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Revista Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sutentável 04_12/2002

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Qualidade da água em bacias hidrográficas rurais.

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33333Agroecol. e Desenvol. Rur. Sustent. Porto Alegre, v.3, n.4, out/dez 2002

Editorial

Unidos pela perspectiva agroecológica

Ana Maria Primavesi, aos 82 anos, dá exemplo e

ainda mantém destacada participação na luta pela

construção de novas formas de relacionamento entre

sociedade e natureza. Com atuação decisiva na forma-

ção de, pelo menos, três gerações de profissionais

das Ciências Agrárias, a nossa entrevistada enfatiza

a dimensão social da Agroecologia, lembrando que a

redução da pobreza depende da recuperação ambiental,

onde o manejo ecológico do solo é fundamental. Re-

corda também da importância do aprendizado que os

técnicos podem e devem extrair da natureza, ao levar-

se em conta que as práticas produtivas devem respei-

tar as condições específicas de cada agroecossistema,

estando equivocada a crença de que os solos tropicais

podem ser manejados por meio de processos, siste-

mas e tecnologias produzidas para países temperados.

A relação que se estabelece entre homem e natureza,

determinante dos processos de desenvolvimento ru-

ral, é analisada por Morales para o caso de uma expe-

riência inovadora em Jalisco (México), onde a busca

coletiva de formas para resistir à crise socioambiental

vem redundando no estabelecimento de redes de arti-

culação entre camponeses. Pautadas pelo respeito aos

valores locais, estas redes vêm evoluindo, através da

troca de experiências, para a construção de proces-

sos tecnológicos ajustados às particularidades locais,

com expansão gradual para outras regiões e outros

atores. Em tema similar, que gravita em torno da cons-

trução de novos caminhos para o desenvolvimento

rural, Caporal e Costabeber opinam sobre a experiên-

cia da Nova Extensão Rural que vem sendo, gradual-

mente, construída no RS. Os enormes avanços obti-

dos, em decorrência da adesão e comprometimento de

vários atores, põem em evidência que a construção

coletiva e o aprendizado comum são indispensáveis a

qualquer processo de desenvolvimento rural que se

pretenda sustentável, sob a perspectiva

multidimensional. Deponti, Eckert e Azambuja pro-

pondo uma metodologia para elaborar indicadores ca-

pazes de apoiar o monitoramento e a avaliação de mu-

danças produzidas em agroecossistemas, adotam pers-

pectiva semelhante. Essa metodologia, ao entender

como imprescindível o envolvimento dos atores que

vivenciam os agroecossistemas, sustenta que a im-

portância da percepção dos agricultores, sobre aspec-

tos locais, seria tamanha que se tornaria extremamente

difícil obter indicadores globais capazes de dar conta

das particularidades de diversos sistemas. Em traba-

lho no qual a análise micro revela impactos no nível

macro, Merten e Minella defendem que a qualidade

da água constitui um elemento nivelador para qual-

quer abordagem que pretenda interpretar, estimular

ou dar sustentação a questões relativas às condições

de vida no longo prazo. Considerando que os

agrotóxicos e os volumes concentrados de nitrogênio

e fósforo provenientes de confinamento de animais,

por exemplo, provocam impactos negativos (especial-

mente em ambientes ecologicamente frágeis e quando

esses se associam a práticas de agricultura e pecuária

intensivas) sobre a qualidade da água, esses autores

recomendam a adoção sistemas de base agroecológica,

por seu menor impacto sobre a qualidade da água,

como alternativa do interesse maior da sociedade como

um todo. Aliás, em Dica Agroecológica e Alternativa

Tecnológica os autores resgatam práticas tradicionais

abandonadas, mas que vêm apresentando eficiência

sob novas formas de utilização: Boemeke cita a urina

de vaca que, diluída a 1%, mostra propriedades ferti-

lizantes e repelente de certos insetos, enquanto Lipp

e Secchi sugerem o ensacamento de frutos (usual nos

anos 50 e 60) como prática de prevenção da mosca

das frutas. Já o Relato de Experiência, trazido por

Sangaletti, demonstra que a troca de experiências,

articulando práticas veterinárias preventivas e uso de

fitoterápicos (em sistema rotativo de exploração de

bovinos de leite), vêm permitindo a obtenção de im-

portantes ganhos de produtividade, favorecendo a mais

de 300 famílias de agricultores de Vista Gaúcha, RS.

Todos esses temas, associados às resenhas, Ecolinks

e outros tópicos, talvez constituam uma boa mostra

dos esforços realizados pelos editores de Agroecologia

e Desenvolvimento Rural Sustentável, ao longo de três

anos, no sentido de compartilhar experiências, esti-

mular a produção de conhecimentos e valorizar as ini-

ciativas inovadoras que, em sua essência, não têm

outro objetivo senão o de contribuir modestamente na

construção de uma sociedade sustentável. Fica o con-

vite a todos para que sigamos otimistas em relação ao

futuro e unidos pela perspectiva agroecológica. Boa

leitura a todos.

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44444Agroecol. e Desenvol. Rur. Sustent. Porto Alegre, v.3, n.4, out/dez 2002

Revista da Emater/RSv.3, n.4, out/dez 2002

Coordenação GeralCoordenação GeralCoordenação GeralCoordenação GeralCoordenação Geral: Diretoria Técnica da EMATER/RS

Conselho Editorial: André PConselho Editorial: André PConselho Editorial: André PConselho Editorial: André PConselho Editorial: André Pereira, Ângelo Menegat, Ângelaereira, Ângelo Menegat, Ângelaereira, Ângelo Menegat, Ângelaereira, Ângelo Menegat, Ângelaereira, Ângelo Menegat, ÂngelaFFFFFelippi, Alberelippi, Alberelippi, Alberelippi, Alberelippi, Alberto Bracagioli, Ari Henrique Uriarto Bracagioli, Ari Henrique Uriarto Bracagioli, Ari Henrique Uriarto Bracagioli, Ari Henrique Uriarto Bracagioli, Ari Henrique Uriartt, Dulphe Pinheirott, Dulphe Pinheirott, Dulphe Pinheirott, Dulphe Pinheirott, Dulphe PinheiroMachado Neto, Eros Marion Mussoi, Fábio José Esswein,Machado Neto, Eros Marion Mussoi, Fábio José Esswein,Machado Neto, Eros Marion Mussoi, Fábio José Esswein,Machado Neto, Eros Marion Mussoi, Fábio José Esswein,Machado Neto, Eros Marion Mussoi, Fábio José Esswein,FFFFFrancisco Rrancisco Rrancisco Rrancisco Rrancisco Roberoberoberoberoberto Caporal, Gerto Caporal, Gerto Caporal, Gerto Caporal, Gerto Caporal, Gervásio Pvásio Pvásio Pvásio Pvásio Paulus, Isabel Caraulus, Isabel Caraulus, Isabel Caraulus, Isabel Caraulus, Isabel Carvalho, Jaimevalho, Jaimevalho, Jaimevalho, Jaimevalho, JaimeMiguel WMiguel WMiguel WMiguel WMiguel Weberebereberebereber, João Carlos Canuto, João Carlos Costa Gomes,, João Carlos Canuto, João Carlos Costa Gomes,, João Carlos Canuto, João Carlos Costa Gomes,, João Carlos Canuto, João Carlos Costa Gomes,, João Carlos Canuto, João Carlos Costa Gomes,Jorge Luiz Aristimunha, Jorge Luiz Vivan, José AntônioJorge Luiz Aristimunha, Jorge Luiz Vivan, José AntônioJorge Luiz Aristimunha, Jorge Luiz Vivan, José AntônioJorge Luiz Aristimunha, Jorge Luiz Vivan, José AntônioJorge Luiz Aristimunha, Jorge Luiz Vivan, José AntônioCostabeberCostabeberCostabeberCostabeberCostabeber, José Mário Guedes, Leonardo Alvim Beroldt da, José Mário Guedes, Leonardo Alvim Beroldt da, José Mário Guedes, Leonardo Alvim Beroldt da, José Mário Guedes, Leonardo Alvim Beroldt da, José Mário Guedes, Leonardo Alvim Beroldt daSilva, Leonardo Melgarejo, Lino De David, Lisiane WSilva, Leonardo Melgarejo, Lino De David, Lisiane WSilva, Leonardo Melgarejo, Lino De David, Lisiane WSilva, Leonardo Melgarejo, Lino De David, Lisiane WSilva, Leonardo Melgarejo, Lino De David, Lisiane Wandscheerandscheerandscheerandscheerandscheer,,,,,Luiz Antônio RLuiz Antônio RLuiz Antônio RLuiz Antônio RLuiz Antônio Rocha Barcellos, Nilton Pinho de Bem, Rocha Barcellos, Nilton Pinho de Bem, Rocha Barcellos, Nilton Pinho de Bem, Rocha Barcellos, Nilton Pinho de Bem, Rocha Barcellos, Nilton Pinho de Bem, Renato dosenato dosenato dosenato dosenato dosSantos Iuva, RSantos Iuva, RSantos Iuva, RSantos Iuva, RSantos Iuva, Rogério de Oliveira Antunes, Soel Antonio Claro.ogério de Oliveira Antunes, Soel Antonio Claro.ogério de Oliveira Antunes, Soel Antonio Claro.ogério de Oliveira Antunes, Soel Antonio Claro.ogério de Oliveira Antunes, Soel Antonio Claro.

Editor REditor REditor REditor REditor Responsável: Joresponsável: Joresponsável: Joresponsável: Joresponsável: Jorn. Leandro Brixius - RP 9468n. Leandro Brixius - RP 9468n. Leandro Brixius - RP 9468n. Leandro Brixius - RP 9468n. Leandro Brixius - RP 9468Editoração de TEditoração de TEditoração de TEditoração de TEditoração de Texto: Mariléa Fexto: Mariléa Fexto: Mariléa Fexto: Mariléa Fexto: Mariléa FabiãoabiãoabiãoabiãoabiãoProjeto Gráfico e Ilustração: Sérgio BatsowProjeto Gráfico e Ilustração: Sérgio BatsowProjeto Gráfico e Ilustração: Sérgio BatsowProjeto Gráfico e Ilustração: Sérgio BatsowProjeto Gráfico e Ilustração: Sérgio BatsowDiagramação: Mairã Alves – Imprensa Livre EditoraDiagramação: Mairã Alves – Imprensa Livre EditoraDiagramação: Mairã Alves – Imprensa Livre EditoraDiagramação: Mairã Alves – Imprensa Livre EditoraDiagramação: Mairã Alves – Imprensa Livre EditoraRRRRRevisão: Vevisão: Vevisão: Vevisão: Vevisão: Volnei Matias da Rolnei Matias da Rolnei Matias da Rolnei Matias da Rolnei Matias da RochaochaochaochaochaFFFFFotografia: Kátia Fotografia: Kátia Fotografia: Kátia Fotografia: Kátia Fotografia: Kátia Farina Marcon, Rarina Marcon, Rarina Marcon, Rarina Marcon, Rarina Marcon, Rogério da S. Fogério da S. Fogério da S. Fogério da S. Fogério da S. FererererernandesnandesnandesnandesnandesPPPPPeriodicidade: Teriodicidade: Teriodicidade: Teriodicidade: Teriodicidade: TrimestralrimestralrimestralrimestralrimestralTiragem: 3.000 exemplaresTiragem: 3.000 exemplaresTiragem: 3.000 exemplaresTiragem: 3.000 exemplaresTiragem: 3.000 exemplaresImpressão: Gráfica e Editora PImpressão: Gráfica e Editora PImpressão: Gráfica e Editora PImpressão: Gráfica e Editora PImpressão: Gráfica e Editora PallottiallottiallottiallottiallottiDistribuição: Biblioteca da EMADistribuição: Biblioteca da EMADistribuição: Biblioteca da EMADistribuição: Biblioteca da EMADistribuição: Biblioteca da EMATER/RSTER/RSTER/RSTER/RSTER/RS

EMAEMAEMAEMAEMATER/RSTER/RSTER/RSTER/RSTER/RSRua Botafogo, 1051Rua Botafogo, 1051Rua Botafogo, 1051Rua Botafogo, 1051Rua Botafogo, 1051BairBairBairBairBairro Menino Deusro Menino Deusro Menino Deusro Menino Deusro Menino Deus90150-053 - P90150-053 - P90150-053 - P90150-053 - P90150-053 - Porororororto Alegre - RSto Alegre - RSto Alegre - RSto Alegre - RSto Alegre - RSTTTTTelefone: 51- 3233-3144elefone: 51- 3233-3144elefone: 51- 3233-3144elefone: 51- 3233-3144elefone: 51- 3233-3144FFFFFax: 51- 3233-9598ax: 51- 3233-9598ax: 51- 3233-9598ax: 51- 3233-9598ax: 51- 3233-9598

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A Revista Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável é umapublicação da Associação Riograndense de Empreendimentos deAssistência Técnica e Extensão Rural - EMATER/RS.Os artigos publicados nesta Revista são de inteira responsabilidadede seus autores.

CartasCartasCartasCartasCartasAs instituições interessadas em manter permuta podem enviar cartaspara a bibliotecária Mariléa Pinheiro Fabião, EMATER/RS, RuaBotafogo, 1051, 2° andar, Bairro Menino Deus, CEP90.150.053, Porto Alegre/RS ou para agroeco@emateragroeco@emateragroeco@emateragroeco@[email protected] 1519-1060

SUMÁRIO

EEEEEntrevistantrevistantrevistantrevistantrevista 5Ana Maria Primavesi e o manejo dos solos tropicais

OOOOOpiniãopiniãopiniãopiniãopinião 10Construindo uma Nova Extensão Ruralno Rio Grande no SulCaporal, F. R.; Costabeber, J. A.

AAAAArtigortigortigortigortigo 16Construyendo la sustentabilidad desde lo localHernández, J. M.

RRRRRelato de elato de elato de elato de elato de EEEEExperiênciaxperiênciaxperiênciaxperiênciaxperiência 24Leite a pasto: a experiência de Vista GaúchaSangaletti, V.

AAAAArtigortigortigortigortigo 33Qualidade da água em bacias hidrográficas ruraisMerten, G. H.; Minella, J. P.

EEEEEconotasconotasconotasconotasconotas 39

DDDDDica ica ica ica ica AAAAAgroecológicagroecológicagroecológicagroecológicagroecológica 41Urina de vacaBoemeke, L. R.

Eco Links 43

AAAAArtigortigortigortigortigo 44Estratégia para construção de indicadoresDeponti, C. M.; Eckert, C.; Azambuja, J. L. B.

AAAAAlterlterlterlterlternativa nativa nativa nativa nativa TTTTTecnológicaecnológicaecnológicaecnológicaecnológica 53Ensacamento de frutos: uma antiga práticaecológica para controle da mosca-das-frutasJoão, P. L.; Secchi, V. A.

RRRRResenhaesenhaesenhaesenhaesenha 59

NNNNNororororormas editoriaismas editoriaismas editoriaismas editoriaismas editoriais 62

Agroecol. e Desenvol. Sustent.| Porto Alegre| v.3| n.4 | p.1-64| out/dez 2002

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55555Agroecol. e Desenvol. Rur. Sustent. Porto Alegre, v.3, n.4, out/dez 2002

"O combate à pobreza é básico e depende darecuperação ambiental e da Agroecologia"

Brixius, Leandro*

Entrevista/ Ana Maria Primavesi

Praticar a agricultura ecológica, como vemdefendendo durante décadas, e continuar es-palhando o conhecimento sobre a necessida-de de compatibilizar agricultura com preser-vação ambiental são, atualmente, as princi-pais ocupações da professora e pesquisadora

*Jornalista da Emater/RS

Ana Maria Primavesi. Nascida em 1920, naÁustria, Ana Maria fala, desde a década de40, em agricultura ecológica e, principalmen-te, sobre solos, como evidencia seu livro Ma-

nejo Ecológico do Solo, obra de referência so-bre o tema em diversas universidades lati-no-americanas e européias. Hoje, além de pe-quena agricultora em Itaí, no interior de SãoPaulo, é pesquisadora da Fundação MokitiOkada e realiza palestras em diversos países."Estou plantando minha terrinha, trabalho noconselho científico da fundação e, de resto,estou andando por toda a América Latina dan-do cursos", contou Ana Maria Primavesi nes-ta entrevista à Agroecologia e Desenvolvimen-

to Rural Sustentável, realizada durante sua par-ticipação como palestrante no III SeminárioInternacional sobre Agroecologia, realizadoem setembro, em Porto Alegre. Além disso,fala sobre a diferença entre agricultura eco-lógica e orgânica, transgênicos, reforma agrá-ria e, é claro, manejo do solo.

Revista - A Sra. começou a falar em agri-

cultura ecológica já na década de 40, numa

época em que não se falava em cuidados

com a preservação do meio ambiente. Como

foi esse início?

Ana Maria - Eu ainda vivia numa épocaem que a agricultura química praticamentenão existia. A gente sabia que existiam osadubos químicos, pois as pessoas, em 1942,1943, já reclamavam dos efeitos, não queri-am mais comer os produtos com adubos quí-micos porque não tinham gosto. Os alimen-tos eram muito bonitos, mas não tinham sa-bor. As firmas, nessa época, diziam que eraimaginação das pessoas. Quem queria bo-tava, quem não queria, não botava. Nos anos60, começou a campanha da Revolução Ver-de, que aconteceu quando as firmas ameri-

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canas estavam indo à falência e precisa-ram procurar desesperadamente uma solu-ção. Então o mister Borlaug (Norman Borlaug,

um dos precursores da Revolução Verde), dis-se que a solução era justamente abrir aagricultura para a indústria química e me-cânica. Então, eles obrigaram as pessoas afazer monocultura. No Brasil, não existiamonocultura, a não ser de cana-de-açúcar.Com a monocultura, começaram os proble-mas das doenças e era preciso colocar ve-neno. Uma avalanche em que um arrastavao outro. O adubo químico, basicamente, éformado por três elementos e a planta ne-cessita de 45. Aí está o grande problema.Com esses três elementos, a planta está malnutrida, subalimentada. Com isso, começa-ram todas as doenças e o decorrente uso dospesticidas. Como cada pesticida está base-ado em algum mineral, induzia a uma defi-ciência de minerais que estavam em propor-ção com esse e então foi uma avalanche cadavez pior.

Revista - O que é o manejo ecológico do

solo?

Ana Maria - No manejo ecológico do solo,você tem que ter duas coisas: não virar a ter-ra mais profundamente do que ela suporta(15 centímetros) e colocar a matéria orgânicasempre na parte superficial para ter uma de-composição aeróbica. Com isso, você melhorao solo incrivelmente. Na Argentina, há dezanos trabalha-se com agricultura orgânica.Eles enterram a matéria orgânica até 40 cen-tímetros e a terra está dura. Por quê? Porqueesse negócio não dá certo. Primeiro, elesdestróem a estrutura do solo, a terra se as-senta, não tem poros, não cria nada, nem fixanitrogênio. Então, é um fracasso total. E ain-da custa caro!

Revista - Como a Sra. vê, atualmente, o

manejo dos solos?

Ana Maria - No momento, está completa-mente errado, pois pega-se o manejo utilizado

pelos americanos e aplica-se aqui no Brasil.Por exemplo, o potássio. Abaixo de 15ºC, o po-tássio não é absorvido. Cálcio, com terra fria,é cinco vezes menos absorvido que em terraquente. Então, eles (os agricultores americanos)necessitam um solo super rico para a plantaabsorver alguma coisa. Para nós, não. Então,eles mantêm o solo limpo com herbicida e ca-pina para captar calor, porque o máximo queo solo consegue captar é 14ºC. Aqui não, aquivai mais. Eu medi 74ºC, e um professor quetrabalha na África mediu 83ºC. Então, há umadiferencinha. E, a partir de 32ºC, a planta jánão absorve mais. Água quente ela não absor-ve. E nosso problema é que a matéria orgânicaque é colocada tem que servir à planta e não àmáquina que estão importando.

Revista - Por que as remoções profundas

não são indicadas para os solos tropicais?

Ana Maria - Nos trópicos, 80% dosmicroorganismos encontrados no solo sãofungos, que produzem enorme quantidadede antibióticos e têm sua vida inibida abai-xo de 15 centímetros. Antigamente, quan-do trabalhavam com aradinho de boi ou deburro, a lavração não ia abaixo de 12 ou 15centímetros e a terra se mantinha mais oumenos na parte superficial. Agora, com ara-do de tração mecânica, pode-se entrar de30 a 40 centímetros, virar a parte mortapara cima, que é desmanchada pela chu-va, entra solo e entope os poros. E aí a ter-ra fica dura, compactada. Todos me per-guntam o que fazer contra a compactação.No trópico não se pode fazer aração profun-da de jeito nenhum. Tem que ser rasa por-que a terra abaixo está morta. Na Américado Norte não, lá a terra está viva até abai-xo de 30 centímetros. Nos Estados Unidosainda há agregação por congelação, que nãoexiste aqui.

Revista - O plantio direto é colocado,

muitas vezes, como uma solução para o

manejo dos solos. Qual a sua opinião?

Entrevista/ Ana Maria Primavesi

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77777Agroecol. e Desenvol. Rur. Sustent. Porto Alegre, v.3, n.4, out/dez 2002

Entrevista/ Ana Maria Primavesi

Ana Maria - Plantio direto tem vantagense desvantagens. E a grande vantagem, quevi na única região que conheço onde o plan-tio direto é 100% certo, os campos gerais doParaná, os produtores conseguem uma ca-mada de seis ou sete centímetros de palhaacima do solo. Nas outras regiões, onde plan-tam monocultura de soja, eles têm no máxi-mo 1,5 centímetro, o suficiente para prote-ger o solo contra a erosão. É uma grandevantagem. Do outro lado, a pressão da má-quina é horrível. No plantio direto, a máqui-na é até cinco vezes mais pesada que a deplantio normal e, então, a compactação é vi-olenta. O segundo problema é que, no plan-tio direto, a rotação de culturas é necessá-ria, pois do contrário aumentam as pragas.E não só aumentam, mas elas mudam tam-bém. Praga das folhas passa a ser praga daraiz. Então há uma enorme quantidade depragas que agora atacam a raiz. Se eu sei adeficiência que há não tem problema, eu voucolocar nutriente e a praga desaparece. Seeu não sei, o combate é muito complicado,porque com veneno não se atinge. Então, oque fazem? Colocam o veneno já na linha deplantio. Então, a planta está muito mais ve-nenosa que com o cultivo normal.

Revista - Lutzenberger falava em agri-

cultura regenerativa. Outros falam em agri-

cultura orgânica. A Sra. refere-se a agricul-

tura ecológica. A Sra. poderia abordar essa

escolha e relacionar as diferenças entre

agricultura ecológica e orgânica?

Ana Maria - É completamente diferente.Na orgânica, você trabalha pelas normas eas normas não fazem nada mais do que tro-car um agente químico por um orgânico. Emlugar de, por exemplo, pegar adubo quími-co, você usa agora composto e, obrigatoria-mente, faz composto. Em lugar de algum de-fensivo químico você usa um caldinho. Masos caldinhos também podem ser tóxicos,também podem ter efeitos colaterais. Sem-

pre há minerais dentro. Eu não posso usartodos os dias. Então, o grande erro da agri-cultura orgânica é que, primeiro, continuacom toda a visão factorial, fator por fator,continua combatendo em lugar de evitar. Nofinal, a melhora que se consegue é muitopouca. Se produz mal porque não se sabeonde colocar a matéria orgânica, a produ-ção, normalmente, é miserável. Então, eunão vejo muita vantagem com esse tipo deagricultura. A não ser que é muito mais tra-balhoso e o agricultor é muito mais sacrifi-cado. Agora, na ecológica, eu vejo o inteiro.Então, eu vejo porque apareceu o sintoma.Eu não digo só “ah, tem um sintoma aqui,vamos combater”. Não, pergunto primeiro opor quê? Em minha propriedade, eu planteimilho e houve infestação da lagarta-do-car-tucho. A lagarta-do-cartucho é muito difícilde combater porque, se não tem aviação agrí-cola, não é possível pulverizar com bombanormal, já que o defensivo tem que entrarpor cima. Mas eu não pergunto como com-bater essa lagarta, mas por quê apareceuessa lagarta. E a lagarta só ataca porque omilho está deficiente em boro, então eu co-loco cinco, no máximo oito quilos de boraxpor hectare e pronto. Não tem lagarta-do-cartucho porque quando tem boro, não apa-rece mais, não consegue comer o broto.

Revista - Quais são os desafios que se

enfrenta hoje para alcançar uma agricultu-

ra socialmente justa e ecologicamente cor-

reta?

Ana Maria - Primeiro, nós precisamos defato uma reforma agrária, mas não uma re-forma agrária como está sendo feita hoje. Porexemplo, no Paraguai, é dada a melhor terrapara o assentado e não a pior. Aqui no Bra-sil, é só terra marginal. E segundo, eu nãoposso simplesmente assentar qualquer pes-soa. Reforma agrária no Rio Grande do Sul eem Santa Catarina funciona, porque são as-sentados ex-agricultores. Mas, se eles já per-

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deram uma vez sua terra, vão perder outravez, porque a tecnologia que eles têm nãopresta. Então, eu teria que ter uma assis-tência técnica muito boa para mostrar comofazer para não perder novamente a terra. Oterceiro ponto é que eu não posso simples-mente assentar como eles fizeram na Bolí-via, onde retalharam a terra e cada um rece-be meio hectare. Meio hectare não dá parauma família viver normalmente. Então, já nãoé reforma agrária, é criação de miséria. NoNordeste, por exemplo, o governo dá um pe-daço de terra e uma cabra. É muito bom,não?! Mas a cabra acaba com tudo, não dei-xa mais nada e forma deserto. Não é umasolução! O que ocorre com o homem que temuma cabra? Ele pega sua terra e planta. Masele já tem um nível de pobreza em que nãoproduz mais, só quer comer. Está tão famin-to que não pensa mais em produzir, só emcomer. Além disso, o agricultor realiza quei-madas cinco vezes por ano. A terra, depoisde cada queimada, está pior, mais dura,menos produtiva. No fim, crescem só umascoisinhas duras, que nem sustentam a ca-bra. Então, pela miséria aumenta a pobrezae pela pobreza aumenta a miséria. Por exem-plo, o governo dá uma cesta básica de ali-mentos para os pobres. Mas isso não é solu-ção, porque o homem, com isso, fica degra-dado de pobre para mendigo. Ele não eramendigo antes, ele quer trabalhar. O gover-no não sabe o que fazer porque não quer con-trariar os ricos que tem lá na região. Por isso,acha mais fácil dar uma cesta básica paracada um e não entrar mais profundamenteno problema. Tem que ver que a pobreza nãose combate com esmola! Eu tenho que ensi-nar o povo a trabalhar sua terra, mas ele temque ter a possibilidade de fazer isso. Não pos-so simplesmente comprar cinco mil cabras esoltar pelo Nordeste.

Revista - É possível obter maior pro-

dutividade e também preservar o meio

ambiente?

Ana Maria - Se você não preserva o meioambiente, a produção sempre vai ser baixa.Nós temos uma série de dados que mostramque, em uma região descampada, mas comsuficiente chuva ou irrigação, a colheita bai-xa até a metade do que poderia ser normal-mente somente pela ação do vento. Em umaépoca de seca, a colheita pode ser reduzidaem até cinco vezes. Isso quer dizer que, sehá metade da área florestada é possível co-lher idêntica quantidade que é colhida hojeno dobro da área que sofre com a ação dosventos. Então, quando dizem que não podeter Agroecologia, não pode fazer recuperaçãodo ambiente, porque precisam de toda a áreapara plantar, tudo bem, mas colhem tantomenos que não resolve o caso. E afora isso,pode-se implantar, nesse mato, árvores queproduzam. Por exemplo, se tiram toda a MataAmazônica para plantar soja e depois colheruma miséria, poderiam enriquecer o matocom cajueiro, castanheiro e outras plantas.Um estudo do governo do Acre constatou queenriquecer a mata dá 13 vezes mais lucro doque transformar em pastagens ou lavourasde soja. Então, por que não fazem? Porqueos americanos querem vender as porcariasdeles.

Revista - Qual sua opinião sobre a conces-

são de subsídios públicos para a agricultura?

Ana Maria - Antigamente, a agricultura fi-nanciava a indústria e mantinha o Estado.Ela funcionava. Hoje, a agricultura dependede créditos e está sempre endividada e qua-se quebrando. Então, talvez a agricultura pre-cise do recurso público para se recuperar, por-que ela está completamente estragada pela tãofamosa Revolução Verde. Mas, através daAgroecologia pode-se produzir tanto que aagricultura pode ser forte de novo. Eu nãoquero explorar, eu quero colocar a agricultu-ra saudável de novo na região! Sem a recupe-ração do meio ambiente a agricultura não fun-

Entrevista/ Ana Maria Primavesi

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99999Agroecol. e Desenvol. Rur. Sustent. Porto Alegre, v.3, n.4, out/dez 2002

ciona bem. Sem recuperar o meio ambientee sem agricultura você não vai combater apobreza e outra vez a pobreza destrói. Vocênão pode dizer: “para mim não interessa, por-que eu vou ter o suficiente para comer”. Senão tem água, ninguém come. Você não podecomer seu dinheiro. Sem água não tem o quebeber e nada para plantar e então acaba tudo.Então o combate à pobreza é básico e tem queser feito ao mesmo tempo que você faz a recu-peração do ambiente e uma agricultura base-ada na Agroecologia.

Entrevista/ Ana Maria Primavesi

AAAAA

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1 01 01 01 01 0Agroecol. e Desenvol. Rur. Sustent. Porto Alegre, v.3, n.4, out/dez 2002

O pinião

Construindo uma Nova Extensão Ruralno Rio Grande do Sul

* Engenheiro Agrônomo, Mestre em Extensão Rural(UFSM), Doutor pelo "Programa de Agroecología,

Campesinado e Historia", ISEC/ETSIAM, Universidad deCórdoba (España) e Diretor Técnico da EMATER/RS.

E-mail: [email protected]** Engenheiro Agrônomo, Mestre em Extensão Rural(UFSM), Doutor pelo "Programa de Agroecología,

Campesinado e Historia", ISEC/ETSIAM, Universidadde Córdoba (España) e Supervisor Regional da

EMATER/RS. E-mail: [email protected]

Esta reflexão parte do entendimento de queo desenvolvimento, em sua formulação maisampla, significa a realização depotencialidades sociais, culturais e econômi-cas de uma sociedade, em perfeita sintoniacom o seu entorno ambiental e com seus va-

Caporal, F. R. *Costabeber, J. A. **

lores políticos e éticos. De igual modo, enten-demos que a noção de subdesenvolvimentoque nos foi impingida, ao longo das últimascinco décadas, é resultado de uma criaçãoideológica e relacional que, comparando rea-lidades distintas, estabeleceu o que era en-tendido por sociedade desenvolvida, para logocarimbar com a marca subdesenvolvidas to-das as demais sociedades ou nações que nãose encontravam nas condições tidas como dedesenvolvimento. Nesse sentido, fomos esti-mulados e orientados a associar-nos a umalinha de pensamento linear e cartesiano quepretendia ser a única via possível para o de-senvolvimento agrícola e rural. Ademais, nosensinaram que o desenvolvimento era sinôni-mo de crescimento econômico, permanente eilimitado, e que as sociedades "atrasadas"deveriam superar etapas, deixando para trás

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1 11 11 11 11 1Agroecol. e Desenvol. Rur. Sustent. Porto Alegre, v.3, n.4, out/dez 2002

OpiniãoO pinião

as velhas tradições, incorporando, paulatina-mente, os ícones e ensinamentos da moder-nização. A busca pelo "progresso" passou aser uma corrida marcada por um voraz con-sumo de recursos naturais não renováveis.

No contexto desenvolvimentista, a transiçãopara uma agricultura "moderna" passou a sig-nificar o rompimento com as tradições e conhe-cimentos dos agricultores e sua substituição portecnologias genéricas, em geral importadas e,algumas vezes, testadas e validadas em nossoscentros de pesquisa. No mesmo esforço, as es-colas de nível médio e su-perior das Ciências Agrá-rias foram transformadasem laboratórios para a for-mação de profissionais etécnicos de receitas. Asbases científicas da Agro-nomia deram lugar a umprocesso de transmissãode informações muitasvezes desconectadas darealidade social eambiental, enfatizandoaspectos parcializados dasetapas da produção agrí-cola. A natureza, nessa ló-gica, passou a ser vista simplesmente como umconjunto de recursos a serem consumidos pelohomem ou como um depósito para dejetos eresíduos químicos usados nos processos pro-dutivos. Vale lembrar que sequer logramos ins-talar no país condições mínimas para analisaradequadamente todos os agentes químicos queutilizamos na agricultura.

Passadas algumas décadas de desenvolvi-mentismo, estamos vendo cair por terra um porum dos ícones da modernização agrícola. A Re-volução Verde, que prometia resolver o proble-ma da fome no mundo, revelou-se um fracasso,existindo hoje mais de 800 milhões de famintosem nosso planeta. É bem verdade que houveuma melhoria na produção e na produtividade

de alguns produtos, em algumas regiões e emalguns países. Entretanto, esse sucesso relati-vo da estratégia da modernização agrícola foiacompanhado de graves problemas sociais, eco-nômicos e ambientais que, paulatinamente, pas-saram a se expressar na forma de diferenciaçãoe exclusão social, empobrecimento eendividamento de agricultores. Sabemos que,pouco a pouco, muitos dos cientistas que ensi-navam e recomendavam o uso dos pacotestecnológicos vêm agora reorganizando seus co-nhecimentos e abdicando de certas convicções

técnicas, dados os pro-blemas que foram se evi-denciando. Do mesmomodo, imersos queestamos em uma crisesocioambiental de gran-des proporções, pensaro desenvolvimento noslevou a uma reflexão crí-tica sobre o papel de ins-tituições de apoio ao de-senvolvimento rural,como são os serviços deextensão rural públicaou privada.

Como todos sabe-mos, a crítica ao extensionismo convencionalse iniciou com Paulo Freire, nos anos 60, e teveseu auge no período da Nova República, com ochamado Repensar da Extensão Rural. Estacrítica ganhou novos contornos nos anos 1990,quando passaram a se destacar duas grandescorrentes: a da privatização e/ou transferênciado serviço (e recursos) de assistência técnica eextensão rural (ATER) para o terceiro setor(ONGs, OCIPs, municipalização, etc.) e aquelaque seguirá defendendo a necessidade de umaextensão rural pública, gratuita e de qualidadepara a agricultura familiar (que se consolidouno Workshop Nacional de ATER, promovido pelaFASER, ASBRAER, CONTAG, FAO e MA, em1997). Já no final da década de 1990, estava

"Inúmeros estudos também mos-

travam que o papel do Estado

no desenvolvimento rural preci-

sava ser outro, estimulando ou-

tras formas de desenvolvimento

e estilos de agricultura de base

ecológica compatíveis com os

preceitos da sustentabilidade."

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1 21 21 21 21 2Agroecol. e Desenvol. Rur. Sustent. Porto Alegre, v.3, n.4, out/dez 2002

claro que era insuficiente, senão desnecessá-ria, uma ATER pública para transferir os mes-mos pacotes tecnológicos aos agricultores. Inú-meros estudos também mostravam que o papeldo Estado no desenvolvimento rural precisavaser outro, estimulando outras formas de desen-volvimento e estilos de agricultura de base eco-lógica compatíveis com os preceitos da susten-tabilidade. Ademais, as lições do passado mos-travam que a metodologia de intervenção no pro-cesso de desenvolvimento rural deveria pautar-se pelo respeito às experi-ências históricas, valoresculturais e éticos, assimcomo às diversidades ét-nicas e ambientais das co-munidades rurais.

No Rio Grande do Sul,as recomendações doWorkshop Nacional de1997, assim como os no-vos estudos sobre ATER,voltaram a ser discutidosem 1998 e conformaramas bases para os debatesocorridos por ocasião daposse da nova diretoria daEMATER/RS-ASCAR(Gestão 1999-2002), pas-sando a ser um importan-te insumo para a construção do PlanejamentoEstratégico da Nova Extensão Rural, levado acabo pelos Colegiados Funcional e Executivo,ainda no primeiro semestre de 1999. Daí nas-ceu a nova Missão Institucional da EMATER/RS-ASCAR, que se propõe a "promover a cons-

trução do desenvolvimento rural sustentável,

com base nos princípios da Agroecologia, atra-

vés de ações de assistência técnica e de exten-

são rural e mediante processos educativos e

participativos, objetivando o fortalecimento da

agricultura familiar e suas organizações, de

modo a incentivar o pleno exercício da cidada-

nia e a melhoria da qualidade de vida".

Não foi por acaso que o Conselho Técnico eAdministrativo (CTA) abriu suas portas ao in-gresso das várias entidades de representação daagricultura familiar e movimentos sociais (estan-do dadas as condições para a inclusão de repre-sentações de pescadores artesanais, indígenas equilombolas). Isso permitiu que o CTA se tor-nasse ainda mais democrático e representativodo público da ATER. Também não foi por acasoque a Missão Institucional orientou para cincograndes eixos: a) o desenvolvimento rural sus-

tentável; b) a Agroecolo-gia como base científica;c) a ATER com base emmetodologias educativase participativas; d) o for-talecimento da agricultu-ra familiar e suas orga-nizações; e e) o resgate dacidadania e melhoria daqualidade de vida. Estespreceitos nasceram deum ideal de sustentabi-lidade e eqüidade social(presentes nos debatessobre desenvolvimento edesenvolvimento rural,desde os anos 1970) e doimperativo socioambien-tal da nossa época, sus-

tentando a inclusão da Agroecologia não comoum programa ou projeto, mas sim como a basecientífica e orientadora de todas as ações da NovaExtensão Rural, uma Extensão Rural que, alémde contribuir nos processos sócio-econômicos,procura articular a dimensão ecológica nas es-tratégias de desenvolvimento rural culturalmenteaceitáveis e capazes de manter e dar estabilida-de ao tecido social das unidades de produçãofamiliar, ao mesmo tempo em que busca reduzirimpactos negativos nos agroecossistemas, pro-duzir alimentos sadios e assegurar a geração depostos de trabalho e de renda no meio rural.

Sob esta perspectiva, a Nova Extensão Ru-

"A Nova Extensão Rural

direciona suas ações para

promoção de estilos de agricul-

tura e de desenvolvimento rural

que respeitem as condições es-

pecíficas de cada agroecossiste-

ma e apoiem a preservação e o

resgate da diversidade biológica

e cultural."

O pinião

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1 31 31 31 31 3Agroecol. e Desenvol. Rur. Sustent. Porto Alegre, v.3, n.4, out/dez 2002

ral incorpora princípios e enfoques técnicos emetodológicos distintos dos convencionais,direcionando suas ações para a promoção deestilos de agricultura e de desenvolvimentorural que respeitem as condições específicasde cada agroecossistema e apóiem a preserva-ção e o resgate da diversidade biológica e cul-tural. Tendo como objetivo um manejo ecolo-gicamente prudente dos recursos naturais -sustentado na participação ativa dos atoresenvolvidos -, as ações extensionistas passarama orientar-se pela busca de segurança alimen-tar e produção de alimentos de qualidade bio-lógica superior, privilegiando, ademais, a cons-trução de plataformas de negociação para as-segurar a participação popular e o diálogo en-tre os sujeitos envolvidos no processo. Assim,o ideal de sustentabilidade, que conforma onúcleo da Nova Extensão Rural, exige que en-tendamos a agricultura como um processo deconstrução social e não simplesmente como aaplicação de algumas tecnologias geradoras dedependência e de externalidades negativas.

Diante deste desafio, a ATER gaúcha adotouum novo conceito, o de Extensão Rural Agroeco-

lógica, entendida como uma "intervenção de ca-

ráter educativo e transformador, baseado em

metodologias de investigação-ação participante

que permitam o desenvolvimento de uma prática

social mediante a qual os sujeitos do processo bus-

cam a construção e sistematização de conhecimen-

tos que os leve a incidir conscientemente sobre a

realidade. Ela tem o objetivo de alcançar um mo-

delo de desenvolvimento socialmente eqüitativo e

ambientalmente sustentável, adotando os princí-

pios teóricos da Agroecologia como critério para o

desenvolvimento e seleção das soluções mais ade-

quadas e compatíveis com as condições específi-

cas de cada agroecossistema e do sistema cultu-

ral das pessoas envolvidas no seu manejo". EstaExtensão Rural Agroecológica se constitui numesforço de intervenção planejada, para o esta-belecimento de estratégias de desenvolvimen-to rural sustentável, com ênfase na participa-

ção popular, na agricultura familiar e nos prin-cípios da Agroecologia, como orientação para apromoção de estilos de agricultura socioam-biental e economicamente sustentáveis. Narealidade, se trata de um enfoque de interven-ção no meio rural oposto ao difusionismoreducionista e homogeneizador que auxiliou aimplantação do modelo de agricultura de tipoRevolução Verde.

A noção de desenvolvimento rural susten-tável, como sabemos, supõe o estabelecimentode estilos de agricultura sustentável que nãopodem ser alcançados mediante a simplestransferência de tecnologias, característicachave da "antiga extensão rural". De fato, atransição agroecológica indica a necessidadede construção de conhecimentos sobre distin-tos agroecossistemas, determinando que aNova Extensão Rural privilegie estratégias,metodologias e tecnologias compatíveis com osrequisitos desse novo processo. Reafirmamosque essa nova perspectiva teórica e operativanão coincide com o modelo tradicional(centrado na transferência de tecnologias eadotado pela extensão convencional) e pareceser mais adequada quando se trata de buscarobjetivos de eqüidade e sustentabilidade, atéporque o enfoque agroecológico encara os sis-temas agrícolas -ou agroecossistemas- comounidades fundamentais de estudo, onde co-evoluem culturas específicas em interação en-tre si e com o ambiente natural, exigindo novaabordagem nas formas de intervenção.

Desde a perspectiva da Agroecologia, então,antes de definir qual modelo tecnológico deveser adotado na agricultura, é necessário bus-car a identificação de valores e princípios queorientarão a construção de uma sociedade quecontemple o imperativo ambiental e o enfren-tamento aos problemas sócio-econômicos denossa época. Ressalte-se que esse enfoque pro-põe formas distintas de intervenção nosagroecossistemas, partindo de uma perspecti-va de desenvolvimento local sustentável e ten-

OpiniãoO pinião

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1 41 41 41 41 4Agroecol. e Desenvol. Rur. Sustent. Porto Alegre, v.3, n.4, out/dez 2002

do em conta as interações complexas entrepessoas, cultivos, solos, animais e outros, quetêm lugar dentro de cada agroecossistema e deforma diferenciada entre eles.

Operacionalmente, a Nova Extensão Ruraltem em conta, em primeiro lugar, a idéia desistemas e o enfoque holístico, adotando umavisão dos agroecossistemas como uma totali-dade, o que implica a exigência de uma nova econtinuada formação técnico-social dos exten-sionistas e, sobretudo, o reconhecimento da im-portância da participação dos atores sociaiscomo parte desse todo.Em segundo lugar, partedo reconhecimento deque existe uma estreitarelação entre o desenvol-vimento da cultura hu-mana e as estratégias deapropriação dos recursosnaturais não renováveis,isto é, cultura e natureza

se influenciam mútua epermanentemente, de-vendo os estudos deagroecossistemas levarem conta estas relaçõesde interdependência, o que pressupõe a neces-sidade de recuperação da história de vida dosdiferentes grupos sociais com quem estabele-ce uma interface. Assim, ao contrário dosenfoques convencionais, segundo os quais osextensionistas eram formados para substituira subcultura camponesa (considerada por algunsautores como atrasada e obstáculo ao progres-

so), desde a perspectiva da Extensão Rural Agro-ecológica o estudo de sociedades e grupos soci-ais exige não só o respeito à diversidade cultu-ral, mas a capacidade de integrar e sistemati-zar aspectos históricos, culturais, sócio-econô-micos e ambientais presentes em cada agroe-cossistema.

A ênfase no saber local exige que o conheci-mento do extensionista não continue sendo con-

siderado como o único válido. A compreensão deque os grupos ou as comunidades desenvolve-ram conhecimentos próprios, derivados de suasexperimentações e segundo suas necessidadeshistóricas e modos de vida específicos, determi-na que a Nova Extensão Rural passasse a adotaruma nova prática. Neste sentido, a Agroecologiadestaca o papel conjunto que devem ter os agri-cultores e os agentes externos na construção,desenvolvimento e adaptação de tecnologias parasituações locais específicas, de maneira que serestabeleça a necessidade de considerar as

racionalidades e lógicaspróprias dos diferentesestilos de agricultura, naperspectiva de construircontextos de sustentabi-lidade.

Seguindo essa lógica,a Nova Extensão Ruralprocura potencializarestilos de desenvolvi-mento endógeno e pro-mover o uso parcimoni-oso dos recursos natu-rais e meios disponí-veis, relativos às formas

culturais, sociais, políticas, assim como àsbases econômicas existentes. Considera-seque as estratégias agroecológicas de desen-volvimento rural não podem orientar-se sim-plesmente pela acumulação de metas de cres-cimento econômico, produção e produtivida-de, mas devem apoiar também aquelas mu-danças que conduzam a uma maior seguran-ça alimentar, a melhores níveis de educação,de saúde e bem-estar, ao mesmo tempo emque promovam uma maior eqüidade social eque garantam maior proteção ambiental nosprocessos produtivos. Essas estratégias devemter como eixo central as várias dimensões dasustentabilidade: econômica, social,ambiental, cultural, política e ética.

A Nova Extensão Rural ainda parte do pres-

"A noção de desenvolvimento

rural sustentável supõe o estabe-

lecimento de estilos de agricultu-

ra sustentável que não podem

ser alcançados mediante a

simples transferência de

tecnologias."

O pinião

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1 51 51 51 51 5Agroecol. e Desenvol. Rur. Sustent. Porto Alegre, v.3, n.4, out/dez 2002

suposto de que, se os objetivos de proteçãoambiental e de inclusão social são realmenteuma exigência da sociedade do terceiro milê-nio, faz-se necessário que o Estado atue de for-ma decisiva, provendo serviços de ATER, públi-cos e gratuitos, à agricultura familiar e a outrospúblicos que necessitam de seu apoio. Mesmosem entrar no debate teórico que trata acercade Bens Públicos e Bens Privados, é preciso as-sinalar que o serviço de Extensão Rural Agroe-cológica, como processo educativo e responsá-vel por parte da formação dos agricultores, quedefende o meio ambiente, trabalha para a pro-dução de alimentos sadios e apóia estratégiasde desenvolvimento de interesse da sociedade,constitui um importante Bem Público. Então,sua oferta gratuita deve ser assumida como umaobrigação permanente do Estado.

Finalmente, a práxis da Nova Extensão Ru-ral pretende contribuir para a construção deestilos de desenvolvimento rural que persigam asolidariedade entre as gerações atuais, sem per-der de vista a solidariedade que deve serconstruída entre as atuais e as futuras gera-ções. Contudo, nenhuma mudança institucio-nal ou na prática dos agentes de Extensão Ru-ral poderá ocorrer sem que se estabeleça umprocesso permanente de formação-ação-refle-xão, como forma de superação gradual dos obs-táculos que surgem nessa caminhada. Qual-quer proposta transformadora precisa enfren-tar também certos entraves característicos dasInstituições, assim como um certo grau de re-sistência interna às mudanças, a carência deconhecimentos novos que passam a ser reque-ridos, a exigência de esforços para a constru-ção e internalização de novas bases teóricas emetodológicas. É preciso superar ainda a even-tual resistência advinda de setores da socieda-de rural que por ventura se sintam menos con-templados em seus interesses e expectativas.Ademais, nenhuma transformação profundanas organizações de Extensão Rural da esferapública, ou a ela conveniada, pode ser alcançada

OpiniãoO pinião

sem o decisivo apoio do Estado.Em síntese, o serviço oficial de Extensão Ru-

ral do Rio Grande do Sul, como Bem Público,vem demonstrando ser possível a existência deuma empresa com o porte estrutural daEMATER/RS (que é, provavelmente, uma dasmaiores instituições de ATER da América Lati-na), que responda aos novos anseios da socie-dade e ao processo de ecologização que estáem curso no mundo inteiro. Por essa razão,acreditamos, de forma convicta, que as mu-danças introduzidas na Extensão Rural gaú-cha vêm fazendo com que EMATER/RS se con-verta em paradigma para uma Nova ExtensãoRural: uma Extensão Rural Agroecológica. Oesforço empreendido e os resultados alcança-dos pela EMATER/RS, nos últimos 4 anos, noque diz respeito à capacitação de extensionis-tas e agricultores, à produção de material téc-nico, à adoção de metodologias participativas,ao resgate de conhecimentos locais, à melho-ria da qualidade de vida, à realização de even-tos de nível internacional e ao processo de tran-sição agroecológica, apenas para citar algunsavanços, servem como parâmetro para a com-paração com o passado e como referência parao futuro. Esta é a nossa opinião.

AAAAA

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A r t igo

Construyendo la sustentabilidad desdelo local: la experiencia de la Red

de Alternativas Sustentables Agropecuariasde Jalisco, México*

Hernández, Jaime Morales**

Resumen

El modelo de desarrollo rural seguido porMéxico ha causado una profunda crisis,

* Este texto está basado en la ponencia presentada enel II Seminario Internacional sobre Agroecología,

realizado en Porto Alegre, RS (Brasil), 26 a 28 denoviembre del 2001.

** Dr. en Agroecología, Investigador del Centro deInvestigación y Formación Social del Instituto Tecnológi-co y de Estudios Superiores de Occidente (ITESO),

Guadalajara, Jalisco (México) y Asesor de laRASAJ. El texto es el resultado del trabajo de

agricultores y asesores de la Red, el autor solo reúne ysistematiza el caminar de todos los participantes a lo

largo de tres años. Email: [email protected]

agudizada por las políticas neoliberales que hancolocado al sector agropecuario en un procesode insustentabilidad intensiva. En todo el país,crecen los intentos de distintos actores socialespor encontrar alternativas de desarrollo ruraldesde la perspectiva de la sustentabilidad. LaRed de Alternativas Sustentables Agropecuariasde Jalisco es un esfuerzo más en esta búsqueda,y en ella participan catorce grupos decampesinos, indígenas y mujeres, acompañadospor ONGs y universidades. La Red realizaprocesos de formación, extensión y promocióna través de encuentros, talleres y materiales dedifusión. A lo largo de tres años las alternativastecnológicas de la Red han mostrado suviabilidad económica, social y ecológica. La Redse enfrenta ahora a tres retos principales: la

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A r t igo

participación de agricultores jóvenes, laarticulación con otros movimientos sociales yel comercio justo de sus productos ecológicos.

Palabras clave: Localidad, redes, alterna-tivas agroecológicas, sustentabilidad rural

1 IntroducciónEl desarrollo rural en México se inscribe

dentro de un modelo global que se encuentraen crisis, si bien se ha tenido como resultadoel aumento temporal de los niveles deproductividad en algunos cultivos, el hambrey la desnutrición se incrementan. Este mode-lo, además, ha causado graves impactosculturales y sociales en las comunidadesrurales y un creciente deterioro sobre los re-cursos naturales en todo el mundo.

Estos impactos adquieren dimensionesglobales y han despertado la preocupación deorganizaciones de agricultores, de consumido-res y de ecologistas, y en menor medida deinstituciones internacionales y gobiernos. Apesar de las diferentes posiciones, hay uncreciente consenso respecto a la necesidad debuscar sistemas de producción agropecuariosy forestales que, por un lado, atiendan a unautilización más cuidadosa de los recursosnaturales y, por otro lado, a las característicasculturales de las familias y comunidades rurales.

Y así, en diversas partes del mundo, deAmérica Latina y de México, existen distintasorganizaciones y redes de campesinos e indí-genas, de consumidores, organizaciones nogubernamentales, centros de investigación,universidades e instituciones, que buscancaminos de desarrollo diferentes para el cam-po, en los cuales se fortalezcan las familiascampesinas, se conserven los recursosnaturales y se aumente la producción. Labúsqueda de alternativas a la crisis en Méxi-co continúa creciendo y en todo el país existenexperiencias que muestran la viabilidad de las

estrategias de desarrollo rural alternativas.La Red de Alternativas Sustentables

Agropecuarias de Jalisco (RASAJ) nace comoresultado de distintas experiencias rurales dediferentes grupos de campesinos, de indíge-nas, de mujeres, acompañados pororganizaciones no gubernamentales y univer-sidades. Estas experiencias locales seinscriben desde su diversidad, en unabúsqueda común de estrategias alternativasde desarrollo rural sustentable para la agri-cultura familiar, campesina e indígena.

El presente texto da cuenta del caminoandado por la RASAJ, sus actividades,aprendizajes y retos. Su propósito es mostraruna experiencia iniciada desde procesoslocales, con avances que perfilan, por un lado,la viabilidad de la agricultura familiar, y, porotro, la pertinencia del trabajo en redesregionales para la construcción del desarrollorural sustentable.

2 El medio rural en México:una ubicación contextualEl desarrollo de México, a partir de los años

cuarenta, se orientó a la urbanización y a laindustrialización como los únicos objetivos dela modernización. Así, el sector rural seconstituyó en la base económica para eldesarrollo y las políticas agropecuarias sedirigieron a que el campo financiara elcrecimiento urbano e industrial. A lo largo deeste tiempo, el país fue un ejemplo clásico y,en apariencia, exitoso, del modelo de desarrollomodernizador y de la Revolución Verde: elsector agrario cumplió con creces las funcio-nes asignadas y sirvió de base para laindustrialización y la urbanización de México.

A inicios de los años setenta el sector ruralentró en una profunda crisis y la agricultura,que financió el crecimiento del sector indus-trial y los procesos de urbanización, sufrió unproceso de empobrecimiento que se expresó

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A r t igo

en la caída de la producción y la pérdida de laautosuficiencia alimenticia. A partir de estosmomentos, el sector rural fue abandonado ynunca le fueron retribuidas, ni por laindustria, ni por las poblaciones urbanas, susaportaciones al desarrollo nacional.

A mediados de los ochentas, se inician lasnegociaciones para establecer el TratadoTrilateral de Libre Comercio de América delNorte (TLCAN), que integra a Estados Unidos,Canadá y México. Ello implicó un profundocambio en el marcoconstitucional, en elTLCAN, seinstitucionalizan las po-líticas neoliberales conel objetivo de lograr lamodernización rural yatraer las inversionesexternas hacia el sectoragrario. El TLCAN noreconoce las diferenciasentre los sectoresagrarios de los tres paí-ses y somete la agricul-tura mexicana a lasdecisiones de sus sociosy a la competencia conuna de las agriculturasmás subsidiadas delmundo, lanorteamericana. El TLCAN ha significado latransformación profunda del medio rural me-xicano y alterado sus formas organizativas yproductivas, presentando una sombría pers-pectiva para los campesinos y sus familias.

2.1 Los r esul t ad os d el d esar r o l l o r ur al

Los resultados de este modelo de desarrollorural permiten analizar sus seriaslimitaciones, si bien México se urbanizó y selogró convertir a un país rural en urbano, lamigración del campo a la ciudad dio como re-sultado las grandes concentraciones citadi-

nas, dónde la baja calidad de vida, eldesempleo, la violencia y la marginación sonel verdadero rostro del sueño urbano para lasgrandes mayorías. El traslado de recursoshumanos, naturales y financieros desde elcampo para favorecer la industrialización deMéxico, se realizó y el país logró conformaruna planta industrial moderna. Sin embargo,este sector productivo fue incapaz dedesarrollar una estructura competitiva queabsorbiera la mano de obra rural y generara

recursos para eldesarrollo del resto delos sectores, y ahora seencuentra en unasituación de recesiónproductiva. A cambio, elmedio rural mexicano seencuentra sumido enuna compleja crisis conmúltiples dimensiones -social, ecológica, cultu-ral, económica-, quedura ya varios sexenios.

La crisis social seexpresa en unadistribución más desi-gual de ingresos. Así,hay en el país 37 millo-nes (el 38% de lapoblación nacional) en

pobreza y extrema pobreza, todos ellos seubican en el campo e incluyen a la totalidadde los indígenas. En términos sociales, los máspobres y más marginados del país viven en elmedio rural (BANCO MUNDIAL, 2002).

La crisis ecológica ha sido causada por laimplementación intensiva de la tecnología dela Revolución Verde. El deterioro de losecosistemas rurales crece en formaincontrolable, incrementando la presión so-bre los recursos naturales. México seencuentra en una crisis ambiental muy gravey el sector rural se encuentra afectado por la

"...hay un creciente consenso

respecto a la necesidad de bus-

car sistemas de producción

agropecuarios y forestales que,

por un lado, atiendan a una

utilización más cuidadosa de los

recursos naturales y, por otro

lado, a las características

culturales de las familias y comu-

nidades rurales."

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A r t igo

deforestación acelerada, la erosión de lossuelos, la contaminación de aguas y suelos,la pérdida de la biodiversidad natural y ladiversidad genética.

La dimensión cultural de la crisis muestracomo las estructuras comunitarias yculturales existentes en la sociedad rural hansido profundamente alteradas por el procesode modernización y las formas rurales de vidase ven amenazadas de extinción, ante ladestrucción de sus culturas. El asunto es aúnmás grave con los pueblos indígenas presen-tes en el país, baste decir que en 1900existían 240 lenguas y hoy solo quedan 55(TOLEDO, 1991).

La crisis rural tiene, además, unadimensión económica: las actividadesagropecuarias han dejado de ser viables parala pequeña y mediana producción, donde seubican alrededor del 90% de los agricultores.La apertura unilateral de las importacionessubsidiadas, la caída de los precios agrícolas,la carencia de estrategias de apoyo y los altoscostos del crédito son algunas de las razonesde esta crisis. Ahora el campo mexicano sufrela despoblación, a causa de la pobreza, queobliga a miles de mexicanos a emigrar a lasgrandes ciudades y a Estados Unidos.

Así, el Estado mexicano, al aplicar hastala ortodoxia el modelo neoliberal, ha intensi-ficado las tendencias hacia lainsustentabilidad y manteniendo al sectorrural en una profunda crisis en lo ecológico,lo social, lo cultural y lo económico.

2.2 El contexto ruralen Jal isco

El estado de Jalisco se ubica en el centrooccidente de México y cuenta con unasuperficie de 81,000 km2, con una poblaciónde 6,3 millones de habitantes, de los cualesel 58% se concentran en su capital, Guada-lajara (ITESO, 2000). La agricultura tiene unadilatada historia que se remonta a 4,000 años

de presencia en la región y, a lo largo de estostiempos, las diversas culturas que se hanasentado en el territorio de Jalisco hanestablecido diferentes relaciones con susespacios naturales, dando lugar así a unaamplia diversidad productiva.

El modelo de desarrollo seguido por Méxi-co encontró en la agricultura de Jalisco unescenario ideal para la modernización rural,y se aplicaron políticas públicas, que llevaronal estado a convertirse en el principalproductor nacional agropecuario. Así, el cam-po de Jalisco parecía demostrar la viabilidaddel modelo y el ejemplo a seguir por otros es-tados de México. Sin embargo, el campo deJalisco muestra también los altos costossociales, culturales y ambientales de estemodelo y, a pesar de sus éxitos productivos,Jalisco acompaña a todo el medio rural mexi-cano en su prolongada crisis.

Asimismo, la emigración rural es constan-te y en los últimos diez años se ha reducido lapoblación de 100 de los 124 municipios delestado, y un 30% de la PEA (PoblaciónEconómicamente Activa) trabaja en EUA(ITESO, 2000). Ello ha llevado a ladesarticulación paulatina de la agriculturafamiliar y, por supuesto, a la desintegraciónde las comunidades rurales y sus identidadesculturales. Por otro lado, la aplicación de unmodelo tecnológico basado en el monocultivoha destruido la agricultura diversificada ydeteriorado en forma intensiva los suelos, elagua y la vegetación.

En este contexto, la pequeña y la medianaproducción agropecuaria en Jalisco seencuentran en una grave crisis y enfrentanun escenario adverso en distintos ámbitoslocales, nacionales y globales. Es precisamenteen esta coyuntura dónde se inicia el caminarde la Red de Alternativas SustentablesAgropecuarias de Jalisco (RASAJ).

3 La Red de Alternativas

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SustentablesAgropecuarias de Jalisco

La Red de Alternativas SustentablesAgropecuarias de Jalisco (RASAJ) nace ennoviembre de 1999, a partir de las relacionese intercambios entre diferentes experienciasy se entiende como un espacio de encuentroen la búsqueda de caminos alternativos parael desarrollo rural. En su construcción,intervienen diversos actores sociales:campesinos, indígenas, familias rurales,mujeres campesinas, pobladores urbanos. LaRed está formada por cerca de 200 familiasrurales ubicadas en 14 municipios de Jalisco,y en ella participan también tresorganizaciones no gubernamentales y tresuniversidades estatales. Si bien estasexperiencias se realizan a partir de diferen-tes abordajes y metodologías, existe una seriede elementos en común: a) se orientan a for-talecer la agricultura familiar diversificada;b) buscan dignificar la cultura y la vida rural;c) atienden a actores sociales marginados; d)se encuentran insertos en movimientossociales más amplios; e) proponen a lasustentabilidad como un eje de susestrategias; y f) tienen su origen en procesoscomunitarios y locales. La Red de Alternati-vas Sustentables Agropecuarias tiene lossiguientes objetivos:

• Generar conocimientos para contribuira resolver los problemas del campo en Méxi-co;

• Fortalecer la formación en agriculturaecológica de los campesinos y técnicos de laRed;

• Difundir las experiencias y losconocimientos a través de materialesdidácticos;

• Comercializar de manera alternativa losproductos ecológicos de la Red;

• Mantener una estructura funcional,participativa y democrática.

La Red orienta sus acciones desde la baseconceptual y metodológica, que ofrecen laAgroecología y la Investigación Participativa.La Agroecología es una de las orientacionesteóricas que participan en la construcción deun desarrollo rural desde el pensamiento al-ternativo y se genera como una respuesta alreto del un desarrollo sustentable (SEVILLA;WOODGATE, 1997). Las aportacionesmetodológicas de la Agroecología, que seorientan a la integración de las cuestionessociales y ambientales, así como su idea cen-tral de atender a la sustentabilidad delagroecosistema, han favorecido unacercamiento más integral en el trabajo dediseño y evaluación participativa de las alter-nativas tecnológicas.

Es desde el pensamiento de Paulo Freire(1985) que se generan las ideas centralesde la Educación Popular, que sentaron lasbases para una metodología de trabajo alter-nativa con las poblaciones rurales yorientaron el trabajo de los asesores agríco-las hacia un diálogo continuo con los agri-cultores. Ello ha permitido el cambio haciaformas de educación rural orientadas no ala aceptación acrítica de la modernizaciónrural, sino, por el contrario, a latransformación de la realidad rural. LaEducación Popular ha aportado a la Red tresorientaciones metodológicas fundamentales:la Investigación Participativa, el Diálogo deSaberes y el Intercambio Campesino aCampesino.

3.1 Las actividades de la Red

a) Los Encuentros de IntercambioEl eje de articulación de la RASAJ han sido

los encuentros de intercambio entre los gru-pos campesinos, y esta actividad continúateniendo un peso importante en el caminarde la Red. Los encuentros se organizan

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2 12 12 12 12 1Agroecol. e Desenvol. Rur. Sustent. Porto Alegre, v.3, n.4, out/dez 2002

rotativamente cada cuatro meses en las co-munidades y en ellos el grupo anfitrión com-parte con los otros grupos de la Red susexperiencias prácticas y conocimientos enagricultura ecológica (abonos, semillas,policultivos, bioinsecticidas).

En los encuentros es fundamental el diá-logo e intercambio de conocimientos y semillasentre los campesinos asistentes. Además, exis-te el trueque y la venta de productos de losgrupos. Por otra parte, en los encuentros sepropician momentos dediscusión acerca de lacoyuntura global y naci-onal en el sector rural ysus impactos en lasfamilias campesinas deJalisco. En tres años defuncionamiento de laRed, se han realizadodoce encuentros en dife-rentes comunidades ycon una asistenciapromedio de 80 partici-pantes, en su mayoríafamilias campesinas eindígenas.

b) Los Talleres de FormaciónOtra actividad central son los talleres de

formación en agricultura ecológica, que vandirigidos a un público amplio compuesto porcampesinos, indígenas, amas de casa,pobladores urbanos, estudiantesuniversitarios y técnicos del estado yorganizaciones no gubernamentales.

Los talleres se realizan siempre con unfuerte componente práctico y conllevantambién a un seguimiento técnico, por partede la Red, a aquellos grupos organizados einteresados en la producción ecológica de ali-mentos, ya sea en el campo o en las zonasmarginadas urbanas. La Red en este lapsoha organizado treinta talleres de formación,

y con ello se ha podido ampliarconsiderablemente el número de personasencaminadas hacia formas de producciónmás sustentables.

c) Los Materiales de DifusiónUna actividad importante ha sido la

elaboración de materiales didácticos queayuden en los procesos de formación en talleresy encuentros. La base para realizar estosmateriales son las propias experiencias de los

campesinos de la Red,sistematizadas en for-matos comprensiblespara un público amplio.

Así, se han impresofolletos, trípticos y tex-tos que dan cuenta detecnologías deproducción ecológica.Además, se hanproducido dos libros:uno de ellos, La cosecha

de la esperanza, fue es-crito por el agricultorEzequiel Macías y CindyMac Cullogh; y el otro,Agricultura orgánica:

teoría y práctica, por unaasesora de la Red, María Bernardo. Se hanelaborado dos videos con los principiostecnológicos de la agricultura ecológica, dosque relatan las experiencias de gruposcampesinos fundadores de la Red y uno queda cuenta de los orígenes, los aprendizajes ylas perspectivas de la Red.

4 Los aprendizajes de laRASAJ

Un primer aprendizaje atiende al hecho deque, a pesar del escenario tan adverso, losgrupos que integran la Red han incrementadosus experiencias en marcha y, al paso del

"...la migración del campo a la

ciudad dio como resultado las

grandes concentraciones citadi-

nas, dónde la baja calidad de

vida, el desempleo, la violencia y

la marginación son el verdadero

rostro del sueño urbano para las

grandes mayorías."

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tiempo, estas han mostrado su viabilidad entérminos económicos, ecológicos yproductivos. La Red tiene ahora la capacidadde diseñar propuestas tecnológicas basadasen prácticas y métodos ya evaluados en larealidad. Esto ha facilitado el crecimiento dela Red y, a lo largo de este tiempo, el númerode grupos pasó de seis a catorce. En este lap-so, la Red ha permanecido y avanza haciaconvertirse en un referente para cuestionesde agricultura ecológica a nivel regional.

Otro aprendizaje ha sido el poder trabajarcon pocos recursos externos y apoyados enlas propias y limitadas posibilidadeseconómicas de los participantes de la Red.Esta situación es el resultado del trabajo con-junto en forma de red, donde los distintos gru-pos aportan trabajo, materiales o recursos entorno a un propósito común. Ello ha favoreci-do la independencia de la Red respecto a lasinstituciones de gobierno y partidos políticos,fortaleciendo la autonomía de sus acciones aldiversificar la procedencia de sus recursos.

Un tercer aprendizaje atiende a lapotencialidad que tienen la Agroecología y laEducación Popular como bases teóricas ymetodológicas en la búsqueda de la agriculturasustentable. El trabajo de la Red parte desdelos principios agroecológicos en sus acciones deexperimentación y producción agrícola, y elloha contribuido a la generación de prácticas demanejo más sustentables entre los gruposcampesinos. Por su parte, desde la EducaciónPopular se realizan las acciones de formación ycapacitación basadas en las experienciasprácticas, en el intercambio de conocimientosentre los campesinos, en el diálogo de saberes yen la investigación participativa. Ello ha permi-tido la construcción de espacios horizontales dediscusión y enseñanza entre los participantes.

5 Nuestros retos a futuroLa grave situación de marginación en el

campo mexicano y en Jalisco ha ocasionadola emigración. Los jóvenes salen de sus co-munidades en busca de mejores oportunida-des, mientras las actividades agropecuariasquedan en manos de personas mayores. Porello, entre los agricultores pertenecientes a laRASAJ hay una mayoría de adultos y la pre-sencia de jóvenes es aun reducida, lo cualcompromete a futuro la viabilidad de la Red.Ante esta situación, la Red enfrenta un im-portante reto: las experiencias productivaspropuestas por la Red deben ser viables yatractivas para los jóvenes, ofreciendo laposibilidad de permanecer en sus comunida-des realizando una agricultura sustentable,que les permita vivir dignamente, conservarsus recursos naturales y fortalecer sus iden-tidades culturales.

Un segundo reto para la Red se refiere asus formas de articulación con los diferentesmovimientos que, a nivel regional, nacional yglobal, se encuentran inmersos en labúsqueda de alternativas de desarrollo ruralsustentable. En su tiempo de funcionamiento,la Red ha establecido relaciones de diversostipos con diferentes actores sociales. Sin em-bargo, estas relaciones pueden ser mejoradas,y allí reside nuestro reto: el establecerarticulaciones con diferentes actores ymovimientos sociales (regionales, nacionalesy globales), que comparten con nosotros lavisión de un desarrollo rural alternativo, para,desde allí, fortalecer la viabilidad de lasestrategias que la Red realiza en las comuni-dades campesinas que la integran.

Un tercer reto atiende a las cuestiones decomercio justo de los productos ecológicos. Sibien la mayoría de las familias participantesen la Red buscan como objetivo principal elfortalecer su autosuficiencia alimentaria, haytambién agricultores que buscan combinarproducción para el consumo y para la ventay, en ese sentido, es necesario el encontrarcaminos de comercialización para los

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productos agropecuarios resultantes de lasprácticas agroecológicas. Nuestra apuesta, yallí está el reto, se orienta más bien hacia labúsqueda de una mayor vinculación con losmovimientos de ciudadanos y de consumido-res urbanos, con los cuales es posible unproceso de concientización y de diálogo mutuoque facilite el establecer relaciones basadasen el comercio justo.

Nota: as imagens que ilustram este artigosão reproduções do livro Flora de Manantlán,de J. Antonio Vazquez G. et alli. Universidadde Guadalajara - IMECBIO / University ofWisconsin - Madison

Olho 1:

Olho 2:

Olho 3: "Un primer aprendizaje atiende alhecho de que, a pesar del escenario tan ad-verso, los grupos que integran la Red hanincrementado sus experiencias en marcha."

BANCO MUNDIAL. Informe sobre indica-

dores de desarrol lo en México. Washing-ton, EUA, 2002.

BERNARDO, M. Agricul tura orgánica:teoría y práctica. Guadalajara, México:Coedición de Funprojal e ITESO, 2002.

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Leite a pasto: a experiência de Vista Gaúcha

Sangaletti, Valdir *

Resumo

A produção de leite a pasto, mediante aadoção por 304 agricultores do pastoreiorotativo, com melhoria das pastagens, e in-trodução, em 20 unidades de produção do usode fitoterápicos, tem permitido aos produto-res de leite do município de Vista Gaúcha (RS)elevar a produtividade do rebanho leiteiro emmais de 50%, proporcionando uma regulari-dade maior na produção. Em 4 anos de tra-balho, os resultados positivos nos campos

* Tecnólogo em Administração Rural, Técnico Agrícola eExtensionista Rural da EMATER/RS. Colaboraram a

Extensionista Rural da EMATER/RS, Sirlei J. C. Vogt, eos Técnicos Agrícolas da Prefeitura de Vista Gaúcha,Odacir José Lucatelli, Jadir Lopes, Romildo Wink e

Alessandro Silvestre. Contou também com o apoio daequipe do Núcleo de Investigação Participativa da

Divisão de Apoio Técnico da EMATER/RS.

ambiental, social e econômico foram signifi-cativos, com destaque para a redução do cus-to de produção do litro de leite e a diminuiçãoda penosidade no trabalho.

Palavras-chave: pastoreio rotativo, leite,fitoterapia, produção de leite a pasto.

1 ContextoO município de Vista Gaúcha está locali-

zado em uma área que, originalmente, foi to-talmente coberta por uma floresta densa e ricaem biodiversidade. Atualmente, a coberturaflorestal do município, considerando-se aschamadas capoeiras, atinge apenas 20% daárea total. Muitas espécies florestais tiveramsua população reduzida e a fauna quase dizi-mada no que se refere a mamíferos. As águas,várias sangas e lajeados de pouca vazão, muitoassoreados, diminuem consideravelmente o

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volume de água em época de estiagem. O cur-so de água de maior calado no município é oRio Guarita, com faixas de matas ciliares es-treitas e descontínuas. O solo é explorado deforma mecanizada em áreas de topografia maisfavorável em 40% das terras do município.Nas áreas de encosta basáltica, representan-do o restante do município, com umadeclividade média de 40%, a exploração dosolo se dá com a utilização de tração animal.

Vista Gaúcha se emancipou de TenentePortela e os primeiros colonizadores vieramdos municípios gaúchos de Garibaldi, SantaCruz do Sul, Estrela e Encantado. Hoje, etni-camente, 60% da população é italiana, 25%de portugueses, 10% de alemães e 5% polo-neses. Localiza-se na região Noroeste do Es-tado e está a 500 quilômetros de Porto Alegre.

O município de Vista Gaúcha, com 14 anosde existência, caracteriza-se pela predominân-cia de pequenas propriedades, exploradas commão-de-obra familiar, onde 81% das unida-des de produção possuem até 20 ha. Histori-camente, a matriz produtiva do município, àsemelhança de toda a região, estava alicerçadano binômio trigo-soja e produção leiteira emmenor importância. Hoje a matriz produtivabaseia-se na produção de suínos, aviculturade corte, soja, leite, fumo, milho, trigo, sendoque destaca-se a produção de suínos pelo re-torno do ICMS (Imposto sobre Circulação deMercadorias e Serviços) ao município (equi-valente a 41,4% do total) e a produção de leitepelo número de produtores envolvidos (380produtores, 65% dos produtores do municí-pio) e pela alternativa de renda mensal, con-tribuindo para a manutenção da família nasua unidade de produção.

As unidades de produção envolvidas naatividade de pastoreio rotativo caracterizam-se por ser de produção familiar, cujos estabe-lecimentos rurais possuem em média 12,4ha. Estas áreas produtoras de leite tinhamcomo carro chefe da alimentação para o gado

leiteiro a silagem de milho, ração comprada etambém se utilizavam do pasto picado, semmuita preocupação com o manejo de dejetos,uso da mão-de-obra, custo de produção emargem bruta da atividade.

As pequenas áreas destinadas à explora-ção da atividade leiteira, sua topografia, bemcomo sua fertilidade exaurida ao longo dosanos por um modelo praticamente extrativis-ta baseado em atividades e técnicas sem ne-nhuma preocupação conservacionista, colo-caram os produtores em situação limite quan-to à permanência no processo produtivo, bemcomo a própria capacidade de reproduzir suasobrevivência.

As famílias são pequenas, em média doisfilhos, sendo que a mulher tem participaçãodecisiva no trabalho e nas decisões, fato esteidentificado nas 75 famílias participantes dotrabalho de Gestão Agrícola1. Normalmente éo casal que se dedica ao trabalho no processoprodutivo da unidade de produção.

Fruto de uma construção coletiva entreprodutores em parceria com o Escritório Mu-nicipal da EMATER/RS e a Secretaria Muni-cipal de Agropecuária e Meio Ambiente, o pas-toreio rotativo é indicado, um consenso, comoalternativa capaz de dar sustentabilidade aoprocesso, uma vez que aproveita os fatoresinternos existentes e diminui ao máximo aentrada de fatores externos, após umareestruturação inicial.

Diminuição de custos, maior estabilidadeda produção, diminuição da dependência defatores externos, maior aproveitamento dascondições naturais de clima e solo, são algunsdos resultados alcançados pelas famílias queadotaram o pastoreio rotativo dentro do pro-cesso de produção de leite.

Além dos resultados econômicos eambientais, a adoção desta prática proporcio-nou uma profunda modificação nas relaçõesintrafamiliares, uma vez que propiciou àsmulheres, tradicionalmente executoras da

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atividade, uma diminuição considerável notempo gasto com as atividades de manejo dorebanho. A melhoria na qualidade de vida dasfamílias é uma realidade.

2 Descrição da experiênciaO pastoreio rotativo é uma alternativa co-

locada à disposição da pequena propriedadefamiliar envolvida na produção de leite, quevisa fornecer aos animais um pasto jovem,abundante e de boa qualidade na maior partedo ano. A atividade leiteira é muito importan-te na matriz produtiva do município em fun-ção do fluxo de caixa mensal e o pastoreiorotativo é fundamental dentro do planejamen-to alimentar da atividade.

Dos 380 produtores de leite do município,80% utilizam o sistema de produção de leite apasto e, destes, 75 produtores têm acompa-nhamento direto através do programa de Ges-tão Agrícola, que fornece o desempenho téc-nico-econômico da atividade. O trabalho demonitoramento iniciou em 1998 e mostra aviabilidade do pastoreio rotativo para a pro-priedade familiar.

O sistema de pastoreio rotativo está bas-tante difundido no município, tendo por baseo uso da grama tifton 85 como pastagem pe-rene principal, além de algumas áreas de tre-vo branco, brachiaria e capim tanzânia. Comoalternativa de verão, recomenda-se a utiliza-ção do capim sudão e o milheto, e de inverno,azevém, aveia e ervilhaca. Cabe destacar obom funcionamento dos consórcios azevém xaveia e azevém e ervilhaca no meio da gramatifton, o que permite praticamente fechar ociclo anual com pastagens. A orientação é paraque o plantio das forrageiras anuais seja feitoem três etapas, com espaço de 25 dias entreum plantio e outro, possibilitando melhormanejo das pastagens.

Recomenda-se o seguinte esquema de plan-tio de forrageiras:

• tifton 85 - perene principal - saída do in-verno;

• trevo branco - a partir do mês de março;• aveia preta - início em março e plantio

em três épocas, com intervalo de 25 dias;• azevém e ervilhaca no meio da grama -

na primeira quinzena do mês de maio;• milheto e capim sudão - início em agos-

to/setembro e plantio em três épocas.O plantio da grama tifton 85 acontece sem-

pre a partir do mês de setembro, com solopreparado, adubado com esterco de suínos oucama de aviário e umidade. As mudas têmum índice de pegamento alto, fechando a áreae dando condições de pastejo em 60 dias.

A fertilização das áreas é basicamente comesterco líquido de suínos (60% da distribui-ção do esterco é por gravidade), sendo utiliza-do em algumas propriedades cama de aviá-rio, adubo químico e calcário, devido a demo-ra no atendimento aos pedidos de distribui-ção do esterco de suínos.

Os dejetos de suínos são produzidos em50 estabelecimentos rurais, que possuem es-terqueiras revestidas de concreto e/ousolocimento para armazenar o esterco. Sali-enta-se que 80% dos produtores de suínostambém são produtores de leite, utilizandoos dejetos produzidos na própria unidade deprodução e o excedente é liberado, sem cus-to, aos demais produtores do município, quearmazenam em esterqueiras com capacida-de média de 40.000 l, construídas de solo-cimento e concreto, na parte mais alta dapropriedade para possibilitar a fertilizaçãopor gravidade.

Essa distribuição de dejetos de suínos naspastagens e o transporte dos dejetos com ca-minhões tanques para as esterqueiras, paraposterior distribuição por gravidade, é reali-zada pela Associação de Desenvolvimento Co-munitário e Agrícola (ADCA), com subsídioda Prefeitura Municipal2. A ADCA, contandocom uma patrulha agrícola composta por três

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caminhões tanques e dois distribuidorescom trator, realiza o transporte do estercoaté os estabelecimentos a um custo, por pro-dutor, de R$ 2,00 por carga de 8.500l.

Na produção de leite a pasto, opiqueteamento da área é fundamental. Re-comenda-se, inicialmente, 30 piquetes divi-didos com cerca elétrica, de aproximadamen-te 50m2 por vaca em produção. Porém, cadaunidade de produção tem suas particularida-des e o número e tamanho dos piquetes temque ser definido propriedade por propriedade,levando em conta o tipo de solo, tamanho dosanimais, qualidade da forragem, fertilidadedo solo e estação do ano. Destaca-se a impor-tância da presença de água e sombra nos pi-quetes para auxiliar no bem-estar animal.

O piqueteamento é fator básico para quea forragem possa recuperar o valor nutriti-vo antes do próximo pastejo, auxiliando nocontrole de pragas e doenças, permitindo aconstante reposição de nutrientes ao solo,seja pela urina ou pelo esterco dos animais.Já a presença de água e sombra nos pique-tes possibilita a permanência, por maiortempo, dos animais na área, saindo somen-te para a ordenha.

Como citado anteriormente, a grama tifton85 é a principal forrageira perene utilizada nosistema de pastoreio rotativo, sendo impor-tante considerar alguns pontos no que se re-fere ao uso desta gramínea: é muito exigenteem fertilidade, dando boa resposta à aplica-ção de dejetos de suínos; não se desenvolveno inverno; necessita de roçadas constantespara rebaixamento visando a renovação e di-minuição dos talos; permite, no inverno, asemeadura de azevém, ervilhaca e trevo namesma área formando um bom consórcio,porém recomenda-se a rotação de consórciono inverno, utilizando sempre um terço daárea para possibilitar descanso e recupera-ção da área.

Para as unidades de produção que partici-

pam do Programa de Gestão Agrícola é feitoum planejamento para o plantio das forragei-ras sendo que o Fundo de DesenvolvimentoRural (FUNDERUR)3 do município disponibi-liza semente das forrageiras de inverno no sis-tema troca-troca, em março, e de verão, emsetembro, para que o plantio seja feito comantecedência e o ciclo seja completado.

Quando do inicio do processo de adoçãodo pastoreio rotativo, tanto produtores, quantotécnicos, tinham em mente alcançar os se-guintes objetivos: a manutenção da atividadeprodutiva como base de sustentação econô-mica capaz de reproduzir a sua própria con-dição de agricultor e a manutenção do meioambiente, dentro de um enfoqueagroecológico.

A adoção do Sistema de Pastoreio Rotativocontempla esses dois eixos principais, umavez que propicia:

• diminuição dos custos de alimentação dorebanho via diminuição de alimentos concen-trados e/ou manufaturados fornecidos dire-tamente no cocho aos animais;

• produção da base alimentar do rebanhointrapropriedade, diminuindo a dependênciaa fatores externos, pois os alimentos consu-midos pelos animais são produzidos na uni-dade de produção;

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• diminuição no tempo gasto na atividade(menor penosidade), uma vez que o animalcolhe seu próprio pasto no campo (que éabundante), que prescinde do corte do pas-to e seu transporte até o cocho; a distribui-ção do esterco por gravidade facilita o traba-lho de fertilização da pastagem; sendo que,ainda, a disposição dos piquetes e a localiza-ção das áreas de pastagens perto da sede fa-cilitam o deslocamento dos animais. Istoresultou em melhor qualidade de vida, poisas famílias passaram a conversar mais, tro-car idéias e a cuidar mais das relações hu-manas, além de se dedicar a outras ativida-des, principalmente a produção para subsis-tência e renda não-agrícola;

• diminuição dos custos de implantação deforrageiras através da mudança da composi-ção de espécies formadoras da pastagem. Tro-ca de espécies anuais por espécies perenes;

• diminuição dos riscos de erosão pela mai-or cobertura do solo por mais tempo e pelomenor número de operações necessárias paraa implantação das pastagens. Estas áreasnormalmente eram utilizados para produçãode milho e soja, ficando grande parte do perí-odo expostas aos efeitos do sol e da chuva,reduzindo cada vez mais o potencial de pro-dução e contribuindo para o assoreamento

dos rios pelo efeito da erosão;• aproveitamento ao máxi-

mo do potencial fisiológico dasespécies, adaptadas ao ambi-ente, através do pastoreio con-trolado;

• aproveitamento dosdejetos dos próprios animais,reciclados naturalmente du-rante o processo de pousio daspastagens.

A assistência técnica é fei-ta em parceria pela EMATER/RS e pela Secretaria Munici-pal da Agropecuária e MeioAmbiente, contemplando os

campos social, ambiental e econômico, sen-do que a Secretaria ainda presta assistênciaveterinária gratuita abrangendo o atendi-mento clínico convencional e, junto com aEMATER/RS, orientação para a adoção dafitoterapia animal, com uso de ervas medici-nais para o controle, principalmente, damamite, do carrapato e do berne, mantendo,ainda, serviço subsidiado de inseminação ar-tificial.

O trabalho com pastoreio rotativo no muni-cípio começou em 1998, com um curso decapacitação na área de produção leiteira, ondeos participantes identificaram a alimentaçãodo rebanho como o principal entrave para umdesenvolvimento maior da atividade. Parabuscar conhecimento, organizou-se uma via-gem de estudo a Crissiumal (RS) para conhe-cer o sistema de produção de leite a pasto euso do sistema rotativo de pastagens. Em se-guida, o agricultor Anselmo Lorenzi implan-tou o sistema em uma área pedregosa com maisde 45% de declividade, obtendo ótimo resulta-do. Realizou-se um dia de campo nesta propri-edade com participação de produtores de Vis-ta Gaúcha e da região, com bom fluxo de pes-soas. A partir do dia de campo, o sistema co-meçou a ser expandido e hoje é o carro chefe

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da alimentação do rebanho bovino leiteiro.Este sistema baseia-se na proposta de que,para a agricultura familiar, é mais importan-te produzir bem do que produzir bastante.

Destaca-se a parceria, na assistênciatécnica, entre a EMATER/RS, SecretariaMunicipal da Agropecuária e Meio Ambien-te e a ADCA, onde todos defendem o siste-ma de pastoreio rotativo e priorizam a ati-vidade leiteira. O nivelamento é feito na reu-nião semanal das entidades ligadas ao se-tor agropecuário. Cita-se os recursosalocados no FUNDERUR destinanados à ati-vidade leiteira para investimento e custeio,como construção de esterqueiras de solo-cimento, equipamentos, aquisição de se-mentes de forrageiras, cama de aviário eoutros.

Através do Programa de Gestão Agrícola,80 estabeleci-mentos sãomonitorados, dosquais 75 adotam osistema de pasto-reio rotativo, sen-do que as outrascinco não produ-zem leite para ocomércio. Esteacompanhamentoconsiste em pro-porcionar à família assistência técnica noscampos econômico, social e ambiental, alémde realizar a contabilidade agrícola gerencialdas unidades de produção através do sistemaCONTAGRI4. Este trabalho tem permitido dis-cutir com as famílias e com o Conselho deDesenvolvimento Rural (CONDERUR) qual onível de tecnologia mais adequado às famíli-as de agricultores familiares do município,principalmente no setor leiteiro. Deste tra-balho, participam um técnico da EMATER/RS,quatro técnicos da Secretaria Municipal daAgropecuária e Meio Ambiente e mais o apoio

da Extensionista de Bem-estar Social daEMATER/RS.

3 ResultadosEconômicos:

• Maior regularidade na produção de leite.O percentual médio de diferença entre a mai-or e menor produção passou de 60% para 30%,ou seja, passando em média, de 1.080 l para540 l, por mês.

• Aumentou a margem bruta5 da atividadecom redução do custo de produção6 do litrode leite, conforme exemplos a seguir:

Exemplo 1:

Este estabelecimento, considerando dadoshistóricos de cinco anos, obteve uma evoluçãosignificativa nos principais indicadores econô-micos referentes à atividade leiteira. A produti-

vidade média de litros de leite/vaca/ano teveum crescimento de 82%, sendo que, neste mes-mo período, o preço médio recebido por litro deleite aumentou 72%, basicamente em funçãoda quantidade produzida, já que o plantel deanimais aumentou 51%.

Destaca-se o aumento de 294% da mar-gem bruta/vaca/ano neste período e a peque-na variação no custo variável por litro de lei-te, girando em torno de R$ 0,10/l.

A inclusão do pastoreio rotativo no plane-jamento alimentar, junto com alimentos con-centrados e/ou manufaturados, silagem de

Propriedade: 333014

Localidade: Linha Crespa

Ano Agrícola N° X Animais l Leite / MB/Vaca Cust o Cust o Cust o Preço

Vaca/Ano Variáve l Fix o Total Médio

97/9 8 10,5 3.308 387,0 4 0,10 0,20 0,30 0,18

98/9 9 9,0 4.435 577,0 0 0,10 0,16 0,26 0,22

99/0 0 10,7 4.361 511,5 0 0,11 0,12 0,23 0,22

00/0 1 12,9 5.800 1.098,4 0 0,09 0,12 0,22 0,266

01/200 2 15,9 6.017 1.525,6 1 0,11 0,07 0,18 0,314

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3 03 03 03 03 0Agroecol. e Desenvol. Rur. Sustent. Porto Alegre, v.3, n.4, out/dez 2002

milho e silagem de grão úmido de milho, pro-porcionou melhoria na produtividade por vacae margem bruta por vaca, mantendo-se pra-ticamente o mesmo custo variável.

Exemplo 2:Esta unidade de produção caracteriza-se

por ser pequena produtora de leite, em fun-ção do número médio de animal lactação em

lactação e do volume de produção. O uso dopastoreio rotativo proporcionou um aumentode 125% de produtividade, passando de 1.178lpara 2.653 l/vaca/ano e a margem bruta/vaca/ano alcançou um aumento de 319,38%,com um custo variável de R$ 0,03/l e um preçomédio recebido, no período, de R$ 0,24/l, con-siderando o período de dois anos. Destaca-seque no ano agrícola de 1999/2000, o sistemautilizado na produção de leite era o conven-cional, com uso de pasto de baixa qualidadecortado longe da sede da propriedade e milhoem espiga. Já no ano agrícola 2000/2001, pe-

ríodo que aconteceu a evo-lução positiva, o sistema dealimentação utilizado era ode produção de leite a pas-to, com uso do sistemarotativo de pastagens.

Destaca-se o alto custofixo7 por litro de leite de R$0,24/l no primeiro ano e R$0,14/l no segundo ano, sendoaceitável um custo fixo de R$0,08/l para este nível de pro-priedade. Este fato deverá sercontornado com acréscimo na

produção, através do aumento do plantel, man-tendo e melhorando sempre o sistema de ali-mentação, permanecendo a mesma estruturaem termos de máquinas, equipamentos e ins-talações.

Os indicadores econômicos desta unidadede produção permitem recomendar aos pe-quenos produtores de leite o uso de animaismistos, adaptados à região e tendo como base

alimentar o pastoreiorotativo, pois esta propri-edade não utiliza ali-mentos concentrados e/ou manufaturados.

• Redução de depen-dência externa, em fun-ção de que a base ali-mentar do rebanho pas-

sou a ser intrapropriedade.• Permite o aproveitamento de área dobra-

das, que eram utilizadas para o cultivo de sojae milho, áreas estas impróprias para o cultivoanual. Agora, exploradas com pastagens pe-renes, em sistema rotativo, diminui fortementea agressão e o impacto ao meio ambiente.

• Maior capacidade de lotação de animaispor hectare, passando de duas cabeças, emmédia, para cinco cabeças por hectare.

Ambientais:

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Propriedade: 333036

Localidade: Linha Tigre II

Ano Agrícola N° X Animais l Leite / MB/ Cust o Cust o Cust o Preço

Vaca/Ano V aca Variáve l Fix o Total Médio

99/0 0 4,58 1.178 216,5 2 0,05 0,24 0,29 0,20

00/0 1 5,0 2.653 908,0 6 0,03 0,14 0,17 0,24

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3 13 13 13 13 1Agroecol. e Desenvol. Rur. Sustent. Porto Alegre, v.3, n.4, out/dez 2002

• Diminuição da poluição pois, devido apermanência dos animais nos piquetes du-rante dia e noite, os dejetos já ficam distribu-ídos nas pastagens.

• Diminuição da poluição pelos dejetos pro-duzidos nas granjas de suínos e nas pocilgasde terminação existentes no município, pois oresíduo poluente produzido pela suinocultura éutilizado como insumo na produção de leite,minimizando os efeitos negativos no meio am-biente. Dos males o menor.

• A cobertura permanente do solo, evitan-do a erosão e auxiliando o desenvolvimentomicrobiano e a reciclagem dos nutrientes.

• Redução do uso de produtos químicos nocontrole de pragas e doenças, devido a me-lhora do bem-estar dos animais, principalmen-te em função da quantidade e qualidade doalimento fornecido a eles, além do fornecimen-to de abrigo de frio e calor e água.

Transformações socioculturais:• Fato marcante e citado por todas as fa-

mílias foi a diminuição da penosidade, prin-cipalmente das mulheres, que o sistema pro-porcionou, reduzindo em média 50% do tem-po gasto com a atividade.

• O trabalho de divulgação por parte daEMATER/RS do uso da fitoterapia animal estáfazendo com que as famílias reflitam sobre estaalternativa e aos poucos busquem informa-ções para prevenir e controlar pragas e doen-ças neste sistema.

4 Potencialidadese limites da experiênciaPontos fortes e potencialidades:• A tecnologia do pastoreio rotativo é de

baixo custo de implantação, é de fácil enten-dimento e está ao alcance de todos os produ-tores de leite, sendo viável para todos os ní-veis de animais, em termos de genética, per-mitindo avaliação e melhoria constante emcada unidade de produção, respeitando as

particularidades de cada uma.• A integração existente entre as entidades

e técnicos do município facilitou a implanta-ção deste sistema, pois tudo é discutido eanalisado entre os atores.

• Mesmo tendo problemas de organização, osistema de distribuição de esterco (ADCA) é umfator determinante para a viabilização do siste-ma, principalmente com produção a custo baixo.

• A alocação de recursos no sistema troca-troca, pelo FUNDERUR, para construção deesterqueiras e aquisição de sementes de for-rageiras de inverno e verão, consiste em uminstrumento fundamental para viabilizar a im-plantação do esquema forrageiro recomenda-do aos produtores.

• Programa de gerenciamento de proprie-dade agrícola, que permite acompanhamentoe avaliação de 75 unidades de produção nomunicípio, servindo como referencial às de-mais propriedades.

Obstáculos/Ameaças:• A falta de atualização técnica e avaliação

de outras alternativas forrageiras, dos técnicose produtores envolvidos, dificulta a busca denovas alternativas forrageiras, principalmenteperenes, menos exigentes em fertilidade.

• A dificuldade na distribuição regular deesterco de suínos prejudica o desenvolvimen-to das forrageiras para algumas propriedades,que não querem utilizar adubo químico nema utilização de insumos comprados, para nãoaumentar o custo de produção.

• O excesso de chuva e estiagem prolonga-da tem prejudicado o desenvolvimento regu-lar das pastagens.

• O uso intensivo do solo, em áreas im-próprias para o cultivo anual, ao longo dosanos, levou o solo a uma situação de degra-dação. Portanto, a baixa fertilidade pelo usoexcessivo do solo, a declividade média emtorno de 40% e a pedregosidade são fatoresque dificultam o trabalho.

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3 23 23 23 23 2Agroecol. e Desenvol. Rur. Sustent. Porto Alegre, v.3, n.4, out/dez 2002

5 ConclusõesA adoção da tecnologia do pastoreio rotativo

trouxe maior estabilidade para os produtoresde leite do município, auxiliando na sua con-solidação enquanto agricultores familiares;ampliou a interrelação entre diferentes ativi-dades produtivas, no caso, a suinocultora e aprodução de leite, permitindo um destino maisadequado para dejetos poluentes, agora usa-dos como insumos, minimizando efeitos depoluição ambiental, e reforçou a integraçãoentre entidades, técnicos e famílias.

A troca de experiências através de reuniões

BARNAD, G. S.; NIX, J. S. Farm planning

and control. London: Cambridge UniversityPress, 1979. 600p.

6 ReferênciasKAY, R. D. Farm management planning,

control and implementation. Tokyo: McGraw-Hill, 1981.

1O Programa de Gestão Agrícola objetiva a ob-tenção da referência de índices técnicos e eco-nômicos de sistemas de produção, através domonitoramento (contabilidade gerencial) de es-tabelecimentos rurais, além da assistência técni-ca nos campos econômico, social e ambiental.

2A Prefeitura Municipal de Vista Gaúcha/RS in-veste, anualmente, R$ 130.000,00 na Associa-ção Desenvolvimento Comunitário e Agrícola,para cobrir principalmente despesa de custeio.

3O Fundo de Desenvolvimento Rural do municí-pio de Vista Gaúcha foi criado no ano de 1992,para o qual são carreados do próprio municípioR$ 250.000,00 anualmente, com o objetivo definanciar a família de agricultor familiar, abran-gendo 18 programas.

4O CONTAGRI é um software de contabilidadeagrícola gerencial desenvolvido pela EPAGRI deSanta Catarina.

Notas5A Margem Bruta de uma atividade é o valor totalda produção (incluindo a não vendida) menos osCustos Variáveis atribuídos à atividade (BARNARD& NIX, 1979).

6São todas as obrigações da empresa para a pro-dução de certo produto, incluindo os Custos Alter-nativos ou de Oportunidade. Pode ser definido tam-bém como: somatório dos Custos Diretos e Indire-tos de uma atividade ou somatório dos Custos Va-riáveis e Fixos de uma atividade.

7Custos Fixos são aqueles que existem mesmo queos recursos não sejam utilizados. Eles não variamquando muda o nível de produção sob o controledo administrador no curto prazo (KAY, 1989). Tam-bém, no conceito de BARNARD & NIX, 1979, umcusto fixo é definido como aquele que não mudaquando o nível de produção se altera no períodode tempo analisado. No curto prazo, os Custos Fi-xos não podem ser alterados e não devem ser in-fluenciados pela tomada de decisão.

e visitas mútuas, onde o saber acumulado nasdiversas etapas do processo foi compartilha-do, colaborou para a construção de uma redede ajuda, fortalecendo as relações de vizinhan-ça e de interesses já existentes.

A mudança de enfoque e de percepçãoquanto ao modelo de produção é outra carac-terística marcante resultante desse processo.Outras técnicas com enfoque agroecológicocomeçam a ser discutidas e adotadas pelosprodutores de Vista Gaúcha.

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3 33 33 33 33 3Agroecol. e Desenvol. Rur. Sustent. Porto Alegre, v.3, n.4, out/dez 2002

Qualidade da água em baciashidrográficas rurais: um desafio

atual para a sobrevivência futura

Merten, Gustavo H.*Minella, Jean P.**

Resumo

A ocupação e uso do solo pelas atividadesagropecuárias alteram sensivelmente os pro-cessos biológicos, físicos e químicos dos sis-temas naturais. Estas alterações ocorridas emuma bacia hidrográfica podem ser avaliadasatravés do monitoramento da qualidade daágua. Por meio do ciclo hidrológico, as chu-

*Engenheiro Agrônomo, Professor Doutor da área deErosão e Sedimentação do Instituto de Pesquisas Hidráuli-

cas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.**Engenheiro Agrônomo, Mestrando do Curso de Pós-

Graduação em Engenharia de Recursos Hídricos eSaneamento Ambiental do Instituto de Pesquisas Hidráuli-

cas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

vas precipitadas sobre as vertentes irão for-mar o deflúvio (escoamento) superficial queirá carrear sedimentos e poluentes para a redede drenagem. Desta forma, o rio é umintegralizador dos fenômenos ocorrentes nasvertentes da bacia, que pode ser avaliado pe-los parâmetros de qualidade da água. Esteartigo procura explorar o conceito de qualida-de da água influenciado pelo uso e ocupaçãodo solo das bacias vertentes. O artigo avalia opotencial degradador da agricultura pratica-da na utilização de áreas ecologicamente frá-geis, da agricultura intensiva e a produção dedejetos de confinamento animal. Algumasmetodologias e técnicas também foram dis-cutidas para o planejamento das atividadesagropecuárias que apresentam riscos à con-taminação do solo e da água.

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3 43 43 43 43 4Agroecol. e Desenvol. Rur. Sustent. Porto Alegre, v.3, n.4, out/dez 2002

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Palavras-chave: contaminação hídrica,efluentes agrícolas.

1 IntroduçãoA água doce é um recurso natural finito,

cuja qualidade vem piorando devido ao au-mento da população e à ausência de políticaspúblicas voltadas para a sua preservação.Estima-se que aproximadamente doze milhõesde pessoas morrem anualmente por proble-mas relacionados com a qualidade da água.No Brasil, esse problema não é diferente, umavez que os registros do Sistema Único de Saú-de (SUS) mostram que 80% das internaçõeshospitalares do país são devidas a doençasde veiculação hídrica, ou seja, doenças queocorrem devido à qualidade imprópria da águapara consumo humano.

O comprometimento da qualidade da águapara fins de abastecimento doméstico é de-corrente de poluição causada por diferentesfontes, tais como efluentes domésticos,efluentes industriais e deflúvio superficialurbano e agrícola. Os efluentes domésticos,por exemplo, são constituídos basicamente porcontaminantes orgânicos, nutrientes emicroorganismos, que podem ser patogênicos.A contaminação por efluentes industriais édecorrente das matérias-primas e dos proces-sos industriais utilizados, podendo ser com-plexa, devido à natureza, concentração e vo-lume dos resíduos produzidos. A legislaçãoambiental tem estabelecido regras para o lan-çamento de efluentes industriais e a tendên-cia é de existir um maior controle sobre essespoluentes. Os poluentes resultantes dodeflúvio superficial agrícola são constituídosde sedimentos, nutrientes, agroquímicos edejetos animais. Para as condições brasilei-ras, não se tem quantificado o quanto essespoluentes contribuem para a degradação dosrecursos hídricos. Nos Estados Unidos, noentanto, admite-se que 50% e 60% da cargapoluente que contamina os lagos e rios, res-

pectivamente, são provenientes da agricultu-ra (Gburek e Sharpley, 1997).

Desta forma, existe um consenso geral quea atividade agropecuária rege uma importan-te função na contaminação dos mananciais,sendo uma atividade com alto potencialdegradador, e que a qualidade da água é umreflexo do uso e manejo do solo da baciahidrográfica em questão. Neste sentido, esteartigo procura abordar os principais aspec-tos da qualidade da água nos sistemas agrí-colas, citando algumas atividadesagropecuárias e os processos de poluição dosolo e da água.

2 O conceito de qualidadeda água

Quando utilizamos o termo "qualidade deágua", é necessário compreender que esse ter-mo não se refere, necessariamente, a um es-tado de pureza, mas simplesmente às carac-terísticas químicas, físicas e biológicas, e que,conforme essas características, são estipula-das diferentes finalidades para a água. Assim,a política normativa nacional de uso da água,como consta na resolução número 20 doCONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambi-ente), procurou estabelecer parâmetros quedefinem limites aceitáveis de elementos estra-nhos, considerando os diferentes usos.

Os corpos de água foram classificados emnove categorias, sendo cinco classes de águadoce (salinidade <0,5%), duas classes salinas(salinidade superior a 30%) e duas salobras(salinidade entre 0,5 e 30%). A classe "espe-cial" é apta para uso doméstico sem tratamentoprévio, enquanto o uso doméstico da classe IVé restrito, mesmo após tratamento, devido àpresença de substâncias que oferecem risco àsaúde humana. A classificação padronizadados corpos de água possibilita que se fixe me-tas para atingir níveis de indicadores consis-tentes com a classificação desejada.

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3 Contaminação dos recur-sos hídricos pela agricultura

A degradação dos mananciais, provenientedo deflúvio superficial agrícola, ocorre, princi-palmente, devido ao aumento da atividade pri-mária das plantas e algas em decorrência doaporte de nitrogênio e fósforo proveniente daslavouras e da produção animal em regime con-finado. O crescimento excessivo de algas e plan-tas reduz a disponibilidade de oxigênio dissol-vido nas águas, afetando adversamente oecossistema aquático e causando, algumasvezes, mortalidade de peixes. Além dos impac-tos causados aos ecossistemas aquáticos, oaumento dos níveis de nutrientes na água podecomprometer sua utilização para abastecimen-to doméstico, devido a alterações no sabor eodor da água ou à presença de toxinas libera-das pela floração de alguns tipos de algas. Alémdas implicações causadas pelos nutrientes aosrecursos hídricos, é necessário considerar, tam-bém, a contribuição dos agroquímicos e dosmetais pesados.

A poluição causada pela agricultura podeocorrer de forma pontual ou difusa. A pontu-al refere-se, por exemplo, à contaminação cau-sada pela criação de animais em sistemas deconfinamento, onde grandes quantidades dedejetos são produzidos e lançados diretamen-te no ambiente ou aplicados nas lavouras. Jáa poluição difusa é aquela causada principal-mente pelo deflúvio superficial, a lixiviação eo fluxo de macroporos que, por sua vez, estãorelacionados com as propriedades do solocomo a infiltração e a porosidade. Assim, so-los mais arenosos teriam o processo delixiviação e fluxo de macroporos favorecidos.Já em situações onde os solos são manejadosde forma incorreta (preparo excessivo do solo,associado ao insuficiente aporte de biomassa),poderá ocorrer a degradação de sua estrutu-ra, favorecendo, então, o deflúvio superficial.

Por outro lado, em solo bem manejado quetem uma estrutura formada por agregadosestáveis e uma boa distribuição de poros, oprocesso de erosão é reduzido. Nessas condi-ções, porém, o risco de contaminação daságuas passa a ser principalmente pelo fluxode macroporos.

Para melhor caracterizar os riscos da po-luição agrícola aos recursos hídricos, se po-deria agrupar as atividades agrícolas em trêssituações: a) sistemas agrícolas praticados emambientes ecologicamente frágeis; b) sistemasde agricultura intensiva, c) sistemas de pro-dução com criação de animais emconfinamento.

4 Sistemas agrícolaspraticados em ambientesecologicamente frágeis

Um importante aspecto a respeito das áreasecologicamente frágeis (áreas declivosas, nas-centes e margens dos rios, áreas de recarga dosaqüíferos, etc.) é que muitas destas regiões sãobacias vertentes do complexo sistema forma-dor da drenagem de grandes rios, que fornece-rão água para o abastecimento dos centros ur-banos. Desta forma, elas deveriam ser pre-servadas, ou então exploradas por sistemasagroflorestais com baixo impacto ambiental,que prezem a matéria orgânica do solo e amanutenção da água no sistema, através dainfiltração da chuva. Um ambiente pode serecologicamente frágil, porém com nenhum oubaixo nível de degradação, determinado pelosistema de exploração.

Entretanto, a pressão econômica sobre osagricultores leva-os a explorar intensivamen-te estas áreas, sendo que a contaminação daágua é potencializada quando práticas agrí-colas conflitivas são praticadas segundo opotencial de uso das terras, por exemplo, nocaso de agricultores que cultivam solos em

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3 63 63 63 63 6Agroecol. e Desenvol. Rur. Sustent. Porto Alegre, v.3, n.4, out/dez 2002

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áreas declivosas e frágeis. Nestes casos, o pro-cesso de erosão hídrica é severo e a contami-nação dos recursos hídricos se dá pela gran-de quantidade de sedimentos que chegam atéos corpos de água. Com a erosão hídrica, tam-bém a qualidade do solo é alterada através daperda de carbono e nutrientes e, conseqüen-temente, a capacidade produtiva dos solos écomprometida. Para compensar odesequilíbrio produtivo, os agricultores au-mentam o aporte de agroquímicos (adubossolúveis e agrotóxicos), aumentando os níveisde degradação do solo e água.

O deflúvio superficial, em baciashidrográficas com topografia acentuada, ex-ploradas por agricultura intensiva (culturasanuais, por exemplo) apresenta grande ener-gia para desagregar o solo exposto e de trans-portar sedimentos para os corpos de água.Estes sedimentos são capazes de carregar,adsorvidos na sua superfície, nutrientes comoo fósforo e compostos tóxicos, comoagroquímicos. Isso é freqüente em sistemasde produção de fumo no sul do Brasil.

5 Sistemas de agriculturaintensiva

Esses sistemas são caracterizados pela uti-lização intensiva de tecnologia, que envolvea mecanização e o alto uso de insumos comofertilizantes, herbicidas e inseticidas. Deuma maneira geral, as áreas que são utiliza-das com agricultura intensiva são de boa ap-tidão agrícola, de forma que o uso conflitivodas terras é menos freqüente e, com isso, osproblemas de poluição das águas causadospela erosão hídrica ocorrem com menos in-tensidade quando compara-se com o cultivode áreas de baixa aptidão agrícola. Nessessistemas, o problema de erosão pode ocorrerquando o manejo de solos é inadequado, de-vido principalmente ao preparo excessivo dosolo e à reposição insuficiente de carbono

orgânico. Essas duas condições favorecem adegradação física do solo, que tem como con-seqüência o aumento do deflúvio e, com isso,a contaminação das águas superficiais devi-do aos sedimentos, nutrientes solúveis eparticulados e dos agroquímicos que se en-contram adsorvidos aos sedimentos.

No entanto, o que tem sido verificado nessesúltimos anos é uma mudança na maneira de secultivar o solo, onde o intenso revolvimento vemsendo substituído pela semeadura direta semrevolvimento. Nos estados do sul, e em algumasregiões do cerrado, a semeadura direta tem sidoamplamente utilizada, sendo atualmente prati-cada em quatorze milhões de hectares. Comisso, os problemas de poluição hídrica causadospela erosão vêm sendo reduzidos significativa-mente. Por outro lado, os riscos de contamina-ção da água em sistemas de semeadura diretasão bastante elevados, uma vez que esses sis-temas são altamente dependentes do uso deagroquímicos. A semeadura direta, ainda queseja eficiente no controle da erosão hídrica, podecausar problemas de contaminação da água sub-terrânea e superficial. No caso da contamina-ção subterrânea, os mecanismos que atuam sãoo fluxo de macroporos e a lixiviação (Toledo eFerreira, 2000). Já a contaminação da águasuperficial pode ocorrer devido ao transporte depoluentes solúveis pelo deflúvio superficial. Odeflúvio gerado em áreas de semeadura diretaé potencialmente perigoso em situações onde asemeadura é realizada no sentido do declive ena ausência de estruturas de controle do deflúviosuperficial. A contaminação da água via fluxode macroporos ocorre, principalmente, quandoas aplicações de agroquímicos são seguidas dechuvas de grande intensidade. Nessas condi-ções, a água que infiltra via macroporos apre-senta a capacidade de transportar poluentes paraa zona saturada. Já os problemas de poluiçãocausados pelo deflúvio superficial estão associ-ados, principalmente, ao transporte de fósforosolúvel para os corpos de água uma vez que a

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3 73 73 73 73 7Agroecol. e Desenvol. Rur. Sustent. Porto Alegre, v.3, n.4, out/dez 2002

fração solúvel predomina sobre a particulada nossolos submetidos a semeadura direta. Com isso,o risco de poluição é maior, já que a forma solú-vel é prontamente utilizada pelas algas.

6 Poluição causada pelasatividades pecuárias

Outra fonte importante de contaminaçãodas águas refere-se à poluição causada pelasatividades de pecuária em sistemas deconfinamento, como a suinocultura, a pecuá-ria de leite e a avicultura. Os problemas cau-sados por essas atividades tendem a crescerno Brasil, devido, principalmente, ao cresci-mento do consumo interno e da exportaçãode carne de aves e suínos. Entre as ativida-des de pecuária, a que representa maior riscoà contaminação das águas é a suinocultura,devido à grande produção de efluentes alta-mente poluentes produzidos e lançados ao soloe nos cursos de água sem tratamento prévio(EMBRAPA, 1998). O problema de poluiçãocausada pela suinocultura está principalmen-te concentrado nos estados do sul (Rio Gran-de do Sul, Santa Catarina e Paraná), uma vezque nesses estados concentram-se quase70% do rebanho suíno do Brasil.

O material produzido por sistemas de cria-ção de suínos é rico em nitrogênio, fósforo epotássio, e seu material orgânico apresentauma alta DBO5. São o fósforo e a alta DBO5que causam grandes impactos ao ecossistemaaquático de superfície, sendo o fósforo respon-sável pelo processo de eutrofização das águase a DBO5 pela redução do oxigênio disponível.Já o nitrogênio oferece mais risco de contami-nação da água subterrânea quando lixiviado.

A utilização de dejetos de suínos como fer-tilizantes orgânicos também pode contribuirpara a contaminação dos recursos hídricos seas quantidades aplicadas forem superiores àcapacidade do solo e das plantas absorveremos nutrientes presentes nesses resíduos. Des-

sa forma, poderá haver contaminação daságuas superficiais pelo deflúvio quando a ca-pacidade de infiltração da água no solo forbaixa e contaminação das águas subterrâne-as quando a infiltração da água no solo forelevada (Pote et al., 2001).

7 Estratégias para reduçãoda poluição

As estratégias para redução da poluiçãodevida às atividades agrícolas devem ter comometa a redução do deflúvio superficial, a redu-ção do uso de agroquímicos e o manejo ade-quado dos efluentes produzidos pelos sistemasde criação de animais em confinamento. Aspráticas relacionadas com a redução do deflúviosuperficial são baseadas na melhoria da quali-dade da estrutura do solo e, consequentemente,na qualidade do sistema poroso. Isso possibi-lita que as taxas de infiltração se mantenhamelevadas e, com isso, o volume escoado é redu-zido. Uma vez formado o deflúvio superficial, épossível reduzir a sua potência hidráulica atra-vés da construção de barreiras físicas que cor-tam a direção de fluxo do deflúvio através daimplantação de terraços ou cordões vegetados.

Além do controle do deflúvio através de prá-ticas de manejo, é importante ficar atento aomanejo da zona ripária (a faixa de vegetaçãopróxima aos rios) uma vez que o manejo dessazona é extremamente importante para reduzira carga poluente que é introduzida para oscorpos de água através do deflúvio superficial.Para cumprir essa função é necessária a ma-nutenção ou recomposição da mata ciliar e oestabelecimento de uma faixa de vegetaçãodensa junto a ela para servir de filtro dospoluentes transportados pelo deflúvio.

O manejo dos dejetos proveniente deconfinamentos torna-se fundamental para oplanejamento e implantação de sistemas deconfinamento (bovinos, suínos, ovinos, aves).Os novos sistemas devem observar as seguin-

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3 83 83 83 83 8Agroecol. e Desenvol. Rur. Sustent. Porto Alegre, v.3, n.4, out/dez 2002

tes premissas (Silva e Magalhães, 2001): (a)utilização de recursos, atendendo as taxaspermitidas pelo meio; (b) situar atividades emáreas e em ecossistemas com uma alta capa-cidade de suporte; e (c) a emissão de efluentesde determinada atividade não ultrapasse acapacidade de assimilação do meio ambiente(sistemas semi-intensivos e extensivos,p.ex.).

Algumas técnicas e equipamentos (Silva eMagalhães, 2001) destacam-se para o trata-mento e/ou disposição dos resíduos de ani-mais, como: biodigestores, esterqueiras ebioesterqueiras, compostagem e vermicompos-tagem (adubação), reutilização como ração,lagoas de estabilização, etc.

Finalmente, é importante considerar que aredução do uso de agroquímicos e o manejo ade-quado de dejetos de animais constituem práti-cas também essenciais para reduzir os proble-mas de poluição da água. No primeiro caso, épreciso direcionar os esforços para resgatar oconhecimento de tecnologias menos intensivasno uso de agroquímicos e mais intensivas no usodo conhecimento agronômico e da compreensãodas interações dos ecossistemas agrícolas. Esse

conhecimento é fundamentado em princípioscomo rotação de culturas, manejo integrado depragas, uso de adubos verdes, etc. Nesse senti-do, parece que o modelo de produção baseadona Agroecologia seria de grande interesse para asociedade, uma vez que esse sistema é baseadono uso de tecnologias de produção de baixíssimoimpacto aos recursos hídricos.

EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISAAGROPECUÁRIA - EMBRAPA. Centro Nacio-nal de Pesquisa em Aves e Suínos. Manejo

de dejetos de suínos. Concórdia, 1998. 31p.(Boletim Informativo de Pesquisa, 11)

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Agropecuário, Belo Horizonte, v. 22, n. 210,p. 62-76, 2001.

TOLEDO, L., G.; FERREIRA, C.J.A. Impactos dasatividades agrícolas na qualidade da água. Revista

Plantio Direto, Passo Fundo, n. 58, p. 21-27, 2000.

A r t igo

AAAAA

8 Referências

Page 38: Revista Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sutentável 04_12/2002

4 04 04 04 04 0Agroecol. e Desenvol. Rur. Sustent. Porto Alegre, v.3, n.4, out/dez 2002

CertificaçãoCertificaçãoCertificaçãoCertificaçãoCertificaçãoAtualmente, oito fazendas de Mato Grosso do Sul,Mato Grosso, Goiás, Tocantins, São Paulo e Paraíba,certificadas por órgãos internacionais de controlede qualidade, são ligadas à ABPO, que tem comoassociadas outras sete em processo de conversãode convencional para orgânico, além de dezenasde pedidos de adesão, que estão sendo analisa-dos. O Instituto Biodinâmico (IBD), de Botucatu (SP )e a Organização Internacional Agropecuária (OIA),da Argentina, fornecem os certificados de garantiade qualidade no Brasil. Ambas entidades são as-sociadas à International Federation of OrganicAgriculture Moviments (Ifoam), da Alemanha, li-gada à Comunidade Econômica Européia. Para acertificação, primeiro, técnicos do IBD e da OIA,que acompanham o processo de mudança, colhemamostras do solo, examinam a limpeza dos pas-tos, observam a possível presença de agrotóxicos efazem uma série de recomendações. Voltam à fa-zenda com os resultados das análises do solo e ocálculo do tempo necessário para que a proprie-dade possa entrar no novo processo de produção,necessário para a "desintoxicação" da área, con-forme explicou o representante do IBD/MSl, JoséCarlos Thimoteo Lobreiro. "

Fonte: Jornal O Estado de São Paulo - Caderno Suple mento

Agrícola, 4 de setembro de 2002

Sensoriamento remotoSensoriamento remotoSensoriamento remotoSensoriamento remotoSensoriamento remotoNo dia 27 de novembro foi assinado, pelo ministroda Ciência e Tecnologia, Ronaldo Sardenberg e oembaixador da China, Jiang Yuande, o protocolocomplementar ao acordo entre os dois países, queprevê a construção de dois satélites - CBERS-3 eCBERS-4. Os satélites, que terão custo total de US$500 milhões, sendo US$ 300 milhões na primeirafase - US$ 100 milhões do Brasil e US$ 200 mi-lhões da China - realizarão o sensoriamento re-moto em áreas como monitoramento florestal,impactos ambientais, avaliação da produção agrí-cola e do crescimento urbano, gerenciamento dedesastres naturais, entre outros. O CBERS-3 estácom lançamento previsto para 2006. O acordoprevê ainda o estabelecimento de planos para a

construção de uma “joint venture ‘ pa racomercializar e distribuir os produtos CBERS, alémde negociar também as imagens geradas pelossatélites com outros países.

Fonte: ambientebrasil.com.br (27/11/2002)

TTTTTratamiento preferido para orgánicosratamiento preferido para orgánicosratamiento preferido para orgánicosratamiento preferido para orgánicosratamiento preferido para orgánicosEl vicepresidente del Banco de Inversión y Comer-cio Exterior de Argentina, Sr. Claudio Sabsay, haexpresado la necesidad de fortalecer la posiciónde los productos orgánicos de Argentina en el mer-cado mundial. El ha propuesto un programa naci-onal de exportaciones orgánicas con el objetivo desacar provecho más del mercado orgánico mundi-al. Tambíen, Sr. Sabsay ha expresado la opinón queel MERCOSUR debe lanzar la idea de untratamiento preferido arancelario de productosorgánicos a la OMC. Un tratamiento preferido seríauna posibilidad de reconocer los beneficios deproductos orgánicos con respecto a la salud, laconservación del medio ambiente y los recursosnaturales.

Fonte: BioFach-Newsleterr - 09-12-02

http:/ /www.biofach.de

Normas ecológicas en AsiaNormas ecológicas en AsiaNormas ecológicas en AsiaNormas ecológicas en AsiaNormas ecológicas en AsiaLa revista "Bio-Online Organic Standard" presentóun resumen sobre la situación de normas ecológi-cas sobre agricultura ecológica en Asia. En China,India, Japón, Corea del Sur y Taiwan ya existenbases legales al respecto. En Hongkong, Indonesia,Malasia, Filipinas y Tailandia ya existen estas nor -mas o de lo contrario estas están en proceso. El"Organic Standard" es una revista mensual, la cualse envía como archivo Pdf a un precio de 265 EUR/$US como subscripción anual. El énfasis del infor-mativo en indioma inglés, es la situación actual dela eco- legislación como también la certificación anivel mundial. Bajo "Read it" se puede la "Issue 10 "bajar como archivo Pdf gratuitamente, el cual tieneun informe sobre Asia.

Fonte:BioFach Newsleterr 25-11-02

www.organicstandard.com

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4 14 14 14 14 1Agroecol. e Desenvol. Rur. Sustent. Porto Alegre, v.3, n.4, out/dez 2002

Dentro da dimensão ecológica da Agroecologia,podemos identificar várias ações no sentido deecologização dos sistemas produtivos, sendo queessas ações são possíveis de serem realizadas pelosagricultores. Além de conservar e melhorar a fertili -dade dos solos, de preservar e ampliar a biodiversi -dade natural e doméstica, de proteger as fontes ecursos d'água, eliminar o uso de substâncias tóxi-cas, como os agrotóxicos e adubos sintéticos ou deefeito desconhecido, como os organismos geneti-camente modificados, os agricultores deveriam, ain-da, se preocupar com a reciclagem e/ou reutilização

A urina de vaca como fertilizante,fortificante e repelente de insetos

Boemeke, Luiz Rogério *

* Engenheiro Agrônomo da EMATER/RS

de materiais, energia e nutrientes. Dentre as possi -bilidades, em nível de propriedades, de reciclar nu -trientes, está a utilização de urina de vaca.A urina, além de fornecer nutrientes e substânciasbenéficas às plantas, não custa dinheiro, não émarca registrada de empresa, não causa risco àsaúde do produtor e é tão, ou mais, fácil de aplica rque muito agrotóxico. A urina de vaca é um insumoque livra os agricultores da dependência.

Na urina de vaca, encontramos vários nutrientes com oo nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio, en-xofre, ferro, manganês, boro, cobre, zinco, sódio, clo-ro, cobalto, molibdênio, alumínio (abaixo de 0,1 pp m),os fenóis, que são substâncias que aumentam a re-sistência das plantas. Também encontramos o ácido

dicA groecológica

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4 24 24 24 24 2Agroecol. e Desenvol. Rur. Sustent. Porto Alegre, v.3, n.4, out/dez 2002

dicA groecológica○

indolacético, que é um hormônio natural de cresci-mento de plantas. Portanto, o uso da urina de vacasobre os cultivos tem efeito fertilizante, fortific ante(estimulante de crescimento) e também o efeito re-pelente devido ao cheiro forte.

Como prepararA urina deve ser recolhida em um balde e logo apósser envasada em recipiente fechado por no mínimo

Referência

três dias antes de usar. Em recipientes fechados aurina poderá ser guardada por até um ano.

Como usarDiluir a 1% (um litro de urina em 100 litros de águ a),fazer pulverizações semanais em hortaliças e emfrutíferas a cada quinze dias. Para utilizar no sol o,junto ao pé da planta, diluir a 5% (5 litros de uri naem 100 litros de água).

EMPRESA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA DO ES-TADO DO RIO DE JANEIRO. Urina de vacaUrina de vacaUrina de vacaUrina de vacaUrina de vaca: alter-

nativa eficiente e barata. Niterói : Pesagro-Rio,2001. 8 p. (Pesagro-Rio. Documentos; n. 68)

Page 41: Revista Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sutentável 04_12/2002

4 34 34 34 34 3Agroecol. e Desenvol. Rur. Sustent. Porto Alegre, v.3, n.4, out/dez 2002

http://cederul.unizar.es

O Centro de Documentação em Desenvolvi-mento Rural é uma base de dados especializa-da e conta com um fundo documental próprioe com o acervo da biblioteca da Escola Univer-sitária de Huesca. No total, estão à disposiçãomais de 50 mil registros. Através do site, tam-bém é possível acessar a Revista de DesarolloRural y Cooperativismo Agrario, editada pelaUnidade de Economia Agraria da Universida-de de Zaragoza, onde o internauta encontrauma série de artigos e textos relacionados aodesenvolvimento rural e ao cooperativismo.

http://www.hortaviva.com.br

Horta Viva é um criativo site dedicado à edu-cação ambiental. Organizado pelo professorDanilo Verginio de Carvalho Netto, do Rio deJaneiro, com 20 anos de experiência em educa-ção ambiental, a página possui informações quepodem orientar o trabalho de professores e ou-tros interessados em desenvolver projetos nes-sa área. Além disso, possibilita o contato e tro-ca de informações entre os interessados no tema,assim como disponibiliza textos para debate. Ovisual do site é criativo e instiga à navegação.

http://www.lapa.ufscar.br

A página do Laboratório de Análise e Pla-nejamento Ambiental, ligado ao Programa dePós-graduação em Ecologia e Recursos Natu-rais, da Universidade Federal de São Carlos,traz informações sobre ecologia da paisagem,unidades de conservação, educaçãoambiental, conservação da biodiversidade edinâmica dos nutrientes nos ecossistemas.Também tem importante conteúdo nas áreasde geoprocessamento, planejamento regionale municipal e agricultura. Além disso, o siteapresenta dados sobre reservas ambientaisonde a universidade desenvolve pesquisas.Ainda disponibiliza uma completa listagem delinks para outras páginas relacionadas aotema ambiental.

http://www.cndrs.gov.br

O Conselho Nacional de DesenvolvimentoRural Sustentável é um órgão ligado ao Minis-tério do Desenvolvimento Agrário do Brasil e temcomo competência coordenar, articular e pro-por a adequação de políticas públicas federaisàs necessidades da reforma agrária e da agri-cultura familiar. Além disso, coordena o funcio-namento dos conselhos municipais e estaduaisde desenvolvimento rural. No site, é possívelencontrar informações sobre seu funcionamen-to, legislação, textos sobre o tema e planos dedesenvolvimento sustentável. Também é possí-vel contatar o Conselho Nacional, conselhosregionais e as câmaras técnicas, responsáveispor áreas específicas de conhecimento.

http://www.agroecologia.net

A Sociedade Espanhola de Agricultura Ecoló-gica (SEAE) é uma associação civil privada, fun-dada em 1992, com o objetivo de aglutinar agri-cultores, técnicos e outras pessoas para esforçosque promovam o desenvolvimento de agroecos-sistemas social, econômica e ecologicamente sus-tentáveis. A página na internet traz textos paradebate, notícias, agenda de atividades, legislação.

http://www.proguaiba.rs.gov.br

O Pró-Guaíba é um programa do Governodo Rio Grande do Sul para promover o desen-volvimento ecologicamente sustentável e soci-almente justo da Região Hidrográfica do Guaíba.Concebido em 1989 e com duração prevista de20 anos, o Pró-Guaíba abrange mais de 250municípios em 30% do território gaúcho, ondevivem mais de seis milhões de pessoas, numaregião de intensa atividade industrial e agríco-la. No site, o internauta encontra informaçõesgerais sobre o programa e sua gestão e sobre osresultados obtidos com as atividades desenvol-vidas no módulo I, encerrado recentemente, eprevistas para o módulo II.

O texto está nas versões português, espa-nhol, inglês e alemão.

E coL inks

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4 44 44 44 44 4Agroecol. e Desenvol. Rur. Sustent. Porto Alegre, v.3, n.4, out/dez 2002

Estratégia para construção de indicadorespara avaliação da sustentabilidade e

monitoramento de sistemas *Deponti, Cidonea Machado **

Eckert, Córdula ***Azambuja, José Luiz Bortoli de****

* Este documento foi elaborado com base na Monografiade Especialização de Deponti (2002) e no trabalho

sobre Redes de Referência realizado em conjunto com osseguintes núcleos da Divisão de Apoio Técnico (DAT) daEMATER/RS: NUIPA (Núcleo de Investigação Participa-

tiva), representado pela Engenheira Agrônoma Msc.Córdula Eckert e Economista Msc. Cidonea Deponti;NUPEP (Núcleo de Pesquisa, Estudos e Projetos),

representado pelo Engenheiro Agrônomo José Luiz Bortolide Azambuja, Economista Especialista Ricardo Barbosa eo Médico Veterinário Luiz Alberto Trindade; NUCSP

(Núcleo de Cadeias e Sistemas de Produção), representa-do pelo Administrador de Empresas Msc. José Romualdo

Ferreira, e com as equipes dos Escritórios Regionais deErechim (RS) e Passo Fundo (RS), sob coordenação doEngenheiro Agrônomo Msc. Valdir Zonin e EngenheiroAgrônomo Msc. Gilmar Meneguetti. Destaca-se ainda a

colaboração do colega Engenheiro Agrônomo Msc.Nelson Baldasso.

** Economista, Especialista em Desenvolvimento Ruralpela Universidade Federal do Rio Grande do Sul-RS,

Mestre em Integração Latino-Americana pela Universida-de Federal de Santa Maria (RS) e Técnica da

EMATER/RS.***Engenheira Agrônoma, Mestre em Desenvolvimento

Agrícola pela Universidade Federal Rural do Rio deJaneiro (RJ) e Técnica da EMATER/RS.

**** Engenheiro Agrônomo, Especialista em Desenvolvi-mento, Agricultura e Sociedade pela Universidade FederalRural do Rio de Janeiro-RJ (Defesa prevista para 28/11/

2002) e Técnico da EMATER/RS.

IntroduçãoA partir da década de oitenta, o termo sus-

tentabilidade começa a aparecer com muitafreqüência, tornando-se tema importante no

debate social. A grande discussão em tornoda sustentabilidade dirige-se à construção deindicadores – instrumentos que permitemmensurar as modificações nas característicasde um sistema - e que permitem avaliar asustentabilidade dos diferentes sistemas.

Apesar da recente variedade de publicaçõessobre indicadores, poucos são os esforços paratornar operativo seu conceito. O presente ar-tigo objetiva propor uma estratégia para cons-trução de indicadores que permitam avaliar asustentabilidade e monitorar sistemas.

Para tanto, o texto apresenta, em primeirolugar, a base conceitual sobre Indicadores,procurando defini-los e caracterizá-los. A se-guir, propõe uma metodologia de análise inte-grada de indicadores para monitoramento dasdiferentes dimensões: técnica, econômica,ambiental e social, propiciando um acompa-nhamento sistêmico de uma unidade produti-va, que tem por base o MESMIS (Marco de Ava-liação de Sistemas de Manejo de Recursos Na-turais Incorporando Indicadores). Em terceirolugar, inserido em uma proposta de investiga-ção-ação1, propõe estratégias participativaspara a construção de indicadores, articulandotécnicos, agricultores e parceiros como sujei-tos e interlocutores nesse processo.

Palavras-chave: indicadores, sustentabili-dade de sistemas, avaliação e monitoramento.

1 Base conceitual sobreIndicadores

O termo Indicador origina-se do latim"indicare", verbo que significa apontar. EmPortuguês, indicador significa que indica, tor-

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4 54 54 54 54 5Agroecol. e Desenvol. Rur. Sustent. Porto Alegre, v.3, n.4, out/dez 2002

na patente, revela, propõe, sugere, expõe,menciona, aconselha, lembra. No presentedocumento, entende-se indicador como uminstrumento que permite mensurar as modi-ficações nas características de um sistema.

Conforme Camino; Müller (1993, p. 49-50),Masera; Astier; Lopez-Ridaura (2000, p. 47) eMarzall (1999, p. 38-39) há algumas caracte-rísticas importantes a serem consideradas nadefinição dos indicadores. O indicador deve:

• ser significativo para a avaliação do sistema;• ter validade, objetividade e consistência;• ter coerência e ser sensível a mudanças

no tempo e no sistema;• ser centrado em aspectos práticos e cla-

ros, fácil de entender e que contribua para aparticipação da população local no processode mensuração;

• permitir enfoque integrador, ou seja, for-necer informações condensadas sobre váriosaspectos do sistema;

• ser de fácil mensuração, baseado em in-formações facilmente disponíveis e de baixocusto;

• permitir ampla participação dos atoresenvolvidos na sua definição;

• permitir a relação com outros indicado-res, facilitando a interação entre eles.

Para que a escolha de indicadores seja co-

erente com os propósitos da avaliação, é ne-cessário ter clareza sobre:

• O que avaliar? Como avaliar? Por quantotempo avaliar? Por que avaliar?

• De que elementos consta a avaliação?• De que maneira serão expostos, integrados

e aplicados os resultados da avaliação para omelhoramento do perfil dos sistemas analisados?

A clareza quanto aos aspectos acima é fun-damental, pois são eles que deverão orientara definição quanto ao tipo de indicador reco-mendado para o monitoramento do objeto pro-posto. Não são raros os casos em que ativida-des de monitoramento geram muitas informa-ções que, posteriormente, são pouco utiliza-das, o que pode talvez ser explicado pelo fatodo indicador utilizado para o monitoramentonão retratar os anseios do grupo diretamenterelacionado com o objeto. Exemplo: no acom-panhamento de uma unidade de produção demilho pode ser privilegiado o monitoramentode um dado X, quando na verdade a preocu-pação dos agricultores era com Y. A constru-ção dos indicadores deve estar diretamenterelacionada com a resposta às questões aci-ma formuladas, relativas aos objetivos reaisdo monitoramento e da avaliação.

Outro aspecto importante é que no levanta-mento de indicadores considerados importan-

ExemplosDiminuir o grau de dependência a

insumos externos .

Total de insumos comprados/ total de

insumos usados.

O ideal será que o total de insumos com-

prados represente 10%, 20%, 30%, 40% ou

50% do total de insumos usados.

ConceitosDescritor são as características significativas par a a manutenção e o funcio-

namento do sistema que permitirão alcançar o padrão de sustentabilidade ide-

alizado pelos agricultores. É o que os propositores desejam e o que por eles é

visto como necessário para a sustentação e permanên cia do sistema.

Indicador é o instrumento que permite mensurar as m odificações nas ca-

racterísticas de um sistema, ou seja, os indicadore s deverão estabelecer, para

um dado período, uma medida da sustentabilidade do sistema.

Parâmetros são limites idealizados que determinam o nível ou a condição

em que o sistema deve ser mantido para que seja sus tentável, balisadores fun-

damentais de um processo de medida da sustentabilid ade.

Quadro 1: Conceitos de descritor, indicador e parâm etro

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Page 44: Revista Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sutentável 04_12/2002

4 64 64 64 64 6Agroecol. e Desenvol. Rur. Sustent. Porto Alegre, v.3, n.4, out/dez 2002

tes (pelo público envolvido com o objeto a sermonitorado), podem ser apontados não indi-cadores e sim descritores, pelo fato de seremgenéricos, qualitativos e, portanto, não passí-veis de mensuração. Esses descritores neces-sitarão ser traduzidos em ítens mensuráveis,quantificáveis, ou seja, em indicadores.

Todavia, a mensuração ou a apuraçãoquantitativa de um dado pode não identificarse isso significa crescimento, estagnação oudecréscimo. O dado passará a ter significadoapenas se referido a parâmetros, que neces-sariamente não são universais, estáticos eimutáveis. Pelo contrário, em geral, osparâmetros refletem os interesses concretosque se colocam para o avaliador naquele mo-mento histórico. Osparâmetros são limitesidealizados por seuspropositores que repre-sentam o nível ou a con-dição (na ótica dos mes-mos) em que o sistemadeve ser mantido paraque seja sustentável.

2 Metodologia basePara o acompanhamento de sistemas de

produção, de redes referência2, de projetos deinvestigação participativa, de unidades deexperimentação participativa ou de qualquerunidade de observação, faz-se necessário omonitoramento de dados e de informações.Ademais, inserindo-se em uma visãosistêmica, com base em princípios da Agroe-cologia, percebe-se que não são suficientesapenas as informações relacionadas à efici-ência técnica-econômica, em geral referentesà produção e renda, sendo demandadas tam-bém informações que envolvam outros aspec-tos, como os sociais e ambientais, permitindoavaliar a sustentabilidade de sistemas, den-tro de uma trajetória histórica.

Uma alternativa para a avaliação da sus-

tentabilidade de um sistema é o uso do méto-do MESMIS - Marco de Avaliação de Sistemasde Manejo de Recursos Naturais Incorporan-do Indicadores de Sustentabilidade - que éuma ferramenta metodológica que permiteavaliar a sustentabilidade de um agroecossis-tema. Esta metodologia é o resultado de umtrabalho multi-institucional, interdisciplinare integrador coordenado pelo GrupoInterdisciplinar de Tecnologia Rural Apropri-ada (GIRA) do México, proposto a projetos flo-restais, agrícolas e pecuários3.

O MESMIS permite a identificação de pa-drões sustentáveis de desenvolvimento queconsiderem aspectos técnicos, ambientais,econômicos e sociais. Para tanto, faz-se ne-

cessário definirdescritores, indicadorese parâmetros quemensurem, monitoreme avaliem a sustentabi-lidade nesses aspectos.Destacam-se abaixo al-gumas característicasque justificam a adoçãodo MESMIS como base

para a construção de uma metodologia demonitoramento:

• Permite a análise e a retroalimentaçãodo processo de avaliação;

• Promove a interação entre as dimensões:técnica, econômica, social e ambiental;

• Avalia de forma comparativa o sistema,seja mediante a confrontação de um ou maissistemas alternativos4 com um sistema de re-ferência5 (avaliação transversal) ou mediantea observação das modificações das proprie-dades de um sistema ao longo do tempo (ava-liação longitudinal);

• Apresenta estrutura flexível para adap-tar-se a diferentes níveis de informação e ca-pacidade técnica disponível localmente;

• Permite o monitoramento do processodurante certo período de tempo;

• Favorece a participação do agricultor, pos-

"Indicador é um instrumento

que permite mensurar as

modificações nas características

de um sistema."

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4 74 74 74 74 7Agroecol. e Desenvol. Rur. Sustent. Porto Alegre, v.3, n.4, out/dez 2002

sibilitando o seu empoderamento6, entre ou-tras questões, a saber: os agricultores definemsua própria visão de sustentabilidade e suasprioridades; aumentam sua capacidade de par-ticipação e de organização; adquirem novashabilidades; fortalecem sua capacidade de ar-gumentação frente a outros interlocutores; atu-am de forma comunitária; potencializam adescentralização e o desenvolvimento local.

O MESMIS é a metodologia que dá a base paraa estratégia a ser desenvolvida no sentido de iden-tificar os indicadores para avaliação emonitoramento de sistemas, abaixo apresentada.

3 Estratégia de execuçãoUma característica valorizada em uma pro-

posta de investigação aplicada (por exemplo,em que o objeto avaliado é o sistema de pro-dução), refere-se ao fato de que, além do co-nhecimento técnico, também deve ser consi-derado e valorizado o saber do agricultor acu-mulado ao longo de sua vida que, geralmen-te, pauta suas opções de condução da unida-de produtiva, com razões e justificativas que,muitas vezes, não são percebidas pelo técni-co. Assim, entende-se que devem ser busca-das metodologias que promovam processosparticipativos na condução de qualquermonitoramento ou investigação.

3.1 Passos p ar a const r ução d e i nd i cad or es

Com a intenção de apoiar um acompanha-mento de forma sistêmica e participativa, apre-senta-se algumas alternativas metodológicasde apoio a processos de monitoramento e deinvestigação aplicada. Os passos abaixo apre-sentados podem ser utilizados para a constru-ção de indicadores para avaliação da susten-tabilidade de sistemas, permitindo e enfocandoa participação dos agricultores.

3.1.1 Id ent i f i cação d o p úb l i co envo l vi d o

O primeiro passo consiste em identificar ereunir o público que será envolvido na avaliação

e no monitoramento do sistema, que poderá serformado por agricultores, instituições de pesqui-sa, órgãos públicos, universidades, etc. Nesta faseé importante identificar os diferentes atores quetenham interesse pelo trabalho de construçãode indicadores para monitoramento e avaliaçãode sistemas. É interessante que ocorra oenvolvimento, especialmente dos agricultores, noprocesso, pois estes devem sentir-se parte dele eidentificados com as suas ferramentas, passos eobjeto de estudo.

A identificação inicial desse público a serenvolvido no processo geralmente parte dotécnico, no entanto, caso existam parceiros,grupos de agricultores interessados ou agri-cultores com quem já se trabalha há mais tem-po, tal identificação não é necessária. É rele-vante que parceiros, técnicos e agricultoresestejam sensibilizados, pois uma proposta pormais interessante que possa parecer, por sisó, não é garantia de motivação e de conti-nuidade do trabalho.

Para a condução da(s) reunião(ões) com osagricultores, pode-se fazer uso de algumas dassugestões como: organizar a reunião em umlugar central, se possível, acolhedor e dividiros participantes em grupos. É interessantemesclar o máximo possível o grupo, por exem-plo, outorgando um número de 1 a 3 a cadaparticipante e, logo depois, separar da seguinteforma: os números 1 formam o 1º grupo, osnúmeros 2 o 2º grupo e assim sucessivamen-te; cada grupo deverá definir um coordena-dor (relator) e um secretário (anotador).

3.1.2 Det er mi nação d o ob j et o d e est ud o ed o t i p o d e aval i ação

O segundo passo é a determinação do ob-jeto de estudo. Este é um aspecto essencialpara o desenvolvimento dos demais passos,pois é nesta fase que se determina a escalaespacial, e a partir dela a caracterização dosistema e a definição do tipo de avaliação aser desenvolvido. Além da escala espacial, énecessário identificar a abrangência do siste-

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4 84 84 84 84 8Agroecol. e Desenvol. Rur. Sustent. Porto Alegre, v.3, n.4, out/dez 2002

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ma a ser analisado. Dessa identificação deve-rão constar alguns aspectos, tais como:

• Delimitar geograficamente o sistema (lo-cal, região, município, comunidade);

• Determinar a escala temporal (análise quin-zenal, mensal, bimestral, semestral, anual);

• Caracterizar o sistema de produção ou aunidade produtiva, incluindo uma descriçãoclara dos seguintes aspectos:

— Diferentes componentes do sistema: cli-ma, relevo, vegetação natural, tipo de solo, con-dições de fertilidade e de produtividade, descri-ção do sistema de cultivo (consórcio, rotação,sucessão, repartição de parcelas, calendário),descrição do sistema decriação (espécies, raças,manejo alimentar, sanitá-rio e reprodutivo);

— Levantamento ge-ral da unidade produti-va: limites, localizaçãodos rios, fontes de água,áreas florestais, área dis-ponível, área cultivada,prédios, benfeitorias,equipamentos;

— Insumos e produtosnecessários (entradas esaídas);

— Práticas agrícolas, pecuárias e florestais;— Níveis e tipos de organizações agrícolas

(características sócio-econômicas): é interes-sante destacar a forma de tomada de decisão,a composição familiar, a força de trabalho dis-ponível, a participação em organizações, comopor exemplo associações)7.

Todavia, os procedimentos a seremadotados deverão ser construídos junto comos agricultores, com o objetivo de promoverum compromisso entre os diversos atoresquanto à condução do monitoramento.

Quanto a tipos de avaliação, o MESMIS pro-põe avaliar a sustentabilidade comparando umou mais sistemas alternativos com um sistemade referência, que se denomina avaliação trans-

versal. Além disso, também é possível realizar umaavaliação denominada longitudinal, que significaanalisar o mesmo sistema ao longo do tempo.

Segundo a metodologia apresentada para aavaliação da sustentabilidade e o monitoramentode sistemas, há ainda um terceiro tipo de avali-ação, denominado de avaliação mista, que con-siste na mescla da avaliação longitudinal com aavaliação comparativa dos sistemas entre si, ouseja, compara-se um determinado sistema deuma região ou localidade com um sistema simi-lar de outra região. Por exemplo: sistema de cul-tivo X da região Y é comparado com o sistema decultivo X da região Z.

O procedimento indi-cado pela metodologiaimplica em realizar umaavaliação da sustenta-bilidade comparativaentre sistemas, ou seja,"o sistema X da regiãoY é mais (ou menos)sustentável que o siste-ma X da região Z".

No entanto, a opçãopelo tipo de avaliação aser realizado dependerádo acordo firmado comos agricultores. A opção

por uma avaliação longitudinal ou transver-sal, ou pelos dois tipos, concomitantemente,não deverá engessar o processo, o qual poderásofrer modificações na metodologia adequan-do a análise a cada caso.

3.1.3 Def i ni ção d e Desenvo l vi ment o Sus-t ent ável e Uni d ad e Pr od ut i va Sust ent ável

É necessário explicitar a compreensão queos agricultores têm de sustentabilidade, sen-do fundamental definir, em conjunto, onde sequer chegar, ou seja, o padrão sustentável parao sistema. Este é um exercício muito impor-tante, pois a compreensão que os agricultorestenham de sustentabilidade servirá de orien-tação ao longo do trabalho. O importante é que

"Uma característica valorizada em

uma proposta de investigação

aplicada refere-se ao fato

de que também deve ser

considerado e valorizado o

saber do agricultor, acumulado

ao longo de sua vida."

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4 94 94 94 94 9Agroecol. e Desenvol. Rur. Sustent. Porto Alegre, v.3, n.4, out/dez 2002

esta definição:• esteja orientada para a realidade local;• inclua a participação dos agricultores;• incorpore o longo prazo;• vincule aspectos técnicos, econômicos,

sociais e ambientais do sistema em análise.Para conhecimento da opinião dos agricul-

tores, pode-se utilizar, entre outros instru-mentos, um questionário com perguntasorientadoras.

3.1.4 Det er mi nação d os at r i but os ou car ac-t er íst i cas d a sust ent ab i l i d ad e

É preciso definir quais são as característi-cas que o sistema deve ter para ser considera-do sustentável. Podem ser levantadas váriascaracterísticas pelos agricultores, sendo queaquelas consideradas relevantes para a análi-se do tema deverão compor as característicasdesejáveis da sustentabilidade buscada poraquele grupo. A literatura8, por exemplo, apontaalguns atributos (ou características) desejáveisda sustentabilidade, tais como: diversidade,eqüidade, resiliência9 e autonomia. Estes atri-butos poderão se confirmar ou não na opiniãodos agricultores, bem como outros atributospoderão ser apontados.

3.1.5 Def i ni ção d e p ont os cr í t i cos (est r an-gu l a men t o s)

Os pontos críticos são aspectos ou proces-sos que limitam ou fortalecem a capacidadedos sistemas de sustentar-se no tempo. É con-veniente identificar o maior número de pon-tos críticos possíveis. Para sua identificação,pode-se levantar as seguintes questões:

• Quais são os pontos vulneráveis do sis-tema?

• Quais são os pontos fortes do sistema?Após a determinação das características e

dos pontos críticos nos pequenos grupos, for-ma-se um grande grupo com a participaçãode todos para exposição das idéias, podendo-se utilizar a visualização móvel10 como técni-ca de exposição dos resultados. Assim, con-

jugam-se os pontos convergentes e desenvol-vem-se, a partir de uma discussão geral, umconceito de sustentabilidade, suas caracterís-ticas, os pontos críticos do sistema de acordocom a visão dos agricultores.

3.1.6 Def i ni ção d os d escr i t o r es

Da definição de sustentabilidade e da deter-minação dos atributos e pontos críticos ter-se-ão os descritores, pois geralmente os agriculto-res definem descritores, ou seja, desejos, aspec-tos importantes para o funcionamento do siste-ma e padrão de sustentabilidade por eles ideali-zado. Para esses descritores deverão ser encon-trados um ou mais indicadores, lembrando-seque os indicadores deverão permitir mensuraras modificações ocorridas no sistema.

3.1.7 Levant ament o d a l i st a d e i nd i cad or es

Essa lista consiste num amplo conjunto deindicadores técnicos, econômicos, sociais eambientais levantados junto aos agricultorescom base na sua compreensão de sustentabili-dade, e demais definições dos passos anterio-res (3.1.3, 3.1.4 e 3.1.5). Como os agricultoresgeralmente definem descritores, cabe aos téc-nicos, em discussão conjunta com os agriculto-res, transformarem os descritores em indica-dores que permitam a mensuração do sistemaanalisado. Para esses descritores deverão serencontrados um ou mais indicadores, salien-tando-se que os indicadores deverão permitirmensurar as modificações ocorridas no siste-ma. Cada descritor poderá ser avaliado atravésde um ou mais indicadores, conforme ilustra-se, a título de exemplo, no quadro abaixo:

Descrito r I ndicador· Melhorar a rend a · Remuneração da mão-de-obra/UTH

· Renda líquida

3.1.8 Sel eção d e i nd i cad or es est r at égi cos

Do conjunto de indicadores levantados no pas-

so anterior (3.1.7), deverão ser selecionados os "in-

dicadores estratégicos", os quais serão trabalha-

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5 05 05 05 05 0Agroecol. e Desenvol. Rur. Sustent. Porto Alegre, v.3, n.4, out/dez 2002

dos, monitorados e avaliados. São considerados

indicadores estratégicos aqueles que se repetem

nos vários trabalhos realizados junto aos agricul-

tores, que sejam fundamentais para avaliação da

sustentabilidade, e que descrevam um amplo con-

junto de aspectos técnicos, econômicos, sociais e

ambientais. Este conjunto de indicadores deverá

ter abrangência e profundidade, de modo que, com

um pequeno número de indicadores, seja possível

realizar uma avaliação de qualidade acerca da sus-

tentabilidade do sistema e uma comparação entre

os sistemas estudados.Recomenda-se, para a escolha ou seleção

dos indicadores estratégicos, primeiro fomen-tar uma discussão aberta e participativa emtorno das características dos indicadores, bus-cando-se melhorar a compreensão por partede todos os envolvidos, para após ser valida-da pelos agricultores e técnicos. Aqueles indi-cadores que não forem considerados estraté-gicos, poderão também ser monitorados pe-los agricultores, através de cadernos de ges-tão especiais. Isso permitirá substituir um in-dicador estratégico que, porventura, não sejaadequado ou não esteja permitindo amensuração da sustentabilidade do sistema.Um indicador estratégico deve apresentar al-gumas características essenciais, devendo ser:

• centrado em aspectos claros e práticos;• simples de entender;• baseado em informações confiáveis;• fácil de medir e de monitorar;• sensível, isto é, deve permitir a avaliação

das modificações nas características do sistema;• integrador, ou seja, que permita a inter-

relação com outros indicadores, compreenden-do aspectos das diferentes dimensões.

3.1.9 Det er mi nação d e p ar âmet r os

Para cada um dos indicadores estratégicos,serão definidos, de forma coletiva, parâmetros.Os parâmetros são os níveis ou as condições quedeverão ser alcançadas ou mantidas para que osistema seja sustentável. Esses parâmetros de-

verão ser sugeridos pelos agricultores e basea-dos na sua visão do que é sustentável para osistema em estudo, conforme a definição obtidano item 3.1.3. Os parâmetros permitirão a cone-xão entre a avaliação e o monitoramento do sis-tema com a realidade local. O quadro abaixoexemplifica o conceito de parâmetro:

Descrito r I ndicado r Parâmetro• Melhorar a rend a •Remuneração da • 2,5 salários mí-

mão-de-obra/UTH nimos por mês

Por exemplo, qual o nível de renda neces-sário para a sobrevivência da família? Casoos agricultores definam 2,5 salários por mês,esse passaria a ser um parâmetro de susten-tabilidade idealizado.

3.1.10 Med i ção e moni t o r ament o

De posse dos indicadores obtidos de formaparticipativa com a presença, o envolvimentoe a discussão com os agricultores, passa-se àmedição e ao monitoramento que se inicia coma coleta de dados, cuja periodicidade depen-derá do tipo de dado a ser obtido. Para isso,serão utilizados "cadernos de anotações", ondeo agricultor irá registrar as informações rela-tivas ao sistema. Os cadernos de anotaçõesdeverão ser organizados de modo a permitir oregistro de dados relevantes para aquantificação dos indicadores, bem como pararegistrar informações qualitativas julgadasimportantes para o entendimento e explica-ção dos dados numéricos (quantitativos).

Para cálculo dos indicadores econômicos,pode ser utilizado o Programa de Gestão Agrí-cola - CONTAGRI11 - software que permite a ob-tenção dos dados econômicos (contabilidaderural). Caberá aos técnicos o estudo e tabulaçãodas informações dos cadernos de gestão, assimcomo a integração e a organização dos indica-dores técnicos, econômicos, sociais eambientais, os cálculos necessários e a repre-sentação gráfica dos indicadores estratégicos emplanilhas do Excel que permitirão a visualização

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5 15 15 15 15 1Agroecol. e Desenvol. Rur. Sustent. Porto Alegre, v.3, n.4, out/dez 2002

das informações, análises e comparações.

3.1.11 Ap r esent ação , i nt egr ação e val i d a-ção d os r esul t ad os

Nesse passo ocorre a restituição aos agricul-tores para discussão e validação dos resulta-dos, iniciando-se a fase de construção da análi-se. Após a validação dos resultados, estes serãoanalisados de forma conjunta, preferentementeem parceria com instituições afins ao processo.O resultado dessa discussão permitirá defini-ções para melhorar a sustentabilidade dos sis-temas analisados. Destaca-se que o processo éconstrutivo e que os agricultores participam detodo o percurso realizado para a obtenção, aconstrução e a mensuração dos indicadores.

4 Considerações finaisA construção de indicadores para avaliação

da sustentabilidade é um trabalho que exigeuma equipe interdisciplinar, pois não há umafórmula pronta, é necessário análise, interpre-tação e compreensão por parte dos envolvidos.

Os indicadores descrevem um processo es-pecífico e são particulares a esses processos, epor isso não há um conjunto de indicadoresglobais adaptáveis a qualquer realidade. Osindicadores devem refletir o objetivo de seuspropositores. Assim, o processo participativona sua construção garante a identificação dospropositores com os indicadores selecionados.

Quanto à metodologia proposta, ela apre-senta uma orientação prática e baseia-se emum enfoque participativo, mediante o qual sepromove a discussão e retroalimentação en-tre avaliadores e avaliados; permite examinarem que medida os sistemas são efetivamentemais sustentáveis e identificar pontos em quese faz necessário impulsionar mudanças.

O método pode desenvolver-se com todo oseu potencial sempre e quando a equipe queo aplique trabalhe verdadeiramente de formaparticipativa, o que exige, acima de tudo, umapostura dialógica, que respeite e valorize a opi-nião dos interlocutores, especialmente, dosagricultores.

ASTIER, M.; LÓPEZ-RIDAURA, S.; AGIS, E.;Masera, O. El marco de evaluación de sistemasde manejo incorporando indicadores desustentabilidad (MESMIS) y su aplicación en unsistema agrícola campesino en la regiónPurhepecha, México. In: SARANDÓN, S. (Ed.).Agroecologia: el camino hacia una agriculturasustentable. La Plata: Ediciones Científicas Ame-ricanas E.C.A., 2002. (Capítulo 21. p. 415-430).

CAMINO, R.; MÜLLER, S. Sostenibilidad de laagricultura y los recursos naturales: bases paraestablecer indicadores. San José: IICA, 1993. 134p. (Serie de Documentos de Programas IICA. 38).

DEPONTI, C. M. Indicadores para a avalia-ção da sustentabi l idade em contextos dedesenvolvimento rural local. 2001. 155 p.Monografia (Especialização) - UFRGS. Progra-ma de Pós-Graduação em DesenvolvimentoRural, Porto Alegre.

Referências

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HAQUETTE, T. M. F. Metodologias Qual i -tat i vas na Sociologia. Petrópolis: Vozes,1995.

MASERA, O.; ASTIER, M.; LÓPEZ-RIDAURA,S. Sustentabi l idad y manejo de recursosnaturales: el marco de evaluación MESMIS.México: Mundi Prensa, 2000, 109 p.

MARZALL, K. Indicadores de sustentabil i -dade para agroecossistemas. 1999. 212 p.Dissertação (Mestrado em Fitotecnia) - Facul-dade de Agronomia. Programa de Pós-Gradua-ção em Fitotecnia, UFRGS. Porto Alegre.

PAULUS, G. Empoderamento. Porto Alegre,2001, 1 p. (não publicado).

A r t igo

AAAAA

Page 50: Revista Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sutentável 04_12/2002

5 25 25 25 25 2Agroecol. e Desenvol. Rur. Sustent. Porto Alegre, v.3, n.4, out/dez 2002

1A pesquisa participativa envolve o participante noseu local de trabalho ou a comunidade no contro-le do processo inteiro da pesquisa. Por meio dapesquisa participativa é estabelecida uma nova re-lação entre teoria e prática, entendida esta últimacomo a ação para transformação. "A pesquisa par-ticipante é um processo permanente de investiga-ção e ação. A ação cria a necessidade de investi-gação, por isso pressupõe-se que o problema aser investigado origina-se na comunidade ou nopróprio local de trabalho" (Haquette, 1995). A in-vestigação ação implica em reciprocidade, exigeque o investigador sempre projete uma ação posi-tiva para os interlocutores rurais, que crie as ref e-rências objetivas que permitam apreciar o valorda palavra de ambos interlocutores, e a satisfaçãoàs aspirações a um maior bem-estar, tanto do in-vestigador no cumprimento de seu trabalho pro-fissional como do interlocutor rural (de acordo nãoaos conceitos urbanos, senão aos valores propria-mente rurais), o que denomina-se de benefíciocompartilhado (Gasché, 2002).

2A EMATER/RS, através da atuação dos técnicosde seus Escritórios Central, Regionais e Munici-pais, desenvolve nas regiões de Passo Fundo e deErechim uma proposta de trabalho com Redes deReferência, na qual se utiliza da metodologia aquiapresentada para construção de indicadores paraa avaliação e monitoramento de sistemas.

3Informações obtidas em Masera, Astier, López-Ridaura (2000).

4Sistema alternativo é aquele em que se incorpo-rou inovações tecnológicas ou sociais em relaçãoao sistema de referência. Por exemplo: um siste-ma agroecológico.

5Sistema de referência representa o esquematécnico e social usualmente praticado na re-gião. Por exemplo: um sistema tradicional ouum sistema convencional.6De uma perspectiva sociológica, a expressãoempoderamento refere-se ao processo crescen-te de protagonismo individual e coletivo dos ato-res e grupos sociais, resultando em uma apro-priação de conhecimento e exercício efetivo de

cidadania por parte dos envolvidos. No âmbitodo desenvolvimento rural, esse processo reflete-se na efetiva participação dos agricultores e suasorganizações em espaços de discussão e deci-são, de caráter não apenas consultivo, mas tam-bém deliberativo, como é o caso de muitos Con-selhos Municipa is de DesenvolvimentoAgropecuário e de Fóruns Regionais de Desen-volvimento. Sob esse enfoque, ainda que possavir a influenciar estruturas formais de poder, oempoderamento surge da consciência dos indi-víduos do seu próprio poder (saber que sabem eque podem), que se potencializa em ações soci-ais coletivas" (Paulus, 2001).

7As informações relevantes para descrição dos as-pectos acima relacionados para a identificação ea caracterização da unidade produtiva poderãoser encontradas em Roteiro de Sistematização paraEntrevista Semi-diretiva com o Agricultor ou Gru-po de Agricultores, desenvolvido pelo Consultor,contratado pela EMATER/RS para trabalho comRedes de Referência, Xavier Barat. Tal roteiro estáà disposição no NUIPA da EMATER/RS ou na Bi-blioteca Central da empresa.

8A definição de atributos da sustentabilidade podeser verificada em Masera, Astier, López-Ridaura(2000, p. 18-23).

9Resiliência é a capacidade do sistema de retornarao estado de equilíbrio ou manter o potencial pro-dutivo depois de sofrer perturbações graves. Porexemplo, uma queda drástica do preço de umdos produtos fundamentais do agroecossistema(Masera, Astier, López-Ridaura, 2000).

10A visualização móvel é uma técnica que, atra-vés do registro em tarjetas, permite que as idéi-as e opiniões dos participantes de um traba-lho sejam expostas de forma sintética para todoo grupo.

11CONTAGRI é um sistema informatizado de con-tabilidade de gestão agrícola, desenvolvido pelaEmpresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Ru-ral de Santa Catarina - EPAGRI, para fins degerenciamento de unidades produtivas rurais.

Notas

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5353535353Agroecol. e Desenvol. Rur. Sustent. Porto Alegre, v.3, n.4, out/dez 2002

A lternativaTecnológica

Ensacamento de fr utos: uma antiga pr áticaecol ógica para controle da mosca-das-fr utas

Jo ão, Paulo Lipp *Secchi, Valdir Ant ônio **

1 O problemaUm dos problemas fitossanit ários mais gra-

ves na fruticultura, com perdas econ ômicas sig-

nificativas, tem sido o ataque das moscas-das-

frutas. As esp écies Anastrepha fraterculus e

Ceratitis capitata assumem grande import ância

econômica, considerando-se que nossas condi-

ções clim áticas permitem, durante todo o ano, a

exist ência de frutos cultivados e silvestres, favo-

recendo a sobreviv ência e o deslocamento da

praga de uma planta para outra (TR ÉS, 1992).

*Engenheiro Agr ônomo, Ms. em Citricultura(Universidade Polit écnica de Valencia - Espanha) e

Assistente Técnico Estadual da EMAT ER/RS.**Engenheiro Agr ônomo, Mestre em Agronomiae Assistente Técnico Estadual da EMAT ER/RS.

Os preju í zos causados aos fruticultores s ão

antigos. Desde que apareceram os primeiros po-

mares comerciais, o controle tem sido necess á-

rio para viabilizar a colheita e a comercializa ção.

Em Taquari, no per í odo de 1955 a 1957, fo-

ram realizadas pesquisas na Esta ção Experi-

mental de Pomicultura (hoje Centro de Pesqui-

sa de Fruticultura) e, tamb ém, na propriedade

dos "Irm ãos H öerlle", em Montenegro, visando

o controle da mosca-das-frutas em pomares de

laranjeiras, variedade Val ência, muito suscet í-

vel aos ataques da mosca por ser de colheita

tardia. Nas parcelas testemunhas e nos poma-

res vizinhos, sem tratamentos, tiveram 70 a 80%

de frutos bichados (GON ÇALVES, 1958).

2 O controleAntes do advento dos inseticidas qu í micos, o

controle da mosca limitava-se às pr áticas de con-

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5454545454Agroecol. e Desenvol. Rur. Sustent. Porto Alegre, v.3, n.4, out/dez 2002

A lternativaTecnol ógica

trole biol ógico e mec ânico, tais como limpeza dos

pomares, recolhimento dos frutos ca í dos, capi-

nas e lavras superficiais, com a finalidade de

destruiçã o das pupas e ca ça com vidros pega-

moscas (GON ÇALVES et al., 1958).

Günther (1977), ao publicar mat éria no

Suplemento Rural do jornal Correio do Povo

(30.12.77) acerca do problema das moscas-das-

frutas, assim se reportou: "Em 1943 havia con-

sider ável planta ção de árvores frut í feras em

minha Granja Conc órdia, na Vila Nova (Porto

Alegre), e recebia mensalmente as publica-

ções "Deutsche Ilustrierte Monatshefte - Obst

e Gartenbau", de Munique. Foi ent ão que li

um artigo sobre "A Necessidade de Combate

Biol ógico da Mosca da Fruta".

No caso espec í fico dos frutos ca í dos, o re-

colhimento e enterrio freq üente durante a

safra e enterr á-los, a fim de matar as larvas

neles alojadas, é uma importante pr ática au-

xiliar, que se baseia no controle biol ógico na-

tural. Consiste na coleta dos frutos ca í dos,

colocando-os em pequenos buracos (70x70x30

cm), no meio do pomar. No fundo do buraco

coloca-se uma camada de 10 cm de areia, co-

berta por uma tela fina, com malha de 2 mm,

para impedir a sa í da das moscas e facilitar a

passagem das vespinhas que fazem o contro-

le biol ógico (TR ÉS, 1992).

3 O ensacamentoO ensacamento das frutas para proteg ê-

las do ataque de moscas é uma das pr áticas

fitossanit árias mais antigas e eficazes. Na

década de 60, quando a Grande Porto Alegre

era o principal p ólo de produ ção de

hortigranjeiros no Rio Grande do Sul, o

ensacamento era pr ática usual, principalmen-

te para o p êssego, p êra e ameixa. Usavam-se

sacos de papel encerado e de papel manteiga

e, tamb ém, folhas de jornal , para proteger os

cachos de uva contra o ataque de vespas e

outros insetos (ROSA, 2002).

Nos munic í pios de produ ção citr í cola, o

ensacamento era praticado correntemente,

desde o in í cio do s éculo passado, exigindo dis-

pêndio elevado de material e, em especial, de

mão-de-obra, tornando-se invi ável, principal-

mente nos grandes pomares, onde dif í cil se

tornava a obten ção de m ão-de-obra barata e

abundante (GON ÇALVES et al., 1958).

A partir do final da d écada de 60 e in í cio

dos anos 70, o ensacamento praticamente

deixou de ser feito, substitu í do pela aplica ção

de iscas com inseticidas para controle da

mosca-das-frutas. A escassez de m ão-de-obra

na zona rural, o maior custo, o tamanho dos

pomares e o pre ço final da fruta s ão fatores

que hoje limitam esta pr ática a determinadas

espécies e variedades.

A mosca-das-frutas ataca o p êssego no in í-

cio ou durante o per í odo de inchamento do

fruto, quando estiver ligeiramente mole. Um

modo pr ático para determinar o "ponto" é cra-

var levemente a unha no fruto. Se ocorrer um

"estalo", estar á no ponto de ataque, geralmen-

te acontecendo em torno de 20-25 dias antes

da matura ção (EMBRAPA, 1990).

A prote ção de p êssegos com saquinhos de

papel é bastante eficiente contra a mosca-das-

frutas. Os frutos n ão ficam bichados e apre-

sentam melhor apar ência pela sanidade e

maturaçã o uniforme.

A época mais aconselh ável para a realiza-

ção do ensacamento é antes do in í cio do

inchamento, isto é, quando os frutos ultra-

passarem o di âmetro de, mais ou menos, 6 a

7 cm (SACHS et al., 1984).

Lorenzato (1988) recomenda proteger os

frutos com saquinhos de papel encerado, com

dimens ões de 23x16 cm, 27x20 cm e outras,

logo que estejam formados, antes que ocorra

o ataque da mosca. Devem ser colocados la-

teralmente em rela ção ao ramo e amarrados

com arame fino n. º 24 por tr ás do ramo que

sustenta o fruto. (SACHS et al., 1984). Shizuto

(1973) recomenda usar amarrilhos de junco

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5555555555Agroecol. e Desenvol. Rur. Sustent. Porto Alegre, v.3, n.4, out/dez 2002

A lternativaTecnol ógica

fino, barbante ou fita de pl ástico para amar-

rar os saquinhos.

Piza Junior e Kavati (2002), reportando-se

ao ensacamento da goiaba de mesa (Psidium

guajava L .), consideram que os frutos rema-

nescentes do desbaste s ão protegidos por sa-

cos de papel-manteiga, com as dimens ões

usuais de 15x12 cm, que podem ser adquiri-

dos prontos. Todavia, os produtores preferem

fazer sacos a partir de resmas de papel ad-

quiridas do fabricante, pela melhor qualidade

do produto empregado, que apresenta maior

durabilidade e resist ência. Os sacos s ão pre-

sos no ped únculo do fruto ou no ramo que o

sustenta, por meio de um fitilho vegetal ou

arame fino.

O ensacamento das goiabas novas (tama-

nho da azeitona), visa obter frutos de melhor

qualidade e sem res í duos de agrot óxicos. Tem

a finalidade de proteger o fruto do ataque do

gorgulho, das moscas-das-frutas e da incid ên-

cia direta do sol (SILVA, 1998).

Em nespereira, o cacho é revestido com

saquinhos de papel para impedir o ataque de

aves e insetos (JORD ÃO; NAKANO, 2000).

Na bananicultura, utilizam-se sacos de

polietileno. É uma pr ática usada principal-

mente para cultivos destinados à exporta ção,

apresentando como vantagens: aumentar a

velocidade de desenvolvimento dos frutos;

evitar o ataque de pragas (abelha irapu á,

tripes, etc.) e melhorar a qualidade geral da

fruta pela redu ção dos danos relacionados com

rasp ões, queimaduras no fruto pela fric ção de

folhas dobradas, escoras e processo de corte

do cacho e seu manuseio. A opera ção consis-

te em se eliminar a última penca, deixando-

se apenas um "dedo", que permitir á a circula-

ção normal da seiva (ALVES, 2000).

Para o ensacamento da graviola s ão utili-

zados sacos pl ásticos transl úcidos perfurados

no fundo, quando os frutos tiverem cerca de

3 a 5 cm (SACRAMENTO, 2000).

Em tomateiros, visando o controle das pra-

gas dos frutos Neoleucinodes elegantalis (bro-

ca-pequena) e Helicoverpa zea (broca-grande),

Jord ão & Nakano (2000) testaram o efeito do

ensacamento de pencas de tomates, associa-

das ou n ão a repelentes. Houve redu ção do

ataque dessas pragas com resultados seme-

lhantes ao n í vel controle qu í mico padr ão.

Para a prote ção dos cachos de uva contra

a a ção de insetos, p ássaros e de mol éstias

criptog âmicas na fase de matura ção, Marengo

(2002) recomenda o uso de pl ásticos transpa-

rentes. Al ém da finalidade fitossanit ária, o

ensacamento serve para manter a uniformi-

dade de colora ção (RIVADULLA, 1996, citado

por JORD ÃO; NAKANO, 2000).

Na cultura da alcachofra, Isechi et al.

(1998) recomendam o ensacamento dos bo-

tõ es ou infloresc ências (partes comest í veis)

com sacos de papel para preservar a sua cor

roxa caracter í stica, que assegura melhor pre-

ço no mercado.

Para a prote ção do marmelo, Duarte (2000)

recomenda o ensacamento quando os frutos

apresentarem cerca de 4 cm de di âmetro,

usando-se saquinhos de papel imperme ável,

de 20x25 cm.

Na cultura do maracujazeiro, ensacam-se

os frutos para proteg ê-los das moscas-das-fru-

tas e do percevejo-do-maracuj á, Diactor

bilineatus (JORDÃO; NAKANO, 2000).

4 Os resgates hist óricos

Os Bettio

O senhor Valter Jos é Souza Bettio, 57 anos,

produtor de frutas e hortali ças da terceira

geraçã o de uma fam í lia de horticultores, filho

de Vit ório Quinto Simone Bettio, da Vila Nova,

e agora pr óximo ao Bairro Restinga, em Porto

Alegre (RS), recorda que at é a d écada de 60

praticamente toda produ ção de p êssego era

ensacada para impedir o ataque da mosca-

das-frutas.

Page 54: Revista Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sutentável 04_12/2002

5656565656Agroecol. e Desenvol. Rur. Sustent. Porto Alegre, v.3, n.4, out/dez 2002

A lternativaTecnol ógica

Protegiam cerca de 100.000 frutos por sa-

fra, sendo este trabalho feito, na maior parte

das vezes, por mulheres que chegavam a

empapelar 1.500 frutos/dia. Esta pr ática, se-

gundo ele, exigia muita habilidade, tanto para

ensacar, como identificar o momento certo da

colheita, com a observa ção da cor da casca

da fruta atrav és do saco de papel.

As principais variedades cultivadas e

ensacadas na metade do s éculo passado

eram: 15 de Outubro; 15 de Novembro; Deli-

cioso; Maracot ão. Para ele, atualmente, o

custo alto da m ão-de-obra, o tamanho dos

pomares e o pre ço final da fruta impedem a

aplicaçã o desta pr ática.

Os Moresco

O senhor Jos é Moresco, 48 anos, outro

produtor de fam í lia tradicional na fruticultu-

ra, recorda que seu av ô utilizava o

ensacamento dos frutos em todo pomar. Che-

garam a ensacar 5 ha de p êssegos, al ém de 1

ha de p êras.

Observava que, al ém do controle das mos-

cas, a cor e o sabor das frutas tamb ém me-

lhoravam e as frutas eram comercializadas

ensacadas.

Os Girelli

Na regi ão da Serra do Rio Grande do Sul, a

pr ática do ensacamento tamb ém é antiga,

como nos conta o senhor Alcides Girelli, 50

anos, de Bento Gon çalves, hoje fruticultor em

Muçum. De fam í lia com tradi ção na fruticul-

tura, confirma que seu pai e av ô utilizavam o

ensacamento de frutas. Atualmente ensaca

cerca de 80.000 goiabas/ano.

Os Engel

No outro lado do Rio Ca í , na localidade de

Sert ão Capivara, hoje munic í pio de Port ão,

cerca de 20 Km do porto de S ão Sebasti ão do

Caí , a fam í lia de Reinaldo Engel tamb ém fa-

zia do ensacamento uma pr ática comum para

proteger as laranjas, chegando a ensacar

130.000 frutas/ano.

Um dos descendentes, o senhor Lauro Engel,

69 anos, citricultor, juntamente com seus fi-

lhos e genros, ainda hoje continua ensacando

frutos da variedade Murcott. Em 2002, foram

80.000 unidades, vendidas em novembro, ao

pre ço médio de R$ 25,00/cx de 25 kg.

Os Höerlle

No Vale do Ca í , principal regi ão produtora

de citros, o ensacamento de frutos era utili-

zado em quase todos os pomares de laranjas

Val ência e Natal, ou Natal Umbigo, desde a

primeira metade do s éculo XX.

Relatam os irm ãos Pedro Arno H öerlle, 75

anos, e Jorge Renato H öerlle, 55 anos, que

seu pai, senhor Ernesto H öerlle, tamb ém fi-

lho de citricultores e pioneiro no cultivo da

laranja Val ência na regi ão, passou a utilizar

a pr ática do ensacamento, incentivado por um

mission ário evang élico, o pastor Droerte, vin-

do da Alemanha, que mencionava ser comum,

naquele pa í s, a utiliza ção de sacos em ma-

çãs, p êras e em outras frutas de clima tem-

perado. Durante bom tempo, seu pai foi "ta-

xado de louco" por ensacar a safra dessas duas

variedades de laranjas tardias.

Em 1952, quando era comum esta pr ática

na regi ão, ele mandou vir da Alemanha uma

"máquina" para cortar os arames utilizados no

ensacamento. Os cartuchos eram preparados

geralmente à noite pelas fam í lias, com folhas

de jornal ou revistas e colados com goma feita

de polvilho. Naquela época, 100% dos produto-

res ensacavam seus frutos tardios e consegui-

am vender grande parte das laranjas na época

de Natal e at é mesmo em fevereiro e mar ço.

A senhora Miriam H öerlle, de origem dina-

marquesa, esposa de Jorge H öerlle e morado-

ra na localidade de Bananal, na época muni-

cí pio de Montenegro, trabalhou muitos anos

com uma "equipe" de ensacadoras, j á que esta

pr ática era feita, na maioria das vezes, por

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5757575757Agroecol. e Desenvol. Rur. Sustent. Porto Alegre, v.3, n.4, out/dez 2002

mulheres. Chegava a ensacar at é 2.500 la-

ranjas em 10 horas de servi ço di ário e cerca

de 100.000 frutos/safra.

Naquela época, todo transporte de laranjas

era feito com barcos atrav és dos rios Ca í e Gua í ba,

levando de 6 a 7 horas at é o cais do Mercado das

Frutas, em Porto Alegre, onde esperavam os

carroceiros e comerciantes para adquirirem as

frutas que eram vendidas por unidade (milheiros).

Para os compradores e consumidores acredita-

rem que os frutos n ão estavam "bichados", dei-

xavam muitos frutos ensacados at é o varejo.

5 Os tipos de sacosde papel

Atualmente, existem no com ércio v ários

tipos de sacos de papel, confeccionados por

diversas firmas e destinados ao ensacamento

de p êssego, ameixa, goiaba, laranja, bergamota,

pêra, ma çã, caqui, entre outras frutas, que

precisam ser protegidas das pragas.

Os principais tipos s ão de papel encerado,

branco ou "glassine" 40g/m2 e o papel pardo.

Os tamanhos s ão vari áveis conforme a esp é-

cie e variedade da fruta. Por exemplo: 35x18

cm (p êssego, ameixa, goiaba); 35x22 cm (goi-

aba); 40x24 cm (p êra, caqui, bergamota).

6 A dimens ão da pr áticaConforme informa ções obtidas junto à

Empresa Plastipel, de Vacaria (RS), pode-se

estimar em 5.000.000 o n úmero de sacos de

papel vendidos anualmente pelas ind ústrias

para o ensacamento de frutos no Rio Grande

do Sul. Incluindo-se a produ ção artesanal feita

de papel jornal, ainda usada nos citros, pode-

se estimar em 6 milh ões de frutos ensacados

por ano.

Em ordem de express ão no ensacamento

de frutos, a goiaba é a mais protegida, segui-

da pela p êra, p êssego, tangerina Murcott,

caqui, ma çã, laranja Val ência, uva, entre ou-

tras em menor escala.

ALVES, S. A. M. Cultura da banana Dispon í nvel

em: <http://www.cursosagricolas.hgp.ij.com.br/

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A lternativaTecnol ógica

AAAAA

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5858585858Agroecol. e Desenvol. Rur. Sustent. Porto Alegre, v.3, n.4, out/dez 2002

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1Atualmente, a Ag ência Nacional de Vigil ân-cia Sanit ária (ANVISA) e o Minist ério da Agri-cultura, Pecu ária e Abastecimento (MAP A), vi-sando preservar a sa úde do consumidor, regu-lamentaram o uso de embalagens e equipa-mentos celul ósicos destinados a entrar em con-

Notastato com alimentos e mat érias -primas para ali-mentos, determinando que nenhum compo-nente da embalagem poder á conter res í duosprejudiciais ao produto acondicionado e/ou àsaúde humana. (P ortaria ANVISA n. º 177/99;Portaria MA n. º 127/91).

A lternativaTecnol ógica

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5 95 95 95 95 9Agroecol. e Desenvol. Rur. Sustent. Porto Alegre, v.3, n.4, out/dez 2002

ALVES, Rubem. Filosofia da CiênciaFilosofia da CiênciaFilosofia da CiênciaFilosofia da CiênciaFilosofia da Ciência: introdu-ção ao jogo e a suas regras. 4.ed. São Paulo:Loyola, 2002. 221p.

Em sua 4ª edição, esta obra de Rubem Alvesmerece ser lida por todos. Embora adentrepelos difíceis caminhos da Filosofia da Ciên-cia, não é uma leitura só para cientistas. Pelocontrário, deveria ser lida pelas "pessoas co-muns" para que possam melhor entender e atédesmistificar idéias pré-concebidas sobre a ci-ência e os cientistas, que muitas vezes são equivo-cadas, pois, como diz o autor, "todo mito é perigo-so porque induz o comportamento e inibe o pen-samento. O cientista virou um mito". Logo, aí te-mos um risco à capacidade de pensamento das"pessoas comuns" e por isto, o autor recomenda:"Antes de mais nada, é necessário acabar com omito de que o cientista é uma pessoa que pensamelhor do que as outras".Não obstante, trata-se de uma obra para todos, seuconteúdo sugere a obrigatoriedade de sua leitura po rtodos os professores e alunos de cursos de nível su -perior, mestrados e doutorados, pois dada a riquezade exemplos e a linguagem acessível usadas peloautor, o livro permite a construção de uma boa basesobre a Filosofia da Ciência, antes de se adentrar aospesados manuais e obras clássicas sobre o assunto.Rubem Alves consegue fazer agradável a leitura efaz com que o leitor avance, passo a passo, atravésdos diferentes capítulos, no entendimento e noconhecimento sobre o processo através do qual seconstróem os problemas de pesquisa e as teorias,passando por um amplo leque de questionamentose ensinamentos fundamentais para quem querentender um pouco mais sobre "ciência" e, princi-palmente para quem costuma esconder- se pordetrás da idéia da neutralidade da ciência. Aliás, oautor conclui que se "a ciência não pode encontrarsua legitimação ao lado do conhecimento, talvezela pudesse fazer a experiência de tentar encon-trar seu sentido pelo lado da bondade. Ela pode-ria, por um pouco, abandonar a obsessão com averdade e se perguntar sobre seu impacto sobre avida das pessoas: a preservação da natureza, asaúde dos pobres, a produção de alimentos, o de-sarmamento dos dragões, a liberdade, enfim, essacoisa indefinível que se chama felicidade". Vale a

pena a leitura.

Resenha elaborada por Francisco Roberto Caporal, di retor téc-

nico da EMATER/RS. E-mail:[email protected]

(Disponível na Biblioteca da EMATER/ RS, classifica ção:

101.1:001.12 A474f)

STRECK, E. V. et al. Solos do Rio Grande do SulSolos do Rio Grande do SulSolos do Rio Grande do SulSolos do Rio Grande do SulSolos do Rio Grande do Sul.Porto Alegre: EMATER/ RS; UFRGS, 2002. 107 p.il.

Está à disposição dos técnicos e leitores o livroSolos do Rio Grande do Sul, o qual atualiza oconhecimento a respeito dos principais tipos desolos identificados em nosso Estado. Esta obraé de autoria dos engenheiros agrônomosEdemar Valdir Streck, da EMATER/ RS, NestorKämpf, professor aposentado da Universida-de Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS),Ricardo Simão Diniz Dalmolin, professor daUniversidade Federal de Santa Maria (UFSM),Egon Klamt, professor aposentado da UFRGSe assessor do Gabinete de Reforma Agrária,Paulo César do Nascimento, professor daUFRGS, e Paulo Schneider, professor aposenta-do da UFRGS e assessor do Gabinete de Refor-ma Agrária, com editoração da UFRGS e apoiodo Departamento de Solos da universidade eda EMATER/ RS.No livro, são abordados aspectos das limitações fís i-cas e químicas e viabilidade de utilização agrícola ,sistemas de manejo e a representação da distribui-ção geográfica dos solos no mapa. As limitações físi -cas são quanto a profundidade, pedregosidade, tex-tura, mineralogia e gradiente textural e as quí-micas são quanto a acidez, fertilidade natural esalinidade. Nele, também são tratados funda-mentos da identificação do solo no campo e daslimitações físicas através do perfil de solo e seushorizontes, fazendo uso das característicasmorfológicas. Além disso, aborda as principaisclasses de solos identificadas no Rio Grande doSul, tendo como referência o Levantamento deReconhecimento dos Solos do Rio Grande do Sul (Bra-sil, 1973). Os solos estão ilustrados no livro atr avésde fotos dos perfis, para facilitar ao técnico o se u re-conhecimento à campo, com descrição das suas ca-

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6 06 06 06 06 0Agroecol. e Desenvol. Rur. Sustent. Porto Alegre, v.3, n.4, out/dez 2002

racterísticas físicas e químicas, classificação, oc or-rência e aptidão agrícola. A identificação dossolos foi atualizada com base no Sistema Brasi-leiro de Classificação - SBCS (EMBRAPA, 1999).O livro a inda a presenta a cla ssifica çã otaxonômica antiga (Brasil, 1973) e atual parafacilitar a comunicação e a extrapolação dasinformações de solo.As informações técnicas, contidas no livro, são im-portantes para fazer-se as recomendações de usoagrícola, objetivando uso mais racional do solo eambientalmente mais sustentável, garantindo seuuso para as futuras gerações.

Resenha elaborada por Edemar Streck, agrônomo da

EMATER/RS.

Disponível na Biblioteca da EMATER/RS classificaçã o de 631.4

(816.5) 5689

BENEZ et al. Manual de Homeopatia VManual de Homeopatia VManual de Homeopatia VManual de Homeopatia VManual de Homeopatia V eteri-eteri-eteri-eteri-eteri-nárianárianárianárianária. Indicações clínicas e patológicas - teo-ria e prática. São Paulo: Robe Editorial, 2002

O Manual de Homeopatia Veterinária resul-tou da união e vivências de vários autores.Atra vés de uma a mpla pesquisamercadológica, verificou-se o interesse dosMédicos Veterinários com relação ao conheci-mento de novas alternativas terapêuticas quetragam o tratamento através de recursos na-turais (orgânicos) e não químicos para os ani-mais. O Médico Veterinário deve avançar emnovos segmentos, principalmente no que dizrespeito a melhoria da qualidade de vida dohomem, pois todo o trabalho na área de saú-de animal tem por objetivo o bem-estar hu-mano. Nessa perspectiva, constata-se atual-mente um crescimento significativo no merca-do nacional e internacional da pecuária orgâ-nica, que busca a produção de alimentos deorigem animal e vegetal com caráter maispuro, produzidos sem interferência de produ-tos químicos. Uma das exigências do MercadoOrgânico de Produtos de Origem Animal é quetoda e qualquer criação seja tratada e mantidacom a homeopatia como técnica terapêutica.A Homeopatia, preconizada por Hahnemann,visa uma terapêutica que cure e mantenha a

saúde do ser humano, técnica esta que servetambém para outros seres vivos. Desta forma,o Médico Veterinário começou a visualizar apossibilidade de uma nova terapêutica paraa manutenção da saúde animal. Como uma es-pecia lização da Medicina Veteriná ria , aHomeopatia é aceita em todo território nacio-nal, exigindo dos profissionais um curso de es-pecialização com atividades teóricas e práti-cas. Hoje, ocupa um lugar de destaque, sendouma exigência terapêutica para a manuten-ção e tratamento das criações na pecuáriaorgânica. No passado, a Homeopatia foi de-senvolvida apenas como uma técnica terapêu-tica, porém, hoje, ela é utilizada como formade manutenção de saúde, ou seja, aplicadade forma preventiva, como promotora de cres-cimento e produçã o dos a nima ishomeopatizados, administrando-se os medi-camentos homeopáticos agregados ao sal mi-neral ou às rações. Assim, pode se adequar àspequenas e grandes criações, aplicada de for-ma curativa ou preventiva, esta última deven-do pautar toda e qualquer ação do homemsobre os animais. Lembrando sempre que,quando formos tratar uma população, reuni-mos todos sintomas comuns e realizamos o cha-mado Estudo de Gênio Epidêmico, a partir doqual chegaremos ao medicamento homeopá-tico indicado para todos os animais, denomi-nado Gênio Medicamentoso. O Manual deHomeopatia Veterinária, objeto desta resenha,através de suas cinco distintas seções, auxiliatanto na busca do medicamento melhor indi-cado para o tratamento individual quantopara o tratamento populacional de manuten-ção ou de surtos.

Resenha elaborada por Edison França Vieira, Médico Ve-

terinário e Extensionista Rural da EMATER/ RS.

DEERE,Carmen Diana; LEÓN, Magdalena. OOOOOempoderamento da mulherempoderamento da mulherempoderamento da mulherempoderamento da mulherempoderamento da mulher: direitos à terrae direitos de propriedade na América Latina.Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2002. 501 p.

O empoderamento da mulher: direitos à terrae direitos de propriedade na América Latina,

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6 16 16 16 16 1Agroecol. e Desenvol. Rur. Sustent. Porto Alegre, v.3, n.4, out/dez 2002

cuja temática central é o acesso das mulheresà propriedade da terra, resulta de uma pes-quisa minuciosa e exaustiva, sobre estudos decasos em doze países da América Latina, in-clusive o Brasil, e uma análise comparativaentre eles. Este livro contribui tanto para oaprofundamento da temática da desigualda-de no meio acadêmico, como para a amplia-ção das demandas do movimento feminista emtermos de cidadania e empoderamento dasmulheres. Objetiva compreender e identificaros fatores que impedem o acesso e o controleda terra às mulheres latino-americanas. Asautoras demonstram que a desigualdade degênero na propriedade da terra deve-se a tra-dições fortemente arraigadas na família, noEstado e no mercado. A partir da constataçãode que os principais meios de acesso à propri-edade da terra são a herança, a distribuiçãopelo Estado (em programas de colonização,assentamento ou reforma agrária) e a com-pra no mercado, Deere e León ponderam, nodecorrer da análise, que a desigualdade degênero na distribuição da propriedade da ter-ra decorre da preferência dada aos filhos va-rões no processo de herança, de privilégiosmasculinos no casamento, de uma tendênciaao favorecimento dos homens nos programasesta ta is de d istr ibuiçã o de te r ra e detendenciosidade de gênero na participação nomercado de terras, onde as mulheres têm me-nos chance do que os homens de atuar comocompradoras.Para Deere e León, a propriedade da terra é crucialpara o empoderamento das mulheres, sobretudoao levar-se em conta a relação entre propriedadede bens e a capacidade de negociação na famíliae na comunidade.Como se poderá constatar, graças a um importan-te e minucioso trabalho de resgate de informaçõese uma ampla e vigorosa análise, suas contribui-ções têm impacto em diferentes disciplinas: socio-logia, ciência política, antropologia, economia, hi s-tória e direito.

Resenha elaborada por Anita Brumer e extraída do liv ro, com

autorização.

[email protected]

(Acervo da Biblioteca da EMATER/ RS Classificação:

396:631.1(7/ 8= 6) D312e)

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6 26 26 26 26 2Agroecol. e Desenvol. Rur. Sustent. Porto Alegre, v.3, n.4, out/dez 2002

1.1.1.1.1. Agroecologia e Desenvolvimento Rural SustentávelAgroecologia e Desenvolvimento Rural SustentávelAgroecologia e Desenvolvimento Rural SustentávelAgroecologia e Desenvolvimento Rural SustentávelAgroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável éuma publicação da EMATER/RS, destinada à divulgaçãode trabalhos de agricultores, extensionistas, professores,pesquisadores e outros profissionais dedicados aos temascentrais de interesse da Revista.

2.2.2.2.2. Agroecologia e Desenvolvimento Rural SustentávelAgroecologia e Desenvolvimento Rural SustentávelAgroecologia e Desenvolvimento Rural SustentávelAgroecologia e Desenvolvimento Rural SustentávelAgroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável éum periódico de publicação trimestral que tem como públicoreferencial todas aquelas pessoas que estão empenhadasna construção da Agricultura e do Desenvolvimento RuralSustentáveis.

3.3.3.3.3. Agroecologia e Desenvolvimento Rural SustentávelAgroecologia e Desenvolvimento Rural SustentávelAgroecologia e Desenvolvimento Rural SustentávelAgroecologia e Desenvolvimento Rural SustentávelAgroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável publicaartigos científicos, resultados de pesquisa, estudos de caso,resenhas de teses e livros, assim como experiências e relatosde trabalhos orientados pelos princípios da Agroecologia.Além disso, aceita artigos com enfoques teóricos e/ou práticosnos campos do Desenvolvimento Rural Sustentável e daAgricultura Sustentável, esta entendida como toda forma ouestilo de agricultura de base ecológica, independentementeda orientação teórica sobre a qual se assenta. Como nãopoderia deixar de ser, a Revista dedica especial interesse àAgricultura Familiar, que constitui o público exclusivo daExtensão Rural gaúcha. Neste sentido, são aceitos parapublicação artigos e textos que tratem teoricamente estetema e/ou abordem estratégias e práticas que promovam ofortalecimento da Agricultura Familiar.

4. Os artigos e textos devem ser enviados em papel e emdisquete à Biblioteca da EMATER/RS (A/C MariléaFabião Borralho, Rua Botafogo, 1051 – Bairro MeninoDeus – CEP 90150-053 – Porto Alegre – RS) ou porcorreio eletrônico (para [email protected]) até oúltimo dia dos meses de março, junho, setembro e dezembrode cada ano. Ademais, devem ser acompanhados de cartaautorizando sua publicação na Revista Agroecologia eAgroecologia eAgroecologia eAgroecologia eAgroecologia eDesenvolvimento Rural SustentávelDesenvolvimento Rural SustentávelDesenvolvimento Rural SustentávelDesenvolvimento Rural SustentávelDesenvolvimento Rural Sustentável, devendo constar oendereço completo do autor.

5. Serão aceitos para publicação textos escritos em Portuguêsou Espanhol, assim como tradução de textos para estesidiomas. Salienta-se que, no caso das traduções, deve sermencionado de forma explícita, em pé de página, “Traduçãoautorizada e revisada pelo autor” ou “Tradução autorizadae não revisada pelo autor”, conforme for o caso.

6. Terão prioridade na ordem de publicação os textos inéditos,ainda não publicados, assim como aqueles que estejamcentrados em temas da atualidade e contemporâneos ao

debate e ao “estado da arte” do campo de estudo a quese refere. Assim mesmo, terão prioridade os textosencomendados pela Revista.

7. Serão enviados 5 (cinco) exemplares do número da Revistapara todos os autores que tiverem seus artigos ou textospublicados. Em qualquer caso, os textos não aceitos parapublicação não serão devolvidos aos seus autores.

8. As contribuições devem ter no máximo 10 (dez) laudas(usando editor de textos Word) em formato A-4, devendoser utilizada letra Times New Roman, tamanho 12 e espaço1,5 entre linhas (dois espaços entre parágrafos). Poderãoser utilizadas notas de pé de página ou notas ao final,devidamente numeradas, devendo ser escritas em letra TimesNew Roman, tamanho 10 e espaço simples. Quando foro caso, fotos, mapas, gráficos e figuras devem ser enviados,obrigatoriamente, em formato digital e preparados emsoftwares compatíveis com a plataforma Windows, depreferência em formato JPG ou GIF.

9. Os artigos devem seguir as normas da ABNT (NBR6022/2000). Recomenda-se que sejam inseridas nocorpo do texto todas as citações bibliográficas, destacando,entre parênteses, o sobrenome do autor, ano de publicaçãoe, se for o caso, o número da página citada ou letrasminúsculas quando houver mais de uma citação do mesmoautor e ano. Exemplos: Como já mencionou Silva (1999,p.42); como já mencionou Souza (1999 a,b); ou, nofinal da citação, usando (Silva, 1999, p.42).

10. As fontes consultadas devem constar no fim do texto,nas Referências Bibliográficas, seguindo as normas daABNT (NBR 6023/2000).

11. Sobre a estrutura dos artigos técnico-científicos:a) Título do artigo: em negrito e centrado;b) Nome(s) do(s) autor(es): iniciando pelo(s)

sobrenome(s), acompanhado(s) de nota de rodapéonde conste: profissão, titulação, atividadeprofissional, local de trabalho, endereço e E-mail;

c) Resumo: no máximo em 10 linhas;d) Corpo do trabalho: deve contemplar, no mínimo, 4

(quatro) tópicos, a saber: introdução,desenvolvimento, conclusões e referênciasbibliográficas. Poderão ainda constar listas dequadros, tabelas e figuras, relação de abreviaturas eoutros itens julgados importantes para o melhorentendimento do texto.

NNNNNORMAORMAORMAORMAORMAS PS PS PS PS PARARARARARA A A A A PPPPPUBLICUBLICUBLICUBLICUBLICAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃO