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Revista Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sutentável 02_04/2002

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Estrumeiras de solo-cimento

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Page 1: Revista Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sutentável 02_04/2002
Page 2: Revista Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sutentável 02_04/2002

3Agroecol.eDesenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.2, abr./junh.2002

Editorial

Oscaminhosdo desenvolvimento local passam pela agricultura familiar

Nosso entrevistado deste número, o professor portu-

guês Athur Cristóvão, discute algumas contradições que

se est abelecem en t r e o m odelo de desen volvim en t o

hegemônico e as novas formas de exploração do espaço

rural que o momento presente está a exigir. Partindo da

evidência de qu e, ao longo da h istór ia, as at ividades

agropecuár ias vêm se revelando como modeladoras do

ambiente, Cr istóvão afirma que a sustentabil idade re-

quer a construção de processos que fortaleçam os recur-

sos locais, valor izem o espaço ter r i tor ial e apóiem as

interações e as relações de solidar iedade entre as pes-

soas. Nesta perspect iva, haveria correlação direta entre

a busca do desenvolvimento local e a consolidação de

estratégias agroecológicas, cu jo potencial transformador

extrapolar ia a simples condição de suporte à agricu ltu-

ra em si, abrindo caminho para novas atividades relaci-

onadas ao rural, entre as quais o turismo rural aparece

como um importante exemplo. As potencialidades con-

t idas nesta reor ientação dos processos de desenvolvi-

mento ru ral estar iam cobrando novos serviços e fun-

ções da Extensão Rural, cu jo sucesso seria dependente

da capacitação dos profissionais envolvidos na supera-

ção dos novos desafios que surgem nesse contexto. Tra-

balhando sobre questão similar, ou seja, a qualificação

profissional, Sarandón examina as condições e dificu l-

dades para a formação de novos perfis profissionais a

partir do ensino formal. Focalizando o caso da Faculda-

de de Ciências Agrár ias da Universidade Nacional de

La Plata, Argent ina, sustenta que a Agroecologia deve

constitu ir disciplina obrigatór ia no curso de Agronomia

e propõe ementa capaz de assegurar efeito dinamizador

sobre os demais conteú dos. Mesmo reconhecendo as

resistências associadas ao perfil inadequado dos docentes

e à estru tu ra do ensino tradicional (ambos voltados à

formu lação de receitas prontas, que ser iam, ademais,

demandadas pelos própr ios alunos), Sarandón afirma

qu e estas dificu ldades devem ser enfren tadas direta-

mente, sendo inadmissível que, no momento presente,

as universidades continuem a oferecer à sociedade pro-

fissionais que careçam de embasamento agroecológico

em sua formação obrigatória. Aliás, em Opinião, Caporal

e Cost abeber abor dam as di fi cu ldades r elat ivas ao

embasamento conceitual e seu impacto sobre a constru-

ção de práticas consistentes com os princípios da Agro-

ecologia, enquanto enfoque científico or ientado à cons-

trução de estratégias de desenvolvimento rural ajusta-

das às mult idimensões da sustentabilidade e coerentes

com as pecu liar idades da agr icu ltu ra familiar . Por sua

vez, o ar t igo de Toledo, ao evidenciar a conexão entre

Agroecologia, su sten tabi l idade e agr icu l tu ra famil iar ,

aponta o potencial da Reforma Agrár ia como elemento

ar t icu lador daqueles preceitos vincu lados ao desenvol-

vimen to ru ral . Ao discu t i r eficiência e produ t ividade

com base em evidências de vários países, o autor mons-

tra a superioridade da agricultura familiar em relação a

ou tros sistemas de exploração da terra e conclu i pela

necessidade de pesqu isadores, técnicos e organizações

de caráter mult idisciplinar capazes de entender as rela-

ções que inexoravelmente se estabelecem entre a Sus-

tentabilidade, a Agroecologia e a Reforma Agrária. Nou-

tro art igo, Pinto e Garavello discutem a perda da biodi-

versidade como resultado da adoção parcial de tecnolo-

gias inadequadas ao saber local, implantadas na linha

tradicional de forma artificializada e à revelia das práti-

cas, conhecimentos e costumes da comunidade a que

se dest inam. Ao mostrar as transformações na vida de

uma aldeia Bororo, face a introdução de milhos híbr i-

dos, o art igo evidencia a velocidade com que se mani-

festam impactos deletér ios, decorrentes de tecnologias

e polít icas de corte imediat ista (que ignoram o enfoque

agroecológico), sobre culturas milenares. Como comple-

m en t o a esse ar gu m en t o, o Relat o de Exper iên cia

assinado por Vivan , qu e anal isa a in tegr ação en t r e

banan icu l tu ra e sistemas agroflorestais, i lu st ra qu e

a abordagem agroecológica perm ite, a par t i r do res-

gate e in terpretação dos saberes locais, combiná-los

com in formações teór icas e gerar or ien tações prát i -

cas que ampliam o conhecimento colet ivo e elevam a

com pr een são dos n íveis de com plexidade com qu e

trabalha. Nessa parcer ia amigável ent re homem e na-

tu reza, su rgem resu l tados socioambien tais posi t ivos

a cu r to e longo prazos. Também considerando a pers-

pect iva de su sten tabi l idade, Bar t els e seu s colegas

apr esen tam Al ter nat iva Tecnológica par a apr ovei t a-

m en to de dejetos de su ínos, qu e se notabi l iza pelo

menor impacto ambiental, melhor aproveitamento do

est ru me e baixo cu sto, relat ivamente às opções t ra-

d i cion ais. Est e n ú m er o, qu e par a a n ossa alegr ia

marca a décima edição de Agroecologia e Desenvol-

vimen to Ru ral Su sten tável , ainda apresen ta as t ra-

dicionais dicas ecológicas, econotas e resenhas. Boa

lei tu ra a todos.

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4Agroecol.eDesenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.2, abr./junh.2002

RevistadaEmater/RSv. 3, n.2, Abril /Junho / 2002

Coordenação Geral: Diretoria Técnica da EMATER/RS

Conselho Editorial: ÂngelaFelippi, Alberto Bracagioli, AriHenriqueUriartt, DulphePinheiro Machado Neto, ErosMarionMussoi, Fábio José Esswein, Francisco Roberto Caporal,Gervásio Paulus, Jaime Miguel Weber, João CarlosCanuto, JoãoCarlosCostaGomes, Isabel Cristinade MouraCarvalho, JorgeLuizAristimunha, JorgeLuizVivan, JoséAntônio Costabeber,JoséMário Guedes, Leonardo AlvimBeroldt daSilva, LeonardoMelgarejo, Lino DeDavid, LuizAntônio RochaBarcellos, NiltonPinho deBem, Renato dosSantosIuva, Rogério deOliveiraAntunes, Soel Antonio Claro.

EditorResponsável: Jorn. ÂngelaFelippi - RP7272EditoraçãodeTexto: MariléaFabiãoProjetoGráficoeIlustração: SérgioBatsowDiagramação: MairãAlves- ImprensaLivreEditoraRevisão: NiamaraPessoaRibeiroFotografia: KátiaFarinaMarcon, RogériodaS. Fernandes,LeonardoMelgarejoPeriodicidade: TrimestralTiragem: 3.000 exemplaresImpressão: PallottiDistribuição: BibliotecadaEMATER/RS

EMATER/RSRuaBotafogo, 1051BairroMeninoDeus90150-053 - PortoAlegre- RSTelefone: 51- 3233-3144Fax: 51- 3233-9598

Endereçoeletrônicodarevistahttp://www.emater.tche.br/docs/agroeco/revista/revista.htm

E-mail: [email protected]

A RevistaAgroecologiaeDesenvolvimentoRural Sustentável éumapublicação daAssociação RiograndensedeEmpreendimentosdeAssistênciaTécnicaeExtensão Rural - EMATER/RS.OsartigospublicadosnestaRevistasão deinteiraresponsabilidadede seusautores.

CartasAsinstituiçõesinteressadasemmanter permutapodemenviar cartasparaabibliotecáriaMariléaFabião, EMATER/RS, RuaBotafogo,1051, 2°andar, BairroMeninoDeus,CEP 90.150.053,PortoAlegre/RS, [email protected] 1519-1060

SUMÁRIO

EEEEEntrevista 5Arthur Cristóvão aborda a multifuncionalidade do rural

OOOOOpinião 13Agroecologia. Enfoque científico e estratégicoCaporal, Francisco Roberto; Costabeber, José Antônio

RRRRRelato de EEEEExperiência 17Bananicultura emSistemasAgroflorestaisno Litoral Nortedo RS.Vivan,Jorge Luiz

AAAAArtigo 27Agroecología, sustentabilidad y reforma agrariaToledo, Víctor M.

AAAAAlternativaTTTTTecnológica 37Estrumeiras de solo-cimentoBartels, Henrique A. S.; Kappel, Paulo Sérgio; Thume,Valmir

AAAAArtigo 40Incorporando el enfoqueagroecológico enlasInstitucionesdeEducación AgrícolaSuperiorSarandón, Santiago J.

EEEEEconotas 49

DDDDDicaAAAAAgroecológica 51Catar a fêmea do carrapato à mãoLunardi, Jorge J.

EcoLinks 53

AAAAArtigo 54Transformação (agri)cultural ou etnossustentabilidadePinto, José Galvão; Garavello, Maria Elisa de PaulaEduardo

RRRRResenha 61

NNNNNormaseditoriais 65

Agroecol. eDesenvol. Sustent.| PortoAlegre| v.3| n.2 | p.1-68| abr./junh. 2002

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5Agroecol.eDesenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.2, abr./junh.2002

"A vida de qualquer área rural dependede um cruzamento e de uma articulação

entre atividadesdiversas"

Entrevista/Arthur Cristóvão

As funções do meio rural vão muito alémde fornecer alimentos para as cidades. Essa éuma das perspectivas atuais de discussão dasestratégias de desenvolvimento local, que par-te do princípio da mult ifuncionalidade do es-paço rural. Um dos especialistas nesse assun-t o é o dou t or em Edu cação Con t ín u a eVocacional, agrônomo Arthur Cristóvão, pro-fessor de Extensão Rural e DesenvolvimentoRural da Universidade de Trás-os-Montes e AltoDouro, de Portugal. Pesquisador, com projetosde extensão e consu ltor ia em vár ios países,Cr istóvão aposta na revitalização do rural apart ir do desenvolvimento de uma série de ati-vidades que extrapolam a agrícola, inclu indo

iniciat ivas de tur ismo, de industr ialização e acr iação de serviços que garantam qualidadede vida aos moradores das zonas rurais.

Ele esteve no Brasil em maio, para part ici-par do III Congresso Internacional sobre Tu-r ismo Rural e Desenvolvimento Sustentável,promovido pela Universidade de Santa Cruzdo Su l/ RS. Durante sua estada no Rio Gran-de do Su l, falou para a Revista Agroecologia eDRS sobre as novas funções do rural, da pro-dução ecológica dentro desse contexto, da re-t irada do estado dos serviços públicos de ex-tensão rural na Europa e do trabalho desen-volvido pela EMATER/ RS.

Re v is t a - An a lis t a s d iz e m q u e o a t u -

a l m o d e lo d e d e s e n vo lv im e n t o d o r u r a l

e d o a gr íc o la e s t á e s go t a d o e qu e a s o -c ie d a d e p e d e n ova s fu n ç õe s a e s t e s t e r -

r i t ó r io s . Qu a is a s r a z õ e s d e s s e e s go t a -

m e n t o e q u a is a s n o va s fu n ç õ e s d o r u -*A entrevista foi realizada por Ângela Felippi

eLuizFernando Fleck

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6Agroecol.eDesenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.2, abr./junh.2002

Entrevista/Arthur Cristóvão

r a l e d a a gr ic u lt u r a ?Cr is t óvão -Acho que essas novas funções

são exigidas como resultado dos efeitos do pró-pr io modelo de desenvolvimento. O modelo foigerador, por um lado, de grandes excedentesalimentares, aumento alicerçado no aumen-to da produção, da produtividade, e, por outrolado, gerador de uma série de ineficiências eproblemas de natureza ambiental, social. Foigerador de uma ilusão de recursos e patr imô-nios, de certa forma porque em muitas situa-ções, lembrando o caso português, que não é oúnico, nem o melhor, porque Portugal não éum país muito desenvolvido sob o ponto de vis-ta agrícola. Mas no caso português, ver ificou-se que, onde a modernizaçãoda agricu ltura foi mais inten-sa, houve um certo desprezopor outro tipo de recurso: peloambiente, por var iedades, es-pécies vegetais locais, por va-r iedades m ais au t óct on es.Portanto, veio uma ilusão des-se patr imônio.

Nós ch egam os, al gu n sanos atrás, a uma constata-ção mais aguda de que erapreciso pensar o desenvolvimento de uma for-ma diferente, mais ampla, que não fizesseuma erosão tão rápida dos recursos. Então veioessa lógica do desenvolvimento sustentávele do espaço rural e da agr icu ltu ra como tendoum caráter mu lt ifuncional. Está mu ito pre-sente essa idéia lá, e aqu i também ouvi falardessa idéia de mult ifuncionalidade do espaçorural e da agr icu ltu ra. No fundo, tem a vercom a possibil idade de valor izar diferentes di-mensões do espaço rural e da at ividade agrí-cola. O espaço agrícola ru ral não é hoje vistoapenas como espaço de produção de alimen-tos, até porque os alimentos se produzem cadavez numa porção mais pequena do terr itór io,dado os níveis de produ t ividade que se at in-giu . O espaço rural, tendo perdido essa im-por tância na produ ção al imen tar , ganhou

uma importância crescente na produção deoutro t ipo de valores: ambientais, cu ltu rais;por isso se fala tanto nessa mult ifuncionali-dade. A agr icu ltu ra é natu ralmente uma at i-vidade constru tora de ambiente. Isso é tãofundamental que nós não podemos tampoucopensar em desenvolver o tu r ismo no espaçorural que se fala tanto se não pensarmos emmanter a agr icu ltu ra como at ividade produ t i-va. De outra forma, estamos a liqu idar a pai-sagem, que é um elemento muito importan-te de atração das pessoas: o verde, as pasta-gens, as vinhas, os pomares, elementos der iqueza da paisagem. Não havendo uma agr i-cu ltu ra viva, o tur ismo também acaba perden-

do seu interesse.Re vis t a - Com o o se -

n h o r v ê a q u e s t ã o d o

d e s e n v o l v i m e n t o

a l i c e r ç a d o e m b a s e slo c a i s c o m o fo r m a d e

o r ga n iz a ç ã o e p la n e ja -

m e n t o p a r a u m n o v or u r a l?

Crist óvão -Em primei-ro lugar , um aspecto emrelação ao qual talvez seja

preciso sublinhar e que talvez estejamos de acor-do équenão podemos pensar no desenvolvimen-to local como um desenvolvimento encerrado noterr itór io local. Qualquer desenvolvimento nomundo globalizado em que vivemos tem que serentendido em interação entre terr itór ios. Dequalquer forma, quando pensamos em desenvol-vimento local, em promover iniciativas, experi-ências, projetos de desenvolvimento local, a idéiacentral é criar projetos que possam estar inti-mamente ligados ao território em todas as suasdimensões. Projetos que estão ligados aos ato-res que intervêm nesse território, às pessoas,às organizações, a todo tipo de instituições quefazem esse território viver e que vivem nele. Umdesenvolvimento também que procura valorizare integrar todos os recursos que esse territóriopossui. O local também tem uma importância

Não podemos pensar no desen-

volvimento local como um desen-

volvimento encerrado no territó-

rio local, [mas] qualquer desen-

volvimento no mundo globalizado

tem que ser entendido em

interação entre territórios.

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7Agroecol.eDesenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.2, abr./junh.2002

central quando falamos em desenvolvimento lo-cal, [no sentido de] ser um desenvolvimento quepode valorizar as próprias participações das pes-soas, dos atores. Essa dimensão de participação,de construção, de interações, de solidariedadeno território é uma dimensão fundamental, queestá hoje muito presente em alguns instrumen-tos de política na Europa. É o caso do programaLeader. A idéia cent ral é exatamente essa:alicerçar o desenvolvimento nas pessoas, nos re-cursos, na participação, nas relações, na cria-ção de laços, no capital social dos territórios e,dessa forma, criar uma hipótese de desenvolvi-mento que seja enriquecedora do território, por-quemuito do desenvolvimento quese fez, debaseexógena, portanto um desenvolvimento queépro-movido de fora para dentro, tem sido um desen-volvimento quefaz tábua rasa da-qu ilo que são as capacidades,oportunidades, os recursos lo-cais. O desenvolvimento local éo contrário: é partir daquilo queo território é e dos valores queele encerra. E qualquer territó-rio tem valores. Depois, é preci-so conjugá-lo com outros valoresque estão fora. Nós encontramoscada vez mais a necessidade deatrair gente de fora. Empreendedores, jovens,gente que venha de outros locais com idéias, di-namismo, recursos financeiros. É preciso fazertodo este jogo de interações, mas queestão muitocentradas na hipótese de desenvolver o territó-rio em benefício do território.

R e v is t a - Pe n s a n d o n e s s a n o va p e r s -

p e c t iva d e d e s e n vo lv im e n t o , e m ba s e s

loc a is , c om o o se n h or vê o p a p e l d a e x-t e n s ã o r u r a l?

Moon ey – Penso que estamos mudando deuma postura defensiva para uma postura maisofensiva. Temos algo pelo qual lu tar no acor-do sobre como estes bens genét icos comunsda humanidade deverão ser par t i lhados.

Re vis t a – O se n h or d isse re c e n t e m e n -

t e q u e s e o s t r a n s g ê n i c o s s e r v i s s e m

p a r a a c a ba r c o m a fo m e n o m u n d o , s e -

r ia fa vo r á ve l a o s e u c u lt ivo . Es s e a r gu -m en t o t em va lid ad e sob o asp ec t o qu an -

t i t a t i v o ? O q u e o s e n h o r p e n s a a r e s -

p e i t o d o s o u t r o s a r gu m e n t o s : a s p e c t o sq u a l i t a t i v o s , n a l i n h a d e "e n r i q u e c i -

m e n t o " d o s a l im e n t o s "t r a d ic io n a is ", e

a s p e c t o s e c o n ô m ic o s , n a l in h a d a "r e -d u ç ã o d e c u s t os "?

Cr is t óvã o - Na Europa, o própr io termoextensão ru ral está su jeito ao esquecimen-to. Fala-se em ou tras coisas: assistência téc-n ica, consu ltor ia, desenvolvimento local. Otermo extensão ru ral caiu em desuso. Issonão quer dizer que não seja impor tante, quenão haja uma intervenção nesse domín io. Ain tervenção, em Por tugal e em mu itos ou -

t r os países, t em sido fei t acada vez mais a par t ir das or -gan izações da sociedade civi le não a par t ir do estado. Osserviços pú bl icos l igados aodesenvolvimento agr ícola bu -rocrat izaram-se mu ito nas ú l-t imas décadas, e o estado estáapostando cada vez mais emprocessos da chamada trans-ferência de funções para ou -

t ras organizações, como cooperat ivas, asso-ciações de agr icu ltores, associações de de-senvolvimento, ou tem apostado em cr iar par-cer ias, procu rando ar t icu lar a ofer ta de ser -viços públicos locais, or iginais com a inter -venção dessas organizações da sociedade ci-vi l . Em resumo, o que nós temos, no caso daagr icu ltu ra, especificamente: os serviços deextensão estão hoje dilu ídos num conjuntomu ito grande de organizações, sobretudo asligadas a produ tores agr ícolas, que, de qual-qu er forma, real izam u ma extensão mu itomais técn ica, que, por tanto não se liga mu i-to a esse modelo de desenvolvimento local,mais par t icipat ivo, de qu e nós falamos hápouco, que dá aqu i uma cer ta diferença deperspect iva. As organizações ligadas aos pro-

Entrevista/Arthur Cristóvão

Osserviçospúblicosligados

ao desenvolvimento agrícola

burocratizaram-se e o estado

está apostando em processos

de transferência de funções

para outras organizações.

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8Agroecol.eDesenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.2, abr./junh.2002

Entrevista/Arthur Cristóvão

du tores cont inuam a apostar numa exten-são mais convencional, mais t radicional, debase técn ica e mu ito dir igida para in forma-ção, di fu são de in formação, enqu anto qu eemergiram ao mesmo tempo mu itas organi-zações de di feren tes dimensões qu e estãomais l igadas ao ter r i tór io e àquela lógica deque falamos há pouco. Mas, de qualquer for -ma, não refletem mu ito ou nada aqu ilo quesão os problemas, as necessidades e as opor -tun idades no domín io da agr icu ltu ra. Querdizer , temos associações de desenvolvimen-to local que não in tervêm no domín io agr íco-la, mas que in tervêm no domín io do tu r is-mo, do desenvolvimento social, no t rabalhocom jovens, com mu lheres.Depois, temos organizaçõesde agr icu l tores qu e in ter -vêm no dom ín io agr ícola,m as n u m a l ógi ca m u i t osetor ial. Temos um proble-ma que não tem sido resol-vido, com exceção de algu -mas associações de desen-volvimento que têm procu -rado de fato agar rar o pro-blema do desenvolvimentono seu conjunto, mas que são casos não mu i-to abundantes.

Re v is t a - O s e n h o r t e m c o n h e c im e n -

t o d o t r a b a lh o d a e x t e n s ã o r u r a l fe i t oaqu i n o Rio Gran d e d o Su l p e la Em a t e r /

RS? Qu a l a a va lia ç ã o qu e fa z d e s s e t r a -

ba lh o ?Cr is t óvão - Sim. Ju lgo que aqu ilo que é

feito aqu i no Rio Grande do Su l, pelo que t ivea oportunidade de ouvir , de observar em con-ferências e apresentações de exper iências [noCongresso de Tur ismo] e na leitu ra de traba-lhos, é que há uma mudança muito signifi-cat iva do paradigma de trabalho da extensão,que vai no sent ido daqu ilo que se discu te hojeem dia em todo o mundo. Por um lado, a davalor ização da part icipação local, das aborda-gens part icipat ivas, e, por ou tro lado, a dessa

linha do desenvolvimento sustentável. Pensoque temos exper iências semelhantes. A dife-rença que encontro com a EMATER/ RS é que,em Portugal, as exper iências estão muito dis-persas, e aqu i, no fundo, há toda uma possibi-l idade de art icu lação de intervenções que nãoexiste em Portugal, ou até na Espanha, ou emoutros países europeus, onde o trabalho de de-senvolvim en to par t icipat ivo e su sten távelestá mu ito desar t icu lado, disperso no terr itó-r io. Por tanto, não há uma linha contínua deintervenção. Talvez com exceção do trabalhoque foi feito no domínio do programa de inici-at iva comunitár ia Leader. Aí sim, houve umapreocupação de montar uma filosofia de pro-

grama e de implementá-la. Éuma exper iência mu ito vali-osa, está presente em mil ter-r itór ios da Europa.

R e v is t a - De q u e m é a

in ic ia t iva d o Le a d e r ?

Cr is t ó v ã o - É da Un iãoEuropéia e, no fundo, é a ten-tat iva de implemen tar u maexper iên cia de desen volvi -m en t o d e b ase l ocal ,par t icipat ivo, a par t ir de par-

cer ias de inst itu ições locais e visando ao de-senvolvimento do terr itór io de uma forma in-tegrada. Isso vem do resu ltado de todo balan-ço que se fez dos efeitos da polít ica agr ícolacomum. A União Européia tem, entre uma dassuas pr imeiras polít icas, a polít ica agrícola co-mum, mas que era fundamentalmente e con-t inua a ser uma polít ica setor ial. Quando, nosanos 80 e 90, começa-se a se discu t ir neces-sidade de ter polít icas mais terr itor ializadase mais dir igidas para o desenvolvimento ru -ral e para o agrícola, surge o Leader como uminstrumento desse discurso, dessa retór ica.

R e v is t a - Co m o e s t á o t u r is m o r u r a l

c o m o u m a a la va n c a p a r a o d e s e n vo lv i -

m en t o? Qu al a s it u ação da Eu ropa? Pode-r ia faze r u m com para t ivo com o Bras il?

Cr is t ó vã o - O tu r ismo no espaço ru ral

A vida de qualquer área rural

depende de um cruzamento e

de uma articulação entre ativi-

dades diversas. Não podemos

pensar em estruturar o projeto

de desenvolvimento apenas

com base no turismo.

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9Agroecol.eDesenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.2, abr./junh.2002

deve ser essen cialm en t e vi st o com o u mcom plem en t o, com o ou t r a at i vidade qu epode ser promovida em algu mas áreas ru -rais, não necessar iamen te em todas, per -m it indo viabi l izar as explorações agr ícolas,as fazen das, viabi l i zá- las per m i t in do au -mentar a renda, fixar as pessoas. De formaalgu ma deveremos en tender o tu r ismo deespaço ru ral como u ma receita mi lagrosa,como algo qu e pode t ransformar a face dasáreas ru rais e cr iar o dinamismo e dar vida.A vida de qu alqu er área ru ral depende deu m cru zamento e de u ma ar t icu lação ent reat ividades diversas. Não podemos pensar emestru tu rar o projeto de desenvolvimento ape-nas com base no tu r ismo.

Ju lgo que em muitas situações, nomeada-mente no caso português, houve uma retór i-ca demasiadamente ot imista em matér ia detu r ismo no espaço rural. Não se teve em de-vida conta as caracter íst icas de cada terr itó-r io. Hoje, procura-se fazer tu r ismo no espaçorural de tudo que possa exist ir num municí-pio. Não há presidente de município, polít icolocal que não queira transformar a sua terranuma atração tu r íst ica. Mas a construção deum projeto de tu r ismo não é fácil. Tem queser mu ito bem art icu lada com as potenciali-dades agrícolas, com os produtos locais, com opatr imônio. Nem todos os ter r itór ios têm omesmo potencial. Cr iou-se também muito aidéia de que qualquer agr icu ltor pode ser po-tencialmente um promotor tu r íst ico. Tambémnão é verdade. São exigidas algumas part icu -lar idades. Esse é um pr imeiro aspecto impor-tante: tu r ismo no espaço rural sim como umcomplemento, como uma at ividade possível,desde que existam valores seguros, valoresdos quais se possam constru ir um projeto emart icu lação com outros t ipos de valores, quemeramente a produção agrícola.

No caso português, o tur ismo rural desen-volveu-se nas últ imas duas décadas. Começoupelo norte do país, onde continua a ser muitomais desenvolvido em possibilidades de oferta

Entrevista/Arthur Cristóvão

e da organização da própria oferta, e depois sepropagou para todo lado. Existem diferentes ti-pos de tur ismo. Houve uma evolução na pró-pr ia legislação, permit indo diversificar a ofer-ta do tur ismo em espaço rural. Nós hoje temoso chamado agrotur ismo - que é o tur ismo nafazenda produtiva; o tur ismo rural - que é maisligado a casas, a solares, a casas com part icu-lar idades arqu itetôn icas, geralmente casasrurais r icas; o tur ismo de habitação - tambémligado a um patr imônio com valor; o tur ismode aldeia - que é uma organização de tur ismobaseada em aldeias, em pequenos núcleos ur-banos ru rais, de áreas ru rais, com ofer ta egestão colet iva; temos as casas de campo, osparques de campismo rurais, os hotéis rurais.Caminhou-se no sentido de diversificar a ofer-ta. De qualquer forma, nosso tur ismo ruralcontinua muito vincu lado a uma elite.

Isso também acontece no Brasil, mas tam-bém vi exemplos de ofer ta l igada a pequenasfazendas famil iares, o que não existe em Por-tugal, onde normalmente os propr ietár ios deboas casas ru rais r icas é que estão envolvi-dos nessa at ividades. Mu itas vezes não de-sempenham uma at ividade at iva no domín ioda agr icu ltu ra. São professores, médicos, ad-vogados, exercem profissões mu ito var iadase, tendo esse patr imônio, invest iram ou ob-

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t iveram financiamento, subsídio, para pode-rem valor izar esse pat r imônio, melhorandoas suas condições. Mu itas vezes é a mu lherque se ocupa da gestão dessa at ividade. Ou-t ras vezes, são propr ietár ios que têm um ca-seiro, que está permanentemente na propr i-edade, que recebe e faz a gestão dessa in ici-at iva de tu r ismo. Não sou especial ista nes-se assunto, tenho contato com colegas quesão, mas os estu dos qu e existem não sãomu ito concludentes quanto a impactos eco-nômicos notáveis nas comu nidades locais,quer na cr iação de empregos, quer nos gas-tos que os tu r istas possam fazer , na alimen-tação, na compra de produtos. O emprego queé cr iado é relat ivamente pou-co, é, mu itas vezes, sazonal,de verão, de final de sema-na, de tempo parcial. Os tu -r i st as, m u i t as vezes, n ãogastam mu ito dinheiro paraalém do alojamento. O de-senvolvimento através do tu -r ismo exige a cr iação de umarede de at ividades, que per -m ita ao tu r ista ficar u ma semana, algu nsdias e possibi l i te que o tu r ista faça despe-sas, gaste dinheiro. Isso pode estar l igado aum comércio local vivo, que ofereça produ -tos daquela zona, pode estar l igado à exis-tência de feiras, de uma animação cu ltu ral,de festas de exposições, à existência de mu-seus, de pat r imônios que as pessoas possamvisitar , de forma a conhecer a região do pon-to de vista o pat r imonial. É preciso const ru iressa ofer ta de possibi l idades que atraiam otu r ista e que o levem a gastar dinheiro. Pe-los estudos que vêm sendo feitos, esse tu r is-ta tem poder de compra.

Re v is t a - O t u r is m o r u r a l p o d e a u x i-l ia r n a s u s t e n t a b i l id a d e a m b ie n t a l?

Cr is t óvão - Depende das circunstâncias.Temos, hoje, do ponto de vista ambiental, otu r ismo rural, que se liga muito com o cha-mado tu r ismo de natu reza.

Em Portugal, tem havido algum esforço decriar legislação que defina essas diferentes for-mas de turismo e as condições em que os ope-radores possam intervir. Tem havido um de-senvolvimento grande do turismo de natureza.Há algumas zonas que começam a ter proble-mas, nomeadamente as de parques naturais,que começam a ter problemas com o númerode visitantes muito elevado, uma tendênciapara massificação desse tipo de turismo, emespecial num parque que existe em Portugal.

De qualquer forma, o turismo rural tambémse encontra naturalmente vinculado ao usu fru-to de bens ambientais: os rios, esportes ligadosà natureza. As pessoas visitam o local, ficam

numa pousada, numa casa decampo, numa casa de aldeia,fazem caminhada por trilhasde montanhas, descidas derios em barcos. Há, hoje, todauma preocupação com os efei-tos nefastos que isso possa vira ter se não houver um acom-panhamento, uma gestão ade-quada dessas iniciativas, quer

partam dos parques, quer partam dos própriosmunicípios.

R e v is t a - Co m o a a gr ic u l t u r a e c o ló -gic a p od e s e r in s e r ir n o d e s e n vo lv im e n -

t o loca l?

Cr is t ó vã o - É também u ma alternat ivainteressante, porque a produção agrícola con-vencional em massa é hoje reconhecida cadavez mais por um crescente número de con-sumidores como tendo problemas. Há umapreocupação mu ito grande na Europa com asquestões da segu rança alimentar , não tantocom a produção agr ícola, mas mais l igada àprodução animal. Por tanto, o orgânico, o bio-lógico, o ecológico começa a ser at rat ivo enesse sent ido pode ser uma alternat iva parao produtor reconverter a sua exploração e pro-duzir um produ to que tem preço super ior -por volta de 10% a 20% do produ to convenci-onal, at rat ivo para mu itos agr icu ltores. Con-

Suíça e Áustria conseguiram

reverter a desertificação das

áreas rurais. Eles conseguiram

através de um esforço muito

forte de políticas públicas.

Entrevista/Arthur Cristóvão

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tudo o grande desenvolvimento da agr icu ltu -ra orgânica em Por tugal se realizou sobretu -do na década de 90, talvez não esteja tão li-gado à consciência ambiental dos produ torese também não tão ligado a essa possibi l ida-de de o produ tor ter uma renda acrescida,mas está mu ito l igada aos est ímu los finan-ceiros que a União Européia inst i tu iu paradesenvolver a agr icu ltu ra orgânica e ou t rasformas de agr icu ltu ra que estejam mais pró-ximas do ambiente. Há uma dimensão con-creta da polít ica agr ícola eu ropéia, as cha-m adas m edidas agr oam bien t ais, qu e sãoimplementadas em todos os estados mem-bros e que permitem ao agr icu ltor ter subsí-dios caso reconver ta su a exploração parauma exploração orgânica. Está aqu i um de-safio a cumpr ir , que é o da conscient izaçãodos produ tores dessa mudança do paradigmada produção convencional para ou t ro para-digma de produção vincu lado ao ambiente, àsustentabil idade ambiental.

R e v i s t a - Is s o n ã o d a r i a u m a c e r t a

fr a gi l id a d e a o d e s e n vo lv im e n t o d a a gr i -

c u lt u r a e c o ló g ic a ?Cr is t óvão - Exatamente. Isso é visível in-

clusive porque a agricu ltura orgânica prat ica-mente estagnou em Portugal nos ú lt imos doisanos, porque foi um período de transição emque os mecanismos não aplicaram os mesmossubsídios. O número de adesões à agricu lturaecológica ou orgânica não cresceu. Isso é umindicador de que a adesão se faz não por ra-zões de consciência ecológica. Um aspecto tam-bém interessante é que os países do su l daEuropa - Portugal, Espanha, Itália - tentam aser países produtores de produtos orgânicos, en-quanto os do norteda Europa são sobretudo con-sumidores de orgânicos. A interpretação quefaço é que isso tem muito a ver, por um lado,com a própria consciência dos consumidores.Os consumidores nórdicos estão muito maisconscientes das questões da segurança ali-mentar e também com maior poder de com-pra, com possibilidade de pagar o diferencial.

Os do sul produzem e vendem, os do norte pro-duzem também, mas consomem e importammuitos produtos, não só da Europa, mas tam-bém de todo o mundo. Hoje, nos supermerca-dos da França, Inglaterra, encontramos cho-colates, bolachas, chás, cafés orgânicos feitosna Áfr ica, na América Latina. Essa é tambémuma área interessante, a conscientização dosconsumidores e também todo o problema dopoder de compra e das diferenças do padrão devida que existe em toda a Europa.

R e v is t a - Há in s t i t u iç õ e s t r a b a lh a n -

d o n a c o n s c ie n t iza ç ã o ?Cristóvão - Em Portugal, temos uma inst i-

tu ição, que já existe há mais de 20 anos, queé a Agrobio, uma associação de agr icu ltu rabiológica que engloba produtores, consumido-res, técnicos interessados na agr icu ltu ra or-gânica, que promovem feiras em Lisboa, quetêm uma revista - a Joaninha, têm publica-ções técnicas de divu lgação, que trabalha comescolas, para levar às cr ianças e professoresessa idéia de formas alternat ivas de produ-ção agrícola. Talvez seja a organização que,em nível nacional, tenha feito mais trabalhopara conscient izar produ tores e consumido-res. Depois, existem algumas associações re-gionais que estão mais ligadas à produção,mas que são relat ivamente fracas em termosde capacidade de intervenção. Temos algumasassociações de defesa do consumidor , que fa-

Entrevista/Arthur Cristóvão

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zem divu lgação desse t ipo de produ to. Temostambém o Ministér io da Agr icu ltu ra, que tempromovido a difusão da agr icu ltu ra biológica,de forma modesta, e não está de forma algu-ma em linha com aqu ilo que tem sido o dis-curso polít ico sobre a necessidade de produzirde maneira mais respeitosa ao ambiente.

R e v is t a – E m t o d o o m u n d o a s s is t i -

m o s a u m p r o c e s s o d e e s v a z i a m e n t o

d o m e i o r u r a l . H á e s p e r a n ç a d e r e -v e r t e r o q u a d r o d e e s v a z i a m e n t o d o

m e i o r u r a l?

Cristóvão - Eu julgo que não é muito fácil.Quando percorremos Portugal, país pequeno -que se faz em sete, oito horas de norte a sul, etrês, quatro horas de leste a oeste –, em zonasque ficam a três, quatro horas do litoral, vemosaquelas aldeias onde não existe um comérciosemelhante ao comércio urbano, onde não te-mos o cinema, a livraria, o sítio onde se com-pra o jornal todo dia de manhã, o centro de saú-de, a escola viva. Quando passamos por essaszonas rurais, vemos toda essa fragilidade, todaessa circunstância em que as pessoas têm queviver. Então é fácil de perceber por que as pes-soas querem sair. Sobretudo as mais jovens,que têm uma expectativa, o paradigma é a ci-dade. É na cidade que as pessoas terão muitaspossibilidades, que muitas vezes não usam de-pois, por razões de tempo ou econômicas. Entãoaí nos percebemos que não é muito fácil man-ter as pessoas naquelas aldeias. E, hoje, emmuitas aldeias estão os mais velhos, pessoascom 70, 80 anos, com escolas primárias fecha-das - uma tendência que só tem sido paradanos municípios que têm a seu cargo essa deci-são. Fechar uma escola numa aldeia é o golpefinal, é a impossibilidade de os pais terem umacriança e a colocarem na escola.

Penso que não é fácil manter o rural, sobre-tudo o rural mais profundo. Quando falamos emrural, falamos de coisas muito diversas. Te-mos áreas rurais em Portugal que estão a umahora de uma grande cidade, como Braga ouPorto, o que torna fácil a pessoa trabalhar na

cidade e morar na aldeia, contr ibu ir para al-gum dinamismo da aldeia, como o comércio.Depois, temos o rural muito profundo, afasta-do dos grandes centros, muito envelhecido. Aípenso que será muito difícil reverter essa ten-dência. Na Espanha e em outros países, exis-tem muitas aldeias abandonadas, em Portu-gal existem menos. Mas, de qualquer forma, écu r ioso que alguns países europeus com omesmo problema, como a Suíça e a Áustr ia,conseguiram reverter a desert ificação das áre-as ru rais. Eles consegu iram através de umesforço muito forte de polít icas públicas. A Su-íça tem investimento da indústr ia farmacêu-t ica em zonas de montanha e conseguiu in-verter aquele ciclo de desert ificação, atravésdo tur ismo, da indústr ia, da cr iação de esco-las; no fundo, é cr iação da qualidade de vidanas zonas mais remotas. Penso que aí temocorr ido uma das falhas: a não existência depolít icas públicas, para conseguir ter investi-mento, ter serviços, ter qualidade de vida.

Existe hoje em dia todo esse discurso da cha-mada deslocalização. Pode ser uma grandeempresa, uma multinacional localizada numazona relat ivamente isolada, desde que tenhaacesso a telecomunicações. Mas isso tambémexige qualidade de vida, que se criem facilida-des de acesso, de telecomunicações, de ener-gia elétr ica. Temos situações de aldeias que seencontram há três ou quatro quilômetros dumacidade e onde a energia elétr ica é muito maisfraca. Não é possível uma indústria estar numazona rural com esse tipo de problema, tem quehaver infra-estrutura. Julgo que o turismo ru-ral, o desenvolvimento da agricultura, a cria-ção de microempresas ligadas às at ividadesnovas ou de produtos locais são possibilidadesinteressantes, mas não retiram a necessidadede uma atitude mais dinâmica do Estado no sen-tido de criar condições que permitam proporci-onar qualidade de vida nessas áreas: estrada,educação, comércio, serviços, telecomunica-ções, energia, água, indústria - desde que se-jam limpas, respeitadoras do meio ambiente.

Entrevista/Arthur Cristóvão

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De algum tempo para cá, quase todos nóstemos lido, ouvido, falado e opinado sobre Agro-ecologia. As or ientações daí resu ltantes têmsido mu ito posit ivas, porque a referência à

Agroecologia. Enfoque científicoe estratégico

* Engenheiro Agrônomo, Mestre emExtensão Rural(CPGER/UFSM), Doutor pelo Programa de

"Agroecología, Campesinado e Historia" - Instituto deSociología y Estudios Campesinos, Universidad deCórdoba (Espanha), Extensionista Rural e Diretor

Técnico daEMATER/RS-ASCAR.** Engenheiro Agrônomo, Mestre emExtensão Rural

(CPGER/UFSM), Doutor pelo Programa de"Agroecología, Campesinado e Historia" - Instituto de

Sociología y Estudios Campesinos, Universidad deCórdoba (Espanha), Extensionista Rural e Assessor

Técnico daEMATER/RS-ASCAR.

piniãoO

C ap o ra l, Fran c is c o Ro b er t o *C o s t ab eb er , J o s é A n t ô n io * *

Agroecologia nos fazlembrar de uma agr i-cu l t u r a m en osagr essi va ao m ei oam bien te, qu e pr o-move a inclusão so-ci al e p r opor ci on amelhores condiçõeseconômicas para osagr icu ltores de nossoestado. Não apenasi sso, m as t am bémt em os vin cu lado aAgroecologia à ofer tade produtos "limpos",ecológi cos, i sen t osde r esídu os qu ím i -cos, em op osi çãoàqueles caracter íst i-cos da Revolução Ver-de. Por tanto, a Agro-

ecologia nos traz a idéia e a expectat iva deuma nova agr icu ltu ra, capaz de fazer bem aoshomens e ao meio ambiente como um todo,afastando-nos da or ientação dominante deuma agr icu ltu ra intensiva em capital, ener-gia e r ecu r sos n at u r ai s n ão r en ováveis,agressiva ao meio ambiente, excludente doponto de vista social e causadora de depen-dência econômica.

Por ou tro lado, e isto é impor tante que sediga, o entendimento do que é a Agroecologiae onde queremos e podemos chegar com elanão está claro para mu itos de nós ou , pelomenos, temos t ido interpretações conceitu -ais diversas que, em muitos casos, acabamnos prejudicando ou nos confundindo em re-lação aos propósitos, objet ivos e metas do tra-balho que todos estamos empenhados em re-alizar . Apenas para dar alguns exemplos do

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piniãoOmau uso do termo, não raras vezes tem-seconfundido a Agroecologia com um modelo deagr icu ltu ra, com um produ to ecológico, comuma prát ica ou tecnologia agr ícola e, inclu -sive, com uma polít ica pública. Isso, além deconst itu ir um enorme reducionismo do seusignificado mais amplo, at r ibu i à Agroecolo-gia defin ições que são imprecisas e incorre-tas sob o ponto de vista conceitual e estraté-gico, mascarando a sua real potencialidadede apoiar processos de desenvolvimento ru -ral. Por esses mot ivos, e sem ter a pretensãode fazer , neste momento, qualquer aprofun-damento teór ico e/ ou metodológico, nos pa-rece conven ien te mencionar , objet ivamen-te, como a Agroecologia vem sendo encaradasob o ponto de vista acadêmico e o seu víncu -lo com a promoção do desenvolvimento ru ralsu sten tável .

Com base em vár ios estudiosos e pesqu i-sador es n est a ár ea (Al t i er i , Gl i essm an ,Noorgard, Sevi l la Gu zmán, Toledo, Leff), aAgroecologia tem sido reafirmada como umaciência ou disciplina cient ífica, ou seja, umcam p o d e con h eci m en t o d e car át ermu lt idisciplinar que apresenta uma sér ie depr incípios, conceitos e metodologias que nospermitem estudar , analisar , dir igir , desenhare avaliar agroecossistemas. Os agroecossis-temas são considerados como unidades fun-damentais para o estudo e planejamento dasintervenções humanas em prol do desenvol-vimento ru ral sustentável. Nestas unidadesgeográficas e sociocu ltu rais que ocorrem osci c l os m i n er a i s, as t r an sfor m açõesenergét icas, os processos biológicos e as re-lações sócioeconômicas, const itu indo o lócusonde se pode buscar uma análise sistêmicae hol íst ica do con ju n to destas r elações etransformações. Sob o ponto de vista da pes-qu isa Agroecológica, os pr imeiros objet ivosnão são a maximização da produção de umaat ividade par t icu lar , mas sim a ot imizaçãodo equ il íbr io do agroecossistema como umtodo, o que significa a necessidade de uma

maior ênfase no conhecimento, na análise en a in t er pr et ação das com plexas r elaçõesexistentes entre as pessoas, os cu lt ivos, o solo,a água e os animais. Por esta razão, as pes-qu isas em laboratór io ou em estações expe-r imentais, ainda qu e necessár ias, não sãosu ficientes, pois, sem uma maior aproxima-ção com os diferentes agroecossistemas, elasnão correspondem à realidade objet iva ondeseus achados serão aplicados e, tampouco,resguardam o enfoque ecossistêmico deseja-do. São relações complexas deste t ipo que ali-mentam a moderna noção de sustentabil ida-de, tão impor tante aspecto a ser consideradona atual encruzilhada em que se encontra ahumanidade.

Em essên cia, o En foqu e Agr oecológicocorresponde à aplicação de conceitos e pr in-cípios da Ecologia, da Agronomia, da Sociolo-gia, da Antropologia, da ciência da Comuni-cação, da Economia Ecológica e de tantas ou-t ras áreas do conhecimento, no redesenho eno manejo de agroecossistemas que quere-mos que sejam mais sustentáveis através dotempo. Trata-se de uma or ientação cu jas pre-tensões e con t r ibu ições vão mais além deaspectos meramente tecnológicos ou agronô-micos da produção agropecuár ia, incorporan-do dimensões mais amplas e complexas, queincluem tanto var iáveis econômicas, sociaise ecológicas, como var iáveis cu ltu rais, polí-t icas e ét icas. Assim entendida, a Agroecolo-gia corresponde, como afirmamos antes, aocampo de conhecimentos que proporciona asbases cient íficas para apoiar o processo detransição do modelo de agr icu ltu ra conven-cional para est ilos de agricu lturas de base eco-lógica ou sustentáveis, assim como do mode-lo convencional de desenvolvimento a proces-sos de desenvolvimento ru ral sustentável.

Suas bases epistemológicas mostram que,h istor icamente, a evolução da cu ltu ra huma-na pode ser explicada com referência ao meioambiente, ao mesmo tempo em que a evolu -ção do meio ambiente pode ser explicada com

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piniãoO

referência à cu ltu ra humana. Ou seja: a) Ossistemas biológicos e sociais têm potencialagr ícola; b) este potencial foi captado pelosagr icu ltores tradicionais através de um pro-cesso de tentat iva, er ro, aprendizado selet i-vo e cu ltu ral; c) os sistemas sociais e biológi-cos coevolu íram de tal maneira que a sus-tentação de cada um depende estru tu ralmen-te do outro; d) a natureza do potencial dos sis-temas social e biológico pode ser melhor com-preendida dado o nosso presente estado do co-nhecimento formal, social e biológico, estu -dando-se como as cu ltu ras tradicionais cap-taram este potencial; e) o conhecimento for -mal, social e biológico, o conhecimento obt i-do do estudo dos sistemas agrár ios convenci-onais, o conhecimento de alguns insumos de-senvolvidos pelas ciências agrár ias conven-

cionais e a exper iência com inst i tu ições etecnologias agr ícolas ociden tais podem seunir para melhorar tanto os agroecossiste-mas tradicionais como os modernos; f) o de-senvolvimento agr ícola, at ravés da Agroeco-logia, manterá mais opções cu ltu rais e bioló-gicas para o fu tu ro e produzirá menor deter i-oração cu ltu ral, biológica e ambiental que osenfoques das ciências convencionais por sisós (Norgaard, 1989).

Dentro desta perspect iva, especialmenteao longo dos ú lt imos 3 anos, o Rio Grande doSu l vem se t ransformando em u m estadoonde existem referências concretas quantoao processo de transição agroecológica a par-t ir da adoção dos pr incípios da Agroecologiacomo base cient ífica para or ientar esta t ran-sição a est i los de agr icu ltu ra e desenvolvi-

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piniãoOmento ru ral sustentáveis. Não obstante, ain-da que o tema, como abordamos acima, te-nha sido objeto de discu ssão em dist in toseventos real izados em todas as regiões doestado e esteja presente em vár ios textos edocumentos de ampla circu lação, cont inua-mos a observar que segue exist indo um usoequ ivocado do termo Agroecologia e de seusign ificado.

Por este mot ivo, nos parece impor tan tereforçar a noção de Agroecologia qu e vemrespaldando o processo de t ransição agroe-col ógi ca em cu r so com seu car á t erecossocial , com o fazem os neste ar t igo deopin ião. Na prát ica e teor icamen te, a Agro-ecologia pr ecisa ser en t en dida com o u menfoqu e cien t ífico, u ma ciência ou u m con-ju n to de conhecimen tos qu e nos aju da tan -to para a anál ise cr ít ica da agr icu l tu ra con-vencional (no sen t ido da compreensão dasrazões da insu sten tabi l idade da agr icu l tu -ra da Revolu ção Verde), como também paraor ien tar o cor reto redesenho e o adequ adomanejo de agroecossistemas, na perspect i -va da su sten tabi l idade.

Assim sendo, o En foqu e Agroecológico,como o estamos entendendo no Rio Grandedo Su l, t raz consigo as fer ramentas teór icase metodológicas que nos auxil iam a conside-

rar , de forma holíst ica e sistêmica, as seisdimensões da su sten tabi l idade, ou seja: aEcológica, a Econômica, a Social, a Cu ltu ral,a Polít ica e a Ét ica (Caporal e Costabeber ,2002). Par t indo desta compreensão, repet i-mos que a Agroecologia não pode ser confun-dida com um est i lo de agr icu ltu ra. Tambémnão pode ser confundida simplesmente comu m con j u n t o d e p r át i cas agr ícol asambien talmente amigáveis. Ainda qu e ofe-reça pr incípios para estabelecimento de es-t i los de agr icu ltu ra de base ecológica, não sepode confundir Agroecologia com as vár ias de-nominações estabelecidas para ident ificar al-gumas correntes da agr icu ltu ra "ecológica".Por tanto, não se pode confundir Agroecologiacom "agr icu ltu ra sem veneno" ou "agr icu ltu -ra orgânica", por exemplo, até porque estasnem sempre tratam de enfrentar -se em re-lação aos problemas presentes em todas asdimensões da sustentabil idade.

Estas são considerações que ju lgamos serde su ma impor tância qu ando se almeja pro-mover a const ru ção de processos de desen-volvim en t o r u r al su st en t ável , or ien t adospelo imperat ivo socioambien tal , com par t i -cipação e equ idade social , como já nos re-f er i m os em ou t r o t ex t o (Cap or a l eCostabeber , 2000; 2001).

CAPORAL, F. R.; COSTABEBER, J. A. Agroe-cologia e desenvolvimento ru ral sustentá-vel: perspect ivas para uma nova ExtensãoRural. Agr oecolog ia e Des en volvim en t oRu r a l S u s t en t á ve l, Por to Alegre, v.1, n.1,p.16-37, jan./ mar. 2000.CAPORAL, F. R.; COSTABEBER, J. A. Agro-ecologia e desenvolvimento ru ral su sten-tável : perspect ivas para u ma nova Exten-são Ru ral . In : ETGES, Virgín ia El isabeta(Org.). De s e n vo lvim e n t o r u r a l : p o t e n -

ReferênciasBibliográficas

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gia : as bases científicas da agricultura alterna-tiva. Rio de Janeiro: PTA/ FASE, 1989. p.42-48.

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RExperiênciaelato

de

Bananicultura em SistemasAgroflorestaisno Litoral Norte do RS

* Engenheiro Agrônomo, M.sc. emAgroecossistemas,extensionista da EMATER/RS.

Re s u m o:Nos ú lt imos 11 anos, agr icu lto-res ecologistas do Litoral Nor te do RS aper -feiçoaram sistemas de consórcio da bana-na, seu cu lt ivo pr incipal e eixo econômico,com ou t ras espécies de cu r to, médio e longop r azo, t an t o m ad ei r ávei s com o n ãomadeiráveis. O saber ecológico dos própr iosagr i cu l t or es é a b ase d os Si s t em asAgr oflor estais (SAF), com o apoio técn icoconstante do Cent ro Ecológico Litoral Nor tee, de forma crescen te, da EMATER/ RS. Asombra produzida pelos estratos dominantesatua como um impor tante redu tor dos danosocasi on ados pel o fu n go My cosphaerel lamusicola (Leach), conhecido como SigatokaAmarela. Podações regu lam o nível de som-bra, e o mater ial resu ltante, jun tamente comadu bações orgân icas e o manejo da cober tu -ra herbácea, fer t i l izam o sistema. Aval ia-ções prel im inares apontam para a eficiên-cia destes SAF em m elhor ar os n íveis decober tu ra do solo, reduzir impactos de doen-ças fú ngicas e cr iar alternat ivas de renda,mantendo produ t ividades n iveladas com ospadrões regionais. A provável chegada na re-gião da Sigat ok a Negr a (My cosphaerel laf i j i ensis) au m en t a a i m por t ân ci a de seaprofu ndar e difu ndir tais sistemas.

1 Uma trajetória ambiental,social e econômica

O Litoral Nor te do Rio Grande do Su l apre-senta caracter íst icas su bt ropicais, com tem-per at u r a m édia an u al de 19,8oC, sen do24,4oC para o mês mais qu ente e 15,4oC

para o mês mais fr io. A evaporação é em tor -no de 1.091 mil ímet ros ao ano, e a precipi-tação, 1.676 mil ímet ros ao ano, com cercade 123 dias passíveis de precipi tação. Osventos predominantes são de NE e, secu n-dar iamente, de SE e SO. Alterações locaisnos vales e ver ten tes são possíveis, u ma vezqu e o r el evo cr i a m i cr ocl i m as e ven t osdirecionados com rajadas in tensas pequ e-nas. É nesta paisagem qu e se situ a a maiorpar te dos bananais, o qu e au menta a impor -t ân c i a d e qu eb r a- ven t os e s i s t em asm u l t i est r at i f i cad os, com o os Si st em asAgroflorestais Bananeiros (Vivan, 2000).

A vegetação or iginal é a Floresta At lân t i-ca, defin ida como Floresta Ombrófi la DensaPré-Montana. Os solos são predominan te-men te argi losos (podzól ico), or iginados dobasalto. O relevo é for temente ondu lado, comboa drenagem e afloramento de rochas emvár ios pontos. Desde a Planície Costeira atéas ver ten tes da Ser ra Geral, a vegetação écar act er íst i ca de u m a for m ação flor est alsu bt ropical de cl ima ú mido, com grande va-r iedade de epífi tas. A paisagem, ent retan to,foi amplamente t ransformada: a colon izaçãoaçor iana de meados do sécu lo XVIII in t rodu -ziu gado nas áreas de baixada, e cana-de-açú car e m an dioca n as en cost as. Desde1870 até o final do sécu lo XIX, a colon izaçãoalemã e, mais tarde, a i tal iana em menorescala, man t iveram a cana-de-açú car e amandioca, e o ar roz ir r igado avançou sobreos b an h ad os n os an os 1 9 5 0 - 1 9 6 0 . Abanan icu ltu ra comercial , por su a vez, só foiin t rodu zida nos anos 60. Ela ocu pou os es-p aços d a an t i ga f l or est a n as ár eas d epiemonte, const i tu indo hoje a pr incipal at i-vidade econômica de min ifú ndios ent re cin -co e 25 hectares. Da pr im i t iva floresta, aEstação Ecológica de Arat inga, na região do

V iv an , J o rg e Lu iz*

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vale do Rio Maqu iné, é o ú n ico remanescen-te protegido dent ro de u ma u nidade de con-servação. Este fato reforça a impor tância daconversão dos sistemas de u so da ter ra atu -ais para sistemas mais conservadores da bi-odiversidade (Caldecot t , 1996).

2 Contexto, crise ealternativas

A bananicu ltu ra atravessa uma cr ise quetem vár ios aspectos: por um lado, a região é olimite mer idional para a cu ltu ra, o que im-plica r iscos climát icos representados por ven-tos fr ios e geadas ocasionais; por ou tro, osanos 90 marcaram a compet ição com produ-to proveniente de ou tros estados do su l. Alia-do ao domínio do mercado por atravessadores,este contexto cr iou uma pressão por aumen-to de produ t ividade e aparência da fru ta, vi-sando a superar a compet ição. A resposta foiu m au m en t o cr escen t e d o u so d eagroqu ím icos e ou t ros insu mos nos anos1960-1990, e tr ipl icaram os pr incípios at ivosrecomendados e/ ou regist rados para a cu l-tu ra em 30 anos (Peixoto, 1961; Secchi, 1998),aumentando a exposição tanto dos agr icu lto-res como do meio ambiente aos agrotóxicos.No final dos anos 90, também sacos plást i-cos, alguns deles tratados com fungicidas eusados para proteger os cachos, passaram aaparecer nos cursos d'água da região. Entreos vár ios impactos deste modelo de modern i-zação conservadora, está o aumento do r isco,uma vez que se aumenta o imobil izado emequ ipamentos e o custo de produção, parale-lamente a uma redução da diversidade pelomonocu lt ivo, o que se traduz numa menorresil iência do agroecossistema (Pret ty, 1995;Gliessman, 2000).

Finalmente, a fru st ração do au mento derenda1 por esta via teve como saída "normal"u ma tentat iva de compensação pela expan-são da área plantada, que aumentou em 25%entre 1979 e 2001 (IBGE; EMATER/ RS). Exis-

tem, en t retan to, sér ias rest r ições legais auma cont inu idade da expansão, uma vez quea região situ a-se dent ro da pol igonal da Re-serva da Biosfera da Mata At lân t ica. O fato éhabi lmente manipu lado por setores conser -vadores e popu l istas, e servem ambiental is-tas e órgãos de fiscal ização como "cu lpados"da cr ise social e econômica. O foco do pro-blema, ent retan to, qu e é u ma cadeia produ -t iva monopol izada por pou cos e movida poru m modelo tecnológico insu sten tável, não équest ionado. Se o impasse é claro, a pergun-ta está feita:

— Qual será então o modelo mais apropr i-ado para uma intensificação de produção (erenda) por unidade de área na região?

A resposta não é propr iamente uma ino-vação. A par t ir do contato com a tradição asi-át ica de sistemas agroflorestais (Anderson,1993; Landauer , 1990), os por tugueses aço-r ianos já haviam instalado no sécu lo XVII ossistemas mu lt iest rat ificados inclu indo a ba-nana e vár ias espécies do trópico e subtrópicona região. Par te desta "tecnologia" passoupara os novos colonizadores e hoje, a par t irde alguns qu intais e em algumas poucas pro-pr iedades, se pode ter uma idéia de como fun-cionavam estes sistemas.

A mot ivação atual dos agr icu ltores para"reinven tar " os SAF, neste sen t ido, residetanto no impasse do modelo agroquímico e nassuas caracter íst icas excludentes, como nosganhos econômicos diretos e indiretos gera-dos pelos SAF. Este processo, para o caso dabanana, apóia-se tanto no saber ecológico lo-cal, como em pesqu isa formal (Garnica, 2000).O que se desenvolve hoje no Litoral Nor te doRS, por tanto, é um trabalho de invest igaçãopar t icipat iva que visa a integrar saberes quer esp on d am a al gu m as d as d em an d astecnológicas que se colocaram na trajetór iasócio-ambiental e econômica da região.

Em 1991, a ONG Centro Ecológico (CE) or-ganizou um curso sobre Agr icu ltu ra Ecológi-ca, no qual o autor desse texto abordou o tema

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SAF. Naquele mesmo ano, mu itos dos par t i-cipantes, contando com o apoio do CE e daPastoral Rural da região, formaram a Asso-ciação dos Colonos Ecologistas da Região deTorres (ACERT). Essa associação reúne hojeem torno de 30 famílias e está dividida emtrês núcleos regionalizados, que organizame faci l i t am o p r ocessam en t o e acomercialização de produ tos de or igem eco-lógica, entendidos aqu i como produzidos semo uso de agroqu ímicos. Por volta de 1994, umcon vên io en t r e o CE e a Past or al Ru r alviabil izou a intensificação do trabalho na re-gião com a contratação de um técnico, man-tendo-se ainda a assessor ia prestada peloau tor desse Relato de Exper iência, enquantofuncionár io da EMATER/ RS.

3 Integração desaberes

Um dos resu ltados do trabalho na regiãofoi a sensibil ização de vár ios agr icu ltores emrelação à Agroecologia. O Sr. Antonio BorgesModel, o "Toninho", como é conhecido pelosseus amigos, foi um deles. Sua propr iedadefica situada no município de Dom Pedro deAlcântara, a 200 qu ilômetros de Por to Alegree a 18 qu ilômetros de Torres. O caso do Sr.Model agrega a força de uma associação (aACERT) e a combinação de saberes locais eexternos. É esta integração que vem dandom ai or com p l ex i d ad e a seu b an an alagroflorestal, e ele afirma que seu interessepelos consórcios passou a ser mais for te nosú lt imos anos: "passei a prestar mais aten-ção no papel das árvores dentro do bananal".

O conhecimento do agr icu ltor , ent retan-to, é o que realmente move o sistema. Elesegue acumu lando exper iência, fru to tantoda observação diár ia e de seu própr io in te-resse, como de viagens de intercâmbio e in-formações que troca em cursos e reuniões.Assim , o papel da par cer ia en t r e ONG eEMATER/ RS tem sido apoiar , enr iquecer e

sistemat izar estes processos na região, cons-t ru indo fer ramentas apropr iadas a um pro-cesso par t icipat ivo de pesqu isa-ação.

4 Sistema agroflorestalbananeiro

A família que trabalha e reside na propr i-edade é composta pelo casal Model e maisuma fi lha adolescente, e ajudantes ocasio-nais pagos como diar istas desempenham ta-refas emergenciais. Os plant ios de banana-prata e banana-maçã ocupam 4ha localiza-dos em uma encosta com exposição nor te-nordeste. Mamão, aipim, mudas de ornamen-tais e ervas condimentares/ medicinais, pro-duzidas pela esposa e fi lha, complementama r en d a d a b an an a. Os p r od u t os sãocomercial izados nas Feiras de Agr icu ltoresEcologistas em Porto Alegre, RS (a 200 qu ilô-metros da propr iedade), e as ornamentais (so-mente as exót icas)2 também são oferecidasna Feira de Agr icu ltores de Torres, RS (18 qu i-lômetros da propr iedade).

A área total do Sr . Model é de 14,3 hecta-res, dos quais mais de 50% estão cobertos porvegetação nat iva. A área apresenta grandeafloramento de rochas e tem histór ico de cu l-t ivo de cana-de-açúcar e banana anter ior àcompra, o que produziu impactos na fer t i l i-dade do solo. Esta diferenciação influencia omanejo, que é diferenciado segundo as "zo-nas" que o agr icu ltor reconhece. Análises desolo destas zonas podem ser comparadas coma percepção do agr icu ltor .

En tendendo o con texto em qu e a exper i -ência se desenvolve, os pr incípios de fu nci-onamento do SAF bananeiro são relat iva-mente simples de repl icar , e podem ser apl i -cados tan to em bananais já instalados comoem bananais a instalar . Em ambos os ca-sos, o t ipo de mu das e espaçamen to (2,5met ros x 2,5 met ros) é igu al ao convencio-nal . Em bananais já instalados, o pr imeiropasso foi perm it i r o crescimen to das ervas

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e a regeneração natu ral de árvores, arbu s-tos e palmeiras. Uma vez qu e esta regene-ração passou a ser acompanhada e aval ia-da, o agr icu l tor pôde iden t i ficar as di feren -tes si tu ações de nu t r ien tes, en t rada de lu ze de u midade no bananal . As ervas espon-tâneas atu am como indicadoras qu e aju dama iden t i ficar os locais onde existe en t radade lu z em excesso, fal ta ou excesso de u mi-dade, ou baixa fer t i l idade. Também mos-t ram onde será necessár io in t rodu zir árvo-res e palmeiras, ou onde o processo de re-generação natu ral já as está t razendo. Es-tes passos geraram o "zoneamento" qu e or i -en ta o agr icu l tor .

O passo segu inte foi ajustar um manejoad equ ad o p ar a cad a u m a d as "zon as"ident ificadas. Gramíneas pioneiras indicampontos de entrada de luz acima do normal nobananal. Elas são então eliminadas por capi-na, e busca-se cobr ir o local com restos detalos e folhas de bananeira, além de ou trosm at er iais dispon íveis. In t r odu z-se n est espon tos fru t íferas, como o mamão3 (Caricapapaya), de uma var iedade cr iou la, e árvoresde madeira valiosa, entre elas o lou ro (Cordiatr ichotoma), o cedr o (Cedrela f issi l is) e o

sobragi (Colubrina glandulosa). Entre as er-vas espontâneas consideradas benéficas, quecostumam crescer em áreas de solos maisequ il ibrados e com cer to nível de sombrea-mento, estão a erva-gorda (Erechtites valeri-anaefolia), a t rança de cigano ou trapoeraba(Comelina spp.) e a erva-de-junta (Piper gau-dichaudianum). As ervas que têm ciclo anu-al são roçadas somente após completar o ci-clo, visando a aumentar a quant idade de se-mentes no banco do solo.

A roçagem é, por tanto, selet iva. Ela tantomaneja a sucessão natu ral como ident ificalacunas ou "vazios ecológicos". Conforme osaber ecológico que acumu lou sobre a vege-tação, cada agr icu ltor deixa ou int roduz es-pécies diferentes. Existem, porém, pontos emcomum neste processo. Espécies arbóreas pi-oneiras e secundár ias presentes na regene-r ação, com o a capor or oqu in h a (My rsinecoreacea), a ar oei r a ver m el h a (Sch inuster eben t i f ol i a ), o a l ecr i m (Machaer iumst ipi ta tum, Fabaceae), can el as em ger al(Lauraceae), ingás (Inga spp., Leguminosae-Papilionoideae) são geralmente mant idas por-que podem atuar como fer t i l izadoras, at ravésde podas per iódicas. Espécies secundár ias

Tabela 1Tabela 1Tabela 1Tabela 1Tabela 1

Fonte: Vivan (2000).Fonte: Vivan (2000).Fonte: Vivan (2000).Fonte: Vivan (2000).Fonte: Vivan (2000).

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t ardias e terciár ias com valor madeirei r o,com o lou r o, cedr o, can jer an a, sobr agi el i cu r an a (H y eron ima a lchorneoid es) sãomant idas ou deliberadamente plantadas emespaços regu lares. Na categor ia de palmei-ras, o palmito (Euterpe edulis) é o prefer ido,tanto pelos seus usos potenciais, como porsua beleza. No caso específico deste SAF, eleteve que ser reint roduzido, devido à falta deuma densidade de matr izes silvestres que per-mit issem a regeneração espontânea.

Uma vez que as árvores se estabelecem,as podas in icialmente visam a condu zir acopa para um estrato acima das bananeiras.Isso evita que galhos e folhas dessas danifi-quem as folhas e os cachos da bananeira. Namedida em que as árvores crescem e u lt ra-passam a bananeira, um controle de sombre-am en to é fei t o. In divídu os fr acos ou m alposicionados são eliminados, enquanto outrossão mant idos como plantas fer t i l izadoras. Adensidade desse t ipo de árvores-fer t i l izadoraspor área é var iável, e depende da fer t i l idadedo solo e das espécies que regeneraram. Naszonas mais pobres é mant ida uma maior den-sidade de árvores: segundo o agr icu ltor , issoé feito tanto porque as árvores ajudarão a re-cuperar o local, quanto porque as zonas já na-tu ralmente de alta fer t i l idade recebem me-nos diversidade de árvores.

No manejo da quant idade e qualidade dasárvores que irão fazer fer t i l ização ou perma-necer como sombra, entram vár ios fatores.São prefer idas árvores de fuste longo e copareduzida, bom valor de uso, que não liberemresinas que atraem, que não quebrem galhosfacilmente com ventos e que tenham hábitocaducifólio. O nível de sombra que permiteum desempenho normal da banana tem sidor efer ido com o 50% par a o t r ópico ú m ido(Garnica, op. cit.), e a resposta à poda ou ca-racter íst ica caducifólia são por isso importan-tes. A poda deve ser realizada de acordo coma fisiologia de cada planta, e isso sign ificaque algumas, como a aroeira, toleram podas

freqüentes e quase totais (acima de 70% dacopa), enquanto ou tras, como algumas espé-cies de ingá, toleram apenas podas anuaisou bianuais, que não u lt rapassem 60% dacopa. Estes são saberes atualmente obt idospela observação e que const ituem um campoaber to à pesqu isa.

As árvores qu e terão u so como madeirasão selecionadas a par t ir do própr io bancode regeneração ou implantadas, qu ando nãohá matr izes próximas. Na propr iedade do Sr .Model, estas espécies são pr incipalmente olou ro, o sobragi e o cedro. O objet ivo é teru ma árvore de grande por te a cada 20-25met ros, o qu e gerará u ma densidade finalde 50 árvores por hectare. O cr i tér io de se-leção de espécies inclu i a qu al idade da ma-deira e a perda cícl ica de folhas, permit indoque árvores de grande por te não tenham queser podadas.

Nos estratos intermediários é importante areintrodução e a regeneração de palmito, emdensidades variáveis. O objetivo éobter uma den-sidade de pelo menos 200 adultos reprodutivos/hectares, com posterior raleio para 50-60/ hec-tares, o que permitirá que apenas o manejo daregeneração seja suficiente para manter o pal-m i t o n o sist em a (Dos Reis et al ., 2000).Bromélias, orquídeas e outras ornamentais sãointroduzidas em nichos especiais nos estratosinferiores, por critérios de aptidão e praticidadede manejo. As entrelinhas e o "olho" antigo dastouceiras de banana são usadas para bromélias,e árvores de ciclo longo são estacas vivas paraas orquídeas. A filha e a esposa do senhor Modelsão as responsáveis pelo enriquecimento do sis-tema com essas espécies, reproduzindo-as noquintal para reintroduzi-las no bananal.

A fer t i l i zação obt ida com as podas ésuplementada a cada três anos por cama deaviár io (quat ro toneladas/ hectare), calcár iod e con ch as (u m a t on r el ad a/ h ect ar e),micronu tr ientes (B e Zn) e fosfato de rochas(0,5 toneladas/ hectare) nos setores que ne-cessitam ser recuperados. A operação de "lim-

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peza" é sinérgica com os objet ivos da fer t i l i-zação. Nas duas roçadas anuais, que visam afacil i tar o t rânsito no bananal, se faz tam-bém a ret irada de folhas secas e o raleio debrotos, visando a manter t rês gerações port ou cei r a, n o espaçam en t o padr ão de 2,5metros x 2,5 metros. Todo este mater ial (er -vas roçadas, desbrotes, folhas e talos secos)passam a com por a l i t ei r a e en t r am n areciclagem de nu tr ientes do SAF.

Finalmente, é impor tante ressaltar o cu i-dado com a qualidade do produ to, desde a co-lheita até a venda. Mamões e bananas sãotranspor tados em carro de boi, em caixas for -radas com espuma para evitar danos, até ogalpão, onde os cachos são transformados empencas e mergu lhados em água contendo pro-du to biológico à base de semente de cit rus,que auxil ia na conservação e amadurecimen-to. Após, eles são postos a amadurecer emuma grande tina de madeira forrada com plás-t ico, contendo pencas maduras. O et i leno li-berado pelas fru tas maduras, além do ambi-

en te cr iado na t ina, favorece a matu raçãouniforme. As caixas que recebem as fru taspara poster ior t ranspor te até Por to Alegre sãofor radas com papel. As plantas ornamentaise condimentares/ medicinais são acondicio-nadas em sacos plást icos ou vasos, embala-das e enviadas às feiras, bem como arranjosflorais. A família toda envolve-se na produ-ção e comercial ização, seja nas fei ras emPorto Alegre ou em Torres, além de par t ici-par at ivamente das at ividades de formação,planejamento e fest ividades da Associação eda comunidade. A exper iência de "Toninho"é mu ito visitada, o que ocupa um tempo con-siderável do agr icu ltor , que atua como um"monitor agroflorestal" informal dentro do gru-po, além de receber visitantes interessadosna exper iência da família Model.

5 Decisões de manejoO manejo da luminosidade, regeneração,

cober tu ra e fer t i l idade do solo são fundamen-

Figura 1 - Composição do Bananal AgroflorestalFigura 1 - Composição do Bananal AgroflorestalFigura 1 - Composição do Bananal AgroflorestalFigura 1 - Composição do Bananal AgroflorestalFigura 1 - Composição do Bananal Agroflorestal

O bananal agroflorestal está composto de quatro es tratos principais (ver figura 1):

1)o estrato mais baixo (0-1m),1)o estrato mais baixo (0-1m),1)o estrato mais baixo (0-1m),1)o estrato mais baixo (0-1m),1)o estrato mais baixo (0-1m), composto por ervas n ativas e introduções. Bromélias, orquídeas e outras ornamentais estão introduzidas em algumas áreas já

sombreadas pela banana, ou utilizando árvores como estacas vivas.

2)O estrato arbustivo (1-5m)2)O estrato arbustivo (1-5m)2)O estrato arbustivo (1-5m)2)O estrato arbustivo (1-5m)2)O estrato arbustivo (1-5m) é ocupado pela banana e os elementos arbóreos que estão em regeneração ou em implantação, como mudas jovens de palmito, lour o,

sobragi, licurana, cedro, alecrim, canjerana, entre outras espécies nativas. O mamão ocupa o mesmo est rato da banana em pontos mais abertos, em crescimen to.

3)O estrato intermediário (5-8m)3)O estrato intermediário (5-8m)3)O estrato intermediário (5-8m)3)O estrato intermediário (5-8m)3)O estrato intermediário (5-8m) abriga árvores e p almeiras já desenvolvidas das espécies citadas.

4)O estrato superior (8-15m+)4)O estrato superior (8-15m+)4)O estrato superior (8-15m+)4)O estrato superior (8-15m+)4)O estrato superior (8-15m+) atualmente é ocupado principalmente por sobragi e louro, num espaçamento aleatório, mas nunca maior que 10mx10m.

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tais para o sucesso do SAF. Todas as deci-sões relat ivas às podas, a permit ir ou enr i-quecer a regeneração, bem como à fer t i l iza-ção são tomadas a par t ir das observações re-alizadas pelo agr icu ltor , dentro de sua convi-vência diár ia, aprendizado pessoal e colet ivocom o agroambiente e esfera de relações so-ciais e de trabalho. Na região, com exceçãoda área do Sr. Model, que foi acompanhadanuma pesqu isa de campo (ver Vivan, 2000),não existe ainda um "monitoramento" siste-mát ico e regist rado das condições e fenôme-nos observados nas demais exper iências emSAF em andamento.

O que hoje alimenta a tomada de decisãodo agr icu ltor em relação aos pontos acima ci-tados são, por tanto, in formações que resu l-tam de uma acumu lação e integração de sa-b er es qu e ai n d a est á em p r ocesso d eformalização. Fatores externos, como falta demão-de-obra, per íodos prolongados de chuvaou seca, falta de uma polít ica pública, de su-por te técnico e legislação adequada poderãoafetar essas decisões. A velocidade do avan-ço desse t ipo de sistema dependerá, assim,além de fatores conjuntu rais sociais e eco-nômicos, do apoio à invest igação part icipat iva

e às redes de comercialização e processamen-to que se puder mobil izar nos próximos anos,nu m cenár io de in tegração in ter inst i tu cio-nal.

6 ResultadosConsiderando o u n iverso da agr icu ltu ra

famil iar da região com estas caracter íst icas,os resu ltados são an imadores. Afora a ma-nu tenção de u ma produ ção estável de bana-na-prata, o sistema de sombreamento tempermit ido u ma presença cada vez maior debanana-maçã, qu e tem u m preço de merca-do 100% su per ior à banana-prata e atu al-mente 200kg mensais são vendidos na fei-ra, além da venda do mamão, qu e já acres-centava mil reais ao ano desde 1999. Estecon ju n to reflete-se nos indicadores sócio-econômicos abaixo:

Em 2 an os, t od a u m a ger ação d ep al m i t ei r os est ar á en t r an d o em fasereprodu t iva, o que significa uma possibil ida-de de renda extra. Esta poderá entrar tantopela coleta de fru tos para extração de polpa(que hoje alcança entre R$ 4,00 qu ilos a R$6,00 q/ kg nos mercados regionais), como pelorepovoamento de áreas de capoeira e cor te

Figura 2 - SAF Bananeiro da Propriedade do Sr. ModelFigura 2 - SAF Bananeiro da Propriedade do Sr. ModelFigura 2 - SAF Bananeiro da Propriedade do Sr. ModelFigura 2 - SAF Bananeiro da Propriedade do Sr. ModelFigura 2 - SAF Bananeiro da Propriedade do Sr. Model

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de excedentes no própr io SAF, obtendo-se pal-mito para conserva. Através da int rodução dem ad ei r as n ob r es, t am b ém est á sen d oconstru ída uma verdadeira "poupança verde",que começará a ser colh ida entre cinco e dezanos, e que segu irá pelos próximos 50 anos.O sistema de podas também tem possibil i ta-do ao agr icu ltor reduzir sua dependência deinsumos como esterco e corret ivos, aumen-tando os níveis de cober tu ra do solo, que sesituam sempre acima de 75% (Vivan, op. cit.).A renda pode dar um salto apreciável com apossível comercialização fu tu ra de bromélias,orqu ídeas, helicônias e ou tras espécies queestão se reproduzindo na área e capitalizan-do o sistema, sendo que a exper iência é umaespécie de "piloto" que será discu t ida e avali-ada junto ao Comitê da Reserva da Biosferada Mata At lânt ica-RS, de modo a permit ir queajustes e planos sejam const itu ídos dentro deum contexto de plena colaboração inter inst i-tu cional.

A conservação de uma área natu ral e a di-versidade do sistema, além do banimento daentrada de caçadores, cr iou a possibil idadede um refúgio para animais silvestres, pr in-cipalmente da fauna avícola. A família, por

sua vez, tem grande prazer em receber pes-soas e repassar a sua exper iência, aprenden-do sempre com a natu reza e com os visitan-tes. A propr iedade é hoje um ambiente ex-t remamente agradável, onde se apreciam or-qu ídeas, bromélias, helicônias, samambaias,árvores e fru t íferas, o que conta mu ito emtermos da qualidade de vida dessa família.

7 Potenciaise LimitaçõesEntre as for talezas e potenciais dessa ex-

per iência pode-se l istar : baixa necessidadede capital de giro; gasto reduzido com mão-de-obra-externa4, com manutenção de maqui-n ár i o e u so d e var i ed ad es e m at er i a lpropagat ivo própr io ou local; reciclagem deresíduos com fer t i l izantes externos; merca-do preferencial; diversidade de produtos; apro-veitamento da diversidade de ambientes e ni-chos, aliada à conservação da biodiversidadee qualidade de solo e água.

Do ponto de vista ecológico, apesar das ava-l iações in iciais microclimát icas já efetuadas(Vivan, op. cit), falta ainda uma avaliação sis-temát ica e ampliada que integre o saber lo-cal sobre árvores, níveis de sombra e fer t i l i-

Tabela 2. Indicadores comparados para o mesmo estrato fundiário, faixa socioeconômica e tipo de solo.Tabela 2. Indicadores comparados para o mesmo estrato fundiário, faixa socioeconômica e tipo de solo.Tabela 2. Indicadores comparados para o mesmo estrato fundiário, faixa socioeconômica e tipo de solo.Tabela 2. Indicadores comparados para o mesmo estrato fundiário, faixa socioeconômica e tipo de solo.Tabela 2. Indicadores comparados para o mesmo estrato fundiário, faixa socioeconômica e tipo de solo.

Fonte: Mazurana(1999); Escritório Municipal de Dom Pedro de Alcântara, (EMATER/RS, 2002).

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RExperiênciaelato

de

zação proporcionada, bem como as relaçõesentre o t ipo de árvores de sombra e qualidadevisual dos fru tos.

Uma ameaça à estabi l idade do sistema éo rou bo de palmito da própr ia área do agr i-cu l t or , o qu e só ser á r esol v i d o com oengajamento de toda a vizinhança na fisca-l ização do acesso de pessoas às áreas. A fal-ta de pessoal nos órgãos ambientais, bemcomo a inadequ ação dos mecan ismos atu -ais de l icenciamento para fazer fren te a u mpossível aumento de demanda para SAF podepesar na decisão de invest ir tempo e recu r -sos em plantas nat ivas u ma vez qu e, consi-derando o manejo atu al, algu mas prát icasem SAF necessitam su por te legal via planode manejo. De modo geral, não é recomen-dável qu e o manejo exi ja o cor te raso de es-pécies nat ivas em áreas de proteção perma-nente (mín imo de 30m de nascentes e cu r -sos d'águ a e decl ividades su per iores a 45o),nem preveja el im inação de espécies imu -nes ao cor te no RS, como a figu eira (Ficusor ga n en s i s ) e a cor t i cei r a - d a- ser r a(Erythrina falcata). Porém o cor te selet ivo denat ivas está previsto em lei e passível deplano de manejo denominado "Plano de Ma-nejo em Regime Ajardinado".

Entretanto estes são problemas conjuntu -rais que devem ser enfrentados por polít icaspúblicas, o que reforça a noção de que estet ipo de exper iência piloto deve ser apoiada ereforçada, na medida em que constrói alter -nat ivas e aponta caminhos na prát ica, jun-tando saberes e inst itu ições.

8 Conclusão:reproduzindo SAFs

O manejo in tencional e complexo qu e sever ifica na propr iedade do Sr . Model tem ain-da u m nú mero redu zido de similares na re-gião. Este fato pode ser at r ibu ído à desin for -mação e à apl icação r igorosa do modelo dein tensificação, qu e considera qu alqu er es-

pécie qu e não o cu lt ivo pr incipal u m "com-pet idor ". A noção de qu e "a in t rodu ção dasárvores redu z a produ ção, e qu e as espéciesnão vão poder ser manejadas, tornando-sein tocáveis pela lei ambiental" não tem basenem cien t ífica (vide Garn ica, op. cit.) nemlegal, mas se perpetu a pelo saber ecológicoescasso ent re técn icos e ent re mu itos agr i-cu ltores da nova geração, além do desconhe-cimento da legislação ambiental. O in teres-sante é qu e não existe u m acú mu lo real deexper iências negat ivas com bananais som-breados e SAF na região como, pelo cont rá-r io, são inúmeros os relatos de bananais ata-cad os p el o M al d o Pan am á (Fu sa r i u moxysporum) que, uma vez abandonados e par-cialmente sombreados, voltaram a produ zir .Trata-se, por tan to, ju stamente de u ma "fal-ta de exper iências" sistemat izadas. A difu -são e adoção dos SAF bananeiros implica ossegu in tes passos:

— est imu lar , sistemat izar e aval iar , demodo par t icipat ivo, o saber ecológico local,qu e m u i t as vezes est á r est r i t o a algu n sagr icu ltores(as) em uma comunidade;

— entender que a diversificação implicaviabil izar um fluxo de mercado e formação/assessor ia para manejo, colheita, processa-mento e venda de produ tos que não estão nofluxo pr incipal dos mercados estabelecidos naregião;

— consolidar um banco de informações edados de apoio que incorpore o saber local e oacadêmico, at ravés de uma rede de invest i-gação par t icipat iva, que gere tanto ações porpar te dos técnicos e agr icu ltores interessa-dos nos SAF, como polít icas públicas de apoio.

Estes são alguns dos fatores fundamentaispara que o agricu ltor aceite os "r iscos" de cons-tru ir de forma part icipat iva uma "nova" tec-n ologia. Por ém , pode-se afi r m ar qu e t aislimitantes são válidos para grande parte dasmodificações que se pretende quando o objet i-vo são sistemas de produção mais sustentá-veis, e isso coloca em evidência a importân-

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26Agroecol.eDesenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.2, abr./junh.2002

RExperiênciaelato

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0,08 em dezembro de 1992 para US$ 0,10 em junho

de 2002 (DIMER et al, 1993; PRESA, D., 2002, Inf.

Pessoal).2A exploração de ornamentais nativas depende ainda de

plano de manejo e certificação que estava em processo

de elaboração até o fechamento deste artigo.3Mais de 20 espécies diferentes, entre exóticas e nati-

vas, já foram introduzidas no SAF.4Mais dados sobre a mão-de-obra ainda são necessários,

embora a ausência de capinas e aplicações de

agroquímicos aliviem a lista de tarefas.

Notas

cia das redes sociais part icipat ivas para aconstrução de novos conhecimentos e ações.

Co n t a t o s s o br e o t e m a d e s t e a r t igo

p od e m s e r fe i t os c om :

— Jorge Lu iz Vivan, Núcleo de Invest i-gação Part icipat iva, EMATER-RS.

Rua João T. Hendler , 251, Dom Pedro deAlcântara, RS, CEP 95 560-000.

Tel (51) 664 00 58; (51) 664 00 60. E-mail:j [email protected]; [email protected]

— Laércio Meirelles e/ ou André Gonçal-ves, Centro Ecológico Litoral Nor te, Coor-denador. Rua Padre Jorge, s/ no, Dom Pedrode Alcântara, RS, CEP 95568-970.

Tel (51) 664 02 20, e-mail:cent ro.l i toral@ter ra.com.br

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A r t i go

Agroecología, sustentabilidad y reformaagraria: la superioridad de la pequeña

producción familiar

To led o , V íc t o r M .*

* Instituto de Ecología, Universidad NacionalAutónoma de México. Apdo 41-H, Sta. María

Guido, Morelia, Michoacán 58090. MÉXICO. E-mail: [email protected]

Para Francisco Julião y el Movimento delos Trabajadores sin Tierra de Brasil

Re su m e n- El debate sobre la relación en-t re la eficiencia o product ividad y el tamañode la propiedad agrar ia ha sido siempre in-tenso y polémico. Sin embargo, en los ú lt i-mos años se han acumu lado numerosas evi-d en ci as qu e m u est r an l a su p er i or i d adecon óm i ca y ecol ógi ca d e l a p equ eñ a

p r od u cci ón fam i l i ar p or sob r e l asexplotaciones agr ícolas y pecuar ias medianasy gr an des. Con base en u n a exh au st i varevisión de l i teratu ra, el presen te ar t ícu lom u est r a l as ven t a j as d e l a p equ eñ aproducción famil iar y discu te su impor tanciapara la reconversión agroecológica. El ar t ícu lot er m i n a l l am an do l a at en ci ón sob r e l an ecesi dad de h acer efect i va l a r efor m aagrar ia, como una condición obligator ia parahacer un manejo adecuado de los recu rsosnatu rales y transitar por los caminos de lasociedad sustentable.

Pa la br a s -c la ve: Agroecología, Agr icu ltu -r a fam i l i ar , E f i c i en ci a p r od u ct i va,Sostenibil idad, Reforma Agrar ia.

1 IntroducciónLa d i scu si ón sobr e l as ven t aj as y

desven t aj as de l a p r odu cci ón r u r al(agropecuaria, forestal y pesquera), en relacióncon la escala o el tamaño de la propiedad, hasi do u n debat e ál gi do con en or m esrepercusiones en los ámbitos de las polít icasagropecuarias, forestales, ecológicas, económi-cas y de desar rol lo ru ral . Basado en u naexhaustiva revisión de literatura sobre el tema,el presente artícu lo está dir igido a cuestionaruno de los pr incipales mitos de la ideologíadesar r ol l i st a: l a su pu est a su per i or i dadproductiva de la producción a gran escala y, porconsiguiente, la supuesta ventaja de las medi-anas y grandes propiedades por sobre laspequeñas. Por el contrario, los análisis revisa-dos en éste ensayo muestran como la pequeñapr odu cci ón agr ícol a y pecu ar i a, qu egeneralmente es de carácter familiar y muchasveces de familias agrupadas en comunidades

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rurales (campesinas o indígenas), resulta másproductiva tanto en términos económicos comoecológicos que las medianas y grandes.

Esta demostración tiene repercusiones decarácter económico y agrario, no solo porquecuestiona la supuesta eficiencia de las media-nas y grandes explotaciones agropecuar iasimpulsadas por el modelo agroindustr ial, sinoporque repercute en aquellas regiones y paí-ses donde dominan las grandes propiedades ydonde se hace necesaria y urgente una refor-ma agraria. En la perspectiva de un desarrollor u r al su st en t ab le, l a su pr em acía de laspequeñas producciones obliga a generar mo-delos agroecológicos de pequeña escala quesean apropiados a las condiciones ambientales,cu lturales y productivas de cada región.

2 Una antigua discusiónLa discu sión sobr e la su pu esta m ayor

v i ab i l i d ad d e l as m ed i an as y gr an d espropiedades es tan ant igua que, según J. L.Calva (1988), se remonta a la an t igü edadgrecolat ina. En los siglos XVIII y XIX, estadiscusión se dio con tal intensidad que dividióa los grandes economistas polít icos de su épo-ca. Mientras que F. Quesnay, Adam Smith yTh. R. Malthus fueron decididos detractoresdel min ifundio, ot ros, como S. Sismondi y J.Stuar t MilI, fueron apasionados defensoresde la producción a pequeña escala.

En t iempos más recien tes, este debater esu r gió con fu er za en la década de losset en t as (en Lat in oam ér i ca y M éxico), yadqu ir ió u na nu eva perspect iva u na vez qu ese in iciaron las demoledoras cr ít icas de laecología pol ít i ca al m odelo "m oder n o" deagr icu l t u r a in du st r ial izada (basada en elmonocu l t ivo y qu e u t i l iza pet róleo, fer t i l i -zan tes qu ím icos, pest icidas y maqu inar ia).El debate ha sido, por lo general , in tenso yap asi on ad o p or qu e l o qu e p ar ece u n adiscu sión meramente técn ica sobre la es-cala de la produ cción , en real idad encier ra

Losanálisismuestran como la

pequeña producción agrícola y

pecuaria resulta más productiva

tanto en términoseconómicos

como ecológicos que las medianas

y grandes

u na disyu n t iva social de proporciones h is-t ór i cas: l a vi ab i l i dad o i n vi ab i l i dad delcampesinado o de la agr icu l tu ra fam i l iar ,qu e hacia 1990 aú n manejaba en t re u n 60y u n 80 por cien to de la produ cción pr ima-r ia del mu ndo (véase Cu adro 1). Por el lo, af i n a l es d e l os set en t as, el econ om i st a

Ernest Feder se refi r ió a la polém ica comou n en cu en t r o en t r e "cam p esi n i st as" y"descam pesin ist as".

3 PremisasPara encuadrar la polémica es necesar io

r eal i zar an ál i s i s com p ar at i vos d e l aproduct ividad o eficiencia encontrada a dife-rentes escalas y bajo condiciones técnicas yambien tales semejan tes, o al menos mu ysim i lares. El concepto de produ ct ividad oeficiencia de un sistema product ivo ru ral opr imar io (es decir , agr ícola, pecuar io, forestalo pesquero) comúnmente se define como larelación que existe entre lo que se invier te(insumos) y lo que se obt iene (productos), esdecir , se t rata de un balance de insumos/productos (o análisis ou tpu t/ inpu t). Esto per-mite arr ibar a diferentes índices de eficienciao pr odu ct i vi dad (econ óm ica, en er gét i ca,tecno-ambien tal , etc.), dependiendo de losparámet ros u t i l izados (dinero, jornadas detrabajo, k i localor ías, etc.). De esta forma, unsistema agropecu ar io, forestal o pesqu ero

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será más product ivo en tanto u t i l ice la me-nor cant idad de insumos para obtener losm ayor es vol ú m en es d e p r od u ct os. Laint roducción del cr iter io de sustentabil idadest ab l ece, ad em ás, qu e es n ecesar i od em ost r ar el m an t en i m i en t o d e l aproduct ividad de un cier to sistema a travésdel t iempo, es decir , a lo largo de var ios ci-clos anuales (véase Masera, et al., 1999, parau na metodología para evalu ar el grado desustentabil idad de un sistema product ivo). Elmantenimiento de la máxima product ividadd u r an t e el m ayor l ap so ser á en t on cesindicat ivo del valor ópt imo, demostrando quese h ace u n u so eficien t e de los r ecu r sosnatu rales y de la tecnología.

4 ¿Qué se entiende porpequeña producción?

La n oción de "pequ eñ a pr odu cción " o"pequeña propiedad" var ía de acuerdo con lascondiciones agrar ias de cada país o región yparece ser la resu l tan te de las relacionesentre densidad demográfica y disponibil idadde t ier ra o recu rso. Por ejemplo, en buenapar te de las áreas más densamente pobladascomo China, India, Indonesia, El Salvador ola mayor par te de los países europeos, dondelos promedios de la propiedad agrar ia se danpor debajo de las cinco hectáreas, la pequeñaproducción famil iar generalmente se ubicaalrededor de u na hectárea. En países conmayor disponibil idad de recursos la extensiónaumenta. En México, por ejemplo, se consi-dera que los tamaños de la pequeña propiedadoscilan entre las cinco y las dez hectáreas.F i n al m en t e, en p aíses con gr an d esextensiones de t ier ra, como Argent ina o Bra-sil, hablar de pequeña producción es refer irsea propiedades de 20 hectáreas, e incluso demayor extensión.

A la situación anter ior debe agregarse lavariación resultante de las condiciones ecoló-

gicas en las que se encuentra la propiedad, puesno es lo mismo realizar la producción bajosituaciones de máxima humedad y temperatu-ra (como sucede en las regiones tropicales cáli-do húmedas), que en condiciones donde existenlimitaciones térmicas, hidrológicas o edáficas.Más al lá de estas consideraciones, pu edeafirmarse que una pequeña propiedad familiarserá aquella que no rebasa las 10 a 15 hectáreas,pues por encima de estos tamaños comienzana manifestarse ciertos "factores de escala" quetienden a modificar la lógica o racionalidad dela producción, es decir, del manejo de los recur-sos naturales y de la tecnología. No obstante loan t er i or , au n cu an do adopt ár am os u n adefinición más rígida de pequeña propiedadcomo aquella con una extensión de no más de 5hectáreas, el número de productores del mun-do en esa situación es inmenso: más de 1,500millones, es decir, la mayoría de los propietariosagrarios del planeta (Cuadro 1).

5 Eficiencia oproductividad economicaDe la abundante literatu ra sobre el tema,

es posible seleccionar t res ejemplos por seraltamente confiables, conocidos y más o me-nos recientes. El pr imero es el l ibro PeasantEconomics, del economista inglés Frank Ell is(1988). Con base en var ios estudios de caso yen u na cier ta argu mentación teór ica, El l isestablece que existe un aparente descensode la product ividad conforme se incrementael tamaño de una parcela. Este patrón lo ex-plica en función del uso cada vez menos in-tenso que hacen los productores conforme supropiedad va en aumento, y a cier tos factoresligados al establecimiento de los precios.

A con cl u si on es si m i l ar es l l ega R. M .Net t i n g, u n r econ oci d o an t r op ól ogonorteamericano de temas rurales, en el quefu e su ú l t i m o y m ás i m p or t an t e l i b r o:Smal lholders, Hou seholders, pu bl icado en

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1993 y dedicado a revisar el tema de la agr i-cu ltu ra familiar o minifundista a nivel mun-dial. En su capítu lo cinco, ese autor confirma,con base en estudios empír icos realizados enla India, Bangladesh y Costa Rica, la mayoref i c i en ci a econ óm i ca d e l a p equ eñ aexplotación. Citando a F. Ellis, este segundoau tor du da, adem ás, de la val idez de u nconcepto recurrentemente manejado por loseconomistas agrícolas: el de economía de es-cala, y demuestra que este supuesto efecto esmás un resu ltado del t ipo de tecnología y de lavaloración que se haga de la t ierra, el capitaly el trabajo que del tamaño de la explotación.

El tercer ejemplo es el más contundente.Teniendo como base el análisis detallado dela evolución histór ica de los derechos agrar ios,H . P. B iswan ger y colabor ador es (1993)concluyen que "(...) la mayoría de los estudiossobre la relación entre productividad y tamañod e p r ed i o su gi er e m ayor es n i vel es d eproduct ividad en las unidades familiares queen las grandes granjas operadas con base ent rabajo asalar iado". Los au tores mu est ranentonces que las supuestas ventajas de la granpropiedad han sido un mito, u t il izado a lo lar-go de la histor ia para just ificar la explotacióndel trabajo asalariado y de los campesinos, me-diante el cobro de trabajo esclavo, tr ibu tos,rentas (en dinero, especie o trabajo) y otrosmecanismos. Destaca el hecho de que estosau t or es son t r es r i gu r osos econ om ist asnorteamericanos, y que la publicación citadaes un reporte financiado y publicado por el Ban-co Mundial.

6 La productividad oeficiencia ecológica

Tras tres décadas de invest igación agro-ecológi ca y et n o-ecológi ca, ex i st e ya u nrespetable reper tor io de ejemplos mostrandocómo el m in i fu ndio fam i l iar (campesino oindígena) resu lta mucho más eficiente des-

A r t i go

de el punto de vista del uso y conservación del os r ecu r sos n at u r a l es (su el o, agu a,b iod i ver sidad, en er gía, ecosi st em as). Laexplicación es bastante simple y puede se-gu ir var ios caminos. Una propiedad grandeno permite de entrada el manejo met icu losoy fino que requ iere un uso ecológicamenteapropiado (por ejemplo, la delicada var iaciónde los suelos queda supr imida en las grandesextensiones o la man ipu lación de cu lt ivosmú lt iples o el control biológico de las plagas).

Por otra parte, una gran propiedad requ ierecasi obl igator iamente del u so de insu mosquímicos para mantener la fer t i l idad del sueloy / o evi t ar l a en t r ad a d e p l agas o d eenfermedades, pues casi sin excepción lasexplotaciones lat ifundar ias se basan en ex-tensos monocu lt ivos, sean agr ícolas, para elganado (past izales) o forestales (plantaciones).

Esta vez u t i l izaremos, sin embargo, u nej em p l o cu an t i t at i vo u sad o con ci er t afrecuencia en la literatura para demostrar lamayor product ividad ecológica de la pequeñafinca por sobre la gran propiedad agrícola: eluso de la energía. El ejemplo fue introducidoen su versión pr imera por el invest igadorn or t eam er ican o D. Pim en t el (Pim en t el &Pimentel, 1979) y una versión aplicada al casode México fue presentada por este autor y co-legas unos años después (Toledo, et al., 1989).

El Cuadro 2 muestra la energía inver t iday obtenida (medida en k ilocalor ías) du rantela producción de una hectárea de maíz en 15diferentes situaciones: (a) siete representanuna típica producción campesina donde no seemplea más energía que aquella der ivada delp r op i o esfu er zo del p r odu ct or ; (b ) sei sconst i t u yen estados in termedios donde laprodu cción campesina combina el u so deenergía humana con energía der ivada de latracción animal; (c) los dos ú lt imos conformancasos modernos donde el empleo de maqu i-nar ia y de fer t i l izantes y pest icidas qu ími-cos, accionados y elaborados con energía fósil,son par te del sistema de producción.

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En los primeros dos conjuntos, el productordedica enormes períodos de tiempo en el procesoproductivo: entre 500 y 1,500 horas para hacerproducir una sola hectárea de maíz. Por el con-trario, el productor moderno, que sólo emplea através de sus sistema tecnificado unas cuantashoras, puede hacer producir más de 100 veceslo qu e u n produ ctor campesino u t i l izandoenergía humana y/ o animal. No obstante loan t er i or , en t ér m i n os est r i ct am en t eenergéticos, que es la forma como los investi-gadores calcu lan la eficiencia ecológica de unsistema productivo, los productores campesi-nos resultan más eficientes que los modernos.

La explicación se encuentra en el hechode que, mient ras la producción campesinainvier te de 200,000 a 1,500,000 k cal porhectárea, los sistemas modernos requ ieren de15 a 20 millones kcal para realizar el mismoproceso. Dado que la energía total obtenida enlos sistemas modernos sólo es de três a cincoveces m ayor qu e l as d os p r i m er as, l aproducción moderna sobre grandes escalasresu lta energét icamente menos eficiente quela del pequeño predio campesino.

7 El análisisde RossetLa contr ibución más reciente al debate es

el detallado análisis realizado por P. Rosset(1999a, 1999b y www.foodfi r st .org/ pu bs/policybs/ pb4.html) sobre la productividad de fin-cas agrícolas de diferentes escalas en 15 paí-ses del mundo. Las conclusiones a las que llegaese autor son evidentes: "Using evidence fromSou t h er n an d Nor t h er n cou n t r i es Idemonst rate that smal l farms are ‘mu l t i -functional’ - more productive, more efficient,and contr ibute more to economic developmentthan large farms. Small farmers can also makebet t er st ewar ds of n at u r al r esou r ces,conserving biodiversity and safe-guarding thefuture sustainability of agricultural production".La tendencia predominante encontrada por eseautor es la de una mucho mayor productividad

A r t i go

por unidad de superficie en las fincas de me-nor tamaño (de 200 a 1,000 por ciento más) queen las grandes. Rosset atr ibuye ese patrón alh ech o de qu e por lo gen er al las gr an despropiedades agrícolas se basan en extensos ymonótonos cultivos de una sola especie, en tan-to que en las pequeñas parcelas de carácterfamiliar (campesino o indígena) se t iende asembrar más de una especie (policu lt ivos) y aintegrar a la ganadería con la agricu ltura. Lasimple comparación de lo producido en unmonocult ivo contra un policu lt ivo por unidadde superficie revela una mayor productividaden el segundo, no obstante que en la explotaciónde mayor escala la productividad de cada unode los cu lt ivos pueda ser mayor que en lapequeña explotación.

8 Estudios de caso: China,Usa, Europa y Cuba

Además de las referencias ofrecidas en losapar tados anter iores, también es posible darun rápido repaso a la situación que existe enalgunos países. El más notable es, sin duda,el d e Ch i n a, u n p aís l egen d ar i am en t emin ifundista desde hace por lo menos 3,000años, y donde se concentra una qu inta par tede la población del mundo. En China, más de200 millones de unidades famil iares ru rales- que en promedio detentan menos de unahectárea cada uma - logran la au tosu ficienciaal i m en t ar ía de u n a pob l aci ón de 1 ,200millones de habitantes sobre una super ficieque es solamente cinco veces el área agr íco-la de México o cinco veces el ter r itor io de RioGrande do Su l, esto es, unas 100 millones dehectáreas (Hsu , 1982; Net t ing,1993).

En el imper io de las grandes propiedades,los Estados Unidos, Mar ty Strange ha escr itoun libro entero sobre la agr icu ltu ra famil iar(1988 ) par a dem ost r ar , con abu n dan t einformación estadíst ica, que el pr incipio de"bigger is bet ter " (lo grande es lo mejor ) es unmito en la agr icu ltu ra nor teamer icana. Una

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32Agroecol.eDesenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.2, abr./junh.2002

década después, el Depar tamento de Agr icu l-tu ra de los Estados Unidos reconoció, a t ra-vés de un repor te especialmente preparadosobre la agr icu ltu ra de pequeña escala (USDA,1998), las vir tudes de la agr icu ltu ra famil iar .De acuerdo con dicho repor te, la producciónagr ícol a a pequ eñ a escal a m an t i en e l adiversidad (biológica, paisajíst ica, agr ícola ycu l t u r al ), gen er a n u m er osos ben ef i ci osambien tales (pu es se t iende a real izar u nmanejo responsable del suelo, el agua y lavida silvestre), produce opor tunidades econó-micas más justas, mant iene un manejo per-sonal izado de los al imen tos y en mu chasregiones es vital para la economía regional.

En Eu r op a, d on d e l a al t a d en si d addem ogr áfi ca logr ó m an t en er en claves depequeña escala pesar de la compactación queprovocó la "modernización" rural de las ú lt i-m as décadas, las est adíst icas m u n dialesindican que las mayores product ividades agrí-colas están en los países donde prevalece elm in i fu n dio: Holan da, Alem an ia, Bélgica,It al ia. Aten to a éste fenómeno, A. Palerm(1980), uno de los más destacados estudiososde la antropología económica, recomendó, des-de hace más de dos décadas, tomar en cuentalo que él llamó el "modelo holandés" para llevara cabo un desarrollo rural apropiado, ahí don-de predomina un régimen agrar io campesino,plu r icu ltu ral y minifundista.

El caso de Cuba resu lta también altamen-te ilust rat ivo porque muestra de manera des-carnada como la gran propiedad que se haimpu lsado en las sociedades industr iales deOcciden te (USA, Canadá, Eu ropa) resu l taigualmente improduct iva desde el punto devista económico y ecológico, en su modalidadcolect i vi st a o est at i st a. Est e m odelo fu eimpu lsado a par t ir de la revolución rusa yextrapolado al "socialismo tropical" cubano.Sin petróleo su ficiente para alimentar la agr i-cu ltu ra industr ial izada de las grandes gran-jas y cooperat ivas estatales, y con una agudaescasez de alimentos, los ojos están hoy de

n u evo en el ú n ico sect or qu e r esist ió elproceso de colect ivización: el pequeño agr i-cu ltor famil iar y pr ivado.

En 1996, este autor observó en Cuba cómouna familia campesina, ubicada muy cerca deLa Habana, había logrado evi tar la cr isiseconómica que afectaba a todo el país, eraautosuficiente en alimentos y energía y era,como otras familias de productores similares,generadora de excedentes en el agro cubano.Su propiedad de solamente 1 caballer ía (13.6hectáreas) producía 15 clases diferentes decer eal es, h or t al i zas y f r u t os, m an t en íagallinas, patos, cerdos y caballos, y producía24 lit ros de leche diar ios, para convert irse enuna unidad de producción con excedentes. EnCuba el proceso de la revolución social istaredu jo la producción familiar de pequeña es-cala al solo 20% del terr itor io isleño, pues elr est o fu e con ver t i d o a l a m od al i d adagroindustr ial de gran escala: cooperat ivas ygranjas colect ivas de carácter estatal basadasen el uso de máquinas movidas por petróleo.Hoy, ante la cr isis energét ica que sufre el paíspor la ausencia del petróleo que le abastecíala ant igua ex Unión Soviét ica, Cuba no solorecupera el valor de la producción familiar yde pequ eñ a escala, t am bién r eal i za u n areconversión acelerada de su agro, transpor-te y ciudades, con énfasis en la agr icu ltu raorgánica o ecológica (Rosset & Benjamin, 1997;ALTIERI, et al., 1999).

9 Sustentabilidad,Agroecología y Reforma

AgrariaLa búsqueda de una sociedad sustentable

implica, ent re ot ras cosas, la reconversiónde los sistemas product ivos pr imar ios (agr i-cu l t u r a, gan ad er ía, p esca, for est er ía ,ext racción) hacia modalidades ecológicamen-te adecuadas. En los países con una in justad i st r i b u ci ón agr ar i a , se h ace ad em ás

A r t i go

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necesar io impu lsar la democrat ización de lapropiedad de la t ier ra. En países como Brasil,lo an ter ior es u na asignatu ra pendien te ycada vez más urgente. Brasil posee el recordd e ser l a n aci ón con l a m ás i n j u st adist r ibución de la t ier ra en el planeta: unos50,000 propietar ios, representando apenas eluno por ciento, detentan más de la mitad dela t ier r a del ext en so t er r i t or io br asi leñ o,m ien t r as qu e se est im a exist en u n os 12m i l l on es de dem an dan t es de pr op i edadagrar ia.

La distr ibución equitat iva de los recursosimplica el impulsar la pequeña producción decarácter familiar y, de acuerdo a lo examinadoen los apartados anteriores, fomentar un ma-nejo agro-ecológico de los recursos naturales.Ello implica un reto para la investigación cien-tífica y tecnológica porque se hace necesarioel diseñar y llevar a la práctica, dentro de unamodalidad de investigación participativa, mo-delos integrales y múlt iples de manejo de losrecursos naturales a pequeña escala (véase unejemplo en la Figura 1), es decir, de carácterfam i l i ar . Est o con l l eva u n a m an er a devisualizar la problemática radicalmente dife-rente a como se ha venido realizando en lamayoría de los centros académicos dedicados a

Brasil esla nación con la más

injusta distribución de la tierra en

el planeta: unos50.000

propietarios (uno por ciento)

detentan másde la mitad de la

tierra. Se estima existen unos12

millones de demandantes de

propiedad agraria

A r t i go

la innovación tecnológica, el extensionismo yel desarrollo rurales. En suma, se requiere deinvestigadores y técnicos (naturales y sociales)

y de instituciones de carácter mult idisciplinarcapaces de en t en der l as r elaci on es qu ei n exor ab l em en t e se est ab l ecen en t r eSu sten tabi l idad, Agr o-ecología y Refor m aAgraria. La superior idad económica y ecológi-ca de la pequeña producción familiar mostradaen este artícu lo confirma que estas relacionesn o sol o son posi b l es, si n o u r gen t es ynecesar ias.

ALTIERI, M.; COMPANIONI, N.; CAÑOZARES,K. et al. The greening of the "barr ios": u rbanagr i cu l t u r e for food secu r i t y i n Cu ba.Ag r icu l t u r e a n d Hu m a n Va lu es, v. 16,p. 131-140, 1999.

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ELLIS, F. P e a s a n t E c o n o m i c s ' f a r mh ou s eh old s a n d a gr a r ia n d eve lop m en t .Cambr idge: Universily Press, 1988.

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NETTING, R. M cC. S m a l l h o l d e r s ,H o u s e h o l d e r s: far m fam i l i es an d t h eEcology of intensive, sustainable Agricu lture.

10 Literatura citada

AAAAA

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34Agroecol.eDesenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.2, abr./junh.2002

A r t i go

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Piesde figuras

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A r t i go

1. Modelo eco-produ ct ivo de escala fam i-l i a r en d ez h ec t á r ea s p a r a l a Sel vaLacan don a, Ch iapas, México. El m odelo,b a sa d o en l a es t r a t egi a i n d ígen am esoam er ican a, in clu ye siet e sist em as ysu s r elacion es tan to con los ecosist em ascom o con los m er cados: el h u er t o fam i l iarubicado junto a la vivienda, y la parcela param aíz o m i lpa (dois h ectár eas), el pot r er o (1h ec t á r ea ), u n á r ea d e cu l t i voscom plem en tar ios (cañ a de azú car y ot r os)y u n á r ea f or es t a l y agr o- f or es t a l (6h ectár eas) dividida en t r es seccion es: u n apor ción con selva m adu r a, ot r a con cafetalbajo som br a y u n a ter cer a con selvas se-cu n d a r i a s d e d i f er en t es ed a d es . L aviabi l idad ecológica del m odelo se logr a porl a s con ex i on es en er gét i ca s q u e seestablecen en t r e los sist em as y los cier r esl ogr ad os p or el r eci c l a j e d e m at er i a yen er gía al in t er ior de cada sist em a. Porejem plo, los desech os o esqu i lm os agr íco-las y cier t os m ater iales de or igen vegetalp r oven i en t es de l as ár eas for est al es seem p l ean com o f or r a j es en el p ot r er o(gan ado bovin o) y en el h u er t o fam i l i ar(gan ado por cin o y gal l in as). Por su par te,los sist em as for estales ofr ecen ser vicios alr est o, t a l es com o l eñ a, p ol i n i zad or es,

con t roladores biológicos de plagas, organ is-m os del su elo, sem i l las, fu en t es par a lapr odu cción de m iel , abon os n at u r ales yes t a b i l i za d or es d el c l i m a . Com ocon t r apar t e en con t r am os la con ver sión delest i ér col y la or in a an im ales en abon ospar a la agr icu l t u r a o el u so de los desechosd el ca f é (p u l p a y m u c í l a go) p a r a l ap r od u cc i ón d e h on gos o a b on os(ver m icom posta), o la t r an sfor m ación de lacañ a d e azú ca r en f or r a j es , ab on o yen er gía. La viabi l idad econ óm ica del m o-delo se logra median te: a) el abasto de maíz,fr i joles, azú car y ot r os al im en tos pr oven i -en tes de las ár eas agr ícolas, lech e y car n edel pot r er o, f r u t os d i ver sos, h or t al i zas,h u evo, m iel y car n e de cer do y de pol lo delh u er t o fam i l iar , así com o leñ a, m edicin as,m ater iales de con st r u cción y ot r os al im en -tos de las ár eas for estales. Y b) por la ven -t a de m aíz, lech e, gan ado en pie, café y di -versos produ ctos de las áreas forestales (es-pecialm en te fr u tos y h ojas de palm a), asícom o m iel , m oscabado, cer dos y fr u tos di -ver sos d el h u er t o. A l o an t er i or d eb esu m ar se u n cier t o pago por los ser viciosam bien tales de las 6 h ectár eas con cober -t u r a for estal . Par a m ayor es detal les véaseToledo (2000).

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A r t i go

Cuadro 2. Análisis comparativo de la eficiencia ene rgética en la producción de una hectárea de maíz ba jo tres condicionestecnológicas: con energía humana, con energía anima l y con energía fósil. Tomado de Toledo et al., 198 9.

(a) con fertilizantes químicos; (b) utiliza yunta, tractor y fertilizantes químicos; (c) en 1975.

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Estrumeirasde solo-cimento

* Eng. Agr., EscritórioCentral, EMATER/RS.** Eng. Agr., EscritórioRegional deSantaRosa, EMATER/RS.*** Tec. Agr., EscritórioMunicipal deSãoPaulodasMissões,

EMATER/RS.

A lternativaTecnológica

* B ar t e ls , H en r iq u e A . S .* * K ap p el, P au lo S érg io

* * * Th u m e, V alm ir

Estrumeiras de concreto, de t ijolos ou delona plást ica são algumas das alternat ivas quejá foram colocadas em prát ica para fazer oarmazenamento dos dejetos de suínos. O altocusto da construção das esterqueiras, porém,sempre foi um empecilho ou uma just ificat i-va para o produtor de suínos não aproveitar osdejetos de forma integral e evitar a polu içãoambiental. O valor econômico dos dejetos nem

sempre just ifica os invest imentos. Estas res-tr ições são maiores ainda quando os dejetossão manejados na forma líqu ida.

As estrumeiras de solo-cimento têm sidouma alternat iva para o armazenamento dedejetos líqu idos de su ínos na Região Noroes-te do Rio Grande do Sul, desde 1993. Produto-res de municípios daquela região constru í-ram um número sign ificat ivo deste t ipo dedepósito, conforme está apresentado na ta-bela a segu ir .

Este t ipo de estrumeira se adapta ao usode esterco líqu ido, especialmente quando apocilga fica no alto e o esterco pode ser cana-l izado por declividade para áreas de cu ltu rasou de pastagens nat ivas.

O valor do invest imen to e o retorno doempreendimen to, al iados à preocu pação da

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preservação do meio ambien te, têm fei tocom qu e mu itos agr icu l tores fam i l iares op-tem por esta prát ica.

O cu st o dos m at er iais (t i j olos, ar eia,br i ta, cimen to) e o cu sto da mão-de-obraespecial izada para a const ru ção da est ru -meira t r ipl icam o valor do invest imen to nomodelo t radicional qu ando comparados como cu sto do modelo de solo-cimen to. A cons-t r u ção de solo-cim en t o r edu z o cu st o deaqu isição e de t ranspor te da areia, dos t i jo-los e da br i ta.

O revest imen to das paredes das est ru -meiras é fei to para evi tar as in fi l t r ações qu epossam con taminar as fon tes d'águ a. Estapreocu pação tem au men tado nos ú l t imosanos em vir tu de da maior concen t ração daprodu ção de su ínos, u ma vez qu e as cr ia-ções são cada vez maiores.

Esta estrumeira é diferente das que sãocitadas na literatu ra, para as quais recomen-do uso de super fícies planas e de fôrmas paraconter a massa (Associação...19--). A constru -ção é mu ito simples, pois não há necessida-de de u t i l izar fôrmas de madeira para contera massa. A massa, u ma mistu ra de águ a,areia, cimento e solo do própr io local, é ajei-tada no fundo e nos lados do buraco escavado,u t i l izando-se fer ramentas simples como pá,enxada e colher de pedreiro. Os lados e o fun-do do buraco dest inado à estrumeira não pre-cisam ser planos per feitos. O revest imentodas laterais e do fundo com solo-cimento podeser feito em super fícies côncavas ou conve-xas, obedecendo algumas part icu lar idades do

ter reno, como a presença de rochas. O for-mato das estrumeiras pode var iar de circu -lar a quase retangu lar . Esta possibil idade detrabalhar com super fícies arredondadas eco-nomiza mater ial e facil i ta o trabalho de cons-trução.

O solo ar en oso, qu e tem u m a par te m ai -or de ar eia e ou t r a m en or de ar gi la, é omais adequ ado. O solo argi loso requ er mai-or qu an t idade de cim en t o e é m ais di fíci lde m istu r ar e com pactar . O solo adequ adon ão deve con ter pedaços de galh os, folh as,r aízes ou qu alqu er ou t r o t ipo de m ater ialor gân ico qu e possa pr eju dicar a qu al idadef i n al do solo-cim en t o. Solos com m u i t om at er ial or gân ico devem ser descar t adospar a a pr odu ção de solo-cim en to, pois su al im peza é m u i t o di fíci l (Associação... 19--).

M at e r i ai s p ar a a c o nst r ução d a e st r ume i r ad e so l o -c i me nt o

Para cada 2 m2 de revest imento são ne-cessár ios os segu in tes mater iais:

1 lata de cimento;1,5 lata de areia;6,5 latas de ter ra vermelha;2 lit ros de hidroasfalto (piche fr io).Cada lata corresponde a um volume de 18

lit ros.

Esc avaç ão d a e st r ume i r a

O formato poderá ser oval, qu adrado ouretangu lar . As laterais são escavadas comu ma incl inação de, aproximadamen te, 45grau s. A profu ndidade poderá ser de até 2

A lternativaTecnológica

Municípios do Rio Grande do Su l Estrumeiras no Volume médio m 3 Volume total 1 m3

Campinas das Missõe s 30 25 750

São Paulo das Missões 27 50 1.350

Roque Gonzales 30 30 900

Vista Gaúcha 85 25 2.125

Total 172 — 4.3151. Capacidade estática

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A lternativaTecnológica

metros. Em caso de ater ramento, o solo pre-cisa ser bem compactado antes de proceder -se ao revest imento das laterais.

M ão -d e -o b r a

A mão-de-obra não precisa ser especializa-da e normalmente é composta de no mínimo6 trabalhadores, formando duas equ ipes.Uma prepara a massa e a ou tra aplica o solo-cimento, tanto no fundo como nas laterais.Isso permite que o serviço seja conclu ído nomesmo dia.

Pre p aro d a massa

As quant idades de mater iais são medidascom vasilhas ou latas, de modo a manter auniformidade da mistu ra.

In i cialm en t e, 1 lat a de cim en t o e 1,5lata de ar eia m édia são colocadas em u m acaixa e bem m istu r adas. Em segu ida, n apr ópr ia caixa ou sobr e o solo, aos pou cos,são adicion adas as 6,5 latas de ter r a ver -m elh a. O passo segu in te é m istu r ar bem aar eia, o cim en to e ter r a ver m elh a. Aos pou -cos, a segu i r , a águ a é adicion ada, evi t an -do o excesso. Até esse m om en to a m istu r aé fei t a com a en xada, e depois disso at r a-vés do pisoteio. A m assa está n o pon toqu ando começa a se sol tar da bota du ran -t e o pisoteio.

O uso de betoneira é inviável, pois a mas-sa se fixa nas paredes e não possibi l i ta amistu ra.

A p l i c aç ão d a massa d e so l o -c i me nt o

Ao in iciar o r evest im en to, é im por tan tequ e as par edes estejam bem u m edecidaspar a evi t ar r ach adu r as.

O t r abalh o in icia por u m a das par edese, em segu i d a, as d em ai s p ar ed es sãor evest idas, deixan do-se u m espaço n u m adas ext r em idades par a a saída dos t r aba-lh ador es. O fu n do é cober to com solo-ci -m en to por ú l t im o.

Com auxilio de pás, a massa é colocada em

tiras de 70 centímetros a 1 m de largura, decima para baixo, com uma espessura de 10centímetros. A massa deve ser compactada detal forma que não fique espaço entre a quan-t idade de uma pá e de outra para evitar ra-chaduras. Com auxilio de uma colher de pe-dreiro, uma brocha de pintura e um balde comágua, as paredes são alisadas. À medida que aconstrução evolu i, as paredes são cober tascom uma lona para evitar a secagem rápida.Após a conclusão da aplicação do solo-cimen-to, as paredes são umedecidas, no mínimo 5vezes ao dia, por um período de 20 dias paraevitar rachaduras.

Bo r d a d a e st r ume i r a

O solo-cimento também é utilizado na cons-t rução da borda com a segu inte mistu ra: 1lata de cimento, 3 latas de areia e 1 lata deter ra vermelha. O muro deverá ter no míni-mo quatro fi leiras de t i jolos maciços, acimado nível do solo, para evitar a entrada da águada chuva.

Uso d o hi d ro asf al t o f r i o

Vin te dias após o r evest im en to, t odas asparedes e fu ndo da est ru meira são bem var -r idas e du as dem ãos de h idr oasfal t o sãoap l i cad as sob r e a su p er f í c i e seca . Oh idr oasfal t o cobr e pequ en as fissu r as e fazcom qu e a est r u m ei r a fiqu e totalm en te im -per m eabi l i zada.

Cercamento da estrumeiraAs est r u m ei r as pr ecisam ser cer cadas

para evitar acidentes com cr ianças, adu ltose an imais.

ASSOCIACAO BRASILEIRA DE CIMENTOPORTLAND. Gu ia d e con s t r u ções r u r a is :

à base de cimento. São Paulo, [19--]. v.2

Referência Bibliográfica

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40Agroecol.eDesenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.2, abr./junh.2002

Incorporando el enfoque agroecológicoen lasInstitucionesde Educación AgrícolaSuperior: la formación de profesionales

para una agricultura sustentable

R e s u m e n :Hasta hoy, las Inst i t u cionesde Edu cación Agr ícola Su per ior (IEAS) hanformado profesionales de acu erdo con u nm odelo agr ícola pr odu ct i vi st a al t am en t edependien te de insu mos externos qu e hagenerado graves problemas ambien tales ysoc i a l es qu e p on en en d u d a l asu sten tabi l idad de este modelo produ ct ivo.El manejo o gest ión de sistemas agr ícolassu s t en t ab l es r equ i er e u n n u evo

* Profesor responsable del curso de Agroecología,Investigador de la Comisión de Investigaciones Científi-

casde laProvincia. deBs. As. CátedradeAgroecología, Facultad de Ciencias Agrarias y

Forestales, Universidad Nacional de La Plata. CC 31,Calle 60 y 119, 1900, LaPlata, Argentina. E-mail:

[email protected]

A r t i go

S aran d ó n , S an t iag o J .*

profesional, capaz de enten-d er l os agr oecosi s t em ascom o sist em as biológicos,incorporando, además, su scom pon en t es socioecon ó-m icos. Para el lo se requ iereu n profu ndo cambio en losplanes de estu dio y modal i -dades de enseñanza de lasIEAS. Sin em bar go, en lareal idad, esto no siempre esposible por las resistenciasal cam bio qu e pr esen t an ,en general , las u n iversida-des. La in t rodu cción de laAgr oecol ogía com o u n anueva asignatu ra en los pla-nes de estu dios de las IEAS

pu ede ser u na est rategia adecu ada (au nqu eno su ficien te) para lograr este cambio pro-fu ndo. Este ar t ícu lo anal iza la in t rodu ccióndel en foqu e de la Agroecología en las u n i-versidades, a par t i r del caso de la Facu l tadde Cien cias Agr ar i as y For est al es de laUn iversidad Nacional de La Plata, Argen t i -n a.

P a la b r a s -c la v e :Agr oecología, Plan deEstudios, Reforma Curr icu lar , Agroecosiste-mas.

1 FundamentaciónHasta hoy, las Inst ituciones de Educación

Agr ícol a Su p er i or (I EAS) h an for m ad oprofesionales de acuerdo con un modelo agr í-cola productivista que ha buscado la obtención

S aran d ó n , S an t iag o J .*

Page 40: Revista Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sutentável 02_04/2002

41Agroecol.eDesenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.2, abr./junh.2002

A r t i go

d e al t os r en d i m i en t os, a t r avés d e l amecan ización agr ícola, el u so in tensivo deagro-qu ímicos (pest icidas y fer t i l izantes), eluso de var iedades mejoradas de cu lt ivos, y elempleo de técn icas "modernas" de manejo.Sin em bar go, debem os r econocer qu e los"avances" tecnológicos de la Revolución Ver-d e n o h an con st i t u i d o u n a r esp u est aadecuada a la total idad de las situaciones(marcadamente heterogéneas) que muest rael sect or r u r a l , p r i n c i p a l m en t e d eLat inoamér ica, ya que éstas innovaciones nor esu l t an si em p r e ap r op i ad as p ar a suu t i l ización por par te de las comunidades quese encuentran ocupando t ier ras marginalesy/ o con muy escasos recu rsos.

A su vez, esta tecnología presenta cier tascar act er íst i cas qu e pon en en pel i gr o l asustentabil idad del propio sistema, entre lasque pueden destacarse:

• Una dependencia creciente de tecnologíae insumos (combust ibles fósiles, insect icidas,herbicidas, fer t i l izantes qu ímicos, etc.)

• Una baja eficiencia energét ica.• Un impacto negat ivo sobre el medio am-

biente: degradación de los recu rsos natu ra-les, pérdida de la capacidad product iva de lossu elos, con t am in ación , er osión gen ét ica,erosión cu ltu ral.

• Un a r esist en cia cr ecien t e a los pla-gu icidas por par te de plagas y patógenos.

En general, los especial istas han ten idoproblemas para evalu ar cor rectamente losam p l i os i m p act os d e l os si st em as d eproducción, debido al excesivo énfasis en unaeducación y entrenamiento altamente espe-cializado (Alt ier i y Francis, 1992). El Inst itu -to In teramer icano de Cooperación para laAgr icu ltu ra (IICA) también reconoce "... quela educación tradicional del profesional de lasciencias agropecuar ias no contr ibuye a for -mar un actor que, en su desempeño, debemanejar nu merosas var iables, mu chas deel l as com p l ej as" (Vi ñ as- Rom án , 1 9 9 9 ),añadiendo luego que "el énfasis en lo técnico

product ivo ha traído como consecuencia laformación de un profesional severamente li-m i t ad o p ar a p r om over u n d esar r ol l ososten ible".

2 El desafío: la formaciónde los nuevos profesionales

El manejo o gest ión de los sistemas agr í-colas requ iere u n nu evo profesional, capazde entender los agroecosistemas, como sis-temas biológicos incorporando, además, su scom p on en t es soc i oecon óm i cos. L aAsociación Lat inoamer icana de Edu caciónAgr ícola Su per ior (ALEAS, 1993, 1999) y laFAO también reconocen qu e la formación deu n n u evo p r ofes i on a l d e l as c i en c i asagrar ias es "u n requ isi to indispensable parael desarrollo agropecuar io con sostenibil idad,ren tabi l idad y compet i t ividad" (de Melo Ara-u jo, 1999).

La formación de este profesional requ iere,sin embargo, un profundo cambio en los pla-nes de estudio y modalidades de enseñanzade las Inst i tuciones de Educación Agr ícolaSuper ior (IEAS). En estas Inst ituciones, "aunexisten modelos de enseñanza basados enu n a r acion al i dad t ecn i ci st a, en los qu ep r ed om i n an vi s i on es f r agm en t ar i as yreduccionistas de la realidad, que desconocendesarrollos superadores, tales como los quese der ivan del en foqu e de sistemas, desdeuna perspect iva agroecológica" (Sarandón etal., 2001).

En est e con t ext o, el agr egado de u n aasignatu ra más, o de cier tos con ten idos so-bre su sten tabi l idad, no es su ficien te paraformar u n profesional preparado para daru na respu esta adecu ada al nu evo desafíoqu e se pr esen t a. Com o r econ oce Viñ as-Román (1999), "la mu lt idimensional idad deldesar rol lo sosten ible plan tea la necesidadde u na visión renovada de la agr icu ltu ra qu ep er m ee ín t egr am en t e l as p r op u es t as

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A r t i go

La creación de una carrera para-

lela en Agroecología significa ad-

mitir que ésta essólo una alternati-

va másdentro de lasCienciasAgrí-

colas, y no un nuevo paradigma

cu r r icu lares". Sin embargo, en la real idad,es t o n o s i em p r e es p os i b l e p or l asresistencias al cambio qu e presen tan , engen er a l , l as u n i ver s i d ad es. An t e est ehecho, la in t rodu cción de la Agroecologíacom o u n a n u eva as i gn at u r a con est een foqu e pu ede ser u na est rategia adecu ada(au n qu e n o su f i ci en t e) par a l ogr ar est ecambio profundo.

En la Facu l t ad de Ciencias Agr ar ias yForestales de la Universidad Nacional de LaPlata (UNLP), Argent ina, se int rodu jo comoobl igator ia, en el nu evo plan de estu dios(1999), la asignatu ra Agroecología, como unaestrategia que permite cubr ir este déficit enl a for m aci ón de l os pr ofesi on al es de l aAgronomía. En este ar t ícu lo se pretende dis-cu t i r l a i n t r odu cci ón del en foqu e de l aAgroecología en las Universidades a par t ir deesta exper iencia.

3 Introduciendo laAgroecología en la

UniversidadI n t r od u ci r l a Agr oecol ogía en u n a

Un i ver si dad , n o es u n a t ar ea fáci l . Enr eal idad, los cam bios h acia den t r o de laUniversidad son, de por sí, bastantes difíciles.Con más razón aún cuando, como en el casode la Agroecología, este cambio implica unaredefin ición y complejización de las mismasinst ituciones, ya que, en general, las univer-sidades se han conformado alrededor del pa-radigma de la simplificación y especialización(Rojas, 2000).

An te las dificu l tades y resistencias qu epu eden su r gi r al i n t en t ar i n cor por ar elen foqu e de la Agr oecología en las IEAS,muchas veces, puede caerse en la tentaciónde crear una carrera paralela o licenciatu raen Agroecología que coexista con la ofer ta del a Agr on om ía con ven ci on al . D e h ech o,algu nas u n iversidades lo han hecho. Esto

que, a pr imera vista y en el cor to plazo, puedeparecer un éxito, resu lta altamente contra-p r od u cen t e a m ed i an o p l azo p ar a l aincorporación del enfoque agroecológico en elr est o de las asign at u r as de las IEAS. Lacr eaci ón d e u n a car r er a p ar a l el a enAgroecología sign i fica admit i r qu e ésta essólo u n a al t er n at i va m ás den t r o de lasCiencias Agr ícolas, y no un nuevo paradig-

ma que busca redefin ir las y modificar las ensu esencia.

Una vez admit ida la necesidad de incorpo-rar la Agroecología dentro del plan de estudiosde una Facu ltad de Ciencias Agrar ias, su rgeotra duda ¿En cuál etapa de la carrera es másconveniente el dictado de esta asignatu ra?¿Debe ubicarse al pr incipio, en la mitad o alfinal de la carrera? La respuesta dependerádel impacto que se busque consegu ir dentrode la Inst itución, y de la posibil idad de dictarla asignatu ra de una manera comprensiblepor los alumnos. Su ubicación en el pr imeraño de la carrera puede tener un gran im-pacto sobre el resto de las asignaturas de añossubsigu ientes, al desarrollar una act itud cr í-t ica en los alumnos. Sin embargo, defin it i-vam en t e n o es con ven i en t e por qu e l osalu mnos no t ienen aú n los conocim ien tosn ecesar i os p ar a p od er i n cor p or ar l oscon cep t os y con t en i d os m ín i m os d e l aAgroecología.

En el otro extremo, su ubicación en el ú lt i-m o añ o, con alu m n os de for m ación m ásavanzada, posibilita una mejor capacidad de

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A r t i go

análisis y toma de conciencia sobre el impac-to ambiental de cier tas práct icas agrícolas, yaque los alumnos manejan una mayor cantidadde elementos relacionados a la producciónagropecuar ia. Pero su impacto transformadordentro de la Inst itución, hacia el resto de lasasignaturas, no será muy importante.

Por ú l t imo, su inclu sión en tercer año,permite desper tar en los alumnos un espír itucr ít ico y una capacidad de análisis sistémicoy holíst ico, que puede servir para cuest ionarel enfoque atomista y fragmentar io con quese dictan las asignatu ras de los años super i-ores. Desde este pu n to de vista, el podert r an sfor m ad or , h aci a d en t r o d e l asInst i t u ciones, pu ede ser mu y impor tan te.Ubicada en esta etapa de la carrera, se debenseleccion ar con t en idos y desar r ol lar u n amodal idad de enseñanza, qu e permitan laformación en el conocimiento de los aspec-t os b ási cos d el fu n ci on am i en t o d e l osecosistemas y agroecosistemas y el impactoque t ienen en estos los diferentes est i los deagr icu ltu ra. De esta manera, se puede dotara los alumnos de elementos para abordar deu n a m an er a ap r op i ad a l as fu t u r asasignatu ras, de carácter más aplicado.

E n l a Facu l t ad d e Cs. Agr a r i as yForestales de la UNLP, esta asignatu ra, der ecien t e cr eación , h a sido u bicada com oobl igator ia, en el segu ndo cu at r imest re del3 er añ o d e l a Car r er a d e I n gen i er íaAgr on óm ica. Au n qu e con sider o qu e est au bicación es la más adecu ada para nu est rareal idad, su s ven tajas y desven tajas reciénpodrán evalu arse cor rectamen te lu ego dealgu nos años de dictado.

4 Programa de un curso deAgroecología

Admit ida ya la necesidad del dictado deAgroecología, resta defin ir los contenidos y lamodalidad de enseñanza de la misma. Esta no

es una tarea fácil, ya que cada Facu ltad t ienesus part icu lar idades que deben ser tenidas encuenta a la hora de diseñar los contenidos ym odal idad de en señ an za de u n cu r so deAgroecología. A su vez, la Agroecología, pord ef i n i ci ón , es m ás qu e u n a ser i e d econtenidos; es un nuevo paradigma o enfoquequ e pr et en de u n cam bio pr ofu n do en lamanera de abordar la realidad agropecuar ia.Dentro de este contexto se proponen, a modode guía, los objet ivos y contenidos que deberíaabarcar esta asignatura, si su ubicación fueseen t er cei r o (3er ) añ o de l a car r er a. Esnecesar io aclarar, que el armado o diseño delprograma del cu r so debe responder a u nan ál i si s cu idadoso de los con ocim ien t osprevios que los alumnos traen al momento decu r sar est a asign at u r a. Sobr e el los debeformularse el diseño de los contenidos. Un pro-grama que no tenga en cuenta esta realidadno tendrá muchas posibilidades de éxito.

4 1 O b j e t i vo s.

Durante el desarrollo de este cu rso se pre-tende:

a) Desper tar una act itud cr ít ica acerca delimpacto, en el presente y en el fu tu ro, de laagr icu ltu ra como act ividad t ransformadoradel medio ambiente en general y del propioagroecosistema en par t icu lar , y su relacióncon aspectos socioeconómicos y cu ltu rales.

b) Provocar una percepción de los sistemasagr ícolas con una visión holíst ica, resaltandol a i m p or - t an ci a d e con si d er ar l asinteracciones de todos los componentes bio-lógicos, físicos y socioeconómicos de los sis-t em as de pr odu cción , desde u n a ópt i camu lt idiscipl inar ia.

c) Comprender y conocer el funcionamientode l os ecosi st em as en gen er al y de l osagroecosistemas en part icu lar , señalando di-ferencias y similitudes entre ambos.

d) Manejar her ram ien tas qu e perm itancom pr en der los pr in cipales pr ocesos qu e

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ocurren en los agroecosistemas y su relacióncon diferentes práct icas agronómicas.

e) Visualizar el impacto del manejo de losagroecosistemas sobre las pr incipales adver-sidades de los cu lt ivos o sistemas product ivos,plagas, malezas y enfermedades.

f) Desarrollar una act itud reflexiva en tor -no de los fundamentos conceptuales, cr iter iosy par ám et r os qu e per m i t an en t en der yproponer soluciones a la problemát ica ru ralcon un enfoque agroecológico, en el marcode una agr icu ltu ra sustentable.

g) Conocer las metodologías que permitand i agn ost i car , eval u ar e i n vest i gar l osagroecosistemas, con la finalidad del diseñoy manejo de sistemas sustentables.

4 2 Sínt e si s d e lo s p r i nc i p ale s co nt e ni d o s.

Se considera que, para el cumplimiento delos objet ivos enunciados precedentemente, laasignatu ra deber ía abordar los sigu ien tescontenidos, que se listan en forma sintét ica:

• La agr icu ltu ra como act ividad transfor -madora del ambiente. Agr icu ltu ra intensivavs. Sustentable. Impacto de la Filosofía de laRevolución Verde en el modelo de agr icu ltu -ra prevalecien te.

• El nuevo enfoque: holíst ico y sistémico.• Incorporación del componente social. Un

requ isito indispensable.• Pr i n c i p i os d e ecol ogía gen er al . E l

ecosistema. Propiedades. Componentes de losecosistemas. Su rol en el funcionamiento delmismo. Niveles de organización.

• Los ciclos en los ecosist em as: ciclosbiogeoqu ímicos, la energía en el ecosistema.Eficiencia energét ica.

• In teracciones entre componentes de losecosist em as: fen óm en os de com pet en cia,complementar iedad de recursos.

• Desarrollo y evolución de ecosistemas.La sucesión.

• El papel de la b iod i ver sidad en losagr oecosist em as; m an ejo, con ser vación yr ecu p er aci ón d e l a b i od i ver s i d ad .

Biotecnología y sustentabil idad.• Pr incipios de manejo ecológico de plagas,

enfermedades y malezas.• Pr act icas al t er n at ivas de pr odu cción

agr opecu ar ia. D i fer en cias, l im i t acion es yposibil idades fu tu ras.

• Metodología de análisis y evaluación deagr oecosi st em as. I n d i cad or es d esustentabil idad.

4 3 Est rat eg i as met o d o ló g i cas y o rgani zac i ó nd e act i v i d ad es.

Como se ha señalado, la Agroecología,com o u n n u evo en foqu e o par adigm a, esmucho más que una ser ie de contenidos. Porlo t an t o, la m odal idad o m et odología deenseñanza adqu iere un papel fundamentalen el éxito de esta propuesta.

La organización de act ividades debe bus-car fomentar y valorar la par t icipación delestu dian te en el proceso edu cat ivo con laconvicción de que es el actor pr incipal de esteproceso. Ello implica fomentar el espír itu cr í-t ico y su capacidad de análisis y de acceso y

evaluación de la información.La asociación o integración de la teor ía con

la práct ica adqu iere especial impor tancia enesta asignatu ra donde es fundamental fi jarlos conocimientos previos para poder avanzarsobre aspectos más complejos. En este sent i-do, se considera a las act ividades práct icas

La organización de actividades

debe buscar fomentar y valorar la

participación del estudiante en el

proceso educativo. Ello implica

fomentar el espíritu crítico y su

capacidad de análisis y de acceso

y evaluación de la información

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como un mecanismo necesar io de fi jación deconocimientos y de detección de dudas porpar te de los propios alumnos que qu izás noresu ltan evidentes en una clase exposit iva.Se consideran fundamentales las visitas y elanálisis de sistemas product ivos reales condiferentes est i los y modalidades de manejo:orgánicos, convencionales; extensivos, in ten-sivos; ganaderos, agr ícolas, etc.

Sintetizando, el curso consiste en clases te-

óricas, trabajos prácticos, seminarios a cargo de

los alumnos, lectura y discusión de trabajos ci-

entíficos relevantes rela-cionados con el tema.

A su vez, se complementa con visitas de campo

a establecimientos donde los alumnos hacen

una evaluación de la sustentabilidad de diferen-

tes sistemas de producción y un posterior infor-

me para su discusión en grupos.

4 .4 Eval uac i ó n

La evaluación es un proceso permanenteque permite, por un lado, analizar la evolución

de los alumnos, pero, por otro lado, también laautoevaluación de los docentes. Teniendo encuenta que este curso plantea objetivos relaci-onados con conocimientos, actitudes, cr iter ioso destrezas, la evaluación se adecuará a estosaspectos, buscando valorar al alumno desde unpunto de vista holístico, evaluando los progresosen el desarro-llo de la capacidad crít ica y deanálisis. Se utilizan para ello evaluaciones alibro abierto, que se le entregan al alumno convarias semanas de anticipación.

5 Impedimentos olimitacionespara la

introducción deeste enfoque en las

universidadesAunque la agr icu ltu ra sustentable es un

objetivo teóricamente aceptado por todos, los

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avances para incorporar la efect ivamente enlas universidades, más allá de los aspectos me-ramente discursivos, no son muy alentadores.Lograr este cambio no es fácil, sobre todo, por-qu e r equ ier e, de par t e de los pr ofesor es,reconocer que el perfil del profesional que hanestado formando (y en el que se han formado lamayoría de ellos) debe ser revisado y cambia-do. Por otra parte, la incorporación definit ivadel enfoque agroecológico en las IEAS tropiezacon otras serie de dificultades (Sarandón y Hang,1995, modificado):

• Escasa conciencia sobre el impacto am-biental y social, de algunos sistemas moder-nos de producción agr ícola.

• Poca o nu la percepción sobre el rol que elprofesional de la Agronomía debe cumplir enu n a gest ión su st en t ab le de los r ecu r sos(agroecosistemas).

• La falta de flexibil idad de los planes deest u d io, par a in cor por ar , con su fi cien t eagi l idad, nu evas metodologías, en foqu es yconten idos.

• La resistencia al cambio, propio de losprofesores formados en el ant iguo paradigma.In cer t i du m br e sobr e el r ol o l u gar qu eocuparan en el nuevo escenar io.

• La ausencia de una masacr ít ica de docentes formados conel enfoque holíst ico y sistémico.

• La existencia de un impor-tante número de docentes e in-vest igadores que cont inúan pr i-vi legiando sus líneas de trabajode acuerdo al prest igio de cier taspublicaciones.

• La fa l t a d e u nr econocim ien to "académ ico" atodo aquello que se relacione conla Agroecología o agr icu ltu ras al-t er n at ivas. Exist e al r espect ou n a sob r eval or aci ón d e l atecnología insumo dependienteasociada a mayores rendimien-tos, que aparece aún hoy como

el paradigma dominante.• La mayor simpl icidad qu e sign i fica el

planteo de los problemas desde una sola dis-ciplina (enfoque reduccionista).

• Necesidad creciente de fondos por par tede las Universidades, lo que conduce a unavincu lación y asociación con empresas que,en gen er a l , p r i v i l egi an l ín eas d einvest igación dependientes de insumos.

6 Inconvenientes oaspectos atener

en cuenta para eldictado del curso de

Agroecología

U n a vez i n cor p or ad o el cu r so d eAgroecología en el plan de estudio de las Uni-versidades, se presentan aún una ser ie deinconvenientes a resolver , para su dictado:

• Se requ iere un plantel de docentes con-ven cidos y con h er r am ien t as t eór i cas y

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A r t i go

Esta claro que la agricultura

sustentable sólo podrá

concretarse cuando las

Instituciones de Educación Agrí-

cola formen nuevos profesionales

preparados para ello

práct icas en Agroecología de muy buen nivel("no improvisar").

• Existe poca preparación de los alumnospara este enfoque. Educación fragmentada ymemoríst ica. "Esto es muy difíci l".

• Demanda de tecnologías o recetas de par-te de los alumnos. "Todo eso esta bien, pero,¿Cómo hacemos?".

• Poca disponibil idad de tecnologías alter -nat ivas adaptadas a todas las realidades. Nohay respu estas o ejemplos para todas laspreguntas o demandas. Escasa bibliografíaapropiada.

• Casi todo el resto de la Facu ltad siguefuncionando bajo otro paradigma.

Un o de los pr im er os pr oblem as qu e sedeben afr on tar par a el dict ado de u n cu r sode Agr oecología, es con segu i r el cu er po dedocen t es qu e i m par t i r án l a asi gn at u r a,¿Dón de con segu i r docen tes "agr oecólogos"en u n a Facu l t ad con ven cion al? ¿Dón de sesu pone qu e se han formado y cu ándo? Parael dict ado de la Agr oecología n o basta conel apr en dizaje de n u evos con t en idos. Ser equ ier e m u ch o m ás qu e eso: u n cam bioen el en foqu e de los docen tes qu e deber ánten er u n a visión sist ém ica y h ol íst ica, ot r oper fi l , d i fer en te al con ven cion al de las u n i -ver sidades. Adem ás, al ser la Agr oecologíau n a asign atu r a qu e abar ca m u ch os cam -pos de con ocim ien to, su dictado n o es algosen ci l l o.

Ot ra di ficu l tad qu e pu ede aparecer du -ran te el dictado del cu rso está relacionadacon l a d ef i c i en t e p r ep ar ac i ón d e l osalu mnos para el abordaje de problemát icascom p l ej as com o l as qu e p l an t ea l aAgr oecol ogía y l as qu e se r ef i er en a l asu sten tabi l idad. Su formación fragmen ta-da y m em or íst i ca pu ede di f i cu l t ar les, dem an er a im por t an t e, el apr en dizaje de laAgroecología qu e bu sca en tender las rela-c i on es en t r e l os com p on en t es d e l osagr oecosist em as.

A su vez, du rante el dictado del cu rso, escomún que sur jan demandas, por parte de losalumnos, de recetas o tecnologías alternat i-vas, no siempre disponibles para todos loscasos. Es decir , esta asignatu ra plantea losp r ob l em as p er o n o t i en e sol u ci on esinmediatas para todos ellos. En Facu ltadesdonde, en general, la educación ha consist i-do en dar les precisamente las recetas paracasi todos los problemas, esto puede provocarcier ta incer t idumbre y desconcier to. Es im-por tante en este sent ido hacer les comprenderque la Agroecología no reemplaza una ser iede recetas de la agr icu ltu ra convencional porot ra ser ie de recetas "ecológicas", sino quepretende darle los criter ios y metodologías paraque construyan, en cada caso par t icu lar , lam ej or a l t er n at i va p ar a l os si st em asproduct ivos con los que trabajen.

La fa l t a d e b i b l i ogr af ía ad ecu ad a ydisponible es un ser io problema, debido, enpar te, a que las Facu ltades, donde ha predo-minado el enfoque convencional, no se hanpreocu pado en adqu ir i r bibl iografía con elenfoque agroecológico. Pero, por el ot ro lado,

debem os r econ ocer u n déf i ci t ci er t o debibliografía en español y adecuada a las dis-t in tas áreas de influencia de las Facu ltades.Est o se ve clar am en t e en la Facu l t ad deAgronomía de La Plata, u bicada en plenaPampa Húmeda, donde los sistemas extensi-vos de clima templado, como la producción de

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7 Bibliografía citada

cereales, oleaginosas y ganader ía extensivasson las act ividades pr incipales. Existe pocabibl iografía adecu ada, en idioma español ,para este t ipo de realidad. Y esto const ituyeuna limitante impor tante para el dictado dela asignatu ra en el ámbito de grado.

Finalmente, debemos ser conscientes que,en una Facu ltad donde predomina aún el pa-radigma de la agr icu ltu ra convencional, uncurso de Agroecología const ituye, por ahora,u n a si n gu l ar i d ad . A p esar d e est o, l ai n cor p or aci ón of i c i a l d e est a n u evaasignatu ra con carácter obligator io en el plande estudios de la Facu ltad de Cs. Agrar ias de

la UNLP, implica un reconocimiento de queno es posible que un profesional carezca delenfoque agroecológico en su formación. Estadecisión es un pr imer paso impor tante y nodebe ser desaprovechado.

E s t a c l a r o qu e l a agr i cu l t u r asu stentable sólo podrá concretarse cu andolas In st i t u cion es de Edu cación Agr ícolaformen nu evos profesionales preparadospara el lo. El impacto qu e la in t rodu cciónde la asignatu ra Agroecología pu ede teneren el cu mpl im ien to de este objet ivo, sólopodr á ser deb idam en t e evalu ado en elt iempo. AAAAA

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Dia Mundial de Combate à Seca e à Deser-t i f icaçãoNo dia 16 de junho é comemorado o Dia Mun-dial de Combate à Seca e à Desertificação. Adesertificação é fenômeno mundial das terras.Estima-se que, anualmente, haja uma perda deprodutividade da ordem de 20 milhões de tone-ladas de grãos devido à erosão do solo. E per-da de grãos significa falta de comida, para osanimais e os seres humanos. A desertificaçãoafeta um sexto da população mundial e nessesseis bilhões de seres humanos estão incluídosum bilhão de miseráveis.Segundo os pesquisadores do PNUMA,o controleda seca e da desertificação está claramente relaci-onado com as mudanças climáticas, a conserva-ção da biodiversidade e a necessidade de preser-vação de florestas e de gerenciamento adequadodos recursos hídricos. Isso exige um compromissoglobal para deter a seca e a desertificação.Fonte: Ambientebrasil.com.br, com informaçõesJornal do Brasil.Projeções apontam queda no desmatamentona AmazôniaAs projeções do Instituto de Pesquisas Espaciais(IN PE) indicam uma queda nas taxas dedesmatamento na Amazônia Legal, de 18.226quilômetros quadrados em 1999/ 2000 para15.787 quilômetros quadrados em 2000/ 2001,o que representa uma redução de 13,4%. A áreacujo desmatamento foi evitado corresponde a260 mil campos de futebol. No entanto, segun-do a revista Conservation Biology, uma invertiga-ção de mais de 22 anos mostra que mesmo oscortes mais insignificantes em áreas Tropicais doAmazonas podem acabar com um grande nú-mero de espécies endêmicas destas zonas. Con-forme publicação, “as clareiras impedem o mo-vimento da biodiercidade.”Fonte: Agência Meio Ambiente - 10 de junho,Abital 06 de junho, 2002.Algodão transgênico colabora para o apa-recimento de pragas.Estudo publicado pela imprensa oficial da Chi-na mostra que o algodão transgênico, introdu-zido por agricultores nos últimos anos, causoudanos ao ecossistema da região. Segundo o es-

tudo, o algodão modificado combate certos ti-pos de pragas, mas colabora para o apareci-mento de outras.Fonte: Gazeta Mercantil, 6 de junho, 2002. Bole-tim nº 116 - Por um Brasil livre de transgênicos.Soja terá sistema de certificação no ParanáNuma iniciativa inédita, representantes de todaa cadeia paranaense de soja estão trabalhandopara implantar um sistema de segregação ecertificação para o grão produzido no Estado. Oprincipal objetivo é garantir aos clientes interna-cionais o produto - transgênico ou convencional- com origem controlada. "Mesmo se o plantio detransgênicos continuar proibido, teremos de es-tar aptos para fornecer produto rastreado se omercado assim o exigir", diz Nelson Costa, ge-rente da Organização das Cooperativas doParaná (Ocepar).Fonte: Valor Econômico, São Paulo, 14 de junho,2002.Consul tor a ler ta para os r iscos do p lantioi l eg a lSe não se posicionar claramente em relação aostransgênicos, o Brasil perderá credibilidade diantedos países que demandam soja convencional. Aavaliação é do belga Rodolphe de Borchgrave, daArcardia International, consultoria européia da áreade alimentos e ciências da vida. Segundo ele, porenquanto o Brasil ainda é considerado pelos euro-peus um fornecedor confiável de soja convencionala baixos custos. Mas o avanço do plantio ilegal desoja transgênica no País pode mudar esse quadro."Em cerca de um a dois anos, ninguém vai conse-guir controlar a situação”, afirma Borchgrave.Fonte: Valor Econômico, São Paulo, 14 de junhode 2002.Produção de alimentos orgânicos cresce 50%ao anoA produção de alimentos orgânicos no Brasil temregistrado crescimento médio de 50% ao ano. Es-tima-se que no ano passado cerca de três mil agri-cultores orgânicos tenham produzido perto de 300mil toneladas de alimentos, livres de agrotóxicos,movimentando US$ 200 milhões. O vice-presiden-te-executivo do Instituto Biodinâmico (IBD), Alexan-dre Harkaly, disse durante encontro com produ-tores, em São Paulo, em junho, que esse vertigi-

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noso aumento da produção tem se sustentadona qualidade dos produtos e no trabalho de con-fiança entre produtores e consumidores. Pelo me-nos 30 tipos de alimentos orgânicos são produzi-dos no País, com destaque para café (Minas), ca-cau (Bahia), soja, açúcar e erva-mate (Paraná),suco de laranja e frutas secas (São Paulo), casta-nha de caju, óleo de dendê e frutas tropicais (Nor-deste), entre outros.Fonte: Agência Estado.Decepção marca fim da cúpula contra fomeA Cúpula Mundial da Alimentação, ocorrida emjunho, em Roma, obteve poucos resultados con-cretos e provocou decepção entre boa parte dasrepresentações na reunião, incluindo várias lati-no-americanas. Convocada pela Organizaçãodas Nações Unidas para a Agricultura e a Ali-mentação (FAO), a Cúpula não contou com apresença de chefes de estado e de governo dospaíses desenvolvidos, à exceção da Itália (a anfi-triã) e da Espanha, que exerce a presidênciarotativa da União Européia. Para aproximada-mente mil organizações não-governamentais(ONGs) que colaboraram com o encontro, inclu-indo movimentos camponeses da América Lati-na, a Cúpula fracassou. "Não foi dado nem umúnico passo adiante para combater a fome", dis-seram, em declaração conjunta, as ONGs.Fonte: Folha de São Paulo, 14 de junho, 2002.Fome no MundoPelo menos 800 milhões de pessoas - mais deuma em cada sete - passam fome ou não po-dem se alimentar devidamente. A intençãoanunciada da Cúpula Mundial da Alimenta-ção era buscar formas de salvar cerca de 400milhões de pessoas da fome até o final de2015. "A fome é, após o terrorismo, ou, naverdade, ao lado do terrorismo, o problemamais grave que a comunidade internacionalenfrenta", disse o premiê da Itál ia, Si lvioBerlusconi, cujos assessores fizeram articula-ções para finalizar a cúpula mais cedo a fimde que ele assistisse à partida entre Itália eMéxico pela Copa do Mundo.Fonte: Folha de São Paulo, 14 de junho, 2002.Tecnologias limpasAs tecnologias limpas fazem parte de uma ci-

ência nova, surgida há menos de duas déca-das, e permitem a redução de resíduos e ouso mais eficiente de matérias-primas, o queotimiza custos. Segundo Carlos Maia do Nas-cimento, diretor do Instituto Brasileiro de Pro-dução Sustentável e Direito Ambiental (IBPS),organização não-governamental sediada emPorto Alegre, o setor produtivo nacional mos-tra-se cada vez mais interessado em adotartecnologias limpas, que minimizam impactosambientais e os riscos inerentes dos proces-sos industriais. Nascimento apresentou as po-tencialidades de energia renováveis como aso lar, b iomassa, eó l i ca , h id ráu l i ca egeotérmica, por exemplo, durante sua apre-sentação no 1º Simpósio e Exposição Interna-cional sobre Meio Ambiente e Desenvolvimen-to Sustentável em Municípios Industriais, emmaio. "A partir da promulgação da Lei 10.438,de 26 de abril de 2002, o País finalmente ga-nhou um programa de incentivo às fontes al-ternativas de energia".Fonte: Comunicativa Assessoria e ConsultoriaJornalística, www.clicknoticia.com.brBrasil ganha com produtos não- transgênicosUm relatório divulgado no dia 12 de junho pelaorganização ambientalista Greenpeace mostraque o Brasil tem uma oportunidade de ouro paracapitalizar vantagens de mercado por ser o úni-co dos três maiores países produtores de sojaque não liberou o plantio e a comercialização detransgênicos.O Brasil já vem ganhando cada vez mais parce-las de mercados e prêmios como resultado dademanda internacional crescente no mercadointernacional por alimentos não-transgênicos.O relatório do Greenpeace compila estatísticase declarações publicadas por órgãos oficiais,analistas de mercado e grandes empresas dealimentação, enfatizando a rejeição do merca-do mundial em relação aos transgênicos. Se oPaís mantiver seu status de não-transgênico, serácapaz de atender à mudança de mercado ante-cipada para o uso de ração animal não-transgênica na Europa e o mercado asiático dealimentação humana.Fonte: www.agrolink.com.br, 17 de junho, 2002.

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Nesta edição, a seção EcoLinks apresenta algunsendereços de sites que trazem notícias sobre

meio ambiente, produção orgânica, Agroecolo-gia e jornalismo ambiental.

www.ecopr ess.com .b rEsse é o endereço da Agência de NotíciasAmbientais, site mantido pela Ecopress, ONGfundada por um grupo de ambientalistas como objetivo de divulgar informações sobre ques-tões ambientais através das mais variadas for-mas jornalísticas. Nessa página, o internautaencontra um resumo das principais notíciaspublicadas pelos jornais e que são reescritaspor jornalistas recém-formados, e reportagensproduzidas pela equipe do site, abordando di-versos temas ligados ao meio ambiente. Umagaleria de fotos e uma lista de discussões tam-bém podem ser acessadas na página.www.envolverde.com.brA Agência Envolverde foi criada em 1996 para ad-ministrar no Brasil o Projeto Terramérica, realizadoem parceria com o Programa das Nações Unidaspara o Meio Ambiente - Pnuma. O Terramérica éum suplemento demeio ambienteedesenvolvimentoque circula em parceria com jornais regionais, comtiragem mensal superior a um milhão de exempla-res. O conteúdo do jornal pode ser acessado atra-vésdo site. Além disso, o internauta pode contrataros serviços da agência, comprando artigos e re-portagens de seu interesse.www.p lanetaorgan ico.com .b rO tema principal deste site é a agricultura or-gânica, abordada a partir de notícias, reporta-gens e artigos. O Planeta Orgânico tambémpresta informações sobre produtores orgâni-cos e restaurantes, além de manter uma agen-da atualizada com eventos ligados ao tema eque são realizados em todo o País. As matériasnão enfocam somente a agricultura, mas tam-bém o meio ambiente, a preservação e o de-senvolvimento sustentável.w w w . w e b j o r n a l . n e t / c l i e n t e /ecor eleasesEste é um serviço de organização e difusão de

informações ambientais vindas de jornalistas eassessorias de imprensa. Nesse site, encontra-se notícias e eventos divulgados por empresas,ONGs e Governos.www.am b ien teb r asi l .com .b rInformação. Essa é a palavra chave do Ambi-ente Brasil, um site que enfoca os mais diversostemas ligados à preservação ambiental, desdeagricultura orgânica até biotecnologia e legis-lação a respeito desses temas. Em espaços cha-mados de Ambientes, o site traz textos sobreenergia, educação, água, resíduos e conserva-ção do solo, entre outros temas. Além disso,mantém um resumo das principais notíciaspublicadas na imprensa sobre o tema, assimcomo oferece a possibilidade de o internautareceber diariamente, via e-mail, um boletim denotícias.www.agirazul.com.brEsse é o endereço que reúne, na internet, asprincipais ONGs gaúchas ligadas ao meio am-biente. O site divulga notícias e atividades dasinstituições, assim como artigos e textos analí-ticos. Também mantém uma lista atualizadade contatos com entidades e produtores ecoló-gicos do Rio Grande do Sul.www.uol .com .b r / am b ien teg loba lNotícias, artigos e reportagens são o princi-pal destaque deste site, vol tado à preserva-ção ambiental. O s temas abordados envol-vem desenvolvimento sustentável, legislaçãoambiental, mercado, turismo e alimentação.O Ambiente Global também promove bate-papos com convidados, que são real izadosnas salas do UO L, portal que hospeda apágina.www.agr icom a.com .b rEsse site não é voltado à disseminação de in-formações sobre agricultura e meio ambiente,e sim à discussão sobre maneira como a mídiatrata desses temas. Em artigos e relatos, jor-nalistas e pesquisadores analisam a cobertu-r a de assun tos com o b i od i ver si dade,agribusiness, preservação, reforma agrária,transgênicos, entre outros.

E coL inks

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Catar a fêmea do carrapato à mão

O combate sistemático que atualmente se fazcontra os carrapatos, baseado nas aplicações dequímicos -venenos em profusão-, não tem resol-vido o problema, pois os parasitas adquirem re-sistência contra os produtos usados e abundamcada vez mais, exigindo novos produtos e aplica-ções mais constantes nos animais. Tais produtostambém contaminam os alimentos e o ambiente,já que, quando aplicados nos animais, resíduossão eliminados no leite, na carne, nas fezes e naurina, indo parar na água e nos alimentos e vol-tando a se integrar no ciclo da vida. Como con-

dicAgroecológica

Lu n ard i, J o rg e J * .

* Médico Veterinário, Assistente Técnico do EscritórioRegional da EMATER/RS de Santa Rosa.

seqüência disso, acabam provocando doenças.Alguns produtos químicos são eliminados do

animal em até 98% do total aplicado, chegandoao ambiente com 45% de droga ativa e perma-necendo nas fezes por até 240 dias, entrandona cadeia alimentar. Sabe-se também que ospiretróides -venenos que mais se aplica nos ani-mais- afetam o sistema nervoso, a pele, os mús-culos e o trato respiratório de humanos. Alémdisso, saem no leite em quantidades superioresaos limites permitidos por até 28 dias, contami-nando o leite, a carne, a nata, o queijo, as pes-soas e o meio ambiente como um todo.

A natureza e a ciência nos fornecem conheci-mentos sobre o carrapato, conhecimentos quepodem ser usados no controle e combate desseparasita sem agredir o ambiente ou contaminar

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os alimentos. Enquanto o macho, bem menor,permanece até cinco semanas sobre o animal, afêmea atinge um tamanho bem maior, permane-cendo sobre o animal apenas 22 dias, temponecessário para se acasalar e, no último dia, chu-par sangue. Após ficar grávida, a fêmea cai napastagem e bota em média três mil ovos durante15 dias. Após, até dez dias (dependendo daumidade e da temperatura), as larvas nascem esobem nas pastagens à procura dos animais. Emregiões quentes, o ciclo do carrapato pode levarde 60 dias (primavera e verão) a 120 dias (outo-no e inverno).

Para combater os carrapatos e diminuir sua in-cidência nos animais sem lançar mão de insumosquímicos, podemosutilizar: plantase ervasmedici-nais; homeopatias; controles caseiros, conformedezenasde receitasdisponíveis; pastoreio rotativo;resistência animal; pastagens limpase manejadas;predadores naturais e, sobretudo, a técnica casei-ra de "catar as fêmeasdoscarrapatosà mão, quei-mando-as ou enterrando-as". Essa prática, alta-mente resolutiva, de alto poder tecnológico, de bai-xo custo e possível de ser realizada por qualqueragricultor, consiste em retirar com as mãos, de so-bre o animal, as fêmeas grávidas e ingorgitadas,que são parecidas com um grão de feijão.

Após retirá-las com a mão, puxando-as de

sobre o animal ou girando-as levementepara o lado direito ou esquerdo, ou mes-mo retirando-as com alguma raspadeiraou mesmo um facão, as fêmeasdevem sercoletadasem vasilhamesou vidrose, após,queimadas ou enterradas. Jamais devemser jogadas no chão, pisadas ou coloca-das no esterco, pois os pequenos ovospodem ser transportados até a pastagematravés dos calçados, dos insetos ou dopróprio esterco. Dessa forma não nasce-rão filhotes, já que as mães foram mortase não tiveram a chance de ir sobre o ani-mal e cair na pastagem. Essa prática podeser usada no dia-a-dia tanto com vacasque vão para a ordenha como com aque-

les animais de sangue doce, que são maiscarrapateados.

Os agricultores conhecem ovos de carrapa-tos? Temos feito esta pergunta para milhares deagricultores e, invariavelmente, quase todos di-zem nunca ter visto ovos de carrapato. E se nãoconhecem a vida deste parasita, é obvio que nãosaberão controlá-lo sem a aplicação de venenos.Para aqueles que querem conhecer ovos de car-rapato, basta catar algumas fêmeas que estãosobre o animal e colocá-las dentro de uma caixade fósforo ou recipiente de vidro bem fechado.Após sete a dez dias, abre-se a tampa e obser-va-se a massa de ovos liberados pelas fêmeas.Os ovos sao de cor escura, marrom, cor de cho-colate e brilhosos, e ficam amontoados e bemgrudados uns aos outros. E são esses ovos que,caindo na pastagem, vão gerar larvas (micuins)que subirão no animal, gerando novamente ma-chose fêmeasque se acasalarão, reiniciando per-manentemente seu ciclo de vida.

Em nosso ponto de vista, esta tecnologia ca-seira precisa ser adotada imediatamente por to-dos os agricultores, pois é altamente econômicae ecológica e traz benefícios a todos. Na regiãonoroeste do RS, milhares de agricultores vêmusando essa tecnologia simples e prática, dispen-sando assim o uso de produtos químicos.

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Transformação (agri)cultural ouetnossustentabilidade:

relato de umaaldeiaBororo*

* Artigo resultante do trabalho "Agroecossistema eSubsistência emuma aldeia dos índiosBororo", financiado

pelo PIBIC - CNPq/USPerealizado nosperíodosde2000/2001 e2001/2002. Osdadosiniciaisforamapresentadosno 9°Simpósio Internacional de Iniciação

CientíficadaUSP.** Bolsistado PIBIC - CNPq/USPeestudantedo 5°ano de Engenharia Agronômica da Escola Superior de

Agricultura "Luiz de Queiroz"/USP. E-mail:[email protected].

*** ProfessoradaEscolaSuperior deAgricultura"LuizdeQueiroz" /USP, Mestre emSociologiaRural e Doutoraem

Antropologia Social pela USP. E-mail:[email protected].

A r t i go

P in t o , J o s é G alv ão .* *G arav ello , M ar ia Elis a d e P au la

Ed u ard o .* * *

R e s u m o : Meru r i é atu almen te a maioraldeia dos índios Bororo, povo habitan te doscer rados do Brasil Central. A h istór ia do con-tato deste povo com a sociedade não-índia eas t ransformações decor ren tes no modo devida e no sistema agr ícola t radicional sãorepresen tat ivos da si tu ação de grande par -t e dos gr u pos in dígen as r em an escen t es.Estes povos, ao longo de cen tenas de anos,acu mu laram conhecimen tos e desenvolve-ram técn icas mu ito adaptadas aos seu s am-bien tes natu rais. Técn icas e conhecimen-t os qu e in clu sive con st i t u em im por t an t efon te de estu dos para a Agroecologia e parao desen volvim en t o de sist em as agr ícolassu sten táveis. Apesar disto, a sociedade ex-terna desconsidera a impor tância dos sis-temas de produ ção t radicional e ten ta, pormeio de seu s vár ios agen tes, "modern izar "t ais sistem as.

Pa la vr a s -c h a ve: Agr icu ltu ra t radicional,diversidade genét ica, tecnologias adaptadas,índios Bororo, etonossustentabil idade.

1 IntroduçãoOs povos indígenas const ituem uma par-

cela mu ito pecu liar da popu lação ru ral brasi-leira. Porém, apesar da sua par t icipação di-reta na produção agr ícola de vár ios estados ede serem detentores de valioso conhecimen-to sobre o manejo dos recu rsos natu rais deuma forma mais harmoniosa, estes povos nãotêm recebido ainda a devida atenção por par-te dos órgãos responsáveis por eles.

Desde a chegada dos primeiros não-índios,a população indígena caiu de cerca de seis mi-lhões de pessoas, divididos em 900 etnias, paraapenas 180 mil em 225 nações no final dos anos60. A gravidade deste genocídio se dá não ape-nas pelo número total de pessoas mortas ao lon-go dos 500 anos de história de ocupação estran-geira, mas especialmente pelo desaparecimen-to de quase 700 povos, cada um com sua cultu-ra própr ia e conhecimentos únicos sobre osrecursos naturais e seu manejo.

Paralelamente a este massacre físico ocor-reu , e ainda ocorre, um ou tro mais su t i l , po-rém igualmente desumano. Trata-se da im-posição, a estes povos, da cu ltu ra e do modode vida do não-índio. Est ima-se que existamhoje aproximadamente 551 mil índios, em-bora quase 192 mil vivam nas per ifer ias doscentros u rbanos, longe de seu meio e cu ltu raor iginais. Mesmo para os que conqu istaramo direito de permanecer em suas ter ras, apressão da sociedade externa os impele cadavez mais a abandonar o modo de vida tradici-onal e adotar alternat ivas e técnicas indus-

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t r iais modernas. Este processo, descontadasas pecu liar idades do caso dos povos indíge-nas, é o mesmo que afeta qualquer pequeno

agr icu ltor em qualquer lugar do país.Nesse contexto, o objet ivo do presente ar-

t igo é relatar o caso dos índios Bororo, par t i-cu larmente os da Terra Indígena Merur i, casoilust rat ivo da situação de mu itos dos povosindígenas brasileiros.

2 A Terra Indígena MeruriMeru r i é atualmente a maior aldeia dos

índios Bororo, com uma popu lação aproxima-da de 350 habitantes. A Terra Indígena Merur ilocaliza-se no sudeste do estado do Mato Gros-so, municípios de General Carneiro e Barrado Garças. A área total da reserva, que atual-mente abr iga duas aldeias, Meru r i e a do r ioGarças, é de 82.301ha. Foi demarcada em1976 (Decreto 76.999/ 76) e homologada em1987 (Decreto 94014/ 87).

Suas terras são cortadas pela rodovia fede-ral BR-70, pr incipal via de circu lação entreGoiânia e Cuiabá e importante via de escoa-mento da crescente produção agropecuária doestado. Separada desta rodovia por um peque-no trecho não pavimentado de aproximadamen-te cinco quilômetros, a comunidade tem aces-so relat ivamente fácil às cidades e lugarejospróximos e, conseqüentemente, fácil comuni-cação com a comunidade externa não-índia,

bem como acesso a seus bens e serviços. Distacerca de 50 quilômetros da cidade de GeneralCarneiro, cuja população aproximada é de qua-tro mil habitantes, e 120 quilômetros de Barrado Garças, sétima maior cidade do estado, comcerca de cinqüenta mil habitantes (IBGE, 2000).

3 O modo de vidatradicional dos Bororo

(pré-contato)Serpa (1988) caracter iza de forma razoá-

vel o sistema econômico tradicional Bororo(anter ior ao contato com o não-índio) comosendo uma "combinação das at ividades decoleta, de caça, de pesca e de agr icu ltu ra". Éimpor tante compreender que, antes de sig-n i f i car m aior ou m en or desen volvim en t otecnológico ou estoque de informações, estesistema significava uma adaptação às con-dições ambientais locais e sazonalidade dosrecu rsos do Cerrado1. As at ividades obedeci-am a uma ordem cíclica de acordo com a dis-ponibil idade destes recursos ao longo do ano.Serpa ressalta as prát icas e r ituais l igadosao cu lt ivo do milho, bem como os mitos rela-cionados à or igem das plantas cu lt ivadas.

Havia na cu ltu ra bororo um r itual agrár iobastante desenvolvido, assentado em grandeparte no cu lt ivo do milho. Viert ler (1990a) afir -ma que as tradições orais revelam o conhe-cimento de numerosas var iedades de milhocr iou lo. Eram cu lt ivadas cerca de sete var ie-dades e a época do cu lt ivo, que se estendiadesde a derrubada em maio até a colheita emfevereiro, t razia uma sér ie de r ituais e cer i-mônias l igadas direta ou indiretamente aomilho (kuiadá). Estes r ituais cu lminavam noKuiadá Páru, a festa do milho, celebrado quan-do da colheita.

As roças tradicionais dos Bororo (Boe Épa)se caracter izavam, grosso modo, por seremfamiliares, de policu lt ivo e de pousio. Era umsistema de cu lt ivo it inerante no qual o fogodesempenhava um papel central. Tais siste-

A r t i go

Desde a chegada dos primeiros

não-índios, a população indígena

caiu de cerca de seismilhõesde

pessoas, divididos em 900 etnias,

para apenas180 mil em 225 nações

no final dosanos60

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mas de cu lt ivo it inerante su rgiram de ma-neira independente em vár ios pontos das flo-restas tropicais ao redor do mundo e se mos-t raram uma forma de agr icu ltu ra sustentá-vel e mu ito adaptada às condições tropicais(Adams, 2000). A área relat ivamente peque-na desmatada para o cu lt ivo e o reduzido tem-po pelo qual era usada permit iam uma rege-neração total em pouco tempo, sem compro-meter a paisagem natu ral e devolvendo a fer -t i l idade do solo natu ralmente. Na literatu ra,o mesmo sistema, com pequenas var iaçõesde um povo para ou tro, é denominado cu lt ivoit inerante, roça de toco, roça de coivara oude cor te e queima (slash and burn).

4 História do contatointerétnico: Boe e BraidoA histór ia do contato entre Bororos, ou Boe

(gente), como se au todenominam, e "civi l i -zados" (braido) se in icia no ano de 1719, coma descober ta de ouro no r io Coxipó e o inícioda ocu pação de seu ter r i t ór io t r adicional(Lévi-Strauss, 1996). Segundo Colbacchin i eAlbiset t i, citados por Vier t ler (1990b), tal ter -r i t ór io t r ad icion al com pr een dia cer ca de350.000 qu ilômetros quadrados, com terrassituadas nos atuais estados de Mato Grosso,Mato Grosso do Su l e Goiás. Est ima-se quenaquele tempo a popu lação Bororo poder iachegar a dez mil pessoas (Ochoa Camargo,2001). A chegada dos pr imeiros bandeiran-tes em busca de ouro marca o início de umasér ie de confl i tos e ataques mútuos, que aolongo dos anos resu ltaram numa grande re-dução popu lacional dos Bororo (hoje est ima-dos em cerca de apenas mil pessoas)2 e naredução ter r itor ial deste povo.

Par a a anál ise qu e pr etendem os fazer ,entretanto, é de maior relevância o per íodo apar t ir do final do sécu lo XIX, per íodo em quehouve um contato "pacífico" mais intenso coma sociedade nacional e no qual se deram as

alterações mais sign ificat ivas nas bases desubsistência e nas relações com o meio na-tu ral.

A par t ir da instalação das pr imeiras mis-sões, mil i tares ou religiosas, nas duas ú lt i-mas décadas do sécu lo XIX, tanto os Bororo.sob influência dos órgãos governamentais, SPI(Serviço de Proteção ao Índio) e mais tardeFUNAI (Fundação Nacional do Índio), quantoos povos dos r ios Garças, Barreiro e Sangra-dou r o, sob i n f l u ên ci a dos m i ssi on ár i ossalesianos, foram submet idos a polít icas se-melhantes no sent ido de incorporá-los à eco-nom ia e sociedade nacional . Con fl i t an tesentre si no que diz respeito a valores moraise especialmente religiosos, tais polít icas pro-duziram reflexos que ainda persistem na cu l-tu ra, na organização social e produ t iva atuale mesmo na ideologia destes dois grupos. Ofato é que tanto missionár ios quanto o Esta-do e a própr ia popu lação não índia que coloni-zou o terr itór io tradicional Bororo produziramalterações drást icas no seu modo de vida ecausaram desarran jos ir reversíveis em suaorganização social, tal a amplitude e a velo-cidade com que estas mudanças foram im-postas aos Bororo.

Prát ica comum dos colonizadores, a dist r i-bu ição de fer ramentas, rou pas, u tensíl iosdomést icos e alimentos sempre foi u t i l izadacomo forma de atrai-los para per to de suasinstalações e mantê-los sob sua tu tela, se-duzindo-os com as comodidades do mundo ci-vi l izado para, pau lat inamente, in t roduzi-losno modo de vida e trabalho do branco.

Conforme observa Vier t ler (1990b), a in-t en ção tan to de m ission ár ios qu an to dosagentes governamentais era "atraí-los pelosmeios mater iais mais percept íveis aos sen-t idos, presenteá-los com freqüência e man-tendo, exclusivamente para eles, um estadocont ínuo de abundância de meios de subsis-tência, prolongando por necessidade a cont i-nuação da ‘imprevidência de que eram dota-dos’, com o fim de entreter relações, ganhar-

A r t i go

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lhes a afeição, a fim de poder convencê-los,pouco a pouco, da obr igação do trabalho, atéque adqu ir issem o hábito de promoverem, porsi, a sua manu tenção". Na verdade, confor -me a au tora poster iormente constata, a in-tenção final era in t roduzi-los na economianacional com o m ão-de-obr a al t er nat iva àdisponibil izada em outros estados pela imi-gração est rangeira.

Foram vár ias as tentat ivas da FUNAI (Fun-dação Nacional do Índio) e dos missionár iosde envolver os homens Bororo nos trabalhosde cu lt ivos colet ivos de monocu ltu ras, comemprego de técn icas qu ímico-mecan izadasque gerassem excedentes comercializáveis. Aintenção era promover a independência finan-cei r a d as com u n i d ad es e acel er ar a"integração" dos Bororo na economia regional.Um dos empecilhos a estes projetos, já obser-vado por Steinen em 1888 (in: Viert ler, 1990b),era o fato de os homens Bororo serem poucodispostos ao trabalho nestas roças. O que nãose observou é que vár ias etapas da agr icu ltu -ra, bem como a obtenção de qualquer alimen-to de or igem vegetal por coleta, eram tradicio-nalmente at ividades femininas.

5 Principaistransformações na

agricultura tradicionalBororo

A pr imeira, e talvez a mais impor tan te,mudança no sistema agrícola Bororo foi a in-trodução de novos cu lt ivos, o que por si só im-plicou profundas transformações na organiza-ção para a produção e nas manifestações cu l-turais associadas às culturas agrícolas. O casomais significat ivo é a introdução do arroz, quesubst itu iu o milho em importância na alimen-tação e em área cu lt ivada.

Como esta cu ltu ra era pouco conhecida3,a sua int rodução implicou a adoção de novastécnicas e fer ramentas nem sempre compa-t íveis com o universo cu ltu ral bororo, o que

provocou um verdadeiro "efeito dominó" so-bre ou tros aspectos da organização social t ra-dicional. A subst itu ição do milho pelo arrozcomo cu lt ivo mais importante reflet iu no qua-se abandono da mais impor tante manifesta-ção r itual associada à agr icu ltu ra, o KuiadáPáru ou festa do milho. A área atualmenteplantada de milho no Meru r i fornece apenaso mínimo necessár io para que se realize umr itual mu ito reduzido e simplificado no qualo Bári, ou xamã dos espír itos, responsável pelaligação entre os homens (Boe) e os espír itos

da natu reza (Bópe), chega a ser subst itu ídopor um padre na tarefa de benzer o milho eafastar dele os espír itos maléficos4.

Ou t r o fator im por tan te a ser obser vadoé a in t r odu ção de n ovas var iedades de m i-lh o e do m i lh o h íbr ido. Este fato cau sou aper da de pelo m en os seis var iedades dem i lh o cr iou lo an t igam en t e con h ecidas, oqu e é u m a en or m e per da n ão só do pon tode vist a de ger m oplasm a e par a a estabi l i -dade e su st en t abi l idade dos sist em as decu l t ivo, m as tam bém par a a iden t idade e acu l t u r a deste povo. Além disto, a per da dasvar iedades pr ópr ias r efor ça a posição dedependência fr en te às em pr esas de sem en-tes (Soar es, 1998).

A r t i go

A introdução de novas variedades

de milho e do milho híbrido causou

a perda de pelo menosseisvarie-

dades de milho crioulo conhecidas.

Enorme perda do ponto de vista

de germoplasma e da estabilidade

e sustentabilidade dossistemasde

cultivo e também da identidade e

cultura deste povo

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58Agroecol.eDesenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.2, abr./junh.2002

A r t i go

A diversidade genét ica in t ra-específica éu ma impor tan te est ratégia adotada por po-pu lações t radicionais para min imizar as per -das impostas pelas adversidades ambientais,pragas e doenças, bem como para explorarn i ch os e con d i ções am bien t ai s d i ver sos(Alt ier i , 2000). As visi tas às roças evidenci-aram que o uso do milho híbr ido pelos Bororonão implica au mento de produ ção, já qu e ascondições técn icas e econômicas impossi-b i l i t am a ad oção d e t od o o "p acot etecnológico" (adubos qu ímicos, agrotóxicos emáqu inas) exigido para qu e se obtenha odesempenho esperado.

Den t re as cu l tu ras mais impor tan tes ob-servadas nas roças e nos qu in tais do Meru r ihoje, qu ase todas foram in t rodu zidas pós-contato.

Figura 8: Principais culturas utilizadas pelos Boro ro do MeruriFigura 8: Principais culturas utilizadas pelos Boro ro do MeruriFigura 8: Principais culturas utilizadas pelos Boro ro do MeruriFigura 8: Principais culturas utilizadas pelos Boro ro do MeruriFigura 8: Principais culturas utilizadas pelos Boro ro do Meruri

BororoBororoBororoBororoBororo PortuguêsPortuguêsPortuguêsPortuguêsPortuguês CientíficoCientíficoCientíficoCientíficoCientífico

Arrói Arroz* Oryza sativa

Kuiadá Milho Zea mays

Bako Ito Banana* Musa sp.

Ri Boaréu Abóbora* Cucurbita

pepo

Jú Ika Mandioca* Manihot sp

- Feijão* Phaseolus

vulgaris

*Plantas de introdução pós-contato*Plantas de introdução pós-contato*Plantas de introdução pós-contato*Plantas de introdução pós-contato*Plantas de introdução pós-contato

Fonte: Serpa, 1988.Fonte: Serpa, 1988.Fonte: Serpa, 1988.Fonte: Serpa, 1988.Fonte: Serpa, 1988.

No final da década de 1970, a FUNAI, se-gu indo as diret r izes desenvolviment istas doregime militar , tentou transformar as condi-ções técnicas da agr icu ltu ra bororo, afetandonão apenas as bases ideológicas desta at ivi-dade como, por conseqüência, todo a organi-zação sociocu ltu ral deste povo (Serpa, 1988).A int rodução de máqu inas e implementos foiuma tentat iva dos órgãos governamentais edos missionár ios de "modernizar" os sistemasde cu lt ivo pelo uso de prát icas pouco condi-zentes com a realidade bororo. Do ponto de

vista agroecológico, é eviden te o equ ívocodesta ten tat iva. Rei jn t jes e colaboradores(1992: 264) afirmam que, em muitos casos,os sistemas agr ícolas gerados pelo conheci-mento nat ivo são "formas sofist icadas de agr i-cu l tu ra ecológica, finamen te aju stadas àscondições ambientais específicas". Mais doque uma questão puramente de técnicas agrí-colas, há evidências de que o modelo adotadoatualmente provoca desarranjos nas cama-das super iores da cu ltu ra. São distorções quese expr essam n a or gan ização social , n asmanifestações cu ltu rais e até mesmo no es-tado psicológico dos Bororo5.

Um a m odi ficação im por tan te obser vadaatu alm en te n o sist em a de cu l t ivo de r oçasna aldeia foi o abandono do pou sio ou o pro-lon gam en to do u so da m esm a ár ea e a in -t r odu ção de m áqu in as. A l im peza da ár eaer a fei t a m an u alm en te com au xíl io de fogoe as r oças n ão er am destocadas, con for m epr eviam en te discu t ido. Com a in t r odu çãode m áqu in as, n o fin al da década de 1970,a l im peza da ár ea passou a ser fei t a m eca-n icam en te. Atu alm en te são aber tas ár easpr at icam en te con t ín u as de 10 a 15 h a qu esão poster ior m en te divididas en t r e os in -t er essados em fazer r oças. Cada in ter es-sado fica com cer ca de 1 a 1,5 ha nos qu aiscost u m am cu l t i var ar r oz, m i l h o, fei j ão,abóbor a, m elancia, m am ão e ou t r os. O t r a-balho nas r oças é fam i l iar , não sendo h is-t or icam en te o t r abalho colet ivo u m a pr át i -ca com u m .

A área atualmente em uso foi desmatadahá quatro ou cinco anos. Ela dista cerca dedez qu ilômetros da aldeia e foi escolh ida pornão haver ou tra área de mata mais próximada aldeia. Estas áreas são vistas como maisfér teis que as de cerrado e as únicas passí-veis de cu lt ivo, enquanto os solos de cerradosão considerados por eles adequados apenaspara a implantação de pastagens para cr ia-ção de bovinos.

A seden tar ização do gru po, qu e desde os

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59Agroecol.eDesenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.2, abr./junh.2002

A r t i go

Toda a série de equívocos come-

tidosna tentativa de se "moderni-

zar" a agricultura Bororo resultou

num sistema dependente de recur-

sose conhecimentosexternos, de

alto risco ambiental e incapaz de

satisfazer asnecessidadesmínimas

alimentares da comunidade

pr im ór dios da colôn ia r el igiosa salesian afu ndada há qu ase cem anos instalou -se emcasas de alvenar ia ao redor das instalaçõesdos missionár ios, torna-se u m obstácu lo àat ividade agr ícola. Apesar de haver u m cer todeslocam en t o t em por ár io n as épocas deplan t io, t ratos cu l tu rais e colhei tas, a dis-tância desencoraja e di ficu l t a u m melhoracompanhamento e t rato dos cu l t ivos . Talseden tar ização, somada à redu ção e l im i-tação da área, imposta pela demarcação dareserva e pela ocu pação dos ar redores porn ão- ín d i os, d i f i cu l t a t am b ém o cu l t i voi t i n er an t e.

Foi observado um único caso de tentat ivade volta ao sistema tradicional de roça de toco.Um bororo, com idade ao redor de 25 anos, sedeclarou insat isfeito com a ir regu lar idade dascondições de assistência às roças atuais eestá tentando, com mais um ou dois compa-nheiros, cu lt ivar banana e café num siste-ma mais semelhante ao tradicional.

6 ConclusãoPode-se constatar que a adoção do modelo

agr ícola qu ímico-mecanizado foi apenas par-cial, já que não há viabil idade técnica nemeconômica para o uso de qualquer t ipo de fer-t i l i zan t e qu ím ico-si n t ét i co, cor r et i vo ouagrotóxico. A falta de recu rsos para a obten-ção de combust ível para as máqu inas possu-ídas pela comunidade também traz grandedependência e causa mu itos empecilhos parauma produção adequada. Constatou -se que,no ú lt imo ano, o plant io das roças foi feitoapenas parcialmente e com dois meses deatraso porque os recu rsos requ isitados paraa FUNAI para a compra de óleo Diesel e se-mentes não foram enviados. Esta adoção par-cial compromete sobremaneira a produ t ivi-dade das roças bororo e a sua sustentabil ida-de, o que desest imu la a prát ica agr ícola en-t re a popu lação. Acarreta também vár ios da-nos ambientais, não apenas os inerentes à

agr icu ltu ra moderna industr ializada, como oscausados pela adoção parcial deste modelo.Par a iden t i ficar os l im i t es das r oças, porexemplo, cada família faz o plant io em linhasde sent ido alternado, desconsiderando-se orelevo local e a declividade de sua área. Jáqu e não há u so de cober tu ra mor ta nemconsorciação, o solo nas entrelinhas fica des-cober to. O sent ido das linhas pode então, ale-ator iamente, cor tar ou favorecer as enxu r -radas e a erosão.

As pressões do con tato com o braido não

t iveram su cesso em su perar o caráter fa-m i l iar das roças. Os dados levan tados nes-te t rabalho most ram qu e, apesar do in ten -so con tato com a sociedade externa, aindahoje se mantém o baixo in teresse pelas at i -vidades agr ícolas nos moldes propostos pe-los agen tes externos não-índios e nenhu mp r oj et o d e ger ação d e ex ced en t escom er ci al i závei s em gr an de escal a t evesu cesso. Isso se dá obviamen te em fu nçãoda inadequ ação do modelo agr ícola qu e seten ta impr im ir à comu n idade, modelo estequ e não leva em con ta os padrões t radicio-nais de divisão sexu al do t rabalho, costu -mes, crenças, habi l idades e valores qu e ain -da se conservam na comu n idade, além dasvar iáveis am bien tais locais.

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60Agroecol.eDesenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.2, abr./junh.2002

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1Exemplo disto é o caso do manejo da floresta

secundária pelos Caiapó (Posey, 1984). Em suaobra, Posey mostra que um caso de economiabaseada, à primeira vista, na caça e na coleta, erana verdade um refinado manejo de fauna e flora,de alta produtividade. O sistema desenvolvidopelosCaiapó reuniu conhecimentosprofundosemecologia, pedologia, zoologia, botânica, agronomiae agroflorestamento que facilmente superam osconhecimentosexigidospara o desenvolvimento doarado.

2Levantamento da população Bororo - Janeiro,

2000, P. Gonçalo Ochoa. Documento pessoal cedidoem entrevista em agosto de2000.

3Serpa (1988)afirma queosBororo já conheciam

variedades selvagens de arroz. Estas, porém, eramcoletadase não cultivadas.

4A aldeia não conta atualmente com a figura do

Bári, sendo queo último delesfaleceu há algunsanos.Osjovensnão querempassar pelo processo derituaise sacrifíciosexigidospara a obtenção do título, quejá não confereo mesmo statusdentro da comunidade.

5Esteprocesso não foi exclusivo do caso dosBororo

ou das sociedades indígenas. Éo mesmo processoresultanteda "modernização conservadora"observadoem todo o meio rural. Exemplo bastante ilustrativoestá no trabalho "Tradição (agri)cultural e inovaçãotecnológica" (Petersen, Tardin e Marochi, 2002).

6Exemplo disto são as perdas causadas pelo

ataque de caititus(Tayassu tajacu) ao milho.

Notas

7 ReferênciasBibliográficas

Toda a sér ie de equívocos cometidos natentat iva de se "modernizar" a agr icu ltu raBororo resu ltou num sistema completamen-te dependente de recursos e conhecimentosexternos, de alto r isco ambiental e incapazde sat isfazer as necessidades mínimas ali-mentares e de sobrevivência da comunida-

de. Prova disto é o fato de a at ividade agríco-la, de forma geral, ser vista como últ ima op-ção para a obtenção dos recursos básicos. Éevidente a preferência pela busca de divisasvia emprego fora da aldeia, ar tesanato, ser-viços na missão e outras fontes para comprade alimentos nas cidades da região. AAAAA

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61Agroecol.eDesenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.2, abr./junh.2002

WILSON, EdwardO. O futuro davida: um estudo

da biosfera paraa proteção de to-

das as espécies, in-clusive a humana. Rio

de Janeiro: Campus,2002. 242 p.

Ganhador do PrêmioPuli tzer, Edward Wilson

apresenta agora uma obra importantíssimapara quem ainda se preocupa com o futuro davida sobre o planeta. Ainda que apresente per-manentemente uma posição conservadora, OFuturo da Vida nos traz, ao mesmo tempo, in-formações relevantes sobre os impactos queestamos causando à biodiversidade e reflexõesde fundo sobre nosso modo de vida e as con-seqüentes externalidades causadas pelo nossoestilo de desenvolvimento. Entre os destaques,poderíamos citar o "diálogo" entre o economis-ta e o ambientalista, uma montagem de dadose discursos correntes em nosso meio (e no dele,nos USA), sustentado por diferentes visões demundo e diferentes pontos de vista sobre o fu-turo. Como ele afirma, os economistas "sabemque a humanidade está destruindo a biodiver-sidade, simplesmente não gostam de passarmuito tempo pensando sobre o assunto". Des-te "diálogo", o autor conclui que o grande "dile-ma do ambientalismo" é resultado da falta deaproximação e acordo entre "dois sistemas devalores": o conflito entre valores de curto prazoe de longo prazo. Encontrar o meio termo so-bre o agora e o futuro que queremos seria fun-damental para que se possa "passar pelo gar-galo em que nossa espécie imprudentementese meteu".

A exterminação de espécies, o impacto dosprocessos de colonização e a ocupação huma-na dos espaços são abordados de uma manei-ra singela e compreensível, ao mesmo tempo

em que o autor relaciona estas questões comaspectos da macroeconomia, para mostrar queo crescimento ilimitado é impossível, pois jamaisconseguiremos substituir os serviços ofertadospela natureza por recursos artificiais. Assimmesmo, desde uma posição conservadora, oautor destaca os riscos dos cultivos e produtostransgênicos. Ainda que veja na engenhariagenética uma arma para o que chama de "re-volução verde sustentável", Wilson destaca anecessidade de adotar-se o princípio da pre-caução.

Trata-se, pois, de um livro que pode ajudaros iniciantes nos temas ambientais a familiari-zar-se com um conjunto de aspectos que estãoem jogo neste século XXI e que serão decisivospara o futuro da humanidade, inclusive o po-tencial para a vida que a natureza ainda nosoferece, pela biodiversidade que nós ainda nãoconseguimosdestruir com a "avalanche do capi-talismo baseado na tecnologia" que só será en-frentada a partir de uma "ética ambiental a lon-go prazo e que conte com o apoio da maioria".

Res en h a elab o rad a p elo En g en h eiroA g rô n o m o Fran c is c o Ro b er t o C ap o ra l,

D ire t o r Téc n ic o d a EM A TER/ RS . E-m ail:c ap o ral@em at er .t c h e.b r

FURTADO, Celso. In-trodução ao de-senvolvimento:

enfoque histórico-estrutural, 3ª ed. re-

vista pelo autor, Riode Janeiro: Paz e Ter-

ra, 2000. 126 p.

Nascido na Pa-raíba em 1920, o autor

apresenta uma marcantetrajetória de vida - publicando várias obrase ocupando importantes cargos públicos - econtinua mantendo a chama de suas idéias

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62Agroecol.eDesenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.2, abr./junh.2002

e sugestões que sempre estimularam o de-bate. Na obra em questão, Celso Furtadoprocura ir além da visão da economia, pararealizar uma análise multidisciplinar, com ofoco na história e na filosofia, contribuindodessa forma com a temática do desenvolvi-mento, fortemente presente em nossa reali-dade local. Incorpora na análise razões quepossam ter levado os países do Terceiro Mun-do a adotar modelo de desenvolvimento quese mantém sob a tutela tecnológica e finan-ceira dos países centrais, cujas regras pro-vavelmente tenham que ser urgentementerediscutidas. No decorrer da obra, é possí-vel identificar nos diversos momentos histó-ricos os beneficiários de determinada deci-são, que puderam incorporar excedentes, eaqueles que sempre operam à margem dosprocessos, dificilmente decidindo algo. A par-tir desses cenários, trabalha os limitados ca-minhos que restam dentro deste complexocontexto macroeconômico.

Através desta obra, o autor deixa váriosquestionamentos e interrogações para os lei-tores: por que certas sociedades apresentamem determinados períodos de sua história tãogrande capacidade de inovação, como ocor-reu na Grécia de Péricles? Por que outras fa-vorecem em dado momento a invenção de téc-nicas em detrimento da criação de valores,como aconteceu na Inglaterra da RevoluçãoIndustrial? Será que o avanço tecnológico re-prime a criação dos valores substantivos quesão a conquista maior do espírito humano?Pode haver desenvolvimento sem criatividadeprópria? A globalização agrava este proces-so? Este ambiente provocativo ilustra a rique-za da obra, que se encontra na terceira edi-ção, toda revista pelo autor e com abordagensbem atuais sobre o assunto.

O debate se estende também à compreen-são das relações internas dos países desen-volvidos e às respectivas implicações sobre

suas condutas, distintas dos países subdesen-volvidos, os quais operam às margens das gran-des decisões, tornando-se periféricos. Essa aná-l i se é imprescind ível em um per íodo deglobalização, quando surgem novas formas deapreender a realidade social. Tudo visto dentrode um contexto histórico, jamais estanque aomomento presente. A partir desta realidadedicotômica, estabelece-se uma relação de po-der que é bem distinta em cada realidade, e arespectiva submissão nacional geralmente se re-produz nas relações internas. Em épocas distin-tas, alguns setores podem ser beneficiados comas posições dos países desenvolvidos e acumu-lar poder, como também podem ficar à margem.O desenvolvimento ainda é analisado sob o pris-ma das estruturas agrárias e das possibilidadesde formação de excedentes. Além disso, a obraconta com uma análise do progresso técnico,considerado fruto da criatividade humana, quenos últimos dois séculos vem sendo canalizadaespecialmente para a inovação técnica.

Em síntese, o livro fornece elementos que po-

dem contribuir na compreensão do contexto

dos últimos dois séculos e meio, com ênfase na

análise do presente, momento em que as em-

presas globais possuem sede em países desen-

volvidos e procuram elevar a apropriação de

seus excedentes através da atuação em países

periféricos. Nesses, buscam encontrar mão-de-

obra mais barata, menos impostos, mais incen-

tivos, menos restrições quanto a poluição e, não

raras vezes, seus excedentes são obtidos com

a devastação dos recursos naturais. A obra é

de fácil leitura e recomendada para todos que

trabalham com a questão do desenvolvimento,

principalmente com os limites de um desenvol-

vimento endógeno.

Res en h a elab o rad a p elo En g en h eiro A g rô -n o m o d a EM A TER/ RS Iv ar J o s é K reu t z,

m es t ran d o em A g ro ec o s s is t em as - U FS C .E-m ail: ijk reu t z@t erra.c o m .b r

Page 62: Revista Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sutentável 02_04/2002

63Agroecol.eDesenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.2, abr./junh.2002

CAPRA, Fri t jof. Oponto de muta-ção: a ciência, a

sociedade e a cul-tura emergente. São

Paulo: Cultrix, 1982.

"Acredito que a visãode mundo sugerida pela

física moderna seja in-compatível com a nossa so-

ciedade atual, a qual nãoreflete o harmonioso estado de inter-relacio-namento que observamos na natureza. Parase alcançar tal equilíbrio dinâmico, será neces-sário uma estrutura social e econômica radi-calmente diferente: uma revolução cultural naverdadeira acepção da palavra. A sobrevivên-cia de toda a nossa civilização pode dependerde sermos ou não capazes de realizar tal mu-dança". Fritjof Capra.

O livro do físico, cientista, ambientalista eeducador Fritjof Capra explora as mudançasde paradigma que acompanharam as desco-bertas científicas. Em sua primeira parte, des-creve o desenvolvimento histórico da visãocartesiana do mundo e a drástica mudança deconceitos básicos que ocorreu na física moder-na, enfatizando principalmente as limitaçõesdavisão de mundo cartesiana e como isto estáafetando a nossa saúde individual e social. Se-gundo ele, desde o século XVII, a física tem sidoo exemplo brilhante da ciência exata e os físi-cos utilizaram uma visão mecanicista do mun-do para desenvolver e refinar a estruturaconceptual do que é conhecido como física clás-sica. Suas idéias foram baseadas em duas fi-guras gigantescas do século XVII: Descartes eNewton, que trataram o mundo como umagrande máquina. Esse quadro mecânico tor-nou-se o paradigma dominante da ciência. Ateoria de Descartes foi estendida até os orga-

nismos vivos, considerando o corpo humanocomo uma máquina, um relógio, comparandoum homem doente a um relógio mal fabrica-do. Cientistas, sociólogos, psicólogos e econo-mistas passaram a tratar os organismos vivoscomo máquinas e a ignorar outros fatores, osquais poderiam contr ibuir para evi tar odesequilíbrio cultural e social em que nos en-contramos hoje.

O autor, professor da Universidade daCalifórnia (Berkeley) e fundador do Center forEcoliteracy (instituição que forma profissionaispara ensinar ecologia nas escolas), cita trêsgrandes acontecimentos como o passo inicialpara uma transformação no nosso sistemasocial: a) o declínio do patriarcado, pois omovimento feminista é uma das mais fortescorrentes culturais de nosso tempo e terá umpapel importante na evolução social e culturalfutura; b) o declínio da era dos combustíveisfósseis, que estariam esgotados por volta de2003 (estaríamos experimentando um proces-so de transição da era do combustível fóssilpara a era solar); c) mudança de paradigma,uma mudança profunda nos valores e percep-ções. Ademais, nos remete a uma reflexão deque a crise energética, a crise na assistência àsaúde, as altas taxas de desemprego e os de-sastres ambientais que estão ocorrendo sãodecorrentes de uma só crise: a "crise de per-cepção". Estamos tentando aplicar os concei-tos de uma visão de mundo obsoleta - a visãode mundo mecanicista da ciência cartesiana-newtoniana - a uma realidade que já não podeser entendida em função destes conceitos. Pre-cisamos de um novo "paradigma".

A proposta de Capra é uma mudança deparadigmas baseada na transferência da con-cepção mecanicista para uma visão holísticada realidade, apoiada na consciência do esta-do de inter-relações e interdependência essen-cial de todos os fenômenos físicos, biológicos,psicológicos, sociais e culturais. Aliás, em toda

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64Agroecol.eDesenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.2, abr./junh.2002

a sua obra o autor faz uma crítica fundamentalà mentalidade analítica e fragmentadora da ci-ência normal, em especial àsciênciasque tomamo método analítico da Física Clássica de Newtoncomo modelo que deve ser seguido para ergueras demais ao statusde ciência perante a comuni-dade acadêmica. Analisa profundamente a in-fluência do pensamento cartesiano-newtonianosobre a biologia, a medicina, a psicologia e aeconomia e apresenta suas críticas ao paradig-ma mecanicista nestas disciplinas. Posteriormen-te, faz um exame detalhado da nova visão darealidade, no qual inclui a emergente visãosistêmica da vida e todas as suas manifestações.Mostra ainda que a evolução de uma socieda-de, inclusive a evolução de seu sistema econômi-co, está intimamente ligada a mudanças no sis-tema de valores que serve de base a todas assuas manifestações. Os valores que inspiram avida de uma sociedade determinarão sua visãode mundo. Ea concepção sistêmica vê o mundoem termos de relações e de integração, tornan-do-se cada vez mais necessária a aplicação deconceitos sistêmicos aos processos e atividadeseconômicas.

No final, Capra deixa bem claro que a sobre-vivência humana, ameaçada por várias açõesigualmente humanas e advindas de uma visãode mundo mecanicista e fragmentada, somenteserá possível se formos capazes de mudar radi-calmente os métodos e os valores subjacentes ànossa cultura individualista e materialista atuale à nossa tecnologia de exploração do meioambiente. Esta mudança deverá, logicamente,refletir-se em atitudes mais orgânicas, holísticase fraternas entre os seres humanos e entre estese a natureza, em todos os seus aspectos.

Res en h a elab o rad a p o r Lu is a H elen aS c h w an t z d e S iq u eira, s o c ió lo g a d a

EM A TER/ RS , m es t ran d a em D es en v o lv i-m en t o Ru ra l - U FRG S . E-m ail:

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Page 64: Revista Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sutentável 02_04/2002

65Agroecol.eDesenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.3, n.2, abr./junh.2002

1. AgroecologiaeDesenvolvimentoRural Sustentável éumapublicação daEMATER/RS, destinadaàdivulgação detrabalhos de agricultores, extensionistas, professores,pesquisadoreseoutrosprofissionaisdedicadosaostemascentraisdeinteressedaRevista.

2. AgroecologiaeDesenvolvimentoRural Sustentável éumperiódicodepublicação trimestral quetemcomopúblicoreferencial todasaquelaspessoasqueestão empenhadasnaconstruçãodaAgriculturaedoDesenvolvimentoRuralSustentáveis.

3. AgroecologiaeDesenvolvimentoRuralSustentávelpublicaartigoscientíficos, resultadosdepesquisa, estudosdecaso,resenhasdeteseselivros, assimcomoexperiênciaserelatosdetrabalhosorientadospelosprincípiosdaAgroecologia.Alémdisso, aceitaartigoscomenfoquesteóricose/oupráticosnos campos do Desenvolvimento Rural Sustentável e daAgriculturaSustentável, estaentendidacomo todaformaou estilo de agricultura de base ecológica,independentementedaorientação teóricasobreaqual seassenta. Comonãopoderiadeixardeser, aRevistadedicaespecial interesse à Agricultura Familiar, que constitui opúblicoexclusivodaExtensãoRuralgaúcha. Nestesentido,são aceitos para publicação artigos e textos que tratemteoricamenteestetemae/ouabordemestratégiasepráticasquepromovamofortalecimentodaAgriculturaFamiliar.

4. Osartigose textosdevemser enviadosempapel e emdisquete à Biblioteca da EMATER/RS (A/C MariléaFabião Borralho, RuaBotafogo, 1051 – Bairro MeninoDeus– CEP90150-053 – PortoAlegre– RS) ouporcorreioeletrônico ([email protected]) atéoúltimodiadosmesesdemarço, junho, setembroedezembrodecadaano. Ademais, devemseracompanhadosdecartaautorizando sua publicação na Revista Agroecologia eDesenvolvimento Rural Sustentável, devendo constar oendereçocompletodoautor.

5. SerãoaceitosparapublicaçãotextosescritosemPortuguêsou Espanhol, assimcomo tradução de textosparaestesidiomas. Salienta-seque, nocasodastraduções, devesermencionadodeformaexplícita, empédepágina, “Traduçãoautorizadaerevisadapeloautor” ou“Traduçãoautorizadaenãorevisadapeloautor”, conformeforocaso.

6. Terãoprioridadenaordemdepublicaçãoostextosinéditos,ainda não publicados, assimcomo aquelesque estejamcentradosemtemasdaatualidadeecontemporâneosao

debateeao“estadodaarte” docampodeestudoaquese refere. Assim mesmo, terão prioridade os textosencomendadospelaRevista.

7. Serãoenviados5 (cinco) exemplaresdonúmerodaRevistaparatodososautoresquetiveremseusartigosoutextospublicados. Emqualquercaso, ostextosnãoaceitosparapublicaçãonãoserãodevolvidosaosseusautores.

8. Ascontribuiçõesdevemternomáximo10 (dez) laudas(usando editor de textos Word) em formato A-4,devendo ser utilizadaletraTimesNew Roman, tamanho12 e espaço 1,5 entre linhas (dois espaços entreparágrafos). Poderãoserutilizadasnotasdepédepáginaounotasao final, devidamentenumeradas, devendo serescritasemletraTimesNewRoman, tamanho10 eespaçosimples. Quandoforocaso, fotos, mapas, gráficosefigurasdevemserenviados, obrigatoriamente, emformatodigitalepreparadosemsoftwarescompatíveiscomaplataformawindows, depreferênciaemformatoJPG ouGIF.

9. Os artigos devemseguir as normas da ABNT (NBR6022/2000). Recomenda-se que sejam inseridas nocorpodotextotodasascitaçõesbibliográficas, destacando,entreparênteses, osobrenomedoautor, anodepublicaçãoe, se for o caso, o número da página citada ou letrasminúsculasquandohouvermaisdeumacitaçãodomesmoautoreano. Exemplos: ComojámencionouSilva(1999,p.42); como jámencionouSouza(1999 a,b); ou, nofinal dacitação, usando (Silva, 1999, p.42).

10. Asfontesconsultadasdevemconstar no fimdo texto,nas Referências Bibliográficas, seguindo as normas daABNT(NBR6023/2000).

11. Sobreaestruturadosartigostécnico-científicos:a) Título do artigo: emnegrito ecentradob) Nome(s) do(s) autor(es): iniciando pelo(s)

sobrenome(s), acompanhado(s) denotaderodapéonde conste: profissão, titulação, atividadeprofissional, local detrabalho, endereço eE-mail.

c) Resumo: no máximo em10 linhas.d) Corpo do trabalho: devecontemplar, no mínimo,

4 (quatro) tópicos, a saber: introdução,desenvolvimento, conclusões e referênciasbibliográficas. Poderão ainda constar listas dequadros, tabelasefiguras, relaçãodeabreviaturaseoutros itens julgados importantes para o melhorentendimento do texto.

NNNNNORMASPARA PPPPPUBLICAÇÃO