry,queuneossimbolistas no uma esttica, mas uma tica: a viso decadentista trgica,pois quer recuperar, contra a racionalidade moderna, o mistrio, o enigma. Aidia de smbolo, as correspondncias de Baudelaire, e a arte como domniodo espiritual restabelecem um imaginrio forte, que marca estes artistas, assim como a rebeldia que Nestor Vtor identifica em Gonzaga Duque: h nelealgo de um revel, um irreverente ao academicismo, como em todo simbolistaque se preze35. O que se traduz por uma atuao inconformada, num meiohostil, em que domina uma crtica naturalista.Carlos de Laet recebe mal Arte Brasileira, em sua crnica Microcosmo;apenas se impressiona com a idade do escritor. Valentim Magalhes ressaltasua beleza fsicae reconhece seu trabalho como um ensaio de grande valor. Mas ambos no fazem uma apreciao da obra.Nestor Vtor distingue simbolistas, estetistas e parnasianos. Os estetistasno viram as costas para os parnasianos epicuristas e cticos, que aceitamWilde e DAnnunzio, mas no vo com Mallarm ou Rimbaud e se confundem com os adversrios dos parnasianos que so os simbolistas.36 Raul deLeoni seria um desses e mostra um soneto que pode passar por um de Cruz eSousa.Esta uma diferena que Gonzaga Duque aponta, em cartas a EmilianoPerneta, preocupado com a diluio do movimento. A viso radical, trgica,estaria apenas nos poucos simbolistas que afinam com Mallarm e Rimbaud.Sua postura tica e visionria. Na seleo que vai fazendo no percursodo salo de 1905, pra frente tela de Roberto Mendes:20Suapaisagemcomunicasecomanossaalma,prendenosdentrodasuaverdadeenosdasensaodesuavida.Eesteomritodestepintorespiritualista, discpulo de Ruskin,que no se deixa fascinar pelas lantejoulasdos triunfos fceis nem se corrompe com as imposies burguesas do meio.37Busca entre os paisagistas, aqueles que mostram mais alguma coisa quea reproduo da Natureza em dados momentos e diversos pontos; exprimemuma emoo. Procura, na pintura de paisagem, a interpretao da natureza.De acordo com Baudelaire, o perigo que correm os paisagistas , fora decontemplar, esquecerem de pensar e sentir; considerando a natureza um dicionrio, apenas copiarem o dicionrio.38 Gonzaga Duque revela sua predileo por Roberto Mendes: O aspecto que tanto preocupa os paisagistas e dondese originou o impressionismo no o toca seno mediocremente. E a expressoo que ele quer, maneira do pantesmo; a alma da Natureza, a alma dascoisas39. Diz ser ele o nico ruskiniano de nossa arte. Ainda citando Ruskin,afirma que o belo a verdade, embora esta no seja conforme realidade.Aqui se pode voltar questo da luz, quando fala da fixao da luz tropical.Cita a bright colour de Turner, que Ruskin admirava. O que falta paisagem brasileira essa luz tropical, a alma da paisagem. Quando comenta Parreiras, se refere a nossa assimilao do impressionismo, mal guiados no exagero da inovao. Ressalta nos artistas a busca de fixar essa luz, que no apenas obra do olho, da retina. A crtica ao impressionismo, feita pelos simbolistas, a de que existe uma relao entre a pintura e o intelecto e no entreesta e a natureza. Para Srusier, aluno de Gauguin, o pintor precisa ser inteligente, pois o mundo visvel se transforma no mundo real, somente atravsda operao do pensamento40.A idia de formao (Bildung) est dentro dessa oposio entre natureza ecultura. Segundo Novalis, a suprema tarefa da formao apoderarse deseu simesmo transcendental, ser ao mesmo tempo o eu de seu eu isto , sercrtica.41 Para criar cultura, necessrio transcender uma natureza informe,dessacralizadaebanalizadapelarazoinstrumentalomundoenquantoterra de reclames.A possibilidade de recriao percorre a obra de Gonzaga Duque. O trabalho nos limites da linguagem dos seus contos (de Horto de Mgoas), em quesurge a questo do sujeito, do inconsciente, continua na sua crtica, que privilegia a imaginao e uma arte em que pensamento e emoo se combinam nabusca da forma depurada.H uma unidade entre os trs livros sobre arte e o romance, Mocidade Morta.Seuduplo,opersonagemCamiloPena,tenta,nosesforosatomizados21dospintoresmargemda Academia,criarumaconscinciacrticasobreaarte que se fazia no pas.De acordo com Baudelaire, no crtico sensato e apaixonado, a paixo elevaarazoaalturasinsuspeitadas,acrticaseaproximaatodoinstantedametafsica, nos limites da razo, com a imaginao: independente como deveser o artista.Osartistas,falodosverdadeirosartistas,dosquepensam,comoeu,quetudo o que no a perfeio deve ser escondido e que tudo o que no sublime intil e indigno, aqueles que sabem que h uma espantosa profundidadena primeira idia que surge e que entre as inumerveis maneiras de exprimila,shnomximoduasoutrsexcelentes,estesartistas,repito,sempredescontentes e jamais satisfeitos, como almas encarceradas, no recebero obrigatoriamente certos gracejos e certos humores caprichosos de queso vtimas com tanta freqncia quanto os crticos.42NoartigosobreHeliosSeelinger,GonzagaDuqueseentusiasmacomotrabalho, diz que nele o filsofo e o artista se encontram,pois Helios no se contenta com o natural, no em rigor um naturista, oque o toca no centro emotivo, o que o comove e o leva da idia imagem essenatural depurado na sua imaginativa.43Mostra que sabe da secesso de Munique, onde Seelinger estudara comFranz von Stuck. Como na secesso de Viena, no se queria romper com opassado, mas com um tipo de arte que estava se fazendo no momento, marcadapelo naturalismo e comprometida com o gosto do pblico. O exagero, prximo caricatura, que Seelinger tambm exerceu, como Helios, faz pensar numapassagem j para o expressionismo, mas que sua crtica no nomeia. O pintorsabe com Baudelaire que a imaginao a rainha do verdadeiro, e o possvel uma das esferas do verdadeiro. Positivamente ela aparentada com o infinito44. Por isso arte no imitao, o que o coloca na esteira de uma tradioque questiona a representao artstica.22Graves e Frvolos: a cidade sonhadaEmconsonnciacomumasensibilidadecosmopolita,GonzagaDuque,em Graves e Frvolos, rene artigos do incio do sculo at 1910, em que fazuma apologia de uma esttica Art Nouveau. Com o nome de Jugendstil, naAlemanha, ou Modern Style, na Inglaterra, o movimento foi um desenvolvimento das idias de Ruskin, por Wiliam Morris, o simbolismo tornado social.Os arabescos, liberados das telas, passam a recobrir todos os utenslios e apaisagem da cidade. O Palcio de Cristal, de Munique, e o Elvira Studio, deAugust Endell, so construdos em 1897 e, ainda no mesmo ano, criada emViena a Secesso austraca, que publica a revista Ver Sacrum. Os secessionistasno rompem totalmente com o passado. Desencantados com o presente, configuram o que Jean Clair chama de vanguarda epimetica, forma diferente deuma outra vanguarda, como os futuristas, que, prometicos, explodem o quelhes antecedeu. O termo vanguarda est relacionado guerra. Menos radicaldo que uma guerra de independncia, a secesso, como guerra civil, dentrodeummesmopas,maisummovimentodeimploso:Umaguerradeindependnciasecresedizrevolucionria,osecessionistamaisumreformador, um dissidente45.NohseparaesentresimbolismoeArtNouveau,masumamesmavontade de espiritualizar o moderno insuflar vida, imaginao, esprito sprodues da serralheria Krupp. Gonzaga Duque tem a inteno de desenvolver, em Graves e Frvolos, o que diz, em artigo deContemporneos, sobreVisconti: necessrio atenuar os violentos efeitos de nossa civilizao, adelgaar arudeza do utilitarismo com a mo macia e branda da graa. E necessrio trazerao delrio industrial destes tempos, que foi o espectro de Ruskin, as miragensdo engano e da compensao, domando a ferocidade humana com o deslumbramento da forma e da cor,para que no se perca de todo o resto de generosossentimentos existentes na espcie soberana sobre a terra.46Numa cidade em que a companhia City Improvements destri teatros ehotis, como o Alcazar Lyrique, e o hotel Frres Provenaux, apagando imagens de um momento e de uma gerao, Gonzaga Duque acusa o utilitarismoportugus de nossas razes. Pede uma leveza ou frivolidade que leve em con23ta a espiritualidade, a arte, o luxo, o prazer, a sensualidade que, escondidaatrs de panos pretos, estaria na prpria natureza dos trpicos.Se, melanclico, lamenta a destruio do Alcazar Lyrique pelo Haussmannbrasileiro, em outro artigo, Esttica das praias, pede imaginao transformar Copacabana de um areal acanhado, num balnerio de luxo. Repete afrase como so belas as nossas praias e, paradoxalmente, vai mostrandocomo nos descuidamos delas, enquanto paisagem (i., possibilidade de apropriao desse territrio), por falta de liberdade, por hbitos tacanhos, de umamoral hipcrita. Gonzaga Duque v a falsa moral que cobre as mulheres compesadas roupas pretas de banho e descobre os colos nos bailes:Anossamoral,porm,noquersaberdisso.Anossamoralengraada...desafia a risota como os palermas. Ela impe todo esse recato ssenhoras que vo aos banhos de mar, mas no as considera indecorosas nosseus decotes de gala. A incoerncia irrisria.Vejamos, leitor, o que os moralistas, c dos nossos brasis, pretendem dizercom esta expresso seca no digno de civilizados.Euqueaquivoucurtindoaminhaexistnciadepobreto,ehquarentaanos observo e vejo a nossa sociedade, entendolhes a segunda inteno dessafrase. Esmiulaei ao depois. Por enquanto vamos ao seu sentido apr eensvel.47Fazumaapologiadocorponuelivre,contraotemorliberdadequedescobre na segunda inteno da frase que estava esmiuando:Disselheseu,leitorpaciente,quenafrasehaviaumasegundainteno.H, garantolhe eu. H. O que os maridos, os paps e os manos temem que aelegncia das vestes femininas, a liberdade de um pequeno decote, as mangascurtas, os cales justos ou cortados pouco abaixo do joelhos, provoquem comentrios desrespeitosos dos amadores das praias.48Investecontraasituaodacidade:asdemolies,oabandonoeomundanismo. E sonha com uma cidade ideal. Em todo o livro est presenteuma cidade imaginada, utopia em que o europeu entra como o artista quepossibilita a imaginao alar vo. Gonzaga Duque aposta numa latinidaderevelada e criada pelas imagens desses artistas, numa conjuno fecundadora.Contra o mpeto destrutivo e a moral hipcrita ope a imaginao de artistascomoFelicienRops,PuvisdeChavannes,ambossimbolistas,umbelga,ooutro, francs e os italianos e portugueses, pintando ou expondo no Brasil:Nicolau Facchinetti, Teixeira Lopes, Malhoa e Castagneto.Faz uma histria da pintura de paisagem no Brasil, que comeou com aMisso Francesa e o Baro de Taunay. Facchinetti ganha simpatia de burguesesprovincianos,masnoseiludecomosucessofcil.Criouumaescolaparalela do alemo Grimm (que formou Parreiras, Vasquez e Frana Junior).Alm de seus panoramas, que atingem intensidade colorida, Gonzaga Duque elogia em Facchinetti a tenacidade no querer, a constncia do desejo, oamorprofisso.EmCastagnetovumartistarebelado,umbomio,deproduovertiginosa,masfcil,emboralivre,nacompletaliberdadedesuavontade.Almdele,cita,comopintoresdemarinhas,EduardodeMartino, Gustavo James, Emlio Roude.Em outro artigo defende o Art Nouveau no mobilirio. Diz Gonzaga Duque que essa renovao tanto se d pelo ornamento que vem de um exaustivo estudo do que invisvel, do que est no mistrio da natureza, mas que,almdisso,adaptouosmveissfunes:inteligentemente,resumiamveis e reduzia despesas.O ornamento como livre jogo da fantasia vai seratacado por Adolph Loos, arquiteto vienense, que se ope a outros arquitetosepintoressecessionistascomoOlbrich,Klimt,Schiele.Oracionalismomoderno tem nele seu defensor. Loos no faz diferenas e vai criar o funcionalismoarquitetnico.Paraele,oornamentocrime49,poisantiracional,nobalizvelsegundoumaaoeumpensamentoracionais.Ornamentossosmboloserticos50:Masohomemdenossotempo,que,porumimpulsointerior, suja as paredes com smbolos erticos, um criminoso ou um degenerado. Loos vai propagar uma emancipao do ornamento; o caminho daculturairianosentidodesuaexcluso. Acomparaodeornamentocomcrime e a acusao de degenerao ao artista aparenta Adolph Loos a MaxNordau, o alemo que acusou os simbolistas parisienses de degenerados, casoque Gonzaga Duque conta em Imagistas nefelibatas, artigo de Graves e Frvolos, a partir do relato de Adolphe Rette. Nordau se misturou aos poetasbomios e anarquistas de Paris, estes perceberam e exageraram suas loucuras, o que lhes valeu a acusao de degenerados pelo discpulo de Lombroso.O artigo, originalmente publicado em Kosmos, se ampara em citaes, paradefenderdecadentistasesimbolistasdaacusaoirnicadequeandavamnas nuvens, pelos excessos bomios e a linguagem ornamental. Aqui procuraajudar na compreenso das propostas do movimento. Para os simbolistas, onovo subjetivo,...pois que o til na Arte o Novo: o mais longnquo o mais intenso. Ora, onovo o sentimento do artista, a impresso pessoal que ele recebe da naturezauniversal. A arte , pois, essencialmente subjetiva. O aspecto das coisas apenas um smbolo que o artista tem a misso de interpretar. Elas tm verdadeapenas nele, tm apenas uma verdade interna.51Essenovosempreobizarro,oenigmtico,oaindanoconsciente. Autopia do Art Nouveau a de trazer tona esta segunda realidade que vaitransformar a vida e a natureza. Tornar visvel o invisvel, o ainda no consciente de Bloch, a utopia tanto do simbolismo como do expressionismo.Em todo o livro, a questo parece ser como se reapropriar de uma tradioe de uma natureza, transformandoas. A natureza e a sociedade podem sertransfiguradas,nopeloutilitarismodeumarazoinstrumental,maspelaarte, pela liberdade da imaginao. O que significa frivolidade, apenas umdesejoderevelaoecriao,votadoaofracassonummundoregidopelaracionalidade pragmtica.Gonzaga Duque termina Arte Brasileira, afirmando que nos falta esprito,i., reflexo. Diz Novalis que muito mais cmodo sermos feitos do que nosfazermos a ns mesmos. Nos faltaria essa reflexo que possibilite produzirmonos e a uma arte que contenha pensamento, fora dasalegorias tradicionaisda nacionalidade, que pintam um ndio ou um negro bem comportados ouembranquecidos. A ns, nos faltaria criar um pensamento, e sua crtica temessa liberdade. Gonzaga Duque revela um pensamento que postula um absoluto e tenta ultrapassar a dvida do ceticismo e o positivismo. Embora saiba esse absoluto inalcanvel, sua postulao permite um horizonte utpicoe uma tica. Sua obra, assim como uma grande parte da produo do simbolismo, fica apagada, desfocada, talvez, pela falta de um romantismo que noapenas cantasse o nacional, mas impusesse uma imaginao livre capaz defazer essa reflexo. Tambm no havia uma conscincia filosfica que sustentasse a tentativa de bomios dissidentes, isolados num meio hostil em quepredominava uma crtica naturalista. As excees eram Farias Brito e Jacksonde Figueiredo, com suas limitaes.O conceito de moderno e de novo de Gonzaga Duque so diferentes dasidias em nossa vanguarda modernista. Para o modernismo futurista, a novidade a industrializao, como umanatureza que se impe como experincia ao homem moderno. O novo visto como inveno e no como algo a serrevelado pela produo potica, um ainda no consciente.Asvanguardastrazemonegro,oprimitivo,oinconscientecena,mascom um dogmatismo e um nacionalismo embrabecido, em manifestos queexplodemcategricos,redigidosporintelectuaispragmticosenacionalistas, ligados a valores circunstanciais.O Estadonao moderno, criao do sculo XIX, produz intelectuais otimistas, em consonncia com o ritmo dos novos tempos, com um triunfalismoque expulsa a dor que, no entanto, a sociedade industrial intensifica, atravsde seu ritmo fustico de construo e destruio, de suas constantes catstrofes.Mas o simbolismo se mostra um antifuturismo a rememorao de umaexperincia perdida, que permite se opor catstrofe moderna, que lida ape26nas com a experincia imediata. O secessionista se interessa pela memria doque aconteceu:O secessionista no arrasa nada, ao contrrio, ele muda o sentido das obrasdo passado. Sua reflexo crtica nasce de um problema com o passado que elevai esclarecendo medida que vai tornando claro seu processo.52Da o interesse de Gonzaga Duque por uma histria da arte e das revoluesbrasileiras,quenarracomumolharexcntrico.Comocrticosuscitaquestes, consciente de que est criando essa arte com sua escrita. Inscrevese tanto fora do racionalismo nacionalista dos bacharis da escola do Recife ede um Verssimo, quanto de uma crtica simbolista que dissolvia o comentrio na mera parfrase lrica.As propostas da nossa vanguarda modernista, como a antropofagia, nocriticamarazopragmtica.Nadevoraodoeuropeu,apenascorrigiramos o estrangeiro53, mas no operaramos uma reverso total. A idia de ruptura se torna apenas uma correo. H uma utopia ingnua no modernismoque acredita na redeno pelo desenvolvimentismo, o que Mrio de Andradereconhece, em artigo que avalia o movimento: Servimos apenas de altifalantesde uma fora universal e nacional muitomais complexa que ns. Um esprito do tempo fatal e irreversvel.54Comoutralgicatentasepensarnummovimentocosmopolitaeuniversalista como o simbolismo, crtico da razo moderna. Contra os queacreditam na cincia naturalista, os simbolistas cariocas apostam na imaginao, na arte. Esto afinados com os simbolistas europeus, em cujas propostas ressoam questes do primeiro romantismo alemo: problematizam a representao, a possibilidade de uma linguagem referencial e propem a criao de novos mitos.Enquanto os parnasianos cinzelavam versos, de acordo com as expectativas de um pblico nada exigente, os simbolistas teciam arabescos musicais ecoloridos. Mas, se com alguns deles isso se transformava em frmulas esvaziadas de qualquer sentido filosfico, com outros se transformava numa forma livre de pensar a condio humana. Para Novalis, o poeta transforma omundo de novo em poesia, o mundo desencantado do entendimento, da prosa,sedesfaz.Noseuromance,HenrichvonOfterdingen,umeremitaenfatizaaimportnciadaimaginaoparadarumanarrativacoerenteaosacontecimentos. Diz que na lembrana que os momentos da histria so reconhecidos. Assim, s os poetas podem escrever histria, porque podem coletar fragmentos de tempo e rearranjlos.27A crtica de Gonzaga Duque tem essa fora, ao lembrar imagens como adopintorJosLeandro,obrigadoacobrirseuquadro.Nummomentodeterror, uma determinada representao exerce sua violncia como verdade.Mas a presso da imaginao se contrape da realidade: a imaginao precisa ser uma violncia interna que nos proteja da violncia externa.55 O artistacria outra natureza, diz Lezama Lima56, pela reconstruo da imagem, pelapossibilidadecognoscitivadoatopotico,dafico,numespaoantidogmtico, como pretendia Gonzaga Duque fosse a cidade e o pas.2829Notas1 DUQUE, L.Gonzaga (1929), p.123.2 DUQUE, L.G. (1973), p.142.3 BENJAMIN, W. (1985), p.130.4 CLAIR, J. (1983).5 DUQUE, L.G. (1888), p. 46.6 DUQUE, L.G. (1898).7 DUQUE, L.G. Op.cit., p.7.8 BLOCH, E. (1989).9 SCHLEGEL, F. (1991), p. 12, fragmento n. 104.10 KANT, I. (1993), p. 96.11 SEYHAN, A. (1992), p. 115.12 DUQUE, L. G. Op. cit., p. 243.13 Ibid., p.240.14 Ibid., p. 251.15 Ibid., p.249.16 DUQUE, L.G. (1888), p. 244.17 Ibid., p. 123.18 Ibid., p.244.19 DUQUE, L. G. (1929), p.86.20 Ibid., p. 171.21 Ibid., p.217. O artigo, originalmente publicado em Kosmos, comentado por Antonio Dimas (1983).22 VTOR, N. (1979), vol.III, p. 241.23 DUQUE, L.G. (1929), p.115.24 Ibid., p. 116.25 Ibid.,p.213.26 Ibid., p.120.27 RUSKIN, J. (1972), p.125.28 VTOR, N. Op. cit., vol.II, p.244.29 DUQUE, L.G. (1929), p. 57.30 Ibid., p. 120.31 BAUDELAIRE, C.(1988), p.74.3032 DUQUE, L. G.(1929), p.238.33 SOUZA, G. de Mello e.(1980).34 BALAKIAN, A.(1985), p.90.35 VTOR, N.Op. cit., p. 244.36 VTOR, N. Op. cit., vol.II,p.293.37 DUQUE, L.G. (1929), p.131.38 BAUDELAIRE, C. (1968), p.398.39 DUQUE, L.G. (1929), p. 33.40 PIERRE, J. (1976), p.18.41 NOVALIS (1988), p.54.42 BAUDELAIRE, C. (1988), p.155.43 DUQUE, L.G. (1929), p. 53.44 BAUDELAIRE, C. Op. cit., p. 76.45 CLAIR, J. (1986), p. 49.46 DUQUE, L. G. (1929), p.26.47 DUQUE, L.G. (1910), p.152.48 Ibid., p. 154.49 LOOS, A. (1979).50 Ibid., p. 277.51 MORICE, C., terico simbolista citado por DELSEMME (1958), p.123.52 CLAIR, J. (1986), p.47.53 LIMA, L. C. (1991), p.32.54 ANDRADE, M. (1958), p.221.55 STEVENS, W., em SYPHER, W. (1980), p.100.56 LIMA, J. L. (1988), p.183.31Referncias bibliogrficas:ANDRADE,Mriode.AspectosdaLiteraturaBrasileira.SoPaulo,Martins,1958.BALAKIAN, Ana. O Simbolismo. So Paulo, Perspectiva, 1985.BAUDELAIRE, Charles. Oeuvres Compltes. Paris, Seuil, 1968.. A Modernidade de Baudelaire. 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