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Parte Especial – Código Penal Crime = Tipo + Pena 1) Tipo Objetivo A estrutura que existe em cada tipo objetivo é: sujeito ativo (quem comete o delito), verbo-núcleo (ação que o sujeito ativo pratica), sujeito passivo (quem sofre a ação do sujeito ativo) e objeto material . a) elementos descritivos : é aquele que fala por si mesmo ; a descrição contida no tipo penal é suficiente para a gente compreendê-la. b) elementos normativos : são aqueles que exigem um juízo de valor . Subjetivo a) doloso b) culposo c) preterdoloso d) qualificado pelo resultado 2) Pena Reclusão Detenção 3) Sistemática (ou falta) do Código Penal Há uma completa incongruência das penas previstas tanto no Código como nas leis especiais . Quanto mais grave a ofensa ao bem jurídico maior a pena – ideia que nos resta em relação à função da pena, como discurso de proteção dos bens jurídicos.

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Parte Especial – Código Penal

Crime = Tipo + Pena

1) Tipo

Objetivo

A estrutura que existe em cada tipo objetivo é: sujeito ativo (quem comete o delito), verbo- núcleo (ação que o sujeito ativo pratica), sujeito passivo (quem sofre a ação do sujeito ativo) e objeto material .

a) elementos descritivos: é aquele que fala por si mesmo; a descrição contida no tipo penal é suficiente para a gente compreendê-la.

b) elementos normativos: são aqueles que exigem um juízo de valor.

Subjetivo

a) doloso

b) culposo

c) preterdoloso

d) qualificado pelo resultado

2) Pena

Reclusão

Detenção

3) Sistemática (ou falta) do Código Penal

Há uma completa incongruência das penas previstas tanto no Código como nas leis especiais. Quanto mais grave a ofensa ao bem jurídico maior a pena – ideia que nos resta em relação à função da pena, como discurso de proteção dos bens jurídicos.

A estrutura no CP é sempre: “dos crime contra...”, isto é, diz qual o bem jurídico que está sendo atingido. Ex.: dos crimes contra a pessoa, dos crimes contra a liberdade, dos crimes contra a honra.

TIPOS PENAIS

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Art. 121 - Homicídio

Homicídio simplesArt. 121. Matar alguém:Pena - reclusão, de seis a vinte anos.Caso de diminuição de pena§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, ou juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.Homicídio qualificado§ 2° Se o homicídio é cometido:I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;II - por motivo futil;III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossivel a defesa do ofendido;V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime:Pena - reclusão, de doze a trinta anos.Homicídio culposo§ 3º Se o homicídio é culposo:Pena - detenção, de um a três anos.Aumento de pena§ 4º - No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as conseqüências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. § 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as conseqüências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária. § 6º - A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio.

Classificação doutrinária: crime comum, que pode ser praticado por qualquer pessoa independentemente de condição ou qualidade especial; material, pois somente se consuma com a ocorrência do resultado, que é uma exigência do tipo; simples, na medida em que protege somente um bem jurídico: a vida humana, ao contrário do chamado crime complexo; crime de dano, pois o elemento subjetivo orientador da conduta visa ofender o bem jurídico tutelado e não simplesmente coloca-lo em perigo; instantâneo, pois se esgota com a ocorrência do resultado.

a) sujeito ativo: comum (qualquer pessoa pode cometê-lo).b) sujeito passivo: comum (qualquer pessoa). Tecnicamente ao falar de pessoa, fala-se de

alguém vivo. Art. 3º da Lei 9.434/97 dispõe sobre o limite que encerra o termo do delito de homicídio.

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c) verbo-núcleo: matar (delito de forma livre, ou seja, delito cuja execução não tem uma forma especificada, podendo realizar a morte com qualquer meio). Dependendo do meio ou modo escolhido, contudo, pode-se tornar esse homicídio qualificado (tortura, fogo, veneno, asfixia, etc...).

d) objeto material: o ser humano com vida ou o próprio sujeito passivo.e) tipo subjetivo: dolo direto ou eventual.f) figura-base: homicídio simples (art. 121, caput).g) figuras derivadas: há nos parágrafos. São delitos derivados, mas que carregam o nome

de homicídio.h) consumação: o delito de homicídio consuma-se com a superveniência da morte. Como

se trata de um delito material, essa morte deve ser comprovada pericialmente. Isso está previsto no artigo 158 do CPP. Quando não há corpo a ser periciado, ou não há a possibilidade de periciar o corpo, só se admite a ocorrência do homicídio se a prova (e não o indício!) for indubitável de que a pessoa morreu e do que causou a morte.

i) tentativa: também é possível, considerando-se que o delito é um crime material. A tentativa também tem que ser comprovada.

ps.: diferença entre crimes de mera conduta, crimes formais e crimes materiais: o crime material só se consuma com a produção do resultado naturalístico, como a morte no homicídio. O crime formal, por sua vez, não exige a produção do resultado para a consumação do crime, ainda que possível que ele ocorra, como a ameaça. No crime de mera conduta o resultado naturalístico não só não precisa ocorrer para a consumação do delito, como ele é mesmo impossível. Ex.: crime de porte ilegal de arma de fogo.

Homicídio privilegiado (§ 1º)

Motivo bom. Diminuição de pena de 1/3 a 1/6. Questões em que o direito penal não considera tão graves. “Minorantes”.

a) Relevante valor moral: é aquela que se refere a um aspecto de relevo para o próprio agente do crime, normalmente relacionado com questões morais, políticas ou religiosas, e que, embora não admitam a sua absolvição, permitem a diminuição da pena. Pode, portanto, ser tido como um homicídio qualificado para a acusação (motivo fútil, torpe). Ex.: pai que mata o estuprador da filha e eutanásia.

b) Relevante valor social: exige uma medição na comunidade na qual se está inserido. O perigo é maior que no relevante moral, pois permite que a aferição da relevância seja feita pela comunidade, a questão da distinção de culturas e valores pode conflitar. Pode, talvez, admitir justiça pelas próprias mãos. A exposição de motivos do CP não ajuda em nada, pois nos remete ao tempo de Estado Novo. Ex.: matar sujeito que traiu a pátria; matar o traficante do bairro. É sempre bastante questionável.

c) Violenta emoção após injusta provocação da vítima: art. 28 (emoção não exclui a imputabilidade). Este estado alterado tem como nexo o comportamento anterior da vítima. Esse dispositivo não se confunde com a legítima defesa. Na injusta agressão o sujeito está em atos preparatórios de uma conduta que configure como delito. Na injusta provocação, admite uma pena menor se revidar.

Homicídio qualificado (§ 2º)

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Motivo ruim, a pena pode até dobrar. Traz cinco incisos, e basta que tenha só um para que seja possível considerar homicídio qualificado. O homicídio qualificado, diferentemente do privilegiado, já indica limites de mínimo e máximo de aplicação da pena. Outro detalhe importante é o fato de a partir de 1994 o homicídio qualificado ter se tornado crime hediondo.

LEMBRAR: Quando houver mais de uma circunstancia que qualifica, se utilizará uma para qualificar e as outras serão utilizadas como agravantes! Não há homicídio duplamente, triplamente qualificado.

Inciso I (paga / promessa de recompensa / qualquer outro motivo torpe): A qualificação ocorre para quem recebeu a paga (quem foi contratado), segundo a doutrina majoritária. Motivo torpe significa repugnante, abjeto, vil, como o herdeiro que mata por herança.

Inciso II (motivo fútil): Normalmente é referido como um motivo pequeno, insignificante, ínfimo e que não justificaria o crime. Ex.: morte por briga de torcida de futebol, briga de trânsito, etc. Bittencourt questiona: E se não houver nenhum motivo, é um motivo fútil? Não, simplesmente a vontade de matar configura um homicídio simples.

Inciso III (cometido com o emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia ou tortura ou meio insidioso, cruel, perigo comum): São os meios que qualificam o homicídio.

O veneno é pensado como toda e qualquer substância capaz de produzir lesões ou causar a morte, ainda que diferente dos chamados “venenos típicos”. O veneno para qualificar o homicídio tem que ser ministrado sem que a vítima tenha conhecimento, pois ele tem que consistir como meio insidioso (aquele escondido, que ilude a vítima). É um meio dissimulado. Se a pessoa for obrigada a tomar o veneno, o homicídio será qualificado por outro elemento, que não o veneno.

O fogo, a asfixia e a tortura aparecem como exemplo de meio cruel. Meio cruel significa causar sofrimento desnecessário à vítima; não basta a dor da morte, precisa ter sofrimento. Vilipêndio a cadáver, esquartejamento após a morte, colocar fogo depois que a pessoa morreu, não configuram meio cruel.

A tortura é hoje um crime autônomo (Lei 9.455/97). A tortura pode ser chamada como tal se a pessoa fizer o ato buscando um fim específico, que aparece descrito na lei (art. 1º). Especial fim de agir. Além disso, a tortura pode ser caracterizada por sofrimento físico ou psíquico. Atenção para a diferença entre tortura seguida de morte e tortura como meio de homicídio. A morte que qualifica a tortura tem que ser culposa. Problema do elemento subjetivo: tentar saber se havia dolo ou não, se havia intenção de matar ou foi resultado não pretendido.

A asfixia aparece como a inibição da entrada de ar nos pulmões. É uma das causas que a vítima mais padece para falecer. Existem diversos tipos de asfixia, como a mecânica, a tóxica, por estrangulamento, por sufocamento, por afogamento, etc.

Motivo qualifica e o meio aparece como agravante.

Inciso IV (traição, emboscada ou que dificulte ou impossibilite a defesa da vítima): Modos que qualificam o homicídio. O que qualifica esse inciso é a maior dificuldade de a vítima em poder

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se defender. Daí que se diz que o meio é dissimulado mas, no modo, é a intenção ou a pessoa que é dissimulada. A vítima não esperava daquele sujeito ou não esperava ser atacada.

Homicídio qualificado em caso de traição ocorre quando a morte é ocasionada por uma pessoa que a vítima confiava.

Emboscada é uma tocaia. A vítima é colhida de surpresa, pois o autor dissimula a si próprio.

Inciso V (execução, ocultação de outro crime, impunidade, vantagem): É a finalidade. É quando o crime é cometido para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime. Faz par sempre com outro crime. Só pode ser com crime; não pode ser com contravenção penal. No entanto, pode haver homicídio como um crime antecedente, como o homicídio pode ser um delito subsequente, mas não necessariamente nessa ordem.

Sempre que combinar o homicídio com qualquer outro delito que não o roubo e não a extorsão, sempre há uma pena mais alta.

Homicídio culposo (§ 3º)

Não havendo dolo direto ou eventual, admite-se essa figura.

O art. 302 do CTB prevê um delito dessa natureza; nesse caso o julgamento se da à luz do CTB. Se for homicídio doloso com uso de veículo automotor, o caso volta a ser julgado à luz do CP.

Aumento de pena (§ 4º)

É majoração mesmo que o sujeito não queria cometer delito! Grande crítica a esse parágrafo.

Na primeira parte há o aumento da pena do homicídio culposo por imperícia. Parece bis in idem, segundo a professora. Essa primeira parte (de inobservância de regra técnica) parece ser feita visando aos médicos. A segunda parte dessa primeira parte parece ser direcionada aos motoristas.

A segunda parte só cabe para homicídios dolosos. Dispõe sobre o aumento de pena para vítimas menores de 14 anos. Em que pese o ECA faça distinção entre criança e adolescente no marco de 12 anos de idade, o CP trabalha na sua absoluta maioria dos casos em que se dá um tratamento mais severo para a vítima menor de 14. No delito de homicídio ela se qualifica duplamente, pois há uma taxa numérica bastante significativa de homicídio praticado contra menores de 14 anos.

Interessante notar a diferença entre a idade do autor e da vítima nos casos de idosos. Quando é para agravar a situação do autor, a idade é 60 anos. Quando é para atenuar sua situação, a idade é 70 anos.

Existem alguns projetos para ampliar a faixa de vítimas em que o delito teria o aumento de pena mais destacado.

Perdão judicial (§ 5º)

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O perdão judicial só cabe para homicídio culposo. Ele pressupõe que o agente é responsável pelo delito; que a pessoa deve ser condenada, mas não deve receber a pena. O critério é que as consequências do delito sejam tão graves que a pena se torna desnecessária.

Ainda permanece uma dúvida: se um homicídio culposo praticado na direção de veículo automotor pode beneficiar um agente pelo perdão judicial. Jurisprudência oscilante.

Milícia privada (§ 6º)

Em 1994 o homicídio simples praticado em situação de grupo de extermínio foi considerado crime hediondo. A lei de organização criminosa aumenta a pena ainda para quem participe da milícia fazendo parte de alguma força de segurança.

Art. 122 – Induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio

Art. 122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça:Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de um a três anos, se da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave.Parágrafo único - A pena é duplicada:Aumento de penaI - se o crime é praticado por motivo egoístico;II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência.

Classificação doutrinária: a participação em suicídio é crime comum, comissivo, excepcionalmente omissivo (auxílio), de dano, material, instantâneo, doloso, de conteúdo variado e plurisubsistente.

Não é o tipo penal que criminaliza o delito de suicídio, pois o delito de suicídio não é punível. Neste artigo, o autor do crime não pode ser o executor da morte. É uma tratativa especial para o caso de “cumplicidade”.

a) bem jurídico/objeto material: o bem jurídico é a vida, mas também se confunde com o objeto material. Alguns dizem que o objeto material é ser humano com vida.

b) tipo objetivo (instigar, induzir, auxiliar): criminaliza a conduta de quem é cúmplice de um suicídio, que significa tirar a própria vida. Instigar e induzir tem uma característica de natureza moral. Induzir significa criar a ideia para o sujeito; instigar é levar a ideia já existente adiante. Auxiliar é de natureza material; dar a corda, a faca, o revólver, abrir a janela.

c) tipo subjetivo: só admite a modalidade dolosa. Não pode ser culposo. É necessário o dolo direto, e talvez, um dolo especial. A maioria dos autores não admite um dolo eventual.

d) sujeito ativo: qualquer pessoa que não seja a própria vítima. Esse delito admite concurso de pessoas, mas não entre o autor e a vítima.

e) sujeito passivo: deve estar no gozo de suas faculdades mentais, devendo estar plenamente consciente, com capacidade de decidir. A doutrina ainda afirma que o

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sujeito passivo tem que ser alguém maior de 18 anos. Se o sujeito passivo for menor de 18 anos, o delito se transforma num homicídio.

f) consumação: o delito se consuma quando há a superveniência da morte. Nesses casos, a pena é de dois a seis anos. Se dessa tentativa resulta lesão corporal de natureza grave, a pena é a metade, ou seja, um a três anos. E se não tiver a morte nem a lesão corporal de natureza grave? É um delito impune? É um crime formal ou material? Condição objetiva de punibilidade: alguém pode ter praticado um delito, mas que para ele seja punido, deve acontecer um determinado evento, seja ele qual for. O que tem prevalecido entre os autores é que o que aparece no campo de aplicação da pena é, de fato, uma condição objetiva de punibilidade. Vale dizer, no mínimo, para ser punido pelo artigo 122, o agente deve causar uma lesão corporal grave. Se for só uma lesão corporal leve, por mais que o agente tenha praticado o fato (instigação, induzimento ou auxílio), ele não será punido.

g) tentativa: a instigação está no grupo dos delitos materiais (entre o artigo 121 e 129). Se é considerado crime material, admite tentativa.

Causas especiais de aumento

Inciso I (se o crime é praticado por motivo egoístico): diz-se que o motivo é egoístico quando o agente age por motivo de interesse pessoal ou vingança.

Inciso II (se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência): é mais grave a conduta quando o agente se vale de uma circunstância pessoal da vítima.

Art. 123 – Infanticídio

Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após:Pena - detenção, de dois a seis anos.

Classificação doutrinária: o crime de infanticídio é próprio, material, de dano, plurissubsistente (constituído de vários atos, que fazem parte de uma única conduta), comissivo e omissivo impróprio, instantâneo e doloso.

Há quem diga que essa figura deveria ser um homicídio privilegiado. A pena é mais branda porque se supõe que a mãe só praticou o delito por influência do estado puerperal.

a) verbo núcleo: matar. Conjuga vários outros fatores que transformam esse delito em um delito especial. É tido como um delito de forma livre, ou seja, não há uma especificidade (não há necessidade que se observe determinado procedimento), ao contrário do 122.

b) bem jurídico/objeto material: vida.c) tipo objetivo: matar + sob a influência do estado puerperal.

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O estado puerperal não é equiparável à chamada depressão pós-parto. O estado puerperal seria um conjunto de alterações psíquicas e biológicas decorrentes do parto. A medicina diz que toda mulher passa pelo momento puerpéril, mas nem todas tem uma alteração de comportamento relevante para o direito penal. É uma zona, portanto, bastante nebulosa, até porque do momento do fato até a elaboração do laudo psíquico levam-se anos.Sutileza: Se esse estado puerperal for tão forte que iniba completamente a capacidade da mulher de entender, pode haver uma hipótese de inimputabilidade, equiparando essa condição ao art. 26.Durante o parto ou logo após parece que reduz o âmbito de incidência. Durante o parto é o termo quando começa o crime de infanticídio. O parto se inicia a partir do momento em que a gestante inicia as contrações. No entanto não temos a definição de quanto tempo é o “logo após”. O posicionamento mais razoável é de que o estado puerperal dura cerca de 08 dias. Mesmo na medicina não há uma posição uníssona quanto a esse respeito.

d) sujeito passivo: o próprio filho (nascente ou neonato). Se a mãe, sob o estado puerperal, mata outro filho, o marido ou a mãe, não se encaixa nesse delito.

e) sujeito ativo: a mãe. É um delito próprio, pois exige que alguém tenha características especiais. É também um delito de mão própria, pois só a pessoa, ela mesma, pode fazer.Art. 30 diz que circunstâncias elementares são aquelas que aparecem no tipo objetivo sem a qual o crime não existe.O delito de infanticídio é um delito próprio, segundo a professora, mas é possível que a mãe, sob a influência do estado puerperal, peça que alguém execute materialmente o delito. O terceiro que participar responde também por infanticídio ou por homicídio. O art. 30 não está supondo que o terceiro também estará sob a influência do estado puerperal. Doutrinariamente prevalece o entendimento de que o terceiro responde por infanticídio e jurisprudencialmente que responde por homicídio.Se esse terceiro for o pai, não é possível que ele responda por infanticídio, pois ele é o garantidor. Ele tem a obrigação de evitar a morte.O nosso Código Penal adota como regra a teoria monista (quando existir concurso de pessoas responde-se com culpabilidade individualizada, mas a partir da mesma figura típica). Se o terceiro é quem tem a ideia e a mãe adere à conduta pelo estado puerperal, a mãe responde por infanticídio e o terceiro por homicídio.

f) tipo subjetivo: dolo direito (dolo eventual).g) consumação: o delito se consuma com a morte do ser humano nascente ou recém-

nascido (delito de resultado).h) tentativa: é delito material e, portanto, admite tentativa.

Art. 124 ao 127 - Aborto(s)

Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimentoArt. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque:

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Pena - detenção, de um a três anos.Aborto provocado por terceiroArt. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante:Pena - reclusão, de três a dez anos.Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante: Pena - reclusão, de um a quatro anos.Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada ou debil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violênciaForma qualificadaArt. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em conseqüência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte.Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico: Aborto necessárioI - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;Aborto no caso de gravidez resultante de estuproII - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.

Classificação doutrinária: trata-se de crime de mão própria (no autoaborto e no consentido), que somente a gestante pode praticar; crime comum, de dano, material, instantâneo e doloso.

Considerações iniciais

Antigamente não era delito. Era hipótese de lesão corporal (se praticado por terceiro), mas o autoaborto ou com consentimento da gestante não era tido como delito.

Para a professora, o aborto não deveria ser um delito exclusivamente feminino. Quando o pai abandona o filho isso poderia ser considerado um aborto.

Descriminalizar não significa incentivar a prática do aborto.

Modelo restritivo

Manteve a figura do aborto como delito, mas abriu uma cláusula dizendo que não será punido o aborto quando a mãe não tiver condições de criar o filho. No Tribunal de Justiça do PR só tem um caso de aborto em trâmite.

Espécies de aborto

Há aqui uma quebra da teoria monista, pois há distinção para esse terceiro.

i) aborto consentido (art. 124); ii) auto-aborto (art. 124); iii) aborto com o consentimento da gestante (art. 125); iv) aborto sem o consentimento da gestante (art. 126).

a) bem jurídico: vida, mas pode também ser a lesão corporal e integridade física da mãe quando ela não empresta o consentimento, como também o próprio constrangimento ilegal.

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b) objeto material: há quem diga que para a medicina neste momento da concepção já teria a indicação de que o embrião fecundo enseja a figura do feto. Para o direito penal, há quem diga que para falar de aborto a expressão tradicional é a interrupção da gravidez, o que suporia um embrião implantado no corpo da mãe. Penalmente, esse objeto material passaria a existir no momento em que há implantação do embrião no corpo da mãe.

c) tipo subjetivo: o nosso CP criminaliza exclusivamente o aborto dolosamente praticado, em qualquer dessas modalidades. No entanto, ele aparece como uma modalidade de crime culposo no art. 129, § 2º, V.

d) tipo objetivo: provocar por questões mecânicas (apertar a barriga), provocar por meios materiais (faca), provocar por substâncias (chás e remédios).

e) verbo-núcleo: provocar.

Art. 124 – Auto-aborto ou consentimento para...

a) sujeito ativo: a gestante.b) sujeito passivo: o feto.c) pena: detenção de 1 a 3 anos.

Art. 125 – Aborto sem consentimento

a) sujeito ativo: terceiro.b) sujeito passivo: a gestante ou o feto.c) pena: reclusão de 3 a 10 anos.

Art. 126 – Aborto com consentimento

a) sujeito ativo: terceiro.b) sujeito passivo: feto.c) pena: 1 a 4 anos.

É uma quebra na teoria monista, uma vez que os agentes respondem por crimes diferentes.

Isso só é válido se o consentimento é válido. Se a gestante está sendo obrigada a fazer o aborto (mediante fraude, violência ou coação), quem a leva é que está cometendo o delito.

Se a gestante for menor de 14 anos, alienada mental ou, ainda, se o consentimento for obtido de modo fraudulento ou por meio de coação, a pena aplicada será a do artigo 125.

O fato de a gestante ser alienada mental ou menor de 14 anos é complicado, uma vez que, não raro, quem leva essas pessoas para fazer o aborto são os pais. Há ainda a questão do estupro de vulnerável. O artigo 128 diz que a gravidez decorrente de estupro é passível de aborto.

Art. 127 – Aborto qualificado pelo resultado

a) sujeito ativo: terceiro.b) sujeito passivo: gestante. As lesões ao feto não são puníveis.c) resultados qualificadores: lesões corporais graves ou morte em virtude da prática ou

do meio abortivo.

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Traz duas possibilidades de aborto qualificado pelo resultado. Só se aplica a um terceiro, porque a ideia é que o resultado (lesões corporais graves ou morte) ocorre nas gestantes. Esse resultado tem que ser em virtude da prática ou do meio abortivo. Não pode ser um dolo autônomo de quem pratica o aborto na gestante.

O art. 70 traz a hipótese de que com uma única ação o sujeito pratica dois resultados diferentes. Nesse caso, o resultado (lesão ou morte) é uma consequência do primeiro delito (aborto). Por certo, essa lesão ou morte não tenham sido assumidas como um risco ou fruto de dolo autônomo.

Não existe a figura do aborto culposo. 129, § 2º, VI.

É importante destacar que no aborto qualificado os resultados são qualificadores exclusivamente em abortos provocados por terceiro.

Art. 128 – Aborto legal (atípico ou justificado?)

Só o médico pode ser beneficiário dessa figura? E a enfermeira, a anestesista, a parteira? É tranquilo dogmaticamente pensar que se elas forem assessorar o médico, se a conduta do médico não é punível, não é punível também a conduta de quem o assessora.

Esse artigo é uma hipótese de atipicidade ou de conduta típica justificada? Se a conduta é atípica ou justificada, há consequência ou para excluir a tipicidade ou para excluir a ilicitude. O mais razoável é para excluir a ilicitude, de modo a se tornar uma conduta permitida, apesar de típica.

Esse artigo se aplica em dois casos:

a) gravidez decorrente de estupro (aborto sentimental): o CP não exige que haja BO, autorização do juiz ou qualquer documento, salvo a ideia de que a gravidez decorre de estupro. O Ministério da Saúde editou dois cadernos (4 e 6) e eles orientam como deve ser esse procedimento para a realização do aborto no caso de gravidez decorrente de estupro.A avaliação médica é que vai dizer se houve ou não a prática de estupro. No entanto, não precisa de autorização judicial para fazer esse procedimento.Polêmica: gestante “alienada” mental ou menor de 14 anos.

b) risco de morte para a gestante (aborto terapêutico): a política de criminalização do aborto é paradoxal e contraditória, pois se a mãe quiser salvar o filho e não ela mesma, não pode. Se o médico atender esse pedido da mãe, ele responde por homicídio. A ideia era de que uma mulher viva tem a maior possibilidade de aumentar a prole do que propriamente uma razão fundamental.Paradoxal: se o bebê é menos importante, é irrelevante, porque criminalizar o aborto?

Aborto de feto anencéfalo – decisão do STF-ADPF

Essa figura da ADPF se estruturava a partir da ideia de que seria extremamente cruel para a gestante ou para o casal gerar um filho natimorto. O que fez o STF, nesse caso, ampliar o entendimento da lei? Por que não corrigir isso pela via legislativa?

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O projeto do CP colocou essa como uma hipótese de aborto permitido.

Art. 129 – Lesão corporal

Art. 129 - Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.§ 1º - Se resulta:I - incapacidade para as ocupações habituais, por mais de 30 (trinta) dias;II - perigo de vida;III - debilidade permanente de membro, sentido ou função;IV - aceleração de parto:Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos.§ 2º - Se resulta:I - incapacidade permanente para o trabalho;II - enfermidade incurável;III - perda ou inutilização de membro, sentido ou função;IV - deformidade permanente;V - aborto:Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos.§ 3º - Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo:Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos.§ 4º - Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.§ 5º - O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a pena de detenção pela de multa:I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior;II - se as lesões são recíprocas.§ 6º - Se a lesão é culposa:Pena - detenção, de 2 (dois) meses a 1 (um) ano.§ 7º - (culposa) Aumenta-se a pena de um terço, se ocorrer qualquer das hipóteses do art. 121, §4º.§ 8º - Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art. 121.§ 9º Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade:Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos.§ 10. Nos casos previstos nos §§ 1º a 3º deste artigo, se as circunstâncias são as indicadas no § 9º deste artigo, aumenta-se a pena em 1/3 (um terço).§ 11. Na hipótese do § 9º deste artigo, a pena será aumentada de um terço se o crime for cometido contra pessoa portadora de deficiência.

Classificação doutrinária: a lesão corporal é crime comum, podendo ser praticado por qualquer sujeito ativo, sem exigir nenhuma qualidade ou condição especial; crime material e de dano, que somente se

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consuma com a produção do resultado, isto é, com a lesão ao bem jurídico; instantâneo, podendo apresentar-se sob as formas dolosa, culposa ou preterdolosa.

Pela estrutura do CP, só há uma lesão corporal classificada legalmente que é a lesão corporal grave. As expressões “lesão corporal gravíssima” ou “lesão corporal leve” são construídas pela doutrina. Não são só as lesões aparentes que compreendem o caput desse artigo.

a) bem jurídico: a integridade fisio-psíquica (saúde).b) objeto material: depende de qual seja a natureza da lesão corporal. Distintamente dos

delitos anteriores, há essa diferença mais marcante quanto ao bem jurídico e objeto material.

c) tipo subjetivo: dolosa, culposa (art. 129, § 6º) ou preterdolosa (129, § 3º - deixa evidenciado que só não pode ser um homicídio porque o sujeito não quis e nem assumiu o risco de produzir o resultado morte). A culposa não se classifica em leve, grave ou gravíssima, que só existem para a conduta dolosa.

d) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum).e) sujeito passivo: qualquer pessoa, salvo nos hipóteses do art. 129, §1º, inciso IV e §2º,

inciso V.

Não há qualquer menção em relação à criança e ao adolescente. É obvio que há uma diferença muito grande entre as lesões produzidas em crianças e adolescentes e as lesões sofridas por adultos. Esse é um campo extremamente obscuro e delicado do direito penal.

As lesões que aparecem no artigo 129 são pensadas tipicamente para adultos, como a incapacidade permanente para o trabalho. Isso se explica pelo poder disciplinar. O Estado não deveria intervir na questão do pátrio poder.

Quando uma lesão corporal se consuma? Responde-se pelo resultado ou pela intenção do agente? Por exemplo, lesão corporal grave ou tentativa de lesão corporal gravíssima, caso o agente pretendia um resultado muito pior do que efetivamente ocorreu.

“caput” (lesão leve)

Detenção de 3 meses a 1 ano. Crime do JECrim. Se não se caracterizarem as lesões dos §1º e 2º, será uma lesão leve.

§ 1º (lesão grave)

Reclusão de 1 a 5 anos.

Inciso I (incapacidade para suas ocupações habituais por mais de 30 dias): a doutrina afirma que devem existir dois laudos, um que ateste a lesão inicial e outro, ao menos 30 dias depois, que comprove a lesão que incapacitou a vítima para o trabalho por período maior de 30 dias. O perito deve fazer uma entrevista com a vítima, saber sobre os fatos, e expedir um laudo que responda o que a lei determina (as leis estaduais estabelecem os quesitos que o perito deve analisar e responder). A partir de 2008, tanto a defesa como o MP podem formular quesitos e indicar assistentes técnicos para acompanhar a perícia. Se a vítima não retorna ao IML para fazer o laudo complementar, o delito é desclassificado para lesão leve.

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O que são essas ocupações habituais: são as ocupações que a pessoa tem. Não está, necessariamente, vinculado à ideia de trabalho. A doutrina diz que o bebê também pode ser inserido nessa categoria – se ele tem dificuldade para mamar, brincar, etc..

Inciso II (perigo de vida ou risco de morte): é um dos problemas mais dramáticos distinguir a lesão grave de uma tentativa de homicídio. O risco de morte não pode ser querido pelo sujeito, pois senão é tentativa de homicídio. O campo da subjetividade será muito importante e difícil de se analisar. É uma das disputas que se tem com mais frequência no Tribunal do Júri.

O perigo de morte deve ser atestado pelo médico e pelo prontuário do hospital. Deve ser indicado no que consistiu esse perigo de morte: queda, intervenção cirúrgica, etc.

Inciso III (debilidade permanente de membro, sentido ou função): debilidade é o comprometimento, a fragilidade, a redução daquele membro, sentido ou função; mas não extirpar, não extinguir, não aniquilar. A ideia do permanente é um tempo razoável; e se dá ainda que a vítima possa usar outros recursos para se recuperar (questão de próteses, por exemplo). Deve ser de membro, sentido ou função: braços, pernas; visão, audição; respiratória, digestiva.

Inciso IV (aceleração de parto): o único sujeito passivo é a mulher grávida. Se um bebê nasce, e morre tempos depois, a partir da análise do caso (golpes, local dos ferimentos, etc), é possível pensar em um aborto (a maior parte da doutrina pensa que é um aborto consumado).

§2º (lesão gravíssima)

Reclusão de dois a oito anos.

Inciso I (incapacidade permanente para o trabalho): a ideia de permanente é duradoura, ainda que não seja eterna. É incapacidade permanente para qualquer trabalho ou para o trabalho que exercia a vítima? Há quem diga que como o código determina que é qualquer trabalho , e que como não se pode fazer analogia in malam parte, não se pode só pensar no trabalho específico (modelo com lesão no rosto – agora deve exercer outra profissão).

Inciso II (enfermidade incurável): está muito perto da ideia do risco de morte. Pode ser transmissão de doença, agravamento de uma condição que o sujeito tenha. A enfermidade pode ser física ou psíquica. E deve ser incurável de acordo com o estágio atual da medicina. Não se pode exigir que a vítima se submeta a tratamentos caros, dolorosos e invasivos para atenuar a situação do sujeito.

A transmissão do vírus da AIDS de maneira proposital já foi discutida como lesão corporal ou tentativa de homicídio. Hoje se encontra mais superada, porque se sabe que o vírus não é tão letal quanto se acreditava (ver arts. 130 e 131 também).

Inciso III (perda ou inutilização de membro, sentido ou função): há uma discussão jurisprudencial que afirma que isso se torna mais difícil de se caracterizar se se está falando de órgãos duplos. Ex. furar apenas um olho, que não significa a perda da visão. Para membro não existe essa questão. Deve haver um impacto mais severo para sentido ou função.

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Inciso IV (deformidade permanente): queimaduras, cortes. Há uma posição de que a deformidade deve ser visível aos outros. A pergunta que fica é: a deformidade permanente é em razão do julgamento, da repulsa do outro ou da própria vítima?

Inciso V (aborto): deve ser uma decorrência da lesão praticada na mãe e não pode ser o resultado querido pelo agente.

§ 3º (lesão seguida de morte)

Reclusão de 4 a 12 anos. Quando o agente não queria nem assumiu o risco do resultado morte. A grande questão é a probatória. Entre a lesão corporal seguida de morte e o homicídio consumado há uma linha muito tênue.

§ 4º (lesão corporal privilegiada)

São as mesmas hipóteses do homicídio privilegiado. Redução de um sexto a um terço.

§ 5º (substituição)

Refere-se exclusivamente às lesões leves privilegiadas ou às lesões leves e recíprocas.

§ 6º (lesão culposa)

Pena de detenção de dois meses a um ano. Há a questão da lesão culposa na direção de veículo automotor, que será guiada pelo CTB.

§§ 7º e 8º (aumento de pena)

Para as lesões corporais culposas, aumenta-se a pena se ela é gerada por imperícia ou por falta de prestação de socorro pelo agente.

Para os casos de lesão dolosa, há duas hipóteses de aumento: vítima menor de 14 anos ou maior de 60 (desde que isso não caracterize uma figura própria do Estatuto do Idoso).

§§ 9º e 10º (questão da violência doméstica e familiar)

Aparece nas agravantes. Dá um pontapé para a matéria de violência doméstica sair dos juizados especiais. Esses parágrafos não se referem exclusivamente a violência doméstica e familiar à mulher. A vítima também pode ser um homem.

Art. 130 – Perigo de contágio de “moléstia venérea”

Art. 130 - Expor alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato libidinoso, a contágio de moléstia venérea, de que sabe ou deve saber que está contaminado:Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa.§ 1º - Se é intenção do agente transmitir a moléstia:Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.§ 2º - Somente se procede mediante representação.

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Classificação doutrinária: o perigo de contágio venéreo é crime comum; formal, pois se consuma com a simples realização da conduta típica, independentemente da produção de qualquer resultado; instantâneo, comissivo e plurissubsistente. A conduta descrita no caput do artigo é crime de perigo e a descrita no § 1º é de dano.

a) tipo objetivo: expor + relações sexuais / ato libidinoso + “moléstia venérea”. É desnecessária a contaminação da doença. Basta a exposição. Lei penal em branco (a doença sexualmente transmissível deve estar no rol estabelecido pelo Ministério da Saúde).

b) tipo subjetivo: o caput diz que sabe ou deve saber ser portador (o crime é justamente a exposição ao perigo). Campo subjetivo enorme. Já o §1º dispõe sobre quando o autor quer transmitir a moléstia.

c) sujeito ativo: pessoa portadora de DST.d) sujeito passivo: qualquer pessoa, desde que não portadora daquela DST transmitida.e) bem jurídico: incolumidade física e a saúde de outrem.

Não admite nem o consentimento do “ofendido”. Ainda que o outro esteja consciente da doença e consinta com o ato, a conduta será crime.

Processa-se por meio de representação, ou seja, é uma ação penal pública condicionada.

Art. 131 – Perigo de contágio de moléstia grave

Art. 131 - Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que está contaminado, ato capaz de produzir o contágio:Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Classificação doutrinária: trata-se de crime de perigo com dolo de dano, formal, doloso, comum, comissivo e instantâneo.

Aqui se abre o leque, não especificamente a um determinado grupo de doenças. Criminaliza-se mais a finalidade do que o meio.

a) tipo objetivo: praticar (forma livre) + ato capaz + moléstia graveb) tipo subjetivo: “com o fim de”. Deve haver vontade de transmitir a doença.c) bem jurídico: incolumidade física e a saúde de outrem.d) sujeito ativo: pessoa portadora de doença grave. e) sujeito passivo: qualquer pessoa, desde que não seja portadora daquela doença grave.

Art. 132 – Perigo para a vida ou a saúde de outrem

Art. 132 - Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente:Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, se o fato não constitui crime mais grave.

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Parágrafo único - A pena é aumentada de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço) se a exposição da vida ou da saúde de outrem a perigo decorre do transporte de pessoas para a prestação de serviços em estabelecimentos de qualquer natureza, em desacordo com as normas legais.

Classificação doutrinária: trata-se de crime comum, formal, de perigo concreto (não se presume, exigindo a sua comprovação), doloso, de ação livre, instantâneo, comissivo ou omissivo, simples e essencialmente subsidiário.

Perigo direto e iminente para tentar limitar. É um delito legalmente tido como subsidiário, só se caracteriza se não há a possibilidade de um delito mais severo, como a tentativa de homicídio. É um delito com uma pena leve (3 meses a 1 ano).

a) tipo objetivo: expor + a vida ou a saúde + perigo direto e iminente (“se não constitui crime mais grave”).

b) sujeito passivo: qualquer um, desde que não possua profissão própria de exposição à perigo.

§ único

Aumento de 1/6 a 1/3. Transporte de pessoas para qualquer estabelecimento (boias frias). O problema é que a exposição utilizando de transporte é quando a pessoa está sendo transportada para estabelecimento. Uma fazenda é estabelecimento? Bitencourt diz que estão excluídas as propriedades rurais; Nucci diz que elas estão incluídas, uma vez que esse dispositivo foi criado para esse fim.