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1. Do Furto (art.155) Objetividade Jurídica ou Bem Jurídico Tutelado Entende a maioria da doutrina que o tipo penal quer proteger tanto a posse legítima (direta ou indireta), englobando também a mera detenção, quanto à propriedade de coisa móvel. Isto porque o ato da subtração viola em primeiro plano a posse e, secundariamente a propriedade, pois, mesmo que o possuidor não seja o proprietário, se mostra evidente o dano patrimonial a este. Assim, ladrão que rouba ladrão comete furto em relação ao proprietário, não sendo vítima o 1º ladrão que tinha posse ilegítima da coisa. Sujeitos Ativo e Passivo É crime comum e pode ser praticado por qualquer pessoa, exceto o proprietário em relação ao possuidor e vice-versa. Vejamos: I. O proprietário de um relógio o entrega na casa de penhor (que passa a ter a posse) como garantia a uma dívida, após entra na loja e subtrai o relógio. Ele NÃO pratica o crime de furto, pois não há na ação a elementar COISA ALHEIA. II. O possuidor não devolve a coisa ao seu dono quando deveria, não há no caso subtração, pois a coisa já está em seu poder, assim trata-se de apropriação indébita. Entretanto, praticam furto o caixa que subtrai o dinheiro e o peão que subtrai a ferramenta, pois tem mera posse transitória da coisa. São sujeitos passivos do furto o possuidor, o proprietário e o detentor. Tipicidade Objetiva A ação que configura o tipo é subtrair, podendo ser praticada de forma livre a tomada da coisa pelo agente. Por coisa móvel, trata o Direito Penal como qualquer coisa passível de ser removida, deslocada do local em que se encontra, apreendida, deslocada ou transportada, diferentemente das disposições do Direito Civil.

Resumo Direito Penal (até extorsão indireta)

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1. Do Furto (art.155)

Objetividade Jurídica ou Bem Jurídico Tutelado

Entende a maioria da doutrina que o tipo penal quer proteger tanto a posse legítima (direta ou indireta), englobando também a mera detenção, quanto à propriedade de coisa móvel. Isto porque o ato da subtração viola em primeiro plano a posse e, secundariamente a propriedade, pois, mesmo que o possuidor não seja o proprietário, se mostra evidente o dano patrimonial a este. Assim, ladrão que rouba ladrão comete furto em relação ao proprietário, não sendo vítima o 1º ladrão que tinha posse ilegítima da coisa.

Sujeitos Ativo e Passivo

É crime comum e pode ser praticado por qualquer pessoa, exceto o proprietário em relação ao possuidor e vice-versa. Vejamos:

I. O proprietário de um relógio o entrega na casa de penhor (que passa a ter a posse) como garantia a uma dívida, após entra na loja e subtrai o relógio. Ele NÃO pratica o crime de furto, pois não há na ação a elementar COISA ALHEIA.

II. O possuidor não devolve a coisa ao seu dono quando deveria, não há no caso subtração, pois a coisa já está em seu poder, assim trata-se de apropriação indébita. Entretanto, praticam furto o caixa que subtrai o dinheiro e o peão que subtrai a ferramenta, pois tem mera posse transitória da coisa.

São sujeitos passivos do furto o possuidor, o proprietário e o detentor.

Tipicidade Objetiva

A ação que configura o tipo é subtrair, podendo ser praticada de forma livre a tomada da coisa pelo agente. Por coisa móvel, trata o Direito Penal como qualquer coisa passível de ser removida, deslocada do local em que se encontra, apreendida, deslocada ou transportada, diferentemente das disposições do Direito Civil. No Direito Penal atendem-se as condições realísticas da coisa. Coisa imóvel não é passível de ser furtada. A coisa deve ainda ter valor econômico ou afetivo. Equipara-se a energia elétrica a coisa móvel.

I. Elemento Normativo “alheia”: é condição indispensável à tipificação do furto, se a coisa não é alheia, a conduta é atípica. Se a coisa é própria, como já vimos não há furto, assim também se a coisa não é de ninguém (res nullis), se foi abandonada pelo dono (res derelicta) ou é coisa comum, água, sol, luz, não há furto. É necessário que se demonstre que a coisa pertence a alguém.

Tipicidade Subjetiva

O tipo penal exige o dolo, essa vontade livre e consciente do agente deve abarcar todos os elementos do tipo, subtrair coisa alheia móvel, assim se o agente pressupõe seja sua a coisa, não há crime. Não há previsão da pratica culposa.

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I. Elemento Subjetivo Especial do Injusto “para si ou para outrem”: o tipo exige que a conduta seja praticada com o fim específico de assenhoramento definitivo da coisa, inexistindo o crime quando, por exemplo, se der fim à coisa, pegar um pássaro da gaiola e soltá-lo, uma jóia para jogar ao mar, etc.

Consumação e Tentativa

Para a consumação do delito devem-se observar dois requisitos; A) a retirada da coisa da esfera de disponibilidade da vítima, ficando essa impedida de exercer os direitos inerentes a posse ou propriedade; B) posse tranqüila do agente, ainda que por pouco tempo, quando este sai da esfera de vigilância da vitima. Ex.1: se o agente pega algo do supermercado e esconde no bolso, ao passar pela porta o detector apita, o crime não se consuma. Ex.2: se o agente pega um chocolate e come dentro do supermercado, o crime está consumado. Ex.3: se a empregada esconde a jóia da patroa no soutien, o crime está consumado, pois a vitima não dispõe mais da coisa, ainda que a empregada não tenha saído da casa.

O crime será tentado quando por circunstancias alheias a vontade do agente a atividade executória seja interrompida, inexistindo a posse tranqüila e a retirada da coisa da esfera de disponibilidade da vítima. Entretanto será crime impossível quando se verificar a absoluta impropriedade do objeto ou absoluta ineficácia do meio. Ex.: se o roubador coloca a mão no bolso da vítima e não encontra nada, pode ocorre crime impossível, se a vítima não tiver consigo nenhum valor, no entanto se a carteira da vítima estiver no outro bolso ocorre à tentativa.

Não Integram o Tipo Penal

Furto de Uso: não preenche o elemento subjetivo especial do injusto, destinando-se ao uso momentâneo ou passageiro da coisa; pelo mesmo motivo se a subtração é feito por brincadeira não há o crime;

Furto Famélico: roubo de alimentos por quem passa fome, configura estado de necessidade.

§1º - Furto Noturno

Há previsão para aumento de pena se o furto é praticado durante o repouso noturno. A definição de repouso noturno é pacífica: trata-se do período destinado ao repouso da população local, variando de um lugar para o outro. Porém traz controvérsia na doutrina e jurisprudência sua aplicação. A majorante existe em razão da menor vigilância que fica sujeito o patrimônio durante o repouso noturno. Uma corrente afirma serem necessários para aplicação da majorante dois requisitos objetivos; 1) a casa ser habitada; 2) os moradores estarem repousando. A segunda corrente não exige esses requisitos bastando que seja o furto praticado no período de repouso local, esta posição faria incidir a majorante, por exemplo, no caso do furto de um veículo parado à porta de casa durante a madrugada, ou ainda no caso de os habitantes estarem viajando.

O aumento aplica-se somente ao furto simples, não incidindo no qualificado.

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§2º Furto de Pequeno Valor (Privilegiado)

Para que se aplique a diminuição da pena, a lei impõe dois requisitos:

I. Primariedade: parte da doutrina e jurisprudência aceitam a primariedade técnica, ou não reincidência (quando o agente comete outro crime antes do transito em julgado do anterior, ou 5 anos após cumprimento da pena anterior), parte exige a primariedade e bons antecedentes (entendendo com maus antecedentes a não reincidência ou primariedade técnica).

II. Pequeno valor: alvo de grande controvérsia a maioria da doutrina aceita como critério objetivo o salário mínimo. A jurisprudência diverge estabelecendo outros critérios. (vide Delmanto).

§4º Furto Qualificado

I. Rompimento ou destruição de obstáculo: romper significa arrombar, deslocar ou suprimir; destruir significa aniquilar, extinguir; por obstáculo entende-se aquilo que obsta a obtenção, o deslocamento, a tomada ou remoção da coisa, a violência deve ser destinada a obstáculos alheios a coisa, e não inerentes a ela. Ex.1: arrombar a porta do carro para levar o carro, não subsiste a qualificadora, pois o obstáculo é inerente ao carro. Ex.2: arrombar o cadeado do portão da garagem para levar o carro, estará configurada a qualificadora. A violência ao obstáculo pode se dar antes durante ou depois a subtração da coisa, mas deve acontecer antes da consumação do delito. Ex.: enquanto o roubador subtraia o bem uma porta se fechou automaticamente, para sair do local ele deve arrombá-la, mesmo já estando na posse da coisa, o furto ainda não se consumou, assim ele rompe o obstáculo após a subtração, mas antes da consumação. Apura-se mediante exame pericial.

II. Abuso de confiança, Fraude, Escalada ou Destreza:

A) O abuso de confiança se configura quando a conduta do agente decorre dessa relação subjetiva que facilita seu acesso a res furtiva. A relação deve se estabelecer de forma natural, se o agente ganhar falsamente a confiança da vítima o furto acontecerá mediante fraude. Ocorre normalmente com vigias noturnos ou empregados domésticos, entretanto não basta o vínculo empregatício para que se configure, deve haver relação pessoal de fidúcia entre a vítima e o agente, e o abuso consciente por este.

B) A fraude consiste em diminuir, vencer a vigilância da vítima sobre a coisa, mediante ardil, estratagema, facilitando sua subtração. Ex.1: pedir ao balconista para pegar algo no interior da loja, para furtar o que está à disposição. Ex.2: vestir-se de funcionário de empresa de telefonia para ingressar na residência que deseja furtar. Difere do estelionato à medida que a fraude neste induz a vítima em erro, que lhe transmite a posse de seu patrimônio voluntariamente embora em erro, já no tipo qualificado de

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furto a coisa é tirada contra a vontade da vítima, no momento de falha de sua vigilância.

C) Escalada para o Direito Penal é qualquer meio anormal que desprenda força ou habilidade incomum do agente, bem como uso de ferramentas. Assim não apenas o subir pelo telhado esta abrangido, mas também o pular em um poço, ou acessar o local por um túnel.

D) A destreza é a habilidade física e manual do agente de fazer com que a vítima não perceba a subtração. Típica nos batedores de carteiras ou punguistas. Se o agente é flagrado pela vítima, responde por tentativa de furto simples, já demonstrou falta dessa habilidade, de for flagrado por terceiro, entretanto, responderá por tentativa de furto qualificado.

III. Chave Falsa: é todo instrumento usado para vencer fechaduras, trincos ou semelhantes, independentemente de ter ou não forma de chave. O uso de chave verdadeira que foi obtida ardilosamente não configura essa qualificadora, mas sim o furto mediante fraude. A chave verdadeira esquecida na fechadura não qualifica o crime.

IV. Concurso de duas ou mais pessoas: deve haver liame psicológico entre os agentes, parte da doutrina sustenta que essa combinação deve ocorrer antes do início dos atos executórios, parte sustenta que ela pode acontecer até o momento da consumação. Parte da doutrina sustenta que todos os agentes devem estar presentes in loco, parte entende que não é necessário, bastando que estejam todos cientes e de comum acordo. Se os agentes forem condenados por formação de quadrilha, estará afastada essa qualificadora, sob égide do principio “non bis in idem”.

§5ª - Furto de Veículo Automotor

O parágrafo §5º foi inserido posteriormente no CP. Visa inibir violência crescente. Tem como objeto material o veículo automotor, carros, lanchas, aviões. Só existe a qualificadora quanto o veículo ultrapassa efetivamente o limite entre estados-membros ou território nacional.

2. Furto de Coisa Comum (art. 156)

Objetividade Jurídica ou Bem Jurídico Tutelado

Trata-se de modalidade especial de furto, uma espécie de furto privilegiado, com pena significativamente menor. Tutela o patrimônio comum, resguardando a posse legítima e a propriedade de coisa comum.

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Sujeitos Ativo e Passivo

Praticam o crime sócio, coerdeiro ou condômino. Por seu turno, são vítimas todos os outros condôminos, sócios ou herdeiros, além de terceiros possuidores legítimos. Mirabete faz uma ressalva interessante, quando a sociedade se constitui e ganha personalidade jurídica, então passa a ter patrimônio autônomo, separado do patrimônio dos sócios, portanto, nesse caso, melhor seria a aplicação do artigo 155. A doutrina diverge.

Tipicidade Objetiva

Trata o tipo de tipicidade igual ao furto real, difere apenas em seu elemento normativo, invés de alheia, a coisa agora deve ser comum. Por coisa comum entende-se aquela que aquela que tem sua propriedade dividida e cada comunheiro dispõe de uma cota ideal.

Tipicidade Subjetiva

A figura é unicamente dolosa. O dolo consiste na vontade livre e consciente de subtrair coisa comum, complementado pelo especial fim de agir “para si ou para outrem”. O agente deve saber que a coisa é comum.

Consumação e Tentativa

Os conceitos de consumação e tentativa são os mesmos do tipo anterior.

§2º - Exclusão de Antijuridicidade

Traz o parágrafo segundo causa especial de exclusão de antijuridicidade baseada em dois requisitos objetivos:

I. A coisa comum seja fungível;

II. Seu valor não exceda a quota parte do sujeito.

Na verdade se o sujeito subtrai coisa fungível (aquela que pode ser substituída por outra da mesma espécie, de igual valor, qualidade e quantidade) que tenha valor inferior a sua quota, ele só esta pegando o que é seu. Entretanto se a coisa é infungível, não importa o seu valor, o sujeito cometerá o furto comum.

§1º - Ação Penal

A ação penal será pública condicionada à representação. Como trata de coisa comum, basta que apenas um dos ofendidos faça a representação.

Do Roubo (art.157)

Objetividade Jurídica ou Bem Jurídico Tutelado

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Trata-se de crime complexo trazendo um conjunto de bens jurídicos a serem tutelados. Como gênero o patrimônio, sendo espécie a propriedade, posse e detenção; como gênero a pessoa, como espécie a integridade física, psíquica, liberdade individual e a vida.

Sujeitos Ativo e Passivo

Como sujeito ativo figura qualquer pessoa, exceto o proprietário. Sujeito passivo pode ser também qualquer pessoa, separando-se a vítima patrimonial, daquelas que sofrem a violência sendo possível a pluralidade de vítimas.

Tipicidade Objetiva

À semelhança do furto, o roubo tem como núcleo do tipo o verbo “subtrair” e ainda como objeto material a “coisa alheia móvel”, vale, portanto, tudo que já foi dito. Além das semelhanças, difere o roubo do furto nas elementares constitutivas, os meios empregados, tendo como objeto material também a pessoa. O roubo se processa mediante:

I. Violência : consiste no emprego de força física contra a pessoa, pode se dirigir ao dono da coisa ou a terceiro. A violência deve ser meio idôneo a coagir a vítima, reduzindo-lhe a capacidade de resistência;

II. Grave Ameaça : deve ter idoneidade intimidativa, ou seja, ser capaz de constranger a vítima. Para a constituição da grave ameaça, importa mais o efeito que causa na vítima, atemorizando-a, constrangendo-a, amedrontando-a. O mal prometido deve ainda ser determinado, verossímil, futuro e imediato (iminente).

III. Outro Meio de Redução da Resistência : o legislador adota a forma genérica, incluem-se aqui, todas as formas capazes de reduzir a capacidade da vítima, sem que haja violência física ou moral, senão entraria nos dois primeiros casos. Assim apontados como outros meios temos os entorpecentes, álcool, hipnose, tudo que seja capaz de minar a vontade da vítima impondo-se-lhe a vontade do agente.

Tipicidade Subjetiva

Vontade livre e consciente de subtrair, com o especial fim de agir, idem ao furto.

Consumação e Tentativa

A consumação do roubo se dá no momento em que a coisa sai da esfera de disponibilidade da vítima, ainda que o autor não tenha a posse tranqüila e duradoura. Como trata de crime complexo que atinge dois bens jurídicos é necessário, para consumar-se, que sejam ambos atingidos. Assim, consuma-se também o crime quando cessa a violência ou a clandestinidade e a coisa já está em posse do roubador, mesmo que, não saia da esfera de disponibilidade da vítima, de modo que, ato contínuo, esta detenha o agente e recupere a res. O crime se consumo também se o agente sendo perseguido se livra da coisa, ou se em concurso de agentes um deles logra êxito na fuga com a coisa, enquanto o outro é detido.

A tentativa se caracteriza quando por motivos alheios a vontade do agente, não se concretiza o crime. Nessa esteira, merece destaque o brilhante magistério de Cezar R. Bitencout,

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vislumbrando a tentativa no caso de o assaltante que tenta roubar pessoa que está sem dinheiro, isso porque, por tratar-se de crime complexo, com mais de um objeto material, iniciada a execução com a violência a pessoa, já existe a lesão a um bem jurídico, ainda que não exista o patrimônio, configurando portanto, a relativa impropriedade do objeto e não absoluta impropriedade, o que configuraria crime impossível, como parte da doutrina entende.

Será tentado ainda se o autor for surpreendido no momento da subtração e perseguido logo em seguida.

§1º - Roubo Impróprio

Traz o parágrafo a figura do roubo impróprio que apresenta algumas peculiaridades em relação ao roubo próprio, do caput. Nessa figura emprega-se a violência após a subtração da coisa, com a finalidade de “assegurar impunidade do crime ou a detenção da coisa”, o que constitui novo elemento subjetivo especial do injusto. Difere ainda do roubo próprio no momento da consumação, para parte da doutrina e jurisprudência a consumação acontece no momento exato da violência ou grave ameaça, não admitindo a tentativa. Para outra parte admite-se a tentativa desde que flagrado o agente quando tenta cometer a violência. Deve haver ainda a observância do lapso temporal entre a subtração da coisa e a violência, se houver um lapso muito grande ou um fato que rompa a contextualidade das ações, será o caso de furto em concurso material com lesões corporais.

§2º - Figuras Majoradas

I. Emprego de arma de fogo:

A doutrina atual é uníssona e consoante a maioria da jurisprudência em não aplicar a causa de aumento para roubos cometidos com emprego de arma de brinquedo, desmunissiada ou inapta para disparar. Isto porque, a majorante consiste justamente no maior risco trazido a integridade física da vítima e maior reprovabilidade da conduta. Além disso, a arma deve ser efetivamente empregada, não bastando que o agente esteja somente portando a arma. Doutrina e jurisprudência divergem quanto ao porte ostensivo, ou seja, quando a arma usada para intimidar sem estar efetivamente empunhada.

II. Concurso de duas ou mais pessoas:

Idem furto.

III. Em serviço de transporte de valores e o agente conhece essa circunstancia:

Para que se caracterize a majorante é necessário que a vítima esteja em transporte de valores e o agente tenha conhecimento prévio dessa circunstância, além disso é imprescindível que o transportador não seja o proprietário da coisa, isso porque essa figura visa a maior proteção dos agentes de transportes de valor. Como valor aceita-se qualquer coisa que tenha valor econômico, dinheiro jóias, etc.

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IV. Veiculo Automotor Transportado para Fora do Estado ou País:

Idem Furto.

V. Restrição de Liberdade do Sujeito Passivo

Deve ser analisada com cuidado. A restrição da liberdade deve configurar mal maior que a conduta do tipo simples, assim se o assaltante prende no banheiro da loja os funcionários, não incide a majorante. Damásio de Jesus sugere a seguinte aplicação: A) se o seqüestro é cometido como meio de execução do roubo, ou contra ação policial, incide a majorante; B) Se o seqüestro é praticado após a subtração, haverá concurso de crimes. Cezar R. Bitencourt completa o pensamento apontando que nos casos em que a vítima é mantida durante horas no interior de seu veículo rodando a cidade, a fim de se obter maior vantagem econômica, o caso é de extorsão mediante seqüestro (art. 159).

§3º - Qualificado pelo Resultado

I. Se resultar lesão corporal grave:

A lesão deverá ser grave e derivada de no mínimo, culpa do agente, configurando assim o chamado preterdolo. Além disso, deverá ser causa da lesão a violência empregada, no caso de um colapso, enfarto, etc., causado pela grave ameaça, ou ainda overdose pela ingestão de drogas (outros meios), restará o concurso formal de crimes, e não o tipo qualificado.

II. Se resultar morte:

O chamado latrocínio. Vale o que foi dito para lesão corporal, com o resultado morte. A pluralidade de vítimas fatais representa um crime só, e não importa se a violência é cometida contra terceiro ou contra o dono da coisa. A principal dificuldade reside na delimitação da tentativa e consumação.

A) Homicídio e subtração consumados: Latrocínio consumado;

B) Homicídio e subtração tentados: Latrocínio tentado;

C) Homicídio tentado e subtração consumada: Doutrina e jurisprudência divergem, são apontadas 3 soluções: 1) tentativa de latrocínio, pois trata de crime complexo, em que um bem jurídico é atingido e o outro não por circunstância alheia a vontade do agente; 2) tentativa homicídio qualificado pelo fim; 3) roubo qualificado por lesões corporais.

D) Homicídio consumado e subtração tentada: São apresentadas 4 posições: A) latrocínio consumado, pois entende que não exige a subtração da coisa para sua configuração já que o código descreve a conduta “se resulta morte”; B) latrocínio tentado, pois não atinge o tipo em sua completude; C) homicídio qualificado em concurso com tentativa de roubo simples, há uma fragmentação do tipo penal; D) homicídio qualificado, semelhante ao anterior, só que, haveria absorção do roubo pelo crime de homicídio.

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4. Extorsão (art. 158)

Objetividade Jurídica ou Bem Jurídico

A exemplo do roubo, trata-se de crime complexo, com pluralidade de bens jurídicos, a saber, patrimônio, integridade física e psíquica, liberdade individual.

Sujeitos Ativo e Passivo

É crime comum e pode ser praticado por qualquer pessoa.

Pode ser vitima também qualquer pessoa, inclusive podendo ser mais de uma a vítima, sendo uma patrimonial e outro pela integridade ou liberdade, em razão da multiplicidade de bens jurídicos.

Tipicidade Objetiva

O núcleo do tipo é constranger (obrigar, compelir, coagir) alguém, mediante violência ou grave ameaça (as mesmas do roubo, ressaltando que a ameaça deve ser injusta), a fazer (ação, ato positivo), deixar de fazer (omissão, ex. deixar de cobrar uma dívida) ou tolerar que se faça (ex. permitir que se rasgue um título de crédito).

I. Elemento normativo: vantagem econômica indevida. Se a vantagem for devida, configura exercício arbitrário das próprias razoes, não extorsão. Se não for econômica, configura constrangimento ilegal.

Tipicidade Subjetiva

O dolo é a vontade de constranger, complementada pelos especiais fins de agir “para si ou para outrem” e “obter vantagem econômica indevida”, a ação é destinada ao fim especifico da vantagem econômica.

Consumação e Tentativa

É crime formal e será consumado no momento em que, em razão da ameaça, a vítima age ou deixa de agir, independentemente da obtenção da vantagem econômica, que configurará mero exaurimento do tipo penal.

Mesmo sendo crime formal admite a tentativa se, mesmo mediante ameaça a vítima não se intimidar e não atender a vontade do agente.

Se o agente é preso em flagrante no momento em que está recebendo o dinheiro, responderá pelo crime consumado.

§1º - Causa de aumento de pena

I. Concurso de duas ou mais pessoas: aqui diferentemente do roubo e do furto, a majorante exige que todos os agente pratiquem atos executivos;

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II. Emprego de arma de fogo: o mero fato de estar armado, não justifica a causa de aumento de pena, a arma deve ser efetivamente empregada.

§2º - Resulta Lesão Corporal Grave ou Morte

Remete a lei ao art. 157, §3º, razão pela qual, não faremos diferente.

5. Extorsão Mediante Seqüestro (art.159)

Objetividade Jurídica ou Bem Jurídico

Tutela-se a exemplo do roubo e da extorsão, imediatamente o patrimônio e secundariamente a liberdade individual, incolumidade pessoal e a vida.

Sujeitos Ativo e Passivo

É crime comum podendo ser cometido por qualquer pessoa, vitimando qualquer pessoa. Admite a pluralidade de vítimas, uma lesada em seu patrimônio, outra em sua liberdade.

Tipicidade Objetiva

O verbo é seqüestrar, significa arrebatar, tirar alguém de circulação contra sua vontade, entende-se que o legislador usou seqüestrar em sentido amplo, abrangendo também o cárcere privado.

I. Elemento Normativo: “qualquer vantagem”: entende a doutrina que a vantagem pretendida não precisa ser econômica e nem indevida, pois assim não determina o texto legal, como no tipo anterior. A jurisprudência entende que deve ser econômica a vantagem pretendida.

O tempo do seqüestro será usado na medição da pena pelo juiz, podendo ser longo ou breve, caracteriza o delito, por produzir na vítima a certeza da supressão de sua liberdade condicionada à satisfação de uma exigência.

Condição é a obtenção de uma coisa, documento, ato, em troca da liberdade da vítima. Preço é a própria estimação em pecúnia do valor do resgate.

Tipicidade Subjetiva

Vontade livre e consciente de seqüestrar, constranger alguém de sua liberdade, existe apenas a modalidade dolosa. O elemento subjetivo especial do injusto é a finalidade de obter alguma vantagem, para si ou para outrem. Essa finalidade especial é o que difere o tipo do art.148, CP (seqüestro), pode aparecer o fim especial após o momento do encarceramento da vítima. Ex.: o agente seqüestra uma ex-namorada por motivo passional, após, passa a exigir certa vantagem para libertá-la, trata-se de extorsão mediante seqüestro e não apenas seqüestro.

Consumação e Tentativa

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Consuma-se no exato momento em que a vítima tem tolhida sua liberdade de locomoção. Deve-se entretanto, estender-se por tempo juridicamente relevante. O pagamento do resgate consiste em mero exaurimento do crime, estando este consumado mesmo que não haja obtenção da vantagem econômica, bastando haver a pretensão. Trata-se de crime formal e permanente, permitindo a prisão em flagrante enquanto durar o cárcere.

Admite-se a tentativa para o caso de quando for o agente arrebatar a vítima, não lograr êxito.

§ 1º - Qualificadoras

I. Duração superior a 24h: Impõe-se novos limites máximo e mínimo em razão da maior reprovabilidade da conduta acarretada pelo maior desvalor atribuído ao tempo elevado de privação da liberdade;

II. Maior de 60 ou menor de 18 anos: juízo de maior desvalor pela maior vulnerabilidade das vítimas;

III. Quadrilha ou bando: importa a associação destinada a pratica de crimes, mesmo conceito do art.288, CP, não se configura se há mera participação ocasional.

§§ 2º e 3º - Se Resulta Lesão Corporal Grave o Morte

Ao contrário do roubo e da extorsão o resultado não precisa derivar de violência, apenas decorrer do seqüestro para obtenção de vantagem econômica, assim pouco importa se a vítima morre por violência, overdose, envenenamento, inanição. Naturalmente o resultado que agrava deve ocorrer à vítima que tem a liberdade restrita, não a que tem o patrimônio lesado, segundo doutrina dominante.

§ 4º - Delação Premiada

A lei prevê o beneficio da redução de pena para aquele co-autor que colabora de maneira efetiva para a libertação do seqüestrado. Uma vez verificada a efetividade da delação é obrigatório a redução da pena.

6. Extorsão Indireta (art. 160)

Objetividade Jurídica ou Bem Jurídico

Tutela-se o patrimônio e a liberdade individual, uma vez que o devedor é constrangido a fazer algo contra sua vontade, entregar o documento, que pode ainda dar origem à processo criminal.

Sujeitos Ativo e Passivo

Trata-se de crime comum, qualquer pessoa que exige ou recebe documento que pode incriminar seu devedor como garantia de divida, pratica o crime. Sujeito passivo pode ser o devedor, ou aquele que tem sua liberdade ameaçada pelo documento.

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Tipicidade Objetiva

O tipo traz os verbos exigir e receber, o primeiro trata de conduta ativa do credor constrangendo a vítima a entregar-lhe o documento, que pode ser uma confissão de crime cometida por ele ou pro terceiro, no segundo a conduta do credor é passiva, meramente aceitando o documento que o ofendido oferece. Deve para caracterização do tipo, estar estabelecida uma relação de crédito e o devedor estar em situação desesperadora, que possibilite o abuso. Não importa se o crime contido no documento tenha sido efetivamente praticado, importa que seja o documento apto a dar inicio a procedimento criminal (não necessariamente processo penal), tampouco importa se o procedimento se inicia ou não, bastando que o documento seja apto para tanto.

Tipicidade Subjetiva

O dolo consiste na vontade livre e consciente de receber ou exigir documento como garantia de divida, abusando da situação de alguém. O sujeito ativo deve saber da condição de necessidade da vítima. Não importa se a dívida é legítima ou ilegítima.

Está presente o elemento subjetivo especial do injusto que é garantir abusivamente, dívida atual ou futura.

Consumação e Tentativa

Quando a conduta é exigir, a consumação se dá no momento da exigência, sem que seja necessária a tradição do documento. A doutrina admite a tentativa, nesse caso, se a exigência é feita pro via escrita e interceptada antes de chegar ao conhecimento da vitima. Na modalidade receber, se consuma com o efetivo recebimento do documento, havendo a tentativa se por circunstância estranha a vontade do agente essa tradição não se concretiza.

7. Alteração de Limites

Objetividade Jurídica ou Bem Jurídico

A posse e a propriedade imobiliária.

Sujeitos Ativo e Passivo

Sujeito ativo deve ser o vizinho do imóvel limítrofe, podendo ser o possuidor, proprietário ou futuro comprador. Sujeito passivo é o proprietário ou possuidor do imóvel que tem seu limite alterado.

Tipicidade Objetiva

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